Edição Completa Agosto 2020

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Editorial:

Rui Fontes

Josse Lieferinxe, “Saint Sebastian Interceding for the Plague Stricken”, 1497-1499

VOLUME 9 . EDIÇÃO 2

JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, ABRIL, 2020, 9 (1)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/

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DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2


Editorial:

Rui Fontes

A pandemia COVID 19 veio colocar a nu a dramática e desconhecida realidade dos lares de idosos em Portugal. Assente num modelo caritativo e assistencialista os lares de idosos não encontraram até hoje capacidade para responder ao envelhecimento da classe média e média-alta, continuando a manter as condições quando as necessidades eram apenas de “matar a fome” e “cobrir com um farrapo” os desvalidos da sorte, os abandonados, carenciados e incapacitados. Mas o aumento ad esperança de vida – a grande conquista da humanidade nos últimos anos – trouxe mais idosos e idosos mais exigentes. Contudo a sociedade não modificou o seu modelo para responder a estes milhares de pessoas idosas que vivem mais 20 anos do que viviam há 50 ou 60 anos atrás. Esses vinte anos a mais de vida não encontram qualquer acompanhamento e qualquer intervenção positiva. Pergunta-se hoje se os lares estavam preparados para o COVID. Para quem trabalha há anos nesta área parece uma pergunta completamente desajustada porque os lares mal estão preparados para fazer higienes correctas a pessoas idosas, para alimentarem com alguma qualidade essas pessoas e para assegurarem vigilância aos residentes d elares. Não sendo capazes de fazer o que consideramos cuidados e de oferecer serviço mínimos como poderiam estar preparados para uma pandemia que tem como principal alvo as pessoas idosas. Não, os lares não estavam preparados para a pandemia e não estão preparados para responder a qualquer situação de saúde por que assim determinou o modelo que a legislação defende, feita essencialmente para manter as grandes corporações e quase produzir pessoas com incapacidade e disfuncionais. É evidente que dizendo que os lares não são respostas de saúde faz com que muitos, pouco cautelosos, logo partam para a ideia de que temos que transformar os lares em entidades de saúde. Nada mais errado. Os lares devem ser exclusivamente entidades de resposta social que é cada vez mais necessária para o tal aumento de população idosa em consequência do aumento da esperança de vida. Lares de resposta social devidamente preparados para novas intervenções, para a prevenção, para a funcionalidade, para continuar a manter a utilidade dos seus clientes. Os lares devem deixar, isso sim, de ter pessoas fortemente doentes. Essas têm que ser tratadas em unidades de saúde, dotadas de profissionais de suade e condições de trabalho. É pois uma questão de alterar completamente a resposta às pessoas idosas e ao envelhecimento. Alteração que passa de imediato pela criação de diversas tipologias

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diferenciadas: unidades de vida apoiada, unidades de Alzheimer e demência, unidades de reabilitação social e funcional, unidades de fase terminal de vida. Ora se repararmos pouco falta na nossa legislação porque já temos os cuidados continuados com tipologias diferenciadas. Será simplesmente uma questão de atribuir as pessoas idosas à unidade correcta na ao permitindo este leilão de pessoas idosas pelos lares todos iguais e diferenciados exclusivamente pelo valor da mensalidade. É evidente que esta alteração da legislação e a introdução de tipologias para responder ao envelhecimento e à necessidade de institucionalização, implica de imediato alteração do modelo de financiamento tornando-o mais transparente e mais rigoroso. É provável que a transparência e o rigor evitem que sejam aumentados significativamente os custos. A situação não pode manter-se igual. Os portugueses reconheceram finalmente que as pessoas idosas têm sido deixadas ao abandono nos lares e compreendeu que todos somos responsáveis por isso. Infelizmente para esta compreensão tiveram que faleceram algumas centenas de pessoas idosas. Desejamos que de uma vez por todas a sociedade compreenda que só cuidando bem dos mais velhos consegue viver com dignidade, só respeitando os que vão tendi-o maior idade é que todos podemos viver tranquilos, esperando calmamente o nosso próprio Envelhecimento.

Rui Fontes Presidente da Associação Amigos da Grande Idade – Inovação e Desenvolvimento

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Delgado B., Oliveira I., Gomes B., Novo A. (2020) Aerobic exercise training Revisão Integrativa: Delgado B., Oliveira Gomes Novo patients: A. (2020)an Aerobic exercise training in of Aging & in I., acute heartB.,failure integrative review, Journal acute heart failure patients: an integrative review, Journal Innovation, 9 (2): 4-of17Aging & Innovation, 9 (2): 4- 17

 Revisão Integrativa

AEROBIC EXERCISE TRAINING IN ACUTE HEART FAILURE PATIENTS: AN INTEGRATIVE REVIEW.

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Bruno Miguel DELGADO, 2Isabel de Jesus OLIVEIRA, 3Bárbara GOMES, 4André Filipe Pinto NOVO

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RN, CCRN, MSc, PhD student. Oporto University, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Cardiology department of

Centro Hospitalar do Porto – Hospital de Stº António. (ORCID ID 0000-0002-6847-1314), Porto, Portugal; 2RN, CRRN, Portuguese Red Cross Northern Health School, Oliveira de Azeméis(ORCID ID 0000-0001-6627-3907); 3RN, MsC, PhD. Coordinator ProfessorEscola Superior de Enfermagem do Porto, Porto, Portugal; 4RN, MsC, PhD. Assistant Professor, Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, Portugal , (ORCID ID 0000-0001-8583-0406) Corresponding Author: bruno.m.delgado@gmail.com Acknowledgments: The authors wish to acknowledge all the investigators who implement aerobic exercise to heart failure inpatients, contributing not only for the knowledge in the field, but also to the improvement of patients’ functional capacity and quality of life. Conflict of Interest statement: The authors declare no conflict of interest. Funding Statement: this research was not funded.

ABSTRACT

Introduction: Decompensated Heart Failure patients are characterized by functional dependence and low exercise tolerance. Aerobic exercise can improve symptoms, promoting functional capacity and an increase of exercise tolerance. However, the benefits of early rehabilitation for inpatients have not been validated yet. Objective: To identify the use of aerobic exercise training in acute heart failure patients and, as secondary objective, to determine the feasibility, safety and effectiveness of such intervention. Methods: An integrative review with a search in PubMed, Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature, Scientific Electronic Library Online and Cochrane Library was conducted on January of 2020, to identify randomized controlled trials comparing patients who performed aerobic exercise training during inhospital stay, with patients who only performed usual care, published from January 2014 to December 2019. Additional hand search was performed in the national repository of academic works. The search retrieved 381 articles. Only one met the inclusion criteria. Results: One RCT was identified, with an assessment of high risk of bias, comparing patients who performed in-bed cycloergometer with patients who performed the same intervention with non-invasive ventilation and control group. The use of non-invasive ventilation lead patients to present a better performance, but even patients without non-invasive ventilation had significantly better results than the ones who only performed the usual care. Conclusions: Despite the results pointing some benefits, there is insufficient data to determine the feasibility, safety and effectiveness of aerobic exercise training in acute heart failure inpatients. More research is needed to validate its use.

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INTRODUCTION

Heart failure (HF) can be defined as an abnormality of the heart function or structure leading to reduced oxygen delivery throughout the body(Ponikowski et al., 2016). It is a growing global health challenge, with a great economic burden for the health system. The prevalence is approximately 1 to 2% of the population in developed countries, and this percentage rises above 10% in people over 70 years old(Cattadori, Segurini, Picozzi, Padeletti, & Anzà, 2018; Murphy, Ibrahim, & Januzzi, 2020). Due to its complex and progressive nature it usually results in adverse events, such as high rate of hospital readmission and mortality(Gary, Cress, Higgins, Smith, & Dunbar, 2012; Giallauria, Piccioli, Vitale, & Sarullo, 2018). The major symptoms are exercise intolerance, dyspnea and fatigue. Decreased exercise tolerance is a hallmark feature in HF patients and may have many contributing factors, such as decreased cardiac output, peripheral muscle wasting, and autonomic imbalance(Dunlay, Griffin, Redfield, & Roger, 2017). It is an important health care problem associated with high morbidity, mortality and with reduced quality of life(Palmer, Bowles, Paton, Jepson, & Lane, 2018; Ponikowski et al., 2016; Tucker et al., 2019). HF is a progressive disease, demonstrated by the patient's physical impairment. Exercise intolerance pushes the patient towards sedentary behaviors and consequently these behaviors lead to an even greater decline in functional capacity, with loss of aerobic capacity, muscle mass and muscle strength(Fukuta, Goto, Wakami, Kamiya, & Ohte, 2019; Lee, Chen, & Chien, 2017). During the course of the disease patients often experience decompensation of their illness that lead them to a period of inhospital stay for properly compensation. During this period patients are frailer and also inactive, which conducts them to higher levels of functional dependence(Dunlay, Griffin, et al., 2017; Dunlay, Roger, & Redfield, 2017; Reeves et al., 2017; Reeves et al., 2016). It is very important to promote physical activity during the inhospital stay, integrating patients into cardiac rehabilitation (CR) phase one programs(Hansen et al., 2018; Piepoli et al., 2011; Ponikowski et al., 2016). CR can be defined as a sum of activities that favorably influence the underlying causes of cardiovascular disease, so that the patients can obtain the best physical, psychological and social conditions, reassuming their role in society as normally as possible (Ana Abreu, Bettencourt, & Fontes, 2010; Bjarnason-Wehrens et al., 2010; Palmer et al., 2018; Piepoli et al., 2011).

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The CR program is divided in three different phases, namely phase 1, which takes place during the inhospital stay period; phase 2, called the ambulatory phase and finally phase 3, called maintenance phase. In phase 1, patients are taught about their disease, the cardiovascular risk factors, the impact of the disease on their lives, the management and maintenance behavior that should be followed and finally patients begin to perform some physical activity in order to promote their functional capacity, to optimize the treatments and analyze the physiological heart response to activity itself. This is probably the most critical phase and more complex, since the patients are still decompensated and frail. Phase 2 takes place at an ambulatory gym inside the hospital, where patients can exercise according to a prescription after fulfilling a cardiopulmonary exercise testing and always under supervision of a specialized cardiac rehabilitation team. In phase 3 it is expected that patients continue to manage their therapeutic regimen adequately and accordingly to what they have learned on the previous phases. The continuum of the three phases guarantee a reduction of the cardiovascular risk and an improvement on the quality of life of these patients (A. Abreu et al., 2018; Bocalini, dos Santos, & Serra, 2008; Fukuta et al., 2019; Slimani et al., 2018). Clearly it is important to clarify some concepts. Physical activity can be defined as any body movement produced by the voluntary contraction of the skeletal muscle, which causes energy expenditure above the basal level. It is often related to the development of the activities of daily living. Exercise is known as a sub-category of the physical activity in which planned, structured and repetitive body movements are performed, in order to maintain or increase one or more physical attributes, in a given period of time (ACSM, 2018). The core component of CR is the exercise training(ACSM, 2018); within consensus, European guidelines have incorporated a class IA recommendation for regular aerobic exercise in HF patients. This non-pharmacological treatment has several benefits and improves functional capacity, symptoms relief and health-related quality of life. It also reduces mortality and rates of hospital readmission for decompensated HF(ACSM, 2018; Ponikowski et al., 2016; Seo et al., 2019) . The exercise prescription is designed for a specific purpose and it is usually developed by rehabilitation specialists based on the patient’s condition, motivation and goals. This program can be carried out in an inpatient or outpatient phase and should be planned according to the FITT-VP parameters (Frequency, Intensity, Time, Type, Volume and Progression)(ACSM, 2018; Seo et al., 2019). The objective of this model is to assist professionals in the development of an individualized training plan optimized for the patient's clinical condition and

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comorbidities, with the aim of improving physical fitness and health(Hansen et al., 2018; Seo et al., 2019). According to the previous, an integrative review was conducted with the primary objective to identify the use of aerobic exercise training in acute heart failure patients and, as secondary objective, to determine the feasibility, safety and effectiveness of such intervention, knowing that inhospital stay is the critical period to early begin to perform cardiac rehabilitation. Our working research question is: Is there evidence about the use of aerobic exercise training in acute heart failure patients, and if so, is it feasible, safe and effective?

METHODS

An integrative review of the literature was the research method of choice since no reviews were identified on this topic. Exercise training is a new/emerging topic in acute heart failure patients that would benefit of a more comprehensive approach(RJ, 2016Dec). The starting point for this research were the primary and secondary objectives that outlined the research strategy. There for, the PICO strategy was used to ensure that all significant components of the research question were attended. Thus, the review question following the PICO strategy was: (P) heart failure inpatients, (I) aerobic exercise training, (C) patients who performed the standard care and (O) feasibility, efficacy and safety of exercise. For outcome assessment it was considered that efficacy is related to an improvement of patient’s functional capacity during the length of stay and the safety is related to the absence of adverse events during the performance of exercises. If exercise is efficient and safe, then it is also feasible to be implemented during the stabilization phase of the disease. It was decided to only include randomize controlled trials (RCT) where rehabilitation interventions, namely aerobic exercise training was performed to improve patient’s functional capacity during the inhospital stay. The full inclusion criteria are presented in Table 1.

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Table 1 – inclusion criteria for selected studies Inclusion criteria Hospitalized patients with decompensated heart failure Adults only Randomized comparison Intervention was exercise training (whether aerobic, strength or respiratory or a mixture of different modalities) Outcomes must be functional capacity (evaluated by any functional capacity tool, especially the six-minute walking test [6MWT]) and safety of the intervention Control group should not perform exercise training Studies published after January 2014 and before 2020, in english.

Two reviewers (BMD and IJO) independently search four databases: 1) PubMed, 2) Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINHAL), 3) Scientific Electronic Library Online (SciELO) and 4) Cochrane Library; the research was performed on January of 2020. Additional hand search was performed in the national repository of academic works in order to identify relevant unpublished studies. The Medical Subject Headings (MeSH) were used to select the more suitable terms to respond to the objectives of this review. The descriptors, in conjunction with Boolean operators, were the following: (“Heart failure” OR “Cardiac Failure” OR “Congestive Heart Failure” OR “Heart Decompensation” OR “Myocardial Failure”) AND (“Exercise” OR “Acute Exercise” OR “Aerobic Exercise” OR “Exercise Training”) AND (“Cardiac rehabilitation” OR “rehabilitation”). In three of the databases different search limitations were applied to retrieve the articles. For PubMed, search limits for only RCT were applied, limiting the search for papers in English and with adults +19 years; at CINAHL the search was limited to the English language and at the Cochrane Library after the search phrase the results were limited by health topic, heart and circulation, and afterwards the search was limited for a specific clinical condition, heart failure. This search returned 381 articles that were then screened by two independent reviewers (BMD and IJO) by title and abstract for eligibility. Most articles were excluded since they studied outpatients or did not test aerobic exercise. Full detailed retrieval and selection of articles was performed according to PRISMA statement(Moher et al., 2015) and is shown in figure 1.

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1 - PRISMA flow diagram PRISMA 2009 Figure Flow Diagram

Records identified through database searching (n= 376) PubMed (n= 159); CINHAL (n= 190); Scielo (n=14); Cochrane (n= 13)

Additional records identified through other sources (n = 5)

Records after duplicates removed (n = 365 )

Title/abstract screened (n = 365)

Records excluded: full-text not available (n=38) (n = )

Full-text articles assessed for eligibility (n = 325 )

Full-text articles excluded, with reasons (n = 324 )

Studies included in methodological quality evaluation (n =1)

Accesses outpatients (n=65) Home-based approach (n=42) Not RCT’s (n=47) Not tested aerobic exercise (n=133) Other diseases than Heart Failure (n=n=37)

Studies included in qualitative synthesis (n =1)

For risk of bias assessment, a revised Cochrane risk of bias tool for randomized trials(Sterne et al., 2019) was used comprising five domains: randomization process, effect of assignment to intervention, missing outcome data, measurement of the outcome and selection of the reported result. The possible outcome of the assessment is “high risk of bias”, “some concerns” or “low risk of bias”. Two reviewers independently assessed the sole study included for methodological assessment (BMD and IJO) and consensus was reached in all domains. The assessment, by domains was as followed: randomization process – high risk of bias; effect of assignment to intervention – high risk of bias; missing outcome data – low risk of bias;

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measurement of the outcome – some concerns; and selection of the reported result – some concerns. The overall risk of bias assessment is of high risk. For data extraction a matrix was previously prepared which was independently used by the reviewers, comprising the following items: authors, study type, sample, intervention and results.

RESULTS A total of 381 documents were retrieved, 376 on databases and five on the national repository of academic works. After duplicate removal, 365 articles were screened first by title and abstract and afterwards by full-text allowing to identify one article(Oliveira et al., 2018). An overview of the article with the summary of the main characteristics can be found in table 2. Table 2 - Summary of study’s main characteristics Authors Oliveira et al., 2017

Study Prospective multiplearmed randomized controlled study

Sample 29 in patients with acute heart failure and previous Doppler echocardiography with left ventricle ejection fraction < 30%

Intervention Control: standard medical treatment; Group ET+Sham: exercise training and placebo, once a day for eight days; Group ET+NIV: exercise training and non-invasive ventilation, once a day for eight days. At day one all patients were submitted to clinical evaluation: spirometry, blood sample (brain natriuretic peptide and high sensitivity Creactive protein, six-minute walk test and maximal inspiratory pressure. Evaluation was repeated at day 10. After protocol all patients continued receiving only medical treatment and were followed until discharge or transfer to intensive care unit. Exercise protocol: aerobic exercise on an unloaded in-

Results None of the patients in either exercise groups had adverse events or required exercise interruption. The six-minute walk test distance was greater in ET+NIV (Δ120±72 m) than ET+Sham (Δ73±26m) and control (Δ45±32m; p<0,05). Total exercise time was greater (128±10 vs. 92±8 min; p<0,05) and dyspnea was lower (3±1 vs. 4±1; p<0,05) in ET+NIV than ET+Sham. The ET+NIV group had shorter hospital stay

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bed cycle ergometer for 20 minutes or less, until limit of tolerance; heart rate continuous monitoring during exercise; systolic and diastolic arterial pressures were obtained by auscultatory method; blood lactate was collected during exercise every two minutes, at rest and at the end of exercise and; “shortness of breath” assessment at exercise cessation by Borg’s category ratio scale. Non-invasive ventilation: Bilevel ventilator applied via oronasal mask in two conditions a) bi-level positive airway pressure ventilation (inspiratory positive airway pressure 14 cmH2O and expiratory positive airway pressure 8 cm H2O without supplementary oxygen) and; b) sham ventilation (inspiratory positive airway pressure 4 cmH2O and expiratory positive airway pressure 4 cm H2O without supplementary oxygen).

(17±10 days) than ET+Sham (23±8 days) and control (39±15 days) groups (p<0,05). Total exercise time in ET+Sham and ET+NIV had significant correlation with length of stay (r=0,75; p=0,01).

DISCUSSION A total of 381 articles were retrieved and only one met the inclusion criteria. The authors used three homogeneous groups of patients: two interventions groups and one control group, hypothesizing that aerobic exercise training (AET) performed with non-invasive ventilation (NIV) is effective in acute HF patients. The third group, AET alone, was used to assess the safety of the intervention in acute HF patients. Thereby, the use of three groups allowed to test not only the use of NIV with AET but also the safety and effectiveness of AET alone using the six-minute walk test, which has been previously used in studies with HF patients(Giannitsi et al., 2019; Lakdizaji , Hassankhani, Mohajjel aghdam , & Khalilzad 2015). However, some aspects of the intervention must be addressed; it should be emphasized that the exercise training intervention comprised a very restricted typology of exercise – only cycloergometer,

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which is very limited in order to truly infer about aerobic exercise tolerance and feasibility. Patients only exercise in bed and the workload is not known. Also, information about heart rate variation would be important, in order to infer about exercise intensity(ACSM, 2018; Cattadori et al., 2018). The results suggest that aerobic exercise performed during the phase of stabilization is safe, since there were no adverse events in either intervention groups. It must be highlighted that the sample of patients presented very low function capacity level and are of high risk of decompensation – NYHA class IV patients are the ones with resting symptoms of dyspnea and exertion(Martens, Jacobs, Dupont, & Mullens, 2018) and left ventricular ejection fraction <30% that represents a significant impairment of ventricular filing which may unable the ability of patients to perform exercise(Fukuta et al., 2019; Jorge Alves et al., 2010; O'Connor et al., 2009). These patients are often excluded from trials involving exercise(Morris & Chen, 2019) and their enrollment in such a complex intervention is of great value and probably justifies the limited typology of exercise used, since safety and feasibility has never been tested before in acute HF inpatients. This specific issue – exercise and decompensated patients is very delicate, since patients are unstable and safety concerns must be at the top of the list of priorities; maybe that is the main reasons why there is a lack of evidence in the field(Morris & Chen, 2019) and may explain one of the study’s limitation: a small sample size. Meanwhile, guidelines often recommend that earlier physical activity should be engaged as soon as patients are able to(ACSM, 2018; Piepoli et al., 2011; Ponikowski et al., 2016); however, these same guidelines give imprecise orientations about the amount of exercise that patients must perform. It is recommended to walk short-to-moderate distances, with minimal or no assistance, three to four times a day, progressing to independent ambulation; upper body movement exercises and minimal stair climbing. For the previous it is noticeable that these recommendations are unclear about the time and duration of exercise(ACSM, 2016) and most important, there is no information about the effectiveness of the intervention. Regarding safety, which is of major concern and it is also emphasized in the article selected, guidelines refer to the limits that must not be exceeded and elucidate about the signs and symptoms that should be of concern; namely the level of exertion, heart rate variation and electrocardiographic rhythm changes(ACSM, 2018; Alvarez, Hannawi, & Guha, 2016; Cattadori et al., 2018).

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Reeves et al (2017), published a pilot study where they describe an intervention of earlier cardiac rehabilitation for heart failure inpatients such as the authors of the selected article did. This intervention started during hospitalization period and continue for a period of 12 months where functional capacity was accessed in order to test the effectiveness of exercise training; however, in this study no evaluation at discharge was performed and no exercise training protocol or intervention was described(Reeves et al., 2017), which is in contrast to the study selected for this revision. Authors address as limitations the fact that this is pilot study with a small sample size and not designed or powered to assess efficacy or safety of the intervention. Only the feasibility was safeguarded and tested. As it can be clearly observed, in the study selected(Oliveira et al., 2018) and on this last study referred(Reeves et al., 2017) there is always the same limitations: the inability to firmly confirm the feasibility, safety and effectiveness of exercise training during the phase of stabilization. This limitations, together with the recommendations of guidelines creates a window of opportunities for investigators to develop interesting studies to test AET for decompensated HF patients. The results of the included study for review must be carefully interpreted since the risk of bias assessment showed that this study has a high risk of bias. Despite that, these results encourage the development of further research on the viability, safety and efficacy of AET for inpatients with heart failure. In the future, RCT with a significant sample size must be performed, following the steps that other investigators did, following the recommendations and safety concerns and aiming to innovate and test a structured AET protocol.

CONCLUSION The present integrative review of literature presents some limitations: some studies may have been disregarded by limiting the search to four databases and English language publication, the high risk of bias of the included study and, as main limitation, the fact that only one study met the inclusion criteria. For this reason, there is very limited evidence to discuss the theme and reach some further conclusions. In addition to the fact that there is only one study that meets the criteria, it corresponds to a pilot study and as such, it presents little robust results with regard to its application in practice.

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The data available do not allow to firmly infer about the feasibility, safety and effectiveness of AET for HF inpatients. However, the limited evidence demonstrates a tendency toward the positive application of exercise in clinical practice of inhospital patients with HF. Larger studies are needed with strong samples of patients and robust design of investigation.

RELEVANCE TO CLINICAL PRACTICE The results illustrate a missing area of clinical evidence. Cardiac rehabilitation is considered for experts the most effective non-pharmacological intervention for cardiac patients and especially for HF patients. The success of the process depends on the sequential interventions that are design for a cardiac rehabilitation program; for this reason, if some of the phases are not quite developed it could jeopardize the entire process. It is urgent to develop and test AET protocols for HF inpatients in order to promote patient’s functional capacity, adherence to the therapeutic regimen and consequently an improvement on their health status and quality of life. The absence of evidence is not an obstacle but an opportunity to create knew knowledge and improve the clinical practice.

CONFLICT OF INTEREST STATEMENT The authors declare no conflict of interest.

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Callado A. (2020) Emotional Labour In Pediatric Nurse, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 18- 29 Revisão Integrativa: Callado A. (2020) Emotional Labour In Pediatric Nurse, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 18- 29

 Revisão Narrativa da Literatura

Trabalho Emocional Na Enfermagem Pediátrica Trabajo Emocional En Enfermería Pediátrica Emotional Labour In Pediatric Nurse Ana A. Póvoa Callado RN, CNS, a exercer Funções de Chefia na USF Ribeiro Sanches – ACES Amadora, Lisboa; Assistente Convidada na Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Corresponding Author: anapovoacallado@gmail.com Resumo As emoções são parte integrante da profissão de enfermagem, elas são sentidas e orientam o agir do enfermeiro. Como profissão, a enfermagem está ligada ao conceito de cuidar, implicando interação entre o cuidador e o alvo dos cuidados, ou seja, o contacto com emoções intensas e perturbadoras. Da mesma forma, no cuidar da criança/ família, o trabalho de enfermagem é caracterizado muitas vezes por tensão e emoções intensificadas. Assim, as instituições de saúde esperam que os seus funcionários consigam regular as suas emoções, especialmente aquelas com forte impacto negativo. Este conceito pode ser entendido como trabalho emocional. Este requere a transmissão ou a não transmissão de emoções/ sentimentos com a intensão de produzir um determinado resultado nos outros, nomeadamente a sensação de estar protegido, num lugar seguro. Reconhecer que os profissionais de enfermagem devem ser competentes na regulação das suas emoções é uma verdade incontornável. Uma revisão narrativa da literatura poderá ser um valioso contributo para melhorar o nosso conhecimento sobre que estratégias utilizam os enfermeiros na sua prática clínica em pediatria, como forma a manter a qualidade dos cuidados prestados. Para tal realizámos em pesquisa em bases científicas e analisámos artigos de relevante interesse. Os resultados evidenciam a necessidade de se regular as emoções no processo de cuidar, recorrendo os enfermeiros à reflexão, partilha com os seus pares, e o desenvolvimento de competências emocionais, a par das técnicas, como estratégias que precedem a realização de trabalho emocional. Palavras-chave: Trabalho Emocional; Cuidados de Enfermagem; Pediatria.

Abstract Emotions are an integral part of the nursing profession, they are felt and they guide the actions of the nurse. As a profession, nursing is connected to the concept of caring, implying interaction between the caregiver and the care target, i.e. contact with intense and disturbing emotions. Similarly in child/family care, nursing work is often characterized by an intensification of emotions and stress. Thus, health institutions expect their employees to be able to regulate their emotions, especially the ones with a strong negative impact. This concept can be understood as emotional work. It requires the transmission or the non-transmission of emotions/feelings with the intention of producing a particular result in others, namely the feeling of being protected in a safe place. The recognition that nurses should be competent in their emotional regulation is an inescapable truth. A narrative review of the literature can be a valuable contribution to improve our knowledge about which strategies nurses use in their clinical practice in pediatrics, in order to maintain the quality of care provided. To this end, we carried out research on scientific bases and analyzed articles of relevant interest.The results show the need to regulate emotions in the caring process, leading nurses to reflection, sharing with their peers, developing emotional skills, along with the techniques, as strategies that precede the performance of emotional work. Keywords: Emotional Labour; Nursing Care; Pediatric.

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INTRODUÇÃO

As emoções são a base da nossa vida. Elas funcionam como um filtro de perceções, afetando as nossas decisões conscientes e, muitas vezes, levam-nos a tomar decisões que não sabemos justificar. Por vezes, sentimos emoções que não conseguimos conter, o que nos pode colocar em situações difíceis de gerir. Estas variam de acordo com a cultura, sexo e idade (Lazányi, 2010). As emoções são parte integrante da profissão de enfermagem, são inerentes ao seu desempenho profissional, o que justifica que seja necessário tomarmos consciência delas quando estabelecemos uma relação com os utentes de quem cuidamos. As emoções são sentidas e orientam o agir do enfermeiro, pelo que se torna importante perceber com os enfermeiros perspetivam e desenvolvem a experiência humana do ‘sentir’, enquanto instrumento de cuidados (Diogo, 2006). Reconhecer que os profissionais de enfermagem devem ser competentes, no que respeita a lidar com as suas emoções e as dos outros, é uma verdade incontornável, pelo que se torna, então, importante compreender como gerem os enfermeiros as suas emoções, sabendo que cuidar provoca, necessariamente, nos enfermeiros emoções e sentimentos intensos e muito diferentes. A enfermagem como profissão está desde o seu início ligada ao conceito de cuidar, incitando nos seus profissionais uma necessidade constante de desenvolver competências nesta área com vista à prestação de cuidados de excelência. Para Mercadie (2004), cuidar implica interação entre o cuidador e o alvo dos cuidados, significa, portanto, o contacto com todo um conjunto de emoções intensas e perturbadoras, também elas suscitando emoções e sentimentos no profissional que cuida do binómio criança/ família. A existência de profissionais de saúde emocionalmente competentes pode mesmo afetar os doentes, criança e família, na forma como estes se encaram assim como à sua doença, ou mesmo interferir no processo de cura (Lazányi, 2010). Assim, as instituições de saúde esperam que os seus funcionários consigam gerir as suas emoções, especialmente aquelas com forte impacto negativo, ou que consigam abstrairse dessas emoções “deixando-as à porta” do trabalho. Ainda segundo Lazányi este conceito pode ser entendido como trabalho emocional. O trabalho emocional surge como uma exigência em muitas profissões e, de acordo com Hoschschild (1983), consiste na gestão das emoções para que estas não sejam transmitidas com a face e na linguagem corporal, de forma a corresponder às expectativas do trabalho (Smith & Gray, 2001; Henderson, 2001). Este requere a transmissão ou a não

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transmissão de emoções/ sentimentos com a intensão de produzir um determinado resultado nos outros, que seria neste caso o sentimento de sentir-se cuidado e de estar num local seguro. Este tipo de trabalho, segundo a autora, requere uma coordenação muito grande entre a razão e sentimentos. Foi com Smith, em 1992, que o conceito de trabalho emocional foi aplicado na enfermagem. Smith refere, após analisar testemunhos de enfermeiras e estudantes de enfermagem, que se espera que elas (enfermeiras) consigam suprimir os seus próprios sentimentos, sejam capazes de estar sempre alegres e que consigam lidar com sentimentos muito diferentes, independentemente de quais são os seus próprios sentimentos (Henderson, 2001). Durante os atos de cuidar na enfermagem, surgem emoções individuais como resposta às circunstâncias do contacto com o outro, da relação que se estabelece entre ambos. Este estado emocional individual pode ser atenuado pela personalidade, expectativas ou por características pessoais. A vontade de se aproximar aos doentes pelas enfermeiras parece também estar relacionado com a oportunidade e o encorajamento fornecidos pelo local onde exercem, desenvolvendo estratégias para lidar com as emoções (Henderson, 2001). Trabalho emocional e aprender a cuidar permanecem implícitos nos serviços de saúde. Frequentemente o trabalho emocional não é totalmente reconhecido e é reduzido a outra categoria de cuidados em enfermagem (Smith & Gray, 2001). Como consequências do trabalho emocional, o trabalho emocional melhora a eficiência no trabalho, reduz a necessidade direta de controle e diminui os conflitos interpessoais (Lazányi, 2010), sendo estes aspetos apreciados pelas organizações. Porém, este restringimento da espontaneidade dos trabalhadores acarreta-lhes problemas negativos, com consequente manifestação somática ou psicológica (Lazányi, 2010). Após esta análise sobre o conceito de trabalho emocional e a sua relevância para a pratica clinica da enfermagem pode concluir-se que, apesar de ter nascido na área da Sociologia, o conceito de trabalho emocional pode ser entendido como o aspeto humano do cuidar na enfermagem (Huynh, Alderson & Thompson, 2008), uma vez que este cuidar é considerado a essência da profissão. No contacto com crianças doentes e com a sua família, o trabalho de enfermagem é caracterizado muitas vezes por tensão e emoções intensificadas. No modelo de cuidar transpessoal de Watson (1996), o cuidador respeita a sua subjetividade, o seu mundo interior, o seu “self”, assim como respeita essa mesma subjetividade, mundo interior e o “self” do outro, criando

condições

para

prestar

cuidados

humanizados.

Pode

dizer-se

que

a

transpessoalidade caracteriza este modelo teórico. No momento do cuidado, através de intencionalidade e da presença, há uma ligação entre quem cuida e quem é cuidado, para JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-2

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que se desenvolva um cuidado global, que possa contemplar o ser na sua totalidade – mente, corpo, espírito – conduzindo ao bem-estar e à harmonia. O processo de cuidar é considerado, assim, um processo relacional, uma forma de comunicação e promove a libertação de sentimentos humanos (Watson, 2002a). Esta teórica considera importante o envolvimento pessoal, social, moral e espiritual dos enfermeiros no processo de cuidar. Assim, o cuidar gera a partilha de emoções, sendo que esta interação evoca nos próprios enfermeiros diversas e intensas emoções. No cuidar em pediatria, Diogo (2012) refere que os enfermeiros são “pais à disposição”, pois desenvolvem práticas de contar histórias com o intuito de minimizar o sentimento de solidão e medo nas crianças, utilizam o toque suave/ carícias para desenvolver nas crianças sentimentos de confiança no enfermeiro, modelam a voz com tons suaves e alegres enquanto a cuidam para que esta se acalme, acreditam que proporcionar divertimento aumenta a sensação de bem estar e que o brincar lhes dá a possibilidade de expressar medos, de libertar energias e de se relacionar com os outros. Neste sentido, o enfermeiro confronta-se de forma inevitável com sentimentos, tendo que lidar com a emotividade das situações de cuidados, sendo expectável que consiga colocá-las em segundo plano (Diogo, 2006). Na opinião de Watson (2002b), será importante que os enfermeiros se questionem sobre as experiências vividas e as singularidades dessas experiências, desenvolvendo conhecimentos relacionados com o cuidar humano, capacitando-se para melhor conseguirem estabelecer a relação de cuidar. Tendo em conta esta reflexão sobre a Teoria do Cuidado Transpessoal, a relação que os enfermeiros conseguem estabelecer com o outro dependerá de sua capacidade de compreender e detetar as emoções no outro e em si mesmo. Assim, propusemo-nos a realizar esta revisão narrativa da literatura com o objetivo de identificar que estratégias utilizam os enfermeiros durante a sua prática clínica em pediatria, de forma a manter a qualidade dos cuidados prestados.

METODOLOGIA

A pesquisa realizou-se nas bases de dados de dados científicas disponibilizadas na plataforma EBSCOhos: CINAHL Plus, MEDLINE e PSYCHOLOGY AND BEHAVIORAL SCIENCES COLLECTION, através dos termos descritores de pesquisa: “criança”, “cuidados de enfermagem”, “pediatria”, “trabalho emocional”, em texto completo e escritos em português, espanhol ou inglês. Consultámos ainda autores de enfermagem significativos sobre o tema, tais com Watson, Benner e Diogo. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-2

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Através da metodologia comparativa, descritiva e compreensiva, foi-nos possível analisar os artigos selecionados, identificando as estratégias de trabalho emocional utilizadas pelos enfermeiros.

RESULTADOS

Da leitura e análise de vários artigos que tiveram os enfermeiros como participantes sintetizamos os resultados que apresentamos seguidamente. De acordo com Maunder (2008) o grau de envolvimento dos enfermeiros com as crianças e suas famílias está relacionado com a experiência e a competência que esses enfermeiros já desenvolveram, dando assim maior importância ao envolvimento emocional com na experiencia de cuidar o outro. O autor identifica a existência de uma cultura comum de equipa, onde o sentimento de partilha e de pertença se tornam um suporte para as questões da emotividade no trabalho, dando suporte, encorajando e identificando áreas de fragilidade e que necessitam de intervenção em cada elemento da equipa. No seu artigo, Warner (2006) refere a importância do autoconhecimento, sendo que para a aplicação terapêutica do “self” será necessário que o enfermeiro tome consciência de si, analise os seus sentimentos, valores, atitudes e que reflita sobre as suas experiências passadas. Reforça que o desenvolvimento de competências inclui reconhecer as suas limitações, tornar-se consciente de si e assertivo e partilhar a emotividade vivenciada com os colegas. Sugere a importância da supervisão clínica como a estratégia que proporcionará manter a qualidade dos cuidados prestados em situações de emotividade elevada Também Hilliard e O´Neill (2010) abordam o impacto do trabalho emocional para os enfermeiros. Segundo os autores, promover uma relação de confiança com a criança canalizando as suas emoções no seu cuidar e dar suporte aos pais, permite manter o bemestar emocional dos enfermeiros. Os autores identificam os colegas como sendo habitualmente o suporte de cada um dos elementos da equipa, sentindo-se encorajados a partilhar as suas experiências. Sugerem, ainda, a importância da aprendizagem e o desenvolvimento de competências, sendo esta aprendizagem guiada pelos colegas mais experientes, sendo estes valorizados e servindo de modelo para os mais novos. Para O´Connell (2008), é de relevante importância o estabelecimento da relação terapêutica com o doente pediátrico. Para tal, é fundamental que os enfermeiros conheçam as suas crenças e valores, assim como o desenvolvam a capacidade de estabelecer relações. Esta relação é sustentada por uma comunicação eficaz, baseada na verdade e no compromisso. Identifica a utilização da reflexão e da supervisão clínica como as estratégias

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que podem facilitar o desenvolvimento da inteligência emocional necessária à manutenção destas relações com os doentes. Por outro lado, Ong (2005) considera relevante para o trabalho emocional dos enfermeiros a diminuição da diminuição da ansiedade das crianças internadas e da importância da comunicação estabelecida com a criança e sua família. Considera, ainda, importante privilegiar a prestação de cuidados emocionais, para além dos cuidados físicos, como tendo impacto na satisfação profissional do enfermeiro. Para Wallace (2010) é importante deixar que os familiares nos “ensinem” como desejam ser cuidados, adotando uma comunicação adequada, cuidando em parceria com os pais, envolvendo-os e não os substituindo. O autor considera fundamental o o cuidado emocional como competência dos enfermeiros. Pearson (2010) considera a importância da relação empática, baseada na verdade, através da qual o enfermeiro deve dar resposta às necessidades da criançae sua família. Refere que uma das redes de apoio mais importantes são os colegas, pois poder desabafar com alguém que partilha as mesmas experiências é muito benéfico. Por outro lado, é importante que os enfermeiros desenvolvam competências emocionais, a par do desenvolvimento das competências técnicas. Para tal, a autora estimula ao pensamento critico, à reflexão e ao debate sobre o cuidar de crianças em fim de vida. Por último, para Diogo, Vilelas, Rodrigues e Almeida (2015), consideram que a regulação emocional dos enfermeiros está ligada à experiência profissional e à perícia desenvolvida, sendo os enfermeiros peritos os que mais tendem a envolver-se emocionalmente com a criança e sua família, sendo, por isso, de grande relevância o desenvolvimento de uma prática de cuidados cada vez mais holística.

DISCUSSÃO

Com a análise dos artigos selecionados podemos constatar a importância da regulação emocional dos enfermeiros para que se mantenham capazes de prestar cuidados de enfermagem de qualidade, num contexto profissional pautado pela intensa e profunda carga emotiva a que estão expostos constantemente. Assim, trabalho emocional e cuidar em enfermagem caminham lado a lado. Efetivamente, vários são os artigos analisados que se referem aos sentimentos negativos dos enfermeiros, resultantes da prestação de cuidados á criança e sua família (Wallace, 2010; Maunder, 2008; Hilliard & O´Neill, 2010; Person, 2010; Diogo et al., 2015).

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A este respeito, Rispail (2003) considera que durante o processo de Cuidar em Enfermagem, por vezes, é-se confrontado com situações extremas onde os limites físicos e psicológicos, dos enfermeiros, são difíceis de gerir. Partindo desta constatação, são muitos os autores, dos artigos analisados, que consideram fundamental o estabelecimento de uma relação verdadeira, genuína, empática, terapêutica (Maunder, 2008; Warner, 2006; Hilliard & O´Neill, 2010; O´Connell, 2008; Pearson, 2010). A par do estabelecimento desta relação próxima e profunda, é referido o cuidar emocional como algo imprescindível no cuidar (Maunder, 2008; Wallace, 2010; Pearson, 2010; Diogo et al., 2015), como estratégia para minimizar o impacto negativo da doença/ internamento na criança e na sua família. Concordando com esta posição, Leeson (2010) refere que cuidar de crianças envolve um grau particularmente alto de envolvimento emocional. Este envolvimento profundo com a criança e sua família produz uma prática de cuidados holísticos, tentando suprir todas as necessidades da díade, atendendo de igual forma às necessidades emocionais e físicas. Devemos, então, desenvolver a capacidade de detetar as pistas emocionais dos outros, muitas vezes expressas na linguagem corporal e interagirmos com eles, agirmos de forma coerente, demonstrando que os entendemos, incluindo a capacidade de ouvir, o que demonstra aos outros que nos preocupamos com eles (Goleman, 2003). Por outro lado, encontramos referencia a que o grau de envolvimento com as crianças e sua família depende da experiência e da competência desenvolvida pelos enfermeiros (Maunder, 2008; Diogo et al., 2015). Também Benner & Wrubel (1989) referem que os enfermeiros peritos que tendem mais a se envolver com aqueles de que se cuida. Assim, para que os enfermeiros possam utilizar o seu “self” na relação com as crianças/ família, aspeto focado por Warner (2006) e O´Connell (2008), é imprescindível que desenvolvam o autoconhecimento de si, dos seus sentimentos, das suas crenças, dos seus valores e da sua capacidade para estabelecer a relação empática. No modelo de cuidar transpessoal de Watson (1996), o cuidador respeita a sua subjetividade, o seu mundo interior, o seu “self”, assim como respeita essa mesma subjectividade, mundo interior e o “self” do outro, criando condições para prestar cuidados humanizados. Pode dizer-se que a transpessoalidade caracteriza este modelo teórico. No momento do cuidado, através de intencionalidade e da presença, há uma ligação entre quem cuida e quem é cuidado, para que se desenvolva um cuidado global, que possa contemplar o ser na sua totalidade – mente, corpo, espírito – conduzindo ao bem-estar e à harmonia. Só com este conhecimento profundo de si, o enfermeiro será capaz de sentir empatia pela família, no seu sofrimento, mesmo quando esta canaliza contra si a sua angústia (Hilliard & O´Neill, 2010).

