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Girão, Esther Maria Barros de Albuquerque

CAPÍTULO I

SISTEMA PRODUTIVO DO MANGOSTÃO (Garcinia mangostana, L.)

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Vicente de Paula Queiroga Josivanda Palmeira Gomes

Nouglas Veloso Barbosa Mendes Acácio Figueiredo Neto Alexandre José de Melo Queiroz Bruno Adelino de Melo Ênio Giuliano Girão

Esther Maria Barros de Albuquerque (Editores Técnicos)

INTRODUÇÃO

O mangostão (Garcinia mangostana L.) é uma espécie de árvore perene, endêmica, cultivada em países tropicais, como Malásia, Tailândia e Indonésia (AIZAT et al., 2019; MARZAIMI; AIZAT, 2019). O mangostão pertence à família Clusiaceae (Guttiferae) (MATRA et al., 2016; NAZRE et al., 2018) e é amplamente cultivado por sua fruta, que é comumente chamada de “Rainha das Frutas” devido ao seu sabor agridoce único

(AIZAT et al., 2019; MIDIN et al., 2018).

Sendo assim, o mangostão é considerado a fruta mais famosa e mais saborosa do trópico asiático. Mas devido ao fato da rainha Vitória, da Inglaterra (1819-1901), ao prová-la, disse não haver saboreado antes nenhuma fruta tão deliciosa e, a partir daí, ficou conhecida como a fruta-da-rainha. Portanto, o mangostão ganhou, portanto, com justiça, o título popular de 'Rainha dos Frutos', apesar que seus frutos pesam entre 70-150 g. e são geralmente considerados uma das frutas mais saborosas do mundo, superando todas as outras frutas tropicais.

Entre as frutas de árvores tropicais cultivadas, o mangostão (Garcinia mangostana L.), que recebeu o nome do explorador francês Laurent Garcin (1683-1751), é provavelmente um dos mais limitados em origem geográfica e distribuição. Nativa do Sudeste Asiático, esta espécie permaneceu localizada principalmente em seu habitat nativo; isto é possível devido às suas exigências ecológicas bastante especializadas. Além disso, o seu estabelecimento é relativamente difícil, pois as plântulas têm crescimento lento, mesmo em seu ambiente natural.

As árvores de mangostão crescem naturalmente como plantas de sub-bosque em comunidades florestais. No cultivo, o sombreamento é, portanto, benéfico durante os primeiros 4 a 5 anos de crescimento inicial e muitas vezes é fornecido por outras árvores que normalmente são cultivadas em propriedades arrendadas no Sudeste Asiático.

Tradicionalmente, o mangostão tem sido propagado por sementes. Estas são produzidas apomicticamente, sem fecundação, e por isso produzem plântulas que, quando totalmente crescidas, são idênticas à árvore-mãe. Consequentemente, o mangostão é um dos frutos de árvores tropicais de crescimento muito lento, mas também é um dos mais duradouros. As árvores de plântulas normalmente requerem de 10 a 15 anos para frutificar, mas dependendo de um bom manejo cultural pode produzir frutos a partir dos 5 anos. O mangostão é considerado uma árvore dioica, perene, de 6-25 m de altura, com tronco reto,

até 25-35 cm de diâmetro e ramos simetricamente dispostos que formam uma copa regular, piramidal. A casca é muitas vezes marrom escura ou quase preta, rugosa, com tendência a descamação. A copa frondosa, densa e uniforme, torna-a uma valiosa árvore de sombra. Um tipo amarelo de látex ou resina está presente em todos os principais tecidos da árvore. O estabelecimento do mangostão como fruto cultivado acompanhou a expansão da população em várias áreas do Sudeste Asiático.

