16 e 17 de junho de 2016 | Palmas - TO
APRESENTAÇÃO
C
ontribuir para o desenvolvimento da produção de madeira de florestas plantadas e sua maior utilização industrial e energética, bem como oferecer subsídios para ações governamentais em todos os níveis, incluindo a formulação de políticas públicas para o setor. Esses são nossos principais objetivos para a 8ª edição do Congresso Internacional de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Indústria de Base Florestal e de Geração de Energia, Madeira 2016. Para isso, estamos trabalhando como tema central em nossas discussões “A produção de madeira para uso múltiplo e a competitividade do setor de base florestal brasileiro no mercado internacional”. Durante os dois dias de congresso, vamos debater e procurar entender o porquê
de o Brasil, reconhecido internacionalmente como o país onde se alcançam as maiores produtividades em plantios florestais, ainda não ter um posicionamento destacado de liderança nos mercados internacionais de produtos florestais mais desenvolvidos no mundo. Nosso potencial de crescimento nesta área é muito grande. De acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), hoje temos 7,74 milhões de hectares de árvores de eucalipto, pinus e demais espécies plantadas no Brasil. Em 2015, a participação do setor na balança comercial brasileira representou 4,2% das exportações e, até abril deste ano, o número é ainda mais representativo: 4,9%. Por fim, ressaltamos que nosso congresso também tem espaço para o reconhecimento a personalidades e instituições de desta-
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que por promoverem o desenvolvimento econômico e social sustentável deste setor, sempre com respeito ao meio ambiente. Fazemos isso por meio da premiação Troféu Madeira 2016, nas seguintes categorias: Comunicador Social, Empresário, Executivo Destaque, Gestor Público, Pesquisador e Organização Social. Agradecemos aos parceiros que contribuíram para a realização da 8ª edição do Madeira. Bom congresso a todos!
Jussara Ribeiro Presidente do Instituto Besc de Humanidades e Economia
R E V IS TA M ADEIR A 2016
CONSELHO TÉCNICO E EMPRESARIAL Presidente do Conselho
Blairo Borges Maggi Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Coordenador Temático
Laércio Couto Membro do conselho do World Bioenergy Association - WBA.
Coordenadora-geral
Jussara Ribeiro Presidente do Instituto Besc de Humanidades e Economia.
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CONSELHEIROS “Sem deliberação, os projetos fracassam, com amplo aconselhamento se concretizam.” (Provérbios 15:22)
Aldo de Cresci Neto
Gilmar Bertoloti
Paulo Eduardo Rocha Brant
Secretário da Frente Parlamentar de Silvicultura.
Diretor de Operações da Amata Brasil.
Presidente da Celulose Nipo Brasileira – Cenibra.
André Nassar
Glauber Silveira
Pedro Dias Corrêa da Silva
Ex-secretário nacional de Políticas Agrícolas do
Presidente da Associação de Reflorestadores de
Presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Mato Grosso – Arefloresta.
do Tocantins.
Antônio Salazar Pessoa Brandão
Irajá Abreu
Ricardo Carvalho de Moura
Coordenador operacional do Grupo Executivo de
Deputado federal, presidente da Comissão de
Diretor-comercial da Plantar Empreendimentos e
Agroindústria da Firjan.
Agricultura da Câmara dos Deputados e da
Produtos Florestais.
Celso Tacla Presidente da Valmet Celulose Papel e Energia.
César Reis Diretor executivo da Associação Mineira de Silvicultura – AMS.
Clemente Barros Neto
Associação dos Reflorestadores do Tocantins.
Jean Benevides
Analista de conservação sênior do WWF.
Gerente nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da Caixa Econômica Federal.
João Comério
John Deere Brasil.
Diretor presidente da Innovatech Negócios Florestais.
João Martins da Silva Júnior
Tocantins.
Presidente da Confederação da Agricultura e
Chefe-geral da Embrapa Florestas.
Edvá Oliveira Brito
Roberto Marques Gerente da Divisão de Construção e Florestal da
Secretário da Agricultura e Pecuária do Estado de
Edson Tadeu Iede
Ricardo Russo
Pecuária do Brasil – CNA.
Júlio César Machado Presidente do Instituto de Terras do Tocantins.
Robson Trevisan Diretor executivo do Painel Florestal.
Sebastião Renato Valverde Diretor científico da Sociedade de Investigações Florestais da Universidade Federal de Viçosa.
Walter Lídio Nunes
Coordenador de Engenharia Florestal da
Marco Tuoto
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
CEO e Conselheiro Sênior da Tree Florestal.
Elizabeth de Carvalhaes
Mauricio Bicalho de Melo
Presidente executiva da Indústria Brasileira de
Diretor presidente da ArcelorMittal BioFlorestas e
da Confederação da Agricultura e Pecuária do
Árvores – IBÁ.
presidente da Associação Mineira de Silvicultura.
Brasil – CNA
Emílio Fontanello
Newton Cardoso Júnior
Wilson Andrade
Engenheiro do Produto da Scania.
Deputado federal, coordenador da Frente
Diretor executivo da Associação Baiana das
Parlamentar da Silvicultura.
Empresas de Base Florestal – ABAF.
Germano Aguiar Vieira
Presidente da Celulose Riograndense.
Diretor florestal da Eldorado Brasil Celulose.
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Walter Rezende Presidente da Comissão Nacional de Silvicultura
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SUMÁRIO
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Destaque empresarial e na política
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A competitividade do setor de base florestal no mercado internacional
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O Brasil desponta na era da sustentabilidade
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A riqueza das florestas plantadas
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Horizontes renováveis
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Informações para o planejamento
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Agregando valor à biomassa florestal
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O potencial da silvicultura no Tocantins
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Demanda de madeira para uso múltiplo
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Manejo sustentável de florestas plantadas: um novo conceito para a construção civil
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A pesquisa científica e a competitividade do setor de base florestal
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Florestas e água: um binômio indissolúvel
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Desafios e oportunidade atuais para o setor de florestas plantadas no Brasil
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Olhemos mais “a floresta” e menos “a árvore”
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Breve elucidação sobre os leilões de energia e o potencial da biomassa florestal
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Agroforestry and the concept of the Green Beef in Brazil
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TROFÉU
MADEIRA 2016 R
econhecer profissionais e organizações que contribuem para o crescimento econômico sustentável da indústria florestal brasileira é o propósito do Instituto Besc com a premiação Troféu Madeira, que está em sua oitava edição.
presarial do 8º Congresso Internacional de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Indústria de Base Florestal e de Geração de Energia. A partir de escrutínio público no website do Madeira 2016 foram eleitos os premiados. Confira na página ao lado os vencedores:
Os candidatos foram indicados pelo Conselho Técnico & Em-
Integração homem x natureza O Troféu Madeira 2016 reproduz o logo do evento, que tem como conceito principal a importância de colocar o homem no centro da ação de resgate da vida que está se esvaindo no planeta.
para uma retomada de consciência e de ação. Cabe a cada pessoa se transformar nesse elemento e assumir seu papel nessa grande e possível floresta”, explica Morandini, o criador da marca.
“Dessa forma, ele assume o papel de uma árvore, simbolizando sua integração plena com a natureza. Não uma árvore estática, mas dotada de pernas e braços que abarcam o ecossistema, servindo de base
Assim como na edição anterior, o troféu foi confeccionado pela artista plástica Ana Paula Castro, de Vitória (ES), em madeira e em aço inox.
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Vencedores COMUNICADOR SOCIAL
GESTOR PÚBLICO
William Domingues de Souza, editor-chefe da Revista Opiniões
Newton Cardoso Júnior, deputado federal, presidente da Comissão de Silvicultura da Câmara dos Deputados
Jornalista, publicitário e administrador de empresas, William é fundador da Revista Opiniões, uma das publicações de maior credibilidade e veiculação do sistema florestal. Em sua trajetória profissional já acumula 12 anos de atuação nos setores de celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira sólida, dentre outras áreas do sistema de agronegócio.
Newton foi conselheiro da Magnesita Refratários S.A. e do Conselho do Sindicato da Indústria do Ferro Gusa de Minas Gerais. O deputado tem título de Cidadão Honorário da Câmara Municipal de Pitangui-MG e recebeu honras de Mérito Legislativo da Câmara Municipal de Contagem.