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A empatia é, então, a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, sentirmos o que ele sente sem estarmos na sua situação (Goleman, 2003). Também Diogo (2012) refere que o enfermeiro deverá estar disponível para partilhar o sofrimento dos outros dando assim respostas adequadas e com sentido. Refere, ainda, que este processo de envolvimento entre os intervenientes do processo de cuidar permite partilhar experiências. Esta capacidade surge da autoconsciência que temos de nós, quanto mais abertos estivermos às nossas emoções, mais capazes nós seremos de ler os sentimentos dos outros (Goleman, 2003). O enfermeiro deverá, então, melhorar a compreensão de si próprio, “dos seus receios, tomar consciência dos seus mecanismos de projecção e de defesa, a fim de adquirir uma autenticidade e um certo nível de confiança que lhe permitirão melhorar a qualidade dos cuidados que presta” (Rispail, 2003, p. 2). Por outro lado, o estabelecimento desta relação empática com a criança/ família expõe o enfermeiro a vulnerabilidades emocionais (O´Connell, 2008, Diogo et al., 2015). Na realidade, tomar consciência do sofrimento do outro implica uma experiência de dor e sofrimento para o enfermeiro (Diogo, 2012). Mas, na opinião de Benner (2001) este envolvimento emocional pode constituir-se útil para o próprio enfermeiro, uma vez que permite enfrentar melhor a experiência emotiva que o processo de cuidar pode provocar em ambos, quem cuida e quem é cuidado. Por outro lado, o envolvimento emocional no processo de cuidar promove a libertação de sentimentos, tornando-se o enfermeiro capaz de perceber os sentimentos do outro, tornando-se capaz de os detetar e sentir, levando o outro a conhecer mais profundamente esses sentimentos e a libertar-se deles (Watson, 2002), assim como produzir o processo reflexivo. Assim, algumas estratégias são identificadas como facilitadoras da realização do trabalho emocional. Maunder (2006) refere que os mais conscientes de como o seu comportamento afeta os outros e seque esforçam por atender às suas necessidades globais da criança/ família, estão mais sensíveis para a realização do trabalho emocional. Por outro lado, Hilliard e O´Neill (2010) referem que, no seu estudo, os enfermeiros participantes consideraram importante manter o próprio bem-estar emocional e, entre outras estratégias, referem envolver a criança nos cuidados. Também Wallace (2010) refere que deixar que a criança e os seus familiares nos “ensinem” conduzem a melhores praticas de cuidados. A comunicação com a criança e a sua família (O´Connell, 2008; Wallace, 2010) e o cuidar em parceria (Wallace, 2010) são referidos como significativos. A este respeito Alderson e Thompson (2008) referem que as consequências positivas da realização de trabalho emocional ocorrem ao nível individual, assim como no estabelecimento de uma relação profunda com o doente. Outros dos aspetos referidos como benéficos é a nível da satisfação

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profissional (Schofield, 2005), pois quando os enfermeiros se sentem comprometidos com o seu trabalho, será mais provável que realizem trabalho emocional (Huynh et al., 2008). A evidencia refere como estratégias para a regulação emocional dos enfermeiros a utilização da reflexão (Warner, 2006; O´Connell, 2008; Pearson, 2010). A reflexão tem aqui um papel fundamental pois, como refere Rispail (2003), aprender a conhecer e a reconhecer as nossas emoções, a forma das suas manifestações, o escrever e descrever o que nos sobressalta é uma forma de progredir no nosso autoconhecimento e no autodomínio. A partilha de experiências com os colegas foi apontada por vários autores (Mauder, 2008; Warner, 2006; Hilliard & O´Neill, 2010; Pearson, 2010). Também a supervisão clínica foi identificada como promotora da realização do trabalho emocional, desenvolvendo o pensamento critico e permitindo o desenvolvimento de competências emocionais (Warner, 2006; O´Connell, 2008; Pearson, 2010). Também foi referido a cultura de equipa pois fomenta o sentimento de pertença, valorizando as necessidades emocionais, suportando, encorajando e identificando as fragilidades individuais de cada elemento da equipa, e em que cada um se identifica com os restantes elementos (Mauder, 2008; Warner, 2006; Hilliard & O´Neill, 2010), completado com a ideia de que os colegas mais experientes facilitam a aprendizagem e servem de modelo para os mais novos (Warner, 2006). Corroborando estes achados, Halligan (2006) refere que o processo de reflexão e a supervisão clínica podem ajudar os enfermeiros a identificar as suas barreiras culturais, ideias estereotipadas, e preconceitos que podem condicionar o cuidar. O mesmo autor refere que os enfermeiros devem ter acesso continuo a conhecimento e desenvolvendo competências que lhes permitam realizar o trabalho emocional, tornando os profissionais mais competentes (Halligan, 2006). Por outro lado, vários são os autores que consideram que no contexto da prática clínica em enfermagem, a realização do trabalho emocional é precedida e influenciada pela experiência profissional, pelo que é mais provável ser realizado por enfermeiros peritos (Staden, 1998; (Huynh et al., 2008). Ainda, outros autores referem ser necessário competências interpessoais desenvolvidas e a identificação do profissional com as regras de trabalho emocional da sua classe profissional, mais do que com as regras de regulação emocional do local de trabalho (Henderson, 2001; Huynh et al., 2008). A análise produzida permitiu-nos concluir que os enfermeiros têm uma posição privilegiada para atuar em situações de perturbações emocionais dos doentes, sendo de vital importância que os enfermeiros possuam uma consistente capacidade para estabelecer uma relação de ajuda e também uma boa capacidade de superar eventuais transtornos emocionais causados pelas situações a que diariamente estão sujeitos (Mercadier, 2004). Assim, para além de sólidos conhecimentos científicos, técnicos e práticos, um conjunto de capacidades bem desenvolvidas são necessárias pois, se não conseguirem JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-2

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trabalhar as próprias emoções, como conseguirão cuidar efetivamente do outro. É fundamental que os enfermeiros estejam despertos para as suas emoções, o impacto delas na sua prática e no seu processo de cuidar do outro. Existem muitos enfermeiros que não tem a consciência da importância do trabalho emocional na sua pratica, pelo que caberá aos enfermeiros mais experientes, peritos, especialistas, ajudar os colegas que mais precisam, sabendo que o trabalho em equipa também passa por aqui e só assim será possível atingir e manter, ou até melhorar, a qualidade dos cuidados que se prestam, assim como a satisfação no trabalho por parte de todos.

CONCLUSÃO

Através desta revisão narrativa da literatura, foi nossa intensão aprofundar conhecimentos que dessem resposta ao nosso objetivo. Pretendemos também mostrar a pertinência e a atualidade do estudo, assim como incentivar o debate sobre a importância do trabalho emocional na prática clínica da enfermagem pediátrica. A temática da gestão emocional é pouco explorada em trabalhos de investigação sobre enfermeiros, o que corrobora a literatura encontrada onde se entende que o trabalho emocional se encontra desvalorizado, por um lado, e por outro, considerado como fazendo parte do processo de cuidar, invisível mas ao mesmo tempo inerente e integrando todo o processo. Urge, então, dotar os profissionais de estratégias que os tornem capazes de realizar o trabalho emocional, para que estes se possam envolver adequadamente com as crianças e suas famílias, numa relação transpessoal de si para com o outro, e capaz ela mesma de promover o healing, que permita honrar a condição humana do cuidar assumindo-o de forma consciente e intencional. Os resultados encontrados mostram como os enfermeiros fazem a sua regulação emocional sustentada pela relação empática estabelecida com a criança/ família com base numa abordagem holística e tendo por base a pessoa nas suas várias dimensões, assim como a reflexão e o apoio e suporte da equipa de pares se mostra facilitadora de todo este processo que culmina na satisfação própria pela profissão e pelo cuidar do outro, mas também na melhoria dos cuidados prestados à criança e sua família.

Implicações para a prática clínica

Os resultados encontrados com esta revisão sistemática da literatura mostram-nos a complexidade do trabalho emocional pelos enfermeiros que trabalham com a criança/ família. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-2

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Pensamos poder dizer, após a realização deste estudo secundário, que os serviços de saúde deveriam estar mais atentos à necessidade de os seus profissionais, nomeadamente os enfermeiros, pela carga emocional que o cuidar provoca em quem presta cuidados de forma global, envolvendo o seu “self” nesse processo, realizarem de forma efectiva trabalho emocional. Temos, agora, uma melhor compreensão sobre o fenómeno em estudo. Consideramos que mais estudos sobre esta problemática são necessários para promover a discussão e a reflexão sobre a sua pertinência. Considerando a competência geral do enfermeiro especialista como um promotor da gestão e da qualidade de cuidados da sua equipa, o enfermeiro especialista em saúde infantil e pediátrica poderá ter um papel essencial na realização do trabalho emocional, estando especialmente atento à forma como cada um dos seus colegas regula as suas emoções, incentivando e dando suporte a que a emotividade própria do cuidar em pediatria não adquira uma conotação negativa conduzindo ao burnout do enfermeiro, e por outro lado, não interfira na qualidade dos cuidados prestados no serviço.

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Murillo R., Rodríguez A., Mosquera O.,Prada Y. (2020) COVID-19: Public Health crisis or Geronto-Sanitary crisis?, Journal of Aging & Innovation, 9 ARTIGO DE OPINIÃO: Murillo R., Rodríguez O.,Prada Y. (2020) COVID-19: Public Health (2):A30osquera 30- 32 crisis or Geronto-Sanitary crisis?, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 30- 32

 Artigo de opinião

COVID-19: crise de Saúde Pública ou crise Geronto-sanitária? COVID-19: crisis de Salud Pública o crisis Gerontosanitaria? COVID-19: Public Health crisis or Geronto-Sanitary crisis? Roberth Steven Gutiérrez Murillo1; Andrea Del Pilar Trujillo Rodríguez2; Olga Lucía Conde Mosquera3; Yury Lizeth Cardozo Prada4 1

European University of the Atlantic – UNEATLANTICO. Department of Geriatrics and Gerontology. Santander, Spain;

Federal University for Latin-American Integration – UNILA. Latin-American Institute of Life and Nature Sciences. Foz do Iguaçu, Brazil. 2 University of São Paulo – USP. Department of Public Health. São Paulo, Brazil. Federal University for Latin-American Integration – UNILA. Latin-American Institute of Life and Nature Sciences. Foz do Iguaçu, Brazil. 4 State University of Western Paraná – UNIOESTE. Department of Public Health. Foz do Iguaçu, Brazil. 3

Corresponding Author: stevengumu@gmail.com

By the moment we address this brief communication, the coefficient of morbi-mortality, due to the new pathological manifestation of the coronavirus, is constantly increasing. On a daily basis, we wake up to frightening figures that inform us about the aggressiveness of this new virus and, unfortunately, bring us closer to the idea that this is not a disease we can easily counter. On the contrary, we approach the idea of living with yet another virus characterized by high transmission; morbidity and mortality coefficients. These facts, however, have been promptly and properly highlighted by the World Health Organization – WHO.1,2 The new manifestation of the coronavirus has been named by the WHO, as COVID19. Regarding the acronym, “CO” refers to crown; "VI" virus and "D" disease. Furthermore, “its transmission has been identified through droplets of saliva or discharge from the nose when an infected person coughs or sneezes”. 2 The current Brazilian scenario indicates that the hygienist activities developed by the Ministry of Health, in partnership with public agencies, are specifically focused on disease mitigation. Mitigation, in turn, is the prevention and control phase that aims to “reduce the levels of disease transmission for groups at greater risk of presenting more JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-3

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ARTIGO DE OPINIÃO: Murillo R., Rodríguez A30osquera O.,Prada Y. (2020) COVID-19: Public Health crisis or Geronto-Sanitary crisis?, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 30- 32

severe clinical conditions; in addition to promoting the isolation of positive cases and those in suspicion”.3 Brazil is considered to be one of the oldest Latin American countries, that is, with a higher proportion of the aging population. With such aging projection, there is an increase in chronic non-communicable diseases, especially those related to people's habits and lifestyles. Parallel to this, there is also an increase in the index of elderly drug dependents; even more aggravating, the chance of developing polypharmacy. Recent publications on the European and Asian continental axis alert us to the deadly affinity that COVID-19 has with the elderly, which is the group most affected. Such findings also inform us of the correlation between mortality and the presence of comorbidities, especially respiratory and cardiovascular ones. 4 It is important to bear in mind that the premise that permeates geronto-sanitary practice is the analysis of health conditions and needs focused on the occurrence of population phenomena or samples of aged individuals, aiming at observing specific facts and their corresponding variations in a given geospatial context, to later propose interventions of partial or final resolution.

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Notwithstanding, current geronto-sanitary interventions

have not been able to propose nor partial or final resolutions to COVID-19. In response to that, all actions have been set to prevent/control the transmission rate and to offer clinical care to infected elderly, aiming at controlling the symptomatic stages. Much more than being declared a public health crisis, COVID-19 has proved itself to be a geronto-sanitary crisis. It can now be considered a multidimensional and dynamic disease that affects all public intervention areas, such as: health; education; social security; economics and politics. Our geronto-sanitary view points out to two main instigations. At first, we realized that the epidemic crisis of COVID-19 has mirrored some of the great challenges of primary health care, within the scope of the Unified Health System, such as: incipient training/preparation of health professionals to deal with socio-sanitary needs manifested by the elderly; the disorganization and non-articulation of local social and health care networks and the social stigmas admitted about human aging, which act as barriers to the promotion of universal, comprehensive and equitable gerontosanitary practices.

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ARTIGO DE OPINIÃO: Murillo R., Rodríguez A30osquera O.,Prada Y. (2020) COVID-19: Public Health crisis or Geronto-Sanitary crisis?, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 30- 32

As our second regard, the public health and social assistance system is unprepared to reconcile joint interventions in the context of an epidemic and a public health crisis. Such a challenge is noticeable from the federal level, a fact that instigates us even more. The questionable acting of the federal government in the face of the health crisis of COVID-19 moves us to rethink our professional and citizen practices. In that sense, we consider that the principle of intergenerational solidarity and beneficence must be appropriated by society, in the same way. We understand that the most feasible way to act as gerontologists and hygienists, it is not obvious that the elderly are, according to scientific evidence, the group most affected in the middle of the health crisis. We reckon that institutionalized elderly are even more susceptible to worsen conditions related to COVID-19’s symptoms. Finally, we emphasize that, despite the multiple challenges found in our professional practice and in the various care scenarios in which health professionals are inserted, our vocation and professional satisfaction must prevail. Today more than ever, society is in need of our knowledge and skills. Teamwork, the valorization of collective effort and the hope placed in better times guide our professional daily life in times of epidemic crisis.

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traçando

o

perfil

de

saúde

de

gerontes

iguaçuenses

institucionalizados em ILPI. Rev. Longeviver, São Paulo, v. 2, n. 6, 2020.

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Fonseca C., Luz H, Melo R. (2020) Aging and Humanitude Care: Opportunities for the organizational system, Journal of Aging & Innovation, ARTIGO ORIGINAL: Fonseca C., Luz H, Melo R. (2020) 9 (2): 33- 47 Aging and Humanitude Care: Opportunities for the organizational system, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 33-47

 Artigo Original

Envelhecimento e Cuidado Humanitude: Oportunidades para o sistema organizacional Cuidado del envejecimiento y la humanidad oportunidades para el sistema organizativo Aging and Humanitude Care: Opportunities for the organizational system Carolina Fonseca1 Helena Luz 2, Rosa Melo3 1

MsC em Serviço Social pela Universidade de Coimbra/Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação Universidade de Coimbra/Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação 3 Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Corresponding Author: carolina_19fonseca@hotmail.com 2

Resumo Objetivo: A intensificação das comorbidades e da dependência com o avanço da idade têm estado na origem da crescente institucionalização de pessoas idosas em estruturas residenciais desafiando-as a perspetivar a abordagem da humanização dos cuidados como um compromisso globalizante, ou seja, abrangendo todo o contexto organizacional. Neste âmbito, o presente artigo analisa as oportunidades da Metodologia de Cuidado Humanitude (MCH) para o sistema organizacional, focalizando os domínios da sua aplicabilidade, os benefícios e dificuldades associadas à sua implementação e o contributo económico potenciado por esta metodologia. Método: Foi realizado um estudo exploratório e descritivo de natureza quantitativa abrangendo três formadores credenciados do Instituto Gineste- Marescotti (IGM) Portugal, com experiência na implementação da MCH em ambiente residencial e desempenho de cargos de gestão em instituições de apoio à população idosa. A recolha de dados foi prosseguida por via de questionários tendo as questões abertas sido sujeitas a análise de conteúdo (Bardin, 2016). Resultados: A aplicabilidade da MCH reverte forte pertinência no campo dos cuidados diretos à pessoa idosa e dinâmica organizacional. Realçam-se benefícios da humanitude para o cuidador formal, pessoa cuidada e sistema/contexto organizacional. Os constrangimentos à adoção desta abordagem são de natureza interna e externa à instituição. Numa vertente económica são apontadas potencialidades avaliando a relação custo-eficácia. Conclusões: A MCH constitui uma abordagem transversal ao cuidado em enquadramento residencial, constituindo-se como uma metodologia aliada das direções técnicas no que diz respeito à mudança na cultura organizacional. O sistema organizacional é o alicerce necessário e essencial para sustentar uma mudança para um cuidado humanizado e que reverte inúmeros benefícios e contributos para todos os agentes que constituem o sistema organizacional, carecendo de se minimizar os constrangimentos à sua implementação. Palavras-chave: Envelhecimento; Pessoas Idosas; Cuidado; Humanitude; Estruturas residenciais; Sistema organizacional

Abstract Objective: The intensification of comorbidities and dependence with advancing age has been at the origin of the growing institutionalization of elderly people in residential structures, challenging them to view the approach of humanization of care as a globalizing commitment, that is, covering the entire context organizational. In this context, this article analyzes the opportunities of the Methodology of Care Humanitude (MCH) for the organizational system, focusing on the domains of its applicability, the benefits and difficulties associated with its implementation and the economic contribution enhanced by this methodology. Method: An exploratory and descriptive study of a quantitative nature was carried out, covering three accredited trainers from the Institute Gineste-Marescotti (IGM) Portugal, with experience in implementing MCH in a residential environment and performing

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ARTIGO ORIGINAL: Fonseca C., Luz H, Melo R. (2020) Aging and Humanitude Care: Opportunities for the organizational system, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 33-47

management positions in institutions that support the elderly population. Data collection was continued through questionnaires and open questions were subjected to content analysis (Bardin, 2016). Results: The applicability of MCH reverts strong relevance in the field of direct care for the elderly and organizational dynamics. Humanity benefits for the formal caregiver, cared person and organizational system / context are highlighted. The constraints to adopting this approach are internal and external to the institution. In an economic aspect, potentialities are pointed out assessing the cost-effectiveness. Conclusions: MCH constitutes a transversal approach to care in a residential setting, constituting itself as a methodology combined with technical directions with regard to changing organizational culture. The organizational system is the necessary and essential foundation to sustain a change to humanized care and that reverses countless benefits and contributions for all the agents that constitute the organizational system, needing to minimize the constraints to its implementation. Keywords: Aging; Old people; Watch out; Humanitude; Residential structures; Organizational system

INTRODUÇÃO

O envelhecimento demográfico constitui o fenómeno mais expressivo do século XXI caracterizando de forma marcante o continente Europeu (EU-28), onde se estima que a população com 65 e mais anos possa vir a aumentar de 101 milhões em 2018 para 149 milhões em 2050. A este respeito a Europa depara-se também com o significativo envelhecimento dos idosos, admitindo-se que as pessoas com 85 e mais anos representem 31,8 milhões em 2050, o que traduz um acréscimo em mais do dobro deste contingente populacional tendo por base o ano de 2018 (13,8 milhões), sendo igualmente de salientar o crescimento da população centenária que se prevê poder alcançar mais de meio milhão em 2050 (EU, 2019). Constituindo o terceiro país mais envelhecido da Europa, Portugal apresenta um registo de híper envelhecimento denunciado pela dimensão da população idosa que ultrapassa já os 21% (Luz, 2019), tendo vindo a evidenciar, a par, um retrato de tendencial longevidade, informado pelo respetivo índice, que dá conta de que 29,4% dos idosos em 2018 possuíam 80 e mais anos, enquanto que em 1990 esta percentagem se situava nos 18,8% (Pordata, 2020). Apesar destas mudanças simbolizarem um patamar de desenvolvimento, associado sobretudo a melhorias várias nos domínios do acesso e informação relativa á saúde/doença e a evoluções a nível dos cuidados de saúde, é sabido que com o envelhecimento se intensificam as comorbidades e acresce a probabilidade de ocorrências em termos de perdas a nível funcional, de que resultam situações de dependência (e.g., Dantas, Bello, Barreto & Lima, 2013; Polaro et al., 2013). Particulares destaques merecem neste âmbito as patologias do foro cognitivo, as quais atendendo à sua complexidade e cariz frequentemente crónico e/ou progressivo tendem a afetar o indivíduo a nível mental, funcional e comportamental (Santana & JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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Duro, 2014). Como a OMS (2017) informa, aproximadamente 20% dos adultos com mais de 60 anos sofre de algum tipo de distúrbio mental, prevalecendo a depressão e a demência. De salientar que no campo das demências a sua incidência tende a duplicar a cada cinco anos, após os 60 anos, reconhecendo-se estarem estas patologias na dianteira, comparativamente aos acidentes vasculares cerebrais (AVC), ou outras formas de cancro, para acentuar a incapacidade de pessoas com mais de 60 anos (Santana et al., 2015). De um modo geral, as doenças incapacitantes (e.g., depressão, demências) têm repercussões ao nível da execução das Atividades de Vida Diária (AVD´s) (Rodrigues, Loureiro, Crespo & Silva, 2014), constituindo a evolução da doença e o grau de dependência decorrente da mesma fatores que limitam a disponibilidade dos cuidados familiares (e.g., Carvalho, 2009; Pimentel & Albuquerque, 2010). Deste modo é frequentemente equacionada a opção pela institucionalização, facultando-se desta forma quer o apoio complementar á família, quer a prevenção de possíveis situações que possam vir a ocorrer e que causam maior dependência às pessoas idosas. Com efeito e tendo por base as Cartas Sociais de 2000 e 2017 (GEP, 2001; 2017), pode constatar-se que as ERPI têm registado um crescimento desde 2000 na ordem dos 70%, ou seja, enquanto que em 2000 existiam 1407 estruturas residenciais para idosos, em 2017, esta resposta social correspondia a cerca de 2500 estabelecimentos, na sua maioria provenientes de IPSS. Nestas respostas socias as equipas profissionais são essenciais para a prestação dos cuidados dignos e humanizados, sendo da responsabilidade das direções técnicas assegurar o trabalho de apoio e coordenação das equipas envolvidas no cuidado e fazer cumprir a missão e os objetivos organizacionais, sejam eles ao nível do cuidado prestado, usufruído ou do equilíbrio organizacional, designadamente de natureza financeira, por forma a proporcionar-se um bom funcionamento dos serviços. Neste âmbito importa, pois, que prevaleçam como centrais na dinâmica das estruturas residenciais as ações vocacionadas para a promoção e manutenção da autonomia das pessoas idosas, carecendo os princípios ancorados na qualidade, eficiência, humanização e respeito pela individualidade de serem assumidos como compromisso globalizante, envolvendo toda a equipa e stakeholders organizacionais, a fim de que possa ser prestado o cuidado humanizado e com qualidade (e.g., GCPAS & CID, 2005, Portaria n.º 67/2012). Sabe-se, contudo, que o trabalho desenvolvido junto de pessoas idosas apresenta acrescida complexidade. Os elevados níveis de dependência que afetam a capacidade de adaptação física e emocional necessária ao autocuidado tornam os JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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cuidados

prestados

pelos

profissionais

em

tarefas

árduas,

despoletando

frequentemente sentimentos de desânimo, insegurança e angústia, da sua parte (Ribeiro et al., 2008). Como se reconhece, face a quadros demenciais intensificam-se as dificuldades associadas à prestação de cuidados, visto que a estas patologias estão associados comportamentos como a agitação, deambulação, discurso repetido e agressões (verbais e físicas), conduzindo a um elevado desgaste emocional, stress e sobrecarga física nos cuidadores formais (Kuske et al., 2009; Rolland et al., 2007). Paralelamente, o desconhecimento da doença, a falta de formação, de tempo, de recursos humanos, são também fatores que constrangem a atividade dos profissionais no campo do cuidado (Barbosa et al., 2011). Frequentemente é a partir deste tipo de dificuldades que se acumulam no dia a dia, que se elevam os níveis de absentismo, os quais aliados à rotatividade de profissionais (admissões e saídas de pessoal) favorecem uma maior instabilidade podendo comprometer a qualidade dos serviços e/ou cuidados prestados (Sousa, 2011). Assim, constitui um imperativo dotar as estruturas de cuidados e respetivos profissionais de ferramentas e métodos que lhes permitam realizar um cuidado digno e humanizado, sendo certo que existem inúmeros fatores que condicionam e/ou dificultam a sua concretização e que importa conhecer e analisar. Sobretudo e tal como sublinham Gineste e Pellissier (2008, p.283) deve perceber-se que para efeito do cuidado gerontológico é essencial a presença de todos, desde “diretores de estabelecimentos, prestadores de cuidados especializados, voluntários e famílias (...)”, pois só através de um trabalho conjunto é possível intervir em contextos de complexidade do cuidado, compreendendo as especificidades das pessoas cuidadas e as mudanças que as mesmas experienciam derivadas dos seus processos de envelhecimento, pelo que importa às instituições rever as suas abordagens do cuidar por forma a tornar este um ato de Humanitude, ou seja, valorizador da pessoa cuidada e do cuidador. Assim, os dirigentes destas instituições confrontam-se com uma exigência ética de implementar estratégias facilitadoras da mudança de cultura de um cuidado rotinizado e centrado na tarefa para um cuidado integral e humanizado. A Metodologia de Cuidado Humanitude, pela evidência cientifica obtida em termos de operacionalização da humanização dos cuidados e mudanças obtidas nas organizações (Melo, Costa, Henriques, Tanaka, Queirós & Araujo, 2019), poderá ser uma dessas estratégias de gestão a implementar. Neste estudo pretendeu-se analisar as oportunidades da Metodologia de Cuidado Humanitude (MCH) para o sistema organizacional, focalizando os domínios da sua

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aplicabilidade, os benefícios e dificuldades associadas à sua implementação e o contributo económico potenciado por esta metodologia.

Método

Foi realizado um estudo exploratório e descritivo de natureza qualitativa abrangendo a partir de uma amostra não probabilística de cariz intencional, três formadores da MCH credenciados pelo IGM Portugal, os quais foram selecionados tendo por base dois critérios: 1) experiência na implementação da MCH em ambiente residencial, e 2) desempenho de cargos de responsabilidade acrescida em instituições de apoio à população idosa, nomeadamente em ERPI. A recolha de dados empíricos realizada em Maio de 2020 foi conduzida por via de questionários autoadministrados, constituídos maioritariamente por questões abertas, destinados a percecionar atitudes e opiniões várias acerca da MCH, entre as quais, a perceção dos interlocutores (I1; I2; I3) face à implementação da MCH sob o ponto de vista dos cuidados e das organizações tendo as questões sido sujeitas a procedimentos de classificação e categorização informados pela metodologia da análise de conteúdo (Bardin, 2016; Vala, 1990) e suportados pela teoria (e.g., Figueiredo, Melo & Ribeiro, 2018).

Resultados

Do trabalho de revisão teórica e da análise de conteúdo emergiram quatro categorias: a aplicabilidade da MCH em contexto ERPI, os benefícios e dificuldades face à implementação da MCH para as organizações e o contributo económico que esta abordagem suscita em termos organizacionais. Da interpretação dos relatos acerca da aplicabilidade da MCH foram suscitadas duas subcategorias: cuidados diretos à pessoa idosa e a dinâmica organizacional. Quanto ao cuidado direto à pessoa idosa, a intervenção em saúde e a promoção da autonomia são destacadas como resultando da implementação da MCH, tal como elucida um dos interlocutores: “Desde a administração terapêutica, um posicionamento, a uma consulta, toda a intervenção em saúde (no seu conceito holístico) tem por base a relação, por isso a Humanitude é aplicável, útil e eficaz em todo o tipo de cuidado a qualquer pessoa” (I1). O auxílio na prestação nas AVD é também uma área onde a MCH se aplica, como esclarece outro participante: “os cuidados de higiene (pe. local onde é prestado o cuidado, quantos cuidadores são necessários (…) como é feita a JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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transferência do utente (…)” (I2), tendo sido também destacada essa aplicabilidade associada à preparação e participação nas atividades: “Mas também a forma como são preparadas as sessões de animação sociocultural, como são planeadas as sessões de fisioterapia, psicologia, terapia da fala (…)” (I2). Quanto à subcategoria dinâmica organizacional, a MCH carece de ser aplicada ao nível de toda a gestão e organização dos cuidados, como informam os seguintes depoimentos: “Na vertente de gestão de cuidados através das ferramentas de supervisão de cuidados e prescrição de cuidados é possível conseguir-se um alinhamento da equipa em função dos objetivos

de

cuidado

personalizados,

promovendo

uma

verdadeira

interdisciplinaridade, centrada na relação e na pessoa (…)” (I1); na “(…) organização dos cuidados (pe. adaptação de horários de higiene, horas de levantes e deitar, horas de refeições, ajuste de horas para atividades (…) na globalidade todos os cuidados podem e devem ser prescritos tendo por base a MCH (…)”(I2). Adicionalmente, esta metodologia também se aplica como promotora da mudança organizacional, no sentido da sua abertura e ligação com o exterior, indo ao encontro das expectativas e satisfação das vontades das pessoas idosas, como referido por um dos inquiridos: “reconhecendo a identidade individual de cada pessoa idosa institucionalizada, promovam relações sociais com o exterior, baseado nos princípios: abertura ao exterior; lugar de vida, lugar de vontades (…)” (I3). Acerca dos benefícios relativos à implementação da MCH estes posicionam-se em três subcategorias concernentes, ao cuidador formal, pessoa cuidada e sistema organizacional. Relativamente ao cuidador formal destacam-se a facilitação no relacionamento e na prestação de cuidados, como se depreende por um dos relatos: “A possibilidade de se envolverem num programas de formação direcionado aos cuidadores de modo a adquirirem competências, nessas áreas com maior dificuldade, contribuindo desta forma para melhorar a qualidade dos cuidados, sendo formaçãoacção, traz o beneficio de poderem ver in loco a indissociabilidade da teoria com a prática”(I3). Verifica-se também uma diminuição dos problemas físicos e do burnout, do absentismo e da rotatividade, como realça um dos discursos: “redução do burnout, do absentismo, da rotatividade, das lesões ocupacionais, da qualidade de vida no trabalho(...)”(I1), sendo igualmente apontados benefícios ancorados à satisfação pessoal e profissional: “promoção de estratégias de coping para os cuidadores que visam a diminuição dos níveis de cansaço psicológico e de maior motivação para o desempenho da actividade profissional”(I3). No âmbito da subcategoria pessoa cuidada, sublinham-se aspetos relacionais: “maior envolvimento das famílias/ cuidadores informais”(I2) e destaca-se o maior bem estar ao nível da pessoa alvo de JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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cuidados, como um dos participantes argumenta, ao referir, “Tudo isto se reflete no bem-estar das pessoas cuidadas, quer ao nível da sua saúde física, quer psicológica”(I3). Quanto aos benefícios face ao sistema organizacional, surge assinalada de forma unanime a mudança na cultura dos cuidados, como demonstram os vários depoimentos: “os stakeholders mais envolvidos promovem consequentemente uma cultura organizacional focada em responder aos princípios e valores da Humanitude”(I3); “mudança das rotinas (…) redução de conflitos na equipa” (I1); “melhor gestão dos tempos nos cuidados (..) redução da rotatividade dos profissionais” (I2); “a cultura organizacional (...) transformada”(I3). A par, advoga-se que o sistema organizacional fica beneficiado por se potenciar com a MCH, uma maior satisfação dos clientes: “(…) valorização das práticas cuidativas pelas partes interessadas (…) organização dos cuidados em função das vontades das pessoas (…) melhoria da satisfação de cliente (…)”, redução do ruído (…)”(I1); maior reconhecimento institucional advindo da MCH: “(…) aumento da procura (…) redução das queixas dos clientes e representantes legais, (…)” (I1); “(…) aumento da qualidade dos cuidados (…) maior reconhecimento da instituição como unidade de referência na prestação de cuidados(I2). São também identificados beneficios a nível económico conforme os seguintes depoimentos: “há instituições que falam em ganhos económico-financeiros, por isso já se está a fazer o estudo do cálculo do impacto social (…)”(I3), “redução dos custos económicos para a instituição (…)”(I2; I1). No que concerne aos constrangimentos face à implementação da MCH foram elencadas duas subcategorias: fatores internos e fatores externos. No domínio dos primeiros, destaca-se consensualmente a rotinização das práticas: “(…) rotinização de práticas

difíceis

de

mudar

(…)”(I1;

I2);

“(re)organização

das

rotinas”(I3).

Complementarmente realça-se como constrangimento à apropriação das técnicas e à adoção de novos hábitos e novos procedimentos: a “resistência à mudança”(I1; I2; I3) e a “resistência a identificar as dificuldades sentidas (“nós já fazemos isso tudo”)(I3). Por seu lado, a nível dos fatores internos, o défice de formação é sublinhado pelos interlocuotres como uma dificuldade na adoção da metodologia: “os cuidadores que receberam a formação não estarem a praticar o que aprenderam, (…)”(I1); “resistência (…) à formação por parte dos cuidadores”(I3). Por referência à subcategoria fatores externos, assinalam-se vários inconvenientes, como a organização dos cuidados centrados na tarefa: “(…) há uma grande inconsciência de gestão de cuidados (…) a discussão centra-se no problema e não na solução, levando à estagnação da melhoria continua e da implementação da JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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Humanitude (…)”(I1) e as limitações a nível de recursos humanos e de profissionais qualificados na área da saúde, como reportam os participantes: “(…) falta de recursos humanos (…) a rotatividade dos recursos humanos (…)”(I2); “falta de apoio da saúde, falta de enfermeiros para acompanhar os cuidados”(I3); “(...) o facto de muitas instituições não terem uma equipa de enfermagem presente que possa acompanhar o processo de implementação, como profissionais qualificados na área da saúde (...), o envolvimento dos enfermeiros na avaliação dos cuidados e prescrição dos cuidados é extremamente importante no processo de apropriação da MCH”(I2). Argumentos adicionais sugerem que a burocracia associada aos cuidados, aliada à exigência da Segurança Social, traduzem dificuldades no processo de implementação da MCH: (...) muita exigência tarefeira da Segurança Social, burocratizando tudo, mas sem preocupação com a relação e a efetividade (...) registos (…) que o Serviço Social (muitas vezes a direcção técnica) não tem competências na área da saúde (...)”(I3). Paralelamente, realça-se, que o fraco envolvimento do líder constitui uma das principais dificuldades na adoção da MCH: “(…) a resistência por parte dos líderes (…)”(I2); “Não entendimento dos seus superiores do que são cuidados de qualidade”(I3), admitindo-se de igual modo que os fatores políticos, constituem uma condicionante uma vez que as medidas politicas nem sempre estão ajustadas à realidade das necessidades das pessoas idosas, desvalorizando-se a qualidade dos cuidados: “medidas políticas que não favorecem as necessidades dos idosos, mas interesses económicos, como aumentar o número de camas, desde que o quarto tenha as medidas certas (…) preocupação económica e não preocupação com o bem-estar relacional das pessoas)”(I3). Em relação ao contributo económico a análise distinguiu uma subcategoria relacionada com o custo-eficácia da MCH, tendo a este nível sido apontadas vantagens em termos de investimento quantificável e não quantificável. Assim e quanto ao investimento quantificável os discursos realçam sobretudo aspetos que se prendem com a redução dos recuros materiais de incontinência, para tratamento à ferida e de medicamentos: “Redução dos custos com material de incontinência (…), de tratamento de lesões por pressão (…)”(I2), “(…) redução dos materiais de pensos (…) a redução da prescrição e administração de medicamentos para contenção química (…) (I1). Foi ainda salientado o impacto social: “Pelos estudos efetuados haverá um retorno de investimento social na casa dos 400% num cuidado com Humanitude, ou seja, por cada 1€ gasto a prestar cuidados em Humanitude a pessoa, os cuidadores, a organização, o estado e a comunidade “ganham” 400€.”(I1). No campo dos investimentos não quantificáveis são apontados benefícios relativos ao JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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bem-estar e à melhoria na qualidade dos cuidados, como elucida o depoimento de um dos interlocutores “(…) redução da agitação e ansiedade resultante da utilização das técnicas relacionais aprendidas no processo de implementação da MCH (…) “melhoria da qualidade do sono, resultante em parte da maior atividade diária do utente e da redução das interrupções do ciclo de sono” (I2). Na tabela 1 são apresentadas as categorias e subcategorias relativas ao contributo da MCH no âmbito organizacional.

Tabela 1 - Categorias e subcategorias relativas ao contributo da MCH no âmbito organizacional Categorias

Subcategorias

Aplicabilidade da MCH nas

Cuidados diretos à pessoa idosa

ERPI Benefícios da implementação da MCH

Dinâmica organizacional Pessoa cuidada Cuidador formal Sistema organizacional

Dificuldades da

Fatores internos

implementação da MCH

Fatores externos Contributo económico

Custo- eficácia

Discussão

A MCH constitui uma abordagem que tem vindo a ser apontada como adquirindo fortes oportunidades para ser replicada em qualquer contexto, adequando-se a qualquer cuidado, demonstrando a par ganhos de efetividade quando aplicada em pessoas vulneráveis, com graus de dependência e situações de fragilidade comprovada (Simões, Salgueiro & Rodrigues, 2012). Neste sentido, carece de ser transversal a sua implementação no ambiente institucional, abrangendo desde cuidados gerais a diretos

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(e.g., cuidados de higiene, alimentação, deambulação,...), ressaltando dos mesmos e como avança a literatura uma melhoria comportamental, a nível da diminuição da agitação e minimização da recusa dos cuidados (Delmas, 2013), sendo facilitada a aceitação dos mesmos (Gineste & Pellisier, 2008; Melo et al., 2017a; Figueiredo et al., 2018).

No

domínio organizacional, a exequibilidade da MCH tem vindo a ser

associada por exemplo à gestão dos cuidados de saúde (Costa, Galvão & Baptista, 2014) e à mudança na cultura organizacional (Tavares, 2019) mostrando-se os resultados obtidos coincidentes com estes estudos ao revelarem que a aplicabilidade da MCH traduz pertinência para a organização e gestão dos cuidados. A auscultação quanto aos benefícios da implementação da MCH para as organizações revelou contributos a diferentes níveis. Para a pessoa cuidada, potencia-se por exemplo, um maior envolvimento da família, benefício este, que também o estudo de Figueiredo et al., (2018, p.60) deu a conhecer, ao sublinhar

a importância dos

“benefícios para as pessoas cuidadas se estenderem às suas famílias”. Para o cuidador formal, os benefícios destacados pelos interlocutores centraram-se na facilitação no relacionamento com a pessoa cuidada e na prestação de cuidados, devido à formação-na ação que permitiu a aquisição de competências relacionais. A este respeito, Simões e a sua equipa (2011) partilham também a opinião de que a implementação da MCH facilita a comunicação com a pessoa cuidada, surtindo daqui uma maior facilidade na prestação de cuidados, apresentando esta abordagem consequências diretas em termos da satisfação profissional (Simões et al., 2012, 2018; Figueiredo et al., 2018; Melo et al., 2019). Os benefícios para o sistema organizacional apresentaram elevado destaque no estudo. Tendo por base os interlocutores inquiridos, são múltiplos os ganhos para o sistema organizacional com a implementação da MCH, valorizando-se a mudança na cultura dos cuidados como benefício alargado a todo o contexto institucional (Simões et al., 2012; Figueiredo et al., 2018; Henriques et al., 2019; Melo et al., 2019). A mudança na cultura dos cuidados representa também um aumento na qualidade dos cuidados, aspeto este que foi referido por um dos interlocutores e apoiado também pelo estudo de Melo et al., (2017a). Ainda ao nível do sistema organizacional salientou-se que a MCH possibilita um maior reconhecimento da instituição, tal como outros estudos também assinalaram (e.g., Figueiredo et al., 2018). De igual modo a redução dos custos económicos decorrentes da implementação da MCH traduziu um resultado apurado indo ao encontro da investigação que vem sendo desenvolvida sobre esta matéria (Figueiredo et al., 2018).

