Botticelli, La Primavera, "Allegory of Spring" (1485-87)
VOLUME 6 . EDIÇÃO 1
EDITORIAL ABRIL 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT Qualidade de Vida é a palavra de ordem! filosofia, a economia, a psicologia, a pedagogia, O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 Fruto do acaso, quer seja directa ou a medicina e a enfermagem. HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT indirectamente, o tema central desta edição é a Ainda assim, o conceito de qualidade de O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 Dezembro 2014
qualidade de vida, quer estejamos a falar das
vida não tem obtido a concordância dos diversos
questões relacionadas com a dor crónica, ou o
autores que sobre ele se têm interessado. Uns
final de vida, sem esquecer o impacto de certas
colocam a tónica no bem estar económico, outros
condições
do
no sucesso, outros ainda no desenvolvimento
retinoblastoma, que mesmo nas situações de
cultural e/ou nos valores éticos. Pela revisão da
“final feliz” acarreta alterações significativas na
literatura, nota-se que todos eles se preocupam
qualidade
Também
com um bom nível de saúde e desenvolvimento
importante e condicionante desta qualidade de
humano, o que tem servido de base a inúmeras
vida, que têm vários planos, várias dimensões,
reflexões e discussões sobre esta tão polémica
que tal como a saúde, deve de ser vista como um
temática.
clinica
de
vida
como
é
da
o
pessoa.
caso
continuum, no qual o individuo se situa, é a
Muitos são portanto os investigadores
questão da mudança do status comportamental e
que se têm debruçado sobre o conceito de
económico do individuo, pelo que a análise da
qualidade de vida. Embora se verifique alguma
preparação psicossocial do individuo para a
controvérsia nas diversas abordagens a este
reforma tem toda a pertinência, na medida em
conceito, encontram-se no entanto muitos pontos
que todas estas alterações no modo de vida do
em comum. As diferenças encontradas acerca do
individuo, são também determinantes sob ponto
conceito
de vista da actividade do individuo e sob ponto de
Organização Mundial de saúde, em 1974, a
vista
de
propor a seguinte definição: “... trata-se da
pensamento, a avaliação das reais e completas
percepção, por parte de indivíduos ou grupos, da
necessidades
papel
satisfação das suas necessidades e daquilo que
também preponderante, visto que estas podem
não lhes é recusado nas ocasiões propícias à sua
surgir a vários níveis e muitas vezes com forte
realização e à sua felicidade” ( Couvreur, 2001,
impacto na qualidade de vida do individuo e em
p.43).
económico também.
sentidas,
Nesta
assume
linha
um
especial do idoso. Várias
qualidade
de
vida,
levou
a
De acordo com a mesma autora, a têm
qualidade de vida compreende simultaneamente
manifestado interesse e que se têm debruçado
um aspecto subjectivo e objectivo. Porém, para
sobre
se demarcarem de uma concepção que apenas
o
são
de
conceito
as
de
ciências
qualidade
que
de
vida,
manifestando como preocupação fundamental
seria
aspectos que contribuem para o bem estar do ser
substituir a expressão qualidade de vida por bem
humano. Dessas áreas científicas destacamos a
estar subjectivo, dizendo este respeito à forma como
objectiva,
cada
alguns
indivíduo
autores
se
sente
preferem
física
e
psicologicamente e nas suas relações com o
EDITORIAL ABRIL 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT e psicologicamente e nas suas relações preocupações para o planeamento e O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C com o meio (Couvreur, 2001). desenvolvimento dos programas terapêuticos. ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 qualidade de vida Numa outra perspectiva, também um Contudo a avaliação de uma Dezembro 2014
grupo da Organização Mundial de Saúde
global tem um valor limitado. É necessário criar
considera a qualidade de vida como a percepção
instrumentos que forneçam informação sobre
dos indivíduos da sua posição na vida, no
domínios específicos, de modo a permitir que os
contexto da cultura e sistema de valores em que
profissionais
está
problemáticas, avaliem as suas práticas e
inserido, sua relação
com os seus
de
saúde
planeiem
interesses (Orley, 1994; Amir, 1994).
qualidade de vida. Além disso, são necessários
revisão
da
aumentar
a
torna-se
instrumentos que avaliem a satisfação subjectiva
evidente que a qualidade de vida é uma
nesses domínios, bem como a importância que
preocupação
no
esses domínios têm para as pessoas. Ainda
âmbito da prevenção da doença, na promoção da
assim é significativo verificar que directa ou
saúde e no desenvolvimento dos indivíduos.
indirectamente
premente,
literatura
para
áreas
objectivos, expectativas, padrões de vida e
Pela
intervenções
identifiquem
especialmente
Perante tais evidências é inquestionável que a qualidade de vida está directamente relacionada com a saúde e a política deste sector, pois, tal como defende Joyce (1994), a
a
preocupação
pela
qualidade de vida reflecte-se cada vez mais nas práticas de saúde adoptadas e na evidência produzida. Bem Hajam!
qualidade de vida é uma meta indiscutível, mas não deveria ser entendida como uma qualidade boa ou má em si mesma. A autora refere ainda que embora a utilização do termo seja um tanto neutra, assume sempre que o tratamento
Vítor Santos, RN, CNS, MsC Centro Hospitalar do Oeste Director
Geral,
São
Peregrino
–
Centro
Especializado de Tratamento de Feridas
melhorará a qualidade de vida. Nesta perspectiva, parece não restarem quaisquer dúvidas quanto à responsabilidade
BIBLIOGRAFIA
dos profissionais de saúde na influência da qualidade de vida das pessoas. De facto, dada a
- ABRAMS, Mark (1974). Uma aferição difícil: a qualidade de vida. A saúde do Mundo, Nov., pp.4-11
natureza holística da profissão de enfermagem, muitos dos seus objectivos estão directamente
- AMIR, M. (1994). The world health organization
relacionados com a qualidade de vida dos
quality of life assessment instrument: methodology and early
indivíduos e da comunidade em geral.
data in assessment of quality of life in psychiatry. European Psychiatry, Paris: (9), Supl., pp.68-69.
Nos últimos anos a qualidade de vida tornou-se efectivamente uma das principais - BERNARDO, Frei (1994). Efeitos das
EDITORIAL ABRIL 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT - JOYCE,C. (1994). Requirements for the - BERNARDO, Frei (1994). Efeitos das doenças na O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 assessment of individual quality of life. pp. 43-54, in: McGee, vida da pessoa. Divulgação, (30): pp. 34-36 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT Hannah; BRADLEY, Clare- Quality of life following renal O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 - COUVREUR, Chantal (2001). A Qualidade de failure. Chur-Switzerland: Harwood Academic Publishers. Dezembro 2014 Vida : arte para viver no século XXI. Lisboa: LusociênciaEdições técnicas e Científicas, L.da
- KAFKIA , T. et al (1996). Etude des facteurs affectant la qualité de vie du patient rénal. EDTNA-ERCA
-Espadinha, A., Santos, V. (2012) Concept and
Journal: XXII (3), pp.20-22
Experience of Pain: Cross-Cultural Perspective. Journal of Aging & Inovation, 1 (5): 55-68
- LAUNOIS, R. (1994). La prise en compte des préférences des patients dans les choix de santé individuels
- FARQUHAR, Morag (1995). Definitions of quality of life: a taxonomy. Journal of advanced nursing: 22 (3), Set
et collectifs. Paris : Revue Epidémiologie et Santé Public, (42) pp. 246-262.
, pp. 502-508 -
LOCK,
Peter
(1996).
Stressores,
coping
- FERRANS, C. E ; POWERS, M. J. (1992).
mechanisms and quality of life among dialysis patients in
Psychometric assessment of the quality of life index.
Australia. Journal of Advanced Nursing, 23(5) May, pp.873-
Research in Nursing 6 Health, 15 (1) Feb., pp. 29-38
881
- FERRANS, C. E.; POWERS, M. J. (1993). Quality
- O. M. S. (1993). Training Manual on Management
of life of hemodialysis patients. ANNA-Journal, 20 (5), Oct ,
of Human Resources for Health. Genève: (cap.1): pp. 1-13.
pp. 575-581 - ORLEY, J. (1994). The quality of life and - FLANAGAN, John C. (1978). A Research approach to improving our quality of life. American
disablement
assessments:
Theoretical
and
practical
relations. European Psychiatry, (9), Suppl, pp. 68-69.
Psychologist, (33), pp. 138-289 - Ramos, A., et al. (2015) Indicators sensitive to - HANESTAD, B. R. (1993). Quality of life. Bergen, pp. 19-37. tese de doutoramento publicada.
nursing care in people with oncological disease: systematic review of the literature, Journal of Aging & Innovation, 5 (1): 10- 28
- HARRIS ON, M.; JUNIPER, E.; MITCHELLDiCENSO, A. (1996). Quality of life as an outcome measure in nursing research. Canadian journal of nursing, 28 (3) Automne, pp. 49-68.
- Ramos, A., Fonseca, C., Ferreira, M., Malheiro, N. (2012) Noninvasive Ventilation Versus Mechanical Ventilation, Gains in Health. Journal of Aging & Inovation, 1 (1): 30-40
- HELMAN, Cecil G. (1994). Cultura, saúde e doença. 2ª ed., Porto Alegre, Artes Médicas.
- Santos, V., et al (2012) The dependent Elderly and his family. Journal of Aging & Inovation, 1 (6): 89-
- HENDERSON, V. (1984). Ma conception des soins infirmiers: Un modèle ouvert pour le dévelopment dun jugement clinique. Soins: (440), pp. 9-16
97
Gonçalves, M. (2017) A video-based intergenerational approach for the destigmatisation of chronic pain, Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 5 - 10
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
A video-based intergenerational approach for the destigmatisation of chronic pain Uma abordagem intergeracional baseada em vídeo para a destigmatização da dor crónica Un enfoque intergeneracional basado en video para la destigmatización del dolor crónico
Autores Marta Gonçalves 1 1
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Cis-IUL, Lisboa, Portugal, Harvard Medical School
Corresponding Author: marta.goncalves@iscte.pt
Abstract In Europe it is estimated that one fifth of the population suffer from chronic pain. However, it seems that society is not yet prepared to understand the people who suffer from chronic pain. To live twenty-four hours with pain and project the day according to pain is still often associated with laziness or no willing to work. In order to start in Europe a process of destigmatisation of chronic pain and better access to specialized units for this, this paper intends to discuss the potential of creating a ten-minute video about the experience of living with chronic pain. For the construction of the video "intergenerational living with chronic pain" there is a need to conduct focus groups with various informants as patients of different ages, family members, health professionals, education professionals and human resource managers. This video could be a reliable tool for further testing and use, not only in clinical practice and training of professionals, as well as of lay people. Keywords: video-based intervention, destigmatisation, chronic pain, intergenerational
Resumo Na Europa, estima-se que um quinto da população sofra de dor crónica. No entanto, parece que a sociedade ainda não está preparada para entender as pessoas que sofrem de dor crónica. Viver vinte e quatro horas com dor e projectar o dia de acordo com a dor ainda é muitas vezes associado com a preguiça ou não disposição para trabalhar. Para começar na Europa um processo de destigmatização da dor crónica e melhor acesso a unidades especializadas para isso, este artigo pretende discutir o potencial de criação de um vídeo de dez minutos sobre a experiência de viver com dor crónica. Para a construção do vídeo "vivência intergeracional com dor crónica" há necessidade de conduzir grupos focais com vários informantes como pacientes de diferentes idades, membros da família, profissionais de saúde, profissionais de educação e gestores de recursos humanos. Este vídeo pode ser uma ferramenta confiável para futuro teste e utilização, não apenas na prática clínica e formação de profissionais, bem como de leigos. Palavras-chave: intervenção baseada em vídeo, destigmatização, dor crónica JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 6
Introduction
(Cohen et al, 2011), and the self-stigma,
Ten years ago, chronic pain was a major
also called internalised stigma (Hegarty &
European health care concern with almost 20%
Wall, 2014; Waugh, Byrne & Nicholas,
of European adults suffering from moderate to
2014). The social stigma associated with
severe chronic pain (Breivik et al., 2006).
chronic pain refers to negative beliefs about
Although this pain affects their social and
chronic pain by the population in general
professional quality of life, only a small part of
(Cohen et al., 2011). The social stigma often
them seeks a pain specialist and receives
reflects a lack of knowledge about chronic
adequate
different
pain, negative attitudes and discrimination
nowadays? It seems not. In order to start in
conduct. This is especially important as the
Europe a process of destigmatisation of chronic
improvement of knowledge and skills, also
pain and better access to specialized units, the
called literacy, on chronic pain, can lead not
present paper aims to discuss the creation of an
only to better results but also help to
intergenerational ten-minutes video about the
increase readiness to help seeking and
experience of living with chronic pain, which can
overcome the stigma associated with
later serve as tool to be tested in different
chronic pain. Research has shown that self-
contexts as health, education, work and social.
stigma is conceptually different from social
This work aims to simultaneously answer two
stigma (Hegarty & Wall, 2014; Waugh,
questions. On the one hand "How can we make
Byrne & Nicholas, 2014). While social
chronic pain visible so that others understand
stigma works at a social level, self-stigma is
us?" and on the other "How can we be sure that
a process at the individual level. Self-stigma
the person is not lying about chronic pain?".
occurs when people according to public
care.
Is
the
situation
stereotypes, internalize stigmatizing ideas about chronic pain and begin to believe they
Social stigma and self-stigma that
have less value than others, which can lead
accompanies it, associated with chronic
to self-devaluation, silence and loss of
pain is culturally constructed, emanating
social opportunities. Combined, the social
from social structures and knowledge,
stigma and self-stigma constitute a vicious
attitudes and behaviors of people (Chapple
cycle and an obstacle to seeking help. As a
et al., 2004; Jacoby et al., 2005; Taft et al.,
result
2009). Negative attitudes towards people
discrimination, people can choose to avoid
with chronic pain are learned early by
the stigma of not looking for institutions that
influences such as the school and the
potentiate the mark, such as pain clinics or
media.
they may be afraid of being judged as weak
Stigma
and
These
discrimination
negative
attitudes
and
behaviors affect professional help seeking
of
experienced
and
anticipated
and incompetent.
and life in community. In chronic pain there is a social stigma, also called public stigma JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
PĂĄgina 7
Intergroup contact
depression. Although there is in Portugal for more 1)
than a decade a National Plan to Fight Pain and
education, 2) contact - defined as face to face
pain clinics within hospitals across the country, it
contact between members of the general public
seems that society is not yet prepared to
and people with chronic pain who are able to keep
understand people who suffer from chronic pain
their commitments to school and employment,
such
and 3) protest - the reactive strategy, for example,
fibromioalgia, back pain, neuropathy, among
protests advocacy groups in relation to inaccurate
others. It is estimated that one third of the
and hostile representations of chronic pain.
population suffer from chronic pain in Portugal,
Although in studies on mental illness (Corrigan et
not only women and the elderly, but also men and
al. 2012; Yamaguchi et al., 2013) it was found that
children. To live twenty-four hours with pain and
programs that emphasize the contact were the
project the day according to pain, as being for
most successful in improving long-term attitudes,
example not always able to climb stairs in the
concerning chronic pain no previous intervention
morning, continues to be often associated with
contact video that directly address access and
laziness or not willing to work. According to
quality of health care on chronic pain through
people living with pain it is an invisible disease
experiences reported by peers with chronic pain
("the pain is not seen, not measured, is silent, is
is known. The theoretical model of social
subjective") as it is not easy for the others to
psychology which heads the development of
realize. According to the others, how can you be
intervention proposed here is the theory of
sure that the person is not lying just to have low
intergroup contact (Allport 1954), revised by
or missing classes. There is also a strong
Pettigrew & Tropp (2006). Pettigrew & Tropp
criticism of mothers with chronic pain who can not
(2006) point out that the four contact ideal
get to lap the children or just can breastfeed lying
conditions proposed by Allport as the same status
down, not to mention the inability to perform a
between the groups in the situation, common
normal delivery. Just how great the interference
goals, cooperation between groups and legal
of chronic pain in the intimacy of a couple.
support, facilitate the reduction of prejudice but
Research over the years proved that along with
are not mandatory. This theory was tested in
the
earlier interventions that attempted to reduce the
mindfulness, mental training, meditation, self-
stigma associated with mental illness (Corrigan et
hypnosis or relaxation is extremely effective and
al., 2012; Yamaguchi et al., 2013).
in Portugal there has been a remarkable job
The
destigmatization
strategies
include
as
those
medication
with
the
rheumatoid
brain
control
arthritis,
through
towards a better doctor-patient relationship and A southern European case
communication and a better self-management of
In Portugal there are still many myths and
pain as to play chess or self-help groups. Chronic
prejudices in relation to chronic pain in the
pain is a complex phenomenon with increased
population that hinder access to health care and
and extended response to a harmful stimulus or
consequently generate suffering, disability and
response to stimuli normally not harmful, which diagnosis and subsequent intervention require
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIĂ‡ĂƒO 1
Página 8
diagnosis and subsequent intervention require
with chronic pain" it is of great relevance to
analysis
in
analyse these focus groups in terms of content
psychological and social factors in addition to
(Bardin, 2009) by Mayring reduction method
biological. There are different tools to measure
(2000) with all ethical rigor and anonymity
pain perception by the adult patients (Breivik et
guarantee in accordance with international
al., 2006;. Cleeland & Ryan, 1994; Keller et al.,
standards (American Psychological Association,
2004) as the Visual Analogue Scale ("no pain"
2002; European Federation of Psychologists'
and
the
Associations, 2005) and national standards (The
numerical rating scale with 0 = no pain and 10 =
Portuguese Psychologists, 2011). This analysis
the worst pain).
allows us to know the meaning of living with
According to the Portuguese General Directorate
chronic pain, characteristics or behaviors of best
of Health, effective pain management is a right of
living with chronic pain, offers in Europe to better
patients who suffer from it, a duty of health
live with chronic pain, biggest challenge due to
professionals and a key step in the effective
chronic pain, ideal to live better with chronic pain,
humanization of health facilities. The education of
greatest daily life need due to chronic pain and
patients
pain,
activities daily offered to people with chronic pain.
analgesic medication and self-control of pain.
