VOLUME 2 . EDIÇÃO 3
EDITORIAL
JULHO, 2013
O Journal of Aging and Innovation é a revista de divulgação de artigos científicos da Associação Amigos da Grande Idade - Inovação e Desenvolvimento e foi indexada na Latindex em
Em tempos Nacional conturbados, este é um
Maio de 2013.
exemplo de grande empenho e desenvolvimento
Esta revista é uma criação da Associação com
que esta associação sem apoios, ou patrocínios
um ano e meio de vida, sendo já considerada
conseguiu tornar uma realidade e que agora
uma referência nacional e internacional para a
obtém mais um reconhecimento Internacional do
investigação na área social e de saúde.
seu trabalho.
Através desta indexação é possível a divulgação
Ao invés do Povo desgraçado e sem objetivos
técnica, profissional, científica e cultural que são
que fazemos transparecer atualmente, levamos
publicados nos países da América Latina, Caribe,
nos séculos XV a XVII a civilização à maior
Espanha e Portugal. A Latindex surgiu em 1995
parte do mundo, nos dias de hoje levamos ideias
na Universidade Nacional Autónoma do México
e conhecimento Cientifico aos 4 cantos do
(UNAM) e tornou-se uma rede de cooperação
Mundo sobre o envelhecimento.
regional desde 1997 e conta com 6938 revistas
Fica o nosso desafio, PUBLIQUE NA NOSSA
científicas.
REVISTA:
Agora a nossa revista foi reconhecida e segundo esta organização internacional cumpre 100% dos
http://www.associacaoamigosdagrandeidade.com/revista/ submeter-manuscrito/
critérios de qualidade. Depois de Indexada na Biblioteca nacional, no Google Académico, agora a Latindex, vem reconhecer a qualidade
Diretor do Journal of Aging and innovation,
das centenas de pessoas, que contribuem para
César Fonseca
este projeto de sucesso em Portugal. Nos primeiros 3 meses após esta indexação tivemos cerca de 22.000 visualizações em especial nos países d América latina.
Fernandes, R., et al. (2013) Quality of life in Oncology. Journal of Aging & Inovation, 2 (3): 03-15
REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW
JULHO, 2013
QUALIDADE DE VIDA EM ONCOLOGIA QUALITY OF LIFE IN ONCOLOGY CALIDAD DE VIDA EN ONCOLOGÍA
Autores
Rui Fernandes1, Carla Fernandes2, Sandra Costa3, Eduardo Pinheiro4, Filipa Aguiar5 1
Licenciado em Enfermagem, Especialista em Enfermagem de Reabilitação, Mestre em Ciências da
Dor, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Unidade de Infecciologia Respiratória, 2 Licenciada em Ciências Farmacêuticas, Clínica de Santo António – Amadora,3 Licenciada em Enfermagem, Especialista em Enfermagem de Reabilitação, Hospital Beatriz Ângelo, Serviço de Urgência Pediátrica,4 Licenciado em Enfermagem, Especialista em Saúde Infantil e Pediátrica, Hospital Beatriz Ângelo, Serviço de Pediatria. 5 Licenciada
em Enfermagem, Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica, Centro Hospitalar Lisboa Norte,
Unidade de Oncologia Pneumológica. Corresponding Author: ruidpf1@gmail.com RESUMO O propósito do artigo é, através de pesquisa bibliográfica e análise reflexiva, abordar a importância, o impacto e levantamento de estratégias adequadas no cuidado ao doente e família com dor crónica oncológica tendo como foco a qualidade de vida (QdV). Centramos atenção na evolução histórica do conceito de qualidade de vida e a importância actual na definição do tratamento adequado à pessoa e família; na contextualização da noção de QdV num indivíduo saudável, QdV na pessoa com doença oncológica e qualidade de vida relacionada com a saúde (QdVRS). Seus campos de implicação e abrangência; ética clínica e QdV; instrumentos de medição da QdV e sua importância na prática do cuidar. Relevamos que na prestação de cuidados de saúde, a QdVRS é cada vez mais aceite como um objectivo principal. Numa fase mais avançada da doença o enfoque dirige-se da cura para a paliação, sendo o objectivo maior, o incremento do bem-estar com melhoria ou preservação da QdV. A QdV só pode ser medida e descrita em termos individuais, dependendo do estilo de vida actual, das experiências passadas e em esperanças, sonhos e ambições. Palavras-chave: Oncologia, Qualidade de Vida e Qualidade de Vida Relacionada com a Saúde
Abstract The purpose of the article is, by using literature review and reflective analysis,to discuss the importance, impact and bring up of appropriate strategies on patient and family care with chronic oncological pain, focusing on quality of life (QoL). Our attention was focused: on historical evolution of QoL concept and the current importance of appropriate treatment to patient and family; in the contextualization of the concept of QoLin a healthy person; QoL on person with oncological disease and quality of life related to health (HRQoL); clinical ethics and QoL; QoL measurement instruments and its importance in care practice. We emphasize that on the provision of health care, the HRQoL is increasingly accepted as a major objective. In a more advanced stage of the disease the focus goes from cure to palliation, the main objective being to increase in welfare with improvement or preservation of QoL. The QoL can only be measured and described on an individual basis, depending on the current lifestyle, past experiences and hopes, dreams and ambitions Keywords: Cancer, Quality of Life and Quality of Life Linked to Health JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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HISTORIA
capazes de proporcionar cuidados físicos, psicológicos, sociais e espirituais aos doentes e
Actualmente, podemos afirmar que qualidade de
suas famílias. Trata-se de um processo de
vida (QdV) “está na moda”. Assistindo-se a uma
personalização, abandonando o modelo
valorização crescente desta nas ciências
biomédico, não considerando unicamente o
biomédicas.
corpo enfermo, mas sim o ser humano numa
Até ao século XX raramente foi mencionada
perspectiva holística, ou seja, como um todo
embora a preocupação sobre este tema tenha já
(Pimentel, 2006).
referências na antiguidade quando Aristóteles
Esta mudança na abordagem da pessoa com
falava no conceito de “boa vida” (Pimentel,
doença crónica facilitou o aparecimento da
2006).
investigação da qualidade da sobrevivência dos
A definição de saúde da Organização Mundial
doentes crónicos. Expandiu-se a palavra
de Saúde (OMS), em 1948, será próxima de
“tratamento” incluindo-se a paliação. A
u m a d e f i n i ç ã o d e Q d V, d a n d o g r a n d e
biomedicina das doenças crónicas cria nessa
importância às dimensões física, mental e social
altura alicerces para o aparecimento da QdV
(Fayers, 2000).
como parte integrante da Medicina (Schou,
A popularização da QdV ocorreu após a
1999).
segunda guerra mundial, quando nos anos 60
Enquanto a sobrevivência aumentou para os
os políticos passaram a utilizar a expressão nos
doentes com diversos tipos de neoplasias, a
seus discursos (Frisch, 2000). Nas décadas de
mortalidade não sofreu grandes alterações, e
60 e 70 ocorreram mudança de valores e
começou a ser importante avaliar a QdV
objectivos sociais, com uma diminuição dos
simultaneamente com a sobrevivência
interesses materiais e um incremento dos
(Fallowfiel, 1990). Os objectivos da terapêutica
valores, das necessidades sociais e
oncológica não podem limitar-se, por exemplo, à
psicológicas (De Haes, 1985).
redução da massa tumoral ou à sobrevivência
A QdV é um campo de investigação
mas sim fazer da QdV como parte integrante
relativamente recente da Medicina, mais
(Jones, 1987).
precocemente desenvolvido nas doenças
A QdV emergiu como um elemento central na
oncológicas e cardiovasculares, e
oncologia nos anos 80, motivada pelo
posteriormente em muitas outras áreas da
crescimento acentuado da tecnologia médica
Medicina. O seu aparecimento ficou a dever-se
usada na terapêutica do cancro e ao
ao uso da expressão pelos políticos, surgindo
crescimento da complexidade das decisões
na literatura médica em 1960 (Elkington, 1966).
médicas (Macguire, 1989). Este avanço
A partir do final da década de 60 começaram a
tecnológico da medicina tem permitido que
surgir, nos “hospícios” ingleses as unidades de
doentes com doença crónica, embora não
cuidados paliativos e as clínicas de dor. A
alcançando a cura, vivam mais tempo. Esse
Organização Nacional de Hospícios Americana,
número tem vindo a aumentar (Gerhardt, 1990).
fundada em 1977, define como seu objectivo um
É recente a integração da QdV como objectivo
conjunto de serviços paliativos e de suporte
principal em Medicina, mas pode-se constatar
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que algumas instituições e organizações
avaliação dos sintomas ou do desempenho
internacionais já sugerem que a mesma seja
físico (Fallowfiel, 1990).
considerada como objectivo (Pimentel, 2006). A maioria dos grupos cooperativos de
Contextualização
investigação em oncologia tem um grupo de
Apesar de toda a evolução da medicina,
trabalho dedicado à qualidade de vida
actualmente, ainda cerca de 50% dos doentes
relacionada com a saúde (QdVRS)
morre da sua doença oncológica, pelo que, em
A “European Organization Research Treatment
determinado momento, o enfoque se dirige da
of Cancer” (EORTC) iniciou, em 1986, o
cura para a paliação (Jordhoy, Fayers, Loge,
desenvolvimento de um questionário para
Ahlner-Elmqvist, & Kaasa, 2001), sendo o
avaliação da QdV em doentes oncológicos.
objectivo maior o incremento do bem-estar. A
Também em França, é iniciada a avaliação da
abordagem tem como objectivo principal a
QdV, promovida pela Sociedade Francesa de
melhoria ou preservação da QdV.
Oncologia (Schraub, 1987).
Durante o século XX ocorreu, nos países
Nos Estados Unidos da América, em 1990, o
desenvolvidos uma alteração no padrão das
National Cancer Institute (NCI), com o objectivo
doenças. Os principais problemas de saúde
de estudar a implementação da QdV nos
passaram das patologias agudas para as
ensaios clínicos em oncologia, constitui um
doenças crónicas, que persistem, recidivam e
grupo de trabalho para esse efeito. Da mesma
necessitam de tratamentos/cuidados por longos
forma, o “Medical Research Council” em
períodos; onde se incluem as doenças
Inglaterra, fez integrar a medida de QdV nos
oncológicas. Para muitos doentes o cancro
ensaios clínicos (Quality of life and clinical trials,
deixou de ser uma doença rapidamente fatal,
1995).
tornando-se crónica que dura meses ou anos,
A “Food and Drug Administration” recomendou
com tratamentos complexos e muitas vezes com
formalmente que nos ensaios clínicos se
muitos e severos efeitos adversos (Pimentel,
deveriam privilegiar os critérios ligados aos
2006).
doentes (sobrevivência e QdV) em detrimento
Em todas as sociedades, é evidente um
dos critérios ligados à doença oncológica (taxas
aumento da incidência e mortalidade por cancro,
de resposta e duração), (Beitz, Gnecc & Justice,
devido a uma mudança de estilo de vida, ao
1996).
envelhecimento da população ou aumento da
A “Multinational Association of Supportive Care
esperança de vida e a melhores técnicas de
in Cancer” (MASCC), dedica um relevante
diagnóstico (DGS, 2005). O cancro é a segunda
interesse ao estudo da QdVRS, incluindo uma
causa de morte logo após as doenças
sub-secção dedicada ao desenvolvimento desta
cardiovasculares nos países industrializados
área do conhecimento.
(Breslow, 1972) e (Bailar & Gornik, 1997).
Na prestação de cuidados de saúde, a QdVRS é
Em Portugal, a doença oncológica representa
cada vez mais aceite como um objectivo
uma causa importante de morbilidade e
principal, tão ou mais importante que a
mortalidade, sendo diagnosticados anualmente 40 a 45 mil novos casos de cancro. Pode
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afirmar-se que em Portugal, tal como na União
oncológico é necessário que, além da avaliação
Europeia (UE), o risco de um indivíduo vir a
clássica, seja efectuada a avaliação da QdV.
desenvolver um cancro durante a vida é cerca
Para os indivíduos saudáveis a noção da QdV
de 50%, e de este ser a causa de morte é de
reporta-se a termos como riqueza, lazer,
25% (DGS, 2005). Contrariamente aos restantes
autonomia, liberdade, ou seja, tudo o que
países da EU, em Portugal a mortalidade por
proporciona um dia-a-dia agradável. Num
cancro continua a aumentar, o que nos torna o
doente a QdV é um conceito relativo, que se
país da EU em pior situação neste aspecto
refere ao nível de satisfação em função das
(Boyle & Ferlay, 2005) e (DGS, 2005).
suas possibilidades actuais condicionadas pela
A doença oncológica é, sem dúvida, um grave
doença e terapêuticas, comparadas com
problema de saúde pública, implicando custos
aquelas que pensa serem possíveis ou ideais
elevados (não só económicos, mas também
(Nordenfelt, 1994).
sociais). A nível individual não existe nenhuma
O conceito de qualidade de vida ligado à saúde
dimensão da vivência que não seja afectada. O
é diferente do conceito de QdV global. Cada
cancro altera a percepção do indivíduo perante
pessoa tem a sua escala de valores mas
o ambiente que o rodeia e as experiências
podem-se encontrar elementos comuns à
associadas a ele resultam num desequilíbrio
generalidade dos doentes. Não existe uma
espiritual (White, 2004). Esta doença está
única definição de Qualidade de Vida
associada a perdas e o seu diagnóstico e
Relacionada com a Saúde (QdVRS), mas pode
tratamento têm consequências psicológicas com
ser descrita, de forma funcional, como a
importantes repercussões na QdV (White 2004).
percepção dos doentes sobre as suas
O sucesso da terapêutica oncológica é
capacidades em quatro grandes dimensões:
habitualmente descrito em termos de tempo livre
bem-estar físico e actividades quotidianas, bem-
de doença, sobrevivência, complicações e
estar psicológico, relações sociais e sintomas
toxicidade, embora a complexidade da doença
(Pimentel, 2006).
oncológica não se esgote nestes parâmetros. A
O interesse dos médicos em geral e dos
percepção que o doente oncológico tem acerca
oncologistas em particular pela QdV tem vindo a
de tudo que ocorre e está ligado à sua doença,
aumentar, mas ainda não está cimentada como
é muito mais globalizante: há a assunção do
uma componente importante na prática clínica.
papel central da sua vivência. O choque do
Um inquérito efectuado em Portugal (Pimentel,
diagnóstico, a dor e o stress das terapêuticas,
2002) a 396 médicos, onde apenas 82
as restrições ao seu desempenho físico e
responderam, constatou-se que 95% referiam
intelectual, as limitações nas actividades diárias,
que QdV é fundamental para proporcionar bons
a estigmatização social, o lidar com situações
cuidados e 93% concordavam que a QdV é útil
que põem em risco a vida e que vão diminuir a
para tomar decisões a nível individual.
esperança de vida. Todos estes parâmetros têm
Contrariando esta belíssima percentagem, neste
de ser tidos em conta (Cabana et al., 1999) e
grupo de médicos apenas 40% refere utilizar a
(Lorenz et al., 1999). Sempre que se estabelece
QdV na prática clínica, 73% confere maior
uma estratégia terapêutica para um doente
relevo à toxicidade e aos efeitos adversos do
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que à QdV e 35% confiam na experiência
Não existe uma definição clara do conceito de
profissional para avaliar a QdV.
QdV. Existem inúmeras propostas de definição.
Dos resultados deste inquérito pode-se concluir
Uma das referências mais antigas, e que mais
que, na abrangência da prestação de cuidados
se pode assemelhar com uma definição de QdV
aos doentes oncológicos, a QdV ainda não é, de
é de Aristóteles (384-322 a.C.) que escreveu: “
facto, uma realidade considerada.
Quer a pessoa mais modesta ou mais
Uma vez que muitos dos doentes têm que viver
refinada… entende “vida boa” ou “ estar bem”
a sua doença crónica durante toda a vida, a
como a mesma coisa que “estar feliz”. Mas o
avaliação da QdV constitui um aspecto
que é entendido como felicidade é discutível…
importante de qualquer plano de tratamento
Uns dizem uma coisa e outros, outra e a mesma
(Bennett, 2002). A avaliação da QdV nos
pessoa diz coisas diferentes em tempos
doentes oncológicos é cada vez mais
diferentes: quando está doente pensa que a
valorizada, também devido à preocupação com
saúde é a felicidade; quando está pobre
a autonomia e direitos dos doentes e com o
felicidade é riqueza (Fayers & Bottomley, 2002)
papel dos factores psicossociais (Sales, 2001).
Nos séculos XVI-XVII, Coménio, falou da
Uma causa profunda de perturbação da
relação entre saúde, educação e higiene com o
qualidade de vida é certamente a dor, sobretudo
objectivo de estabelecer fundamentos para o
a crónica. A dor não atinge unicamente um
prolongamento da vida, manifestando maior
órgão, irradia para todo o corpo, perturba as
preocupação com o destino que atribuímos à
actividades, diminui a concentração intelectual,
nossa vida do que com a sua duração em anos.
transforma o psíquico, provoca stress no grupo
De salientar que, já nessa época, se identifica a
familiar e empobrece as relações sociais
preocupação pela saúde e QdV e contra os
(Barnett, 2001)
problemas decorrentes dos excessos cometidos
Quer no dia-a-dia, quer na realização de
com o corpo (Pimentel, 2006).
ensaios clínicos, a integração de QdV não se
Tiel, McNeiel e Bush, propuseram uma definição
verifica com a frequência desejada,
de QdV, como sendo um conceito global, que
privilegiando-se a avaliação de parâmetros que
inclui as vertentes psicológica, social e física e,
alguns autores designam por “informação dura”,
incorpora tanto os aspectos positivos de bem-
ou seja, o estádio da doença, a taxa de
estar, como os aspectos negativos da doença
respostas e a sobrevivência. Pelo contrário, os
(Pimentel, 2006).
aspectos físico-funcionais, psicológicos, sociais,
Esta definição diz-nos que dentro da QdV
económicos, e outros que constituem o que se
existem quatro dimensões: física e desempenho
designa por “informação branda”, subjectiva e
(que pode ser dominante em caso de existência
considerados erradamente de medição
de dor, ou efeitos adversos decorrentes da
impossível, são negligenciados ou esquecidos
terapêutica), psicológica e bem-estar, social e
(Pimentel, 2006).
espiritual (frequentemente esquecida, relacionada com a religião e o nível de cultura
Definição de qualidade de vida
do indivíduo). Esta última dimensão existe mesmo quando a pessoa não tem crença
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religiosa, resultando da reflexão que o doente
que o indivíduo tem do seu lugar na vida, no
faz da sua própria vida (Pimentel, 2006).
contexto da cultura e do sistema de valores nos
Levine e Croog propuseram uma definição
quais vive, em relação com os seus objectivos,
multidimensional: a funcionalidade ou a
os seus desejos, as normas e as suas
interacção do indivíduo com o meio, nas suas
inquietudes. É um conceito muito amplo que
diversas vertentes social, física, emocional ou
pode ser influenciado de maneira complexa pela
intelectual e a percepção subjectiva que engloba
saúde do indivíduo, pelo estado psicológico e
o sentido geral de satisfação do indivíduo e da
pelo seu nível de independência, a suas
sua própria saúde, em relação com a das outras
relações sociais e as suas relações com os
pessoas que o rodeiam (Lima, 2002). Este
elementos essenciais ao seu meio”(Taylor,
conceito enquadra-se na definição de saúde da
2001)
OMS: “um estado de completo bem-estar físico,
Assumindo-se e percebendo-se que a QdV é
mental e social e não meramente a ausência de
um sentimento individual, significando diferentes
doença”( Brunier, Carson & Harrison, 1995).
coisas para diferentes pessoas, quando a
Em 1984, Calman propõe que a QdV só pode
queremos ver numa perspectiva de saúde,
ser medida e descrita em termos individuais,
entramos noutro conceito que é o da QdVRS.
dependendo do estilo de vida actual, das
Quando se aborda o conceito de QdVRS em
experiências passadas e em esperanças,
relação a um indivíduo extremamente doente,
sonhos e ambições (Pimentel, 2006).
devemos ter em consideração que qualquer
Há quem defina a QdV como uma avaliação
aspecto da vida está quase sempre relacionado
subjectiva à vida, como um todo, englobando a
com a saúde (Hardman, Maguire, & Crowther,
subjectividade e a necessidade de uma
1989).
avaliação multidimensional e global (Gerhardt,
Os doentes dão uma importância muito grande
1990), outra definição baseia-se na avaliação e
à saúde. Na avaliação da QdV global, a
a satisfação do indivíduo com o seu nível
percepção individual do estado geral de saúde é
funcional e global, comparando o que ele
o mais importante em relação a todas as outras
entenda ser possível, desejado e ideal,
vivências (Cano, Gillis, Heinz, Geisser, & Foran,
realçando o valor que cada um dá à sua vida
2004).
actual (Gerhardt, 1990). Daqui, podemos retirar
Em 1990 Tchkmedylan (Tchekmdyian et al 1990)
que a definição e significado de QdV é diferente
propõe o seguinte esquema para definir a
de pessoa para pessoa, sustentado numa
QdVRS, as suas dimensões e respectivas
perspectiva multidimensional não sendo
componentes.
possível uma conceitualização universal,
Actualmente verifica-se uma intensa actividade
implicando uma flexibilidade e compreensão tal
de investigação da QdVRS em oncologia,
que permita ser aplicado a todos os doentes,
utilizando vários modelos de QdVRS e, apesar
independentemente da fase da doença em que
de algumas indefinições e incertezas,
se encontram (Herrmann, 1997).
obtiveram-se alguns consensos (Pimentel,
Numa tentativa de definir QdV, a OMS, propôs
2006):
em 1993, que fosse considerada “ a percepção JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 09 Esquema – Dimensões e respectivas componentes da qualidade de vida relacionada
Definição – QdVRS é um conceito
Medida: existem instrumentos de medida da
multidimensional, que traduz o bem- estar
QdVRS validados e que permitem a sua
subjectivo do doente, nas vertentes física,
avaliação de forma normalizada.
psicológica e social, as quais se podem
Necessidade: a QdVRS deve ser considerada
subdividir noutras dimensões. O domínio físico
como o objectivo principal, nas doenças
refere-se à percepção que o doente tem da sua
crónicas e incuráveis.
capacidade em realizar as suas actividades
A QdVRS é uma componente da QdV do
diárias. O domínio social refere-se à capacidade
indivíduo constituída pelos componentes que se
do doente se relacionar com os membros da
relacionam com a saúde (doença ou
família, vizinhos, amigos e outros. Por fim, o
terapêutica), devendo abranger os sintomas
domínio psicológico incorpora aspectos do bem-
produzidos pela doença ou tratamento, a
estar emocional e mental, como depressão,
funcionalidade física, os aspectos psicológicos,
ansiedade, medo e raiva.
sociais, familiares, laborais e económicos, já
Subjectividade: a QdVRS depende da
que todos se inter-relacionam e influenciam
percepção individual, crenças, sentimentos e
mutuamente (Pimentel, 2002).
expectativas. A natureza da subjectividade da
Constatam-se assim, vários domínios que
QdVRS implica que os questionários devam ser
afectam de forma decisiva a QdVRS, em
completados pelo próprio doente e não por outra
especial a do doente oncológico (Ahmedzai,
pessoa.
1995) e (Pimentel 2002):
Dinamismo: a QdVRS é dinâmica, mudando ao
Sintomatologia física, como a dor, a anorexia, a
longo do tempo, dependendo das modificações
fadiga, a qualidade do sono;
no doente e das modificações em seu redor.
Funcionalidade física, com alteração da mobilidade e actividade física;
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Papéis sociais e funcionamento social, com
saúde e os doentes devem determinar que nível
aspectos da independência, capacidade de
de QdV é desejável, como pode ser atingido e
continuar a trabalhar seja fora ou dentro de
quais os seus riscos e vantagens. As
casa, interferências nas actividades de lazer;
considerações sobre a QdV focam-se nas
Função cognitiva, em que se engloba a
consequências a longo prazo da aceitação ou
capacidade de concentração, a memória, a
da recusa das recomendações da intervenção
confusão e a desorientação;
médica; contrariamente à avaliação dos riscos e
Estado emocional, com ansiedade, depressão,
benefícios considerados no âmbito do
sentimento de culpa e revolta, cólera;
tratamento médico que são relativamente
Sexualidade, com interferência na imagem
imediatos (Jordhoy et al., 2001).
corporal, libido e actividade sexual;
A referência à QdVRS pode ser usada em vários
Económico-financeiro, no qual se devem incluir
sentidos, podendo a sua invocação provocar
os problemas relacionados com os familiares
confusão. Para que tal não aconteça será
que o ajudam directamente;
importante realçar algumas distinções:
Espiritualidade, em que intervêm o prognóstico, as dúvidas, a dignidade e o sentimento de estar
O julgamento de uma má QdV pode ser feito por
em paz;
aquele que a vive ou por um observador.
Autonomia, com a capacidade de manter o
Acontece frequentemente que as vidas que os
controlo das situações e decisões da
observadores consideram de má qualidade são
capacidade de escolha;
vividas bastante satisfatoriamente pelos
Satisfação, de uma forma geral.
próprios. Assim, se os doentes podem avaliar e
Ética clínica e qualidade de vida
exprimir a sua própria QdV, outras pessoas não
Depois de terem sido consideradas as
devem presumir ou julgar, mas antes procurar
indicações médicas e as preferências do doente
saber a opinião do doente. Da mesma maneira
deve seguir-se uma discussão sobre a QdV do
quando a avaliação da própria pessoa não é, ou
doente antes da doença actual e a QdV que
não pode ser, conhecida por outros, esses
pode ser esperada com e sem tratamento
mesmos devem ser muito cautelosos ao
(Jordhoy et al., 2001)
aplicarem os seus próprios valores.
O objectivo mais fundamental dos cuidados de
Uma má QdV pode significar, de um modo geral,
saúde é a melhoria da QdV daqueles que deles
que as experiências do doente ficam aquém do
necessitam e que a eles recorrem. O alívio da
padrão que o próprio considera como desejável.
dor e a recuperação funcional são aspectos
Em cada caso a experiência em causa é
particulares deste conceito. O objectivo de se
diferente (pode ser dor, perda de mobilidade,
atingir a melhor QdV possível no doente deve
existência de muitos e debilitantes problemas de
servir como ponto de orientação e meta desde a
saúde, perda da capacidade mental e da alegria
fase de diagnóstico (Jordhoy et al., 2001).
da interacção das relações humanas, perda da
A avaliação da QdV deverá estar englobada em
alegria de viver, etc…). Uma má QdV pode
todas as discussões acerca da prestação de
reportar-se a situações diferentes.
cuidados mais adequados. Os profissionais de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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A avaliação da QdV, tal como a própria vida,
de forma diferente certas formas de vida e cada
muda ao longo do tempo. Assim, os prestadores
pessoa avalia a sua QdV de forma única.
de cuidados devem ser prudentes, não tomando
Portanto, as avaliações da QdV, quer sejam
decisões com base em condições que poderão
pessoais, quer de um observador, são
ser transitórias.
subjectivas no sentido de que reflectem as
A avaliação pode reflectir um enviesamento e
crenças e os valores pessoais, os gostos e as
um preconceito. Julgar-se que um doente com
antipatias de quem faz o julgamento. Assume-se
atraso mental tem má QdV ou pessoas de uma
que não existem critérios objectivos claros em
determinada raça ou nível social pode reflectir o
relação aos quais se possam aferir os juízos de
nosso enviesamento.
valor e/ou acerca dos quais todas as pessoas
A avaliação pode reflectir condições sócio-
possam estar de acordo na avaliação da QdV.
económicas em vez da vida experimentada pelo
Poderá existir uma larga concordância,
doente, como por exemplo, a falta de cuidados
praticamente universal sobre as descrições
domiciliários, de reabilitação ou educação
seguintes: (Jordhoy et al., 2001).
especial. Os prestadores de cuidados podem contribuir para ultrapassar estes obstáculos e
Qualidade de vida restrita é uma descrição
influir na melhoria da QdV (Jordhoy et al., 2001).
objectiva apropriada a uma situação em que
Quando há necessidade que pessoas
uma pessoa sofre de deficiências graves da
autorizadas, tal como os parentes próximos,
saúde física ou mental, ou seja, as capacidades
procuradores com poderes duradouros, de
funcionais da pessoa afastam-se da
tomarem decisões pelo doente, estas devem
normalidade humana. A avaliação pode ser feita
seguir os desejos previamente conhecidos ou,
pela própria pessoa ou por observadores,
se eles não são conhecidos, devem decidir no
podendo a avaliação do observador e a da
melhor dos interesses do doente; a QdV que ele
pessoa diferir.
escolheria se o pudesse fazer (Jordhoy et al.,
Qualidade de vida mínima é uma descrição
2001).
objectiva apropriada para uma situação em que
Ao avaliar se um procedimento ou tratamento
um doente ou um observador encara uma
seria no melhor interesse do doente, o
pessoa cuja situação física geral se deteriorou
representante deve ter em conta factores como
consideravelmente, cuja capacidade de
o alívio do sofrimento, a preservação ou
comunicar com os outros está gravemente
recuperação da função, assim como a qualidade
restrita e que sofre desconforto e dor.
e extensão da vida conseguida. Uma avaliação
Qualidade de vida abaixo do mínimo é uma
rigorosa abrangeria a consideração dos desejos
descrição objectiva apropriada para uma
actuais, as oportunidades da satisfação futura e
situação em que um doente apresente uma
a possibilidade de desenvolver ou recuperar a
extrema debilitação física assim como uma
capacidade de autodeterminação (Jordhoy et
perda completa e irreversível da actividade
al., 2001).
sensorial e intelectual. Poderia, este estado, ser
Dado que avaliação da QdV é tão subjectiva,
descrito como não tendo qualidade, visto que a
observadores diferentes avaliarão certamente
pessoa não tem capacidade para a avaliação
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pessoal. Esta aplica-se a pessoas num estado
Os fármacos utilizados no alívio da dor, como na
vegetativo persistente.
maior parte dos medicamentos, têm riscos e,
Muitas pessoas, ao depararem-se com estas
face a uma morte eminente, um regime de
possíveis situações futuras, principalmente as
doses e os riscos mais elevados que comporta
duas últimas, diriam “antes queria estar morto”.
podem ser tolerados (Jordhoy et al., 2001).
Esta é uma assunção cautelosa, porque as
A dor é apenas uma das componentes de um
pessoas parecem julgar diferentemente quando
fenómeno que também é psicológico, social e
imaginam uma situação e quando se encontram
espiritual, geralmente designado por sofrimento.
nela (Jordhoy et al., 2001).
Os profissionais devem concentrar-se no alívio
A QdV dos doentes terminais é aumentada por
da dor na sua componente fisiológica,
uma adequada prestação de cuidados
psicológica, social e espiritual. Os profissionais
paliativos. Os doentes não devem ser mantidos
de saúde devem ter atenção a estas
num regime inadequado para controlar a dor e
componentes e procurar ajuda em outros peritos
outros sintomas por causa da ignorância dos
para corresponder às necessidades do doente e
profissionais de saúde ou devido a um medo
família (Jordhoy et al., 2001).
infundado de toxicodependência (Jordhoy et al., 2001).