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No âmbito das dificuldades que se colocam à adoção da MCH e da apropriação de novos procedimentos foram relatados constrangimentos a nível interno (i.e.,fatores internos), dos quais se destacaram a rotinização das práticas, a resistência à mudança e o défice de formação, resultados estes também revelados em outros estudos (Figueiredo et al., 2018). No plano dos constrangimentos externos (i.e., fatores externos) à adoção da MCH, a falta de recursos humanos e de profissionais qualificados na área da saúde, nomeadamente de enfermeiros, a focalização no problema e o fraco envolvimento das lideranças traduziram argumentos apontados pelos participantes e igualmente identificados pela investigação, a título de dificuldades externas ou organizacionais (Figueiredo et al., 2018). Em termos do contributo económico produzido pela MCH o estudo revela vantagens ao nível da redução do consumo dos recursos materiais e dos medicamentos. Tal como a investigação vem demonstrado a MCH enquadra-se no âmbito das abordagens não farmacológicas, existindo evidências de que as suas práticas conduzem à redução da agitação e consequentemente à redução de psicofármacos (Araújo, Oliveira & Alves, 2012). Além dos ganhos quantificáveis os interlocutores advogam ganhos não quantificáveis como a melhoria da qualidade do sono e da qualidade de vida da pessoa cuidada, indicadores estes também convergentes com a literatura quem vem sendo desenvolvida sobre a MCH (e.g., Simões et al., 2011, 2012; Melo et al., 2017a; Henriques et al., 2019).

Conclusão

A MCH constitui uma abordagem que pode ser replicável em qualquer contexto e a qualquer cuidado que equacione a sua humanização como a principal meta. Esta metodologia de cuidado, por permitir a operacionalização da humanização dos cuidados,

pode

constituir-se

como

uma

aliada

das

direções

técnicas

e

designadamente do Serviço Social no que diz respeito à mudança na cultura organizacional, necessitando de uma consciencialização de todos os envolvidos no processo de mudança O sistema organizacional é o alicerce necessário e essencial para sustentar uma mudança que se espera humanizada e com inúmeros benefícios para todos os envolvidos. A este nível, a pessoa cuidada (e.g., diminuição dos problemas físicos e do burnout), os cuidadores formais (e.g., facilitação no relacionamento e na prestação de cuidados; diminuição dos problemas físicos, do burnout, do absentismo e da rotatividade; aumento da satisfação profissional) e o sistema organizacional (e.g., JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-4

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reconhecimento institucional; satisfação dos clientes) constituem os focos que centralizam os beneficios originados pela implementação desta metodologia. Quanto aos constrangimentos identificados para introduzir a MCH em contexto organizacional importa considerar fatores como a resistência à mudança; a falta de recursos humanos e de profissionais qualificados, nomeadamente de enfermeiros; o fraco envolvimento a nível de lideranças e/ou partes interessadas; a exigência de burocracia associada aos cuidados, sendo estes aspetos que podem comprometer a implementação e a adoção da MCH em contexto ERPI. No domínio económico, visumbram-se ganhos evidentes com influência nos custos organizacionais quantificável e não quantificável. Quanto aos custos quantificáveis foram evidenciados sobretudo os relacionados com a redução dos recuros materiais de incontinência e para tratamento às lesões por pressão, e da medicação, nomeadamente de psicotrópicos em consequência de uma abordagem relacional profissionalizada com implicações na prevenção da agitação da pessoa cuidada. Foram também apontados outros ganhos não quantificáveis, como a melhoria da qualidade de vida das pessoas cuidadas e seus cuidadores, sendo todos estes, aspetos, que reforçam a qualidade dos serviços e a prossecução da missão institucional e cujas direçções tecnicas procuram sempre salvaguardar. No essencial importa pois promover uma maior disseminação do cuidado humanitude por forma a melhor diferenciar os cuidados que a população longeva crescentemente carece de beneficiar.

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Menoita E. (2020) Device-related pressure ulcers in Patients and Healthcare Professionals, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 48- 66 REVISÃO NARRATIVA: Menoita E. (2020) Device-related pressure ulcers in Patients and Healthcare Professionals, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 48- 66

 Revisão Narrativa da Literatura

Úlceras por Pressão Associadas a Dispositivos Médicos em doentes e profissionais de saúde Úlceras por presión asociadas con dispositivos Médicos en pacientes y profesionales sanitarios Device-related pressure ulcers in Patients and Healthcare Professionals Elsa Menoita Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, Coordenadora do Feridasau, Gestora do PMQCE-úlceras por pressão do CHULC, Mestre em Gestão Avançada de Recursos Humanos, Especialista em Enfermagem de Reabilitação. Corresponding Author: elsa.menoita@chlc.min-saude.pt

Resumo Com a Pandemia por SARS-COV2, verificou-se um aumento no número de doentes a necessitar de cuidados intensivos, com internamentos prolongados, com um ou mais dispositivos médicos, esperando-se um aumento da incidência de Úlceras por Pressão Associadas a Dispositivos Médicos (UPADM). Com o aumento do uso de equipamentos de proteção individual (EPI), muitos profissionais de saúde têm apresentado UPADM. Tais lesões podem ser dolorosas, causam desconforto e constituem porta de entrada para infecções, além de impactar na qualidade da assistência aos doentes e na qualidade de vida dos profissionais. Palavras-chave – Úlcera por Pressão, Úlceras por Pressão Associadas a Dispositivos Médicos, Equipamento de Proteção Individual

Abstract With the SARS-COV2 Pandemic, there was an increase in the number of patients in need of intensive care, with prolonged hospitalizations, with one or more medical devices, and an increase in the incidence of Device-Related Pressure Ulcers is expected (DRPU). With the increase in the use of personal protective equipment (PPE), many health professionals have presented DRPU. Such injuries can be painful, cause discomfort and constitute a gateway for infections, in addition to impacting the quality of care for patients and the quality of life of professionals. Key words - Pressure Ulcer, Device-Related Pressure Ulcers, Personal Protective Equipment

INTRODUÇÃO

De acordo com Gefen et al (2020), muitos dos dispositivos médicos (DM) mudaram pouco em décadas, como sondas endotraqueais e nasogástricas, de oxigénio, máscaras de ventilação não invasiva, cateteres urinários, colares cervicais, entre outros. Para os mesmos autores, não é de admirar que estes dispositivos tradicionais, que interagem com a pele e

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tecidos moles, estejam frequentemente associados a Úlceras por Pressão Associadas ao Dispositivo Médico (UPADM). Em 2019 e 2020, foram publicados vários documentos científicos nacionais e internacionais relativos às Úlceras por Pressão Associadas aos Dispositivos Médicos (UPADM). Estas orientações assumiram maior importância face ao contexto atual de Pandemia SARS-COV-2, em que se tem verificado um número elevado de doentes internados, nas Unidades de Cuidados Intensivos, com Dispositivos Médicos (DM). Qualquer doente com um dispositivo médico deve ser considerado como de alto risco de desenvolver uma UPADM (Gefen et al, 2020). Os DM mais referidos na literatura são os tubos endotraqueais, sondas nasogástricas, tubos de oxigénio, máscaras de ventilação, cateteres urinários e colares cervicais (Alves et al, 2020). Há evidências de que o design, a forma e o tamanho do DM estão associados a UPADM em adultos e crianças (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019). Numa revisão sistemática e metanálise de 2019, em mais de 126.000 doentes em 29 estudos, a prevalência e incidência de UPADM foi de 12% e 10%, respetivamente (Gefen et al, 2020). De acordo com EPUAP/NPIAP/PPPIA (2019), num estudo de prevalência realizado em 2017, em três centros de atendimento aos idosos nos EUA, entre 35% e 50% das UPP foram associadas a um DM. As UPADM ocorreram com mais frequência no pavilhão auricular (71%) e foram mais frequentemente causados por gessos / talas (20%) ou sondas de oxigénio (15%) (Cavalcanti & Kamada, 2020; EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019). Cerca de 68% das UPADM estão relacionadas com dispositivos respiratórios, dos quais 20% são relativos a dispositivos de pressão positiva em dois níveis (BiPAP) ou CPAP (Gefen et al, 2020). A maioria das UPADM é de categoria I e II, mas em algumas localizações, por terem pouco tecido mole, como na pirâmide nasal e no pavilhão auricular, evoluem rapidamente de categoria I para IV (Gefen et al, 2020). Estas feridas geralmente são adquiridas em hospitais e podem (Alves et al, 2020; Gefen et al, 2020): •

Aumentar o risco de infecções potencialmente fatais, como sépsis

Causar dor e deixar cicatrizes, que podem ser visíveis e causar angústia

Resultar em perda permanente de cabelo, alterar a imagem corporal e / ou diminuir a qualidade de vida

Aumentar o tempo de hospitalização e consumir recursos adicionais. A utilização prolongada de Equipamento de Proteção Individual (EPI), no contexto da

Pandemia SARS- CoV -2, aumentou significativamente o número de UPADM nos JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-5

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profissionais de saúde. Não existem estudos anteriores sobre este tipo de lesões nos profissionais, mas em 2020 foram publicadas várias orientações, que serão abordadas neste artigo. UPP e UPADM Segundo Gefen et al (2020), uma UPADM envolve a interação com um dispositivo ou objeto que está em contato direto ou indireto com a pele, ou implantado sob a pele, causando forças focais e localizadas, que deformam os tecidos subjacentes superficiais e profundos. Uma UPADM, causada por um dispositivo ou objeto, é distinta de uma UPP, causada principalmente por forças de peso corporal. A natureza localizada das forças do dispositivo resulta no desenvolvimento de danos na pele e tecidos profundos que imitam a forma e a distribuição do dispositivo (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019; Gefen et al, 2020; Ramalho et al, 2020). O Quadro nº 1 resume as principais semelhanças e diferenças entre UPP e UPADM

Quadro nº 1 - Principais semelhanças e diferenças entre UPP e UPADM Etiologia

Causa do dano induzido por deformação Natureza dos dispositivos médicos Estratégias de prevenção Áreas tecidulares vulneráveis

Principais semelhanças e diferenças entre UPP e UPADM Úlceras por pressão Úlceras por pressão associadas a dispositivo médico Ambas resultam de respostas fisiológicas dos tecidos moles que envolvem as células, o espaço intersticial entre a matriz extracelular e os vasos sanguíneos e linfáticos. Depende das cargas mecânicas de diferentes magnitudes e do tempo de exposição às mesmas. Forças gravitacionais devido ao peso corporal

Causado por forças externas aplicadas associadas ao DM

Exemplos superfícies de apoio, almofadas, colchões, cadeiras de cabeceira, cadeiras sanitárias, com base no risco individual Redistribuição / alívio de pressão e terapia de posição

Dispositivos médicos que não correspondem às características físicas ou morfológicas

Adjacente a proeminências ósseas, como sacro ou tuberosidades isquiáticas

Microclima

Afetado pelo design da superfície de apoio, condições ambientais e resposta individual Adaptado: Gefen et al.(2020)

Design melhorado de dispositivos; alívio de pressão através da aplicação de um dispositivo alternativo; pensos profiláticos Qualquer localização corporal, mas geralmente ocorrem na cabeça ou pescoço; aplicação de carga em tecidos com condicionamento mecânico prévio limitado Afetado pela interface do dispositivo

UPADM: FATORES DE RISCO

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As

principais

causas

de

desenvolvimento

de

UPADM

podem

ser

(EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019): •

Cânulas de traqueostomia e dispositivos de fixação

Máscaras de ventilação não invasiva por pressão positiva (vni)

Tubos endotraqueais (et) e nasotraqueais

Sondas de oxímetro

Sonda de oxigénio / cânulas nasais

Colares cervicais

Capacetes

Fixadores externos

Imobilizadores

Gesso

Cateteres urinários

Dispositivos de gestão fecal

Elevadores de calcanhar

Placas de transferência

Segurança do dispositivo

Sondas nasogástricas

Cânulas de oxigenação por membrana extracorpórea (ecmo)

Drenos cirúrgicos

Cateteres venosos centrais e de diálise

Cateteres e componentes intravenosos

Linhas arteriais

Bombas de balão intra-aórtico

Braçadeira de pressão arterial

Mangas de dispositivos de compressão pneumática

Meias de compressão e sistemas de bandagem

Imobilizadores

Dispositivos e objetos sem uma função médica (por exemplo, telemóveis, adornos) deixados na cama / cadeira.

Quadro nº 2 - UPADM em diferentes localizações UPADM

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Colar Cervical

DM

Óculos nasais

Máscara de VNI

Tala gessada

Pirâmide nasal

Calcanhar

(tiras de fixação) Occipital

Pavilhão auricular

Localização

De acordo com EPUAP/NPIAP/PPPIA (2019) e Gefen et al (2020), muitos dos DM são baseados em modelos genéricos, empregando materiais poliméricos rígidos tradicionais. A incompatibilidade nas propriedades mecânicas entre um dispositivo mais rígido e a pele e tecidos subjacentes cria deformações focais e concentrações de stresse mecânico nos tecidos subjacentes. Gefen et al (2020) apontam também que o design genérico e o tamanho limitado dos dispositivos não se adaptam a todos os doentes. Os contornos de qualquer dispositivo que entre em contato com a pele não devem incluir superfícies ou elementos pontiagudos ou regiões altamente curvas, pois produzirão altas deformações localizadas e concentrações de stresse nos tecidos. O DM deve ser projetado para gerir, na medida do possível, deformações e tensões nos tecidos e controlar o microclima, gerindo a humidade na interface pele-dispositivo e minimizando a transferência de energia térmica para os tecidos e a captura de calor, tanto para o calor originado no dispositivo, quanto o libertado pelo corpo. Os designs de alguns dispositivos médicos não levaram em conta a quantidade de calor retido entre o dispositivo e a pele, como no caso de máscaras de oxigénio. As terapias com humidificação podem aumentar a quantidade de humidade, alterando a função do estrato córneo, sendo também fator de risco para UPADM. O Quadro nº 3 apresenta um exemplo de categorização de DM, com base em como eles interagem com a pele e a etiologia da UPADM. Os DM compostos por materiais rígidos e com uma pequena área de contacto com a pele criam alta pressão localizada e forças de atrito. Os DM com maiores áreas de contacto com a pele criam uma pressão mais baixa que é mantida por longos períodos e causam forças de atrito estáticas e cisalhamento substanciais.

Quadro nº 3 – Classificação de UPADM de acordo com a etiologia

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Classificação etiológica da UPADM

Etiologia

Pequena (pequena área

Grande (grande área de

Dispositivos que diminuem a

de contato)

contato)

tolerância da pele

Material rígido

Material rígido

Pressão elevada

Pressão baixa

Humidade

Pressão sustentada

Pressão sustentada

pH

Deformação tecidular

Deformação tecidular

Adaptado de: Gefen et al (2020).

Alguns DM, como por exemplo, máscaras de oxigénio são mantidos in situ com tiras ou fitas elásticas. Estas imobilizam o dispositivo, mas geram forças de pressão e de fricção na interface dispositivo-pele (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019). As máscaras faciais de oxigénio podem criar pressões de interface na pirâmide nasal de 47,6 a 91,9 mmHg (Gefen et al, 2020). O uso prolongado de dispositivos está associado a um maior risco de UPADM, como por exemplo, os colares cervicais estão associados a uma maior incidência de UPADM após cinco dias de uso continuado, sendo a maioria de categoria IV (Gefen et al, 2020). Muitas das UPADM surgem pelo mau posicionamento ou fixação do equipamento, ou simplesmente pela não verificação do correto posicionamento das tubuladuras ou dispositivos não médicos após posicionamento da pessoa. Por isso, uma UPADM também pode ser causada por um dispositivo, objeto ou produto sem uma finalidade médica, como por exemplo, os objetos deixados na cama (telemóvel e adornos) (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019; Gefen et al, 2020). De modo sumário, Gefen et al (2020) apresentam alguns fatores de risco associados às UPADM (Quadro nº 4).

Quadro nº 4 – Fatores de risco associados às UPADM Fatores de risco associados às UPADM Associados ao uso de DM

O design genérico e o tamanho limitado dos DM não se adaptam às características físicas dos doentes

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Os materiais rígidos dos DM causam distorções localizadas na pele e tecidos moles subjacentes

Tempo de utilização do dispositivo

A necessidade de fixação do DM para garantir o funcionamento correto

• Associados ao doente

Muitos doentes têm comorbidades que limitam a sua tolerância às cargas mecânicas •

A incapacidade do doente em detectar o DM e a pressão, fricção e cisalhamento associados

Incapacidade do doente em se posicionar

UPADM EM CONTEXTO DE PANDEMIA SARS-COV2 De acordo com Gefen & Ousey (2020), no contexto da pandemia SARS- COV -2, temse verificado um aumento considerável no número de doentes a necessitar de cuidados intensivos e espera-se que a incidência de UPADM aumente. O tempo de permanência nas UCI com o diagnóstico de COVID-19 é relativamente longo. Em 5 de maio de 2020, existiam mais de 3,7 milhões de casos positivos de COVID -19 em todo o mundo, destes aproximadamente 444.000 encontravam-se em UCI. O diagnóstico e o tratamento de cada um destes novos doentes de UCI envolverão pelo menos um (e provavelmente vários) DM (Gefen & Ousey, 2020). De acordo com Gefen & Ousey (2020), os doentes com COVID-19 em UCI podem ter entre 89.000 e 178.000 UPADM adquiridas. A ventilação em decúbito ventral para sessões de aproximadamente 9 a 16 horas (entre os períodos de ventilação supina) tornou-se um padrão de tratamento para doentes positivos para COVID-19 na UCI com SDRA, para melhorar a mecânica pulmonar e as trocas gasosas. A taxa de UPADM adquiridas em decúbito ventral é três vezes superior às desenvolvidas em decúbito dorsal (Gefen & Ousey, 2020). De acordo com Black (2020), dados recentes indicam que a infecção viral pode produzir uma reação imune excessiva no hospedeiro, denominada “tempestade de citoquinas”, com extenso dano tecidular e síndrome inflamatória sistémica aguda. Para Gefen & Ousey (2020), parece que o COVID-19, com suas características fundamentais de uma síndrome de libertação de citoquinas, disfunção endotelial, queda na saturação de oxigénio, hipercoagulabilidade levando a microtromboses e efeitos potenciais no débito cardíaco, interage com duas das três causas etiológicas primárias nas UPADM, como a inflamação e isquémia.

LESÕES POR EPI SÃO UPADM JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-5

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No contexto da referida Pandemia começaram a surgir lesões cutâneas causadas por Equipamento de Proteção Individual (EPI). Estas lesões são causadas principalmente por máscaras e óculos de proteção. Jiang et al (2020) citados por Gefen & Ousey (2020), relataram que a prevalência de lesões cutâneas causadas por EPI nos profissionais de saúde foi de 42,8%. Destas lesões foram diagnosticadas UPADM, danos da pele associados à humidade (lesões por humidade) e quebras cutâneas. Vários estudos apontam que, com a Pandemia SARS-COV2, muitos profissionais de saúde têm apresentado UPADM associadas a EPI (Alves et al, 2020; Darlenski & Tsankov, 2020; Ramalho et al, 2020) (Figura nº1). Figura nº 1 – UPADM por EPI

Imagens cedidas gentilmente por: Mónica Romana e Valter Claúdio (enfermeiros de uma UCI)

A pressão, cisalhamento,Danos fricção microclima naepele causadossão por forças EPI externas determinantes para

podem resultar em infecção por o desenvolvimento de UPADM. COVID-19

Do ponto de vista etiológico, há semelhança entre os danos causados pelas máscaras de CPAP e os danos causados pelo uso prolongado de EPI, principalmente máscaras faciais médicas (incluindo máscaras N-95) e óculos de proteção (Gefen & Ousey, 2020).

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A intensidade e duração da pressão sob uma máscara apertada, como uma máscara N-95, leva à deformação celular. Este tipo de DM nunca foi otimizado para exposições à deformação tecidular, nem foi projetado para uso intensivo, de longa duração e contínuo, nem para que os profissionais de saúde estejam sempre a apertá-los, mais do que o necessário, para selar as vias aéreas e os olhos (Gefen & Ousey, 2020). A fricção e cisalhamento também podem ser forças aplicadas quando a máscara e tiras deslizam na face. A fricção elevada pode causar delaminação da pele e desencadear quebras cutâneas, principalmente em pessoas idosas, com menor força mecânica na junção dermo-epidermal. De acordo com Alves et al (2020), a fricção é geralmente medida pelo coeficiente de fricção (CF), que é calculado quando uma superfície é colocada em contacto com outra e arrastada sobre ela. O CF entre a pele e os materiais externos é influenciado pela natureza dos materiais, pela pressão de contacto, pelas propriedades mecânicas da pele, pelo tipo de movimento, pela humidade do ambiente e da própria pele. Gefen et al (2020) acrescentam que, as forças de fricção são afetadas pelo microclima local; por exemplo, em pele húmida o CF aumenta em 26-43%. Uma UPADM pode também resultar num microclima alterado na interface peledispositivo. A humidade excessiva desencadeia hiper-hidratação dos corneócitos, com rutura da barreira das lamelas lipídicas, provocando alterações na função barreira e impermeabilidade do manto hidrolipidico, verificando-se aumento de perdas de água transepidermal. Também, nos casos de pele seca, os corneócitos têm menor espessura, as lamelas lipídicas encontram-se mais estreitas, por diminuição de produção de lípidos, aumentando o espaço entre eles, havendo maior perda de água transepidermal. De acordo com Black (2020), com o uso de máscaras N-95, o microclima é alterado pela humidade do ar expirado, criando um ambiente quente. Gefen & Ousey (2020) acrescentam que o microclima é afetado pela transpiração profusa devida ao intenso stresse e carga de trabalho que os profissionais de saúde estão sujeitos.

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Figura nº2 - Fatores determinantes para o desenvolvimento de UPADM

Fonte: Gefen et al.(2020)

As deformações sustentadas podem causar danos diretos nas estruturas celulares, desencadeando-se uma resposta

inflamatória.

Verifica-se um aumento da

permeabilidade entre as células vasculares endoteliais, resultando em edema inflamatório, provocando um aumento das pressões intersticiais. Estas alterações têm impacto nos processos de transporte nas células, no suprimento de nutrientes para os tecidos, e provocam obstrução linfática, comprometendo a libertação metabólica de produtos residuais (Figura nº3) (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019ª; Menoita, 2020). Figura nº 3 - Espiral de danos (“ciclo vicioso”) de UPADM

Fonte: Gefen & Ousey (2020)

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Há, no entanto, uma diferença fundamental entre a espiral de dano tecidular sob máscaras de ventilação de um doente em UCI e o potencial de dano tecidular em relação aos EPIs aplicados na face de profissionais de saúde saudáveis. A extensão do dano tecidular será menor e quase sempre reversível sob o EPI, pois a pessoa é capaz de sentir e responder ao desconforto e à dor, e assim, encerrar o ciclo vicioso (Gefen & Ousey, 2020). MEDIDAS DE PREVENÇÃO DE UPADM As UPADM podem desenvolver-se em poucas horas e demorarem meses a cicatrizar. Considera-se a prevenção prioritária nos cuidados à pessoa em risco de UPADM, pelo que as medidas que visam redistribuir a pressão sobre os tecidos, gerir o cisalhamento, proporcionar maior resistência cutânea e melhorar o estado geral dos doentes devem ser implementadas atempadamente. Nesta secção, são apresentadas as medidas preventivas, de modo sumário.

1. Selecionar os DM, tendo em consideração (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019): • A capacidade do dispositivo em minimizar os danos nos tecidos • A dimensão e o formato correto, tendo em conta as características do utilizador • Utilização correta do dispositivo de acordo com as instruções do fabricante • Capacidade de proteger corretamente o dispositivo.

2. Monitorizar regularmente a tensão das fixações de DM (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019): • A tensão das fixações dos DM deve ser monitorizada, ajustada e aliviada com frequência em doentes com sinais de edema localizado ou generalizado • Não comprometer a função do DM, ao ajustar as suas fixações.

3. Avaliar a pele sob e ao redor de DM, como parte da avaliação de rotina da pele (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019): • Ao avaliar a condição da pele, remover com segurança os DM, sem condicionar a sua função • Avaliar regularmente a condição da pele, mesmo com penso de proteção • Avaliar frequentemente a condição da pele na interface pele-dispositivo em doentes com sinais de edema localizado ou generalizado • Avaliar a humidade por sudorese ou secreções excessivas acumuladas sob o dispositivo, prevenindo a maceração da pele. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-5

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Para Gefen al (2020), nem sempre é possível ou fácil de observar a pele sob DM, como estruturas de fixação ortopédicas externas, talas e colares cervicais. Nestes casos, se o doente estiver consciente e com capacidade de comunicação, o profissional de saúde deve perguntar se sente dor/desconforto ou se tem uma sensação incomum sob o DM e depois usar seu julgamento clínico para completar a avaliação (Gefen al, 2020). O julgamento clínico é especialmente importante para doentes que apresentem alterações neurovasculares sob o dispositivo ou não consigam verbalizar dor/desconforto (Gefen al, 2020).

4. Reduzir e / ou redistribuir a pressão na interface pele-dispositivo (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019): • Posicionar regularmente o DM e / ou o doente • Remover o DM, assim que possível clinicamente. • Ao posicionar o doente em diferentes decúbitos, não o posicionar diretamente sobre um DM, a menos que não possa ser evitado • Os tubos endotraqueais podem ser reposicionados lateralmente.

É importante a terapia de posição, posicionando o doente em diferentes decúbitos, tendo em consideração que pequenas mudanças na postura do doente e no posicionamento do dispositivo podem ser um recurso terapêutico, para minimizar a pressão e o cisalhamento criados pelo DM.

5. Utilizar um penso profilático sob um DM, para reduzir o risco de UPADM (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019): • Evitar pensos profiláticos espessos sob um DM, pois podem aumentar a pressão na interface pele-dispositivo • Garantir que a funcionalidade do DM não é comprometida pelo penso profilático • Considerar os seguintes fatores ao selecionar um penso profilático: -

Capacidade para gerir o microclima, pressão, cisalhamento e fricção

-

Facilidade de aplicação e remoção

-

Permitir avaliar regularmente a condição da pele

-

Espessura do penso

-

Localização anatómica

-

Tipo / finalidade do DM

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Quadro nº 5 - Mitos sobre o uso de pensos para prevenção de UP Mitos sobre o uso de pensos para prevenção de UPP Mito 1: Os pensos indicados para lesões

Vários pensos, incluindo espumas, filmes e hidrocolóides foram

ulceradas não são adequados para uso na

investigados e utilizados para a prevenção de UPP.

prevenção de UPP Mito 2: Quando se usa um penso para

As medidas de prevenção de UPP devem ser implementadas e

prevenção de UPP, não é neccessária mais

continuadas, mesmo quando se está a utilizar um penso. O uso de

nenhuma medida preventiva

pensos para prevenir UPP não deve substituir os protocolos de prevenção.

Mito 3: Os pensos são finos de mais para

Vários estudos demonstraram que alguns pensos reduzem a frição,

gerir os fatores que causam as UPP

redistribuem a pressão e o cisalhamento e gerem o microclima.

Mito 4: Todos os doentes com risco de UPP

O uso de pensos para prevenir UPP não foi avaliado em todos os grupos

devem ter um penso de proteção

de doentes. Alguns critérios para o uso de pensos de prevenção: imobilidade, perda de sensação, movimento espontâneo reduzido, movimento atípico, colocação de DM e cicatrizes de UPP anteriores.

Mito 5: Quando se utilizar um penso de

Um penso para proteção pode ser usado continuamente por vários dias.

proteção não se deve manipulá-lo até ao

Tendo em conta que o penso deve ser retirado para permitir a avaliação

momento da sua mudança

da condição da pele, este não deve provocar trauma nem dor.

Adaptado de: World Union of Wound Healing Societies (WUWHS) (2016).

De acordo com Alves et al (2020), deverá ter-se em conta que nem todos os materiais de penso têm as mesmas características e podem apresentar resultados diferentes.

Para EPUAP/NPIAP/PPPIA (2019), um penso de película/filme de poliuretano é menos capaz de gerir a humidade e pode não aderir à pele com a mesma eficácia que um penso hidrocolóide. Os pensos de espuma de poliuretano têm maior capacidade em absorver a humidade do que os pensos de filme de poliuretano ou hidrocolóide (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019).

Quando os pensos de proteção são usados, recomenda-se considerar a tolerância da pele e a facilidade de remoção do penso, para avaliar a condição da pele. A remoção dos pensos à base de adesivo pode provocar adesividade epitelial, particularmente na pele mais vulnerável dos idosos e na pele imatura dos neonatos. Os pensos de proteção com silicone podem ser mais facilmente removidos, para avaliação regular da pele e parecem absorver as forças de cisalhamento com maior eficiência (EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019).

Alves et al (2020) defendem que, os pensos profiláticos devem ser espumas finas de silicone (preferencialmente), e em caso de inexistência destes, a alternativa serão os filmes de

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poliuretano e hidrocolóides, sob o risco de não realizarem a melhor gestão da humidade e da temperatura, por serem mais oclusivos.

De acordo com Black et al (2012), os pensos de espuma de poliuretano multicamadas com silicone são os adequados para prevenção de UPP e UPADM. De acordo com Alves et al (2020), para a prevenção de UPADM, o material de interface deverá ser fino, não traumático na remoção, absorver a humidade, ser adaptável ao contorno das estruturas da face, garantindo sempre a correta selagem da máscara, sem causar risco para o utilizador. Estes redistribuiem as forças de cisalhamento. Dentro do penso, tanto as multicamadas como a natureza elástica do penso de silicone ajudam a minimizar as forças de cisalhamento. É recomendável que os pensos tenham uma espessura que varie entre 3,5 e 4,5 mm (a espessura deve medir-se sob uma carga de 0,1 N). A textura e os componentes da camada mais externa do penso podem aumentar ou reduzir a fricção. Um penso com a espessura adequada redistribui a pressão sobre uma maior superfície, o que reduz a magnitude das forças aplicadas sobre a pele. O uso de pensos que mantêm o nível de humidade relativa na superfície da pele entre 40-80% maximiza a sua resistência.

Quadro nº 6 – Parâmetros de desempenho dos pensos de poliuretano multicamadas de silicone Pensos de poliuretano multicamadas de silicone

Gestão do cisalhamento

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Gestão da fricção

Gestão da pressão

Gestão do microclima

Adaptado de: Black et al (2012)

As compressas não são pensos de proteção. 6. Utilizar emolientes para redução do CF (Gefen & Ousey, 2020) Os cremes emolientes, com ação lubrificante permitem diminuir o CF, evitando as lesões cutâneas, como UPADM e quebras cutâneas (Gefen & Ousey, 2020). Os cremes emolientes oclusivos também evitam as perdas de água transepidermais, evitando xerose cutànea.

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Recomenda-se a utilização de ácidos gordos hiperoxidados (AGH) ou de um creme com base de polímero acrilato e/ ou dimeticona (maior durabilidade) (Alves et al, 2020; LeBlanc et al, 2020). Estes deverão ser aplicados 1 hora antes da utilização do EPI, para que o emoliente não interfira com a selagem do DM.

MEDIDAS DE PREVENÇÃO DE UPADM POR EPI É fundamental a implementação de medidas de prevenção de UPADM por EPI, uma vez que estas lesões podem ter um impacto negativo na qualidade de vida e na autoestima do profissional de saúde, bem como, apresentar-se como uma porta de entrada para infecções secundárias (Ramalho et al, 2020). As medidas cumprem os princípios anunciados anteriormente, pois tratam-se de UPADM. O Quadro nº 7 resume as principais medidas de prevenção de UPADM por EPI (Alves et al, 2020; EPUAP/NPIAP/PPPIA, 2019; Gefen & Ousey, 2020; LeBlanc et al, 2020; Ramalho et al, 2020).

Quadro nº 7 - Principais medidas de prevenção de UPADM por EPI Principais Medidas de Prevenção de UPADM por EPI •

Avaliar a condição da pele

CUIDADOS GERAIS COM

Manter a pele limpa, com sabão de pH ácido

A PELE

Manter a pele hidratada, com cremes hidratantes, de modo a garantir a sua função barreira

Utilizar emolientes, sob o EPI – aplicar pelo menos uma hora antes -. •

Ter a garantia que não interfere com a adesividade do penso.

Utilizar um penso de proteção, sob o EPI •

Os pensos de proteção recomendados são as espumas de poliuretano de silicone (finos). A alternativa são os filmes/películas de poliuretano e hidrocolóides

CUIDADOS ESPECIFICOS COM A UTILIZAÇÃO DE EPI •

Cortar e ajustar o material ao local de aplicação

Verificar a selagem entre o EPI e a pele

Estabelecer períodos de alivio da pressão do EPI, no máximo a cada 4 horas

Remover o EPI e o material de penso (este não pode ser reutilizado)

Depois da utilização do EPI, limpar e hidratar a pele, preferencialmente com os ácidos gordos hiperoxigenados.

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Os pensos devem ser aplicados nas áreas de maior pressão, cisalhamento, fricção, como a região frontal, pirâmide nasal com extensão para o osso zigomático e no pavilhão auricular (Figura nº 4). Pode utilizar-se o mesmo penso em diferentes localizações, recortando-o e ajustando-o (Figura nº 5).

Figura nº 4 – Localizações para aplicação do penso de proteção sob

Fonte: Ramalho et al (2020)

Figura nº 5 - Moldes de corte e adaptação às áreas de maior pressão

Fonte: Alves et al (2020)

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CONCLUSÃO Com a Pandemia por SARS-COV2, verificou-se um aumento considerável no número de doentes a necessitar de cuidados intensivos, com internamentos prolongados, com um ou mais DM, esperando-se um aumento da incidência de UPADM. Para além disso, pelo uso contínuo e prolongado de EPI, pela pressão exercida para selar as vias aéreas e os olhos, os profissionais de saúde também começaram a desenvolver UPADM – situação comum em vários países. O profissional de saúde, enquanto cuidador, deve proceder à identificação dos factores de risco e prescrever, implementar e avaliar intervenções, com rigor técnico e científico, de modo a garantir a segurança do doente. No exercício da sua função, o profissional de saúde deve cuidar de si. Foram fornecidas orientações para prevenir as UPADM associadas aos EPI. Cuide, mas sem UPADM!

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Silva E. et al (2020) Acquired immunodeficiency Syndrome: A panorama on the indices of the Brazilian elderly population, Journal of Aging & Innovation, 9(2): 67- 76 ARTIGO ORIGINAL: Silva E. et al (2020) Acquired immunodeficiency Syndrome: A panorama on the indices of the Brazilian elderly population, Journal of Aging & Innovation, 9(2): 67- 76

 Artigo Original

Síndrome da imunodeficiência adquirida: Um panorama sobre os índices da população idosa brasileira

Acquired immunodeficiency Syndrome: A panorama on the indices of the Brazilian elderly population Síndrome de inmunodeficiencia adquirida: un panorama en los índices de la población de ancianos brasileños

Emília Pio da Silva 1, Izabella Stéphany Santos Lima 2, Júlia Cristhina Ribeiro de Castro 3, Juliana Potenza Ferreira 4, Maria Paula Clemente Coelho Lacerda 5, Thaísa Assis Muniz 6, Douglas Almeida Costa 7, Marli do Carmo Cupertino 8 1

Professora na Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP), Ponte Nova, (MG), Brasil e Coordenadora do Grupo de Pesquisa Risco Social e Envelhecimento Humano. Departamento de Economia Doméstica. Universidade Federal de Viçosa (UFV), Brasil; 2,3,4,5,6,7 Student Medicine, Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP), Ponte Nova, (MG), Brasil; 3 Student Medicine, Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP), Ponte Nova, (MG), Brasil; 8Professora na Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP), Ponte Nova, (MG), Brasil e Departamento de Medicina e Enfermagem, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Viçosa (MG), Brasil Corresponding author: marli.cupertino@ufv.br

Resumo O Brasil tem vivenciado o processo de envelhecimento da população, onde os idosos têm experimentado a velhice de forma ativa e saudável, com uma maior vivência da sexualidade, resultando em infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Assim objetivou-se delimitar os padrões epidemiológicos da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), na população idosa. Utilizou-se dados do período 2007/2017, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, declarados no Sistema de Informações sobre Mortalidade e registados Sistema de Controle de Exames Laboratoriais da Rede Nacional de Contagem de Linfócitos e Carga Viral do HIV. Foram utilizados os números de casos e óbitos, por faixa etária e por sexo. Como resultados foi observado que entre 2007 e 2017 o número de casos de AIDS, notificados em pessoas idosas, aumentou 4,29%, sendo predominante no sexo masculino. A porcentagem de óbitos por AIDS, passou de 5,79% em 2007 para 12,45% em 2017, enquanto esse índice na população com menos de 60 anos caiu no período analisado. O uso de preservativos reduz com o decorrer da idade, devido, entre outros fatores, a dificuldade de manuseio; queda do desempenho sexual; além da falta de conhecimento. A questão sexualidade é pouco evidenciada por profissionais da saúde, que direcionam as campanhas relacionadas ao HIV a outras partes da população, que não os idosos. Conclui-se que o envelhecimento da população, com boa qualidade de vida, permite a pessoa idosa uma vida sexual ativa, que é uma das causas do aumento de casos e óbitos por AIDS. Incrementos nas políticas de conscientização à prevenção primária, como uso de preservativo, são necessárias.

Palavras-chave: Envelhecimento, Doenças Sexualmente Transmissíveis, Infectologia, Geriatria, Virologia.

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ARTIGO ORIGINAL: Silva E. et al (2020) Acquired immunodeficiency Syndrome: A panorama on the indices of the Brazilian elderly population, Journal of Aging & Innovation, 9(2): 67- 76

Abstract Brazil has been experiencing the aging process of the population, where the elderly have actively and healthily experienced old age, with a greater experience of sexuality, resulting in infection with the human immunodeficiency virus (HIV). Thus, the objective was to delimit the epidemiological patterns of Acquired Immunodeficiency Syndrome (AIDS) in the elderly population. Data from the 2007/2017 period, reported in the Notification Disorders Information System, declared in the Mortality Information System, and recorded in the Laboratory Examination Control System of the National Lymphocyte Count and Viral HIV Network were used. We used the numbers of cases and deaths by age and gender. As a result it was observed that between 2007 and 2017 the number of AIDS cases reported in the elderly increased 4.29%, being predominant in males. The percentage of deaths from AIDS increased from 5.79% in 2007 to 12.45% in 2017, while this rate in the population under 60 years of age fell in the period analyzed. Condom use reduces with age, due to, among other factors, difficulty in handling; drop in sexual performance; beyond lack of knowledge. The issue of sexuality is little evidenced by health professionals, who direct HIV-related campaigns to other parts of the population than the elderly. It is concluded that the aging of the population, with a good quality of life, allows the elderly to live an active sex life, which is one of the causes of the increase in AIDS cases and deaths. Increases in primary prevention awareness policies, such as condom use, are needed. Keywords: Aging, Sexually Transmitted Diseases, Infectious Diseases, Geriatrics, Virology.

INTRODUÇÃO Os recentes dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018, confirmam o processo de envelhecimento que está ocorrendo no Brasil. Atualmente a população brasileira possui 210. 246. 098 milhões de pessoas, destas 30,2 milhões são idosas, ou seja, com 60 anos ou mais. Nos últimos sete anos a população ganhou 4,8 milhões de pessoas idosas, o que correspondeu a um aumento de 18% desse grupo etário na população total. As mulheres são a maioria representando 16,9 milhões (56%) de idosas, enquanto os homens totalizam 13,3 milhões (44%). As projeções evidenciam que o número de pessoas idosas deve chegar a 25,5% da população em 2060 (IBGE, 2018). O aumento da longevidade está relacionado com a transição demográfica que pode ser explicada pela redução nas taxas de natalidade e mortalidade no país. Muitos idosos têm vivenciado a velhice de forma ativa e saudável, com boas condições de saúde, apesar da idade avançada. O Centro Internacional de Longevidade Brasil define o envelhecimento ativo como o “processo de otimização de oportunidades para a saúde, a aprendizagem ao longo da vida, a participação e a segurança para melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas envelhecem” (CILB, 2015). Para alguns idosos envelhecer significa aproveitar as oportunidades que surgem ao longo da vida para alcançar e manter a saúde, ter uma ocupação rica em

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significado, relações sociais, novas habilidades, conhecimento e necessidades materiais (CILB, 2015). Muitos idosos, estão se descobrindo nessa fase da vida. Para as mulheres a viuvez permite desfrutar a vida com mais liberdade, representando a oportunidade de estudar, dançar, viajar, participar de grupos de convivência, dentre outras atividades, visto que, essas mulheres foram educadas em um código moral e ética sexual muito rígido. Antes do casamento eram submissas e obedientes ao pai e posteriormente aos maridos. Assim, para muitas idosas, a viuvez representa libertação. Os homens buscam um recasamento, geralmente com mulheres mais novas. Em ambos os sexos, tem-se, uma abertura para a vivência da sexualidade, tal fato pode levar as pessoas idosas assumir alguns comportamentos de risco, resultando em infeção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) (Souza; Freitas 2012). De acordo com dados Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde a taxa de deteção de aids (/100 mil hab.) segundo faixa etária e sexo no Brasil, em 2006 era 16,5%, já em 2015 essa taxa atingiu 20.5% entre homens e mulheres, sendo prevalecente entre os homens (13,8%). Ou seja, em um período de 10 anos houve um aumento de 4% (Ministério da Saúde, 2017). Em função disso, nos últimos anos no Brasil tem emergindo uma epidemia de HIV (vírus da imunodeficiência humana) e AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida) na população idosa. A sexualidade têm sido uma realidade vivenciada pelas pessoas idosas, apesar de ser percebida como um estigma negativo, permeada de preconceito e discriminação. Este perfil epidemiológico pode ser explicado pela facilidade de acesso a medicamentos para distúrbios ou disfunções eréteis, o prolongamento da vida sexual das pessoas com mais de 50 anos, a reposição hormonal principalmente para as mulheres, a possibilidade de implante de próteses penianas e o desconhecimento das pessoas idosas sobre a importância do preservativo e principalmente a resistência no uso destes (Valente, 2013). Outra condição que têm contribuído para ausência da prevenção e o diagnóstico da AIDS na terceira idade é o estigma imposto pelos profissionais de saúde que percebem a pessoa idosa como um indivíduo assexuado e não abordam a temática sexualidade durante as consultas. Além disso, o diagnóstico do HIV é uma prioridade na atenção básica a saúde, pois os profissionais solicitam a sorologia HIV apenas aos idosos viúvos, usuários de drogas, ou que relatam ter diversos parceiros JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-6

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sexuais ou durante a Campanha “Fique Sabendo”, em muitas situações os idosos com relação estável e as mulheres acabam sendo excluídas deste processo (Alencar; Ciosak, 2016). As variáveis descritas acima têm contribuído para o aumento da incidência e prevalência das doenças sexualmente transmissíveis (DST) na terceira idade, principalmente a AIDS que inicialmente incidia entre os homossexuais masculinos vem mudando seu perfil, acometendo pessoas heterossexuais, jovens e idosos. Assim objetivou-se delimitar os padrões epidemiológicos da AIDS, relativos ao número de casos e óbitos, taxa de mortalidade e letalidade por faixa etária, tendo em vista a análise da população idosa, que é considerada de risco, além de discutir as principais razões para a ocorrência do atual cenário.