This analysis can serve as basis for the movie
However, it seems that access to health care
script
remains difficult: on average, a person takes nine
significance with a unit of chronic pain.
years to reach a unit of chronic pain, largely
Discussion
because of the stigma associated. This delay
To actively contribute to a better understanding
favors the development of so-called "pain
and treatment, the aim of this paper was to
memory”, the phenomenon of persistence of pain
discuss a reliable tool for further testing and use,
after the injury is already healed.
not only in practice and clinical training of
and
respective
"maximum
pain
includes
intervention
imaginable"
self-assessment
and
of
covering
positive
experience
and
professionals, as of lay people of different ages in Intergenerational living with chronic pain
different contexts as health, education, work and
To understand perceptions and create new
social. The intervention in the stigma associated
knowledge,
and
with chronic pain through the use of video is
representations on the same subject (Gaskell,
promising as a quick and inexpensive way to
2002) to achieve the proposed objective, it is
improve access to treatment of chronic pain in
helpful in a first moment to conduct focus groups
Europe. This type of intervention, of easy and
with multiple informants with daily contact with
rapid administration in various contexts, can be
chronic pain as patients of different ages, family
used first in a pilot study and then climb up a
members,
education
randomized clinical trial a larger sample to verify
professionals and human resources managers of
that the video causal effect persists for a long
small, medium and large organizations. For the
period. Based on the differences of individualism
construction of the video "intergenerational living
and collectivism across cultures (Hofstede,
exploring
health
different
professionals,
views
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 9
2001), the test of similarities and differences in
treatment. European journal of pain, 10(4), 287-
terms of stigma and other factors associated with
287.
seeking help for chronic pain between countries is also of great interest for a model on stigma,
Chapple, A, Ziebland, S, McPherson, A (2004).
attitudes and help-seeking intentions in several
Stigma, shame, and blame experienced by
countries.
patients with lung cancer: qualitative study. BMJ, 328: 1470- 1473.
Practical, social and research implications • Given the high percentage of people with
Cleeland,
C.S.,
Ryan,
K.
(1994)
Pain
chronic pain in Europe, coupled with the rapid
assessment: global use of the Brief Pain
change and complexity in the demographics, it is
Inventory. Ann Acad Med Singap, 23: 129-138.
essential to seek solutions through research to promote improved access and quality of care.
Cohen, M., Quintner, J., Buchanan, D., Nielsen,
• There is a need to develop training and
M., Guy, L. (2011). Stigmatization of Patients with
campaigns to combat prejudice on chronic pain
Chronic Pain: The Extinction of Empathy. Pain
created in the society.
Medicine,
•
Only
through
a
multi-informant
and
12(11):
1637–1643.
DOI:
10.1111/j.1526-4637.2011.01264.x
interdisciplinary approach it is possible to create opportunities and support for citizens to enable
Corrigan, P.W., Morris, S.B., Michaels, P. J.,
them to live with quality of life still suffering from
Rafacz, J.D. & Rüsch, N. (2012). Challenging the
chronic pain.
public stigma of mental illness: A meta-analysis of outcome studies. Psychiatric Services, 63,
References
963-973.
Allport, G. W. (1954). The nature of prejudice. Reading, MA: Addison Wesley.
European
Federation
of
Psychologists’
Associations. Meta-code of ethics (2nd. ed.). American Psychological Association. Ethical
2005.
Brussels:European
Principles of Psychologists and Code of Conduct.
Psychologists’ Associations.
Federation
of
American Psychologist. 2002; 57:1060–1073. Gaskell, G. (2002). Entrevistas individuais e Bardin, L. (2009). Análise de conteúdo. Lisboa:
grupais. In: Bauer MW, Gaskell G., editors.
Edições 70.
Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual prático. Pétropolis. EditoraVozes.
Breivik, H., Collett, B., Ventafridda, V., Cohen, R., & Gallacher, D. (2006). Survey of chronic pain in
Hegarty, D., Wall, M. (2014). Prevalence of
Europe: prevalence, impact on daily life, and
Stigmatization and Poor Self-esteem in Chronic Pain
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Patients.
J
Pain
Relief,
3:
136.
doi:10.4172/2167- 0846.1000136 VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 10
doi:10.4172/2167- 0846.1000136
pain.
J
Pain,
15(5):550.
doi:
10.1016/j.jpain.2014.02.001 Hofstede, G. (2001). Culture's consequences: Comparing values, behaviors, institutions, and
Yamaguchi, S., Wu, S., Biswas, M., Yate, M.,
organizations across nations (2nd ed.). Thousand
Aoki, Y., Barley, E.A., Thornicroft, G. (2013).
Oaks, Sage.
Effects of short-term interventions to reduce mental health-related stigma in university or
Jacoby, A, Snape, D, Baker, G.A. (2005).
college students: a systematic review. Journal of
Epilepsy and social identity: the stigma of a
Nervous and Mental Disease, 201, 490-503. doi:
chronic neurological disorder. Lancet Neurol, 4:
10.1097/NMD.0b013e31829480df.
171-178. Keller, S., Bann, C.M., Dodd, S.L., Schein, J., Mendoza, T.R. et al. (2004). Validity of the brief pain inventory for use in documenting the outcomes of patients with noncancer pain. Clin J Pain, 20: 309-318. Mayring, P. (2000). Qualitative Inhaltsanalyse: Grundlagen und Techniken. Weinheim: Dt. Studien-Verlag. Ordem dos Psicólogos Portugueses. Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses. 2011. Lisboa: Ordem dos Psicólogos Portugueses. Pettigrew, T. F. (1998). Intergroup contact theory. Annual Review of Psychology, 49, 65–85. Taft, T.H., Keefer, L., Leonhard, C., NealonWoods, M. (2009). Impact of perceived stigma on inflammatory bowel disease patient outcomes. Inflmm Bowel Dis, 15: 1224-1232. Waugh, O.C., Byrne, D.G., Nicholas, M.K. (2014). Internalized stigma in people living with chronic JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Rodrigues, B., Sousa, P. (2017) The comfort of the person at the end of life in a domiciliary context – Nurse’s Perception, Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 11 - 23
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
O CONFORTO DA PESSOA EM FINAL DE VIDA EM CONTEXTO DOMICILIÁRIO – PERCEÇÃO DO ENFERMEIRO THE COMFORT OF THE PERSON AT THE END OF LIFE IN A DOMICILIARY CONTEXT – NURSE´S PERCEPTION EL CONFORT DE LA PERSONA EN EL FINAL DE SU VIDA EN CONTEXTO DOMICILIARIO – LA PERCEPCION DEL ENFERMERO
Autores Bruno Rosa Rodrigues1 , Patricia Pontífice de Sousa 2 1
MHC, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2 PhD, MHC, CNS, RN, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa
Corresponding Author: brunorosa1@hotmail.com
Resumo Introdução: O conforto é um elemento chave na prestação de cuidados de enfermagem ao doente Paliativo. Confortar assume-se como um ato complexo. Promover conforto é estar atento a todas as manifestações de distress, ter em conta todas as dimensões do ser humano e providenciar medidas para alívio do sofrimento (Morse, 2000). Podemos constatar que não existe uma definição clara para o conceito do conforto contudo, é unânime que este emerge como, uma necessidade ao longo da vida, na saúde e na doença pelo que, proporcionar o conforto é uma das principais funções e um desafio para a prática dos cuidados de enfermagem (Ribeiro; Costa 2012). Objetivo: O objetivo deste estudo é compreender a perceção do enfermeiro no que diz respeito ao conforto da Pessoa em final de vida em contexto domiciliário, identificando qual a conceção de conforto para o enfermeiro no que respeita à pessoa em fim de vida. Material e Métodos: Foi realizado um estudo descritivo de abordagem qualitativa, através de entrevistas semi-estruturadas a 8 participantes. A metodologia utilizada para o tratamento de dados foi a análise de conteúdo. (Bardin, 2014) Resultados: Após a análise dos nossos dados em estudo, podemos dizer que no que respeita à Conceção de Conforto (Domínio) foram encontradas quatro categorias (Expressão Física; Expressão Multifocal/multidimensional do Conforto; Expressão Afetiva e Necessidades Básicas Cumpridas). Conclusão: O principal contributo deste estudo é explorar o fenómeno do conforto no que respeita à pessoa em fim de vida em contexto domiciliário, reforçando a importância que o enfermeiro assume na implementação de cuidados confortadores. Assente numa abordagem humanista-afetiva, o processo de conforto é mediado pela interação enfermeiro-doente/família. Palavras-Chave: Conforto; Fim de Vida; Domicílio; Enfermeiro; Cuidados Paliativos.
Abstract Introduction: Comfort is a key element in the provision of nursing care to patients with Palliative Care. Comfort is a complex act. To promote comfort is to be attentive to all manifestations of distress, to take into account all dimensions of the human being and to provide measures for the relief of suffering (Morse, 2000). We can see that there is no clear definition for the concept of comfort, however, it is unanimous that this emerges as a lifelong need in health and illness, therefore, providing comfort is one of the main functions and a challenge for the Practice of nursing care (Ribeiro and Costa 2012). Objective: The objective of this study is to understand the nurses' perception regarding the comfort of the person at the end of life in a home context, identifying the comfort conception for the nurse with respect to the person at the end of life. Material and Methods: A qualitative, descriptive study was carried out through semi-structured interviews with 8 participants. The methodology used for data processing was content analysis. (Bardin, 2014) Results: After analyzing our data, we can say that, in terms of Comfort Design (Domain), four categories were found: Physical Expression, Multifocal / Multidimensional Autores Expression Comfort, Affective Expression and Basic Needs Fulfilled ). Conclusion: The main contribution of this study is to explore the Dados of curriculares phenomenon of comfort with regard to the end-of-life person in a home context, reinforcing the importance that nurses assume in the implementation of comforting care. Based on a humanistic-affective approach, the comfort process is mediated by the nurse-patient / family interaction. Keywords: Comfort; End of life; Residence; Nurse; Palliative care.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 12
Introdução
mais comuns observações feitas pelo doente
Cuidados paliativos são cuidados prestados a
acamado.
doentes em fase avançada da doença incurável
A este propósito, as autoras (Sousa; Marques;
com grande sofrimento. De acordo com a
Costa & Dixe, 2011) defendem que várias
definição da Organização Mundial de Saúde
teóricas de enfermagem contribuíram para o
(2004) é uma “abordagem que visa melhorar a
desenvolvimento da disciplina, estudando o
qualidade de vida dos doentes – e suas famílias
conforto
– que enfrentam problemas decorrentes de uma
perspetivas
doença incurável e/ou grave e com prognóstico
Orlando,
limitado, através da prevenção e alívio do
Madeleine
sofrimento, com recurso à identificação precoce
Loretta Zderad, Meleis, Janice Morse e Katharine
e tratamento rigoroso dos problemas não só
Kolcaba. É de acrescentar que Janice Morse e
físicos,
Kolcaba, deram visibilidade ao conceito de
como
a
dor,
mas
também
dos
e
contribuindo
com
nomeadamente,
Hildegard
Peplau,
Leininger,
diferentes
Callista Jean
Josephine
Roy,
Watson, Paterson,
psicossociais e espirituais”.
conforto
O conforto é um elemento chave na prestação de
Concretamente Kolcaba a partir de 1990,
cuidados de enfermagem ao doente Paliativo.
dedicou-se
Kolcaba
operacionalização (Ribeiro, 2012).
considerou
o
conforto
como
um
através
à
sua
seus
estudos.
conceptualização
Muitas
intervenções
de
estão
literatura, estando de acordo com a perspetiva de
satisfeitas
as
básicas,
cada autor. O conceito surge como relevante em
relativamente aos estados de alívio, tranquilidade
trabalhos de diferentes autores e em várias
e transcendência (Kolcaba, 2003).
teorias de Enfermagem, como por exemplo a
Confortar, do latim confortare, significa restituir
Teoria do Conforto de Kolcaba (2003), sendo
as forças físicas, o vigor e a energia; tornar forte,
considerado um fenómeno de importância básica
fortalecer, revigorar; dar alento (Apóstolo, 2009).
para a enfermagem, contextualizado ora como
O conforto é promovido através das intervenções
um objetivo da enfermagem ora como um estado
de enfermagem. Confortar constitui um fator de
relativo ao doente, destacando a importância de
cuidado (Watson, 2002) e uma competência do
compreendê-lo na sua multidimensionalidade do
enfermeiro. (Benner, 2001).
processo de cuidar (Ribeiro, 2012).
As primeiras referências ao conforto surgiram
Apesar
com Florence Nightingale. Em Notas Sobre
uniforme, desde sempre que o conforto tem sido
Enfermagem de Florence Nightingale (2005),
considerado como um conceito primordial na
apresentam-se várias referências a este conceito
Enfermagem, um imperativo moral, uma vez que
nomeadamente, o alívio e o conforto, sentidos
contribui para a recuperação da pessoa (Melleis,
pelo
2005; Apóstolo, 2009; Ribeiro, 2012).
doente
após
onde
necessidades
a
sua
pele
ter
sido
cuidadosamente lavada e enxaguada, é uma das
da
de conforto surgem
e
resultado dinâmico, um processo resultante das enfermagem,
definições
dos
inexistência
de
uma
na
definição
O conforto confere à pessoa, energia, força, esperança, controlo sobre si mesmo e felicidade (Ribeiro, 2012; Sousa, 2014). Corresponde
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 13
assim ao fortalecimento do doente nas diferentes
Sendo o conforto não só uma necessidade
dimensões (física, psicoespiritual, sociocultural e
desejável bem como um elemento chave na
ambiental). Não é um processo passivo em que
prestação de cuidados de enfermagem ao
os doentes esperam ser confortados, mas sim
doente/família em fim de vida e, não existindo
um processo dinâmico entre a pessoa que cuida
uma definição clara para este conceito, importa
e aquele que é cuidado (Morse et al., 1994;
investigar qual a perceção do enfermeiro no que
Sousa, 2014).
respeita à conceção do conforto à pessoa em
Oliveira (2011), afirma que o doente pode sentir-
final de vida no domicílio.
se confortado, mesmo experimentando algum
Nesta sequência, a questão central foi definida
grau de desconforto, uma vez que a existência
da
prévia de desconforto pode ser uma condição
enfermeiro no que diz respeito ao conforto da
possível mas não necessária para experimentar
Pessoa
conforto. O conceito é mais do que a ausência de
domiciliário?
seguinte forma: Qual
em
final
de
a perceção
vida
em
do
contexto
desconforto - é multidimensional, idiossincrático, dinâmico e depende do contexto em que a
Métodos
pessoa está inserida (Bland, 2007).
Na abordagem qualitativa de pesquisa, as
Recentemente,
Ribeiro
(2012)
estudou
a
amostras
são
propositais
(purposeful
idoso crónico em contexto hospitalar, referindo
apreender e entender certos casos selecionados
que o processo de conforto é mediado pela
sem necessidade de generalização para todos os
interação enfermeiro-doente idoso e sua família,
casos possíveis.
integrado numa abordagem humanista-afetiva. O
Conforme
agir integrador e intencional do enfermeiro é um
aspetos a ter em conta com o processo de
ponto
às
amostragem, com a finalidade de refletir a
necessidades de cuidados, especificamente de
totalidade nas suas múltiplas dimensões. No
conforto do doente idoso crónico (Sousa, 2014).
nosso estudo, privilegiou-se os sujeitos que
O
possuíam as informações e experiências que
para
desconhecimento
sob
dar
a
resposta
perceção
do
Minayo
já
que
intencionais
natureza do processo de conforto do doente
essencial
sampling),
ou
(2004),
existem
procura
alguns
Enfermeiro, acerca da dimensão confortadora
desejávamos
ligada à pessoa que necessita de cuidados em
número suficiente para a reincidência das
final de vida no Domicilio é algo que devemos
informações.
considerar.
o
participantes que possibilitaram a apreensão de
enfermeiro é o profissional de saúde que, pelas
semelhanças e diferenças, que no nosso caso
suas
são
Na
verdade,
competências
sabemos
assume
um
que
papel
conhecer,
se
Escolhemos
considerando
um
um
conjunto
de
preponderante e privilegiado no cuidado à
Segundo Willms (1993), a amostra intencional é
pessoa humana que vivencia situações de
composta diferentemente, de acordo com os
sofrimento e desconforto (Sousa, 2014).
objetivos e o propósito da investigação, e por casos que satisfaçam a dimensão em estudo.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 14
A amostra define-se como o conjunto de
outra. No caso da investigação qualitativa, a
elementos retirados de uma população alvo,
entrevista surge com um formato próprio.
(Fortin, 2003). Corresponde ao subgrupo da
Em todas estas situações, a entrevista é utilizada
população selecionada para obter informações
para recolher dados descritivos na linguagem do
relativas às características dessa população.
próprio
Assim sendo, e como referimos anteriormente, o
desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a
método de amostragem da nossa investigação
maneira como os sujeitos interpretam aspetos do
será a amostra intencional, sendo que os sujeitos
mundo. (Bogdan, 1991).
escolhidos (população alvo) para a investigação
As entrevistas qualitativas variam quanto ao seu
são 8 Enfermeiros do Hospital Nossa Senhora da
grau de estruturação (Bogdan, 1991), sendo que
Arrábida, que prestem cuidados no domicílio a
o seu conteúdo deve ser integralmente transcrito
doentes em fim de vida.
