VOLUME 5 . EDIÇÃO 2
EDITORIAL
AGOSTO 2016
Autocuidado na população em
aumentam a predisposição para outras doenças
envelhecimento ao nível da
2012).
Simultaneamente, em Portugal cerca
funcionalidade
de 41,6% dos idosos consideram que o
O envelhecimento da população coloca um crescente desafio à escala mundial, no sentido de melhor responder as necessidades dos mais idosos, nomeadamente ao nível dos cuidados de saúde. Este processo de envelhecimento responde às tendências demográficas relacionadas com a descida da taxa de fertilidade e natalidade, que contribuem para a redução do número de jovens, diminuição da taxa de mortalidade, com consequente aumento da esperança média de vida e desaceleração da migração. As projeções realizadas por entidades nacionais e internacionais preveem que este fenómeno continuará a aumentar e a ganhar mais expressão no futuro (DGS, 2014). De acordo com a Organização das Nações Unidas (2013), em 2050 as pessoas idosas ascenderão a dois mil milhões (20% da população mundial), deste modo o número de pessoas com mais de 60 anos ultrapassará a população de jovens com menos de 15 anos. Paralelamente
(DGS,
ao
envelhecimento, os estilos de vida menos saudáveis têm contribuído para a prevalência das doenças crónicas, nomeadamente cerebrovasculares, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, que também são fatores de risco e
seu estado de saúde é mau ou muito mau (Barros, Gomes & Pinto, 2013). Com a idade mais avançada há um incremento do risco para contrair doenças crónicas e degenerativas, com profundas implicações na autonomia, na funcionalidade, na utilização dos cuidados e serviços de saúde (DGS, 2014). As doenças crónicas exercem um impacto negativo na realização das atividades de vida diárias, que incluem os comportamentos de autocuidado (ex.: alimentar-se, vestir e despir-se, controlo voluntário de esfíncter vesical e intestinal, caminhar e transferir-se) e no desempenho das atividades instrumentais que garantem a independência (ex.: preparar refeições, tomar medicação, gerir os rendimentos e usar o telefone). Para a pessoa conseguir ser agente de autocuidado necessita de conseguir desenvolver e manter as atividades de vida diárias (Orem, 2001; Fonseca, 2014; OPSS, 2015). Koç (2015) estudou a influência das caraterísticas sociodemográficas que influenciam a capacidade do agente de autocuidado, em 324 idosos hospitalizados, concluindo que, 23,6% sofriam de doença crónica, 65% detinha problemas ao nível da funcionalidade, 33,1% não possuía
EDITORIAL
AGOSTO 2016
capacidade para realizar por si
comuns e duradouros. O investimento
as atividades de vida diárias, 66,7% já
nos mais idosos não pode ser
tinha estado anteriormente
considerado como um gasto, dado que
hospitalizado, 52,7% tomava
ao contribuir para a melhoria do seu
terapêutica regularmente e apenas
estado de saúde, permite um
32,8% conseguia participar em
envelhecimento ativo e saudável. O
atividades sociais. Mais concretamente,
que significa que o desenvolvimento e
no que concerne à dependência na
a manutenção da capacidade funcional
atividades de vida diárias, 14,6% eram
permite o bem-estar, o autocuidado e a
dependentes, 18,5% semi-
qualidade de vida, em idade avançada
independentes e 66,9% eram
(WHO, 2005; 2015).
independentes. As atividades em que
Ana Ramos
era necessário maior assistência foram
Especialista em Enfermagem MédicoCirúrgica Enfermeira no CHMT, EPE (RN, MsC, PhD student)
a transferência, a continência de esfíncteres, o vestir, a alimentação e os cuidados de higiene. A idade mais avançada foi identificada como uma
Referências bibliográficas:
variável ligada a uma maior
Almeida, S., & Rodrigues, P. (2008). The quality oflife of aged people living in homes for the aged. Revista LatinoAmericana de Enfermagem, 16, 1025—1031.
dependência. Almeida e Rodrigues (2008) na sua investigação sobre as quedas nos idosos realçam que, 59,1% das quedas ocorrem entre os 75 e 84 anos, o nível de dependência nas pessoas entre os 65 e 74 anos era de 29,4% e entre os 85 e 94 era de 57,1%. As intervenções com pessoas com 65 ou mais anos de idade exigem esforços comuns e intersectoriais nos diferentes níveis da comunidade, baseados em princípios de autonomia, participação ativa, autorrealização e dignidade da pessoa idosa, nos vários contextos onde se insere. Como ilustra a pintura da capa desta edição: The Inspiration of Saint Mathew – de Caravaggio (1602) apela-se à união de diferentes sinergias para obter objetivos
Barros, C.; Gomes, A. & Pinto, E. (2013). Estado de saúde e estilos de vida dos idosos português: o que mudou em 7 anos? Arquivos de Medicina, 27(6), 242-247. Direção-Geral da Saúde (DGS). (2014). Portugal IDADE MAIOR em números, 2014: a saúde da população portuguesa com 65 ou mais anos de idade. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Direção-Geral de Saúde (DGS). (2012). Plano nacional de saúde 2012-2016: perfil de saúde em Portugal. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Fonseca, C. (2014). Modelo de autocuidado para pessoas com 65 e mais anos de idade, necessidades de cuidados de enfermagem. Tese de Doutoramento. Universidade de Lisboa, Portugal. Koç, Z. (2015). The investigation of factors that influence self-care agency and daily life activities among the elderly in the northern region of Turkey. Collegian, 22, 251—258. Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS). (2015). Acesso aos cuidados de saúde. Um direito em risco? Relatório Primavera 2015. Portugal: OPSS. Orem, D. (2001). Nursing: Concepts of pratice (6th ed.). St Louis: Mosby. United Nations (ONU). (2013). World population ageing 2013. New York: United Nations. World Health Organization (WHO). (2015). Ageing Report 2015. Geneve: WHO.
Pochintesta, P. (2016) The transition to widowhood in aging. A study of cases in Argentina, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 4 - 19
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
AGOSTO 2016
A Transição à viuvez no envelhecimento. Um Estudo de casos na Argentina La transición a la viudez en el envejecimiento. Un estudio de casos en Argentina. The transition to widowhood in aging. A study of cases in Argentina Autores PAULA ANALÍA POCHINTESTA1 1
PhD, Post PhD Researcher, Buenos Aires, Argentina
Corresponding Author: ppochintesta@gmail.com
Resumo Introdução: A viuvez constitui um evento chave no processo de envelhecimento desde que produz mudanças econômicas, sociais e emocionais que afetam profundamente a identidade. A morte do cônjuge aumente a vulnerabilidade das pessoas idosas. Trata-se de um problema atual e relevante visto o crescimento constante da população envelhecida. Objetivo: Com o intuito de compreender profundamente o fenômeno da viuvez no envelhecimento, o presente trabalho analisa a adaptação da perda percebida por homens e mulheres de mais de 80 (oitenta) anos ou mais.. Métodos: Realizou-se um estudo qualitativo a partir de 17 (dezessete) entrevistas detalhadas que buscam formar uma mostra intencional, constituída por pessoas nascidas entre os anos de 1917 e 1932, pertencentes a diferentes níveis socioeconômicos e residentes na Área Metropolitana de Buenos Aires, Argentina. Resultados e conclusões: Da análise surgirão três eixos a partir dos quais se estruturaram os resultados: a) mudanças na organização da vida cotidiana; b) fontes de apoio social recebida; c) emoções sentidas a partir da morte do cônjuge. Assim evidenciou-se que as pessoas sofreram um decréscimo em sua situação econômica, um aumento do sentimento de solidão e abandonaram muitas das atividades anteriormente realizadas conjuntamente com o parceiro. Palavras-chaves: Viuvez, envelhecimento, vida cotidiana, apoio social, emoções.
Resumen Introducción: La viudez constituye un evento clave en el proceso de envejecimiento en tanto produce cambios económicos, sociales y emocionales que afectan profundamente la identidad. La muerte del cónyuge incrementa la vulnerabilidad de las personas mayores. Se trata de una problemática actual y relevante frente al aumento constante de la población envejecida. Objetivo: Con el propósito de comprender en profundidad el fenómeno de la viudez en el envejecimiento, el presente trabajo analiza en qué consiste el ajuste a la pérdida percibida por varones y mujeres de 80 y más años. Métodos: Se realizó un estudio cualitativo a partir de 17 entrevistas en profundidad que conformaron una muestra intencional integrada por personas nacidas entre los años 1917 y 1932, pertenecientes a distintos niveles socio-económicos y residentes del Área Metropolitana de Buenos Aires, Argentina. Resultados y conclusiones: Del análisis surgieron tres ejes a partir de los cuales se estructuraron los resultados: a) cambios en la organización de la vida cotidiana; b) fuentes de apoyo social percibido y; c) emociones sentidas a partir de la muerte del cónyuge. Así, se evidenció que las personas sufrieron una merma en la situación económica, un incremento del sentimiento de soledad y abandonaron muchas de las actividades compartidas anteriormente con el partenaire. Palabras claves: Viudez, envejecimiento, vida cotidiana, apoyo social, emociones
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 5
Introducción El punto de partida de este trabajo es considerar al envejecimiento como un fenómeno diferencial acorde a la perspectiva del curso de la vida. Este paradigma, no supone ciclos preestablecidos a priori, sino más bien cohortes que se mueven en el tiempo histórico (Hareven, 1996). El concepto de cohorte como unidad de análisis, permite entender que las personas no envejecen de modo homogéneo sino que están sometidas al cambio social. El envejecimiento implica así la interacción de factores bio-psico-sociales con los recursos de los que cada individuo dispone (Lalive D’epinay, et al., 2011). Uno de los conceptos cardinales que propone este paradigma es el de trayectoria de vida. La trayectoria supone un recorrido que puede variar en diferentes direcciones, grados o posiciones (Elder, 1994). Las trayectorias no suponen cambios fijos y constantes, sino que las mismas se despliegan de acuerdo a múltiples dimensiones en constante interacción. Las transiciones indican cambios de posición no absolutamente determinados que están asociados a la escolaridad, a la entrada en el mercado laboral, al matrimonio o al momento del retiro. De esta manera, las transiciones construidas socialmente se convierten en “normativas” si son experimentadas por una gran proporción de la población. Las transiciones pueden estar fuera de tiempo y entrar en discordancia con lo establecido determinando un punto de inflexión o JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
turning point. De acuerdo a este enfoque bien puede entenderse a la viudez como un punto de inflexión importante en el proceso de envejecimiento. Afrontar la soledad, elaborar el proceso de duelo, adaptarse a los cambios en la vida diaria junto a la pérdida de compañía son las algunas de las características que definen la viudez. Atravesar la etapa del duelo es crucial porque en esos momentos las personas se sienten más vulnerables. La muerte del cónyuge puede aumentar los riesgos de contraer enfermedades físicas o mentales, principalmente durante los dos años posteriores a la pérdida (Hagedoorn et al., 2006). La posibilidad de enviudar aumenta a medida que se avanza en edad, esto es aún más marcado para las mujeres lo que acentúa el desbalance entre los géneros (Lopata, 1973). El impacto frente a la muerte del cónyuge es diferencial de acuerdo a la edad en que se produce, el género, el nivel socio económico, la calidad de las redes de apoyo social con las que cuenta el viudo o la viuda y su estado de salud. Los ancianos suelen adaptarse mejor a la viudez que sus contrapartes más jóvenes, siendo un factor clave la calidad de las relaciones sociales que logren mantener. Muchas de las investigaciones se han concentrado en las ancianas viudas debido, en parte, a su mayor proporción entre la población envejecida. Los viudos suelen buscar pareja más a menudo que las viudas y, con frecuencia, se unen a mujeres menores que ellos. En consecuencia, la probabilidad de enviudar disminuye en los ancianos varones. Como fenómeno habitual en el envejecimiento el Volume 5. Edição 2
Página 6
estudio de la viudez, sus efectos y
el plano epidemiológico reemplazando las
consecuencias reviste en la actualidad un
enfermedades infecto-contagiosas por
enorme valor.
enfermedades crónico-degenerativas como
Siguiendo las premisas antes enunciadas
patrones causales de mortalidad (Guzmán
es que el presente trabajo tiene por
et al., 2006). Los datos del último Censo
objetivo estudiar los cambios percibidos
Nacional de Población, Hogares y
por las viudas y los viudos que pertenecen
Viviendas (2010) indican que el
a la cuarta
edad.1
Se trata en muchos
crecimiento poblacional disminuye y la
casos de personas que llevaban varios
población envejece.3 El aumento de la
años viviendo sin su pareja. En particular,
población envejecida del país corresponde
este estudio cualitativo ha permitido
al 10,2 % mientras que el mismo índice
analizar en profundidad cómo fueron
para el Censo anterior (2001) correspondía
vividos los cambios en la organización de
al 9,9 %4.
la vida cotidiana, en la percepción del
Respecto a los datos sobre la situación
apoyo recibido y en la elaboración del
conyugal5 el porcentaje total de viudos es
duelo de las personas entrevistadas. 2
del
En primer lugar se introducen las
Aproximadamente siete de cada diez
características de la viudez en la vejez y
varones de 65 a 84 años conviven en
sus diferencias según el género. Luego, se
pareja mientras que sólo cuatro de cada
detallan los aspectos metodológicos a
diez mujeres lo hacen. Uno de los factores
partir de los cuales se llevó a cabo la
que se asocia a este fenómeno radica en
investigación. En un tercer punto se
la mayor longevidad femenina6 dando lugar
presentan los ejes de análisis que
a que la viudez afecte más tempranamente
estructuraron los resultados. Finalmente,
y en mayor proporción a las mujeres
en el cuarto y último punto se desarrollan
(Encuesta Nacional sobre Calidad de Vida
las conclusiones e interrogantes surgidos
de Adultos Mayores, 2012).
de la investigación.
Como lo evidencian los datos
Argentina desde finales del siglo XIX
demográficos, la viudez constituye una
muestra una transición demográfica que se
transición por la que atraviesan la mayor
caracteriza por bajas tasas de fecundidad
parte de las personas mayores. La
y mortalidad y un aumento en la esperanza
conjunción de dos factores: a) diferencia
de vida. Esta transición ocurre también en
de edad entre cónyuges y b) diferencia en
6,5%
en
todo
el
país.
1 La
denominación de cuarta edad surge como producto de la gran longevidad y el avance en la expectativa de vida, designa a las personas de 80 y más años. En la versión anglosajona se ha acuñado el término equivalente de viejos-viejos, Oldest-old que corresponde al de quatrième âge en la versión francófona (Taeuber y Rosenwaike, 1992). 2 Los resultados aquí expuestos forman parte de mi tesis doctoral (Pochintesta, 2013). 3 El índice que se emplea para determinar el envejecimiento de una población (desde la gerontología) es aquel que estima la cantidad de personas de 60 y más años. De este modo, se considera que la estructura poblacional está envejecida si la población de 60 años o más es superior al 7% (Knopoff y Oddone, 1991). 4 En este contexto, la Ciudad Autónoma de Buenos Aires es la jurisdicción que cuenta con el índice de envejecimiento más elevado del país: 16,4 %, cifra que, en la provincia de Buenos Aires supera también el 10%. 5 La situación conyugal se define respecto a la convivencia en pareja de las personas de 14 años y más, sea ésta de hecho o de derecho (INDEC, Censo Nacional del Población, Hogares y Viviendas, 2010). 6Una mayor esperanza de vida en las mujeres dio origen a la “feminización del envejecimiento”.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 7
la expectativa de vida de varones y
embargo los viudos que vuelven a casarse
mujeres permite comprender el
sufren menos variaciones en su situación
desequilibrio frente a la posibilidad de
económica (Zick y Smith, 1988). El nivel
perder al cónyuge que tienen ambos.
educativo fue estudiado como un factor
La viudez aparece entonces ligada a la
que afecta la definición de la identidad
transición “típica” entre la tercera y cuarta
luego de la viudez. La viudez parece
edad. Caradec (1998) propone dos
afectar más a las mujeres de mayor nivel
movimientos que se producen a partir de la
educativo debido a que dedican más
pérdida del cónyuge: el primero supone
tiempo y recursos a definir la visión del
una transición identitaria del sí mismo,
mundo conjuntamente con su pareja
mientras que el segundo sugiere una
(Lopata, 1973).
transición relacional.