No Sudeste Asiático, a economia da produção de mangostão não foi estimada com precisão, embora se saiba que os produtores ganham renda extra com a venda de frutas que excedem suas próprias necessidades. A produção total atual é composta por produtos provenientes de vários pequenos agricultores do sistema tradicional de policultivos ou consorciados, combinados com os de pomares de média dimensão. Alguns produtores de mangostão em grande escala se estabeleceram na região e pesquisas intensivas foram realizadas, particularmente sobre aspectos de propagação e processamento, principalmente na Tailândia, Malásia e Indonésia. As informações publicadas sobre alguns aspectos da produção e do processamento estão se tornando disponíveis lentamente, mas a maioria dessas fontes de dados está escrita nos idiomas tailandês, indonésio ou malaio.

Mesmo assim, o mangostão (Garcinia mangostana L.) é uma das plantas mais prolíficas utilizadas em várias aplicações. Rico em compostos bioativos potentes, como xantonas e antocianinas, que são extraídos principalmente do pericarpo do fruto, o mangostão é conhecido por possuir propriedades anti-inflamatórias e antitumorais farmacologicamente importantes. Ou seja, mangostão tem sido usado para tratar várias doenças, incluindo tumores, diabetes, infecções bacterianas, hipertensão e artrite (AIZAT et al., 2019; SHANDIZ et al., 2017). Estas aplicações sugerem a utilidade do extrato da fruta em contextos medicinais e farmacêuticos.

No entanto, a maioria das revisões anteriores discutiu apenas a aplicação do mangostão em áreas medicinais, mas estudos mais recentes divergiram e valorizaram seu uso em outros campos científicos, tais como:biologia pós-colheita (papel de fitohormônios, perfil de metabólitos, compostos bioativos, otimização de métodos de isolamento, identificação de contaminantes químicos e manejo de pragas e distúrbios de frutas), ciência de alimentos (produtos alimentícios, suplementação de ração animal, e determinação do prazo de validade de alimentos) e campos de engenharia (tintas para tecidos e células solares, pontos de carbono, carvão ativado e materiais biomédicos avançados). Portanto,

os trabalhos de pesquisa publicados recentemente permitem mostrar as tendências recentes de pesquisa nessas áreas (Figura 1). Em conclusão, o mangostão tem sido utilizado para diversos fins, desde o uso em produtos industrialmente importantes até aplicações em tecnologias avançadas e inovação biomédica (AIZAT et al., 2019).

Figura 1. Avanços e utilização recentes do mangostão. Fonte: Aizat et al. (2019).

Embora a popularidade do mangostão esteja aumentando consistentemente, o comércio internacional ainda permanece insignificante, embora as frutas exportadas do Sudeste Asiático sejam cada vez mais encontradas nos mercados europeus e as frutas da América Central sejam exportadas para os EUA. É importante destacar que a produção de mangostão normalmente não é incluída nos dados estatísticos da Indonésia, Malásia e outros países da Ásia e geralmente é listada como uma fruta de árvore cultivada em uma extensão limitada.

No caso do Brasil, o mangostão é cultivado, principalmente, nos Estados do Pará e da Bahia, na maioria dos casos, em pomares de um a três hectares e em pequena escala no Espírito Santo e São Paulo. Na Bahia, a maior concentração de mangostanzeiros localizase no município de Una, onde se estima uma área de 50 hectares (aproximadamente 5.000 plantas). Os plantios começaram por volta de 1956 e estima-se que a metade se encontra em produção. Outros municípios baianos (Taperoá, Ituberá, Uruçuca, Nilo Peçanha e Tancredo Neves) totalizam cerca de 20 ha (2.000 plantas). A produção brasileira de mangostão tem variado bastante em função de novas áreas implantadas e da alternância

de produção apresentada por essa espécie. Nos anos de 1999, 2000 e 2001, em Una, foram comercializadas, respectivamente, 6.000, 10.000 e 60.000 caixas de 1,4 kg de frutos (SACRAMENTO, 2001).

IMPORTÂNCIA ECONÔMICA

O mangostão vem ganhando cada vez mais reconhecimento no mercado internacional e as recentes demandas por frutas exportadas levaram os produtores a considerar esta cultura com interesse renovado. Pesquisas intensivas foram realizadas recentemente, especialmente sobre propagação e processamento, na Tailândia, Malásia e Indonésia. As frutas frescas têm alto preço nos mercados internacionais, como os de Hong Kong, Japão e Europa.