(incluindo hesitações, risos, silêncios, bem como
Para obter os dados que permitissem alcançar os
estímulos do entrevistador). (Bardin, 2014)
objetivos considerou-se como amostra não
A entrevista, enquanto técnica de colheita de
probabilística/intencional todos os Enfermeiros
dados, assume-se como um processo de
com os seguintes critérios de inclusão:
descoberta e sistematização da informação pela
- Possuir Formação Básica em Cuidados
possibilidade de explorar, aprofundar e clarificar
Paliativos;
alguns pontos do discurso dos informantes,
- Possuir experiência com mínimo de um ano em
permitindo uma melhor explicitação das suas
Cuidados Paliativos;
vivências. Permite ter acesso ao sentido que os
- Trabalhar na Equipa Comunitária de Suporte
atores dão aos acontecimentos, confrontando o
em Cuidados Paliativos do Hospital Nossa
que observa com o que ouve, aferindo as
Senhora da Arrábida;
significações
- Consentir de livre vontade participar no estudo;
explorando e clarificando ideias ou opiniões, com
sujeito,
permitindo
atribuídas
ao
ao
que
investigador
observou,
a finalidade de compreender o significado que Considerando que pretendemos compreender a
cada sujeito atribui ao fenómeno que estamos a
perceção do enfermeiro no que diz respeito ao
investigar, através de uma relação de interação
conforto da Pessoa em final de vida em contexto
face a face. (Ribeiro, 2012) Dada a natureza do
domiciliário, e tendo em conta a complexidade e
estudo
especificidade deste processo, o recurso à
informado, deve ser um processo contínuo,
entrevista
exigindo que se faça uma reavaliação e
semi-estruturada
pareceu-nos
fundamental. Uma
entrevista
–
qualitativo
–
o
consentimento
renegociação ao longo do mesmo, por parte dos consiste
numa
conversa
participantes do estudo (Streubert & Carpenter,
intencional, geralmente entre duas pessoas,
2002). Todos os enfermeiros se mostraram
embora por vezes possa envolver mais pessoas
recetivos ao nosso pedido, aceitando de imediato
(Morgan, 1988), dirigida por uma das pessoas,
participar no nosso estudo.
com o objetivo de obter informações sobre a
As entrevistas aos 8 enfermeiros decorreram
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
num espaço destinado a esse fim (na sala de VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 15
num espaço destinado a esse fim (na sala de
inferência e a interpretação, as quais foram
realização
seguidas no nosso estudo. (Bogdan, 1991)
de
Conferências
Familiares
do
Hospital Nossa Senhora da Arrábida), em hora
Os resultados transcritos em bruto são tratados
marcada pelos informantes. No momento da
de maneira a serem significativos e válidos.
entrevista
o
Operações estatísticas simples (percentagens),
entrevistador e o entrevistado, sendo que antes
ou mais complexas (análise fatorial), permitem
de se iniciar a entrevista explicávamos o objetivo
estabelecer quadros de resultados, diagramas,
da
de
figuras e modelos, os quais condensam e
consentimento livre e esclarecido. O tempo gasto
colocam em destaque as informações fornecidas
com cada uma das entrevistas oscilou entre os
pela análise. Assim sendo, com resultados
20/30 minutos.
significativos e fiéis pode propor-se inferências e
O recurso à análise de conteúdo, para retirar
adiantar interpretações a propósito dos objetivos
partido de um material dito «qualitativo», é
previstos, ou que digam respeito a descobertas
indispensável:
de
inesperadas. Por outro lado, os resultados
recrutamento, de psicoterapia…que fornecem
obtidos, a confrontação sistemática com o
um material verbal rico e complexo (Bardin,
material e o tipo de inferências, podem servir de
2014). Assim sendo, o tratamento de dados que
base a uma outra análise disposta em torno de
utilizámos no nosso estudo através da entrevista
novas dimensões teóricas, ou praticada devido a
foi a análise de conteúdo.
técnicas diferentes. (Bardin, 2014)
À medida que se vai lendo os dados, repetem-se
Para tratar o material foi necessário codificá-lo,
ou destacam-se certas palavras, frases, padrões
correspondendo a uma transformação segundo
de
sujeitos
regras precisas, transformando o texto transcrito
pensarem e acontecimentos. O desenvolvimento
em bruto das entrevistas, em unidades de registo
de um sistema de codificação envolve vários
e unidades de contexto.
passos: percorre os dados na procura de
Inicialmente lemos e relemos várias vezes os
regularidades e padrões bem como de tópicos
dados obtidos em cada uma das entrevistas a fim
presentes nos dados e, em seguida palavras e
de se obter uma compreensão do conteúdo geral
frases que representam esses mesmos tópicos e
das mesmas, excluindo todo o verbatim que se
padrões. Estas palavras ou frases são categorias
apresentava mais distante do nosso estudo.
de codificação. As categorias constituem um
Assim, aos segmentos do texto que não
meio de classificar os dados descritivos que se
interessavam foi atribuído o código “ (…) ”, e as
recolheu. As diferentes fases de análise de
palavras utilizadas para clarificar algum aspeto
conteúdo, organizam-se em torno de várias
foram colocadas entre “[
etapas cronológicas: pré-análise (transcrição da
pausas que surgiram ao longo da entrevista
entrevista realizada); exploração do material
atribuiu-se o código “…”
(através da codificação); tratamento de dados, a
Em seguida, cada entrevista à qual foi atribuída
estavam
mesma,
presentes
assinando-se
entrevistas
comportamento,
de
formas
o
apenas
termo
inquérito,
dos
]”. Aos silêncios e
a “letra de código” (E), foi dividida em unidades de significação (também chamadas unidades de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 16
de significação (também chamadas unidades de
apresentação dos guiões das entrevistas aos
registo ou declarações significativas), de acordo
enfermeiros,
com o que foi referido pelo sujeito. As unidades
consentimento livre e esclarecido.
de significação são frases ou proposições que se
O consentimento informado aos participantes do
relacionam com o fenómeno em estudo, deste
estudo (Enfermeiros) foi assinado, após terem
modo, e de forma a organizarmo-nos no futuro, a
sido informados dos objetivos do trabalho, da sua
cada unidade de significação foi atribuído um
finalidade, do tipo de participação solicitada, dos
número que em conjunto com o código já
meios a usar – como a áudio gravação –
atribuído (E), possibilitava a localização dessa
esclarecendo o direito de não-aceitação e de
unidade de significação (E1 1, E1 2, …).
desistência caso assim o entendessem, sem
Posteriormente procurámos questionar a relação
qualquer repercussão negativa para os próprios.
que existia entre cada unidade de significação e
Uma outra preocupação ética, por respeito aos
o
assim
como
o
termo
de
estudo,
procedendo
à
participantes e à boa prática científica, foi garantir
significados
através
da
o seu anonimato, bem como a confidencialidade
descoberta do significado de cada unidade de
dos dados. Assim, todos os nomes dos
significação
O
participantes (enfermeiros) foram ocultados e
significado permitiu evidenciar o sentido presente
substituídos por códigos, não constando nos
nas descrições originais, não devendo cortar a
anexos de caracterização dos mesmos. Em todo
ligação com a descrição original. A cada um dos
o
significados formulados foi também atribuído um
preocupação constante a procura consciente da
código, letra “S” que se agrupou ao código já
fidelidade aos dados, e a observância do
existente ficando: E1 S1, E1 S2, etc.
princípio da honestidade, assumida como um
fenómeno
formulação
Na
em dos
(unidades
realização
do
de
nosso
contexto).
estudo
foram
percurso
do
estudo,
revelou-se
uma
requisito de integridade científica (Holzemer,
considerados sistematicamente os princípios
2010).
éticos do consentimento informado, da não
No nosso trabalho não foi necessário a avaliação
maleficência, da beneficência, da autonomia e da
de uma comissão de ética, uma vez que os
justiça; as regras morais da fidelidade, de
participantes em estudo são enfermeiros e não
veracidade e de confidencialidade, e ainda o
doentes.
direito
dos
participantes
à
informação,
à
privacidade e à autodeterminação (Holzemer,
Resultados e Discussão
2010). De forma a garantir os princípios éticos inerentes
A análise dos dados permite-nos obter um
ao processo de investigação foi, inicialmente,
esquema compreensivo da relação entre os
realizado o pedido formal de autorização à
diferentes temas encontrados no decorrer da
Direção Clinica e Direção de Enfermagem do
análise da informação. A distribuição das ideias
HNSA, tendo sido dado um parecer favorável à
por temas permite reunir a informação em
realização do mesmo. Para tal, foi solicitada a
unidades estruturais, ajudando o investigador a
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
descobrir
o
seu
significado
(Streubert
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
&
Página 17
descobrir
o
seu
significado
(Streubert
&
Carpenter, 2002). Os
significados
Os conceitos desenvolvem-se a partir da experiência e assumem um papel fundamental
sendo
na clareza do fenómeno. Compreender o
agrupados dando origem às Categorias e
processo de construção e de resposta do
Subcategorias, as quais vamos referir ao longo
conforto
deste ponto, de forma a explicitar o fenómeno em
significação das conceções de conforto e não
estudo. Na discussão dos resultados seguiremos
conforto dos atores intervenientes. (Ribeiro,
essa ordem de apresentação, desenvolvendo e
2012)
analisando
subcategorias,
Após a análise dos nossos dados em estudo,
procurando deste modo descrever a estrutura
podemos dizer que no que respeita à Conceção
essencial da Conceção do Conforto da pessoa
de Conforto (Domínio) foram encontradas
em final de vida em contexto domiciliário, para os
quatro categorias (Expressão Física; Expressão
oito participantes (Enfermeiros). Para tal faremos
Multifocal/multidimensional
referência quer às unidades de significação quer
Expressão Afetiva e Necessidades Básicas
aos significados atribuídos ou até mesmos
Cumpridas)
ambos, visando a clareza na análise dos dados.
subcategorias, as quais vamos explicar com
As conceções de “Conforto”, que no nosso
detalhe em seguida.
estudo estão relacionadas com as conceções
Verificamos
dos enfermeiros incluem as formas como os
(categoria), o enfermeiro atribui importância ao
sujeitos
conceitos,
alívio/controlo da dor (Subcategoria) assim
considerando a perceção que deles é feita na
como o controlo de outros sintomas físicos, como
relação com os elementos relacionados com o
consta nas asserções: “ (…) [conforto é estar]
ideal ou com o verdadeiro significado (Carpenter,
sem dor ou sem outro descontrolo de sintomas…
2002).
É mais ao nível da dor…” E2 15; “ (…) [conforto
Atribuir significado será pois dar sentido à sua
é estar] sem agitação… (…) " (E2 17)
as
encontrados
categorias
foram
e
compreendem
os
implica
perceber
das
que
quais
na
o
sentido
do
a
Conforto;
emergiram
Expressão
e
várias
Física
forma “autêntica”, procurando compreender um determinado fenómeno (Watson, 2002).
Relativamente às subcategorias Estado de
As conceções são as unidades fundamentais, de
alívio/controlo de dor; Controlo Sintomático e
sentido ou da compreensão do fenómeno, de
Ausência de agitação, refletem os seguintes
acordo com a intenção dos atores em contexto e
significados encontrados:
apresentam-se
como
parte
integrante
da
descrição do mesmo (Ribeiro, 2012). Revelam o pensamento e a ação dos atores de cuidados em coletivo e, dos enfermeiros de forma individual, considerando a particularidade dos seus pontos
Relacionado com dor controlada (S8) Relacionado com controlo do sintoma agitação (S9) Relacionado
com
sintomas
físicos
controlados (S19)
de vista (Honoré, 2004).
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 18
Sabe-se que os enfermeiros têm um papel
liberdade de escolha e de autonomia. O
fundamental no alívio/controlo da dor uma vez
enfermeiro atribui importância à autonomia,
que lidam com os desconfortos dos doentes e o
como sendo algo fortemente ligado ao conforto,
que eles referem. O conceito é identificado numa
no sentido de poder ser autónomo nas suas
relação estreita com o controlo e com a ausência
rotinas o que leva a um estado confortador.
de dor, considerados, desta forma, como
A
sinónimos.
comprovada por diferentes autores ao afirmarem
A
experiência
dolorosa
é
um
multidimensionalidade
que a conceção de conforto pode adquirir
sociocultural, psicoespiritual e ambiental (Wilson,
significado de um estado de alívio ou de
2002; Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004;
encorajamento
sentido
Wilby, 2005, Yoursefi, H. et al. 2009; Oliveira,
positivo (Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2003;
2011; Ribeiro, 2012), o que corrobora os achados
Oliveira, 2011; Ribeiro, 2012)
do nosso estudo.
" (…) [conforto é] quando, acima de tudo, não tem
O estudo do significado e dos atributos de
dor visível, não tem dor descompensada (…)
conforto reconhece assim a seguinte categoria:
advém da ausência ou da diminuição da dor.” (E2
Expressão
14)
Conforto, assumindo diferentes características
“ (…) [conforto é] é o alívio dos sintomas (...) dos
definidoras
sintomas físicos, quaisquer que sejam (…) se
Subcategorias: Espiritualidade; Serenidade;
estiverem controlados (…) ” (E8 13)
Individualidade/Subjetividade; “Estar-Bem”;
Tal como refere a autora Ribeiro (2012) no seu
“Bem-estar
estudo, e que também se evidencia no nosso, a
Tranquilidade.
um
de
natureza
é
que
com
aspetos
conceito
fenómeno individual. A investigação evidencia
conotado
envolve
do
física,
Multifocal/multidimensional
das
quais
global”;
emergem
do
as
Dignidade
e
experiência e o significado de conforto, são referidos como uma sensação de comodidade e
O Conforto é caracterizado por ser um conceito
de alívio da dor, o que conduz ao reconhecimento
muito subjetivo e por isso individual, por questões
da individualidade da experiência humana do
relacionadas com o sentido da vida ou por uma
sofrimento, pelo ator de cuidado, numa ação
sensação de “Bem-Estar” interligadas com a
orientada pela possibilidade de ajudar o doente a
serenidade e tranquilidade desejáveis a estado
alcançar um estado de alívio/ausência de dor.
pleno de Dignidade.
Aspetos relacionados com a autonomia física
Os enfermeiros referem que o conceito é algo
(Subcategoria) são referidos pelos enfermeiros
difícil de definir por se alterar consoante as
como algo a considerar no conceito de conforto:“
circunstancias: “ (…) conforto para mim, que
(…) [conforto
num
também é uma situação que pode mudar.
processo que era normal, era uma rotina anterior
Portanto, a definição de conforto mudará
(…) ” (E3 33)
consoante a nossa situação.” (E5 9)
Na perspetiva de Watson (2002), cuidar implica
São vários os autores que defendem a perspetiva
consideração e respeito pela pessoa com vista à
de que o conforto é subjetivo, na medida em que
é]
sentir-se autónoma
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
há ter em conta qual o significado que cada VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 19
há ter em conta qual o significado que cada
estudo, como é justificado pelas unidades de
pessoa, família ou comunidade lhe atribui
significação: “ (…) [o conforto] permite-nos o
(Leininger, 1995; Malinowski & Stamler, 2002;
bem-estar necessário à qualidade de vida." (E1
Oliveira, 2011; Ribeiro, 2012). Assim sendo, é
26); “ (…) o conforto é… está ligado com um bem-
importante atender à individualidade da pessoa,
estar (…) ” (E3 46); “ (…) [conforto é] momento
de forma a poder intervir de acordo com as
em que se diz, eu estou bem no sítio em que
necessidades de conforto, tal como se evidencia
estou.” (E3 50); “ (…) [conforto é] estarmos bem
nos relatos dos idosos e dos enfermeiros:“ (…) [o
connosco próprios (…) ” (E4 13). A literatura
conforto] percecionado por cada um de nós de
aponta o conforto como um estado de prazer e
forma muito pessoal.” (E1 21); “ (…) o conforto é
de bem-estar. (Ribeiro, 2012)
(…) uma dimensão mais subjetiva (…) para percebermos se realmente está confortável ou
Assim sendo, e segundo o que descrevemos
desconfortável. “ (E1 25); “ (…) o conforto é uma
anteriormente, podemos dizer que no nosso
coisa, para si, como enfermeiro e como pessoa,
estudo encontrámos os seguintes significados,
deve ser outra, e cada um tem a sua definição de
após a análise dos dados:
conforto, e é aí que temos de ir de encontro…”
Conforto
(E3 44); “ (…) de encontro às minhas expetativas,
está
relacionado
com
a
individualidade (S4)
Conforto varia de pessoa para pessoa
às minhas necessidades enquanto pessoa, e não tanto de encontro a regras, padrões…” (E5 6)
(S5) O conforto está relacionado com o bem-
Watson (2002) refere na sua teoria, que o
estar (S6) Refere-se ao conceito de conforto como
conforto é contextualizado como uma condição que interfere no desenvolvimento interno e
algo difícil de definir (S15)
externo de cada pessoa, tendo em conta os seus valores, desejos, crenças e perspetivas, estando
Ainda
relacionado com a sensação de bem-estar, e
Multifocal/multidimensional do conforto, surgem
assumindo, desta forma, um carácter singular e
as
único.
na
[conforto é] toda a parte espiritual: saber que não
(Ribeiro, 2012), a
estamos sozinhos, saber que há alguém que
conceito
cuida de nós e que gosta de nós, e que está lá
sentido
mesmo só para nos dar a mão, e que, mesmo
quando se reporta a um estado desejável para
que não esteja presencial (…) ” (E8 14);
viver a vida, quando é relacionado com o “Bem-
Dignidade: “ (…) [conforto é] promover a
estar global” e o “Estar bem”, expressões
dignidade da pessoa (…) em fim de vida.” (E1 1);
próximas e similares, do conceito, de acordo com
Tranquilidade: “ (…) [doente] foi ficando mais
os
na
tranquilo.” (E1 8); Serenidade: “ (…) [conforto é]
perspetiva dos enfermeiros intervenientes do
Quando a pessoa (…) consegue alcançar algum
No
investigação
nosso
estudo,
da autora
expressão
também
do
multifocal/multidimensional
resultados,
e
bastante
ganha
expressivas
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
na
categoria
subcategorias
da
Expressão
Espiritualidade:
“
(…)
tipo de serenidade (…)” (E7 13). Encontraram-se VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 20
tipo de serenidade (…)” (E7 13). Encontraram-se
estar com a família, com os entes queridos (…) ”
os seguintes significados no nosso estudo:
(E3 22); “ (…) [conforto é] termos uma boa
Existe preocupação em promover a dignidade (S1) O
conforto
ter a minha família perto, poderem permanecer está
relacionado
com
tranquilidade (S2) O
conforto
estrutura familiar (…) ” (E4 14), “ (…) [conforto é] comigo (…) ” (E6 12); “ (…) o maior conforto tanto para o doente como para a família, eram as
está
relacionado
com
relações [entre pessoas].” (E3 24), assim como ao afeto; sorriso e felicidade: “ (…) [conforto]
serenidade (S3)
Relacionado com espiritualidade (S20)
estava muito ligado ao afeto (…) ” (E3 31); “ (…) [conforto é] sentir um sorriso todos os dias (…) ”
O facto de uma pessoa ter um sentimento de
(E3 45); “ (…) [conforto é] é sorrir (…) ” (E3 48); “
ligação a um ser superior, à natureza ou a algo
(…) [conforto é] estar feliz (…) ” (E3 49). Pode-se
superior a si mesmo e senti-los ainda como uma
dizer que os atores atribuem significado à forma
força e um apoio, poderá ter benefícios para a
como se relacionam entre as pessoas assim
mesma (Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004;
como a estrutura familiar que possuem, ou à
Ribeiro, 2008; Ribeiro; 2012). É reconhecido a
oportunidade de a família partilhar momentos
importância em promover a dignidade, numa
importantes, o que lhes leva a um estado de
ação humana sustentada pelos princípios éticos
felicidade, a um sorrir inerente com base na
do respeito da autonomia, da beneficência e da
relação de afeto. É ainda ter oportunidade de
não maleficência, no reconhecimento do Outro e
deixar recordações/memórias para as pessoas
da sua dignidade (Vieira, 2007; Nunes, 2011;
que permanecem vivas após a morte do próprio,
Ribeiro,
estrutura
como reflete a asserção: “ Mesmo que seja em
confortadora, o cuidado que conforta emerge
fim de vida. E saber que, após a nossa partida,
como um processo que é construído e que
que alguém nos há-de recordar.” (E8 15)
2012).