La pérdida del cónyuge produce cambios
Delbès y Gaymu (2002) plantean que la
en el apoyo social que reciben los
pérdida del cónyuge es una experiencia
ancianos. La familia representa un “efecto
característica de la tercera edad. A los 75
protector” en tanto los casados, en todas
años una persona sobre tres ha perdido a
las sociedades, tienen menos
su pareja. Las viudas suelen encontrar
probabilidades de morir que los no
mucho apoyo en la familia mientras que los
casados.
varones viudos se sienten menos
El estudio del impacto de la viudez en las
apoyados por sus familias y tienen más
redes sociales evidencia que existe una
problemas para buscar ayuda (Berger,
merma de apoyos en la red familiar
2009).
secundaria 7 . Las viudas presentan
La viudez surge entonces como un
pérdidas menores en la red familiar
fenómeno disruptivo de la identidad. Desde
mientras que los viudos mantienen una
una perspectiva interaccionista Sánchez
importante red de amigos con quienes
Vera (2009) analiza los cambios que
intensifican sus relaciones (Ayuso, 2012,
conlleva la viudez como transición. Entre
Ha et al., 2006). Las mujeres viudas
sus principales consecuencias menciona
confían en sus amigas, hijas e hijos
tanto el incremento del sentimiento de
mayores y tienden a expandir sus redes
soledad, como una mayor vulnerabilidad
sociales (Utz et al., 2002).
social y económica. Señala además que
Una serie de consecuencias se asocian a
en los últimos decenios surgen nuevas
la viudez femenina, a saber: disminución
formas de transitar la viudez atravesadas
de ingresos, mayor aislamiento, aumento
por dinámicas familiares cambiantes.
de la mortalidad, incremento del riesgo de
La muerte del cónyuge se traduce en una
suicidio y de síntomas psiquiátricos como
pérdida económica importante,
ansiedad y depresión. Conviene también
esencialmente para las viudas, sin
destacar que la viudez puede producir
7 La red familiar primaria está integrada por padre, madre, hermanos e hijos. Mientras que la red familiar secundaria se refiere al contacto con tíos, primos, suegros, cuñados, sobrinos y padrinos con ahijados.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 8
ventajas específicas, entre ellas, se
Métodos
encuentra el disfrute de la soledad para ser independiente, sobre todo, si la relación ha
Para dar curso al objetivo de la
sido de fuerte sometimiento. Para muchas
investigación se optó por un enfoque
mujeres ancianas la viudez constituye
metodológico cualitativo, biográfico e
quizá la primera vez en su vida que
interpretativo. Este abordaje combinó
pueden estar y vivir solas. La pérdida de la
elementos de tres perspectivas: a)
pareja puede ser también una oportunidad
principios del paradigma del curso de vida
de crecimiento personal y aprendizaje, por
(trayectorias, transiciones y puntos de
ejemplo, en lo que respecta al
inflexión); b) componentes del enfoque
mantenimiento y a la administración
biográfico (Kaufmann, 2008) y; c)
financiera del hogar (Carr, 2004).
principios de la estrategia de estudio de
En los varones existe la posibilidad de que
casos múltiples (Flyvbjerg, 2006).
la viudez se conjugue con el retiro laboral,
El trabajo de campo reúne datos
aspecto que modificará enormemente las
recabados desde 2009 a 2012. La muestra
redes de apoyo informales. Sí, más aún, la
fue de tipo intencional según los siguientes
participación en la organización de las
criterios: 1) varones y mujeres nacidos
tareas domésticas era mínima o
entre los años 1917 y 1932; 2) residentes
inexistente, la muerte del cónyuge
en el Área Metropolitana de Buenos Aires,
resultará muy estresante (Arber y Ginn,
Argentina; 3) en ausencia de enfermedad
1996).
terminal y; 4) pertenecientes a diferentes
Con respecto a la salud, el trabajo de
niveles socio-económicos. Para situar el
Zisook et al., (1993) sugiere que las viudas
contexto en el cual se han desarrollado las
y viudos mayores se perciben a sí mismos
entrevistas se describen a continuación las
con un mejor ajuste frente a la pérdida,
tendencias generales sobre los datos
presentando menos síntomas de depresión
sociodemográficos.
y ansiedad que los viudos más jóvenes. En
De los diecisiete casos, cinco fueron
cuanto al duelo, las condiciones de un luto
varones y doce mujeres con una edad
más efímero no ayudan a elaborar este
promedio de 85 años. Esta proporción de
cambio (Molinié, 2006).
viudas reproduce una tendencia general
Hemos visto hasta aquí cómo la viudez
del grupo de los viejos-viejos respecto a la
repercute en todas las áreas de la vida.
viudez. Del total de mujeres viudas, cuatro
Así, la salud, la identidad y la autonomía
residían en una vivienda social, una
personal pueden verse resentidas al
convivía con una empleada doméstica y
perder al cónyuge en la vejez. Todos estos
las siete restantes vivían solas. Los viudos
aspectos fueron retomados en el análisis
vivían solos en todos los casos.
de los casos de las personas entrevistadas
Todas las personas entrevistadas de
con el propósito de dilucidar como fue
cuarta edad cursaron estudios primarios y
percibida y afrontada la viudez.
sólo en cuatro casos no los completaron.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 9
Un cuarto de ellos completó sus estudios
siguiendo una lógica inductiva surgieron
secundarios. Dos personas finalizaron
una serie de categorías generadas de
estudios terciarios y, aunque en tres casos
“abajo hacia arriba”. A continuación se
cursaron estudios en el nivel universitario
compararon los datos primero de manera
ninguno llegó a culminarlos. La cantidad de
abierta, luego de manera más sistemática
hijos promedio fue dos. Todas las personas
y, f i n a l m e n t e , s e p o n d e r a r o n l a s
de cuarta edad percibían algún beneficio
recurrencias y contrastes reagrupando las
previsional. Cinco estaban jubilados, seis
categorías que marcaban tendencias o
cobraban además de la jubilación una
patrones (Coffey y Atkinson, 2003). De allí
pensión y otros seis recibían sólo pensión,
emergieron dimensiones analíticas
en este último caso fueron todas mujeres.
fundamentales.
Dos personas continuaban trabajando además de recibir ingresos previsionales.
Resultados
El objetivo principal de la entrevista fue la
La muerte del cónyuge fue, en todos los
reconstrucción de la trayectoria biográfica
casos analizados, un punto de inflexión
en el marco de una charla flexible y
que marcó un cambio no sólo del estado
abierta. Los ejes temáticos abordados
civil sino de toda la subjetividad. La
fueron los siguientes: historia de
mayoría de las muertes evocadas
conformación y composición familiar,
ocurrieron a partir de los 60 años8 con una
trayectoria laboral y educativa, estrategias
edad de pérdida promedio de 74 años.
de organización y gestión de la vida
Esto significa las personas llevaban, por lo
cotidiana, tipos y frecuencia de actividades
menos, seis años de viudez al momento de
realizadas, percepción del estado de salud,
la entrevista.
proyectos, concepciones de
Fueron tres los ejes que permitieron
envejecimiento, etc.
En general, la
caracterizar la vivencia de la viudez. Un
duración de los encuentros fue de dos a
primer eje corresponde a los cambios en la
tres horas. Las personas optaron,
organización de la vida cotidiana. En
comúnmente, porque el encuentro se
primera instancia estos cambios tuvieron
realizara en su residencia. La participación
que ver con una merma de ingresos
fue voluntaria y libre y, en cada caso, se
económicos en mujeres de nivel
asumió el compromiso de proteger la
socioeconómico bajo lo que incrementó su
identidad.
vulnerabilidad social. Luego, se analizó la
Una vez efectuada la transcripción de las
valoración que hicieron las personas sobre
entrevistas, utilizando el método de
el abandono de actividades compartidas
comparación constante, se reconstruyeron
con el cónyuge. Finalmente estas
las trayectorias identificando: temas
trasformaciones en la vida diaria tuvieron
principales, transiciones y puntos de
que ver con cambios de vivienda como
inflexión (Strauss y Corbin, 2002). Luego,
consecuencia de la viudez.
8 Las
causas de los decesos correspondieron en general a enfermedades cardíacas, combinadas en menor medida con afecciones respiratorias. En tres casos el deceso se debió al padecimiento de cáncer y en un único caso a una demencia.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 10
La merma del apoyo económico y la permanencia en la precariedad corresponden en todos los casos examinados a mujeres que residían en viviendas colectivas10. Este declive o persistencia en una situación económicamente vulnerable ocurría ya sea porque la situación era precaria antes del deceso del esposo y la muerte acentuó más esa situación o, porque existía una dependencia económica total del marido y con su fallecimiento disminuyó abruptamente el nivel de ingresos. Emilce (mujer de 84 años) vive en un centro residencial dependiente del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires. Ella ingresa a este centro con su esposo debido a los problemas de salud que éste sufría y que le impedían continuar trabajando. A pesar de conservar en gran medida su autonomía ella asume que actualmente no podría vivir en otro lugar. En: ¿Y qué fue lo que le pasó a su esposo a su pareja? E: Y él estaba con un problema que oía voces, no siempre, a veces pasaban dos tres meses y andaba bien. (...) Ellos decían que era un problema auditivo, porque él escuchaba no veía nada, pero después se le fue. (…) después, cuando él se compuso y trabajaba y todo, no nos fuimos, nos quedamos en la institución. Después lamentablemente le
agarró una neumonía y falleció y yo me quedé. (…) Y me quedé y me sigo quedando porque no sabría vivir sola ahora (Emilce, mujer, 84 años)10 Para Dora (mujer de 85 años) la movilidad social descendente comenzó mucho antes de su ingreso a una vivienda social. La afrenta de una estafa y la mala administración de los bienes rurales familiares signaron el declive económico de la familia. La enfermedad temprana de su esposo completó el panorama que les auguraba a ambos una vejez precaria y acompañada de privaciones materiales. D: Ah, cuando vinimos acá en el barrio [una vivienda otorgada por el PAMI] yo ya tenía 62 años. E: ¿Su marido se había jubilado? D: Mi marido se enfermó en el frigorífico, tenía un tumor. (...) Desde que vinimos acá, es mucho para mí también, es mucho. Me sacan del sueldo, del aguinaldo el diez por ciento, al final cuando hay un aumento se me va en el diez por ciento que me sacan. Siempre estoy ahí, ahí nomás (Dora, mujer, 85 años).11 Las trayectorias laborales mayormente compuestas de trabajos informales así como el nivel educativo alcanzado (primario incompleto) permite comprender
9
Algunas de ellas fueron entrevistadas en una residencia dependiente del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires destinada a personas de 60 años o más que presentan problemas de alojamiento, que se encuentran en situación de pobreza y que conservan un grado relativo de autonomía. En otro caso se trató de viviendas ofrecidas en comodato por el PAMI- INSSJP (Instituto Nacional de Servicios Sociales para Jubilados y Pensionados de Argentina) como prestación social para los adultos mayores que no poseen una vivienda propia y cuya situación familiar es de gran vulnerabilidad. 10 Su esposo muere cuando ella tenía 66 años. 11 La falta de casa propia y el desempleo de su esposo los obligó finalmente a solicitar una plaza en una de las residencias que PAMI ofrece a las personas que se encuentran en situación de vulnerabilidad económica. Su esposo muere a sus 72 años.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 11
por qué en estos casos las mujeres tenían
Juan (varón de 86 años) por su parte ha
una mayor dependencia económica de los
dejado de frecuentar la casa quinta en la
maridos.
que pasaba los fines de semana junto a su
En cuanto a las actividades compartidas
mujer. Irma (mujer de 80 años) parece
con el partenaire Chola (mujer de 82 años)
haber perdido sus deseos de ir al cine
afirmaba sentir que la casa “se le vino
desde que vive sola.
encima” luego de perder a su marido mientras que Rita (mujer de 86 años) recordó las salidas con su esposo que ya no realiza. (…) Sufrí mucho porque perdí a mi esposo, que éramos un matrimonio que nos amábamos, estuvimos juntos cuarenta y dos años y medio. Y bueno al perderlo, viste que fue una cosa, en tres meses se me vino la casa encima. Y bueno, después luchando qué sé yo el cariño de mi hija, de los nietos. Estoy saliendo, aunque ese hueco no lo llena nadie, pero aquí estamos. El mes que viene, el 11 hace veinte años (Chola, mujer, 82 años). 12 R: Y después como todo ¿no? cuesta, cuesta acostumbrada con él en todos lados, en todos lados hasta para dar una vuelta. Para mirar las vidrieras, íbamos de un lado a otro siempre juntos (…) éramos unos cuantos en el club Atlanta, estaba ahí mi marido, por eso salía tanto de un lado para otro. Y después las fiestas, muchas en el club ¡cada fiesta! (Rita, mujer, 86 años). 13
(…) Mirá, me está pasando que no me gusta hacer nada ahora, pero pienso que es una cosa de viejos. Me paso los días leyendo el diario, este y no sé antes me gustaba por ejemplo, tenemos una casita afuera, que le decimos la quinta. (…) Y antes y, sobre todo, en vida de mi mujer me gustaba estar ahí, me gustaba ir siempre me gustó hacer manualidades, sobre todo, con las cosas de la casa. (…) Bueno en aquel entonces me gustaba ir pero ahora ya pierde ese gusto ¿no? (Juan, varón, 86 años). 14 IR: No, no me gusta ir al cine, porque yo iba con mi marido, no fui más porque me parece que pierdo el tiempo adentro de esa sala oscura y yo quiero ver la luz (Irma, mujer, 80 años) . 15 Con el abandono de actividades se produce también el decrecimiento de las redes sociales puesto que las salidas comunes implicaban el encuentro con otras parejas amigas y el contacto con vecinos o conocidos. Hay que señalar que en torno a las actividades domésticas, en el caso de los viudos, pareciera no haber
12
Chola perdió a su esposo a los 62 años. lleva once años viuda al momento de efectuarse la entrevista. 14 La esposa de Juan falleció cuando él tenía 79 años. 15 Irma lleva diez años viviendo sin su esposo. 13 Rita
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 12
fuertes divisiones de género esto se debe a la cantidad de años que llevan de viudez (6 años al menos). En la vejez avanzada
lo mejor, porque tengo todo. Tengo mis nietos (Olga, mujer, 84 años). 16
84 años) destacó el cambio que significó
E: ¿Cómo decidió mudarse? JN: No, yo no elegí lo decidió Liliana, mi hija, que me dijo ‘¡No, vos te tenés que mudar, porque el día de mañana no podés subir la escalera!’ (…) Y entonces se ocuparon Liliana y mis dos hijos varones en arreglar todo. (…) Así que ellos me mudaron. (…) ¡Ah! y lo que quería Liliana cuando me mudaron acá es que estuviera más cerca de ellos (Juan, varón, 86 años).
estar mejor y acompañada al mudarse a la
El segundo eje se refiere a las fuentes de
casa de su hija poco tiempo después de
apoyo social percibido. Se analiza en este
perder a su esposo. En cambio Juan
punto el apoyo social recibido por las redes
(varón de 86 años) afirmó que fueron sus
familiares, los amigos
hijos quienes resolvieron su mudanza con
informal). El apoyo y el refuerzo de las
objeto de reducir la distancia geográfica y
redes familiares es mencionado de modo
facilitar la comunicación familiar. En el
recurrente como una estrategia para
caso de Julio (varón de 82 años) fue él
afrontar los cambios producidos (Black,
mismo quien decidió dejar su casa y
Holly y Santanello, 2012). Como tendencia
trasladarse cerca de sus hijo
general podemos afirmar que las personas
inmediatamente después de la muerte de
viudas entrevistadas contaban con el
su esposa.
apoyo de la red familiar primaria. En los
los roles de género se debilitan ya sea por el cuidado y dependencia de algún miembro de la pareja o por viudez (Wilson, 1996). El cambio de residencia ligado a la viudez es un aspecto muy importante en la vejez porque afecta la vida cotidiana y produce toda una redefinición del sí mismo. Exige una reapropiación de espacios y rutinas nuevas, además de la recomposición de las redes cercanas de vecinos. Referente a las mudanzas Olga (mujer de
O: Bueno, mi vida cambió mucho cuando me vine acá a la casa de mi hija. E: ¿Y eso fue hace cuánto? O: Al morir mi marido, sí, a la semana me parece que me vine acá, sí. Lo mejor de mi vida fue eso, te digo la verdad, a lo mejor te conté otras cosas que son más fuertes pero estar acá fue
16 Olga
o vecinos (apoyo
casos de las personas que residían en viviendas colectivas la frecuencia del contacto era menor, bien sea porque sus hijos o hijas los visitaban menos, o bien por las limitaciones en la movilidad de los mayores lo que dificultaba su traslado. Mi hija mayor es diabética y ella tiene sus días buenos y sus días malos también, demasiado hace por mí,
perdió a su marido a los 79 años.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 13
que me va a la doctora a
poco porque necesito,
buscar las recetas; me va
sobre todo ahora, que me
a buscar lo que necesito,
he quedado solo necesito
los remedios que me da
verlos a los hijos,
PAMI (...) Y salir no
prácticamente los veo
puedo salir porque… Hoy
todos los días porque es
estoy más o menos bien
mi modo de vivir la vida
porque tenía una
en esta época ¿no es
inyección ayer para poder
cierto? De tomar contacto
caminar. Yo a cobrar voy
con los que quiero (Julio,
en remis; voy y vengo en
varón, 84 años) . 17
remis porque en colectivo no puedo subir. Con este brazo me lo quebré acá arriba; no lo puedo levantar y subir a los colectivos porque me duelen los huesos (Dora, mujer, 85 años).