Apesar da popularidade das frutas exportadas, o comércio internacional ainda é relativamente insignificante, embora às vezes as frutas sejam encontradas em mercados distantes na Europa e nos EUA. Os mercados europeus são abastecidos de países do Sudeste Asiático e os dos EUA da América Central. O mangostão não está incluído nos dados estatísticos da Indonésia, Malásia e outros países produtores da Ásia e geralmente é registrado como uma fruta secundária, cultivada em áreas limitadas

Os frutos do mangostão são consumidos frescos; os arilos brancos carnudos são deliciosos, doces, ligeiramente ácidos e de sabor suave. Segmentos carnudos às vezes são enlatados. Suco e geleia também são preparados (KETSA; PAULL, 2011). A casca é adstringente e é transformada em geleia por tratamento com 6% de cloreto de sódio. As sementes são comidas assadas ou cozidas. A porção arilo da fruta possui 18,4 g de carboidrato, 0,5 g de proteína, 0,2 g de gordura, 1,7 g de fibra, portanto, uma fonte modesta de nutrientes essenciais (Figura 2; KETSA; PAULL, 2011).

Figura 2. Fruto inteiro e cortado, destacando a polpa ou arilo de cor branca.

A fruta mangostão é sempre melhor consumida como fruta fresca. O método de preparo é cortar cuidadosamente a parte central da camada lenhosa, retirando a pele grossa sem tocar no arilo branco. Deve-se ter cuidado para evitar que as resinas ou taninos exsudados do pericarpo cortado entrem em contato com os segmentos do fruto. Quando os segmentos do arilo estão expostos, eles podem ser removidos com um garfo. As sementes também são comestíveis, depois de fervidas em água.

O fruto contém compostos bioativos, como xantonas e antocianinas, os quais são extraídos principalmente do pericarpo do fruto (Figura 3). Além disso, possui altas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. O mangostão tem sido usado para tratar várias doenças, incluindo tumores, diabetes, infecções bacterianas, hipertensão e artrite (AIZAT et al., 2019; SHANDIZ et al., 2017). Estas aplicações sugerem a utilidade do extrato da fruta em contextos medicinais e farmacêuticos.

Figura 3. Cápsulas da casca (pericarpo) do fruto de mangostão. Foto: Shopee Philippines.

Os produtos de suco de mangostão às vezes possuem polifenóis extraídos do pericarpo para adicionar valor polifenólico (KETSA; PAULL, 2011; Figura 4). Os arilos também contêm substâncias voláteis, principalmente acetato de hexilo, hexanol e α-copaeno que são responsáveis pela fragrância de mangostão (MACLEOD; PIERIS, 1982). As sementes de mangostão são ricas em óleo (21,68%; AJAYI et al. 2007) e a farinha da semente é uma boa fonte de minerais especialmente potássio (7071 mg/kg), magnésio (865 mg/kg) e cálcio (454 mg/kg).

Figura 4. Bebida de fruta 100% mangostão vendida como suplemento nutricional “super fruta” numa loja de produtos naturais. Foto: Craig Elevitch.

Há alguma evidência de que o sabor da fruta fresca é melhorado pelo resfriamento na geladeira doméstica (GALANG, 1955). Tentativas bem-sucedidas de congelar frutas inteiras tornaram possível o seu transporte de longa distância. O congelamento é feito rapidamente a baixas temperaturas (-35 °C) e os frutos congelados mantidos a -20 °C; Usando este processo, a qualidade da fruta é mantida, a polpa não é descolorida e a contribuição de substâncias voláteis para o sabor permanece mais ou menos a das frutas frescas (KANCHANAPOM; KANCHANAPOM, 1998).

