Botticelli, La Primavera, "Allegory of Spring" (1485-87)
VOLUME 6 . EDIÇÃO 1
EDITORIAL ABRIL 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT Qualidade de Vida é a palavra de ordem! filosofia, a economia, a psicologia, a pedagogia, O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 Fruto do acaso, quer seja directa ou a medicina e a enfermagem. HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT indirectamente, o tema central desta edição é a Ainda assim, o conceito de qualidade de O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 Dezembro 2014
qualidade de vida, quer estejamos a falar das
vida não tem obtido a concordância dos diversos
questões relacionadas com a dor crónica, ou o
autores que sobre ele se têm interessado. Uns
final de vida, sem esquecer o impacto de certas
colocam a tónica no bem estar económico, outros
condições
do
no sucesso, outros ainda no desenvolvimento
retinoblastoma, que mesmo nas situações de
cultural e/ou nos valores éticos. Pela revisão da
“final feliz” acarreta alterações significativas na
literatura, nota-se que todos eles se preocupam
qualidade
Também
com um bom nível de saúde e desenvolvimento
importante e condicionante desta qualidade de
humano, o que tem servido de base a inúmeras
vida, que têm vários planos, várias dimensões,
reflexões e discussões sobre esta tão polémica
que tal como a saúde, deve de ser vista como um
temática.
clinica
de
vida
como
é
da
o
pessoa.
caso
continuum, no qual o individuo se situa, é a
Muitos são portanto os investigadores
questão da mudança do status comportamental e
que se têm debruçado sobre o conceito de
económico do individuo, pelo que a análise da
qualidade de vida. Embora se verifique alguma
preparação psicossocial do individuo para a
controvérsia nas diversas abordagens a este
reforma tem toda a pertinência, na medida em
conceito, encontram-se no entanto muitos pontos
que todas estas alterações no modo de vida do
em comum. As diferenças encontradas acerca do
individuo, são também determinantes sob ponto
conceito
de vista da actividade do individuo e sob ponto de
Organização Mundial de saúde, em 1974, a
vista
de
propor a seguinte definição: “... trata-se da
pensamento, a avaliação das reais e completas
percepção, por parte de indivíduos ou grupos, da
necessidades
papel
satisfação das suas necessidades e daquilo que
também preponderante, visto que estas podem
não lhes é recusado nas ocasiões propícias à sua
surgir a vários níveis e muitas vezes com forte
realização e à sua felicidade” ( Couvreur, 2001,
impacto na qualidade de vida do individuo e em
p.43).
económico também.
sentidas,
Nesta
assume
linha
um
especial do idoso. Várias
qualidade
de
vida,
levou
a
De acordo com a mesma autora, a têm
qualidade de vida compreende simultaneamente
manifestado interesse e que se têm debruçado
um aspecto subjectivo e objectivo. Porém, para
sobre
se demarcarem de uma concepção que apenas
o
são
de
conceito
as
de
ciências
qualidade
que
de
vida,
manifestando como preocupação fundamental
seria
aspectos que contribuem para o bem estar do ser
substituir a expressão qualidade de vida por bem
humano. Dessas áreas científicas destacamos a
estar subjectivo, dizendo este respeito à forma como
objectiva,
cada
alguns
indivíduo
autores
se
sente
preferem
física
e
psicologicamente e nas suas relações com o
EDITORIAL ABRIL 2017 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT e psicologicamente e nas suas relações preocupações para o planeamento e O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 HTTPS://WWW.GOOGLE.PT/URL?SA=I&RCT=J&Q=&ESRC=S&SOURCE=IMAGES&CD=&CAD=RJA&UACT=8&VED=0C com o meio (Couvreur, 2001). desenvolvimento dos programas terapêuticos. ACQJRXQFQOTCMPSZRJH_SGCFUVDFAODZWAETA&URL=HTTP%3A%2F%2FAVENTAR.EU%2FTAG%2FTERRAMOT O-DE-1755%2F&PSIG=AFQJCNE67GV92CL3814FQQPL35CWH8B_XQ&UST=1447000952827643 2015 qualidade de vida Numa outra perspectiva, também um Contudo a avaliação de uma Dezembro 2014
grupo da Organização Mundial de Saúde
global tem um valor limitado. É necessário criar
considera a qualidade de vida como a percepção
instrumentos que forneçam informação sobre
dos indivíduos da sua posição na vida, no
domínios específicos, de modo a permitir que os
contexto da cultura e sistema de valores em que
profissionais
está
problemáticas, avaliem as suas práticas e
inserido, sua relação
com os seus
de
saúde
planeiem
interesses (Orley, 1994; Amir, 1994).
qualidade de vida. Além disso, são necessários
revisão
da
aumentar
a
torna-se
instrumentos que avaliem a satisfação subjectiva
evidente que a qualidade de vida é uma
nesses domínios, bem como a importância que
preocupação
no
esses domínios têm para as pessoas. Ainda
âmbito da prevenção da doença, na promoção da
assim é significativo verificar que directa ou
saúde e no desenvolvimento dos indivíduos.
indirectamente
premente,
literatura
para
áreas
objectivos, expectativas, padrões de vida e
Pela
intervenções
identifiquem
especialmente
Perante tais evidências é inquestionável que a qualidade de vida está directamente relacionada com a saúde e a política deste sector, pois, tal como defende Joyce (1994), a
a
preocupação
pela
qualidade de vida reflecte-se cada vez mais nas práticas de saúde adoptadas e na evidência produzida. Bem Hajam!
qualidade de vida é uma meta indiscutível, mas não deveria ser entendida como uma qualidade boa ou má em si mesma. A autora refere ainda que embora a utilização do termo seja um tanto neutra, assume sempre que o tratamento
Vítor Santos, RN, CNS, MsC Centro Hospitalar do Oeste Director
Geral,
São
Peregrino
–
Centro
Especializado de Tratamento de Feridas
melhorará a qualidade de vida. Nesta perspectiva, parece não restarem quaisquer dúvidas quanto à responsabilidade
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ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
A video-based intergenerational approach for the destigmatisation of chronic pain Uma abordagem intergeracional baseada em vídeo para a destigmatização da dor crónica Un enfoque intergeneracional basado en video para la destigmatización del dolor crónico
Autores Marta Gonçalves 1 1
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Cis-IUL, Lisboa, Portugal, Harvard Medical School
Corresponding Author: marta.goncalves@iscte.pt
Abstract In Europe it is estimated that one fifth of the population suffer from chronic pain. However, it seems that society is not yet prepared to understand the people who suffer from chronic pain. To live twenty-four hours with pain and project the day according to pain is still often associated with laziness or no willing to work. In order to start in Europe a process of destigmatisation of chronic pain and better access to specialized units for this, this paper intends to discuss the potential of creating a ten-minute video about the experience of living with chronic pain. For the construction of the video "intergenerational living with chronic pain" there is a need to conduct focus groups with various informants as patients of different ages, family members, health professionals, education professionals and human resource managers. This video could be a reliable tool for further testing and use, not only in clinical practice and training of professionals, as well as of lay people. Keywords: video-based intervention, destigmatisation, chronic pain, intergenerational
Resumo Na Europa, estima-se que um quinto da população sofra de dor crónica. No entanto, parece que a sociedade ainda não está preparada para entender as pessoas que sofrem de dor crónica. Viver vinte e quatro horas com dor e projectar o dia de acordo com a dor ainda é muitas vezes associado com a preguiça ou não disposição para trabalhar. Para começar na Europa um processo de destigmatização da dor crónica e melhor acesso a unidades especializadas para isso, este artigo pretende discutir o potencial de criação de um vídeo de dez minutos sobre a experiência de viver com dor crónica. Para a construção do vídeo "vivência intergeracional com dor crónica" há necessidade de conduzir grupos focais com vários informantes como pacientes de diferentes idades, membros da família, profissionais de saúde, profissionais de educação e gestores de recursos humanos. Este vídeo pode ser uma ferramenta confiável para futuro teste e utilização, não apenas na prática clínica e formação de profissionais, bem como de leigos. Palavras-chave: intervenção baseada em vídeo, destigmatização, dor crónica JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Introduction
(Cohen et al, 2011), and the self-stigma,
Ten years ago, chronic pain was a major
also called internalised stigma (Hegarty &
European health care concern with almost 20%
Wall, 2014; Waugh, Byrne & Nicholas,
of European adults suffering from moderate to
2014). The social stigma associated with
severe chronic pain (Breivik et al., 2006).
chronic pain refers to negative beliefs about
Although this pain affects their social and
chronic pain by the population in general
professional quality of life, only a small part of
(Cohen et al., 2011). The social stigma often
them seeks a pain specialist and receives
reflects a lack of knowledge about chronic
adequate
different
pain, negative attitudes and discrimination
nowadays? It seems not. In order to start in
conduct. This is especially important as the
Europe a process of destigmatisation of chronic
improvement of knowledge and skills, also
pain and better access to specialized units, the
called literacy, on chronic pain, can lead not
present paper aims to discuss the creation of an
only to better results but also help to
intergenerational ten-minutes video about the
increase readiness to help seeking and
experience of living with chronic pain, which can
overcome the stigma associated with
later serve as tool to be tested in different
chronic pain. Research has shown that self-
contexts as health, education, work and social.
stigma is conceptually different from social
This work aims to simultaneously answer two
stigma (Hegarty & Wall, 2014; Waugh,
questions. On the one hand "How can we make
Byrne & Nicholas, 2014). While social
chronic pain visible so that others understand
stigma works at a social level, self-stigma is
us?" and on the other "How can we be sure that
a process at the individual level. Self-stigma
the person is not lying about chronic pain?".
occurs when people according to public
care.
Is
the
situation
stereotypes, internalize stigmatizing ideas about chronic pain and begin to believe they
Social stigma and self-stigma that
have less value than others, which can lead
accompanies it, associated with chronic
to self-devaluation, silence and loss of
pain is culturally constructed, emanating
social opportunities. Combined, the social
from social structures and knowledge,
stigma and self-stigma constitute a vicious
attitudes and behaviors of people (Chapple
cycle and an obstacle to seeking help. As a
et al., 2004; Jacoby et al., 2005; Taft et al.,
result
2009). Negative attitudes towards people
discrimination, people can choose to avoid
with chronic pain are learned early by
the stigma of not looking for institutions that
influences such as the school and the
potentiate the mark, such as pain clinics or
media.
they may be afraid of being judged as weak
Stigma
and
These
discrimination
negative
attitudes
and
behaviors affect professional help seeking
of
experienced
and
anticipated
and incompetent.
and life in community. In chronic pain there is a social stigma, also called public stigma JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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PĂĄgina 7
Intergroup contact
depression. Although there is in Portugal for more 1)
than a decade a National Plan to Fight Pain and
education, 2) contact - defined as face to face
pain clinics within hospitals across the country, it
contact between members of the general public
seems that society is not yet prepared to
and people with chronic pain who are able to keep
understand people who suffer from chronic pain
their commitments to school and employment,
such
and 3) protest - the reactive strategy, for example,
fibromioalgia, back pain, neuropathy, among
protests advocacy groups in relation to inaccurate
others. It is estimated that one third of the
and hostile representations of chronic pain.
population suffer from chronic pain in Portugal,
Although in studies on mental illness (Corrigan et
not only women and the elderly, but also men and
al. 2012; Yamaguchi et al., 2013) it was found that
children. To live twenty-four hours with pain and
programs that emphasize the contact were the
project the day according to pain, as being for
most successful in improving long-term attitudes,
example not always able to climb stairs in the
concerning chronic pain no previous intervention
morning, continues to be often associated with
contact video that directly address access and
laziness or not willing to work. According to
quality of health care on chronic pain through
people living with pain it is an invisible disease
experiences reported by peers with chronic pain
("the pain is not seen, not measured, is silent, is
is known. The theoretical model of social
subjective") as it is not easy for the others to
psychology which heads the development of
realize. According to the others, how can you be
intervention proposed here is the theory of
sure that the person is not lying just to have low
intergroup contact (Allport 1954), revised by
or missing classes. There is also a strong
Pettigrew & Tropp (2006). Pettigrew & Tropp
criticism of mothers with chronic pain who can not
(2006) point out that the four contact ideal
get to lap the children or just can breastfeed lying
conditions proposed by Allport as the same status
down, not to mention the inability to perform a
between the groups in the situation, common
normal delivery. Just how great the interference
goals, cooperation between groups and legal
of chronic pain in the intimacy of a couple.
support, facilitate the reduction of prejudice but
Research over the years proved that along with
are not mandatory. This theory was tested in
the
earlier interventions that attempted to reduce the
mindfulness, mental training, meditation, self-
stigma associated with mental illness (Corrigan et
hypnosis or relaxation is extremely effective and
al., 2012; Yamaguchi et al., 2013).
in Portugal there has been a remarkable job
The
destigmatization
strategies
include
as
those
medication
with
the
rheumatoid
brain
control
arthritis,
through
towards a better doctor-patient relationship and A southern European case
communication and a better self-management of
In Portugal there are still many myths and
pain as to play chess or self-help groups. Chronic
prejudices in relation to chronic pain in the
pain is a complex phenomenon with increased
population that hinder access to health care and
and extended response to a harmful stimulus or
consequently generate suffering, disability and
response to stimuli normally not harmful, which diagnosis and subsequent intervention require
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diagnosis and subsequent intervention require
with chronic pain" it is of great relevance to
analysis
in
analyse these focus groups in terms of content
psychological and social factors in addition to
(Bardin, 2009) by Mayring reduction method
biological. There are different tools to measure
(2000) with all ethical rigor and anonymity
pain perception by the adult patients (Breivik et
guarantee in accordance with international
al., 2006;. Cleeland & Ryan, 1994; Keller et al.,
standards (American Psychological Association,
2004) as the Visual Analogue Scale ("no pain"
2002; European Federation of Psychologists'
and
the
Associations, 2005) and national standards (The
numerical rating scale with 0 = no pain and 10 =
Portuguese Psychologists, 2011). This analysis
the worst pain).
allows us to know the meaning of living with
According to the Portuguese General Directorate
chronic pain, characteristics or behaviors of best
of Health, effective pain management is a right of
living with chronic pain, offers in Europe to better
patients who suffer from it, a duty of health
live with chronic pain, biggest challenge due to
professionals and a key step in the effective
chronic pain, ideal to live better with chronic pain,
humanization of health facilities. The education of
greatest daily life need due to chronic pain and
patients
pain,
activities daily offered to people with chronic pain.
analgesic medication and self-control of pain.