(…) Y en los últimos diez años lo que cambió mucho
fue
el
fallecimiento de mi mujer y en lo que no cambió nada es el cariño del resto de la familia. Me siento
muy
bien
El apoyo familiar fue mencionado y
considerado por mis
valorado positivamente por los
hijos, siento que me
entrevistados. Julio (varón de 84 años)
quieren mucho yo
admite que, desde que perdió a su esposa, necesita ver a sus hijos todos los días. Por
también los quiero mucho (Juan, varón, 86 años).
su parte, Juan (varón de 86 años) marca el
PO: Y yo no sé… me
impacto de lo que significó perder a su
encuentro como te voy a
mujer, no obstante ello, contar con el
decir. Yo me encuentro
afecto y el acompañamiento de su familia
protegida espiritualmente,
fue lo que le ayudó a mitigar esa pérdida.
f í s i c a m e n t e ,
En este mismo sentido Pocha (mujer de 90 años) destacó el apoyo recibido por parte de sus amigos y de su familia. (…)
Yo
disfruto
escuchando música, leyendo, a veces, saliendo a caminar un
familiarmente
y
amigablemente. Porque tengo familia, tengo salud, tengo amigos, tengo cultura (Pocha, mujer, 90 años). 18 Si bien muchos de los coetáneos de los
17 Julio 18 El
lleva dos años de viudez al momento de la entrevista. marido de Pocha falleció cuando ella tenía 86 años.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 14
entrevistados fallecieron con lo cual la red
que compartían actividades políticas,
de amistad se redujo, los contactos, las
comunitarias o recreativas. No obstante
salidas así como las charlas telefónicas
otros afirmaron no tener ya amigos o
con amigas y primas, fueron mencionadas
prescindir de ellos por propia elección.
por las mujeres como relaciones de gran estima dentro del apoyo social recibido. Las funciones destacadas tuvieron que ver con compartir actividades de ocio, además de recibir apoyo emocional y consejo. E: Mis amigas me llaman por teléfono, charlamos, tengo a mi prima que también voy a pasar los domingos o los sábados o los días de semana todo el día. Y tengo amigas de hace treinta y pico de años que también voy y me quedo a dormir una semana (Emilce, mujer, 84 años).
JL: No me han quedado amigos, se me han ido casi todos, los amigos que yo tenía casi todos se me han ido. Me queda uno, dos por allí que los veo así de vez en cuando. Grandes amigos se me han ido, ya no los tengo más. Yo cuando era chico, me recuerdo que pensaba que el año 2000 era una cosa totalmente lejana. Estoy viviendo en el año 2010, mirá vos nunca pensé que iba a vivir tanto (Julio, varón, 84 años). El tercer eje estudiado condensa las
(...) y bueno ahora salgo con mis primas. Delia tiene 77 y la otra tiene 52 o 53 que es soltera vamos al teatro fuimos a casi todas las obras, después vamos a la casa de mi prima que vive acá a tres cuadras, a comer y después o vienen acá o vamos a la casa de las más chiquita que también quedó sola (Chola, mujer, 82 años).
emociones sentidas a partir de la muerte
(...) Después tengo una amiga que tiene 89 años que me cuenta cada cosa y se mata de risa, me llama los domingos y a veces una hora y media que estamos hablando. Ella tiene 89 años y es una piba de 20 me deja con una inyección de optimismo (Irma, mujer, 80 años).
las condiciones repentinas del deceso.
del cónyuge. Muchas de las referencias ponen de manifiesto como ha sido tramitado el duelo. Las referencias sobre el duelo en las personas entrevistadas tuvieron que ver con el tipo de vínculo emocional y las circunstancias de la muerte, ya sea porque hubo una imposibilidad de estar cerca y de despedirse de la persona fallecida o, por El duelo supone un proceso que, según las diversas perspectivas, puede definirse como una sucesión de fases o tareas (Parkes, 1998; Worden, 1997). Siguiendo el esquema de Worden (1997) el duelo implica enfrentarse a una serie de tareas que permiten reconstruir un mundo sin la persona, la función o el objeto perdido. La
Algunos de los varones viudos valoraron
primera de esas tareas consiste en la
mucho los contactos con amigos con los
aceptación de la pérdida, esos primeros
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 15
momentos están dominados por el shock que provoca la noticia difícil de asimilar.
19
Dante (varón de 80 años) describe el impacto y la dificultad de elaborar la muerte de su compañera, el momento de shock y el ulterior sentimiento de soledad. (…) ando mal porque hace treinta días que murió mi señora entonces ando medio emotivo. (…) en general tengo una cierta predisposición a borrar todos los recuerdos negativos, debe ser un mecanismo defensivo ¿no? (…) Y si vivo mucho, esto de mi señora me va a joder [sic] sesenta y nueve años fue muy, esta bien, el pucho yo se lo decía (…) yo lo de mi señora no lo tengo… lo tengo ahí. Los primeros días no lo podía aceptar, no podía creer que no estaba. Después me metí, lo tuve que ayudar a mi hermano entonces volví al estudio. Bueno, la política, todo, pero, hay momentos que por ahí me quiebro, de la manera más inesperada, no me gusta en general tocar el tema y sí, me siento solo (Dante, varón, 80 años). 20 En el caso de Chola (mujer de 82 años) se advierte la importancia que tuvo el diálogo y el contacto físico con su esposo pocos días antes de su fallecimiento. Ella pudo expresar sus sentimientos, decirle a su marido que lo quería y abrazarlo. Esa puesta en acto de la despedida fue decisiva en el proceso de duelo.
E: Claro, usted se sintió que le pudo decir algo. CH: Sí, que lo quería, yo lo cuidaba él estaba en terapia pero yo me iba desde la mañana hasta que me echaban. Hasta la noche, yo me quedaba en el pasillo, iba allá, pero no me venía. Digo qué hago en casa sola. Y entonces, mirá te voy a contar algo: él estaba en terapia le habían hecho un estudio y como había pasado tanto miedo cuando lo vi que se descomponía viste no quería entrar a verlo (…) Bueno, entro, cuando falta más o menos un metro para llegar mi marido abre los ojos y dice ¡Hola mi amor! Y yo viste fui corriendo lo abracé y le dije: ‘¿cómo estás?’ ‘Estoy bien, me hicieron un montón de cosas’ ¿Te das cuenta? estaba dormido, fue la fuerza del cariño y así nos abrazamos bueno, fue algo…y estuve un ratito hasta que me echaron y después salí y digo más o menos. Salí y dije: ‘parece que está mejor’ pero viste como es eso. Le tocó… (Chola, mujer, 82 años). Por último, se observó una recurrencia sobre el sentimiento de soledad en las personas viudas. La experiencia de soledad subjetiva se define como ausencia de afecto y compañía de la persona deseada, situación que provoca malestar y angustia y que se diferencia de la soledad
19
Las siguientes tareas propuestas por Worden (1997) suponen poder dar sentido a los sentimientos asociados a esa pérdida, previendo la posibilidad de integrarlos a la propia biografía. Luego se trata de poder resolver las tareas antes realizadas por la persona fallecida y, por último, se espera una reorientación de los sentimientos dirigidos hacia la persona. 20 En el caso de Dante, al momento de la entrevista, llevaba apenas un mes de haber perdido a su esposa.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 16
social o aislamiento, definido como la
de vida. Ello implica siempre un ajuste
ausencia objetiva de compañía (Lehr,
funcional de las redes de apoyo comunes y
1980). Este es el caso, por ejemplo, de
de las actividades compartidas pero, sobre
Dora (mujer de 85 años) y de Julio (varón
todo, supone un gran sentimiento de
de 84 años).
soledad. Coincidentemente con estos
(...) yo estoy enferma de los huesos, tengo artrosis en los huesos. Le decía que yo me levantaba de noche, yo ando caminando de noche, le digo acá,….entonces mi hijo me compró una estufa (se emociona hasta las lágrimas llora). E: ¿Por qué se pone mal? Qué le pasa, qué siente. D: Porque estoy sola… (Dora, mujer, 85 años).
hallazgos, los resultados de la
(…) Ahora va a hacer dos años que se fue mi compañera de toda la vida. Entonces desde el momento en que me quedé solo empecé a hacer esto [gimnasia]. Y siento tanto que se me haya ido la compañera pero bue… (Julio, varón, 84 años).
es así ¿Cómo morigerar el impacto de la
Esta distinción se vuelve interesante a la
abandono de actividades o disminución de
luz de los relatos porque, en efecto,
ingresos. Por otro lado, observamos en la
muchas de las personas entrevistadas
literatura que muchas veces la viudez es
disponían de una red de contención
conceptualizada como una transición
familiar que no alcanzaba a llenar ese
“típica” y esperable entre la tercera y la
vacío cotidiano originado a partir de la
cuarta edad. Así, la viudez puede ser
muerte del cónyuge.
pensada como ambas cosas a la vez. Esto
investigación CEVI21 muestran que la pérdida del cónyuge es la muerte más nombrada en la cohorte de 75 a 84 años (Najjar, 2011). Ahora bien, luego de este recorrido bien vale plantearse algunos interrogantes y esbozar algunas respuestas. Si según los datos sociodemográficos la viudez es un hecho “esperable” ¿se trata de una transición o de un punto de inflexión?; Y si viudez considerando el aumento de la población envejecida? Por un lado, abonando a la perspectiva del curso de la vida, vimos que la viudez constituye un punto de inflexión en las trayectorias biográficas generando cambios concretos como mudanzas,
es, que constituye en términos Discusión y conclusiones Interpretada de diversas maneras la pérdida del cónyuge provoca en todos los casos un cambio radical en las condiciones
demográficos una transición “esperable” pero que impacta en las biografías provocando verdaderos giros en las trayectorias. De modo que, los tres ejes analizados: vida cotidiana, apoyo social y
21
El estudio internacional CEVI (Cambios y eventos en el curso de la vida) compara actualmente 9 países Europeos y de América Latina. Para más detalles ver: http://www2.supsi.ch/cms/cevi/
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 17
emociones dan cuenta de una
riesgo e incrementar los padecimientos
reconfiguración objetiva y subjetiva
psíquicos y físicos de los mayores.
flagrante en la vida de las personas viudas. Podemos concluir que la viudez en la vejez incrementa la vulnerabilidad de las
Referencias
22
personas mayores siendo que sus repercusiones atañen a diferentes planos de la vida cotidiana y del sí mismo. Las mujeres de sectores bajos son las más vulnerables desde el punto de vista social y económico. En tanto que el reajuste funcional y emocional es transversal a ambos géneros. Las redes familiares primarias y secundarias parecen ser los recursos fundamentales con los que cuentan las personas viudas. En muchos casos los amigos brindan apoyo y contención emocional que resulta muy importante. Pensemos que las modificaciones en las configuraciones familiares repercuten en el tipo de apoyo ofrecido en el largo plazo. A su vez, las familias poco pueden hacer frente al sentimiento subjetivo de soledad. Desde el nivel macro, de acuerdo al panorama demográfico que augura un envejecimiento poblacional sostenido, se vuelve imperioso pensar en estrategias que puedan complementar los apoyos recibidos por las personas viudas. Ello i m p l i c a r í a o f r e c e r, p o r e j e m p l o , orientaciones prácticas sobre cómo reorganizar el hogar y el tiempo sin descuidar la propia salud. Además, evitar el aislamiento en el proceso de duelo porque puede convertirse en un factor de
1. Arber, S. y Ginn, J. (1996). Relación entre género y envejecimiento. Enfoque sociológico. Madrid: Narcéa Ediciones. 2. Ayuso, L. (2012). Las redes personales de apoyo en la viudedad en España. Revista Española de Investigaciones Sociológicas, 137, 3-24. 3. Berger, K. S. (2009). Psicología del desarrollo. Adultez y vejez. Madrid: Editorial Médica Panamericana. 4. Black, H. K., y Santanello, H. R. (2012). The salience of family worldview in mourning an elderly husband and father. The Gerontologist, 52(4), 472-483. 5. Caradec, V. (1998). Les Transitions Biographiques étapes du vieillissement. Prévenir, 35(2), 131-13. 6. Carr, D. (2004). Gender, Preloss Marital Dependence, and Older Adults Adjustment to Widowhood. Journal of Marriage and Family, 66(1) 220-235. 7. Carreras, J. S., Pinazo, S. y Sánchez, M. (2008). La construcción de los conceptos y su uso en las políticas sociales orientadas a la vejez: la noción de exclusión y vulnerabilidad
22
“La vulnerabilidad está directamente asociada con la cantidad y calidad de los recursos o activos que controlan los individuos y familias en el momento del cambio, así como con la posibilidad de utilizarlos en nuevas circunstancias económicas, sociales, políticas y culturales que van definiendo este proceso. En tal sentido, se refiere a los recursos cuya movilización permite el aprovechamiento de las estructuras de oportunidades existentes en un momento, ya sea para elevar el nivel de bienestar o mantenerlo durante situaciones que lo amenazan” (CEPAL, 2000:52). El concepto de vulnerabilidad, desde este enfoque, incluye aspectos tanto estructurales como individuales, así pues se trata de un proceso multidimensional (Carreras, Pinazo y Sánchez, 2008).
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 18
en el marco del envejecimiento. Revista
Widowhood How Do Men and
d e l M i n i s t e r i o d e Tr a b a j o e
Women Differ? Journal of Family
Inmigración, 75, 75-94.
Issues, 27(1), 3-30.
8. CEPAL (2000). Panorama Social de
15. Hagedoorn, M., Van Yperen, N. W.,
América Latina (1999-2000).
Coyne, J. C., van Jaarsveld, C. H.,
Santiago de Chile.
Ranchor, A. V., van Sonderen, E., y
9. Coffey, A.y Atkinson, P. (2003).
Sanderman, R. (2006). Does
Encontrar el sentido a los datos
marriage protect older people from
cualitativos. Estrategias
distress? The role of equity and
complementarias de investigación.
recency
Medellín: Editorial Universidad de
bereavement. Psychology and
Antioquia [1996].
aging, 21(3), 611.
of
10. Delbès, C. y Gaymu, J. (2002). Le choc
16. Hareven, T. (1996). Life course. In J. E.
du veuvage à l'orée de la vieillesse:
Birren (ed.) Encyclopedia of
vécus masculin et féminin.
Gerontology (pp.31-40). San Diego:
Population, 57(6), 879-909.
Academic Press.
11. Elder, G. H. Jr. (1994). Time, human
17. Instituto Nacional De Estadísticas y
a g e n c y, a n d s o c i a l c h a n g e :
Censos (2010). Censo Nacional de
Perspectives on the life course.