METODOLOGIA Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo, retrospetivo, utilizando dados secundários referente a infeção por HIV e a AIDS. A coleta de dados foi realizada no período de 2007 - 2017. A população do estudo consistiu nos casos de notificação de HIV e de AIDS, no período entre 2007 – 2017, sendo estes dados notificados no (1) Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), declarados no (2) Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e registados Sistema de Controle de Exames Laboratoriais da Rede Nacional de Contagem de Linfócitos CD4+/CD8+ e Carga Viral do HIV. Os dados obtidos estavam agrupados no Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde – Ministério da Saúde (4). Os índices epidemiológicos utilizados foram os seguintes: número de casos e número de óbitos, ambos, por faixa etária e por sexo. Os dados obtidos foram armazenados e analisados quantitativamente através do Microsoft Office Excel. Estes dados foram descritos por meio de estatística descritiva e apresentados na forma de gráficos para facilitar a visualização e compreensão dos resultados.

RESULTADOS Constatou-se por meio do Boletim Epidemiológico de Saúde que no período entre 2007 e 2017 foram notificados 194. 217 casos de HIV no Brasil. Destes casos 5.668 notificações eram de pessoas com 60 anos ou mais, sendo assim, dos casos JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-6

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notificados de HIV 2,92% eram de pessoas idosas. Se considerarmos que entre a faixa etária de 50 – 59 anos há 5.691 casos de notificação, pode-se esperar em breve um incremento na percentagem de pessoas idosas infetadas, visto que, esta faixa etária antecede a velhice. Analisando a faixa etária acima de 60 anos verificou-se um aumento na percentagem de pessoas idosas infetadas por AIDS nos últimos 10 anos (Gráfico 1). Entre 2007 e 2017 o número de casos de AIDS notificados em pessoas idosas aumentou aproximadamente em 4,29%. Avaliando ainda o Gráfico 1 percebeu-se que a partir de 2013 o aumento na percentagem de casos passou a ser maior na população idosa quando comparada com as pessoas com menos de 60 anos, mantendo essa tendência até 2017.

Gráfico 1 – Percentagem de casos de AIDS em pessoas com 60 anos ou mais nos últimos 10 anos Fonte: Ministério da Saúde, 2017.

Considerando o número de casos de AIDS por gênero, constatou-se que a referida síndrome foi predominante em pessoas idosas do sexo masculino (Gráfico 2).

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Gráfico 2 – Número de casos de AIDS por gênero na população idosa. Fonte: Ministério da Saúde (2017)

O Gráfico 3 apresenta as percentagens de casos de óbitos por AIDS em homens e mulheres acima de 60 anos no período entre 2007 - 2017. A partir do gráfico, pode-se verificar que nos últimos anos houve um aumento na percentagem de óbitos de idosos por AIDS. Percebe-se, portanto que, assim como ocorre um aumento na percentagem de casos de AIDS, tem-se um aumento no número de óbitos, nos últimos 10 anos.

Gráfico 3 – Percentagem de óbitos por AIDS em pessoas com 60 anos ou mais. Fonte: Ministério da Saúde (2017)

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Comparando a percentagem de óbitos por AIDS entre pessoas com menos de 60 anos e idosos, averiguou-se que a mortalidade tem aumentado em pessoas idosas (Gráfico 4).

Gráfico 4 – Percentagem de óbitos por AIDS em indivíduos com menos de 60 anos e pessoas idosas. Fonte: Ministério da Saúde (2017)

DISCUSSÃO A ocorrência do vírus HIV na população idosa brasileira já uma realidade da saúde pública. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Saúde nos últimos 10 anos aumentou o número de casos notificados de HIV em pessoas idosas no Brasil. Tais dados corroboram com os estudos de Nunes e Silva (2012) que verificaram que existe uma grande ocorrência de DST na população idosa brasileira, principalmente da AIDS. Para Camargos e Gonzaga a população em geral está vivendo mais tempo, sendo que a melhoria na qualidade de vida permite a pessoa idosa uma vida sexual ativa e por consequente exposição a doenças sexualmente transmissíveis como o HIV (Camargos e Gonzaga, 2015).

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Os idosos passaram a redescobrir novas experiências, principalmente ao que tange a uma vida sexual ativa. Por outro lado, essa mesma parcela da população tende a diminuir a utilização de preservativos com o decorrer da idade. A fraca adesão do uso de preservativo pelos idosos ocorre em função da dificuldade de manuseio; queda do desempenho sexual; estabilidade do relacionamento; aumento da procura de parceiros sexuais na internet e do turismo sexual. Assim, o crescente número de idosos infectados pelos HIV decorre tanto pelo surgimento da TARV que possibilita que as pessoas vivam até a velhice mesmo o vírus, quanto pelo aumento da exposição aos fatores de risco. (Dornelas Neto et al., 2015). A falta de proteção dos idosos pode ser explicada ainda pela falta de conhecimento, visto que há desconhecimento da sexualidade desta população pelos profissionais da saúde, que deixam de ofertar testes, e direcionam as campanhas relacionadas ao HIV a outras partes da população que não os idosos. Isso resulta em uma perda da consciência de quão perigoso é o HIV ou em diagnósticos falhos ou tardios (Camargos e Gonzaga, 2015; Dornelas Neto et al., 2015). Infelizmente, por muitos anos manteve-se um certo tabu entre os idosos sobre preservativos, muitos eram resistentes ao uso uma vez que tinham relações sexuais com um único parceiro muitos anos. Entretanto, com a geração Cazuza, muitos passaram a adotar o uso da camisinha após vivenciarem inúmeros casos de mortes por HIV. O uso de preservativos nos relacionamentos entre 2012 e 2017, aumentou entre o público acima dos 45 anos (Ministério da Saúde, 2018). Os resultados evidenciaram que a AIDS em pessoas idosas é predominante no sexo feminino. Camargo (2016) também observou este quadro em relação a distribuição de óbitos por sexo. Essa realidade pode ser explicada pelos achados do estudo de Rodrigues e Praça (2010) que evidenciaram a desinformação da mulher com idade igual ou superior a 50 anos sobre o HIV/aids, além disso percebeu-se que existe uma valorização precária em relação a necessidade de prevenção da infecção pelo HIV já que essas mulheres tinham como garantia a confiança na fidelidade do companheiro contra a infecção. A realidade mais preocupante revelada por Rodrigues e Praça (2010) é que as mulheres nunca ou raramente utilizavam preservativo, sendo que não demonstraram intenção de usá-los. Com relação a porcentagem de óbitos por AIDS em pessoas idosas têm-se um aumento nos últimos 10 anos. Tal tendência também foi demonstrada por Camargo JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-6

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que evidenciou que enquanto entre a população adulta os índices de incidência e de mortalidade por AIDS vem diminuindo, entre os de idades mais altas ocorre justamente o contrário, sendo que a cada dez pessoas que morrem de AIDS no Brasil uma corresponde a pessoa idosa (Camargo, 2016). Contudo a taxa de detecção de AIDS tem ocorrido de forma mais intensa a partir da recomendação do Protocolo de Tratamento para Todo. O referido protocolo foi lançado em 2013 e assegurou uma ampliação maior de acesso aos testes, e consequentemente um menor tempo entre a infecção e o diagnóstico, possibilitando tratamento mais rápido e com melhor prognóstico. Logo, isso se refletiu também na queda dos números de mortalidade pelo HIV (Ministério da Saúde, 2018).

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Silva E. et al (2020) Perception of elderly caregivers about old meaning, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 77- 85 ARTIGO ORIGINAL: Silva E. et al (2020) Perception of elderly caregivers about old meaning, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 77- 85

 Artigo Original

Percepção de cuidadores idosos sobre significado da velhice Percepción de los cuidadores mayores sobre el significado de la vejez Perception of elderly caregivers about old meaning Emília Pio da Silva1, Simone Caldas Tavares Mafra2, Alessandra Vieira de Almeida3, Francely de Castro e Sousa4, Kemille Albuquerque Leão5, Marli do Carmo Cupertino6 1

Fisioterapeuta - PhD, Professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga.

2

Economista Doméstica - PhD, Professora Titular do Departamento de Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa 3 Economista Doméstica - PhD em Economia Doméstica da Universidade Federal de Viçosa 4

Fisioterapeuta - PhD, Professora do Curso de Fisioterapia da Faculdade Dinâmica do Vale do. Farmacêutica - CNS, Professora do Curso de Farmácia da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga. 6 Médica Veterinária - PhD, Professora dos Cursos de Saúde da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga 5

Corresponding Author: emiliapiosilva@yahoo.com.br Resumo Introdução: Envelhecer passa ser pejorativo sobre a mente humana, fazendo com que muitos lutem contra a ideia de se identificar como idosos, especialmente aqueles que convivem de perto com esta realidade, como os cuidadores de idosos. Objetivo: analisar a percepção de cuidadores de idosos sobre o significado da velhice. Materiais e Métodos: a amostra foi constituída por cuidadores informais de idosos, o instrumento de coleta de dados utilizados foi a entrevista semiestruturada. Para análise dos dados foi utilizado o IRaMuTeQ e os resultados avaliados com base na teoria das representações sociais. Resultados: a maioria dos cuidadores entrevistados não sabiam o que responder ou não sabiam o que é ser velho, percebeuse a dificuldade dos cuidadores informais de significar a velhice. Conclusão: essa fase da vida foi percebida apenas no outro; não sendo algo que se pensava viver ou que se pretendia viver. Palavras-chave: Atenção Integral ao Idoso, Senescência, Cuidador de Idoso.

Abstract Introduction: Aging becomes pejorative on the human mind, causing many to struggle against the idea of identifying themselves as elderly, especially those who live closely with this reality, such as caregivers for the elderly. Objective: to analyze the perception of elderly caregivers about the meaning of old age. Materials and Methods: The sample consisted of informal caregivers for the elderly, the data collection instrument used was the semi-structured interview. For data analysis, IRaMuTeQ was used and the results evaluated based on the theory of social representations. Results: most of the interviewed caregivers did not know what to answer or did not know what it is to be old, it was noticed the difficulty of informal caregivers to signify old age. Conclusion: this phase of life was perceived only in the other; not something that was thought to live or intended to live. Keywords: Comprehensive Health Care, Aging, Elderly Caregiver

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1. INTRODUÇÃO

O perfil etário da população brasileira vem se transformando nos últimos anos, há algum tempo o Brasil deixou de ser um país de jovens. As projeções demográficas são enfáticas ao demonstrar o envelhecimento populacional. De acordo com o Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (2018) no período entre 2012 e 2017 houve um aumento de 4,8 milhões de pessoas idosas na população brasileira, o que corresponde a um aumento de 18% desse grupo etário. De acordo com projeções do referido instituto o número de idosos vai ultrapassar o de jovens em 2031, quando haverá 42,3 milhões de jovens (0-14 anos) e 43,3 milhões de idosos (60 anos e mais), ou seja, haverá 102,3 idosos para cada 100 jovens. Essa é uma realidade prevista e já determinada, o convívio intergeracional é inevitável, contudo, os mais jovens ainda não se percebem idosos e preferem não pensar nesta fase da vida. Negar a velhice pode ser uma forma de lidar com o seu lado sombrio, já que muitas pessoas relacionam essa fase da vida com fragilidade, decadência, dependência e finitude. Envelhecer passa ser pejorativo sobre a mente humana, fazendo com que muitos lutem contra a ideia de se identificar como idosos, especialmente aqueles que convivem de perto com esta realidade, como os cuidadores de idosos. Cuidar de uma pessoa idosa é uma tarefa complexa, já que a maioria das pessoas que necessitam de cuidado são portadoras de uma ou mais doença crônica não transmissível (DCNT) que geram dependência e incapacidade ao final da vida. “As doenças crônicas representam um dos maiores entraves à qualidade de vida dos indivíduos, especialmente idosos. Acarretam um declínio lento e gradual na sua autonomia e independência, sendo alguns declínios administráveis, e outros, não” (CAMARANO, 2010). O que leva a pessoa idosa demandar de cuidado. No Brasil há predomínio do cuidado informal, realidade também encontrada no estudo em questão. O cuidado informal é aquele prestado por um membro familiar, que segundo Camarano (2010) as famílias cuidam ou “descuidam” de seus idosos perante sua dependência física e muitas vezes cognitiva. Assim os cuidadores passam a conviver diariamente com a negatividade da velhice e acabam acreditando que nesta fase da vida não há nada de positivo, nada

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de belo e produtivo. O velho é então tido como um peso, já que precisa de ajuda para realizar as principais e mais simples atividades de vida diária como banho, vestir-se, alimentar-se dentre outras tarefas. O cotidiano faz então, os cuidadores desprezarem o seu “eu”, e assim não conseguem se imaginar na mesma condição do idoso, ou seja, doente, dependente, depressivo, solitário e incapaz. Devido a relevância objetivou-se analisar a percepção de cuidadores de idosos sobre o significado da velhice.

2. METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa e de caráter descritivo. O estudo foi realizado no munícipio de Viçosa, estado de Minas Gerais, que fica localizado na Zona da Mata Mineira. De acordo com o documento Retrato Social de Viçosa, publicado em 2014, as pessoas idosas representavam 17% da população viçosense. Tal porcentagem chama atenção porque Viçosa é uma cidade universitária, muitas vezes conhecida pela sua juvenilidade, já que muitos jovens e adultos vivem no munícipio em função de estudar na Universidade Federal de Viçosa e nas faculdades privadas. A amostra da pesquisa foi constituída por 19 cuidadores informais. Empregouse a técnica de amostragem não probabilística, denominada snowball sampling (bola de neve), onde o participante inicial identificado em programa de terceira idade do município, indicou um novo participante, e que por sua vez, foi indicando outros e assim sucessivamente até que foi alcançado o ponto de saturação. A estratégia de coleta de dados utilizada foi a entrevista semiestruturada. A mesma foi realizada individualmente na residência do idoso, de acordo com a disponibilidade de data e horário do cuidador. Teve-se o cuidado de não realizá-la na presença da pessoa idosa, garantindo assim que o participante não ficasse constrangido ao responder qualquer pergunta e nem constrangesse aquele de quem cuida. Solicitou-se, ainda, que os entrevistados falassem o que para eles seria “ser velho”, sendo essa questão o cerne dessa pesquisa. Para análise da pergunta “na sua opinião o que é ser velho?” foi utilizado o IRaMuTeQ (Interface de R para Análise Multidimensional de Textos e Questionários), que é um software gratuito que permite diferentes processamentos e análises

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estatísticas de textos. Dentro das análises permitidas pelo referido software aplicouse a “nuvem de palavras”. Para Camargo e Justo (2013), a “nuvem de palavras” promove o agrupamento e a organização gráfica das variáveis em função da sua frequência. Constitui uma análise simples, porém, graficamente interessante, pois colabora com a evidenciação dos argumentos que explicam o fenômeno estudado. Os resultados encontrados foram avaliados com base na teoria das Representações Sociais, tendo em vista que toda realidade pode ser representada ou reapropriada pelo indivíduo, além de poder ser reconstituída no seu sistema de valores, baseando-se na sua história e nos contextos ideológico e social em que se vive (ABRIC, 2000). Jodelet (2001) afirma que as representações são construções e expressões do sujeito, do ponto de vista psicológico e social. Acrescenta ainda que as representações são formas de saber prático (conhecimento) que ligam o sujeito ao objeto e que norteiam a ação sobre o mundo e sobre o outro, podendo estar ligadas à atividade mental de um grupo ou coletividade e aos efeitos ideológicos dessa. O projeto foi submetido e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos, da Universidade Federal de Viçosa, de acordo com o parecer 1.956. 277. Foi garantido aos participantes o anonimato, o respeito, o sigilo das informações e a possibilidade de desistir de participar da pesquisa a qualquer momento. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O recurso “nuvem de palavras” foi utilizado para análise da pergunta “o que é ser velho para você?”. As palavras mais evocadas foram “não” e “velho”. Os entrevistados remeteram e apropriaram-se dessas palavras para mostrar que não tinham conhecimento considerado suficiente para descrever esse ciclo de vida (Figura 1). Figura 1 – Nuvem de palavra representativa do significado da velhice para cuidadores de pessoas idosas.

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Fonte: Pesquisa de campo, 2017. A “nuvem de palavras” evidenciou que a maioria dos cuidadores entrevistados não sabiam o que responder ou não sabiam o que é ser velho, conforme declararam: “Não penso nisso, não sei o que é ser velho” (Entrevistado 5). “Não sei isto, eu não sei responder não” (Entrevistado 11). “Nunca pensei nisso” (entrevistado 10). Os trechos das entrevistas trazem uma realidade interessante e que demanda uma discussão mais aprofundada. Pessoas que cuidam de idosos não pensam nesta fase da vida? Não se percebem ou não se enxergam velhos? Seria medo de envelhecer? Considerando estas indagações, pode-se inferir que pensar na velhice é também pensar nas debilidades que se pode enfrentar e que já podem ser notadas na convivência com a pessoa idosa dependente do cuidado, o que leva à fuga da provável realidade. Os estudos de Concone (2018) mostraram que, “velho” ou da “terceira idade” é sempre o outro. Percebe-se então o reforço da negação de fato, onde se está negando ou protelando o que parece inevitável. Dentro desse contexto, torna-se prudente parafrasear o escritor moçambicano Mia Couto que diz “não penso na velhice, tenho medo que a velhice pense em mim”(2016). Sabe-se que o cuidado pode ser representado por sentimentos, pensamentos, valores, emoções e significados que permeam a vida de quem cuida. Deste modo, ressalta-se que o “não penso nisso”, o “não sei responder” pode também representar aspectos importantes, dentre eles, a abnegação, a necessidade do vigor e da disposição cotidianas e o medo da velhice, por exemplo. A abnegação ou a renúncia de si mesmo exigida no ato cuidativo “não permite” ao cuidador pensar em si, ou seja, parar, olhar e se perceber velho e até mesmo dependente de certos cuidados. Por

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outro lado, o vigor e a disposição necessários, manifestados no esforço diário das atividades de cuidado, o “impede” inclusive de imaginar o que é ser velho, já que a velhice pode remeter a fraqueza e impotências e, isso, eles “não poderiam” ter diante da função desempenhada. Além disso, o medo de envelhecer pode ser também uma realidade, tendo em vista o que se pode vivenciar em termos de debilidades e desafios nessa fase. As representações encontradas permitem conhecer o universo dos cuidadores, apontando para suas necessidades, dificuldades, anseios, medos, entre outros fatores, que abrange a relação de cuidado. De acordo com Lavinsky e Vieira (2004), as representações construídas em torno do ato de cuidar são resultados de um contexto da vida repleto de histórias que despertam os sentimentos e pensamentos orientadores dos comportamentos. Segundo Araújo et al. (2005), embora haja componentes cognitivos inerentes às representações, no que se trata do processamento e acomodação dos fenômenos re-apresentados, ou seja, apresentado outra vez, conforme a maneira que o ator social interpreta, em que os valores, crenças, sentimentos, estereótipos são inerentes, esse fenômeno é também visto como social, histórico e cultural, nos quais se forma a representação. Considerando, então, que as representações podem ser vistas como fenômeno sócio histórico cultural, o fato de não pensar na velhice e nem mesmo saber falar sobre isso, ainda pode estar atrelado a uma construção social arraigada em nossa sociedade, de que essa fase da vida é negativa e improdutiva, uma vez que a sociedade visa o jovem, o forte, ou seja, quem produz e gera lucro. Por isso, Hudson et al. (2018) afirmaram que precisa ocorrer uma revisão dos valores e significados da vida em todas as faixas etárias, pois se percebe a necessidade de compreender que o envelhecimento faz parte da vida, que é um processo natural, é uma fase da vida que continua e que necessariamente não está sedimentada e não significa doença, ou qualquer sentimento relacionado a algo negativo. Embora grande parte dos entrevistados não tenha conseguido responder a pergunta sobre “o que é ser velho”, observou-se determinados significados nas falas de alguns cuidadores. Moscovici (2009) afirma que as representações sociais são constituídas a partir do modo em que o sujeito chega à compreensão das coisas e dos fatos que estão a sua volta, estabelecendo significados baseados em suas JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-7

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experiências diárias. Desta forma, primeiramente, verificou-se que “ser velho” significava experiência. As falas dos Entrevistados 17 e 18 revelaram tal percepção: “Ter experiência de vida” (Entrevistado 17). “Um sinal de experiência de coisas ruins e boas já vividas, sinônimo de experiência” (Entrevistado 18). O significado de ser velho ligado à experiência também ficou evidente nos estudos de Concone (2018) que afirmou que o idoso é respeitado em função da experiência e da sabedoria acumulada. O estudo de Hudson et al. (2018) foi realizado com adolescentes e também evidenciou esta perspectiva. Segundo os adolescentes, com o avançar da idade as pessoas se tornam sábias, e a sabedoria, por sua vez, é resultante da experiência vivida nos anos de vida que se acumula ao envelhecer. Ao observar a Figura 1 foi possível verificar que os entrevistados também significaram o envelhecimento a partir da palavra “saúde”, no que se refere à falta de saúde (entrevistado 9) e à necessidade da mesma para se chegar a velhice: “É uma pessoa que está muito mal de saúde [...]” (Entrevistado 9). “Quando tem saúde é muito bom, e é um processo natural, tem que agradecer quando chegar” (Entrevistado 14). A doença passa a fazer parte da vida das pessoas idosas e também de seus cuidadores; nessa perspectiva, a preocupação surge justamente porque muitas das doenças experienciadas nesta fase da vida são doenças crônicas e degenerativas, que tendem a aumentar com a idade ou mesmo porque estão convivendo com amigos e parentes doentes (SILVA et al. 2018). Neste estudo o envelhecimento foi referenciado como experiência. Verificou-se que os entrevistados ainda não vivenciaram e nem pensaram viver essa fase da vida, questões de saúde na velhice que podem levar à senescência ou à senilidade. Apesar disso, os dados revelados neste estudo permitiram descrever a tarefa do cuidado no âmbito familiar. Verificou-se que esta é uma tarefa complexa, que envolve vários fatores, inclusive o fato do cuidador não ter escolhido este papel, mas tê-lo assumido em função do dom da dádiva, ou seja, pela vontade de Deus.

4. CONCLUSÃO Nesta pesquisa percebeu-se a dificuldade dos cuidadores informais de significar a velhice. Essa fase da vida foi percebida apenas no outro; não sendo algo que se pensava viver ou que se pretendia viver. O que demonstra a importância de estudos nesta vertente para ampliar as discussões de cuidado no processo de JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-7

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envelhecimento. Percebeu-se que a atividade de cuidar gera “empoderamento”, “controle” sobre algo, o que permite vincular tais sentimentos à perspectiva da negação da própria velhice. Nesse sentido, se se cuida de algo ou alguém, o cuidador não se qualifico como alguém que necessita de cuidado. Logo, não pode ainda, a seu ver, ser considerado uma pessoa idosa.

5. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Capes e Fapemig o aporte financeiro recebido para realização da pesquisa. Aos cuidadores de pessoas idosas que nos emprestaram suas vozes para ajudar descrever a tarefa do cuidado.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Afonso C. (2020) Nursing interventions for family caregivers in home palliative care after the relative's death, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 86- 100 REVISÃO INTEGRATIVA: Afonso C. (2020) Nursing interventions for family caregivers in home palliative care after the relative's death, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 86- 100

 Revisão Integrativa da Literatura

As intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em Cuidados Paliativos domiciliários após o falecimento do familiar Intervenciones de enfermería dirigidas a los cuidadores familiares en cuidados paliativos domiciliarios tras la muerte del familiar

Nursing interventions for family caregivers in home palliative care after the relative's death Catarina Afonso1 1 RN Corresponding Author: catarinaines.afonso@gmail.com

Resumo

Background: O cuidador familiar em cuidados paliativos está incluso no foco da intervenção de enfermagem. Em contexto domiciliário, a relação de proximidade entre o enfermeiro e o cuidador familiar é mais intensa e permanece após o falecimento do familiar. No entanto, as intervenções dirigidas de forma estruturada esbatem-se, deixando em aberto um vasto campo de intervenção.

Metodologia: Realizar uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de identificar e descrever as intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em cuidados paliativos, após o falecimento do familiar. A estratégia de pesquisa incluiu nas bases de dados eletrónicas CINHAL; Cochrane Database of Systematic Reviews, Nursing & Allied Health Collection, Medline e Scielo. A pesquisa foi alargada ao RCAAP e ao Google. Obteve-se ainda um artigo diretamente do autor. Por fim, foram incluídos nesta revisão 4 artigos. A análise dos dados decorreu de um processo sistemático de identificação de temas relacionados com o fenómeno em estudo.

Conclusões: As intervenções de enfermagem manter a comunicação enfermeiro/cuidador enlutado, reforçar a relação enfermeiro/cuidador enlutado e apoiar o processo de luto do cuidador enlutado. Esta revisão dá ênfase à necessidade de desenvolver serviços de apoio no luto, nomeadamente em contexto domiciliário, bem como à necessidade de potenciar formação sob a temática de apoio no luto.

Palavras Chave: Intervenções de enfermagem, Cuidadores familiares, Cuidados paliativos, Cuidados terminais

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Abstract

Background: The family caregiver in palliative care is included in the focus of the nursing intervention. In a home context, the close relationship between the nurse and the family caregiver is more intense and remains after the relative's death. However, interventions directed in a structured way fade away, leaving a wide field of intervention open.

Methodology: Conduct an integrative literature review in order to identify and describe the nursing interventions aimed at family caregivers in palliative care, after the relative's death. The research strategy included in the electronic databases CINHAL; Cochrane Database of Systematic Reviews, Nursing & Allied Health Collection, Medline and Scielo. The search was extended to RCAAP and Google. An article was also obtained directly from the author. Finally, 4 articles were included in this review. The analysis of the data resulted from a systematic process of identifying themes related to the phenomenon under study.

Conclusions: Nursing interventions maintain communication between the bereaved nurse / caregiver, reinforce the bereaved nurse / caregiver relationship and support the bereaved caregiver's grieving process. This review emphasizes the need to develop support services in bereavement, particularly in the home context, as well as the need to enhance training under the theme of support in bereavement.

Keywords: Nursing interventions, Family caregivers, Palliative care,Terminal care

BACKGROUND

Falar de cuidados paliativos é falar de um direito humano. No entanto, é preciso recuar à década de 60 do séc XX para encontrar a origem do movimento dos cuidados paliativos e a sua mentora, Cicely Sunders. Foi ela, que na observação da escassez de cuidados de saúde prestados aos doentes em fim de vida, reclamou a necessidade de desenvolver numa filosofia de cuidados que efetivasse o direito e a dignidade no processo de morrer. O crescimento e expansão do movimento permitiu a transição da associação da morte no fim de vida para o cuidar na morte e no processo de morrer. Como diz o Professor Lobo Antunes, no prefácio do Manual de Cuidados Paliativos (2016), os cuidados paliativos são a “medicina do crepúsculo, ou seja, a que cuida daqueles em quem a luz da vida, a pouco e pouco, se vai apagando (…) é a medicina do conforto do espirito, do alívio prudente do sofrimento, do encontro com o outro, do esforço comunal, da preservação tenaz da dignidade.” Atualmente, de acordo com a IAHPC (International Assotiation for Hospice and Paliative Care 2018) os cuidados paliativos são “ os cuidados holísticos, ativos, prestados a indivíduos de todas as idades com sofrimento intenso e decorrente de doença grave, especialmente dirigidos àqueles perto do fim de vida. Têm como objetivo melhorar a qualidade de vida das pessoas doentes, das suas famílias e cuidadores”. Elencando isto às definições

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de referência da OMS (Organização Mundial da Saúde, 2002) e da CAPC (Center for Advance Palliative Care-USA, 2014) acrescenta-se a visão alargada de cuidados que inclui uma abordagem global centrada na pessoa doente e na sua família nas suas múltiplas vertentes, efetuada por uma equipa multidisciplinar, estendendo-se este apoio ao período de luto. Sublinha-se o facto da intervenção dos cuidados paliativos atender “a um conjunto de necessidades determinadas pelo sofrimento na doença avançada e pelas múltiplas perdas que esta determina, e não com base num prognóstico ou num diagnóstico” (Neto, 2017). Nas últimas décadas têm-se assistido ao desenvolvimento dos cuidados paliativos, que atualmente estão incluídos na clínica e no planeamento em saúde. Na verdade, a evolução do conceito e o crescimento da ciência impôs o desenvolvimento da filosofia na clínica e na prestação de cuidados. Convirá ainda referir que este tipo de cuidados de saúde tem como alvo pessoas com doença oncológica e não oncológica, bem como a pessoas em fim de vida (últimos 12 meses de vida), pessoas em fase terminal (por definição, com 3 a 6 meses de vida) ou pessoas em fase agónica (com horas ou dias de vida) (Neto, 2017). Classicamente, consideram-se como áreas estruturais nos cuidados paliativos o controlo de sintomas, comunicação adequada, apoio à família e trabalho em equipa. No entanto, poder-se-á dizer que a importância atribuída a cada área é em interdepência com as restantes, numa perspetiva de igualdade, sem que uma seja mais importante que a outra Neto (2003). Face ao familiar, a pessoa doente, o posicionamento da Filosofia dos cuidados paliativos é integrador e agregador em relação à família. Isto é a família é cuidadora e fundamental no apoio à pessoa doente, mas em simultâneo é recetora de cuidados. Segundo Moreira (2001) a família é a unidade básica em que nos desenvolvemos e socializamos; é na família que se proporciona apoio emocional e segurança através de amor, aceitação interesse e compreensão. Perante a doença de um dos seus membros a família é confrontada com a alteração do seu funcionamento e organização. Poder-se-á dizer que cuidar a pessoa doente é também cuidar a sua família, isto é, a pessoa e a família são visionados como díada ou unidade a cuidar, a intervir. Nesta perspetiva é fundamental identificar na família a pessoa que está mais próxima e mais envolvida nos cuidados à pessoa doente, o seu cuidador familiar. Este processo de interação com família é sustentado numa abordagem de comunicação aberta, dinâmica e multidirecional (Querido; Salazar; Neto; 2010). Isto, permitirá à equipa a integração do cuidador/família no plano de intervenção com vista a estratégias definidas por Neto (2003) educação/informação; suporte emocional e ajuda na reorganização do cuidador/família na prevenção e tratamento do processo de luto.

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Após o falecimento da pessoa doente ressalta a forma como o cuidador/ família irá viver a perda. O modo como cada membro da família se relacionará com os outros é crucial para a adaptação saudável à perda. Na generalidade a resiliência das famílias é suficiente para alcançar a adaptação à perda, mas para algumas podem surgir características de risco de morbilidade após a perda e estas devem ser alvo de intervenção (Barbosa; 2016). No entanto, é preciso ter em conta o cuidador no seio da família, que requer um olhar atento face à sua envolvência em todo o processo de doença. A intervenção junto do cuidador, segundo Barbosa (2016), interseta o momento de discussão do prognóstico, planeamento de cuidados futuros (directrizes antecipadas), lidar com o conflito, suspensão de suporte de vida, considerar preocupações culturais e espirituais e por fim a discussão sobre o luto e a perda. Todo este envolvimento requer preparação e apoio da equipa com vista à saúde mental do cuidador e ao seu ajuste face à situação experienciada de cuidar uma pessoa doente e em fim de vida. Cuidar um doente terminal é um desafio para a família e para o cuidador. É um ato que exige dedicação e tempo, o processo de cuidar representa um apelo aos profissionais de saber estar e saber ser no ouvir, acompanhar e apoiar (Guarda; Galvão; Gonçalves; 2010). Na experiência de cuidar uma pessoa doente em cuidados paliativos, o cuidador familiar é envolvido na equipa, com a qual vai partilhar angústias, inseguranças, medos e conquistas. No desenrolar do processo de doença o cuidador vai-se construindo em total ligação com a equipa. A aliança terapêutica desenvolvida entre a equipa e o cuidador vai reforçar a aliança terapêutica e a tranquilidade na tomada de decisão. Os enfermeiros enquanto parte da equipa representam uma presença constante na relação terapêutica, sendo em muitas situações gestores de caso e por isso elos de ligação entre a pessoa doente/cuidador/família. Segundo Nunes (1999:59), “estabelecer uma relação de ajuda não significa dar soluções ou indicar estratégias (…) significa, sim, criar condições relacionais que permitam ao Outro (o que pede) descobrir o caminho que, em sintonia com a sua subjetividade, lhe permita ser criativo e coerente nas soluções que descobre para ultrapassar as dificuldades ou os problemas.” Em cuidados paliativos o contexto é de vulnerabilidade, a relação entre o enfermeiro e o cuidador acontece em resposta e em expressão da construção deste caminho de sintonia. Acrescenta-se ainda, a afirmação de Nunes (2008: 44), “o processo de cuidado constitui-se como uma relação interpessoal, em que a competência do enfermeiro se fundamenta no seu compromisso de cuidar do outro e na intenção de o afirmar como pessoa, configurando um cuidado protetor.” Importa ainda clarificar o conceito de intervenção de enfermagem, visto que representa a ação, associada ao conhecimento, podendo potenciá-lo, e simultaneamente desenvolver

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novas competências, influenciando padrões de ação, bem como compreender melhor a interação do enfermeiro doente e o impacto que pode ter em ambos, com foco no bem-estar do doente (Sapeta, Lopes; 2007). Em contexto hospitalar a pessoa/cuidador/família encontram-se num ambiente de maior proximidade física com a equipa, com a presença do enfermeiro 24h. No entanto, diz a literatura que o local de preferência para a pessoa doente é o domicílio (Gomes, Sarmento, Ferreira & Higginson, 2013; Ferreira, et al, 2010; Ferreira, Souza & Stuchi, 2008). Em contexto domiciliário a presença física da equipa não é permanente, o que poderia ser um obstáculo, embora isso seja contrariado pela literatura que afirma uma ligação estável e de confiança (Ferreira, et al, 2010). Em contexto domiciliário a relação entre a pessoa doente/cuidador/família e o enfermeiro torna-se ainda mais estreia. Os enfermeiros tornam-se testemunhas de todo o processo de cuidar que após o falecimento serve de confirmação real de tudo o que foi vivenciado, concretizado e conquistado. No entanto, a vulnerabilidade do cuidador emerge na intensidade do processo vivenciado no domicílio (Ferreira, et al, 2010; Ferreira, N. et al; 2008) o que requer e apela a uma intervenção dirigida pela equipa, nomeadamente pelo enfermeiro. E assim, ser potenciadora do luto pacífico (Barbosa, 2010: 518) “perda integrada na memória auto-biográfica, os pensamentos e as memórias sobre o falecido não são preocupantes ou perturbadoras de outras atividades que passam agora a ocupar progressivamente mais tempo do que as relacionadas com o falecido.” Após o falecimento os enfermeiros podem desenvolver intervenções gerais num apoio imediato e/ou estruturado na equipa. Deste modo, com base nos princípios básicos do acompanhamento/aconselhamento no luto identificados por Barbosa; A. (2010): acompanhar, mais que tratar; contenção emocional, mais que intervenção ou intervencionalismo e prudência nas intervenções psicológicas, biológicas e propor mudanças microssociais. Não esquecendo que cada processo de luto é único e singular. Segundo Barbosa, A. (2016) a abordagem pela narrativa é um meio de relação com o outro e a comunicação é a ferramenta central para que isso aconteça, sugerindo o modelo de ética relacional. Este modelo assume a narrativa/relacional na relação clínica, enfatiza o mútuo compromisso dos intervenientes numa criação cooperativa, assente na consciência da vulnerabilidade mútua. Este pensamento alicerçado na Medicina Narrativa, conduz aos cuidados centrados na relação com a pessoa. Segundo Charon (2006), a Medicina Narrativa é praticada com a competência narrativa para reconhecer, absorver e interpretar o sofrimento, através da história da doença, da vulnerabilidade de quem cuidamos, daqueles com quem trabalhamos e de nós próprios, implicando um agir em consonância.

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Em suma, a abordagem à família inclui um olhar atento ao cuidador familiar que em contexto domiciliário está mais exposto à vulnerabilidade. Na relação com o enfermeiro o cuidador familiar vai consolidando a experiência de cuidar, O foco será identificar o impacto das intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em cuidados paliativos domiciliários após o falecimento do familiar.

Pergunta (PICo) Em relação aos cuidadores familiares quais as intervenções de enfermagem dirigidas em CP domiciliários, após o falecimento do familiar?

Objetivos Identificar as intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em cuidados paliativos domiciliários, após o falecimento do familiar; Descrever as intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em cuidados paliativos domiciliários, após o falecimento do familiar.

Materiais e Métodos Para dar resposta aos objetivos propostos, segue-se o propósito de realização da revisão integrativa da literatura, isto é, reunir e sintetizar resultados de estudos realizados, através de diferentes metodologias, para o aprofundamento do conhecimento do tema escolhido (Soares et al, 2014).

Palavras Chave As palavras-chave, ou descritores foram selecionados a partir da pergunta, após confirmação na plataforma DeCs (2019) e MeSH (2019). (Nursing intervention) AND (Care* OR Palliative treatement) AND Terminal care (Intervenções de enfermagem) AND (Cuidadores OR Cuidados Paliativos) AND Cuidados Terminais

Bases de Dados CINHAL; Cochrane Database of Systematic Reviews, Nursing & Allied Health Collection, Medline e Scielo. A pesquisa foi alargada ao RCAAP e ao Google.

Critérios de Inclusão e Exclusão

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Foram incluídos estudos no âmbito dos cuidados paliativos em contexto domiciliário (entendeu-se como local de prestação de cuidados o domicílio e/ou unidade de cuidados paliativos/hospice). Quanto aos participantes foi critério de inclusão cuidadores enlutados acompanhados por enfermeiros. Foram excluídos estudos cujos participantes tivessem idade igual ou inferior a 18 anos. Foi também critério de exclusão artigos cujo idioma não fosse Inglês, Espanhol ou Português. Nesta revisão não houve limitação do período temporal.

Selecção de Estudos Em resultado da pesquisa realizada foram identificados 192 estudos. A primeira etapa de seleção dos artigos permitiu excluir todos os artigos repetidos nas diferentes bases de dados utilizadas. A segunda etapa consistiu na leitura exaustiva do título e resumo selecionando os artigos pertinentes para a problemática em estudo. Destes, foram selecionados 26 pelo título. Após leitura do resumo foram excluídos 2, uma vez que não cumpriam os critérios de inclusão para os participantes. Foram lidos na íntegra 24 artigos e excluídos 22 por não cumprirem os critérios de inclusão. Foram selecionados 2 artigos, ao que se acrescentou um que foi facultado pelo autor e outro obtido na pesquisa alargada ao Google (não se tendo sido encontrados artigos no RCAPP que cumprissem os critérios de inclusão). O referencial para estabelecer o nível de evidência utilizado foi Oxford Centre for Evidence-Based Medicine (2009). A análise dos dados decorreu de um processo sistemático de identificação de temas relacionados com o fenómeno em estudo, permitindo avaliar as seguintes características de cada artigo: identificação da publicação, ano de publicação e autores, metodologia do estudo e resultados /conclusões expressas pelos autor Assim, tal como se pode observar no diagrama 1, ilustram a presente revisão 4 artigos.

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Identificação

Diagrama1 - Seleção de estudo para realização da revisão integrativa da literatura CINHAL (n- 85)

Nursing & Allied Health Collection: Comprehensive (n- 16)

Cochrane Database of Systematic Reviews (n- 3)

Medline (n- 75)

Sielo (n- 13)

Artigos identificados (n= 192)

Artigos após remoção de duplicação (n = 176) CINHAL (n-79); Cochrane Database of Systematic

Triagem

Reviews (n-3), Nursing & Allied Health Collection(n-14), Medline (n-67) e Sielo (n-13).