This analysis can serve as basis for the movie
However, it seems that access to health care
script
remains difficult: on average, a person takes nine
significance with a unit of chronic pain.
years to reach a unit of chronic pain, largely
Discussion
because of the stigma associated. This delay
To actively contribute to a better understanding
favors the development of so-called "pain
and treatment, the aim of this paper was to
memory”, the phenomenon of persistence of pain
discuss a reliable tool for further testing and use,
after the injury is already healed.
not only in practice and clinical training of
and
respective
"maximum
pain
includes
intervention
imaginable"
self-assessment
and
of
covering
positive
experience
and
professionals, as of lay people of different ages in Intergenerational living with chronic pain
different contexts as health, education, work and
To understand perceptions and create new
social. The intervention in the stigma associated
knowledge,
and
with chronic pain through the use of video is
representations on the same subject (Gaskell,
promising as a quick and inexpensive way to
2002) to achieve the proposed objective, it is
improve access to treatment of chronic pain in
helpful in a first moment to conduct focus groups
Europe. This type of intervention, of easy and
with multiple informants with daily contact with
rapid administration in various contexts, can be
chronic pain as patients of different ages, family
used first in a pilot study and then climb up a
members,
education
randomized clinical trial a larger sample to verify
professionals and human resources managers of
that the video causal effect persists for a long
small, medium and large organizations. For the
period. Based on the differences of individualism
construction of the video "intergenerational living
and collectivism across cultures (Hofstede,
exploring
health
different
professionals,
views
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VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Rodrigues, B., Sousa, P. (2017) The comfort of the person at the end of life in a domiciliary context – Nurse’s Perception, Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 11 - 21
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
O CONFORTO DA PESSOA EM FINAL DE VIDA EM CONTEXTO DOMICILIÁRIO – PERCEÇÃO DO ENFERMEIRO THE COMFORT OF THE PERSON AT THE END OF LIFE IN A DOMICILIARY CONTEXT – NURSE´S PERCEPTION EL CONFORT DE LA PERSONA EN EL FINAL DE SU VIDA EN CONTEXTO DOMICILIARIO – LA PERCEPCION DEL ENFERMERO
Autores Bruno Rosa Rodrigues1 , Patricia Pontífice de Sousa 2 1
MHC, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2 PhD, MHC, CNS, RN, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa
Corresponding Author: brunorosa1@hotmail.com
Resumo Introdução: O conforto emerge como uma necessidade desejável ao longo da vida constituindo um elemento chave na prestação de cuidados de enfermagem ao doente Paliativo. Confortar assume-se como um ato complexo. Implica estar atento a todas as manifestações de desconforto, tendo em conta todas as dimensões do ser humano, a fim de promover medidas para alívio do sofrimento. Proporcionar o conforto é uma das principais funções e um desafio para a prática dos cuidados de enfermagem. (Ribeiro & Costa, 2012). Objetivo: Compreender a perceção do enfermeiro relativamente ao fenómeno do conforto da pessoa em final de vida, em contexto domiciliário. Material e Métodos: Foi realizado um estudo descritivo de abordagem qualitativa, através de entrevistas semi-estruturadas a 8 participantes enfermeiros. A metodologia utilizada para o tratamento de dados foi a análise de conteúdo. (Bardin, 2014) Resultados: O fenómeno do Conforto, na sua conceção, encontra sentido em quatro categorias: a expressão física; a expressão multifocal/multidimensional do conforto; a expressão afetiva e as necessidades básicas cumpridas. Conclusão: explorar o fenómeno do conforto em relação à pessoa em fim de vida em contexto domiciliário constitui-se determinante para o cuidado ajustado ao alívio do sofrimento. Assente numa abordagem humanista-afetiva, o processo de conforto é mediado pela interação enfermeiro-doente/família reforçando-se a importância que o enfermeiro assume na implementação de cuidados confortadores. Palavras-Chave: Conforto; Fim de Vida; Contexto Domicílio; Enfermeiro; Cuidados Paliativos.
Abstract Introduction: Comfort is a key element in the provision of nursing care to patients with Palliative Care. Comfort is a complex act. To promote comfort is to be attentive to all manifestations of distress, to take into account all dimensions of the human being and to provide measures for the relief of suffering (Morse, 2000). We can see that there is no clear definition for the concept of comfort, however, it is unanimous that this emerges as a lifelong need in health and illness, therefore, providing comfort is one of the main functions and a challenge for the Practice of nursing care (Ribeiro and Costa 2012). Objective: The objective of this study is to understand the nurses' perception regarding the comfort of the person at the end of life in a home context, identifying the comfort conception for the nurse with respect to the person at the end of life. Material and Methods: A qualitative, descriptive study was carried out through semi-structured interviews with 8 participants. The methodology used for data processing was content analysis. (Bardin, 2014) Results: After analyzing our data, we can say that, in terms of Comfort Design (Domain), four categories were found: Physical Expression, Multifocal / Multidimensional Expression of Comfort, Affective Expression and Basic Needs Fulfilled ). Conclusion: The main contribution of this study is to explore the Autores phenomenon of comfort with regard to the end-of-life person in a home context, reinforcing the importance that nurses assume in the Dados curriculares implementation of comforting care. Based on a humanistic-affective approach, the comfort process is mediated by the nurse-patient / family interaction. Keywords: Comfort; End of life; Residence; Nurse; Palliative care.
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Página 12
Introdução
dimensões (física, psicoespiritual, sociocultural e
Cuidados paliativos são cuidados prestados a
ambiental), concretamente promovendo mais
doentes em fase avançada da doença incurável
energia, força, esperança, controle sobre si
com grande sofrimento. De acordo com a
mesmo, felicidade (Oliveira, 2011; Sousa, 2014).
definição da Organização Mundial de Saúde
Oliveira (2011), reafirma que o conceito é mais
(2004), tal, consiste numa “abordagem que visa
do que a ausência de desconforto, na medida em
melhorar a qualidade de vida dos doentes – e
que
suas famílias – que enfrentam problemas
experimentando algum grau de desconforto - a
decorrentes de uma doença incurável e/ou grave
existência prévia de desconforto pode ser uma
e
condição possível mas não necessária para
com
prognóstico
limitado,
através
da
o
doente
pode
sentir-se
confortado,
prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à
experimentar conforto.
identificação precoce e tratamento rigoroso dos
Também Ribeiro (2012), ao estudar a natureza
problemas não só físicos, como a dor, mas
do processo de conforto do doente idoso crónico
também dos psicossociais e espirituais”.
em contexto hospitalar, salienta que o processo
O conforto é um fator de cuidado e elemento
de conforto é mediado pela interação enfermeiro-
chave na prestação de cuidados de enfermagem
doente idoso e sua família, integrado numa
ao doente Paliativo, sendo promovido pelas
abordagem humanista-afetiva. O agir integrador
intervenções de enfermagem (Kolcaba, 2003;
e intencional do enfermeiro é um ponto essencial
Sousa, 2014). Muitas definições de conforto
para dar resposta às necessidades de cuidados,
surgem na literatura, estando de acordo com a
especificamente de conforto do doente idoso
perspetiva de cada autor. Kolcaba (2003),
crónico (Sousa, 2014).
considerou o conforto como um fenómeno de
O
importância
enfermagem,
Enfermeiro, acerca da dimensão confortadora
contextualizado ora como um objetivo da
ligada à pessoa que necessita de cuidados em
enfermagem ora como um estado relativo ao
final de vida no Domicilio é algo que devemos
doente,
de
considerar. Na verdade, sabemos não só que os
compreendê-lo na sua multidimensionalidade do
conceitos se desenvolvem a partir da experiência
processo de cuidar (Sousa, 2014). Como um
e assumem um papel fundamental na clareza do
resultado dinâmico, resulta de intervenções que
fenómeno como também, o enfermeiro é o
procuram
profissional
básica
para
destacando
a
satisfação
a
a
importância
das
necessidades
desconhecimento
de
sob
saúde
a
que,
perceção
pelas
do
suas
básicas, contextualizando-se relativamente aos
competências assume um papel preponderante e
estados de alívio, tranquilidade e transcendência
privilegiado no cuidado à pessoa humana que
(Kolcaba, 2003; Sousa, 2014).
vivencia situações de sofrimento e desconforto
São várias as investigações que procuram
(Sousa, 2014).
explorar o conforto da pessoa ao longo do ciclo
Sendo o conforto não só uma necessidade
de vida com resultados que evidenciam maior
desejável bem como um elemento chave na
fortalecimento
prestação de cuidados de enfermagem ao
da
pessoa
nas
diferentes
doente/família em fim de vida e, não existindo JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 13
uma definição clara para este conceito, importa
Uma vez que pretendemos compreender a
investigar qual a perceção do enfermeiro no que
perceção do enfermeiro no que diz respeito ao
respeita à conceção do conforto da pessoa em
conforto da Pessoa em final de vida em contexto
final de vida no domicílio.
domiciliário e, tendo em conta a complexidade e especificidade deste processo, o recurso à
Métodos Nesta
entrevista
investigação
fundamental. A entrevista realizada surgiu com
enfermeiro
um formato próprio a fim de recolher dados
relativamente ao fenómeno do conforto da
descritivos na linguagem do próprio sujeito,
Pessoa
permitindo ao investigador a descoberta e
Qual
em
a
perceção
final
de
a
pareceu-nos
seguinte
questão:
definimos
semi-estruturada
do
vida
em
contexto
domiciliário?
sistematização da informação pela possibilidade
Trata-se de um estudo exploratório, descritivo
de explorar, aprofundar e clarificar alguns pontos
com uma abordagem qualitativa
onde se
do discurso dos informantes, permitindo uma
procurou compreender a perceção do enfermeiro
melhor explicitação das suas vivências. Desta
no que diz respeito ao conforto da pessoa em
forma
final de vida em contexto domiciliário. Com a
intuitivamente uma ideia sobre a maneira
finalidade de refletir acerca do fenómeno do
como os sujeitos interpretam aspetos vividos
conforto
dimensões,
relacionados com o fenómeno (Ribeiro,
considerámos alguns aspetos no processo de
2012;Bardin, 2014). A busca do sentido que
nas
suas
múltiplas
seleção dos participantes (Minayo, 2004), tendo sido
a
nossa
amostra
não
probabilística/intencional de acordo com os objetivos
e
o
propósito
da
investigação,
selecionando os sujeitos que eram prestadores
torna-se
possível
desenvolver
os atores dão aos acontecimentos foi essencial a fim de compreender o significado que cada sujeito atribuiu ao fenómeno do conforto. Considerando a natureza do estudo
de cuidados no domicílio à pessoa em final de
– qualitativo – o consentimento informado
vida com os seguintes critérios de inclusão: (i)
constituiu um processo contínuo, exigindo a
possuir formação básica em Cuidados Paliativos;
reavaliação e renegociação por parte dos
(ii) ter experiência profissional com mínimo de um
participantes
ano em Cuidados Paliativos;(iii) trabalhar na
enfermeiros se mostrado recetivos ao nosso
Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados
pedido de participação no estudo. Assim, foram
Paliativos do Hospital da região; (iv) consentir de
considerados sistematicamente os princípios
livre vontade participar no estudo. Assim, para a
éticos do consentimento informado, da não
investigação foram selecionados 8 Enfermeiros
maleficência, da beneficência, da autonomia e da
de um Hospital nos arredores de Lisboa, que
justiça; as regras morais da fidelidade, de
tivessem experiencia de prestação de cuidados
veracidade e de confidencialidade, e ainda o
no domicílio a doentes em fim de vida.
direito
dos
do
estudo,
participantes
tendo
à
todos
os
informação,
à
privacidade e à autodeterminação (Holzemer, 2010). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 14
As
entrevistas
decorreram
num
espaço
unidades de significação (também chamadas
destinado a esse fim (na sala de realização de
unidades
Conferências Familiares do Hospital), em hora
significativas), de acordo com o que foi referido
marcada pelos informantes. No momento da
pelo sujeito. As unidades de significação são
entrevista
o
frases ou proposições que se relacionam com o
entrevistador e o entrevistado, sendo que antes
fenómeno em estudo, deste modo, e de forma a
de se iniciar a entrevista foi explicado o objetivo
organizarmo-nos no futuro, a cada unidade de
da
significação foi atribuído um número que em
estavam
mesma
consentimento
presentes
assinando-se
livre
e
o
apenas
termo
esclarecido.
de
Cada
conjunto
de
com
registo
o
ou
código
já
declarações
atribuído
(E),
entrevista teve uma duração que oscilou entre os
possibilitava a localização dessa unidade de
20/30 minutos.
significação (E1 1, E1 2, …). O desenvolvimento
Todas as entrevistas foram submetidas a análise
de um sistema de codificação foi, assim,
de conteúdo para o tratamento de dados.
importante
Inicialmente lemos e relemos várias vezes os
codificação a fim de classificar os dados
dados obtidos em cada uma das entrevistas a fim
descritivos
de se obter uma compreensão do conteúdo geral
procurámos questionar a relação que existia
das mesmas, excluindo todo o verbatim que se
entre cada unidade de significação e o fenómeno
apresentava mais distante do nosso estudo. A
em estudo, procedendo à formulação dos
leitura dos dados permitiu identificar certas
significados através da descoberta do significado
palavras,
se
de cada unidade de significação (unidades de
destacavam permitindo identificar formas dos
contexto). O significado permitiu evidenciar o
sujeitos pensarem os acontecimentos. Assim,
sentido presente nas descrições originais, não
aos segmentos do texto que não interessavam foi
devendo cortar a ligação com a descrição
atribuído o código “ (…) ”, e as palavras utilizadas
original. A cada um dos significados formulados
para clarificar algum aspeto foram colocadas
foi também atribuído um código, letra “S” que se
entre “[ ]”. Aos silêncios e pausas que surgiram
agrupou ao código já existente ficando: E1 S1, E1
ao longo da entrevista atribuiu-se o código “…”
S2, etc.
Para tratar o material foi necessário codificá-lo,
As diferentes fases de análise de conteúdo,
correspondendo a uma transformação segundo
organizam-se
em
regras precisas, transformando o texto transcrito
cronológicas:
pré-análise
em bruto das entrevistas, em unidades de registo
entrevista realizada); exploração do material
e unidades de contexto.
(através da codificação); tratamento de dados, a
Todos os nomes dos participantes (enfermeiros)
inferência e a interpretação, as quais foram
foram ocultados e substituídos por códigos, não
seguidas no nosso estudo. (Bogdan, 1991;
constando nos anexos de caracterização dos
Bardin 2014). A análise dos dados permite-nos
mesmos. Assim, a cada entrevista foi atribuída a
obter um esquema compreensivo da relação
“letra de código” (E), tendo sido dividida em
entre os diferentes temas encontrados no
frases
que
se repetiam
ou
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constituindo-se
categorias
recolhidos.
torno
de
Posteriormente
de
várias
etapas
(transcrição
da
decorrer da análise da informação. VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 15
no decorrer da análise da informação.
dos enfermeiros revelam o pensamento e a ação
De forma a garantir os princípios éticos inerentes
dos
ao processo de investigação foi, inicialmente,
considerando a particularidade dos seus pontos
realizado o pedido formal de autorização à
de vista e incluem as formas como os sujeitos
Direção Clinica e Direção de Enfermagem do
compreendem os conceitos, considerando a
Hospital, tendo sido dado um parecer favorável à
perceção que deles é feita na relação com os
realização do mesmo. Para tal, foi solicitada a
elementos relacionados com o ideal ou com o
apresentação do guião
aos
verdadeiro significado (Carpenter, 2002). Atribuir
termo
de
significado é dar sentido à sua forma “autêntica”,
esclarecido.