O enlatamento da polpa não é atraente porque a polpa tende a perder seu sabor nesse processo. No entanto, quando processado com açúcares é possível conseguir uma gama de produtos aceitáveis: mangostão enlatado em calda densa, ou como geleia ou cristalizado (SINGH, 1969; KANCHANAPOM; KANCHANAPOM 1998); polpa e semente cozidas com açúcar (WESTER, 1920; WESTER, 1921; BROWN, 1954; GALANG, 1955; PALMA GIL et al., 1972; CORONEL, 1983; KANCHANAPOM; KANCHANAPOM, 1998); polpa conservada em açúcar mascavo (ALMEYDA;

MARTIN, 1976); puré de calda (NUSWAMARHAENI et al., 1989); coberturas para sorvete ou limonada (OCHSE et al., 1961); dando sabor para sorvete ou suco (MOHD KHALID; RUKAYAH, 1993) e vinho.

Os frutos do mangostão também podem ser conservados; os tipos mais ácidos são geralmente preferidos. Os segmentos da polpa são extraídos dos frutos maduros e imersos em uma calda composta de açúcar e água na proporção de 1:2 para evitar a descoloração. A calda é então drenada e os segmentos são colocados em uma garrafa de calda fresca preparada com quantidades iguais de açúcar e água. Depois que todo o ar é liberado, a garrafa é semi-vedada, esterilizada em água fervente por 25 minutos e depois é completamente vedada. Os engarrafados e outras formas preservadas de frutos de mangostão estão disponíveis em mercados locais no Sul da Tailândia e nas Filipinas; tanto a polpa quanto as sementes são fervidas em solução de açúcar para fazer uma conserva (CRISOTOMO, 1977).

As bebidas aromatizadas, doces e compotas também são preparadas a partir do arilo do mangostão para uso doméstico. As técnicas foram desenvolvidas por Siddappa e Bhatia (1954) para a produção de sucos, geleias, xaropes e segmentos de frutas enlatadas. Muito do aroma picante do mangostão é normalmente perdido durante o processamento e é necessário desenvolver um método satisfatório de conservação do sabor do produto processado.

A casca contém 7-15% de tanino e é usada para curtir couro e tingir tecidos de preto (MAcMILLAN, 1956; CORONEL, 1983; NAKASONE; PAULL, 1998). Também é relatado para ser usado como ingrediente em sabonetes, xampus e condicionadores (YAPWATTANAPHUN et al., 2002).

A madeira vermelha escura do mangostão é pesada, grosseira e muito durável e, quando disponível, é usada para marcenaria, materiais de construção, cercas e para fazer pilões ou trituradores de arroz (IBPGR, 1986). O cerne do tronco é marrom escuro e produz madeira valiosa para a construção de móveis. Também é usado por habilidosos artesãos indonésios para fazer lembranças que retratam a forma e o tamanho da fruta. A árvore é ideal para uso como árvore ornamental que proporciona sombra e não prejudica calçadas ou fundações de edifícios pela penetração de suas raízes. A árvore tem uma forma simétrica, cilíndrica, com grande número de ramos laterais e folhas de um verde brilhante que criam um visual atraente em jardins botânicos e parques (Figura 5)

Figura 5. Planta jovem de mangostão.

ORIGEM DO MANGOSTÃO

Dentre as frutíferas tropicais cultivadas, o mangostão é provavelmente uma das mais localizadas em relação ao seu centro de origem, habitat e área de cultivo. Nativa do Sudeste Asiático como Malásia, Tailândia e Indonésia (AIZAT et al., 2019; MARZAIMI; AIZAT, 2019; Figura 6), a árvore permaneceu centrada principalmente em torno de seu habitat original, possivelmente em parte devido ao fato de que o fruto, embora envolto em uma casca grossa, permanece comestível por um período muito limitado. Além disso, as sementes são recalcitrantes e perdem rapidamente sua viabilidade. O mangostão é encontrado em estado natural na Península Malaia, Mianmar (antiga Birmânia), Tailândia, Camboja, Vietnam, Ilhas Molucas e da Sonda e, o seu cultivo, é normalmente cultivado no Sudeste Asiático em explorações de policultivos ou consorciados, localmente chamados “dusuns” na Malásia e na Indonésia.