Elegibilidade

Artigos (n = 26) Artigos selecionados após leitura do resumo

Artigos disponíveis (n = 24)

Artigos excluídos após leitura do resumo e títulos (n =2)

Artigos Excluídos após leitura completa e aplicação dos critérios de inclusão. (n =22)

Inclusão

Artigos incluídos na RIL n = 2 (1-CINHAL; 1-Medline)

Google (n- 1)

Artigos que constituem a RIL (n = 4)

Artigo facultado pelo autor (n =1)

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Síntese de dados Nível de Artigos

evidência/

Método

Participantes

Objetivo

Resultados

artigos Holdsworth

Qualitativo tipo

Amostra de 270

Explorar a forma como

Os resultados sugerem que os profissionais de saúde tem um

LM; 2015;

descritivo com

cuidadores

os

cuidadores

papel multidimensional, que excede o apoio médico e de

UK

entrevista

referenciados por

conceptualizam a "boa

enfermagem, tornando-se parte integrante da rede social de

estruturada com

um

do

morte" e o impacto que

apoio moldando a experiência dos cuidadores. Os achados

análise

identificam a importância das características e ações dos

Pazes,

M.;

Nunes,

L.;

N4

N4

de

hospice

Sudoeste

da

a

conteúdo

Inglaterra,

44

pode ter nos mesmos.

segundo Snape

foram

and Spencer

selecionados

Qualitativa, tipo

7 cuidadores do

Conhecer a influência

Os resultados apontam para a importância atribuída pelos

descritivo

sexo

da

e

conceptualização

profissionais de saúde na confiança no ato de cuidar e no apoio no luto.

feminino,

conduta

do

cuidadores à comunicação com os enfermeiros, valorizando

atribuída

a informação para a realidade da situação vivenciada e

cuidador

reforço

Barbosa, A.;

exploratório

com idades entre

enfermeiro,

2014;

com

os 34 e 73 anos,

pelo

Portugal

estruturada com

escolhidos

principal,

análise

forma intencional,

vivência do processo

influenciadores do desempenho e funções do papel de

acompanhadas por

de doença em fase

cuidador) e o processo de luto (forma como o cuidador gere

enfermeiros

terminal e de luto da

a perda). A influência da conduta do enfermeiro (no saber

morte

fazer em momentos cruciais) aparece como determinante

entrevista

de

conteúdo.

fazem

Nietsche,

N4

Qualitativo,

E.; Vedoin,

estudo

S.;

descritivo

de

que

visitação

da

a

pessoa

da

fundamentais

esperança

realista.

Emergiram

aspetos

como

processo

de

(fatores

o

cuidar

domiciliária.

próxima.

para a relação de confiança com o cuidador.

4

Identificar a perceção

Os resultados apontam para a necessidade de um cuidado

da equipa de saúde e

humanizado – a dimensão relacional associada à dimensão

dos

de

clínica, emergindo a necessidade de respeito, comunicação e

cuidadores

familiares e

sobre

e

profissionais

5 de

cuidadores

Bertolino,

exploratório

saúde enfermeiros

doentes terminais em

compreensão. A relação com o enfermeiro aparece como foco

K.;

Lima,

com

que

contexto domiciliário,

de ensino, segurança e tranquilidade. O domicílio aparece

M.;

Terra,

semi-

visitação

sobre

o

cuidado

como local de maior ligação entre o doente a a família, o

estruturada com

domiciliária

dispensado

no

apoio aos doentes terminais centra-se no conforto, alívio da

L.;

entrevista

Bortoluzzi,

análise

C.;

conteúdo

2013;

Brasil Brownhill, S.;

fazem

de

processo de morrer e

dor e sofrimento.

morte.

segundo Bardin N4

Chang,

Qualitativo,

10 enfermeiras de

o processo de tomada

Os resultados mostram a importância do papel das

com recurso a

contexto

de decisão relativo ao

enfermeiras no apoio à família/cuidador enlutado e revelam a

E.;

metodologia

domiciliário

apoio

a

construção de um modelo de tomada de decisão das

Bidewell, J.;

grounded

familiares de doentes

enfermeiras. Este modelo destaca a interação entre a

Johnson, A.;

theory;

acompanhados

comunicação, as circunstâncias do contexto, a variante

2013

no

luto

cuidados paliativos.

em

psicossocial do enlutado, as características das enfermeiras, a sobrecarga de trabalho, o apoio disponível para as enfermeiras e para os enlutados e os elementos inerentes à visita.

Discussão

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Após a leitura dos estudos selecionados, para a presente revisão e o posterior agrupamento de informações, foi possível identificar três áreas de intervenção de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em cuidados paliativos após o falecimento do familiar: manter a comunicação enfermeiro/cuidador enlutado; reforçar a relação enfermeiro/cuidador enlutado e apoiar o processo de luto do cuidador enlutado. De seguida descrevem-se as áreas de intervenção de enfermagem. Manter a comunicação enfermeiro/cuidador enlutado Nos estudos selecionados a comunicação aparece como aspeto fundamental para os cuidadores, como meio de preparação para a consciência e eminência da morte (Holdsworth, 2015). A comunicação é ferramenta terapêutica para a resolução de problemas e tomada de decisão, o que consolida a aliança terapêutica entre os cuidadores e os profissionais de saúde, nomeadamente, os enfermeiros (Pazes, Nunes & Barbosa, 2014; Nietsche, et al; 2013). A importância atribuída pelos cuidadores à comunicação com os enfermeiros, valoriza a informação para a realidade da situação vivenciada e reforço da esperança realista, bem como a disponibilidade para estar presente e dar resposta (Pazes, Nunes & Barbosa, 2014). É significativo o posicionamento dos enfermeiros face aos cuidadores enlutados, relacionado com a relação já estabelecida no decorrer do acompanhamento nas visitas de cuidados paliativos. A comunicação destaca-se entre os enfermeiros e os cuidadores enlutados como ferramenta terapêutica na construção de confiança. Assim, manter a comunicação, fundamentada na experiência prévia de tomada de decisão conjunta, resolução de problemas e de aliança terapêutica (Holdsworth, 2015; Pazes, Nunes & Barbosa, 2014; Nietsche, et al; 2013), é uma intervenção estruturante e facilitadora do processo de luto dos cuidadores enlutados em cuidados paliativos (Pazes, Nunes & Barbosa, 2014; Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). Reforçar a relação Enfermeiro/Cuidador enlutado Nesta revisão, a relação estabelecida entre os enfermeiros e os cuidadores familiares emerge naturalmente como uma intervenção de suporte com efeito apaziguador e preponderante no processo de luto do cuidador enlutado (Holdsworth, 2015; Pazes, Nunes & Barbosa; 2014; Nietsche et al; 2013; Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). A relação estabelecida vai além da clínica, tornando-se parte da rede social dos cuidadores. O papel dos enfermeiros é multidimensional, o que reforça o impacto na relação com os cuidadores na transição para o processo de luto. A influência da conduta dos enfermeiros, no saber fazer, potencia a confiança dos cuidadores e tem significativa expressão na vivência do processo de doença e de luto. Ainda em relação às características da relação estabelecida, destaca-se o respeito, o diálogo e a compreensão, que pode ser esquecido em detrimento de

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aspetos tecnicistas (Holdsworth, 2015; Pazes, Nunes & Barbosa; 2014; Nietsche et al; 2013; Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). A transformação da relação enfermeiro/cuidador enlutado, a intensidade do vínculo estabelecido. Neste estudo é identificado o dinamismo da relação, potenciado pelo grau de envolvimento do enfermeiro com a família/cuidador. A relação começa por ser profissional e vai-se tornando mais conexa e íntima. Isto será tão mais intenso quão mais envolvido/vinculado o enfermeiro estiver com a família/cuidador (Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). Assim, reforçar a relação enfermeiro/cuidador enlutado é uma intervenção que aparece de forma clara após o falecimento do do familiar (Holdsworth, 2015; Pazes, Nunes & Barbosa; 2014 Nietsche, E et al; 2013; Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). Em cuidados paliativos isto eleva-se na perspetiva de apoio no processo de luto, dando ênfase a uma relação já existente e que pode ser facilitadora da restauração do self e de um luto pacífico. Apoiar o processo de luto do cuidador enlutado Apoiar o processo de luto do cuidador enlutado é recorrente nos estudos e aparece enlaçada às intervenções anteriormente descritas. Os estudos selecionados mostram como as vivências do cuidador face ao cuidado e ao fim de vida são marcadas pelo apoio dos enfermeiros, determinando a tranquilidade perante a perda do familiar (Holdsworth, 2015; Pazes, Nunes & Barbosa; 2014 Nietsche, E et al; 2013; Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). Nos achados de Pazes Nunes & Barbosa (2014), o processo de cuidar do cuidador enlutado constitui um determinante para o processo de luto, embora com maior impacto em contexto domiciliário. A educação no processo de cuidar e a preparação para o cuidado ao doente terminal surge como aspeto essencial a trabalhar com o cuidador, com foco na segurança e na tranquilidade (Nietsche, E et al; 2013). O papel do enfermeiro no processo de luto do cuidador enlutado é desenhado antecipadamente (Holdsworth; 2015; Pazes Nunes & Barbosa; 2015 Nietsche, E et al; 2013), depois, após o falecimento inicia-se um apoio e suporte estruturado, que para os enfermeiros representa um processo de tomada de decisão dinâmico (Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013). O estudo de Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson (2013), clarifica este processo de interação enfermeiro/cuidador enlutado, do ponto de vista do enfermeiro, mostrando o modo de interação através de visitas domiciliárias de monitorização e avaliação do processo de luto da família/cuidador enlutado. Ainda neste estudo, é identificada a complexidade do papel dos enfermeiros que realizam apoio no luto em contexto domiciliário, com foco no processo de tomada de decisão das mesmas. Os resultados mostram esse

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processo de tomada é dinâmico, interativo e multifatorial entre a comunicação, as circunstâncias do contexto, a variante psicossocial do enlutado, as características dos enfermeiros, a sobrecarga de trabalho, o apoio disponível para os enfermeiros e para os enlutados e os elementos inerentes à visita. Deste modo, a intervenção de apoiar o processo de luto do cuidador enlutado caracteriza-se num cuidar de proximidade ao cuidador prévio ao falecimento (Holdsworth, 2015; Pazes, Nunes & Barbosa; 2014 Nietsche, E et al; 2013) e partilha da experiência de perda com impacto positivo no processo de luto da família/cuidadores enlutados (Brownhill, Chang, Bidewell, & Johnson; 2013) facilitando a restauração do self e a realização de um luto pacífico. As intervenções identificadas manter a comunicação enfermeiro/cuidador enlutado, reforçar a relação enfermeiro/cuidador enlutado e apoiar o processo de luto do cuidador enlutado estão entrelaçadas, como que contíguas, tal como se pode observar no esquema seguinte. Esquema 1 – Intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em Cuidados Paliativos domiciliários após o falecimento do familiar.

As intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares em Cuidados paliativos após a morte do familiar Conclusões e Implicações para a prática de enfermagem Esta revisão identifica as intervenções de enfermagem dirigidas aos cuidadores familiares após o falecimento do do familiar, sublinhando a vulnerabilidade do contexto domiciliário. Os JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-8

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artigos examinados nesta revisão identificam as áreas de intervenção manter a comunicação enfermeiro/cuidador enlutado, reforçar a relação enfermeiro/cuidador enlutado e apoiar o processo de luto do cuidador enlutado. Estas intervenções descrevem-se de forma contínua, manter a comunicação já previamente desenvolvida no processo de cuidar, reforçar a relação, isto é mantendo o apoio no luto aos familiares. A destacar a transversalidade destas intervenções que se caracterizam de forma enlaçada e interdepende, ou seja, pela comunicação, trave mestra de uma relação terapêutica, consolidase a relação entre o enfermeiro e o cuidador enlutado que posteriormente facilitará o apoio necessário para o processo de luto do cuidador enlutado, promovendo processos de luto pacíficos. Em cuidados paliativos isto eleva-se na perspetiva de que o apoio no processo de luto está integrado na filosofia de cuidados. Os achados reforçam a necessidade de desenvolvimento e expansão dos cuidados paliativos em contexto domiciliário, bem como a emergência da estruturação das intervenções de enfermagem dirigidas ao cuidador familiar após o falecimento do familiar, especialmente de apoio no luto. Esta revisão dá ênfase à necessidade de desenvolver serviços de apoio no luto, nomeadamente em contexto domiciliário, bem como à necessidade de potenciar formação sob a temática de apoio no luto. Sugere-se então para futuros estudos o aprofundamento deste aspeto, bem como o impacto das intervenções de enfermagem após o falecimento do familiar, nomeadamente no processo de luto do cuidador familiar.

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Souza M. et al (2020) Radiodermatitis: Knowledge and practice of nurses Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 101- 115 ARTIGO ORIGINAL: Souza M. et al (2020) Radiodermatitis: Knowledge and practice of nurses, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 101- 115

 Artigo Original

Radiodermites: Conhecimento e prática de enfermeiros Radiodermatitis: Knowledge and practice of nurses Radiodermatitas: conocimiento y práctica de las enfermeras Maria Teresa Silva Souza1; Débora Thaise Freires de Brito2; Elton de Lima Macêdo3; Fábia Letícia Martins de Andrade4; Edlene Régis Silva Pimentel5; Glenda Agra6 1

RN; 2 RN, CNS; 3 RN; 4 RN, CNS; 5 RN, CNS, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus Cuité; 6 RN, CNS, MsC, Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus Cuité Corresponding Author: g.agra@yahoo.com.br Resumo O objetivo desse estudo foi verificar o conhecimento e prática de enfermeiros no cuidado a pacientes com radiodermites. Tratase de uma pesquisa com abordagem qualitativa, realizada com cinco enfermeiros de um hospital filantrópico que prestam cuidados a pacientes com radiodermites. Os dados foram coletados em dezembro de 2016, por meio de entrevistas norteadas por um roteiro semiestruturado e analisadas conforme a Técnica de Análise de Conteúdo Temático de Minayo. Do material empírico emergiram três categorias, a saber: “Definindo radiodermites”; “Avaliando a pessoa com radiodermites” e “Cuidando da pessoa com radiodermite” que originou a subcategoria “Produtos utilizados para as radiodermites”. Conclui-se que a instituição da pesquisa necessita construir protocolos que uniformizem os cuidados das pessoas com radiodermites; investir em educação permanente, bem como em insumos e coberturas considerados indispensáveis para a prática de cuidado com feridas radioterápicas. Palavras-chave: Conhecimento. Cuidados de enfermagem. Enfermeiros. Radiodermatites. Abstract The objective of this study was to verify the knowledge and practice of nurses in the care of patients with radiodermations. This is a qualitative approach, carried out with five nurses from a philanthropic hospital who provide care to patients with radiodermations. The data were collected in December 2016, through interviews guided by a semi-structured script and analyzed according to Minayo's Thematic Content Analysis Technique. From the empirical material emerged three categories, namely: "Defining radiodermites"; "Evaluating the person with radiodermatitis" and "Caring for the person with radiodermatitis" that originated the subcategory "Products used for radiodermatitis". It is concluded that the research needs to build protocols that standardize the care of people with radiodermites; Investing in permanent education, as well as in supplies and coverages considered indispensable for the practice of care with radiotherapy wounds. Keywords: : Knowledge. Nursing care. Nurses. Radiodermatites.

1. INTRODUÇÃO Compreende-se como câncer o resultado de um processo que interfere no ciclo de vida celular normal, que é decorrente de alterações genéticas, as quais ocorrem por fatores químicos, físicos e/ou biológicos (Luftig, 2013). As neoplasias podem ser classificadas em benignas ou malignas, levando em consideração sua estrutura e capacidade de invadir tecidos adjacentes. As benignas, apesar de não possuírem a mesma estrutura do tecido de origem, são organizadas de forma semelhante; estas também são envolvidas em uma cápsula tumoral que delimita o tecido doente, do sadio (Medeiros et al., 2016). As malignas, por sua vez, não possuem características estruturais JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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definidas, sendo referidas como ‘células monstruosas’, fenômeno conhecido como aplasia celular; estas ainda têm capacidade de invadir na corrente sanguínea e tecidos, expandindo e desenvolvendo novos focos tumorais, fenômeno denominado metástase (Hanahan & Weinberg, 2011). Esses fatores associados ao estado físico geral do paciente e estágio tumoral são a condição sine qua non para influenciar na gravidade da patologia (Luftig, 2013). Estima-se, para o Brasil, o biênio 2020-2022, a ocorrência de 650 mil casos novos de câncer, para cada ano (450 mil, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma). O câncer de pele não melanoma será o mais incidente (177 mil), seguido pelos cânceres de mama e próstata (66 mil cada), cólon e reto (41 mil), pulmão (30 mil) e estômago (21 mil). Na Na região Nordeste (NE) do país registraram 69.140 casos de câncer em homens e 67.070 em mulheres; na Paraíba, registraram 6.020 casos de câncer em homens e 5.780, em mulheres, tendo maior prevalência também a neoplasia prostática e mamária feminina, respectivamente (Ministério da Saúde, 2020). As modalidades terapêuticas para o câncer apresentam várias especificidades, que vão desde o tratamento convencional com uso de medicamentos orais e/ou sistêmicos, quimioterapia, radioterapia (adjuvantes e convencionais), cirurgia oncológica e/ou paliativa e cuidados paliativos. A radioterapia é uma modalidade terapêutica local que consiste na emissão sistemática de radiação ionizante na forma de energia, que leva essencialmente à hidrólise das células tumorais, o que possibilita desidratação celular através de reações químicas, levando-as à morte. Apesar desta modalidade apresentar ação local, apresenta complicações tais como: anovulação ou azoospermia, mucosites, mielodepressão e epitelites; sendo estas últimas caracterizadas como radiodermites/radiodermatites (González & Freire, 2016). As radiodermites são lesões de pele causadas pela exposição aos radioisótopos, que podem ser moderadas ou graves, dependendo do seu grau de comprometimento; e apresentam sinais e sintomas específicos, tais como: irritação, prurido, hiperemia, descamação e desidratação da pele. Esta sintomatologia pode se apresentar de forma isolada ou associada, ocasionando um processo inflamatório (Pereira et al, 2015). Segundo o Radiation Therapy Oncology Group (RTOG), as radiodermites podem ser classificadas em: Grau 0 (zero), caracterizada pela ausência de reação; Grau 1 (um), quando apresenta eritema leve, epilação, descamação seca; Grau 2 (dois), caracterizada por eritema doloroso, descamação úmida, edema moderado; Grau 3 (três), quando há descamação úmida, confluente, edema importante da pele; Grau 4 (quatro), que se apresenta por ulceração, hemorragia e necrose (European Oncology Nursing Society, 2016). Se não tratadas de forma adequada, as radiodermites Grau 4 podem progredir para infecções locais, que por sua vez, tendem a evoluir para inflamações crônicas e até sepse em casos

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estritamente graves, onde o paciente poderá apresentar múltiplas lesões infectadas (European Oncology Nursing Society, 2016). A resolução COFEN nº 211/1998 dispõe sobre a atuação dos profissionais de enfermagem que desenvolvem atividades laborais com radiação ionizante e normatiza a consulta de enfermagem, que visa a orientação aos pacientes e familiares sobre a ação da radioterapia e suas possíveis consequências, os cuidados profiláticos em relação à área irradiada para minimizar as reações na pele, a avaliação dos tecidos irradiados, antes, durante e após o tratamento, observando o comprometimento e toxicidade presente; a indicação de produtos adequados à reação de pele observada e o tratamento da lesão já estabelecida com curativo específico (Conselho Federal de Enfermagem, 2016). Após a realização de visitas técnicas em hospitais, onde foi prestado o atendimento a pacientes com doença oncológica e sob a realização de radioterapia, percebeu-se que a equipe de enfermagem apresenta fragilidades no conhecimento de protocolos nacionais acerca do tratamento preventivo e curativo das radiodermites, bem como observou-se, também, que o enfermeiro apresenta dificuldades na consulta de enfermagem voltada a este público e incipiência da assistência no tocante aos produtos utilizados nas radiodermites. Além disso, foi realizada uma busca em portais, bibliotecas virtuais e periódicos online utilizando os operadores booleanos AND e OR e as seguintes palavras-chave “radiodermites”; “consulta de enfermagem nas radiodermites”, “enfermagem oncológica nas radiodermites”, “cuidados de enfermagem nas radiodermites”, na tentativa de encontrar publicações nacionais atualizadas a fim de construir um banco de dados. Por fim, verificou-se que produções nacionais, sobretudo recentes, abordando a temática em tela são escassas, o que mais uma vez salientou a importância deste estudo. Nesta perspectiva, entende-se que estudos nessa temática envolvendo enfermeiros e equipe de enfermagem precisam ser realizados, já que os mesmos dispõem de atribuições que se fundamentam no domínio científico, técnico e conhecimento específico na área de dermatologia e estomaterapia. Ademais, esta pesquisa poderá nortear profissionais da saúde na construção de instrumentos que viabilizem uma consulta de enfermagem mais eficaz, com vistas a melhorar o cuidado ao paciente oncológico com radiodermites. É com base nesse caminhar que se lança a questão norteadora da pesquisa: qual o conhecimento e prática de enfermeiros no cuidado a pacientes com radiodermites? Nesse sentido, o objetivo geral deste estudo foi investigar o conhecimento e prática de enfermeiros sobre o cuidado a pacientes com radiodermites. 2. MÉTODO Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória, realizada em um hospital filantrópico localizado na Paraíba. Participaram deste estudo enfermeiros assistenciais. Para JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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delimitação da amostra, adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: enfermeiros que exerciam atividades laborais assistenciais, com experiência de, pelo menos, três meses na área de radioterapia; e que estivessem no local no momento da coleta. Como critérios de exclusão, adotaram-se os seguintes: enfermeiros que se encontrassem afastados do serviço (licença maternidade, licença saúde, afastamento para aperfeiçoamento). Para delimitar o número de participantes adotou-se o método de saturação dos dados, que de acordo com Minayo (2010), que diz respeito à determinação de um limiar onde as observações deixam de ser necessárias, tendo em vista a inexistência de um novo atributo que permita ampliar as propriedades do objeto investigado. Deste ponto, a determinação do ponto de saturação baseia-se em indicadores determinados ao longo do desenvolver da pesquisa (Minayo, 2010). O instrumento utilizado para a pesquisa foi uma entrevista, norteada por um roteiro semiestruturado contendo questões que contemplavam os objetivos da pesquisa. Desse modo, o roteiro apresentou duas vertentes: uma objetiva, contendo questões pertinentes à caracterização sociodemográfica, acadêmica e profissional dos participantes e outra subjetiva, norteada por questões subjetivas, de forma a atingir aos objetivos propostos. A coleta de dados foi desenvolvida no período de dezembro de 2016, mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, sob o parecer: 1.828.804. As entrevistas foram gravadas por meio de um aparelho de MP3 e ocorreram, em ambiente reservado, nas dependências do referido hospital, as quais tiveram duração média de vinte minutos. As informações coletadas foram transcritas textualmente e alocadas conforme categorias de análise, sendo, por conseguinte analisadas à luz da literatura pertinente sobre o tema. A análise dos dados deu-se a partir da Análise de Conteúdo Temático de Minayo (Minayo, 2010), que é compreendida por três etapas: pré-análise (organização do material e sistematização das ideias); descrição analítica (categorização dos dados em unidades de registros) e interpretação referencial (tratamento dos dados e interpretações). Para que não houvesse identificação dos participantes, os discursos receberam códigos alfanuméricos (E1 ao E10), em que “E” significa “enfermeiro”, acrescido do número da entrevista. Assim, “E1” representa o primeiro enfermeiro entrevistado. Por fim, tomou-se por base legal a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que determina as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Quanto à caracterização, participaram do estudo cinco enfermeiros que exercem atividades laborais assistenciais na área de Radioterapia da instituição da pesquisa, dentre eles, quatro JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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mulheres e um homem; com idade média de 32 anos; tempo de formação profissional com média de sete anos; tempo de experiência profissional com média de seis anos e tempo de experiência em Oncologia com média de três anos. Somente dois enfermeiros participantes da pesquisa referiram realizar consulta de enfermagem junto aos pacientes com radiodermites, o que representa apenas 40% da amostra, denunciando um contingente insuficiente de profissionais que cumprem com tal ferramenta. Os enfermeiros mencionaram ter cursos Latu sensu em áreas de Urgência e Emergência e/ou Terapia Intensiva. Apresentando as Categorias Temáticas Diante dos dados apresentados, deu-se seguimento à análise, em que foi realizada uma leitura criteriosa das respostas buscando alcançar o objetivo proposto dessa pesquisa. Os textos foram agrupados conforme os núcleos de sentido que apresentavam, os quais foram aproximados à temática e deram origem a três categorias e uma subcategoria, cujo conteúdo desvela o conhecimento e prática de enfermeiros acerca da avaliação e tratamento de pacientes com radiodermites, a saber: Categoria 1 – “Conceituando radiodermites”; Categoria 2 – “Avaliando a pessoa com radiodermites” e Categoria 3 – “Cuidando da pessoa com radiodermite” que se subdivide em Subcategoria 1 – “Produtos utilizados para o tratamento das radiodermites”. Categoria 1 – Conceituando radiodermites A primeira categoria expressa o conhecimento dos participantes da pesquisa em relação ao conceito de radiodermites. Observa-se a tendência dos enfermeiros em definir o conceito de radiodermites de forma tautológica, como demonstrados nas falas que se seguem:

São lesões ocasionadas por radiação na pele através da radioterapia. E1

Radiodermite é uma consequência do procedimento de radioterapia [...] dos pacientes que estão susceptíveis a essa lesão [...] provocado pela radioterapia. E2

São reações da pele provocadas pela radioterapia. E3

O que entendo é uma lesão que é causada pelo próprio tratamento [...]. E4

Radiodermite é uma inflamação na pele do paciente que faz tratamento. E5

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Com base nos depoimentos observa-se que os participantes da pesquisa possuem um conceito de radiodermite de forma tautológica e mecânica, se preocupando apenas em referenciar a lesão como complicação do tratamento radioterápico, sem mencionar, em suas respostas, por exemplo, características específicas da fisiopatologia, sintomatologia, fatores de risco e/ou agravantes da lesão. Os conceitos libertam o nosso pensamento do domínio do mundo físico, por meio da categorização da experiência perceptual. Possibilitam a aprendizagem de ideias abstratas sem a necessidade de apoio empírico-concreto, bem como a comunicação, a aquisição de novos significados conceituais e proposicionais e a solução criativa de problemas (Souza & Souza, 2019). Ausubel et al. (1980, p.74) definem conceitos como “objetos, eventos, situações ou propriedades que possuem atributos essenciais e são designados numa determinada cultura por algum signo ou símbolo aceito”. Além disso, estabelecem uma distinção entre dois tipos de processos de aquisição de conceito: a formação de conceito e a assimilação de conceito. O aspecto mais importante do processo de assimilação de conceito é a emergência de novos significados a partir da interação entre as novas informações com ideias relevantes já existentes na estrutura cognitiva do aprendiz (Souza & Souza, 2019). Na aprendizagem mecânica, a nova informação é armazenada na memória do aprendiz de maneira arbitrária e literal. A nova informação não se incorpora ao repertório cognitivo do aprendiz nem o modifica, pois não há interação entre o novo e algum aspecto específico e relevante da estrutura cognitiva. Como o aprendiz não dá significados ao que aprende, o produto da aprendizagem mecânica é, geralmente, de duração, utilidade e significados transitórios (Ausubel et al., 1980). O termo definição conceitual refere-se ao enunciado utilizado para especificar um conceito, podendo ser formal, ou seja, aquela aceita pela comunidade acadêmica em geral, ou pessoal, que é uma reconstrução particular feita pelo aprendiz a partir de uma definição conceitual formal (Souza & Souza, 2019). Uma pessoa pode usar um conceito sem saber defini-lo, já que um conceito transcende as diferentes formas de representá-lo. Entretanto, “as definições, em contextos científicos, impõem diferentes hábitos de raciocínio necessários à evolução do conceito” (Silva, 2011, p.73). Nesse sentido, é enriquecimento de informações acerca do fenômeno é o que possibilita a assimilação da definição conceitual formal. Provavelmente, as respostas tautológicas elaboradas pelos enfermeiros sobre o conceito de radiodermites estejam relacionadas à fragilidade da educação permanente na instituição e/ou a não participação de cursos de especialização em áreas específicas ou afins da Enfermagem Dermatologia e/ou Enfermagem Oncológica. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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Nesse sentido, vale enfatizar que as radiodermites são reações cutâneas induzidas por exposição radioterápica são caracterizadas pela redução das sínteses fisiológicas das células endoteliais, inflamação e morte celular epidérmica. As radiodermites são caracterizadas, visualmente, por edema e eritema nos seus graus inicias, progredindo para focos de pigmentação enegrecidos, necrose e posterior fibrose tecidual e ulceração da pele, que os sintomas são expressos como dor, ardor e prurido. Geralmente, seu desenvolvimento ocorre de duas a três semanas após o início do tratamento e pode persistir por até quatro semanas após o término (Chan et al., 2014). No que diz respeito à influência no desenvolvimento ou gravidade da radiodermite, são apontados fatores intrínsecos, que incluem idade, saúde geral, origem étnica, doenças coexistentes, exposição à radiação ultravioleta, estado hormonal, local do tumor e condição genética; e fatores extrínsecos incluindo dose, volume e fração de radiação, radiosensibilizantes, quimioterapia concorrente e local de tratamento. Esses fatores também podem ser sistematizados em fatores relacionados ao tratamento de radiação, genéticos e pessoais (Chan et al., 2014). Portanto, as radiodermites ou radiodermatites são lesões cutâneas bem delimitadas e se desenvolvem em decorrência de hidrólise de células tumorais e adjacentes sadias, quando submetidas à radiação, desidratando a área afetada. Tais lesões se manifestam por comprometimentos dermatológicos que vão desde eritema suave até ulcerações profundas e infectadas (Levanthal & Young, 2017). Enfatiza-se ainda que apesar das radiodermites estarem presentes na maior parte de pacientes que se submetem à radioterapia, as mesmas se apresentam de forma mais precoce e incisivas naqueles que possuem componente nutricional afetado, tumores de cabeça e pescoço ou em dobras cutâneas, necessitando assim, uma abordagem holística para a prevenção destas lesões (Schneider, Danski & Vayego, 2015). Categoria 2 – Avaliando a pessoa com radiodermite Nessa categoria temática, os participantes da pesquisa mencionaram a avaliação da pessoa com radiodermite limitando-se a alguns aspectos da lesão. Também mencionaram o grau de toxicidade aguda, mas não referiram aspectos relacionados ao grau de toxicidade tardia. Foi possível observar que somente um participante destacou a importância de avaliar a pessoa traçando diagnósticos de enfermagem, tendo como base a integralidade do cuidar: Avaliação será sobre o formato e a profundidade das lesões que se encontram; que podem ser úmidas, secas e principalmente pelo grau de hidratação. E1

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Traçando diagnósticos para futuras intervenções [...]. É um paciente com risco de infecção, imunodeprimido [...]. As questões psicológicas já estão bem alteradas [...] o que pode comprometer ainda mais a radiodermite que ele possa apresentar [...]. Primeiro de tudo que você possa tratar um paciente com radiodermite, como um ser holístico[...]. E2

Avaliando o aspecto da pele, a dor e o desconforto. E3

Vai de acordo com a condição de pele [...] tem leve, moderada e grave. E4

Avaliando os seguintes sintomas: vermelhidão, dor, desconforto [...]. Eles se queixam bastante do desconforto no local que tá recebendo a radiação. E5

Os métodos avaliativos das radiodermites possuem um caráter sistêmico e consistem na anamnese e exame físico minucioso, sobretudo do sistema cutâneo. Ao observar as características físicas do paciente e cruzar com dados colhidos na anamnese com o tipo de radiação aplicada, frequência de aplicações, número de seções já efetuadas, histórico de uso de drogas lícitas/ilícitas, distúrbios nutricionais, local de emissão de radiação dentre outros, percebe-se que vários fatores de risco contribuem para o aparecimento ou agravamento da lesão (Schneider, Danski & Vayego, 2015). No que diz respeito à pessoa, é primordial avaliar o estado nutricional, haja vista que pacientes com extremos de peso (obesos ou desnutridos) têm uma predisposição maior a desenvolver a lesão radioterápica, bem como o agravamento das mesmas. Como a radiodermite é ocasionada pela desidratação acarretada pela hidrólise celular, pessoas com extremos de peso apresentam condições inadequadas de hidratação da pele, bem como excesso ou carência de tecido adiposo subcutâneo, o que dificulta o fornecimento de nutrientes à pele. Além desse aspecto nutricional, a literatura ressalta que pessoas usuárias de drogas e pacientes com tumores de cabeça e pescoço também desenvolvem lesões agudas, ocasionadas pelo ressecamento e fragilidade natural das mucosas, que foram expostas por anos às substâncias tóxicas (Schneider, Danski & Vayego, 2015). Tendo vista todos esses fatores, salienta-se a importância de uma avaliação integralizada do paciente para os aspectos que vão além da lesão em si, tais como: estado físico, histórico pessoal, condição clínica e terapêutica aplicada, uma vez que influenciam significativamente na ocorrência e persistência de radiodermites. Nesse contexto, a consulta de enfermagem deve abordar, dentre outros aspectos um plano de cuidados profilático às sessões de radioterapia visando, assim, minimizar o risco de comprometimento da pele do paciente. Tendo em vista, a Sistematização da Assistência em JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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Enfermagem possibilita uma adequada organização e gerencia de cuidados promovendo uma assistência íntegra e resolutiva. Com relação aos sinais e sintomas, os participantes da pesquisa descreveram alguns sinais e sintomas das radiodermites de toxicidade aguda, porém não descreveram nenhum sintoma de toxicidade tardia. Provavelmente, esses discursos dos enfermeiros podem estar relacionados à ocorrência mínima do grau tardio de radiodermites nos pacientes tratados na instituição da pesquisa. É possível observar que um participante da pesquisa mencionou sinais e sintomas de mucosites e não de radiodermites.

É rubor, calor e principalmente as descamações e eritemas. E1 Pode apresentar sinais flogísticos, dor, ardência, vermelhidão no local, dependendo do grau da lesão [...]essa lesão pode levar o paciente a um processo infeccioso; [...] pode se estender para um aumento da temperatura corporal [...]. E2 Tem como principal sintoma as lesões de pele e dependendo do grau da lesão, pode ter descamação, queda de cabelo, edema e até necrose. E3 Os pacientes que eu tenho mais contato na radioterapia são os de cabeça e pescoço [...]. Então, são os mais graves, principalmente quando fazem em conjunto radio e quimio [...] são pacientes que se queixam muito de ressecamento da boca, da deglutição, que fica dolorosa [...]. Nesse caso, esse paciente precisa ser sondado, enquanto tá na máquina para poder comer para ver se a imunidade não baixa e não suspenda o tratamento. E4 Desconforto, dor, às vezes urticária, inflamação, às vezes, infecção [...]. Por que a radiodermite deixa a pele muito sensibilizada [...]. Então, as infecções oportunistas se instalam no local das radiodermites. E5

Os sinais flogísticos que caracterizam as radiodermites são, primeiramente, eritema causado pela foto-estimulação excessiva e posterior lesão dos capilares adjacentes ao tecido irradiado. Esse mesmo processo leva ao prurido e à ardência, considerados reflexos fisiológicos de proteção ocasionados pela liberação de histaminas. Subsequentemente, surge edema ocasionado pelo excesso de líquido intersticial, sobretudo transudato, proveniente do afrouxamento endotelial dos capilares anteriormente lesados. Por último, aparecem ulcerações como resultado da diminuição de vascularização e fornecimento inadequado de nutrientes que impedem as sínteses fisiológicas celulares (Chan et al., 2014). Outro ponto a ser avaliado diz respeito às complicações e toxicidade agudas e tardias nas radiodermites, que são classificadas de acordo com o grau da radiodermite e o tempo de exposição. As toxicidades agudas nas radiodermites de grau 1 (um) incluem eritema leve a JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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moderado, alopécia, descamação seca e hipohidrose (ressecamento); nas radiodermites de grau 2 (dois), observam-se eritema moderado a intenso, pele sensível, descamação úmida irregular e edema moderado; nas radiodermites de grau 3 (três) há descamação úmida confluente (não restrita às pregas cutâneas) e edema marcado e nas radiodermites de grau 4 (quatro), observam-se ulceração, hemorragia e necrose. As toxicidades tardias apresentamse como radiodermite grau 1 (um), caracterizada por leve atrofia, alteração da pigmentação e alopécia parcial; nas radiodermites de grau 2 (dois), percebem-se atrofia moderada, telangiectasias moderadas e alopécia total; nas radiodermites de grau 3 (três), observam-se atrofia marcada e telangiectasias marcadas e, por fim, nas de grau 4 (quatro), ulceração crônica (Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa, 2015). Categoria 3 – Cuidando da pessoa com radiodermite

A categoria 3 aborda os cuidados realizados pelos enfermeiros participantes da pesquisa no que se refere ao curativo propriamente dito e aos produtos por eles indicados e utilizados, a fim de realizar a profilaxia e recuperação da lesão, bem como orientações quanto aos cuidados domiciliares. Subcategoria 1 – Produtos utilizados para o tratamento das radiodermites

É possível observar que os participantes da pesquisa mencionaram alguns produtos que são utilizados na instituição da pesquisa para realização de curativos na área da lesão e cuidados que são recomendados à luz da literatura atual e em oposição a isso, outro participante mencionou a precariedade da mesma instituição no que se refere aos insumos, substâncias, coberturas e materiais utilizados pela Comissão de Pele. Além disso, um dos participantes ressaltou um produto (rifocina), que não é recomendado para o tratamento de radiodermites e outro refere à utilização de curativos convencionais, porém não os descrevem. É o que se pode constatar nas falas abaixo:

Chá de camomila e AGE para hidratação. E1

Só curativo convencional. E2

Hidratantes hidrofílicos, rifocina, hidrogel, hidrocoloides [...]manter a área limpa e seca; lavar com água morna e sabão neutro; evitar irritantes da pele (perfume); evitar amido de milho. E3

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Aqui na instituição, infelizmente, não tem uma estrutura em relação a isso. Aqui é muito precário em relação a esses cuidados [...]. Na questão de coberturas/curativos, a orientação que sempre vejo é o chá de camomila, e quando é necessário entrar com alguma medicação. Mas, só com prescrição médica. E4

A questão da compressa do chá de camomila, como também, o óleo de girassol [...] O óleo de girassol é permitido passar de 2 vezes ao dia, contando assim 2 a 3 gotinhas só para hidratar a pele. Quando se faz radioterapia, o paciente não se pode usar talco, perfume, hidratante. E5

O tratamento das radiodermites compreende uma abordagem profilática e outra relacionada à recuperação da pele. Apesar de existir algumas literaturas internacionais e nacionais que elencam coberturas, produtos e substâncias para a prevenção e tratamento das radiodermites, ainda não existe um consenso nacional atualizado que recomende o uso de curativos correlacionando-os com os graus das radiodermites, o que dificulta a uniformização dos cuidados relacionados à pessoa que sofre com essas lesões (Levanthal & Young, 2017). As opções terapêuticas relativas à profilaxia dessas lesões e futuras complicações são alguns tipos de substâncias de uso tópico, medicamentos orais e uma série de cuidados específicos. Os produtos mais citados na literatura compreendem compressas embebidas com chá de camomila ou com água filtrada em temperatura tépida; pomadas e/ou cremes à base de Aloe vera, Calendula officinalis, Papaya e Andiroba; loção à base de ácidos graxos essenciais (AGE) ou ácidos graxos insaturados (AGI); corticosteroides e esteroides tópicos (Schneider, Danski & Vayego, 2015; Schneider et al., 2013). Corroborando com a literatura e a aplicação prática de tais recursos, Chan et al. (2014) verificaram que o uso de medicamentos orais sistêmicos (por exemplo, Wobe-Mugos®) associados às práticas de cuidados da pele sugerem probabilidade de não desenvolver radiodermites em até 87%. O Wobe-Mugos ® consiste em uma combinação de ação sistêmica composta por enzimas proteolíticas contendo 100 mg de papaína a 2%, 40 mg de tripsina e 40 mg de quimotripsina. Esta pesquisa também revelou que o uso isolado de pomadas esteroidais e não esteroides não apresentaram resultados satisfatórios no que se refere ao não surgimento de lesões, uma vez que quando comparado tal uso ao recebimento isolado de cuidados com a pele, sua eficácia é de apenas 1% (Chan et al., 2014). Após o aparecimento da lesão, os cuidados com as radiodermites visam reverter o quadro em que se encontram. Nas radiodermites de primeiro e segundo graus, recomendam-se lavar a área acometida três vezes ao dia com chá de camomila (ou compressas embebidas desse mesmo chá), a fim de aliviar ardência, dor e prurido. Outro cuidado específico está relacionado JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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à utilização de cremes e/ou pomadas à base de Aloe vera. Os curativos com produtos hidrófilos sem lanolina e placas de hidrocoloide extrafinas lideram o uso de coberturas industrializadas, contudo a literatura afirma que sua eficácia é semelhante, e por vezes até menor, que a combinação do uso de cuidados de hidratação com a pele, compressa de camomila e pensos de violeta (Schneider, Danski & Vayego, 2015). Nas radiodermites de terceiro grau, além dos cuidados, estratégias e produtos anteriormente citados, recomendam-se hidratação da pele cinco vezes ao dia, além da associação de antiinflamatórios não esterioidais e corticoides orais, bem como aplicação de Ácido Hialurônico, Alginatos e/ou Dexpantenol. Caso a ferida apresente exsudato focos de infecção, o diagnóstico microbiológico é indicado, e posteriormente, o uso de terapia antibiótica oral e aplicação tópica de Fusidato Sódico, Clotrimazol e Cetoconazol (Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa, 2015). Nas radiodermites de quarto grau também são lançados todos esses recursos, com acréscimo de curativo específico para tratar as características da ferida (silicone, prata, carvão ativado, dentre outros), acompanhado de debridamento, se necessário, uso de antibióticos mais robustos e a total suspensão da terapia. Também se verificou que a ingestão de Wobe-Mugos ® e suplementação de zinco diminui a gravidade da lesão ou a estadia (Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa, 2015; Chan, Larsen & Chan, 2012).