O
enfermeiros,
assim
consentimento
da entrevista
como
livre
o
e
atores
procurando
de
cuidados
compreender
-
um
enfermeiros-
determinado
consentimento informado aos participantes do
fenómeno (Watson, 2002). As conceções são as
estudo (Enfermeiros) foi assinado, após terem
unidades fundamentais, de sentido ou da
sido informados dos objetivos do trabalho, da sua
compreensão do fenómeno, de acordo com a
finalidade, do tipo de participação solicitada, dos
intenção dos atores em contexto e apresentam-
meios a usar – como a áudio gravação –
se como parte integrante da descrição do mesmo
esclarecendo o direito de não-aceitação e de
(Ribeiro, 2012).
desistência caso assim o entendessem, sem
Após a análise dos nossos dados em estudo,
qualquer repercussão negativa para os próprios.
podemos dizer que no que respeita ao fenómeno do conforto (Tema) na relação com a sua
Resultados e Discussão
Conceção encontradas
de
Conforto
quatro
(Domínio)
categorias
foram
(Expressão
Tal como referimos, reunir a informação em
Física; Expressão Multifocal/multidimensional do
unidades
processo
Conforto; Expressão Afetiva e Necessidades
significados
Básicas Cumpridas) das quais emergiram várias
encontrados foram sendo agrupados dando
subcategorias, as quais vamos explicar com
origem às Categorias e Subcategorias, as quais
detalhe
serão referidas ao longo deste ponto, de forma a
Expressão Física (categoria), o enfermeiro
explicitar o fenómeno em estudo. Na discussão
atribui importância ao alívio/controlo da dor
dos
de
(Subcategoria) assim como o controlo de outros
apresentação das mesmas, procurando, deste
sintomas físicos, como consta nas asserções: “
modo, descrever a estrutura essencial do
(…) [conforto é estar] sem dor ou sem outro
fenómeno do conforto na ligação à perceção dos
descontrolo de sintomas… É mais ao nível da
oito participantes (Enfermeiros) contextualizado
dor…” E2 15; “ (…) [conforto é estar] sem
na conceção do Conforto da pessoa em final de
agitação… (…) " (E2 17). Relativamente às
vida em contexto domiciliário.
subcategorias Estado de alívio/controlo de
As conceções de “Conforto”, que no nosso
dor; Controlo Sintomático e Ausência de
estudo estão relacionadas com as conceções
agitação, refletem os seguintes significados
estruturante
estruturais,
foi
complexo.
resultados
um Os
seguiremos
a
ordem
em
seguida.
Verificamos
que
na
encontrados: relacionado com dor controlada JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 16
encontrados: relacionado com dor controlada
processo que era normal, era uma rotina anterior
(S8); relacionado com controlo do sintoma
(…) ” (E3 33)
agitação (S9); relacionado com sintomas físicos
O estudo do significado e dos atributos de
controlados (S19).
conforto
A investigação evidencia que os enfermeiros têm
Expressão
um papel fundamental no alívio/controlo da dor
Conforto, assumindo diferentes características
uma vez que lidam com os desconfortos dos
definidoras
doentes (Sousa, 2014). O conceito é identificado
Subcategorias: Espiritualidade; Serenidade;
numa relação estreita com o controlo e com a
Individualidade/Subjetividade; “Estar-Bem”;
ausência de dor, considerados, desta forma,
“Bem-estar
como sinónimos. A experiência dolorosa é um
Tranquilidade. O Conforto é caracterizado por
fenómeno individual. A conceção de conforto
ser um conceito muito subjetivo e por isso
pode adquirir significado de um estado de alívio
individual, por questões relacionadas com o
ou de encorajamento conotado com um sentido
sentido da vida ou por uma sensação de “Bem-
positivo o que vem corroborar com a investigação
Estar”
já realizada (Kolcaba, 2003; Tutton & Seers,
tranquilidade desejáveis a estado pleno de
2003; Oliveira, 2011; Ribeiro, 2012): " (…)
Dignidade. Os enfermeiros referem que o
[conforto é] quando, acima de tudo, não tem dor
conceito é algo difícil de definir estando ligado a
visível, não tem dor descompensada (…) advém
diferentes circunstâncias. Emerge assim a noção
da ausência ou da diminuição da dor.” (E2 14); “
de
(…) [conforto é] é o alívio dos sintomas (...) dos
descoberto na investigação de Ribeiro, (2012) ao
sintomas físicos, quaisquer que sejam (…) se
considerar que o conforto se altera consoante as
estiverem controlados (…) ” (E8 13. A este
circunstancias: “ (…) conforto para mim, também
propósito
estudo,
é uma situação que pode mudar. Portanto, a
evidencia também que a experiência e o
definição de conforto mudará consoante a nossa
significado de conforto se referem a uma
situação.” (E5 9). São vários os autores que
sensação de comodidade e de alívio da dor, o
defendem a perspetiva de que o conforto é
que
da
subjetivo, na medida em que há ter em conta qual
do
o significado que cada pessoa, família ou
Ribeiro
conduz
individualidade
(2012),
ao da
no
seu
reconhecimento experiência
humana
reconhece
a
seguinte
categoria:
Multifocal/multidimensional
das
quais
emergem
global”;
interligadas
circunstancial
tal
Dignidade
a
como
e
serenidade
já
tinha
sido
orientada pela possibilidade de ajudar o doente a
Malinowski & Stamler, 2002; Oliveira, 2011;
alcançar um estado de alívio/ausência de dor
Ribeiro, 2012). Assim sendo, é importante
(Ribeiro, 2012).
atender à individualidade da pessoa, de forma a
Aspetos relacionados com a autonomia física
poder intervir de acordo com as necessidades de
(Subcategoria) são referidos pelos enfermeiros
conforto, tal como se evidencia nos relatos dos
como algo a considerar no conceito de conforto:“
enfermeiros:“ (…) [o conforto] percecionado por
(…) [conforto
cada um de nós de forma muito pessoal.” (E1 21);
num
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(Leininger,
e
comunidade
sentir-se autónoma
atribui
as
sofrimento, pelo ator de cuidado, numa ação
é]
lhe
com
do
1995;
“ (…) o conforto é (…) uma dimensão mais VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 17
“ (…) o conforto é (…) uma dimensão mais
sendo, e segundo o descrito anteriormente,
subjetiva (…) para percebermos se realmente
podemos
está confortável ou desconfortável. “ (E1 25); “
encontrámos os seguintes significados: Conforto
(…) o conforto é uma coisa, para si, como
está relacionado com a individualidade (S4);
enfermeiro e como pessoa, deve ser outra, e
Conforto varia de pessoa para pessoa (S5); O
cada um tem a sua definição de conforto, e é aí
conforto está relacionado com o bem-estar (S6);
que temos de ir de encontro…” (E3 44); “ conforto
Conforto é algo difícil de definir (S15).
vai (…) de encontro às minhas expetativas, às
Ainda
minhas necessidades enquanto pessoa, e não
Multifocal/multidimensional do conforto, surgem
tanto de encontro a regras, padrões…” (E5 6).
as
Watson (2002), refere na sua teoria que o
[conforto é] toda a parte espiritual: saber que não
conforto é contextualizado como uma condição
estamos sozinhos, saber que há alguém que
que interfere no desenvolvimento interno e
cuida de nós e que gosta de nós, e que está lá
externo de cada pessoa, tendo em conta os seus
mesmo só para nos dar a mão, e que, mesmo
valores, desejos, crenças e perspetivas, estando
que não esteja presencial (…) ” (E8 14);
relacionado com a sensação de bem-estar, e
Dignidade: “ (…) [conforto é] promover a
assumindo, desta forma, um carácter singular e
dignidade da pessoa (…) em fim de vida.” (E1 1);
único.
na
Tranquilidade: “ (…) [doente] foi ficando mais
investigação de (Ribeiro, 2012), a expressão do
tranquilo.” (E1 8); Serenidade: “ (…) [conforto é]
conceito
ganha
Quando a pessoa (…) consegue alcançar algum
sentido quando se reporta a um estado desejável
tipo de serenidade (…)” (E7 13). Encontraram-se
para viver a vida, quando é relacionado com o
os seguintes significados no nosso estudo: Existe
“Bem-estar
bem”,
preocupação em promover a dignidade (S1); O
expressões próximas e similares, do conceito, e,
conforto está relacionado com tranquilidade (S2):
de
O conforto está relacionado com serenidade
No
nosso
estudo,
e
também
multifocal/multidimensional
acordo
global”
com
os
e
o
“Estar
resultados,
bastante
inferir
na
que
no
categoria
subcategorias
nosso
da
estudo
Expressão
Espiritualidade:
“
(…)
expressivas na perspetiva dos enfermeiros
(S3);Conforto liga-se à espiritualidade (S20).
intervenientes do estudo, como é justificado
O facto de uma pessoa ter um sentimento de
pelas unidades de significação: “ (…) [o conforto]
ligação a um ser superior, à natureza ou a algo
permite-nos o bem-estar necessário à qualidade
superior a si mesmo e senti-los ainda como uma
de vida." (E1 26); “ (…) o conforto é… está ligado
força e um apoio, poderá ter benefícios para a
com um bem-estar (…) ” (E3 46); “ (…) [conforto
mesma (Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004;
é] momento em que se diz, eu estou bem no sítio
Ribeiro, 2008; Ribeiro; 2012). É reconhecido a
em que estou.” (E3 50); “ (…) [conforto é]
importância em promover a dignidade, numa
estarmos bem connosco próprios (…) ” (E4 13).
ação humana sustentada pelos princípios éticos
A literatura aponta o conforto como um estado de
do
prazer e de bem-estar (Ribeiro, 2012). Assim
beneficência
respeito
respeito e
da
da não
autonomia,
da
maleficência,
no
reconhecimento do Outro e da sua dignidade JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
(Vieira, 2007; VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 18
(Vieira, 2007; Nunes, 2011; Ribeiro, 2012).
seja em fim de vida, saber que, após a nossa
Parece fazer sentido olhar o conforto como a
partida, alguém nos há-de recordar.” (E8 15).
sensação de paz, serenidade/ tranquilidade face
A família apresenta-se como uma entidade
à vivência de um incómodo ou perturbação
dinâmica, onde as relações de proteção e apoio
considerada como desconfortadora (Ribeiro,
constituem uma dimensão importante (Silva,
2012).
2006). As funções familiares são inúmeras, nelas pode-se incluir: o gerar afeto, entre os membros
A
Expressão
assume
da família; o proporcionar a satisfação, a
também um papel relevante no que respeita à
aceitação pessoal, a segurança, a estabilidade e
conceção do conforto, com grande enfoque no
ainda o dar apoio e resposta às necessidades
nosso
relações
básicas, em situação de doença (Ribeiro, 2012).
interpessoais: “ (…) o maior conforto (…) era
O sorriso é um dos sinais de comunicação com
estar com a família, com os entes queridos (…) ”
sentido universal, constitui-se como a expressão
(E3 22); “ (…) [conforto é] termos uma boa
facial que melhor rompe barreiras e aproxima as
estrutura familiar (…) ” (E4 14), “ (…) [conforto é]
pessoas, permitindo por isso estabelecer um
ter a minha família perto, poderem permanecer
mecanismo de vinculação entre as mesmas. Os
comigo (…) ” (E6 12); “ (…) o maior conforto tanto
estudos sobre o sorriso demonstram que o
para o doente como para a família, eram as
sorriso tem efeito na interação social. Pode
relações [entre pessoas].” (E3 24), assim como
considerar-se a influência do comportamento
ao afeto; sorriso e felicidade: “ (…) [conforto]
sorriso pelo emissor na manifestação do mesmo
estava muito ligado ao afeto (…) ” (E3 31); “ (…)
pelo recetor, promovendo um efeito terapêutico,
[conforto é] sentir um sorriso todos os dias (…) ”
em pessoas que se sentem deprimidas ou
(E3 45); “ (…) [conforto é] é sorrir (…) ” (E3 48); “
pessimistas, ou ainda como uma forma de um
(…) [conforto é] estar feliz (…) ” (E3 49). Pode-se
maior relaxamento (Ribeiro, 2012).
dizer que os atores atribuem significado à forma
Honoré (2004) refere que a saúde está no centro
como se relacionam entre as pessoas assim
da vida e é condição fundamental para a nossa
como a estrutura familiar que possuem, ou à
existência, estando associada à felicidade e à à
oportunidade de a família partilhar momentos
autonomia. Assim, quando os atores referem o
importantes, o que lhes leva a um estado de
conforto como um estado de felicidade podemos
felicidade, à presença do sorriso a um estado de
dizer que está associado a um estado de
afeto.
autonomia, a um estado de bem-estar, presentes
A investigação realizada mostra ainda que o
quer na expressão física quer na expressão
conforto se relaciona com a oportunidade de
multifocal/multidimensional do conforto.
deixar recordações/memórias para as pessoas
A
que permanecem vivas após a morte do próprio,
comprovada por diferentes autores ao afirmarem
como reflete a asserção: “ Conforto…mesmo que
que
estudo
afetiva
à
(Categoria)
família
e
às
multidimensionalidade
envolve
aspetos
de
do
conceito
natureza
é
física,
sociocultural, psicoespiritual e ambiental (Wilson, JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
2002; Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004; VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 19
2002; Kolcaba, 2003; Tutton & Seers, 2004;
O alívio é o estado em que uma necessidade foi
Wilby, 2005, Yoursefi, H. et al. 2009; Oliveira,
satisfeita, sendo necessário para que a pessoa
2011; Ribeiro, 2012), o que corrobora os achados
restabeleça o seu funcionamento habitual. As
do nosso estudo.
necessidades evidenciam-se como algo positivo que se pode relacionar com os desejos e as
Na conceção do conforto surge ainda a
expectativas
referência pelos atores do nosso estudo, às
imprescindível para que a pessoa assegure o seu
Necessidades Básicas Cumpridas (Categoria)
bem-estar e se preserve física e mentalmente
tal
(Phaneuf, 2010; Ribeiro, 2012).
como
exemplificam
as
unidades
de
particulares
do
doente,
significação: “ (…) [conforto é] quando está (…)
Em síntese apresentamos o Diagrama 1 onde
bem hidratado (…) " (E2 13); “ (…) um padrão de
podemos observar, de forma resumida, a
eliminação regular…” (E2 18). Pode afirmar-se
estrutura do fenómeno do Conforto na ligação à
que só se consegue atingir um estado desejável
sua Conceção na perspetiva que se relaciona
de conforto quando a hidratação ou o padrão de
com a perceção do Enfermeiro:
eliminação estiver satisfatoriamente cumprido. Kolcaba (2003) considera o conforto como um estado em que estão satisfeitas as necessidades
humanas básicas.
