Edição completa agosto 2016

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VOLUME 5 . EDIÇÃO 2


EDITORIAL

AGOSTO 2016

Autocuidado na população em

aumentam a predisposição para outras doenças

envelhecimento ao nível da

2012).

Simultaneamente, em Portugal cerca

funcionalidade

de 41,6% dos idosos consideram que o

O envelhecimento da população coloca um crescente desafio à escala mundial, no sentido de melhor responder as necessidades dos mais idosos, nomeadamente ao nível dos cuidados de saúde. Este processo de envelhecimento responde às tendências demográficas relacionadas com a descida da taxa de fertilidade e natalidade, que contribuem para a redução do número de jovens, diminuição da taxa de mortalidade, com consequente aumento da esperança média de vida e desaceleração da migração. As projeções realizadas por entidades nacionais e internacionais preveem que este fenómeno continuará a aumentar e a ganhar mais expressão no futuro (DGS, 2014). De acordo com a Organização das Nações Unidas (2013), em 2050 as pessoas idosas ascenderão a dois mil milhões (20% da população mundial), deste modo o número de pessoas com mais de 60 anos ultrapassará a população de jovens com menos de 15 anos. Paralelamente

(DGS,

ao

envelhecimento, os estilos de vida menos saudáveis têm contribuído para a prevalência das doenças crónicas, nomeadamente cerebrovasculares, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, que também são fatores de risco e

seu estado de saúde é mau ou muito mau (Barros, Gomes & Pinto, 2013). Com a idade mais avançada há um incremento do risco para contrair doenças crónicas e degenerativas, com profundas implicações na autonomia, na funcionalidade, na utilização dos cuidados e serviços de saúde (DGS, 2014). As doenças crónicas exercem um impacto negativo na realização das atividades de vida diárias, que incluem os comportamentos de autocuidado (ex.: alimentar-se, vestir e despir-se, controlo voluntário de esfíncter vesical e intestinal, caminhar e transferir-se) e no desempenho das atividades instrumentais que garantem a independência (ex.: preparar refeições, tomar medicação, gerir os rendimentos e usar o telefone). Para a pessoa conseguir ser agente de autocuidado necessita de conseguir desenvolver e manter as atividades de vida diárias (Orem, 2001; Fonseca, 2014; OPSS, 2015). Koç (2015) estudou a influência das caraterísticas sociodemográficas que influenciam a capacidade do agente de autocuidado, em 324 idosos hospitalizados, concluindo que, 23,6% sofriam de doença crónica, 65% detinha problemas ao nível da funcionalidade, 33,1% não possuía


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capacidade para realizar por si

comuns e duradouros. O investimento

as atividades de vida diárias, 66,7% já

nos mais idosos não pode ser

tinha estado anteriormente

considerado como um gasto, dado que

hospitalizado, 52,7% tomava

ao contribuir para a melhoria do seu

terapêutica regularmente e apenas

estado de saúde, permite um

32,8% conseguia participar em

envelhecimento ativo e saudável. O

atividades sociais. Mais concretamente,

que significa que o desenvolvimento e

no que concerne à dependência na

a manutenção da capacidade funcional

atividades de vida diárias, 14,6% eram

permite o bem-estar, o autocuidado e a

dependentes, 18,5% semi-

qualidade de vida, em idade avançada

independentes e 66,9% eram

(WHO, 2005; 2015).

independentes. As atividades em que

Ana Ramos

era necessário maior assistência foram

Especialista em Enfermagem MédicoCirúrgica Enfermeira no CHMT, EPE (RN, MsC, PhD student)

a transferência, a continência de esfíncteres, o vestir, a alimentação e os cuidados de higiene. A idade mais avançada foi identificada como uma

Referências bibliográficas:

variável ligada a uma maior

Almeida, S., & Rodrigues, P. (2008). The quality oflife of aged people living in homes for the aged. Revista LatinoAmericana de Enfermagem, 16, 1025—1031.

dependência. Almeida e Rodrigues (2008) na sua investigação sobre as quedas nos idosos realçam que, 59,1% das quedas ocorrem entre os 75 e 84 anos, o nível de dependência nas pessoas entre os 65 e 74 anos era de 29,4% e entre os 85 e 94 era de 57,1%. As intervenções com pessoas com 65 ou mais anos de idade exigem esforços comuns e intersectoriais nos diferentes níveis da comunidade, baseados em princípios de autonomia, participação ativa, autorrealização e dignidade da pessoa idosa, nos vários contextos onde se insere. Como ilustra a pintura da capa desta edição: The Inspiration of Saint Mathew – de Caravaggio (1602) apela-se à união de diferentes sinergias para obter objetivos

Barros, C.; Gomes, A. & Pinto, E. (2013). Estado de saúde e estilos de vida dos idosos português: o que mudou em 7 anos? Arquivos de Medicina, 27(6), 242-247. Direção-Geral da Saúde (DGS). (2014). Portugal IDADE MAIOR em números, 2014: a saúde da população portuguesa com 65 ou mais anos de idade. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Direção-Geral de Saúde (DGS). (2012). Plano nacional de saúde 2012-2016: perfil de saúde em Portugal. Lisboa: Direção-Geral da Saúde. Fonseca, C. (2014). Modelo de autocuidado para pessoas com 65 e mais anos de idade, necessidades de cuidados de enfermagem. Tese de Doutoramento. Universidade de Lisboa, Portugal. Koç, Z. (2015). The investigation of factors that influence self-care agency and daily life activities among the elderly in the northern region of Turkey. Collegian, 22, 251—258. Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS). (2015). Acesso aos cuidados de saúde. Um direito em risco? Relatório Primavera 2015. Portugal: OPSS. Orem, D. (2001). Nursing: Concepts of pratice (6th ed.). St Louis: Mosby. United Nations (ONU). (2013). World population ageing 2013. New York: United Nations. World Health Organization (WHO). (2015). Ageing Report 2015. Geneve: WHO.


Pochintesta, P. (2016) The transition to widowhood in aging. A study of cases in Argentina, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 4 - 19

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

AGOSTO 2016

A Transição à viuvez no envelhecimento. Um Estudo de casos na Argentina La transición a la viudez en el envejecimiento. Un estudio de casos en Argentina. The transition to widowhood in aging. A study of cases in Argentina Autores PAULA ANALÍA POCHINTESTA1 1

PhD, Post PhD Researcher, Buenos Aires, Argentina

Corresponding Author: ppochintesta@gmail.com

Resumo Introdução: A viuvez constitui um evento chave no processo de envelhecimento desde que produz mudanças econômicas, sociais e emocionais que afetam profundamente a identidade. A morte do cônjuge aumente a vulnerabilidade das pessoas idosas. Trata-se de um problema atual e relevante visto o crescimento constante da população envelhecida. Objetivo: Com o intuito de compreender profundamente o fenômeno da viuvez no envelhecimento, o presente trabalho analisa a adaptação da perda percebida por homens e mulheres de mais de 80 (oitenta) anos ou mais.. Métodos: Realizou-se um estudo qualitativo a partir de 17 (dezessete) entrevistas detalhadas que buscam formar uma mostra intencional, constituída por pessoas nascidas entre os anos de 1917 e 1932, pertencentes a diferentes níveis socioeconômicos e residentes na Área Metropolitana de Buenos Aires, Argentina. Resultados e conclusões: Da análise surgirão três eixos a partir dos quais se estruturaram os resultados: a) mudanças na organização da vida cotidiana; b) fontes de apoio social recebida; c) emoções sentidas a partir da morte do cônjuge. Assim evidenciou-se que as pessoas sofreram um decréscimo em sua situação econômica, um aumento do sentimento de solidão e abandonaram muitas das atividades anteriormente realizadas conjuntamente com o parceiro. Palavras-chaves: Viuvez, envelhecimento, vida cotidiana, apoio social, emoções.

Resumen Introducción: La viudez constituye un evento clave en el proceso de envejecimiento en tanto produce cambios económicos, sociales y emocionales que afectan profundamente la identidad. La muerte del cónyuge incrementa la vulnerabilidad de las personas mayores. Se trata de una problemática actual y relevante frente al aumento constante de la población envejecida. Objetivo: Con el propósito de comprender en profundidad el fenómeno de la viudez en el envejecimiento, el presente trabajo analiza en qué consiste el ajuste a la pérdida percibida por varones y mujeres de 80 y más años. Métodos: Se realizó un estudio cualitativo a partir de 17 entrevistas en profundidad que conformaron una muestra intencional integrada por personas nacidas entre los años 1917 y 1932, pertenecientes a distintos niveles socio-económicos y residentes del Área Metropolitana de Buenos Aires, Argentina. Resultados y conclusiones: Del análisis surgieron tres ejes a partir de los cuales se estructuraron los resultados: a) cambios en la organización de la vida cotidiana; b) fuentes de apoyo social percibido y; c) emociones sentidas a partir de la muerte del cónyuge. Así, se evidenció que las personas sufrieron una merma en la situación económica, un incremento del sentimiento de soledad y abandonaron muchas de las actividades compartidas anteriormente con el partenaire. Palabras claves: Viudez, envejecimiento, vida cotidiana, apoyo social, emociones

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Introducción El punto de partida de este trabajo es considerar al envejecimiento como un fenómeno diferencial acorde a la perspectiva del curso de la vida. Este paradigma, no supone ciclos preestablecidos a priori, sino más bien cohortes que se mueven en el tiempo histórico (Hareven, 1996). El concepto de cohorte como unidad de análisis, permite entender que las personas no envejecen de modo homogéneo sino que están sometidas al cambio social. El envejecimiento implica así la interacción de factores bio-psico-sociales con los recursos de los que cada individuo dispone (Lalive D’epinay, et al., 2011). Uno de los conceptos cardinales que propone este paradigma es el de trayectoria de vida. La trayectoria supone un recorrido que puede variar en diferentes direcciones, grados o posiciones (Elder, 1994). Las trayectorias no suponen cambios fijos y constantes, sino que las mismas se despliegan de acuerdo a múltiples dimensiones en constante interacción. Las transiciones indican cambios de posición no absolutamente determinados que están asociados a la escolaridad, a la entrada en el mercado laboral, al matrimonio o al momento del retiro. De esta manera, las transiciones construidas socialmente se convierten en “normativas” si son experimentadas por una gran proporción de la población. Las transiciones pueden estar fuera de tiempo y entrar en discordancia con lo establecido determinando un punto de inflexión o JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

turning point. De acuerdo a este enfoque bien puede entenderse a la viudez como un punto de inflexión importante en el proceso de envejecimiento. Afrontar la soledad, elaborar el proceso de duelo, adaptarse a los cambios en la vida diaria junto a la pérdida de compañía son las algunas de las características que definen la viudez. Atravesar la etapa del duelo es crucial porque en esos momentos las personas se sienten más vulnerables. La muerte del cónyuge puede aumentar los riesgos de contraer enfermedades físicas o mentales, principalmente durante los dos años posteriores a la pérdida (Hagedoorn et al., 2006). La posibilidad de enviudar aumenta a medida que se avanza en edad, esto es aún más marcado para las mujeres lo que acentúa el desbalance entre los géneros (Lopata, 1973). El impacto frente a la muerte del cónyuge es diferencial de acuerdo a la edad en que se produce, el género, el nivel socio económico, la calidad de las redes de apoyo social con las que cuenta el viudo o la viuda y su estado de salud. Los ancianos suelen adaptarse mejor a la viudez que sus contrapartes más jóvenes, siendo un factor clave la calidad de las relaciones sociales que logren mantener. Muchas de las investigaciones se han concentrado en las ancianas viudas debido, en parte, a su mayor proporción entre la población envejecida. Los viudos suelen buscar pareja más a menudo que las viudas y, con frecuencia, se unen a mujeres menores que ellos. En consecuencia, la probabilidad de enviudar disminuye en los ancianos varones. Como fenómeno habitual en el envejecimiento el Volume 5. Edição 2


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estudio de la viudez, sus efectos y

el plano epidemiológico reemplazando las

consecuencias reviste en la actualidad un

enfermedades infecto-contagiosas por

enorme valor.

enfermedades crónico-degenerativas como

Siguiendo las premisas antes enunciadas

patrones causales de mortalidad (Guzmán

es que el presente trabajo tiene por

et al., 2006). Los datos del último Censo

objetivo estudiar los cambios percibidos

Nacional de Población, Hogares y

por las viudas y los viudos que pertenecen

Viviendas (2010) indican que el

a la cuarta

edad.1

Se trata en muchos

crecimiento poblacional disminuye y la

casos de personas que llevaban varios

población envejece.3 El aumento de la

años viviendo sin su pareja. En particular,

población envejecida del país corresponde

este estudio cualitativo ha permitido

al 10,2 % mientras que el mismo índice

analizar en profundidad cómo fueron

para el Censo anterior (2001) correspondía

vividos los cambios en la organización de

al 9,9 %4.

la vida cotidiana, en la percepción del

Respecto a los datos sobre la situación

apoyo recibido y en la elaboración del

conyugal5 el porcentaje total de viudos es

duelo de las personas entrevistadas. 2

del

En primer lugar se introducen las

Aproximadamente siete de cada diez

características de la viudez en la vejez y

varones de 65 a 84 años conviven en

sus diferencias según el género. Luego, se

pareja mientras que sólo cuatro de cada

detallan los aspectos metodológicos a

diez mujeres lo hacen. Uno de los factores

partir de los cuales se llevó a cabo la

que se asocia a este fenómeno radica en

investigación. En un tercer punto se

la mayor longevidad femenina6 dando lugar

presentan los ejes de análisis que

a que la viudez afecte más tempranamente

estructuraron los resultados. Finalmente,

y en mayor proporción a las mujeres

en el cuarto y último punto se desarrollan

(Encuesta Nacional sobre Calidad de Vida

las conclusiones e interrogantes surgidos

de Adultos Mayores, 2012).

de la investigación.

Como lo evidencian los datos

Argentina desde finales del siglo XIX

demográficos, la viudez constituye una

muestra una transición demográfica que se

transición por la que atraviesan la mayor

caracteriza por bajas tasas de fecundidad

parte de las personas mayores. La

y mortalidad y un aumento en la esperanza

conjunción de dos factores: a) diferencia

de vida. Esta transición ocurre también en

de edad entre cónyuges y b) diferencia en

6,5%

en

todo

el

país.