Figura 6. Sudeste Asiático é a origem do mangostão.

A origem exata do mangostão não foi totalmente estabelecida, mas uma teoria recente, proposta por Zeven e De Wet (1982) é que ele é derivado de Garcinia silvesns Boerl., uma espécie encontrada crescendo tanto na Malásia quanto na Índia.

O último estudo definitivo de Richards (1990b) sobre a origem do mangostão indicou, no entanto, que a Malásia Peninsular foi provavelmente a área de origem, tendo o progenitor original possivelmente surgido como um híbrido entre as espécies Garcinia hombroniana e Garcinia malaccensis, pois ambas são nativas da Malásia, embora a distribuição de Garnicia hombroniana se estenda às Ilhas Nicobar. Entretanto, a Garcinia hombroniana é principalmente selvagem, mas também plantada porque sua madeira é valorizada e partes da planta são usadas na medicina. Enquanto a Garcinia malaccensis sempre foi silvestre, nunca plantada ou cultivada e é uma espécie mais escassa com distribuição dispersa. As plantas juvenis da espécie Garcinia malaccensis foram encontradas na parcela permanente da Reserva Pasoh, Negeri Sembilan na Malásia Peninsular (SAW et al., 1991).

Ou seja, a espécie Garcinia hombroniana é encontrada tanto em florestas montanhosas e marítimas quanto em florestas secundárias ao redor de Kampong na península da Malásia. Além de ser cultivada dentro de sua área natural, que abrange a Malásia, as Ilhas Nicobar e o sul da Tailândia, o seu cultivo se espalhou em escala rudimentar para o sul da Índia e da Indochina. Enquanto a espécie Garcinia malaccensis é selvagem em florestas tropicais de planície, particularmente da Malásia Peninsular.

Ambas as espécies selvagens foram bem descritas por Ridley (1967) que afirmou que Garcinia malaccensis se assemelha a Garcinia hombroniana até certo ponto e que a espécie Garcinia hombroniana se assemelha ao mangostão (Garcinia mangostana). Richards (1990) afirmou que as três espécies, Garcinia malaccensis, Garcinia hombroniana e Garcinia mangostana formam um agrupamento morfológico natural sem outros parentes próximos.

Richards (1990) observou que em ambos os parentes próximos de Garcinia mangostana são espécies agamospérmicas facultativas e ambas são diplóides. Garcinia mangostana é um poliplóide e provavelmente tetraploide, sendo um alotetraplóide e tendo surgido como um híbrido entre uma Garcinia hombroniana cultivada como progenitor feminino e uma Garcinia malaccensis selvagem como progenitor masculino. O número de cromossomos tem sido 2n=56-76, 88-90-96, 120-130, citado por Verheij (1992) em Prosea.

As flores masculinas são conhecidas em todas as espécies de Garcinia, exceto para mangostão e também possivelmente uma espécie selvagem não relacionada, Garcinia scortechinii King, da Malásia e Indochina, sinonímia Garcinia gaudichaudii Planch. Portanto, a reprodução sexual é possível na maioria das espécies, apesar disso a espécie mangostão é uma autêntica agamospérmica, produzindo apenas descendentes femininos. Indivíduos do sexo masculino neste gênero dioico têm que ser o produto da reprodução sexuada. Em várias espécies selvagens que podem se reproduzir sexualmente, sabe-se que a agamospermia facultativa ocorre em pelo menos 10 espécies (RICHARDS, 1990), e então a produção de múltiplas plântulas a partir de sementes infere tal condição.