Población, Hogares y Viviendas
Social Psychology Quarterly, 57(1),
(2010). Disponible en: http://
4-15.
w w w. c e n s o 2 0 1 0 . i n d e c . g o v. a r
12. Encuesta Nacional sobre Calidad de Vida de Adultos Mayores (2012).
(Recuperado el 20 de Noviembre de 2012).
Ciudad Autónoma de Buenos Aires:
18. Kaufmann, J. C. (2008). L’enquête et
Instituto Nacional de Estadística y
s e s m é t o d e s : L’ e n t r e t i e n
Censos - INDEC, 2014. E-Book.
compréhensif. Paris: Armand Colin.
13. Flyvbjerg, B. (2006). Five
19. Knopoff, R. A. y Oddone, M. J. (1991).
misunderstandings about case-
Dimensiones de la vejez en la
study research. Qualitative inquiry,
sociedad argentina. Buenos Aires:
12(2), 219-245.
Centro Editor de América Latina.
Guzmán, J. M.; Rodríguez, J.; Martínez, J.;
20. Lalive d’Epinay, Ch., Bickel, J. F.,
Contreras, J. M. y González, D.
Cavalli, S. y Spini, D. (2011). El
(2006). La démographie de
curso de la vida: la emergencia de
l'Amérique latine et de la Caraïbe
un paradigma interdisciplinario. En:
depuis 1950. Population, 61(5/6),
J. A. Yuni (Comp.) La vejez en el
623-735.
curso de la vida (pp. 11-30).
14. Ha, J. H., Carr, D., Utz, R. L., & Nesse,
Córdoba: Encuentro Grupo Editor.
R. (2006). Older Adults' Perceptions
21. Lehr, U. (1980). Psicología de la
of Intergenerational Support After
senectud. Barcelona, España: Herder
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 19
[1977].
Willis y K. G. Manton (Eds.) The
22. Lopata, H. Z. (1973). Self-Identity in
oldest-old, (pp- 17-49). New York:
Marriage and Widowhood. The Sociological Quarterly, 14(3), 407-418.
Oxford University Press. 30. Utz, R. L., Carr, D., Nesse, R. y Wortman, C. B. (2002). The Effect
23. Molinié, M. (2006). Soigner les morts
of Widowhood on Older Adults'
pour guérir les vivants. Paris : Le Seuil
Social Participation An Evaluation of
24. Najjar, S. (2011). La mort et les mots.
Activity, Disengagement, and
Le décès d’un proche, un tournant
Continuity Theories. The
majeur au cours de la vie. Thèse
Gerontologist, 42(4), 522-533.
Maîtrise Universitaire en
31. Wilson, G. (1996). “Yo soy los ojos y
Socioéconomie, Orientation
ella los brazos”: cambios en los
démographie. Université de
roles de género en la vejez
Gèneve, (Inédit).
avanzada. En: S. Arber y Ginn, J.
25. Parkes, C. M. (1998). Coping with loss:
(Comp.) Relación entre género y
Bereavement in adult life. British
envejecimiento. Enfoque
Medical Journal, 316(7134),
sociológico (pp.141-162). Madrid:
856-859.
Narcea.
26. Pochintesta, P. (2013). Construcción
32. Worden, W. (1997). El tratamiento del
social de la muerte en el
duelo: asesoramiento psicológico y
envejecimiento. Un análisis de las
terapia. Buenos Aires: Paidos.
representaciones de la muerte y su
33. Zick, C. D. y Smith, K. R. (1988).
influencia como punto de inflexión
Recent Widowhood, Remarriage,
en el curso de la vida. Tesis
and Changes in Economic Well-
Doctoral (Inédito).
Being. Journal of Marriage and
27. Sánchez Vera, P. (2009). Notas
Family, 50(1), 233-244.
provisionales para una construcción
34. Zisook, S.; Shuchter, S. R.; Sledge, P. y
social de la viudedad. Recerca
Mulvihill, M. (1993). Aging and
Revista de Pensament I Anàlisi, 9,
Bereavement. Journal of Geriatric
123-143.
Psychiatry and Neurology, 6,
28. Strauss, A. y Corbin, J. (2002). Bases
137-143.
de la investigación cualitativa. Técnicas y procedimientos para desarrollar la teoría fundamentada. Colombia: Medellín: Editorial Universidad de Antioquia [1990]. 29. Taeuber, C. M. y Rosenwaike, I. (1992). A demographic portrait of America’s oldest-old. En: R. M. Suzman, D. P. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Azeredo, Z. (2016) Aging: A Challenge for the XXI Century, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 20 - 26
REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW
AGOSTO 2016
ENVELHECIMENTO: UM DESAFIO PARA O SÉCULO XXI AGING: A CHALLENGE FOR THE XXI CENTURY ENVEJECIMIENTO: UN RETO PARA EL SIGLO XXI
Autores ZAIDA AZEREDO1 1
PhD, MsC, MD, Porto, Portugal
Corresponding Author: zaida.reci@gmail.com
Resumo O aumento da longevidade e o envelhecimento demográfico são conquistas da Humanidade que se iniciaram no século XX e que se vão acentuar no século XXI. A este último século pôr-se-ão desafios importantes que têm que ser pensados e reflectidos para que a Humanidade possa dar uma resposta atempada e adequada. A autora faz, uma análise reflexiva daqueles desafios que ela pensa serem os mais importantes a serem respondidos no século XXI Palavras chave : Idosos, Envelhecimento , Desafios do envelhecimento no Século XXI
Abstract Ageing and its consequences are rather new in the Humanity history, that needs answers The author analyses some of the ageing challenges for XXI century which she think is important to give accurate answers. Key words : Elderly, Ageing , Ageing challenges in XXI century
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 21
Introdução O envelhecimento é a demonstração da evolução da humanidade, à qual, o avanço científico e, as mudanças sociais ao longo dos tempos não lhe são alheias. (1) (2) (3) (4) Porém, com este envelhecimento, surgem
envelhecimento humano e suas consequências, mas também sobre os desafios por ele desencadeados que a Humanidade e sobretudo a Europa (na qual se inclui Portugal) vão ter que enfrentar no século XXI. Desenvolvimento
novos desafios não só para a ciência, mas
Quando se fala de envelhecimento e de
também para o indivíduo, para a sociedade
suas causas e consequências, há que
e para o mundo.
saber distinguir entre envelhecimento
Embora com algumas características diferentes, todos os países (desenvolvidos
individual (biológico, psíquico ou social) e envelhecimento demográfico.
ou em vias de desenvolvimento) têm que
Ao envelhecimento individual está
unir esforços no sentido de encontrarem
subjacente a ideia de longevidade do
novas soluções para sociedades
indivíduo. É esta longevidade, cada vez
atualmente já envelhecidas, e também
mais longa, que levanta a nível biológico,
para aquelas que estão a caminho de o
psíquico e social questões cujas respostas
serem.
urgentes são grandes desafios, para o
O desafio emergente do envelhecimento
século XXI.
humano, tem características diferentes,
Em qualquer sociedade sempre houve
consoante nos centramos no
longevos, porém com uma vida tão longa
envelhecimento individual ou no
(em que um número em crescendo
envelhecimento demográfico, porém, estes
ultrapassa os 100 anos de idade), e, em
dois tipos de envelhecimento não estão
tão grande número, é algo inédito na
totalmente dissociados, nas suas
Humanidade. Por não haver precedentes,
consequências.
exige da Ciência uma rápida resposta para
Assim, ao atuar-se positivamente sobre o envelhecimento individual, podemos estar a agravar um envelhecimento demográfico,
que se possam evitar consequências psico-biológicas e sociais negativas e/ou irreversíveis.
mas certamente estamos a minimizar
Sabe-se que o desenvolvimento humano
algumas das suas consequências
se faz ao longo de todo o ciclo vital, porém
negativas, nomeadamente a nível socio-
não de forma uniforme. Assim, as nossas
económico.
capacidades, sejam de que natureza for,
Objectivo
desenvolvem-se sobretudo até aos 30-40 anos, entrando depois numa fase de
No presente trabalho pretende-se fazer
estabilidade (em planalto) que culmina a
uma reflexão, não só sobre o
partir dos 60 com uma fase de declínio.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 22
Porém, devido a estudos sobre o aumento
A resposta adequada ao desafio,
da longevidade, hoje sabe-se que, quando
supracitado, deve ser feita ao longo da
existe estimulação este desenvolvimento
vida, muito antes de se ser idoso. Com ela
positivo pode continuar por mais alguns
conseguir-se-á dissociar o ser idoso
anos ou reverter parcialmente o declínio,
(idade cronológica e socialmente
atrasando-se assim, tanto a fase de
estabelecida) da de se ser velho (idade
planalto, como a fase de declínio,
funcional caracterizada por já haver
mantendo-se a pessoa idosa em plena
incapacidades / dependência). Estes dois
actividade por muitos mais anos. (5)
tipos de idades praticamente coexistiam
A nível do envelhecimento individual, o primeiro desafio que se coloca para o seculo XXI, é adiar o mais tempo possível, incapacidades que muitas vezes culminam
nos anos 50-60 do século XX, mas atualmente estão bem dissociados. Nesta sequência surge, então, o segundo desafio, que é a imagem social dos idosos.
em dependência e perda de autonomia. Ao
Crenças e estereótipos mudam a uma
adiar-se estas incapacidades
velocidade mais lenta do que muda o
conseguiremos uma população mais
indivíduo e a própria sociedade. Nas
saudável e mais ativa, economicamente
primeiras décadas da segunda metade do
mais produtiva e sobretudo a sentir-se
século XX, o idoso é visto como uma
bem.
pessoa com grandes incapacidades, com
A grande resposta a este desafio é a prevenção da doença e a promoção da saúde. Mas de que forma?
tendência para o sedentarismo/ imobilidade, bem como para a dependência e perda de autonomia, a necessitar de cuidados de alguém. É
Prevenir o que é prevenível, isto é,
também visto como uma pessoa
prevenir doenças infeciosas e/ ou cronico-
consumidora (de serviços e cuidados) e
degenerativas, acidentes (ocupacionais,
não como uma pessoa capaz de produzir.
rodoviários, quedas, outros) que possam
Com a atual dissociação entre idoso e
culminar em incapacidades permanentes
velho a realidade é bem diferente,
precoces e em co-morbilidades e
surgindo, um grande desafio para o século
multimorbilidades. (6) (7)
XXI que é combater estereótipos que constituam verdadeiros constrangimentos
Promover a saúde individual e coletiva que já se possui, isto é, estimular comportamentos salutogeneos, como sejam os ligados a atividades física e cognitiva (interligadas entre si, por ambas estimularem os neurotransmissores), uma nutrição adequada e uma boa participação social. (6) (7) JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
à participação do idoso nas várias atividades sociais. Há, assim, necessidade de congregar esforços na mudança da imagem social do idoso, para que este seja visto como um idoso ativo. Nesta mudança de atitudes devem estar envolvidos os diferentes setores de uma comunidade bem como os mass-media e a multimédia,
Volume 5. Edição 2
Página 23
mas o principal papel cabe ao próprio
Esta situação para a qual os profissionais
idoso que não deve olhar só para o
e instituições sociais e de saúde
passado, mas, no presente, preparar o
portugueses ainda não estão totalmente
futuro, acompanhando a evolução de
despertos, é muitas vezes acompanhada
novas tecnologias e novas formas de
de outra que é a sarcopenia. Estas duas
adquirir conhecimentos e provar que tem
situações exigem cuidados especiais não
capacidade para acompanhar a velocidade
só de prevenção, mas também de
a que, no mundo, a informação hoje se
vigilância. Por serem situações
processa. A participação do idoso na
relativamente recentes que estão a ganhar
sociedade é essencial, não só para o seu
grandes proporções devido ao aumento da
bem-estar físico e psíquico, mas também
longevidade e ao envelhecimento do topo
para evitar a sua exclusão social. (7)
da pirâmide etária (sobretudo à custa de
Para o século XXI, a nível do envelhecimento individual ainda surgem dois grandes desafios que são duas situações clínicas com repercussões psíquicas e sociais e que são a fragilidade do idoso (sobretudo do grande idoso) e a sarcopenia. Esta última pode surgir em qualquer idade, mas é muito mais frequente nos grandes idosos. (8) (9) (10)
grandes idosos), estão a merecer a atenção de cientistas / investigadores que juntam esforços para, em equipas multidisciplinares e transdisciplinares, conseguirem rapidamente perceber a sua prevalência e a sua etiologia, desenvolvendo soluções que minimizem o seu efeito. É também uma luta contra o tempo pois a velocidade a que hoje se envelhece demograficamente, nada tem a
Efetivamente o envelhecimento fisiológico
ver com a velocidade a que se envelhecia
inicia-se com a nossa conceção, sendo um
no passado, constituindo, também isto, um
processo contínuo que se conclui com a
desafio para o século XXI.
morte.
O envelhecimento demográfico que tem
Com o aumento da longevidade surge uma
por base o aumento da longevidade e da
nova figura que é o idoso fragilizado, isto
proporção de idosos e alterações sociais,
é, aquele que embora possa não ter
nomeadamente no núcleo base que é a
qualquer patologia vive numa harmonia
família (diminuição da taxa de fertilidade),
instável com o meio que o rodeia, por as
levanta questões únicas na história da
suas capacidades de adaptação estarem
humanidade, cujas respostas representam
praticamente esgotadas, podendo, por tal
grandes desafios para o século XXI. (1)
motivo, a qualquer momento perder a sua independência/ autonomia, surgindo, então, uma cascata de patologias que conduzem à morte ou à institucionalização. (8) (9) JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Algumas destas questões surgiram com o envelhecimento individual, porém outras resultam essencialmente do aumento na sociedade, da proporção de idosos e grandes idosos e da transição demográfica
Volume 5. Edição 2
Página 24
em marcha em todo o mundo. Assim talvez os desafios para o século XXI resultantes do envelhecimento demográfico mais importantes, sejam:
transdisciplinares e multissectoriais. Assim o trabalho transdisciplinar em Geriatria e Gerontologia pode ser entendido também como um desafio do século XXI que se associa aos cuidados a prestar pela
As doenças cronico-degenerativas ,
sociedade, a tão grande proporção (em
nomeadamente a nível do SNC , a
crescendo) de idosos e de grande idosos,
multimorbilidade e a co-morbilidade, para
numa altura em que a população ativa é
além da prevalência da fragilidade e pré-
toda ela necessária para trabalhar estando
fragilidade (1)
também as gerações mais jovens
Com a longevidade do indivíduo e o
proporcionalmente a diminuir.
avanço da ciência, estamos a assistir ao
As mudanças familiares, com diminuição
aparecimento de complicações ( co-
de elementos por agregado sobretudo de
morbilidade ) e a formas graves de
gerações mais novas, contrapondo-se ao
doenças crónicas , quase inexistentes nos
maior número de elementos para cuidar
seculos anteriores, uma vez que se morria
(muitos deles a não co-habitarem e
precocemente destas doenças.
geograficamente distantes), levanta
A longevidade também trouxe uma multimorbilidade em idades elevadas que obriga os Profissionais de saúde e outros a adquirir novos conhecimentos, para que possam lidar da melhor forma com as situações patológicas que se lhe deparam,
questões de como cuidar das gerações mais velhas. Estas questões transformamse, também, em desafios para o século XXI, como sejam a forma como deve ser feita pela sociedade a complementaridade da família no cuidar. (10) (11)
não devendo faltar, nas decisões a serem
Surge ainda o desafio para encontrar
tomadas, o bom senso. Estas situações
novas formas de organização social e
obrigam ainda a um grande dispêndio de
novos modelos de institucionalização na
recursos económicos, de serviços de
comunidade que permitam com menos
saúde e sociais, e ao envolvimento de
recursos (sobretudo humanos e
outros sectores.