Diagrama 1 - Tema: Fenómeno Conforto
Domínio: Conceção de Conforto: Categorias e Subcategorias JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Brito, D., et al (2017) Retinoblastoma: Palliative care in Children with Delayed Diagnosis Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 22 - 32
REVISÃO SISTEMÁTICA/ SYSTEMATIC REVIEW
ABRIL 2017
Retinoblastoma: Cuidados Paliativos em Crianças com Diagnóstico Tardio
Retinoblastoma: Palliative care in Children with Delayed Diagnosis
Retinoblastoma: Cuidados paliativos en niños con retraso en el diagnóstico
Autores Débora Brito 1 , Glenda Agra2, Nara Barros 3, Maria Freire 4 1,3
Enfermeira, Brasil,
2
Enfermeira, MsC, PhD student, Brasil, 4Enfermeira, MsC, PhD, Brasil,
Corresponding Author: deborathaise_@hotmail.com
Resumo A prevenção e o controlo da transmissão de infeções assumem-se como um dos principais focos de atuação dos profissionais de saúde. O Clostridium difficile é uma das bactérias presentes na flora intestinal não causando patologias nas pessoas saudáveis, mas com a utilização de alguns antibióticos, que podem interferir no equilíbrio normal da flora intestinal, pode desencadear-se patologia. Esta revisão sistemática da literatura tem por objetivo determinar quais os cuidados a ter para prevenção e controlo da infeção por Clostridium difficile.
Palavras-chave: Infeção; Clostridium difficile; Prevenção; Controlo.
Abstract Prevention and control of infection transmission are assumed to be a major focus of activity of health professionals. Clostridium difficile is bacteria present in the gut without causing diseases in healthy people, but with the use of some antibiotics, that can disrupt the normal balance of the intestinal flora can trigger-pathology. Autores Dados curriculares
This systematic literature review aims to determine what precautions to prevent and control infection by the bacteria referred.
Key-words: Infection; Clostridium difficile; Prevention; Control. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 23
cuidado com qualidade (Avanci & Carolindo,
Introdução Os avanços tecnológicos no contexto da
2009). O processo do cuidar/cuidado é inerente
saúde têm trazido grandes contribuições para a resolução de várias doenças que acometem a
à pessoa humana, desse modo precisamos
humanidade, porém ainda há aquelas de baixa
cuidar e sermos cuidados durante o nosso ciclo vital,
resolutividade, como o câncer. O retinoblastoma é o tumor ocular maligno mais frequente na infância, prevalente
entre as idades de zero a quatro anos podendo afetar um ou ambos os olhos. Os meios
no
entanto
diante
do
processo
de
terminalidade, surge a necessidade de um cuidar peculiar impregnado da valorização do ser. Isto é a essência do cuidado paliativo (Silva & Sudigursky, 2008).
enucleação,
Pacientes com doenças avançadas fora
fotocoagulação,
de possibilidades terapêuticas de cura, não
quimioterapia, crioterapia e braquiterapia (Souza
somente em sua fase terminal, mas em todo o
terapêuticos
empregados
radioterapia
são
externa,
percurso da doença, apresentam fragilidades e
Filho et al, 2005). Mesmo com todos os avanços da medicina, o diagnóstico precoce do portador de retinoblastoma é o fator fundamental para o bom
êxito da terapêutica e sobrevida. O prognóstico,
limitações
específicas
de
naturezas
física,
psicológica, social e espiritual. Esses pacientes constituem uma realidade em hospitais, com sérias dificuldades para os administradores,
incluindo a qualidade visual, é excelente quando
profissionais de saúde, familiares e para os
o diagnóstico é realizado precocemente e o
próprios pacientes. Surge assim a necessidade
tratamento conduzido de forma adequada. Mas ainda há casos em que a desinformação cultural
de um modo específico de cuidar (Silva & Sudigursky, 2008; Boemer, 2009). Do ponto de vista de Costa Filho et al.,
de pais e o conhecimento técnico por parte dos pediatras e oftalmologistas leva ao diagnóstico tardio
e,
em
desenvolvimento
consequencia
disso,
de
avançados
tumores
o
(2008) o cuidado paliativo (CP) ou paliativismo, é mais que um método, é uma filosofia do cuidar. O CP visa prevenir e aliviar o sofrimento humano
em muitas de suas dimensões. São cuidados
(Antoneli et al, 2003). A criança com doença crônica estabelece
direcionados aos pacientes onde não existe a
um vínculo e uma familiaridade com o ambiente
finalidade de curar, uma vez que a doença já se
hospitalar devido às internações recorrentes e ao
encontra em um estágio progressivo, irreversível
tempo de duração destas. Isso faz com que os
e não responsivo ao tratamento curativo, sendo
profissionais
o
desenvolvam
que
atuam
vínculos
nos e
serviços conheçam
particularidades tanto da família quanto da criança, aprendendo a identificar as suas
necessidades
para,
assim,
prestarem
um
objetivo
desses
cuidados
propiciarem
qualidade de vida nos momentos finais (Silva & Sudigursky, 2008; Boemer, 2009; Costa Filho, Costa, Gutierrez & Mesquita, 2008).
Uma criança com diagnóstico tardio do retinoblastoma com alta porcentagem de um mau prognóstico (invasão do nervo óptico e/ou túnicas
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
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oculares) deve receber os cuidados
cuidados paliativos direcionados a crianças com
paliativos, para que tenha uma boa qualidade de
diagnóstico
vida. Tendo em vista a importância do tema em
disponibilizadas em periódicos online da área da
evidência, surgiu o interesse de elaborar um
saúde, por meio de busca eletrônica no site da
estudo
cuidados
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas bases de
paliativos em crianças com diagnóstico tardio de
dados Scientific Eletronic Library Online –
retinoblastoma através de um discurso literário e
SciELO.
buscando
descrever
os
sua aplicabilidade para o conhecimento do
profissional de enfermagem.
tardio
em
retinoblastoma,
Os critérios de inclusão para a seleção da
amostra foram: que os artigos abordassem a
Levando em consideração a importância
temática investigada, e que apresentassem o
do profissional de enfermagem nesses cuidados,
texto na íntegra. O critério de exclusão adotado
este estudo pretende buscar respostas para os
foi textos com acesso restrito. Neste contexto, a
seguintes
amostra deste estudo foi constituída por 18
podem
questionamentos:
ser
aplicados
Que
em
cuidados
crianças
com
artigos.
retinoblastoma? Em que circunstâncias eles
As etapas operacionais do estudo foram:
podem ser aplicados, no contexto no hospitalar?
escolha da temática; seleção das fontes; critérios
E que cuidados devem ser dispensados a estes
de inclusão e exclusão; seleção dos artigos que
pacientes?
abordavam a temática; extração dos dados dos
Diante
dos
questionamentos
acima
artigos selecionados a partir dos objetivos
levantados, este estudo teve como objetivo:
propostos; agrupamento dos itens selecionados
descrever as ações, no contexto dos cuidados
por categorias e subcategorias; apresentação
paliativos,
dos dados obtidos por meio de análise dos
direcionados
a
criança
com
diagnóstico tardio do retinoblastoma, no contexto
dados.
hospitalar.
Ao término da seleção dos artigos, foi preenchido um instrumento para a coleta de
Método
dados, contendo ano de publicação, nome do
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica
periódico, título do trabalho, área de formação
que segundo Costa (2000), é aquela que
dos pesquisadores e base de dados. Para a
desenvolve a partir de resolução do problema
exploração do texto, a segunda parte do
(hipótese) através das referências teóricas
instrumento foi preenchida com os enfoques
encontradas em livros, revistas e literaturas afins.
dados pelos autores. Portanto, para alcançar os
O seu objetivo é conhecer e analisar as principais
objetivos propostos, elegeu-se a técnica de
contribuições
análise do conteúdo temática, seguindo as
teóricas
já
existentes
sobre
determinado assunto (Costa, 2000).
etapas de pré-análise, que se constitui da leitura
A pesquisa foi realizada durante o período
flutuante, da classificação e da categorização,
de maio a novembro de 2010 a partir de
com
referências
interpretação dos dados. Desse modo foi
especializadas
relacionadas
a
respectivas
subcategorias;
análise
e
construído em tema de análise, denominado JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 25
construído em tema de análise, denominado
cefalorraquidiano com finalidade de classificar o
“Cuidados
estadiamento do tumor e direcionar o tratamento
Paliativos
em
Crianças
com
Diagnóstico Tardio de Retinoblastoma: Uma
(Antoneli et al, 2003).
Revisão Bibliográfica”.
Existem
diferentes
modalidades
terapêuticas que devem ser propostas de acordo Resultados e Discussão
com o caso. Devem-se sempre considerar
O retinoblastoma (RB) é o principal tumor
fatores locais e sistêmicos na escolha do
da retina que se origina dos retinoblastos
tratamento, como tamanho e localização do
imaturos da retina neural e a neoplasia maligna
tumor intraocular, comprometimento extraocular,
intraocular mais frequente na infância. Ocorre
lateralidade,
entre 1/14.000 e 1/20.000 dos nascidos vivos, de-
clínicas do paciente, presença de doença
pendendo do país avaliado. Mais de 90% dos
disseminada, entre outros (Tamura & Teixeira,
casos são diagnosticados antes dos cinco anos
2009).
de
idade.
Tem
condições
O tratamento depende do estadiamento
Os
da lesão, sendo que a enucleação permanece
primeiros, em geral bilaterais, podendo, ser ainda
como a forma mais comum de tratamento.
unilaterais com múltiplos focos tumorais são
Entretanto os recentes avanços no entendimento
considerados genéticos germinais e hereditários.
do retinoblastoma têm proporcionado novas
Os unifocais, obrigatoriamente unilaterais, são
modalidades de tratamento como quimioterapia
ditos
(endovenosa, subcutânea e intra-arterial) e
multifocal
somáticos
e
genética
visual,
com
apresentação
etiologia
prognóstico
ou
unifocal.
esporádicos
(Erwenne,
Antonelli, Marback & Novaes, 2003).
tratamento local (placa radioativa [teleterapia e
Quando há desconhecimento sobre o
braquiterapia],
fotocoagulação
a
Laser,
retinoblastoma, o tempo para se fazer o
termoterapia transpupilar [TTT] e crioterapia)
diagnóstico
(Souza Filho et al, 2005).
é
maior,
assim
retardando
o
encaminhamento até um centro de tratamento
A enucleação deve ser realizada como
especializado, permitindo que a doença torne-se
tratamento primário em olhos com tumores
mais avançada e as chances de cura diminuam
intraoculares
(Rodrigues & Camargo, 2003).
alterações anatômicas e funcionais. A utilização
avançados
que
apresentam
No caso do retinoblastoma, o diagnóstico
da enucleação como tratamento secundário
definitivo pode ser realizado através de um
ocorre quando não existe resposta ao tratamento
exame de fundo de olho, sob anestesia geral,
primário proposto. Deve-se tentar retirar o globo
tomografia de crânio e órbita, ultrassonografia do
ocular com o maior tamanho de coto de nervo
olho (o exame de ultrassom fornece informação
óptico possível. O coto do nervo é considerado a
sobre o tamanho da lesão e avalia a presença de
margem
calcificação
bastante
avançados da doença, com invasão do tumor na
característico do retinoblastoma), raio-x de
cavidade orbitária e no nervo óptico, podem se
crânio, mielograma e histológico do líquido
apresentar com proptose ocular e restrição da
intralesional,
sinal
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
cirúrgica
mais
importante.
Casos
motilidade ocular (Tamura & Teixeira, 2009). VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 26
motilidade ocular (Tamura & Teixeira, 2009).
orientação adequada à família e à escola (Brasil,
Vale ressaltar que a invasão do nervo óptico (N.O) e das túnicas oculares são considerados
importantes
2000). Nessa conjuntura torna-se necessário
achados
ressaltar que uma criança com diagnóstico tardio
histopatológicos relacionados ao prognóstico. A
com alta porcentagem de um mau prognóstico
frequência de invasão do N.O em olhos
(invasão do nervo óptico e/ou túnicas oculares)
enucleados por retinoblastoma varia de acordo
deve receber cuidados especiais, ou seja, os
com a literatura de 25% a 63%. A invasão do
cuidados paliativos.
nervo óptico até o plano de secção cirúrgica é
Segundo Boemer (2009), no Brasil,
considerada como fator de mau prognóstico.
surgem algumas iniciativas no sentido de
Nesses pacientes, a mortalidade varia entre 50%
implementar essa filosofia de cuidado, contudo,
a 81% (Souza Filho et al, 2005).
ainda há muito a fazer para consolidar essa
O
tratamento
do
retinoblastoma
é
abordagem terapêutica. O difícil acesso aos
complexo e requer uma equipe multidisciplinar
serviços de assistência, as falhas nas diretrizes
capacitada para o atendimento do paciente em
das políticas de saúde, a deficiência na formação
todas as etapas do processo. Os objetivos do
de profissionais e, principalmente, a falha de
tratamento são: salvar a vida da criança e,
informação ao paciente, nos confrontam com a
secundariamente, preservar o globo ocular e a
necessidade de controlar a dor, aliviar os
visão (Tamura & Teixeira, 2009).
sintomas, e promover uma melhor qualidade de
O sucesso do tratamento depende da
vida para essas pessoas. Com o avanço
habilidade dos pais e do pediatra em detectar a
tecnológico e a consequente detecção precoce
doença
de doenças, alguns profissionais direcionaram
quando
ainda
encaminhando-a
é
intraocular,
precocemente
ao
seu olhar para essa questão e, dessa forma,
oftalmologista para realização de um exame de
aprofundaram
seus
conhecimentos
nessa
fundo de olho e ao oncologista pediátrico para
abordagem, incorporando o conceito de cuidar e
tratamento adequado ao estádio da doença. A
não de curar.
fim de preservar não só a vida da criança como
O Ministério da Saúde tem expressado
também a funcionalidade do olho acometido
sua preocupação com a necessidade crescente
(Rodrigues, Latorre & Camargo, 2004).
de cuidados paliativos e de controle da dor e a
As crianças portadoras de retinoblastoma
partir dessa conjuntura publicou a Portaria
podem adquirir duas deficiências na fase de
GM/MS nº 19, de 03 de janeiro de 2002, na qual
aquisição de linguagem e desenvolvimento
instituiu o Programa Nacional de Assistência à
neuropsicomotor. A detecção precoce da perda
Dor e Cuidados Paliativos, possibilitando novos
auditiva é fundamental para evitar a progressão
debates acerca da temática e da capacitação
da surdez e permitir ao fonoaudiólogo, como
profissional, além de rever posturas pertinentes
membro
ao cuidado do paciente portador de doença
da
equipe
multidisciplinar,
uma
crônico-degenerativa ou em fase final de vida e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 27
paliativos (equipe hospitalar, família, e/ou outros)
seus familiares (Brasil, 2008). O que leva um paciente a ser incluído
(Remedi et al, 2009).
num programa de cuidados paliativos é a
Nesse sentido, é preciso refletir sobre a
condição de que, além do tratamento curativo,
inserção da equipe de enfermagem nos CP sob
existem outros sintomas e desconfortos que
a ótica da interdisciplinaridade, visto que o
comprometem sua qualidade de vida; sendo
cuidado é inerente à profissão desde sua
assim,
abordagem
concepção moderna, proposta por Florence
Por
Nightingale.
necessitam
competente
e
de
uma
especializada.
sua
Assim,
percebe-se
que
os
requer
enfermeiros podem ser norteados por essa
ação
diretriz, a ajudar a pessoa em seu momento de
multiprofissional (Remedi, Mello, Menossi &
final de vida, tendo, como fio condutor do cuidado
Lima, 2009).