Por outro lado, o cultivo no Sudeste Asiático tem sido principalmente limitado à área de origem que se estende da Indonésia para o Leste até a Nova Guiné e Mindanao nas Filipinas e ao Norte, via Malásia, até as partes do Sul da Tailândia, Birmânia, Vietnã, Filipinas e Camboja. Parece provável que o mangostão tenha sido domesticado pela primeira vez na Tailândia ou na Birmânia (CORNER, 1952). Somente durante os últimos dois séculos a cultura se espalhou para outras áreas tropicais, incluindo Costa do Marfim, Madagascar, Sri Lanka, sul da Índia, China, Brasil e partes de Queensland, Austrália. Também foi plantado na Costa Rica, Porto Rico, Dominica, Jamaica e Panamá (ALMEYDA; MARTIN, 1976) e pequenas plantações foram estabelecidas no Havaí, Honduras, Guatemala, Sul da Flórida e Cuba (WINTERS, 1953; CAMPBELL, 1967).

PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA MUNDIAL

Produção Mundial. O mangostanzeiro (Garcinia mangostana L.) é uma espécie perene, de clima tropical, porte médio a alto, alcançando até 25 metros de altura, sendo oriunda da Indonésia e Malásia e cultivada em todo o Sudeste asiático, onde, em 2017, a produção atingiu cerca de 700.000 toneladas (ALTENDORF, 2018; MULLER et al., 1995). Em aspecto mundial, pomares pequenos e mercantis foram introduzidos em países como Tailândia, que é detém o título de principal produtor mundial de mangostão, com produção estimada em 530.00 toneladas (2017), além da Birmânia, Filipinas, Sri Lanka e, com pequenas produções, na Austrália, Cuba, Honduras, República Domicana, Jamaica e Panamá (ALTENDORF, 2018; MANGOSTEEN..., 2019). Em território brasileiro, os Estados da Bahia e do Pará são os principais produtores, seguidos do Espírito Santo e São Paulo (SACRAMENTO et al., 2007).

Existe atualmente um interesse crescente na produção especializada de mangostão à escala comercial. Por exemplo, nas províncias do Leste e do Sul da Tailândia, alguns produtores de médio e grande porte se estabeleceram recentemente, exportando mangostões para várias partes da Europa e do Japão. Nos últimos 15 anos, um produtor substituiu em grande parte sua plantação de durian (Durio zibethinus) por mangostão e, em 1986, quase 80 toneladas de frutas de boa qualidade foram exportadas. O valor dos frutos de mangostão de primeira qualidade pode ser bastante substancial quando os preços estão em um nível alto.

No Brasil, o mangostão é cultivado, principalmente, nos Estados do Pará e da Bahia e, em pequena escala, no Espírito Santo e São Paulo. No estado do Pará, que tem 300 dias de chuva por ano e temperatura constante de 32-33 °C, a cultura do mangostão está concentrada em área plantada de cerca de 250 hectares, principalmente nos municípios de Santa Isabel do Pará, Benevides, Castanhal, Marituba, Santo Antônio do Tauá e, em menor escala, em Tomé-Açu. Aproximadamente 50% fazem consócio com outras espécies frutíferas, principalmente açaí, cupuaçu, banana e laranja. Pequenos pomares são também encontrados nos demais Estados da Amazônia, porém sem expressão econômica. Na Bahia, a maior concentração de mangostanzeiros localiza-se no município de Una, em uma área de aproximadamente 80 hectares, sendo cerca de 20 ha distribuídos entre outros municípios do sul da Bahia (Taperoá, Ituberá, Uruçuca, Nilo Peçanha e Tancredo Neves). No Espírito Santo, estima-se uma área de 10 ha nos municípios de Linhares e Castelo, com poucas plantas em estádio de produção. Em São Paulo, no município de Cardoso,

foram plantados, em 1995, mais de 10 ha de mangostanzeiros enxertados. Vários agricultores nipo-brasileiros da zona Bragantina têm plantações modestas de mangostão jovens, que foram plantadas no final da década de 1980. O mangostão está encontrando um mercado pronto em shoppings da moda em São Paulo (SMITH et al., 1995).