1 La

denominación de cuarta edad surge como producto de la gran longevidad y el avance en la expectativa de vida, designa a las personas de 80 y más años. En la versión anglosajona se ha acuñado el término equivalente de viejos-viejos, Oldest-old que corresponde al de quatrième âge en la versión francófona (Taeuber y Rosenwaike, 1992). 2 Los resultados aquí expuestos forman parte de mi tesis doctoral (Pochintesta, 2013). 3 El índice que se emplea para determinar el envejecimiento de una población (desde la gerontología) es aquel que estima la cantidad de personas de 60 y más años. De este modo, se considera que la estructura poblacional está envejecida si la población de 60 años o más es superior al 7% (Knopoff y Oddone, 1991). 4 En este contexto, la Ciudad Autónoma de Buenos Aires es la jurisdicción que cuenta con el índice de envejecimiento más elevado del país: 16,4 %, cifra que, en la provincia de Buenos Aires supera también el 10%. 5 La situación conyugal se define respecto a la convivencia en pareja de las personas de 14 años y más, sea ésta de hecho o de derecho (INDEC, Censo Nacional del Población, Hogares y Viviendas, 2010). 6Una mayor esperanza de vida en las mujeres dio origen a la “feminización del envejecimiento”.

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la expectativa de vida de varones y

embargo los viudos que vuelven a casarse

mujeres permite comprender el

sufren menos variaciones en su situación

desequilibrio frente a la posibilidad de

económica (Zick y Smith, 1988). El nivel

perder al cónyuge que tienen ambos.

educativo fue estudiado como un factor

La viudez aparece entonces ligada a la

que afecta la definición de la identidad

transición “típica” entre la tercera y cuarta

luego de la viudez. La viudez parece

edad. Caradec (1998) propone dos

afectar más a las mujeres de mayor nivel

movimientos que se producen a partir de la

educativo debido a que dedican más

pérdida del cónyuge: el primero supone

tiempo y recursos a definir la visión del

una transición identitaria del sí mismo,

mundo conjuntamente con su pareja

mientras que el segundo sugiere una

(Lopata, 1973).

transición relacional.

La pérdida del cónyuge produce cambios

Delbès y Gaymu (2002) plantean que la

en el apoyo social que reciben los

pérdida del cónyuge es una experiencia

ancianos. La familia representa un “efecto

característica de la tercera edad. A los 75

protector” en tanto los casados, en todas

años una persona sobre tres ha perdido a

las sociedades, tienen menos

su pareja. Las viudas suelen encontrar

probabilidades de morir que los no

mucho apoyo en la familia mientras que los

casados.

varones viudos se sienten menos

El estudio del impacto de la viudez en las

apoyados por sus familias y tienen más

redes sociales evidencia que existe una

problemas para buscar ayuda (Berger,

merma de apoyos en la red familiar

2009).

secundaria 7 . Las viudas presentan

La viudez surge entonces como un

pérdidas menores en la red familiar

fenómeno disruptivo de la identidad. Desde

mientras que los viudos mantienen una

una perspectiva interaccionista Sánchez

importante red de amigos con quienes

Vera (2009) analiza los cambios que

intensifican sus relaciones (Ayuso, 2012,

conlleva la viudez como transición. Entre

Ha et al., 2006). Las mujeres viudas

sus principales consecuencias menciona

confían en sus amigas, hijas e hijos

tanto el incremento del sentimiento de

mayores y tienden a expandir sus redes

soledad, como una mayor vulnerabilidad

sociales (Utz et al., 2002).

social y económica. Señala además que

Una serie de consecuencias se asocian a

en los últimos decenios surgen nuevas

la viudez femenina, a saber: disminución

formas de transitar la viudez atravesadas

de ingresos, mayor aislamiento, aumento

por dinámicas familiares cambiantes.

de la mortalidad, incremento del riesgo de

La muerte del cónyuge se traduce en una

suicidio y de síntomas psiquiátricos como

pérdida económica importante,

ansiedad y depresión. Conviene también

esencialmente para las viudas, sin

destacar que la viudez puede producir

7 La red familiar primaria está integrada por padre, madre, hermanos e hijos. Mientras que la red familiar secundaria se refiere al contacto con tíos, primos, suegros, cuñados, sobrinos y padrinos con ahijados.

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ventajas específicas, entre ellas, se

Métodos

encuentra el disfrute de la soledad para ser independiente, sobre todo, si la relación ha

Para dar curso al objetivo de la

sido de fuerte sometimiento. Para muchas

investigación se optó por un enfoque

mujeres ancianas la viudez constituye

metodológico cualitativo, biográfico e

quizá la primera vez en su vida que

interpretativo. Este abordaje combinó

pueden estar y vivir solas. La pérdida de la

elementos de tres perspectivas: a)

pareja puede ser también una oportunidad

principios del paradigma del curso de vida

de crecimiento personal y aprendizaje, por

(trayectorias, transiciones y puntos de

ejemplo, en lo que respecta al

inflexión); b) componentes del enfoque

mantenimiento y a la administración

biográfico (Kaufmann, 2008) y; c)

financiera del hogar (Carr, 2004).

principios de la estrategia de estudio de

En los varones existe la posibilidad de que

casos múltiples (Flyvbjerg, 2006).

la viudez se conjugue con el retiro laboral,

El trabajo de campo reúne datos

aspecto que modificará enormemente las

recabados desde 2009 a 2012. La muestra

redes de apoyo informales. Sí, más aún, la

fue de tipo intencional según los siguientes

participación en la organización de las

criterios: 1) varones y mujeres nacidos

tareas domésticas era mínima o

entre los años 1917 y 1932; 2) residentes

inexistente, la muerte del cónyuge

en el Área Metropolitana de Buenos Aires,

resultará muy estresante (Arber y Ginn,

Argentina; 3) en ausencia de enfermedad

1996).

terminal y; 4) pertenecientes a diferentes

Con respecto a la salud, el trabajo de

niveles socio-económicos. Para situar el

Zisook et al., (1993) sugiere que las viudas

contexto en el cual se han desarrollado las

y viudos mayores se perciben a sí mismos

entrevistas se describen a continuación las

con un mejor ajuste frente a la pérdida,

tendencias generales sobre los datos

presentando menos síntomas de depresión

sociodemográficos.

y ansiedad que los viudos más jóvenes. En

De los diecisiete casos, cinco fueron

cuanto al duelo, las condiciones de un luto

varones y doce mujeres con una edad

más efímero no ayudan a elaborar este

promedio de 85 años. Esta proporción de

cambio (Molinié, 2006).

viudas reproduce una tendencia general

Hemos visto hasta aquí cómo la viudez

del grupo de los viejos-viejos respecto a la

repercute en todas las áreas de la vida.

viudez. Del total de mujeres viudas, cuatro

Así, la salud, la identidad y la autonomía

residían en una vivienda social, una

personal pueden verse resentidas al

convivía con una empleada doméstica y

perder al cónyuge en la vejez. Todos estos

las siete restantes vivían solas. Los viudos

aspectos fueron retomados en el análisis

vivían solos en todos los casos.

de los casos de las personas entrevistadas

Todas las personas entrevistadas de

con el propósito de dilucidar como fue

cuarta edad cursaron estudios primarios y

percibida y afrontada la viudez.

sólo en cuatro casos no los completaron.

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Un cuarto de ellos completó sus estudios

siguiendo una lógica inductiva surgieron

secundarios. Dos personas finalizaron

una serie de categorías generadas de

estudios terciarios y, aunque en tres casos

“abajo hacia arriba”. A continuación se

cursaron estudios en el nivel universitario

compararon los datos primero de manera

ninguno llegó a culminarlos. La cantidad de

abierta, luego de manera más sistemática

hijos promedio fue dos. Todas las personas

y, f i n a l m e n t e , s e p o n d e r a r o n l a s

de cuarta edad percibían algún beneficio

recurrencias y contrastes reagrupando las

previsional. Cinco estaban jubilados, seis

categorías que marcaban tendencias o

cobraban además de la jubilación una

patrones (Coffey y Atkinson, 2003). De allí

pensión y otros seis recibían sólo pensión,

emergieron dimensiones analíticas

en este último caso fueron todas mujeres.

fundamentales.

Dos personas continuaban trabajando además de recibir ingresos previsionales.

Resultados

El objetivo principal de la entrevista fue la

La muerte del cónyuge fue, en todos los

reconstrucción de la trayectoria biográfica

casos analizados, un punto de inflexión

en el marco de una charla flexible y

que marcó un cambio no sólo del estado

abierta. Los ejes temáticos abordados

civil sino de toda la subjetividad. La

fueron los siguientes: historia de

mayoría de las muertes evocadas

conformación y composición familiar,

ocurrieron a partir de los 60 años8 con una

trayectoria laboral y educativa, estrategias

edad de pérdida promedio de 74 años.

de organización y gestión de la vida

Esto significa las personas llevaban, por lo

cotidiana, tipos y frecuencia de actividades

menos, seis años de viudez al momento de

realizadas, percepción del estado de salud,

la entrevista.

proyectos, concepciones de

Fueron tres los ejes que permitieron

envejecimiento, etc.

En general, la

caracterizar la vivencia de la viudez. Un

duración de los encuentros fue de dos a

primer eje corresponde a los cambios en la

tres horas. Las personas optaron,

organización de la vida cotidiana. En

comúnmente, porque el encuentro se

primera instancia estos cambios tuvieron

realizara en su residencia. La participación

que ver con una merma de ingresos

fue voluntaria y libre y, en cada caso, se

económicos en mujeres de nivel

asumió el compromiso de proteger la

socioeconómico bajo lo que incrementó su

identidad.

vulnerabilidad social. Luego, se analizó la

Una vez efectuada la transcripción de las

valoración que hicieron las personas sobre

entrevistas, utilizando el método de

el abandono de actividades compartidas

comparación constante, se reconstruyeron

con el cónyuge. Finalmente estas

las trayectorias identificando: temas

trasformaciones en la vida diaria tuvieron

principales, transiciones y puntos de

que ver con cambios de vivienda como

inflexión (Strauss y Corbin, 2002). Luego,

consecuencia de la viudez.

8 Las

causas de los decesos correspondieron en general a enfermedades cardíacas, combinadas en menor medida con afecciones respiratorias. En tres casos el deceso se debió al padecimiento de cáncer y en un único caso a una demencia.

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La merma del apoyo económico y la permanencia en la precariedad corresponden en todos los casos examinados a mujeres que residían en viviendas colectivas10. Este declive o persistencia en una situación económicamente vulnerable ocurría ya sea porque la situación era precaria antes del deceso del esposo y la muerte acentuó más esa situación o, porque existía una dependencia económica total del marido y con su fallecimiento disminuyó abruptamente el nivel de ingresos. Emilce (mujer de 84 años) vive en un centro residencial dependiente del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires. Ella ingresa a este centro con su esposo debido a los problemas de salud que éste sufría y que le impedían continuar trabajando. A pesar de conservar en gran medida su autonomía ella asume que actualmente no podría vivir en otro lugar. En: ¿Y qué fue lo que le pasó a su esposo a su pareja? E: Y él estaba con un problema que oía voces, no siempre, a veces pasaban dos tres meses y andaba bien. (...) Ellos decían que era un problema auditivo, porque él escuchaba no veía nada, pero después se le fue. (…) después, cuando él se compuso y trabajaba y todo, no nos fuimos, nos quedamos en la institución. Después lamentablemente le

agarró una neumonía y falleció y yo me quedé. (…) Y me quedé y me sigo quedando porque no sabría vivir sola ahora (Emilce, mujer, 84 años)10 Para Dora (mujer de 85 años) la movilidad social descendente comenzó mucho antes de su ingreso a una vivienda social. La afrenta de una estafa y la mala administración de los bienes rurales familiares signaron el declive económico de la familia. La enfermedad temprana de su esposo completó el panorama que les auguraba a ambos una vejez precaria y acompañada de privaciones materiales. D: Ah, cuando vinimos acá en el barrio [una vivienda otorgada por el PAMI] yo ya tenía 62 años. E: ¿Su marido se había jubilado? D: Mi marido se enfermó en el frigorífico, tenía un tumor. (...) Desde que vinimos acá, es mucho para mí también, es mucho. Me sacan del sueldo, del aguinaldo el diez por ciento, al final cuando hay un aumento se me va en el diez por ciento que me sacan. Siempre estoy ahí, ahí nomás (Dora, mujer, 85 años).11 Las trayectorias laborales mayormente compuestas de trabajos informales así como el nivel educativo alcanzado (primario incompleto) permite comprender

9

Algunas de ellas fueron entrevistadas en una residencia dependiente del Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires destinada a personas de 60 años o más que presentan problemas de alojamiento, que se encuentran en situación de pobreza y que conservan un grado relativo de autonomía. En otro caso se trató de viviendas ofrecidas en comodato por el PAMI- INSSJP (Instituto Nacional de Servicios Sociales para Jubilados y Pensionados de Argentina) como prestación social para los adultos mayores que no poseen una vivienda propia y cuya situación familiar es de gran vulnerabilidad. 10 Su esposo muere cuando ella tenía 66 años. 11 La falta de casa propia y el desempleo de su esposo los obligó finalmente a solicitar una plaza en una de las residencias que PAMI ofrece a las personas que se encuentran en situación de vulnerabilidad económica. Su esposo muere a sus 72 años.