4. CONCLUSÃO Com esse estudo, foi possível identificar uma certa incipiência no conhecimento teórico e na prática de enfermeiros acerca dos cuidados prestados às pessoas com radiodermatites. Em relação ao conhecimento teórico (por exemplo, as tautologias usadas no conceito de radiodermites) e às práticas errôneas (por exemplo, usar produtos e curativos considerados obsoletos) se faz mister ressaltar que são difíceis de serem modificados na educação em adultos, primeiro devido às práticas equivocadas, como um processo de cristalização desse conhecimento, depois, porque as experiências anteriores e os sentimentos emergidos interferem no modo como as pessoas aprendem, já que a aprendizagem afetiva ocorre concomitantemente à cognitiva. Assim, o conhecimento prévio pode ser um bloqueador, devido às experiências negativas, ao invés de uma variável facilitadora. No que se refere à prática, o estudo mostrou que os participantes da pesquisa apresentam limitações e fragilidades na realização da consulta de enfermagem como parte integrante do processo de enfermagem, bem como no cuidado em si. Além disso, a pesquisa revelou que JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-9

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fragilidade na formação acadêmica de cursos de pós-graduação Latu sensu na área de Dermatologia e/ou Oncologia e/ou Cuidados Paliativos dentre os enfermeiros pesquisados. Com base nos resultados do estudo, sugere-se a necessidade da implementação e implantação de disciplinas e/ou assuntos que abordem a temática durante a academia, bem como o estímulo à Educação Permanente na instituição da pesquisa, de forma a melhorar o processo de aprendizagem, bem como a condução de cuidados imprescindíveis para os pacientes com radiodermites e outros tipos de lesões. Apesar do número de participantes não ser significante quando comparado ao contingente nacional, uma vez que a instituição da pesquisa só conta com cinco enfermeiros, que exercem cuidados específicos às pessoas que se submetem à radioterapia, sugere-se a realização de estudos sobre a temática com um contingente maior de participantes e em outros locais do país. Por fim, salienta-se que uma das maiores dificuldades deste trabalho foi a escassez de pesquisas acerca da temática para fins de discussões mais robustas, o que justifica a necessidade premente de novas pesquisas na área.

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Souza T., Silva J., Lins A. (2020) Aging in the persons of old people from a university open to the third age, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 116 - 132 ARTIGO ORIGINAL: Souza T., Silva J., Lins A. (2020) Aging in the persons of old people from a university open to the third age, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 116 - 132

 Artigo Original

O ENVELHECER NA PERCEPÇÃO DE IDOSOS DE UMA UNIVERSIDADE ABERTA À TERCEIRA IDADE Aging in the persons of old people from a university open to the third age Envejecimiento en la percepción de personas mayores de una universidad abierta a la tercera edad Thiago José Nascimento de Souza 1; José Júnior Bezerra da Silva 2, Ana Elizabeth Santos Lins3 1

RN, MsC; 2Terapeuta Ocupacional, MsC; 3 Terapeuta ocupacional, PhD, Docente da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal). Corresponding Author: josejuniorto@outlook.com

Resumo Este estudo teve como objetivo conhecer a percepção dos idosos participantes de uma Universidade Aberta à Terceira Idade sobre o envelhecimento. Trata-se de um estudo exploratório, de campo, com abordagem qualitativa, no qual os materiais coletados foram analisados sob à luz da análise de conteúdo na modalidade temática. A partir da análise de conteúdo emergiram quatro grandes categorias temáticas: Envelhecer na percepção do idoso/ Envelhecer com independência e autonomia/ As Nuances do envelhecimento: vantagens e desvantagens / Os desafios de envelhecer no mundo contemporâneo. Os resultados apresentaram que a percepção do idoso sobre o envelhecimento está relacionada com um momento de ganhos e perdas. Observou-se por meio do discurso dos sujeitos pesquisados a necessidade de estarem realizando suas atividades cotidianas de maneira independente, e que a oportunidade de escolha influencia diretamente na qualidade de vida. Observou-se ainda que os idosos percebem que são excluídos pelos jovens e essa atitude repercute de forma negativa em suas vidas. E ainda não se sentem contemplados com as políticas públicas. Palavras-chave: Envelhecimento, Idoso, Enfermagem.

Abstract This study aimed to know the perception of the elderly participants of a University Open to the Third Age about aging. This is an exploratory, field study, with a qualitative approach, in which the collected materials were analyzed under the light of content analysis in the thematic modality. From the analysis of content emerged four major thematic categories: Aging in the perception of the elderly / Aging with independence and autonomy / The nuances of aging: advantages and disadvantages / The challenges of aging in the contemporary world. The results showed that the elderly's perception about aging is related to a moment of gains and losses. It was observed through the discourse of the subjects studied the need to be performing their daily activities independently, and that the opportunity to choose directly influences the quality of life. It was also observed that the elderly perceive that they are excluded by the young people and this attitude has a negative impact on their lives. And still do not feel contemplated with public policies. Keywords: Aging, Elderly, Nursing.

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1. INTRODUÇÃO O envelhecimento da população mundial representa um trunfo para a humanidade, porém traz um desafio social e estrutural para atendimentos necessidades desse grupo, em especial o atendimento em saúde. A esse respeito Netto2 define o envelhecer como um agrupamento de diversas transformações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas que apontam perdas progressivas da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente. Compreendendo assim esse período um processo natural em que o idoso passa por diversas modificações, sejam elas fisiológicas com maior fragilidade e vulnerabilidade (fragilização de vínculos familiares e/ou comunitários) intercorrências patológicas, nos aspetos biológico, psicológico e social3. Existem também duas importantes definições utilizadas quando são analisados os processos de envelhecimento, a senescência e a senilidade. Sendo a senescência compreendida como um processo natural de diminuição progressiva da reserva funcional dos indivíduos, em outras palavras, o processo natural de envelhecimento4. Já a senilidade, é o processo de envelhecimento em decorrência de uma condição patológica, que requer uma atenção e tratamento mais específico, tendo em vista que seu perfil se atribui a presença de doenças e/ou limitações, que possam surgir ao longo da vida, como osteoporose, câncer, e outras doenças5. Nesse sentido, as diferentes representações científicas a respeito das nuances do processo de envelhecimento, da perspetiva biopsicossocial, estão bem documentadas conceitualmente e despontam como significativos norteadores no campo da Gerontologia, instrumentalizando pesquisas e alicerçado na assistência em saúde 6. Diante disto, o Projeto de extensão universitário Universidade Aberta à Terceira IdadeUncisati da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas- Uncisal tem como objetivo o desenvolvimento de ações e práticas com foco na reintegração social, por meio de atividades de cultura, educação, desporto e lazer, a fim de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seus participantes, que deverão ter idade igual ou superior a 55 anos, no mesmo momento em que amplia as práticas de ensino pesquisa e extensão, contribuindo para novas oportunidades educacionais 7. Segundo Andrade8 a participação de idosos em grupos significa uma maneira de voltar para o convívio social, devido à maioria das vezes, enfrentarem diversos tipos de problemas. Este estudo teve como objetivo: Conhecer a perceção dos idosos de uma Universidade Aberta à Terceira Idade sobre o envelhecimento. Assim, é justificado pela importância de se

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conhecer como o idoso percebe e entende o seu envelhecimento, e torna-se relevante pelo conhecimento adquirido através da perceção desse grupo sobre suas necessidades. De tal maneira, a reflexão em torno do significado do envelhecimento por meio dos relatos dos idosos, certamente, também seja um caminho para a compreensão do significado real da velhice, o que pode trazer subsídios, podendo proporcionar aos profissionais de saúde, idealizar estratégias fundamentadas para esse público, considerando suas necessidades e realidade, com foco na manutenção de sua autonomia e independência 9.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo exploratório, de campo, com abordagem qualitativa que segundo Minayo10 (p. 21) esse tipo de estudo “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes”. Este faz parte da pesquisa qualitativa denominada “O envelhecer na percepção de idosos de uma Universidade Aberta à Terceira Idade”, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o CAAE 79485717.2.0000.5011 com parecer número 2.408.495 de 30 de novembro de 2017. Como instrumento para coleta de dados foi utilizada uma entrevista semiestruturada que combina perguntas em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão, sem se prender o foco do objetivo

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Os sujeitos pesquisados foram os idosos regularmente matriculados no projeto de extensão Uncisati. O cenário da pesquisa foi a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas- Uncisal, onde são realizadas as oficinas do projeto de extensão. Foi realizada uma consulta prévia à Pró-reitoria de Extensão da Uncisal para conhecer o número de idosos participantes do projeto. A amostra determinada foi a não probabilística do tipo intencional, pois nesta o pesquisador está interessado na opinião (ação, intenção e outros) de determinados elementos da população, mas não representativos dela, sendo determinado pelo entrevistador o ponto de saturação. A escolha dos entrevistados foi determinada a partir de alguns critérios: pessoas com mais de 60 anos de idade, matriculadas regularmente no projeto de extensão Uncisati, consideradas aptas cognitivamente, através do teste de rastreio Mini Exame do Estado Mental (MEEM) que se trata de um instrumento de rastreio que pode ser utilizado para detectar déficits e perdas cognitivas 11. Não fizeram parte aqueles que apresentaram déficits cognitivos determinados pelo MEEM, ou que por algum motivo desistiram de participar após a assinatura do TCLE. Os participantes foram convidados de forma individual a participar do estudo, após todos os esclarecimentos sobre a sua participação foi assinado o Termo de Consentimento Livre e JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-10

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Esclarecido (TCLE). Em seguida, foi aplicado o Mine Exame do Estado Mental. O MEEM original é composto por duas partes que medem funções cognitivas, na primeira seção contém itens que avaliam orientação, memória e atenção, que totalizam 21 pontos, a segunda mede a capacidade de nomeação, de obediência a um comando verbal simples e a um escrito, de redação livre de uma sentença e de cópia de um desenho complexo (polígonos). Ao final o escore é de 30 pontos baseados em itens dicotômicos considerando o nível escolar do indivíduo11. Após a identificação sobre a situação cognitiva do sujeito, foi realizado a entrevista, a qual foi gravada e posteriormente transcrita para a análise dos dados. O referencial metodológico utilizado para o tratamento dos dados coletados foi a Análise de Conteúdo sob a luz da modalidade temática, que são técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos objetivos e sistemáticos de descrição do conteúdo das mensagens. Em outras palavras, essa técnica consiste em identificar os núcleos dos sentidos presentes em comunicações, antes da análise propriamente dita, deve haver preparação do material reunido para eventual preparação formal, ou seja, os discursos feitos pelos participantes devem ser gravados e posteriormente transcritos 12. A entrevista utilizada foi dividida em duas partes, a primeira parte decorria sobre a caracterização dos participantes e a segunda sobre questões referentes à perceção do idoso sobre seu processo de envelhecimento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES As entrevistas aconteceram de março à Abril de 2018, no mesmo momento que começaram as atividades do projeto de extensão Uncisati, sendo o número total de vinte e dois participantes voluntários, regularmente matriculados no projeto de extensão nas oficinas de: bordado, meditação, medicina natural e danças circulares. A média de tempo de participação no projeto foi de três anos. A maioria dos sujeitos voluntários é aposentada, além da aposentadoria alguns exercem atividades remuneradas, sem vínculo empregatício. Sobre o escore do MEEM, prevaleceu dificuldade no item de atenção e cálculo. Houve predominância significativa do sexo feminino, apenas dois dos participantes eram do sexo masculino com idade ente 60 e 75 anos, e a outra parte foi composta por mulheres com idades entre 60 e 79 anos. É importante lembrar que os idosos participantes deste estudo foram selecionados intencionalmente, logo os resultados refletem uma percepção sobre envelhecimento de idosos em um ambiente de desenvolvimento, diferentemente se este fosse realizado em outros locais. Como resultados da análise de conteúdo emergiram quatro grandes categorias temáticas: 1. Envelhecer na percepção do idoso; 2. Envelhecer com independência e autonomia; 3. As JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-10

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Nuances do envelhecimento: vantagens e desvantagens; 4. Os desafios de envelhecer no mundo contemporâneo. 3.1. ENVELHECER NA PERCEPÇÃO DO IDOSO

A preocupação da população em tentar encontrar conceitos que expliquem o processo de envelhecimento é muito antiga e, por ser muito complexa, são diversas teorias que tentam explicá-lo13. Desse modo, a partir das falas dos participantes deste estudo foi percebido que algo característico do envelhecer são as diversas transformações biológicas e sociais que começam a ser visto não como algo incômodo, mas algo que faz parte do ciclo da vida, sendo também um momento onde se adquiriu muitas experiências com o tempo e que este deve ser passado para os mais jovens, conforme pode-se visualizar nas falas abaixo:

Para mim, envelhecer, é uma sequência de transformações, são transformações físicas, são transformações sociais (...). Envelhecer pra mim é simplesmente um processo de vida, que não é nenhum sacrifício, é uma rotina, quem não envelhece morre jovem (E1).

Em concordância a isto, aqui será adotado a perspetiva de que o processo de envelhecimento é uma etapa que provoca no organismo modificações biológicas, psicológicas e sociais, sendo nesse período que essas mudanças ficam mais evidentes 14. Os entrevistados enfatizaram a existência de diversas mudanças físicas, como a indisposição (cansaço) e ou limitação para realizarem atividades do dia a dia, segundo podese evidenciar:

É o tempo que passa, e a gente vai ficando mais cansado. Eu me sinto bem, mas não tenho o mesmo pique de antes né? Antes eu era mais ativa, fazia as coisas sem sentir nada. Hoje eu já fico mais cansada rápido, mas mesmo assim eu não me desanimo, eu corro atrás das coisas pra não ficar parada (E5).

Na perceção dos idosos o processo de envelhecimento deve ser encarado como um processo natural, que perpassa a vida de todo indivíduo, e mesmo que surjam dificuldades, limitações, essas não os impedem de estar realizando suas atividades prazerosas. Acreditam que:

Envelhecer é você ter força de vontade pra você fazer as coisas (E10).

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Envelhecer é você não se preocupar e viver. É você não ficar sentado em uma cadeira esperando a morte chegar, a morte é uma coisa natural que vai acontecer (E8).

Dessa maneira, compreende-se que nascer, crescer, e envelhecer são progressos naturais que se denotam com passar do tempo, todavia, como ocorrem vai depender de diversos fatores, sejam eles relacionados ao histórico de vida aliado as potencialidades genéticas de cada um15. A partir das falas dos participantes, observa-se que há também rejeição quanto à palavra envelhecer, causando desconforto, preferindo não ser associado a ela, pois esta refere a perdas e diminui o indivíduo em um ser com limitações e fragilidades. Algo semelhante foi encontrado no estudo de Murakami et al16 sobre as representações sobre o que é ser idoso, apresentou-se bastante ligada à saúde, aos aspectos físicos e relacionado aos aspectos emocionais. Essas mudanças físicas, sociais e emocionais acometem essa população com maior intensidade do que as demais faixas etárias. Como tal encontramos nas falas:

Não gosto dessa palavra envelhecer, eu gosto da palavra experiência, porque os cabelos brancos que dizer inteligência (E14).

Envelhecer é a pessoa se acomodar, ficar sem ânimo para a vida e se isolar (E17). Os atores desse estudo perceberam que existe diferença no seu envelhecer quando se comparam aos seus pais, em relação a ter hábitos saudáveis. Acreditam que se tivessem sido orientados de maneira adequada, talvez hoje a qualidade de vida fosse melhor. Somadose a isto deve ser compreendido, que o processo de envelhecimento é influenciado por uma somatória de diversas variáveis que determinam a qualidade do envelhecer, dentre elas, normas sociais, atitudes, valores e crenças17. Ainda em comparação aos seus genitores, referem uma superior qualidade de vida. Isso pode estar relacionado ao atual acesso aos serviços de saúde, que em suas juventudes não era tão fácil. Declaram que:

Hoje eu não tô envelhecendo da mesma forma que minha mãe envelheceu, ela sofreu muito, não tinha hospital, não tinha remédio. Hoje é tudo mais fácil (E2).

Porque é diferente de uma pessoa para outra. Minha mãe quando tinha minha idade, ela era uma pessoa assim, recatada, ficava em casa (E13).

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A promoção da saúde, que é mais importante que a prevenção, ainda que não a desconsidere, apareceria definida não em função de estratégias de prevenção de doenças, mas de iniciativas que facilitariam o desenvolvimento de um estado de equilíbrio harmonioso entre as pessoas, seus próximos e seu ambiente, contribuindo de forma significativa para que o idoso permaneça ativo na sociedade e tenha melhor qualidade de vida 18. Os cuidados com a saúde foram colocados como primordiais para um envelhecimento sem danos, compreendem que a condição atual de saúde está relacionada diretamente com as boas práticas de vida ativa, em outras palavras com ações preventivas.

Aí chega um momento que a gente vai envelhecendo, só que a gente precisa procurar nos cuidar cedo (E3).

Hoje eu procuro me cuidar, vou para a ginástica, faço minha caminhada. Não tenho medo de morrer, eu tenho medo de ficar doente (E4).

Eu acho que se a pessoa entendeu que é idoso, que precisar cuidar da saúde mais ainda do que era jovem, precisar procurar fazer exercícios físicos pra manter uma saúde corporal, então não vai ter o que reclamar da sua idade, entende? (E7). Nesse contexto, segundo a Organização Mundial da Saúde 19 o envelhecimento ativo é compreendido como o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança do indivíduo com o propósito de melhorar a qualidade de vida no decorrer do processo de envelhecimento populacional, sendo pressuposto que a independência é colocada como principal marcador de saúde.

O dia a dia foi mostrado o que é envelhecer, e eu luto e reluto por um envelhecimento ativo, um envelhecimento saudável para que eu não envelheça e fique ali parada, dependente (E11).

Ter uma preocupação com a alimentação, exercícios físicos se relacionar com pessoas agradáveis. Sou muito satisfeita em ser idosa, minha família vive em minha volta, me chamam para sair e tudo (E8).

Apesar de perceberem a importância e necessidade de hábitos saudáveis, alguns participantes reconhecem que existe a negligência por parte dos mesmos, que não realizam atividades que beneficiem a saúde e que isso pesa em suas vidas. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-10

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Rapaz, eu não tenho muita qualidade de vida não. Exercício eu não faço, porque sou preguiçoso. Desporto eu não gosto de fazer. A única coisa diferente que eu faço na minha vida e vir para aqui [Uncisati] (E15). Na conceção de Mari et al20 a perceção dos sujeitos sobre sua saúde representa um significativo dado sobre o processo de envelhecimento, sendo um determinante de um estilo de vida, logo, uma perceção negativa sobre a própria saúde pode ser proveniente de dores, desconfortos, mal-estar e estar relacionada com fatores sociais, culturais, psicológicos e ambientais que o indivíduo vivencia. Desse modo, o profissional de saúde tendo como base a abordagem sistêmica, abandona a velha tradição de dividir, segmentar e separar, substituindo por uma nova maneira de cuidar das pessoas. Efetua-se com êxito, uma nova ação no espaço interdisciplinar, norteada por princípios éticos e humanitários, desenvolvidos basicamente por meio do processo dialógico e reflexivo, uma vez que a ênfase agora está no trabalho conjunto, realizado por equipes multidisciplinares, ou seja, de modo holístico focando no todo 21. Ainda sobre o que influencia em um envelhecimento saudável, foram apontados os hábitos alimentares:

Esse negócio de comida também, a gente já vai evitando. Gordura lá em casa não entra, meu marido é que gosta de umas besteiras, mas eu vou cortando aos poucos, arrasto ele pra fazer caminhada. (E1).

Porque a gente cortou açúcar, o refrigerante, até fruta eu fico de olho nela. Porque ele [marido] gosta de comer muita fruta doce, mas aí eu pego no pé dele (E4).

3.2. ENVELHECER COM INDEPENDÊNCIA E AUTONOMIA

Esta categoria temática apresenta o processo de envelhecimento como um momento em que o idoso se sente “livre” para realizar suas vontades. Ferreira et al 22 coloca que preservar o idoso funcionalmente independente é o primeiro passo para se atingir uma melhor qualidade de vida. Dessa forma, é preciso a implementação de programas específicos de intervenção, visando a eliminação de diversos fatores de riscos (ambientais e internos), além de criação e elaboração de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.

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A capacidade de escolhas, o sentimento de liberdade, maior tempo para atividades de lazer aliada a hábitos de vida saudáveis, são relatadas nas falas dos idosos a ideia de independência e autonomia:

Eu quero envelhecer independente, com autonomia. Então pra isso eu busco condições, eu busco oportunidade pra que essa surpresa, esse algo novo que surgiu na minha vida que é a terceira idade, eu venha viver de forma prazerosa (E11).

Eu me sinto muito satisfeita em ser idosa, estou passado uma fase muito boa, com saúde, faço o que eu quero, na hora que eu quero (E12).

O sentimento de liberdade no idoso tem relação com características sociais diferentes e se distingue o ser livre do não ser, tal como mal e o bem, a percepção de ser livre implica na existência de uma forma de dependência da qual se espera fugir 23. O significado dado para a liberdade é fruto das relações sociais e depende das histórias vividas24.

Sou aposentada, é uma maneira de dizer, sou livre. Sou livre. Porque antes, nossa vida era cuidar de casa, coisas de filho, cuidar de marido, hoje não (E1).

A gente tem mais tempo para cuidar da gente. Tem dia que vou ao shopping 16:00hs e só volto pra casa umas 19h, 20h (E4).

Algumas participantes do sexo feminino apontam que realizavam poucas atividades de lazer, devido a responsabilidade de cuidar do lar, criar os filhos e exercer o papel de esposa:

Você é mais livre para sair, não tem mais aquela responsabilidade com filhos, de levar na escola, de se preocupar com os filhos (E2).

Com o processo do envelhecimento, os participantes apontam que com o passar do tempo começaram a perceber o que é bom e o que traz prejuízos a vida, apresentam o sentimento de satisfação em envelhecer.

Sou mais feliz agora, porque agora eu comecei a cuidar de mim mesma, a me respeitar, a olhar o que é bom e o que é ruim para mim. Me sinto muito bem em envelhecer, porque antes eu não tinha oportunidade em estudar (E14).

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A gente tem mais tempo de cuidar da saúde, de ir ao médico, quando tem, eu posso sair quando eu quiser com minhas filhas. Ser livre, não é? (E3).

Foi apontado pelos idosos que terem o conhecimento de tecnologias de comunicação traz diversos benefícios para suas vidas, configurando-se como um facilitador das relações sociais:

Ah, hoje eu sou mais animada principalmente com o celular. Antes eu não sabia mexer e hoje eu mexo no WhatsApp, falo com meus filhos. Nossa família tem um grupo e a gente se fala todos os dias, filhos, sobrinhos, todo mundo (E1).

Menino, foi à melhor coisa da minha vida, ajudou bastante. Porque no celular tem tudo, não é? Eu estudo, jogo, porque é bom para o cérebro, porque eu já fiz envelhecimento ativo aqui e sei que fazer essas coisas de joguinhos, costurar, bordar é bom pra o cérebro por causa do Alzheimer (E4).

3.3. AS NUANCES DO ENVELHECIMENTO: VANTAGENS E DESVANTAGENS

Questionados sobre a existência de vantagens no envelhecimento, apontam o fator econômico como algo positivo, aposentadoria é tida como meio em que o idoso pode usufruir dos bens sociais. Sob a ótica dos idosos:

Existe mais vantagem porque sou aposentada, é uma maneira de dizer sou livre (E1)

As vantagens é que eu tenho essa aposentadoria, eu tenho minha vida arrumada, já é uma renda para me manter, para me cuidar, fazer o que eu quero, entendeu? (E13).

Outra vantagem trazida pelo envelhecimento segundo os idosos participantes é o passe livre no transporte e a existência de prioridades em atendimentos (bancos, supermercados e outros) caracterizada como algo benéfico e útil para os mesmos. Enfatizam que:

A vantagem é você ter a carteirinha de ônibus, para andar de graça. Não enfrenta fila, tem mais tempo para você, não tenho problemas familiares, minha vida é centrada (E9)

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Na perceção dos sujeitos, com o envelhecimento e consequentemente a aposentadoria, o tempo torna-se mais livre, o que é visto como vantagem, devido poderem se dedicar as atividades prazerosas, aos cuidados com a saúde e outras. Demonstrado nas falas que:

Existem mais vantagens em envelhecer, a gente tem mais tempo pra a gente. Mais tempo pra fazer as coisas, para cuidar dos netos, de aproveitar a vida (E6).

Existem várias vantagens em ser idosa. Como ser aposentada e ficar cuidando dos netos, que é muita responsabilidade, sabe como é não é? (E3).

Além do medo de agravos à saúde, o que mais os preocupam é o abandono dos filhos e ficarem dependentes dos cuidados de seus familiares:

[...]Para quando ficar mais idoso ainda não está numa cama, com os filhos cuidando (E5).

Meu maior medo e ficar dependendo de filho numa cama, Deus me livre, não quero nunca dar trabalho a ninguém (E14).

Indagados sobre a existência de vantagens e desvantagens em envelhecer, os participantes apontam a existência de diversos fatores, como o preconceito por parte dos jovens e a falta de oportunidades para o mercado de trabalho, apontam nas falas:

Mais desvantagens, como o preconceito, a falta de oportunidades, a discriminação (E1).

É notória a existência de exclusão social do idoso por parte dos meios sociais, isso acontece em decorrência de um pensamento estereotipado e cheio de preconceitos absorvido pelos mais jovens e transmitidos aos idosos25. Nesse sentido, alguns participantes percebem que diante de diversas transformações, há também uma separação de população, entre os idosos e os mais jovens:

Desvantagem é o adolescente, assim os mais jovens não aceitam muito o idoso. Hoje a gente ver os mais jovens que não dão muito valor ao idoso, discrimina o idoso (E4).

A dificuldade maior de ser idoso é as pessoas que não se aceitam como idoso (E1). Se contrapondo a esse achado, no estudo de Feller, Teston e Marcon13 foi constatado que envelhecer está associado à decadência, à dependência e à incapacidade para as JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-10

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atividades simples da vida diária, como, por exemplo, andar, vestir-se, cuidar da casa e dos netos. A presença de doenças leva os idosos a acreditarem que o envelhecimento vem carregado de perdas, levando-os a desmotivação. Nessa perspetiva, destaca-se a necessidade de medidas de intervenção que se propõem a identificar as causas preventivas e/ou tratáveis das doenças crônicas não transmissíveis, que por vez deveriam ser prioridade das ações governamentais de cunho coletivo, como meio adequado de alcance do envelhecimento saudável para a crescente população idosa do Brasil26.

Na minha vida aconteceram muitas mudanças, meu colesterol aumentou, minha glicose aumentou, fiquei mais cansada, desmotivada (E14)

Os aspetos motores estão relacionados diretamente à independência e autonomia dos idosos, e dessa maneira, seu déficit pode acarretar em diversas implicações a exemplo do contexto social27. Logo, as perdas, limitações funcionais e cansaço físico foram apontados como uma desvantagem do envelhecimento, revelado nas falas abaixo:

A desvantagem é que a gente hoje é mais cansada, por mais que a gente se esforce pra ter mais disposição, mas mesmo assim, a gente tem uma perda de atividade muscular, essas coisas (E11).

Os idosos gostam de fazer comparação de como estão atualmente em relação a sua capacidade funcional e como eram na juventude. O que pode justificar a perceção de um envelhecimento caracterizado por desvantagens para os sujeitos:

Acho que existe mais desvantagem, porque quando eu era jovem eu tinha mais vigor. Eu vivia sem me preocupar com minha idade, com a saúde (E14).

Nas falas dos participantes é clara a ideia de que quanto mais se envelhece, mais próximo está do processo de morte:

A desvantagem que eu sinto é que a gente está se aproximando do fim. Não me sinto triste não, a tristeza que eu sinto é que estou chegando ao fim (E17).

Mas é complicado a gente envelhecer, porque a gente vive sempre no limite (E13).

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Assim como, um conceito frequente no discurso dos idosos é que o envelhecimento está em sua maioria associado a doenças e improdutividade 28. Nesse âmbito o alcance de um bom envelhecimento está relacionado à condições financeiras que possibilita melhoria na qualidade de vida, o apoio familiar, os cuidado com a saúde e a manutenção dos relacionamentos ocorridos ao longo desse processo.

3.4. OS DESAFIOS DE ENVELHECER NO MUNDO COMTEMPORÂNEO Na percepção dos idosos, existem diversos desafios a serem enfrentados no processo de envelhecimento. Acreditam que as cidades não estão preparadas para receber o idoso, acessibilidade, tem desordem nas construções, barreiras arquitetônicas, dificuldades nos transportes públicos, dentre outras. Evidente nas falas abaixo:

Os desafios é a cidade que não está preparada para idoso, o transporte publico que não é adequado pra o idoso, os hospitais não são adequados para o idoso, as praças não são adaptadas para idoso, as repartições não são adequadas pra idoso (E1). Igualmente, Torres et al29 afirma que as pessoas idosas na maioria das vezes são vistas de forma muito negativa, ora pelas características psicológicas (depressão, perdas cognitivas), físicas (doença, dor, fragilidade) ou sociais (improdutividade, isolamento). Os idosos revelaram que, enfrentam desafios diariamente como exclusão, desrespeito e diversos tipos de violências:

Os desafios são que a gente ver pessoas que não respeita o idoso (E3)

Existem e muitos, nessa idade a gente tem muita dificuldade, tem bulling, tem preconceito (E14).

Ainda foi entrado que os idosos ressaltam em seus discursos, a descrença dos jovens sobre suas experiências e conhecimentos:

Principalmente os eventos organizados pela turma jovem, eles acham que a nossa experiência é inútil, a nossa presença é um atrapalho em vez de ser uma contribuição. (E1).

Ah, o desafio é a falta de compreensão dos mais novos na convivência familiar, mas aí é uma coisa que a gente aprende a conviver dentro dos limites né? (E2)

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É que você é desprezado pelos mais jovens, é muita falta de respeito (E10).

As ações de promoção da saúde devem ser orientadas para promover a qualidade de vida dos idosos que precisam ser mantidos de maneira efetiva possível, no seu lar, junto de seus familiares, primando promoção da máxima autonomia individual possível que tem sua base em um determinado grau de competência, ou capacidade funcional 30.

Eu sou mais excluso da sociedade, vivo só pra mim na minha casinha. Porque olhe só, as coisas hoje, tudo que você for fazer tem que ter dinheiro e o dinheiro do aposentado é escasso. (E15).

Eu gostaria que os idosos tivessem mais chance, porque a gente não está parada. A gente parou mais ainda temos energia pra trabalhar, fazer alguma coisa (E5).

A importância conhecer a perceção dos idosos sobre o processo de envelhecimento é necessário para que se visem propostas de atividades sociais a essa clientela, já que há influências culturais relativamente à forma como a saúde e o processo de envelhecimento são percebidos, pois é a partir de uma análise comparativa com demais sujeito que se delineia a condição de saúde e de velhice.

4. CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou que a percepção do idoso sobre o envelhecimento está relacionada com ganhos e perdas. A independência e autonomia do idoso são tidas como algo primordial nesse momento de sua vida. Observou-se por meio dos discursos a necessidade primordial para os idosos é serem autônomos e capazes de realizarem suas atividades cotidianas de maneira independente, no qual influencia diretamente em sua qualidade de vida. Os idosos revelaram que o processo de envelhecimento é um desafio diário, devido enfrentarem preconceitos, exclusão, diversos tipos de violências e políticas sociais e de saúde ineficazes. A partir da busca bibliográfica ficou evidente que há escassez de trabalhos que se preocupam em investigar a percepção do idoso sobre seu processo de envelhecimento e de como eles vivenciam esse processo, considerando que isso implica diretamente ou JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-10

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indiretamente na sociedade. Destaca-se assim, a necessidade de novos estudos referente à temática, bem como, a criação de estratégias que venham atender as necessidades desse público. Os benefícios que se espera com esse estudo é instigar a reflexão dos profissionais de saúde, em especial o enfermeiro, sobre diferentes necessidades da população idosa. É necessário destacar que o projeto de extensão Universidade Aberta à Terceira Idade contribui como momento de criação e ampliação de oportunidades para os idosos, ao mesmo tempo em que fortalece uma ponte entre idoso e o ambiente universitário no âmbito de ensino, pesquisa e extensão. Por fim, este estudo apresentou a percepção do idoso sobre o envelhecimento que por vez é caracterizado por um momento de perdas e ganhos. As perdas referem-se às questões biológicas, a vitalidade que com o processo natural do tempo começam a se desgastar, com a exclusão por parte dos mais novos e os ganhos estão relacionados com as experiências vividas e os benefícios socioeconômicos que por vez são apresentados como algo positivo.

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Gonçalves D., Ferreira R., Vieira J., Goes, M., Mestre, T. (2020) Health Gains Resulting from Nursing Interventions in Early Mobilization of the Person with Cerabral Vascular Accident, Journal of Aging & Innovation, 9 (2):J.,133 - 152 Mestre, T. (2020) Health Gains REVISÃO INTEGRATIVA: Gonçalves D., Ferreira R., Vieira Goes,5M., Resulting from Nursing Interventions in Early Mobilization of the Person with Cerabral Vascular Accident, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 133 - 152

 Revisão Integrativa da Literatura

GANHOS EM SAÚDE RESULTANTES DAS INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM NA MOBILIZAÇÃO PRECOCE DA PESSOA COM ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL HEALTH GAINS RESULTING FROM NURSING INTERVENTIONS IN EARLY MOBILIZATION OF THE PERSON WITH CEREBRAL VASCULAR ACCIDENT BENEFICIOS DE SALUD RESULTANTES DE LAS INTERVENCIONES DE ENFERMERÍA EN LA MOVILIZACIÓN TEMPRANA DE LA PERSONA CON ACCIDENTE VASCULAR CEREBRAL

Diogo Gonçalves1, Rogério Ferrinho Ferreira2[0000-0001-5180-2036], João Vítor Vieira3[0000-0002-3905-4802], Maria Margarida Goes4[00000001-6017-6874] , Teresa Mestre5[0000-0003-3175-5708] 1

Enfermeiro, Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Beja. PhD, Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Beja: Departamento de Saúde. 3 MSc, Professor Adjunto do Instituto Politécnico de Beja: Departamento de Saúde. 4 MSc, Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Beja: Departamento de Saúde. 5 MSc, Professora Adjunta do Instituto Politécnico de Beja: Departamento de Saúde. 2

Corresponding Author: ferrinho.ferreira@ipbeja.pt

Resumo: Objetivo: Identificar os ganhos em saúde resultantes das intervenções dos cuidados de enfermagem na mobilização precoce da pessoa com AVC. Métodos: Revisão integrativa da literatura, envolvendo as bases de dados científica MEDLINE Complete e CINAHL Complete, pelas plataformas EBSCOhost, onde foram selecionados critérios de inclusão, de forma a dar resposta à pergunta PICO previamente delineada. Resultados: Após a realização da pesquisa foram inicialmente identificados 48 artigos, dos quais 6 cumpriam os critérios de inclusão e exclusão definidos. Decorrente das intervenções em cuidados de enfermagem foram identificados ganhos no bem-estar e autocuidado, na recuperação funcional, na diminuição do internamento hospitalar e na mortalidade. Conclusão: As intervenções de enfermagem na mobilização precoce da pessoa com acidente vascular cerebral são fundamentais no bem-estar e autocuidado e recuperação funcional das pessoas acometidas por AVC. Palavras-chave: Cuidados de Enfermagem; Acidente vascular cerebral; Ganhos em Saúde.

Abstract: Objective: To identify the health gains resulting from nursing care interventions in the early mobilization of people with stroke. Methods: Integrative literature review, involving the scientific databases MEDLINE Complete and CINAHL Complete, by the EBSCOhost platforms, where inclusion criteria were selected, in order to answer the PICO question previously outlined. Results: After conducting the research, 48 articles were initially identified, of which 6 met the defined inclusion and exclusion criteria. As a result of interventions in nursing care, gains in well-being and self-care, functional recovery, decreased hospital stay and mortality were identified. Conclusion: Nursing interventions in the early mobilization of people with stroke are fundamental to the wellbeing and self-care and functional recovery of people affected by stroke. Keywords: Nursing care; Stroke; Health Gains

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REVISÃO INTEGRATIVA: Gonçalves D., Ferreira R., Vieira J., Goes,5M., Mestre, T. (2020) Health Gains Resulting from Nursing Interventions in Early Mobilization of the Person with Cerabral Vascular Accident, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 133 - 152

Introdução

As alterações demográficas ocorridas nas últimas décadas demonstraram uma grande mudança tanto em Portugal como no resto da Europa, no que diz respeito ao envelhecimento da população. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2015), Portugal encontrava-se em 2013 com o 5º índice de envelhecimento mais alto da União Europeia. Os dados da PORDATA de 2019 revelam que Portugal tinha um índice de envelhecimento de 161,3%, ou seja, aproximadamente, 161 idosos por cada 100 jovens. A evolução foi progressiva, sendo que em 1993 existia um índice de envelhecimento de 96,02% e em 2003 de 117,84% (PORDATA, 2019). As projeções para o futuro acerca do envelhecimento divulgadas em 2013 pela World Population Ageing salientaram o facto de que em 23 anos, de 1990 a 2013, a população mundial com idade igual ou superior a 60 anos subiu de 9,2% para 11,7%, e estimou-se que em 2050 os números atinjam os 21,1% (INE, 2015). A maior longevidade e o decréscimo da natalidade têm revelado um aumento progressivo do índice de envelhecimento (DGS, 2006). Acontece que a maioria das doenças encontradas em idades mais avançadas não são transmissíveis, mas sim dependentes dos comportamentos saudáveis ou não que as pessoas mais velhas utilizaram ao longo da vida (World Health Organization [WHO], 2015). As doenças que apresentaram maior taxa de mortalidade em Portugal no ano de 2017 foram as cerebrocardiovasculares com 29,4%, seguidas dos tumores malignos e ainda das doenças do aparelho respiratório. Como maior causa de morte em Portugal encontra-se o AVC com uma taxa de mortalidade de 10,2%, assim como a maior taxa de incapacidade funcional, segundo os dados de 2017 (INE, 2019). Do total de mortes consequentes das doenças cerebrovasculares, 93,4% foram pessoas com idade acima dos 65 anos e 82,9% tinham mais de 75 anos. Encontra-se uma grande prevalência de mortalidade na população mais envelhecida sendo 105,1 mortes por cada 100 mil habitantes entre os 64 e 74 anos, 479,7 entre os 75 e os 84 anos e 1930, 9 dos 85 ou mais anos. Em relação à Europa, Portugal apresenta-se como o país com maior taxa de mortalidade na Europa Ocidental (Sociedade Portuguesa de Cardiologia [SPC], 2019). A distribuição da incidência anual para o AVC em 2017 foi de 165 utentes por cada 100 mil habitantes. Comparando com o ano anterior, 2016, existiu um aumento, uma vez que o número de casos acima dos 75 anos também aumentou (Rodrigues, Batista e Silva; 2019). A nível europeu, estima-se que exista um aumento da incidência de AVC de 1,1 milhão para 1,5 milhão por ano, entre 2000 e 2025. Os dados revelam ainda que há uma maior taxa de JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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incidência nos países da Europa Oriental, comparada aos países da Europa Ocidental (Buchan, Baclami e Arba, 2013). Atualmente o AVC ocupa o 2º lugar na lista de doenças com maior taxa de mortalidade no mundo. É estimado que em 2030, cerca de 7,8 milhões de pessoas morrerão devido a um episódio de AVC. No entanto, esta taxa tem vindo a diminuir tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento (Almeida, Jucá & Castro, 2018). Em cinco anos, entre 2012 e 2017, o AVC foi a doença do aparelho circulatório que mais diminuiu a taxa de mortalidade, passando de 128,8 mortes por 100 mil habitantes para 109,4 mortes (INE, 2019). O AVC pode ter várias consequências na mobilidade. A hemiplegia ou a hemiparesia são a principal causa de incapacidade nas pessoas acometidas por AVC. Na hemiplegia verifica-se uma paralisia no hemicorpo afetado, enquanto que na hemiparesia se verifica uma diminuição da força muscular e da sensibilidade do hemicorpo afetado (Menoita, 2012). Após o AVC, a pessoa primeiramente apresenta um estado de flacidez que pode durar horas ou dias, seguida na maior parte das vezes por um quadro espástico. A hipertonicidade muscular da pessoa impede de se mover corretamente. A espasticidade faz com que a pessoa tenha dificuldade no controle do movimento voluntário. O padrão espástico é caraterizado pelo envolvimento dos músculos anti gravíticos, flexores dos membros superiores e extensores dos membros inferiores (DGS, 2010; Menoita, 2012). Estas alterações inibem a pessoa de realizar movimentos e posturas normais, fundamentais para a realização de atividades funcionais, como o rolar, o sentar, o manter a posição ortostática, a marcha e a realização das AVD´s (Menoita, 2012). As estratégias de intervenção devem ser ajustadas à situação da pessoa com AVC. Nelas, inclui-se atividades como o posicionamento, as mobilizações e variadas atividades terapêuticas (Menoita, 2012). O posicionamento correto, deitado ou sentado, a realização de exercícios de mobilidade, o levante e a marcha têm como principal objetivo contrariar o padrão espástico, característico do AVC (Menoita, 2012). Dos posicionamentos realizados no leito, os preconizados para a adoção do padrão antiespástico são o decúbito dorsal, o decúbito lateral para o lado afetado e o decúbito lateral para o lado são (Menoita, 2012; OE, 2013). A mobilização passiva da pessoa com AVC deve ser realizada logo que apresente estabilidade hemodinâmica. A mobilização precoce, considerada como a saída da pessoa do leito nas primeiras 24 horas, pode diminuir o risco das complicações relacionadas com a imobilidade e melhorar significativamente a capacidade funcional das pessoas com AVC (Vieira, Sousa & Braga, 2017; Silva et al., 2013). A DGS (2010) defende ainda que logo que a pessoa esteja hemodinamicamente estável deve ser iniciada a reabilitação, realizando nas primeiras 24 horas mobilização passiva dos membros afetados pelo menos 3 vezes por dia. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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Alguns estudos referem que a mobilização deve ser iniciada entre as 24 e as 72 horas após AVC, no entanto deve-se ter em conta vários determinantes como a estabilidade hemodinâmica, o lado da lesão, a disponibilidade para a reabilitação e a motivação, colaboração, adequação e capacidade da pessoa (Silva, Nascimento & Brito, 2013). Além de reduzir complicações após AVC, a mobilização precoce aumenta a capacidade de realizar as restantes AVD´s e a autoestima da pessoa (Silva et al., 2013). A prática de exercícios de mobilização no leito é fundamental para a evolução de estímulos sensoriais e circulatórios, evitando o aparecimento de limitações articulares. Os movimentos devem ser realizados lentamente e com velocidade constante, de forma a não ocorrer excitabilidade do tónus muscular (Menoita, 2012). Assim, tal como acontece com a ajuda realizada na mudança de decúbitos, o enfermeiro deve instruir o utente acerca do procedimento que irá realizar, de forma a entender quais as capacidades do utente e qual será a sua colaboração. A realização de exercícios de mobilização deve estar associada a algumas atividades terapêuticas: facilitação cruzada, indução de restrições, rolar sobre ambos os lados na cama, ponte, rotação controlada da anca, automobilização e carga no cotovelo (Menoita, 2012). A facilitação cruzada consiste na utilização do membro não afetado para realizar as atividades através da linha média dos hemicorpos. Este tipo de atividade reforça a recuperação bilateral, assim como estimula a ação voluntária, a sensibilidade e o reflexo postural dos músculos do lado afetado (Menoita, 2012). Já a indução de restrições baseia-se na recuperação dependente do uso e do desuso, ou seja, o membro afetado é forçado a exercer atividade. Os objetivos desta intervenção é o treino intensivo do membro afetado, restringindo o membro menos afetado (Menoita, 2012). Após a realização de posicionamentos no leito em que a pessoa não colabora, esta passa a realizar atividades terapêuticas que promovam o autocuidado. Estas atividades são baseadas no desenvolvimento do lactente normal, de forma a que a pessoa estabeleça uma coordenação da postura e do movimento. Rolar na cama é a primeira atividade a realizar com a pessoa que sofre AVC, pois favorece o início do autocuidado e o alinhamento corporal, diminui a espasticidade extensora dos membros, reeduca o reflexo postural e estimula a ação voluntária dos músculos e da sensibilidade (Alcobia, Ferreira, Soares & Vieira, 2019; Menoita, 2012). A ponte é um exercício que assume um papel essencial para o aumento da capacidade funcional da pessoa, ajudando-o na realização de vários autocuidados como a higiene (banho no leito), uso do sanitário (utilização de arrastadeira para eliminação vesical e/ou intestinal) e o vestir. Os objetivos da realização da ponte são a prevenção da rotação externa e espasticidade em extensão do membro inferior afetado, a ativação da musculatura do lado JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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afetado, facilitação da elevação da bacia, estimulação da sensibilidade postural e fortalecimento muscular com o intuito de progressão para a posição ortostática e marcha (Alcobia et al., 2019; Menoita, 2012). À medida que a pessoa começa a ganhar independência funcional, passa a realizar exercícios de mobilização sem ajuda, quer deitada quer sentada. Neste tipo de exercícios, a utilização de um espelho ajuda a pessoa a integrar o lado afetado no seu esquema corporal, corrigindo assim as alterações posturais (DGS, 2010). A automobilização dos membros superiores tem como objetivos ajudar a pessoa a integrar o lado afetado como parte do seu corpo e a controlar o padrão antiespástico do membro superior afetado, através da extensão e abdução dos dedos, extensão do cotovelo e elevação da articulação escapulo umeral. Trata-se de um exercício que pode ser realizado com a pessoa com as mãos entrelaçadas (Alcobia et al., 2019; Menoita, 2012). As estratégias de intervenção de mobilidade são fundamentais para a evolução no quotidiano (Menoita, 2012). A progressão para levante deve ser realizada o mais precoce possível, assim que a pessoa apresente estabilidade hemodinâmica. Após ser iniciado, a recuperação deve evoluir para treinos de equilíbrio, estáticos ou dinâmicos, transferências, marcha e atividades mais complexas como subir escadas (OE, 2013). O treino de marcha deve ser iniciado, logo que a pessoa consiga ficar na posição ortostática e com equilíbrio. Deve ser realizado por pequenos e frequentes períodos de tempo (Alcobia et al., 2019; Menoita, 2012). O enfermeiro deve averiguar a segurança do ambiente ao redor do leito e definir metas repouso. Com o intuito de promover a independência, força e confiança, a pessoa beneficia da utilização de auxiliares de marcha como o andarilho e bengala (Alcobia et al., 2019; Coelho, Barros & Sousa, 2017). A primeira meta funcional é a marcha da pessoa com AVC. O treino regular da marcha e das restantes intervenções ajudarão ao retorno da locomoção, padrão automático e independência funcional, assim como à realização das restantes AVD´s (Alcobia et al., 2019; Menoita, 2012). A independência da pessoa que sofre um AVC é um fator determinante para a qualidade de vida. Utilizar estratégias que aumentem a capacidade funcional influenciará positivamente o seu estado funcional (Rangel, Belasco & Diccini, 2013).