Ainda
nesta
resulta no aumento do conforto (Kolcaba, 2003). Parece fazer sentido olhar o conforto como a
A família apresenta-se como uma entidade
experiência de alívio ou consolo ou, ainda, como
dinâmica, onde as relações de socialização,
sensação de paz, serenidade/ tranquilidade ou
proteção
aconchego, face à vivência de um incómodo ou
dimensão importante (Silva, 2006). As funções
perturbação considerada como desconfortadora.
familiares são inúmeras, nelas pode-se incluir: o
(Ribeiro, 2012)
gerar afeto, entre os membros da família; o
e
apoio
constituem
assim
uma
proporcionar a satisfação, a aceitação pessoal, a A
Expressão
assume
segurança, a estabilidade e ainda o dar apoio e
também um papel relevante no que respeita à
resposta às necessidades básicas, em situação
conceção do conforto, com grande enfoque no
de doença (Ribeiro, 2012). O sorriso é um dos
nosso
relações
sinais de comunicação com sentido universal,
interpessoais: “ (…) o maior conforto (…) era
constitui-se como a expressão facial que melhor
estudo
afetiva
à
(Categoria)
família
e
às
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
rompe
barreiras
e
aproxima
as
pessoas,
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 21
pessoas,
de significação: “ (…) [conforto é] quando está
permitindo por isso estabelecer um mecanismo
(…) bem hidratado (…) " (E2 13); “ (…) um
de vinculação entre as mesmas. Os estudos
padrão de eliminação regular…” (E2 18). Pode-
sobre o sorriso demonstram que o sorriso tem
se dizer que só se consegue atingir um estado
efeito na interação social. Pode considerar-se a
desejável de conforto quando a hidratação ou o
influência
pelo
padrão de eliminação estiver satisfatoriamente
emissor na manifestação do mesmo pelo recetor,
cumprido. Kolcaba (2003) considera o conforto
promovendo um efeito terapêutico, em pessoas
como um estado em que estão satisfeitas as
que se sentem deprimidas ou pessimistas, ou
necessidades humanas básicas. O alívio é o
ainda como uma forma de um maior relaxamento
estado em que uma necessidade foi satisfeita,
(Ribeiro, 2012).
sendo necessário para que a pessoa restabeleça
Honoré (2002) refere que a saúde está no centro
o seu funcionamento habitual. As necessidades
da vida e é condição fundamental para a nossa
evidenciam-se como algo positivo que se pode
existência, estando associada à felicidade e à
relacionar com os desejos e as expectativas
autonomia. Assim, quando os atores referem o
particulares do doente, imprescindível para que a
conforto como um estado de felicidade podemos
pessoa assegure o seu bem-estar e se preserve
dizer que está associado a um estado de
física e mentalmente (Phaneuf, 2010).
autonomia, a um estado de bem-estar, presentes
No Diagrama seguinte podemos observar, de
quer na expressão física quer na expressão
forma resumida, as ideias centrais da Conceção
multifocal/multidimensional do conforto.
de Conforto na perceção do Enfermeiro
rompe
barreiras
do
e
aproxima
comportamento
as
sorriso
Surge ainda a referência pelos atores do nosso estudo, às Necessidades Básicas Cumpridas (Categoria) tal como exemplificam as unidades
Diagrama 1 - Conceção de Conforto: Categorias e Subcategorias JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 22
Referências:
research.
New
York:
Springer
Company. • de
Apóstolo, J. (2009). O conforto nas teorias enfermagem -
do
á gi n a 1 9
Leininger, Madeleine M. (1995). Trans-
conceito e
cultural care diversity and universality: A Theory
significados teóricos. Revista Referência, II Série
of care and nursing. New York: Grunt & Stratton.
(9).
•
•
análise
•
Publishing
Bardin (2014). L. Análise de Conteúdo. 4ª
Malinowski, Ann & Stamler, L.L. (2002).
Comfort: exploration of the concept in nursing.
edição. Lisboa: Edições 70;
Journal of Advanced Nursing, 39 (6), 599-606.
•
Doi: 10.1046/j.1365-2648.2002.02329.x
Bécherraz, M. (2002d). Expériences et
significations du réconfort pour l’infirmière, 4e
•
Partie. Recherche en Soins Infirmiers, 69, 111-
development and progress. 3ª ed. Philadelphia:
121.
Lippincott Williams & Wilkins.
Obtido
em
Melleis, A. I. (2005). Theoretical nursing
http://fulltext.bdsp.ehesp.fr/Rsi/69/111.pdf
•
•
conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8ª
Benner, P. (2001). De Iniciado a Perito.
Minayo MCS. (2004). O desafio do
Coimbra: Quarteto Editora.
ed. São Paulo (SP): Hucitec
•
•
Bland, M. (2007). Betwixt and between: a
Morse, J., Bottorff, J., & Hutchinson, S.
critical ethnography of comfort in New Zealand
(1994). The phenomenology of comfort. Journal
residential aged care. Journal of Clinical Nursing.
of Advanced Nursing.
•
•
Bogdan
(1991).
R.
Investigação
Morse, J.M. (2000). On comfort and
Qualitativa em Educação – Uma Introdução à
comforting. American Journal of Nursing, 100 (9),
Teoria e aos Métodos. Porto Editora.
34-38. Doi: 10.1046/j.1365-2648.2002.02329.x
•
•
Carpenter, D. R. (2002). Método de teoria
Nightingale, F. (2005). Notas sobre
fundamentada. In H. J. Streuberg & D. R.
enfermagem: o que é e o que não é. Loures:
•
Lusociência
Fortin, M-F. (2003). O processo de
investigação: da concepção à realização. 3ª
•
Edição. Loures: Lusociência. ISBN: 972-8383-
Fundamentos e Horizontes. Loures: Lusociência.
10-X.
•
•
Holzemer,
W.L.
(2010).
Nunes, L. (2011). Ética de Enfermagem.
Oliveira, C. (2011). O cuidado confortador
Responsible
da pessoa idosa hospitalizada: individualizar a
conduct of research. In W.L. Holzemer (Ed.)
intervenção conciliando tensões. (Dissertação de
Improving health through nursing research, (pp.
doutoramento publicada). Lisboa: Universidade
167-179). International Council of Nurses: Wilwy-
de Lisboa.
Blackwell.
•
•
perturbado. A doença de Alzheimer. Lisboa:
Honoré, B. (2004). Cuidar: persistir em
conjunto na existência. Loures: Lusociência. •
Phaneuf, M. (2010). O envelhecimento
Lusodidacta.
Kolcaba, K. (2003). Comfort theory and
practice. A vision for holistic health care and
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 23
Ribeiro, P. C. P. S. V. (2012) Natureza do
•
Processo de Conforto do Doente Idoso Crónico
humana e cuidar uma teoria de enfermagem.
em Contexto Hospitalar - Construção de uma
Loures: Lusociência.
Teoria Explicativa. Tese de Doutoramento em
•
Enfermagem. Lisboa: Universidade Católica
descriptions of comforting and discomforting
Portuguesa.
nursing actions. International Journal for Human
•
Caring, 9 (4), 59-63.
do
Ribeiro, P.; Costa M. (2012). O conforto doente
idoso
hospitalar:contributos
crónico
em
contexto
para
uma
revisão
•
Watson, J. (2002a). Enfermagem: ciência
Wilby,
M.
Willms,
(2005).
D.
(1993)
Cancer
patients
Johnson,
Essentials in Qualitative Research: a notebook
sistemática da literatura. Revista de Enfermagem
for the field. (mimeo) McMaster University,
Referência.
•
•
Ribeiro,
Patrícia.C.P.S.
(2008).
N.A.
Wilson, L. (2002). An investigation of the
A
relationships of perceived nurse caring, social
espiritualidade no doente crónico como uma
support and emotion-focused coping to comfort in
estratégia de coping: narrativa de uma história de
hospitalized
vida. Referência. II (7), 21-31.
doctoral dissertation). Newark, New Jersey.
•
•
Silva, J.F. (2006). Quando a vida chega
medical
Yousefi,
H.,
patients.
Abedi,
(Unpublished
H.
A.,
ao fim – expectativas do idoso hospitalizado e
Yarmohammadian, M.H. & Elliott, D. (2009).
família. Loures: Lusociência.
Comfort as a basic need in hospitalized patients
•
Sousa P.; Marques R.; Costa M.; Dixe M.
in Iran: a hermeneutic phenomenology study.
(2011). O conforto do doente idoso com doença
Journal of Advanced Nursing, 65 (9), 1891-1898.
crónica e de cuidadores informais em contexto de hospitalização.
International
Journal
of
Developmental and Educational Psychology. •
Sousa, P. S. (2014). O Conforto da
Pessoa Idosa. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa Editora •
Streubert, H., & Carpenter, D. (2002).
Investigação
qualitativa
em
enfermagem:
avançando o imperativo humanista. Loures: Lusociência. •
Tutton, E. & Seers, K. (2004). Comfort on
a ward for older people. Journal of Advanced Nursing. 46 (4), 380-389. Doi: 10.1111/j.13652648.2004.03005.x •
Vieira, M. (2007). Ser Enfermeiro. Da
Compaixão à Proficiência. Lisboa: Universidade Católica Editora. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Brito, D., et al (2017) Retinoblastoma: Palliative care in Children with Delayed Diagnosis Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 24 - 34
REVISÃO SISTEMÁTICA/ SYSTEMATIC REVIEW
ABRIL 2017
Retinoblastoma: Cuidados Paliativos em Crianças com Diagnóstico Tardio Retinoblastoma: Palliative care in Children with Delayed Diagnosis Retinoblastoma: Cuidados paliativos en niños con retraso en el diagnóstico
Autores Débora Brito 1 , Glenda Agra2, Nara Barros 3, Maria Freire 4 1,3
Enfermeira, Brasil,
2
Enfermeira, MsC, PhD student, Brasil, 4Enfermeira, MsC, PhD, Brasil,
Corresponding Author: deborathaise_@hotmail.com
Resumo A prevenção e o controlo da transmissão de infeções assumem-se como um dos principais focos de atuação dos profissionais de saúde. O Clostridium difficile é uma das bactérias presentes na flora intestinal não causando patologias nas pessoas saudáveis, mas com a utilização de alguns antibióticos, que podem interferir no equilíbrio normal da flora intestinal, pode desencadear-se patologia. Esta revisão sistemática da literatura tem por objetivo determinar quais os cuidados a ter para prevenção e controlo da infeção por Clostridium difficile. Palavras-chave: Infeção; Clostridium difficile; Prevenção; Controlo.
Abstract Prevention and control of infection transmission are assumed to be a major focus of activity of health professionals. Clostridium difficile is bacteria present in the gut without causing diseases in healthy people, but with the use of some antibiotics, that can disrupt the normal balance of the intestinal flora can trigger-pathology. This systematic literature review aims to determine what precautions to prevent and control infection by the bacteria referred. Key-words: Infection; Clostridium difficile; Prevention; Control. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 25
Introdução
cuidado com qualidade (Avanci & Carolindo,
Os avanços tecnológicos no contexto da
2009). O processo do cuidar/cuidado é inerente
saúde têm trazido grandes contribuições para a resolução de várias doenças que acometem a
à pessoa humana, desse modo precisamos
humanidade, porém ainda há aquelas de baixa
cuidar e sermos cuidados durante o nosso ciclo vital,
resolutividade, como o câncer. O retinoblastoma é o tumor ocular maligno mais frequente na infância, prevalente entre as idades de zero a quatro anos podendo afetar um ou ambos os olhos. Os meios terapêuticos
empregados
radioterapia
entanto
diante
do
processo
de
terminalidade, surge a necessidade de um cuidar peculiar impregnado da valorização do ser. Isto é a essência do cuidado paliativo (Silva & Sudigursky, 2008).
enucleação,
Pacientes com doenças avançadas fora
fotocoagulação,
de possibilidades terapêuticas de cura, não
são
externa,
no
quimioterapia, crioterapia e braquiterapia (Souza
somente em sua fase terminal, mas em todo o percurso da doença, apresentam fragilidades e
Filho et al, 2005). Mesmo com todos os avanços da medicina, o diagnóstico precoce do portador de retinoblastoma é o fator fundamental para o bom êxito da terapêutica e sobrevida. O prognóstico, incluindo a qualidade visual, é excelente quando o diagnóstico é realizado precocemente e o
limitações
específicas
de
naturezas
física,
psicológica, social e espiritual. Esses pacientes constituem uma realidade em hospitais, com sérias dificuldades para os administradores, profissionais de saúde, familiares e para os próprios pacientes. Surge assim a necessidade
tratamento conduzido de forma adequada. Mas
de um modo específico de cuidar (Silva &
ainda há casos em que a desinformação cultural
Sudigursky, 2008; Boemer, 2009). Do ponto de vista de Costa Filho et al.,
de pais e o conhecimento técnico por parte dos pediatras e oftalmologistas leva ao diagnóstico tardio
e,
em
desenvolvimento
consequencia
disso,
de
avançados
tumores
o
(2008) o cuidado paliativo (CP) ou paliativismo, é mais que um método, é uma filosofia do cuidar. O CP visa prevenir e aliviar o sofrimento humano em muitas de suas dimensões. São cuidados
(Antoneli et al, 2003). A criança com doença crônica estabelece
direcionados aos pacientes onde não existe a
um vínculo e uma familiaridade com o ambiente
finalidade de curar, uma vez que a doença já se
hospitalar devido às internações recorrentes e ao
encontra em um estágio progressivo, irreversível
tempo de duração destas. Isso faz com que os
e não responsivo ao tratamento curativo, sendo
profissionais
o
desenvolvam
que
atuam
vínculos
nos e
serviços conheçam
particularidades tanto da família quanto da criança, aprendendo a identificar as suas necessidades
para,
assim,
prestarem
um
objetivo
desses
cuidados
propiciarem
qualidade de vida nos momentos finais (Silva & Sudigursky, 2008; Boemer, 2009; Costa Filho, Costa, Gutierrez & Mesquita, 2008). Uma criança com diagnóstico tardio do retinoblastoma com alta porcentagem de um mau prognóstico (invasão do nervo óptico e/ou túnicas
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 26
oculares) deve receber os cuidados
cuidados paliativos direcionados a crianças com
paliativos, para que tenha uma boa qualidade de
diagnóstico
vida. Tendo em vista a importância do tema em
disponibilizadas em periódicos online da área da
evidência, surgiu o interesse de elaborar um
saúde, por meio de busca eletrônica no site da
estudo
cuidados
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de
paliativos em crianças com diagnóstico tardio de
dados Scientific Eletronic Library Online –
retinoblastoma através de um discurso literário e
SciELO.
buscando
descrever
os
sua aplicabilidade para o conhecimento do profissional de enfermagem.
tardio
em
retinoblastoma,
Os critérios de inclusão para a seleção da amostra foram: que os artigos abordassem a
Levando em consideração a importância
temática investigada, e que apresentassem o
do profissional de enfermagem nesses cuidados,
texto na íntegra. O critério de exclusão adotado
este estudo pretende buscar respostas para os
foi textos com acesso restrito. Neste contexto, a
seguintes
amostra deste estudo foi constituída por 18
podem
questionamentos:
ser
aplicados
Que
em
cuidados
crianças
com
artigos.
retinoblastoma? Em que circunstâncias eles
As etapas operacionais do estudo foram:
podem ser aplicados, no contexto no hospitalar?
escolha da temática; seleção das fontes; critérios
E que cuidados devem ser dispensados a estes
de inclusão e exclusão; seleção dos artigos que
pacientes?
abordavam a temática; extração dos dados dos
Diante
dos
questionamentos
acima
artigos selecionados a partir dos objetivos
levantados, este estudo teve como objetivo:
propostos; agrupamento dos itens selecionados
descrever as ações, no contexto dos cuidados
por categorias e subcategorias; apresentação
paliativos,
dos dados obtidos por meio de análise dos
direcionados
a
criança
com
diagnóstico tardio do retinoblastoma, no contexto
dados.
hospitalar.
