Valente, C., Carreira, J. (2018) A Qualidade dos Cuidados de Saúde e a Cultura de Segurança no Bloco Operatório, Journal of Aging & Innovation, 7 (2): 3 - 12
REVISÃO CRITICA/ CRITICAL REVIEW
AGOSTO 2018
A Qualidade dos Cuidados de Saúde e a Cultura de Segurança no Bloco Operatório La calidad de los cuidados de salud y la cultura de seguridad en el bloque operativo The Health Care Quality and the Safety Culture in the Operative Room
Autores Catarina Valente 1, Joaquim Carreira 2 1, 2
RN
Corresponding Author: valente.catarina@gmail.com
RESUMO A prestação de cuidados de saúde revela-se uma área de grande complexidade, sendo o Bloco Operatório um local de elevado risco de ocorrência de erros clínicos. São vários os fatores que predispõem à ocorrência destes erros, revelando-se preponderante a implementação de uma cultura de gestão de risco que promova o estudo dos eventos adversos através da sua notificação e análise, assim como implementação de estratégias de prevenção e mitigação dos riscos, promovendo a segurança dos cuidados. Neste artigo pretende-se alertar para a importância da gestão de risco, tendo por base o artigo de Fragata (2010a), “Erros e acidentes no bloco operatório: revisão do estado da arte”, concluindo-se que existem estratégias transversais implementáveis no Bloco Operatório, assim como nos demais serviços das instituições de saúde que promovam a qualidade e a segurança dos cuidados prestados. Palavras-Chave: Qualidade, segurança, bloco operatório
ABSTRACT The health care is an area of great complexity, and the Operating Room is a place of high risk of occurrence of clinical errors. Several factors predispose to the occurrence of these errors, and the implementation of risk management culture that promotes the study of adverse events through its notification and analysis, as well as the implementation of risk prevention and mitigation strategies, with promote the safety of care. This article intends to alert to the importance of risk management, based on the article by Fragata (2010a), "Erros e acidentes no bloco operatório: revisão do estado da arte", concluding that there are transversal strategies that can be implemented in Operating Room, as well as in the other services of the health institutions that promote the quality and safety of health care. Key-Words: Quality, safety, operative room JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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INTRODUÇÃO
1.RESUMO DO ARTIGO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde
Este é um artigo de revisão do estado da arte
(OMS) e o Comité de Saúde do Conselho da
sobre os erros e acidentes que ocorrem no BO
Europa, a segurança do doente é um dos pilares
onde prevalência destes é elevada, sendo
da qualidade dos cuidados em Saúde e
abordados os eventos adversos mais comuns, os
responsabilidade dos vários envolvidos no
mecanismos de ocorrência, formas de os evitar
processo de cuidados.
ou de minimizar as suas consequências.
Em
cirurgia
o
número
de
complicações
Para isso, o autor começa por identificar as áreas
conhecidas é exorbitante, sabendo-se que cerca
de atividade do BO em que os erros acontecem
de metade dos eventos adversos ocorridos são
com
evitáveis (OMS, 2008), urgindo a necessidade de
cirúrgico
se diagnosticar dificuldades e de se implementar
mecanismos de ocorrência (cirurgia errada, no
práticas que promovam a segurança e previnam
doente errado, no órgão errado e no lado errado,
erros, cuja dimensão pode ser devastadora, dado
corpos estranhos deixados, infeção cirúrgica e
tratarem-se de seres humanos. Tendo isto em
trombose venosa, embolia pulmonar), e a sua
consideração, este tema assumiu uma grande
origem (fatores humanos e de equipa, fatores
relevância nos últimos anos, tendo a Direção
organizacionais, a complexidade das tarefas, as
Geral da Saúde (DGS), em Junho de 2010,
influências do ambiente e o puro acaso).
emitido a Circular Normativa n.º 16/DQS/DQCO
Perante cada situação identificada, o autor
de 22/06/2010, que determinou a implementação
propõe estratégias preventivas de ocorrência de
do programa Cirurgia Segura Salva Vidas, em
erro, como por exemplo a estandardização de
linha com OMS, em todos os Blocos Operatórios
equipamentos, definição de dinâmicas da equipa,
(BO) do Sistema Nacional de Saúde.