EMPRESÁRIO
PESQUISADOR
Robson Trevisan, diretor do Painel Florestal
José Luiz Stape, gerente de Inovação da Suzano Papel e Celulose
Jornalista, especializado no setor florestal, atua também no fomento de políticas públicas e iniciativas que geram oportunidades de negócios para produtores florestais. Promove importantes eventos na área e atualmente lançou o Grupo Mídia Forte, uma parceria entre cinco veículos de comunicação sobre florestas, biomassa, celulose, papel, madeira e energia renovável.
Associate Professor de Silvicultura na North Carolina State University, Raleigh (EUA), José Luiz é doutor em Forest Sciences pela Colorado State University e foi professor doutor em Silvicultura na Universidade de São Paulo (USP), onde coordenou o curso de Engenharia Florestal e das Estações Experimentais Florestais. Publicou 32 artigos em periódicos especializados e 66 trabalhos em anais de eventos. O profissional atua na área de recursos florestais e engenharia florestal.
EXECUTIVO DESTAQUE Fausto Takizawa, secretário-geral da Associação de Reflorestadores de Mato Grosso (Arefloresta)
ORGANIZAÇÃO SOCIAL Ibá - Indústria Brasileira de Árvores
Engenheiro florestal pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), iniciou sua carreira na Floresteca, tendo trabalhado nas áreas de inventário, planejamento florestal e meio ambiente. Fausto foi eleito duas vezes presidente da Arefloresta entre os anos de 2010 e 2015. Atualmente é diretor da Floresteca e secretário-geral da Arefloresta, atuando para que o setor de árvores plantadas no Brasil alcance excelência em todos os mercados, e que seja o catalisador no país para a liderança mundial nas medidas de combate às mudanças climáticas, aliada à produção e ao abastecimento de alimentos e madeira, de forma eficiente e sustentável.
Criada em 2014, a Ibá é responsável pela representação institucional da cadeia produtiva de árvores plantadas, do campo à indústria, junto a seus principais públicos de interesse. A entidade representa 61 empresas e nove entidades estaduais de produtos originários do cultivo de árvores plantadas, com o objetivo de valorizá-los, sempre em defesa dos interesses do setor tanto nacional como internacionalmente.
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Foto: Carlos Silva/Mapa
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DESTAQUE EMPRESARIAL E
NA POLÍTICA A
inovação faz parte da vida de Blairo Borges Maggi, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Gaúcho de uma família de pequenos produtores rurais de descendência italiana, cursou a graduação de Agronomia em função da aposta do pai no cultivo de soja em áreas inexploradas. Foi sob a sua gestão que a empresa Sementes Maggi tornou-se um grande grupo, chamado André Maggi, em Mato Grosso. Na vida pública, Blairo foi eleito senador da República em 1999 e, quatro anos mais tarde, governador de Mato Grosso. Durante seu governo, o político defendeu na administração pública os princípios da honestidade, eficiência, ousadia e transparência que regeram sua caminhada no mundo empresarial. Em 2006, ele foi reeleito governador com 63,59% dos votos.
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Em 2011, voltou ao Senado Federal, mandato do qual se licenciou para assumir o Ministério, em maio deste ano. Por seu desempenho em ambos os setores, Blairo é constantemente citado pela revista Forbes como um dos líderes mais influentes do mundo e já figurou entre os 30 líderes mais influentes do Brasil, de acordo com publicação da Revista Época. Também por este motivo, Blairo Maggi foi escolhido como presidente de honra do 8º Congresso Internacional de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Indústria de Base Florestal e de Geração de Energia, Madeira 2016.
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O BRASIL DESPONTA NA ERA DA
SUSTENTABILIDADE Walter Lídio Nunes
S
omos o país mais competitivo do mundo em plantios florestais para produção de celulose. Além do diferencial dado pelas nossas condições climáticas, tivemos, ao longo dos últimos 30 anos, um grande avanço na tecnologia para a formação de florestas plantadas e processos produtivos mais eficientes.
Especificamente a Celulose Riograndense está, hoje, entre as três empresas do
Fotos: Banco de Imagens CMPC
Nosso setor investiu em aprimoramento genético e clonagem dos melhores indivíduos para o aperfeiçoamento da qualidade da madeira produzida e modernizou os parques fabris para maximizar a extração da
celulose e os processos de secagem. Aprendemos a lidar com a ocorrência de períodos secos (no Sudeste e Nordeste) e de geadas (no Sul), escolhendo as melhores cepas para cada uma das situações e desenvolvendo híbridos entre as diferentes espécies de eucalipto. Vencemos a ocorrência de pragas e doenças florestais por meio do controle biológico e do desenvolvimento de clones resistentes. Tais medidas estão trazendo excelentes resultados.
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Brasil com maior rendimento florestal por hectare plantado: temos uma média de produtividade acima de 45 m 3/h/ ano com casca, o que chega a ser o dobro de 30 anos atrás e uma das maiores do mundo para o plantio de qualquer espécie de árvore. Além do crescimento em volume, chama a atenção que, em três décadas, obtivemos uma evolução de mais de 20% no crescimento da densidade básica e que o rendimento de fábrica está mais de 5% superior ao que foi no passado.
A Celulose Riograndense está, hoje, entre as três empresas do Brasil com maior rendimento florestal por hectare plantado: temos uma média de produtividade acima de 45 m3/h/ano com casca, o que chega a ser o dobro de 30 anos atrás.”
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Fotos: Banco de Imagens CMPC
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A mecanização das atividades de colheita e silvicultura também merece destaque. Além de melhorar o rendimento dos plantios e o preparo da madeira, otimizou recursos e permitiu que boa parte dos trabalhos sejam feitos buscando a colheita e silvicultura de precisão, em que os insumos são colocados para obter o maior aproveitamento da floresta, sem cometer excessos para com o meio ambiente do entorno. Hoje, todas as florestas da Celulose Riograndense são certificadas pelos sistemas ISO e FSC, aceitos mundialmente como atestado de manejo correto, ambientalmente e socialmente justo. São todas iniciativas que demandam investimento, planejamento, pesquisa e muito empenho, mas que revertem em um dos maiores valores da modernidade: a sustentabilidade sócio-econômica-ambiental do nosso negócio.
Walter Lídio Nunes Diretor-presidente da Celulose Riograndense
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O JOGO MUDOU.
MAS VOCÊ ESCREVEU AS REGRAS.
Projetados a partir de sugestões de nossos clientes, a John Deere desenvolveu os mais resistentes e mais produtivos equipamentos que já oferecemos ao mercado: a nossa nova Série M de Harvesters e Feller Bunchers de esteira e a nova Série L de Skidders e Feller Bunchers de pneus. Só de olhar, você já percebe a diferença. JohnDeere.com.br/Florestal
Foto: Banco de Imagens Cenibra
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HOR IZONTES
RENO VĂ VEIS Paulo Eduardo Rocha Brant
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Foto: Divulgação
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vida impulsiona cada organismo vivo a uma constante adaptação para garantir sua sobrevivência, seja qual for o cenário apresentado. Neste sentido, o setor de base florestal deve se desafiar continuamente a rever processos, produtos, mercados a fim de renovar o horizonte e dar perenidade aos empreendimentos. O progresso tecnológico e industrial vivido nas últimas décadas só foi possível em função do aprimoramento das estruturas de gestão e fundamentalmente pelos implementos para melhor utilização dos recursos e obtenção dos insumos, em especial a energia. A demanda por energia é um excelente termômetro da atividade econômica de um país e a característica de sua matriz energética revela o respectivo grau de evolução.
As unidades de produção de celulose no estado da arte são usinas termelétricas que também produzem celulose. Além de completamente autossuficientes, produzem um excedente de energia superior à energia necessária para a própria produção de celulose, totalmente renovável, portanto, energia verde.” 21
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O potencial energético do setor brasileiro de árvores plantadas é formidável. Apenas para ficar no “case” da indústria de celulose, eu diria que as unidades de produção de celulose no estado da arte são usinas termelétricas que também produzem celulose. Além de completamente autossuficientes, produzem um excedente de energia superior à energia necessária para a própria produção de celulose, totalmente renovável, portanto, energia verde.