Ao término da seleção dos artigos, foi preenchido um instrumento para a coleta de
Método
dados, contendo ano de publicação, nome do
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica
periódico, título do trabalho, área de formação
que segundo Costa (2000), é aquela que
dos pesquisadores e base de dados. Para a
desenvolve a partir de resolução do problema
exploração do texto, a segunda parte do
(hipótese) através das referências teóricas
instrumento foi preenchida com os enfoques
encontradas em livros, revistas e literaturas afins.
dados pelos autores. Portanto, para alcançar os
O seu objetivo é conhecer e analisar as principais
objetivos propostos, elegeu-se a técnica de
contribuições
análise do conteúdo temática, seguindo as
teóricas
já
existentes
sobre
determinado assunto (Costa, 2000).
etapas de pré-análise, que se constitui da leitura
A pesquisa foi realizada durante o período
flutuante, da classificação e da categorização,
de maio a novembro de 2010 a partir de
com
referências
interpretação dos dados. Desse modo foi
especializadas
relacionadas
a
respectivas
subcategorias;
análise
e
construído em tema de análise, denominado JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 27
construído em tema de análise, denominado
cefalorraquidiano com finalidade de classificar o
“Cuidados
estadiamento do tumor e direcionar o tratamento
Paliativos
em
Crianças
com
Diagnóstico Tardio de Retinoblastoma: Uma
(Antoneli et al, 2003).
Revisão Bibliográfica”.
Existem
diferentes
modalidades
terapêuticas que devem ser propostas de acordo Resultados e Discussão
com o caso. Devem-se sempre considerar
O retinoblastoma (RB) é o principal tumor
fatores locais e sistêmicos na escolha do
da retina que se origina dos retinoblastos
tratamento, como tamanho e localização do
imaturos da retina neural e a neoplasia maligna
tumor intraocular, comprometimento extraocular,
intraocular mais frequente na infância. Ocorre
lateralidade,
entre 1/14.000 e 1/20.000 dos nascidos vivos, de-
clínicas do paciente, presença de doença
pendendo do país avaliado. Mais de 90% dos
disseminada, entre outros (Tamura & Teixeira,
casos são diagnosticados antes dos cinco anos
2009).
de
idade.
Tem
condições
O tratamento depende do estadiamento
Os
da lesão, sendo que a enucleação permanece
primeiros, em geral bilaterais, podendo, ser ainda
como a forma mais comum de tratamento.
unilaterais com múltiplos focos tumorais são
Entretanto os recentes avanços no entendimento
considerados genéticos germinais e hereditários.
do retinoblastoma têm proporcionado novas
Os unifocais, obrigatoriamente unilaterais, são
modalidades de tratamento como quimioterapia
ditos
(endovenosa, subcutânea e intra-arterial) e
multifocal
somáticos
e
genética
visual,
com
apresentação
etiologia
prognóstico
ou
unifocal.
esporádicos
(Erwenne,
Antonelli, Marback & Novaes, 2003).
tratamento local (placa radioativa [teleterapia e
Quando há desconhecimento sobre o
braquiterapia],
fotocoagulação
a
Laser,
retinoblastoma, o tempo para se fazer o
termoterapia transpupilar [TTT] e crioterapia)
diagnóstico
(Souza Filho et al, 2005).
é
maior,
assim
retardando
o
encaminhamento até um centro de tratamento
A enucleação deve ser realizada como
especializado, permitindo que a doença torne-se
tratamento primário em olhos com tumores
mais avançada e as chances de cura diminuam
intraoculares
(Rodrigues & Camargo, 2003).
alterações anatômicas e funcionais. A utilização
avançados
que
apresentam
No caso do retinoblastoma, o diagnóstico
da enucleação como tratamento secundário
definitivo pode ser realizado através de um
ocorre quando não existe resposta ao tratamento
exame de fundo de olho, sob anestesia geral,
primário proposto. Deve-se tentar retirar o globo
tomografia de crânio e órbita, ultrassonografia do
ocular com o maior tamanho de coto de nervo
olho (o exame de ultrassom fornece informação
óptico possível. O coto do nervo é considerado a
sobre o tamanho da lesão e avalia a presença de
margem
calcificação
bastante
avançados da doença, com invasão do tumor na
característico do retinoblastoma), raio-x de
cavidade orbitária e no nervo óptico, podem se
crânio, mielograma e histológico do líquido
apresentar com proptose ocular e restrição da
intralesional,
sinal
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
cirúrgica
mais
importante.
Casos
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 28
motilidade ocular (Tamura & Teixeira, 2009).
orientação adequada à família e à escola (Brasil,
Vale ressaltar que a invasão do nervo óptico (N.O) e das túnicas oculares são considerados
importantes
2000). Nessa conjuntura torna-se necessário
achados
ressaltar que uma criança com diagnóstico tardio
histopatológicos relacionados ao prognóstico. A
com alta porcentagem de um mau prognóstico
frequência de invasão do N.O em olhos
(invasão do nervo óptico e/ou túnicas oculares)
enucleados por retinoblastoma varia de acordo
deve receber cuidados especiais, ou seja, os
com a literatura de 25% a 63%. A invasão do
cuidados paliativos.
nervo óptico até o plano de secção cirúrgica é
Segundo Boemer (2009), no Brasil,
considerada como fator de mau prognóstico.
surgem algumas iniciativas no sentido de
Nesses pacientes, a mortalidade varia entre 50%
implementar essa filosofia de cuidado, contudo,
a 81% (Souza Filho et al, 2005).
ainda há muito a fazer para consolidar essa
O
tratamento
do
retinoblastoma
é
abordagem terapêutica. O difícil acesso aos
complexo e requer uma equipe multidisciplinar
serviços de assistência, as falhas nas diretrizes
capacitada para o atendimento do paciente em
das políticas de saúde, a deficiência na formação
todas as etapas do processo. Os objetivos do
de profissionais e, principalmente, a falha de
tratamento são: salvar a vida da criança e,
informação ao paciente, nos confrontam com a
secundariamente, preservar o globo ocular e a
necessidade de controlar a dor, aliviar os
visão (Tamura & Teixeira, 2009).
sintomas, e promover uma melhor qualidade de
O sucesso do tratamento depende da
vida para essas pessoas. Com o avanço
habilidade dos pais e do pediatra em detectar a
tecnológico e a consequente detecção precoce
doença
de doenças, alguns profissionais direcionaram
quando
ainda
encaminhando-a
é
intraocular,
precocemente
ao
seu olhar para essa questão e, dessa forma,
oftalmologista para realização de um exame de
aprofundaram
seus
conhecimentos
nessa
fundo de olho e ao oncologista pediátrico para
abordagem, incorporando o conceito de cuidar e
tratamento adequado ao estádio da doença. A
não de curar.
fim de preservar não só a vida da criança como
O Ministério da Saúde tem expressado
também a funcionalidade do olho acometido
sua preocupação com a necessidade crescente
(Rodrigues, Latorre & Camargo, 2004).
de cuidados paliativos e de controle da dor e a
As crianças portadoras de retinoblastoma
partir dessa conjuntura publicou a Portaria
podem adquirir duas deficiências na fase de
GM/MS nº 19, de 03 de janeiro de 2002, na qual
aquisição de linguagem e desenvolvimento
instituiu o Programa Nacional de Assistência à
neuropsicomotor. A detecção precoce da perda
Dor e Cuidados Paliativos, possibilitando novos
auditiva é fundamental para evitar a progressão
debates acerca da temática e da capacitação
da surdez e permitir ao fonoaudiólogo, como
profissional, além de rever posturas pertinentes
membro
ao cuidado do paciente portador de doença
da
equipe
multidisciplinar,
uma
crônico-degenerativa ou em fase final de vida e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 29
paliativos (equipe hospitalar, família, e/ou outros)
seus familiares (Brasil, 2008). O que leva um paciente a ser incluído
(Remedi et al, 2009).
num programa de cuidados paliativos é a
Nesse sentido, é preciso refletir sobre a
condição de que, além do tratamento curativo,
inserção da equipe de enfermagem nos CP sob
existem outros sintomas e desconfortos que
a ótica da interdisciplinaridade, visto que o
comprometem sua qualidade de vida; sendo
cuidado é inerente à profissão desde sua
assim,
abordagem
concepção moderna, proposta por Florence
Por
Nightingale.
necessitam
competente
e
de
uma
especializada.
sua
Assim,
percebe-se
que
os
requer
enfermeiros podem ser norteados por essa
ação
diretriz, a ajudar a pessoa em seu momento de
multiprofissional (Remedi, Mello, Menossi &
final de vida, tendo, como fio condutor do cuidado
Lima, 2009).
e a preservação da dignidade dessa pessoa
complexidade,
o
planejamento
cuidado
paliativo
interdisciplinar
e
Astudillo Alarcón et al. (2009) referem que
(Boemer, 2009).
sofrimento
A participação de vários profissionais na
desnecessário, e os CP são direcionados ao
assistência à saúde propicia o envolvimento de
alívio e melhora a qualidade de vida de pacientes
todos os componentes da equipe com a
com dor crônica mantidos por longos períodos,
assistência e favorece melhor disponibilidade
até os últimos dias de vida.
dos profissionais diante de seus pacientes. Estes
o
manejo
da
dor
evita
o
A priorização dos cuidados paliativos e a
por sua vez, encontrarão maior abertura para
identificação de medidas úteis devem ser
expor seus problemas e questionamentos e isto
estabelecidas de forma consensual pela equipe
promoverá a qualidade do acolhimento. A
multiprofissional
humanização
em
consonância
com
o
do
processo
de
acolhimento
paciente, seus familiares ou seu representante
depende também da atuação adequada e da
legal. Após definidas, as ações paliativas devem
receptividade
ser registradas no prontuário do paciente (Moritz
trabalhadores que entram em contato direto com
et al, 2008).
os pacientes (Hoga, 2004).
demonstrada
por
todos
os
Segundo Remedi et al. (2009) uma vez
O cuidar está fundamentado num sistema
que a decisão sobre o tratamento tenha sido
de valores humanísticos universais, tais como
tomada, devem se escolher os elementos dos
amabilidade, respeito, afeto por si e pelos outros.
cuidados paliativos a serem implementados,
Este sistema de valores humanísticos envolve a
devendo a transição entre o tratamento curativo
capacidade de gostar das pessoas, apreciar a
e o paliativo ocorrer de modo gradual. Estas
diversidade e a individualidade. Desse modo,
escolhas
sintomas
entende-se que para cuidar, precisa-se ter por
(medicações e outras intervenções específicas),
base o sistema de valores humanísticos e de
o local do cuidado e da morte (casa, hospital ou
sensibilidade a fim de considerar os sentimentos
outro lugar) e os responsáveis pelos cuidados
diante da doença da criança e do tratamento
incluem
o controle
de
(Pedro & Funguetto, 2005). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
O que podemos perceber com tudo isso é VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 30
O que podemos perceber com tudo isso é
existam grandes expectativas de um longo prazo
que, as ações paliativas que a equipe de saúde
de vida. Assim, o importante é tornar o cuidado
oferece a estas crianças, estão relacionadas à
humanizado e não se deixar dominar apenas
tentativa de oferecer uma boa qualidade de vida,
pelos avanços tecnológicos e cuidados técnicos.
ou seja, um bem-estar geral. Neste sentido, o
Ser solidário com a dor do outro, saber ouvir, e
termo qualidade de vida, está diretamente ligado
tentar confortar a criança, seus familiares e
ao modo de pensar e de viver de uma pessoa
amigos. Com isso os objetivos dos cuidados
frente às condições culturais, psicológicas,
oferecidos pela equipe multiprofissional são de
espirituais e sociais na qual se encontra
tornar o cuidado mais humanizado e fazer com
inseridas.
que a criança sentia-se mais segura e confiante.
Floriani e Schramm (2008) enfatizam que
O cuidado de enfermagem em oncologia
os cuidado paliativo são fundamentados na
pediátrica vem se especializando e modificando
busca incessante do alívio dos principais
com o passar do tempo. Anteriormente, a família
sintomas
em
não podia acompanhar a criança no processo de
intervenções centradas no paciente e não em sua
hospitalização. Atualmente, a família se faz
doença,
participação
presente e é muito importante neste momento
autônoma do paciente nas decisões que dizem
crítico em que a criança se encontra (Avanci et
respeito a intervenções sobre sua doença); em
al, 2009).
estressores (o
que
do
significa
paciente; na
cuidados que visam a dar uma vida restante com
Cabe
ao
enfermeiro
promover
um
mais qualidade e um processo de morrer sem
cuidado centrado na criança em situação de
sofrimentos (em princípio evitáveis); sofrimentos,
viver/morrer, porém deve-se estabelecer a
estes, frequentemente agregados às práticas
comunicação entre os pais e/ou cuidadores, pois
médicas tradicionais; na organização de uma
a família o componente essencial na promoção
equipe interdisciplinar (Floriani & Schramm,
da saúde e no cuidado à criança, com assistência
2008).
integral (biológica, psicologia, social, econômica, Humanizar
a
experiência
da
dor,
espiritual e cultural). (Avanci et al, 2009).
sofrimento e perda, requer algo a mais da equipe
A comunicação entre a equipe e o
de saúde. O bom humor entre pacientes,
paciente terminal pode reduzir as emoções
familiares e equipe de enfermagem proporciona
negativas como depressão e ansiedade e
construção
promover
de
relações
terapêuticas
que
uma
decrescente
queda
da
permitem aliviar a tensão inerente à gravidade da
perceptividade da dor na pessoa. A ausência de
condição e proteger a dignidade e os valores do
comunicação pode levar o paciente a sentir
paciente que vivencia a terminalidade (Araújo &
solidão, vazio e incerteza. Mostrar-se disponível,
Silva, 2007).
compartilhar com o paciente suas dúvidas,
Nesse contexto percebe-se que a equipe
ansiedades e angústias, demonstrar empatia
multiprofissional tenta promover a essa criança
significa ao mesmo tempo saber ouvir (Costa
uma boa qualidade de vida mesmo que não
Filho, 2008).
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 31
Para minimizar ou evitar os traumas da hospitalização
nas
crianças
com
O controle da dor é um fator crucial nos
doenças
cuidados paliativos, pois pode ser incapacitante
crônicas ou em fase terminal, o ambiente
e causar efeitos indeléveis na criança e na
hospitalar não pode se limitar ao leito, devendo a
família. Seu manejo pode ser realizado através
unidade pediátrica fornecer condições que
de
atendam às necessidades físicas, emocionais,
farmacológicas. Dentre as primeiras, destaca-se
culturais, sociais, educacionais e de recreação,
a administração de opioides, não deve ter uso
contendo livros, jogos e brinquedos adequados
limitado no esforço de avaliar a dor (Remedi et al,
para estimular a auto-expressão da criança. Além
2009).
intervenções
farmacológicas
e
não-
disso, é necessário que os profissionais que
A dor ocorre em crianças que vivenciam
assistem essas crianças estejam satisfeitos com
uma série de desconfortos tais como lesões
suas condições de trabalho, fornecendo um
cutâneas, odores desagradáveis, ansiedade,
atendimento humanizado às crianças e seus
insônia, depressão, entre outros. Todos esses
acompanhantes (Lima, Jorge & Moreira, 2006).
diminuem de algum modo sua qualidade de vida,
O enfermeiro que atua nos cuidados
merecendo, assim, a atenção dos profissionais
paliativos precisa saber orientar tanto a criança e
de saúde. À medida que a doença progride maior
sua família quanto aos cuidados a serem
é a necessidade de cuidados paliativos, o que
realizados. Para isso é necessário que o mesmo
torna quase que exclusivos ao final da vida (Silva
saiba educar em saúde, de maneira clara e
& Hortale, 2006).
objetiva, sendo pragmático em suas ações,
A equipe interdisciplinar se propõe a
visando sempre o bem-estar da criança e seu
amparar a criança e seu cuidador/sua família
núcleo familiar. A equipe multiprofissional deve
sempre que necessário, desde o diagnóstico até
trabalhar no sentido de fortalecer a criança e sua
a fase de luto. O luto é marcado como um
família no momento em que é dada a notícia do
momento, uma experiência de resposta ao
diagnóstico, fornecendo informações sobre a
rompimento
patologia, tratamento e, principalmente, oferecer
consciência das perdas, da quebra de relação
uma abertura para que a criança e seus
afetiva,
familiares
extremamente doloroso. Por esse aspecto é que
expressem
seus
sofrimentos,
sentimentos e dúvidas (Avanci et al, 2009). Para as crianças que estão sob os
do
vínculo.
constituindo-se
É em
a
tomada
um
de
momento
o luto assume importância na filosofia de CP e se constitui objetivo de sua ação (Silva, 2008).
cuidado paliativos, o relacionamento humano é essencial no cuidado, pois ampara a fé e a esperança
nos
momentos
mais
Conclusões
difíceis.
Esta pesquisa aprofundou a compreensão
Expressões de compaixão e afeto na relação
e discussão a respeito dos cuidados paliativos
com o outro traz sensação de consolo e
em
realização, além de paz interior (Araújo & Silva,
retinoblastoma,
2007).
envolvidos com a importância de um diagnóstico
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
crianças
com na
diagnóstico qual
trouxe
tardio
de
conteúdos
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 32
precoce,
cuidados
fora
de
possibilidades
desenvolvimento do enfermeiro que atua nessa
terapêuticas de cura, assistência à criança
área de saúde ligada à criança com doença
oncológica e qualidade de vida.
oncológica
Quando o diagnóstico do retinoblastoma
fundamental
avançada.