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por qué en estos casos las mujeres tenían

Juan (varón de 86 años) por su parte ha

una mayor dependencia económica de los

dejado de frecuentar la casa quinta en la

maridos.

que pasaba los fines de semana junto a su

En cuanto a las actividades compartidas

mujer. Irma (mujer de 80 años) parece

con el partenaire Chola (mujer de 82 años)

haber perdido sus deseos de ir al cine

afirmaba sentir que la casa “se le vino

desde que vive sola.

encima” luego de perder a su marido mientras que Rita (mujer de 86 años) recordó las salidas con su esposo que ya no realiza. (…) Sufrí mucho porque perdí a mi esposo, que éramos un matrimonio que nos amábamos, estuvimos juntos cuarenta y dos años y medio. Y bueno al perderlo, viste que fue una cosa, en tres meses se me vino la casa encima. Y bueno, después luchando qué sé yo el cariño de mi hija, de los nietos. Estoy saliendo, aunque ese hueco no lo llena nadie, pero aquí estamos. El mes que viene, el 11 hace veinte años (Chola, mujer, 82 años). 12 R: Y después como todo ¿no? cuesta, cuesta acostumbrada con él en todos lados, en todos lados hasta para dar una vuelta. Para mirar las vidrieras, íbamos de un lado a otro siempre juntos (…) éramos unos cuantos en el club Atlanta, estaba ahí mi marido, por eso salía tanto de un lado para otro. Y después las fiestas, muchas en el club ¡cada fiesta! (Rita, mujer, 86 años). 13

(…) Mirá, me está pasando que no me gusta hacer nada ahora, pero pienso que es una cosa de viejos. Me paso los días leyendo el diario, este y no sé antes me gustaba por ejemplo, tenemos una casita afuera, que le decimos la quinta. (…) Y antes y, sobre todo, en vida de mi mujer me gustaba estar ahí, me gustaba ir siempre me gustó hacer manualidades, sobre todo, con las cosas de la casa. (…) Bueno en aquel entonces me gustaba ir pero ahora ya pierde ese gusto ¿no? (Juan, varón, 86 años). 14 IR: No, no me gusta ir al cine, porque yo iba con mi marido, no fui más porque me parece que pierdo el tiempo adentro de esa sala oscura y yo quiero ver la luz (Irma, mujer, 80 años) . 15 Con el abandono de actividades se produce también el decrecimiento de las redes sociales puesto que las salidas comunes implicaban el encuentro con otras parejas amigas y el contacto con vecinos o conocidos. Hay que señalar que en torno a las actividades domésticas, en el caso de los viudos, pareciera no haber

12

Chola perdió a su esposo a los 62 años. lleva once años viuda al momento de efectuarse la entrevista. 14 La esposa de Juan falleció cuando él tenía 79 años. 15 Irma lleva diez años viviendo sin su esposo. 13 Rita

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fuertes divisiones de género esto se debe a la cantidad de años que llevan de viudez (6 años al menos). En la vejez avanzada

lo mejor, porque tengo todo. Tengo mis nietos (Olga, mujer, 84 años). 16

84 años) destacó el cambio que significó

E: ¿Cómo decidió mudarse? JN: No, yo no elegí lo decidió Liliana, mi hija, que me dijo ‘¡No, vos te tenés que mudar, porque el día de mañana no podés subir la escalera!’ (…) Y entonces se ocuparon Liliana y mis dos hijos varones en arreglar todo. (…) Así que ellos me mudaron. (…) ¡Ah! y lo que quería Liliana cuando me mudaron acá es que estuviera más cerca de ellos (Juan, varón, 86 años).

estar mejor y acompañada al mudarse a la

El segundo eje se refiere a las fuentes de

casa de su hija poco tiempo después de

apoyo social percibido. Se analiza en este

perder a su esposo. En cambio Juan

punto el apoyo social recibido por las redes

(varón de 86 años) afirmó que fueron sus

familiares, los amigos

hijos quienes resolvieron su mudanza con

informal). El apoyo y el refuerzo de las

objeto de reducir la distancia geográfica y

redes familiares es mencionado de modo

facilitar la comunicación familiar. En el

recurrente como una estrategia para

caso de Julio (varón de 82 años) fue él

afrontar los cambios producidos (Black,

mismo quien decidió dejar su casa y

Holly y Santanello, 2012). Como tendencia

trasladarse cerca de sus hijo

general podemos afirmar que las personas

inmediatamente después de la muerte de

viudas entrevistadas contaban con el

su esposa.

apoyo de la red familiar primaria. En los

los roles de género se debilitan ya sea por el cuidado y dependencia de algún miembro de la pareja o por viudez (Wilson, 1996). El cambio de residencia ligado a la viudez es un aspecto muy importante en la vejez porque afecta la vida cotidiana y produce toda una redefinición del sí mismo. Exige una reapropiación de espacios y rutinas nuevas, además de la recomposición de las redes cercanas de vecinos. Referente a las mudanzas Olga (mujer de

O: Bueno, mi vida cambió mucho cuando me vine acá a la casa de mi hija. E: ¿Y eso fue hace cuánto? O: Al morir mi marido, sí, a la semana me parece que me vine acá, sí. Lo mejor de mi vida fue eso, te digo la verdad, a lo mejor te conté otras cosas que son más fuertes pero estar acá fue

16 Olga

o vecinos (apoyo

casos de las personas que residían en viviendas colectivas la frecuencia del contacto era menor, bien sea porque sus hijos o hijas los visitaban menos, o bien por las limitaciones en la movilidad de los mayores lo que dificultaba su traslado. Mi hija mayor es diabética y ella tiene sus días buenos y sus días malos también, demasiado hace por mí,

perdió a su marido a los 79 años.

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que me va a la doctora a

poco porque necesito,

buscar las recetas; me va

sobre todo ahora, que me

a buscar lo que necesito,

he quedado solo necesito

los remedios que me da

verlos a los hijos,

PAMI (...) Y salir no

prácticamente los veo

puedo salir porque… Hoy

todos los días porque es

estoy más o menos bien

mi modo de vivir la vida

porque tenía una

en esta época ¿no es

inyección ayer para poder

cierto? De tomar contacto

caminar. Yo a cobrar voy

con los que quiero (Julio,

en remis; voy y vengo en

varón, 84 años) . 17

remis porque en colectivo no puedo subir. Con este brazo me lo quebré acá arriba; no lo puedo levantar y subir a los colectivos porque me duelen los huesos (Dora, mujer, 85 años).

(…) Y en los últimos diez años lo que cambió mucho

fue

el

fallecimiento de mi mujer y en lo que no cambió nada es el cariño del resto de la familia. Me siento

muy

bien

El apoyo familiar fue mencionado y

considerado por mis

valorado positivamente por los

hijos, siento que me

entrevistados. Julio (varón de 84 años)

quieren mucho yo

admite que, desde que perdió a su esposa, necesita ver a sus hijos todos los días. Por

también los quiero mucho (Juan, varón, 86 años).

su parte, Juan (varón de 86 años) marca el

PO: Y yo no sé… me

impacto de lo que significó perder a su

encuentro como te voy a

mujer, no obstante ello, contar con el

decir. Yo me encuentro

afecto y el acompañamiento de su familia

protegida espiritualmente,

fue lo que le ayudó a mitigar esa pérdida.

f í s i c a m e n t e ,

En este mismo sentido Pocha (mujer de 90 años) destacó el apoyo recibido por parte de sus amigos y de su familia. (…)

Yo

disfruto

escuchando música, leyendo, a veces, saliendo a caminar un

familiarmente

y

amigablemente. Porque tengo familia, tengo salud, tengo amigos, tengo cultura (Pocha, mujer, 90 años). 18 Si bien muchos de los coetáneos de los

17 Julio 18 El

lleva dos años de viudez al momento de la entrevista. marido de Pocha falleció cuando ella tenía 86 años.

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entrevistados fallecieron con lo cual la red

que compartían actividades políticas,

de amistad se redujo, los contactos, las

comunitarias o recreativas. No obstante

salidas así como las charlas telefónicas

otros afirmaron no tener ya amigos o

con amigas y primas, fueron mencionadas

prescindir de ellos por propia elección.

por las mujeres como relaciones de gran estima dentro del apoyo social recibido. Las funciones destacadas tuvieron que ver con compartir actividades de ocio, además de recibir apoyo emocional y consejo. E: Mis amigas me llaman por teléfono, charlamos, tengo a mi prima que también voy a pasar los domingos o los sábados o los días de semana todo el día. Y tengo amigas de hace treinta y pico de años que también voy y me quedo a dormir una semana (Emilce, mujer, 84 años).

JL: No me han quedado amigos, se me han ido casi todos, los amigos que yo tenía casi todos se me han ido. Me queda uno, dos por allí que los veo así de vez en cuando. Grandes amigos se me han ido, ya no los tengo más. Yo cuando era chico, me recuerdo que pensaba que el año 2000 era una cosa totalmente lejana. Estoy viviendo en el año 2010, mirá vos nunca pensé que iba a vivir tanto (Julio, varón, 84 años). El tercer eje estudiado condensa las

(...) y bueno ahora salgo con mis primas. Delia tiene 77 y la otra tiene 52 o 53 que es soltera vamos al teatro fuimos a casi todas las obras, después vamos a la casa de mi prima que vive acá a tres cuadras, a comer y después o vienen acá o vamos a la casa de las más chiquita que también quedó sola (Chola, mujer, 82 años).

emociones sentidas a partir de la muerte

(...) Después tengo una amiga que tiene 89 años que me cuenta cada cosa y se mata de risa, me llama los domingos y a veces una hora y media que estamos hablando. Ella tiene 89 años y es una piba de 20 me deja con una inyección de optimismo (Irma, mujer, 80 años).

las condiciones repentinas del deceso.

del cónyuge. Muchas de las referencias ponen de manifiesto como ha sido tramitado el duelo. Las referencias sobre el duelo en las personas entrevistadas tuvieron que ver con el tipo de vínculo emocional y las circunstancias de la muerte, ya sea porque hubo una imposibilidad de estar cerca y de despedirse de la persona fallecida o, por El duelo supone un proceso que, según las diversas perspectivas, puede definirse como una sucesión de fases o tareas (Parkes, 1998; Worden, 1997). Siguiendo el esquema de Worden (1997) el duelo implica enfrentarse a una serie de tareas que permiten reconstruir un mundo sin la persona, la función o el objeto perdido. La

Algunos de los varones viudos valoraron

primera de esas tareas consiste en la

mucho los contactos con amigos con los

aceptación de la pérdida, esos primeros

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momentos están dominados por el shock que provoca la noticia difícil de asimilar.

19

Dante (varón de 80 años) describe el impacto y la dificultad de elaborar la muerte de su compañera, el momento de shock y el ulterior sentimiento de soledad. (…) ando mal porque hace treinta días que murió mi señora entonces ando medio emotivo. (…) en general tengo una cierta predisposición a borrar todos los recuerdos negativos, debe ser un mecanismo defensivo ¿no? (…) Y si vivo mucho, esto de mi señora me va a joder [sic] sesenta y nueve años fue muy, esta bien, el pucho yo se lo decía (…) yo lo de mi señora no lo tengo… lo tengo ahí. Los primeros días no lo podía aceptar, no podía creer que no estaba. Después me metí, lo tuve que ayudar a mi hermano entonces volví al estudio. Bueno, la política, todo, pero, hay momentos que por ahí me quiebro, de la manera más inesperada, no me gusta en general tocar el tema y sí, me siento solo (Dante, varón, 80 años). 20 En el caso de Chola (mujer de 82 años) se advierte la importancia que tuvo el diálogo y el contacto físico con su esposo pocos días antes de su fallecimiento. Ella pudo expresar sus sentimientos, decirle a su marido que lo quería y abrazarlo. Esa puesta en acto de la despedida fue decisiva en el proceso de duelo.

E: Claro, usted se sintió que le pudo decir algo. CH: Sí, que lo quería, yo lo cuidaba él estaba en terapia pero yo me iba desde la mañana hasta que me echaban. Hasta la noche, yo me quedaba en el pasillo, iba allá, pero no me venía. Digo qué hago en casa sola. Y entonces, mirá te voy a contar algo: él estaba en terapia le habían hecho un estudio y como había pasado tanto miedo cuando lo vi que se descomponía viste no quería entrar a verlo (…) Bueno, entro, cuando falta más o menos un metro para llegar mi marido abre los ojos y dice ¡Hola mi amor! Y yo viste fui corriendo lo abracé y le dije: ‘¿cómo estás?’ ‘Estoy bien, me hicieron un montón de cosas’ ¿Te das cuenta? estaba dormido, fue la fuerza del cariño y así nos abrazamos bueno, fue algo…y estuve un ratito hasta que me echaron y después salí y digo más o menos. Salí y dije: ‘parece que está mejor’ pero viste como es eso. Le tocó… (Chola, mujer, 82 años). Por último, se observó una recurrencia sobre el sentimiento de soledad en las personas viudas. La experiencia de soledad subjetiva se define como ausencia de afecto y compañía de la persona deseada, situación que provoca malestar y angustia y que se diferencia de la soledad

19

Las siguientes tareas propuestas por Worden (1997) suponen poder dar sentido a los sentimientos asociados a esa pérdida, previendo la posibilidad de integrarlos a la propia biografía. Luego se trata de poder resolver las tareas antes realizadas por la persona fallecida y, por último, se espera una reorientación de los sentimientos dirigidos hacia la persona. 20 En el caso de Dante, al momento de la entrevista, llevaba apenas un mes de haber perdido a su esposa.