Objetivo Identificar os ganhos em saúde resultantes das intervenções dos cuidados de enfermagem na mobilização precoce da pessoa com acidente vascular cerebral.

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Métodos Aspetos éticos Não foi solicitado parecer a uma Comissão de Ética, dado tratar-se de um estudo secundário. A formulação do problema respeitou os princípios da clareza, precisão e objetividade, permitindo que os resultados se assumam como uma mais valia para os cuidados de enfermagem, com benefícios para as pessoas com a problemática do acidente vascular cerebral. Na extração e análise dos estudos selecionados houve a preocupação de agir em defesa do princípio do respeito pelos resultados obtidos por esses investigadores. Na referenciação dos diferentes autores respeitaram-se as normas das boas práticas académicas e científicas.

Tipo de Estudo Realizou-se uma revisão integrativa da literatura, com o propósito de resumir o conhecimento sobre o objeto de estudo e por inerência, contribuir para a compreensão e incorporação das evidências na prática clínica. Os procedimentos metodológicos utilizados envolveram as seguintes etapas: 1) identificação da pergunta de partida; 2) definição de critérios de inclusão e exclusão de estudos; 3) definição das informações a extrair dos estudos; 4) análise dos artigos incluídos; 5) apresentação e discussão dos resultados e 6) síntese do conhecimento.

Procedimentos metodológicos Na formulação da pergunta de investigação utilizou-se a metodologia PI[C]OD: população (P), tipo de intervenção (I), as comparações (C), o resultado - outcome (O) e o tipo de estudo – design (D). De forma, a dar resposta ao objetivo anteriormente delineado e que serviu como fio condutor para a presente revisão integrativa da literatura foi elaborada a seguinte questão norteadora: Quais os ganhos em saúde (Outcomes) resultantes das intervenções dos cuidados de enfermagem na mobilização precoce (Intervention) da pessoa com acidente vascular cerebral (Population)? Como critérios de inclusão privilegiaram-se os artigos com metodologias quantitativas e/ou qualitativas, publicados na sua íntegra (full-text), em Português ou Inglês, na área da enfermagem e que permitiam responder à questão norteadora anteriormente referida, inseridos nas bases de dados CINAHL Complete e MEDLINE complete, com referências disponíveis e data de publicação entre janeiro de 2015 e maio de 2020. Considerou-se como critérios de exclusão, artigos sem relação com a temática em estudo, com metodologia ambígua, com datas de publicação anteriores a 2015 e repetidos em ambas as bases de dados.

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Após a formulação da pergunta de investigação seguiu-se a colheita de dados sobre o tema em estudo que decorreu durante o mês de maio de 2020 nas bases de dados MEDLINE Complete e CINAHL Complete através da plataforma EBSCOhost. Os descritores utilizados na pesquisa foram os seguintes: “Nursing”, “Nursing care”, “Nursing Intervention”, Early Mobilization”, “Early Rehabilitation”, “Early Mobilisation”, “Early Mobilize”, “get up in bed”, “raise”, “lifting”, “stroke”, cerebrovascular accident”, “cva”, “cerebral vascular event” e “cve”. Os descritores foram procurados na plataforma EBSCOhost com a seguinte ordem: −

[(Nursing interventions) or (Nursing care) or (Nursing)] AND

[(Early Mobilization) or (Early Rehabilitation) or (Early Mobilisation) or (Early Mobilize) or (get up in bed) or (raise) or (lifting)] AND

[(Stroke) or (cerebrovascular accident) or (cva) or (cerebral vascular event) or (cve)

A seleção dos estudos envolveu a avaliação do título e análise do resumo de modo a verificar se os artigos cumpriam os critérios de inclusão e de exclusão. Quando estes não se revelaram esclarecedores, procedeu-se à leitura na íntegra do artigo de forma a minimizar a perda de estudos importantes. Foram identificados 48 artigos nas bases de dados CINAHL Complete e MEDLINE Complete através da plataforma EBSCOhost. A avaliação dos artigos processouse em duas fases, sendo que numa primeira fase foram selecionados 10 artigos após a leitura dos títulos, e numa segunda fase após leitura dos resumos justificou-se o potencial de 8 artigos. Destes, foram selecionados 6 artigos que respondiam à questão de investigação e cumpriam os critérios de inclusão e exclusão (Figura 1). A análise crítica dos artigos centrou-se na apreciação dos níveis de evidência. Foram utilizados os contributos de Melnyk e Fineout-Overholt (2005), com a finalidade de identificar os diferentes tipos de produção de conhecimento que estão implícitos nos estudos. Estes consideram os seguintes níveis de evidência: - Nível I – Revisões sistemáticas (meta-análises, linhas de orientação para a prática clínica com base em revisões sistemáticas); - Nível II – Estudos experimentais; - Nível III – Estudos quase experimentais; - Nível IV – Estudos não experimentais; - Nível V – Relatórios de avaliação de programas/revisões de literatura; - Nível VI – Opiniões de autoridades/painéis de consenso.

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Total de Artigos obtidos na EBSCO = 48

Artigos após eliminação de duplicados (n= 48 )

Artigos analisados (n = 48)

Artigos com texto completo avaliados para elegibilidade (n = 8)

INCLUSÃO

ELEGIBILIDADE

SELEÇÃO

IDENTIFICAÇÃO

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Nenhum artigo excluído

Artigos excluídos pelo título e resumo: 40

Artigos de texto completo excluído por não responderem aos critérios de inclusão (n=2)

Artigos incluídos (n = 6)

Figura 1 – Diagrama PRISMA para a apresentação da metodologia de pesquisa.

Resultados e discussão No sentido de responder à pergunta colocada de início, efetuou-se a leitura dos diversos artigos selecionados, tendo em vista a análise do seu conteúdo. Os resultados dessa análise encontram-se expostos no Quadro 1.

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Quadro 1- Resultados da Revisão da Literatura Autores, Método e Nível de Evidência Li, Zhang, Wang &

Objetivos

Resultados

Explorar o efeito da

Os

Wen (2018)

mobilização precoce e

comprovam a existência de relação

o seu impacto no

entre a mobilização precoce e a

Método: Meta-

prognóstico em

capacidade

análise/Revisão

utentes com AVC.

através do índice de Barthel. Estes

resultados

da

meta-análise

funcional,

que

a

avaliada

Sistemática da

revelaram

mobilização

Literatura

precoce aumenta a capacidade funcional do utente.

Nível de Evidência: I

Relativamente

ao

tempo

de

internamento hospitalar, verificouse que utentes que realizaram mobilização precoce tiveram em média

menos

2

dias

de

internamento do que o grupo de controlo. Arnold,

Dinkins, Avaliar

Mooney,

se

a Todos os utentes foram colocados

Freeman, mobilização precoce, sentados de lado na cama. Destes,

Rawal, Heckman

&

Davis (2015)

considerada entre as 13 foram colocados de pé ao lado 13 e as 24 horas após da cama, 8 passaram da cama para trombólise

Método:

uma cadeira e 8 deambularam. Dos

Estudo endovenosa

é 18 utentes, 17 não apresentam

observacional

tolerada em utentes descida da tensão arterial após

prospetivo.

com AVC isquémico. passarem de decúbito dorsal para Analisar

se

existe sentado

e

15

utentes

não

Nível de Evidência: segurança neste tipo apresentaram descida da tensão IV

de reabilitação.

arterial após passarem de sentado para a posição ortostática. Nenhum

Participantes:

18

utente teve complicações de risco

idade

graves (frequência cardíaca acima

média de 69 anos que

de 100 batimentos por minuto

realizaram trombólise

(bpm),

endovenosa

após

diaforese, ansiedade intensa, dor

terem

AVC

sincope, hemorragia intracraniana

utentes

com

sofrido

hemorragias,

palidez,

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isquémico

e

que

ou

realizaram

agravamento

dos

défices

neurológicos).

mobilização precoce. Langhorme, Collier,

Determinar

se

a Verificou-se que os participantes

Bate, Thuy &

mobilização precoce, que

Bernhardt (2018)

ou seja, o mais cedo precoce tiveram em média um valor

realizaram

mobilização

possível e até às 48 mais alto do índice de Barthel, em Método: Revisão

horas, tem benefícios comparação com os participantes

Sistemática da

para a reabilitação das do grupo de controlo.

Literatura

pessoas com acidente Todos os estudos relataram que a vascular

Nível de Evidência: I

cerebral mobilização precoce leva a um

comparando com os tempo cuidados

médio

de

internamento

realizados menor.

usualmente.

Verificou-se evidência

que

não

significativa

existe de

se

desenvolver complicações com a mobilização precoce. A mobilização precoce 24 horas após

AVC

demonstrou

uma

probabilidade menor de um mau resultado ou de morte nos 3 meses seguintes ao AVC. Nozoe, Yamamoto,

Identificar os efeitos Dos 21 utentes, 7 apresentavam

Kobayashi, Kanai,

da

Shinichi & Mase

precoce na variação Após a mobilização, não existiu

(2018)

da

mobilização deterioração neurológica e 14 não.

frequência diferenças para tensão arterial,

cardíaca em utentes frequência cardíaca e atividade Método: Estudo de

com AVC.

nervosa

parassimpática.

Houve

coorte

uma diferença superior na atividade

Nível de evidência:

nervosa parassimpática no grupo

IV

com deterioração neurológica em comparação com o grupo sem

Participantes: 21

deterioração neurológica, ou seja,

utentes com AVC.

uma atividade nervosa simpática é maior no grupo com deterioração neurológica. Para uma avaliação

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após

3

meses,

dois

utentes

deixaram de ser acompanhados, sendo apresentada uma avaliação de apenas 19 utentes. Foram indicadas melhorias no score da escala de Rankin modificada para resultados entre 0 e 2 em 8 utentes com deterioração neurológica e em 2

utentes

sem

detioração

neurológica. McGlinchey, James,

Avaliar

as Foram incluídos nesta Revisão

McKevitt, & Sackley

intervenções

de Sistemática

(2020)

reabilitação tanto na intervenções melhoria

da como

função diferentes

da

Literatura

de para

20

reabilitação 28

estudos.

Método: Revisão

física

em Verificou-se o seguinte:

Sistemática da

complicações

Literatura

relacionadas com a subaguda após o AVC existiu imobilidade no AVC.

Nível de Evidência: I

Função sensoriomotor: na fase

evidência de alta qualidade de que num curso de 6 semanas de estimulação neuromuscular elétrica para os extensores do punho não existiu melhoria em comparação com a terapia habitual. Atividades de Vida Diárias: neste grupo, entre a fase aguda e a subaguda

com

mobilização

precoce e frequente (cerca de 6,5 vezes por dia) dentro das 24 horas após AVC, não existiu melhoria significativa

após

3

meses

comparado com a terapia habitual que

seria

mobilização

iniciada

passadas 24 horas, mas com uma média de 3 vezes por dia. Já na fase subaguda a tardia, existiu evidência de qualidade moderada JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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de

que

terapia

adicional

aos

membros inferiores em simultâneo com reabilitação física habitual, realizadas

nas

primeiras

29

semanas, apresenta melhoria na independência

dos

utentes

estudados. Na fase crónica, as intervenções

realizadas

residência

numa

sénior

apresentaram

não resultados

significativos para a independência do utente comparando com os cuidados usuais. Capacidade de andar: para esta intervenção

apenas

existiu

um

estudo com evidência de qualidade moderada

que

revelou

uma

melhoria da capacidade de andar após

terapia

adicional

dos

membros inferiores até às 20 semanas, em comparação com terapia usual. Atividade física em geral: apenas um estudo teve evidência de alta qualidade sendo que já foi referido anteriormente.

Numa

residência

sénior não existiu melhoria da atividade física em geral após as intervenções de mobilidade. Função dos membros superiores e inferiores: com evidência de qualidade moderada um estudo da fase subaguda a tardia, demonstrou que existe melhoria com terapia adicional dos membros superiores ou inferiores, em conjunto com a JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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reabilitação física habitual regular realizada por 20 semanas, após 6 meses. Qualidade de vida: existiram dois estudos com moderada e alta qualidade de evidência. Na fase subaguda a tardia não existiu melhoria significativa da qualidade de vida, com terapia adicional nos membros superiores e inferiores nas primeiras 20 semanas, após 6 meses de AVC. Na fase crónica existiu também evidências de que não

existe

realização

melhoria de

após

intervenções

a de

mobilização durante 3 meses em comparação

com

os

cuidados

habituais. Das intervenções descritas foram ainda

citadas

complicações

existentes: Depressão: um estudo de alta qualidade na fase crónica referiu que as intervenções de mobilização durante 3 meses na residência sénior não apresentava melhoria para a depressão. Mortalidade: um estudo de alta qualidade de evidência realça que não

existe

maior

taxa

de

mortalidade num espaço de 3 meses, caso se realize mobilização precoce e frequente nas primeiras 24

horas

comparação

após com

AVC, os

em

cuidados

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habituais que seria a mobilização após as 24 horas de AVC.

Bernhardt,

Churilov, Fornecer orientações Verificou-se que quanto maior o

Ellery,

Collie,

Chamberlain, Langhorme,

práticas de qual o tempo entre o AVC e a primeira tempo, a frequência e mobilização,

Lindley, quantidade

Moodie, Dewey, Thrift,

mobilização

& Donnan (2016)

após AVC.

de probabilidade

Estudo

de

será a

a

pessoa

precoce apresentar melhorias. Constatouse

ainda que o

frequência Método:

menor

de

aumento

da

mobilizações

aumentou a probabilidade de um

randomizado

bom resultado em 13%, bem como

controlado.

da

possibilidade

de

caminhar

sozinho por 50 metros em 66%. O Nível de Evidência: II

estudo observou que pessoas entre os 76,3 e 86,1 anos com NIHSS

Participantes:

2104

inferior ou igual a 4,5 que tinham

dos

sessões de mobilização inferior ou

participantes, quais

2083

foram

igual

13,5

minutos

por

dia,

acompanhados

distribuídos em várias sessões

durante 3 meses.

curtas, contribuiu para um bom resultado. Salienta-se ainda que utentes que realizaram mais de 13,5 minutos diários, mas que mantiveram um maior número de sessões por dia, favoreceu um resultado melhor que aqueles que realizaram menos sessões diárias. O aumento da frequência das sessões também revelou um bom resultado para a diminuição da taxa de mortalidade em 20%.

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Após a apresentação dos artigos selecionados, segue-se a discussão dos mesmos. que terá por base o Regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem (2001). O Quadro 2 sintetiza os achados que emergem da sua análise. Quadro 2- Ganhos resultantes da intervenção dos cuidados de enfermagem na mobilização precoce na pessoa com acidente vascular cerebral Indicadores Categorias

Bem-estar e o autocuidado

- Melhora a capacidade funcional (Li et al., 2018; Langhorme et al., 2018; McGlinchey et al., 2020; Nozoe et al., 2018; Bernhardt et al., 2016); - Melhoria na capacidade de andar (McGlinchey et al., 2020).

Recuperação funcional

- Favorece a recuperação funcional da pessoa, sem complicações de risco graves (Arnold et al., 2015; McGlinchey et al., 2020; Bernhardt et al., 2016; Langhorme et al., 2018); - Melhoria na função dos membros superiores e inferiores (McGlinchey et al., 2020).

Internamento hospitalar

- Reduz o tempo de internamento hospitalar (Li et al., 2018; Langhorme et al., 2018).

Mortalidade

- Não Aumenta a taxa de Mortalidade (Mc Glinchey et al., 2016; Li et al., 2018; Langhorme et al., 2018; Bernhardt et al., 2016).

Bem-estar e Autocuidado O aumento da capacidade funcional para a realização de AVD´s encontra-se descrito em 4 dos artigos selecionados, através da avaliação com índice de Barthel. Li et al. (2018) demonstraram que a mobilização precoce aumenta a independência para as AVD´s. Isto reflete uma maior independência nas atividades de vida diárias das pessoas após AVC. Langhorme et al. (2018) corroboram estas evidências e acrescentam que o início da primeira mobilização seria aproximadamente 24 horas após AVC para que existisse um bom resultado. Nozoe et al. (2018) apenas refere melhoria da independência funcional a longo prazo. Existe a incerteza de qual o tempo, a frequência e quantidade de mobilização a realizar para que esta intervenção seja avaliada como favorável para a pessoa com AVC. Bernhardt et al. (2016), primeiramente apresentaram resultados ineficazes acerca da mobilização precoce relatando que esta, com mais intensidade e frequência não trazia benefícios para as pessoas com AVC. Porém, este novo relatório do estudo ajuda-nos a compreender que se aumentarmos a frequência com se realiza as sessões de mobilização e mantivermos constantes o tempo para o início da primeira mobilização e a quantidade diária, existe maior probabilidade de encontrarmos melhores resultados. Ao manterem a quantidade diária JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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constante, dividindo-a em várias sessões mais curtas, os autores concluíram também, numa análise durante 3 meses, que existe melhoria dos valores da escala de Rankin modificada. No que diz respeito à capacidade de andar da pessoa com AVC, é descrito no estudo de McGlinchey et al. (2020), que as intervenções adicionais realizadas aos membros superiores e inferiores revelaram, durante 20 semanas, uma maior capacidade e independência na deambulação. De realçar, que após 6 meses esses ganhos não se mantiveram face à interrupção das intervenções a esse nível. Contudo, pode-se observar que esta prática beneficia a independência funcional da pessoa após AVC.

Recuperação Funcional Existe a dúvida se a mobilização precoce traz benefícios para os utentes sem acarretar complicações adversas. O estudo de Arnold et al. (2015) vem desmistificar a incerteza em relação à segurança e viabilidade existente na mobilização precoce. Numa análise com médicos e enfermeiros referenciada pelos autores, 85% descreveu ter medo da ocorrência de possíveis quedas e 74% medo de possíveis alterações neurológicas na mobilização precoce após a trombólise. Apesar dos relatos de algumas respostas adversas, o estudo de Arnold et al. (2015) demonstra que a mobilização precoce após AVC isquémico com trombólise endovenosa é segura e viável. Existiu uma percentagem de 72% de utentes que conseguiram realizar a primeira mobilização nas primeiras 24 horas após trombólise. No entanto, existe escassez de resultados em relação à mobilização antes das 24 horas após AVC. Merece destaque o estudo de Arnold et al. (2015), que considera não existirem contraindicações à mobilização antes das 24 horas após AVC. Apesar de ser um resultado positivo para a segurança e viabilidade da mobilização precoce, foi necessário identificar qual o tempo e frequência para que exista redução da dependência dos utentes. Essas conclusões foram obtidas no estudo de Bernhardt et al. (2016), onde se preconiza a realização de sessões de mobilização mais curtas e mais frequentes. Langhorme et al. (2018) sugerem ainda que para um resultado mais favorável o tempo ideal de início de mobilização após AVC seria aproximadamente 24 horas após a sua ocorrência. É ainda de salientar que, apesar da mobilização precoce prevenir complicações relacionadas com a imobilidade (quedas, espasticidade, tromboembolismo), o principal foco dos estudos não foi perceber se existe evidência de menores complicações com a realização das intervenções precoces, mas sim encontrar evidências de ganhos/melhorias com a realização das mesmas após AVC. No que diz respeito aos complementos existentes no processo de recuperação dos utentes, o estudo de McGlinchey et al. (2020) refere melhorias na utilização de intervenções adicionais

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aos membros superiores e inferiores em comparação com as intervenções realizadas habitualmente.

Internamento Hospitalar Os estudos evidenciam que a prática da mobilização precoce tem benefícios na redução do tempo de internamento hospitalar da pessoa com AVC. No estudo de Li et al. (2018) defendese que o tempo de permanência é 2 dias inferior ao grupo de controlo, enquanto que Langhorme et al. (2018) consideram em média 1,44 dias inferiores ao grupo de controlo.

Taxa de Mortalidade A taxa de mortalidade ainda é pouco evidenciada nos estudos descritos. Apesar de se poder considerar que é um resultado positivo não existir diferenças significativas entre o grupo experimental e o grupo de controlo ao nível da taxa de mortalidade decorrente da aplicação de um programa de mobilização precoce, nos estudos que integraram a revisão da literatura de Langhome et al. (2018), Li et al. (2018) e McGlinchey et al. (2020), considera-se que são necessários mais resultados que identifiquem a possível evidência. Isto acontece porque as sessões de mobilização precoce apresentadas nas revisões são intensivas, ou seja, frequentes e de alta intensidade. De realçar que Bernhardt et al. (2016) concluíram que o aumento das frequências com sessões de mobilização curtas diminuiu o risco de morte em 20%.

Limitações do estudo As limitações desta revisão integrativa da literatura prendem-se essencialmente com a heterogeneidade dos estudos selecionados e com os diferentes métodos utilizados. De salientar ainda como limitação, a não inclusão de bases de indexação da produção de instituições de ensino superior, nomeadamente no que diz respeito a dissertações. Contribuições para a Enfermagem Esta revisão assume-se como uma abordagem para a compreensão desta problemática. A síntese da produção científica no período definido permitiu identificar ganhos em saúde resultantes das intervenções de enfermagem na mobilização precoce da pessoa com acidente vascular cerebral e constituí um importante contributo para a reflexão sobre esta problemática e a relevância dos cuidados prestados pelo enfermeiro, visando a implementação de estratégias de intervenção profissional em prol da qualidade dos cuidados à pessoa, em contexto hospitalar. Estudos futuros devem ter uma abordagem empírica, de natureza experimental, que permitam verificar o efeito de um programa de mobilização precoce de acordo com um protocolo definido JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-11

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a nível hospitalar. Consideramos que uma abordagem experimental, envolvendo controle, randomização e manipulação da variável independente (programa de mobilização precoce) em sujeitos com acidente vascular cerebral são uma garantia para a qualidade metodológica de uma investigação que permita analisar o seu efeito na capacidade funcional das pessoas com acidente vascular cerebral. Considerações finais Com esta revisão integrativa da literatura constatámos quais os ganhos das intervenções realizadas pelos Enfermeiros através da mobilização precoce na pessoa com AVC, sejam eles relacionados com a recuperação sensoriomotora ou com a diminuição de possíveis complicações. A mobilização precoce é bastante discutida por parte dos profissionais de saúde. O medo de existir alguma complicação (aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão intracraniana, etc.) impede que os profissionais muitas vezes realizem a mobilização o mais precocemente possível. Pode-se observar que os resultados do estudo apontam para ganhos no bem-estar e autocuidado, na recuperação funcional, na diminuição do tempo de internamento hospitalar e com repercussões na mortalidade. Maioritariamente conclui-se que a mobilização precoce poderá ter vantagens na independência da realização das AVD´s, assim como para a diminuição do tempo de internamento hospitalar da pessoa com AVC. Estas conclusões poderão ajudar também a uma melhor gestão dos cuidados de Enfermagem prestados, de forma a que sejam mais eficientes e organizados. Foram também relatados outros ganhos como a melhoria da capacidade funcional, de andar e dos membros inferiores e superiores através de intervenções adicionais. Todavia, os principais resultados que se pensava obter, ou seja, a diminuição da taxa de mortalidade e um valor inferior na escala de Rankin modificada, não obtiveram dados significativos, maioritariamente. A realização de sessões de mobilização mais curtas e mais frequentes poderão contribuir para uma diminuição da taxa de mortalidade, assim como uma diminuição no score da escala de Rankin modificada. Novos dados acerca do tempo por sessão e do tempo adequado para a primeira mobilização após AVC, poderão vir a relatar mais ganhos tanto para a qualidade de vida do utente como para a prevenção de complicações.

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Assunção M., Guilherme E., Silva P., Gonçalves A.F., Labiza S. (2020); Portugal nursing students & staff development, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 153- 166 REVISÃO DA LITERATURA: Assunção M., Guilherme E., Silva P., Gonçalves A.F., Labiza S. (2020); Portugal nursing students & staff development, Journal of Aging & Innovation, 9 (2): 153- 166

 Revisão da Literatura

Desenvolvimento de estudantes e profissionais de Enfermagem em Portugal Portugal nursing students & staff development Desarrollo de estudiantes y profesionales de enfermería en Portugal Marta Assunção1, Eunice Guilherme2; Paulo Silva3, Ana Filipa Gonçalves4, Silvia Labiza5 1

RN, MsC; 2,3,4,5RN Unidade de saúde familiar, Faro, Portugal

Corresponding Author: martaassuncao@icloud.com Resumo Objetivos: Apresentar o Modelo de Desenvolvimento Profissional (MDP) português. Métodos: Revisão bibliográfica de publicações da OE (Ordem dos Enfermeiros Portugueses) e das bases de dados BVS e PubMed. Resultados: O desenvolvimento do MDP teve início em 2009 e assenta em dois pilares: a Certificação de Competências e o Sistema de Individualização de Especialidades. A implementação do MDP permitirá à OE regular a profissão e atribuir o título profissional. A implementação deste modelo de desenvolvimento de estudantes e profissionais é iminente, sendo a evidência disponível acerca das suas repercussões escassa. Surgem maioritariamente implicações positivas, sendo o principal inconveniente e entrave os custos associados, aliados à renitência à mudança. Conclusões: A implementação do MDP depende de um trabalho conjunto dos diversos intervenientes e as pessoas, enquanto principais agentes de mudança, devem estar motivadas para o efeito, através do conhecimento dos benefícios associados. O conhecimento deste modelo, em vias de implementação em Portugal, contexto em que os profissionais são altamente reconhecidos no mundo, pode possibilitar aos gestores de outras realidades desenhar estratégias que possibilitem o incremento da qualidade e da segurança dos cuidados de enfermagem. Palavras-chave: Modelos de Enfermagem; Competência Clínica; Desenvolvimento de Pessoal; Recursos Humanos de Enfermagem; Estudantes de Enfermagem Abstract Aim: Introduce the Portuguese Professional Development Model (MDP). Method: Literature review of Portuguese Order of Nurses (OE) publications, and data bases BVS and PubMed. Results: The development of the MDP began in 2009 and is based on two pillars: The Competency Certification and the Specialty Individualization System. The implementation of the MDP will allow the OE to regulate the profession and assign the professional title. The implementation of this model of student and professional development is imminent, and the available evidence about its repercussions it is scarce. Positive implications mostly arise, being the main drawback together with its associated costs connected with the reluctance to change. Conclusions: The implementation of the MDP depends on the joint work of the various stakeholders and people, as the main agents of change, must be motivated to do so by learning the associated benefits. Knowledge of this model, being implemented in Portugal, in a context in which professionals are highly recognized in the world, can enable managers from other realities to design strategies that will increase the quality and safety of nursing care. Keywords: Nursing Models; Clinical Competence; Personnel Development; Nursing Human Resources; Nursing Students

1. INTRODUÇÃO A enfermagem em Portugal teve marcos relevantes para a profissão nas últimas décadas, nomeadamente a criação da Ordem dos Enfermeiros (OE), a publicação do Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REPE) e o reconhecimento pelo estado da capacidade autorregulação, enquanto forma de garantir aos cidadãos a qualidade dos cuidados de Enfermagem. Paralelamente a evolução da profissão ocorreu a evolução no ensino, desde a integração no Ensino Superior Politécnico até à integração em Universidades, JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-12

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ao mesmo tempo foram criadas a licenciatura, as pós-licenciaturas de especialização, mestrados e programas de doutoramento. Esta evolução não possibilitou até aqui a uniformização de competências dos profissionais nem dos profissionais especializados, sendo a atribuição deste tipo de títulos administrativa (Ordem dos Enfermeiros, 2007). O Modelo de Desenvolvimento Profissional (MDP) parece responder, de certa forma, a esta questão e dar poder à OE para efetivamente regular a profissão garantindo a competência dos seus profissionais e a qualidade dos serviços prestados. Os enfermeiros, necessitam, de estar a par das linhas definidas pela entidade que os regulamenta, pelo que explorar o MDP cuja implementação se encontra em evolução e cujo impacto se tem procurado avaliar faz sentido, pois constitui a forma adequada de, profissionalmente, o enfermeiro se posicionar, discutir abertamente e oferecer opinião crítica. Para além disto, os enfermeiros, envolvem-se em atividades para manter e ampliar seus conhecimentos, habilidades e desempenho, e desenvolvem qualidades pessoais e profissionais necessárias para proporcionar segurança e eficácia nos serviços, com o intuito de melhorar a saúde da população (Allen, Palermo, Armstrong, & Hay, 2019), pelo que a implementação formal de um modelo enquadra e regula esta necessidade. Assim, neste documento pretende-se essencialmente aprofundar conhecimentos acerca do MDP, sendo objetivos do presente documento: apresentar o MDP português; enquadrar o contexto onde surge o MDP; explicitar a estrutura do modelo; analisar os benefícios e inconvenientes da implementação deste modelo e refletir acerca dos possíveis entraves à sua implementação e na necessidade de mudança de paradigma para este efeito. Assim, realizouse uma revisão bibliográfica nas publicações da OE, como entidade responsável pelo desenvolvimento do modelo, mas também em bases de dados com abrangência nacional e internacional (BVS e PubMed) relativamente a este modelo, ou outros cujos fundamentos e objetivos são semelhantes, através da combinação dos seguintes descritores: Models, Nursing, Clinical Competence, Professional Autonomy, Staff Development, Student Development, Nursing Staff e de termos naturais como Professional Development Model Nursing, Professional development, Nursing Professional Development. Com base nos documentos que emergiram desta pesquisa procurou-se estruturar este documento, inicialmente, através de uma contextualização mais abrangente que enquadra-se o modelo em análise, depois de forma simples e sucinta apresenta-se a estrutura do modelo, bem como o contexto idóneo onde este se deveria desenrolar, analisando o impacto da sua implementação para os diversos intervenientes, apesar da escassa evidência disponível, refletindo-se ainda, os princípios da gestão da mudança e em alguns apontamentos sobre o próprio modelo, os possíveis entraves à sua implementação, bem como naquilo que será necessário para que esta ocorra. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-12

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2. PERCURSO E ENQUADRAMENTO DA PROFISSÃO NAS ÚLTIMAS DÉCADAS Desde a publicação dos primeiros Estatutos da OE, no Estatuto da Ordem do Enfermeiros de 21 de abril 1998, era pretendida a defesa da qualidade dos cuidados de enfermagem e a regulamentação e controlo da profissão de enfermagem. Com a segunda alteração ao Estatuto da OE em 2015 a autorregulação profissional ganha enfoque próprio pois a OE tem “por fins regular e supervisionar o acesso à profissão de enfermeiro e o seu exercício, aprovar, nos termos da lei, as normas técnicas e deontológicas respetivas, zelar pelo cumprimento das normas legais e regulamentares da profissão e exercer o poder disciplinar sobre os seus membros” (Lei n.o156/2015 de 16 de setembro de 2015). A OE entendia que na regulação do acesso à profissão e ao título de enfermeiro especialista seria desejável existir uma análise de competência e capacidade, em vez de ser feita exclusivamente de uma forma académica (Conselho de Enfermagem, 2009b). O MDP, desenvolveu-se ao longo de alguns anos sob a tutela do Conselho de Enfermagem da OE. A lei n.º 111/2009 de 16 de setembro de 2009, altera o Estatuto da OE no seu artigo 7º, onde configura um novo Sistema de Certificação de Competências que contempla um período de Exercício Profissional Tutelado (EPT) para a atribuição do título de Enfermeiro, e a ponderação de um processo para a certificação de competências numa determinada área clínica, para a atribuição do título de Enfermeiro Especialista, que decorre em iguais contornos num período de prática tutelada, denominada por Desenvolvimento Profissional Tutelado (DPT), respetivamente nº 2 e nº 4 do art.º 7º da Lei n.º 111/2009 de 16 de setembro de 2009. Em 16 setembro de 2015 ocorreu nova alteração do estatuto da OE que veio pôr em causa todo este processo mantendo-se o acesso à carreira de enfermagem a ser feito através da licenciatura em enfermagem sendo retirado o EPT, porém mantém-se o DPT. Ou seja, os títulos são atribuídos por formação académica, e a OE não tem qualquer poder de regulação. A posição da OE é conhecida, conforme é afirmado, num esclarecimento acerca do MDP o “…Diploma Escolar ou Grau Académico e Título Profissional nunca foram, nem são a mesma coisa…”, “O diploma escolar atesta um grau, um nível de formação académico, a que corresponde também obviamente o desenvolvimento de competências profissionais”. Contudo, não atesta competências profissionais “porque não é do domínio de competência das instituições escolares fazê-lo”. Já o título profissional atesta competências profissionais para o exercício da profissão – uma autorização/condição para o exercício da enfermagem, que compete à OE. O quadro 1 traduz o MDP atual e o que se pretende futuramente (Conselho de Enfermagem, 2009b, p.3).

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Tabela 1 - MDP existente e proposto Situação em 2007

O que se pretende

Impossibilidade de regular eficazmente o

Regulação efetiva do acesso à profissão, com

acesso à profissão

promoção da vinculação aos cuidados de enfermagem

Impossibilidade de todos os enfermeiros

Garantia de acesso a um percurso de

acederem

desenvolvimento profissional no sentido da

a

especialização

um

percurso

reconhecido

política

de e

socialmente Um

modelo

especialização

clínica

para

todos

os

enfermeiros de

desenvolvimento

Um modelo centrado na prática profissional

profissional dependente da qualificação

com comprovadas e relevantes experiências

académica

clínicas, formativas e de investigação aplicada

Insuficiente envolvimento dos contextos de

Envolvimento dos contextos de cuidados e

cuidados nos percursos formativos pós- dos contextos educativos no processo de graduados de cada enfermeiro

desenvolvimento profissional

Modelo que dificulta a adaptação aos

Modelo assente num processo dinâmico de

crescentes e novos desafios da saúde,

incorporação dos desafios da saúde dos

com um fraco envolvimento e compromisso

cidadãos, das organizações e compromisso

da tutela

da tutela.

Fonte. Ordem dos Enfermeiros (2007, p. 7) O questionar da competência profissional dos enfermeiros não se restringe à realidade portuguesa, num estudo de impacto económico do MDP é reportada a carência de preparação sentida por parte dos enfermeiros recém-cursados bem como por alguns responsáveis hospitalares. Sendo referido que falta de experiência poderá influenciar negativamente os resultados em saúde reconhecendo-se avaliações de situações clínicas ou

mais

demoradas

inadequadas (Almeida, et al., 2015).

Neste documento, que aponta vários estudos internacionais, é notável a discrepância entre a ótica das escolas que acreditam formar enfermeiros bem preparados e os responsáveis das instituições hospitalares que não concordam com esta afirmação. Como consequência de uma orientação inapropriada é ainda apontada a ocorrência de elevado percentual de erros por parte dos enfermeiros recém-licenciados. Face a estes e outros problemas, bem como a recomendações emanadas por entidades como Joint Commission, as instituições americanas (ancoradas nos estudos de Benner, Sutphen, Leonard, & Day, 2009) instituíram programas de internato durante os quais os recémlicenciados podem obter conhecimentos e competências necessárias à prática de cuidados

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seguros e de qualidade. Também a Austrália, Canadá, Escócia e Irlanda possuem programas de transição (com cerca de um ano de duração) para desenvolver competências e facilitar a integração (Almeida, et al., 2015).

3. MODELO DE DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL EM ENFERMAGEM O MDP (Figura 1) assenta em dois pilares: a Certificação de Competências e o Sistema de Individualização de Especialidades (SIECE) (Regulamento no 167/2011, de 8 de março de 2011).

Figura 1. Modelo de Desenvolvimento profissional Fonte. Oliveira, et al., 2015; Regulamento no 167/2011, 2011

3.1. Certificação de competências A certificação de competências apresenta dois períodos distintos de Prática Tutelada de Enfermagem (PTE) os quais são: o EPT para a obtenção do título de Enfermeiro e o Desenvolvimento Profissional Tutelado (DTP) que visa a obtenção do título de Enfermeiro Especialista (Conselho de Enfermagem, 2010a). Estes dois períodos, distintos, acontecem num “Modelo de Supervisão Clínica” num contexto com Idoneidade Formativa Acreditada pela OE, que valida as competências e a sua respetiva certificação após o EPT ou o DTP, ou seja, existe um processo de supervisão (que inclui a existência de supervisores clínicos certificados pela OE), a acreditação dos contextos onde essa prática se realiza e a existência de uma estrutura responsável pelos aspetos executivos, deixando-se assim de atribuir o título profissional de uma forma meramente administrativa, como atualmente se verifica (Oliveira, JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-12

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2013, p.49). O EPT é designado como um “período de indução e de transição para a prática profissional suportando a gradual assunção da responsabilidade e intervenção autónoma, de forma segura para o profissional e para os clientes”, tem como objetivo “a transição dos licenciados a enfermeiros responsáveis por cuidados gerais” (Conselho de Enfermagem, 2010, p.9). O período de DTP está definido como um “período de socialização a um novo perfil de competências (especialista)” que, por sua vez, suporta também a gradual assunção de responsabilidades e intervenção autónoma evitando riscos tanto para os profissionais, como para a população alvo de cuidados (Oliveira, 2013; p.49). De acordo com a proposta da OE poderá ter a duração de até 36 meses dependendo da área de especialidade (Ordem dos Enfermeiros, 2013). A entrada dos enfermeiros num período de desempenho com supervisão não altera a sua qualidade de agente autónomo para os cuidados gerais, pois já desempenhavam essas funções assumindo a responsabilidade profissional pelas decisões e atos que pratica ou delega, no âmbito desses cuidados gerais. Já pelos atos que pratica com base na decisão do supervisor clínico apenas assume a responsabilidade pelo ato, enquanto o supervisor assume a responsabilidade pela decisão.