Visto
importância
a
que
é
de
presença
de
é realizado tardiamente, conclui-se que a doença
profissionais especializados nessa área. Desta
já estará em seu estado irreversível, assim seu
forma,
tratamento será voltado com a finalidade de
intervenções
paliar e as medidas adotadas para a sua
profissionais, buscando assim, uma melhoria no
terapêutica envolvem cirurgia de enucleação,
sistema desses cuidados.
se
faz
necessário e
novos
treinamentos
estudos, para
os
quimioterapia e radioterapia associadas aos cuidados paliativos, que estão voltados para a
Referências
comunicação verbal e não verbal efetivas, ao alívio da dor, e aos aspectos sociais, psicológicos e espirituais da criança e dos familiares. Percebeu-se com esta pesquisa que os cuidados paliativos trabalham com o sofrimento, a dignidade, o cuidado das necessidades humanas e qualidade de vida pessoas afetadas por uma doença crônica e degenerativa ou em fase final de vida. Com isso, OS cuidados paliativos não estão direcionados só com a criança que está em fase terminal, mas também com seus familiares e amigos. Nessa conjuntura, pode-se dizer que as ações
paliativas
fazem
parte
da
prática
profissional, e estas podem ser prestadas em situações de condição irreversível ou de doença crônica
progressiva,
com
vistas a mitigar
repercussões negativas da doença e melhorar o bem estar geral da criança e seus familiares. Ressalta-se a importância desta pesquisa em contribuir para a assistência prestada à criança, fazendo com que o profissional de saúde reflita a importância dos cuidados paliativos, pois se enfatizou que na abordagem deste cuidado é
Antoneli, C. B. G., Steinhorst, F., Ribeiro, K. C. B., Erwenne, C. M., Novaes. P. E. R. S., Arias, V., Bianchi A. (2003). Evolução da terapêutica do retinoblastoma. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 66(4):401-408. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S000427492003000400002 Araújo, M. M.T., Silva, M. J. P. (2007). A comunicação com o paciente em cuidados paliativos: valorizando a alegria e o otimismo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 41(4), 668-679. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S008062342007000400018 Astudillo Alarcóna, W., Díaz-Albo, E., García Calleja, J. M., Mendinueta, C., Granja, P., Fuente Hontañóne, C., Orbegozoa, A., Urdanetaa, E., Salinas-Martínf, A., Montianog, E., González Escaladag, J. R., Torres, L .M. (2009). Cuidados paliativos y tratameiento del dolor en la solidaridad internacional. Revista de la Sociedad Espanola del Dolor, 16(4),246-255. Available form: http://scielo.isciii.es/pdf/dolor/v16n4/colaboracio n.pdf Avanci, B. S., Carolindo, F. M., Góes, F. G. B., Netto, N. P. C. (2009). Cuidados paliativos à criança oncológica na situação do viver/morrer: a ótica do cuidar em enfermagem. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 13(4), 708-716. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S141481452009000400004
necessário assegurar a dignidade da qualidade de vida à criança. Além disso, contribuir para o JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Brasil. (2000). Fundação Oncocentro de São Paulo. Comitê de Fonoaudiologia em Cancerologia. Emissões otoacústicas em VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 33
Cancerologia. Emissões otoacústicas em crianças com retinoblastoma. São Paulo: FOSP.
http://dx.doi.org/10.1590/S003471672006000300008
Brasil. (2008). Instituto Nacional de Câncer. (2008). Ações de enfermagem para o controle do câncer: uma proposta de integração ensinoserviço. 3. ed. Rio de Janeiro: INCA. Available from: http://www1.inca.gov.br/enfermagem/docs/ficha_ tecnica.pdf
Moritz, R. D., Lago, P. M., Souza, R. P., Silva, N. B., Meneses, F. A., Othero, J. C. B., Machado, F. O., Piva, J. P., Dias, M. D., Verdeal, J. C. R., Rocha, E., Viana, R. A. P. P., Magalhães, A. M. P. B., Azeredo, N. (2008). Terminalidade e cuidados paliativos na unidade de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 20(4), 422-428. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103507X2008000400016
Boemer, M. R. (2009). Sobre cuidados paliativos. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(3), 500-501. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S008062342009000300001 Costa Filho, R. C., Costa, J. L. F., Gutierrez, F. L. B. R., Mesquita, A. F. (2008). Como implantar cuidados paliativos de qualidade na unidade de terapia intensiva. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 20(1), 88-92. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0103507X2008000100014 Costa, S. F. G. et al. (2000). Metodologia da pesquisa: coletânea de termos. João Pessoa: Idéia. Erwenne, C. M., Antonelli, C. B. G., Marback, E. F., Novaes, P. E. (2003). Tratamento conservador em retinoblastoma intra-ocular. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 66(6):791795. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S000427492003000700011
Pedro, E. N. R., Funguetto, S. S. (2005). Concepções de cuidado para os cuidadores: um estudo com criança hospitalizada com câncer. Revista Gaúcha de Enfermagem, 26(2), 210-219. Available from: http://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermage m/article/view/4573/2507 Rodrigues, K. E. S., Camargo, B. (2003). Diagnóstico do precoce do câncer infantil: responsabilidade de todos. Revista da Associação Médica Brasileira, 49(1), 29-34. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S010442302003000100030. Rodrigues, K. E. S., Latorre, M. R. D. O., Camargo, B. (2004). Atraso diagnóstico do retinoblastoma. Jounal de Pediatria, 80, 511-516. DOI: http://dx.doi.org/10.2223/JPED.1266.
Floriani, C. A., Schramm, F. R. (2008). Cuidados paliativos: interfaces, conflitos e necessidades. Ciência & Saúde Coletiva, 13(2), 2123-2132. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S141381232008000900017
Remedi, P. P., Mello, D. F., Menossi, M. J., Lima, R. A. G. (2009). Cuidados paliativos para adolescentes com câncer: uma revisão da literatura. Revista Brasileira de Enfermagem, 62(1),107-112. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S003471672009000100016
.Hoga, L. A. K. (2004). A dimensão subjetiva do profissional na humanização da assistência à saúde: uma reflexão. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 38(1),13-20. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S008062342004000100002
Silva, R. C. F., Hortale, V. A. (2006). Cuidados paliativos oncológicos: elementos para o debate de diretrizes nesta área. Cadernos de Saúde Pública, 22(10), 2055-2066. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0102311X2006001000011
Lima, F. E. T., Jorge, M. S. B., Moreira, T. M. M. (2006). Humanização hospitalar: satisfação dos profissionais de um hospital pediátrico. Revista Brasileira de Enfermagem, 59(3), 291-296. DOI:
.Silva, E. P., Sudigursky, D. (2008). Concepções sobre cuidados paliativos: revisão bibliográfica. Acta Paulista de Enfermagem, 21(3), 504-508. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S010321002008000300020.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 34
Souza Filho, J. P., Martins, M. C., Torres, V. L., Dias, A. B. T, Lowen, M. S., Pires, L. A, Erwenne, C. M. (2005). Achados histopatológicos em retinoblastoma. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, 68(3), 327-331. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S000427492005000300010 Tamura, M. Y. Y., Teixeira, L. F. (2009). Leucocoria e teste do reflexo vermelho. Einstein, 7(3), 376-382. Available from: http://pt.scribd.com/doc/85277472/leucocoria
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Gonçalves, M. (2017) The Psychosocial Preparation for Retirement (PPR): planning for active aging within different ecosystems of human development. Journal of Aging & Innovation, 6 (13): 35 - 42
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
The Psychosocial Preparation for Retirement (PPR): planning for active aging within different ecosystems of human development A Preparação Psicossocial para a Reforma (PPR): planeamento para um envelhecimento activo nos diferentes ecossistemas do desenvolvimento humano Preparación Psicosocial para el Retiro (PPR): planificación del envejecimiento activo en diferentes ecosistemas del desarrollo humano
Autores Marta Gonçalves 1 1
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Cis-IUL, Lisboa, Portugal, Harvard Medical School
Corresponding Author: marta.goncalves@iscte.pt
Abstract Aim: The aim of this paper is to present an intervention that enables people to continue participating in social, economic, cultural, spiritual and civil matters avoiding isolation and passivity by acting at various levels of human development. Methods: In this paper we will discuss a Psychosocial Preparation for Retirement within the different ecosystems of human development: micro, meso, exo, macro and chrono. Results: This intervention may reduce costs in terms of health, education and social services. Conclusion: To have a happy, comfortable, secure, productive life after stopping working, people need to save enough money and to have developed other interests in order that self-esteem and identity is not only connected with the professional life with specific structure, rhythm and relationships. Keywords: active ageing, retirement, human development, psychosocial preparation, ecosystems, planning, psychological coaching
Resumo: Objectivo: O objectivo deste artigo é apresentar uma intervenção que permite às pessoas continuarem a participar em questões sociais, económicas, culturais, espirituais e civis, evitando o isolamento e a passividade actuando nos vários níveis do desenvolvimento humano. Método: Neste artigo discutiremos uma preparação psicossocial para a reforma nos diferentes ecossistemas do desenvolvimento humano: micro, meso, exo, macro e crono. Resultados: Esta intervenção pode reduzir os custos em termos de saúde, educação e serviços sociais. Conclusão: Para ter uma vida feliz, confortável, segura e produtiva, depois de parar de trabalhar, as pessoas precisam de poupar dinheiro e ter desenvolvido outros interesses para que a auto-estima e a identidade não se limitem à vida profissional com estrutura, ritmo e relações específicos. Palavras-chave: envelhecimento activo, reforma, desenvolvimento humano, preparação psicossocial, ecossistemas, planeamento, coaching psicológico
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 36
Introduction
retirement. Schlossberg (2004) recommends that
According to psychologists who study retirement, to have a happy, comfortable, secure, productive life after stopping working, people need to save
people attend pre-retirement seminars in which the psychological aspects of retirement are discussed in addition to the financial aspects.
enough money and to have developed other interests in order that self-esteem and identity is not only connected with the professional life with specific structure, rhythm and relationships (Qualls & Abeles, 2002). Schlossberg (2004) speaks about the psychological portfolio as a way to get people to think of retirement as a career change. According to the author retirement includes many transitions and there are many factors that contribute to help people negotiate or cope with them, as 1) work and family meaning and
satisfaction,
expectations
and
2)
retirement
timing,
work
planning, and
life
satisfaction, 3) health and financial security sense. Schlossberg (2004) identified six ways of approaching retirement: the continuers (who continue using their skills and interests), the adventurers (who start new skills and interests), the searchers (who explore new skills and interests), the easy gliders (who do not plan their day), the involved spectators (who dedicate their day to society), and the retreaters (who plan their day as holidays). According to Qualls & Abeles (2002), looking at a person’s past, present, and future from a life course perspective, i.e. life as a whole, explains why people differ in their retirement
experience.
The
American
Psychological Association's Committee on Aging has initiated the Life Plan for the Life Span 2012 project,
which
aimed
to
inform
people independently of their age about the new face of aging and retirement through user-friendly tips allowing people to plan for a successful
The example of a southern European country In Portugal, more and more, retired people present increased levels of frustration because private banks lost their savings or State cuts their retirement salary due to financial crisis. If many have to ask social institutions for help to survive, many of them come even to a desperate point where they prefer to take their own life. It is being a social problem where there is a need to intervene in terms of prevention. This prevention shall consider the active ageing approach enabling
people
to
participate
in
social,
economic, cultural, spiritual and civic issues, regardless of their age. Activities can go from travel, hobbies, volunteer work, exercise to other activities as continuing education. In Portugal, society
is
facing
multilevel
development
challenges in terms of ageing. There have been conducted several focus groups (Gonçalves et al., 2016a; Gonçalves et al., 2017) and meetings with different stakeholders (Gonçalves et al., 2016b) and tested different intervention health and clinical methodologies (Gonçalves & Farcas, 2014; Gonçalves, 2014; Gonçalves, M. & Cook, B., 2016; Gonçalves et al., 2016c; Gonçalves, 2017), which allowed us the design of a Psychosocial Preparation for Retirement. The aim of such an intervention is to enable people to continue
participating
in
social,
economic,
cultural, spiritual and civil matters avoiding isolation and passivity by acting at various levels of human development: micro, meso, exo, macro and chrono. This intervention may reduce costs
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 37
health, education and social services.
Demand for services and training in this area is increasing day by day and is becoming a pressing
Description of the Intervention
need in the near future. European societies are in
PPR means in Portuguese Retirement Savings
need of innovative responses. In this sense we
Plan. With the same initial letters we have created
developed
Psychosocial
another type of retirement plan, a psychosocial
Retirement,
a
one, which we call the Psychosocial Preparation
individualized active aging which can be used in
for Retirement. Psychosocial Preparation for
individual or group sessions.
Retirement was developed under the area of
Psychosocial Preparation for Retirement consists
active aging. Active aging is the process of
of three sequential and complementary levels,
enabling
social,
allowing participants in a situation of pre-
economic, cultural, spiritual and civic issues,
retirement or retirement design, to implement and
regardless of their age. Active aging is now an
sustain in monitored way with their psychosocial
area with a strong need for development.
plan for retirement (Table 1).
people
Methodologies
to
participate
supported
by
in
solution
Preparation to
a
planning
for of
cutting-edge
research are needed in this area.
Table 1. Steps of the Psychosocial Preparation for Retirement Approach JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 38
In the first level – pre-intention level, participants
intentions. Intentions moderate the planning-
get aware of a psychosocial preparation for
behaviour relation, as people with high intentions
retirement
are more likely to enact their plans.
and
work
on
their
retirement
psychosocial level on questions such as who they
The PPR approach could particularly help people
are, what do they want and how do they get there,
improve their retirement satisfaction by improving
time
management,
their quality of life and well-being by helping them
decision making, assertiveness, relationship and
stepwise changing their lifestyle. This intervention
interpersonal communication. In the second level
approach proposes that a strategy for ensuring
– intention level, participants are accompanied in
maintenance of satisfaction in retirement is
achieving their psychosocial preparation for
changing lifestyle based on two theories of the
retirement, that is, their individual active aging
nineties: The Health Action Process Approach
plan. In the third level – action level, participants
and The Human Ecology Theory.
management,
conflict
are invited to choose from a portfolio of activities suggested according to the needs identified
Theoretical Model of Behavioral Change
during the two first levels. According to this
The theoretical model of behavioral change under
intervention,
pre-intention
the PPR approach was developed is The Health
motivation process there is the generation of a
Action Process Approach of Schwarzer (1992), a
motivation, i.e. an intention to change behavior.
model originally developed in the late 80s by the
This first stage is related to risk perception and
integration
perceived self-efficacy. Risk perception is the
reasoned action theories and its application to
awareness of one's own risk in respect of certain
health
problem or the degree of symptoms experienced.
supported
Perceived self-efficacy is the conviction one can
mediators post-intention to overcome the gap
perform certain behaviors despite anticipated
between intention and behavior. It distinguishes
hurdles. The stage of post-intention volition
between the first stage of pre-intention motivation
process is to plan behavioral change even when
processes (risk perception, positive outcome
obstacles arise. This second stage is related to
expectancies and perceived self-efficacy) and the
action and coping planning. Action planning are
second stage of post-intention volition processes
the concrete conditions when, where and how the
(task self-efficacy, maintenance self-efficacy and
target behavior is to be implemented. Coping
recovery self-efficacy as well as action planning
planning are strategies to master efficiently
and coping planning) (Schwarzer & Luszczynska,
possible hurdles and anticipated difficulties.
2008).
According interventions
in
to
the
stage
Wiederman should
target
of
et
al.
of
social-cognitive,
behavior by
change.
empirical
volition
This
evidence,
and
approach includes
(2009)
intentions
as
Theoretical Model of Human Development
precondition or in combination with planning, as
The theoretical model of human development
action planning mediates between intentions and
under the PPR approach was developed is
behaviours when people hold sufficient levels of
Bronfenbrenner
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
human
ecology
theory
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 39
(Bronfenbrenner & Ceci, 1994), which states that
methodology allows a person to design, put into
human development and behavior is influenced
practice and fine tune a custom active aging plan,
by the different types of environmental systems:
beyond the achievements of the individual or
micro-, meso-, exo-, macro- and chrono system,
group context where the whole methodology is
being a person simultaneously recipient and actor
conducted.
within them. The micro system is the direct social
intervention in the preparation and experience of
interaction environment of a person, which
retirement
includes
friends,
concept of retirement as a career change,
classmates, teachers, neighbors. The meso
learning the factors that contribute to help them
system is the relationships between micro
negotiate
systems, for example between family and work.
distinguishing ways of approaching retirement.
The exo system is environment between a micro
PPR acts as a career counseling service to
system and a system where the person does not
retirement. Simultaneously, it acts as a health and
have an active role. The macro system is the
clinical intervention for ageing and dementia.
cultural environment of a person, which includes
Losing valuable knowledge or underutilizing
among others socioeconomic status, ethnicity.
capacity has very high costs for organizations.
The chrono system is the life transitions
These issues may anticipate the expected
environment of a person.
number of older people for 2050 (European
social
agents
as
family,
The helps
the
role
of
people
transition
a
psychological
understanding the
to retirement
and
Commission, 2011), helping societies deal with Discussion
this societal challenge. An intergenerational
The aim of this paper was to discuss a
intelligent approach may help aging organizations
psychosocial preparation for retirement within the
find solutions for an optimizing learning as a
different ecosystems of human development. An
bridge
intervention that enables people to continue
organizations already aware of these issues, an
participating in social, economic, cultural, spiritual
intergenerational intelligent approach may help
and civil matters avoiding isolation and passivity
further maximizing the benefits of knowledge
by
human
exchange between workers as to prevent the loss
development. It presents benefits for the private
of critical knowledge and skills, improve older
and public responsibility of care concerning
worker mobility, increase older and younger
aging. These benefits are related to the work on
worker competence and stimulate innovation. We
psychological
have
acting
at
various
levels
processes
under
of
behavioral
between
been
generations.
witnessing
physical, psychological, social, spiritual, financial,
countries and another for older people-friendly
family and leisure. With this approach we may
countries. The piece of the puzzle that seems to
answer the question of what are the specific
be missing is the call for all ages-friendly
needs for the older community in terms of the
countries (Gonçalves et al. 2016a). There is a
integration
need of an intergenerational approach in the
people.