Medição da qualidade de vida
As tentativas para conseguir um alívio adequado
Enquanto se assiste a uma crescente prática de
da dor podem ter um outro efeito acessório,
avaliação da QdVRS, medi-la constitui uma das
nomeadamente a obnubilação da consciência
tarefas mais difíceis.
do doente com redução da sua capacidade de
Tal como para qualquer outro aspecto da
comunicar com a família e os amigos. Este
investigação clínica, o conceito de níveis de
duplo efeito pode ser eticamente perturbador
evidência aplica-se à medida de QdVRS (Payne
para os profissionais de saúde. Uma atenção
& Gonçalves, 2004)
com sensibilidade às necessidades do doente
Um baixo nível de evidência corresponde às
em conjunto com um tratamento médico
avaliações feitas utilizando um único item para
adequado, devem conduzir tanto quanto
avaliar QdVRS ou instrumentos desenvolvidos
possível ao objectivo desejável, ou seja, um
para um trabalho em particular, sem que tenha
máximo alívio da dor e uma mínima diminuição
sido feita a prévia validação (Pimentel, 2004).
da consciência e da comunicação. Caso o
Um nível médio de evidência pode ser atingido
doente consiga exprimir as suas preferências,
utilizando instrumentos validados de uma forma
estas devem ser seguidas (Jordhoy et al., 2001).
genérica, mas ainda, sem utilização em
O alívio da dor e a manutenção das funções são
populações oncológicas, ou medindo uma única
ambos objectivos dos cuidados de saúde. No
dimensão da QdVRS (Pimentel, 2004).
entanto, quando o objectivo de prolongar a vida
O nível mais elevado de evidência obtém-se
não pode ser atingido, o alívio da dor e outros
quando se utilizam instrumentos que avaliem as
sintomas torna-se o objectivo prioritário durante
várias dimensões da QdVRS e que estejam
o tempo de vida que resta ao doente (Jordhoy et
validadas na população oncológica, como por
al., 2001). JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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exemplo o FACT-G ou o QLQ-C30 da EORTC
BARNETT, K. – A theoretical contract of the
(Pimentel, 2004).
concepts of touch as they relate to nursing –
Apesar da avaliação da QdV ser considerada
Nursing Research, vol. 21, nº 2, 1972, pp:
fundamental, trazer benefícios e ser importante
102-110.
para avaliar o resultado dos tratamentos médicos (Bonica, 1985) e (Levi et al, 1999),
BEITZ, J.; GNECCO, C.; JUSTICE, R. – Quality-
existe também alguma confusão e dúvidas
of-life end points in cancer clinical trials: the U.S.
acerca de como deve ser avaliada. Isto parece
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reflectir as importantes limitações conceptuais e
Natl. Cancer Inst. Monogr., nº 20, 1996, pp: 7-9.
metodológicas do conceito de QdV (Wright, 2002). O desenvolvimento de instrumentos de
BENNETT, P. – Introdução clínica à psicologia
avaliação de medida da QdVRS baseia-se nos
da saúde – Lisboa: Climepsi, 2002.
princípios de construção e validação de testes. O questionário deve ser prospectivo e reflectir o
BONICA, J.J. Treatment of cancer pain: current
que se pretende medir, isto é, a QdVRS.
status and future needs. In: FIELDS,
Os questionários podem ser auto-administrados,
DUBNER R.; CERVERO, F. Advances in pain
administrados com a ajuda de um entrevistador
research and terapy: proceeding of the Fourth
ou assistidos por computador (Kuuppelomaki,
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Os principais objectivos dos questionários de avaliação da QdVRS são: avaliar o doente, o
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Saraiva, S. (2013) Alzheimer's Disease, better known for better intervene . Journal of Aging & Inovation, 2 (3): 16-25
REVISÃO NARRATIVA / NARRATIVE REVIEW
JULHO, 2013
DOENÇA DE ALZHEIMER, CONHECER MELHOR PARA MELHOR INTERVIR ALZHEIMER’S DISEASE, BETTER KNOWN FOR BETTER INTERVENE ENFERMEDAD DE ALZHEIMER, MÁS CONOCIDO POR INTERVENIR MEJOR
Autora
Simone Saraiva1 1
Enfermeira, Pós-Graduada em Gestão de Feridas Crónicas, Pós-Graduada em Cuidados Paliativos,
Lar Monterey - Lisboa Corresponding Author: simone_raquel@hotmail.com
RESUMO A doença de Alzheimer é uma doença degenerativa atualmente incurável mas que possui tratamento. O tratamento permite melhorar a saúde, atrasar o declínio cognitivo, tratar os sintomas, controlar as alterações de comportamento e proporcionar conforto e qualidade de vida à pessoa que a possui e sua família. Objetivo: Com este trabalho, pretende-se, sobretudo, conhecer melhor esta doença e tudo o que nela está implícito. Este conhecimento vai levar também a criar intervenções de enfermagem mais apropriadas a este tipo de doentes. Metodologia: Para a elaboração deste trabalho os recursos utilizados foram a consulta bibliográfica relacionada com o tema em estudo e à consulta webliográfica recorrendo à pesquisa eletrónica no motor de busca Google. Conclusão: Com a informação recolhida sobre a Doença de Alzheimer, foram elaboradas intervenções de enfermagem ao individuo que apresenta esta, tendo por base a mais recente evidência científica. PALAVRAS-CHAVE: Doença de Alzheimer, Diagnóstico, Tratamento, Intervenções de Enfermagem Abstract Alzheimer's disease is a degenerative disease currently incurable but who has treatment. The treatment allows improving health, delaying the cognitive decline, treating the symptoms, controlling changes of behavior and provide comfort and quality of life the person that owns it and his family. Objective: With this work, it is, above all, know this disease better and everything in it is implicit. This knowledge will also lead to create nursing interventions most appropriate to this type of patients. Methodology: For the elaboration of this work the resources used were the bibliographic consultation related to the topic under study and consultation webliografica using electronic searches in the search engine Google. Conclusion: With the information gathered on the Alzheimer's Disease, were drawn up nursing interventions to individual who presents this, based on the most recent scientific evidence. KEYWORDS: Alzheimer's Disease, Diagnosis, Treatment, Nursing Interventions
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Introdução
não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais.
O aumento da esperança média de vida e o
Apesar de atualmente, a maioria da população
acréscimo das doenças crónicas progressivas e
pensar que os cuidados paliativos são só para
incuráveis na população adulta e idosa, aliados
os doentes oncológicos, em fase terminal, já se
à busca incessante da melhoria da qualidade de
começa a mudar esse pensamento tão restritivo
vida, estão intimamente relacionados com o
e segundo António Barbosa e Isabel Galriça
progresso dos cuidados de saúde. Um dos
Neto (2010, p. 247)3, “os cuidados paliativos
problemas de saúde atuais é as demências,
devem, pois, ser oferecidos com base num
como a doença de Alzheimer, que representam
conjunto de necessidades e não com base nos
um grande custo económico para as intuições
diagnósticos. É preciso garantir a justiça e a
de saúde e são causa de sofrimento e
equidade no acesso aos cuidados de saúde,
diminuição da qualidade de vida para as
nomeadamente paliativos, para este numeroso
pessoas que as possuem, como também para
grupo de doentes incuráveis, dentre os quais
as suas respetivas famílias. Para além destes
queremos destacar os doentes com demência
problemas, o facto de estes doentes serem
avançada”. Isto leva a que a dicotomia entre
tratados como os doentes agudos, leva a que as
cuidados curativos e cuidados paliativos esteja a
intervenções por parte dos profissionais de
esbater-se pois, o ideal é existirem ações
saúde não sejam as mais corretas e por vezes
paliativas nos doentes agudos que
exista mesmo obstinação terapêutica. Estas
posteriormente necessitaram de cuidados
situações levam-nos a pensar que, na área da
paliativos, como os doentes com alzheimer e
saúde, deve existir outro tipo de intervenções
ações curativas nos doentes paliativos, como
terapêuticas, o que nos remete para os
por exemplo uma cirurgia ortopédica por fratura
cuidados ao individuo conforme as suas
do colo do fémur, num doente oncológico. Ou
necessidades, aceitando a sua incurabilidade,
seja existir o modelo integrado em vez do
ou seja, as intervenções realizadas à pessoa
modelo separado que é o modelo que ainda
com doença devem ser paliativas.
persiste na maioria das nossas instituições.
Isto remete-nos para a prestação de cuidados
A doença de Alzheimer é uma demência.
paliativos que, segundo a Organização Mundial
Segundo Letícia Lessa Mansur et al (2005, p.
de Saúde (2002), citado pela Associação
300)6 pelos critérios do DSM IV (APA, 1994),
Nacional de Cuidados Paliativos (2006, p. 2, 3)1
considera-se dementes os indivíduos que
são uma abordagem que visa melhorar a
evidenciam deterioração cognitiva
qualidade de vida dos doentes que enfrentam
particularmente da memória, a qual afeta as
problemas decorrentes de uma doença
atividades da vida cotidiana. A DA se insere
incurável com prognóstico limitado, e/ou doença
entre os quadros progressivos irreversíveis, cujo
grave (que ameaça a vida), e suas famílias,
declínio cognitivo tem bases estruturais, com
através da prevenção e alívio do sofrimento,
tempo de evolução variável, sendo a sobrevida,
com recurso à identificação precoce, avaliação
em média, de 8 anos após o início dos
adequada tratamento rigoroso dos problemas
sintomas.
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Já António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010,
incontinência e infecções de repetição
p. 248)3 dizem que a demência pode definir-se
(respiratórias, urinárias e/ou de feridas).
como uma síndrome de instalação progressiva
Nos doentes com demência avançada, como
em que ocorre deterioração cognitiva e
perdem a capacidade de se expressarem bem
intelectual, que depois persiste, acompanhada
verbalmente, a avaliação do sofrimento e o
por um progressivo declínio funcional e da
controlo de sintomas estão dificultadas, contudo
autonomia da pessoa doente, com implicações
António Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p.
claras na sua sobrevida, já que eventualmente
250)3 afirmam que os sintomas mais frequentes
virá a falecer devido a essa mesma patologia ou
serão as alterações comportamentais, a dor
às limitações que a mesma determina
abdominal (atenção à obstipação, à retenção
(imobilismo, alterações da deglutição e
urinária e aos fecalomas), as dificuldades na
infecções associadas). Este quadro demencial
alimentação, a febre e as infecções, e a
tem na sua origem diferentes etiologias
retenção de secreções respiratórias, também o
possíveis, sendo a demência de Alzheimer
delirium e a agitação, assim como o apoio aos
responsável pela maioria dos casos, …em cada
prestadores de cuidados merecem destaque
10 doentes com demência, 6 terão a doença de
nas intervenções terapêuticas.
alzheimer … no entanto há uma pequena
Por tanto, uma boa avaliação prognóstica é
percentagem de doentes que pode apresentar
fundamental para se fazer corretamente os
demência de múltiplas causas.
diagnósticos de intervenção no doente e
A fase evolutiva e prognóstico no caso da
consequentemente as intervenções mais
demência de Alzheimer, segundo António
adequadas a utilizar.
Barbosa e Isabel Galriça Neto (2010, p. 250)3, de acordo com a escala Fast proposta por Reisberg para avaliação e estadiamento
Doença de Alzheimer
funcional, existem 7 estadios, …O estadio 5
A doença de Alzheimer é uma doença
corresponde a doença moderada (o doente
degenerativa que, lenta e progressivamente,
requer assistência nas tarefas complicadas,
destrói as células cerebrais. Chama-se assim
como escolher a roupa adequada, e na higiene
porque foi Alois Alzheimer, um médico
pessoal), o 6 o de doença moderadamente
psiquiatra, e neuropatologista, alemão, quem
severa (para além do anterior, surgem
em 1906 descreveu pela primeira vez os
problemas de incontinência urinária e/ou fecal) e
sintomas e as características neuropatológicas
no 7, doença severa, ocorre redução acentuada
da doença de Alzheimer, tais como placas e
do vocabulário que se limita a meia dúzia de
tranças neurofibrilhares no cérebro. A doença
palavras inteligíveis ao longo do dia, perda
afecta a memória e o funcionamento mental (por
mímica facial, incapacidade de andar e perda de
exemplo o pensamento e a fala, etc), mas pode
equilíbrio da cabeça. A fase avançada da
igualmente levar a outros problemas, tais como
doença caracteriza-se claramente por
confusão, alterações de humor e desorientação
problemas de mobilidade, dificuldade na
no tempo e no espaço2.
alimentação (disfagia ou recusa alimentar), JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Nesta doença a perda de memória e de
aumento está a ser exponencial, sobretudo nos
faculdades intelectuais é ligeira no início, sendo
países de baixo e médio desenvolvimento.
mesmo impercetível por parte do indivíduo e dos
O diagnóstico desta doença não é linear pois
familiares, contudo ao longo da sua progressão
não existe um teste especial para determinar se
vai-se tornando percetível de tal modo que
alguém tem doença de Alzheimer. O diagnóstico
começa a afetar as atividades de vida diárias do
é feito por um processo de exclusão, bem como
indivíduo o que leva a que este passe a ser
por uma observação cuidadosa do estado físico
dependente para estas mesmas atividades. Por
e mental da pessoa, mais do que por a doença
exemplo, uma mulher, quando se encontra
parecer ser evidente no momento2.
numa fase intermédia da doença, perde a
Há de facto três diagnósticos possíveis: doença
capacidade de controlo dos esfíncteres o que
de Alzheimer possível, provável ou certa. Um
leva à incontinência urinária e, tendo o
diagnóstico de possível doença de Alzheimer
autocuidado da higiene diminuído, leva a que
baseia-se na observação dos sintomas clínicos
esteja dependente de um cuidador para que
e na deterioração de duas ou mais funções
este autocuidado lhe seja prestado. Isto impede
cognitivas (por ex. a memória, a linguagem ou o
que outras doenças oportunistas se manifestem,
pensamento), sempre que uma segunda doença
como por exemplo a infecção urinária. Por tanto,
está presente, que não se considera ser a causa
a doença de Alzheimer é uma doença não
de demência, mas faz com que o diagnóstico de
infeciosa nem contagiosa mas sim uma doença
doença de Alzheimer seja menos certo. O
terminal que causa uma deterioração geral na
diagnóstico é classificado como provável, com
saúde do indivíduo que a possui2.
base nos critérios acima mencionados, na
Na doença de Alzheimer a causa mais comum
ausência de uma segunda doença. A única
de morte é a pneumonia, porque à medida que
maneira de confirmar com certeza o diagnóstico
a doença avança, o sistema imunitário vai
de doença de Alzheimer, é a identificação das
deteriorando com progressiva perda de peso, o
características placas e tranças no cérebro. Por
que aumenta o risco de infeções da garganta e
esta razão, o terceiro diagnóstico, o da doença
dos pulmões2.
de Alzheimer de certeza, só pode ser feito por
Esta doença no passado era considerada uma
biópsia cerebral ou depois de se ter efectuado
forma de demência pré-senil, contudo na
uma autópsia2.
atualidade sabe-se que esta doença afeta
O diagnóstico precoce, por tudo o que foi acima
também pessoas com idade inferior a 65 anos e
referido acerca desta doença é importante para
é designada quer de demência pré-senil, quer
que a prestação dos cuidados prestados, à
d e d e m ê n c i a s e n i l d o t i p o A l z h e i m e r,
pessoa com a doença de Alzheimer, sejam os
dependendo da idade da pessoa que a possui.
mais adequados possível de modo a que a
A Organização Mundial de Saúde (OMS) diz-nos
qualidade de vida esteja garantida.
que a doença de Alzheimer deve ser
Nos cuidados de enfermagem, a promoção de
considerada uma prioridade mundial pois, ao
uma melhor qualidade de vida à pessoa tem um
longo dos anos e a nível mundial, o seu
especial relevo, e tem como objetivo ideal promover a recuperação da qualidade de vida
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da pessoa antes de requerer cuidados. No caso
doença de Alzheimer, promovendo acima de
dos cuidados paliativos como nem sempre é
tudo a qualidade de vida nos estadios em que a
possível atingir este patamar mas, é possível
pessoa se encontra perante a mesma doença.
proporcionar uma qualidade de vida baseada
É preciso não esquecer que este tipo de
nas necessidades apresentadas pelo doente.
doentes se encontra em todos os serviços de
Isto só é possível com a aquisição do
saúde e, por isso, há necessidade de que todos
conhecimento científico por parte dos
os profissionais de saúde estejam despertos
enfermeiros e restantes profissionais de saúde,
para tais necessidades e, de saber quais as
onde a prática baseada na evidência se torna
intervenções a realizar à pessoa com doença de
um ótimo recurso. Para além de melhorar a
Alzheimer para que a qualidade de vida seja
qualidade de vida das pessoas, a prática
proporcionada ao máximo nível de que esta
baseada na evidência implicará menos gastos
necessita.
económicos, fazendo com que os cuidados de
Então as necessidades da pessoa com doença
enfermagem passem a ser eficientes. Tal,
de Alzheimer deve ser uma prioridade com que
significa menos custos diretos e indiretos à
os enfermeiros se devem preocupar, quando
instituição e também ao próprio utente, família
tratam da pessoa com esta doença, a qualidade
do utente e todas as entidades intervenientes no
de vida e as suas necessidades devem ter a
processo de tratamento deste.
maior atenção por parte dos enfermeiros e de
Aqui, a investigação tem um papel fundamental
toda a equipa multidisciplinar.
para o constante desenvolvimento tecnológico e científico dos cuidados de enfermagem, promovendo a qualidade dos mesmos. Sobre
Intervenções de Enfermagem
isto, é importante referir que os enfermeiros
Como já foi referido, a doença de Alzheimer nas
contribuem no exercício da sua atividade para a
fases mais avançadas da doença tem indicação
área de gestão, investigação e formação com o
para cuidados paliativos pois, é uma doença
intuito de melhorar e evoluir a prestação dos
progressiva e incurável. Como tal, as
cuidados de enfermagem: os enfermeiros
intervenções de enfermagem centram-se não só
concebem, realizam, promovem e participam em
na comunicação, no trabalho da equipa
trabalhos de investigação que visem o
multidisciplinar e da pessoa e família, como
progresso da enfermagem, em particular, e da
também no controlo de sintomas.
saúde, em geral8.
O tratamento desta doença passa, não só pela
Para que tudo isto seja alcançado, subsiste
prevenção e tratamento desta, mas também
então a necessidade de haver um trabalho de
pelo tratamento dos sintomas proporcionando
pesquisa por parte dos profissionais de saúde
assim uma melhor qualidade de vida e indo de
em realizar estudos de caso, promovendo
encontro às necessidades que o doente vai
também a pesquisa científica pois, só assim irão
apresentando. Por isso, ir-se-á abordar as
alcançar a informação necessária para a
intervenções aos sintomas mais comuns da
prestação de cuidados de enfermagem
doença de Alzheimer.
centrados nas necessidades da pessoa com JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Existe evidência de que a dor é genericamente
secundários dos fármacos – ainda mais sendo
subavaliada e subtratada nestes doentes.
eles tratáveis – para não recorrer a um acertado
Deverão ser sempre valorizadas a linguagem
controlo sintomático da agitação, pilar central da
não verbal – postura, fácies -, as mudanças nas
promoção da dignidade e qualidade de vida
vocalizações, padrão respiratório, e as
destes doentes e seus familiares… Por outro
mudanças no padrão habitual de interacções
lado, não é demais sublinhar a necessidade de
interpessoais… Dentre as várias escalas de
o regime terapêutico contemplar medicação
avaliação da dor para não comunicantes,
pautada (“a horas certas”) e depois sempre com
queremos aqui destacar a escala DS-DAT
um SOS disponível3.
(Disconfort Scale for Dementia of Alzheime’s
No caso de agitação psicomotora convém
Type), proposta por Hurley e que avalia 9
sempre descartar a presença de dor não
categorias de comportamentos (da expressão
tratada, de fecalomas e/ou retenção urinária3.
facial, aos vocalizos, à tensão e linguagem
Os antipsicóticos neurolépticos, sobretudo os
corporal), cada uma de 0 a 4, sendo as
atípicos (risperidona, olanzapina, clozapina…),
pontuações totais mais baixas as relacionadas
desprovidos de efeitos extra-piramidais, são a
com maior conforto… Os princípios
base para o tratamento correcto destes
preconizados pela OMS e largamente difundidos
sintomas perturbadores, e devem ser
para o tratamento da dor crónica – “tratamento
progressivamente titulados3.
pela escala analgésica, pela boca e pelo relógio,
Nestes doentes é inevitável que surjam
em função da intensidade da dor” – aplicam-se
problemas alimentares, associados à dificuldade
também a estes doentes. A utilização de
de deglutição (para sólidos e líquidos) e à
opióides não deve ser negligenciada, no caso
recusa alimentar. Convém insistir em medidas
de se tratar de dor moderada a severa,
não invasivas, como o alimentar o doente lenta
considerando que estes doentes já têm
e pacientemente à mão, em quantidades bem
normalmente tendência, pelo imobilismo, a
menores que as habituais, mas suficientes para
desenvolver obstipação, pelo que a introdução
as suas necessidade reduzidas, recorrer aos
de laxantes pode ser imprescindível. No caso do
pequenos snacks, aos espessantes para
doente não deglutir, preconiza-se o recurso a
líquidos e às gelatinas… A alimentação por
vias de administração alternativas à via oral,
sonda nunca deverá ser vista como substituta
como a subcutânea e a transdérmica3.
da alimentação oral, mesmo e, sobretudo,
Importa sublinhar que a dor não tratada é muitas
quando esta se torna uma tarefa muito
vezes o factor que está na base de alterações
demorada que exige muita paciência3.
do comportamento e de agitação3.
A evidência existente demonstrada claramente
A existência de demência torna os indivíduos
que a alimentação por sonda, longe trazer bem-
mais susceptíveis à ocorrência de delirium, bem
estar para o doente, aumenta a mortalidade e
como à ocorrência de efeitos secundários de
não traz outros benefícios esperados, como, por
vários fármacos (anticolinérgicos, opióides,
exemplo a prevenção da aspiração de
neurolépticos, por exemplo). Não se devem usar
secreções, a diminuição das infecções
doses subterapêuticas ou invocar os efeitos JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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respiratórias ou a cicatrização de úlceras de
éticos, apesar de ser uma medida invasiva. Esta
pressão3.
será justificada se os benefícios ultrapassarem
Os mesmos autores referem que nas fases mais
os malefícios e deverá ter sempre em conta a
iniciais das demências a colocação da
origem das infeções e a irreversibilidade dos
gastrostomia percutânea (PEG) é preferível à
fatores que as predispõem, assim como a
sonda nasogástrica (SNG) por ser menos
ausência de melhorias significativas para o
invasiva, mas este procedimento deve ser
conforto do doente.
afastado, nas fases mais avançadas, por risco
Como a doente apresentou infeções de variadas
de arritmias fatais e morte peri-operatória3.
origens, nos dois episódios de internamento, a
No caso de o doente manifestar diminuição de
utilização de antibioterapia foi essencial para
apetite, deve-se descartar algumas causas
que a qualidade de vida e conforto lhe fossem
reversíveis como a obstipação, alterações das
proporcionados.
preferências alimentares, má higiene oral (a sua
Já a hipotermia ocorre quando a temperatura
ausência provoca desconforto e o não prazer no
normal do corpo, que é 37ºC. desce para menos
saborear dos alimentos) ou dor não tratada3.
de 35ºC (95ºF). A hipotermia é normalmente
Nos doentes com demência terminal existem
causada pela longa permanência num ambiente
vários factores que dispõem a ocorrência de
frio. A hipotermia é muitas vezes desencadeada
febre e de infecções associadas: o imobilismo e
pela exposição prolongada à chuva, ao vento, à
as alterações da integridade cutânea
neve ou a imersão em água fria5.
associadas, à incontinência, à diminuição das
Durante uma exposição prolongada ao frio, o
defesas imunitárias e as dificuldades de
mecanismo de defesa do organismo tenta evitar
deglutição. As infecções respiratórias, urinárias
a continuação da perda de calor. A pessoa
e de feridas são as que nestes doentes se
começa a tremer para tentar manter os órgãos
verificam com maior frequência3.
principais a uma temperatura normal. O fluxo
Define-se “tratamento da pneumonia com intuito
sanguíneo para a pele é restringido e são
curatico “ e “tratamento paliativo”: o primeiro diz
libertadas hormonas para produção de calor5.
respeito a um tratamento que tem a cura de
Sem tratamento, as pessoas que tenham
infecção como objectivo primário (o que se torna
hipotermia podem ficar bastante mal de repente,
cada vez mais o tópico com a reincidência das
perder os sentidos e morrer.
infecções), e no segundo a cura não é só
Se estiver no exterior, tente abrigar-se e
objectivo mas sim o tratamento dos sintomas
proteger-se do ambiente. Tire a roupa molhada
resultantes da pneumonia, pelo desconforto que
e cubra os pés e as mãos para evitar mais
possam causar. Neste último caso, os
perda de calor.
antibióticos também poderão ser utilizados,
Para proteger os órgãos principais do
preferencialmente em concomitância com
organismo, aqueça primeiro o centro do corpo.
medidas como a oxigenoterapira, os
Utilize um saco cama, um cobertor de
antipiréticos e os opióides3.
emergência, contacto pele com pele ou
A antibioterapia em cuidados paliativos deve ser
camadas secas de cobertores, roupa, toalhas ou
ponderada segundo os vários aspetos clínicos e
lençóis5.
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Na insuficiência cardíaca principal causa é a
hemodiálise (tratamento realizado pelo filtro de
isquemia cardíaca ou o enfarte do miocárdio.
uma máquina ao sangue 3 vezes por semana
Enfarte significa morte tecidual, que no caso do
no hospital), diálise peritoneal (tratamento feito
coração se refere a parte do músculo cardíaco.
em casa diariamente por uma máquina através
Logo, quanto mais extenso for o enfarte, mais
de um cateter colocado no abdómen) ou
músculo morrerá, consequentemente, mais
transplante do rim11.
fraco fica o coração. Se o infarto necrosar uma
Hemodiálise na maioria das vezes representa
grande área, o paciente morre por falência da
uma esperança de vida, já que a doença é um
bomba cardíaca10.
processo irreversível. Contudo, observa-se que
O tratamento é feito com restrição de sal
geralmente as dificuldades de adesão ao
e água, diuréticos, anti-hipertensivos (…
tratamento estão relacionadas à não aceitação
Captopril, Enalapril, Losartan, etc.) e
da doença, à percepção de si próprio e ao
medicamentos que aumentam a força cardíaca
relacionamento interpessoal com familiares e ao
como a digoxina. Os obesos devem emagrecer,
convívio social9.
os fumadores têm que largar o cigarro, álcool
O enfermeiro como coordenador da equipe deve
deve ser evitado e exercícios supervisionados
coordenar a assistência prestada, identificando
para reabilitação cardíaca são indicados. A
as necessidades individuais de cada cliente,
pressão arterial deve ser controlada com
proporcionando meios de atendimento que
rigor10.
visem uma melhor adequação do tratamento,
A fibrilhação auricular é a disritmia auricular
garantindo assim uma qualidade de vida melhor,
mais rápida. É criada, e mantida, por um ou
aproveitando todos os momentos para criar
mais focos ectópicos de disparo rápido. As
condições de mudanças quando necessário9.
aurículas despolarizam caoticamente a frequências de 350 a 600 pulsações/minutos…
Com este processo de análise e extração de
Entre os fármacos usados…contam-se o
evidência relevante, foi encontrada informação
diltiazem, a digoxina, e os beta-bloqueadores…
importante que suporta as intervenções do
Na fibrilhação auricular com resposta ventricular
enfermeiro ao doente com doença de Alzheimer.
lenta, pode ser necessária a atropina para
Como é referido no tratamento da infeção, por
aumentar a frequência cardíaca e o débito
vezes a utilização de antibioterapia não é um
cardíaco7.
tratamento agressivo face aos benefícios em
A insuficiência renal é a incapacidade parcial ou
contraste com os malefícios.
total do(s) rin(s) desempenhar(em) a(s) sua(s)
Assim com a evidência obtida, verifica-se que a
função(ões).
delineação das intervenções de enfermagem
A insuficiência renal pode ser classificada em
segundo as intervenções terapêuticas e
aguda ou crónica. Na aguda a insuficiência renal
paliativas são onde o papel do enfermeiro ganha
aparece em poucos dias e tem cura enquanto
destaque como elemento ativo na atualização
que na crónica a doença vai-se desenvolvendo
dos seus conhecimentos e prestação de
e quando é detectada já é irreversível. Na
cuidados. Desta forma é garantida a qualidade
segunda situação o doente tem que fazer JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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de vida e conforto ao doente, sem esquecer a
Referências Bibliográficas
dignidade que se mantém intacta. 1.Associação Nacional de Cuidados Paliativos Conclusão
(2006). Organização de Serviços em Cuidados
Com o desenrolar deste trabalho foram
Paliativos. Recomendações da ANCP. p. 2, 3.
identificados vários aspetos a ter em conta na intervenção do enfermeiro, no que respeita às
2.Associação Portuguesa dos Familiares e
necessidades da pessoa com demência, neste
Amigos dos Doentes de Alzheimer (2006).
caso particular com doença de Alzheimer, de
Manual do Cuidador. Lisboa: Ponticor -
modo a maximizar a qualidade de vida, conforto,
Realizações Gráficas, Lda., p. 18, 21, 22.
dignidade e autonomia, conforme a fase da doença em que o doente se encontra. As
3.Barbosa, António & Neto, Isabel Galriça
intervenções identificadas incluem o uso de
(2010). Manual de Cuidados Paliativos. Lisboa:
antibioterapia, bem como outros aspetos
Faculdade de Medicina da Universidade de
relevantes, apesar de a doente já estar numa
Lisboa, p. 247, 248, 250, 251, 252, 253, 254,
das fases mais avançadas da doença, sendo já
255, 256.
uma doente para cuidados paliativos. Foi a partir da evidência cientifica existente e
4.Conselho Internacional de Enfermeiros (2006).
atual que foi recolhida a informação para a
Classificação Internacional para a Prática de
elaboração das intervenções no âmbito de
Enfermagem CIPE. Versão 1.0. Lisboa: Ordem
enfermagem para doente com doença de
dos Enfermeiros.
Alzheimer. A prática baseada na evidência, “tem sido
5.Hipotermia. (2008). Queen’s Printer and
descrita, como fazer bem as coisas certas” (Muir
Controller of HMSO, p. 1, 2.