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social o aislamiento, definido como la

de vida. Ello implica siempre un ajuste

ausencia objetiva de compañía (Lehr,

funcional de las redes de apoyo comunes y

1980). Este es el caso, por ejemplo, de

de las actividades compartidas pero, sobre

Dora (mujer de 85 años) y de Julio (varón

todo, supone un gran sentimiento de

de 84 años).

soledad. Coincidentemente con estos

(...) yo estoy enferma de los huesos, tengo artrosis en los huesos. Le decía que yo me levantaba de noche, yo ando caminando de noche, le digo acá,….entonces mi hijo me compró una estufa (se emociona hasta las lágrimas llora). E: ¿Por qué se pone mal? Qué le pasa, qué siente. D: Porque estoy sola… (Dora, mujer, 85 años).

hallazgos, los resultados de la

(…) Ahora va a hacer dos años que se fue mi compañera de toda la vida. Entonces desde el momento en que me quedé solo empecé a hacer esto [gimnasia]. Y siento tanto que se me haya ido la compañera pero bue… (Julio, varón, 84 años).

es así ¿Cómo morigerar el impacto de la

Esta distinción se vuelve interesante a la

abandono de actividades o disminución de

luz de los relatos porque, en efecto,

ingresos. Por otro lado, observamos en la

muchas de las personas entrevistadas

literatura que muchas veces la viudez es

disponían de una red de contención

conceptualizada como una transición

familiar que no alcanzaba a llenar ese

“típica” y esperable entre la tercera y la

vacío cotidiano originado a partir de la

cuarta edad. Así, la viudez puede ser

muerte del cónyuge.

pensada como ambas cosas a la vez. Esto

investigación CEVI21 muestran que la pérdida del cónyuge es la muerte más nombrada en la cohorte de 75 a 84 años (Najjar, 2011). Ahora bien, luego de este recorrido bien vale plantearse algunos interrogantes y esbozar algunas respuestas. Si según los datos sociodemográficos la viudez es un hecho “esperable” ¿se trata de una transición o de un punto de inflexión?; Y si viudez considerando el aumento de la población envejecida? Por un lado, abonando a la perspectiva del curso de la vida, vimos que la viudez constituye un punto de inflexión en las trayectorias biográficas generando cambios concretos como mudanzas,

es, que constituye en términos Discusión y conclusiones Interpretada de diversas maneras la pérdida del cónyuge provoca en todos los casos un cambio radical en las condiciones

demográficos una transición “esperable” pero que impacta en las biografías provocando verdaderos giros en las trayectorias. De modo que, los tres ejes analizados: vida cotidiana, apoyo social y

21

El estudio internacional CEVI (Cambios y eventos en el curso de la vida) compara actualmente 9 países Europeos y de América Latina. Para más detalles ver: http://www2.supsi.ch/cms/cevi/

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emociones dan cuenta de una

riesgo e incrementar los padecimientos

reconfiguración objetiva y subjetiva

psíquicos y físicos de los mayores.

flagrante en la vida de las personas viudas. Podemos concluir que la viudez en la vejez incrementa la vulnerabilidad de las

Referencias

22

personas mayores siendo que sus repercusiones atañen a diferentes planos de la vida cotidiana y del sí mismo. Las mujeres de sectores bajos son las más vulnerables desde el punto de vista social y económico. En tanto que el reajuste funcional y emocional es transversal a ambos géneros. Las redes familiares primarias y secundarias parecen ser los recursos fundamentales con los que cuentan las personas viudas. En muchos casos los amigos brindan apoyo y contención emocional que resulta muy importante. Pensemos que las modificaciones en las configuraciones familiares repercuten en el tipo de apoyo ofrecido en el largo plazo. A su vez, las familias poco pueden hacer frente al sentimiento subjetivo de soledad. Desde el nivel macro, de acuerdo al panorama demográfico que augura un envejecimiento poblacional sostenido, se vuelve imperioso pensar en estrategias que puedan complementar los apoyos recibidos por las personas viudas. Ello i m p l i c a r í a o f r e c e r, p o r e j e m p l o , orientaciones prácticas sobre cómo reorganizar el hogar y el tiempo sin descuidar la propia salud. Además, evitar el aislamiento en el proceso de duelo porque puede convertirse en un factor de

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22

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REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW

AGOSTO 2016

ENVELHECIMENTO: UM DESAFIO PARA O SÉCULO XXI AGING: A CHALLENGE FOR THE XXI CENTURY ENVEJECIMIENTO: UN RETO PARA EL SIGLO XXI

Autores ZAIDA AZEREDO1 1

PhD, MsC, MD, Porto, Portugal

Corresponding Author: zaida.reci@gmail.com

Resumo O aumento da longevidade e o envelhecimento demográfico são conquistas da Humanidade que se iniciaram no século XX e que se vão acentuar no século XXI. A este último século pôr-se-ão desafios importantes que têm que ser pensados e reflectidos para que a Humanidade possa dar uma resposta atempada e adequada. A autora faz, uma análise reflexiva daqueles desafios que ela pensa serem os mais importantes a serem respondidos no século XXI Palavras chave : Idosos, Envelhecimento , Desafios do envelhecimento no Século XXI

Abstract Ageing and its consequences are rather new in the Humanity history, that needs answers The author analyses some of the ageing challenges for XXI century which she think is important to give accurate answers. Key words : Elderly, Ageing , Ageing challenges in XXI century

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Introdução O envelhecimento é a demonstração da evolução da humanidade, à qual, o avanço científico e, as mudanças sociais ao longo dos tempos não lhe são alheias. (1) (2) (3) (4) Porém, com este envelhecimento, surgem

envelhecimento humano e suas consequências, mas também sobre os desafios por ele desencadeados que a Humanidade e sobretudo a Europa (na qual se inclui Portugal) vão ter que enfrentar no século XXI. Desenvolvimento

novos desafios não só para a ciência, mas

Quando se fala de envelhecimento e de

também para o indivíduo, para a sociedade

suas causas e consequências, há que

e para o mundo.

saber distinguir entre envelhecimento

Embora com algumas características diferentes, todos os países (desenvolvidos

individual (biológico, psíquico ou social) e envelhecimento demográfico.

ou em vias de desenvolvimento) têm que

Ao envelhecimento individual está

unir esforços no sentido de encontrarem

subjacente a ideia de longevidade do

novas soluções para sociedades

indivíduo. É esta longevidade, cada vez

atualmente já envelhecidas, e também

mais longa, que levanta a nível biológico,

para aquelas que estão a caminho de o

psíquico e social questões cujas respostas

serem.

urgentes são grandes desafios, para o

O desafio emergente do envelhecimento

século XXI.

humano, tem características diferentes,

Em qualquer sociedade sempre houve

consoante nos centramos no

longevos, porém com uma vida tão longa

envelhecimento individual ou no

(em que um número em crescendo

envelhecimento demográfico, porém, estes

ultrapassa os 100 anos de idade), e, em

dois tipos de envelhecimento não estão

tão grande número, é algo inédito na

totalmente dissociados, nas suas

Humanidade. Por não haver precedentes,

consequências.

exige da Ciência uma rápida resposta para

Assim, ao atuar-se positivamente sobre o envelhecimento individual, podemos estar a agravar um envelhecimento demográfico,

que se possam evitar consequências psico-biológicas e sociais negativas e/ou irreversíveis.

mas certamente estamos a minimizar

Sabe-se que o desenvolvimento humano

algumas das suas consequências

se faz ao longo de todo o ciclo vital, porém

negativas, nomeadamente a nível socio-

não de forma uniforme. Assim, as nossas

económico.

capacidades, sejam de que natureza for,

Objectivo

desenvolvem-se sobretudo até aos 30-40 anos, entrando depois numa fase de

No presente trabalho pretende-se fazer

estabilidade (em planalto) que culmina a

uma reflexão, não só sobre o

partir dos 60 com uma fase de declínio.

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Porém, devido a estudos sobre o aumento

A resposta adequada ao desafio,

da longevidade, hoje sabe-se que, quando

supracitado, deve ser feita ao longo da

existe estimulação este desenvolvimento

vida, muito antes de se ser idoso. Com ela

positivo pode continuar por mais alguns

conseguir-se-á dissociar o ser idoso

anos ou reverter parcialmente o declínio,

(idade cronológica e socialmente

atrasando-se assim, tanto a fase de

estabelecida) da de se ser velho (idade

planalto, como a fase de declínio,

funcional caracterizada por já haver

mantendo-se a pessoa idosa em plena

incapacidades / dependência). Estes dois

actividade por muitos mais anos. (5)

tipos de idades praticamente coexistiam

A nível do envelhecimento individual, o primeiro desafio que se coloca para o seculo XXI, é adiar o mais tempo possível, incapacidades que muitas vezes culminam

nos anos 50-60 do século XX, mas atualmente estão bem dissociados. Nesta sequência surge, então, o segundo desafio, que é a imagem social dos idosos.

em dependência e perda de autonomia. Ao

Crenças e estereótipos mudam a uma

adiar-se estas incapacidades

velocidade mais lenta do que muda o

conseguiremos uma população mais

indivíduo e a própria sociedade. Nas

saudável e mais ativa, economicamente

primeiras décadas da segunda metade do

mais produtiva e sobretudo a sentir-se

século XX, o idoso é visto como uma

bem.

pessoa com grandes incapacidades, com

A grande resposta a este desafio é a prevenção da doença e a promoção da saúde. Mas de que forma?

tendência para o sedentarismo/ imobilidade, bem como para a dependência e perda de autonomia, a necessitar de cuidados de alguém. É

Prevenir o que é prevenível, isto é,

também visto como uma pessoa

prevenir doenças infeciosas e/ ou cronico-

consumidora (de serviços e cuidados) e

degenerativas, acidentes (ocupacionais,

não como uma pessoa capaz de produzir.

rodoviários, quedas, outros) que possam

Com a atual dissociação entre idoso e

culminar em incapacidades permanentes

velho a realidade é bem diferente,

precoces e em co-morbilidades e

surgindo, um grande desafio para o século

multimorbilidades. (6) (7)

XXI que é combater estereótipos que constituam verdadeiros constrangimentos

Promover a saúde individual e coletiva que já se possui, isto é, estimular comportamentos salutogeneos, como sejam os ligados a atividades física e cognitiva (interligadas entre si, por ambas estimularem os neurotransmissores), uma nutrição adequada e uma boa participação social. (6) (7) JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

à participação do idoso nas várias atividades sociais. Há, assim, necessidade de congregar esforços na mudança da imagem social do idoso, para que este seja visto como um idoso ativo. Nesta mudança de atitudes devem estar envolvidos os diferentes setores de uma comunidade bem como os mass-media e a multimédia,

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mas o principal papel cabe ao próprio

Esta situação para a qual os profissionais

idoso que não deve olhar só para o

e instituições sociais e de saúde

passado, mas, no presente, preparar o

portugueses ainda não estão totalmente

futuro, acompanhando a evolução de

despertos, é muitas vezes acompanhada

novas tecnologias e novas formas de

de outra que é a sarcopenia. Estas duas

adquirir conhecimentos e provar que tem

situações exigem cuidados especiais não

capacidade para acompanhar a velocidade

só de prevenção, mas também de

a que, no mundo, a informação hoje se

vigilância. Por serem situações

processa. A participação do idoso na

relativamente recentes que estão a ganhar

sociedade é essencial, não só para o seu

grandes proporções devido ao aumento da

bem-estar físico e psíquico, mas também

longevidade e ao envelhecimento do topo

para evitar a sua exclusão social. (7)

da pirâmide etária (sobretudo à custa de

Para o século XXI, a nível do envelhecimento individual ainda surgem dois grandes desafios que são duas situações clínicas com repercussões psíquicas e sociais e que são a fragilidade do idoso (sobretudo do grande idoso) e a sarcopenia. Esta última pode surgir em qualquer idade, mas é muito mais frequente nos grandes idosos. (8) (9) (10)

grandes idosos), estão a merecer a atenção de cientistas / investigadores que juntam esforços para, em equipas multidisciplinares e transdisciplinares, conseguirem rapidamente perceber a sua prevalência e a sua etiologia, desenvolvendo soluções que minimizem o seu efeito. É também uma luta contra o tempo pois a velocidade a que hoje se envelhece demograficamente, nada tem a

Efetivamente o envelhecimento fisiológico

ver com a velocidade a que se envelhecia

inicia-se com a nossa conceção, sendo um

no passado, constituindo, também isto, um

processo contínuo que se conclui com a

desafio para o século XXI.

morte.

O envelhecimento demográfico que tem

Com o aumento da longevidade surge uma

por base o aumento da longevidade e da

nova figura que é o idoso fragilizado, isto

proporção de idosos e alterações sociais,

é, aquele que embora possa não ter

nomeadamente no núcleo base que é a

qualquer patologia vive numa harmonia

família (diminuição da taxa de fertilidade),

instável com o meio que o rodeia, por as

levanta questões únicas na história da

suas capacidades de adaptação estarem

humanidade, cujas respostas representam

praticamente esgotadas, podendo, por tal

grandes desafios para o século XXI. (1)

motivo, a qualquer momento perder a sua independência/ autonomia, surgindo, então, uma cascata de patologias que conduzem à morte ou à institucionalização. (8) (9) JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Algumas destas questões surgiram com o envelhecimento individual, porém outras resultam essencialmente do aumento na sociedade, da proporção de idosos e grandes idosos e da transição demográfica

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em marcha em todo o mundo. Assim talvez os desafios para o século XXI resultantes do envelhecimento demográfico mais importantes, sejam:

transdisciplinares e multissectoriais. Assim o trabalho transdisciplinar em Geriatria e Gerontologia pode ser entendido também como um desafio do século XXI que se associa aos cuidados a prestar pela

As doenças cronico-degenerativas ,

sociedade, a tão grande proporção (em

nomeadamente a nível do SNC , a

crescendo) de idosos e de grande idosos,

multimorbilidade e a co-morbilidade, para

numa altura em que a população ativa é

além da prevalência da fragilidade e pré-

toda ela necessária para trabalhar estando

fragilidade (1)

também as gerações mais jovens

Com a longevidade do indivíduo e o

proporcionalmente a diminuir.

avanço da ciência, estamos a assistir ao

As mudanças familiares, com diminuição

aparecimento de complicações ( co-

de elementos por agregado sobretudo de

morbilidade ) e a formas graves de

gerações mais novas, contrapondo-se ao

doenças crónicas , quase inexistentes nos

maior número de elementos para cuidar

seculos anteriores, uma vez que se morria

(muitos deles a não co-habitarem e

precocemente destas doenças.

geograficamente distantes), levanta

A longevidade também trouxe uma multimorbilidade em idades elevadas que obriga os Profissionais de saúde e outros a adquirir novos conhecimentos, para que possam lidar da melhor forma com as situações patológicas que se lhe deparam,

questões de como cuidar das gerações mais velhas. Estas questões transformamse, também, em desafios para o século XXI, como sejam a forma como deve ser feita pela sociedade a complementaridade da família no cuidar. (10) (11)

não devendo faltar, nas decisões a serem

Surge ainda o desafio para encontrar

tomadas, o bom senso. Estas situações

novas formas de organização social e

obrigam ainda a um grande dispêndio de

novos modelos de institucionalização na

recursos económicos, de serviços de

comunidade que permitam com menos

saúde e sociais, e ao envolvimento de

recursos (sobretudo humanos e

outros sectores.

económicos) cuidar em simultâneo de mais

Há também uma mudança de paradigma no trabalho a ser desenvolvido pelos cuidadores formais, pois durante anos eles

pessoas, sem contudo, diminuir o seu bem-estar e a sua qualidade de vida. (12) (13)

trabalharam frequentemente isolados,

Um outro grande desafio demográfico para

porém hoje a complexidade das situações

o século XXI é o económico. Com a

e da saúde não permite isso devendo

diminuição progressiva da população ativa

trabalhar-se em equipas multidisciplinares

e a diminuição de recursos económicos,

e cada vez mais em equipas

bem como o aumento das despesas com a saúde e o social, há necessidade de

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reorganizar a sociedade, o trabalho, o