The
PPR
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
for
two
simultaneous
older
one
worldwide
those
change in seven areas of health. These are
of
calls:
For
child-friendly
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 40
of
cognitive conditions, physical health data. We
intersectional public policies in sectors such as
might also think about the creation of a
education, social services, child, youth, family,
Specialization on Psychosocial Preparation for
health and welfare, employment, economy,
Retirement Leadership as it is a determinant of
environment and culture. A continued political
wellbeing having benefits for education, work,
leadership
health and human development and is influenced
design
of
public
to
maintain
coordination. Government,
policies.
A
An
agenda
collaboration
partnership
ministries,
local
and
and
between
by
gender,
ethnicity,
religious
national
immigration history, marital status, employment
government, non-governmental organizations,
situation,
employers and trade unions, research institutes
economical factors and health. The creation of a
and centers, media, civil society, learning centers
new figure or department in organisations of
and promoters of intergenerational practice
intergenerational
experts. The more efficient use of human,
proficient in human development knowledge,
physical and financial resources will impact public
effective
policies in terms of economy and employment,
partnership,
society, life-long learning and health & social
integration, adequate assessment tools, and
services.
the
reflection with care of bringing generations
youthcracy paradigms, we have at the moment
together for mutual benefit could also help to
worldwide an opportunity for an intergenerational
research
learning paradigm, where reciprocal relationships
organizational intergenerational intelligence.
with benefit for all generations are privileged and
Besides
intergenerativity
This
exemplifies the experimental and innovative
intergenerational learning paradigm calls for an
character in retirement psychosocial preparation
intervention public policy for all ages sustained in
practice and learning, in Portugal there is also an
time
the
innovative intervention under the new reciprocal
sustainability of communities, and promotes birth
learning paradigm (Gonçalves et al., 2016c) and
and active aging, supporting families (Gonçalves
a
et al., 2016b).
intergenerational policies (Gonçalves et al.,
that
After
the
gerontocracy
is
stimulates
and
possible.
cohesion,
favors
geographical
background,
practice
experts
communication,
and this
In
intervene
in
practice-based
group a
hearing
on at
socio-
who
are
compromise
interdisciplinary
working
2016b).
proximity,
knowledge
the
area
initiative
advocacy the
of that
for
Portuguese
Policy, Practice and Research Implications
Parliament on a Law Resolution in January 2015
The potential practical implications for this type of
(Gonçalves, 2015), there was a call for the need
programme are significant, considering the
for an integrated intergenerational dialogue and
increasing ageing population worldwide. This
of
approach if used in different cultures, including
(Gonçalves et al., 2016b). Although more
immigrants, may be also useful to compare
research in the area is needed, this paper
profiles between countries, e.g. psychosocial
enabled us to take an initial look at how we can
situation: mental health indicators, worries in age,
innovate in this area. It is a methodology of social
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
an
integrated
active
ageing
approach
responsibility profit and non-profit organisations VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 41
responsibility profit and non-profit organisations
Gonçalves, M. (Janeiro, 2015). Por um Portugal
should adopt. For example, it could be part of
Amigo de todas as Idades. Audição 224-CECC-
human resources practices. In an exploratory
XII da Comissão Parlamentar de Educação,
study to understand whether and to what extent
Ciência e Cultura. Resolucão n.o 87/2014,
employees’ commitment is or may be influenced
Aprofundar a protecção das crianças, das
by the organization in a country under Troika
famıĺ ias e promover a natalidade. Assembleia da
austerity (Gonçalves et al., 2017b), results were
Républica Portuguesa. Lisboa, Portugal.
consistent
with
literature
pointing
that
organisational commitment consists of a narrow
Gonçalves, M., Caramelo, S., & Almeida Ribeiro,
link between employees and their company and
J. (2016a). Training needs in the area of Ageing
vice-versa, regardless of business sector.
for Social Professionals and Senior Population in Portugal. Working with Older People, 20(1), 23-
References
29.
Bronfenbrenner, U., & Ceci, S. J. (1994). Naturenuture
reconceptualized
perspective:
A
in
developmental
bioecological
model.
Psychological review, 101(4), 568.
Gonçalves, M., Hatton-Yeo, A., & Branco, C. (2016b). Portuguese Working Group Advocacy for Intergenerational Policies: Challenges and Results. Working with Older People, 20(1), 30-
European Commission (2011), Demography
35.
Report 2010-Older, More Numerous and Diverse Europeans, Publications Office of the European
Gonçalves, M., Hatton-Yeo, A. & Farcas, D.
Union, Luxembourg.
(2016c). Overcoming ageism through a new intergenerational learning paradigm: challenges
Gonçalves, M. & Farcas, D. (2014). Active
and findings. Quality in Ageing and Older Adults,
Ageing and Intergenerational Dialogue: from
17 (4): 239-245.
research and intervention to policy. Revista Transcultural, 1, 145-154.
Gonçalves,
M.
&
Cook,
B.
(2016).
Lebenstraining: Die 7 Kernbereiche meiner Gonçalves, M. (2014). Resilience throughout life:
Gesundheit
zur
Gesundheitsförderung
und
the narrative of a senior missionary kidnapped
Prävention im Alter. In Martine Hoffmann (Hrsg.)
by Renamo. In Ionescu, S., Tomita, M. & Cace,
Angewandte Forschung, 4: 36-38.
S. (Eds.), The Second Word Congress on Resilience: from person to society (pp. 713-716),
Gonçalves, M., Martinez Fernandez, R., Correa
Pianoro, Italy: Medimond.
de Oliveira, G. & Liz, C. (2017). Organisational commitment and family-work conciliation in a country under Troika austerity. Journal of
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 42
Organisational
Transformation
and
Social
Change.
Gonçalves,
M.
(2017).
The
potential
of
intergenerational conversations on professions to help organizations become intergenerational intelligent. Quality in Ageing and Older Adults.
Qualls,
S.
&
Abeles,
N.
(Eds.).
(2002).
Psychology and the aging revolution: How we adapt to longer life. Washington, D.C.: American Psychological Association.
Schlossberg, N. (2004). Retire Smart, Retire Happy: Finding Your True Path in Life. Washington,
D.C.:
American
Psychological
Association.
Schwarzer,
R.
(Ed.)
(1992).
Self-efficacy:
Thought control of action. Washington, DC: Hemisphere.
Schwarzer, R., & Luszczynska, A. (2008). How to overcome health-compromising behaviors: The health action process approach. European Psychologist, 13(2), 141-151.
Wiedemann, A. U., Schüz, B., Sniehotta, F., Scholz,
U.,
&
Schwarzer,
R.
(2009).
Disentangling the relation between intentions, planning, and behaviour: A moderated mediation analysis. Psychology and Health, 24(1), 67-79.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Nogueira, A., Azeredo, Z. (2017) What is lacking for the elderly in today’s society?, Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 43 - 52
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
O que falta aos idosos na sociedade atual? What is lacking for the elderly in today's society? Lo que falta para las personas mayores en la sociedad actual?
Autores Assunção Nogueira 1 , Zaida Azeredo 2 1
Escola Superior de Saúde Vale do Sousa, IPSN, IINFACTS, CESPU, PhD 2 RECI, Instituto Piaget, PhD
Corresponding Author: assuncaonog@gmail.com
Resumo Com este estudo pretendemos conhecer as necessidades do idoso no contexto da sua vivência, na opinião dos cidadãos. Pretendeu-se identificar inexistências de recursos na sociedade para o seu bem estar. Da análise de conteúdo, podemos constatar que as necessidades dos idosos são múltiplas: de acessibilidade aos cuidados e serviços de saúde, falta de apoios sociais, inexistência de equipamentos na comunidade, habitação desadequada, recursos económicos escassos, levam a que este grupo seja descriminado /isolado da sociedade culminando, no próprio, com sentimentos de solidão. Todas estas necessidades requerem uma atenção particular e exigem medidas políticas não só para aquisição de equipamentos e serviços na comunidade, mas também de educação para a saúde e cidadania, desde muito cedo, com participação ativa dos idosos na vida em sociedade. Palavras chave: Envelhecimento, qualidade de vida, educação. Resumen Con este estudio se pretende conocer las necesidades de las personas mayores en el contexto de su experiencia, en la opinión de los ciudadanos. Se tenía la intención de identificar los recursos inexistências en la sociedad por su bienestar. El análisis de contenido, podemos ver que las necesidades de los ancianos son múltiples: la accesibilidad a la atención y servicios de salud, la falta de apoyo social, la falta de equipo en la comunidad, la vivienda inadecuada, los escasos recursos económicos, significan que este grupo se discrimina / aislado de la sociedad culmina en sí mismo, con la sensación de soledad.Todas estas necesidades requieren una atención especial y requieren medidas de política no sólo para la compra de equipos y servicios en la comunidad, sino también la educación sanitaria y la ciudadanía, desde una edad temprana, con la participación activa de las personas mayores en la sociedad. Palabras clave: envejecimiento, calidad de vida, de educación. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 44
Introdução
incapacidades a vários níveis e que acarretam
O envelhecimento demográfico é algo ímpar na
muitos gastos para a economia do país. Os
Humanidade e tem sido um tema que tem
documentos
preocupado
sociedade.
demonstram uma contínua preocupação face ao
Ninguém tem dúvidas de que o período que
aumento exponencial da população idosa e aos
atravessamos é histórico pelas transformações
impactos que imprimem nos territórios sociais,
sociodemográficas que assistimos. A população
referindo-se
está a envelhecer e vai continuar a envelhecer
problema.
rapidamente, nas próximas décadas. Os países
Ao considerar-se um problema social, a velhice,
do sul da Europa, nos quais se incluem Portugal
passou também a ser um foco de interesse e a
e Espanha, estão a sofrer um envelhecimento
mobilizar gente e meios para este grupo. Os
mais acelerado do que outros países da
investigadores passaram a ter uma atenção
Comunidade Europeia, o que dificulta uma
especial com o fenómeno do envelhecimento e
adaptação da sociedade a uma percentagem
com os idosos, afim de encontrarem soluções
elevada e em crescendo de idosos e a uma nova
para os seus problemas. O envelhecimento da
imagem social por estes desejada e que também
população marca o contexto atual nos variados
é real.
domínios da sociedade contemporânea, impondo
Alexandre Kalache, médico Brasileiro, diz que
repensar conceitos, práticas e visões pessoais e
estamos em plena “revolução da longevidade”,
sociais (Barbosa, C. s/d). Para que se possam
pelo que é urgente encontrar soluções das
tomar medidas políticas e sociais torna-se
diferentes instituições sociais e politicas para
importante conhecer a opinião da própria
responder de forma ajustada às necessidades e
população.
interesses das pessoas idosas.
Assim, propusemo-nos realizar um estudo afim
Se por um lado é gratificante verificarmos que as
de conhecer a opinião da população sobre o que
melhores condições de vida, o apoio na saúde, o
falta ao idoso tendo em atenção o seu bem-estar.
vários
desenvolvimento
setores
cientifico
da
e
oficiais
ao
e
alguns
envelhecimento
autores
como
um
tecnológico,
trouxeram mais anos de vida às pessoas, por
Metodologia
outro, infelizmente, o aumento da longevidade,
Realizamos um estudo exploratório, com uma
não vem acompanhado de ações públicas e
amostra intencional a 121 pessoas, com idades
politicas que assegurem melhor qualidade de
compreendidas entre os 13 e os 86 anos (média
vida, no futuro, às pessoas mais idosas (Walker,
41,42 anos; desvio padrão de 22,405). Era nosso
2002).
interesse perceber o que pensam as pessoas
No mundo ocidental, onde nos situamos, ainda
sobre o que falta aos idosos para obterem bem-
são valorizadas a otimização da economia e da
estar. Os indivíduos foram abordados em
produtividade, remetendo para um segundo
diferentes ruas de Famalicão, cidade suburbana,
plano os idosos por serem considerados um
do distrito do Porto, Portugal, na primeira semana
grupo
de Dezembro de 2016.
vulnerável,
não
produtivo,
com
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 45
Utilizamos
um
questionário
de
1.Serviços sociais e de saúde
autopreenchimento, dividido em duas partes, na
No parecer dos indivíduos, os recursos de saúde,
primeira constituído por questões abertas, que
são escassos constituindo para muitos idosos um
nos permitiu caracterizar os informantes sócio
problema por acarretarem custos para o mesmo,
demograficamente (idade, sexo, estado civil,
pois têm de percorrer longas distancias para
escolaridade e profissão) e na segunda parte do
acederem aos cuidados médicos e só recorrem a
questionário constituído por questões abertas
estes quando se sentem doentes. No estudo
sobre a opinião do local de residência se tem
realizado por Louvison (2008) este verificou que
condições para garantir o bem estar aos idosos e
a maioria dos idosos estudados apresentam altas
dar resposta às suas necessidades.
taxas de utilização de serviços de saúde, mas os
Os dados foram tratados recorrendo-se à técnica
que menos os utilizam, indicam como razões: a
da análise de conteúdo, de onde emergiram
distância a percorrer, os custos e questões
classes categoriais, construídas à priori e à
relacionadas com a gravidade da doença.
posteriori, que dessem resposta ao propósito do
Para os idosos a necessitarem de algum tipo de
nosso trabalho. Analisamos individualmente as
apoio os informantes referiram que os apoios
respostas de cada questão extraindo unidades
socias são inexistentes ou insuficientes para este
de registo elucidativas das classes categoriais
grupo etário dadas as muitas necessidades que
(Bogdan & Biklen, 1994). Antes de acederem ao
têm.
estudo os participantes foram informados e
vestuário, higiene pessoal, asseio da residência
esclarecidos do propósito do mesmo, garantindo-
para além de companhia, foram algumas razões
lhes também o anonimato e a confidencialidade
apontadas. Este
dos dados. Os indivíduos participaram de forma
referido para idosos que já têm algum tipo de
voluntária e esclarecida. Deste modo, honramos
incapacidade ou são dependentes de terceiros
e
para a realização dos seus autocuidados. Este
respeitamos
todos
os
princípios
éticos
inerentes a este tipo de pesquisa. Resultados
Apoio
na
preparação
de
refeições,
apoio social é sobretudo
tipo de apoio pode ser formal, (quando prestados por profissionais de saúde e/ou sociais inseridos numa rede de serviços, estatais ou privados/ de
Das 121 pessoas inquiridas 60,3% eram do sexo
solidariedade social) ou informal quando a ajuda
feminino e 39,7% do sexo masculino A média de
é obtida a partir de familiares vizinhos ou amigos.
idades foi de 41,4 anos. 31,4% possuía o ensino primário ou não tinha escolaridade; 51,2%
2.Equipamentos na comunidade
possuía o ensino secundário e 17,4% o ensino
Embora
superior.
comunidade dirigidos a idosos, nomeadamente
As respostas obtidas, depois de analisados os dados, incidiram sobre os seguintes problemas a que urge dar solução:
lares,
existam centros
muitos de
dia
equipamentos ou
de
na
convívio,
proporcionados por instituições particulares de solidariedade social e outras organizações privadas apoiadas (ou não) financeiramente pelo Estado, eles continuam a ser insuficientes para
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 46
Estado, eles continuam a ser insuficientes para
O mesmo estudo diz que as condições em que
darem resposta à população idosa existente. Há
se encontram os passeios têm um impacto
locais na periferia de Famalicão que não dispõe
evidente sobre a possibilidade de as pessoas
de quaisquer equipamentos. Por outro lado, foi
andarem na sua zona de residência. Assim,
referido pelos informantes que os existentes
passeios estreitos, desnivelados, rachados, com
apoiam-se num modelo de intervenção que é o
bermas altas, congestionados ou com obstáculos
mesmo de há muitos anos, o que leva a que os
representam perigos potenciais e afetam a
idosos não os queiram frequentar pois não
capacidade dos idosos para se movimentarem.
correspondem ao que pretendem em relação às
Em muitas cidades, são mencionadas as
atividades de que dispõem. Por outro lado estes
barreiras
representam para muitos idosos como o “estar
desencorajar os idosos de saírem de casa (OMS,
acabado” e “esperar a morte” existindo relutância
2007).
ao
acesso
físico,
que
podem
em frequentá-los. A criação de atividades de entretenimento, quer
3.Habitação do idoso inadequada
nas instituições quer na própria comunidade,
Foram poucas as pessoas que se referiram à
dirigidas a idosos foram algumas sugestões
habitação do idoso, mas os que se pronunciaram
fornecidas. Também foi referida a necessidade
sobre esta referiram que as habitações dos
de mais espaços verdes (parques e jardins)
idosos são no geral degradadas e sem condições
acessíveis a este grupo, assim como passeios
para uma pessoa viver com dignidade. As
que acompanhem as ruas e rampas e/ou
escadas de acesso à habitação em edifícios ou
elevadores nos serviços públicos.
em casas, condições sanitárias degradadas, por
“Envelhecer em casa” será para muitos idosos a
serem casas antigas e sem manutenção,
sua, quase única opção, pois existem inúmeras
compartimentos muito pequenos e casas de
barreiras no ambiente exterior e no acesso aos
banho sem condições, foram alguns dos aspetos
edifícios públicos.
apontados.
fundamental
Estes
sobre
a
têm um
impacto
mobilidade,
a
É na sua habitação que muitos idosos preferem
independência e a qualidade de vida dos mais
permanecer mesmo depois de ficarem sozinhos,
velhos. Num estudo realizado pela OMS (2007)
pois é aqui que encontram os seus objetos
em várias cidades do mundo concluiu-se que
particulares e as suas memórias pessoais
existem obstáculos que impedem que os idosos
(Nogueira, 2016). A habitação é fundamental
utilizem os espaços verdes. A existência de áreas
para a segurança e o bem-estar. Vários aspetos
em que as pessoas possam sentar-se é
do projeto de uma casa são considerados fatores
geralmente considerada pelos idosos uma
que determinam a possibilidade dos idosos
característica urbana necessária: para muitos
viverem em casa com conforto (OMS, 2012).