Gray, 1997; citado por Craig & Smyth, 2004, p. 4)4, o que nos alerta para a importância de fazer
6.Mansur, Letícia Lessa, et al. (2005).
as coisas não só de uma forma eficaz, mas
Linguagem e Cognição
sempre com a melhor qualidade possível. Este
Alzheimer. Psicologia: Reflexão e Crítica, p. 300.
na Doença de
trabalho de prática, e muitos outros que tem vindo a ser feitos, vêm contribuir para este
7.Marek, Phipps & Sands (2003). Enfermagem
aspeto importante de procurar basear as nossas
Médico-Cirúrgica. Loures: Lusociência, p.759.
intervenções em evidência comprovada cientificamente, caminhando no sentido de uma
8.Ordem dos Enfermeiros (2003). Competências
prática com progressivamente mais qualidade.
do enfermeiro de cuidados gerais. Divulgar,
Tal permite uma abordagem mais segura e
artigo 9.º, n.º4, p. 7, 8.
eficaz deste desafio com melhores cuidados ao utente e de forma a maximizar a qualidade de
9. Souza, Emilia Ferreira, et al. (2007).
vida, o conforto e a promoção da dignidade do
Diagnósticos de enfermagem em pacientes
doente.
com tratamento hemodialítico utilizando o
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modelo teórico de Imogene King. Rev Esc Enferm USP, p. 630. 1 0 . h t t p : / / w w w. m d s a u d e . c o m / 2 0 0 9 / 0 2 / insuficiencia-cardiaca.html, consultado a 27/05/13. 11.http://www.conhecersaude.com/adultos/3055insuficiencia-renal-aguda-cronica.html, consultado a 27/05/13. 10.
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Neto, M., Corte-Real, J. (2013) The Elder institutionalized: Depression and social support. Journal of Aging & Inovation, 2 (3): 26-41
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
JULHO, 2013
A PESSOA IDOSA INSTITUCIONALIZADA: DEPRESSÃO E SUPORTE SOCIAL THE ELDER INSTITUTIONALIZED: DEPRESSION AND SOCIAL SUPPORT EL ANCIANO INSTITUCIONAL: DEPRESIÓN Y APOYO SOCIAL
Autores Maria João Neto1, Judite Corte-Real2 1
Mestre em Psicologia Clínica. Instituto Superior de Psicologia Aplicada-Instituto
Universitário (ISPA-IU)., 2 Professora no Instituto Superior de Psicologia Aplicada - Instituto Universitário (ISPA-IU). Corresponding Author: marianeto85@gmail.com
RESUMO Neste trabalho, pretendeu-se averiguar a prevalência da depressão, em pessoas idosas institucionalizadas, bem como, a sua rede de suporte social. Os resultados da aplicação da Escala da Depressão Geriátrica (GDS) e do Questionário de Apoio Social (SSQ-6) em 25 pessoas idosas institucionalizadas, revelam que 48% dos inquiridos apresentam depressão ligeira e 24% depressão grave. Relativamente à rede de suporte social, verifica-se que a maioria dos participantes (56%) inclui uma a duas pessoas na sua rede de apoio, 40% mais do que duas pessoas e apenas um inquirido menciona não ter ninguém. Constatou-se uma correlação significativa, negativa moderada entre a depressão e satisfação com o suporte social: quanto maior a satisfação com o suporte social, menor a pontuação na escala de depressão. Atendendo a que mais de 50% da população idosa, institucionalizada, apresenta sintomatologia depressiva, seria pertinente estudar variáveis contextuais que contribuam para o bem-estar destas pessoas. Palavras-chave: envelhecimento; depressão; institucionalização; suporte social.
Abstract The study has the objective to determine the prevalence of depression in institutionalized elderly, as well as their social support network. The results of application of the GDS and the SSQ-6, in 25 institutionalized elderly, shows that 48% of respondents have mild depression and 24% severe depression. For the social support network, it appears that most participants (56%) includes one or two people in your support network, 40% more than two people and only one surveyed stated they had none. There was a moderate negative significant correlation between depression and satisfaction with social support: the greater the satisfaction with social support, lower scores on the depression scale. Since over 50% of institutionalized elderly population presents symptoms of depression, it would be pertinent to study contextual variables that contribute to the welfare of these people. Keywords: aging; depression; institutionalization; social support.
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Introdução
através dos quais podemos promover uma maior qualidade de vida para a pessoa idosa.
O envelhecimento é um processo complexo de
Na nossa sociedade considera-se,
mudanças biológicas, psicológicas e sociais,
frequentemente, o idoso como um ser
que se iniciam no momento do nascimento e se
dependente e doente, condenando-o, por vezes
prolongam ao longo da vida. O envelhecimento
a uma solidão extrema (Ribeirinho, 2005), a que
é definido pela OMS como o “prolongamento e
acrescem dificuldades de natureza financeira
término de um processo representado por um
que diminuem a sua qualidade de vida.
conjunto de modificações fisiomórficas e
Se a quarta idade traz consigo várias patologias
psicológicas ininterruptas à ação do tempo
e um decréscimo das competências de
sobre as pessoas”. A OMS descreve ainda a
adaptação (Baltes & Smith, 1997), por outro
pessoa idosa como: “ (…) todo o indivíduo com
lado, verifica-se que o suporte familiar é cada
idade superior a 65 anos independentemente do
vez mais reduzido, devido ao crescente
estado de saúde e sexo" (OMS).
aumento de mulheres no mercado de trabalho e
A importância de estudos sobre o
consequente indisponibilidade das famílias, para
envelhecimento, tem vindo a crescer ao longo
cuidarem das suas pessoas idosas, optando-se
das últimas décadas, pelo aumento da
frequentemente pela institucionalização.
esperança média de vida, que tem levado a um
Segundo Slepoj (2000) a “família baseia-se hoje
crescimento significativo de pessoas idosas na
mais na satisfação de desejos do que na
população, em geral. Atualmente, verifica-se a
assistência recíproca” (p.89); fatores como o
existência de um número progressivamente
envelhecimento da população e consequente
superior de pessoas muito idosas, situadas por
aumento de pessoas idosas dependentes, a
alguns autores na denominada quarta idade, ou
integração das mulheres no mundo profissional,
seja, pessoas com idades superiores a 80 anos
o menor número de filhos, a focalização dos
(Oliveira, Freire & Giaretta, 1999).
indivíduos no sucesso profissional, entre outros,
A par do aumento exponencial da população
levaram à desresponsabilização do papel da
idosa, em Portugal, tem-se verificado uma
família como cuidadora primária, passando o
diminuição da população mais jovem nas
“dever” dos filhos de prestarem assistência aos
últimas décadas, chegando aquela a
seus pais, para um novo grupo profissional, o do
representar, em 2006, 17,3% da população total
“cuidador formal”(Casado & López, 2001, cit. por
e a população jovem apenas 15,5% (INE, 2007).
Martinéz, 2005).
Como consequência do envelhecimento
Os cuidados formais distinguem-se dos
populacional, o número de pessoas idosas
informais por estes serem prestados por
dependentes, por vezes institucionalizadas, tem
familiares ou pessoas próximas, enquanto que
aumentado, assim como perturbações de
os primeiros são disponibilizados por
natureza depressiva, podendo-se observar,
organizações (públicas ou privadas, com ou
nesta área, prevalências entre os 15% e os 50%
sem fins lucrativos) em lares, centros de dia ou
(Segal, 2005). Estes fatores, requerem que se
em regime de apoio domiciliário. Considera-se
reflita sobre o envelhecimento e os mecanismos
que os cuidadores formais têm competências
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técnicas e/ou clínicas que os capacitam para um
de dia (onde são disponibilizados
trabalho baseado na abordagem holística do
essencialmente serviços associados à
envelhecimento (Hye-cheon et al., 2009),
alimentação, higiene e outros cuidados básicos,
requerendo-se destes profissionais
durante o dia, permitindo à pessoa idosa
competências multidisciplinares e aptidões
manter-se em sua casa ou com a sua família,
práticas, que proporcionem saber reconhecer
mesmo que esta não lhe possa prestar cuidados
problemas cognitivos, sociais e familiares
durante o dia), serviços de apoio domiciliário
(Kaskie, Gregory & Gilder, 2009), assim como
(este tipo de cuidados incluem desde a
facultar cuidados de saúde, além de satisfazer
satisfação das necessidades básicas a cuidados
as necessidades básicas da pessoa idosa.
de saúde, permitindo-se à pessoa idosa
Segundo autores como Vieira (2003) as
continuar a viver em sua casa), até aos lares de
instituições voltadas para o cuidado de pessoas
terceira idade, com um carácter mais
idosas “têm uma função social indiscutível, por
permanente, onde se prestam uma variedade de
vezes vital, na organização e no funcionamento
serviços, como o alojamento temporário ou
da sociedade” (p. 23).
permanente, alimentação, cuidados de saúde,
A institucionalização, uma realidade cada vez
higiene e conforto, atividades de convívio e
mais presente na vida da pessoa idosa, tem
animação social, assim como ocupação dos
sido um tema muito focado pela literatura
tempos livres (Despacho Normativo nº 12/98 de
científica, dadas as mudanças havidas neste
25 de Fevereiro, Carvalho, 2006).
domínio, desde há algumas décadas e a
Embora a institucionalização seja geralmente
necessidade de se conhecerem os fatores a ela
rejeitada e temida pela maioria das pessoas
associados, o seu impacto na vida das pessoas
idosas, existem famílias que por motivos
idosas, assim como a necessidade de se
financeiros ou emocionais, não têm capacidade
fomentar o conhecimento de práticas que
de cuidar dos seus familiares; assim embora
promovam o bem-estar destas pessoas.
possa ser considerada negativa, a verdade é
Em 2004 os dados oficiais apontavam para
que a institucionalização frequentemente pode
56.535 pessoas idosas, institucionalizadas, em
promover uma maior sensação de segurança
1 5 1 7 L a r e s d e Te r c e i r a I d a d e l e g a i s ,
(Pimentel, 2001), principalmente se resultar de
representando 3.2% das pessoas idosas (INE,
perdas na autonomia, causadas por patologias
2007). Em Portugal, a institucionalização é feita
físicas, perda de cônjuge, carências de apoio
maioritariamente através de entidades privadas
social, isolamento ou vivências habitacionais
lucrativas e não lucrativas; destas últimas
negativas (Pimentel, 2001).
ressalvam-se as IPSS (Instituições Particulares
Na sequência da institucionalização, algumas
de Solidariedade Social) que surgiram em 1976
famílias mantêm um contacto regular com a
e, são até hoje, as instituições que
pessoa idosa, por telefone ou através de visitas;
disponibilizam um maior número de serviços
outras, com maior frequência, abandonam-na ou
para a população idosa, desde centros de
excluem-na do meio familiar, o que potencia
convívio (focados na prevenção do isolamento e
fortemente a sua solidão. Barroso e Tapadinhas
manutenção das relações sociais), aos centros
(2006) verificaram uma predominância da
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solidão, em pessoas idosas em situação de
mesmo tentativas de suicídio; recusa em
institucionalização, em relação aos não
alimentar-se; delírios e/ou alucinações
institucionalizados, observando-se nalguns
(Wilkinson et al., 2003). Em termos clínicos a
estudos uma diferença de 50% na depressão,
perturbação é diagnosticada quando estão
no sentido de ser superior nas pessoas
presentes cinco ou seis sintomas dos referidos.
institucionalizadas (Black, Rabins, German,
A depressão pode interferir com o dia-a-dia do
McGuire, & Roca, 1997; Rabins, et al., 1996).
indivíduo, levando a uma maior tendência para
A depressão, considerada uma perturbação do
ver a vida de forma pessimista, a alguma
humor, revela-se como de difícil diagnóstico em
incapacidade em sentir alegria ou satisfação,
pessoas idosas (Martins, 2008), devendo,
observando-se perturbações nas relações e
frequentemente segundo este autor, ser
atividades sociais, em domínios como o sexual
considerada presente quando houver
ou profissional, o que por sua vez contribui para
sintomatologia depressiva, dissociada de
a depressão decorrente da sensação de
causas orgânicas e quando os tratamentos
fracasso nessas áreas. Porém, há pacientes
clínicos não promovem melhorias da situação.
que não aparentam tristeza, veiculando os
A dificuldade de diagnóstico está relacionada
sintomas para perturbações somáticas, como
com reações normais às perdas físicas e
dores físicas, de cabeça, cansaço, perturbações
cognitivas que ocorrem com o envelhecimento
do apetite ou do sono, inibição ou problemas
(Conn, 2005; Giron et al., 2005; Mulsant &
dermatológicos, entre outros.
Ganguli, 1999; Salzman, 1999; Tierney, McPhee
As ideações suicidas são muito frequentes na
& Papadakis, 2003).
depressão grave e é relevante notar que as
A depressão varia a nível da severidade e
tentativas de suicídio são prevalentes em
duração, podendo mesmo tornar-se
indivíduos em tratamento, porque existe um
incapacitante, sendo geralmente recorrente e
retorno de energia e capacidade de agir que a
acompanhada por sintomatologia física e
pessoa não tem quando está em depressão
psicológica. Numa fase inicial de depressão o
profunda (Gleitman, 1999).
indivíduo apresenta sintomas típicos como:
Sabe-se que a depressão nas pessoas idosas é
humor triste constante, perturbações do sono,
uma perturbação que é sub-diagnosticada e por
perdas a nível do apetite, de peso
isso insuficientemente tratada (Demétrio, 2005;
(excecionalmente aumento), do interesse ou
Conn, 2005; Giron et al., 2005; Mulsant &
prazer pelas atividades comuns, ou ainda de
Ganguli, 1999; Salzman, 1999), estando
energia e consequente fadiga, pensamentos de
também relacionada com um risco severo de
autorrecriminação e culpa, perturbações de
suicídio (Conwell, 1997).
concentração e de tomada de decisões,
Tem-se verificado uma alta prevalência de
diminuição da libido e por vezes ansiedade,
depressões atípicas nas pessoas idosas, pelo
irritabilidade, agitação e/ou lentidão (APA, 2002;
que muitas vezes não se enquadram nos
Sabanés, 1994; Wilkinson, Moore & Moore,
critérios de classificação definidos por manuais
2003). Em casos de depressão grave podem
como o DSM-IV e o CID 10 (Cohen & Eisdorfer,
ainda ocorrer ideações suicidas, planos ou
1997 cit. por Martins, 2008).
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Uma das características das depressões
idosas institucionalizadas, verificando-se um
atípicas é a “depressão sem tristeza” (Gallo,
maior risco de morbilidade e mortalidade
Rabins, Lyketsos, Tien, & Anthony, 1997), com
(Morley & Kraenzle, 1994; Parmelee, Katz, &
presença de apatia, perturbações percebidas a
Lawton, 1991, 1992; Rovner et al., 1991).
nível cognitivo, ansiedade, somatização e
Aranha (2004) salienta, na prevalência de
preocupação excessiva com o corpo (Martins,
doenças e mortalidade, o facto da pessoa idosa
2008); será também importante referir ainda a
não ter familiares próximos, pelo que é
associação entre a depressão e a demência,
presumível que pouco apoio social, ou de pouca
uma vez que estas se têm mostrado
qualidade, constitui um fator que afeta a saúde
frequentemente concomitantes, com quase um
da pessoa idosa (Hoolyman & Kiyak, 1997, cit.
terço de pacientes com demência a apresentar
por Rigo & Teixeira, 2005). Serra (1999)
depressão (Maynard, 2003).
considera o suporte social como a quantidade e
Vários estudos apresentam diversos valores de
coesão das relações sociais que envolvem de
predominância da depressão em pessoas
modo dinâmico um indivíduo e Saranson,
idosas, devido ao conceito de depressão
Levine, Basham e Saranson (1993) definem-no
adotado, em cada estudo e ao uso de diferentes
como “a existência ou disponibilidade de
métodos de avaliação (Kerber, Dyck, Culp &
pessoas em quem se pode confiar, pessoas que
Buckwalter, 2005); as percentagens referidas
nos mostram que se preocupam connosco, nos
variam entre 12.6% e 44% (Jones, Marcantonio
valorizam e gostam de nós”(p. 127).
& Rabinowitz, 2003; Rovner et al., 1991).
O suporte social pode ser descrito pelo tamanho
Mulsant e Ganguli (1999) revelam que a
da rede social, pela presença de relações
depressão atinge aproximadamente 15% dos
sociais, frequência de contacto com membros
idosos não institucionalizados, subindo para
da rede social, necessidade de apoio
30% a 40% em indivíduos com doença de
transmitida ou tipo e quantidade de apoio que o
A l z h e i m e r. O s v a l o r e s a p r e s e n t a d o s
indivíduo precisa e
predominam no sexo feminino, sendo duas
1990). Outros aspetos que caracterizam a rede
vezes superior aos homens; porém acredita-se
social de apoio são a extensão da utilização da
que a discrepância entre os sexos não seja tão
rede social, a dependência, os comportamentos
grande, uma vez que os homens tendem a
de reciprocidade, a proximidade/intimidade entre
mascarar a sintomatologia depressiva.
os membros e a satisfação com a rede em
Blazer (2003) indica que 4% das pessoas idosas
geral.
manifestam depressão major e 20%
O suporte social é particularmente importante
apresentam sintomatologia depressiva
para as pessoas idosas, sendo que é nesta
significativa; Costa (2005) refere 50% dos
população que frequentemente se verificam as
idosos institucionalizados com alguma forma de
maiores lacunas, pois existe uma elevada
sintomatologia depressiva. Assim, embora a
quantidade de pessoas idosas que vivem
depressão possa apresentar-se associada a
sozinhas ou em instituições, sem apoio familiar.
vários fatores decorrentes do envelhecimento, a
A rede social de suporte é considerada
sua prevalência parece agravar-se em pessoas
importante porque: “alivia o stress em situação
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recebe (Dunst & Trivette,
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de crise, pode inibir o desenvolvimento de
constituem a rede social de apoio da pessoa
doenças e quando o indivíduo está doente tem
idosa institucionalizada) e variáveis
um papel positivo na recuperação da
sociodemográficas como a idade e habilitações
doença” (Rodin e Salovey, 1989, cit. por Santos,
literárias.
Ribeiro, & Lopes, 2003, p. 186). O indivíduo pode ter uma perceção alterada, positiva ou
Método
negativa, do suporte social que tem e daquele
Participantes
que efetivamente lhe é dado.
O grupo de participantes é composto por 25
Saranson, Saranson e Pierce (1990)
pessoas idosas, residentes num lar, com idades
discriminam o suporte social em três categorias:
compreendidas entre os 63 e os 93 anos, sendo
“1) o modelo de rede, que se focaliza na
a média etária de 80,84 anos. A maioria (84%) é
integração social dos indivíduos num grupo e
do sexo feminino, viúva (84%) e com baixa
nas inter-relações que mantêm; 2) o modelo de
escolaridade (52% não tem escolaridade e 44%
suporte recebido, que incide no que a pessoa
tem o 1º ciclo). A categoria profissional
recebe ou refere ter recebido e 3) o modelo de
predominante é referente ao grupo dos
suporte disponível, que diz respeito ao suporte
Agricultores e Trabalhadores Qualificados da
que a pessoa acha que está disponível, se ela
Agricultura e Pescas. A maioria (80%) dos
precisar. Por seu lado, Serra (1990) descreve
participantes tem filhos (60% têm entre 1 a 2
seis tipos de apoio social: afetivo, emocional,
filhos e os restantes 3 a 4 filhos) e está
percetivo, instrumental, informativo e através da
institucionalizada há menos de 4 anos (80%),
convivência.
verificando-se em 48% dos casos que esta é
Dunst & Trivette (1990) revelam que o suporte
recente (menos de 1 ano).
social pode ser formal (e.g. lares de idosos), ou
A maioria dos participantes sofre de doenças
informal (e.g. família, amigos). Na literatura,
crónicas (80%), sendo os problemas mais
encontram-se vários estudos relacionando o
frequentes os de ossos (24%), auditivos (20%),
suporte social e a saúde, como o de Demaray,
diabetes (16%) e os problemas de coração
Malecki, Davidson, Hodgson & Rebus (2005),
(12%).
Seiffge-Krenke (1995), e de Singer & Lord
Da totalidade, 88% referiu receber visitas,
(1984), que afirmam que o apoio social poderá
maioritariamente dos filhos ou outros familiares
ser um fator de proteção das perturbações
(64%) e amigos (20%); destes 50% recebem
causadas pelo stress. Neste sentido,
visitas semanalmente e 36,40%
considerando pertinente a associação entre o
quinzenalmente.
suporte social, depressão e institucionalização, propusemo-nos realizar um trabalho empírico, a
Instrumento
fim de averiguarmos, qual a incidência de
Foram utilizados questionários adaptados para a
depressão
idosas
população portuguesa, nomeadamente, a
institucionalizadas, tentando-se perceber e
Escala da Depressão Geriátrica de Yesavage et
relacionar esta variável com o suporte social
al. (1983) e o Questionário de Apoio Social
(grau de satisfação e número de pessoas que
(SSQ-R), Versão Reduzida (SSQ6) de Moreira
em
pessoas
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et al. (2002), versão portuguesa do "Social
minutos, tendo os instrumentos sido
Support Questionnaire" de Saranson, Levine e
apresentados sempre na mesma ordem,
Basham (1983).
primeiro o GDS e seguidamente o SSQ-6.
A Escala de Depressão Geriátrica (GDS) é muito utilizada como instrumento de diagnóstico
Resultados
de depressão em pessoas idosas. Apresenta 30
Tratamento Estatístico dos Dados
itens, sendo cotada de forma dicotómica (Sim/
O tratamento de dados foi efetuado através do
Não), atribuindo-se um ponto para cada
software PASW Statistics 18. Recorreu-se ao
resposta compatível com depressão. O score
teste exato de Fisher, para cruzar um conjunto
final determina a severidade da depressão do
de variáveis com os níveis de depressão (3
indivíduo: 0 a 10 pontos indica inexistência de
níveis: ausência de depressão, depressão
depressão evidente; 11 a 20 pontos depressão
ligeira e grave). As variáveis não dicotómicas
moderada e dos 21 aos 30 pontos depressão
foram reagrupadas no sentido de se organizar 2
severa.
grupos (ex. na idade, foi calculada a mediana e
O Questionário de Apoio Social (SSQ6), inclui
criados dois grupos a partir desse valor),
apenas seis questões, permitindo contudo
obtendo-se assim tabelas de contingência.
avaliar duas dimensões de apoio social
Recorreu-se ainda ao coeficiente de correlação
percebido: o número de pessoas disponíveis
não paramétrico de Spearman para
para darem apoio (SSQ-N) e a satisfação com
correlacionar o score total de depressão, com o
esse apoio (SSQ-S). Em cada questão pede-se
score total de satisfação com o suporte social.
a indicação do número de fontes de suporte
Usou-se ainda este coeficiente, para relacionar
social percebido (podendo-se obter um número
a satisfação com o suporte social, com o
mínimo de 0 – correspondente a nenhum
número de pessoas da rede de apoio.
- e
máximo de nove) e seguidamente a avaliação da satisfação com esse suporte, podendo esta variar em seis pontos de uma escala tipo Likert
GDS – Escala de Depressão Geriátrica
(de “Muito Satisfeito” a “Muito Insatisfeito”).
Os scores obtidos na GDS variam entre os 4 e os 25, sendo a média de 14,68 e o desvio
Procedimento
padrão de 6,5. Os dados revelam que apenas
Após se obter a autorização da coordenadora
28% dos participantes não apresentam
técnica, de um lar, para o desenvolvimento do
depressão; dos restantes, 48% revelam
estudo, foram selecionados os utentes aptos a
depressão ligeira e 24% uma depressão grave.
participar, sendo excluídos os que manifestavam
Efetuou-se uma análise de frequências aos itens
problemáticas neurológicas, como a Doença de
com
Alzheimer.
seguidamente, exposta, na tabela 1 e 2.
respostas
sim
e
não,
A recolha dos dados foi realizada no gabinete
Os resultados obtidos com a GDS revelam que
médico da instituição, individualmente, com
muitos dos participantes, se sentem muitas
cada utente e sem interrupções. A aplicação dos
vezes com vontade de chorar (84%),
questionários teve uma duração média de 20
aborrecidos (80%), inquietos ou nervosos
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(72%), afligem-se muitas vezes com pequenas
tensão e pressão, as respostas mais frequentes
coisas (72%), colocaram de lado muitas das
foram "ninguém" (28%) e os auxiliares do lar
atividades e interesses (68%) e têm dificuldade
(24%), verificando-se percentagens algo
em começar novas atividades, preferindo ficar
idênticas nestes itens, em repostas à questão
no lar, em vez de sair e fazer coisas novas
relativa às pessoas com quem podem contar
(68%). Muitos dos participantes responderam
para os consolar: "ninguém" (32%), filhos (28%)
ainda preocuparem-se muitas vezes com o
e auxiliares do lar (28%).
futuro (68%), sentirem-se muitas vezes
A esmagadora maioria dos participantes refere
desamparados (64%), desanimados e abatidos
algum familiar (tabela 3), como a pessoa com
(60%) ou inúteis (56%).
quem podem contar quando precisam de ajuda
Por outro lado, embora a maioria dos inquiridos
(76% - Q1), ou para se preocuparem com eles
respondesse não ter facilidade em tomar
(76% - Q4), o mesmo não acontecendo noutros
decisões (56%,), nem ter esperança no futuro
aspetos, nomeadamente nas questões “com
(52%), foram poucos os participantes que
quem podem contar para se sentirem relaxados
responderam não gostarem de estar vivos ou
(Q 2), melhor quando estão em baixo (Q 5),
de se levantarem de manhã (12%), ou ainda,
para os consolar quando estão muito
não estarem bem-dispostos a maior parte do
preocupados (Q 6) e para “os aceitar como
tempo (20%).
são” (Q3) , onde se verifica que a percentagem de referência a um familiar é substancialmente
Questionário de Apoio Social
mais baixa (inferior a 50%); como foi acima
As respostas ao questionário de apoio social,
referido, nalgumas destas questões
revelam que 48% dos participantes, referiram
relativas ao apoio para se sentirem relaxados ou
que as pessoas com quem realmente podem
serem consolados, quando estão preocupados),
contar quando precisam de ajuda são os filhos;
há uma grande percentagem a referir não ter
as outras respostas com maior frequência
ninguém para esse tipo de apoio (28% a 32%)
incidiram nos amigos (28%) e irmãos (20%). A
ou a referir as auxiliares do lar (24% a 32%).
maioria dos inquiridos (60%) refere também os
Relativamente ao grau de satisfação com o
filhos, como as pessoas com quem
apoio recebido, nas questões 1 e 3 todos os
podem contar para se preocuparem com eles,
participantes revelaram satisfação (satisfeitos ou
para se sentirem melhor quando estão em baixo
muito satisfeitos), na 2 (relativa a com quem
(nesta questão, 24% dos utentes mencionam os
podem contar para se sentirem relaxados) dois
filhos, 20% ninguém, 16% os amigos e 12% os
participantes (8%) revelaram insatisfação e nas
auxiliares do lar) ou ainda as pessoas que os
questões 4, 5 e 6, apenas 1 participante (4%)
aceitam totalmente (os filhos obtêm, neste item,
mostrou descontentamento; a maioria dos
32% das respostas, os amigos 24% e outros
participantes (56%) refere 1 a 2 pessoas na sua
utentes 20%).
rede de apoio, 40% mais do que duas pessoas
Por outro lado, no que concerne às pessoas
(as
e apenas um inquirido indica não ter ninguém.
que os utentes referem como importantes para se sentirem mais relaxados em situações de JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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apresentando doenças crónicas, sendo a Relação entre a Depressão, Suporte Social e
maioria do género feminino, viúvas, refletindo a
Variáveis Sociodemográficas
já esperada superioridade feminina (Netto,
O teste de Fisher (tabela 4) revelou a existência
2000). Caracterizam-se também por terem
de uma relação significativa entre a idade e a
filhos, possuírem baixa escolaridade e
depressão (p≤0,05); existem mais casos de
profissões na área da agricultura e pesca, dado
depressão grave, no grupo de pessoas idosas
a instituição se situar numa zona rural
com mais de 84 anos e de ausência de
piscatória.
depressão no grupo com idade até 84 anos. O
Constatou-se a prevalência de uma depressão
mesmo teste aplicado à relação
ligeira em grande parte dos casos (48%), o que
entre as habilitações literárias e a depressão
revela concordância com os resultados obtidos
revelou a existência de uma relação significativa
noutros estudos, como os de Weyerer, Hafner,
entre as habilitações e a depressão uma vez
Mann, Ames e Graham (1995) no Reino Unido e
que p≤0,05, constatando-se mais casos de
de Brodaty et al. (2001) na Austrália, que
depressão grave, no grupo não escolarizado e
referem índices de 48% e 42%, respetivamente.
de ausência de depressão no grupo
Martins (2008) afirma que o envelhecimento por
escolarizado.
si só propicia o aumento da sensibilidade
O teste de Fisher foi aplicado de igual forma
afetiva, devido a alterações neurológicas e
para testar a correlação entre a depressão e
fisiológicas, a que se associam fatores de
variáveis como o número de pessoas da rede de
exclusão social, que também contribuem para
apoio, tendo-se obtido
um p> 0,05, ou seja,
aumentar a probabilidade de desenvolvimento
uma relação estatisticamente não significativas
de um processo depressivo, na pessoa idosa. A
entre esta variável e a depressão.
mesma autora, após a análise de vários
Relativamente à correlação entre a satisfação
estudos, salienta que a percentagem de
com o apoio social e a depressão utilizou-se a
pessoas idosas com perturbações depressivas é
correlação não paramétrica de Spearman,
elevada, agravando-se estes valores nas que
obtendo-se uma correlação significativa,
residem em lares, pois a institucionalização
negativa moderada de - .46, p = .02≤ 0,05 entre
poder ser vivenciada, como stressante, podendo
a satisfação e o total da depressão: quanto
contribuir, segundo autores como Vieira (996)
maior a satisfação com o apoio social menor o
para o desenvolvimento de depressões, dado
score na escala de depressão.
que a pessoa idosa começa a experienciar alterações no seu meio social, tendo de adotar
Discussão
um novo estilo de vida; Beekman et al. (1995) e
Considerando estudos de autores como Marinho
Osborn et al. (2003), evidenciam, por outro
(2010), Martins (2008) e Papadopoulos (2005),
lado, a influência das doenças crónicas no
o grupo de participantes apresenta
estado de saúde mental da pessoa idosa, o que
características muito comuns à generalidade
nos remete para
das pessoas idosas institucionalizadas: pessoas
inquiridos
com uma média de idade de 80,84 anos,
crónicas, podendo estas constituir um fator que
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o facto da maioria dos
deste estudo possuírem doenças
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poderá contribuir para a elevada percentagem
nível de instrução, à prevalência de depressão
de participantes, com depressão.
na população idosa (Chou & Chi, 2005;
Os resultados obtidos na análise das
Papadopoulos et al. 2005).
frequências dos itens da GDS, com cotação
Embora os testes realizados no nosso estudo,
“sim”, revelam, de acordo com Cohen e
não tenham denotado uma relação significativa,
Eisdorfer (1997) alguns dos sintomas de uma
entre a depressão e o número de pessoas da
depressão atípica (e.g. apatia, queixas
rede de apoio, existem autores como Irigaray e
subjetivas de comprometimento cognitivo,
Schneider (2007), Jefferson e Greist (1997) cit.
ansiedade, somatização, excesso de
Irigaray e Schneider (2007), Papalia et al.
preocupação). Estes autores referem que a
(2006), que acreditam que a composição da
institucionalização contribui para alguns dos
rede social da pessoa idosa e o tipo de relações
sintomas, que surgem nas pessoas idosas,
estabelecidas, ajudam a minimizar e a enfrentar
como a falta de vontade em realizar atividades
a depressão. No entanto, como defende
de seu interesse, a dificuldade em começar
Goldstein (1998), citado em Resende et al.
novas atividades e a preferência por não sair da
(2006), o mais importante na rede social de
instituição.
apoio não é o número de elementos, mas sim a
Relativamente às frequências obtidas nos itens
qualidade das relações; a manutenção do
da GDS com cotação de 1 para “não”, são de
contacto com o mundo existente fora da
salientar as respostas concernentes à
instituição, pode revelar-se
capacidade de decisão que se mostrou
pessoa idosa.
negativa. Martins (2008) salienta que a
A rede social de apoio destes participantes, é
satisfação das necessidades da pessoa idosa
constituída maioritariamente por cuidadores
institucionalizada é escrupulosamente planeada,
formais (as funcionárias da instituição
limitando-se o seu poder de decisão e de
acolhedora) e pelos familiares mais próximos,
influência institucional. Deste modo, a falta de
nomeadamente, os filhos. De acordo com os
decisão poderá ser condicionada pelo ambiente
seis tipos de apoio social defendido por Serra
institucional, embora possa também resultar de
(1999), infere-se que as auxiliares do lar e os
outros fatores associados a doença.
familiares desempenham um papel de grande
Verificou-se que as pessoas idosas mais velhas
relevância no domínio do apoio afetivo,
(mais de 84 anos), apresentam mais casos de
auxiliando a pessoa idosa institucionalizada
depressão grave, o que é congruente com o que
sempre que necessita de ajuda ou revelando
defende Bergdahal et al. (2005), que refere a
preocupação com o seu bem-estar, o que pode
existência de uma associação entre os sintomas
contribuir para o desenvolvimento de um
depressivos e o aumento da idade. Por outro
sentimento de pertença; os familiares, poderão
lado, a existência de mais casos de depressão
ainda fornecer apoio instrumental,
grave, no grupo dos participantes não
nomeadamente financeiro.
escolarizados e sua ausência
no grupo
Os participantes encontram-se maioritariamente
escolarizado, coaduna-se com os resultados
satisfeitos com o apoio recebido, verificando-se
obtidos noutras investigações, que associam o
uma correlação, significativa, entre o índice de
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positiva para a
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depressão e o grau de satisfação com a sua
período; outros possíveis trabalhos nesta área,
rede social, ou seja, observa-se que quanto
poderiam comparar pessoas idosas
maior é a satisfação com a rede social, menor o
institucionalizadas e não institucionalizados,
score na escala de depressão. Assim, a
procurar conhecer a opinião das famílias, de
satisfação da pessoa idosa institucionalizada,
cuidadores informais e formais, nomeadamente
com a rede de suporte social, pode ter um papel
as auxiliares dos lares. Considerando
preponderante no sentido de evitar ou atenuar o
o exponencial aumento da população idosa em
desenvolvimento de sintomas depressivos
todo o mundo, pensamos ser
(Marinho, 2010).
incrementar a investigação nesta área, de forma
fundamental
Este trabalho apresenta limitações de ordem
a garantir melhores condições de vida às
metodológica, pelo reduzido número de
populações idosas, em situação de
participantes e processo de amostragem de
institucionalização.
conveniência, associado a um
não
balanceamento de características, como o
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género sexual; estes factos traduzem-se na pouca representatividade da amostra e
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A r a n h a , V. C . ( 2 0 0 4 M a r ç o / A b r i l ) .