O envolvimento de todas as gerações, com

lazer e as pensões/ reformas, bem como o

mutua compreensão (outro grande desafio

estado de providência. A procura de

para o século XXI) é essencial para facilitar

alternativas eficazes talvez seja o maior

a resolução destes desafios e de outros

desafio do século XXI, pois pode colidir

não mencionados neste trabalho. (14)

com situações já adquiridas, sendo necessário um acompanhamento

Conclusões

informativo, com informação fidedigna e

O envelhecimento demográfico verificado

minimizar os efeitos colaterais no bem-

em quase todo o mundo já no século XX, e

estar das populações para que não

com continuidade neste século, vai

danifique crenças no futuro.

levantando questões que se transformam

Se as decisões tomadas interferirem com a crença no futuro, corre-se o risco de todo o

em grandes desafios para o século XXI e a que urge dar respostas/ soluções.(15)

trabalho desenvolvido ao longo da vida

Neste artigo foram afloradas algumas das

com uma população ser negativamente

principais preocupações atuais, havendo

afetado. Representa, assim, um grande

um entrecruzamento entre aquelas que

desafio para os decisores de políticas

surgem de um envelhecimento individual e

sociais e de saúde.

aquelas que provêm de um

Sendo grande parte destes desafios, novos na sua dimensão ou na forma como se apresentam, há necessidade de serem

envelhecimento demográfico, tornando-se, assim, indissociáveis, apesar das suas especificidades.

acompanhados de investigação fidedigna

Só a compreensão destes dois fenómenos,

que não deve ser feita apenas por e para

de suas causas e da dimensão das suas

académicos, mas deve também envolver

consequências, poderá minimizar os seus

outros profissionais e ter uma divulgação

efeitos adversos e transformar alguns, em

universal para que os resultados possam

benefício de uma sociedade envelhecida

ser a base de um avanço tecnológico mais

sim, mas com bem-estar e qualidade de

eficaz e mais acelerado, capaz de dar

vida. (16)

respostas à Humanidade, de forma atempada. A problemática do envelhecimento individual e demográfico é universal. Os desafios para o século XXI são também

Nenhum setor da sociedade pode estar afastado desta realidade! Os desafios para o século XXI são muitos e de grandes proporções, sendo talvez os

universais. Quanto maior for a entre-ajuda

mais importantes: a prevalência das

e complementaridade intersectorial e inter-

doenças cronico-degenerativas, a co-

países maior será a possibilidade de se o b ter atempadamente respostas e soluções. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

morbilidade, a multi-morbilidade, a fragilidade, a complexidade do cuidar em instituições e no domicílio, a cumplicidade/ Volume 5. Edição 2


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complementaridade inter-geracional, o trabalho/ produtividade, a economia e a

8. De Lepeleire,I; Ilife,S; Mann,E; Degryse,JM ( 2009) – Frailty: an emerging concept for

organização social.

General Practice Br J Gen Pract 59(562): e177-

O envelhecimento ativo, não pode estar confinado apenas a uma geração devendo

e182 (DO:2299/bjgp09X420653 9. Azeredo,Z (2013). O Idoso fragilizado e a

atravessar todas, isto é, a sua promoção

prevenção da fragilidade. Revista Ibero-

deve ser feita ao longo do tempo, de

Americana de Gerontologia: 2; 70-78

forma, a que possamos assistir na primeira metade do século XXI a alguns benefícios dessa intervenção, preparando-nos para novos desafios que entretanto surgirão

10. Azeredo,Z (2014). A Família do idoso Fragilizado in Claudia Moura (pg 169-177) Idadismo – prioridade na construção social da idade Euedito

com a continuidade do processo de 11. Azeredo Z. (2008). A família como núcleo de

envelhecimento.

mudança cultural in Jorge VO, Macedo JMC. Referências bibliográficas

Crenças religiões e poderes: dos indivíduos às

1. Azeredo Z ( 2011). O Idoso como um todo Viseu Psicosoma 2. Rosa MJV. (1993) O desafio social do envelhecimento demográfico Análise Social; 223 (3): 679-689

2008.pp 113-120 12. Nogueira A; Azeredo Z (2012) Cuidados no domicílio: ambiente e tomada de decisão ( pp 327-330) in Alves,J e Neto,A ( 2012) – Decisão: percursos e contextos Porto JSAMED, Medicina

3 – Rosa MJV. (1996) O envelhecimento demográfico: proposta de reflexão sobre curso dos factos

sociabilidades Sta Mª da Feira Ed Afrontamento

o

Análise Social;31:1183-1198

e Formação Lda 13. Azeredo, Z (2009). Cuidados continuados no domicílio: cuidar o utente no seu habitat

4 - Rosa MJV.( 2012) O envelhecimento da Sociedade Portuguesa

-

Hospitalidade 209; 731; 284; 25-28

Lisboa Fundação

Francisco Manuel dos Santos Relógio d’Água

14. Azeredo,Z (2012) A Interacção geracional

Editores

como uma estratégia de envelhecimento activo

5. Paúl C. & Fonseca A. (2001). Psicologia da saúde. Lisboa: Climepsi Editores. 6. Nogueira, A;

(pp93-100) in Moura, C (2012) Processos e estratégias do envelhecimento: intervenção para um envelhecimento activo Porto Euedito

Azeredo,Z (2012) Tomada de

decisão na saúde e na doença : duas faces da mesma situação ( pp321-326)

in Alves,J e

Neto,A ( 2012) – Decisão: percursos e contextos Porto JSAMED, Medicina e Formação Lda 7. Azeredo,Z; Nogueira ,A ( 2012) – A Educação

15.Bindé, J ( Coord) ( 2007). Rumo à sociedade do conhecimento: relatório mundial da Unesco Lisboa Instituto Piaget 16. Ribeiro O & Paul C (2011). Manual do Envelhecimento activo Lidel Porto

para a saúde na tomada de decisão ( pp337-340)

in Alves,J e Neto,A ( 2012) –

Decisão: percursos e contextos Porto JSAMED, Medicina e Formação Lda JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Pereira, F. et al (2016) Multidimensional assessment study of the elderly living alone in the county of Alfândega da Fé –Northeast of Portugal, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 27 -39

ARTIGO ORIGINAL/ ORIGINAL ARTICLE

AGOSTO 2016

Estudo de avaliação multidimensional dos idosos a viver sozinhos no concelho de Alfândega da Fé Multidimensional assessment study of the elderly living alone in the county of Alfândega da Fé –Northeast of Portugal Estudio de evaluación multidimensional de los ancianos que viven solos en el condado de Alfândega da Fé Autores Fernando Pereira1 ; Berta Nunes2 ; Conceição Pereira3 ; Ana Azevedo4 ; Diogo Raimundo5 ; Armanda Vieira6 ; Helder Fernandes7 1

Instituto Politécnico de Bragança; Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Faculdade de Psicologia e Ciências da

Educação da Universidade do Porto; Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso da Escola Superior de Saúde de Bragança, Portugal; 2,3,4,5,6 Câmara

Municipal de Alfândega da Fé; 7 Instituto Politécnico de Bragança; Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso da Escola

Superior de Saúde de Bragança. Corresponding Author:

Resumo Em Portugal a taxa de idosos que vive na comunidade é cerca de 96%. A taxa de idosos que vivem sós é cerca de 16%. Importa conhecer a situação destes idosos para desenvolver estratégias que visem o seu bem-estar. O estudo teve como objetivo efetuar a avaliação multidimensional dos idosos que vivem sós no concelho de Alfândega da Fé (dados sociodemográficos; situação socioeconómica; situação habitacional; avaliação funcional; risco geriátrico; avaliação de violência e maus-tratos). O concelho de Alfandega da Fé tem 1661 idosos (INE, 2012) destes 260 vivem sozinhos. A amostra deste estudo é de 208 idosos. O instrumento de avaliação foi aplicado através de entrevista presencial. O tratamento estatístico dos dados inclui: indicadores de estatística descritiva (médias e frequências) de todas as variáveis estudadas; em função dos dados obtidos, foi considerado pertinente fazer um estudo do nível de depressão geriátrica, da avaliação do estado mental e do nível de dependência segundo o género e o grupo etário (jovens idosos, idosos e muito idosos) do idoso. O estudo confirma a importâncias dos familiares, vizinhos e amigos no enquadramento social dos idosos. Foram identificados níveis elevados de alteração da saúde mental (depressão sobretudo) e níveis igualmente elevados de dependência. De uma forma geral as mulheres idosas apresentam indicadores mais desfavoráveis. Palavras-Chave: Idosos a viver sozinhos, avaliação multidimensional, indicadores sociais e de saúde.

Abstract In Portugal the rate of elderly living in the community is about 96%. The rate of older people living alone is about 20%. Therefore it is important to know the situation of the elderly in order to develop strategies to improve their support and well-being. The aim of the study was to carry out the multidimensional assessment of the elderly living alone in the county of Alfândega da Fé – Northeast of Portugal: demographic data; socio-economic situation; housing; functional evaluation; geriatric risk; assessment on violence and physical abuse. The county of Alfândega da Fé has 1661 elderly people (INE, 2012), and about 16% (260) live alone. The sample is 208 elderly. The inquiry was applied by a direct interview. Statistical analysis includes descriptive and inferential statistics. The geriatric depression, mental state and dependency level were studied according to gender and age. The study confirms the importance of family, neighbors and friends for the support of the elderly. High levels of mental disorders were identified (depression mostly) and also high levels of dependency. In general, women have more unfavorable indicators. Key Words: Seniors living alone, multidimensional assessment, social and health indicators.

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Introdução

revelam o envelhecimento populacional. O

A avaliação multidimensional é essencial para a adequada prestação de cuidados de saúde e cuidados gerontológicos. A avaliação multidimensional, define-se como um método de diagnóstico multidimensional, frequentemente

envelhecimento é mais intenso em Portugal do que na UE28 e é mais intenso ainda em TTM. Segundo as projeções demográficas do Eurostat este cenário de envelhecimento agravar-se-á nas próximas décadas.

interdisciplinar, preocupa-se em detetar

Em Portugal a taxa de idosos que vive na

problemas psicossociais e funcionais da

comunidade é cerca de 96%. A taxa de

pessoa idosa, com a finalidade de

idosos que vivem sós é cerca de 16%.

incrementar

de

Importa conhecer a situação destes idosos

acompanhamento a longo prazo, assertivo

para desenvolver estratégias que visem o

e efetivo (Netto & Brito, 2001; Sirena,

seu bem-estar.

um

plano

2002).

Este cenário demográfico levanta a

Portugal e a maioria dos países da União

necessidades de reorganização dos

Europeia enfrentam hoje um acentuado

sistemas de apoio aos idosos em Portugal

envelhecimento demográfico. O quadro 1

(Pereira, 2014) o que, por sua vez, para as

resume os indicadores gerais relativos ao

decisões serem efetivas, precisa de se

envelhecimento demográfico

basear em informação rigorosa sobre a

respetivamente na UE28, Portugal e Terras

situação de saúde, social e económica dos

de Trás-os-Montes (TTM) (Prodata, 2014).

idosos. A avaliação multidimensional dos

Em todos os níveis territoriais

idosos é um instrumento privilegiado para

apresentados os indicadores demográficos

esse fim. Alguns estudos desta natureza

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estão disponíveis quer em Portugal quer

variáveis estudadas; em função dos dados

noutros países (Fontes, Botelho, &

obtidos, foi considerado pertinente fazer

Fernandes, 2009; R. J J Gobbens & van

um estudo do nível de depressão

Assen, 2014; Robbert J J Gobbens, Luijkx,

geriátrica, da avaliação do estado mental e

& van Assen, 2013; Pereira et al., 2015;

do nível de dependência segundo o género

Rodrigues et al., 2014; Santangelo et al.,

e o grupo etário (jovens idosos, idosos e

2011, 2012; Vicente & Santos, 2013), entre

muito idosos) do idoso. Dado que as

outros.

variáveis escalares correspondentes aos indicadores referidos não respeitavam a

Método O estudo teve como objetivo efetuar a avaliação multidimensional dos idosos que vivem sós no concelho de Alfândega da Fé (dados sociodemográficos; situação

condição de normalidade, a relação entre variáveis foi estudada com recurso ao teste de Kruskall-Wallis (KW) e ao estudo de associação de variáveis com recurso, ao cálculo dos resíduos ajustados (RAj). Resultados

socioeconómica; situação habitacional; avaliação funcional; risco geriátrico;

Situação dos idosos que vivem sós no

avaliação de violência e maus-tratos).

concelho de Alfandega da Fé

O concelho de Alfandega da Fé tem 1661 idosos (INE, 2012) destes 260 vivem sozinhos. A amostra deste estudo é de 208 idosos. O tratamento estatístico dos dados inclui: indicadores de estatística descritiva (médias e frequências) de todas as

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O concelho de Alfandega da Fé tem 1661 idosos (INE, 2012) destes 260 vivem sozinhos. Neste ponto apresenta-se os aspetos gerais da situação dos idosos que vivem sós no concelho de Alfândega da Fé. Os dados sociodemográficos estão sumariados no Quadro 1.

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No que respeita aos dados

de Alfandega da Fé e, cerca de 66%, vive

sociodemográficos, a idade média dos

na própria freguesia de que é natural.

idosos estudados é de 77 anos, mais de 80% são viúvos, predominam as mulheres (80%). Cerca de 97% dos idosos possui no máximo o ensino primário completo. Todos os idosos do estudo nasceram no concelho

Relativamente ao enquadramento social e familiar, para 80% dos idosos os filhos são os seus familiares mais diretos, sendo que em 34% dos casos os filhos residem na mesma freguesia do idoso e para cerca de 50% ou vivem na mesma freguesia ou no

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concelho. Para 95% dos idosos a relação

ou sem inferiores ao valor da pensão

com as pessoas que vivem mais próximo

social.

de si é no mínimo boa. Em caso de necessidade de ajuda 80% dos idosos recorre, normalmente aos vizinhos, amigos e filhos. Assim compreende-se que 81% dos idosos diz ter apoio de rede social dos familiares e vizinhos, 8% dos idosos recebe apoio domiciliário de natureza institucional ou voluntário, 12% não tem qualquer apoio.