económicos) cuidar em simultâneo de mais
Há também uma mudança de paradigma no trabalho a ser desenvolvido pelos cuidadores formais, pois durante anos eles
pessoas, sem contudo, diminuir o seu bem-estar e a sua qualidade de vida. (12) (13)
trabalharam frequentemente isolados,
Um outro grande desafio demográfico para
porém hoje a complexidade das situações
o século XXI é o económico. Com a
e da saúde não permite isso devendo
diminuição progressiva da população ativa
trabalhar-se em equipas multidisciplinares
e a diminuição de recursos económicos,
e cada vez mais em equipas
bem como o aumento das despesas com a saúde e o social, há necessidade de
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 25
reorganizar a sociedade, o trabalho, o
O envolvimento de todas as gerações, com
lazer e as pensões/ reformas, bem como o
mutua compreensão (outro grande desafio
estado de providência. A procura de
para o século XXI) é essencial para facilitar
alternativas eficazes talvez seja o maior
a resolução destes desafios e de outros
desafio do século XXI, pois pode colidir
não mencionados neste trabalho. (14)
com situações já adquiridas, sendo necessário um acompanhamento
Conclusões
informativo, com informação fidedigna e
O envelhecimento demográfico verificado
minimizar os efeitos colaterais no bem-
em quase todo o mundo já no século XX, e
estar das populações para que não
com continuidade neste século, vai
danifique crenças no futuro.
levantando questões que se transformam
Se as decisões tomadas interferirem com a crença no futuro, corre-se o risco de todo o
em grandes desafios para o século XXI e a que urge dar respostas/ soluções.(15)
trabalho desenvolvido ao longo da vida
Neste artigo foram afloradas algumas das
com uma população ser negativamente
principais preocupações atuais, havendo
afetado. Representa, assim, um grande
um entrecruzamento entre aquelas que
desafio para os decisores de políticas
surgem de um envelhecimento individual e
sociais e de saúde.
aquelas que provêm de um
Sendo grande parte destes desafios, novos na sua dimensão ou na forma como se apresentam, há necessidade de serem
envelhecimento demográfico, tornando-se, assim, indissociáveis, apesar das suas especificidades.
acompanhados de investigação fidedigna
Só a compreensão destes dois fenómenos,
que não deve ser feita apenas por e para
de suas causas e da dimensão das suas
académicos, mas deve também envolver
consequências, poderá minimizar os seus
outros profissionais e ter uma divulgação
efeitos adversos e transformar alguns, em
universal para que os resultados possam
benefício de uma sociedade envelhecida
ser a base de um avanço tecnológico mais
sim, mas com bem-estar e qualidade de
eficaz e mais acelerado, capaz de dar
vida. (16)
respostas à Humanidade, de forma atempada. A problemática do envelhecimento individual e demográfico é universal. Os desafios para o século XXI são também
Nenhum setor da sociedade pode estar afastado desta realidade! Os desafios para o século XXI são muitos e de grandes proporções, sendo talvez os
universais. Quanto maior for a entre-ajuda
mais importantes: a prevalência das
e complementaridade intersectorial e inter-
doenças cronico-degenerativas, a co-
países maior será a possibilidade de se o b ter atempadamente respostas e soluções. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
morbilidade, a multi-morbilidade, a fragilidade, a complexidade do cuidar em instituições e no domicílio, a cumplicidade/ Volume 5. Edição 2
Página 26
complementaridade inter-geracional, o trabalho/ produtividade, a economia e a
8. De Lepeleire,I; Ilife,S; Mann,E; Degryse,JM ( 2009) – Frailty: an emerging concept for
organização social.
General Practice Br J Gen Pract 59(562): e177-
O envelhecimento ativo, não pode estar confinado apenas a uma geração devendo
e182 (DO:2299/bjgp09X420653 9. Azeredo,Z (2013). O Idoso fragilizado e a
atravessar todas, isto é, a sua promoção
prevenção da fragilidade. Revista Ibero-
deve ser feita ao longo do tempo, de
Americana de Gerontologia: 2; 70-78
forma, a que possamos assistir na primeira metade do século XXI a alguns benefícios dessa intervenção, preparando-nos para novos desafios que entretanto surgirão
10. Azeredo,Z (2014). A Família do idoso Fragilizado in Claudia Moura (pg 169-177) Idadismo – prioridade na construção social da idade Euedito
com a continuidade do processo de 11. Azeredo Z. (2008). A família como núcleo de
envelhecimento.
mudança cultural in Jorge VO, Macedo JMC. Referências bibliográficas
Crenças religiões e poderes: dos indivíduos às
1. Azeredo Z ( 2011). O Idoso como um todo Viseu Psicosoma 2. Rosa MJV. (1993) O desafio social do envelhecimento demográfico Análise Social; 223 (3): 679-689
2008.pp 113-120 12. Nogueira A; Azeredo Z (2012) Cuidados no domicílio: ambiente e tomada de decisão ( pp 327-330) in Alves,J e Neto,A ( 2012) – Decisão: percursos e contextos Porto JSAMED, Medicina
3 – Rosa MJV. (1996) O envelhecimento demográfico: proposta de reflexão sobre curso dos factos
sociabilidades Sta Mª da Feira Ed Afrontamento
o
Análise Social;31:1183-1198
e Formação Lda 13. Azeredo, Z (2009). Cuidados continuados no domicílio: cuidar o utente no seu habitat
4 - Rosa MJV.( 2012) O envelhecimento da Sociedade Portuguesa
-
Hospitalidade 209; 731; 284; 25-28
Lisboa Fundação
Francisco Manuel dos Santos Relógio d’Água
14. Azeredo,Z (2012) A Interacção geracional
Editores
como uma estratégia de envelhecimento activo
5. Paúl C. & Fonseca A. (2001). Psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi Editores. 6. Nogueira, A;
(pp93-100) in Moura, C (2012) Processos e estratégias do envelhecimento: intervenção para um envelhecimento activo Porto Euedito
Azeredo,Z (2012) Tomada de
decisão na saúde e na doença : duas faces da mesma situação ( pp321-326)
in Alves,J e
Neto,A ( 2012) – Decisão: percursos e contextos Porto JSAMED, Medicina e Formação Lda 7. Azeredo,Z; Nogueira ,A ( 2012) – A Educação
15.Bindé, J ( Coord) ( 2007). Rumo à sociedade do conhecimento: relatório mundial da Unesco Lisboa Instituto Piaget 16. Ribeiro O & Paul C (2011). Manual do Envelhecimento activo Lidel Porto
para a saúde na tomada de decisão ( pp337-340)
in Alves,J e Neto,A ( 2012) –
Decisão: percursos e contextos Porto JSAMED, Medicina e Formação Lda JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Pereira, F. et al (2016) Multidimensional assessment study of the elderly living alone in the county of Alfândega da Fé –Northeast of Portugal, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 27 -39
ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE
AGOSTO 2016
Estudo de avaliação multidimensional dos idosos a viver sozinhos no concelho de Alfândega da Fé Multidimensional assessment study of the elderly living alone in the county of Alfândega da Fé –Northeast of Portugal Estudio de evaluación multidimensional de los ancianos que viven solos en el condado de Alfândega da Fé Autores Fernando Pereira1 ; Berta Nunes2 ; Conceição Pereira3 ; Ana Azevedo4 ; Diogo Raimundo5 ; Armanda Vieira6 ; Helder Fernandes7 1
Instituto Politécnico de Bragança; Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e Ciências da
Educação da Universidade do Porto; Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso da Escola Superior de Saúde de Bragança, Portugal; 2,3,4,5,6 Câmara
Municipal de Alfândega da Fé; 7 Instituto Politécnico de Bragança; Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso da Escola
Superior de Saúde de Bragança. Corresponding Author:
Resumo Em Portugal a taxa de idosos que vive na comunidade é cerca de 96%. A taxa de idosos que vivem sós é cerca de 16%. Importa conhecer a situação destes idosos para desenvolver estratégias que visem o seu bem-estar. O estudo teve como objetivo efetuar a avaliação multidimensional dos idosos que vivem sós no concelho de Alfândega da Fé (dados sociodemográficos; situação socioeconómica; situação habitacional; avaliação funcional; risco geriátrico; avaliação de violência e maus-tratos). O concelho de Alfandega da Fé tem 1661 idosos (INE, 2012) destes 260 vivem sozinhos. A amostra deste estudo é de 208 idosos. O instrumento de avaliação foi aplicado através de entrevista presencial. O tratamento estatístico dos dados inclui: indicadores de estatística descritiva (médias e frequências) de todas as variáveis estudadas; em função dos dados obtidos, foi considerado pertinente fazer um estudo do nível de depressão geriátrica, da avaliação do estado mental e do nível de dependência segundo o género e o grupo etário (jovens idosos, idosos e muito idosos) do idoso. O estudo confirma a importâncias dos familiares, vizinhos e amigos no enquadramento social dos idosos. Foram identificados níveis elevados de alteração da saúde mental (depressão sobretudo) e níveis igualmente elevados de dependência. De uma forma geral as mulheres idosas apresentam indicadores mais desfavoráveis. Palavras-Chave: Idosos a viver sozinhos, avaliação multidimensional, indicadores sociais e de saúde.
Abstract In Portugal the rate of elderly living in the community is about 96%. The rate of older people living alone is about 20%. Therefore it is important to know the situation of the elderly in order to develop strategies to improve their support and well-being. The aim of the study was to carry out the multidimensional assessment of the elderly living alone in the county of Alfândega da Fé – Northeast of Portugal: demographic data; socio-economic situation; housing; functional evaluation; geriatric risk; assessment on violence and physical abuse. The county of Alfândega da Fé has 1661 elderly people (INE, 2012), and about 16% (260) live alone. The sample is 208 elderly. The inquiry was applied by a direct interview. Statistical analysis includes descriptive and inferential statistics. The geriatric depression, mental state and dependency level were studied according to gender and age. The study confirms the importance of family, neighbors and friends for the support of the elderly. High levels of mental disorders were identified (depression mostly) and also high levels of dependency. In general, women have more unfavorable indicators. Key Words: Seniors living alone, multidimensional assessment, social and health indicators.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 28
Introdução
revelam o envelhecimento populacional. O
A avaliação multidimensional é essencial para a adequada prestação de cuidados de saúde e cuidados gerontológicos. A avaliação multidimensional, define-se como um método de diagnóstico multidimensional, frequentemente
envelhecimento é mais intenso em Portugal do que na UE28 e é mais intenso ainda em TTM. Segundo as projeções demográficas do Eurostat este cenário de envelhecimento agravar-se-á nas próximas décadas.
interdisciplinar, preocupa-se em detetar
Em Portugal a taxa de idosos que vive na
problemas psicossociais e funcionais da
comunidade é cerca de 96%. A taxa de
pessoa idosa, com a finalidade de
idosos que vivem sós é cerca de 16%.
incrementar
de
Importa conhecer a situação destes idosos
acompanhamento a longo prazo, assertivo
para desenvolver estratégias que visem o
e efetivo (Netto & Brito, 2001; Sirena,
seu bem-estar.
um
plano
2002).
Este cenário demográfico levanta a
Portugal e a maioria dos países da União
necessidades de reorganização dos
Europeia enfrentam hoje um acentuado
sistemas de apoio aos idosos em Portugal
envelhecimento demográfico. O quadro 1
(Pereira, 2014) o que, por sua vez, para as
resume os indicadores gerais relativos ao
decisões serem efetivas, precisa de se
envelhecimento demográfico
basear em informação rigorosa sobre a
respetivamente na UE28, Portugal e Terras
situação de saúde, social e económica dos
de Trás-os-Montes (TTM) (Prodata, 2014).
idosos. A avaliação multidimensional dos
Em todos os níveis territoriais
idosos é um instrumento privilegiado para
apresentados os indicadores demográficos
esse fim. Alguns estudos desta natureza
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 29
estão disponíveis quer em Portugal quer
variáveis estudadas; em função dos dados
noutros países (Fontes, Botelho, &
obtidos, foi considerado pertinente fazer
Fernandes, 2009; R. J J Gobbens & van
um estudo do nível de depressão
Assen, 2014; Robbert J J Gobbens, Luijkx,
geriátrica, da avaliação do estado mental e
& van Assen, 2013; Pereira et al., 2015;
do nível de dependência segundo o género
Rodrigues et al., 2014; Santangelo et al.,
e o grupo etário (jovens idosos, idosos e
2011, 2012; Vicente & Santos, 2013), entre
muito idosos) do idoso. Dado que as
outros.
variáveis escalares correspondentes aos indicadores referidos não respeitavam a
Método O estudo teve como objetivo efetuar a avaliação multidimensional dos idosos que vivem sós no concelho de Alfândega da Fé (dados sociodemográficos; situação
condição de normalidade, a relação entre variáveis foi estudada com recurso ao teste de Kruskall-Wallis (KW) e ao estudo de associação de variáveis com recurso, ao cálculo dos resíduos ajustados (RAj). Resultados
socioeconómica; situação habitacional; avaliação funcional; risco geriátrico;
Situação dos idosos que vivem sós no
avaliação de violência e maus-tratos).
concelho de Alfandega da Fé
O concelho de Alfandega da Fé tem 1661 idosos (INE, 2012) destes 260 vivem sozinhos. A amostra deste estudo é de 208 idosos. O tratamento estatístico dos dados inclui: indicadores de estatística descritiva (médias e frequências) de todas as
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
O concelho de Alfandega da Fé tem 1661 idosos (INE, 2012) destes 260 vivem sozinhos. Neste ponto apresenta-se os aspetos gerais da situação dos idosos que vivem sós no concelho de Alfândega da Fé. Os dados sociodemográficos estão sumariados no Quadro 1.
Volume 5. Edição 2
Página 30
No que respeita aos dados
de Alfandega da Fé e, cerca de 66%, vive
sociodemográficos, a idade média dos
na própria freguesia de que é natural.
idosos estudados é de 77 anos, mais de 80% são viúvos, predominam as mulheres (80%). Cerca de 97% dos idosos possui no máximo o ensino primário completo. Todos os idosos do estudo nasceram no concelho
Relativamente ao enquadramento social e familiar, para 80% dos idosos os filhos são os seus familiares mais diretos, sendo que em 34% dos casos os filhos residem na mesma freguesia do idoso e para cerca de 50% ou vivem na mesma freguesia ou no
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 31
concelho. Para 95% dos idosos a relação
ou sem inferiores ao valor da pensão
com as pessoas que vivem mais próximo
social.
de si é no mínimo boa. Em caso de necessidade de ajuda 80% dos idosos recorre, normalmente aos vizinhos, amigos e filhos. Assim compreende-se que 81% dos idosos diz ter apoio de rede social dos familiares e vizinhos, 8% dos idosos recebe apoio domiciliário de natureza institucional ou voluntário, 12% não tem qualquer apoio.
Relativamente à habitação em 94% dos casos ela está localizada na povoação, praticamente todas possuem infraestruturas e comodidades básicas como: eletricidade, gás, água canalizada, fogão, água quente, televisor, telefone; 78% possuem aquecimento e 86% possui máquina de lavar roupa; ar condicionado existe apenas em 5% das casas. Apesar
No que concerne à situação económica,
disto 80% das casas tem barreiras
12% tem um rendimento superior ao
arquitetónicas que dificultam a mobilidade.
salário mínimo, 85% aufere um rendimento entre a pensão social e o salário mínimo, os restantes 3% ou não tem rendimentos
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
No que respeita aos parâmetros de saúde estudados verifica-se o seguinte (Quadro 2).
Volume 5. Edição 2
Página 32
Relativamente à saúde mental, apuramos
deixou de fazer algumas das suas
que, cerca de 39% dos idosos apresenta
atividades habituais por causa desse
sintomas de depressão ligeira e cerca de
medo. Por fim, refira-se que os idosos da
10% sintomas de depressão grave e que
amostra tomam em média, diariamente,
cerca de 19% dos idosos apresenta
4,74 medicamentos diferentes (variando de
demência ligeira e cerca de 6% apresenta
0 a 19) facto que indicia situações
demência grave, segundo os critérios da
evidentes de polimedicação.
Escala de demência (SPMSQ). No que concerne à autonomia do idoso para a realizar as atividades instrumentais de vida diária necessárias à vida independente na comunidade, medidas pela escala de Lawton, verifica-se que cerca de 49% dos idosos apresenta pelo menos dependência ligeira, sendo eu dentro destes cerca de
Foram também estudadas situações de violência e maus-tratos aos idosos, tendose identificado apenas 3 casos de situações em que alguém gritou com o idoso e uma situação de usurpação de uso de dinheiro do idoso sem o consentimento deste.