3.2. Sistema de Individualização de Especialidades O segundo pilar, o SIECE, permite individualizar diferentes especialidades de enfermagem tendo por base o eixo estruturante – alvo de intervenção e os dois eixos organizadores onde encontramos processos de saúde/doença e o ambiente que posteriormente se traduzem em áreas de especialização diferentes concretamente: “Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica”, “Saúde da Criança e do Jovem”, “Saúde do Adulto”, Saúde do Idoso”, “Saúde Mental”, “Pessoa em Situação Crítica”, “Pessoa em Situação Crónica e Paliativa”, “Reabilitação”, “Saúde Familiar “e “Saúde Pública” (Regulamento no 167/2011, 2011). O SIECE assenta em 9 critérios os quais são: Coerência, Especificidade, Eficácia, Pertinência, Integralidade, Exclusividade, Individualização, Sustentabilidade e Autonomia, e 16 elementos de validação, que constituem a matriz de reconhecimento das especialidades clínicas em Enfermagem (Conselho de Enfermagem, 2009a).

3.3. Idoneidade formativa dos Contextos de Prática Clínica Se até aqui o Enfermeiro, obtendo a Licenciatura em Enfermagem e do Curso de Especialização em Enfermagem, reúne um conjunto de documentos e os apresenta a OE que, por sua vez, emite a cédula profissional, com o MDP é proposto que frequente um período de

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exercício profissional tutelado, que obedece a parâmetros definidos pela OE e cujo local de prática clínica obedece igualmente a parâmetros de qualidade definidos também pela OE. Assim a determinação da “capacidade formativa”, de um contexto da prática de Enfermagem, depende da garantia prévia de dois processos da responsabilidade da OE (Conselho de Enfermagem, 2010a, p.12): •

Acreditação da Idoneidade Formativa dos Contextos de Prática Clínica

Certificação de Competências do Supervisor Clínico

Quando mencionado o termo Condições de Idoneidade Formativa dos contextos, referimonos a características que estes têm de ter e/ou devem ter, de forma a que neles se possam prestar cuidados de enfermagem de qualidade e, desta forma, socializar os profissionais em contextos adequados e numa cultura de prestação de cuidados e de desenvolvimento profissional condizente com os referenciais da profissão (Conselho de Enfermagem, 2010a). Assim é proposto um referencial para o reconhecimento de Idoneidade Formativa que inclua os requisitos/condições de idoneidade aplicáveis aos diferentes contextos de prestação de cuidados de enfermagem no Sistema Nacional de Saúde, organizado. Este organiza-se de forma a permitir diferentes utilizações de acordo com a natureza específica de cada contexto de prática clínica, da instituição em que está inserido e do propósito da creditação (Conselho de Enfermagem, 2010a). Para operacionalizar o referencial a OE propõe: “um Referencial de Reconhecimentos da Idoneidade Formativa dos Contextos de Prática Clínica” que se organiza em diferentes “Dimensões”, estas em diferentes “Critérios” e estes em diferentes “Indicadores” (Conselho de Enfermagem, 2010a, p.14). Partindo dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem são definidas as “Dimensões” a considerar no processo de acreditação da idoneidade formativa dos contextos de prática clínica de enfermagem, sendo estas (Conselho de Enfermagem, 2010a, p.17): 1.

Sistema de melhoria contínua da qualidade do exercício profissional dos enfermeiros

2.

Sistemas de informação em Enfermagem, organizados em torno da sistematização do

processo de tomada de decisão; 3.

Satisfação profissional dos enfermeiros;

4.

Dotações Seguras em Enfermagem;

5.

Política de formação contínua de enfermeiros;

6.

Metodologias de organização de cuidados de Enfermagem.

Dentro dos Critérios definidos para a Avaliação da Idoneidade Formativa dos Contextos de Prática Clínica está a existência de Supervisores Clínicos Certificados pela OE. Um dos determinantes para a qualidade da supervisão e da experiência de aprendizagem e desenvolvimento dos enfermeiros supervisionados, é a qualidade do desempenho dos JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-12

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supervisores. É defendida, por isso, a necessidade de selecionar e formar supervisores para o desempenho específico deste papel. Selecionar segundo determinados critérios e formar, segundo um determinado referencial, para um perfil de competência. Dentro dos critérios de seleção do supervisor deve ser valorizada também, a formação na área da andragogia, experiência na área da formação, funcionamento e gestão pelo modelo de projeto e produção científica nestas áreas (Conselho de Enfermagem, 2010b). O Supervisor terá de deter competências que decorrem do próprio domínio do “ser enfermeiro”, ou seja, que se enquadram no domínio de competência do Enfermeiro de Cuidados Gerais e competências que podemos enquadrar num domínio específico da Supervisão Clínica.

4. BENEFÍCIOS E INCONVENIENTES DA IMPLEMENTAÇÃO DESTE MODELO Pensar em benefícios ou inconvenientes, forças ou fraquezas do MDP que efetivamente ainda não foi implementado é algo baseado essencialmente em experiências de outros contextos e projeções escassamente fundamentadas por evidência científica de elevado nível. Apesar disto, podem ser tecidas algumas ilações quanto à implementação do modelo (na Figura 2 procuramos fazer uma análise SWOT ao modelo) embora não direcionadas ao contexto do enfermeiro especialista, pelas questões que estão por clarificar, nomeadamente a forma como é remunerado durante o período de DPT (Almeida, et al., 2015). Considerando os enfermeiros em início de atividade, a implementação deste modelo será benéfica no sentido em que promove a prática baseada na evidência, potencia o pensamento crítico capacitando-os para enfrentar mudanças teóricas e práticas, minimizando o stresse e angústia por vezes vivenciado, particularmente em situações mais complexas, ao mesmo tempo que os protege do potencial erro e que lhes possibilita desenvolver a sua prática num ambiente mais favorável e promotor da autoconfiança. Para além disto, num contexto de desemprego podem beneficiar deste modelo, ainda que aufiram uma remuneração inferior à do enfermeiro é vantajoso face à possibilidade de estar desempregado (Almeida, et al., 2015; Harper, Maloney, & Shinners, 2017). Paralelamente, para as organizações prestadoras de cuidados de saúde, o facto de terem serviços certificados e profissionais supervisionados por outros incrementa potencialmente a sua qualidade e a satisfação dos seus profissionais, o que implica a redução de custos (pela redução de eventos adversos e pelo aumento da produtividade de profissionais satisfeitos). A OE enquanto entidade reguladora também beneficia da implementação deste modelo pois consegue regular a actividade profissional de forma mais direcionada e uniforme (Almeida, et al., 2015).

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De forma mais macro, a sociedade e as pessoas a quem se direcionam os cuidados será favorecida por este modelo, pois os benefícios apontados terão impacto na redução no número de eventos adversos e na mortalidade (Almeida, et al., 2015). Os inconvenientes associados à implementação do MDP encontram-se associados a custos diretos ou indiretos. Os primeiros são imputados às organizações prestadoras de cuidados de saúde, ao estado e à OE, já os segundos essencialmente aos enfermeiros em EPT. As organizações prestadoras de cuidados de saúde têm custos (e expectativa de retorno do investimento) pois, por um lado, estão a desenvolver profissionalmente enfermeiros que à partida não são produtivos e que são remunerados (ainda que o valor da remuneração seja inferior à de um enfermeiro experiente e que os ganhos a longo prazo com a produção de um enfermeiro competente possam ser maiores), por outro, estão a ocupar os enfermeiros que os supervisionam dedicando tempo na supervisão, o que também não se traduz em produtividade para a instituição. Apesar disto, a evidência científica acerca do retorno no investimento das instituições ainda deve ser demonstrada de forma mais evidente (Oliveira, et al., 2015; Ackerson, & Stiles, 2018; Brunt, & Morris, 2019). Ao Estado são imputados custos associados ao tempo empregue pelos funcionários do Ministério da Saúde e do Ministério da Educação na Estrutura de Gestão do EPT. A OE apresenta custos associados à manutenção em atividade de uma Estrutura de Idoneidades, às equipas que visitam os contextos de prática clínica durante o processo de acreditação e às equipas responsáveis pela certificação dos supervisores clínicos (Oliveira, et al., 2015). Os enfermeiros em EPT face à possível centralização dos contextos de prática clínica, podem ter custos por se encontrarem deslocados das suas zonas habitacionais e podem ter ainda um input salarial menor ao que têm, na forma atualmente em vigor, em que iniciam a atividade logo após a licenciatura (Oliveira, et al., 2015). Olhando para todo o cenário da implementação do MDP pode esperar-se um impacto maioritariamente positivo com ganhos para os diversos intervenientes, salientando-se o beneficiador final: a sociedade. No entanto há que ressalvar a escassa evidência produzida, quer sobre este modelo, em particular, quer acerca de outros programas como os de internato (ou residência) de enfermeiros noutros contextos (Almeida, et al., 2015; Ackerson, & Stiles, 2018; Allen, Palermo, Armstrong, & Hay, 2019).

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Figura 2. Análise SWOT ao modelo de desenvolvimento de competências Fonte. Almeida, et al. (2015); Brunt e Morris (2019)

Face a esta discussão acerca do modelo e dos progressos já conseguidos na sua implementação, a questão que surge é então porque não foi ainda efetivamente implementado? Acerca deste assunto a literatura parece não fornecer uma resposta direcionada ou óbvia, no entanto ao mobilizarmos o pensamento critico e contextualizando para a disciplina da gestão, podemos mencionar alguns possíveis entraves à implementação do MDP. Assim, apesar de ser conhecida a necessidade constante de adaptação e mudança para estarmos profissionalmente à altura de um mercado cada vez mais exigente, bem como da necessidade de mudança para corrigir falhas do passado e conseguir aprendizagem e aprimoramento, também é evidente a dificuldade em implementar alterações e, de um modo geral, a dificuldade na mudança (Amorim, 2005; Lewis, 2019). Em termos organizacionais a enfâse e o papel central para a ocorrência da mudança são as pessoas, pois é delas que se espera a flexibilidade, a velocidade de adaptação, a agregação de valor em termos de qualidade e produtividade e a resposta quer pelo processo de aprendizagem, quer pelo grau de inovação. A importância da mudança prende-se com as possibilidades de crescimento, desenvolvimento, aumento dos recursos e, de modo geral, com o aproveitar um momento que, se negligenciado, pode ter consequências negativas. Os líderes que estão paralisados no processo de implementação de mudança, que não são capazes de agir de maneira eficiente e eficaz ao trazer uma ideia inovadora (apesar de não ser no modelo em análise uma ideia recente), para a prática, rapidamente podem ser incapazes de obter os seus benefícios (Amorim, 2005; Lewis, 2019).

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Assim alguns entraves apontados são o desemprego dos recém-licenciados que os induz a estabelecer-se por conta própria, ao exercício de funções temporárias em diferentes locais ou ao abandono do país. Como o período de EPT não é requerido noutros países, faz com que um enfermeiro licenciado em Portugal possa exercer enfermagem, desde logo, noutro país europeu, mas não em Portugal. Não obstante, o acesso ao ensino tutelado parece encontrarse limitado na medida em que há falta de supervisores e contextos certificados, ressalvando maior dificuldade no caso das especializações pois, tendencialmente existe um enfermeiro especialista por serviço e são exigidos dois supervisores por contexto. Para além disto, é também apontada a recusa, por parte de alguns enfermeiros, no acréscimo de autonomia e responsabilidade inerente à progressão para enfermeiro especialista, aliada à controvérsia da opção por um exame de seriação e não seleção (Almeida, et al., 2015). Para a implementação deste modelo e para a mudança do atual paradigma será exigido aos serviços de saúde a acreditação de contextos de idoneidade formativa\certificação de supervisores clínicos, o que implicará (Oliveira, 2013): •

A existência de verbas para esta mudança nos serviços do Sistema Nacional de

Saúde; •

A mudança de mentalidades, pois esta mudança pressupõe exigências de melhoria

continua da qualidade dos cuidados de saúde prestados à população, em benefício de cuidados mais seguros e eficazes; •

Um trabalho de cada profissional e do grupo profissional, de envolvimento em práticas

de melhoria continua; •

Que os grupos profissionais de saúde e o contexto político da atualidade consigam

perceber o MDP como algo muito positivo para o desenvolvimento e reconhecimento da profissão e dos enfermeiros, com ganhos evidentes em melhores cuidados de saúde para a população.

5. CONCLUSÃO Nas últimas décadas assistimos à evolução da profissão de Enfermagem paralelamente à evolução no ensino. Em Portugal a criação da OE foi determinante neste processo. Não obstante, este desenvolvimento não contemplou a uniformização de competências e, por isso, a OE, como órgão regulador, defende maior concretização na prática de Enfermagem desta mesma regulação através do MDP. Neste sentido, propõe-se que a atribuição meramente administrativa de graus académicos em Enfermagem passe a obedecer primeiramente a um período de exercício profissional tutelado em contextos da prática clínica também eles certificados pela OE.

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No modelo atual o enfermeiro solicita à OE a sua inscrição para a atribuição dos títulos respetivos e, neste procedimento a OE, enquanto entidade reguladora do exercício profissional de Enfermagem, limita-se a aceitar as diferentes formações académicas sem qualquer poder de controlo e validação, agindo apenas nas situações de conhecimento de más práticas ou em situações disciplinares. Com o MDP a OE passa a garantir à sociedade que possuí todas as competências para a exercício das funções a ela inerentes. Segundo o MDP original a certificação de competências do enfermeiro apresenta dois processos de PTE: o EPT e o DPT. No entanto, a par do percurso e enquadramento da profissão de Enfermagem, destaca-se um marco importante que colocou em causa todo o modelo: procedeu-se à alteração do Estatuto da OE mantendo-se a obtenção do título de Enfermeiro Licenciado como procedimento administrativo, ou seja, retirou-se o EPT. É importante mencionar também que o MDP veio fundamentar um sistema de Individualização de Especialidades em Enfermagem, dando origem ao surgimento de dez áreas de especialização. Com este modelo as Unidades de Saúde adquirem ou não “capacidade formativa” assentes no alcance da acreditação da Idoneidade Formativa e na certificação de competências de Supervisores Clínicos. Como seria de esperar, este novo paradigma em Enfermagem apresenta inconvenientes bem como benefícios, sendo salientados aspetos positivos para os diversos intervenientes: enfermeiros, instituições e sociedade. De um modo geral, a mudança baseada neste modelo vem operacionalizar maior regulamentação da prática clínica pelo respetivo órgão regulador da profissão, a OE, concretizando um maior controlo e conhecimento dos contextos nos quais todos os atos de enfermagem se desenvolvem, permitindo que a OE assegure efectivamente à sociedade maior segurança e qualidade dos cuidados de Enfermagem. Para que o processo de implementação do MDP seja concluído recomenda-se um maior envolvimento de todos os intervenientes e, sendo as pessoas os maiores promotores da mudança, há que realmente informar e formar acerca do MDP de forma a capacitá-los para intervirem de forma crítica, aspirando uma melhoria da qualidade dos serviços oferecidos à população e assim um maior reconhecimento da classe. Como já foi mencionado não há forte evidência científica publicada acerca deste assunto e os estudos de ganhos efetivos serão posteriores à implementação do MDP, assim foi desafiante encontrar referências pertinentes e atuais acerca do tema, sendo que vários documentos publicados, coincidem com o início da ideia da implementação deste modelo, remontado alguns a 2009.

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Glenda A. et al (2020), Theory of meaningful learning as a proposal for university extension: experience of nursing students, Journal of Aging & ARTIGO ORIGINAL: Glenda A. et al (2020)Innovation, , Theory of9meaningful learning as a proposal for university (2): 167- 179 extension: experience of nursing students, Journal of Aging & Innovation, 9(1): 167- 179

 Artigo Original

Teoria da aprendizagem significativa como proposta para extensão universitária: experiência de estudantes de enfermagem

Theory of meaningful learning as a proposal for university extension: experience of nursing students Teoría del aprendizaje significativo como propuesta de extensión universitaria: experiencia de estudiantes de enfermería Glenda Agra1; Ana Cláudia Queiroz2; Andrielly Cavalcante Fonseca3; Layla Caroline Lino da Silva4; Letícia Lima Kaspar Deininger5; Roberta Gomes Brandão6 1

RN, CNS, MsC Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande/UFCG, campus Cuité; 2,3,4,5,6 RN student Corresponding author: g.agra@yahoo.com.br Resumo

Objetivo: Relatar a experiência de estudantes do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande, campus Cuité – PB vinculados ao projeto “Educar para Paliar: curso de capacitação em cuidados paliativos”. Método: Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência, referente à vivência de estudantes voluntárias do Curso de Bacharelado em Enfermagem em um projeto de extensão – modalidade curso - vinculado ao edital de Fluxo Contínuo de Extensão – FLUEX desenvolvido entre os meses de agosto a outubro de 2019. Resultados e Discussão: Para a realização do curso de aperfeiçoamento e o alcance de seus objetivos, se fez necessário seguir três fases, descritas a seguir: 1ª fase: Capacitação da Equipe de Trabalho; 2ª fase: Inscrições para o curso de capacitação e 3ª fase: Intervenção educativa. As etapas do curso seguiram o modelo proposto por estudioso da Teoria da Aprendizagem Significativa. Conclusão: A Teoria da Aprendizagem Significativa se apresentou como subsídio para um método de extensão transformador que busca, por meio da valorização dos conceitos prévios do estudante e da construção de mapas conceituais, a formação crítica e pró-ativa almejada para as estudantes e futuras enfermeiras Palavras-chave: Enfermagem; Educação em enfermagem; Aprendizagem; Educação.

Abstract Objective: To report the experience of students of the Bachelor of Nursing Course at the Federal University of Campina Grande, campus Cuité - PB linked to the project “Educating to Palliative: training course in palliative care”. Method: This is an experience report study, referring to the experience of volunteer students from the Nursing Bachelor Course in an extension project - course modality - linked to the Continuous Flow Extension Call - FLUEX developed between the months of August to October 2019. Results and Discussion: For the completion of the improvement course and the achievement of its objectives, it was necessary to follow three phases, described below: 1st phase: Training of the Work Team; 2nd phase: Registration for the training course and 3rd phase: Educational intervention. The stages of the course followed the model proposed by a scholar of the Theory of Meaningful Learning. Conclusion: The Theory of Meaningful Learning presented itself as a subsidy for a transformative extension JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-13

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ARTIGO ORIGINAL: Glenda A. et al (2020) , Theory of meaningful learning as a proposal for university extension: experience of nursing students, Journal of Aging & Innovation, 9(1): 167- 179 method that seeks, through the valorization of the previous concepts of the student and the construction of conceptual maps, the critical and proactive training desired for students and future nurses. COPD.

Keywords: Nursing; Nursing education; Learning; Education

1. INTRODUÇÃO De forma geral, a educação em saúde envolve aspectos críticos e transformadores para que o ser humano se qualifique e se visualize como parte de um grupo sócio-historicamente situado e inserido em um ambiente que é influenciado por uma ação, bem como a influencia, tendo por objetivo a adoção de hábitos de cuidado da saúde individual, da higiene do ambiente e da relação sócia (Barroso; Vieira & Varela, 2003). Portanto, a educação em saúde se expressa como a linha mais tênue entre o agir ético, humanístico, técnico e sistêmico, em que a pessoa desenvolve sua capacidade de compreensão da complexidade dos determinantes do ser saudável, sobretudo, os que dependem dos cuidados de outras pessoas (por exemplo, familiares, profissionais da prática do cuidado dentre outros) (Depraz, 2005; Gonçalo, 2008; Rios, 2009). Nesse contexto de transformação, com o desafio de envolver profissionais preparados para atuar na atenção à saúde, em todos os níveis de atenção, foram criadas, em 2003, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde por meio da Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) nº 335 de 27 de novembro de 2003, que aprovou a ‘Política Nacional de Formação e Desenvolvimento para o Sistema Único de Saúde: Caminhos para Educação Permanente em Saúde’ e a estratégia de ‘Polos ou Rodas de Educação Permanente em Saúde’(Brasil, 2003). Em 2018, foi criada a Resolução nº 41 de 31 de outubro de 2018, que dispõe sobre as diretrizes para a organização dos cuidados paliativos, à luz dos cuidados continuados integrados, no âmbito do Sistema Único de Saúde, que no seu artigo 3, objetiva fomentar a instituição de disciplinas e conteúdos programáticos de cuidados paliativos no ensino de graduação e especialização dos profissionais de saúde; ofertar educação permanente em cuidados paliativos para os trabalhadores da saúde no Sistema Único de Saúde (SUS) e promover a disseminação de informação sobre os cuidados paliativos na sociedade dentre outros (Brasil, 2018). Essas políticas seguem os pressupostos pedagógicos apresentados pela Organização PanAmérica de Saúde (OPAS)/OMS e têm o objetivo de transformar as práticas profissionais de saúde, por meio de ações educativas que considerem as especificidades e necessidades dos profissionais envolvidos como elementos essenciais e significativos para os mesmos, para

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que, a partir da aprendizagem significativa, tais profissionais possam propor e reorganizar as práticas, com vistas a mudanças no processo de trabalho (Brasil, 2009; Brasil, 2012). A Teoria de Ausubel refere-se a um processo de ensino e aprendizagem que contempla um papel mais ativo do aprendiz, que precisa ter disposição para aprender e se confronta com modelos tradicionais de educação, que, geralmente, têm caráter higienista, imperativo e de transmissão vertical de conhecimentos. Na Teoria de Ausubel (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel, Novak & Hanesian, 1980), a aprendizagem é mais significativa quando um novo conteúdo é agregado às estruturas do conhecimento do aprendiz, oferecendo-lhe um significado, baseado em seu conhecimento anterior. Para Ausubel, o ato de aprender é mais eficaz nas ocasiões em que o estudante consegue agregar aos conceitos anteriores novos conteúdos, evitando que sejam absorvidos de modo mecânico (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel, Novak & Hanesian, 1980). Para haver aprendizagem significativa são necessárias três condições: 1 – intenção do aprendiz para aprender; 2 – disponibilidade de elementos relevantes na estrutura cognitiva do aprendiz; e 3 – que o material a ser aprendido seja potencialmente significativo (Ausubel, Novak & Hanesian, 1980). É com base na teoria cognitivo-construtivista de Ausubel que se desenvolveu uma capacitação para profissionais de saúde vinculados à Secretaria Municipal de Saúde de Cuité - PB, utilizando metodologias ativas e colocando esses atores sociais como seres ativos e participantes no seu processo de aprendizagem. Portanto, este estudo teve como objetivo relatar a experiência de estudantes do Curso de Bacharelado em Enfermagem da Universidade Federal de Campina Grande, campus Cuité – PB vinculados ao projeto “Educar para Paliar: curso de capacitação em cuidados paliativos”

2. MÉTODO Trata-se de um estudo do tipo relato de experiência, referente à vivência de estudantes voluntárias do Curso de Bacharelado em Enfermagem, vinculadas ao projeto “Educar para paliar: curso de aperfeiçoamento em cuidados paliativos”. Este projeto foi vinculado ao Edital Propex nº 03/2019 – Fluxo Contínuo de Extensão – FLUEX. A modalidade escolhida foi curso, definido como ação pedagógica de caráter teórico e/ou prático, presencial, planejada e organizada de modo sistemático, com carga horária mínima de 15 horas e critérios de avaliação definidos; a linha de extensão foi educação de qualidade, caracterizada por projetos que viabilizem estratégias em todos os níveis educacionais, desde a primeira infância até a vida adulta, com vistas a contribuir para a garantia de que a educação

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seja viável para todas e todos, sem discriminação de gênero e a temática escolhida para as ações extensionistas e educativas foram os cuidados paliativos.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a aprovação do projeto “Educar para Paliar: curso de capacitação em cuidados paliativos”, houve um processo de seleção dos estudantes voluntários para participarem da proposta. Foram selecionadas cinco estudantes do Curso de Bacharelado em Enfermagem, que já tinham cursado a disciplina Cuidados Paliativos e Enfermagem. O desenvolvimento do curso partiu de todo um planejamento teórico e metodológico, norteado por um cronograma de atividades que foi elaborado previamente pela coordenadora do projeto. As atividades a serem cumpridas incluíram desde a capacitação prévia das estudantes, pela necessidade de competências e habilidades adequadas ao tema em estudo, bem como a importância da formação de conceitos em suas estruturas cognitivas, a partir da seleção, leitura, análise e discussão de artigos científicos sobre a temática, até a participação como facilitadores do curso de capacitação destinado aos profissionais de saúde vinculados à Secretaria Municipal de Saúde de Cuité – PB. Para a realização do curso de aperfeiçoamento e o alcance de seus objetivos, se fez necessário seguir três fases, descritas a seguir:

1ª FASE: Capacitação da Equipe de Trabalho A equipe desenvolveu estudos teóricos sobre os assuntos que foram abordados no curso, bem como preparou as aulas e material instrucional específico de cada aula (que foi entregue aos profissionais antes de cada aula) e selecionou as metodologias ativas que foram utilizadas no curso de aperfeiçoamento. A coordenadora do projeto explicou à equipe de trabalho sobre a abordagem teóricometodológica que norteou o curso de aperfeiçoamento. Os encontros com a equipe de trabalho foram realizados nas segundas-feiras dos meses de agosto e setembro de 2019, no turno da noite, das 19h às 22h. Os encontros com a equipe de trabalho foram realizados em uma sala de aula do Centro de Educação e Saúde para a explanação do conteúdo.

2ª FASE: Inscrições para o curso de capacitação Para as inscrições do curso, a equipe realizou divulgação física nos serviços de saúde e por redes sociais com informações específicas sobre o curso, tais como: público-alvo, número de vagas, período de inscrição, pré-requisitos, documentos exigidos e data de divulgação dos inscritos, bem como as datas, o local e o horário do curso de capacitação. As inscrições foram

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realizadas por meio de uma ficha de inscrição enviada por um endereço eletrônico divulgado tanto fisicamente como por redes sociais. Inscreveram-se para o curso 30 profissionais da área de saúde, contudo, somente 19 estiveram presentes durante o curso de capacitação. O curso foi realizado em algum local pré-determinado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS); os dias pré-selecionados foram às segundas-feiras, no turno da noite, das 18h às 22h (parceria previamente firmada entre a Coordenadora do projeto e a SMS Cuité – PB) dos meses de setembro e outubro de 2019. O curso de aperfeiçoamento teve carga horária total de 20h e foi ministrado pelas estudantes do Curso de Bacharelado em Enfermagem e mediado pela Coordenadora do projeto. 3ª FASE – Intervenção educativa As etapas do curso seguiram o modelo proposto por Moreira (2011), desenvolvido a partir das orientações e dos requisitos básicos propostos por Ausubel (Novak & Gowin, 1984; Ausubel, 2000; Moreira & Masini, 2008), que concebe a teoria da Aprendizagem Significativa como Cognitivista, ou seja, que descreve o que sucede quando o aprendiz organiza e atribui significados à realidade em que se encontra (significados em constante transformação) e como Construtivista, isto é, interpreta a aquisição do conhecimento na asserção de que ver, ouvir, cheirar, apalpar, compreender, elaborar, relacionar, transformar e lembrar, que são atos de construção do aprendiz (Masini, 2011). As etapas do curso seguiram o modelo proposto por Moreira (2011) e estão descritas no mapa conceitual a seguir:

Figura 1 – Mapa conceitual: modelo esquemático da intervenção educativa Fonte: Dados do projeto, 2019

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1ª Etapa – Apresentação do tema a ser abordado durante o curso No primeiro encontro, foram entregues pastas que continham o material instrucional preparado pela equipe, bloco de papel e caneta. A coordenadora explicou aos profissionais de saúde os objetivos e o processo de intervenção educativa e criou momentos introdutórios (dinâmicas, discussão, construção de mapas conceituais, trechos de filmes e vídeos educativos) de aprendizagem, que permitiram o acesso da equipe aos conhecimentos prévios dos profissionais. Nesse sentido, para o primeiro encontro, elegeu-se uma dinâmica específica, em que, em um primeiro momento, os profissionais foram convidados a se levantar, darem as mãos e, com isso, formar um círculo. Cada um se apresentou e verbalizou suas expectativas em relação ao primeiro encontro e ao curso. Baseando-se nos pressupostos da Teoria da Aprendizagem Significativa, a equipe propôs a realização de dinâmicas de grupos com os profissionais, em cada encontro, uma vez que a dinâmica de grupo constitui um valioso instrumento educacional que pode ser utilizado para trabalhar o ensino-aprendizagem quando se opta por uma concepção de educação que valoriza tanto a teoria quanto a prática e considera todos os envolvidos neste processo como sujeitos (Perpétuo & González, 2005). Dando prosseguimento, apresentou-se o conteúdo disposto a seguir, que seria abordado durante o curso e que foi elaborado pela equipe, baseado em artigos científicos sobre cuidados paliativos, a saber: Conceitos, fundamentos e princípios dos Cuidados Paliativos; Avaliação do paciente em Cuidados Paliativos; Diagnóstico e abordagem do sofrimento humano; Indicações de Cuidados Paliativos; Aspectos éticos dos Cuidados Paliativos e Comunicação em Cuidados Paliativos. Em consonância com a Teoria da Aprendizagem Significativa, procurou-se respeitar, no mínimo, duas condições: 1) a natureza do conteúdo a ser aprendido deve ter significado lógico, ou seja, a abordagem pedagógica do conteúdo partiu de conceitos mais simples até os mais complexos, estabelecendo relações entre eles de forma não arbitrária e substantiva às existentes na estrutura cognitiva; e 2) a natureza da estrutura cognitiva do aprendiz, que deve apresentar uma relação não arbitrária e substantiva entre o novo conhecimento e o já existente (Moreira, 2016). Para o desenvolvimento dos conteúdos em sala de aula, as estratégias de ensino selecionadas visavam à participação dos profissionais de saúde como sujeitos ativos do processo de ensinar e aprender, com a finalidade de facilitar a construção e reconstrução do conhecimento.

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2ª Etapa – Verificação do conhecimento prévio dos profissionais de saúde Para verificação do conhecimento prévio do saber, é necessário criar ou propor situaçõesproblema por meio de discussão, questionário, mapa conceitual, mapa mental, que levem o aprendiz a externalizar seu conhecimento prévio, aceito ou não aceito no contexto da matéria de ensino, supostamente relevante para a aprendizagem significativa do tema abordado (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). Nessa etapa, em cada encontro, os profissionais foram convidados a refletir individualmente e escrever no bloco de papel os conceitos gerais do tema abordado em cada aula (por exemplo, a definição de cuidados paliativos), e depois, abriu-se a discussão para o grupo. A discussão em grupo resgatou os conhecimentos prévios e as experiências dos profissionais de saúde como ponto de partida, uma vez que apresentaram a compressão e os significados internalizados sobre o tema. Ao socializar o conhecimento, o aprendiz amplia, assimila e organiza os conhecimentos prévios e novos em sua estrutura cognitiva, atribuindo significado ao que está sendo ensinado e aprendido (Moreira, 2016). 3ª Etapa – Utilização de organizadores prévios para os profissionais de saúde A partir do conhecimento prévio do aprendiz, identificado na etapa anterior, propôs-se a situação-problema para preparar o aprendiz para a introdução do conhecimento, que funciona como organizador prévio e dá sentido aos novos conhecimentos, mas, para isso, o aprendiz deve percebê-la como problema e deve ser capaz de modelá-la mentalmente. A situaçãoproblema inicial pode ser proposta por meio de simulações, demonstrações, vídeos, problemas do cotidiano, representações vinculadas à mídia, mas sempre se modo acessível e problemático (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). Assim, apresentaram-se trechos de filmes relacionados ao tema abordado de cada encontro ou vídeos educativos (por exemplo, o primeiro vídeo educativo apresentado foi o que explica sobre os direitos dos pacientes em processo de terminalidade, disponível no YouTube) (Santos, 2019). Depois, os profissionais foram convidados a refletir, individualmente, sobre o assunto específico abordado no encontro e em seguida, construir um mapa conceitual sobre o tema. Conforme a teoria da aprendizagem significativa, nesse momento, deve-se provocar conflitos cognitivos nos aprendizes que os levem a empreender uma busca pessoal para a resolução de problemas. Os profissionais foram estimulados a discutir em grupo. A discussão dos profissionais possibilitou a negociação de conceitos e significados sobre o tema, a ressignificação de saberes e a possibilidade, de mais uma vez, a troca de experiências com os colegas, o que ampliou mais ainda a estrutura cognitiva deles. JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-13

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4ª Etapa – Apresentação do conhecimento a ser ensinado/aprendido Nesta etapa, considerou-se o princípio da diferenciação progressiva, no qual as ideias e os conceitos mais gerais e mais específicos do assunto devem ser apresentados no início para, progressivamente, serem diferenciados. A estratégia de ensino pode ser uma exposição oral seguida de atividade colaborativa em pequenos grupos, que, por sua vez, deve ser seguida de atividade de apresentação ou discussão em grande grupo (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). Assim, em todos os encontros, os conteúdos foram ministrados, por meio de apresentação expositiva-dialogada, com a utilização de mapas conceituais projetados por recursos multimídia. A apresentação expositiva-dialogada, segundo a teoria ausubeliana, é aquela em que se recebe a informação pronta e o trabalho do aprendiz consiste em atuar ativamente sobre esse material, a fim de relacioná-lo a ideias relevantes disponíveis em sua estrutura cognitiva (Moreira, 2016). Nessa direção, os mapas conceituais foram empregados como recurso instrucional à facilitação da aprendizagem, uma vez que podem ser utilizados para o processo de planejamento bem como avaliativo. Mapas conceituais são representações gráficas que relacionam palavras e conceitos, desde os mais abrangentes até os menos inclusivos, e são usados para facilitar, ordenar e dar uma sequência organizada dos conteúdos a serem estudados, para estimular a aprendizagem de modo adequado. 5ª Etapa – Continuação da apresentação do conhecimento Em continuidade, esta etapa deve retomar os aspectos mais gerais, estruturantes do conteúdo da unidade de ensino, em nova apresentação, porém em nível mais alto de complexidade em relação à primeira apresentação. As situações devem ser propostas em níveis crescentes de complexidade; dar novos exemplos, destacar semelhanças e diferenças relativamente às situações, ou seja, promover a reconciliação integrativa. Após esta apresentação, propor alguma atividade colaborativa que leve os aprendizes a interagir socialmente, negociando significados, tendo o professor como mediador (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). Esta atividade pode ser a resolução de problemas. Nesta etapa, o conhecimento foi desenvolvido com a exposição dialogada e um exercício teórico-prático usando uma dinâmica de grupo. O exercício teve o objetivo de estimular o processo cognitivo de reconciliação integrativa: a equipe fez placas escritas com palavras-chave que envolviam os seguintes temas: avaliação do paciente em Cuidados Paliativos; diagnóstico e abordagem do sofrimento humano e JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-13

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indicações de Cuidados Paliativos. Solicitou-se a presença de um profissional para iniciar a dinâmica; o profissional tinha que descobrir a palavra-chave escrita na placa (exposta por uma das estudantes, sem que o profissional visualizasse), mediante a ajuda dos colegas, que deveriam, por sua vez, dar dicas até que o mesmo adivinhasse a palavra-chave. Alguns profissionais erraram a palavra-chave sorteada, contudo, foi dada mais uma oportunidade para que pudessem avaliar os conceitos verbalizados pelos colegas e tentassem adivinhar qual seria o termo. Todos acertaram a palavra-chave depois da segunda chance. Sobre esse aspecto, Moreira (2011) destaca que durante o processo de avaliação da aprendizagem significativa deve-se incentivar a busca de evidências, pois essa aprendizagem não é linear e sim progressiva (está em constante modificação e reestruturação, bem como aprende-se corrigindo-se os erros), que ocorre na zona cinza da estrutura cognitiva, onde o processo de aprendizagem mecânica é o continuum da aprendizagem significativa. A zona cinza é onde ocorre o erro, que deve ser aproveitado, ao invés de ser punido. Por esse motivo, deve-se considerar o erro como parte integrante do processo de aprendizagem e a sua superação como uma evolução no conhecimento de determinado conteúdo (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). 6ª Etapa – Conclusão da unidade A conclusão da unidade relaciona-se ao seguimento ao processo de diferenciação progressiva retomando as características mais relevantes do conteúdo em questão, porém numa perspectiva integradora, ou seja, buscando a reconciliação integrativa. Novas situações-problema devem ser propostas e trabalhadas em níveis mais altos de complexidade em relação às anteriores e devem ser resolvidas em atividades colaborativas e depois apresentadas e/ou discutidas em grande grupo, sempre com a mediação do docente (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). Nesse momento, foi realizada a dinâmica da Tenda do Conto, caracterizada dentro da concepção teórica das metodologias participativas, como uma prática integrativa do cuidado em saúde e de intervenção psicossocial, cuja dinâmica de narrar-se uma história, se dá de acordo com a configuração do processo grupal. A concepção metodológica da Tenda do Conto parte do incentivo à autonomia desde o primeiro momento em que se faz o convite ao participante, solicitando-lhe que escolha entre seus pertences um objeto que lhe afete ou que lhe remeta a um fato ou a uma história relacionada à experiência de vida e, caso não o encontre, pode ir de mãos abertas para pegar um dos objetos que esteja à exposição na tenda e a partir dele fazer seu conto (Silva et al, 2014). JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-13

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Essa dinâmica foi realizada com objetos que remetiam à temática dos cuidados paliativos (fotos de família, relógios, caixa de medicamentos, bíblia, crucifixo, perfume etc), escolhidos previamente pela equipe. Os objetos foram dispostos sobre uma mesa, os profissionais se posicionaram em círculo e uma cadeira que simboliza o púlpito dos contadores de história. Os profissionais, um a um, escolhiam um objeto e falavam sobre ele, associando uma experiência (profissional ou pessoal) prévia em cuidados paliativos. A estratégia de narrar o vivido abre possibilidades de reencantamento e ressignificação das experiências de vida que ganham potência em direção a construção de desfechos menos sofridos à medida que essas experiências são compartilhadas (Gadelha, 2015). O objetivo dessa dinâmica é promover o autoconhecimento, buscando uma identidade enquanto grupo e o amadurecimento emocional de cada profissional, no sentido de modificar os olhares dentro do processo educacional, aprendendo a observar e escutar as histórias de vida. Observou-se que o diálogo aproximou os profissionais enquanto grupo ao conhecer as histórias de vida de cada e revelou que a sabedoria popular associada ao conhecimento científico, tornou-se uma prática terapêutica através da narrativa. 7ª Etapa – Reavaliação do conhecimento Nesse momento foi estimulada uma reflexão sobre a percepção dos profissionais de saúde sobre o curso do ponto de vista da autoavaliação, a partir do que foi aprendido. Sabe-se que, quando a aprendizagem é significativa, a experiência do conhecimento é agradável porque faz sentido para a atividade desenvolvida e tem retenção significativa em relação à memorização (Moreira & Masini, 2008; Ausubel, 2000; Novak & Gowin, 1984; Ausubel; Novak & Hanesian, 1980; Moreira, 2016). 8ª Etapa – Encerramento do curso Neste momento, foi estimulada a fala dos profissionais de saúde quanto aos aspectos positivos e negativos da intervenção, houve sorteios de brindes e serviu-se um lanche como forma de confraternização. Os certificados foram enviados para o endereço eletrônico de cada profissional de saúde.

4. CONCLUSÃO Com a realização da intervenção educativa acerca dos cuidados paliativos norteada pela Teoria da Aprendizagem Significativa voltada para os profissionais de saúde, as estudantes tiveram a oportunidade de refletir sobre o processo ensino-aprendizagem com bases direcionadas para o aprendiz como sujeito em formação, que participa de maneira ativa na construção de sua formação. As atividades de extensão contribuem para aproximar a teoria da realidade e favorecem o desenvolvimento do senso crítico do aprendiz, quando se exige do estudante a capacidade JOURNAL OF AGING AND INNOVATION, AGOSTO, 2020, 9 (2)  ISSN: 2182-696X  http://journalofagingandinnovation.org/ DOI: 10.36957/jai.2182-696X.v9i2-13

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de refletir acerca das relações entre a teoria e a prática, assim como as situações adversas podem surgir. A intervenção educativa foi um momento que possibilitou aos profissionais de saúde construírem e reconstruírem os saberes relativos aos cuidados paliativos como direito da pessoa que sofre de uma doença ameaçadora de vida e como uma modalidade terapêutica que melhora a qualidade de vida, por meio do alívio do sofrimento, e promove dignidade humana no processo de finitude. Também oportunizou aos profissionais de saúde resgatarem memórias afetivas negativas e/ou positivas trabalhadas conscientemente durante o processo de ensino-aprendizagem e, que, posteriormente foram manifestadas como sentimentos de superação, crescimento pessoal, de gratidão, bem como o agir com ética, empatia, compaixão em relação à pessoa em cuidados paliativos. Dessa forma, a Teoria da Aprendizagem Significativa se apresentou como subsídio para um método de extensão transformador que busca, por meio da valorização dos conceitos prévios do estudante, a formação crítica e pró-ativa almejada para as estudantes e futuras enfermeiras.

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