Relativamente à habitação em 94% dos casos ela está localizada na povoação, praticamente todas possuem infraestruturas e comodidades básicas como: eletricidade, gás, água canalizada, fogão, água quente, televisor, telefone; 78% possuem aquecimento e 86% possui máquina de lavar roupa; ar condicionado existe apenas em 5% das casas. Apesar

No que concerne à situação económica,

disto 80% das casas tem barreiras

12% tem um rendimento superior ao

arquitetónicas que dificultam a mobilidade.

salário mínimo, 85% aufere um rendimento entre a pensão social e o salário mínimo, os restantes 3% ou não tem rendimentos

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No que respeita aos parâmetros de saúde estudados verifica-se o seguinte (Quadro 2).

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Relativamente à saúde mental, apuramos

deixou de fazer algumas das suas

que, cerca de 39% dos idosos apresenta

atividades habituais por causa desse

sintomas de depressão ligeira e cerca de

medo. Por fim, refira-se que os idosos da

10% sintomas de depressão grave e que

amostra tomam em média, diariamente,

cerca de 19% dos idosos apresenta

4,74 medicamentos diferentes (variando de

demência ligeira e cerca de 6% apresenta

0 a 19) facto que indicia situações

demência grave, segundo os critérios da

evidentes de polimedicação.

Escala de demência (SPMSQ). No que concerne à autonomia do idoso para a realizar as atividades instrumentais de vida diária necessárias à vida independente na comunidade, medidas pela escala de Lawton, verifica-se que cerca de 49% dos idosos apresenta pelo menos dependência ligeira, sendo eu dentro destes cerca de

Foram também estudadas situações de violência e maus-tratos aos idosos, tendose identificado apenas 3 casos de situações em que alguém gritou com o idoso e uma situação de usurpação de uso de dinheiro do idoso sem o consentimento deste.

11% apresenta dependência moderada e

Efeito do género e grupo etário na

cerca de 7% dependência grave ou total.

situação dos idosos

Relativamente à saúde física verificamos que sensivelmente 50% dos idosos diz ter

O estudo dos principais indicadores de

problemas de audição, 56% problemas de

saúde dos idosos da amostra evidenciou

visão, cerca de 40 refere distúrbios do

diferenças, com significado estatístico,

sono. Além disto, cerca de 25% dos idosos

segundo o género e o grupo etário

refere ter tido uma queda nos últimos 6

(Quadro 3).

meses, 87% tem medo de cair e 66%

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O estudo das médias permite verificar

respetivas categorias de cada variável.

algumas diferenças relativas ao nível de

Optou-se pelo estudo das associações

depressão geriátrica, demência,

parciais (RAJ) dado que nem sempre a

dependência e número de medicamentos

distribuição dos dados pelas diferentes

tomados pelos idosos, segundo o género e

categorias das variáveis permitia a leitura

o estrato etário.

das medidas de associação total entre

No que concerne à depressão e à

variáveis.

demência são mais acentuadas nas

Relativamente ao género, como se pode

mulheres do que nos homens e afeta mais

observar nos quadros 4, existem

o grupo etário dos idosos, embora, em

diferenças, algumas com significado

ambos os casos, a diferença não tenha

estatístico (RAj > | Quanto à depressão

significado estatístico (p=0,525 e p=0,120

geriátrica, a situação de depressão está

para a depressão e p=0,265 e p=0,058

associada ao género feminino,

para a demência, respetivamente).

particularmente no caso da depressão

Relativamente à autonomia para a realização das atividades instrumentais de vida dos idosos a viver na comunidade verifica-se que as mulheres são mais independentes (autónomas) do que os homens, tendo esta diferença significado estatístico (p<0,001). Verifica-se ainda, naturalmente, que o nível de dependência aumenta com a idade tendo esta diferença significado estatístico (p=0,012).

ligeira, embora sem significado estatístico (RAj = 1,7). No que respeita ao grau de demência, não há diferenças sensíveis quanto ao género dos idosos. No que concerne à autonomia para a realização das atividades instrumentais de vida, situação de independente está associada, com significado estatístico, ao género feminino (RA j= 3,2) e as situações de maior dependência estão associadas ao género masculino, sendo que no caso, do

Por último, verifica-se que as mulheres

grau de dependência moderada essa

tomam, diariamente, em média, quase o

associação tem significado estatístico (RAj

dobro de medicamentos diferentes em

= 2,8). Por último, quanto ao número de

comparação com os homens, tendo esta

medicamentos diferentes tomados, em

diferença significado estatístico (p<0,001).

relação ao género, verifica-se que são as

No que respeita ao grupo etário é o grupo

mulheres que mais frequentemente

intermédio dos idosos que toma mais

incorrem em situação de polimedicação

medicamentos mas a diferença entre

entre 5 a 8 ou mais de 9 medicamentos

grupos etários não tem significado

diferentes tomados diariamente, em ambos

estatístico (p=0,135).

os casos com significado estatístico (RAJ = 2,4), em oposição, os homens,

A leitura dos dados precedentes aconselha

predominantemente tomam até 4

a uma análise mais fina, designadamente

medicamentos diferentes por dia (RAJ =

a partir do estudo das frequências das

3,6).

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Passando ao efeito do grupo etário

que se encontra associada (com

(quadro 5), verifica-se o seguinte. Quanto

significado estatístico) ao grupo etário dos

à depressão, verifica-se que a situação

muito idosos (RAj=2,0) e uma associação

sem depressão está mais associada ao

entre a situação de normalidade e os

grupo etário dos jovens idosos (RAj=1,5),

jovens idosos e entre a demência grave e

embora, em ambos os casos sem

o grupo etário intermédio dos idosos,

significado estatístico (RAj <|1,96|) como já

ambos os casos com RAj=1,8, ou seja

estava indiciado pelo estudo das médias.

muito próximo de terem significado

No que respeita à demência, encontramos

estatístico (quando o RAJ ≥|1,96|). Quanto

diferenças no caso da demência ligeira

à variação da autonomia, naturalmente, e

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confirmando em certa medida o estudo

quedas (Quadro 6). Foram estudadas as

das médias a situação de independência

variáveis: problemas de visão; problemas

está associada ao grupo etário dos jovens

de audição; sonolência durante o dia;

idosos (RAj = 1,8) e as situações de

quantidade de medicação tomada

dependência estão tendencialmente

diariamente; a existência de barreiras

associados com os grupos etários

arquitetónicas; e o receio de cair. Por

superiores, sendo que, o grau de

simplificação, apresentam-se apenas os

dependência moderada está associado ao

valores relativos às categorias relevantes

grupo etário dos muito idosos com

de cada variável.

significado estatístico (RAj = 2,8). Por fim, o grupo etário a que pertence o idoso não tem muita influência na quantidade de medicamentos tomados, embora se observe a tendência para o grupo etário intermédio (idosos) tomar mais do que 9 medicamentos diferentes todos os dias (RAJ = 2,0).

Verificou-se que não existem associações com significado estatístico entre estas variáveis, exceto no caso da relação entre a existência de quedas e o próprio receio de cair, isto é, os idosos que caíram tem mais receio de voltar a cair (RAJ = 2,3). Para além disso verifica-se a tendência (embora sem significado estatístico) para

Estudo das quedas e fatores

os idosos com problemas de audição,

associados

visão e sonolência durante o dia caírem

Procurou-se saber a relevância de alguns dos fatores normalmente associados às

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com mais frequência. Estranhamos a associação verificada entre a existência de barreiras arquitetónicas e as quedas pois

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verifica-se, tendencialmente, menor

pouco mais de 1/4 dos idosos

ocorrência de quedas justamente quando

apresenta limitações sociais ligeiras e

existem barreiras arquitetónicas (RAJ = 1,7). Talvez isto possa ser explicado por uma autolimitação consciente da

1/4 apresenta limitação moderada, grave ou total. É possível que esta

mobilidade dos idosos (associação entre a

situação possa resultar da condição de

existência de barreiras e o medo de cair

urbanidade dos idosos de Coimbra.

tem um RAJ = 1,3), facto que deverá servir de alerta para as condições de vida e

Quanto aos recursos económicos o

qualidade de vida dos idosos.

estudo não especifica valores financeiros mas a maioria dos idosos

DISCUSSÃO

(85%) aufere um rendimento entre a

De uma forma geral os resultados do

pensão social e o salário mínimo, o que

nosso estudo estão em linha com os

configura uma situação de alguma

resultados de outros estudos nacionais

fragilidade económica da maioria dos

e internacionais sobre a condição dos

idosos. Esta situação é condizente com o

idosos residentes na comunidade.

estudo de Sobral (2015) no qual apena

Esta

discussão

assenta

essencialmente na comparação de dois estudos recentes realizados em Portugal sobre a avaliação multidimensional do idoso, designadamente o estudo de Rodrigues et al. (2014) e o estudo de Sobral (2015) ambos recorrendo ao instrumento OARS (Olders Americans Research and Services) versão portuguesa. O estudo confirma a importâncias dos familiares, vizinhos e amigos no enquadramento social dos idosos. Este facto é confirmado pelo estudo de (Sobral,

cerca de 10% dos idosos refere ter rendimentos insatisfatórios. Por

comparação no estudo de Coimbra (Rodrigues et al., 2014) a situação é bem mais complexa, dado que sensivelmente 2/3 dos idosos (66,9%) dizem ter limitações sendo que para 15,4% essa limitação é grave ou total. Ainda segundo este estudo a tendência geral em todos os indicadores é para a situação se agravar para o grupo etário mais idoso e para o género feminino. Talvez a pior situação dos idosos no estudo de Coimbra se deva ao custo de vida relativamente mais elevado e

2015) realizado par o concelho de

também a um maior nível de expetativa

Bragança e é francamente melhor do que

com as condições de vida.

o cenário de estudo de Coimbra no

(Rodrigues et al., 2014), no qual um JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

Passando à saúde mental verificamos

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que cerca de 39% dos idosos apresenta sintomas de depressão ligeira e cerca de

como hipertensão, diabetes, osteoporose e cardiopatias.

10% sintomas de depressão grave; cerca de 19% dos idosos apresenta demência

No que concerne à autonomia do idoso

ligeira e cerca de 6% apresenta demência

para a realizar as atividades

grave. Estes valores estão alinhados com o estudo de Bragança (Sobral, 2005) em que cerca de uma 44,2% apresenta

instrumentais de vida diária necessárias à vida independente na

sintomas de depressão geriátrica e com o

comunidade, medidas pela escala de

estudo de Coimbra (Rogério et al, 2014)

Lawton, verifica-se que cerca de 49%

em que 40,3% dos idosos apresenta

dos idosos apresenta pelo menos

limitação pequena ou moderada e 16%

dependência ligeira, sendo eu dentro

apresenta limitações de saúde mental grave ou total; a nível internacional Santangelo et al. (2012) aponta também o

destes cerca de 11% apresenta dependência moderada e cerca de 7%

declínio cognitivo e sintomatologia

dependência grave ou total. Estes

depressiva presente em cerca de metade

valores são próximos dos encontrados

dos idosos estudados. Em todos os

no estudo de Coimbra (Rodrigues et

estudos, à semelhança do nosso as

al., 2014) no qual cerca de 1/4 dos

mulheres apresentam os piores níveis de saúde mental.

idosos apresenta limitação moderada e o restante 1/4 vive com limitações

No que respeita à saúde física dos

graves ou incapacidade total. O estudo

idosos verificamos que sensivelmente

de Bragança (Sobral, 2015) apresenta

50% dos idosos diz ter problemas de

valores mais favoráveis, verificando-se

audição, 56% problemas de visão,

que a maioria dos idosos é

cerca de 40 refere distúrbios do sono.

independente e que os maiores níveis

O estudo de Bragança (Sobral, 2015) e

de dependência moderada ou total

Coimbra (Rodrigues et al., 2014)

afetam mais as mulheres e o grupo

referem que as patologias mais

etário intermédio.

frequentes são os problemas cardíacos 49,4%, hipertensão 41,6%, diabetes

CONCLUSÃO

28,6%, problemas circulatórios dos membros 20,8%, e ainda oncológicos 13,0% e estão em linha com o estudo

O estudo confirma a importâncias dos familiares, vizinhos e amigos no enquadramento social dos idosos.

de Santangelo et al. (2012) que aponta

Confirma ainda a fragilidade económica da

a prevalência elevada de doenças

maioria dos idosos. Foram identificados

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níveis elevados de alteração da saúde mental (depressão sobretudo) e níveis

elderly living alone in the county of Alfândegada Fé–Northeast of Portugal.”

igualmente elevados de dependência.

Rodrigues, R. M. C., Silva, S. M. D. T. da,

Muitos idosos estão polimedicados. De

Crespo, S. S. da S., Ribeiro, C. F. da S.,

uma forma geral as mulheres idosas

Pereira, F. A., Martin, J. I. G., … Silva, L. F.

apresentam indicadores mais desfavoráveis. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Fontes, A. P., Botelho, M. A., & Fernandes, A. A. (2009). A funcionalidade dos mais idosos ( ≥ 75 anos ): conceitos , perfis e oportunidades de um grupo heterogêneo, 91–107.

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Menoita, E., Sebastião, M. (2016) The Elderly Patient admitted in a Ward on a Stretcher The reality of a Hospital Unit , Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 40 - 49

REVISÃO NARRATIVA/ NARRATIVE REVIEW

AGOSTO 2016

PROBLEMÁTICA DO DOENTE IDOSO INTERNADO EM MACA – REALIDADE HOSPITALAR THE ELDERLY PATIENT ADMITTED IN A WARD ON A STRETCHER - THE REALITY OF A HOSPITAL UNIT PROBLEMA DE ANCIANOS ENFERMOS INTERNADOS EN MACA - REALIDAD HOSPITALAR

Autores ELSA MENOITA1, MARIA LICÍNIA SEBASTIÃO2 1,2

RN, MsC, Lisboa, Portugal

Corresponding Author: elsacarvela@hotmail.com

Resumo As organizações de saúde têm de dar o garante aos doentes internados que os seus direitos, enquanto cidadãos, serão invioláveis, oferecendo-lhes um serviço humanizado e garantindo-lhes a privacidade e segurança. A segurança depende da criação de sistemas de antecipação/prevenção de eventos adversos. Os eventos adversos mais frequentes nos doentes em maca são: aprisionamento nas grades, quedas, úlceras por pressão e troca de medicamentos entre doentes. De acordo, com a carta dos Direitos Humanos do Doente internado não é admissível, salvo por período curto nunca superior a 24 horas, a permanência de doentes em macas durante o internamento. Palavras-chave – doente idoso, maca, humanização, segurança, privacidade, evento adverso,

Abstract Health organizations should provide a guaranty to their admitted patients that their rights, as citizens, are inviolable. A humanized service should be offered and their privacy and security should be guaranteed. Security depends on the elaboration of anticipation/prevention systems regarding potential adverse events. The most frequent adverse events in patients on stretchers are: imprisoning on the bars, falls, pressure ulcers and inadvertent switch of medication. In agreement with the letter of Human Right to the Admitted Patient, it shouldn´t be allowed , except for a brief period of time, no longer than 24 hours, for a patient to be in a ward on a stretcher. Keywords - Elderly patient, stretcher, humanization, security, privacy, adverse event.