O setor é responsável pela geração de R$ 10,2 bilhões em tributos federais, estaduais e municipais (0,8% da arrecadação nacional) e de 4,23 milhões de empregos. Além disso, as empresas investem mais de R$ 170 milhões/ ano em Programa Sociais. Dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) apontam que são 5,4 milhões de hectares de Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).
Foto: Divulgação
Na ordem do dia das organizações devem estar assuntos como a diversificação da matriz energética a partir de fontes limpas, novas aplicabilidades para a celulose e demais subprodutos florestais, de forma a potencializar a tecnologia natural de nossas florestas. Refiro-me não somente à promissora linha de pesquisa sobre nanocelulose, mas a tantas outras que podem figurar o porvir.
No país, a área plantada do setor corresponde a 7,74 milhões de hectares de eucalipto, pinus, e outras espécies plantadas para fins industriais. Esta área representa apenas 0,95% do território nacional. O país possui grandes áreas antropizadas e subutilizadas. Diante da possibilidade de expansão, as empresas devem refletir quanto ao comportamento da sociedade e seus anseios por produtos com uma cadeia produtiva limpa.
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Seja qual for a direção escolhida pelas empresas, é importante manejar com responsabilidade os recursos naturais e buscar vencer o desafio de equilibrar os custos de produção, as adversidades operacionais e climáticas, bem como o atendimento a uma legislação restritiva e burocrática no famigerado sentido da palavra; como a restrição que limita a compra de terras pelo capital estrangeiro. O efeito em cadeia de regulamentações como esta interfere no desenvolvimento do país tanto em relação à preservação da biodiversidade, quanto à geração e distribuição de renda.
Paulo Eduardo Rocha Brant Diretor-Presidente da Cenibra
AGR EGANDO VALOR À
BIOMASSA FLORESTAL Celso Tacla
A
No atual contexto, as exigências por tecnologias competitivas aumentam. Há demandas por economia de escala, eficiência energética e operacional, alta disponibilidade e redução de emissões. Nossos fornecimentos mais recentes permitem que as fábricas de celulose operem sem qualquer emissão de odores como a nova linha da CMPC, em Guaíba/RS.
Foto: Banco de Imagens Valmet
missão da Valmet é a de converter recursos renováveis em resultados sustentáveis. Todos os dias, mais de 12.000 funcionários da empresa ao redor do mundo, esforçam-se para transformar esta missão em realidade. Para que isto aconteça, trabalhamos com áreas foco em sustentabilidade, sendo uma delas a criação de soluções eficientes e sustentáveis.
Fábrica da CMPC - Guaíba/RS
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Foto: Banco de Imagens Valmet
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Celso Tacla
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Foto: Banco de Imagens Valmet
Nossas tecnologias permitem que uma fábrica de 1.5 milhão de toneladas opere com consumo de água de 18 m3/t, menos da metade de uma fábrica construída há 20 anos. Assim, fábricas de celulose, que alguns anos atrás eram importadoras de energia, têm hoje capacidade de exportar grande quantidade de excedentes para o grid. A fábrica fornecida para a Suzano Papel e Celulose, em Imperatriz/MA, exporta em média 80MWh. Nossas tecnologias para fabricação de papéis e cartões também primam pela economia de água, energia e fibras. Exemplos de novas tecnologias são a AdvantageTMReTurn, turbina que recupera 50% da energia da caixa de entrada de máquinas tissue, e as calandras OptiCalender Metal Belt, que propiciam grande economia de fibras na fabricação de cartões. A Valmet também possui tecnologias para
extrair valor de outras frações da madeira. Por exemplo, a extração de lignina do licor negro, a produção de bio-óleo através da pirólise, a produção de black pellets, combustível de biomassa renovável que pode substituir o carvão fóssil para geração de energia, reduzindo significativamente as emissões de carbono. A Valmet investe aproximadamente €60 milhões em P&D para atender as principais demandas dos seus clientes, visando desenvolver tecnologias e serviços mais avançados e competitivos, aumentar a eficiência na utilização de matérias-primas, água e eficiência energética e promover o uso de materiais renováveis. Por estas contribuições tornou-se benchmark para a evolução da indústria de celulose, papel e energia.
Celso Tacla Presidente Valmet América do Sul
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Fábricas de celulose, que alguns anos atrás eram importadoras de energia, têm hoje capacidade de exportar grande quantidade de excedentes para o grid.”
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A COMPETITIVIDADE DO SETOR DE
BAS E FLORESTAL
NO MERCADO INTERNACIONAL Elizabeth de Carvalhaes
o
Foto: Maria Goreti Braga dos Santos
setor de árvores plantadas evoluiu muito nos últimos anos no Brasil, tornando-se um dos mais relevantes no mundo e ganhando cada vez mais importância na economia nacional. Juntas, as empresas do setor representaram 5,5% do PIB (Produto Interno Bruto) da indústria brasileira em 2014 e geraram mais de R$ 10 bilhões em tributos federais, estaduais e municipais. Com uma área de 7,7 milhões de hectares de árvores plantadas, e que ocupam menos de 1% do território nacional, o Brasil consegue se destacar como o maior produtor mundial de celulose de fibra curta, além de figurar entre os principais fabricantes de papel e painéis de madeira. O setor é responsável por 91% de toda a madeira produzida para fins industriais no País, além de ser um dos que apresenta maior potencial de contribuição para a construção de uma economia verde.
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Com uma área de 7,7 milhões de hectares de árvores plantadas, e que ocupam menos de 1% do território nacional, o Brasil consegue se destacar como o maior produtor mundial de celulose de fibra curta, além de figurar entre os principais fabricantes de papel e painéis de madeira.” Foto: Banco de Imagens Ibá
As práticas sustentáveis do setor de árvores plantadas, do campo à indústria, têm sido fundamentais na conquista de mercados internacionais, à medida que cada vez mais cresce o interesse e a consciência de governos e cidadãos sobre a necessidade de incentivar a economia de baixo carbono. No campo, ações como o plantio em mosaicos – em que florestas naturais se intercalam às árvores plantadas para fins industriais – e o manejo florestal sustentável permitem a manutenção e a preservação da biodiversidade, do solo e das nascentes de rios. Na indústria, as tecnologias empregadas fazem com que o setor consiga gerar a maior parte da energia que consome, além de reduzir o volume necessário de água para o processo fabril. A tudo isso, acrescenta-se a parceria com comunidades de agricultores e ambientalistas com o objetivo de recuperar 50 milhões de hectares da Mata Atlântica até 2050. Em termos de futuro, a indústria brasileira de árvores plantadas tende a ser ainda mais relevante no mundo, graças aos investimentos contínuos em pesquisas e tecnologias na busca por produtos e processos inovadores que contribuam para a construção de uma economia de baixo carbono.