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Envelhecimento e saúde: aspectos psicológicos.
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Para complementar os resultados obtidos neste trabalho, seria importante desenvolverem-se
Barroso, V. L & Tapadinhas, A. R. (2006). Orfãos
estudos, com grupos de maior dimensão e igual
Geriatras: Sentimentos de solidão e
número de participantes de cada género sexual,
depressividade face ao envelhecimento –
de forma a tornar possível averiguar possíveis
Estudo comparativo entre idosos
diferenças relativas a esta variável. Seria
institucionalizados e não institucionalizados.
também pertinente realizarem-se estudos
Psicologia.pt - O Portal dos Psicólogos. Retirado
longitudinais, a fim de se obter uma melhor
em 15 de Julho de 2009, de http://
compreensão sobre a influência do tempo de
w w w. p s i c o l o g i a . c o m . p t / a r t i g o s / t e x t o s /
institucionalização na depressão, ou sua
TL0091.pdf.
estabilidade ou mudança/evolução durante esse JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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ESTUDO DE CASO / CASE STUDY
JULHO, 2013
EXPECTATIVAS DE RESPONSABILIDADE FILIAL E ORIENTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE NO CUIDADO AOS IDOSOS EXPECTATIONS OF FILIAL RESPONSABILITY AND GUIDANCE OF RESPONSABILITY IN CARE FOR THE ELDERLY EXPECTATIVAS DE RESPONSABILIDAD FILIAL Y LA ORIENTACIÓN DE LA RESPONSABILIDAD EN EL CUIDADO DE LOS ANCIANOS
Autora Marta Gama1 1
Enfermeira no Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE
Corresponding Author: gama.mm@gmail.com RESUMO: Muitos desenvolvimentos demográficos e estruturais ocorreram nas relações intergeracionais, os quais provocaram um impacto nas ligações familiares, tais como o aumento da longevidade e as alterações da dinâmica estrutural e social da família, tendo sido colocado em causa a vitalidade das obrigações familiares e solidariedade familiar, nomeadamente entre pais e filhos adultos. Assim, com este estudo pretendeu-se verificar a presença de solidariedade entre pais e os seus filhos adultos, assim como as expectativas de responsabilidade filial dos pais e as suas opiniões e preferências no que se refere à orientação da responsabilidade para família/ serviços públicos no cuidado aos idosos. De forma a alcançar os objectivos, foi aplicado um questionário a 97 alunos, da Universidade Sénior da Póvoa de Santa Iria, com 55 ou mais anos e que tivessem pelo menos um filho adulto. Foi possível chegar à conclusão de que existe solidariedade entre pais e filhos adultos, assim como os pais consideram que existe uma responsabilidade mista (família/Estado) no cuidado aos idosos e que preferem os apoios formais em detrimento dos informais (familiares) – contrariando a orientação familística. Contudo, apesar disso continuam a apresentar expectativas elevadas em relação à responsabilidade que os filhos devem ter para com os pais, nomeadamente a nível da dimensão de apoio emocional, sendo a dimensão de apoio instrumental a excepção. Desta forma, é possível concluir que há uma tendência por parte da população inquirida em preferir a complementaridade de apoios formais e informais, com consequente especialização de tarefas: instrumental e emocional, respectivamente. Palavras-chave: Solidariedade familiar; normas filiais; preferências no cuidado; familismo; responsabilidade dos serviços públicos. Abstract: Intergenerational relations have been affected by demographical and structural changes that had impact on family relationships. The increase in life expectancy and the changes in the families’ structural and social dynamics have put at risk the vitality of family obligations and solidarity, namely between parents and adult children. Therefore, this research aimed at studying the existence of solidarity between parents and adult children as well as the parents’ expectations towards their children’s responsibilities and their views and preferences on family and welfare state responsibility as far as elderly people are concerned. In order to achieve this, a questionnaire was devised and subsequently applied to 97 participants attending the Universidade Sénior in Póvoa de Santa Iria, aged 55 or older, with at least one adult child. The results indicate that there is solidarity between parents and adult children and that parents consider that both the family and the state should share the responsibility towards elderly people. Moreover, the study proves that formal support is preferred to the detriment of an informal one (family), which contradicts the familistic approach. However, parents evince high expectations as far as children responsibility towards them is concerned, specially in terms of emotional support. This does not apply, however, to the instrumental support domain. In conclusion, the study indicates that the participants tend to prefer the complementariness of formal and informal support with subsequent task specialisation: instrumental and emotional, respectively. Keywords: Family solidarity; filial norms; care preferences; familism; welfare state responsibility.
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Introdução
vitalidade das obrigações familiares e à força
O envelhecimento da população é um fenómeno
das ligações familiares.
progressivo que se prevê, através dos estudos
A imagem transmitida pelos media sobre as
demográficos, que vá continuar e,
relações entre as gerações, a qual reflecte a
inclusivamente aumentar. Este dado coloca
opinião pública, está associada à separação
exigências e desafios a nível económico, social,
entre os membros, no que diz respeito aos
de investigação e de intervenção. Em paralelo
jovens, encarados como individualistas flexíveis
ao processo de envelhecimento da sociedade,
que mudam de trabalho frequentemente, o que
também é possível verificar alterações nas
faz com que estes se afastem cada vez mais
estruturas familiares, nas ligações sociais e no
dos seus pais. Desta maneira, segundo esta
modo de viver da população idosa.
ideia, os filhos nem têm tempo ou vontade para
A orientação da vida social da família e o valor
estar com os seus pais (Szydlik, 2008). Tendo
ligado à sociabilidade fazem desta o principal
em conta estas perspectivas, é sugerido que
ponto de referência do processo do
com o aumento da população idosa a viver só e
envelhecimento, sendo que as necessidades
os seus filhos a residirem em diferentes cidades,
dos idosos são melhor entendidas dentro do
acabe por haver um risco de isolamento social a
contexto da família. De facto, a família é uma
partir do momento em que os filhos se afastam
célula fundamental, enquanto lugar privilegiado
e abandonam as suas obrigações sociais e o
de trocas intergeracionais. É aí que as gerações
seu compromisso para com os seus pais idosos,
se encontram, se interajudam e completam de
confiando no Estado. Embora a orientação
forma intensa.
individual para o ‘Estado’ ou para a ‘família’
Ao longo dos últimos dois séculos, drásticas
como prestadores de apoio estar intimamente
alterações ocorreram na natureza e força das
relacionada com a cultura, as preferências
ligações familiares. Nos dia de hoje, torna-se
individuais e normas (se existir uma opção
uma prioridade das necessidades individuais o
disponível) também vão variar (Motel-Klingebiel,
comprometimento para com a sobrevivência e o
Tesch-Roemer e Kondratowitz, 2005).
bem-estar económico da família. A orientação
Estas afirmações baseadas no fim da família
instrumental relativamente à família tem sido
extensa de outrora, foram no entanto
gradualmente substituída por uma orientação
prematuras. Estudos de relações familiares
mais individualista e afectiva, dando-se uma
intergeracionais revelaram que os filhos adultos
enorme ênfase às necessidades individuais e
não estavam isolados dos seus pais, pois não
felicidade pessoal. Este desenvolvimento
só mantinham contacto frequente com estes,
levantou preocupações no que diz respeito à
assim como existia uma troca de inter-ajudas,
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mesmo quando estavam separados por longas
responsabilização familiar no cuidado aos
distâncias geográficas (Lowenstein e Ogg, 2003;
idosos e das preferências pelo apoio familiar em
Dykstra, 2006; Szydlik, 2008). Também
detrimento do apoio formal;
Bengtson (2000 in Lowenstein e Ogg, 2003) refere que os sociologistas familiares têm
A centralidade deste tema relaciona-se com a
comprovado empiricamente que a família
importância de conhecermos as bases de
contemporânea mantém coesão familiar
solidariedade familiar intergeracional,
intergeracional, não se verificando uma
estabelecidas entre pais e filhos, na vida adulta,
substituição do apoio familiar pelos serviços
assim como conhecer as crenças normativas,
públicos, mas antes um encorajamento
expectativas e preferências dos pais (indivíduos
daqueles por parte destes (Lowenstein e Ogg,
com 55 ou mais anos). É evidente que os
2003; Kohli, Künemund e Vogel, 2005).
resultados do estudo não podem ser
Portanto, com todas as alterações
extrapolados para a população portuguesa em
demográficas, sociais e familiares que
geral, contudo é possível extrair deste
decorreram ao longo das últimas décadas,
informações muito ricas sobre as solidariedades
torna-se imperativo assegurar e contribuir para a
intergeracionais, expectativas e orientação da
verdadeira realidade de solidariedade e coesão
responsabilidade no cuidado aos idosos.
existente na família, assim como analisar as expectativas e as preferências dos indivíduos no
SOLIDARIEDADE
FAMILIAR
que diz respeito às crenças normativas sobre o
INTERGERACIONAL - CONSTRUÇÃO DO
apoio, tendo como pergunta de partida para o
MODELO TEÓRICO
presente estudo: “Quais são as expectativas dos indivíduos com 55 ou mais anos em relação às
Na década de 70, Vern Bengtson e os seus
responsabilidades filiais e as suas opiniões/
colegas começaram a elaborar uma construção
preferências no que diz respeito à orientação da
da solidariedade orientada para o indivíduo e
responsabilidade para o apoio familiar e de
apontada às relações entre as gerações
serviços públicos?”
familiares (Black e Bengtson, 1974, in
Feita a apresentação do tema, importa delinear
Hammarström, 2005). Esta construção de
os objectivos do estudo e os principais eixos
solidariedade foi originalmente desenvolvida
que compõem o estudo, o qual tem como
para sumarizar vários comportamentos e
objectivos:
sentimentos que pareciam caracterizar as
Analisar a solidariedade familiar actual existente
relações pai-filho ao longo do curso de vida e
entre os filhos adultos e os seus pais, no que diz
focava-se em questões de coesão ou
respeito à proximidade geográfica, a nível de
integração, conceptualizando a solidariedade
contacto estabelecido, à proximidade afectiva, a
familiar como uma interacção entre as três
nível do consenso e do apoio instrumental;
dimensões de solidariedade associativa,
Identificar a existência de uma orientação
afectiva e consensual. Black e Bengtson (1974,
famílistica, através do apoio de crenças
in Hammarström, 2005) inspirados pelo conceito
normativas sobre a responsabilidade filial, da
de solidariedade mecânica de Durkheim e
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enfatizando a similaridade de valores, os seus
Bengtson e os seus colegas (Bengtson, Landry
pressupostos basearam-se no facto da
e Mangen, 1988; Bengtson e Roberts, 1991)
similaridade ideológica entre membros
identificam assim seis dimensões do modelo de
familiares (solidariedade consensual) reforçar e
solidariedade:
ser reforçada por altos níveis de afectos e associação. Estas dimensões foram assumidas
•Solidariedade estrutural
como tendo elevados níveis de correlação entre
Um dos aspectos mais facilmente observados e
elas e assim constituindo dimensões de uma
objectivamente determinados da solidariedade
construção única de ordem superior
familiar ou coesão aparenta ser a estrutura de
(Hammarström, 2005).
relações familiares intergeracionais. Dentro do
O modelo original no qual a solidariedade
contexto do sistema de família intergeracional, a
constitui uma construção única de ordem
estrutura familiar é vista como uma função de
superior foi abandonado, através da
oportunidade. A estrutura familiar é definida
investigação levada a cabo por Bengtson e
como o padrão de papéis relacionais (redes de
Roberts (1991). Para além das três dimensões
parentesco: número de filhos e netos; estado
de solidariedade originais (associativa, afectiva
civil dos membros familiares; género dos filhos e
e consensual), os autores incluíram mais três
netos; idade dos filhos em cada núcleo familiar)
dimensões - solidariedade normativa, funcional
ressaltados por constrangimentos espaciais
e estrutural – colocando a solidariedade
(proximidade: a actual distância em quilómetros
consensual como uma variável independente.
da casa do inquirido à casa do avô, pai, filho ou
Neste estudo, Bengtson e Roberts (1991)
neto referido; e as categorias funcionais, que
concluíram que a solidariedade não poderia ser
são indicadoras do quão difícil ou do tempo
vista como uma construção única uma vez que
consumido por uma visita ao parente).
a única correlação significativa encontrada foi entre o afecto e a associação, enquanto o
•Solidariedade afectiva
consenso diferia das outras componentes da
A construção do afecto, em particular, a
solidariedade. Desta forma, Bengtson e Roberts
solidariedade afectiva entre membros da família,
(1991) reformularam o modelo de modo a
é um assunto familiar e complexo. Na nossa
apenas comprometer conexões entre as
existência do dia-a-dia todos nós somos tocados
diferentes dimensões de solidariedade,
pelo afecto nas nossas relações interpessoais.
deixando assim de olhar para a solidariedade
A solidariedade afectiva deriva da construção
como uma composição simples e linear de
geral do sentimento, sendo este um padrão de
associação, afecto e consenso. Assim,
sentimentos socialmente definido que indica
Bengtson (2001: 8) afirma que a utilização da
uma relação particular com um objecto social e
construção teórica de solidariedade
é acompanhado por um comportamento
intergeracional é para “[…] caracterizar as
socialmente apropriado. É nominalmente
dimensões comportamentais e emocionais da
definida como a natureza e extensão do
interacção, coesão, sentimento e suporte entre
sentimento positivo em relação a outro membro
os pais e filhos, avós e netos, ao longo da vida”.
da família. Os tipos e quantidades de
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sentimento positivo determinam a qualidade das
familiar, como por exemplo: poder, igualdade e
relações entendidas por cada membro da
justiça na família.
família.
•Solidariedade Normativa •Solidariedade associativa
As normas familiares podem ser definidas como
A solidariedade associativa é definida como o
aqueles padrões de comportamento que
grau segundo o qual os membros da família
governam e medeiam as interacções
partilham actividades com outros membros da
intrafamiliares e as expectativas da família como
família. A um nível teórico, esta definição inclui
um sistema social. Tais normas moldam
uma partilha de actividade intergeracional. O
expectativas e atitudes e definem
contacto entre membros da família é por vezes
comportamentos próprios e equitativos de
face-a-face, enquanto que noutras alturas a
acordo com o tipo e grau de obrigações filiais. A
associação é limitada ao contacto indirecto (por
responsabilidade filial refere-se às obrigações
escrito, ou por telefone).
que os filhos adultos sentem em responder às necessidades básicas dos seus pais,
•Solidariedade consensual
enfatizando o dever, protecção e equidade.
Na solidariedade familiar são analisadas várias
Assim, a solidariedade normativa diz respeito às
características da família em busca de traços
expectativas referentes às obrigações filiais e
que promovem a sua coesão. Uma destas
parentais, bem como às normas sobre a
dimensões é o grau de similaridade de valores e
importância dos valores familísticos,
a opinião consensual entre os pais e os seus
conceptualizando o grau de percepção de
filhos. A dimensão consensual foca-se em
responsabilidade filial (familismo).
valores, opiniões e orientações entre as gerações.
Apesar das normas estabelecerem padrões de comportamento e estabelecerem as
•Solidariedade funcional
expectativas que guiam o comportamento, elas
O apoio instrumental, como a troca de dinheiro,
não são uniformemente aplicadas. Diferentes
bens e serviços é um aspecto chave na
normas podem ser utilizadas por certos
solidariedade familiar, sendo a troca definida
indivíduos ou as mesmas normas poderão ser
como acto de dar e receber assistência entre
aplicadas de formas distintas, dependendo do
membros familiares de diferentes gerações. O
nível atribuído ou atingido pelo indivíduo dentro
foco reside na quantidade de assistência que as
do grupo. Género, idade e status ocupacional,
pessoas dão e recebem do sistema familiar
mudanças demográficas, mudanças na
intergeracional. Dar e receber é um aspecto de
sociedade, estrutura familiar, bem como o
interdependência entre membros familiares.
aumento da natureza multicultural da nossa
Apesar de a troca ser uma componente de
população são características que influenciam a
solidariedade familiar ela é causa e
mudança e a forma como as normas serão
consequência de outros aspectos da dinâmica
aplicadas, pelo que as normas familiares não são estáticas.
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Roberts (1991) sugeriram que um passo lógico SOLIDARIEDADE
N O R M AT I VA :
no desenvolvimento da teoria é examinar as
E X P E C TAT I VA S E O R I E N TA Ç Ã O D A
trocas dinâmicas nas relações intergeracionais e
RESPONSABILIDADE FILIAL/FAMILIAR E
como elas se relacionam nas normas familiares.
DOS SERVIÇOS PÚBLICOS
As obrigações familiares são culturalmente descritas como expectativas normativas, as
Bengtson e seus colegas distinguiram seis tipos
quais podem ser definidas em termos de dever
de solidariedade, sendo as expectativas sobre
e sentimentos de obrigação altruísta baseados
como os membros familiares se comportam uns
no parentesco ou razões morais, a nível social,
com os outros uma importante dimensão da vida
ou em termos de reciprocidade e afectividade, a
familiar, a qual foi denominada de solidariedade
nível individual (Wijckmans e Bavel, 2010).
normativa. A solidariedade normativa refere-se
Tanto as normas gerais como as crenças
às normas que dão ênfase à primazia das
pessoais podem afectar a conduta individual, e
relações na família, sendo definida como o grau
ambas estão inter-relacionadas (Ganong e
de consenso intergeracional em relação à
Coleman, 2005; Gans e Silverstein, 2006).
responsabilidade familiar e de força do comprometimento no desempenho dos papéis e
É importante focalizar as obrigações familiares
no reconhecimento das obrigações familiares
uma vez que estas são indicativas do actual
(Bengtson, Landry e Mangen, 1988; Bengtson e
funcionamento das famílias. Primeiramente,
Roberts, 1991). Em todas as conceptualizações
sentimentos de obrigação podem ter um
de solidariedade normativa, as expectativas de
importante impacto nas provisões de apoio, pois
responsabilidade filial desempenham o papel de
quanto mais forte for o sentimento de obrigação
componente central, independentemente do
de um membro familiar a prestar um
consenso destas expectativas. Este conceito
determinado tipo de apoio a outro membro
refere-se à dimensão que os membros
familiar, é mais provável que aquele membro
familiares jovens e de meia-idade são
familiar preste realmente esse apoio em caso de
esperados que prestem assistência aos seus
necessidade (Lee, Neetzer e Coward, 1994).
pais idosos, e que dêem prioridade às
Ikkink, Tilburg e Knipscheer (1999) chegam
necessidades destes em relação às suas (Lee,
mesmo a afirmar que as normas não são
Netzer e Coward, 1994). Já Van der Pas (2006)
efectivas até que as necessidades de apoio
define expectativas filiais como a reflexão de
surjam por parte dos pais idosos. Em segundo
normas sociais gerais, um conjunto de crenças
lugar, sentimentos de obrigação são uma
sobre como as pessoas se devem comportar em
importante medida para avaliar trocas actuais na
determinadas situações. Assim, pode-se
família, pois os membros familiares irão avaliar
concluir que as expectativas de
o apoio que recebem dos membros familiares à
responsabilidade filial consistem em crenças
luz do que sentem que esses outros membros
normativas sobre os deveres e obrigações dos
familiares estariam obrigados a dar (Lee,
filhos adultos para com os seus pais idosos, em
Neetzer e Coward, 1994). Se os membros
momentos de necessidades. Bengston e
familiares não corresponderem às expectativas,
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isto poderá implicar uma redefinição desta
familiares intergeracionais entre a gerontologia e
relação familiar em particular ou a uma
a sociologia familiar. Uma das razões principais
redefinição dos próprios sentimentos de
para este interesse nas relações familiares ao
obrigação familiar, possivelmente levando a uma
longo de gerações poderá ser as exigências de
anulação do apoio. Neste sentido, expectativas
crescimento nas famílias geradas pela alteração
sobre as obrigações familiares e trocas
na estrutura etária da população juntamente
familiares actuais são interdependentes e
com as restrições nas despesas públicas
muitas vezes reforçam-se mutuamente.
relativamente a pagamentos financeiros para cuidados de saúde aos mais idosos. Assim, para
A maior critica à ideia de que as pessoas
guiar a investigação pretendida, é adoptado
geralmente têm um forte sentimento de
neste estudo o paradigma da solidariedade
obrigação familiar é apresentada por Finch e
intergeracional, por duas razões principais.
Mason (1991), em que na maioria dos casos, da
Primeiramente, o paradigma da solidariedade
amostra britânica, não existia um consenso
representa na sociologia da família um dos
claro da subsistência das normas familiares. Em
esforços a longo prazo para desenvolver e
muitos casos, os inquiridos sugeriram que as
testar uma teoria da integração familiar, sendo
pessoas não eram obrigadas a tomar conta dos
que o modelo da solidariedade guiou muitas das
seus parentes, mas que essa função de apoio
pesquisas sobre as relações intergeracionais
deveria ser tomada, por exemplo, pelo Estado.
adultas ao longo das últimas décadas (por
Emerge assim, uma outra conceptualização da
exemplo, Lee, Netzer e Coward, 1994;
solidariedade normativa no que diz respeito às
Lowenstein e Ogg, 2003; Dykstra [et. al.], 2006;
expectativas de responsabilidade familiar versus
Lowenstein, 2007). Em segundo, as medidas
responsabilidade do Estado Providência. Desta
baseadas nas dimensões de solidariedade
forma, na orientação do Estado Providência as
incluem uma ferramenta válida e confiável de
crenças normativas dos indivíduos inclinam-se
forma a avaliar a força das obrigações familiares
para a responsabilidade do Estado e as suas
intergeracionais (Bengtson, Landry e Mangen,
preferências favorecem os serviços formais
1988; Bengtson e Roberts, 1991). Desta forma,
relativamente ao apoio familiar. Na situação
é delineado o modelo de análise do presente
oposta, temos a orientação da responsabilidade
estudo, o qual se pode observar na figura n.º 1.
familiar em que as crenças normativas dos indivíduos inclinam-se para a responsabilidade familiar e as suas preferências favorecem os serviços informais relativamente aos serviços formais (Motel-Klingebiel, Tesch-Roemer e Kondratowitz, 2005). Ao longo dos últimos 30 anos, e primeiramente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, aumentaram o número de estudos de relações JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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que 14 destes alunos apenas leccionam no pólo que se situa em Vila Franca de Xira, os quais não foram abrangidos pelo estudo. A escolha da amostra teve como critério os indivíduos terem pelo menos um filho adulto vivo, com idade superior a 18 anos. Foi METODOLOGIA A população alvo a partir da qual foi efectuado o estudo, foram os alunos da Universidade Sénior da Póvoa de Santa Iria, em que o total de alunos que frequenta a Universidade é de 343 indivíduos com uma idade de 55 ou mais anos e/ou reformados a residir em localidades do concelho de Vila Franca de Xira (Póvoa de Santa Iria, Vialonga, Forte da Casa e Alverca), sendo
comunicado em cada sala de aula, durante uma semana em Novembro de 2010, a minha presença na Universidade Sénior e o objectivo da mesma, sendo que colaboraram no estudo apenas aqueles que se disponibilizaram para responder ao questionário, perfazendo no total 97 questionários completos e 3 incompletos. A recolha de dados circunscreveu-se apenas a um único período no tempo (Novembro de 2010), sendo a sua configuração definida de desenho transversal. Dado que o estudo visa analisar as expectativas de responsabilidade filial, de uma população específica, e a sua
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orientação da responsabilidade familiar e do
solidariedade normativa - avaliando as
Estado no cuidado aos idosos, o seu carácter é
expectativas de responsabilidade filial, através
naturalmente descritivo. Assim, para a análise
do instrumento utilizado por Van der Pas (2006),
dos dados utiliza-se o método quantitativo,
e a orientação da responsabilidade familiar /
recorrendo-se ao inquérito por questionário de
Estado Providência através do instrumento
administração directa como técnica de recolha
descrito por Daatland e Herlofson (2003).
de dados.
Posteriormente, a informação retirada dos
No que se refere à elaboração do questionário,
questionários foi codificada e inserida na base
pode-se dizer que neste estão implícitos três
de dados do SPSS, para descrição dos
subconjuntos. A primeira parte do questionário é
resultados e análise interpretativa dos mesmos,
composta por variáveis de caracterização,
à luz dos pressupostos teóricos.
(género, idade e estado civil), assim como por variáveis socioeconómicas (habilitações
CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO
literárias, situação perante o trabalho,
INQUIRIDA
rendimento mensal, contexto familiar) e variável de estado de saúde.
Do total de 97 inquiridos que constituem a
Na segunda parte do questionário analisam-se
amostra foi possível obter um conjunto de
as cinco dimensões do modelo de solidariedade
informações sociográficas dos indivíduos que
intergeracional no que diz respeito à relação
leccionam na Universidade Sénior. Desta forma,
com o filho ‘focal’, sendo que é pedido ao
a amostra é constituída por 44 homens e 53
inquirido que seleccione um dos dois critérios
mulheres com uma idade compreendida entre
explícitos: 1 – é o filho que ajuda mais o pai nas
55 e 81 anos, com uma média de 65 anos. É
AVD’s; 2 – é o filho que o pai vê mais
possível verificar que são os homens que
frequentemente. Tal como afirmam Lee, Neetzer
apresentam uma idade mais elevada, em
e Coward (1994: 561) este “procedimento de
relação às mulheres.
selecção garante que o filho focal é aquele com
No que diz respeito ao estado civil, verifica-se
quem o pai tem o máximo de oportunidades de
que a maioria dos inquiridos são casados (75,
troca de ajuda”. Assim os instrumentos
3%), assumindo algum destaque os viúvos
utilizados para avaliar as dimensões de
(17,5%) e por último, salienta-se a fraca
solidariedade intergeracional são de duas fontes
expressividade dos divorciados (6,2%) e
distintas: para avaliar as dimensões de
separados (1%). É possível verificar que no que
solidariedade estrutural, associativa, afectiva e
se refere aos inquiridos viúvos, 28,3% são do
consensual recorre-se ao instrumento utilizado
género feminino face aos 4,5% do género
no Projecto OASIS por Lowenstein e Ogg (2003)
masculino. É possível verificar que a faixa etária
e para avaliar a dimensão de solidariedade
em que se evidencia maior prevalência de
funcional recorre-se ao instrumento empregue
viúvos é entre os 70 e 74 anos de idade
por Lee, Neetzer e Coward (1994).
(representando 35,3% do total de viúvos).
Na terceira parte do questionário analisa-se a
Em relação ao agregado familiar é possível
sexta dimensão do modelo de solidariedade -
observar que a maioria dos inquiridos coabita
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com o cônjuge/companheiro (47, 4%), tendo
semelhança entre géneros, contudo os homens
também importante expressividade os que
tendem a considerar o seu estado de saúde
coabitam com cônjuge/companheiro e filho
melhor em relação às mulheres.