11% apresenta dependência moderada e
Efeito do género e grupo etário na
cerca de 7% dependência grave ou total.
situação dos idosos
Relativamente à saúde física verificamos que sensivelmente 50% dos idosos diz ter
O estudo dos principais indicadores de
problemas de audição, 56% problemas de
saúde dos idosos da amostra evidenciou
visão, cerca de 40 refere distúrbios do
diferenças, com significado estatístico,
sono. Além disto, cerca de 25% dos idosos
segundo o género e o grupo etário
refere ter tido uma queda nos últimos 6
(Quadro 3).
meses, 87% tem medo de cair e 66%
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 33
O estudo das médias permite verificar
respetivas categorias de cada variável.
algumas diferenças relativas ao nível de
Optou-se pelo estudo das associações
depressão geriátrica, demência,
parciais (RAJ) dado que nem sempre a
dependência e número de medicamentos
distribuição dos dados pelas diferentes
tomados pelos idosos, segundo o género e
categorias das variáveis permitia a leitura
o estrato etário.
das medidas de associação total entre
No que concerne à depressão e à
variáveis.
demência são mais acentuadas nas
Relativamente ao género, como se pode
mulheres do que nos homens e afeta mais
observar nos quadros 4, existem
o grupo etário dos idosos, embora, em
diferenças, algumas com significado
ambos os casos, a diferença não tenha
estatístico (RAj > | Quanto à depressão
significado estatístico (p=0,525 e p=0,120
geriátrica, a situação de depressão está
para a depressão e p=0,265 e p=0,058
associada ao género feminino,
para a demência, respetivamente).
particularmente no caso da depressão
Relativamente à autonomia para a realização das atividades instrumentais de vida dos idosos a viver na comunidade verifica-se que as mulheres são mais independentes (autónomas) do que os homens, tendo esta diferença significado estatístico (p<0,001). Verifica-se ainda, naturalmente, que o nível de dependência aumenta com a idade tendo esta diferença significado estatístico (p=0,012).
ligeira, embora sem significado estatístico (RAj = 1,7). No que respeita ao grau de demência, não há diferenças sensíveis quanto ao género dos idosos. No que concerne à autonomia para a realização das atividades instrumentais de vida, situação de independente está associada, com significado estatístico, ao género feminino (RA j= 3,2) e as situações de maior dependência estão associadas ao género masculino, sendo que no caso, do
Por último, verifica-se que as mulheres
grau de dependência moderada essa
tomam, diariamente, em média, quase o
associação tem significado estatístico (RAj
dobro de medicamentos diferentes em
= 2,8). Por último, quanto ao número de
comparação com os homens, tendo esta
medicamentos diferentes tomados, em
diferença significado estatístico (p<0,001).
relação ao género, verifica-se que são as
No que respeita ao grupo etário é o grupo
mulheres que mais frequentemente
intermédio dos idosos que toma mais
incorrem em situação de polimedicação
medicamentos mas a diferença entre
entre 5 a 8 ou mais de 9 medicamentos
grupos etários não tem significado
diferentes tomados diariamente, em ambos
estatístico (p=0,135).
os casos com significado estatístico (RAJ = 2,4), em oposição, os homens,
A leitura dos dados precedentes aconselha
predominantemente tomam até 4
a uma análise mais fina, designadamente
medicamentos diferentes por dia (RAJ =
a partir do estudo das frequências das
3,6).
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 34
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 35
Passando ao efeito do grupo etário
que se encontra associada (com
(quadro 5), verifica-se o seguinte. Quanto
significado estatístico) ao grupo etário dos
à depressão, verifica-se que a situação
muito idosos (RAj=2,0) e uma associação
sem depressão está mais associada ao
entre a situação de normalidade e os
grupo etário dos jovens idosos (RAj=1,5),
jovens idosos e entre a demência grave e
embora, em ambos os casos sem
o grupo etário intermédio dos idosos,
significado estatístico (RAj <|1,96|) como já
ambos os casos com RAj=1,8, ou seja
estava indiciado pelo estudo das médias.
muito próximo de terem significado
No que respeita à demência, encontramos
estatístico (quando o RAJ ≥|1,96|). Quanto
diferenças no caso da demência ligeira
à variação da autonomia, naturalmente, e
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 36
confirmando em certa medida o estudo
quedas (Quadro 6). Foram estudadas as
das médias a situação de independência
variáveis: problemas de visão; problemas
está associada ao grupo etário dos jovens
de audição; sonolência durante o dia;
idosos (RAj = 1,8) e as situações de
quantidade de medicação tomada
dependência estão tendencialmente
diariamente; a existência de barreiras
associados com os grupos etários
arquitetónicas; e o receio de cair. Por
superiores, sendo que, o grau de
simplificação, apresentam-se apenas os
dependência moderada está associado ao
valores relativos às categorias relevantes
grupo etário dos muito idosos com
de cada variável.
significado estatístico (RAj = 2,8). Por fim, o grupo etário a que pertence o idoso não tem muita influência na quantidade de medicamentos tomados, embora se observe a tendência para o grupo etário intermédio (idosos) tomar mais do que 9 medicamentos diferentes todos os dias (RAJ = 2,0).
Verificou-se que não existem associações com significado estatístico entre estas variáveis, exceto no caso da relação entre a existência de quedas e o próprio receio de cair, isto é, os idosos que caíram tem mais receio de voltar a cair (RAJ = 2,3). Para além disso verifica-se a tendência (embora sem significado estatístico) para
Estudo das quedas e fatores
os idosos com problemas de audição,
associados
visão e sonolência durante o dia caírem
Procurou-se saber a relevância de alguns dos fatores normalmente associados às
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
com mais frequência. Estranhamos a associação verificada entre a existência de barreiras arquitetónicas e as quedas pois
Volume 5. Edição 2
Página 37
verifica-se, tendencialmente, menor
pouco mais de 1/4 dos idosos
ocorrência de quedas justamente quando
apresenta limitações sociais ligeiras e
existem barreiras arquitetónicas (RAJ = 1,7). Talvez isto possa ser explicado por uma autolimitação consciente da
1/4 apresenta limitação moderada, grave ou total. É possível que esta
mobilidade dos idosos (associação entre a
situação possa resultar da condição de
existência de barreiras e o medo de cair
urbanidade dos idosos de Coimbra.
tem um RAJ = 1,3), facto que deverá servir de alerta para as condições de vida e
Quanto aos recursos económicos o
qualidade de vida dos idosos.
estudo não especifica valores financeiros mas a maioria dos idosos
DISCUSSÃO
(85%) aufere um rendimento entre a
De uma forma geral os resultados do
pensão social e o salário mínimo, o que
nosso estudo estão em linha com os
configura uma situação de alguma
resultados de outros estudos nacionais
fragilidade económica da maioria dos
e internacionais sobre a condição dos
idosos. Esta situação é condizente com o
idosos residentes na comunidade.
estudo de Sobral (2015) no qual apena
Esta
discussão
assenta
essencialmente na comparação de dois estudos recentes realizados em Portugal sobre a avaliação multidimensional do idoso, designadamente o estudo de Rodrigues et al. (2014) e o estudo de Sobral (2015) ambos recorrendo ao instrumento OARS (Olders Americans Research and Services) versão portuguesa. O estudo confirma a importâncias dos familiares, vizinhos e amigos no enquadramento social dos idosos. Este facto é confirmado pelo estudo de (Sobral,
cerca de 10% dos idosos refere ter rendimentos insatisfatórios. Por
comparação no estudo de Coimbra (Rodrigues et al., 2014) a situação é bem mais complexa, dado que sensivelmente 2/3 dos idosos (66,9%) dizem ter limitações sendo que para 15,4% essa limitação é grave ou total. Ainda segundo este estudo a tendência geral em todos os indicadores é para a situação se agravar para o grupo etário mais idoso e para o género feminino. Talvez a pior situação dos idosos no estudo de Coimbra se deva ao custo de vida relativamente mais elevado e
2015) realizado par o concelho de
também a um maior nível de expetativa
Bragança e é francamente melhor do que
com as condições de vida.
o cenário de estudo de Coimbra no
(Rodrigues et al., 2014), no qual um JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Passando à saúde mental verificamos
Volume 5. Edição 2
Página 38
que cerca de 39% dos idosos apresenta sintomas de depressão ligeira e cerca de
como hipertensão, diabetes, osteoporose e cardiopatias.
10% sintomas de depressão grave; cerca de 19% dos idosos apresenta demência
No que concerne à autonomia do idoso
ligeira e cerca de 6% apresenta demência
para a realizar as atividades
grave. Estes valores estão alinhados com o estudo de Bragança (Sobral, 2005) em que cerca de uma 44,2% apresenta
instrumentais de vida diária necessárias à vida independente na
sintomas de depressão geriátrica e com o
comunidade, medidas pela escala de
estudo de Coimbra (Rogério et al, 2014)
Lawton, verifica-se que cerca de 49%
em que 40,3% dos idosos apresenta
dos idosos apresenta pelo menos
limitação pequena ou moderada e 16%
dependência ligeira, sendo eu dentro
apresenta limitações de saúde mental grave ou total; a nível internacional Santangelo et al. (2012) aponta também o
destes cerca de 11% apresenta dependência moderada e cerca de 7%
declínio cognitivo e sintomatologia
dependência grave ou total. Estes
depressiva presente em cerca de metade
valores são próximos dos encontrados
dos idosos estudados. Em todos os
no estudo de Coimbra (Rodrigues et
estudos, à semelhança do nosso as
al., 2014) no qual cerca de 1/4 dos
mulheres apresentam os piores níveis de saúde mental.
idosos apresenta limitação moderada e o restante 1/4 vive com limitações
No que respeita à saúde física dos
graves ou incapacidade total. O estudo
idosos verificamos que sensivelmente
de Bragança (Sobral, 2015) apresenta
50% dos idosos diz ter problemas de
valores mais favoráveis, verificando-se
audição, 56% problemas de visão,
que a maioria dos idosos é
cerca de 40 refere distúrbios do sono.
independente e que os maiores níveis
O estudo de Bragança (Sobral, 2015) e
de dependência moderada ou total
Coimbra (Rodrigues et al., 2014)
afetam mais as mulheres e o grupo
referem que as patologias mais
etário intermédio.
frequentes são os problemas cardíacos 49,4%, hipertensão 41,6%, diabetes
CONCLUSÃO
28,6%, problemas circulatórios dos membros 20,8%, e ainda oncológicos 13,0% e estão em linha com o estudo
O estudo confirma a importâncias dos familiares, vizinhos e amigos no enquadramento social dos idosos.
de Santangelo et al. (2012) que aponta
Confirma ainda a fragilidade económica da
a prevalência elevada de doenças
maioria dos idosos. Foram identificados
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 39
níveis elevados de alteração da saúde mental (depressão sobretudo) e níveis
elderly living alone in the county of Alfândegada Fé–Northeast of Portugal.”
igualmente elevados de dependência.
Rodrigues, R. M. C., Silva, S. M. D. T. da,
Muitos idosos estão polimedicados. De
Crespo, S. S. da S., Ribeiro, C. F. da S.,
uma forma geral as mulheres idosas
Pereira, F. A., Martin, J. I. G., … Silva, L. F.
apresentam indicadores mais desfavoráveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fontes, A. P., Botelho, M. A., & Fernandes, A. A. (2009). A funcionalidade dos mais idosos ( ≥ 75 anos ): conceitos , perfis e oportunidades de um grupo heterogêneo, 91–107.
P. (2014). Os muito idosos: estudo do envelhecimento em Coimbra. Perfis funcionais e intervenção. (U. de I. em C. da S. Enfermagem & E. S. de E. de Coimbra, Eds.). Coimbra. Santangelo, A., Albani, S., Beretta, M., Cappello, A., Mamazza, G., Pavano, S., … Maugeri, D. (2011). Aging and environmental factors: An estimation of the health state of th e e l d e rl y p o p u l a ti o n re si d i n g i n
Gobbens, R. J. J., Luijkx, K. G., & van Assen, M.
industrialized vs. rural areas. Archives of
a L. M. (2013). Explaining quality of life of
Gerontology and Geriatrics, 52(2), 181–
older people in the Netherlands using a
184. doi:10.1016/j.archger.2010.03.014
multidimensional assessment of frailty. Quality of Life Research : An International Journal of Quality of Life Aspects of Treatment, Care and Rehabilitation, 22(8), 2051–61. doi:10.1007/s11136-012-0341-1
Santangelo, A., Testai’, M., Castelli, R., Albani, S., Cappello, A., Primavera, G., … Maugeri, D. (2012). Studies on health in elderly observation centers (abbreviated from Italian: COSA): A multidimensional
Gobbens, R. J. J., & van Assen, M. a L. M.
evaluation (MDE) of an elderly population
(2014). The prediction of quality of life by
frequenting a diurnal center in Catania.
physical, psychological and social
Archives of Gerontology and Geriatrics,
components of frailty in community-
55(2), 380–384. doi:10.1016/j.archger.
dwelling older people. Quality of Life
2011.10.005
Research, 2289–2300. doi:10.1007/ s11136-014-0672-1 INE. (2012). Censos 2011 Resultados definitivos - Região Norte.
Sobral, C. da G. C. (2015). Avaliação Multidimensional (OARS) do Idoso na Cidade de Bragança. Instituto Politécnico de Bragança.
P e r e i r a , F. A . ( 2 0 1 4 ) . F a t o r e s d e
Vicente, F. R., & dos Santos, S. M. A. (2013).
sustentabilidade e de insustentabilidade
Avaliação multidimensional dos
nos sistemas de apoio aos idosos no
determinantes do envelhecimento ativo
interior norte de Portugal. In Trabalho em
em idosos de um município de Santa
Saúde, Desigualdades e Políticas Públicas
Catarina. Texto E Contexto Enfermagem,
(pp. 197–206). Retrieved from http://
22(2), 370–378. doi:10.1590/
bibliotecadigital.ipb.pt/handle/10198/9462
S0104-07072013000200013
Pereira, F., Nunes, B., Pereira, Conceição, Azevedo, A., & Raimundo, D. (2015). “Multidimensional assessment study of the
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Menoita, E., Sebastião, M. (2016) The Elderly Patient admitted in a Ward on a Stretcher The reality of a Hospital Unit , Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 40 - 49
REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW
AGOSTO 2016
PROBLEMÁTICA DO DOENTE IDOSO INTERNADO EM MACA – REALIDADE HOSPITALAR THE ELDERLY PATIENT ADMITTED IN A WARD ON A STRETCHER - THE REALITY OF A HOSPITAL UNIT PROBLEMA DE ANCIANOS ENFERMOS INTERNADOS EN MACA - REALIDAD HOSPITALAR
Autores ELSA MENOITA1, MARIA LICÍNIA SEBASTIÃO2 1,2
RN, MsC, Lisboa, Portugal
Corresponding Author: elsacarvela@hotmail.com
Resumo As organizações de saúde têm de dar o garante aos doentes internados que os seus direitos, enquanto cidadãos, serão invioláveis, oferecendo-lhes um serviço humanizado e garantindo-lhes a privacidade e segurança. A segurança depende da criação de sistemas de antecipação/prevenção de eventos adversos. Os eventos adversos mais frequentes nos doentes em maca são: aprisionamento nas grades, quedas, úlceras por pressão e troca de medicamentos entre doentes. De acordo, com a carta dos Direitos Humanos do Doente internado não é admissível, salvo por período curto nunca superior a 24 horas, a permanência de doentes em macas durante o internamento. Palavras-chave – doente idoso, maca, humanização, segurança, privacidade, evento adverso,
Abstract Health organizations should provide a guaranty to their admitted patients that their rights, as citizens, are inviolable. A humanized service should be offered and their privacy and security should be guaranteed. Security depends on the elaboration of anticipation/prevention systems regarding potential adverse events. The most frequent adverse events in patients on stretchers are: imprisoning on the bars, falls, pressure ulcers and inadvertent switch of medication. In agreement with the letter of Human Right to the Admitted Patient, it shouldn´t be allowed , except for a brief period of time, no longer than 24 hours, for a patient to be in a ward on a stretcher. Keywords - Elderly patient, stretcher, humanization, security, privacy, adverse event.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 41
1. HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE A humanização é um ideal em favor do qual todos devem sentir-se convocados e comprometidos. Paulo Evaristo Arns
no valor da dignidade natural inerente a todas e a cada pessoa humana. Humanizar a Saúde implica uma mudança nos paradigmas de gestão, possibilitando aos profissionais uma participação mais efetiva nos processos
A humanização deve ser entendida
que envolvem tomadas de decisões
como um valor na medida em que resgata
(Morita et al, 2003). Para a humanização
o respeito pela vida humana, nas
na saúde, o respeito pela pessoa humana
dimensões que atingem as circunstâncias
e pelos seus direitos, como o direito à
sociais, éticas, educacionais e psíquicas,
privacidade são pressupostos assumidos.