Elizabeth de Carvalhaes Presidente-executiva da IBÁ – Indústria Brasileira de Árvores
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A RIQUEZA DAS
FLORESTAS PLAN TADAS Mauricio Bicalho
A
humanidade hoje busca cada vez mais a qualidade de vida com produtos naturais, renováveis e biodegradáveis. Eles nada mais são recursos que a natureza, respeitada, bem tratada e preservada, oferece ao ser humano para uma vida saudável aliada à preservação de seus recursos. Nos dias atuais, ocorre também uma busca permanente por produtos que evitem as emissões de gases de efeito estufa e não provoquem as mudanças do clima. Dentre os produtos naturais à disposição da humanidade está a madeira, companheira das civilizações milenares, ofertada pela natureza, aprimorada pelo cultivo racional, desenvolvida e multiplicada pela ciência e pela tecnologia e presente hoje em nossa vida em diversos produtos. A madeira renovável, a partir de florestas plantadas, que absorve dióxido de carbono
em grandes volumes durante sua fase de crescimento, é uma das principais riquezas de nosso estado de Minas Gerais, alimentando cadeias industriais, geradoras de empregos, riqueza e recolhimento de tributos. Minas Gerais dispõe de mais de 1,5 milhão de hectares de florestas plantadas, principalmente com eucalipto, que alimentam diferentes cadeias produtivas. Geramos mais de 370 mil empregos, estamos presentes em mais de 440 municípios mineiros, e nossas áreas de florestas plantadas compreendem mais de 500 mil hectares de áreas de preservação permanente compostas de florestas nativas. Por meio dos programas de fomento florestal, as empresas associadas da Associação Mineira de Silvicultura (AMS) cumprem um importante programa econômico-social e ambiental, injetando recursos nas comunidades rurais do estado, capacitando pro-
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dutores florestais em projetos sustentáveis, que geram emprego e renda nas regiões de influência das empresas. A AMS foi fundada em 2003 quando sucedeu a ABRACAVE, Associação Brasileira de Florestas Renováveis, que atuou de 1976 até 2002. A AMS congrega e representa as principais empresas florestais fornecedoras de matéria-prima para produção de painéis de madeira, celulose e aço e ferro-ligas a carvão vegetal. No momento atual, o setor sente o efeito drástico da redução da demanda por produtos da siderurgia mineira, que acarretou na diminuição da produção de carvão vegetal a partir do eucalipto e na queda na demanda da madeira das florestas plantadas, com consequentes quedas de preço e do desinteresse dos pequenos e médios produtores pela produção florestal.
Foto: Banco de Imagens ArcelorMittal BioFlorestas
Por meio dos programas de fomento florestal, as empresas associadas da Associação Mineira de Silvicultura (AMS) cumprem um importante programa econômico-social e ambiental, injetando recursos nas comunidades rurais do estado.” Foto: Leo Horta
Diante desse quadro, temos proposto ao Governo de Minas o estabelecimento de políticas públicas que venham fortalecer a cadeia de produção florestal para a geração de energia, especialmente elétrica, com as virtudes de utilização de matéria-prima renovável oriunda de florestas de eucalipto que, em sua fase de crescimento, são um grande absorvedor de dióxido de carbono, além de mitigador dos efeitos da mudança do clima. Somando esforços com a sociedade organizada e demais entidades do Estado, continuaremos a trabalhar para a retomada do crescimento econômico de Minas com produtividade, competitividade e sustentabilidade.
Mauricio Bicalho
Presidente da Associação Mineira de Silvicultura e diretor da ArcelorMittal BioFlorestas
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INFORMAÇÕES PARA O
PLAN E JA M E N TO Walter Rezende e Camila Braga
o
Brasil possui características singulares de produção florestal por possuir a segunda maior cobertura florestal do mundo, considerando florestas nativas e plantadas, ficando atrás apenas da Rússia (FAO, 2015). Esse potencial possibilita a produção de produtos madeireiros e não madeireiros, tanto pelas florestas plantadas, quanto pelas florestas nativas, por meio das concessões florestais – Lei de Gestão de Florestas Públicas (Lei 11.284/2006). Especificamente sobre as florestas plantadas, o Brasil possui 2,5% da área mundial (FAO, 2015), com aproximadamente 7,5 milhões de hectares (Ibá, 2015). Os dados disponíveis de floresta plantada se concentram principalmente nas informações sobre eucalipto e pinus. No entanto, os indicadores de rentabilidade de outras culturas, divulgados amplamente pela mídia, têm atraído o investimento de produtores rurais, a exemplo da expansão dos plantios de mogno africano, cedro australiano, teca e pinus para produção de resina.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) ressalta que o investimento em qualquer atividade agropecuária deve ser baseado em uma rigorosa análise dos indicadores econômicos, de produtividade e de mercado, principalmente na atividade florestal, cujo ciclo produtivo e retorno econômico são de longo prazo. Por isso, informações fidedignas sobre as culturas florestais e a área plantada são cruciais para o planejamento do setor. A falta de referências de dados primários sobre a produção florestal nacional, ou a super e/ou subvalorização de dados secundários, é o grande gargalo para formulação de políticas públicas para o setor florestal. Por isso valorizamos o protagonismo de alguns estados, por exemplo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Tocantins, Santa Catarina e Goiás, na elaboração de Diagnósticos Estaduais de Florestas Plantadas. A CNA tem participado ativamente dos principais fóruns e discussões que norteiam as políticas públicas para o setor florestal, a exemplo das propostas para o Plano Nacio-
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nal de Desenvolvimento de Florestas Plantadas no eixo madeireiro, no âmbito da Câmara Setorial de Florestas Plantadas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e está coordenando as propostas para o eixo não madeireiro. Para isso, recentemente lançamos a Pesquisa CNA Sobre A Produção Florestal Não Madeireira, cujo objetivo é conhecer indicadores estratégicos das cadeias produtivas desse setor para a proposição de políticas públicas eficazes e melhorias nas condições de acesso a mercado, crédito, seguro rural, preço, dentre outros. Retratar a realidade desses segmentos é o que permitirá a efetivação das ações.
Walter Rezende Silvicultor e presidente da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA
Camila Braga Engenheira Florestal e assessora técnica da Comissão Nacional de Silvicultura e Agrossilvicultura da CNA
Os dados disponíveis de floresta plantada se concentram principalmente nas informações sobre eucalipto e pinus. No entanto, os indicadores de rentabilidade de outras culturas, divulgados amplamente pela mídia, têm
Fotos: Banco de Imagens CNA
atraído o investimento de produtores rurais.”
Walter Rezende
Camila Braga
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Foto: Divulgação
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O POTENCIAL DA
S ILVICULTURA NO TOCANTINS
Fernando Dorta Mendes de Souza, Arlete Leite Lima e Carlos Manuel C. Carreira
S
eguindo uma tendência mundial, a produção sustentável tem ganhado espaço no agronegócio tocantinense, com o crescimento de florestas plantadas. Muito se deve à demanda por bioenergia (carvão vegetal) e celulose. Por isso, a silvicultura tem se tornado a principal atividade econômica de muitos produtores tocantinenses. Neste contexto, as principais espécies de árvores plantadas no Estado são: eucalipto (Eucalyptus spp.), seringueira (Hevea brasilienses), teca (Tectona grandis) e acacia australiana (Acacia mangium). De acordo com dados de levantamento de campo realizado pela Secretaria do Desenvolvimento da Agricultura e Pecuária (Seagro), em 2015, o Estado possui 236.886 hectares de florestas plantadas.
Principal cultura – Eucalipto O eucalipto é a principal espécie de floresta plantada no Tocantins, amplamente plantado em terras com baixo potencial para lavouras. Outro uso muito importante do eucalipto tem sido a opção para consorciamentos em sistemas agrossilvipastoris, diversificando a atividade econômica da propriedade. A região norte do Estado, conhecida como Bico do Papagaio, tem encontrado destinação à produção em virtude da existência da unidade Suzano Papel e Celulose na cidade de Imperatriz-MA. Outras regiões também possuem excelentes localizações em termos de logística, como o município de Brejinho de Nazaré, situado a apenas 52 km da BR-153 e a 112 km da
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capital, Palmas. Na região há mais de 18 mil ha de eucalipto plantados, boa parte já aptos à exploração, mas que, hoje, não dispõem de um mercado consumidor, devido à falta de empresas transformadoras em seu entorno.
Regiões produtoras de eucalipto REGIÃO
ÁREA PLANTADA (ha)
Gurupi
9.825,8
Sudeste
7.108,00
Palmas / Jalapão Cantão
40.823,29 2.255,00
Meio Norte
13.848,57
Campos lindos
28.028,48
Bico do Papagaio
31.648,93
Fonte: Panorama do Setor de Silvicultura do Tocantins – Seagro, 2015.
Potencial de florestas plantadas no estado O estado do Tocantins ainda apresenta uma indústria de base florestal incipiente que não absorve toda a produção florestal, se resumindo à base primária (toras in natura) e secundária (carvão, madeira tratada). Acreditamos no grande potencial da atividade no estado em que empresas ligadas ao setor podem se valer destes maciços instalados e continuar incentivando o crescimento e desenvolvimento da atividade de floresta plantada dentro do Tocantins.
Fernando Dorta Mendes de Souza Engenheiro florestal da Seagro
O eucalipto é a principal espécie de floresta plantada no Tocantins, amplamente plantado em terras com baixo potencial para lavouras.”