adoção de protocolos e checklists.
mais e
frequência
(anestesiologia,
complicações
cirúrgicas),
ato os
Para a realização desta revisão, optamos por analisar um artigo do Professor Fragata (2010a), que tem como título “Erros e acidentes
2.DESENVOLVIMENTO
no bloco operatório: revisão do estado da arte”,
A prestação de cuidados de saúde revela-se uma
que aponta para aspetos fulcrais na prevenção
área de grande complexidade e em constante
de erros e acidentes que possam acontecer no
transição, em particular porque se trata de um
BO, sendo o objetivo deste artigo alertar para a
sistema sociotécnico onde interagem múltiplos
importância de uma cultura de gestão de risco.
"atores" (Serranheira, Sousa, & Sousa, 2010), tal
Assim, primeiramente iremos apresentar o
como o BO, estando por isso associado ao risco
resumo do referido artigo, seguido da abordagem
de segurança do doente, com um carácter
dos aspetos importantes deste relacionando com
multifatorial. Em consonância, no artigo em
a evidência científica mais atual.
análise, Fragata (2010a, p.18) refere que a atividade desenvolvida no BO “envolve tarefas complexas, plenas de variação e incerteza, exercidas em condições ambientais dominadas
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pela pressão e pelo stress”.
e mitigação dos riscos, criando uma cultura de
O Erro Clínico é definido na literatura como o
preocupação pela segurança (Rodrigues, 2015).
erro que ocorre durante a prestação de cuidados
A gestão do risco constitui uma ferramenta
de saúde, que pode dar origem a um evento
essencial nas instituições de prestação de
adverso, entendido como um dano efetuado por
cuidados de saúde, permitindo gerir o grau de
um profissional de saúde, que pode originar o
exposição ao risco, implementar metodologias
prolongamento da estadia hospitalar (Abreu,
que possibilitem reconhecer, avaliar, reduzir e
2015).
até mesmo eliminar riscos tanto nos doentes
Segundo Charlles Vincent (2003), citado por
como nos funcionários, como a nível da estrutura
Fragata (2010b), os fatores que condicionam ao
organizacional e material da instituição (Lima,
erro podem ser classificados em humanos
2011).
(individuais ou equipa), do sistema (instituição),
Estas afirmações estão espelhadas ao longo
da tarefa (complexidade, pressões), do ambiente
de todo o artigo analisado, em que Fragata
(condições
(variação
(2010a) define o contexto, identifica, analisa e
aleatória). James Reason diz-nos que não há
avalia os riscos e propõe estratégias para os
uma causa única para um evento adverso, mas
evitar. Desta forma, identifica categorias de erro
sim uma multiplicidade de fatores conjugados
possíveis
que propiciam o erro, defendendo ainda que as
relacionados com a Anestesiologia”, “erros
falhas humanas são propiciadas por defeitos do
relacionados
sistema, embora estatisticamente 60% das
“complicações cirúrgicas decorrentes de erros”.
falhas terem origem humana (Fragata, 2010b).
Concomitantemente, é importante que sejam
No que toca à caracterização dos fatores que
disponibilizados Sistemas de Notificação de
predispõem ao erro, no artigo em análise, o autor
Eventos Adversos para que se possa realizar
refere a forte dependência da atuação individual,
uma gestão de risco eficaz e eficiente, com
os fatores de equipa, os fatores organizacionais
resultados benéficos para os envolvidos (Lima,
e, finalmente, o acaso, que confere um fator
2011). Mas não basta que o sistema esteja
inesperado ao resultado, mesmo quando tudo se
disponível, deve-se ter em conta, segundo Lima
fez bem.