idosos. É difícil andar nas zonas onde vivem se
Podemos sublinhar que é importante para os
não houver locais onde possam descansar
idosos viverem em casas construídas com
(OMS, 2007).
materiais adequados e com: estruturas sólidas;
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 47
superfícies planas; elevador, caso se trate de um
Pese embora estas constatações estatísticas,
edifício com vários andares; casa de banho e
existem evidências de que a estrutura e dinâmica
cozinha adequadas; espaço suficiente para
familiar
permitir a movimentação; passagens e portas
sociedade moderna. A mulher, com papel de
suficientemente largas para permitir a circulação
cuidadora na família tradicional, passou a
de uma cadeira de rodas; e equipada de modo a
trabalhar fora de casa, a mobilidade social e a
oferecer
educação muito díspar entre gerações (pais e
proteção
contra
as
condições
climatéricas (OMS, 2012).
tem
sofrido muitas
alterações
na
filhos), estabelece uma clivagem no seio familiar e fá-las desintegrarem-se; sucedendo de uma
4.Família
forma idêntica em relação à grande assimilação
Quando se referiram à família enquanto suporte
de novos valores, atitudes, condutas ligadas à
ao idoso, alguns informantes, relataram que
industrialização, à cidade e ao prestígio dos
estes são abandonados e têm falta de afeto dos
estranhos (Nogueira, 1996, cit Martins, 2005).
filhos existindo uma quebra de laços emocionais
Todas estas transformações levam a que a
ou então, estes negligenciam os cuidados aos
família não seja capaz de resolver os problemas
pais, que desta forma não são apoiados nas
que se colocam hoje aos idosos como satisfazer
AVD, “como eram os idosos de antigamente”,
as necessidades físicas (alimentação, habitação
quando o idoso tem necessidade desse apoio
e outros cuidados), psíquicas (como autoestima,
pelas várias incapacidades que foram surgindo.
comunicação e pertença a um grupo) (Martins
A família é a célula básica da sociedade e a ela
2005). Muitos idosos por não terem suporte
são atribuídas várias funções. Se corresponde ao
familiar estão confinados à institucionalização.
que a sociedade espera dela, cumprindo as suas
Também aqueles que são cuidados no seio
funções, diz-se que a família é funcional, se pelo
familiar, podem levar a um enorme desgaste
contrário não cumpre com os papeis que lhe são
físico e emocional do cuidador, repercutindo-se
destinados poderemos estar perante uma família
isto no bem-estar do idoso. Esta situação,
disfuncional mais ou menos grave (Azeredo &
depende do grau de incapacidade do idoso, do
Matos, 1998, cit Martins, 2005). Embora a família
tempo de prestação de cuidados, da preparação
continue a querer cuidar dos seus membros
do cuidador para desempenhar o papel e da
idosos e os idosos também prefiram ser cuidados
acumulação de funções. Este fenómeno é
por eles (Nogueira & Azeredo, 2016) nem sempre
comumente
hoje é possível tal situação, necessitando, por
cuidador familiar (Nogueira & Azeredo, 2016).
designado
por
sobrecarga
do
vezes de ser complementados por instituições estatais ou privadas. No entanto, as estatísticas
5.Ageismo
demonstram que os idosos que necessitam de
O ageismo (também chamado idadismo)
cuidados são, na maioria, cuidados pelos seus
refere-se essencialmente às atitudes que os
familiares (Paúl & Fonseca, 2005).
indivíduos
e
a
sociedade
têm
frequentemente com os demais em função JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 48
da idade (Goldani 2010). Utiliza-se este termo
solidão é sentimento subjetivo, relacionado com
para designar algumas formas de discriminação
a qualidade da interação social. Existem alguns
em relação aos idosos. Quando questionados
motivos para que este sentimento se instale no
sobre o que pensam do ageismo, a esmagadora
idoso: perda de papéis sociais, problemas de
maioria não sabe o significado do termo. Os
saúde, reforma, isolamento social, entre outros
respondentes referiram que “é triste pensar que
(Freitas, 2011). Nos nossos registos foram
alguém pode ter este tipo de atitude em relação
apontados como causas para a solidão nos
aos idosos, sendo que toda a gente vai
idosos e para o seu isolamento, o abandono dos
envelhecer” ou “uma falta de respeito pela
filhos, o estarem sós e isolados de tudo e de
experiencia que a idade traz e a forma como
todos (em zonas rurais), a falta de afeto e
pode ajudar a juventude” ou “são desprezados
compreensão, a pobreza, o já não poderem
depois de uma vida de trabalho” e ainda “a
trabalhar devido a terem problemas de saúde e
discriminação é um dos grandes problemas,
consequentemente a diminuição da mobilidade.
cada vez mais os idosos estão a ser alvo de
Onde existe falta de comunicação, participação
descriminação”. Palavras como o falta de
social ativa e afetiva pode existir o sentimento de
respeito,
foram
solidão. Julgo que os informantes associam a
registadas pelos inquiridos. As conceções de
solidão a estas perdas de que o idoso está
velhice nada mais são do que resultado de uma
sujeito.
construção social e temporal feita no seio de uma
A solidão surge não só em idosos que estão sós
sociedade com valores e princípios próprios
e isolados mas também no seio das famílias e
(Schneider & Irigaray, 2008). A nossa sociedade
nas instituições (Freitas, 2011), pela diminuição
nega, aos velhos, o seu valor e importância
da sua auto estima, pela redução de contatos
social. Vivemos numa sociedade de consumo
sociais e afetivos, provocando no idoso um
onde a produtividade, o belo e o novo são
enorme sofrimento. Este é considerado como
valorizados. Nesta realidade os idosos são
uma
descartáveis,
problemáticas a que se torna urgente responder
discriminação
passam
e
a
desprezo
ser
vistos
como
ultrapassados ou já fora de moda.
das
experiências
mais
penosas
e
(Azeredo & Afonso, 2016). O isolamento dos idosos foi um problema
6.Solidão e Isolamento do idoso
referenciado como associado a questões de falta
Os mais jovens e os adultos têm a perceção de
de afetos entre as diferentes gerações, a
que a solidão é um sentimento muito presente
dificuldades de acessibilidades e de recursos.
nos mais velhos. É muito comum fazer-se uma
Desta análise somos levados a referir que se por
associação direta entre a velhice e a solidão,
um lado, a falta de apoio familiar e social aos
visto que se considera normal a existência deste
idosos, a falta de apoios sociais às famílias
sentimento por parte do idoso.
cuidadoras, tendem para o isolamento, por outro
Embora isolamento e solidão não sejam
este isolamento também é devido às condições
sinónimos o isolamento pode levar à solidão. A
da habitação e acessibilidade ao exterior, que
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
agregadas
ao
declínio
da
autonomia
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
e
Página 49
agregadas
ao
declínio
da
autonomia
e
quando se refere que a segregação dos idosos é
mobilidade, contribuem ainda mais, para o
apenas uma questão doméstica.
agravamento do problema do isolamento e
Para
consequentemente para a solidão dos mais
informantes
idosos.
educação desde idades muito jovens, em que
reduzir
estes referem
conflitos ser
os
nossos
necessária
uma
exista mais diálogo e convívio intergeracional. 7.Conflitos intergeracionais
Segundo Lopes (2008, p.26) “o diálogo entre
Este tema, embora com algumas opiniões
gerações contribui para uma nova consciência
divergentes, foi o que mais suscitou o interesse
comunitária, na medida em que desenvolve as
dos participantes deste estudo. São atribuídas
relações interpessoais, quando entram em
como causas de conflitos entre as gerações mais
contacto com novas vivências de diversos modos
velhas e a mais novas: a falta de respeito,
de
paciência bem como a falta de tempo dos mais
intergeracionais renovam opiniões e visões
novos em querer entender e compreender os
acerca do mundo e das pessoas”. A Declaração
mais
intergeracionais
de Québec sobre a solidariedade intergeracional,
acompanham a história da humanidade. Numa
assinada em 1999, dá enfase à necessidade de
sociedade de evolução muito rápida estes
cultivar relações harmoniosas e produtivas entre
tornam-se mais evidentes porque os idosos,
as
apesar do seu esfoço, têm dificuldades em
humana, a paz e a justiça social (Declaração de
acompanhar e adaptar-se a essa evolução. Há
Quebéc, 1999, cit Teiga, 2012). A UNESCO, em
preconceito sobre o que o idoso ainda pode fazer
2000, defende a criação de programas para a
e pensar. Para um dos informantes : “acham que
inclusão
os idosos são inúteis e não se adaptam às novas
comunidade. Incentiva os estados a financiar
gerações”.
estes programas porque tanto trazem benefícios
As relações sociais são uma parte do bem-estar,
para os mais velhos como para os mais novos.
estimulando a mente e o pensamento, tendo, por
Para os idosos procuram minimizar as perdas do
isso,
múltiplos efeitos positivos na fase da
processo de envelhecimento, ao promover a
velhice. O ser humano é um Ser social com
inclusão e a sua valorização para além de
necessidade de manter e desenvolver relações
desenvolver
sociais. Embora não tenha sido referido que os
transmissão dos conhecimentos, habilidades e
conflitos intergeracionais ocorrem com maior
valores humanos a outras gerações. Para os
frequência no seio da família, parece-nos que é
mais novos procura-se promover interações
mesmo no seio da família que eles surgem mais
diferenciadas, promover aquisição de saberes
frequentemente, pois os nossos informantes
através da educação Informal transmitidas pelos
referiram-se inúmeras vezes aos filhos ou netos.
mais velhos, despertar nas crianças um novo
Esta ideia é corroborada por Deber (2001)
olhar sobre as questões do envelhecimento,
velhos.
Os
conflitos
pensar,
gerações,
agir
e
para
social
e
sentir.
As
favorecer
a
relações
dignidade
desenvolvimento
competências
ao
nível
da
da
estimular e recuperar brincadeiras e jogos JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 50
tradicionais, desenvolver nas crianças novas
apontadas na literatura como causa dos maus
aptidões e promover a educação ao longo da vida
tratos aos idosos.
(Teiga, 2012). Atividades intergeracionais são consideradas mais desejáveis que atividades
9. Status económico
voltadas
Essas
Nesta categoria encontramos registos como
oportunidades são propiciadas compartilhando-
“falta de recursos por falta de dinheiro”, ”baixas
se espaços e instalações.
reformas ou pensões para as necessidades” ou
apenas
para
idosos.
“pobreza” que nos indicam que os indivíduos 8.Maus tratos a idosos
inquiridos percecionam a população idosa com
Um dos problemas dos idosos identificados pelos
um status económico baixo e com dificuldades de
nossos informantes foram os maus tratos.
satisfazerem as suas necessidades diárias. O
Embora não se tivessem referido às várias
rendimento de muitos idosos e a pobreza,
formas de maus tratos foi evidente que o
independentemente da idade, exclui as pessoas
“abandono pela família” em geral e o “abandono
da sociedade. De facto a população idosa tem,
pelos filhos” em particular,
foram os mais
de uma forma geral, recursos económicos muito
referidos. Também frases como o “serem
escassos. Nesta fase da vida quando surgem
esquecidos” ou “serem mais sujeitos a agressões
problemas de saúde as privações são múltiplas,
e a roubos” assim como “não terem os cuidados
traduzindo-se numa má qualidade de vida pois
de que necessitam” foram citados. Neste
afeta várias necessidades do individuo como:
contexto o termo “maus-tratos” faz referência à
alimentação,
agressão física, à falta de cuidados físicos, bem
condições habitacionais, capacidade de escolha
como ao abandono emocional. De uma forma
e participação entre outras. Quando existem
geral podemos dizer que o mau trato a idosos,
carências elas são sinergéticas. Nenhuma
refere-se a um comportamento destrutivo dirigido
carência ocorre de forma isolada. A pobreza
ou à falta de ação apropriada a um adulto idoso
inevitavelmente leva à exclusão social, que se
e que ocorre, geralmente, num ambiente de
traduz para além da falta de meios essenciais a
confiança e cuja frequência, ato único ou
uma boa qualidade de vida dificuldades também
repetido, acarreta sofrimento na pessoa (Nações
de acesso a bens sociais e à participação social
Unidas, 2002). Independentemente de o abuso
que são mais graves quanto mais doente a
ser praticado no contexto familiar ou institucional
pessoa for, ou quando existem ruturas familiares.
vestuário,
transportes,
saúde,
os seus efeitos na pessoa são semelhantes. Os idosos sujeitos a maus
tratos tendem a
Notas finais
desenvolver atitudes de culpa, baixa auto-estima,
No presente trabalho pretendeu-se saber,
isolamento social e entram mais facilmente em
qual a opinião dos cidadãos, acerca do que
depressão,
faz falta aos idosos no
sofrem
perturbações
do
sono,
contexto onde
reforçam as suas dependências e o estigma
vivem. Não foi nossa intenção extrapolar os
social (Dias, 2005). Inúmeras fragilidades são
resultados para a sociedade em geral, no
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 51
entanto julgamos que este seja um retrato do que pensam as pessoas sobre as necessidades dos idosos. Nas respostas obtidas identificamos várias condicionantes do bem-estar do idoso,
Bogdan, R., & Biklen, S. (1994) Investigação qualitativa em educação- uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora.
quer a nível de recursos de saúde e sociais de apoio,
quer
a
de
Conselho de Europa, (2002), Recomendação
as
1582 (2002) I (I). El maltrato de las personas de
preferências dos idosos, quer a nível do apoio às
edad: Reconocer y responder al maltrato de las
suas famílias, assim como discriminação social
personas de edad en un contexto mundial,
tendo em conta o fator idade, exacerbando
Nações Unidas, Conselho Económico e Social.
entretenimento
conflitos
nível
de
atividades
direcionadas
intergeracionais.
para
Os
recursos
económicos escassos deste grupo parecem ser
Debert, Guita Grin (1999) A Reinvenção da
um determinante decisivo para o seu bem-estar.
Velhice. São Paula: EDUSP.
Muitos idosos são maltratados no seu contexto de vivência. Todos estes condicionantes exigem
Dias, I. (2005). Envelhecimento e violência contra
medidas políticas não só para aquisição de
os idosos, in Sociologia, Revista da Faculdade de
equipamentos e serviços na comunidade, mas
Letras do Porto, n.º 15, pp. 249-273.
também de educação para a saúde e cidadania com participação ativa do idosos na vida em sociedade (Azeredo, 2016).
Freitas, P. (2011). Solidão em idosos: Perceção em Função da Rede Social.
Universidade
Católica,
Braga.
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/8364
Referências Bibliográficas
/1/SOLID%C3%83O%20EM%20IDOSOS.pdf Azeredo, Z., & Afonso, MA (2016). Solidão na perspectiva do idoso
Tese.
Revista Brasileira de Goldani, A., M. (2010). "Ageism" in Brazil: what is
Geriatria e Gerontologia 19(2); 313-324.
it? who does it? what to do with it?. Revista Azeredo,
Z.
(2016).
envelhecimento
in
Cultura, Z.
cidadania
Azeredo
e
(Coord.)
Envelhecimento cultura e cidadania. p 67-
Brasileira de Estudos de População, 27(2), 385405. https://dx.doi.org/10.1590/S010230982010000200009
73.Lisboa:Ed Piaget. Barbosa, C. (s/d). Políticas públicas locais para o envelhecimento: o caso de Portugal e da Suécia. http://www.exedrajournal.com/wpcontent/uploads/2016/02/Cap11.pdf
Lopes, L.S.E. (2008). Encontros Intergeracionais e a Representação Social. O que as crianças pensam dos velhos e a velhice. Holambra - S.P: Setembro Editora. Louvison, M. (2008). Desigualdades no uso e
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
acesso aos serviços de saúde entre idosos do VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 52
acesso aos serviços de saúde entre idosos do
cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais
município
Estudos de Psicologia I Campinas I 25(4) I 585-
de
São
Paulo. Rev.
Saúde
Pública [online]. 2008, vol.42, n.4, pp.733-740.
593.
ISSN
1518-
http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v25n4/a13v25n4.
8787.
http://dx.doi.org/10.1590/S0034-
pdf.
89102008000400021. Teiga, S. (2012). As relações intergeracionais e Martins, R. (2005). A relevância do apoio social
as sociedades envelhecidas. Envelhecer numa
na velhice. Millenium: Revista do Instituto
sociedade não Stop – O Território Multigeracional
Superior Politécnico de Viseu, 31, 128-134.
de
Consultado em 19 de março de 2017. Disponível
http://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/2270/
em http://www.ipv.pt/millenium/millenium31/9.pdf
1/As%20rela%C3%A7%C3%B5es%20intergera
Lisboa
Oriental.
cionais%20e%20as%20sociedades%20envelhe Martin, I., Santinha, G., Rito, S., & Almeida, R. (2012).
Habitação
para
pessoas
cidas.pdf.
idosas:
problemas… Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Número temático: Envelhecimento demográfico, 177-203. Nogueira, A. & Azeredo, Z.
(2016).Cuidar na
proximidade do idoso em contexto domiciliário. In C. Moura, Novas competências para novas exigências no cuidar, 417-429. EuEdito: Porto. Organização Mundial da Saúde. (2008). Guia Global:
Cidade
Amiga
do
Idoso.
http://www.who.int/ageing/GuiaAFCPortuguese. pdf Paúl, M., & Fonseca, A. (2005). Envelhecer em Portugal. Lisboa: Climepsi Editores Walker, A. (2002). Ageing in Europe: Policies in harmony or discord?. International Journal of Epidemiology, 31,758-761. Schneider,
R.,
envelhecimento
& na
Irigaray,
T.(2008).
atualidade:
O
aspetos
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1