Arlete Leite Lima Engenheira florestal da Seagro
Carlos Manuel C. Carreira Gerente de Agroenergia e Florestas da Seagro Fotos: Divulgação
Fernando Dorta Mendes de Souza
Carlos Manoel C. Carreira
Arlete Lima Leite
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DEMANDA DE
MADEIRA PARA USO MÚLTIPLO Wilson Andrade
D
Foto: Banco de Imagens Abaf
e acordo com os dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), a projeção para até 2020, no Brasil, é de termos a duplicação dos atuais 7 milhões de hectares de florestas plantadas, com projetos de investimentos de R$ 53 bilhões. Tudo para que o Brasil, que tem toda a competitividade mundial na área florestal, possa superar a sua pequena participação no mercado internacional. E o porquê disso? Para auxiliar nesta resposta, vamos pegar o exemplo da Bahia que, com seus 671 mil hectares, ocupa o quinto lugar no ranking de principais estados produtores de florestas no Brasil, representando 8,7% da área plantada total do país. Esse total corresponde a apenas 1,2% do território baiano – com destaque para o Sul, Sudoeste, Oeste e Litoral Norte.
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A demanda por produtos de madeira cresce a cada dia nos quatro polos de produção de eucalipto da Bahia – Sul, Oeste, Sudoeste e Litoral Norte – o que se configura uma boa oportunidade de negócio, principalmente se considerarmos que o Estado oferece um pacote de incentivos, além de a Bahia ser campeã mundial em produtividade de eucalipto.” Foto: Banco de Imagens Abaf
Estes números poderiam ser muito mais expressivos, pois a Bahia se destaca em dois aspectos na área florestal. Primeiramente a Bahia – com suas condições edafoclimáticas e pela tecnologia embarcada – tem recorde mundial em produtividade do eucalipto. A Austrália, que é de onde nós trouxemos o eucalipto, tem uma produção de 23 m³/h/ano. Na Bahia este número é de 42. Já em algumas regiões mais adequadas este número chega a 60. Por outro lado, em nível de Brasil, há um engano em imaginar que a grande maioria dos investimentos está hoje configurada pela celulose e papel, mas que são apenas 1/3 do potencial existente. Os outros 2/3 das florestas plantadas se destinam: metade para geração de energia e processamento de minérios, e a outra metade para produtos para uso múltiplo, principalmente peças e partes de madeira para construção civil em geral, como tábuas, portas, móveis, pisos e MDF (madeira aglomerada) etc. A Bahia – apesar de sua vantagem competitiva –, no setor de madeira para utilização da construção civil, ainda importa, dos estados do Sul, 90% da sua demanda. É nessas quatro áreas de base florestal, ou seja, que utilizam florestas plantadas como insumos (papel e celulose, mineração, energia e construção civil), que temos um potencial de investimento para alavancar a economia baiana de forma sustentável nos próximos anos.
Wilson Andrade
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R E V IS TA M ADEIR A 2016 Foto: Banco de Imagens Abaf
A demanda por produtos de madeira cresce a cada dia nos quatro polos de produção de eucalipto da Bahia – Sul, Oeste, Sudoeste e Litoral Norte – o que se configura uma boa oportunidade de negócio, principalmente se considerarmos que o Estado oferece um pacote de incentivos, além de a Bahia ser campeã mundial em produtividade de eucalipto. Além de atrair empresas do setor madeireiro para atender a demanda local, pretendemos contribuir para criar e divulgar uma série de incentivos e oportunidades para que o Estado possa ajudar a desenvolver as já existentes no setor madeireiro. Acreditando nessa tendência positiva, a Associação Baiana das Empresas de Base Florestal (ABAF), em parceria com uma série de entidades ligadas à agricultura, indús-
tria e à qualificação de mão de obra, vem trabalhando com um programa pioneiro, o Programa Mais Árvores Bahia, que tem por objetivo a inclusão dos pequenos e médios produtores e processadores de madeira para uso múltiplo, visando ao atendimento da demanda por móveis, peças e partes de madeira na Bahia – hoje atendida, na sua maior parte, por outros estados brasileiros. O programa atua em duas vertentes: o Projeto Produção, que cuida da oferta por parte dos pequenos e médios produtores de madeira especificamente produzida para uso múltiplo; e o Projeto Indústria, que pretende atrair empresas âncoras da área de serraria e, do outro lado, possibilitar o crescimento de 40 pequenas e médias empresas de serrarias (10 em cada polo do Estado).
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Ações serão também desenvolvidas junto às entidades do setor de consumo, como o Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon-BA) e a Associação dos Comerciantes de Material de Construção da Bahia (Acomac-BA), conscientizando-os das vantagens do eucalipto que pode substituir madeiras naturais cada vez mais escassas, com condições iguais de qualidade, estética, durabilidade, maneabilidade e custos bem mais competitivos.
Wilson Andrade Diretor-executivo da ABAF
A PESQUISA CIENTÍFICA E A COMPETITIVIDADE DO SETOR DE
BASE FLORESTAL Edson Tadeu Iede
A
Foto: Fabrizio Longo
pesquisa científica busca soluções para aumentar a produtividade florestal, com sustentabilidade, e melhorar a qualidade dos produtos e processos. O percentual de sua participação na magnitude e na eficiência do segmento de base florestal brasileiro é de difícil mensuração. Entretanto, alguns itens relevantes podem ser destacados. Nos últimos 30 anos, o Brasil se tornou o país que mais ganhou produtividade com florestas plantadas, conseguindo progressos de elevada significância em diversos componentes da cadeia produtiva, o que tem representado anualmente ganhos de vários bilhões de dólares ao País. Reconhecidamente, o Brasil desenvolveu tecnologias florestais equiparáveis às dos países líderes em avanços científicos.
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Nos últimos 30 anos, o Brasil se tornou o país que mais ganhou produtividade com florestas plantadas, conseguindo progressos de elevada significância em diversos componentes da cadeia produtiva, o que tem representado anualmente ganhos de vários bilhões de dólares ao País.”
Ao se pensar em pesquisa científica, seus desafios para o futuro e estratégias a serem adotadas, o primeiro passo é realizar prospecção de demandas e tendências científicas. Há uma procura fortemente crescente por avanços científicos em áreas como nanotecnologia, biotecnologia, automação, tecnologias de informação, geotecnologia, bioenergia e outras. São áreas que exigem fortes investimentos em treinamento de pessoal e projetos de pesquisa. Mas o retorno é extremamente promissor. E não investir nestas áreas resultará em perda de competitividade ao setor.
Foto: Rodolfo Buhrer
O País tem elevada eficiência no segmento de Florestas Plantadas ao utilizar apenas 7,7 milhões de hectares, o que representa 2,2% dos 350 milhões tidos como agricultáveis no país. Mesmo assim, os produtos florestais ocupam o quarto lugar na balança comercial do agronegócio brasileiro. Além disso, o segmento de florestas plantadas é responsável por 9,3% do saldo da balança comercial do agronegócio e gera cerca de 600 mil empregos diretos. Em 2014, 10,2% das exportações do agronegócio foram de produtos florestais, representando 4,42% das exportações nacionais.
Edson Tadeu Iede
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Foto: Zig Koch
A Embrapa em 2013 lançou o Agropensa, um sistema que opera em rede, visando à produção e à difusão de conhecimentos para apoiar a formulação de estratégias de pesquisa e desenvolvimento e inovação. O sistema busca antecipar tendências e garantir o ajuste permanente das prioridades de pesquisa e de transferência de tecnologia, com vistas à inovação. No Agropensa oito macrotemas foram definidos, seguindo a lógica das cadeias produtivas. São eles: 1) Recursos naturais e mudanças climáticas. 2) Novas ciências: biotecnologia, nanotecnologia e geotecnologia. 3) Automação, agricultu-
ra de precisão e tecnologias de informação e comunicação (TIC). 4) Segurança zoofitossanitária das cadeias produtivas. 5) Sistemas de produção. 6) Tecnologia agroindustrial, da biomassa e química verde. 7) Segurança dos alimentos, nutrição e saúde. 8) Mercados, políticas e desenvolvimento rural. Todos estes macrotemas são aplicáveis ao setor florestal, inclusive o sétimo, quando se considera a integração do componente florestal nas atividades agropecuárias, como os ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta), e uso de embalagens de madeira ou papel para os alimentos.