(2011) citando Lage (2010), que “poucos
locais),
e
do
acaso
no
BO, com
evidenciando o
ato
os
“erros
cirúrgico”
e
Sabendo à partida que a atividade humana
profissionais registam os seus erros e menos
envolve uma margem de erro, tal como nos
ainda são os que analisam, o que dificulta a
cuidados de saúde, revela-se cada vez mais
aprendizagem e a prevenção de ocorrências
preponderante para a segurança do doente e,
semelhantes no futuro”, pelo que é crucial
consequentemente
dos
desenvolver uma cultura institucional neste
cuidados, a Gestão do Risco, nomeadamente,
sentido. “A Cultura tem uma dimensão no grupo
estudar os eventos adversos através da sua
e organização mas implica uma interiorização em
notificação
como
cada membro atuante” (Fragata, 2010b, p. 569).
desenhar/estabelecer estratégias de prevenção
No que concerne a estes sistemas, o artigo
e
para
análise,
a
qualidade
assim
analisado corrobora esta falta de registos, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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referindo ser “menos divulgados na aplicação e
CONCLUSÃO
com impacto menos certo”.
Este artigo veio reforçar a ideia de que é
Existindo uma cultura de gestão de risco,
importante debruçarmo-nos sobre a cultura de
importa atuar perante os riscos identificados.
segurança no BO uma vez que a probabilidade
Podem ser adotadas várias estratégias para
de ocorrência de erros e eventos adversos é
mitigar o erro apontadas por diversos autores,
muito elevada e uma constante no BO, sendo a
como
sum promoção transversal aos demais serviços
por
exemplo
a
implementação
de
processos de trabalho, simplificação de regras e
das
procedimentos, implementação de checklists,
importância de um conjunto de medidas, tais
evitar fármacos com rótulos semelhantes, ou
como as cheklist de materiais e procedimentos, a
ainda a dupla confirmação na administração de
necessidade de criar briefings pré-operatórios
medicação,
2010;
adequados a cada tipo de cirurgia e, por sua vez,
Fragata, 2010b). Perante a agregação dos erros
instituir, de forma regular, de-briefings como uma
no BO, o autor do artigo analisado sugere
metodologia
medidas a adotar que incidem sobre os sistemas
desempenho dos profissionais. Importa assim,
e equipamentos (estandardização de processos,
manter e reforçar um sistema de relato de
redução da variabilidade de equipamentos, entre
eventos
outros),
humanos
observação em equipa que se foque na liderança
(conhecimento e preparação, treino para lidar
e gestão, trabalho de equipa e cooperação, e
com situações de crise, consciência do erro,
perceção de situações, para que todos possam
entre
(liderança
trabalhar que nem um “relógio suíço” – on time by
adequada, comunicação, trabalho em equipa,
time. Recomendamos a leitura deste artigo a
entre outros).
todos os profissionais que desenvolvem a sua
Apesar de existir já uma cultura de segurança
atividade em BO, de forma a promover a cultura
nas instituições, esta ainda não é uma constante.
de
Por isso importa envolver toda a equipa
desenvolvimento pessoal e profissional, na
multidisciplinar para que se consiga implementar
implementação de cuidados de saúde baseados
estratégias de segurança, uma vez que o
na evidência, promovendo a qualidade dos
sucesso da mudança depende, em larga escala,
cuidados. Consideramos também importante a
das
leitura deste aos gestores para que, a par com os
entre
sobre
outros),
pessoas
outros
os
sobre
(Carneiro,
fatores
a
envolvidas,
equipa
neste
caso,
os
instituições
a
de
de
par
segurança
saúde.
Relembrou
análise
de
uma
como
metodologia
um
método
do
de
de
profissionais de primeira linha, ou seja, aqueles
demais
que prestam cuidados diretos aos doentes. De
desenvolvimento da organização no sentido do
igual forma, Fragata (2010a) refere a introdução
controlo, avaliação, melhoria, garantia e gestão
da metodologia de briefings no BO de Cirurgia
da qualidade da instituição. Só conhecendo in
Cardiotoráxica do Hospital de Santa Marta, no
loco as dificuldades e a realidade de cada
qual todos os membros da equipa estão
serviço/unidade,
envolvidos.
conformidade.
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profissionais,
retroativa
a
é
promovam
possível
atuar
o
em
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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