integradas em todo o relacionamento
A pessoa doente, pela própria
humano. A humanização fundamenta-se
condição, encontra-se particularmente
no agir ético que incorpora o acolhimento e
vulnerável (Osswald, 1995), requerendo
o respeito pelo outro como ser autónomo e
uma maior atenção nos seus direitos.
digno. A dignidade é reconhecida como
Nesta linha de pensamento, quando se
uma exigência fundamental e inviolável,
alude a direitos do doente, não se está a
estando na base dos documentos
conceder à pessoa novos direitos, mas
fundamentais sobre Direitos Humanos. A
apenas a dar ênfase especial a direitos
dignidade humana constitui o valor
que lhe são inerentes, uma vez que, por
primordial do qual decorre o
maior que seja a sua fragilidade e
reconhecimento de determinados direitos
vulnerabilidade, nunca deixa de ser pessoa
fundamentais, como o direito à vida, à
(Pacheco, 2002).
liberdade, à não discriminação, à
Existem alguns documentos de
integridade pessoal, à segurança pessoal
índole jurídica, onde se consagram os
e à privacidade. A privacidade individual
direitos das pessoas que se encontram em
assume um papel preponderante nos
situação de doença, nomeadamente, a
vários domínios da vida, em especial nos
Carta dos Direitos das Pessoas Doentes, a
momentos de vulnerabilidade, que
Declaração sobre a Promoção dos Direitos
acompanham o processo de doença,
dos Pacientes na Europa, para além da
constituindo, conforme refere Nunes
Cartas de Direitos dos Doentes,
(2005), um valor e um direito em si
nomeadamente as emanadas pela
mesmo. A privacidade é uma necessidade
Direcção-Geral da Saúde, pela Comissão
e um direito do ser humano, sendo
para a Humanização dos Cuidados de
indispensável para a manutenção da sua
Saúde. É de ressaltar, que na Carta dos
individualidade (Sawada, 1995). A
Direitos Humanos do Doente internado
privacidade é tutelada a nível
vem explicitamente advertido que NÃO É
constitucional desde 1976. A Constituição
ADMISSÍVEL, salvo por período curto
da República Portuguesa incumbe a lei de
nunca superior a 24 horas, a permanência
garantir a efetiva proteção destes direitos,
de doentes em macas durante o
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 42
o internamento.
Ética para a Saúde (CES) podem, e
Na mesma esteira de reflexões,
devem, ter um papel preponderante na
Gauderer (1998) defende que, o doente
formação contínua dos profissionais nesta
tem o direito a um local digno e adequado
matéria. No nosso país, estas Comissões
para seu atendimento, o direito a manter
foram instituídas pelo Decreto-Lei nº 97/95,
sua privacidade para satisfazer suas
de 10 de Maio, sendo consideradas como
necessidades fisiológicas.
o passo decisivo que permitiu passar da
Como refere Silva (2007), apesar do
pura reflexão ao estabelecimento de
reconhecimento da existência dos direitos
normas consensuais de defesa da
dos doentes e consequentemente das
dignidade e integridade humanas. Cabe
suas necessidades pela sociedade em
assim às CES, de acordo com o Decreto-
geral, pelos governantes e
Lei nº 97/95, de 10 de Maio, “zelar pela
especificamente pelos profissionais de
observância de padrões de ética no
saúde, que correlativamente os
exercício das ciências médicas, por forma
englobaram na sua deontologia
a proteger e garantir a dignidade e
profissional sob a forma de deveres, não
integridade humanas, procedendo à
constitui por si só, sinal de um efetivo
análise e reflexão sobre temas da prática
respeito por esses direitos fundamentais,
médica que envolvam questões de ética”.
que se encontram inevitável e intimamente conexos aos Direitos Humanos. Como refere Peneff (2002), citado por Silva (2007, p.22), os doentes em maca nos "corredores encontram-se comprimidos uns contra os outros ou estão frente a frente, enquanto o centro do cenário é o local de passagem do pessoal e dos médicos que mudam de compartimento, de sala ou atravessam o serviço”. De acordo com Tardy et al (2002), muitos doentes em estado terminal acabam por falecer numa maca, nas urgências, alegando que é emergente o
2. CULTURA DE SEGURANÇA DO DOENTE “Dizer que o acidente é devido à falha humana é tão útil quanto dizer que uma queda é devida à ação da gravidade”. REASON, 1997 A segurança dos doentes é atualmente reconhecida como uma componente importante da qualidade em saúde. Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) sustenta esta inter-relação, quando define qualidade em
coligir de esforços das Comissões de Ética
saúde como, o modo como os serviços de
com as equipas multidisciplinares, visto
saúde, com o atual nível de
que juridicamente todos os documentos
conhecimentos, aumentam a possibilidade
salvaguardam a segurança e dignidade do
de obter os resultados desejados e
doente.
reduzem a possibilidade de obtenção de
No âmbito desta problemática, Silva
resultados indesejados (Batalden & Stoltz,
(2007) defende que, as Comissões de
1993). A maior alteração que se verificou
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 43
no pensamento e filosofia da
condições latentes. Quase todos os
segurança do doente com o documentado
eventos adversos envolvem a combinação
emitido pelo Institute of Medicine foi o de
destes dois tipos de fatores. As falhas
desviar a responsabilização/culpabilização
ativas são os atos inseguros cometidos
do profissional individual para uma
pelas pessoas que se encontram em
abordagem sistémica, designada em inglês
contacto direto com o sistema e referem-se
por “system thinking”. A segurança
a descuidos, esquecimentos, erros,
depende da criação de sistemas de
deslizamentos e violação de
antecipação/prevenção do evento adverso
procedimentos. Para Reason (1997), as
(Wachter, 2008). Eventos adversos
condições latentes são provocadas pelas
referem-se a todo o efeito não desejado
decisões dos gestores, que podem
que resulta da intervenção dos cuidados
traduzir-se em condições que provocam o
de saúde ou da sua falta, mas não da
erro no local de trabalho. O objetivo na
doença ou do estado de saúde do doente
gestão dos eventos adversos é tentar
(Fragata & Martins, 2004). Os eventos
diminuir os buracos no queijo suíço ao
adversos podem classificar-se como
mesmo tempo que se tentam criar novas
“preveníveis ou “não preveníveis”. Os near
camadas de proteção, de modo a impedir
misses não induzem qualquer efeito
o alinhamento dos buracos. Ao contrário
adverso no doente.
das falhas ativas, em que a investigação é
Segundo o Estudo Canadiano de
difícil, as condições latentes podem ser
Eventos Adversos (Canadian Adverse
identificadas e corrigidas antes que um
Events Study), citado por Concelho
evento adverso ocorra. A compreensão
Internacional de Enfermeiros (2006),
deste fator origina uma gestão de risco
verificou-se uma taxa de incidência de
mais pró-activa. As deficiências ou falhas
7,5% de eventos adversos. Tal sugere que,
podem ter origem na estrutura ou no
dos quase 2,5 milhões de admissões
processo (Sousa, 2006).
hospitalares no Canadá, cerca de 185.000
De acordo com Instituto de Medicina
estão associados a um evento adverso,
(Institute of Medicine), citado por Concelho
dos quais 70.000 são preveníveis.
Internacional de Enfermeiros (2006), os
De acordo com a Teoria do Queijo
sistemas de cuidados de saúde têm
Suíço, para ocorrer um evento adverso é
problemas resultantes de processos
necessário o alinhamento de diversos
inadequados, apoio inadequado dos
buracos, ou seja, falhas ou deficiências
recursos humanos e sistemas que não
(Reason, 1997). Os eventos adversos não
promovem práticas seguras.
ocorrem devido a um único erro humano,
O Código Deontológico do
mas sim pela interconexão de vários
Enfermeiro adverte que o enfermeiro
fatores que ocorrem a vários níveis da
deverá ”assegurar por todos os meios que
organização. Os buracos nas defesas
estão ao seu alcance, as condições de
surgem por duas razões: falhas ativas e
trabalho que permitam exercer a profissão
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 44
com dignidade e autonomia, comunicando através das vias
Aprisionamento de doentes nas camas
competentes, as deficiências que prejudiquem a qualidade dos
De acordo com Nowicki et al (2010),
cuidados.” (Diário da República, 1998, p.
o FDA recebeu cerca de 691 relatórios de
1756).
aprisionamento de doentes nas grades das
Para se garantir a segurança do doente
camas hospitalares entre janeiro de 1985 e
tem de haver dotações seguras. As
Janeiro de 2006. Em 2006, a FDA e o
dotações seguras refletem a manutenção
HBSW divulgaram um documento de
da qualidade dos cuidados aos doentes,
recomendações relativas às camas
das vidas profissionais dos enfermeiros e
hospitalares, a partir das causas de
dos resultados da organização. Existem
aprisionamento da pessoa nas grades.
inúmeros estudos que apontam para o
Bills (2007) refere que o HSBW identificou
impacto das dotações seguras sobre os
7 zonas de risco nas grades das camas
resultados de morbilidade e mortalidade
hospitalares, em que a pessoa pode ficar
(Concelho Internacional de Enfermeiros,
presa (Figura nº 1 e Quadro nº 1).
2006).
Concluíram que, nos casos em que havia asfixia, geralmente, o doente ficava preso
2.1. Eventos adversos relacionados
pela cabeça, pelo pescoço ou tórax;
com doentes em maca
enquanto que, nos casos em que havia lesões era porque o doente ficava preso
2.1.1 Cama segura - Bed safety?
pelos membros superiores ou inferiores.
“A bed is a patient’s sanctuary, a resident’s ‘home’, and a nurse’s workstation; it is where most time is spent.” Nowicki et al, 2010
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 45
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 46
Atualmente, a FDA e Internacional
ambulância. Não obstante, os resultados
Organization for Standardization (ISO)
podem ser extensíveis aos doentes
emitiram orientações quanto ao padrão
internados e que ficam em maca.
ideal de uma cama segura - bed safe,
Quedas
tendo em consideração as 7 zonas de
As quedas são os eventos adversos
risco de aprisionamento. Contudo, estas
mais frequentes nos hospitais e podem ter
orientações não são aplicáveis às macas,
consequências físicas, psicológicas e
continuando estas a apresentar um risco
sociais. Geralmente, estes eventos
acrescido de aprisionamento do doente,
traduzem-se num aumento do período de
não auferindo segurança, conforme se
internamento e de dependência da pessoa,
pode verificar nos vários modelos de maca
com consequente acréscimo de custos
(Figura nº2). Tal facto é corroborado por
económicos e sociais (Almeida et al,
MDA (2003), nas Guidelines on the Safe
2010). Este tipo de situações é, por isso,
Use of Ambulance Stretcher Trolleys, em
considerado como importante indicador da
que o aprisionamento de doentes nas
qualidade assistencial (Saraiva et al,
macas das ambulâncias é um dos eventos
2008).No que concerne a doentes
adversos mais comuns. Conforme já
hospitalizados, Almeida et al (2010),
referido, na literatura somente há
consideram que, as quedas são o acidente
referência a estudos de macas de
mais relatado em unidades de saúde.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 47
Oliver et al (2004) reportam estudos
2.1.2. Úlceras por Pressão
que apontam entre 2,9-13 quedas por
As úlceras por pressão são
1000 dias de internamento/cama. De
desencadeadas por fatores extrínsecos,
acordo com Nowicki et al (2010), um
como a pressão, a tensão tangencial ou
estudo no Reino Unido, entre 2005 e 2006,
cisalhamento e fricção. Para a prevenção
realizado pelo Instituto Nacional de
das UPP, é fundamental o posicionamento
Agência de segurança dos doentes revelou
em diferentes decúbitos, contudo o espaço
que cerca de um quarto de todas as
na maca é limitador, pois esta não dispõe
quedas foram das camas dos doentes.
de largura para o doente e para as
Muitos têm sido os fatores que contribuem
almofadas. Por exemplo, frequentemente
para a complexidade do fenómeno das
encontra-se os doentes de maca com UPP
quedas. Os fatores de risco podem ser
nos joelhos - localização de UPP pouco
divididos, por exemplo, em dois grandes
frequente em doentes deitados no leito da
grupos: os intrínsecos – diretamente
cama - pois estes ficaram junto às grades
relacionados com o indivíduo; e os
e estas fizeram pressão. Mesmo que por
extrínsecos – relacionados com
pouco tempo, como se trata de uma
características ambientais e sociais. Vários
superfície dura, em que pode estar a ser
são os autores que defendem que os
exercida uma intensidade de pressão
fatores externos estão intimamente
elevada, rapidamente podem desenvolver-
interligados ao risco de queda (Saraiva et
se UPP. É fundamental, enquadrar no
al, 2008). Saraiva et al (2008) propõem a
contexto o recurso às superfícies de apoio.
abordagem ecológica que analisa o
A maioria das superfícies de redistribuição
incidente numa perspetiva de interação
de pressão, como sejam as dinâmicas ou
entre o doente e o meio, dando especial
estáticas disponíveis nas unidades são
relevância às ameaças ambientais que
para camas hospitalares de dimensões
podem traduzir-se em riscos potenciais.
superiores às das macas, não se
Para além disso, conforme
adequando.
anteriormente mencionado a propósito das
Em suma, para além do doente em
dotações seguras, Calvo (2001) refere
maca estar mais sujeito aos fatores de
que, o rácio enfermeiro/doente também
risco externos, as estratégias de
tem um carácter causal, pois o cuidador
prevenção,
pode não dispensar da sua atenção efetiva
posicionamentos e o recurso a superfícies
ao doente e risco de queda. De acordo
de apoio, são bastante limitativas e
com Almeida et al (2010), este facto
insuficientes.
“reencaminha-nos para as estratégias de gestão de recursos e a necessidade de manter dotações seguras na prestação de cuidados”.
como
sejam
os
2.1.3. Troca de medicação entre doentes em maca O Institute of Medicine no documento “To err is human” refere que, por ano, 48000 a 98000 americanos morriam nos
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 48
hospitais em consequência de erros
privacidade e a segurança, como direitos a
preveníveis, sendo colocado em evidência
respeitar na prestação de cuidados
a contribuição dos acontecimentos adversos por medicamentos como uma importante causa de morbilidade e
humanizados e compreensivos. Contudo, este plano conceptual tem um intento audacioso, não
mortalidade dos doentes hospitalizados
pretendendo ficar, unicamente, no patamar da
(Khon et al, 1999). Luk et al (2008, p. 29)
reflexão. Pretende que seja um catalisador para
referem que “os erros de medicação são
o registo de mudanças no sistema
um tipo muito comum de erros de natureza multidisciplinar.” Estes eventos podem estar relacionados com a prática
organizacional, extinguindo-se totalmente com os internamentos dos doentes em maca.
profissional, prescrição, comunicação de ordens terapêuticas, rotulagem, embalagem e nomenclatura, composição, distribuição, administração, formação, monitorização e uso. Coimbra e Cassini (2000, p.17) dizem que: “a equipa de enfermagem constitui o elo final deste sistema, atuando na administração propriamente dita, e por este motivo é geralmente responsável pelos atos que marcam a transição de um erro prevenível para um erro real, e o ónus dos erros, caí pesadamente sobre estes profissionais.”
A propósito da temática das dotações seguras, alguns estudos concluíram que os erros de administração de medicamentos ocorriam quando havia dotações inadequadas de enfermeiros (Concelho Internacional de Enfermeiros, 2006), como quando sucede quando há doentes internados em maca. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo deixa algumas considerações de matriz teórica e reflexiva sobre a temática do doente idoso internado em maca, envolvendo conceitos na esfera da qualidade, como a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
BIBLIOGRAFIA 1.