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O Agropensa tem servido de base para a Embrapa antecipar tendências e garantir o ajuste permanente das prioridades de pesquisa e de transferência de tecnologia, com vistas à inovação, com a convicção da importância dos esforços conjuntos interinstitucionais dos setores públicos e privados para deter todas as competências, visando ajudar o País a enfrentar um ambiente cada vez mais complexo e dinâmico.
Edson Tadeu Iede Chefe Geral da Embrapa Florestas
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DESAFIOS E OPORTUNIDADE ATUAIS PARA O SETOR DE
FLOR E ST AS P L A N TA DAS
NO BRASIL Cesar Augusto dos Reis
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O
Setor de Florestas Plantadas no Brasil enfrenta neste início de 2016 vários desafios em suas cadeias de produção, desde a grande redução de produção nas indústrias siderúrgicas a carvão vegetal, notadamente em Minas Gerais, polo das grandes empresas desse segmento, até o não crescimento da produção de painéis de madeira industrializada. Com efeito, a perda de competitividade dos produtos siderúrgicos brasileiros, tanto no mercado interno quando nos mercados mundiais, aliada à redução de consumo dos aços planos na indústria automotiva e na de eletrodomésticos, e dos aços longos na construção civil, afetou sobremaneira a indústria siderúrgica que utiliza como biorredutor o carvão vegetal produzido a partir do eucalipto de florestas plantadas, determinando, pela regressão na cadeia produtiva, a queda abrupta no consumo de madeira. Por outro lado, a redução da construção civil no país, que afetou o consumo de insumos siderúrgicos citados acima, reduziu também a demanda de móveis domésticos e comerciais, produzidos a partir de painéis de madeira industrializada, afetando essa im-
A par dessas iniciativas de consumo de madeira em projetos de pequeno e médio porte, todavia surge como urgente a estruturação de cadeias de grande porte de consumo de madeira, como é o caso da produção de florestas para a geração de energia.” portante cadeia produtiva, que passou a consumir menor volume de madeira de eucalipto e pinus em seus complexos industriais. À exceção da indústria de celulose, incentivada por uma taxa de câmbio favorável às suas exportações, que já investe em novas unidades produtivas e em ampliação das bases florestais existentes e em novas florestas, as demais cadeias produtivas, em especial a partir da madeira de eucalipto convivem hoje com uma oferta de madeira que supera a demanda, acarretando queda do preço da madeira em
pé, desestimulando reformas e novos plantios pelos grandes produtores, e levando os pequenos e médios produtores florestais a saírem do mercado florestal, em busca de outros cultivos agrícolas, o que pode gerar um preocupante déficit futuro nas regiões afetadas. Torna-se, portanto, urgente a viabilização de outras cadeias de consumo da madeira originária de florestas plantadas voltadas para o uso múltiplo dessa madeira renovável, sustentável e de disponibilidade garantida em várias regiões do país. Foto: Divulgação
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Foto: Divulgação
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Outra vertente promissora é a produção de pellets de madeira para exportação, destinados à geração de energia, em países que estão deixando o consumo de combustíveis fósseis em favor de combustíveis renováveis, em conformidade com as metas de atenuação das causas e dos efeitos da mudança do clima. A par dessas iniciativas de consumo de madeira em projetos de pequeno e médio porte, todavia surge como urgente a estrutura-
ção de cadeias de grande porte de consumo de madeira, como é o caso da produção de florestas para a geração de energia, em especial a energia elétrica, mediante o consumo da madeira de eucalipto, integrando florestas plantadas e usinas termoelétricas. Urge, portanto, que sejam desenvolvidas políticas públicas, envolvendo desde o financiamento de projetos florestais dedicados, como também o desenho de leilões de geração de energia a partir da madeira, que sejam atrativos para o setor no horizonte de maturação dos projetos, de modo a bem responder aos desafios que as florestas plantadas hoje enfrentam, viabilizando oportunidades históricas, bem além dos momentos pontuais de queda do preço de energia que hoje vivemos.
Cesar Augusto dos Reis Diretor-executivo da AMS - Associação Mineira de Silvicultura
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Foto: Banco de Imagens AMS
Nesse horizonte, despontam iniciativas como o cultivo do eucalipto para a fabricação de produtos de maior valor agregado (PMVA), a partir de espécies definidas, serrarias especializadas, tratamento e secagem da madeira, dando origem a um mercado nascente de móveis de estilo de madeira maciça, para consumo interno e para a exportação, utilizando uma madeira renovável e certificada que atende plenamente aos requisitos dos mercados externos.
BREVE ELUCIDAÇÃO SOBRE OS LEILÕES DE ENERGIA E O
POTENCIAL DA BIOMASSA FLORESTAL Gabriel Browne e Sebastião Renato Valverde
A
expansão dos plantios florestais tem propiciado o uso da biomassa florestal como fonte energética. Diversas indústrias estão optando pela madeira para produção de energia térmica (vapor) em detrimento dos combustíveis fósseis, principalmente dos óleos combustíveis (BPF) e diesel. Indústrias como as de laticínios, frigoríficos, papel, fertilizantes e as agroindústrias em geral, estão se atentando, não somente ao uso de uma fonte de energia limpa, mas, sobretudo, aos retornos econômicos e sociais.
Em que pese o avanço tecnológico e a competitividade da biomassa florestal para a produção de energia térmica, no entanto, para a geração elétrica, o uso da biomassa enfrenta muitas barreiras e a falta de uma política compatível, ao contrário das outras fontes como eólica e solar, que contam com forte representação (lobby) junto aos órgãos competentes. Pela lei que regulamentou o setor elétrico em 2004 (Lei 10.848/04), estabeleceram-se
duas modalidades para que as geradoras elétricas possam comercializar energia no Brasil: o Ambiente de Contratação Livre (ACL) e o Ambiente de Contratação Regulada (ACR). No ACL, os contratos são de curto e médio prazos, negociados livremente e os preços determinados pelas partes – comprador e vendedor. Já no ACR, a usina deve participar dos leilões de energia promovidos pelo governo, cujos contratos são de longo prazo e os preços estabelecidos nos próprios leilões. Foto: Divulgação
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Foto: Divulgação
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A característica de longo prazo dos projetos florestais torna-os atrativos a participarem destes leilões, possibilitando a garantia de mercado para a madeira no futuro, a viabilização de um fluxo estável de receitas e a redução do custo do MWh das usinas localizadas em regiões florestais, se comparadas às movidas a combustíveis fósseis. A partir dessa análise e com leilões ocorrendo desde 2004, sendo alguns exclusivos para as fontes renováveis – eólica, solar e biomassa – seria razoável supor que muitas usinas de biomassa florestal estariam participando ou buscando participar de tais leilões.
Entretanto, a realidade é bastante diferente: atualmente apenas nove empreendimentos termoelétricos de biomassa florestal estão contratados para geração elétrica após vencerem em seus respectivos leilões. Destes nove, três estão em operação e o restante em construção e, ou, aguardando a entrada em vigor de seus contratos. Incluindo os resultados do último leilão, que ocorreu ao final de abril deste ano, apenas duas usinas de cavaco se saíram vencedoras e, em geral, os resultados foram abaixo das expectativas em razão da redução da demanda de energia, afetando o preço do leilão e a atratividade.