e a preservação da dignidade dessa pessoa
complexidade,
o
planejamento
cuidado
paliativo
interdisciplinar
e
Astudillo Alarcón et al. (2009) referem que
(Boemer, 2009).
sofrimento
A participação de vários profissionais na
desnecessário, e os CP são direcionados ao
assistência à saúde propicia o envolvimento de
alívio e melhora a qualidade de vida de pacientes
todos os componentes da equipe com a
com dor crônica mantidos por longos períodos,
assistência e favorece melhor disponibilidade
até os últimos dias de vida.
dos profissionais diante de seus pacientes. Estes
o
manejo
da
dor
evita
o
A priorização dos cuidados paliativos e a
por sua vez, encontrarão maior abertura para
identificação de medidas úteis devem ser
expor seus problemas e questionamentos e isto
estabelecidas de forma consensual pela equipe
promoverá a qualidade do acolhimento. A
multiprofissional
humanização
em
consonância
com
o
do
processo
de acolhimento
paciente, seus familiares ou seu representante
depende também da atuação adequada e da
legal. Após definidas, as ações paliativas devem
receptividade
ser registradas no prontuário do paciente (Moritz
trabalhadores que entram em contato direto com
et al, 2008).
os pacientes (Hoga, 2004).
demonstrada
por
todos
os
Segundo Remedi et al. (2009) uma vez
O cuidar está fundamentado num sistema
que a decisão sobre o tratamento tenha sido
de valores humanísticos universais, tais como
tomada, devem se escolher os elementos dos
amabilidade, respeito, afeto por si e pelos outros.
cuidados paliativos a serem implementados,
Este sistema de valores humanísticos envolve a
devendo a transição entre o tratamento curativo
capacidade de gostar das pessoas, apreciar a
e o paliativo ocorrer de modo gradual. Estas
diversidade e a individualidade. Desse modo,
escolhas
de sintomas
entende-se que para cuidar, precisa-se ter por
(medicações e outras intervenções específicas),
base o sistema de valores humanísticos e de
o local do cuidado e da morte (casa, hospital ou
sensibilidade a fim de considerar os sentimentos
outro lugar) e os responsáveis pelos cuidados
diante da doença da criança e do tratamento
incluem
o controle
(Pedro & Funguetto, 2005). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
O que podemos perceber com tudo isso é VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 28
O que podemos perceber com tudo isso é
existam grandes expectativas de um longo prazo
que, as ações paliativas que a equipe de saúde
de vida. Assim, o importante é tornar o cuidado
oferece a estas crianças, estão relacionadas à
humanizado e não se deixar dominar apenas
tentativa de oferecer uma boa qualidade de vida,
pelos avanços tecnológicos e cuidados técnicos.
ou seja, um bem-estar geral. Neste sentido, o
Ser solidário com a dor do outro, saber ouvir, e
termo qualidade de vida, está diretamente ligado
tentar confortar a criança, seus familiares e
ao modo de pensar e de viver de uma pessoa
amigos. Com isso os objetivos dos cuidados
frente às condições culturais, psicológicas,
oferecidos pela equipe multiprofissional são de
espirituais e sociais na qual se encontra
tornar o cuidado mais humanizado e fazer com
inseridas.
que a criança sentia-se mais segura e confiante.
Floriani e Schramm (2008) enfatizam que
O cuidado de enfermagem em oncologia
os cuidado paliativo são fundamentados na
pediátrica vem se especializando e modificando
busca incessante do alívio dos principais
com o passar do tempo. Anteriormente, a família
sintomas
em
não podia acompanhar a criança no processo de
intervenções centradas no paciente e não em sua
hospitalização. Atualmente, a família se faz
doença,
participação
presente e é muito importante neste momento
autônoma do paciente nas decisões que dizem
crítico em que a criança se encontra (Avanci et
respeito a intervenções sobre sua doença); em
al, 2009).
estressores
(o
que
do
significa
paciente;
na
cuidados que visam a dar uma vida restante com
Cabe
ao
enfermeiro
promover
um
mais qualidade e um processo de morrer sem
cuidado centrado na criança em situação de
sofrimentos (em princípio evitáveis); sofrimentos,
viver/morrer, porém deve-se estabelecer a
estes, frequentemente agregados às práticas
comunicação entre os pais e/ou cuidadores, pois
médicas tradicionais; na organização de uma
a família o componente essencial na promoção
equipe interdisciplinar (Floriani & Schramm,
da saúde e no cuidado à criança, com assistência
2008).
integral (biológica, psicologia, social, econômica, Humanizar
a
experiência
da
dor,
espiritual e cultural). (Avanci et al, 2009).
sofrimento e perda, requer algo a mais da equipe
A comunicação entre a equipe e o
de saúde. O bom humor entre pacientes,
paciente terminal pode reduzir as emoções
familiares e equipe de enfermagem proporciona
negativas como depressão e ansiedade e
construção
promover
de
relações
terapêuticas
que
uma
decrescente
queda
da
permitem aliviar a tensão inerente à gravidade da
perceptividade da dor na pessoa. A ausência de
condição e proteger a dignidade e os valores do
comunicação pode levar o paciente a sentir
paciente que vivencia a terminalidade (Araújo &
solidão, vazio e incerteza. Mostrar-se disponível,
Silva, 2007).
compartilhar com o paciente suas dúvidas,
Nesse contexto percebe-se que a equipe
ansiedades e angústias, demonstrar empatia
multiprofissional tenta promover a essa criança
significa ao mesmo tempo saber ouvir (Costa
uma boa qualidade de vida mesmo que não
Filho, 2008).
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VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 29
Para minimizar ou evitar os traumas da hospitalização
nas
crianças
com
O controle da dor é um fator crucial nos
doenças
cuidados paliativos, pois pode ser incapacitante
crônicas ou em fase terminal, o ambiente
e causar efeitos indeléveis na criança e na
hospitalar não pode se limitar ao leito, devendo a
família. Seu manejo pode ser realizado através
unidade pediátrica fornecer condições que
de
atendam às necessidades físicas, emocionais,
farmacológicas. Dentre as primeiras, destaca-se
culturais, sociais, educacionais e de recreação,
a administração de opioides, não deve ter uso
contendo livros, jogos e brinquedos adequados
limitado no esforço de avaliar a dor (Remedi et al,
para estimular a auto-expressão da criança. Além
2009).
intervenções
farmacológicas
e
não-
disso, é necessário que os profissionais que
A dor ocorre em crianças que vivenciam
assistem essas crianças estejam satisfeitos com
uma série de desconfortos tais como lesões
suas condições de trabalho, fornecendo um
cutâneas, odores desagradáveis, ansiedade,
atendimento humanizado às crianças e seus
insônia, depressão, entre outros. Todos esses
acompanhantes (Lima, Jorge & Moreira, 2006).
diminuem de algum modo sua qualidade de vida,
O enfermeiro que atua nos cuidados
merecendo, assim, a atenção dos profissionais
paliativos precisa saber orientar tanto a criança e
de saúde. À medida que a doença progride maior
sua família quanto aos cuidados a serem
é a necessidade de cuidados paliativos, o que
realizados. Para isso é necessário que o mesmo
torna quase que exclusivos ao final da vida (Silva
saiba educar em saúde, de maneira clara e
& Hortale, 2006).
objetiva, sendo pragmático em suas ações,
A equipe interdisciplinar se propõe a
visando sempre o bem-estar da criança e seu
amparar a criança e seu cuidador/sua família
núcleo familiar. A equipe multiprofissional deve
sempre que necessário, desde o diagnóstico até
trabalhar no sentido de fortalecer a criança e sua
a fase de luto. O luto é marcado como um
família no momento em que é dada a notícia do
momento, uma experiência de resposta ao
diagnóstico, fornecendo informações sobre a
rompimento
patologia, tratamento e, principalmente, oferecer
consciência das perdas, da quebra de relação
uma abertura para que a criança e seus
afetiva,
familiares
extremamente doloroso. Por esse aspecto é que
expressem
seus
sofrimentos,
sentimentos e dúvidas (Avanci et al, 2009). Para as crianças que estão sob os
do
vínculo.
constituindo-se
É
a
em
tomada
um
de
momento
o luto assume importância na filosofia de CP e se constitui objetivo de sua ação (Silva, 2008).
cuidado paliativos, o relacionamento humano é essencial no cuidado, pois ampara a fé e a esperança
nos
momentos
mais
Conclusões
difíceis.
Esta pesquisa aprofundou a compreensão
Expressões de compaixão e afeto na relação
e discussão a respeito dos cuidados paliativos
com o outro traz sensação de consolo e
em
realização, além de paz interior (Araújo & Silva,
retinoblastoma,
2007).
envolvidos com a importância de um diagnóstico
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crianças
precoce,
com na
cuidados
diagnóstico qual
fora
trouxe
de
tardio
de
conteúdos
possibilidades
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 30
precoce,
cuidados
fora
de
possibilidades
desenvolvimento do enfermeiro que atua nessa
terapêuticas de cura, assistência à criança
área de saúde ligada à criança com doença
oncológica e qualidade de vida.
oncológica
Quando o diagnóstico do retinoblastoma
fundamental
avançada.
Visto
importância
a
que
é
de
presença
de
é realizado tardiamente, conclui-se que a doença
profissionais especializados nessa área. Desta
já estará em seu estado irreversível, assim seu
forma,
tratamento será voltado com a finalidade de
intervenções
paliar e as medidas adotadas para a sua
profissionais, buscando assim, uma melhoria no
terapêutica envolvem cirurgia de enucleação,
sistema desses cuidados.
se
faz
necessário e
novos
treinamentos
estudos, para
os
quimioterapia e radioterapia associadas aos cuidados paliativos, que estão voltados para a
Referências
comunicação verbal e não verbal efetivas, ao alívio da dor, e aos aspectos sociais, psicológicos e espirituais da criança e dos familiares. Percebeu-se com esta pesquisa que os cuidados paliativos trabalham com o sofrimento, a dignidade, o cuidado das necessidades
humanas e qualidade de vida pessoas afetadas por uma doença crônica e degenerativa ou em fase final de vida. Com isso, OS cuidados paliativos não estão direcionados só com a criança que está em fase terminal, mas também com seus familiares e amigos. Nessa conjuntura, pode-se dizer que as ações
paliativas
fazem
parte
da
prática
profissional, e estas podem ser prestadas em situações de condição irreversível ou de doença crônica
progressiva,
com
vistas a mitigar
repercussões negativas da doença e melhorar o bem estar geral da criança e seus familiares. Ressalta-se a importância desta pesquisa em contribuir para a assistência prestada à criança, fazendo com que o profissional de saúde reflita a importância dos cuidados paliativos, pois se enfatizou que na abordagem deste cuidado é
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necessário assegurar a dignidade da qualidade de vida à criança. Além disso, contribuir para o JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Brasil. (2000). Fundação Oncocentro de São Paulo. Comitê de Fonoaudiologia em Cancerologia. Emissões otoacústicas em VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 31
Cancerologia. Emissões otoacústicas em crianças com retinoblastoma. São Paulo: FOSP.
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Gonçalves, M. (2017) The Psychosocial Preparation for Retirement (PPR): planning for active aging within different ecosystems of human development. Journal of Aging & Innovation, 6 (13): 33 - 40
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
The Psychosocial Preparation for Retirement (PPR): planning for active aging within different ecosystems of human development A Preparação Psicossocial para a Reforma (PPR): planeamento para um envelhecimento activo nos diferentes ecossistemas do desenvolvimento humano Preparación Psicosocial para el Retiro (PPR): planificación del envejecimiento activo en diferentes ecosistemas del desarrollo humano
Autores Marta Gonçalves 1 1
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Cis-IUL, Lisboa, Portugal, Harvard Medical School
Corresponding Author: marta.goncalves@iscte.pt
Abstract Aim: The aim of this paper is to present an intervention that enables people to continue participating in social, economic, cultural, spiritual and civil matters avoiding isolation and passivity by acting at various levels of human development. Methods: In this paper we will discuss a Psychosocial Preparation for Retirement within the different ecosystems of human development: micro, meso, exo, macro and chrono. Results: This intervention may reduce costs in terms of health, education and social services. Conclusion: To have a happy, comfortable, secure, productive life after stopping working, people need to save enough money and to have developed other interests in order that self-esteem and identity is not only connected with the professional life with specific structure, rhythm and relationships. Keywords: active ageing, retirement, human development, psychosocial preparation, ecosystems, planning, psychological coaching
Resumo: Objectivo: O objectivo deste artigo é apresentar uma intervenção que permite às pessoas continuarem a participar em questões sociais, económicas, culturais, espirituais e civis, evitando o isolamento e a passividade actuando nos vários níveis do desenvolvimento humano. Método: Neste artigo discutiremos uma preparação psicossocial para a reforma nos diferentes ecossistemas do desenvolvimento humano: micro, meso, exo, macro e crono. Resultados: Esta intervenção pode reduzir os custos em termos de saúde, educação e serviços sociais. Conclusão: Para ter uma vida feliz, confortável, segura e produtiva, depois de parar de trabalhar, as pessoas precisam de poupar Autores Dadosecurriculares dinheiro ter desenvolvido outros interesses para que a auto-estima e a identidade não se limitem à vida
profissional com estrutura, ritmo e relações específicos. Palavras-chave: envelhecimento activo, reforma, desenvolvimento humano, preparação psicossocial, ecossistemas, planeamento, coaching psicológico
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Introduction
retirement. Schlossberg (2004) recommends that
According to psychologists who study retirement, to have a happy, comfortable, secure, productive life after stopping working, people need to save
people attend pre-retirement seminars in which the psychological aspects of retirement are discussed in addition to the financial aspects.
enough money and to have developed other interests in order that self-esteem and identity is not only connected with the professional life with specific structure, rhythm and relationships
(Qualls & Abeles, 2002). Schlossberg (2004) speaks about the psychological portfolio as a way to get people to think of retirement as a career change. According to the author retirement includes many transitions and there are many factors that contribute to help people negotiate or cope with them, as 1) work and family meaning and
satisfaction,
expectations
and
2)
retirement
timing,
work
planning, and
life
satisfaction, 3) health and financial security sense. Schlossberg (2004) identified six ways of approaching retirement: the continuers (who continue using their skills and interests), the adventurers (who start new skills and interests), the searchers (who explore new skills and interests), the easy gliders (who do not plan their day), the involved spectators (who dedicate their day to society), and the retreaters (who plan their
day as holidays). According to Qualls & Abeles (2002), looking at a person’s past, present, and future from a life course perspective, i.e. life as a whole, explains why people differ in their retirement
experience.