(25,8%) e ainda os que vivem sós (20,6%),
Do total da amostra, 51,5% dos inquiridos
sendo que do total da população inquirida
afirmaram apresentar um problema de saúde
verifica-se que 26,4% mulheres e 13,6%
com uma duração de mais de 6 meses, sendo
homens vivem em situação isolada, sendo que a
as doenças mais referidas, por ordem de
maioria dos que vivem sós são viúvos (70%).
importância, a hipertensão, diabetes,
Quando questionados sobre o nº de filhos, foi
osteoporose, doenças do foro cardíaco, gástrico
possível constatar que quase metade da
e reumático, hipercolesterolémia, doença
população tem apenas um filho (48,5%), e ainda
oncológica, problemas de coluna, alergias,
com grande expressividade os que têm dois
hipotiroidismo e apneia do sono. Contudo,
filhos (41,2%), tendo pouco destaque os que
apenas 19,6% dos inquiridos afirmou limitação
têm três e quatro filhos (respectivamente, 7,2 e
causada pela doença/ problema de saúde nas
3,1%) (Anexo III). A maioria dos inquiridos
AVD’s, em que 52,6% referiu que essa limitação
afirmou ter netos (75,3%), revelando com maior
não era severa.
expressividade os que apresentam um e dois netos (respectivamente, 26,8 e 30,9%). No que se refere às características profissionais e económicas, verifica-se que 28,9%
SOLIDARIEDADE INTERGERACIONAL
apresentam habilitações literárias a nível do 3.º
ENTRE PAIS E FILHOS ADULTOS
Ciclo de escolaridade e que 82,5% são reformados. O rendimento económico da população constitui um indicador importante para determinar a dependência económica face a terceiros. É possível verificar que o rendimento mensal médio da população inquirida se situa entre os 700 e 1000 euros, sendo que 23,7% da nossa amostra apresenta um rendimento mensal superior a 1500 euros, para além de que as mulheres tendem a apresentar um rendimento mensal inferior ao dos homens. Por fim, no que diz respeito ao estado de saúde, a maioria dos inquiridos refere considerar o seu estado de saúde razoável (59,8%) ou bom (33%), tendo fraca expressividade a classificação de muito bom e mau (respectivamente 4,1 e 3,1%). Verifica-se uma JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
Primeiramente, é feita uma caracterização sociográfica do filho adulto, verificando-se que 51,5% são do género masculino e 48,5% são do género feminino, com idades compreendidas entre os 20 e os 54 anos de idade (uma média de 36 anos de idade), em que a maioria são licenciados (62,9%) e estão empregados (90,7%) e 52,6% são casados, verificando contudo uma forte expressividade a nível dos solteiros (30,9%). Visto a população analisada ser independente e não necessitar de ajuda nas actividades de vida, quase a totalidade dos inquiridos com mais de um filho (98%) optou pelo critério do “filho que vê com mais frequência”, sendo que apenas um indivíduo optou pelo critério do “filho que o ajuda mais nas suas AVD’s”.
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A nível da solidariedade estrutural, pode-se
afirma apresentar um grau baixo de proximidade
verificar que os filhos adultos vivem
afectiva.
razoavelmente próximos dos seus pais, uma vez
A nível da solidariedade consensual apesar da
que cerca de metade da amostra (48,5%) vive a
maioria dos inquiridos considerar que os seus
menos de 10 minutos ou entre 10 e 29 minutos
valores e opiniões são bastante e muito
do seu filho, verificando-se ainda que 24,7% dos
semelhantes (36,1 e 25,8%, respectivamente)
filhos adultos reside com os seus pais.
com os do seu filho adulto, 19,6 e 13,4% dos
No que diz respeito à solidariedade associativa,
inquiridos consideram que apenas são um
é possível constatar que os pais vêem
pouco semelhantes ou que não são muito
frequentemente o seu filho, sendo que mais de
semelhantes, respectivamente.
metade dos inquiridos vê o seu filho uma vez
No que diz respeito à solidariedade funcional,
por dia ou mais ou algumas vezes por semana
pode-se verificar que os apoios, mais referidos
(62,9%). Contudo 10,3% dos inquiridos referem
pela população inquirida, que os filhos adultos
ver os seus filhos mais ocasionalmente,
prestaram nos últimos 12 meses, foram
nomeadamente aqueles que vivem no
presentes sem ser dinheiro (42,3%), conselho
estrangeiro, embora haja um caso em que o
numa decisão (37%) e ajuda nas tarefas
inquirido refere que “ só me visita se precisa de
domésticas ou pequenas tarefas (33%). É de
mim ou quando eu convido e mesmo assim por
salientar que 19,6% dos pais referiram não ter
vezes recusa o convite”.
recebido ajuda por parte do seu filho adulto.
Ainda no que se refere à solidariedade
Quanto aos apoios que os pais prestaram ao
associativa, ao analisar a frequência com que os
seu filho adulto, nos últimos 12 meses, foram
inquiridos estabelecem contacto telefónico com
por ordem de importância presentes sem ser
o seu filho é possível verificar que estes falam
dinheiro (48,3%), assistência financeira em
frequentemente com o seu filho, sendo que a
presente ou empréstimo, ajuda nas tarefas
maioria dos inquiridos estabelece contacto
domésticas (42,3%) e conselho numa decisão
telefónico com o seu filho uma vez por dia ou
(38,1%). Verifica-se também uma forte
mais ou algumas vezes por semana (74,2%).
expressividade no que diz respeito a tomar
Ainda a referir que 13,4% dos inquiridos
conta das crianças (28,9%). Apenas 5,2% dos
nomearam outra situação, sendo a situação
pais referiram não ter ajudado o seu filho adulto,
“quando necessário” a opção de 11,3% uma vez
sendo que foram os pais que prestaram mais
que a maioria destes inquiridos reside com o
apoio ao seu filho adulto, em relação ao apoio
seu filho, não tendo grande necessidade de
prestado por este aos seus pais.
estabelecer contacto telefónico frequentemente.
Apenas 24,7% dos inquiridos afirmou ter um dos
No que concerne à solidariedade afectiva pode-
seus pais vivo, sendo que 70,8% destes
se verificar que mais de metade dos inquiridos e
inquiridos presta algum tipo de apoio a um dos
o seu filho adulto têm uma proximidade afectiva
seus pais ou a ambos (correspondendo a 17,5%
muito elevada ou extremamente elevada
do total da população inquirida), situando-se
(52,6%), existindo apenas um inquirido que
70,6% na faixa etária dos 55 aos 64 anos de idade. No que diz respeito ao tipo de apoio
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prestado: acompanhamento, visitas, apoio nas
pessoal) a idosos com necessidades e as
tarefas domésticas, apoio financeiro e apoio no
preferências pessoais dos inquiridos no que diz
transporte foram os apoios mais enunciados,
respeito às suas preferências habitacionais e na
por ordem de importância.
proveniência de apoio em caso de necessidade.
Assim 70,8% dos inquiridos, que tem um dos
Verificou-se que a nível da dimensão emocional
seus pais vivo, presta apoio a este ajudando
pode-se verificar que a maioria dos inquiridos
simultaneamente o seu filho adulto, pois metade
concorda com as afirmações, ou seja tem uma
destes inquiridos dá apoio ao seu filho adulto
grande expectativa a nível da dimensão
em tarefas domésticas, dá presentes sem ser
emocional, sendo que apenas a afirmação “os
em dinheiro e assistência financeira em
filhos devem sentir-se responsáveis pelos seus
presente ou empréstimo (58,8%, 52,9% e
pais” originou mais divergência, pois 27,8% dos
47,1%, respectivamente), e 1/3 dos inquiridos
inquiridos não concorda nem discorda, 17,5%
dá apoio ao seu filho adulto tomando conta dos
discordam e 4,5% discordam totalmente da
netos.
afirmação. No que diz respeito a nível da dimensão
SOLIDARIEDADE NORMATIVA
instrumental é possível verificar que a opinião dos inquiridos é bastante divergente. Apenas é
A pesquisa da solidariedade normativa é feita
possível verificar que a maioria dos inquiridos
através primeiramente do estudo das
concorda e concorda totalmente em que “os
expectativas de responsabilidade filial e
filhos devem cuidar dos seus pais doentes” (55,
posteriormente da orientação da
7 e 17,5%, respectivamente) e que “em situação
responsabilidade familiar versus Estado no
de emergência, os filhos devem acolher os seus
cuidado aos idosos.
pais em sua casa” (54,6 e 16,5%,
Desta forma, para a análise das expectativas de
respectivamente). Pelo contrário não
responsabilidade filial foram redigidas 16
apresentam expectativas no que concerne às
afirmações, inseridas em quatro dimensões
restantes afirmações, pois os inquiridos não
(emocional, instrumental, informativa e
concordam nem discordam com estas,
contacto), em que os inquiridos tinham de
chegando mesmo a discordar que os filhos
indicar se discordavam totalmente,
devem providenciar apoio financeiro, abdicar do
discordavam, não concordavam nem
seu tempo livre, ajustar a sua situação
discordavam, concordavam ou se concordavam
profissional e a sua situação em sua casa para
totalmente. Sendo assim, a apresentação dos
ajudar os pais (17,5%, 26,8%, 36,1% e 22,7%,
resultados vai ser apresentada através das
respectivamente).
quatro dimensões.
No que se refere à dimensão de contacto, é
Quanto à análise da responsabilidade familiar e
possível verificar que os pais apresentam altas
do Estado no cuidado aos idosos foi estudado a
expectativas, uma vez que a maioria concorda
quem os inquiridos impunham responsabilidade
que “os filhos devem telefonar regularmente” e
no apoio instrumental (apoio financeiro, apoio
que “os filhos que vivem perto dos seus pais
nas tarefas domésticas e apoio no cuidado
devem visitá-los pelo menos uma vez por
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semana” (66% para ambas as afirmações). Contudo quase a maioria dos inquiridos (47,4%) não concordou nem discordou que “os filhos devem viver próximo dos seus pais”, sendo que 7,2% discordaram e 6,2% discordaram totalmente. Por fim, quanto à dimensão informativa é possível constatar que os inquiridos apresentam altas expectativas no que concerne a esta dimensão, uma vez que em todas as afirmações a maioria concorda que os filhos devem aconselhar, controlar a qualidade de cuidado e familiarizar os seus pais com serviços prestadores de cuidados de saúde (54,6%, 67% e 71,1%, respectivamente).
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO Com a caracterização da população inquirida é possível verificar que a maioria dos inquiridos é casada. Contudo constata-se com alguma expressividade que uma parcela da população inquirida é viúvos, sendo na sua grande maioria inquiridos do género feminino. Este resultado pode relacionar-se com a sobremortalidade masculina, referida por Carrilho e Patrício (2005), em que a esperança de vida é mais elevada nas mulheres do que nos homens. É possível verificar também que a faixa etária em que se evidencia maior prevalência de viúvos é entre os 70 e 74 anos de idade (representando
No que diz respeito à responsabilidade atribuída
cerca de 1/3 do total de viúvos), idade próxima
pela população inquirida à família ou ao Estado,
da esperança de vida para os homens.
a nível dos apoios financeiro, nas tarefas
A nível do agregado familiar verifica-se que
domésticas e no cuidado pessoal a idosos que
metade da população inquirida reside com
necessitam de apoio, foi possível verificar que a
cônjuge/companheiro e ¼ desta reside com
maioria dos inquiridos (77,3%, 79,4% e 76,3%,
cônjuge/companheiro e filho, tendo de se ter em
respectivamente) considerava que tanto o
conta que a média de idade da população
Estado como a família deviam suportar essas
inquirida é de 65 anos. Contudo mesmo assim,
responsabilidades.
ainda é possível verificar alguma expressividade
Quanto às preferências pessoais habitacionais,
dos que vivem sós, verificando-se que são as
a maioria dos inquiridos refere preferir residir
mulheres as que mais vivem em situação
numa instituição (54,6%), contudo mais de 1/3
isolada e que a maioria dos que vivem sós são
dos inquiridos refere preferir residir com os seus
viúvos. Esta situação está provavelmente
filhos (38,1%), caso não pudesse viver de forma
associada à sobremortalidade masculina e à
independente.
maior esperança de vida feminina (Guerreiro,
Também a nível das preferências pessoais no
2003). Também é possível verificar que tanto os
que diz respeito à proveniência de apoio em
inquiridos como os seus filhos adultos têm
caso de necessidade de ajuda a longo prazo, a
predominantemente um ou dois filhos,
maioria dos inquiridos referiu que preferia
justificando a baixa acentuada da fecundidade
receber ajuda de serviços organizados (73,2%),
ao longo das últimas décadas, pois tal como
sendo que apenas 23,7% preferia que esta
afirmam Carrilho e Patrício (2005) em 2004 a
viesse de familiares.
descendência média é de 1,4 filhos por mulher,
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assim como se verifica uma diminuição média
(1999) apoiando o argumento de que a
do tamanho da família.
coresidência é mais comum nos países
Através da análise da solidariedade familiar
mediterrâneos. Hank (2005) também refere a
intergeracional foi possível constatar que os
predominância da coresidência nos três países
filhos adultos não estavam isolados dos seus
mediterrâneos comparados com os outros
pais, pois não só mantinham contacto frequente
países investigados. Contudo também tem de
com estes, assim como existia uma troca de
se ter em conta a faixa etária dos inquiridos que
inter-ajudas, à semelhança do que
abrange os indivíduos com 55 ou mais anos, ou
demonstraram outros estudos empíricos
seja o estudo ainda engloba indivíduos de meia-
(Lowenstein e Ogg, 2003; Dykstra, 2006;
idade, sendo que nesta fase da vida muitos dos
Szydlik, 2008). Assim, é possível verificar que os
filhos adultos ainda residem com os pais, como
resultados da solidariedade estrutural
se verifica no estudo em que dos 25 inquiridos
demonstram que os filhos adultos vivem
que reside com o seu cônjuge e o seu filho, 16
próximo dos seus pais, contrariando a ideia de
destes encontram-se entre a faixa etária dos 55
que os membros familiares vivem cada vez mais
aos 64 anos de idade. Este facto está
afastados uns dos outros, sendo que cerca de
relacionado com os filhos saírem cada vez mais
metade da população inquirida vive a menos de
tarde de casa dos pais uma vez que demoram
10 minutos ou entre 10 e 29 minutos do seu filho
mais a ter a sua independência financeira
adulto. Estes resultados vão de encontro aos do
devido ao “alongamento da formação escolar e
estudo de Dykstra [et al.] (2006) em que a
do correspondente atraso de entrada na vida
média de distância entre os membros familiares
adulta activa.” (Almeida [et. al.], 1998: 46) e
mostrou-se ser relativamente baixa, assim como
consequentemente também está relacionado
o de Hank (2005) em que a maioria dos
com o aumento da idade média do primeiro
inquiridos vivia próximo do seu filho e o de
casamento (Fernandes, 1997, Almeida [et. al.],
Lowenstein e Ogg (2003) no qual mais de
1998, Carrilho e Patrício, 2005).
metade dos pais viviam entre 10 a 30 minutos
No que diz respeito à solidariedade associativa,
dos seus filhos. Contudo no que se refere à
verificou-se que os pais estabelecem contacto
coabitação é possível verificar que ¼ da
face-a-face e telefónico frequentemente com o
população inquirida reside com o seu filho
seu filho, sendo que a população inquirida
adulto e o cônjuge, ao contrário de outros
estabelece mais frequentemente contacto
estudos como de Rein (1994) e de Lowenstein e
telefónico do que contacto face-a-face. Estes
Ogg (2003), nos quais se verificou um declínio
resultados vêm de encontro com a realidade
da coresidência entre as gerações, apesar dos
empírica que comprovou que os pais e filhos
filhos adultos residirem próximo dos seus pais
adultos estabelecem contactos regulares (Rein,
idosos. Neste último estudo é necessário ter em
1994; Gil, 1999; Lowenstein e Ogg, 2003; Hank,
conta que foi em Espanha que se verificou um
2005; Dykstra [et. al.], 2006, Hatton-Yeo, 2007 e
maior nível de coresidência (cerca de ¼ da
Szydlik, 2008).
população espanhola inquirida), verificando-se
No que concerne à solidariedade afectiva, mais
valores semelhantes também no estudo de Gil
de metade dos inquiridos e o seu filho adulto
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têm uma proximidade afectiva muito elevada ou
acontecer que o apoio não seja reconhecido
extremamente elevada, o que vem de encontro
pelo receptor tal como afirmou Dykstra [et. al.]
com os estudos realizados por Lowenstein e
(2006) ao constatar que os filhos referiram
Ogg (2003) e Szydlik (2008).
prestar mais apoio aos pais do que os pais
A nível da solidariedade consensual apesar da
referiram receber por parte dos filhos. Também
maioria dos inquiridos considerar que os seus
Ikkink, Tilburg e Knipscheer (1999) afirmaram na
valores e opiniões são bastante e muito
sua investigação que tanto os filhos como os
semelhantes com os do seu filho adulto, cerca
pais tinham tendência a reportar que davam
de 1/3 da população inquirida considera que
mais ajuda do que recebiam. Do mesmo modo,
apenas são um pouco semelhantes ou que não
foi possível constatar que houve mais pais a
são muito semelhantes. À semelhança também
afirmar que não receberam nenhum apoio por
no estudo de Lowenstein e Ogg (2003) foi
parte dos seus filhos, do que o contrário. É
possível verificar que era em Espanha que os
possível verificar que noutros estudos empíricos
indivíduos apresentavam um menor índice de
também os inquiridos referem, com alguma
consenso, em comparação com os outros
expressividade, não receber qualquer tipo de
países (Noruega, Inglaterra, Alemanha e Israel).
apoio por parte dos seus filhos (Lowenstein e
No que diz respeito à solidariedade funcional, foi
Ogg, 2003 e Szydlik, 2008).
possível verificar que foram os pais que
A nível dos apoios especificamente verifica-se
prestaram mais apoio, em relação ao apoio que
que existe uma relativa similaridade de troca de
os filhos adultos prestaram aos seus pais. Este
apoios entre pais e filhos adultos a nível do
resultado vem contra a investigação de Dykstra
conselho, tarefas domésticas, presentes sem
[et. al.] (2006), no qual se verificou que existe a
ser dinheiro e transporte, o que não se verifica a
mesma quantidade de ajuda de pais para filhos
nível do apoio financeiro. São os pais que
como dos filhos para os pais, e contra os
prestam mais apoio financeiro aos seus filhos
estudos de Attias-Donfut (1993, in Rein, 1994) e
adultos do que o contrário, tal como se verificam
Lowenstein e Ogg (2003), em que foi possível
nos estudos empíricos de Attias-Donfut (1993, in
concluir que os pais claramente prestavam
Rein, 1994), Gil (1999) e Dykstra [et. al.] (2006).
menos apoio do que recebiam por parte dos
Outro tipo de apoio também prestado aos filhos
seus filhos adultos. Uma das possíveis razões
adultos referido por mais de ¼ dos pais está
para este resultado pode estar relacionada com
relacionado com o cuidado aos netos. Nos
a faixa etária da população inquirida (com 55 ou
estudos de Gil (1999) e Szydlik (2008) verifica-
mais anos) em que esta poderá prestar mais
se que os pais prestam este tipo de apoio aos
apoio aos seus filhos ou estes podem depender
seus filhos, verificando-se contudo resultados
mais dos seus pais, sendo que em todos os
superiores nas investigações levadas a cabo por
estudos empíricos a idade dos pais é mais
Dykstra [et. al.] (2006) e Attias-Donfut, Ogg e
avançada. Outra razão possível depreende-se
Wolff (2005).
com o facto de serem apenas os pais a
Verifica-se que apenas ¼ da população inquirida
relatarem a troca de ajudas existentes entre eles
pertence à geração ‘pivô’, ao contrário do que
e os seus filhos adultos, sendo que pode
era esperado, uma vez que segundo Attias-
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Donfut, Ogg e Wolff (2005) na actualidade esta
inquirida está pouco de acordo que os filhos
geração é numericamente muito elevada, muito
devam providenciar apoio financeiro, abdicar do
devido ao aumento da esperança de vida.
seu tempo livre, ajustar a sua situação
Contudo grande maioria destes inquiridos
profissional e a sua situação em sua casa para
pertence a uma geração ‘pivô’ activa, em que
ajudar os pais. Estes resultados vão ao encontro
afirma prestar algum tipo de apoio a um ou
do estudo realizado por Van der Pas (2006) em
ambos os pais em simultâneo com a ajuda
que o autor concluiu que os pais interpretavam o
prestada ao seu filho adulto (tarefas domésticas,
papel filial como aquele que inclui uma grande
presentes, assistência financeira e cuidar dos
quantidade de discussão de assuntos e contacto
netos, por ordem de importância). Já na
com os filhos, assim como os pais apreciavam
investigação levada a cabo por Attias-Donfut,
bastante estar familiarizados com os recursos
Ogg e Wolff (2005) apesar de se verificar um
de saúde disponíveis e em receber apoio
elevado número de indivíduos pertencentes à
emocional dos seus filhos. Também foi possível
geração ‘pivô’, apenas 1/5 destes pertencia a
verificar no estudo de Van der Pas (2006) que a
uma geração ‘pivô’ activa. Quanto à idade em
maioria dos pais não estava de acordo com os
que se encontra esta geração, verifica-se que a
filhos terem de ajustar as suas situações
maioria pertence à faixa etária dos 55 aos 64
laborais e familiares para os ajudarem, como
anos de idade, estando ligeiramente em
também achavam que os filhos não tinham o
desacordo com Attias-Donfut, Ogg e Wolff
dever de lhes prestar assistência financeira.
(2005), os quais afirmam que nos países
Ao contrário do que era esperado, no que se
mediterrâneos esta geração aumenta a partir do
refere à responsabilidade atribuída pela
final dos 60 anos de idade.
população inquirida à família/Estado a nível de
Com estes resultados pode-se concluir que
apoio instrumental a um idoso que necessita de
existe solidariedade entre pais e filhos,
cuidado, foi possível concluir que a maioria
verificando-se que, de uma maneira geral, os
considera que existe uma responsabilidade
pais não estão distantes fisicamente nem
mista, ou seja, responsabiliza tanto o Estado
afectivamente dos seus filhos adultos,
como a família a nível dos três domínios (apoio
estabelecendo contactos frequentes, e que
financeiro, apoio nas tarefas domésticas e apoio
existe uma troca mútua de inter-ajudas de pais
no cuidado pessoal). Já estudos empíricos
para filhos e vice-versa. Também se conclui que
demonstram que os países do Sul da Europa,
apesar de a geração ‘pivô’ ser uma minoria da
como Espanha, Itália ou Grécia, apresentam um
população inquirida, grande parte desta
padrão semelhante uma vez que estão mais
pertence a uma geração ‘pivô’ activa.
inclinados a responsabilizar a família pelo
No que diz respeito às expectativas de
cuidado, estando mais divergentes no que se
responsabilidade filial, verificou-se que, de uma
refere ao apoio financeiro a idosos que
maneira geral, os pais apresentam elevadas
necessitem desse apoio (Lowenstein e Ogg,
expectativas tanto a nível das dimensões
2003; Lopes, 2006; Fokkema, Bekke e Dykstra,
emocional, contacto como informativa. Contudo
2008). No mesmo seguimento é possível
a nível da dimensão instrumental, a população
constatar com os resultados obtidos no estudo
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que a seguir à responsabilização mista, a
receber apoio por parte de familiares ao invés
responsabilidade recai sobre o Estado e só por
de serviços formais, ao contrário dos inquiridos
último recai sobre a família.
dos quatro restantes países analisados.
Também ao contrário do que era esperado, são
Assim, pode-se concluir que a população
os resultados obtidos a nível das preferências
inquirida não apresenta uma orientação
pessoais no cuidar em caso de necessidade.
familística, não só por demonstrar preferência
Assim, quanto às preferências pessoais
pelo apoio formal em detrimento do apoio
habitacionais, a maioria dos inquiridos referiu
informal e de considerar tanto o Estado como a
preferir recorrer a serviços formais (instituição)
família responsáveis no cuidado aos idosos,
caso não pudesse viver de forma independente,
mas também por se verificar que apresenta
apesar de mais de 1/3 dos inquiridos preferir
baixos níveis de expectativas de
residir com os seus filhos. Estes resultados vão
responsabilidade filial no que diz respeito ao
contra os resultados de Lopes (2006), a qual
domínio instrumental, sendo que não abdica do
concluiu que a maioria dos inquiridos dos países
apoio que espera receber por parte dos seus
do sul da Europa, como Grécia, Espanha e
filhos nomeadamente no domínio emocional e
Portugal, preferiam a co-habitação com os seus
informativo, nos quais apresenta elevados níveis
filhos e uma minoria preferia os serviços
de expectativas de responsabilidade filial. De
formais. No mesmo sentido, Daatland e
certa forma, estes resultados acabam por ir ao
Herlofson (2003) concluíram que a maioria dos
encontro da teoria de complementaridade de
inquiridos espanhóis preferiam co-residir com
apoios, pois pode-se depreender que os
um filho, ao contrário dos inquiridos dos
inquiridos demonstram preferência para que
restantes países analisados (Noruega, Israel,
haja complementaridade entre o apoio familiar e
Alemanha e Inglaterra).
serviços públicos, sendo que os serviços ao
No que concerne às preferências pessoais no
partilharem a sobrecarga do cuidado com a
que diz respeito à proveniência de apoio em
família reforçam o comprometimento desta,
caso de necessidade de ajuda a longo prazo,
assim como os destinatários do cuidado
também foi possível verificar que a maioria dos
também estão mais receptivos a aceitar a ajuda
inquiridos referiu que preferia receber ajuda de
familiar uma vez que se sentem menos um peso
serviços organizados, sendo que menos de ¼
para a família, tal como sustentam Lowenstein e
da população inquirida preferia que esta viesse
Ogg (2003) e Van der Pas (2006). Estes
de familiares. Estes resultados não vêm ao
resultados também podem levar-nos à variante
encontro das conclusões de Lopes (2006) a qual
da hipótese de complementaridade – a teoria de
refere que os idosos preferem principalmente o
especialização familiar, na qual as redes formal
cuidado familiar, verificando um elevado índice
e informal especializam-se em distintas
de preferências na proveniência de apoio
competências, sendo que as famílias se
familiar em países do Sul da Europa, como
concentram no apoio emocional e os serviços
Portugal, Espanha, Grécia ou Itália. Também
públicos no apoio instrumental (Van der Pas,
Daatland e Herlofson (2003) verificam que são
2006). Lowenstein e Ogg (2003), assumem que
os inquiridos espanhóis que mais preferem
este modelo se baseia na ideia Parsoniana da
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diferenciação estrutural da família moderna, pois
ambivalência, permitindo assim obter um quadro
o apoio sócio-emocional substitui o apoio
completo da relação familiar.
instrumental no cerne da família pós moderna.
Com este estudo pretendeu-se verificar a
Desta forma, pode dizer-se que os objectivos
presença de solidariedade entre gerações,
propostos inicialmente foram alcançados.
assim como as expectativas de
Porém, existem algumas limitações no estudo,
responsabilidade filial dos pais com 55 ou mais
nomeadamente no que se refere à opção de
anos e as opiniões e preferências no que se
considerar apenas o filho ‘focal’ na avaliação da
refere à orientação da responsabilidade da
solidariedade intergeracional, uma vez que não
família/ responsabilidade estatal no cuidado aos
é possível ter noção da solidariedade existente
idosos. Foi possível verificar que os pais
entre pais e com cada um dos seus filhos
consideram que existe uma responsabilidade
adultos. Os critérios utilizados para a “escolha”
mista (família e Estado) e que preferem os
do filho ‘focal’ também acabam por apresentar
apoios formais em detrimento dos informais
fraquezas, pois os pais podem dar e receber
(familiares), sendo que apesar disso continuam
apoio de um filho com o qual estejam menos
a apresentar expectativas elevadas em relação
vezes em contacto.
à responsabilidade que os filhos devem ter para
Ta m b é m a a v a l i a ç ã o d a s o l i d a r i e d a d e
com os pais, à excepção do apoio instrumental.
intergeracional apenas segundo a opinião dos
Os resultados obtidos devem fazer com que
pais acaba por não poder mostrar a verdadeira
haja uma reflexão sobre os serviços públicos
realidade de troca de inter-ajudas entre pais e
disponíveis à população idosa portuguesa e
filhos adultos. Assim como, as solidariedades
perceber que cada vez mais se torna imperativo
afectiva e consensual poderiam ter sido
a intervenção do Estado na promoção de novas
avaliadas por um método qualitativo, a
políticas públicas no cuidado aos idosos e um
complementar ao método quantitativo, uma vez
aumento do número e qualidade das estruturas
que são dimensões em que se baseia a relação
institucionais de apoio aos idosos. Com este
humana, sendo possível obter resultados mais
estudo verificou-se o desejo de uma
fiáveis e fidedignos.
complementaridade de apoios (formais e
Possíveis recomendações a futuros estudos
informais), pois assim os idosos não sentem que
passariam por a avaliação da solidariedade
sobrecarregam a sua família, ficando mais
intergeracional não ser realizada somente
receptivos em receber ajuda da família. Ao
através da opinião dos pais, como também dos
verificar-se uma menor expectativa a nível da
seus filhos, permitindo obter uma fonte de
dimensão de apoio instrumental e maior a nível
informação mais rica e um confrontamento de
das dimensões emocional/informativo, e pelo
respostas (pais-filhos e filhos-pais). Outra
facto dos pais preferirem que o apoio
sugestão seria a avaliação da relação
instrumental provenha de serviços públicos,
intergeracional, não avaliando apenas a
pode-se dizer que está presente a hipótese de
solidariedade como também outras dimensões
especialização familiar, uma vez que os pais
das relações intergeracionais, como o conflito e
demonstram vontade em que a família e os serviços desempenhem papéis diferentes no
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Esperança et al. (2013) Provision of care for grandchildren and their implications on Quality of Life of Grandparents. Journal of Aging & Inovation, 2 (3): 63-81
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
JULHO, 2013
PRESTAÇÃO DE CUIDADOS A NETOS E SUAS IMPLICAÇÕES NA QUALIDADE DE VIDA DOS AVÓS Provision of care for grandchildren and their implications on Quality of Life of Grandparents Cuidar a los nietos y sus implicaciones en la Calidad de Vida de los abuelos
Autores
Orlanda Esperança1, Manuela Leite2, Prazeres Gonçalves3 1
Masters Program in Psychogerontologist, Institute of Health Science/CESPU, Gandra,
Portugal 2 PhD, Psychology Department, Investigation Unit of Psychology and Health (UniPSA), Investigation Center of Health Science (CICS), Institute of Health Science/CESPU, Gandra, Portugal,3 PhD, Science Department, Investigation Unit of Psychology and Health (UniPSA), Investigation Center of Health Science (CICS), Institute of Health Science/CESPU, Gandra, Portugal Corresponding Author: orlandafesp@hotmail.com RESUMO OBJETIVOS: O principal objetivo consistiu na análise das repercussões da prestação de cuidados a netos, na Qualidade de Vida dos avós. MÉTODO: Foram aplicados, dois protocolos de investigação a 300 indivíduos. O protocolo A aos AC (N=150) e o B aos ANC (N= 150). Ambos eram compostos pela escala da Qualidade de Vida “WHOQOL- Bref”, e o A contemplava ainda o questionário “Avós/Avôs Cuidadores”. A amostra foi recolhida na região Norte do país. RESULTADOS: Os AC apresentam uma elevada Satisfação nos cuidados prestados (M=3.38), um bom Relacionamento com os pais do Neto (M=2.60), e Funcionamento Familiar (M=2.54). Destacam-se as Atividades de Ócio (M=2.47) pelo valor mais elevado nas tarefas de cuidados. A idade dos Avós correlacionase de forma negativa, fraca e significativa com os Cuidados Básicos (p<.001) e Instrumentais (p<.001). A idade dos netos também se correlaciona de forma negativa e estatisticamente significativa com os Cuidados Básicos (p=.001), a Satisfação para com os Cuidados (p=.012), e Funcionamento Familiar (p=.008). No que diz respeito à QV, os AC apresentam melhor QV comparativamente com os ANC, quer total (p=.001), quer nas várias dimensões: Meio Ambiente (p=.013), Física (p=.001), Relações Sociais (p<.001), Psicológica (p=.024). De forma geral, as várias dimensões do WHOQOL- Bref e do questionário Avós/Avôs Cuidadores, demonstram correlações positivas, e estatisticamente significativas com: Apoio no Estudo (p=.003), Atividades de Ócio (p<.001), Relacionamento Pais do neto (p=.044), e Funcionamento Familiar (p<.001). Por oposição, constataram-se correlações negativas, fracas e significativas com as Dificuldades nos Cuidados (p<.001), e com os Problemas de Saúde (p<.001), na medida em que tendem a diminuir. CONCLUSÃO: A prestação de cuidados a netos parece desempenhar um papel positivo na QV dos avós cuidadores, proporciona-lhes um sentimento de utilidade e continuidade PALAVRAS-CHAVE: Avós, netos, cuidados, qualidade de vida.