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Não bastasse isso, cerca de 50 usinas termoelétricas movidas a biomassa florestal estão em operação no país, conforme dados de abril de 2016 da ANEEL, representando apenas 0,25% da oferta elétrica nacional e cerca de 3% da de biomassa em geral. A grande maioria é de cogeração, onde, nestes casos, parte da energia é consumida na própria planta e a outra parte vendida para o mercado livre em contratos de curto prazo (atualmente com preços em viés de baixa). Portanto, é de extrema importância entender os motivos que impedem a maior participação das usinas de biomassa florestal
O uso da biomassa enfrenta muitas barreiras e a falta de uma política compatível, ao contrário das outras fontes como eólica e solar, que contam com forte representação (lobby) junto aos órgãos competentes.”
no setor elétrico e, ao mesmo tempo, recomendar aos stakeholders do setor florestal caminhos para o fortalecimento deste no mercado de energia do Brasil, como: � Aos agentes governamentais: aumentar a realização de leilões de energia exclusivos às fontes renováveis, buscando dar maior previsibilidade e perspectivas de longo prazo ao mercado de biomassa florestal; maior possibilidade de crédito e fomento aos empreendimentos de biomassa; incentivo aos plantios florestais e à pesquisa relacionada ao uso energético.
Por fim, é importante ressaltar que existe potencial para a expansão da biomassa florestal na matriz energética nacional. Além do fato de o país possuir aptidão e disponibilidade de áreas para expansão dos reflorestamentos, o uso da biomassa florestal traz consigo a possibilidade de maximizar o aproveitamento energético perseguindo um ciclo de produção cada vez mais limpo e mais socialmente justo, haja vista que a geração de emprego e renda é significativamente maior com a atividade florestal. Nada disso será alcançado se o setor não tiver uma boa governança e representação forte junto à política energética brasileira.
Gabriel Browne Economista pela UFRJ e mestrando em Ciência Florestal na UFV
Sebastião Renato Valverde Diretor-geral da Sociedade de Investigações Florestais (SIF), professor e chefe do DEF/UFV
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Fotos: Divulgação
� Aos agentes privados: melhoria na organização e representação do setor florestal, principalmente dos pequenos e médios produtores; investimento em tecnologias e equipamentos de maior rendimento e menor emissão de gases; e investimento em logística florestal, sabidamente uma das restrições à biomassa.
Fotos: Banco de Imagens Plantar
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MANEJO SUSTENTÁVEL DE FLORESTAS PLANTADAS: UM NOVO CONCEITO PARA A CONSTRUÇÃO CIVIL Ricardo Carvalho de Moura
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Fotos: Banco de Imagens Plantar
É
cada vez mais presente no Brasil e principalmente nos países com melhores taxas de desenvolvimento socioeconômico, a demanda crescente por produtos sustentáveis, de origem conhecida e que ainda contribuam para a conservação socioambiental. Antigos padrões de produção estão sendo revistos e antes o que era aceitável, hoje provoca questionamentos que visam melhores entendimentos. É o caso do uso ostensivo da madeira nativa de biomas brasileiros ameaçados para abastecer, principalmente, a construção civil e a indústria moveleira. Atualmente, recurso escasso e com severas restrições legais, a madeira nativa não apresenta, na maior parte dos casos, práticas extrativistas e produtivas alinhadas com premissas da sustentabilidade em médio e longo prazos.
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Neste contexto, visando apresentar soluções efetivas para o uso múltiplo e crescente da madeira, é usual a exploração comercial de espécies de rápido crescimento, como o eucalipto e o pinus, provenientes de manejos florestais certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council). A Plantar Empreendimentos e Produtos Florestais Ltda. atua nesse ramo, disponibilizando para diversos mercados o produto florestal denominado AMARU®. De propriedade exclusiva da empresa, AMARU® é o resultado de décadas de pesquisas internas de melhoramento genético de eucaliptos e apresenta como diferenciais alguns requisitos desejáveis para a madeira de uso estrutural, como baixa ocorrência de rachaduras de topo, adequada relação cerne/alburno, boa densidade e baixos índices de fendilhamento, de conicidade e de tortuosidade.
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Visando apresentar soluções efetivas para o uso múltiplo e crescente da madeira, é usual a exploração comercial de espécies de rápido crescimento, como o eucalipto e o pinus, provenientes de manejos florestais certificados pelo FSC.”
Fotos: Banco de Imagens Plantar
Com origem em florestas próprias, com ciclo aproximado de sete anos, o AMARU® é comercializado nas formas Natural e Perfilada. O primeiro produto corresponde às peças que conservam a conicidade natural dos troncos. Já o segundo, designa aquelas que, antes do tratamento preservativo, passam por uma usinagem mecânica que elimina a variação de diâmetro ao longo do comprimento. A linha “AMARU® Perfilado” foi criada especificamente para atender o setor da construção civil, que demonstra ampla demanda por soluções construtivas baseadas em madeira com tecnologia e conceitos ecológicos agregados. No mesmo sentido, o produto é aplicável em áreas afins, como o urbanismo, o paisagismo, a alta decoração e a indústria moveleira.
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Fotos: Banco de Imagens Plantar
A introdução dos perfis de AMARU® nesses mercados resultou do planejamento integrado entre a Plantar Empreendimentos e a Montana Química, fabricante de produtos para preservação e acabamento de madeiras. Tal parceria possibilitou a combinação de meios, de ferramentas e de processos que resultaram na formatação de um Sistema Construtivo pautado nas melhores práticas, desde o melhoramento genético contínuo do produto, passando pelas etapas de cultivo, beneficiamento mecânico, tratamento preservativo, projeto, fabricação e montagem de estruturas, até chegar à fase final de aplicação de produtos de acabamento na madeira. Cabe destacar que o uso de madeira jovem constitui uma importante inovação do Sistema Construti-
vo AMARU® Perfilado, aliando benefícios ecológicos relacionados à alta rotatividade das florestas, viabilidade econômica do negócio e eficiência técnica do produto. Sem dúvidas, a integração entre processos produtivos sustentáveis, inovação, qualidade e beleza oferecem à sociedade novas formas de pensar e usar racionalmente a madeira e ainda contribuem para melhores indicadores sociais e ambientais no Brasil.
Ricardo Carvalho de Moura Diretor Comercial da Plantar Empreendimentos e Produtos Florestais
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FLORE S TAS E ÁG U A: UM BINÔMIO INDISSOLÚVEL Roosevelt de Paula Almado
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Foto: Banco de Imagens ArcelorMittal BioFlorestas
setor florestal é um dos mais importantes produtores de água do setor produtivo nacional! Dados de 2015 da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), instituição que representa 70 empresas florestais dos mais diversos segmentos, apontaram que as mesmas têm sob sua responsabilidade aproximadamente 2,3 milhões de hectares de mata nativa, entre reservas florestais legais (RLs) e áreas de preservação permanente (APPs) nos principais biomas brasileiros e em sua maioria nas regiões sudeste e sul do Brasil, onde corremos hoje um grande risco de escassez. No perímetro do bioma mata atlântica, temos 100 milhões de brasileiros que se beneficiam das águas geradas pela floresta, que formam diversos rios que abastecem cidades e metrópoles brasileiras. Um estudo do WWF também mostrou que mais de 30% das 105 maiores cidades do mundo dependem das florestas para seu abastecimento de água. Seis capitais brasileiras foram analisadas no estudo, sendo cinco na mata atlântica: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Salvador e Fortaleza.