Almeida [et al] Quedas em doentes hospitalizados: contributos para uma prática baseada na prevenção. In: Revista de Enfermagem Referência - III - n.° 2, 2010. 2. Batalden PB, Stoltz PK: A framework for the continnual improvement of health care. In: Jt Comm J Qual Improv 1993;19. p. 424-47. 3. Bills, E. - Preventing Bed Entrapments: A Report from the Hospital Bed Safety Workgroup. In: Biomedical Instrumentation & Technology, Maio/Julho, 2007. 4. Calvo, M. [et al] – Las caídas intrahospitalarias: una realidad. In: Revista ROL de Enfermeria. Vol. 24, nº 1, 2001. p. 25-30. 5. Coimbra, J.; Cassini, S. - Responsabilidade da enfermagem na administração de medicamentos: algumas reflexões para uma prática segura com qualidade de assistência. In: Revista Latino-Americana de Enfermagem. 9, nº 2, 2001, p.57. 6. Concelho Internacional de Enfermeiros Dotações seguras salvam vidas. Suiça, [sn], 2006. 7. Decreto-lei 104/98, D.R., I Série – A, nº 93 (21/04/1998), p.1739-1756. 8. Fragata, J. & Martins, L. D. - O Erro em Medicina. Perspectivas do indivíduo, da organização e da sociedade. Coimbra: Almedina, 2006. 9. Gauderer, E. - Os direitos do paciente: cidadania na saúde. 7ª ed. Record: Rio de Janeiro, 1998. 10. MAD - Guidelines on the Safe Use of Ambulance Stretcher Trolleys. [sl]: [sn], 2003. 11. Khon, L. T. [et al] - To err is human: building a safer health system. Committee on Health Care in América. Institute of Medicine Washington, DC: Nacional Academy Press, 1999. Volume 5. Edição 2
Página 49
12. Luk, L. [et al] - Nursing management of medication errors. In: Nursing Ethics. 15, nº1,
24. Wachter RM. - Understanding patient safety. Lange: Nova Iorque, 2008.
2008, p. 29. 13. Morita, C[et al] -
Humanização – reflexões
sobre o cuidar e o cuidador. In: Mezzomo, A.A. [et al] Fundamentos da humanização hospitalar: uma visão multiprofissional. São Paulo: Local, 2003. 14. Nowicki, [et al] - Bed safety off the rails. In: Australian Nursing Journal, v.18 (Julho, 2010). 15. Nunes, R. - Regulação na Saúde, Porto: Vida Económica, 2005. 16. Ordem dos Enfermeiros - Norma para o cálculo de dotações seguras dos cuidados de enfermagem. Ordem dos enfermeiros, 2014 17. Osswald, W. - Direitos do Doente - Lisboa: Brotéria, 1995. 18. Pacheco, S. - Os Direitos e Deveres da Pessoa Doente: Perspectiva do Profissional de Saúde, Cadernos de Bioética. Coimbra: Centro de Estudos de Bioética. nº 29, Agosto de 2002. 19. Reason, J.
- Managing the Risks of
Organizational Accidents. Aldershot: Ashgate Publishing Company, 1997. 20. Sawada N. - O sentimento do paciente hospitalizado frente à invasão de seu espaço territorial e pessoal. [tese]. Ribeirão Preto (SP): Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, 1995. 21. Silva, A. - O direito à privacidade do doente no serviço de urgência. FMUP, Porto, 2007. 22. Sousa, P. - Patient safety: a necessidade de uma estratégia nacional. In: Acta Med Port, nº 19, 2006. p. 309-318 23. Tardy, [et al] - Death of terminally ill patients on a stretcher in the emergency department: a French speciality? Intensive Care Med. nº28, 2002.p. 1625–1628.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Martins, C., et al (2016) Prevention of Pressure Ulcers: Use of Support Surfaces, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 50 - 57
REVISÃO SISTEMÁTICA/ SYSTEMATIC REVIEW
AGOSTO 2016
Prevenção de Úlcera de Pressão: Uso de Superfícies de Apoio Prevention of Pressure Ulcers: Use of Support Surfaces La prevención de las úlceras por presión: El uso de superficies de soporte Autores CARINA MARTINS1, CÁTIA REIS2, VERA RAMOS3 1,2,3
RN, Centro Hospitalar do Oeste, Portugal
Corresponding Author: carina.martins10@gmail.com
Resumo Apesar dos avanços nos cuidados em saúde, as úlceras de pressão (UP) continuam a ser uma importante causa de morbilidade e mortalidade, com impacto na qualidade de vida do doente e familiares, gerando um problema social e económico (Matos, 2012). O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura recorrendo aos motores de busca on-line https://scholar.google.pt/ com objetivo de reconhecer a importância do uso de superfícies de apoio (SA) de forma a obter a efetividade da sua aplicação, prevenindo o aparecimento de UP, contribuindo para uma escolha mais indicada tendo em conta as características do doente e custo-benefício das mesmas. Face à panóplia de SA existentes a sua escolha é realizada dependendo das necessidades do doente (avaliação do risco de desenvolver UP, prognóstico) e características do equipamento (redistribuição da pressão, facilidade de uso e custo). De uma forma geral as superfícies estáticas estão destinadas em doentes que se conseguem mobilizar, com baixo/médio risco de desenvolver UP e as superfícies dinâmicas em doentes com risco médio/elevado, geralmente que não se conseguem mobilizar independentemente e são portadores de UP. O uso de SA é uma solução recomendada para a prevenção e tratamento da UP. O investimento neste tipo de prevenção vai levar a uma redução nos custos totais criados pelas UP. A sua utilização quando combinada com a alternância de decúbitos reduz a incidência de UP, podendo reduzir o tempo de reposicionamento do doente. É importante verificar se as SA se encontram dentro das indicações específicas recomendadas pelo fabricante, antes de serem utilizadas. Palavras chave: superfícies de apoio; colchão de pressão alterna; colchão viscoelástico; custo-benefício.
Abstract Despite advances in health care , pressure ulcers (PU ) remain an important cause of morbidity and mortality, and impact on quality of life of the patient and family, generating a social and economic problem (Matos, 2012). This study deals with a literature review using the online search engines https://scholar.google.pt/ in order to recognize the importance of the use of support surfaces (SS) in order to obtain effectiveness its application , preventing the appearance of PU , contributing to a more appropriate choice taking into account the characteristics of the patient and cost - benefit them. Given the existing panoply of SS your choice is made depending on the patient's needs (assessment of risk of developing PU, prognosis) and characteristics of the equipment (redistribution of pressure, ease of use and cost). Generally static surfaces are intended for patients who can mobilize, with low / medium risk of PU and dynamic surfaces in patients with medium / high risk , usually that can not mobilize independently and are carriers of PU . The use of SA is a recommended solution for the prevention and treatment of PU. Investment in this type of prevention will lead to a reduction in total costs created by the UP . The use when combined with alternating reduces the incidence of decubitus PU and may reduce the patient repositioning time. It is important to verify that the SS is found within specific directions recommended by the manufacturer before use Key words: bearing surfaces ; alternating pressure mattress ; viscoelastic mattress ; cost benefit.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 51
Introdução Morison (2004) defende que a prestação de cuidados preventivos ao doente pode reduzir o aparecimento de UP até 50% a 60%. Já Gouveia e Miguéns (2009) citado por Menoita (2012), referem que 95% das UP são passíveis de serem prevenidas. Segundo a NPUAP (National Pressure Ulcer Advisory Panel), as SA são definidas como “um dispositivo especializado para redistribuição de pressão concebida para gestão de cargas tecidulares, microclima, e / ou outras funções terapêuticas (por exemplo, colchões, sistema integrado de cama, colchão de sobreposição, almofada de cadeira ou almofada de sobreposição)” (Afonso et al, 2014). Os fatores envolvidos no aparecimento de UP podem ser intrínsecos e / ou extrínsecos. As SA são um elemento essencial na sua prevenção pois podem controlar e / ou eliminar os fatores extrínsecos, como a pressão, corte e fricção (NPUAP, EPUAP e PPPIA, 2009; Santos, 2012). A utilização de SA permite reduzir a pressão na interface, área que fica entre a pele e a SA, para valores inferiores aos considerados como sendo os níveis de oclusão dos diversos vasos sanguíneos; permitir facilidade em efetuar posicionamentos terapêuticos quer pelo doente quer por um cuidador; permitir expansão pulmonar de forma eficaz; não limitar a atividade física permitindo a realização de atividades de vida diária; e permitir que o doente possa intervir de forma ativa no seu processo de saúde (Afonso et al, 2014). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
O alívio da pressão é a medida profilática mais importante da redução de AP (Luz, Lopacinski, Fraga, 2010). A utilização de SA não substitui a necessidade da alternância de posicionamentos regulares e adequados (Rocha, Miranda, Andrade, 2006). Existe no mercado uma panóplia de dispositivos / SA que contribuem para a prevenção e tratamento de UP, podendo ser distinguidos entre superfícies estáticas e superfícies dinâmicas. O uso de SA são as soluções recomendadas para a prevenção e tratamento da UP. O investimento neste tipo de prevenção vai levar a uma redução nos custos totais criados pelas UP. A escolha do dispositivo mais apropriado está dependente da avaliação do doente, realizada pelo profissional de saúde. Devese ter em conta as características do equipamento (redistribuição da pressão, facilidade de uso e custo) e do doente (risco para desenvolvimento de lesões, conforto, presença de comorbidades, prognóstico) (Luz, Lopacinski, Fraga, 2010). As superfícies estáticas adaptam-se à forma do corpo efetuando uma redistribuição da pressão sobre as proeminências ósseas evitando pontos de elevadas pressões, por exemplo colchões de espuma de poliuretano viscoelástica, colchões de ar, água ou gel. As superfícies dinâmicas
tendem
a
variar
sistematicamente os pontos de apoio evitando a pressão elevada em um determinado ponto durante um grande período de tempo, normalmente através da insuflação e esvaziamento das várias Volume 5. Edição 2
Página 52
secções do sistema de suporte (Sequeira,
pressão alterna”, encontrando 15
2011; Matos, 2012).
resultados; e “colchão viscoelástico”
Mas no meio desta panóplia de SA que
encontrando 6 resultados. Ao fazer a
contribuem para a prevenção de UP, qual
revisão destes artigos deparamo-nos que
será a mais indicada para cada doente,
não iam ao encontro do nosso tema.
tendo em conta as características do
Alargando assim a nossa busca utilizando
doente e do custo-benefício das SA. O
os termos chave “Superfícies de apoio”, o
principal objetivo é que os profissionais de
número de publicações propostas foi de
saúde reconheçam a importância do uso
305 resultados e 28 resultados quando
de SA de forma a obter a efetividade da
associada ao termo “Custo-benefício”. Dos
sua aplicação, prevenindo o aparecimento
28 artigos resultantes da pesquisa nas
de UP.
bases de dados selecionámos 5, por entendermos serem os mais demostrativos
Metodologia:
e elucidativos do tema tratado. Com esta
Trata-se de uma revisão da literatura
metodologia pretendeu-se obter uma
recorrendo aos motores de busca on-line
síntese de estudos científicos publicados
https://scholar.google.pt/. Inicialmente
que possibilitem retirar conclusões acerca
utilizou-se os termos chave, “colchão de
da importância do uso de SA de forma a
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 53
obter a efetividade da sua aplicação, prevenindo o aparecimento de UP,
O artigo “Úlceras por pressão - das
contribuindo para uma escolha mais
causas aos cuidados” é uma revisão da
indicada visando as características do
literatura, publicado no “Revista
doente e do custo-benefício das mesmas.
Acreditação” em 2012.
Resultados:
O artigo “Aplicação de materiais
Os artigos selecionados foram analisados
ortopédicos na prevenção/tratamento
de forma a dar resposta à problemática
de úlceras por pressão” é uma revisão da
definida para este estudo, extraindo assim
literatura, publicado no “Journal of Aging
os dados mais significativos de cada
and Innovation” em Junho de 2015.
artigo.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 54
O artigo “Superfícies de apoio na
O artigo “Cuidados de la piel y
prevenção das úlceras de pressão” é
prevención de úlceras por presión en el
uma revisão da literatura, publicado no
paciente encamado” é uma revisão da
“Journal of Aging and Innovation” em
literatura, publicado na “Revista de
Agosto de 2012.
Enfermeria ROL” em Dezembro de 2007. A dissertação “Custo-Efetividade de Intervenções na Prevenção de Úlceras de Pressão” realizada no âmbito do Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde em 2012.
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 55
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 56
Conclusões:
O investimento no uso de SA vai levar a
Todas as pessoas com risco de contrair UP
uma redução nos custos totais criados
deveriam utilizar produtos de apoio para a
pelas UP.
prevenção das mesmas. A prevenção de UP é um grande desafio
Referências bibliográficas:
para as equipas multidisciplinares, uma
•
Abrantes Vivacqua, S. (2012). Úlceras
polémica dentro da área da saúde. Esta
por pressão - Das causas aos
deve ser realizada diariamente. O seu
cuidados. Revista Acreditação, 2(3),
tratamento é uma carga muito significativa
90-110.
para todos os sistemas de saúde. As UP
•
Afonso C; Afonso G; Azevedo M;
podem ter igualmente um efeito de
Miranda M & Alves P (2014).
detrimento da qualidade de vida do doente
Prevenção e Tratamento de Feridas -
e família.
Da Evidência à Prática. 2014 ISBN
Há poucos estudos que comparam a
978-989-20-5133-8
eficácia das diferentes SA comparando-as
•
Etchegoyen, P., Lopes, F., & Saraiva,
entre si o método mas utilizado nos
V. Aplicação de materiais ortopédicos
estudos foi o de comparar a não utilização
na prevenção/tratamento de úlceras
com a utilização de algum produto e neste
por pressão. Journal of Aging &
tipo de estudos pode-se reparar que o não
Inovation, 2015; 4 (2): 32 - 39
uso de um dispositivo normalmente tem
•
sempre piores resultados.
Urban, C. Úlceras de pressão.
Face à panóplia de SA existentes a sua
Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):
escolha é realizada dependendo das necessidades do doente (avaliação do risco de desenvolver UP, prognóstico) e
36-43 •
T,García Fernández FP, Pancorbo
(redistribuição da pressão, facilidade de
Hidalgo PL. Cuidados de la piel y
uso e custo).
prevención de úlceras por presión en
De uma forma geral as superfícies
el paciente encamado. Rev ROL Enf
estáticas estão destinadas em doentes UP e as superfícies dinâmicas em doentes
2007; 30(12):801-808 •
de pressão. Tese de mestrado.
A utilização da SA quando combinada com incidência de UP, podendo reduzir o tempo de reposicionamento do doente.
Matos, I. (2012). Custo-efetividade de intervenções na prevenção de úlceras
com risco médio a elevado. a alternância de decúbitos reduz a
Martínez Cuervo F, Soldevilla Agreda JJ, Verdú Soriano J, Segovia Gómez
características do equipamento
com baixo e médio risco de desenvolver
Luz, S., Lopacinski, A., Fraga, R.,
Universidade do Minho •
Menoita, E., Gomes, C., Pinto, S., Testas, C., Santos, V., Cordeiro, C. Superfícies de apoio na prevenção das úlceras de pressão. Journal of Aging & Inovation, 2012; 1 (4): 34-52
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2
Página 57
•
Morison, M. (2004) – Prevenção e Tratamento de Úlceras de Pressão. Loures: Lusociência. ISBN: 972-8383-68-1
•
National Pressure Ulcer Advisory Panel, European Pressure Ulcer Advisory Panel e Pan Pacific Pressure Injury Alliance. Prevenção e Tratamento de Úlceras por Pressão: Guia de Consulta Rápida. 2009 ISBN: 978-989-98909-8-5
•
Rocha, J., Miranda, M., Andrade, M. Abordagem terapêutica das úlceras de pressão – Intervenções baseadas na evidência. Acta Med Port 2006; 19: 29-38
•
Santos, A. R. D. (2012). Nova geometria para sobre-colchão antiescaras (Doctoral dissertation, Universidade da Beira Interior)
•
Sequeira, A. M. (2011). Estudo conceptual de uma almofada dinâmica: validação experimental da modulação da pressão de contacto, utilizando células de ar comprimido. Tese de Mestrado, Universidade do Minho
JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Volume 5. Edição 2