The
American
Psychological Association's Committee on Aging has initiated the Life Plan for the Life Span 2012 project,
which
aimed
to
inform
people independently of their age about the new
face of aging and retirement through user-friendly tips allowing people to plan for a successful
The example of a southern European country In Portugal, more and more, retired people present increased levels of frustration because private banks lost their savings or State cuts their retirement salary due to financial crisis. If many have to ask social institutions for help to survive, many of them come even to a desperate point where they prefer to take their own life. It is being a social problem where there is a need to intervene in terms of prevention. This prevention shall consider the active ageing approach enabling
people
to
participate
in
social,
economic, cultural, spiritual and civic issues, regardless of their age. Activities can go from travel, hobbies, volunteer work, exercise to other activities as continuing education. In Portugal, society
is
facing
multilevel
development
challenges in terms of ageing. There have been conducted several focus groups (Gonçalves et al., 2016a; Gonçalves et al., 2017) and meetings with different stakeholders (Gonçalves et al.,
2016b) and tested different intervention health and clinical methodologies (Gonçalves & Farcas, 2014; Gonçalves, 2014; Gonçalves, M. & Cook, B., 2016; Gonçalves et al., 2016c; Gonçalves, 2017), which allowed us the design of a Psychosocial Preparation for Retirement. The aim of such an intervention is to enable people to continue
participating
in
social,
economic,
cultural, spiritual and civil matters avoiding
isolation and passivity by acting at various levels of human development: micro, meso, exo, macro and chrono. This intervention may reduce costs
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health, education and social services.
Demand for services and training in this area is increasing day by day and is becoming a pressing
Description of the Intervention
need in the near future. European societies are in
PPR means in Portuguese Retirement Savings
need of innovative responses. In this sense we
Plan. With the same initial letters we have created
developed
Psychosocial
another type of retirement plan, a psychosocial
Retirement,
a
one, which we call the Psychosocial Preparation
individualized active aging which can be used in
for Retirement. Psychosocial Preparation for
individual or group sessions.
Retirement was developed under the area of
Psychosocial Preparation for Retirement consists
active aging. Active aging is the process of
of three sequential and complementary levels,
enabling
social,
allowing participants in a situation of pre-
economic, cultural, spiritual and civic issues,
retirement or retirement design, to implement and
regardless of their age. Active aging is now an
sustain in monitored way with their psychosocial
area with a strong need for development.
plan for retirement (Table 1).
people
Methodologies
to
participate
supported
by
in
solution
Preparation to
a
planning
for of
cutting-edge
research are needed in this area.
Table 1. Steps of the Psychosocial Preparation for Retirement Approach JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 36
In the first level – pre-intention level, participants
intentions. Intentions moderate the planning-
get aware of a psychosocial preparation for
behaviour relation, as people with high intentions
retirement
are more likely to enact their plans.
and
work
on
their
retirement
psychosocial level on questions such as who they
The PPR approach could particularly help people
are, what do they want and how do they get there,
improve their retirement satisfaction by improving
time
management,
their quality of life and well-being by helping them
decision making, assertiveness, relationship and
stepwise changing their lifestyle. This intervention
interpersonal communication. In the second level
approach proposes that a strategy for ensuring
– intention level, participants are accompanied in
maintenance of satisfaction in retirement is
achieving their psychosocial preparation for
changing lifestyle based on two theories of the
retirement, that is, their individual active aging
nineties: The Health Action Process Approach
plan. In the third level – action level, participants
and The Human Ecology Theory.
management,
conflict
are invited to choose from a portfolio of activities suggested according to the needs identified
Theoretical Model of Behavioral Change
during the two first levels. According to this
The theoretical model of behavioral change under
intervention,
pre-intention
the PPR approach was developed is The Health
motivation process there is the generation of a
Action Process Approach of Schwarzer (1992), a
motivation, i.e. an intention to change behavior.
model originally developed in the late 80s by the
This first stage is related to risk perception and
integration
perceived self-efficacy. Risk perception is the
reasoned action theories and its application to
awareness of one's own risk in respect of certain
health
problem or the degree of symptoms experienced.
supported
Perceived self-efficacy is the conviction one can
mediators post-intention to overcome the gap
perform certain behaviors despite anticipated
between intention and behavior. It distinguishes
hurdles. The stage of post-intention volition
between the first stage of pre-intention motivation
process is to plan behavioral change even when
processes (risk perception, positive outcome
obstacles arise. This second stage is related to
expectancies and perceived self-efficacy) and the
action and coping planning. Action planning are
second stage of post-intention volition processes
the concrete conditions when, where and how the
(task self-efficacy, maintenance self-efficacy and
target behavior is to be implemented. Coping
recovery self-efficacy as well as action planning
planning are strategies to master efficiently
and coping planning) (Schwarzer & Luszczynska,
possible hurdles and anticipated difficulties.
2008).
According interventions
in
to
the
stage
Wiederman should
target
of
et
al.
of
social-cognitive,
behavior by
change.
empirical
volition
This
evidence,
and
approach includes
(2009)
intentions
as
Theoretical Model of Human Development
precondition or in combination with planning, as
The theoretical model of human development
action planning mediates between intentions and
under the PPR approach was developed is
behaviours when people hold sufficient levels of
Bronfenbrenner
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human
ecology
theory
(Bronfenbrenner & Ceci, 1994), which states that VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 37
(Bronfenbrenner & Ceci, 1994), which states that
methodology allows a person to design, put into
human development and behavior is influenced
practice and fine tune a custom active aging plan,
by the different types of environmental systems:
beyond the achievements of the individual or
micro-, meso-, exo-, macro- and chrono system,
group context where the whole methodology is
being a person simultaneously recipient and actor
conducted.
within them. The micro system is the direct social
intervention in the preparation and experience of
interaction environment of a person, which
retirement
includes
friends,
concept of retirement as a career change,
classmates, teachers, neighbors. The meso
learning the factors that contribute to help them
system is the relationships between micro
negotiate
systems, for example between family and work.
distinguishing ways of approaching retirement.
The exo system is environment between a micro
PPR acts as a career counseling service to
system and a system where the person does not
retirement. Simultaneously, it acts as a health and
have an active role. The macro system is the
clinical intervention for ageing and dementia.
cultural environment of a person, which includes
Losing valuable knowledge or underutilizing
among others socioeconomic status, ethnicity.
capacity has very high costs for organizations.
The chrono system is the life transitions
These issues may anticipate the expected
environment of a person.
number of older people for 2050 (European
social
agents
as
family,
The
role
of
helps people
the
transition
a
psychological
understanding the
to retirement
and
Commission, 2011), helping societies deal with Discussion
this societal challenge. An intergenerational
The aim of this paper was to discuss a
intelligent approach may help aging organizations
psychosocial preparation for retirement within the
find solutions for an optimizing learning as a
different ecosystems of human development. An
bridge
intervention that enables people to continue
organizations already aware of these issues, an
participating in social, economic, cultural, spiritual
intergenerational intelligent approach may help
and civil matters avoiding isolation and passivity
further maximizing the benefits of knowledge
by
human
exchange between workers as to prevent the loss
development. It presents benefits for the private
of critical knowledge and skills, improve older
and public responsibility of care concerning
worker mobility, increase older and younger
aging. These benefits are related to the work on
worker competence and stimulate innovation. We
psychological
have
acting
at
various
levels
processes
under
of
behavioral
between
been
generations.
witnessing
worldwide
physical, psychological, social, spiritual, financial,
countries and another for older people-friendly
family and leisure. With this approach we may
countries. The piece of the puzzle that seems to
answer the question of what are the specific
be missing is the call for all ages-friendly
needs for the older community in terms of the
countries (Gonçalves et al. 2016a). There is a
integration
need of an intergenerational approach in the
people.
The
PPR
design JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
of
public
policies.
for
two
simultaneous
older
one
those
change in seven areas of health. These are
of
calls:
For
An
child-friendly
agenda
of
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 38
of
cognitive conditions, physical health data. We
intersectional public policies in sectors such as
might also think about the creation of a
education, social services, child, youth, family,
Specialization on Psychosocial Preparation for
health and welfare, employment, economy,
Retirement Leadership as it is a determinant of
environment and culture. A continued political
wellbeing having benefits for education, work,
leadership
health and human development and is influenced
design
of
public
to
maintain
coordination. Government,
policies.
A
An
agenda
collaboration
partnership
ministries,
local
and
and
between
by gender,
ethnicity,
religious background,
national
immigration history, marital status, employment
government, non-governmental organizations,
situation,
employers and trade unions, research institutes
economical factors and health. The creation of a
and centers, media, civil society, learning centers
new figure or department in organisations of
and promoters of intergenerational practice
intergenerational
experts. The more efficient use of human,
proficient in human development knowledge,
physical and financial resources will impact public
effective
policies in terms of economy and employment,
partnership,
society, life-long learning and health & social
integration, adequate assessment tools, and
services.
the
reflection with care of bringing generations
youthcracy paradigms, we have at the moment
together for mutual benefit could also help to
worldwide an opportunity for an intergenerational
research
learning paradigm, where reciprocal relationships
organizational intergenerational intelligence.
with benefit for all generations are privileged and
Besides
intergenerativity
This
exemplifies the experimental and innovative
intergenerational learning paradigm calls for an
character in retirement psychosocial preparation
intervention public policy for all ages sustained in
practice and learning, in Portugal there is also an
time
the
innovative intervention under the new reciprocal
sustainability of communities, and promotes birth
learning paradigm (Gonçalves et al., 2016c) and
and active aging, supporting families (Gonçalves
a
et al., 2016b).
intergenerational policies (Gonçalves et al.,
that
After
the
gerontocracy
is
stimulates
and
possible.
cohesion,
favors
geographical
practice
experts
communication,
and
this
In
intervene
in
practice-based
group
a
hearing
on
at
socio-
who
are
compromise
interdisciplinary
working
2016b).
proximity,
knowledge
the
area
initiative
advocacy
the
of
that
for
Portuguese
Policy, Practice and Research Implications
Parliament on a Law Resolution in January 2015
The potential practical implications for this type of
(Gonçalves, 2015), there was a call for the need
programme are significant, considering the
for an integrated intergenerational dialogue and
increasing ageing population worldwide. This
of
approach if used in different cultures, including
(Gonçalves et al., 2016b). Although more
immigrants, may be also useful to compare
research in the area is needed, this paper
profiles between countries, e.g. psychosocial
enabled us to take an initial look at how we can
situation: mental health indicators, worries in age,
innovate in this area. It is a methodology of social
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
an
integrated
active
ageing
approach
responsibility profit and non-profit organisations VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 39
responsibility profit and non-profit organisations
Gonçalves, M. (Janeiro, 2015). Por um Portugal
should adopt. For example, it could be part of
Amigo de todas as Idades. Audição 224-CECC-
human resources practices. In an exploratory
XII da Comissão Parlamentar de Educação,
study to understand whether and to what extent
Ciência e Cultura. Resolucão n.o 87/2014,
employees’ commitment is or may be influenced
Aprofundar a protecção das crianças, das
by the organization in a country under Troika
famiĺ ias e promover a natalidade. Assembleia da
austerity (Gonçalves et al., 2017b), results were
Républica Portuguesa. Lisboa, Portugal.
consistent
with
literature
pointing
that
organisational commitment consists of a narrow
Gonçalves, M., Caramelo, S., & Almeida Ribeiro,
link between employees and their company and
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Página 40
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VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Nogueira, A., Azeredo, Z. (2017) What is lacking for the elderly in today’s society?, Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 41 - 50
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
ABRIL 2017
O que falta aos idosos na sociedade atual? What is lacking for the elderly in today's society? Lo que falta para las personas mayores en la sociedad actual?
Autores Assunção Nogueira 1 , Zaida Azeredo 2 1
Escola Superior de Saúde Vale do Sousa, IPSN, IINFACTS, CESPU, PhD 2 RECI, Instituto Piaget, PhD
Corresponding Author: assuncaonog@gmail.com
Resumo Com este estudo pretendemos conhecer as necessidades do idoso no contexto da sua vivência, na opinião dos cidadãos. Pretendeu-se identificar inexistências de recursos na sociedade para o seu bem estar. Da análise de conteúdo, podemos constatar que as necessidades dos idosos são múltiplas: de acessibilidade aos cuidados e serviços de saúde, falta de apoios sociais, inexistência de equipamentos na comunidade, habitação desadequada, recursos económicos escassos, levam a que este grupo seja descriminado /isolado da sociedade culminando, no próprio, com sentimentos de solidão. Todas estas necessidades requerem uma atenção particular e exigem medidas políticas não só para aquisição de equipamentos e serviços na comunidade, mas também de educação para a saúde e cidadania, desde muito cedo, com participação ativa dos idosos na vida em sociedade.
Palavras chave: Envelhecimento, qualidade de vida, educação.
Resumen Con este estudio se pretende conocer las necesidades de las personas mayores en el contexto de su experiencia, en la opinión de los ciudadanos. Se tenía la intención de identificar los recursos inexistências en la sociedad por su bienestar. El análisis de contenido, podemos ver que las necesidades de los ancianos son múltiples: la accesibilidad a la atención y servicios de salud, la falta de apoyo social, la falta
Autores de equipo en la comunidad, la vivienda inadecuada, los escasos recursos económicos, significan que este Dados curriculares
grupo se discrimina / aislado de la sociedad culmina en sí mismo, con la sensación de soledad.Todas estas necesidades requieren una atención especial y requieren medidas de política no sólo para la compra de equipos y servicios en la comunidad, sino también la educación sanitaria y la ciudadanía, desde una edad temprana, con la participación activa de las personas mayores en la sociedad.
Palabras clave: envejecimiento, calidad de vida, de educación. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 42
Introdução
incapacidades a vários níveis e que acarretam
O envelhecimento demográfico é algo ímpar na
muitos gastos para a economia do país. Os
Humanidade e tem sido um tema que tem
documentos
preocupado
sociedade.
demonstram uma contínua preocupação face ao
Ninguém tem dúvidas de que o período que
aumento exponencial da população idosa e aos
atravessamos é histórico pelas transformações
impactos que imprimem nos territórios sociais,
sociodemográficas que assistimos. A população
referindo-se
está a envelhecer e vai continuar a envelhecer
problema.
rapidamente, nas próximas décadas. Os países
Ao considerar-se um problema social, a velhice,
do sul da Europa, nos quais se incluem Portugal
passou também a ser um foco de interesse e a
e Espanha, estão a sofrer um envelhecimento
mobilizar gente e meios para este grupo. Os
mais acelerado do que outros países da
investigadores passaram a ter uma atenção
Comunidade Europeia, o que dificulta uma
especial com o fenómeno do envelhecimento e
adaptação da sociedade a uma percentagem
com os idosos, afim de encontrarem soluções
elevada e em crescendo de idosos e a uma nova
para os seus problemas. O envelhecimento da
imagem social por estes desejada e que também
população marca o contexto atual nos variados
é real.
domínios da sociedade contemporânea, impondo
Alexandre Kalache, médico Brasileiro, diz que
repensar conceitos, práticas e visões pessoais e
estamos em plena “revolução da longevidade”,
sociais (Barbosa, C. s/d). Para que se possam
pelo que é urgente encontrar soluções das
tomar medidas políticas e sociais torna-se
diferentes instituições sociais e politicas para
importante conhecer a opinião da própria
responder de forma ajustada às necessidades e
população.
interesses das pessoas idosas.