Abstract OBJECTIVES: The main aim was based on the analysis of the impact of caring for grandchildren on Grandparents' Quality of Life. METHODS: Two research protocols were implemented to 300 individuals. The A protocol to the CG (N = 150) and B to NCG (N = 150). Both were composed by the scale of the Quality of Life "WHOQOL-Bref", and the A contemplated also the quiz “Caregivers Grandparents ”. The sample was collected in the northern region of the country. RESULTS: The CG show high satisfaction towards the care provided (M = 3.38), a good relationship with the grandchild’s parents (M = 2.60), and Family Functioning (M = 2.54). It is highlighted the Leisure Activities (M = 2.47) for its higher value concerning the tasks of care. Grandparents' age correlates negatively, poorly and significantly with the Basic Care (p <.001) and Instrumental (p <.001). Grandchildren’s age also correlates statistically in a negative and significant way with Basic Care (p = .001), the Satisfaction with Care (p = .012), and Family Functioning (p = .008). Concerning the QL, the CG show better QL when compared with the NCG, not only totally (p = .001) but also in the following dimensions: Environment (p = .013), Physics (p = .001), Social Relationships (p <.001), Psychological (p = .024). In general, the several dimensions of the WHOQOL-Bref and of the questionnaire Caregivers Grandparents, show positive correlations, and statistically significant with the: Study Support (p = .003), Leisure activities (p <.001), Relationship grandchild’s parents (p = .044), and Family Functioning (p <.001). In contrast, were verified negative, weak and significant correlations with the Difficulties in Care (p <.001), and with the Health Problems (p <.001), which tend to decrease. CONCLUSION: Taking care of grandchildren seems to play a positive role in the Caregivers Grandparents’ QL, it gives them a sense of usefulness and continuity. KEYWORDS: Grandparents, grandchildren, health, quality of life.
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Página 54
Introdução
num mesmo ambiente e espaço (Triadó, 2005), repercutindo-se no envolvimento e participação
Os progressos alcançados pelo
dos avós na vida familiar (Dias, Costa, &
desenvolvimento em geral, e pelas ciências da
Rangel, 2005), e nas relações entre avós, pais e
saúde em particular, são os responsáveis pelas
netos nas situações de cuidado e educação das
atuais tendências demográficas. Nas últimas
crianças (Dias, Hora, & Aguiar, 2010).
décadas, o aumento da esperança de vida,
Por sua vez, estas mudanças conduziram a
associada a uma diminuição da taxa de
transformações profundas na forma como se vê
natalidade, tem conduzido ao envelhecimento
o papel dos avós, sentindo-se a necessidade de
da população (DGS, 2006).
redefinir e reajustar, os diversos papéis no seio
Com o aumento significativo da esperança
da família (Osuna, 2006). Nunca os avós foram
média de vida, é cada vez mais comum a
tão jovens e ativos, encontrando-se muitas das
coexistência de várias gerações de uma mesma
vezes ainda integrados no mercado de trabalho,
família, pais, filhos, avós e até mesmo famílias
acarretando uma sobreposição de papéis e
onde há bisavós (Castiello, Villarejo & Truchado,
responsabilidades para estes avós. Estes estão
2007). Desta forma, as oportunidades de
mais presentes na vida dos netos, pela
interação e manutenção da relação avós netos
possibilidade de acompanhamento nas várias
[RAN] aumentaram (Triadó, Martinez & Villar,
fases do seu ciclo desenvolvimental, desde o
2000). Tal como nos referem Dias, Costa e
seu nascimento, infância, adolescência, até à
Rangel (2005): «…a maior expetativa de vida do
idade adulta (Ferland, 2006; Triadó, 2005).
ser humano tornou possível a convivência entre
Tornar-se avô/avó, é cada vez mais uma
avós e netos por um longo período, o que não
experiência da meia-idade, e não apenas dos
ocorria há algumas décadas atrás. Existe,
mais velhos (Szinovacz, 1998). Isto representa
inclusive, a possibilidade da convivência com a
uma transformação na imagem estereotipada
quarta geração, a dos bisavós…» ( p. 159).
dos avós, coligada à idade avançada e saúde
A vivência dos avós enquanto tema de
precária. Estes deixam de ser vistos como
investigação, emergiu na década 40 e 50,
passivos, debilitados e pouco disponíveis,
aumentando consideravelmente na década 80
passando a ser considerados elementos ativos
(Smith, 1991). Segundo Gratton e Haber (1996),
(Pinazo, 1999), constituindo uma fonte de
este interesse deve-se: ao aumento da
produção de bens ou serviços: voluntários como
esperança média de vida, ás novas estruturas
cuidar dos netos e remunerada através de
familiares, à participação da mulher no mercado
trabalho sénior (Rozario, Morrow & Hinterlong,
de trabalho, que levam à necessidade de
2004). Ao cuidar dos netos, permitem maior
encontrar espaços de supervisão para os seus
disponibilidade e otimização do desempenho
filhos, sendo os avós uma das alternativas
profissional aos filhos. Para além disso, a sua
possíveis (Dias & Silva, 1999). Estes fatores,
“jovialidade”, proporciona-lhes um maior
conduziram a alterações nas estruturas
contexto relacional (Castro, 1998).
familiares, através da verticalização familiar,
São várias as investigações, que têm salientado
possibilitando a convivência de mais gerações
duplo contributo dos avós no desenvolvimento
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dos netos: direto enquanto parceiros interativos,
voltadas para o processo de envelhecimento
prestadores de cuidados primários e apoio
(Sampaio, 2008). Espera-se que sejam os
emocional, confidentes, companheiros,
principais agentes socializadores das crianças,
transmissores do legado familiar e nacional,
precedido dos pais, tendo em consideração que
fornecedores de estimulação cognitiva e afetiva;
a transformação das mesmas num ser social,
e indireto enquanto fontes de apoio social e
constitui uma tarefa familiar (Gomes, 1994). É
material aos pais dos netos (Creasey &
claro que a proximidade geográfica entre os pais
Koblewski, 1991; Hamm & Milan, 2003; Smith,
e os avós, facilita este processo (Dias & Silva,
1995; Tinsley & Parke, 1987; Tomlin, 1998). São
2003).
ainda considerados, veículos de transmissão
Além da função socializadora, os avós são fonte
intergeracional de competências parentais
de apoio emocional e instrumental (Araújo &
(Smith, 1995).
Dias, 2002), sobretudo das crianças em idade
Os papéis assumidos pelos avós, tendem a ser
escolar, assumindo muitas vezes, papeis
diferentes dos desempenhados pelos pais,
vinculados ao acompanhamento dos netos na
geralmente associados à função de educadores
escola na ausência dos pais. Não obstante, a
(Castro & Ruschel, 1998). Os avós, podem
casa dos avós constitui um espaço para a
desempenhar um papel mais tolerante,
construção, e a vivência das relações de
assumindo uma posição única que lhes permite
amizade, cumplicidade, afeto e brincadeira
dar amor, conselhos e ser companheiro (Hamm
(Barros, 1987).
& Milan, 2003). É esta possibilidade de
Segundo Barranti (1985), a relação dos avós
acompanhamento dos netos, isenta de
com os netos está associada a um papel
responsabilidades parentais, que torna
caloroso e amigável, caracterizado pela
indubitavelmente o estatuto dos avós tão
gratuidade de atenção amor e carinho. A criança
especial (Ferland, 2006).
que convive e dialoga com os avós, aprende a
Para os avós, os netos são objeto de um amor
valorizar a sua cultura e os valores, tendo em
incomensurável, e fonte de renovação de si
consideração o contínuo entre o processo de
mesmos e da família, representando uma
viver e envelhecer (Mendes, 2004).
oportunidade de fazer tudo o que não se pôde
Nas trocas geracionais, os avós atuais têm
fazer com os próprios filhos (Ferland, 2006).
características diferentes das gerações
Para além disso, o vínculo com os netos tende a
anteriores, sendo os avós mais jovens
ser idealizado, servindo como uma defesa
tendencialmente mais divertidos e participativos.
contra as aflições perante a morte inevitável. É a
Os mais velhos, para além de se revelarem
oportunidade de reparar a própria vida através
mais distantes, reclamam ajuda por parte dos
da imortalidade genética por meio de uma
netos (Pinazo, 1999).
identificação seletiva das qualidades dos netos
Efetivamente não se pode escolher o momento
(Colarusso,1990).
em que se será avó, mas pode-se escolher o
Os avós da contemporaneidade, são mais ativos
tipo de relação que se deseja estabelecer com
e saudáveis que os predecessores, assumem
os netos. Tal dependerá de fatores como a
novos papéis, muito além de demandas
relevância do papel de avó/ avô no seu sentido
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de identidade, ou seja, a necessidade de se ser
cresce a sua relação com os avós evolui. Nos
relembrado no futuro; a necessidade de dar
primeiros anos de vida da criança (0 aos 5
continuidade geracional à família; o valor que
anos), o laço afetivo entre avós-netos manifesta-
atribui ao facto de lhe ser permitido participar na
se através de ternura e de afeto que se
educação dos netos e pela importância atribuída
estabelece sobretudo durante o jogo e
ao reviver experiências de vida passadas
atividades quotidianas. O amor e afeto podem
(Ferland, 2006).
assumir diversas formas, e deixar recordações
Tendo por base estes pressupostos Osuna
muito variadas na memória do neto. Dos 5 aos
(2006), considera a existência de quatro estilos
12 anos, em idade escolar, a criança gosta de
de avós, que variam ao longo da vida e diferem
contar coisas sobre si e sente-se interessante
entre si, segundo cada neto. São elas: (1) a
quando os avós lhe dedicam o tempo
permissiva – que se preocupam em fazer o que
necessário para a ouvirem. Neste período os
é moralmente correto com seus netos,
seus interesses expandem-se, a criança é
mimando-os e sendo tolerantes; (2) a simbólica
curiosa em relação ao que passa ao seu redor e
– preocupa-se em fazer o que é moralmente
tem uma sede de conhecimentos que procura
correto; (3) a individualista – vê nos netos o
satisfazer, podendo esta, ser satisfeita pelos
caminho para se manter ou converter em
avós. Contudo, dos 12 aos 18 anos, no mundo
solitária; e (4) a tirana – coloca ênfase no aspeto
da adolescência e construção da sua
da relação em ser avó-general.
personalidade, há um distanciamento dos pais
Para Neugarten e Weinstein (1964), os avós
por uma emancipação afetiva e financeira. As
podem ser categorizados como: (1) Formais: os
prioridades são dirigidas aos amigos, tendo
que apresentam um comportamento rígido,
menos tempo para os avós, podendo no entanto
tradicional e autoritário; (2) Brincalhão: estilo
o adolescente, nomear um dos avós como
relaxado e não autoritário na relação com os
confidente.
netos, percepcionando-os como fonte de prazer;
Salienta-se o facto de nem sempre a RAN, se
(3) Substituto: os que assumem
pautar pelo regozijo e harmonia. Se por um
responsabilidades e os cuidados diários dos
lado, a presença das avós pode ser percebida
netos: (4) Reservatório de sabedoria: prestam
como prazerosa e educativa, por outro, pode ser
informação sobre as raízes familiares e são os
considerado como conflituosa, já que implica
guardiões da história familiar; e (5) Distante:
confronto de poder e autoridade pelas
raramente vêem os netos, eventualmente em
diferenças na conceção das práticas educativas
ocasiões como natal, aniversários, casamentos
exercidas pelos pais (Falcão & Salomão, 2005).
e funerais.
Também para os avós, nem sempre constitui
A dialética relacional entre avós e netos para
fonte de prazer. A inserção da mulher no
Ferland (2006), assume diferentes contornos à
mercado do trabalho, e subsequentes
medida que o desenvolvimento se produz, pelo
reestruturações familiares, transformaram o
que é imperativo entender os diferentes tipos de
caráter voluntário e esporádico do papel de
relacionamento numa perspectiva
alguns avós, em atos diários que envolve
desenvolvimental. Á medida que a criança
esforço físico, emocional e económico de forma
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significativa (Miguel, Palomares, & Blanco,
cuidados a um dos netos era condição
2012). Nestas circunstâncias, os avós são
obrigatória. Nos ANC, estes não podiam prestar
impelidos a assumirem a responsabilidade de
cuidados de forma sistemática a nenhum dos
criar e educar os netos, seja auxiliando os filhos
netos no momento da recolha da amostra.
em tarefas domésticas, seja substituindo-os na
Na caracterização da amostra, verifica-se em
tarefa de educar e cuidar dos netos (Triadó,
ambos os grupos um predomínio do género
Villar, Solé, Osuma & Celdrán, 2006).
feminino (AC 84.7%; ANC 56.7%), e da
Por conseguinte, apesar do relacionamento
condição de casado (AC= 74.7%; ANC= 68%),
intergeracional, e o prazer no papel de avó
precedido dos viúvos (AC= 16%; ANC= 21.3).
poderem ajudar a melhorar a qualidade de vida
No que concerne à idade, os AC apresentam
do idoso, compensando a vida solitária parece
uma média de 64.78 anos (DP=7.02), oscilando
que na forma de estabelecimento da RAN, o
entre os 39 e os 77 anos. Análogamente, os
grau de responsabilização no seu
ANC apresentam uma média de idades de
desenvolvimento e educação, poderão influir no
62.61 anos (DP=6.57; Min:45 anos, Max: 83
nível de satisfação para com o desempenho do
anos).
papel de avós e subsequentemente na sua
As habilitações literárias, revelaram que no
qualidade de vida (Emick & Hayslip, 1999 in
grupo AC o grau de escolaridade é igual ou
Veleda, Neves, Baisch, , Santos, & Soares,
inferior a 6 anos (65.3%) com uma média de
2006).
6.10 anos (DP=3.94), e no grupo ANC a maioria
OBJETIVOS
apresenta um grau igual ou inferior a 5 anos
O principal objetivo, consistiu na análise das
(62.3%) com uma média de 4.84 anos
repercussões da prestação de cuidados a netos
(DP=3.74). Salienta-se o nível baixo de
na Qualidade de Vida dos avós, tendo-se
analfabetismo (AC=8%; ANC=10%).
definido como objetivos específicos, a
Quanto ao estatuto ocupacional, a amostra é
compreensão da frequência dos cuidados
maioritariamente reformada
prestados aos netos, sentimentos, perceções,
40.70%;ANC= 42%), seguindo-se a condição de
satisfação e dificuldades decorrentes dos
doméstica no grupo AC (25.3%), e
mesmos.
trabalhadores a tempo inteiro no grupo ANC
MÉTODO
(30%). Note-se que no grupo AC (76.7%) não
Amostra
possuem uma atividade profissional. A análise
Trata-se de uma mostra de conveniência,
do rendimento mensal familiar, revelou que o
recolhida em vários pontos da região Norte do
grupo AC aufere melhores rendimentos,
país. É constituída por 300 sujeitos, divididos
comparativamente com o grupo ANC, tendo em
em dois grupos, Grupo de avós que prestam
consideração a percentagem de rendimentos
cuidados aos netos – avós cuidadores (AC)
inferiores a 300€ (AC=10%; ANC=19.3%), e
(n=150), e o grupo de avós não cuidadores
superiores a 1200€ (AC=26.7%; ANC=16.7%).
(ANC) (n=150). Como critério de inclusão, foi
No que concerne à avaliação subjetiva do seu
defenido para ambos os grupos, a condição de
estado de saúde, verifica-se no grupo AC que a
ser avô, sendo que no grupo AC a prestação de
maior parte dos sujeitos consideram ter uma
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(AC=
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saúde “regular” (48%), precedida de
facetas consta numa descrição de um estado,
“boa” (35.3%) e “excelente” (11.3%). Apenas um
comportamento, capacidade, perceção ou
número muito reduzido (4.7%) consideram o seu
experiência subjetiva, que compõem os 4
estado de saúde “mau”. Ao nível da “perceção
domínios descritos. É constituído por 26 itens,
comparativa do estado de saúde com pessoas
sendo que, 24 itens conduzem à avaliação de
da mesma idade” a maioria avalia a sua saúde
uma dimensão específica da QV e os restantes
como similar à saúde dos indivíduos da sua
2 itens representam questões gerais (uma
idade (78%), sendo que (17.3%), consideram-na
referente à avaliação global da QV e outra à
superior.
satisfação com a saúde) que não são
Quanto à caracterização dos netos alvos de
contabilizadas nos domínios. As respostas ao
cuidados, 56% são do género feminino, com
questionário são obtidas através da escala do
idades compreendidas entre 1 e 13 anos,
tipo Likert, em que o participante indica a sua
representando uma média de idades 7.49 (DP=
concordância ou discordância, pontuada de 1 a
3.2).
5. O resultado de cada domínio é calculado com
A
linhagem
dos
netos
é
predominantemente materna (58%).
base na média dos resultados obtidos nas
Instrumentos
questões que constituem o instrumento.
Como meio de operacionalização do presente
O Q u e s t i o n á r i o Av ó s / Av ô s C u i d a d o r e s
estudo, e coerentemente com os objetivos e
(Esperança & Leite, 2010), corresponde à
natureza da investigação, foram elaborados e
versão portuguesa do questionário “Abuelos
aplicados dois protocolos de investigação:
Cuidadores” (Triadó, Celdrán, Conde, Montoro,
Protocolo A, direcionado aos AC, e Protocolo B
Pinazo & Villar, 2008).Trata-se de um
para os ANC. Ambos os protocolos eram
instrumento que permite descrever e caraterizar
constituídos comummente pelo Consentimento
os cuidados prestados por avós/avôs aos seus
Informado, o questionário Sociodemográfico e o
netos, através de várias dimensões (e.g. tipo de
WHOQOL – Bref, sendo que, o protocolo A
cuidados, intensidade, circunstâncias,
contemplava ainda o questionário “Avós/avôs
satisfação, dificuldades, estado de saúde,
Cuidadores”.
ajudas nos cuidados prestados, funcionamento
O Questionário Sóciodemográfico (Esperança &
familiar, e comportamentos problemáticos do
Leite, 2010), permitiu a caracterização dos avós,
neto cuidado).
sendo uma mais-valia para a análise das
Procedimento:
variâncias sociais e demográficas.
Para operacionalização do presente estudo,
O Questionário da Qualidade de Vida -
tomou-se em linha de conta determinados
WHOQOL- Bref (Vaz Serra, Canavarro, Simões,
procedimentos, nomeadamente, a tradução e
Pereira, Gameiro & Quartilho, 2006), teve como
retroversão do questionário Abuelos Cuidadores
objetivo avaliar a QV Total (máximo de 100
para a língua portuguesa, a aplicação dos
pontos), agrupada em quatro dimensões
instrumentos, e por fim o tratamento estatístico
individualizadas: meio ambiente, física,
dos dados recolhidos.
psicológica, relações sociais. É composto por 24
O processo de tradução e retroversão foi
facetas da QV, sendo que, cada uma das
realizado em duas fases. Primeiramente, a
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Tradução Inicial, consistiu na tradução direta da
No que concerne à prestação de cuidados aos
versão original espanhola do questionários
netos, verifica-se que esta ocupa em média 5.34
Abuelos Cuidadores para a língua portuguesa.
dias/semana (DP=1.37), num total médio de
Na segunda fase, realizou-se a Retroversão,
24.37 horas/semana (DP=12.089). As “questões
sendo a mesma efetuada por um tradutor oficial
laborais dos filhos” (66.7%), surgem como
para a língua espanhola, sem conhecimento do
principal causa da prestação semanal de
questionário original e sem formação na área da
cuidados aos netos, verificando-se que a
saúde. Este processo determinou a
maioria considera possuir uma relação de
compatibilidade e adequabilidade do
qualidade com os pais dos netos (“boa” - 47.3%;
instrumento à lingua portuguesa, mantendo-se
“excelente” -39.3%). Apenas uma ínfima parte
por conseguinte, a integridade do instrumento
(N=4) descrevem a relação como “má” ou “muito
inicial.
má”, e que provavelmente decorre/motiva a
A recolha dos dados ocorreu em vários pontos
custódia legal dos netos.
da região Norte do país, sendo a entrega e
A Tabela 1, sintetiza os resultados obtidos no
recolha dos protocolos efetuada pela
questionário “Avó/avôs Cuidadores”, permitindo-
investigadora. Explicado os objetivos e obtido o
nos analisar a média de frequência de respostas
consentimento informado, estes foram auto-
a um conjunto de itens que caracteriza, os
preenchidos pelos avós, exceptuando os
cuidados prestados pelos AC aos netos, assim
analfabetos os quais foram preenchidos pela
como, um conjunto de aspetos inerentes da
investigadora após leitura em voz alta.
prestação de cuidados.
Tabela 1- Distribuição de frequências das dimensões do Questionário Avós/Avôs Cuidadores, desenvolvidas pelos AC (N=150). Media (1-4) 2.26 2.21 2.28 1.96 2.47 2.38 1.68 1.62 1.94 2.60 3.38 1.32 2.54 1.99
Dimensões do Questionário Avó/Avôs Cuidadores Tarefas de cuidados Cuidados Básicos Cuidados Instrumentais Apoio Estudo Atividades Ócio Disciplina Comportamentos problemáticos do neto Ajuda nos cuidados Sentimento de Responsabilidade Relacionamento Pais do Neto Satisfação nos cuidados Dificuldades decorrentes nos cuidados Funcionamento Familiar Problemas Emocionais
No tratamento dos dados recorreu-se ao software informático SPSS, versão 21,
Relativamente às Tarefas de Cuidados levadas
utilizando-se a estatística descritiva (M, DP,
a cabo pelos AC, as Atividades de Ócio
frequências) e inferencial paramétrica (teste t
(M=2.47) foram as que obtiveram valores mais
para amostras independentes) e correlacional
elevados, seguindo-se a Disciplina (M=2.38);
(do tipo Pearson).
Cuidados Instrumentais (M=2.28), Cuidados
RESULTADOS
Básicos (M=2.21), e finalmente o Apoio ao
Caracterização da RAN
Estudo (M=1.96).
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Nas Atividades de Ócio, o maior destaque está
Analogamente, o nível de Ajuda nos Cuidados,
associado a atividades como: “passearem
também é baixa (M=1.62), e quando existe,
juntos” (M=3.35), assim como “verem
estas provêm essencialmente da “ajuda do
televisão” (M=2.91) (70%). Paralelamente, as
parceiro” (M=2.62) e de “outros familiares com
menos executadas pelos AC, prendem-se
que convivem” (M=2.58), sendo escassos os
essencialmente com tarefas de “pintar/desenhar
casos em que recebem “assistência legal/
juntos” (M=1.75).
jurídica” (0.7%); “ajuda do estado ou outras
Ao nível dos Cuidados Básicos, constatamos
instituições” (7.3%); ou “ajuda económica ou
que a tarefa mais executada pelos AC é “dar-lhe
material dos meus filhos” (28.7%).
de comer” (M=2.68) (66%), e as menos
No que concerne ao Sentimento de
executadas estão associadas a “dar-lhe
Responsabilidade, verifica-se um resultado
banho” (M=1.93), e “acordá-lo de
moderado (M=1.94), constatando-se que grande
manhã” (M=1.97).
parte dos AC (M=2.45), se considerarem na
Quanto aos Cuidados Instrumentais, as tarefas
“obrigação de cuidar do neto(a)”. Para além
incidem sobretudo na preparação da comida
disso, 95.3%, nunca se sentiram “incomodados/
(M=2.88), e vigilância (M=2.64), por oposição a
as quando cuido do meu neto(a) em lugares
“lavar e passar roupa” (M=1.97) e “levá-lo ao
públicos” (), nem consideram ser “uma desonra
médico” (M=1.82).
para a minha família ter de cuidar do meu
Em termos de Disciplina, verifica-se que os AC
neto(a)” (98.7%).
tendem a não castigar (M=1.73), nem dar
O Relacionamento com os Pais do neto é
palmadas (M=1.57), apesar de exercerem ações
considerado como bom (M=2.60), sentindo-se
de repreensão (M=2.41). Contudo, são os
apoiados pelos mesmos na prestação de
elogios (M=3.29), e as recompensas (M=2.89),
cuidados aos netos (M=3.17), falando com os
os mais frequentes na ação disciplinar.
mesmos acerca de assuntos que afetam o neto
No Apoio no Estudo, os AC tendem
(M=2.99), orientando-os quanto forma de
essencialmente a controlar a execução dos
tratamento (M=2.29). Por conseguinte, o nível
trabalhos de casa (M=2.07), com uma menor
de conflituosidade é relativamente baixo
implicação ao nível de “ajuda a fazer os
(M=1.94), comparativamente às outras
TPC” (M=1.85).
dimensões.
Relativamente à caraterização dos
O nível de Satisfação nos Cuidados é elevado
Comportamentos Problemáticos do neto alvo de
(M=3.38), considerando que “o neto(a) é a
cuidados, verifica-se uma média baixa (M=1.68)
alegria da minha casa” (M=3.51), e de aferirem
da ocorrência dos mesmos, encontrando-se
que se “deixasse de tomar conta do neto(a)
associados à sua irrequietude (“muito
sentiriam muito” (M=3.53).
irrequietos” (M=2.37). Salienta-se a baixa
Quanto às Dificuldades Decorrentes dos
ocorrência de problemas mais disruptivos, tais
Cuidados, verifica-se que os AC não
como “Insulta ou diz palavrões” (M= 1.16); “é
apresentam grandes dificuldades (M=1.32).
agressivo” (M=1.20).
Salienta-se o facto de a maioria ter classificado como “nunca” as afirmações: “o dia em que
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deixar de cuidar do neto(a) será uma
Os Cuidados Básicos, correlacionam-se de
libertação” (96%); “cuidar do meu neto/a tem
modo positivo, fraco e significativo com um
criado problemas de espaço na minha
aumento: das Atividades de Ócio (r=.312; p<.
casa” (97.3%).
001), da Disciplina (r=.343; p<.001), os
Quanto ao Funcionamento Familiar, estes
Comportamentos Problemáticos dos netos (r=.
consideram possuir um bom funcionamento
186; p=.023), Sentimento de Responsabilidade
(M=2.54), coligado à existência de confiança
(r=.218; p=.003), Relacionamento com os pais
uns nos outros (M=3.15), e há existência de
d o n e t o ( r = . 2 0 7 ; p < . 0 11 ) e c o m o
sentimentos negativos na família (M=1.53).
Funcionamento Familiar. Ressaltando uma
Relativamente a Problemas Emocionais, os AC
correlação positiva, moderada e significativa
(M=1.99) revelam uma avaliação bastante
com o aumento dos Cuidados Instrumentais (r=.
positiva apesar da média, isto, tendo em
682; p<.001).
consideração que (62%) nunca se sentiram
De igual modo, os Cuidados Instrumentais
sozinhos; (66.7%) nunca consideraram “que a
correlacionam-se de modo positivo, fraco e
vida não vale a pena ser vivida”, (46.7%) não se
significativo com o aumento: do Apoio no Estudo
consideram menos úteis à medida que
(r=.296; p<.001), das Atividades de Ócio (r=.
envelhecem, e (59.3%) consideram por vezes
336; p<.001), da Disciplina (r=.470; p<.001),
que “à medida que envelhece, as coisas são
Sentimento de Responsabilidade (r=.298; p<.
melhores do que se esperava”.
001), Problemas de Saúde (r=.167; p=.041) e Funcionamento Familiar (r=.260; p=.002). Ou
Estudo Correlacional entre As dimensões do
seja, quanto mais evidentes, e necessários os
Questionário Avós Cuidadores e outras
Cuidados Instrumentais, maior é a tendência
Variáveis
para aumentar os cuidados ao nível do Apoio no
A Ta b e l a 2 , a p r e s e n t a - n o s o e s t u d o
Estudo, assim como, as Atividades de Ócio,
correlacional entre as várias dimensões do
Disciplina, o Sentimento de Responsabilidade e
questionário “Avós/Avôs Cuidadores”
funcionamento familiar.
Tabela 2- Estudo Correlacional do tipo Pearson, entre as dimensões do Questionário Avós/Avôs Cuidadores. Dimensões do questionário Avós/ Avôs Cuidadores CB
CI
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.061
AO
.312*** .336***
.395***
1
DSP
.343*** .470***
.211**
.340***
1
KN
.186*
.170*
-.006
.120
.267**
1
AJC
.140
.106
.055
.084
.184*
-.036
1
STR
.218**
.298***
.100
.074
.280**
-.038
.416
1
RPN
.207*
.123
.225**
.156
.174*
-.002
.300***
.362***
1
STF
.130
.128
.012
.391***
.219**
-.139
.056
.096
-.099
1
DFC
-.041
.056
-.072
-.196*
-.015
.329***
-.035
-.003
-.197*
-.430*** 1
PS
.142
.167*
-.118
-.104
.098
.360**
-.142
-.088
-.286*** .034
.381***
1
FM
.244**
.260**
.045
.243**
.448***
-.030
.160
.187*
-.007
-.141
-.090
.296***
1
.498***
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001 JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Em termos de Apoio no Estudo, verifica-se a
significativa, à medida que esta aumenta,
existência de uma correlação positiva, fraca e
aumenta paralelamente o Sentimento de
significativa com as necessidades de apoio em
Responsabilidade (r=.416; p<.001), o
termos de Disciplina (r=.211; p=.009), Atividades
Relacionamento com os pais do neto (r=.300;
Ócio (r=.395; p<.001) e Relacionamento com os
p<.001) e o Funcionamento Familiar (r=.161; p=.
pais do neto (r=.225; p=.006).
046). O Aumento da Responsabilidade, leva ao aumento do Relacionamento Familiar (r=.362;
Por outro lado, as Atividades de Ócio, levam a
p<.001) e Funcionamento Familiar (r=.187; p=.
uma maior: Satisfação nos cuidados prestados
022), sendo igualmente pautadas com
(r=.391; p<.001), exigência em termos de
diferenças significativas.