Distribuição Geográfica Mundial

Presume-se que o mangostão tenha se originado no sudeste da Ásia, possivelmente na região da Indonésia, e era conhecido no mundo ocidental já em 1631. As árvores são encontradas crescendo na natureza em uma ampla variedade de tipos de solo e locais. O estabelecimento em uma escala relativamente ampla seguiu o aumento de assentamentos humanos durante os primeiros dias da expansão populacional no Sudeste Asiático. Mais tarde, os primeiros viajantes europeus, exploradores ou colecionadores de plantas, como Mjobery (sueco), Fairchild (inglês), Laurent Garcin (francês) e Popenoe (americano) registraram descrições dessa fruta em seus diários e escritos.

A partir do cultivo de mangostão no sudeste da Ásia e em Mianmar, foi introduzido no Sri Lanka por volta de 1800 e que prospera em regiões úmidas até 600 m acima do nível do mar (MACMILLAN, 1935). Foi cultivado pela primeira vez na Índia durante o século XVIII e entre 1880 e 1890, onde as plantações foram feitas nas estações Kallar e Buliar no estado de Madras (KRISHNAMURTHI et al., 1964). Agora é visto principalmente nas encostas mais baixas das colinas Nilgiri entre 360 e 1.060 m de altura acima do nível do mar e perto de Courtallam.

O mangostão foi introduzido nas Índias Ocidentais antes de 1955 e a semente foi distribuída através do Royal Botanic Gardens em Kew, Reino Unido (POPENOE, 1928). Esses materiais também foram introduzidos no Brasil na mesma época. Fora do Sudeste Asiático, o cultivo foi maior nas Índias Ocidentais.

A introdução na África tropical não resultou em produção significativa, por exemplo, no Gabão, Gana, Libéria e Tanzânia (Zanzibar). Em 1901, foram feitas plantações na República Malgaxe, Madagascar (MOREUIL, 1971). Outras introduções levaram à produção em pequena escala na Flórida e Havaí (USA), Honduras, Cuba, Dominica, Guatemala, Jamaica e Panamá (Figura 7).

Figura 7. Distribuição mundial da espécie Garcinia mangostana (nativas e exóticas). Foto: Hosakatte Niranjana Murthy et al. (2022).

Embora o mangostão tenha sido introduzido no Sul de Queensland e Nova Gales do Sul, na Austrália, já em 1854, entretanto, não há registro de que essas plântulas tenham produzido frutos. Mais tarde, outras introduções foram feitas da Indonésia e provavelmente bem-sucedidas (STEPHENS, 1935).

BOTÂNICA, MORFOLOGIA E FISIOLÓGICA DO MANGOSTÃO

- Aspecto botânico

O mangostão (Garcinia mangostana L.) recebeu o nome do explorador francês Laurent Garcin (1683-1751) e é cultivado há bastante tempo em várias partes dos trópicos úmidos. No entanto, como muitas outras frutas tropicais secundárias, foi referido em várias publicações do século XIX como sendo uma árvore frutífera tropical de interesse principalmente botânico. Em outras palavras, o gênero foi nomeado por Linnaeus para Laurent Garcin (1683-1757), um botânico suíço da Companhia das Índias Holandesas, que publicou a primeira descrição do mangostão (BOURDEAUT; MOREUIL, 1970; CORNER, 1988), enquanto o epíteto específico ¨mangostana” é a forma latinizada, da

palavra malaia ¨manggistan¨, que é a denominação comum, de uso mais generalizado, em seu centro de origem, o arquipélago malaio.

O mangostão, Garcinia mangostana L., anteriormente conhecido como Mangostana garcinia Gaertner, pertence à família Guttiferae (Clusiaceae) que inclui cerca de 36 gêneros e mais de 800 espécies nos trópicos de ambos os hemisférios, com um gênero atingindo as regiões temperadas (JOLY, 1993). Destes, cerca de 9 gêneros incluem 86 espécies de árvores frutíferas. Indubitavelmente, dentro dessa família, a espécie mais importante do ponto de vista econômico é o mangostanzeiro. Garcinia pode ser considerado um gênero tipo dentro desta família que também inclui Mammea, um gênero de alguma importância econômica que é representado por M. americana L (abricoteiro). Pertencente à família Clusiaceae (Guttiferae) (MATRA et al., 2016; NAZRE et al., 2018) e originário da Ásia, o mangostão era de disseminação bastante restrita, mas depois foi amplamente cultivado por sua fruta de sabor agridoce único (AIZAT et al., 2019; MIDIN et al., 2018), principalmente, nas regiões tropicais da Ásia, Índia, Austrália e em alguns países da América. No Brasil, foi introduzido definitivamente por volta de 1935, na Bahia, e em 1942, no Pará (SACRAMENTO, 2001).