Assim, propusemo-nos realizar um estudo afim
Se por um lado é gratificante verificarmos que as
de conhecer a opinião da população sobre o que
melhores condições de vida, o apoio na saúde, o
falta ao idoso tendo em atenção o seu bem-estar.
vários
desenvolvimento
setores
cientifico
da
e
oficiais
ao
e
alguns
envelhecimento
autores
como
um
tecnológico,
trouxeram mais anos de vida às pessoas, por
Metodologia
outro, infelizmente, o aumento da longevidade,
Realizamos um estudo exploratório, com uma
não vem acompanhado de ações públicas e
amostra intencional a 121 pessoas, com idades
politicas que assegurem melhor qualidade de
compreendidas entre os 13 e os 86 anos (média
vida, no futuro, às pessoas mais idosas (Walker,
41,42 anos; desvio padrão de 22,405). Era nosso
2002).
interesse perceber o que pensam as pessoas
No mundo ocidental, onde nos situamos, ainda
sobre o que falta aos idosos para obterem bem-
são valorizadas a otimização da economia e da
estar. Os indivíduos foram abordados em
produtividade, remetendo para um segundo
diferentes ruas de Famalicão, cidade suburbana,
plano os idosos por serem considerados um
do distrito do Porto, Portugal, na primeira semana
grupo
de Dezembro de 2016.
vulnerável,
não
produtivo,
com
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VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 43
Utilizamos
um
questionário
de
1.Serviços sociais e de saúde
autopreenchimento, dividido em duas partes, na
No parecer dos indivíduos, os recursos de saúde,
primeira constituído por questões abertas, que
são escassos constituindo para muitos idosos um
nos permitiu caracterizar os informantes sócio
problema por acarretarem custos para o mesmo,
demograficamente (idade, sexo, estado civil,
pois têm de percorrer longas distancias para
escolaridade e profissão) e na segunda parte do
acederem aos cuidados médicos e só recorrem a
questionário constituído por questões abertas
estes quando se sentem doentes. No estudo
sobre a opinião do local de residência se tem
realizado por Louvison (2008) este verificou que
condições para garantir o bem estar aos idosos e
a maioria dos idosos estudados apresentam altas
dar resposta às suas necessidades.
taxas de utilização de serviços de saúde, mas os
Os dados foram tratados recorrendo-se à técnica
que menos os utilizam, indicam como razões: a
da análise de conteúdo, de onde emergiram
distância a percorrer, os custos e questões
classes categoriais, construídas à priori e à
relacionadas com a gravidade da doença.
posteriori, que dessem resposta ao propósito do
Para os idosos a necessitarem de algum tipo de
nosso trabalho. Analisamos individualmente as
apoio os informantes referiram que os apoios
respostas de cada questão extraindo unidades
socias são inexistentes ou insuficientes para este
de registo elucidativas das classes categoriais
grupo etário dadas as muitas necessidades que
(Bogdan & Biklen, 1994). Antes de acederem ao
têm.
estudo os participantes foram informados e
vestuário, higiene pessoal, asseio da residência
esclarecidos do propósito do mesmo, garantindo-
para além de companhia, foram algumas razões
lhes também o anonimato e a confidencialidade
apontadas. Este
dos dados. Os indivíduos participaram de forma
referido para idosos que já têm algum tipo de
voluntária e esclarecida. Deste modo, honramos
incapacidade ou são dependentes de terceiros
e
para a realização dos seus autocuidados. Este
respeitamos
todos
os
princípios
éticos
inerentes a este tipo de pesquisa. Resultados
Apoio
na
preparação
de
refeições,
apoio social é sobretudo
tipo de apoio pode ser formal, (quando prestados por profissionais de saúde e/ou sociais inseridos
numa rede de serviços, estatais ou privados/ de
Das 121 pessoas inquiridas 60,3% eram do sexo
solidariedade social) ou informal quando a ajuda
feminino e 39,7% do sexo masculino A média de
é obtida a partir de familiares vizinhos ou amigos.
idades foi de 41,4 anos. 31,4% possuía o ensino primário ou não tinha escolaridade; 51,2%
2.Equipamentos na comunidade
possuía o ensino secundário e 17,4% o ensino
Embora
superior.
comunidade dirigidos a idosos, nomeadamente lares,
As respostas obtidas, depois de analisados os
dados, incidiram sobre os seguintes problemas a que urge dar solução:
existam
centros
muitos
de
dia
equipamentos
ou
de
na
convívio,
proporcionados por instituições particulares de
solidariedade social e outras organizações privadas apoiadas (ou não) financeiramente pelo Estado, eles continuam a ser insuficientes para
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Página 44
Estado, eles continuam a ser insuficientes para
O mesmo estudo diz que as condições em que
darem resposta à população idosa existente. Há
se encontram os passeios têm um impacto
locais na periferia de Famalicão que não dispõe
evidente sobre a possibilidade de as pessoas
de quaisquer equipamentos. Por outro lado, foi
andarem na sua zona de residência. Assim,
referido pelos informantes que os existentes
passeios estreitos, desnivelados, rachados, com
apoiam-se num modelo de intervenção que é o
bermas altas, congestionados ou com obstáculos
mesmo de há muitos anos, o que leva a que os
representam perigos potenciais e afetam a
idosos não os queiram frequentar pois não
capacidade dos idosos para se movimentarem.
correspondem ao que pretendem em relação às
Em muitas cidades, são mencionadas as
atividades de que dispõem. Por outro lado estes
barreiras
representam para muitos idosos como o “estar
desencorajar os idosos de saírem de casa (OMS,
acabado” e “esperar a morte” existindo relutância
2007).
ao
acesso
físico,
que
podem
em frequentá-los. A criação de atividades de entretenimento, quer
3.Habitação do idoso inadequada
nas instituições quer na própria comunidade,
Foram poucas as pessoas que se referiram à
dirigidas a idosos foram algumas sugestões
habitação do idoso, mas os que se pronunciaram
fornecidas. Também foi referida a necessidade
sobre esta referiram que as habitações dos
de mais espaços verdes (parques e jardins)
idosos são no geral degradadas e sem condições
acessíveis a este grupo, assim como passeios
para uma pessoa viver com dignidade. As
que acompanhem as ruas e rampas e/ou
escadas de acesso à habitação em edifícios ou
elevadores nos serviços públicos.
em casas, condições sanitárias degradadas, por
“Envelhecer em casa” será para muitos idosos a
serem casas antigas e sem manutenção,
sua, quase única opção, pois existem inúmeras
compartimentos muito pequenos e casas de
barreiras no ambiente exterior e no acesso aos
banho sem condições, foram alguns dos aspetos
edifícios públicos.
apontados.
fundamental
Estes
sobre
a
têm um
impacto
mobilidade,
a
É na sua habitação que muitos idosos preferem
independência e a qualidade de vida dos mais
permanecer mesmo depois de ficarem sozinhos,
velhos. Num estudo realizado pela OMS (2007)
pois é aqui que encontram os seus objetos
em várias cidades do mundo concluiu-se que
particulares e as suas memórias pessoais
existem obstáculos que impedem que os idosos
(Nogueira, 2016). A habitação é fundamental
utilizem os espaços verdes. A existência de áreas
para a segurança e o bem-estar. Vários aspetos
em que as pessoas possam sentar-se é
do projeto de uma casa são considerados fatores
geralmente considerada
pelos idosos uma
que determinam a possibilidade dos idosos
característica urbana necessária: para muitos
viverem em casa com conforto (OMS, 2012).
idosos. É difícil andar nas zonas onde vivem se
Podemos sublinhar que é importante para os
não houver locais onde possam descansar
idosos viverem em casas construídas com
(OMS, 2007).
materiais adequados e com: estruturas sólidas;
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superfícies planas; elevador, caso se trate de um VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 45
superfícies planas; elevador, caso se trate de um
Pese embora estas constatações estatísticas,
edifício com vários andares; casa de banho e
existem evidências de que a estrutura e dinâmica
cozinha adequadas; espaço suficiente para
familiar
permitir a movimentação; passagens e portas
sociedade moderna. A mulher, com papel de
suficientemente largas para permitir a circulação
cuidadora na família tradicional, passou a
de uma cadeira de rodas; e equipada de modo a
trabalhar fora de casa, a mobilidade social e a
oferecer
educação muito díspar entre gerações (pais e
proteção
contra
as
condições
climatéricas (OMS, 2012).
tem
sofrido muitas
alterações
na
filhos), estabelece uma clivagem no seio familiar
e fá-las desintegrarem-se; sucedendo de uma 4.Família
forma idêntica em relação à grande assimilação
Quando se referiram à família enquanto suporte
de novos valores, atitudes, condutas ligadas à
ao idoso, alguns informantes, relataram que
industrialização, à cidade e ao prestígio dos
estes são abandonados e têm falta de afeto dos
estranhos (Nogueira, 1996, cit Martins, 2005).
filhos existindo uma quebra de laços emocionais
Todas estas transformações levam a que a
ou então, estes negligenciam os cuidados aos
família não seja capaz de resolver os problemas
pais, que desta forma não são apoiados nas
que se colocam hoje aos idosos como satisfazer
AVD, “como eram os idosos de antigamente”,
as necessidades físicas (alimentação, habitação
quando o idoso tem necessidade desse apoio
e outros cuidados), psíquicas (como autoestima,
pelas várias incapacidades que foram surgindo.
comunicação e pertença a um grupo) (Martins
A família é a célula básica da sociedade e a ela
2005). Muitos idosos por não terem suporte
são atribuídas várias funções. Se corresponde ao
familiar estão confinados à institucionalização.
que a sociedade espera dela, cumprindo as suas
Também aqueles que são cuidados no seio
funções, diz-se que a família é funcional, se pelo
familiar, podem levar a um enorme desgaste
contrário não cumpre com os papeis que lhe são
físico e emocional do cuidador, repercutindo-se
destinados poderemos estar perante uma família
isto no bem-estar do idoso. Esta situação,
disfuncional mais ou menos grave (Azeredo &
depende do grau de incapacidade do idoso, do
Matos, 1998, cit Martins, 2005). Embora a família
tempo de prestação de cuidados, da preparação
continue a querer cuidar dos seus membros
do cuidador para desempenhar o papel e da
idosos e os idosos também prefiram ser cuidados
acumulação de funções. Este fenómeno é
por eles (Nogueira & Azeredo, 2016) nem sempre
comumente
hoje é possível tal situação, necessitando, por
cuidador familiar (Nogueira & Azeredo, 2016).
designado
por
sobrecarga
do
vezes de ser complementados por instituições estatais ou privadas. No entanto, as estatísticas
5.Ageismo
demonstram que os idosos que necessitam de
O ageismo (também chamado idadismo)
cuidados são, na maioria, cuidados pelos seus
refere-se essencialmente às atitudes que os
familiares (Paúl & Fonseca, 2005).
indivíduos
e
a
sociedade
têm
frequentemente com os demais em função JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 46
da idade (Goldani 2010). Utiliza-se este termo
solidão é sentimento subjetivo, relacionado com
para designar algumas formas de discriminação
a qualidade da interação social. Existem alguns
em relação aos idosos. Quando questionados
motivos para que este sentimento se instale no
sobre o que pensam do ageismo, a esmagadora
idoso: perda de papéis sociais, problemas de
maioria não sabe o significado do termo. Os
saúde, reforma, isolamento social, entre outros
respondentes referiram que “é triste pensar que
(Freitas, 2011). Nos nossos registos foram
alguém pode ter este tipo de atitude em relação
apontados como causas para a solidão nos
aos idosos, sendo que toda a gente vai
idosos e para o seu isolamento, o abandono dos
envelhecer” ou “uma falta de respeito pela
filhos, o estarem sós e isolados de tudo e de
experiencia que a idade traz e a forma como
todos (em zonas rurais), a falta de afeto e
pode ajudar a juventude” ou “são desprezados
compreensão, a pobreza, o já não poderem
depois de uma vida de trabalho” e ainda “a
trabalhar devido a terem problemas de saúde e
discriminação é um dos grandes problemas,
consequentemente a diminuição da mobilidade.
cada vez mais os idosos estão a ser alvo de
Onde existe falta de comunicação, participação
descriminação”. Palavras como o falta de
social ativa e afetiva pode existir o sentimento de
respeito,
foram
solidão. Julgo que os informantes associam a
registadas pelos inquiridos. As conceções de
solidão a estas perdas de que o idoso está
velhice nada mais são do que resultado de uma
sujeito.
construção social e temporal feita no seio de uma
A solidão surge não só em idosos que estão sós
sociedade com valores e princípios próprios
e isolados mas também no seio das famílias e
(Schneider & Irigaray, 2008). A nossa sociedade
nas instituições (Freitas, 2011), pela diminuição
nega, aos velhos, o seu valor e importância
da sua auto estima, pela redução de contatos
social. Vivemos numa sociedade de consumo
sociais e afetivos, provocando no idoso um
onde a produtividade, o belo e o novo são
enorme sofrimento. Este é considerado como
valorizados. Nesta realidade os idosos são
uma
descartáveis,
problemáticas a que se torna urgente responder
discriminação
passam
e
a
desprezo
ser
vistos
como
ultrapassados ou já fora de moda.
das
experiências
mais
penosas
e
(Azeredo & Afonso, 2016). O isolamento dos idosos foi um problema
6.Solidão e Isolamento do idoso
referenciado como associado a questões de falta
Os mais jovens e os adultos têm a perceção de
de afetos entre as diferentes gerações, a
que a solidão é um sentimento muito presente
dificuldades de acessibilidades e de recursos.
nos mais velhos. É muito comum fazer-se uma
Desta análise somos levados a referir que se por
associação direta entre a velhice e a solidão,
um lado, a falta de apoio familiar e social aos
visto que se considera normal a existência deste
idosos, a falta de apoios sociais às famílias
sentimento por parte do idoso.
cuidadoras, tendem para o isolamento, por outro
Embora isolamento e solidão não sejam
este isolamento também é devido às condições
sinónimos o isolamento pode levar à solidão. A
da habitação e acessibilidade ao exterior, que
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
agregadas
ao
declínio
da
autonomia
VOLUME 6. EDIÇÃO 1
e
Página 47
agregadas
ao
declínio
da
autonomia
e
quando se refere que a segregação dos idosos é
mobilidade, contribuem ainda mais, para o
apenas uma questão doméstica.
agravamento do problema do isolamento e
Para
consequentemente para a solidão dos mais
informantes
idosos.
educação desde idades muito jovens, em que
reduzir
estes referem
conflitos ser
os
nossos
necessária
uma
exista mais diálogo e convívio intergeracional. 7.Conflitos intergeracionais
Segundo Lopes (2008, p.26) “o diálogo entre
Este tema, embora com algumas opiniões
gerações contribui para uma nova consciência
divergentes, foi o que mais suscitou o interesse
comunitária, na medida em que desenvolve as
dos participantes deste estudo. São atribuídas
relações interpessoais, quando entram em
como causas de conflitos entre as gerações mais
contacto com novas vivências de diversos modos
velhas e a mais novas: a falta de respeito,
de
paciência bem como a falta de tempo dos mais
intergeracionais renovam opiniões e visões
novos em querer entender e compreender os
acerca do mundo e das pessoas”. A Declaração
mais
intergeracionais
de Québec sobre a solidariedade intergeracional,
acompanham a história da humanidade. Numa
assinada em 1999, dá enfase à necessidade de
sociedade de evolução muito rápida estes
cultivar relações harmoniosas e produtivas entre
tornam-se mais evidentes porque os idosos,
as
apesar do seu esfoço, têm dificuldades em
humana, a paz e a justiça social (Declaração de
acompanhar e adaptar-se a essa evolução. Há
Quebéc, 1999, cit Teiga, 2012). A UNESCO, em
preconceito sobre o que o idoso ainda pode fazer
2000, defende a criação de programas para a
e pensar. Para um dos informantes : “acham que
inclusão
os idosos são inúteis e não se adaptam às novas
comunidade. Incentiva os estados a financiar
gerações”.
estes programas porque tanto trazem benefícios
As relações sociais são uma parte do bem-estar,
para os mais velhos como para os mais novos.
estimulando a mente e o pensamento, tendo, por
Para os idosos procuram minimizar as perdas do
isso,
múltiplos efeitos positivos na fase da
processo de envelhecimento, ao promover a
velhice. O ser humano é um Ser social com
inclusão e a sua valorização para além de
necessidade de manter e desenvolver relações
desenvolver
sociais. Embora não tenha sido referido que os
transmissão dos conhecimentos, habilidades e
conflitos intergeracionais ocorrem com maior
valores humanos a outras gerações. Para os
frequência no seio da família, parece-nos que é
mais novos procura-se promover interações
mesmo no seio da família que eles surgem mais
diferenciadas, promover aquisição de saberes
frequentemente, pois os nossos informantes
através da educação Informal transmitidas pelos
referiram-se inúmeras vezes aos filhos ou netos.
mais velhos, despertar nas crianças um novo
Esta ideia é corroborada por Deber (2001)
olhar sobre as questões do envelhecimento,
velhos.