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Fotos: Banco de Imagens ArcelorMittal BioFlorestas
Uma parcela entre 5% e 20% da captação de água para uso industrial ou doméstico não é sustentável no longo prazo, uma vez que a água é obtida por transferência de bacia hidrográfica ou retirada dos lençóis freáticos em quantidades superiores à reposição natural.” Intencionalmente, citei o setor produtivo porque a disponibilidade de água vem sendo a premissa básica e a mais preocupante ameaça à instalação e à permanência de um empreendimento econômico na atualidade; a possibilidade do desabastecimento de água devido às mudanças significativas no ecossistema tem induzido crescentes alterações no comportamento de diversos atores no setor público, privado e na sociedade civil. Aumentam as leis e as regulamentações por parte dos governos e a pressão exercida sobre as empresas pelos grupos de interesse, sejam eles acionistas, organizações não governamentais ou clientes. A tendência é que esse quadro se torne mais complexo à medida que os diversos grupos de interesse vão aferindo a gravidade da situação. Outorgas e suas respectivas renovações estão sendo negadas e a exigência de redução de consumo por parte de indústrias em cerca de 30% do valor utilizado são exemplos reais da consequência do desabastecimento de água. Segundo o relatório síntese da Millenium Ecosystem Assesement (Avaliação Ecossis-
têmica do Milênio), uma parcela entre 5% e 20% da captação de água para uso industrial ou doméstico não é sustentável no longo prazo, uma vez que a água é obtida por transferência de bacia hidrográfica ou retirada dos lençóis freáticos em quantidades superiores à reposição natural. O estresse hídrico é um fator limitante para Eucalyptus em todo o globo. O consumo de água aumenta com o crescimento do eucalipto e pode influenciar a bacia hidrográfica onde está plantado. Por isso, técnicas de planejamento ambiental e de silvicultura devem ser utilizadas na sua implantação. O binômio hidrologia x eucalipto vem despertando pesquisadores ao redor do mundo, que estão usando modelos baseados em processos para as florestas plantadas e para diferentes escalas (stand, bacias hidrográficas, regiões). Esses modelos necessitam de parâmetros genéticos para sua geração. O correto uso da água pelo setor passa por questões legais e gerenciais como a necessidade de outorga do uso de recursos hí-
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dricos, o uso de alternativas para redução de água, como projetos de recirculação de água nos viveiros florestais, e o uso do gel no momento do plantio, que, em média, reduziu de 4 litros de água por cova para 800 ml de solução. Em termos de silvicultura é imprescindível: manter e/ou aumentar a quantidade de resíduos florestais nas áreas; evitar ao máximo o escoamento superficial e os processos erosivos retendo a água no sistema através da construção e manutenção das bacias de contenção, camaleões e bigodes; estudar a densidade populacional ideal de plantas por hectare; monitorar a nutrição dos plantios não deixando que os mesmos fiquem deficientes principalmente em nitrogênio, potássio e boro; identificar áreas de recarga, matas ciliares e nascentes dentro das propriedades que necessitem de recomposição/melhorias.
Roosevelt de Paula Almado Gerente de Silvicultura e Pesquisa da ArcelorMittal BioFlorestas
Foto: Banco de Imagens InnovaTech
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OLHEMOS MAIS
“A FLORESTA” E MENOS “A ÁRVORE” João Comério
N
a Innovatech, vemos a Indústria Brasileira de Árvores com otimismo e os desafios com certa preocupação. Do ponto de vista otimista, este segmento deixou a nossa marca no mundo e podemos dizer que são raros os negócios que combinam tão bem a responsabilidade ambiental e a viabilidade econômica com práticas socialmente justas. Porém, a perda de competitividade, a baixa maturidade do mercado, crises, aumentos de custos de insumos, logística deficiente e
problemas com licenciamentos são alguns dos entraves que enfrentamos diariamente. De todos esses itens, precisamos focar, principalmente, em duas alavancas de crescimento com senso de urgência e coragem: a produtividade e a consolidação do mercado de produtos florestais. Em relação à produtividade (R$/m³ ou t), dados da Innovatech indicam perda acentuada da competitividade, com custos médios do mercado crescendo acima dos indicadores da inflação.
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Neste sentido, exemplifico o direcionador da Innovatech no gerenciamento de orçamentos de nossos clientes. Nossa meta de longo prazo é orientada à construção e à execução de orçamentos florestais abaixo da inflação. Isso só é possível com um processo de inovação organizado e ativo, otimizando constantemente os processos, a cadeia de fornecedores, e gerando um turn over tecnológico eficiente. E, como resultado, uma inflação interna acumulada cerca de 20% abaixo da inflação (IPCA) nos últimos três anos.
O amadurecimento do mercado permitirá que os preços praticados para os produtos florestais sejam alinhados aos investimentos necessários, o que permitirá novos empreendedores e modelos de negócios rentáveis e competitivos.” nem mais eficiente, discutindo melhores práticas, cases e visão estratégica de longo prazo. Essas ações permitirão o estabelecimento de novos patamares, que no primeiro momento contribuirão para o resgate da competitividade e, em um segundo momento, na sustentabilidade do setor. Quanto ao tema de consolidação do mercado de produtos florestais, precisamos de um ambiente mais favorável. Produtores, lideranças, empresários, entidades setoriais, academias, governos; todos devemos trabalhar por um mercado mais forte.
É preciso agir, investindo em inovações que simplifiquem o processo produtivo e o tor-
Certamente uma das soluções passa por desenvolver mais polos verticalizados; regiões capazes de agregar valor à madeira, criando mercados regionais e estimulando os produtores. Um outro item, que pode mudar a realidade do setor, é uma maior diversidade na estratégia de abastecimento dos grandes produtores de celulose, no sentido de abastecer as fábricas com madeira de mercado, estimulando investidores a plantar. Esse
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Finalmente, devemos agir com foco em toda a cadeia de valor florestal (ver mais a floresta e menos a árvore), e trabalhar sistematicamente, tendo como guia um planejamento estratégico setorial e com planos de ações muito bem estabelecidos e revisados periodicamente, definindo indicadores, recursos, gestão, responsáveis, comunicação e ações.
João Comério Diretor-presidente InnovaTech Negócios Florestais Foto: Banco de Imagens InnovaTech
Além da perda de competitividade, também se verificam decréscimos da produtividade florestal (m³ ou t/ha/ano) em várias regiões brasileiras. Dados da Innovatech indicam que essas regiões impactarão de forma significativa os estoques de madeira disponíveis de mercado, o que poderá influenciar sensivelmente a dinâmica de preços, bem como projetos de expansão e projetos greenfield em análise.
O amadurecimento do mercado permitirá que os preços praticados para os produtos florestais sejam alinhados aos investimentos necessários, o que permitirá novos empreendedores e modelos de negócios rentáveis e competitivos.
movimento já se verifica no mercado nos últimos anos, mas precisamos avançar.
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GREEN BEEF IN BRAZIL Laercio Couto
t
he practice of Agroforestry is ancient and reference to it can be found in the Bible. As a science, Agroforestry was born in the 1970’s mainly by the efforts and work of Professor P. K. Nair, the first president of ICRAF, the International Center of Agroforestry located in Nairobi, Kenya. In the Latin American countries the work of professors and researchers of CATIE in Turribalba, Costa Rica was also extremely valuable. Therefore with the great amount of research work, extension and teaching of those people, spread the words Agroforestry, Agroforesteria and Agroforesterie, all over the world. In Brazil, Agroforestry was formally introduced at the Department of Forestry of the Federal University of Brazil in the 1980’s when the teaching of Agrossilvicultura and Sistemas Agroflorestais were taught at undergraduate and graduate levels. A group of professors from the Department of Animal Science, Agronomy and Forestry of that University was composed to teach Agrossilvicultura in a very high level and to produce several M. Sc. and Ph.D. theses. It is important to note that most of the work developed at UFV in the Agroforestry area, focused on planted forests, mainly of Eucalyptus sp.
In 2001, on April 18, the Brazilian Society of Agroforestry – SBAG was founded at the Departmente of Forestry of UFV, with the objective of spread the news and the scientific findings in the Agroforestry area in Brazil. To accomplish its objective SBAG created a technical journal Agrossilvicultura and a website to make it easy the access to the technical information about Agroforestry Systems. It iw very important to mention that the work done by Luciano Lage Magalhães and his team at Cia Mineira de Metais – CMM in Vazante, Minas Gerais, was fundamental for the development of Agroforestry in Brazil, mainly with eucalyptus plantations. The interaction of CMM with the Department of Forestry of UFV through the Society for Forest Research – SIF, allowed the support for the development of several graduate studies including one which involved Professor Rasmos Garcia of UFV and Professors P. K. Nair and Vimala Nair from the University of Florida. Several years ago, SBAG proposed to Cotril Florestal S. A. in the State of Tocantins, the concept of GREEN BEEF as the beef produced from cattle raised in a silvopastoral system.
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The rationale for this concept is that in a Silvopastoral System, the tree component reduces or mitigate the emission by the cattle of the green house gases effect. There are already some farmers and beef producers companies in Brazil adopting the GREEN BEEF concept introduced in Brazil by the Brazilian Society of Agroforestry and Cotril Florestal in Tocantins State.
Laercio Couto Membro do conselho do World Bioenergy Association - WBA
Fotos: Divulgação
AGROFORESTRY AND THE CONCEPT OF THE
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