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1. HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE A humanização é um ideal em favor do qual todos devem sentir-se convocados e comprometidos. Paulo Evaristo Arns

no valor da dignidade natural inerente a todas e a cada pessoa humana. Humanizar a Saúde implica uma mudança nos paradigmas de gestão, possibilitando aos profissionais uma participação mais efetiva nos processos

A humanização deve ser entendida

que envolvem tomadas de decisões

como um valor na medida em que resgata

(Morita et al, 2003). Para a humanização

o respeito pela vida humana, nas

na saúde, o respeito pela pessoa humana

dimensões que atingem as circunstâncias

e pelos seus direitos, como o direito à

sociais, éticas, educacionais e psíquicas,

privacidade são pressupostos assumidos.

integradas em todo o relacionamento

A pessoa doente, pela própria

humano. A humanização fundamenta-se

condição, encontra-se particularmente

no agir ético que incorpora o acolhimento e

vulnerável (Osswald, 1995), requerendo

o respeito pelo outro como ser autónomo e

uma maior atenção nos seus direitos.

digno. A dignidade é reconhecida como

Nesta linha de pensamento, quando se

uma exigência fundamental e inviolável,

alude a direitos do doente, não se está a

estando na base dos documentos

conceder à pessoa novos direitos, mas

fundamentais sobre Direitos Humanos. A

apenas a dar ênfase especial a direitos

dignidade humana constitui o valor

que lhe são inerentes, uma vez que, por

primordial do qual decorre o

maior que seja a sua fragilidade e

reconhecimento de determinados direitos

vulnerabilidade, nunca deixa de ser pessoa

fundamentais, como o direito à vida, à

(Pacheco, 2002).

liberdade, à não discriminação, à

Existem alguns documentos de

integridade pessoal, à segurança pessoal

índole jurídica, onde se consagram os

e à privacidade. A privacidade individual

direitos das pessoas que se encontram em

assume um papel preponderante nos

situação de doença, nomeadamente, a

vários domínios da vida, em especial nos

Carta dos Direitos das Pessoas Doentes, a

momentos de vulnerabilidade, que

Declaração sobre a Promoção dos Direitos

acompanham o processo de doença,

dos Pacientes na Europa, para além da

constituindo, conforme refere Nunes

Cartas de Direitos dos Doentes,

(2005), um valor e um direito em si

nomeadamente as emanadas pela

mesmo. A privacidade é uma necessidade

Direcção-Geral da Saúde, pela Comissão

e um direito do ser humano, sendo

para a Humanização dos Cuidados de

indispensável para a manutenção da sua

Saúde. É de ressaltar, que na Carta dos

individualidade (Sawada, 1995). A

Direitos Humanos do Doente internado

privacidade é tutelada a nível

vem explicitamente advertido que NÃO É

constitucional desde 1976. A Constituição

ADMISSÍVEL, salvo por período curto

da República Portuguesa incumbe a lei de

nunca superior a 24 horas, a permanência

garantir a efetiva proteção destes direitos,

de doentes em macas durante o

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o internamento.

Ética para a Saúde (CES) podem, e

Na mesma esteira de reflexões,

devem, ter um papel preponderante na

Gauderer (1998) defende que, o doente

formação contínua dos profissionais nesta

tem o direito a um local digno e adequado

matéria. No nosso país, estas Comissões

para seu atendimento, o direito a manter

foram instituídas pelo Decreto-Lei nº 97/95,

sua privacidade para satisfazer suas

de 10 de Maio, sendo consideradas como

necessidades fisiológicas.

o passo decisivo que permitiu passar da

Como refere Silva (2007), apesar do

pura reflexão ao estabelecimento de

reconhecimento da existência dos direitos

normas consensuais de defesa da

dos doentes e consequentemente das

dignidade e integridade humanas. Cabe

suas necessidades pela sociedade em

assim às CES, de acordo com o Decreto-

geral, pelos governantes e

Lei nº 97/95, de 10 de Maio, “zelar pela

especificamente pelos profissionais de

observância de padrões de ética no

saúde, que correlativamente os

exercício das ciências médicas, por forma

englobaram na sua deontologia

a proteger e garantir a dignidade e

profissional sob a forma de deveres, não

integridade humanas, procedendo à

constitui por si só, sinal de um efetivo

análise e reflexão sobre temas da prática

respeito por esses direitos fundamentais,

médica que envolvam questões de ética”.

que se encontram inevitável e intimamente conexos aos Direitos Humanos. Como refere Peneff (2002), citado por Silva (2007, p.22), os doentes em maca nos "corredores encontram-se comprimidos uns contra os outros ou estão frente a frente, enquanto o centro do cenário é o local de passagem do pessoal e dos médicos que mudam de compartimento, de sala ou atravessam o serviço”. De acordo com Tardy et al (2002), muitos doentes em estado terminal acabam por falecer numa maca, nas urgências, alegando que é emergente o

2. CULTURA DE SEGURANÇA DO DOENTE “Dizer que o acidente é devido à falha humana é tão útil quanto dizer que uma queda é devida à ação da gravidade”. REASON, 1997 A segurança dos doentes é atualmente reconhecida como uma componente importante da qualidade em saúde. Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO) sustenta esta inter-relação, quando define qualidade em

coligir de esforços das Comissões de Ética

saúde como, o modo como os serviços de

com as equipas multidisciplinares, visto

saúde, com o atual nível de

que juridicamente todos os documentos

conhecimentos, aumentam a possibilidade

salvaguardam a segurança e dignidade do

de obter os resultados desejados e

doente.

reduzem a possibilidade de obtenção de

No âmbito desta problemática, Silva

resultados indesejados (Batalden & Stoltz,

(2007) defende que, as Comissões de

1993). A maior alteração que se verificou

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no pensamento e filosofia da

condições latentes. Quase todos os

segurança do doente com o documentado

eventos adversos envolvem a combinação

emitido pelo Institute of Medicine foi o de

destes dois tipos de fatores. As falhas

desviar a responsabilização/culpabilização

ativas são os atos inseguros cometidos

do profissional individual para uma

pelas pessoas que se encontram em

abordagem sistémica, designada em inglês

contacto direto com o sistema e referem-se

por “system thinking”. A segurança

a descuidos, esquecimentos, erros,

depende da criação de sistemas de

deslizamentos e violação de

antecipação/prevenção do evento adverso

procedimentos. Para Reason (1997), as

(Wachter, 2008). Eventos adversos

condições latentes são provocadas pelas

referem-se a todo o efeito não desejado

decisões dos gestores, que podem

que resulta da intervenção dos cuidados

traduzir-se em condições que provocam o

de saúde ou da sua falta, mas não da

erro no local de trabalho. O objetivo na

doença ou do estado de saúde do doente

gestão dos eventos adversos é tentar

(Fragata & Martins, 2004). Os eventos

diminuir os buracos no queijo suíço ao

adversos podem classificar-se como

mesmo tempo que se tentam criar novas

“preveníveis ou “não preveníveis”. Os near

camadas de proteção, de modo a impedir

misses não induzem qualquer efeito

o alinhamento dos buracos. Ao contrário

adverso no doente.

das falhas ativas, em que a investigação é

Segundo o Estudo Canadiano de

difícil, as condições latentes podem ser

Eventos Adversos (Canadian Adverse

identificadas e corrigidas antes que um

Events Study), citado por Concelho

evento adverso ocorra. A compreensão

Internacional de Enfermeiros (2006),

deste fator origina uma gestão de risco

verificou-se uma taxa de incidência de

mais pró-activa. As deficiências ou falhas

7,5% de eventos adversos. Tal sugere que,

podem ter origem na estrutura ou no

dos quase 2,5 milhões de admissões

processo (Sousa, 2006).

hospitalares no Canadá, cerca de 185.000

De acordo com Instituto de Medicina

estão associados a um evento adverso,

(Institute of Medicine), citado por Concelho

dos quais 70.000 são preveníveis.

Internacional de Enfermeiros (2006), os

De acordo com a Teoria do Queijo

sistemas de cuidados de saúde têm

Suíço, para ocorrer um evento adverso é

problemas resultantes de processos

necessário o alinhamento de diversos

inadequados, apoio inadequado dos

buracos, ou seja, falhas ou deficiências

recursos humanos e sistemas que não

(Reason, 1997). Os eventos adversos não

promovem práticas seguras.

ocorrem devido a um único erro humano,

O Código Deontológico do

mas sim pela interconexão de vários

Enfermeiro adverte que o enfermeiro

fatores que ocorrem a vários níveis da

deverá ”assegurar por todos os meios que

organização. Os buracos nas defesas

estão ao seu alcance, as condições de

surgem por duas razões: falhas ativas e

trabalho que permitam exercer a profissão

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com dignidade e autonomia, comunicando através das vias

Aprisionamento de doentes nas camas

competentes, as deficiências que prejudiquem a qualidade dos

De acordo com Nowicki et al (2010),

cuidados.” (Diário da República, 1998, p.

o FDA recebeu cerca de 691 relatórios de

1756).

aprisionamento de doentes nas grades das

Para se garantir a segurança do doente

camas hospitalares entre janeiro de 1985 e

tem de haver dotações seguras. As

Janeiro de 2006. Em 2006, a FDA e o

dotações seguras refletem a manutenção

HBSW divulgaram um documento de

da qualidade dos cuidados aos doentes,

recomendações relativas às camas

das vidas profissionais dos enfermeiros e

hospitalares, a partir das causas de

dos resultados da organização. Existem

aprisionamento da pessoa nas grades.

inúmeros estudos que apontam para o

Bills (2007) refere que o HSBW identificou

impacto das dotações seguras sobre os

7 zonas de risco nas grades das camas

resultados de morbilidade e mortalidade

hospitalares, em que a pessoa pode ficar

(Concelho Internacional de Enfermeiros,

presa (Figura nº 1 e Quadro nº 1).

2006).

Concluíram que, nos casos em que havia asfixia, geralmente, o doente ficava preso

2.1. Eventos adversos relacionados

pela cabeça, pelo pescoço ou tórax;

com doentes em maca

enquanto que, nos casos em que havia lesões era porque o doente ficava preso

2.1.1 Cama segura - Bed safety?

pelos membros superiores ou inferiores.

“A bed is a patient’s sanctuary, a resident’s ‘home’, and a nurse’s workstation; it is where most time is spent.” Nowicki et al, 2010

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Atualmente, a FDA e Internacional

ambulância. Não obstante, os resultados

Organization for Standardization (ISO)

podem ser extensíveis aos doentes

emitiram orientações quanto ao padrão

internados e que ficam em maca.

ideal de uma cama segura - bed safe,

Quedas

tendo em consideração as 7 zonas de

As quedas são os eventos adversos

risco de aprisionamento. Contudo, estas

mais frequentes nos hospitais e podem ter

orientações não são aplicáveis às macas,

consequências físicas, psicológicas e

continuando estas a apresentar um risco

sociais. Geralmente, estes eventos

acrescido de aprisionamento do doente,

traduzem-se num aumento do período de

não auferindo segurança, conforme se

internamento e de dependência da pessoa,

pode verificar nos vários modelos de maca

com consequente acréscimo de custos

(Figura nº2). Tal facto é corroborado por

económicos e sociais (Almeida et al,

MDA (2003), nas Guidelines on the Safe

2010). Este tipo de situações é, por isso,

Use of Ambulance Stretcher Trolleys, em

considerado como importante indicador da

que o aprisionamento de doentes nas

qualidade assistencial (Saraiva et al,

macas das ambulâncias é um dos eventos

2008).No que concerne a doentes

adversos mais comuns. Conforme já

hospitalizados, Almeida et al (2010),

referido, na literatura somente há

consideram que, as quedas são o acidente

referência a estudos de macas de

mais relatado em unidades de saúde.

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Oliver et al (2004) reportam estudos

2.1.2. Úlceras por Pressão

que apontam entre 2,9-13 quedas por

As úlceras por pressão são

1000 dias de internamento/cama. De

desencadeadas por fatores extrínsecos,

acordo com Nowicki et al (2010), um

como a pressão, a tensão tangencial ou

estudo no Reino Unido, entre 2005 e 2006,

cisalhamento e fricção. Para a prevenção

realizado pelo Instituto Nacional de

das UPP, é fundamental o posicionamento

Agência de segurança dos doentes revelou

em diferentes decúbitos, contudo o espaço

que cerca de um quarto de todas as

na maca é limitador, pois esta não dispõe

quedas foram das camas dos doentes.

de largura para o doente e para as

Muitos têm sido os fatores que contribuem

almofadas. Por exemplo, frequentemente

para a complexidade do fenómeno das

encontra-se os doentes de maca com UPP

quedas. Os fatores de risco podem ser

nos joelhos - localização de UPP pouco

divididos, por exemplo, em dois grandes

frequente em doentes deitados no leito da

grupos: os intrínsecos – diretamente

cama - pois estes ficaram junto às grades

relacionados com o indivíduo; e os

e estas fizeram pressão. Mesmo que por

extrínsecos – relacionados com

pouco tempo, como se trata de uma

características ambientais e sociais. Vários

superfície dura, em que pode estar a ser

são os autores que defendem que os

exercida uma intensidade de pressão

fatores externos estão intimamente

elevada, rapidamente podem desenvolver-

interligados ao risco de queda (Saraiva et

se UPP. É fundamental, enquadrar no

al, 2008). Saraiva et al (2008) propõem a

contexto o recurso às superfícies de apoio.

abordagem ecológica que analisa o

A maioria das superfícies de redistribuição

incidente numa perspetiva de interação

de pressão, como sejam as dinâmicas ou

entre o doente e o meio, dando especial

estáticas disponíveis nas unidades são

relevância às ameaças ambientais que

para camas hospitalares de dimensões

podem traduzir-se em riscos potenciais.

superiores às das macas, não se

Para além disso, conforme

adequando.

anteriormente mencionado a propósito das

Em suma, para além do doente em

dotações seguras, Calvo (2001) refere

maca estar mais sujeito aos fatores de

que, o rácio enfermeiro/doente também

risco externos, as estratégias de

tem um carácter causal, pois o cuidador

prevenção,

pode não dispensar da sua atenção efetiva

posicionamentos e o recurso a superfícies

ao doente e risco de queda. De acordo

de apoio, são bastante limitativas e

com Almeida et al (2010), este facto

insuficientes.