Os
conflitos
pensar,
gerações,
agir
e
para
social
e
sentir.
As
favorecer
a
relações
dignidade
desenvolvimento
competências
ao
nível
da
da
estimular e recuperar brincadeiras e jogos JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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tradicionais, desenvolver nas crianças novas
apontadas na literatura como causa dos maus
aptidões e promover a educação ao longo da vida
tratos aos idosos.
(Teiga, 2012). Atividades intergeracionais são consideradas mais desejáveis que atividades 8) 9. Status económico voltadas
apenas
para
idosos.
Essas
Nesta categoria encontramos registos como
oportunidades são propiciadas compartilhando-
“falta de recursos por falta de dinheiro”, ”baixas
se espaços e instalações.
reformas ou pensões para as necessidades” ou “pobreza” que nos indicam que os indivíduos
8.Maus tratos a idosos
inquiridos percecionam a população idosa com
Um dos problemas dos idosos identificados pelos
um status económico baixo e com dificuldades de
nossos informantes foram os maus tratos.
satisfazerem as suas necessidades diárias. O
Embora não se tivessem referido às várias
rendimento de muitos idosos e a pobreza,
formas de maus tratos foi evidente que o
independentemente da idade, exclui as pessoas
“abandono pela família” em geral e o “abandono
da sociedade. De facto a população idosa tem,
pelos filhos” em particular,
foram os mais
de uma forma geral, recursos económicos muito
referidos. Também frases como o “serem
escassos. Nesta fase da vida quando surgem
esquecidos” ou “serem mais sujeitos a agressões
problemas de saúde as privações são múltiplas,
e a roubos” assim como “não terem os cuidados
traduzindo-se numa má qualidade de vida pois
de que necessitam” foram citados. Neste
afeta várias necessidades do individuo como:
contexto o termo “maus-tratos” faz referência à
alimentação,
agressão física, à falta de cuidados físicos, bem
condições habitacionais, capacidade de escolha
como ao abandono emocional. De uma forma
e participação entre outras. Quando existem
geral podemos dizer que o mau trato a idosos,
carências elas são sinergéticas. Nenhuma
refere-se a um comportamento destrutivo dirigido
carência ocorre de forma isolada. A pobreza
ou à falta de ação apropriada a um adulto idoso
inevitavelmente leva à exclusão social, que se
e que ocorre, geralmente, num ambiente de
traduz para além da falta de meios essenciais a
confiança e cuja frequência, ato único ou
uma boa qualidade de vida dificuldades também
repetido, acarreta sofrimento na pessoa (Nações
de acesso a bens sociais e à participação social
Unidas, 2002). Independentemente de o abuso
que são mais graves quanto mais doente a
ser praticado no contexto familiar ou institucional
pessoa for, ou quando existem ruturas familiares.
vestuário,
transportes,
saúde,
os seus efeitos na pessoa são semelhantes. Os idosos
sujeitos a maus
tratos tendem
a
Notas finais
desenvolver atitudes de culpa, baixa auto-estima,
No presente trabalho pretendeu-se saber,
isolamento social e entram mais facilmente em
qual a opinião dos cidadãos, acerca do que
depressão,
faz falta aos idosos no
sofrem
perturbações
do
sono,
contexto onde
reforçam as suas dependências e o estigma
vivem. Não foi nossa intenção extrapolar os
social (Dias, 2005). Inúmeras fragilidades são
resultados para a sociedade em geral, no
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entanto julgamos que este seja um retrato VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 49
entanto julgamos que este seja um retrato do que pensam as pessoas sobre as necessidades dos idosos. Nas respostas obtidas identificamos várias condicionantes do bem-estar do idoso,
Bogdan, R., & Biklen, S. (1994) Investigação qualitativa em educação- uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora.
quer a nível de recursos de saúde e sociais de apoio,
quer
a
de
Conselho de Europa, (2002), Recomendação
as
1582 (2002) I (I). El maltrato de las personas de
preferências dos idosos, quer a nível do apoio às
edad: Reconocer y responder al maltrato de las
suas famílias, assim como discriminação social
personas de edad en un contexto mundial,
tendo em conta o fator idade, exacerbando
Nações Unidas, Conselho Económico e Social.
entretenimento
conflitos
nível
de
atividades
direcionadas
intergeracionais.
para
Os
recursos
económicos escassos deste grupo parecem ser
Debert, Guita Grin (1999) A Reinvenção da
um determinante decisivo para o seu bem-estar.
Velhice. São Paula: EDUSP.
Muitos idosos são maltratados no seu contexto de vivência. Todos estes condicionantes exigem
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Página 50
acesso aos serviços de saúde entre idosos do
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VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Santos, B., et al (2017) Training to practice: Importance of Self-Care Theory in Nursing Process for improving care., Journal of Aging & Innovation, 6 (1): 51 -
REFLEXÃO FUNDAMENTADA/ FUNDAMENTAL REFLECTION
ABRIL 2017
Da formação à prática: Importância das Teorias do Autocuidado no Processo de Enfermagem para a melhoria dos cuidados. Training to practice: Importance of Self-Care Theory in Nursing Process for improving care. De la formación a la práctica: Importancia de las Teorías del Autocuidado en el Proceso de Enfermería para la mejora de los cuidados. Autores Bruno Santos 1 , Ana Ramos 2 , César Fonseca 3 1
Estudante do Curso de Licenciatura em Enfermagem, Universidade de Évora, 2 PhD Student, 3 PhD Univ. Évora
Corresponding Author: cesar.j.fonseca@gmail.com
reciprocamente. Crenças, antecedentes sociais e Em 1991, Dorothea Orem definiu o autocuidado na sua Teoria do Défice do Autocuidado de Enfermagem. Assim, para a
teórica, autocuidado “é o desempenho ou a prática de actividades que os indivíduos realizam em seu benefício para manter a vida, a saúde e o bem-estar.” Este autocuidado é universal por abranger todos os aspectos vivenciais, não se restringindo às actividades de vida diária e às instrumentais. Orem desenvolveu o seu projecto em três teorias inter-relacionadas, que são: a Teoria do Autocuidado, que descreve o porquê e
como as pessoas cuidam de si próprias; a Teoria do Défice de Autocuidado, que descreve e explica a razão pela qual as pessoas podem ser ajudadas através da enfermagem; e a Teoria dos Sistemas de Enfermagem, que descreve e explica as relações que têm de ser criadas e mantidas para que se produza enfermagem. [1]
Autores Orem
reconhece o ser humano e o
Dados curriculares
culturais, características pessoais e relação entre os profissionais de saúde e os clientes são alguns
dos
fatores
que
influenciam
os
comportamentos de autocuidado. As atividades de autocuidado aliviam os sintomas e as complicações das doenças, reduzem o tempo de recuperação e reduzem a taxa de hospitalização e reospitalização. [7] Observou-se que todos os seres humanos estão dispostos a ocupar-se de si mesmos e dos seus familiares dependentes. Eles têm o potencial e a capacidade de aprender a satisfazer as suas necessidades de autocuidado. O pressuposto epistemológico é que eles precisam de interação contínua e deliberada entre si e os ambientes que os rodeiam para o autocuidado e a sobrevivência. Orem oferece assim uma estratégia para o desenvolvimento de habilidades de autocuidado. [8] A capacidade de autocuidado só é afirmada quando o indivíduo é capaz de desempenhar a
ambiente como uma única unidade e acredita
actividade
que
restabelecer ou melhorar a sua saúde e bem-
estes
componentes
influenciam-se
de
autocuidado
para
manter,
estar. [1] Segundo alguns autores, a vivência de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
uma transição, a capacidade que a pessoa tem VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 52
poderia levar a um maior refinamento da teoria. uma transição, a capacidade que a pessoa tem
[6]
para determinar e gerir as suas necessidades e para construir respostas adaptativas pode estar
É aqui que o papel do enfermeiro é
alterada, pelo que é necessário um período de
fundamental, já que o autocuidado é um
adaptação ou ajustamento. [2] É de reforçar que
resultado sensível aos cuidados de enfermagem,
o autocuidado é uma função humana reguladora
com tradução positiva na promoção da saúde e
que as pessoas desempenham deliberadamente
no
por si próprias ou que alguém a execute por eles
conhecimentos da pessoa e habilidades onde os
para
profissionais
preservar
a
vida,
a
saúde,
o
bem-estar
através
de
saúde,
do
aumento
principalmente
de
os
desenvolvimento e o bem-estar. Quando a
enfermeiros têm uma intervenção decisiva. [3] A
pessoa actua de forma consciente, controlada,
teoria do défice de autocuidado incorpora a
intencional
real
asserção da necessidade de cuidados de
autonomização, designamos por actividade de
enfermagem face à incapacidade da pessoa em
autocuidado. [3]
satisfazer os seus requisitos de autocuidado. E,
e
efectiva,
atingindo
a
de acordo com a identificação das necessidades Quando as necessidades de autocuidado excedem a capacidade de autocuidado - por
exemplo, no caso de doenças crónicas -, as pessoas experienciam desvios de saúde e necessitam de cuidados. Consequentemente, precisam, de satisfazer as suas necessidades de autocuidado,
seja
individualmente
ou
por
pedindo ajuda a alguém. Estudos indicam que uma
intervenção
educativa
de
suporte,
desenvolvida com base na teoria do autocuidado de Orem, aumenta a capacidade de autocuidado
do utente. [9]
em autocuidado da pessoa, a ajuda profissional dos enfermeiros poderá assumir-se como: fazer por; orientar; ensinar; proporcionar apoio físico e psicológico e providenciar recursos no sentido de manter um meio propício ao desenvolvimento pessoal. [4] Nesta perspectiva, Orem identificou cinco áreas em que o enfermeiro é o agente terapêutico
e
desenvolve
as
seguintes
actividades: iniciar e manter a relação com a pessoa, família ou grupo até que a pessoa não necessite
de
cuidados
de
enfermagem;
determinar como e se a pessoa pode ser ajudada
Alguns autores discutiram a importância
através dos cuidados de enfermagem; responder
da teoria do autocuidado com base numa leitura
às necessidades da pessoa relativamente ao
crítica, numa análise e discussão de diversos
contacto
materiais bibliográficos. Alegaram então que a
prescrever e proporcionar ajuda direta à pessoa
teoria
de
e pessoas significativas: coordenar e integrar os
Enfermagem, educação e gestão, mas não tem
cuidados de enfermagem na vida diária da
sido prontamente utilizado na pesquisa e prática
pessoa
clínica da profissão. Afirmam então que os
necessária. [4]
é
útil
enfermeiros
para
deveriam
orientar
utilizar
a
a
prática
teoria
do
autocuidado para orientar a sua prática, o que JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
e
e/ou
à
assistência
outra
do
assistência
enfermeiro;
de
saúde
Acreditamos assim que se torna crucial o uso das Teorias do Autocuidado de Orem, no VOLUME 6. EDIÇÃO 1
Página 53
nas unidades em que exercem a sua prestação ensino/formação da formação académica e
profissional
dos
desenvolvimento
enfermeiros, do
para
de cuidados. [6]
o
conhecimento
A
Enfermagem
tem
evoluído
teórico/prático dos nossos profissionais e da
positivamente nos últimos anos, tanto a nível
melhoria
de
teórico, como prático, mas tal ainda não é o
Enfermagem prestados, pois o conhecimento em
suficiente para atingir o nível aceitável de
enfermagem é então um conhecimento que se
visibilidade
cria, estrutura e reestrutura numa dinâmica
competências específicas e diferenciadas. É
dialógica entre a conceção (teoria) e o fazer
assim importante ter em conta que toda a prática
(cuidar), num constante ciclo em movimento de
clínica deve ter uma base teórica, que sustente
translação. [5]
as intervenções realizadas e dêem um sentido ao
da
qualidade
dos
cuidados
enquanto
profissão
com
que é feito no quotidiano, sem que se caia no erro Já que a pertinência da teoria de Orem está no seu âmbito, complexidade e utilidade clínica, na capacidade de gerar hipóteses e por acrescentar
conhecimento
à
profissão
de
Enfermagem. Tem-se revelado igualmente útil na
criação de currículos para a formação dos enfermeiros
em
várias
faculdades
e
universidades, assim como na concepção de orientações para a gestão/ administração em enfermagem. [6]
do fazer por imitação. As teorias do Autocuidado, a título de exemplo, constituem um importante meio para que seja atingido este fim. Aplicando estas teorias, o enfermeiro é capaz de conceber e
seguidamente
empregar
uma
teia
de
conhecimentos sobre a pessoa e a forma como ela se relaciona com o mundo, de forma a dar a resposta mais adequada na sua prestação de cuidados de Enfermagem, colmatando os deficits de autocuidado encontrados no utente, tanto em
O contributo de Orem para a teoria, o
meio hospitalar, como nos cuidados de saúde
conhecimento específico de Enfermagem e a
primários e até em contexto domiciliar. Torna-se
ciência de Enfermagem, situa-se, na nossa
assim
opinião, na constituição de uma teoria de
temáticas no currículo de futuros enfermeiros,
amplitude
para
para que seja assim cultivado desde cedo, este
enquadrar e dar sentido disciplinar à atividade
tipo de pensamento e este tipo de prática e
profissional exercida. Esta permite a construção
possamos assim ser profissionais de saúde mais
de narrativas explicativas do que é feito pelos
competentes.
relativamente
abrangente
enfermeiros, dos padrões de conhecimento de
pertinente
a
incorporação
destas
Referências Bibliográficas
que se socorrem e que ao mesmo tempo criam e enriquecem,
quando
têm
necessidade
de
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e bem-estar. Revista de Investigação em
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