Disciplina (r=.340; p<.001), e Funcionamento Familiar (r=.243; p=.003), sendo estas relações
O facto dos AC evidenciarem um
estatisticamente significativas. Por sua vez o
Relacionamento positivo com os pais do neto
aumento das Atividades de Ócio diminui de
alvo de cuidados, reflete-se numa associação
modo significativo as dificuldades decorrentes
negativa, fraca e significativa a diminuição das
dos cuidados prestados (r=-.191; p=.016).
Dificuldades nos Cuidados decorrentes dos
Ao nível da Disciplina, estão patentes
cuidados prestados pelos AC aos netos (r=-.
correlações positivas, fracas e significativas, à
197; p=.066), e diminuição dos problemas de
medida que esta aumenta, tendem a aumentar
saúde dos AC (r=-.286; p<.001).
os Comportamento problemático dos netos (r=.
A Satisfação com os Cuidados prestados,
267; p=.001), bem como, a Ajuda nos Cuidados
correlaciona-se de forma negativa, fraca e
(r=.184; p=.024), o Sentimento de
significativa com a diminuição das Dificuldades
Responsabilidade
nos Cuidados
(r=.280; p<.001), o
(r=-.430; p<.001) e de
Relacionamento com os pais do neto (r=.174;
forma positiva, fraca e significativa com o
p=.034) , a Satisfação nos cuidados prestados
aumento do Funcionamento Familiar (r=.498;
(r=.219; p=.007) e o Funcionamento Familiar
p<.001).
(r=.448; p<.001). As Dificuldades decorrentes dos cuidados, Os Comportamento Problemático do neto,
contribuem para a diminuição do funcionamento
revelou uma correlação positiva, fraca e
familiar (r=-.141; p=.040), por oposição, ao
significativa com: as dificuldades nos cuidados
aumento de Problemas de Saúde dos AC (r=.
prestados
381; p<.001), de modo significativo.
(r=.329; p<.001), e problemas
de saúde (r=.360; p<.001). Ou seja, os comportamentos problemáticos, tendem a
A tabela seguinte, permite-nos um estudo
aumentar as dificuldades nos cuidados, e ao
correlacional entre as várias dimensões
nível dos problemas de saúde nos AC.
avaliadas pelos questionário “Avós/Avôs Cuidadores” e as idades dos avós e netos.
No que concerne à Ajuda nos cuidados, esta correlaciona-se de forma positiva, fraca e JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 63 Tabela 3 – Correlação linear de Pearson entre a idade dos AC (N=150) e dos netos com as dimensões do Questionário Avós/Avôs Cuidadores. Idade
Avós/Avôs Cuidadores
Avós
Tarefas de Cuidados Cuidados Básicos Cuidados Instrumentais Apoio Estudo Atividades Ócio Dimens ões do Disciplina Questi Comportamentos problemáticos do Neto onário Ajuda nos cuidados Avós/ Avôs Sentimento de responsabilidade Cuidad Relacionamento com Pais do Neto ores Satisfação com os cuidados Dificuldades nos cuidados Funcionamento familiar Problemas de Saúde Problemas emocionais
-.335*** -.354*** .027 -.016 -.088 -.018 -.146 -.052 .149 -.045 -.063 -.160 -.101 -.086
Netos -.274** -.003 .452*** .012 .089 -.052 .003 .043 .020 -.204* .097 -.215** .018 .072
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
A análise da Tabela 3 permite-nos constatar que
Cuidados (r=-.204; p=.012), e diminuição do
são poucas as dimensões que apresentam
Funcionamento Familiar
correlações estatisticamente significativas entre
Por sua vez, o aumento da idade dos netos,
as várias dimensões do questionário, e a idade
revela uma correlação positiva, fraca e
dos AC e respetivos netos.
significativa com o Apoio ao Estudo
(r=-.215; p=.008).
(r=.
452; p<.001). Verificam-se correlações negativas, fracas e estatisticamente significativas com a idade dos
Estudo comparativo entre os AC e ANC no
AC ao nível dos Cuidados Básicos (r=-.335; p<.
que concerne aos resultados obtidos no
001), Cuidados Instrumentais (r=-.354; p<.001).
WHODOL-Bref
Com o aumento da idade dos AC, há uma diminuição destes cuidados por parte dos avós.
Na caraterização da QV dos grupos, AC e ANC
Analogamente, o mesmo é corroborado em
(Tabela 4), os resultados encontrados revelam
relação à idade dos netos ao nível dos Cuidados
diferenças estatisticamente significativas entre
Básicos pela sua diminuição (r=-.274; p=.001),
ambos os grupos.
paralelamente à diminuição da Satisfação nos Tabela 4- Teste t Student para amostras independentes, AC e ANC, relativamente ao WHOQOL – Bref e respetivas dimensões. WHOQOL - Bref QV Total Relações Sociais D i m Psicológica ens ões Física
Meio Ambiente
Tipo de Avó/Avô AC, N= 150 ANC, N= 150 M (DP) M (DP) 89.05 (10.50) 84.03 (14.80) 58.56 (19.64) 49.28 (22.31)
t (298)
P
3.39 3.82
** ***
60.33 (9.93)
57.39 (12,35)
2.28
*
66.33 (13.96)
60.45 (17.07)
3.27
**
56.13 (11.52)
52.35 (14.45)
2.50
*
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001 JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Ao nível da escala de QV Total, os resultados
Relativamente ás Tarefas de Cuidados, levadas
médios da escala revelam que os AC (M= 89.05;
a cabo pelos AC aos seus netos, constatamos
DP= 10.50) apresentam uma QV Total superior,
correlações positivas, fracas e estatísticamente
aos ANC ANC (M= 84.03; DP= 14.80), sendo
significativas entre o Apoio ao Estudo ao nível
estas diferenças estatisticamente significativas (t
da QV Total (r=.243; p=.003), bem como nas
(298)=3.39, p=.001). O mesmo se verifica
dimensões: Ambiente
relativamente às diferentes dimensões da QV:
Psicológica (r=.222; p=.006) e Relações Sociais
Relações Sociais (AC M= 58.56; DP=19.64;
(r=.172; p=.035). As Atividades de Ócio, também
ANC M= 49.28; DP= 22.31); Psicológica (AC M=
se correlacionam de forma fraca a moderada,
60.33; DP= 9.98; ANC M= 57.39; DP=12.35);
positiva e estatísticamente significativa com a
Física (AC M= 66.33; DP= 13.96; ANC M=
QV Total (r=.466; p<.001); dimensão Física (r=.
60.45; DP=17.07); e Meio Ambiente (AC M=
236; p=.004), Psicológica (r=.312; p<.001); e
56.13; DP= 11.52; ANC M= 52.35; DP=14.45). À
nas Relações Sociais (r=.395; p<.001).
semelhança da QV Total,também todas as
Destacando-se ainda, uma correlação positiva e
dimensões apresentam diferenças
moderada na dimensão Meio Ambiente (r =.526,
estatísticamente significativas: Relações Sociais
p<.001).
(t (298)=3.82, p<.001); Psicológica (t
O Relacionamento com os pais dos netos,
(298)=2.28, p=.024); Física (t (298)= 3.27, p=.
revelam uma correlação positiva, fraca e
001); e Meio Ambiente (t (298)=2.50, p=.013)
significativa com a QV Total (r=.165; p=.044), e
A Tabela 5, apresenta-nos os resultados obtidos
na dimensão Física (r=.244; p<.001). Quanto
no estudo correlacional, entre as dimensões dos
melhor tende a ser o relacionamento com os
cuidados prestados (avós/avôs cuidadores) e a
pais dos netos, melhor tende a ser a QV dos
qualidade de vida (Whoqol-Bref) dos AC.
AC.
(r=.289; p<.000),
Tabela 5- Estudo Correlacional de Pearson, entre as dimensões do Questionário Avós/Avôs Cuidadores e a escala WHOQOL – Bref, no grupo AC.
Total
WHOQOL – Bref Dimensões Amb. Física Psic.
Social
.040 .066 .243** .466*** .037 -.087 .019 .051 .165* .427*** -.476*** .360*** -.329*** -.377***
-.043 .026 .289*** .526*** .066 -.073 -.013 .056 .049 .392*** -.357*** .327*** -.099 -.193*
.072 .046 .172* .395*** .175* .014 .006 -.023 .040 .502*** -.403*** .405** .142 -.197*
Avós/Avôs Cuidadores Tarefas de Cuidados: Cuidados Básicos Dim Cuidados Instrumentais ens Apoio Estudo ões Atividades Ócio Que stio Disciplina
nári Comportamento problemático do Neto o Ajuda nos cuidados Avô s/ Sentimento de Responsabilidade Avó Relacionamento com Pais do Neto s Satisfação com os cuidados Cuid Dificuldades nos cuidados ador Funcionamento familiar es Problemas de Saúde Problemas emocionais
.040 .096 .106 .236** -.094 -.075 -.012 .058 .244** .193* -.326*** .237** -.502*** -.405***
.079 .030 .222*** .312*** .052 -.093 .101 .039 .122 .342*** -.460*** .196* -.183* -.336***
* p<0.05, ** p<0.01, *** p<0.001
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Na Satisfação decorrente dos cuidados
018), Física (r=-.405; p<.001), Psicológica (r=-.
prestados, está patente uma correlação positiva,
336; p<.001) e Relações Sociais (r=-.197; p=.
fraca igualmente significativa ao nível global, QV
016). A QV tende a aumentar face à diminuição
Total (r=.427; p<.001), e na dimensão Física (r=.
dos problemas emocionais.
342; p<.001) e Meio Ambiente (r=.392; p<.001). Destacando-se uma correlação positiva e
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
moderada na dimensão das Relações Sociais
O objetivo do presente estudo, incidiu, na
(r=.502; p<.001).
compreensão das atribuições e frequências dos
Quanto às Dificuldades inerentes, depara-se
cuidados prestados aos netos, sentimentos e
com diferenças significativas nos cuidados
perceções (satisfação e dificuldades) inerentes
prestados aos netos. Pois evidencia-se uma
à prestação de cuidados, no sentido de
correlação negativa e fraca na QV Total (r=-.476;
perceber o impacto que os mesmos têm na QV
p<.001), e respetivas dimensões: Meio
dos AC. Neste contexto, realizou-se uma análise
Ambiente (r=-.357; p<.001), Física (r=-.326; p<.
comparativa com um grupo de ANC, ao nível da
001), Psicológica (r=-.460; p<.001) e Relações
QV.
Sociais (r=-.403; p<.001), igualmente
De acordo com Araújo e Dias (2002), as
significativas. O registo torna evidente que
atividades realizadas entre avós e netos,
quanto menor são as dificuldades nos cuidados,
depende de um conjunto de variáveis, das quais
maior tende a ser a QV dos AC.
se destaca a idade e género dos avós e netos, a
Ao nível do Funcionamento Familiar, verificamos
linhagem familiar, a situação profissional e as
uma correlação positiva, fraca e significativa, de
relações familiares.
forma análoga em toda a escala, ao nível global
Iniciemos a discussão, caraterizando
QV Total (r=.360; p<.001), ambiente (r=.327; p<.
sumariamente os AC, comparativamente aos
001), física (r=.237; p<.001), psicológica (r=.196;
ANC. Trata-se de uma população relativamente
p=.016) e social (r=.405; p<.001), sendo todas
jovem tendo em consideração a esperança
significativas.
média de vida atual; feminina; instruída, sendo
Relativamente aos Problemas de Saúde, a
ínfimos os casos de analfabetismo. Vários
tendência revela uma correlação negativa, fraca
possuem inclusive o grau de licenciatura. Para
e significativa, relativamente à QV Total (r=-.329;
além disso, os rendimentos médios auferidos
p<.001),
e nível Físico (r=-.502; p<.001). De
indicam-nos uma situação económica razoável,
forma negativa e moderada ao nível Psicológico
o que por sua vez poderá eventualmente
(r=-.183; p=.025). Quanto menores os
justificar o nível de inatividade profissional, o
problemas de saúde, maior tende a ser a QV
que lhes permite uma maior disponibilidade
dos AC.
efetiva para se dedicarem à prestação de
Por sua vez, ao nível de Problemas Emocionais
cuidados. Aliás parece-nos ser a situação
vivenciados pelos AC, sobressai uma correlação
profissional o grande motivador da prestação de
negativa, fraca e significativa, face à QV Total
cuidados aos netos, advinda da disponibilidade
(r=-.377; p<.001), e respetivas dimensões
dos avós e da indisponibilidade parental
associadas: Meio Ambiente
motivada pelas questões laborais,
(r=-.193; p=.
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transformando os avós num recurso
De acordo com o estudo desenvolvido por
imprescindível na conciliação da vida familiar e
Triadó, Villar, Solé, Osuna e Celdrán (2006), à
profissional (Pérez, 2004; Miguel et al, 2012).
medida que ambos avançam na idade, diminui o
A sobre saliência da linhagem materna na nossa
nível de prestação de cuidados. Por
amostra, comparativamente à paterna, vai de
conseguinte, a disparidade de faixas etárias dos
encontro à literatura (e.g. Triadó & Villar, 2005),
netos da nossa amostra (1 aos 13 anos),
que revela uma tendência preferencial
justifica a variabilidade de ações de cuidado
direcionada para os avós maternos (Castañeda,
levada a cabo pelos avós, dos quais se
Sánchez, Sánchez & Blanc, 2004), motivado
destacam ao nível dos cuidados básicos “dar de
pela existência de um laço privilegiado entre
comer”; dos cuidados instrumentais “preparar a
mãe e filha, facilitando o relacionamento dos
comida” e “vigiá-lo”; no apoio ao estudo o
netos com os avós maternos (Gauthier, 2002).
“controlo dos TPC”; nas atividades de ócio, o
Dias e Silva (2003), referem que as avós
“passear” e “ver TV”, e na disciplina, ações
maternas são consideradas como figuras mais
muito mais positivas (e.g. elogios e
importantes e menos distantes que as avós
recompensas), comparativamente às coercivas,
paternas. Para além disso, os avós maternos
sendo típico nos avós. Recorde-se que a
parecem mais envolvidos na educação dos
isenção de responsabilidades parentais
netos quando comparados com os avós
(Ferland, 2006), lhes permite assumir uma
paternos (Van Rast, Verscueren & Marcoen,
postura mais descontraída e prazerosa para
1995), o que explica a intervenção dos AC nas
com os netos, o que por sua vez se verifica nos
várias esferas da vida dos netos, desde os
elevados níveis de satisfação decorrente dos
cuidados básicos, e instrumentais, ao apoio ao
cuidados prestados e do funcionamento familiar.
estudo e mesmo ao nível da disciplina.
O baixo nível de comportamentos problemáticos
É claro que a qualidade da relação estabelecida
por parte dos netos, também contribuirá para
entre os avós e os pais (geração intermédia),
esta satisfação, assim como, os níveis baixos de
influiu nos resultados obtidos, tendo em
dificuldades associados á prestação de
consideração que os mesmos funcionam como
cuidados, evidenciados no estudo correlacional
mediadores do contato nesta relação entre avós
entre as várias dimensões avaliadas.
e netos (RAN), podendo inibi-la ou facilita-la
O estudo correlacional entre as dimensões do
(Goodman, 2007), uma vez que, a qualidade da
questionário “Avós/avôs Cuidadores”, e a idade
RAN está associada às relações bem sucedidas
dos netos e dos avós, demonstra-nos que á
com a geração intermédia (Stella, 2010), o que
medida que aumenta a idade dos avós, diminui
se verifica na nossa amostra.
a prestação de cuidados básicos e
A idade dos avós e dos netos influenciam os
instrumentais. Estes resultados vão de encontro
níveis de cuidados, tendo em consideração que
á literatura, que nos refere que os avós mais
a mesma determina a capacidade dos primeiros
novos apresentam uma maior proximidade
em prestar cuidados, e as necessidades de
emocional, aumentando a probabilidade de
cuidados dos segundos, em consonância com a
serem mais ativos e comprometidos na relação
fase de desenvolvimento em que se encontram.
(Triadó, 2000). No que concerne á idade dos
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netos, verificam-se correlações estatisticamente
Meio Ambiente, Psicológica e Relações sociais,
significativas e negativas com os cuidados
provavelmente motivado pelo aumento do
básicos, satisfação para com os cuidados e
sentimento de auto-eficácia.
funcionamento familiar, sendo perfeitamente
O mesmo se verifica com as atividades de ócio,
compreensível, tendo em consideração que a
correlacionando-se de forma positiva,
relação avós netos assume contornos diferentes
estatisticamente significativa com todas as
consoante as necessidades desenvolvimentais
dimensões da QV. Este efeito positivo,
destes (Silverstein e Marenco, 2001). Os netos
provavelmente advém do facto de as mesmas
pré adolescentes parecem ser mais fáceis de
constituírem um meio privilegiado de contacto
cuidar e de conviver com os avós, enquanto
com os netos, consolidando os laços de
que, os netos mais velhos tendem a
afetividade. Para além disso, permite-lhes
desenvolver outros laços, nomeadamente com
simultaneamente dissipar sentimentos de
os seus grupos de pares (Bales, 2002). Note-se
solidão frequentemente associados á terceira
que, á medida que a idade avança, os avós
idade (Emick & Hayslip, 1999 cit in Veleda,
passam a ser percepcionados como distantes e
Neves, Baisch, Vaz, Santos, & Soares, 2006).
menos como guardiões, guias familiares e
A satisfação para com os cuidados, assim como,
mediadores de conflitos (Triadó, Martinez &
o bom funcionamento familiar, também se
Villar, 2000).
correlacionam de forma positiva e
No que concerne á QV, verifica-se que os AC
estatisticamente significativa com todas as
apresentam níveis mais elevados e
dimensões da QV. Tal seria de esperar, tendo
estatisticamente significativos de QV Total e em
em consideração o elevado nível de satisfação
todas as suas dimensões (Física, Psicológica,
com os cuidados; a qualidade da relação entre
Relações Sociais e Meio Ambiente),
os avós e a geração intermédia, permitindo-lhes
comparativamente aos ANC. Tendo em conta
desempenhar um papel ativo na vida dos netos;
estes resultados, podemos considerar que a
o baixo nível de dificuldades na prestação de
prestação de cuidados a netos promove a
cuidados, assim como, uma valorização positiva
qualidade de vida dos avós. Tais ilações são
do seu estado de saúde em geral (físico e
suportadas pelo elevado número de correlações
psicológico). Estes resultados, explicam
estatisticamente significativas entre as várias
inclusive a existência de correlações negativas e
dimensões da QV e do questionário “Avós
estatisticamente significativas entre algumas
cuidadores”.
dimensões da QV e as dificuldades nos
Uma análise detalhada das mesmas,
cuidados; problemas de saúde; e problemas
demonstra-nos que o apoio ao estudo promove
emocionais.
a QV Total, permitindo aos avós contribuir para o desempenho escolar e formação do carácter
CONCLUSÕES
da criança, bem como, com o seu
A prestação de cuidados a netos parece
desenvolvimento pessoal (Harwood, Hewstone,
desempenhar um papel positivo na QV dos avós
& Raman, 2006). Aliás, o apoio ao estudo
cuidadores, proporciona-lhes um sentimento de
também surge como promotor das dimensões
utilidade e continuidade.
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Apóstolo et al. (2013) The effect of cognitive stimulation on depressive symptomatology and quality of life of elderly people. Journal of Aging & Inovation, 2 (3): 82-91
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
JULHO, 2013
EFEITO DA ESTIMULAÇÃO COGNITIVA NA SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS. The effect of cognitive stimulation on depressive symptomatology and quality of life of elderly people Efecto de la estimulación cognitiva en la sintomatologia depressiva y calidad de vida de ancianos
Autores
João Apóstolo1, Anabela Carvalho2, Cátia Tavares3 , Daniela Cardoso4, Maria Carvalho5, Tiago
Baptista6 1 2,3,5,6
Enfermeiro, PhD, Professor Adjunto, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, UICISA
Enfermeiros, colaboradores da UICISA:E – Unidade de Investigação em Ciências da Saúde.
Enfermagem, 4 Enfermeira, Research Grant Holder Portugal Centre for Evidence-Based Practice: an Affiliate Centre of the Joanna Briggs Institute (UICISA:E) Corresponding Author: apostolo@esenfc.pt RESUMO Objetivo: avaliar o efeito da estimulação cognitiva (EC) na sintomatologia depressiva e na qualidade de vida (QdV) de idosos residentes na comunidade na região centro de Portugal. Métodos: Estudo de natureza quase-experimental, pré-teste e pós-teste, sem grupo de controlo, em 33 idosos (idade média 74,45, DP 6,97 anos). Utilizadas a escala de depressão geriátrica (GDS-15) e EUROHIS-QOL-8. Os idosos, em 2012, foram sujeitos a 14 sessões de estimulação cognitiva (programa “Fazer a diferença”), de 45 a 60 minutos cada, 2 vezes por semana, durante 7 semanas. Resultados: A avaliação realizada no pré-teste permitiu classificar 27,30% dos idosos com perturbação depressiva, valor que reduziu para 15,20% no pós-teste. Adicionalmente 60,61% dos idosos melhoraram a sintomatologia depressiva. A diferença de médias da GDS-15 do pré para o pós-teste foi de -1,64. Esta diferença é evidente nos indivíduos com escolaridade igual ou superior a 5 anos. Apesar de 60,61% percecionarem uma melhor QdV após a intervenção, os resultados não permitem afirmar sobre a eficácia da EC nesta variável. Conclusões: É possível concluir que a EC é eficaz na melhoria da sintomatologia depressiva, especificamente nos idosos com escolaridade superior a 5 anos. Sugerem-se novos estudos randomizados controlados, com amostras de maior dimensão, com manutenção e follow-up em que sejam estudadas as diferenças em função de variáveis sociodemográficas reforçando e clarificando estes resultados. Não obstante, aconselha-se a implementação da EC como componente do cuidado a idosos. PALAVRAS-CHAVE: Estimulação cognitiva; Idoso; Idoso de 80 Anos ou mais Depressão; Qualidade de vida. Abstract Aim: to evaluate the effect of cognitive stimulation (CS) in depressive symptomatology and quality of life (QoL) community elderly residents in the central region of Portugal. Methods: Quasi-experimental study with pre- and post-test, without a control group, in 33 elders (mean age of 74.45, SD 6.97). The Geriatric depression scale-15 and EUROHIS-QOL-8 were used. The elders, in 2012, were subjected to 14 sessions of cognitive stimulation ("Making a difference” program), 45 to 60 minutes each, twice a week for 7 weeks. Results: The assessment in pre-test allowed classifying 27.30% of elderly with depressive disorder, a figure which fell to 15.20% in the post-test. Additionally, 60.61% of the elderly improved depressive symptoms. The mean difference of the GDS-15 from pre to post-test was -1.64. This difference is evident in individuals with education less than 5 years. Although 60.61% perceive better QoL after intervention results do not allow stating the effectiveness of EC this variable. Conclusions: It is possible to conclude that the CS is effective in improving depressive symptomatology which is evident in individuals with education superior to 5 years. We suggest new randomized controlled trials with larger samples, maintenance and follow-up in which the differences are studied as a function of sociodemographic variables strengthening and clarifying these results. Nevertheless, we recommend the implementation of the CS as a component of elderly care. KEYWORDS: Cognitive stimulation; Aged; Aged, 80 and over; Depression; Quality of life.
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Introdução
(WHOQOL Group, 1994). É um conceito
Portugal, em conformidade com outros países
subjetivo dependente do nível sociocultural, da
industrializados e desenvolvidos, apresenta uma
faixa etária e das aspirações pessoais do
população envelhecida decorrente do aumento
indivíduo. No estudo desenvolvido em 999
da esperança média de vida.
idosos do Reino Unido, as relações sociais e a
A sintomatologia depressiva é comum entre os
saúde foram consideradas as áreas mais
idosos mas é frequentemente não diagnosticada
importantes para a QdV, sendo referidos ainda
ou não tratada. Diferentes números de
outros aspetos como o papel social, bem-estar,
prevalência são relatados na literatura
habitação, finanças e independência (Bowling et
internacional. Em Portugal, os resultados são
al., 2003).
escassos, mas um estudo piloto revelou que
Em consonância com a posição anterior, nos
54,79% dos idosos residentes na comunidade
adultos mais velhos, tem sido relatada uma
apresentavam perturbação depressiva -
grande variedade de fatores relacionados com a
Geriatric Depression Scale-15>5 (Apóstolo,
QdV, incluindo sintomas depressivos, função
2013).
física, saúde percebida, condições ambientais e
A evidência revela que as pessoas com
idade (Halvorsrud et al., 2010). Os resultados do
depressão têm maior risco de desenvolverem
estudo destes autores revelaram que a QdV é
distúrbios cognitivos e demência (Rosness,
pior nos idosos com sintomas depressivos.
Barca e Engedal, 2010) e que os idosos com
Os resultados de Woods et al. (2006)
perturbação depressiva apresentam maior
evidenciam que a participação em atividades de
incapacidade ao nível da memória verbal e
estimulação cognitiva (EC) está associada a
visual, capacidade de execução e velocidade de
melhorias na QdV, em áreas funcionalmente
processamento da informação, bem como
relevantes, incluindo ganhos nas relações
atrofia cerebral, por exemplo no hipocampo,
interpessoais, níveis de energia e habilidades
amígdala e córtex orbito frontal medial,
para realizar tarefas. Mais ainda, as melhorias
associado a perdas cognitivas (Egger et al.,
na pontuação de QdV foram mediadas pela
2008). Revela ainda que estes idosos são
melhoria da cognição. As mulheres e as
confrontados com um conjunto de
pessoas com baixo valor basal de QdV
consequências negativas, incluindo declínio
beneficiam mais com a intervenção.
funcional, perda de energia para realizar as
A EC pode representar uma potencial e
atividades de vida diária, marcada incapacidade
promissora intervenção para a redução dos
e fragilidade e diminuição da qualidade de vida
sintomas depressivos e da vulnerabilidade
(QdV) (Fiske, Wetherell & Gatz, 2009).
depressiva (Raes, Williams e Hermans, 2009;
A QdV é definida pela Organização Mundial de
Niu et al., 2010). Os investigadores, apesar de
Saúde (OMS) como a perceção do indivíduo
reconhecerem que os efeitos neuroprotectores
sobre a sua posição na vida, dentro do contexto
da EC na promoção da plasticidade cerebral e
dos sistemas de cultura e valores nos quais está
da reserva cognitiva são desconhecidos, não
inserido e em relação aos seus objetivos,
descartam a hipótese da promoção da
expectativas, padrões e preocupações
neurogénese (La Rue, 2010).
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Uma recentemente revisão sistemática da
Hipótese do estudo: Idosos residentes na
literatura revelou que um pequeno número de
comunidade submetidos ao programa de
estudos evidenciou que a EC pode ser
estimulação cognitiva “Fazer a Diferença”
associada, entre outras, a melhorias na QdV e
apresentam níveis de sintomatologia depressiva
na comunicação dos idosos. No entanto os
mais baixos e de QdV mais elevados.
resultados não suportam a eficácia da EC no
Amostra: Idosos residentes na comunidade,
humor (Woods et al., 2012).
selecionados em dois Centros de dia de
Outros estudos como o de Fernández-Prado et
carácter rural e numa coletividade de carácter
al. (2011) mostraram alterações significativas no
urbano, do Concelho de Coimbra, Portugal. Nos
grupo submetido a treino cognitivo, o que
Centros de Dia foram selecionados todos os
demonstra um melhor desempenho cognitivo e
indivíduos que o frequentam. Na coletividade
da perceção da QdV.
foram abertas, publicamente, inscrições para a
A EC permitirá maximizar as funções cognitivas
participação no PEC-FD. Apesar de a amostra
intactas e os recursos das funções que, embora
ser não probabilística, estes locais estão
diminuídas, não estejam totalmente perdidas, de
inseridos em contexto rural, semi-rural e urbano
modo a prolongar a independência e a QdV do
da região centro de Portugal, garantindo um
indivíduo (Mitchell & Shiri-Feshki, 2009; Woods
painel representativo da população.
et al. 2012).
Características da Amostra
Assume-se que a EC possa ajudar a diminuir a
A análise de poder feito à priori determinou um
sintomatologia depressiva presente nos idosos
tamanho de amostra de 31 sujeitos. Devido ao
com carência de socialização, falta de
atrito foram selecionados 45 idosos (38
participação de atividades sociais e físicas. A
mulheres e 7 homens) segundo os seguintes
participação destes em atividades voltadas para
critérios de inclusão: reformados, idade superior
a memória e para o exercício das funções
a 60 anos e capacidade para participar em
cognitivas permitirá retardar o desenvolvimento
atividades de grupo durante pelo menos 45
da doença e/ou a produção de formas de
minutos. A média de idades dos participantes foi
adaptação às novas situações vivenciadas
de 75,29 anos (mínimo 63 e máximo 92) DP de
(Souza e Alvarengas, 2010).
7,64 anos.
Neste enquadramento, temos por objetivo
Por apresentarem mais de três faltas ao
avaliar o efeito da aplicação do Programa de
programa ou não concluírem a avaliação do
Estimulação Cognitiva – “Fazer a
pós-teste não foram incluídos na análise 12
Diferença” (PEC-FD) na sintomatologia
indivíduos (11 mulheres e 1 homem). Os 33
depressiva e na QdV de idosos inseridos em
participantes incluídos na análise apresentavam
coletividades e centros de dia e verificar a
as seguintes características: 27 mulheres e 6
relação entre o estado mental e a sintomatologia
homens; média de idade de 74,45 anos (mínimo
depressiva.
63 e máximo 87) e DP 6,97 anos. Os diferentes
Metodologia
níveis de escolaridade nos três locais
Estudo Quase-experimental, com pré-teste e
distribuem-se da seguinte forma: na
pós-teste.
Coletividade, 41,67% tinham 4 ou menos anos
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de escolaridade; 29,17% de 5 a 9 anos; 12,50%
de QdV composta por oito itens, e desenvolvida
de 10 a 12 anos e 16,67% completaram o
a partir dos instrumentos genéricos
ensino superior. No Centro de Dia A, 85,71%
WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref. Cada um dos
tinham 0 a 4 anos e 14,29% apresentavam
domínios (físico, psicológico, das relações
escolaridade superior. Já, no Centro de Dia B, a
sociais e ambiente) encontra-se representado
totalidade da população (100%) tinha 4 ou
por dois itens. O resultado é um índice global,
menos anos de escolaridade.
calculado a partir do somatório dos oito itens,
Os participantes selecionados na comunidade,
sendo que a um valor mais elevado corresponde
antes e durante a aplicação do PEC-FD,
uma melhor perceção da QdV. Todas as escalas
participaram em outras atividades recreativas e
de resposta têm um formato de cinco pontos,
de lazer, nomeadamente, Ginástica, Yoga, Chi
variando, por exemplo, entre “Nada” e
Kung, Hidroginástica, Natação e Canto coral.
“Completamente” (Pereira et al., 2011).