“reencaminha-nos para as estratégias de gestão de recursos e a necessidade de manter dotações seguras na prestação de cuidados”.

como

sejam

os

2.1.3. Troca de medicação entre doentes em maca O Institute of Medicine no documento “To err is human” refere que, por ano, 48000 a 98000 americanos morriam nos

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hospitais em consequência de erros

privacidade e a segurança, como direitos a

preveníveis, sendo colocado em evidência

respeitar na prestação de cuidados

a contribuição dos acontecimentos adversos por medicamentos como uma importante causa de morbilidade e

humanizados e compreensivos. Contudo, este plano conceptual tem um intento audacioso, não

mortalidade dos doentes hospitalizados

pretendendo ficar, unicamente, no patamar da

(Khon et al, 1999). Luk et al (2008, p. 29)

reflexão. Pretende que seja um catalisador para

referem que “os erros de medicação são

o registo de mudanças no sistema

um tipo muito comum de erros de natureza multidisciplinar.” Estes eventos podem estar relacionados com a prática

organizacional, extinguindo-se totalmente com os internamentos dos doentes em maca.

profissional, prescrição, comunicação de ordens terapêuticas, rotulagem, embalagem e nomenclatura, composição, distribuição, administração, formação, monitorização e uso. Coimbra e Cassini (2000, p.17) dizem que: “a equipa de enfermagem constitui o elo final deste sistema, atuando na administração propriamente dita, e por este motivo é geralmente responsável pelos atos que marcam a transição de um erro prevenível para um erro real, e o ónus dos erros, caí pesadamente sobre estes profissionais.”

A propósito da temática das dotações seguras, alguns estudos concluíram que os erros de administração de medicamentos ocorriam quando havia dotações inadequadas de enfermeiros (Concelho Internacional de Enfermeiros, 2006), como quando sucede quando há doentes internados em maca. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este artigo deixa algumas considerações de matriz teórica e reflexiva sobre a temática do doente idoso internado em maca, envolvendo conceitos na esfera da qualidade, como a JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

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Martins, C., et al (2016) Prevention of Pressure Ulcers: Use of Support Surfaces, Journal of Aging & Innovation, 5 (2): 50 - 57

REVISÃO SISTEMÁTICA/ SYSTEMATIC REVIEW

AGOSTO 2016

Prevenção de Úlcera de Pressão: Uso de Superfícies de Apoio Prevention of Pressure Ulcers: Use of Support Surfaces La prevención de las úlceras por presión: El uso de superficies de soporte Autores CARINA MARTINS1, CÁTIA REIS2, VERA RAMOS3 1,2,3

RN, Centro Hospitalar do Oeste, Portugal

Corresponding Author: carina.martins10@gmail.com

Resumo Apesar dos avanços nos cuidados em saúde, as úlceras de pressão (UP) continuam a ser uma importante causa de morbilidade e mortalidade, com impacto na qualidade de vida do doente e familiares, gerando um problema social e económico (Matos, 2012). O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura recorrendo aos motores de busca on-line https://scholar.google.pt/ com objetivo de reconhecer a importância do uso de superfícies de apoio (SA) de forma a obter a efetividade da sua aplicação, prevenindo o aparecimento de UP, contribuindo para uma escolha mais indicada tendo em conta as características do doente e custo-benefício das mesmas. Face à panóplia de SA existentes a sua escolha é realizada dependendo das necessidades do doente (avaliação do risco de desenvolver UP, prognóstico) e características do equipamento (redistribuição da pressão, facilidade de uso e custo). De uma forma geral as superfícies estáticas estão destinadas em doentes que se conseguem mobilizar, com baixo/médio risco de desenvolver UP e as superfícies dinâmicas em doentes com risco médio/elevado, geralmente que não se conseguem mobilizar independentemente e são portadores de UP. O uso de SA é uma solução recomendada para a prevenção e tratamento da UP. O investimento neste tipo de prevenção vai levar a uma redução nos custos totais criados pelas UP. A sua utilização quando combinada com a alternância de decúbitos reduz a incidência de UP, podendo reduzir o tempo de reposicionamento do doente. É importante verificar se as SA se encontram dentro das indicações específicas recomendadas pelo fabricante, antes de serem utilizadas. Palavras chave: superfícies de apoio; colchão de pressão alterna; colchão viscoelástico; custo-benefício.

Abstract Despite advances in health care , pressure ulcers (PU ) remain an important cause of morbidity and mortality, and impact on quality of life of the patient and family, generating a social and economic problem (Matos, 2012). This study deals with a literature review using the online search engines https://scholar.google.pt/ in order to recognize the importance of the use of support surfaces (SS) in order to obtain effectiveness its application , preventing the appearance of PU , contributing to a more appropriate choice taking into account the characteristics of the patient and cost - benefit them. Given the existing panoply of SS your choice is made depending on the patient's needs (assessment of risk of developing PU, prognosis) and characteristics of the equipment (redistribution of pressure, ease of use and cost). Generally static surfaces are intended for patients who can mobilize, with low / medium risk of PU and dynamic surfaces in patients with medium / high risk , usually that can not mobilize independently and are carriers of PU . The use of SA is a recommended solution for the prevention and treatment of PU. Investment in this type of prevention will lead to a reduction in total costs created by the UP . The use when combined with alternating reduces the incidence of decubitus PU and may reduce the patient repositioning time. It is important to verify that the SS is found within specific directions recommended by the manufacturer before use Key words: bearing surfaces ; alternating pressure mattress ; viscoelastic mattress ; cost benefit.

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Introdução Morison (2004) defende que a prestação de cuidados preventivos ao doente pode reduzir o aparecimento de UP até 50% a 60%. Já Gouveia e Miguéns (2009) citado por Menoita (2012), referem que 95% das UP são passíveis de serem prevenidas. Segundo a NPUAP (National Pressure Ulcer Advisory Panel), as SA são definidas como “um dispositivo especializado para redistribuição de pressão concebida para gestão de cargas tecidulares, microclima, e / ou outras funções terapêuticas (por exemplo, colchões, sistema integrado de cama, colchão de sobreposição, almofada de cadeira ou almofada de sobreposição)” (Afonso et al, 2014). Os fatores envolvidos no aparecimento de UP podem ser intrínsecos e / ou extrínsecos. As SA são um elemento essencial na sua prevenção pois podem controlar e / ou eliminar os fatores extrínsecos, como a pressão, corte e fricção (NPUAP, EPUAP e PPPIA, 2009; Santos, 2012). A utilização de SA permite reduzir a pressão na interface, área que fica entre a pele e a SA, para valores inferiores aos considerados como sendo os níveis de oclusão dos diversos vasos sanguíneos; permitir facilidade em efetuar posicionamentos terapêuticos quer pelo doente quer por um cuidador; permitir expansão pulmonar de forma eficaz; não limitar a atividade física permitindo a realização de atividades de vida diária; e permitir que o doente possa intervir de forma ativa no seu processo de saúde (Afonso et al, 2014). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951

O alívio da pressão é a medida profilática mais importante da redução de AP (Luz, Lopacinski, Fraga, 2010). A utilização de SA não substitui a necessidade da alternância de posicionamentos regulares e adequados (Rocha, Miranda, Andrade, 2006). Existe no mercado uma panóplia de dispositivos / SA que contribuem para a prevenção e tratamento de UP, podendo ser distinguidos entre superfícies estáticas e superfícies dinâmicas. O uso de SA são as soluções recomendadas para a prevenção e tratamento da UP. O investimento neste tipo de prevenção vai levar a uma redução nos custos totais criados pelas UP. A escolha do dispositivo mais apropriado está dependente da avaliação do doente, realizada pelo profissional de saúde. Devese ter em conta as características do equipamento (redistribuição da pressão, facilidade de uso e custo) e do doente (risco para desenvolvimento de lesões, conforto, presença de comorbidades, prognóstico) (Luz, Lopacinski, Fraga, 2010). As superfícies estáticas adaptam-se à forma do corpo efetuando uma redistribuição da pressão sobre as proeminências ósseas evitando pontos de elevadas pressões, por exemplo colchões de espuma de poliuretano viscoelástica, colchões de ar, água ou gel. As superfícies dinâmicas

tendem

a

variar

sistematicamente os pontos de apoio evitando a pressão elevada em um determinado ponto durante um grande período de tempo, normalmente através da insuflação e esvaziamento das várias Volume 5. Edição 2


Página 52

secções do sistema de suporte (Sequeira,

pressão alterna”, encontrando 15

2011; Matos, 2012).

resultados; e “colchão viscoelástico”

Mas no meio desta panóplia de SA que

encontrando 6 resultados. Ao fazer a

contribuem para a prevenção de UP, qual

revisão destes artigos deparamo-nos que

será a mais indicada para cada doente,

não iam ao encontro do nosso tema.

tendo em conta as características do

Alargando assim a nossa busca utilizando

doente e do custo-benefício das SA. O

os termos chave “Superfícies de apoio”, o

principal objetivo é que os profissionais de

número de publicações propostas foi de

saúde reconheçam a importância do uso

305 resultados e 28 resultados quando

de SA de forma a obter a efetividade da

associada ao termo “Custo-benefício”. Dos

sua aplicação, prevenindo o aparecimento

28 artigos resultantes da pesquisa nas

de UP.

bases de dados selecionámos 5, por entendermos serem os mais demostrativos

Metodologia:

e elucidativos do tema tratado. Com esta

Trata-se de uma revisão da literatura

metodologia pretendeu-se obter uma

recorrendo aos motores de busca on-line

síntese de estudos científicos publicados

https://scholar.google.pt/. Inicialmente

que possibilitem retirar conclusões acerca

utilizou-se os termos chave, “colchão de

da importância do uso de SA de forma a

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obter a efetividade da sua aplicação, prevenindo o aparecimento de UP,

O artigo “Úlceras por pressão - das

contribuindo para uma escolha mais

causas aos cuidados” é uma revisão da

indicada visando as características do

literatura, publicado no “Revista

doente e do custo-benefício das mesmas.

Acreditação” em 2012.

Resultados:

O artigo “Aplicação de materiais

Os artigos selecionados foram analisados

ortopédicos na prevenção/tratamento

de forma a dar resposta à problemática

de úlceras por pressão” é uma revisão da

definida para este estudo, extraindo assim

literatura, publicado no “Journal of Aging

os dados mais significativos de cada

and Innovation” em Junho de 2015.

artigo.

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O artigo “Superfícies de apoio na

O artigo “Cuidados de la piel y

prevenção das úlceras de pressão” é

prevención de úlceras por presión en el

uma revisão da literatura, publicado no

paciente encamado” é uma revisão da

“Journal of Aging and Innovation” em

literatura, publicado na “Revista de

Agosto de 2012.

Enfermeria ROL” em Dezembro de 2007. A dissertação “Custo-Efetividade de Intervenções na Prevenção de Úlceras de Pressão” realizada no âmbito do Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde em 2012.

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Conclusões:

O investimento no uso de SA vai levar a

Todas as pessoas com risco de contrair UP

uma redução nos custos totais criados

deveriam utilizar produtos de apoio para a

pelas UP.

prevenção das mesmas. A prevenção de UP é um grande desafio

Referências bibliográficas:

para as equipas multidisciplinares, uma

Abrantes Vivacqua, S. (2012). Úlceras

polémica dentro da área da saúde. Esta

por pressão - Das causas aos

deve ser realizada diariamente. O seu

cuidados. Revista Acreditação, 2(3),

tratamento é uma carga muito significativa

90-110.

para todos os sistemas de saúde. As UP

Afonso C; Afonso G; Azevedo M;

podem ter igualmente um efeito de

Miranda M & Alves P (2014).

detrimento da qualidade de vida do doente

Prevenção e Tratamento de Feridas -

e família.

Da Evidência à Prática. 2014 ISBN

Há poucos estudos que comparam a

978-989-20-5133-8

eficácia das diferentes SA comparando-as

Etchegoyen, P., Lopes, F., & Saraiva,

entre si o método mas utilizado nos

V. Aplicação de materiais ortopédicos

estudos foi o de comparar a não utilização

na prevenção/tratamento de úlceras

com a utilização de algum produto e neste

por pressão. Journal of Aging &

tipo de estudos pode-se reparar que o não

Inovation, 2015; 4 (2): 32 - 39

uso de um dispositivo normalmente tem

sempre piores resultados.

Urban, C. Úlceras de pressão.

Face à panóplia de SA existentes a sua

Geriatria & Gerontologia. 2010;4(1):

escolha é realizada dependendo das necessidades do doente (avaliação do risco de desenvolver UP, prognóstico) e

36-43 •

T,García Fernández FP, Pancorbo

(redistribuição da pressão, facilidade de

Hidalgo PL. Cuidados de la piel y

uso e custo).

prevención de úlceras por presión en

De uma forma geral as superfícies

el paciente encamado. Rev ROL Enf

estáticas estão destinadas em doentes UP e as superfícies dinâmicas em doentes

2007; 30(12):801-808 •

de pressão. Tese de mestrado.

A utilização da SA quando combinada com incidência de UP, podendo reduzir o tempo de reposicionamento do doente.

Matos, I. (2012). Custo-efetividade de intervenções na prevenção de úlceras

com risco médio a elevado. a alternância de decúbitos reduz a

Martínez Cuervo F, Soldevilla Agreda JJ, Verdú Soriano J, Segovia Gómez

características do equipamento

com baixo e médio risco de desenvolver

Luz, S., Lopacinski, A., Fraga, R.,

Universidade do Minho •

Menoita, E., Gomes, C., Pinto, S., Testas, C., Santos, V., Cordeiro, C. Superfícies de apoio na prevenção das úlceras de pressão. Journal of Aging & Inovation, 2012; 1 (4): 34-52

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