Instrumentos de Avaliação
Na amostra do estudo que apresentamos a
No contexto destes resultados, o instrumento de
EUROHIS-QOL-8 apresentou valores de alfa de
colheita de dados é composto pelas versões
Cronbach de 0,74 e 0,76 no pré e pós-teste
portuguesas das escalas Geriatric Depression
respetivamente.
Scale-15 (GDS-15), EUROHIS-QOL-8 e por
Intervenção
questões sobre história prévia de sintomatologia
O programa de EC "Making a Difference: An
depressiva e utilização de medicação
Evidence-based Group Programme to Offer
antidepressiva.
Cognitive Stimulation Therapy (CST) to People
Geriatric Depression Scale – 15 (GDS-15): é
with Dementia" (Spector, et al. 2006), adaptado
uma versão curta da escala original que foi
para português por Apóstolo e Cardoso (2013)
elaborada por Sheikh e Yesavage (1986),
foi usado como intervenção de EC.
versão portuguesa (Apóstolo, 2011). É uma
O programa foi aplicado ao longo de sete
escala de heteroavaliação composta por quinze
semanas, de Maio a Junho de 2012, com duas
itens, com duas alternativas de resposta (sim ou
sessões semanais de cerca de 45 a 60 minutos
não – itens 1, 5, 7, 11 e 13 são invertidos)
cada, ocorrendo em locais adequados. As
consoante o modo como a pessoa se tem
sessões foram organizadas e geridas pelos
sentido ultimamente, em especial na última
autores em cinco grupos de seis a oito idosos.
semana. É calculado um score global e uma
Os temas principais das 14 sessões foram: 1ª
pontuação superior a 5 pontos indica a
Jogos físicos; 2ª Sons, 3ª Infância; 4ª
existência de perturbação depressiva (Cavaleiro
Alimentação; 5ª Questões atuais; 6ª Retratos/
et al., 2013).
Cenários; 7ª Associação de palavras; 8ª Ser
Na amostra em estudo a GDS-15 revelou
Criativo; 9ª Classificação de objetos; 10ª
consistência interna aceitável (Alfa de Cronbach
Orientação; 11ª Usar o dinheiro; 12ª Jogos com
de 0,78 e 0,79 no pré e pós-teste,
números; 13ª Jogos com palavras; 14ª Jogos de
respetivamente).
equipa (Quiz).
EUROHIS-QOL-8 (Power, 2003) versão
Análise Estatística
portuguesa (Pereira et al., 2011) é uma medida JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Para verificar os pressupostos para a utilização
medicação antidepressiva. Durante as sete
de testes paramétricos, utilizámos o teste
semanas em que durou a aplicação do
Kolmogorov-Smirnov, assumindo que a variável
programa não houve alteração da terapêutica
em questão segue distribuição normal na
antidepressiva.
população. As medidas estatísticas utilizadas
A avaliação realizada no pré e no pós-teste
foram o teste t para amostras emparelhadas
27,30% e 15,20% dos idosos, respetivamente,
bem como estatísticas descritivas de resumo
apresentavam sintomatologia depressiva
(média e desvio padrão) e frequências absolutas
(GDS-15>5) verificando-se, portanto, uma
e relativas. Foi ainda utilizado o teste de
melhoria da condição clínica dos idosos com a
Wilcoxon para comparar a evolução dos sujeitos
aplicação do programa.
em relação à escolaridade, uma vez que o
Os dados apresentados na tabela 1 resultam
tamanho da amostra por grupo é reduzido.
dos testes de hipótese das variáveis
Procedimentos Éticos
sintomatologia depressiva e QdV. São expostos
O projeto foi aprovado pelas instituições e pela
os valores da média e desvio padrão avaliados
Comissão de Ética da Unidade Investigação em
no pré-teste (t1) e pós-teste (t2) bem como a
Ciências da Saúde – Enfermagem, da Escola
análise da evolução, com recurso aos valores
Superior de Enfermagem de Coimbra (Ref. Nº
obtidos nos testes t para amostras
P12-11/2010).
emparelhadas.
Cumpridos os princípios éticos subjacentes e
A diferença de médias, avaliadas em t1 e t2
pedido consentimento informado por escrito.
evidência que o programa foi eficaz em relação
Resultados
à sintomatologia depressiva (diferença de
A avaliação diagnóstica, realizada no pré-teste,
médias da GDS-15 foi de -1,64), mas não há
permitiu verificar que 45,45% afirmaram história
evidência dessa eficácia na melhoria da QdV
prévia de depressão e 39,39% afirmaram tomar
percebida.
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Efetuámos, ainda, uma análise mais detalhada
Na tabela 3, é possível verificar, que só em
com o objetivo de observar o efeito, no sentido
relação aos indivíduos com escolaridade
clínico, da estimulação cognitiva nas variáveis
superior ou igual a cinco anos há evidência da
em causa (tabela 2).
eficácia da intervenção na sintomatologia
No respeitante à sintomatologia depressiva é
depressiva.
possível verificar que 60,61% dos indivíduos
Examinando a evolução dos casos, no que diz
evoluíram positivamente, 21,21% evoluíram
respeito à variável sintomatologia depressiva
negativamente e 18,18% não sofreram qualquer
apresentaram uma evolução positiva 59,09%
evolução. Relativamente à QdV verifica-se que
dos idosos com escolaridade igual ou inferior a
60,61% dos indivíduos evoluíram positivamente,
4 anos e 63,64% dos idosos com escolaridade
30,30% evoluíram negativamente e 9,09% não
igual ou superior a 5 anos. No respeitante à
sofreram qualquer evolução.
QdV apresentaram uma evolução positiva
Não obstante o reduzido número de sujeitos em
54,55% dos idosos com escolaridade igual ou
cada grupo analisámos, ainda, a evolução da
inferior a 4 anos e 72,73% dos idosos com
sintomatologia depressiva e da QdV em função
escolaridade igual ou superior a 5 anos.
da escolaridade.
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Discussão
baixo do revelado pelo estudo de Apóstolo
Algumas limitações deste estudo carecem de
(2013) já referido na introdução.
ser referenciadas e discutidas. A amostra é não
A evidência não permite afirmar sobre a eficácia
probabilística, mas apesar desta fragilidade, os
da intervenção na QdV percebida. No entanto
locais selecionados estão inseridos em contexto
não se deve menosprezar os resultados obtidos,
rural, semi-rural e urbano da região centro de
já que 60,61% percecionam uma melhor QdV.
Portugal, garantindo um painel representativo da
Adicionalmente, a melhoria da QdV percebida é
população. A perda de 12 elementos da amostra
maior nos que têm escolaridade igual ou
e a diferença nas características dos idosos dos
superior a 5 anos.
três locais alvo do estudo podem constituir
Como já foi referido na parte introdutória deste
fragilidade nesta investigação. Ainda, como
artigo os estudos apresentam ainda algumas
limitação, é de referir a falta de homogeneidade
lacunas sobre a eficácia da EC quer no humor,
da amostra relativamente ao sexo (amostra
quer na QdV pelo que são necessários mais
maioritariamente feminina). A falta de grupo de
estudos. A recentemente revisão sistemática da
controlo que permitiria um estudo randomizado
literatura que sintetiza a evidência nesta
controlado teria também acrescentado robustez
temática revelou, num pequeno número de
ao estudo.
estudos, que a EC pode ser associada a
É ainda de considerar o reduzido número de
melhorias na QdV e na comunicação dos
sujeitos por grupo de escolaridade fazendo com
idosos. No entanto os resultados não suportam
os resultados decorrentes desta análise deva
a eficácia da EC no humor (Woods et al., 2012).
ser lida no contexto desta fragilidade. Assim há
Outros estudos, não incluídos naquela revisão,
necessidade de mais investigação comparando
como o de Almeida et al. (2010), com idosos
a eficácia do programa em função da
residentes na comunidade, evidencia que os
escolaridade dos indivíduos, bem como de
idosos que participam de grupos de convivência
outras variáveis sociodemográficas, como o
apresentam melhor QdV e menor ocorrência de
sexo, o estado civil ou suporte social dos idosos.
depressão quando comparados a idosos que
De facto, os fatores de risco para perturbação
não participam de grupos de terceira idade.
depressiva nos idosos são, entre outros, o sexo
Ainda, os resultados de Fernández-Prado et al.
feminino, a baixa escolaridade, estado civil
(2011) revelaram a eficácia da EC na perceção
(divorciado ou viúvo) e fraca rede social (Luppa
da QdV.
et al., 2012).
Os aspetos mais valorizados pelos idosos
Em relação ao objetivo e à hipótese do estudo,
responsáveis pela QdV dos idosos estão
os resultados sugerem que há diferença nos
relacionados com as suas relações sociais e a
valores do pré e pós-teste na avaliação
saúde. Analisando o conteúdo das atividades
realizada com a GDS (a diferença de médias da
proporcionadas pelo PEC-FD pensamos que é
GDS-15 foi de -1,64; 60,61% dos indivíduos
nestes aspetos que mais poderá haver
evoluíram positivamente). A avaliação realizada
mudanças significativas nos grupos e indivíduos
no pré-teste permitiu classificar 27,30% dos
que neles participam.
idosos com perturbação depressiva, valor mais JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Página 89
De facto, a nossa avaliação da implementação
acerca desta problemática, que é diminuta em
do programa ao logo das 14 sessões permite-
Portugal, possibilitando que novos dados
nos concluir sobre o êxito que tem nos
beneficiem o impacto sobre a prática clínica,
participantes. Este deve-se à interação do
assumindo por base a evidência nacional e o
grupo, ao desenvolvimento de relações
confronto dos resultados nacionais com os
pessoais positivas entre os participantes e à
internacionais.
dimensão lúdica proporcionada pelas atividades,
Do mesmo modo, em próximos trabalhos, será
que ao mesmo tempo permitem a estimulação
apresentada a aplicação do PEC-FD seguido de
das diferentes funções cognitivas (memória,
manutenção.
linguagem, praxia, gnosia e função executiva). Estas atividades lúdicas e de interação do grupo
Referências bibliográficas
podem ajudar a substituir os processos de
Almeida, E. A. D., Madeira, G. D., Arantes, P. M.
pensamento negativo, característicos de
M., & Alencar, M. A. (2010). Comparação da
sintomas depressivos, por um estilo cognitivo
qualidade de vida entre idosos que participam e
mais positivo, como é apoiado por Apóstolo
idosos que não participam de grupos de
(2010).
convivência na cidade de Itabira MG; Comparsion of quality of life among elderly that
Conclusão
participate and do not participate of senior
É possível concluir que a EC é eficaz na
conviviality groups in the city of Itabira MG,
melhoria da sintomatologia depressiva o que é
Brazil. Rev. bras. geriatr. gerontol, 13(3),
evidente nos indivíduos com escolaridade mais
435-443.
elevada. (diferença de médias da GDS-15 foi de -1,64; 60,61% dos indivíduos evoluíram
Apóstolo, J. & Cardoso, D. (2013).
positivamente).
Operacionalização do programa de estimulação
Apesar de não ser evidente que a EC é eficaz
cognitiva em idosos “Fazer a diferença”. Com
na QdV, 60,61% dos mesmos evoluíram
base em: Spector, A; Thorgrimsen, L; Woods, B
positivamente na QdV percebida.
& Orrell, M, (2006). Making a Difference: An
Face a estes resultados sugerimos o
Evidence-based Group Programme to Offer
desenvolvimento de novas investigações que
Cognitive Stimulation Therapy (CST) to People
invistam na compreensão da diferença de
with Dementia, ISBN: 978-989-98289-0-2
resultados obtidos, como já referido na discussão, utilizando amostras homogenias, de
Apóstolo, J. (2011). Adaptation into European
maior tamanho para que se possam estudar as
Portuguese of the Geriatric Depression Scale
diferenças em função das variáveis
(GDS-15). Referência - Suplementos à Revista
sociodemográficas referidas e aumentar a
Referência 2011 - Actas da XI Conferência
validade externa do estudo.
Iberoamericana de Educação em Enfermagem
Não obstante as limitações apresentadas, o
da ALADEF, Coimbra, 452-452.
desenvolvimento deste estudo proporciona a abertura de novas vertentes de investigação JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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ESTUDO DE CASO / CASE STUDY
JULHO, 2013
O MEL NO TRATAMENTO DE FERIDAS - ESTUDOS DE CASO HONEY IN WOUND TREATMENT - CASE STUDIES MIEL EN EL TRATAMIENTO DE HERIDAS - ESTUDIOS DE CASO
Autores
Ana Raquel Dinis1 1
Enfermeira, Farmácias Holon
Corresponding Author: araqueldinis@gmail.com
RESUMO O mel tem adquirido importância no tratamento de feridas devido às suas propriedades particulares, nomeadamente acidez, actividades antibacteriana, anti-inflamatória e antioxidante, e acções osmótica, desbridante e desodorizante. Quando utilizado em apósitos é denominado mel medicinal, sendo produzido segundo critérios rigorosos. Deste modo é possível a sua utilização segura. Existem diversos estudos sobre a aplicação de apósitos com mel em feridas agudas e crónicas, verificando-se bons resultados no tratamento de abcessos, queimaduras, enxertos, feridas infectadas, úlceras de perna, úlceras de pressão, feridas cirúrgicas e suas deiscências e úlceras de pé diabético. Neste artigo são apresentados quatro casos onde a aplicação de apósitos com mel em feridas multitratadas se mostrou bastante eficiente. Embora seja necessária mais investigação, os apósitos de mel deverão ser considerados uma alternativa eficaz no tratamento de diferentes tipos de ferida, particularmente aquelas multitratadas e complexas. PALAVRAS-CHAVE: Mel; feridas; cicatrização; estudo de caso
ABSTRACT Honey has gained importance in wound treatment due to his particular properties such as acidity, antibacterial, antiinflammatory and antioxidant activities and osmotic, debriding and deodorizing actions. When used in wound dressings it is called medical grade honey and is produced using quality control criteria. Thus it can be used safely. There are several studies about the use of honey as a wound dressing in acute and chronic wounds with good results in the treatment of abscesses, burns, donor sites, graft sites, infected wounds, leg ulcers, pressure ulcers, surgical wounds with and without dehiscence and diabetic foot ulcers. This article presents four cases where honey dressings application proved to be quite efficient. Although further research is needed, honey dressings should be considered as an effective alternative treatment for different wound types, particularly chronic wounds and those with multiple treatment. KEYWORDS: Honey; wounds; healing; case study JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
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Introdução
a dor e o trauma associados à mudança do
Há milhares de anos que o mel é utilizado pelo
mesmo. Por outro lado, este ambiente húmido
Homem nas mais diversas situações. Existem
promove um desbridamento autolítico, sendo
textos com mais de 4000 anos, onde é relatada
também benéfico para a cicatrização, sem
a utilização de mel no tratamento de feridas
permitir contudo um crescimento bacteriano no
(Cooper et al, 2009). Recentemente assistiu-se
leito da ferida (Cooper et al 2009, Seckam &
a um renascer do interesse pelo mel devido às
Cooper, 2013).
suas propriedades promissoras. No quotidiano, o enfermeiro depara-se, por vezes, com a
Actividade antioxidante
apresentação tardia de feridas, frequentemente
O mel apresenta uma grande quantidade de
num estado avançado de infecção e inflamação.
antioxidantes. Estes neutralizam os radicais
Para prevenir o agravamento da infecção são
livres, moléculas altamente reactivas
usados os diversos apósitos disponíveis.
causadoras de dano celular e produzidas
Contudo, o uso constante dos mesmos produtos
durante a fagocitose. Estes radicais promovem
provoca habituação e consequente estagnação
oxidação, a qual vai activar protéases que
da evolução da ferida. O desenvolvimento de
destroem citoquinas, factores de crescimento e
diferentes apósitos contendo mel constitui,
matriz extracelular, essenciais ao processo de
assim, uma nova oportunidade no tratamento de
cicatrização (Cooper et al 2009).
diversos tipos de ferida, com especial ênfase nas feridas multitratadas.
Acidez do mel A acidez do mel é benéfica para o tratamento de
As propriedades do mel
feridas. Um meio ácido permite a dissociação de
O mel é um produto natural composto por
mais oxigénio ligado à hemoglobina para o leito
hidratos de carbono (75-80%), dos quais se
da ferida, o qual é essencial para o crescimento
destacam a glicose e a frutose, por água (17%),
de fibroblastos. A acidez também diminui a
aminoácidos, minerais e vitaminas, os quais
actividade das protéases melhorando, assim, a
variam com o tipo de planta a partir do qual foi
cicatrização.
colhido o néctar. Estão descritas diversas propriedades do mel, as quais são abordadas em seguida (Cooper et al, 2009; Molan, 2011; Seckam & Cooper, 2013).
Na prática clínica, na presença de inflamação, a aplicação de mel no leito da ferida sobre um terminal nervoso mais sensibilizado pode causar dor, a qual desaparece habitualmente ao fim de
Acção osmótica
pouco tempo (Cooper et al, 2009; Molan 2011).
A acção osmótica do mel leva à saída de linfa
Acção desbridante
dos tecidos profundos, melhora a oxigenação e permite um maior aporte de nutrientes às células do leito da ferida. Adicionalmente mantém o leito da ferida suficientemente húmido para que o apósito não adira, diminuindo assim JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
A existência de tecido desvitalizado no leito da ferida é prejudicial à cicatrização. A melhoria do fluxo linfático devido à acção osmótica do mel vai permitir a chegada de maior quantidade de plasminogénio ao leito da ferida. Volume 2. Edição 3
Página 94
Concomitantemente, o mel inactiva o inibidor do
Vários estudos demonstraram que o mel de
activador do plasminogénio (PAI), permitindo
Leptospermum seleccionado consegue manter
que exista mais plaminogénio a ser convertido
níveis significativos de actividade antibacteriana
em plasmina, a qual digere a fibrina, sendo esta
mesmo em feridas altamente exsudativas.
última a responsável pela aderência do tecido desvitalizado ao leito da ferida. O resultado final é a promoção do desbridamento autolítico (Molan, 2011; Seckam & Cooper, 2013). Actividade anti-inflamatória Existem diversos estudos que suportam a actividade anti-inflamatória do mel, havendo evidência que esta não se deva directamente às suas propriedades antibacterianas. A presença de um estado inflamatório moderado e de curta duração é imprescindível para iniciar o processo de cicatrização. Quando essa inflamação é excessiva, o número de neutrófilos e macrófagos aumenta, bem como as espécies reactivas de oxigénio (ROS) por eles produzidas, as quais causam dano celular. Por outro lado, o peróxido de hidrogénio, uma ROS, atrai mais neutrófilos, formando-se um ciclo vicioso. A actividade antioxidante do mel é capaz de quebrar este ciclo diminuindo, assim, a inflamação. Por outro lado, a acção desbridante do mel também contribui para a diminuição da inflamação, visto que o tecido desvitalizado estimula a resposta inflamatória (Cooper et al, 2009; Molan 2011). Actividade antibacteriana A actividade antibacteriana do mel deve-se ao seu alto teor de açúcar, baixo pH e produção enzimática de peróxido de hidrogénio. Em 1988, Peter Molan constatou que o mel de manuka (Leptospermum scoparium da Nova Zelândia) possui uma potente actividade antibacteriana não dependente de peróxido de hidrogénio. JOURNAL OF AGING AND INOVATION (EM LINHA) ISSN: 2182-696X / (IMPRESSO) ISSN: 2182-6951
O mel possui actividade antibacteriana de largo espectro, sendo eficaz contra estirpes multirresistentes. Um estudo in vitro, realizado em 2009, sobre o efeito do mel em bactérias planctónicas e biofilmes sugere que o mel possui um efeito bactericida contra estes agentes patogénicos das feridas. Existem vários estudos sobre este assunto, porém necessitam de ser validados após o desenvolvimento de um teste fiável para detecção de biofilmes (Cooper et al, 2009; Seckam & Cooper, 2013). Acção desodorizante As bactérias metabolizam preferencialmente glicose. Porém, na sua ausência as bactérias anaeróbias metabolizam aminoácidos, resultando na produção de compostos de enxofre, aminas e amónias, causadoras de cheiro fétido nas feridas. A metabolização da glicose produz compostos com odor neutro, sendo este o motivo pelo qual a aplicação de mel nas feridas promove uma rápida diminuição de odor (Cooper et al, 2009). Prevenção de cicatriz hipertrófica As espécies reactivas de oxigénio formadas durante o processo inflamatório estimulam a actividade fibroblástica, responsável pela produção de fibras de colagénio necessárias à cicatrização. Em situações em que a inflamação é prolongada há uma hiperprodução das ROS, que pode levar à hipergranulação e à fibrose. Atendendo a que o mel previne a formação de radicais livres, existe uma diminuição do risco
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Página 95
de formação de cicatriz hipertrófica (Cooper et
terapia compressiva antes de ser implementado
al, 2009).
o tratamento com mel.
O mel no tratamento de feridas
Caso 1 – Sra. M. F. G.
De modo a utilizar com segurança produtos com
Mulher de 60 anos, com úlcera no maléolo
mel no tratamento de feridas é necessário
interno da perna esquerda, a realizar tratamento
cumprir alguns requisitos tais como, avaliação
desde 22/09/2010. Tem como antecedentes
da quantidade de mel no produto e sua
pessoais relevantes insuficiência venosa e
actividade antibacteriana, esterilização com
acidente de viação, em 1974, com traumatismo
radiação gama e seu registo como dispositivo
da perna esquerda. Foram utilizados vários
médico.
apósitos, nomeadamente hidrofibra simples e
Cooper (2009) refere diversos estudos sobre a aplicação de apósitos com mel em feridas agudas e crónicas, nos quais se obtiveram resultados promissores no tratamento de abcessos, queimaduras, enxertos de pele (região dadora e receptora), feridas infectadas, úlceras de perna, úlceras de pressão, feridas cirúrgicas, deiscências de feridas cirúrgicas e úlceras de pé diabético. As diversas propriedades do mel permitem que este seja aplicado em tecido de epitelização,
com prata, apósito não aderente com iodopovidona, entre outros, que a utente não tolerou devido a queixas álgicas intensas no local da lesão. O tratamento foi complementado com terapia compressiva desde o início. A 05/11/2010, altura em que iniciou tratamento com mel, a lesão apresentava essencialmente tecido desvitalizado e algum tecido de granulação, exsudado seroso em pequena quantidade, sem odor e sem edema. Tratamento implementado
granulação, desvitalizado e necrótico. Porém, a
Limpeza com solução salina e aplicação de
frequência da troca de apósitos deverá ser
apósito hidroactivo em poliuretano com 30% de
estipulada de acordo com o nível de exsudado.
mel medicinal e ligadura de longa-tração. A
É necessário atender à aplicação de apósitos
22/11/2010 foi mudada terapia compressiva
com mel em feridas com tecido necrótico
para meia de compressão. A 02/12/2010 devido
espesso, uma vez que ao estar afastado do
ao aparecimento de uma nova lesão foi alterado
fluido intersticial o mel irá desidratar ainda mais
o tratamento para apósito de alginato não
o tecido devido à sua acção osmótica.
aderente impregnado com mel medicinal de
Estudos de caso Para este estudo foi efectuada uma colheita de dados dos utentes e caracterização da ferida, com registo de evolução escrito e fotográfico.
manuka, mantendo-se a meia de compressão. A 10/01/2011 as lesões encontravam-se encerradas. A utente mantém utilização da meia de compressão. (Figuras 1 a 4)
Foram utilizados dois tipos de apósitos com mel medicinal. Os casos apresentados já realizavam
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1
Figura 1 – 05/11/2010 – Dimensões: (1) 3x1,5cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 7.
3
1
2
Figura 2 – 02/12/2010 – Dimensões: (1) 1,5x1cm; (2) 1x0,9cm; (3) 1x1cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 3.
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1
3
2
Figura 3 – 20/12/2010 – Dimensões: (1) 0,5x0,3cm; (2) 0,6x0,3cm; (3) encerrada. Exsudado ausente. Dor 5.
1
3 2
Figura 4 – 10/01/2011 – Lesões encerradas.
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Caso 2 – Sr. J. S.
A 12/11/2010, dia em que iniciou tratamento
Homem de 77 anos, com úlcera na face externa da perna direita, a realizar tratamento desde 01/2008. Como antecedentes pessoais relevantes apresenta insuficiência venosa e
com mel, a lesão apresentava essencialmente tecido de granulação, exsudado hematopurulento em moderada quantidade, cheiro fétido e pele perilesional ruborizada.
doença cardíaca. Durante os quase três anos de evolução da lesão foram aplicados inúmeros apósitos como: hidrofibra simples e com prata, apósito não aderente com e sem iodopovidona, sulfadiazina de prata, entre outros, sem sucesso na cicatrização.
Tratamento implementado Limpeza com solução salina e aplicação de apósito de alginato não aderente impregnado com mel medicinal de manuka. Foi mantida a terapia compressiva com ligadura de compressão. Após 10 semanas com este tipo de tratamento a lesão encerrou e o utente iniciou utilização de meia de compressão. (Figuras 5 a 8)
1
Figura 5 – 12/11/2010 – Dimensões: (1) 6x6cm. Exsudado hemato-purulento em moderada quantidade. Dor: 4.
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1 3
2
Figura 6 - 13/12/2010 – Dimensões: (1) 3,5x1cm; (2) 1x0,9cm; (3) 2,8x2,4cm. Exsudado seropurulento em moderada quantidade. Dor: 4.
1 3 2
Figura 7 – 13/01/2011 – Dimensões: (1) encerrada; (2) 0,5x0,3cm; (3) 1,3x0,3cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 2.
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3
1
2
Figura 8 – 31/01/2011 - Lesões encerradas.
Caso 3 – Sra. R. S. Mulher de 84 anos, com úlceras no maléolo interno da perna direita, a realizar tratamento desde 07/12/2010. Os antecedentes pessoais relevantes são a arritmia cardíaca e a insuficiência venosa. Realizou tratamento com hidrofibra com prata, hidrogel e placa hidrocoloide, não tolerando nenhum devido a intensas queixas álgicas. A 31/12/2010 apresentava duas lesões com tecido desvitalizado, pele perilasional ruborizada, exsudado seroso em pequena quantidade e sem odor, tendo-se iniciado tratamento com mel.
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Tratamento implementado Limpeza com solução salina e aplicação de apósito hidroactivo em poliuretano com 30% de mel medicinal e meia de compressão. Na região perilesional foi aplicado um spray protector cutâneo. A 13/01/2011 devido à maceração da pele perilesional, foi alterado o tratamento para apósito de alginato não aderente impregnado com mel medicinal de manuka, mantendo-se a meia de compressão. A 14/03/2011 as lesões encontravam-se encerradas. A utente mantém utilização da meia de compressão. (Figuras 9 a 12)
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2 1
Figura 9 – 31/12/2010 – Dimensões: (1) 2x0,8cm; (2) 0,8x0,5cm. Exsudado seroso em moderada quantidade. Dor: 7.
2 1
Figura 10 – 13/01/2011 – Dimensões: (1) 1,5x1,2cm; (2) 0,4x0,3cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 2.
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2 1
Figura 11 – 10/02/2011 – Dimensões: (1) 1,4x0,5cm; (2) encerrada. Exsudado seroso em moderada quantidade. Dor: 5.
2 1
Figura 12 – 14/03/2011 – Lesões encerradas.
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Caso 4 – Sra. E. S. Mulher de 77 anos, com duas úlceras na face
Tratamento implementado
interna da perna esquerda, a realizar tratamento
Limpeza com solução salina e aplicação de
há 11 anos. Os antecedentes pessoais
apósito de alginato não aderente impregnado
relevantes são insuficiência venosa, hipertensão
com mel medicinal de manuka. Foi mantida a
arterial e dislipidémia. Destacam-se, também,
terapia compressiva com ligaduras de curta-
como antecedentes familiares trombose venosa
tracção. Ao fim de doze semanas com este
profunda na mãe e úlcera de perna no pai.
tratamento, a lesão proximal encontrava-se
Durante os anos de tratamento foram utilizados
encerrada e a lesão distal com
incontáveis tipos de apósitos, sendo o último a
aproximadamente metade do tamanho. (Figuras
hidrofibra com prata. A 24/01/2011, quando
13 a 16)
iniciou tratamento com mel, a lesão proximal apresentava tecido de granulação e desvitalizado e a lesão distal essencialmente tecido desvitalizado, pele perilesional ruborizada, o exsudado era seroso em pequena quantidade e sem odor.
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Figura 13 – 24/01/2011 – Dimensões: (1) 1,5x1,5cm; (2) 1,5x1cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 4.
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Figura 14 – 07/02/2011 – Dimensões: (1) 1,2x1cm; (2) 1,6x0,6cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 4.
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Figura 15 – 24/03/2011 – Dimensões: (1) encerrada; (2) 1,7x0,4cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 3.
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Figura 16 – 11/04/2011 – Dimensões: (1) encerrada; (2) 1x0,4cm. Exsudado seroso em pequena quantidade. Dor: 3.
Considerações finais Os casos apresentados, embora distintos, evoluíram favoravelmente podendo constatar-se que o mel apresenta, globalmente, propriedades vantajosas para a resolução de feridas com diferentes características. A rápida cicatrização foi uma surpresa positiva, principalmente no segundo caso onde se verificou o encerramento
de tecido, levando a uma rápida cicatrização. Infelizmente verificou-se um aumento da dor no leito da ferida em dois dos casos, no momento da mudança do apósito. Torna-se, assim, fundamental escolher o tipo de apósito em conformidade com as características das feridas, para que se possa optimizar o tratamento com o mínimo de efeitos adversos.
em 10 semanas de uma lesão com quase três
Um processo cicatricial mais rápido acarreta
anos de evolução.
benefícios para o utente devolvendo-lhe
O apósito hidroactivo em poliuretano com 30% de mel medicinal revelou uma rápida acção desbridante e redução da dor no local da ferida. Porém, a sua humidade excessiva, bem como o tipo de adesivo foram prejudiciais para a pele perilesional, ainda que tenha sido aplicado um
autonomia e qualidade de vida e, também, para a Instituição de Saúde através da diminuição dos gastos em recursos materiais e humanos. Os apósitos com mel devem, portanto, ser considerados como opção, particularmente nas feridas multitratadas.
spray protector cutâneo. O apósito de alginato
No futuro será importante a realização de mais
não aderente impregnado com mel medicinal de
ensaios clínicos com grupos de controlo e
manuka teve uma boa resposta nos vários tipos
amostras significativas, de modo a validar as
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vantagens e desvantagens no uso de mel nos diferentes tipos de ferida, comparativamente a outros apósitos usados como tratamento de primeira linha. Embora existam indícios de que o mel possa desempenhar um papel importante na eliminação e prevenção da formação de biofilmes é necessária maior investigação sobre este problema particularmente importante e de difícil solução.
Referências bibliográficas Cooper, R., Molan, P., White, R. (2009). Honey in Modern Wound Management. Malta: Wounds UK. Molan, P. C. (2011). The evidence and the rationale for the use of honey as a wound dressing. Wound Practice and Research 19(4), 204–220. Seckam, A., & Cooper R. (2013). Understanding how honey impacts on wounds: an update on recent research findings. Wounds International , 4 (1), 20-24.
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