Posteriormente, o mangostão foi descrito como Mangostana garcinia por Gaetner em 1790, mas a descrição de Linneaus do gênero Garcinia significava que o nome taxonômico válido é Garcinia mangostana L (Figura 8). A Figura 9 ilustra um ramo com folhas, flores e frutos do mangostão.

Figura8. Classificação sistemática (Taxonomia)do mangosteiro, segundo a classificação de Cronquist (1981) e USDA (2014).

Figura 9. Flores, frutas (imatura, madura de cor roxo escura e fruta cortada transversalmente) e ramagem selecionadas da ilha de Java. Fonte: Pintado da natureza por Madame Berthe Hoola Van Nooten (1817-1892); Pieter De Pannemaeker (litógrafo). Livro dedicado a Sua Majestade a Rainha da Holanda. Publicado em 1863 por Emile Tarlier, Bruxelas, Bélgica.

O mangostão é conhecido como mangostanier em francês, mangostán em espanhol, mangosteen em inglês e mangostane em alemão, sem considerar uma variedade de nomes vernaculares na Malásia e na Indonésia, tais como: manggis, masta, mesta, mestor, semontah e semetah. O nome mangkhut é geralmente aplicado na Tailândia, cay mang cut no Vietnã, mongkhut em Kampuchea e mangostan nas Filipinas. Na Índia, a fruta é chamada de mangostin.

- Aspecto morfológico

Planta – O mangostão é uma pequena árvore perene que cresce até 25 m, ereta, casca marrom-escura com látex (Figura 10a). Mangostanzeiros remanescentes da introdução efetuada por Felisberto Camargo e que presentemente contam com 69 anos de idade, apresentam altura entre 6 e 10 m e diâmetro, na altura peito, entre 31,2 e 39,0 cm. Plantas com altura superior a 15 m são comuns quando estabelecidas em associação com espécies de porte maior, em que a competição por luz induz o crescimento excessivo em altura (CARVALHO, 2014). Quando cultivado em pleno sol, a planta apresenta comumente altura entre 8 e 10 m e diâmetro do tronco, na altura do peito, entre 25 e 35 cm. A copa é de formato piramidal, constituída por ramos opostos, que emergem do tronco em ângulo aproximado de 30 °, com folhagem densa (SACRAMENTO et al., 2009), conferindo à planta excelente efeito estético. As folhas são opostas, pecíolos curtos, formas ovaisoblongas, coriáceas e grossas, verde-escuras na face superior e verde-amareladas na face inferior, 9–25 cm de comprimento e 5–10 cm de largura, com nervura central evidente (Figura 10b). As flores, masculinas ou hermafroditas na mesma árvore, são carnudas. Quatro sépalas de cor verde, 4 pétalas verdes com manchas vermelhas. Vários estames são férteis ou estéreis. Fruto do tipo baga, de forma subglobosa, cálice persistente na extremidade do pedúnculo e remanescentes achatados do estigma em roseta no ápice (Figura 10c), de cor roxo-escuro a vermelho, liso externamente, 4-8 cm em diâmetro. A casca com 6 a 10 mm de espessura, vermelha na seção transversal, branco arroxeado por dentro (Figura 10d) com arilos carnosos brancos, suculentos e macios. Os frutos têm 0-5 sementes que são ovoides-oblongas, um pouco achatadas, com 2,5 cm de comprimento e 1,5 cm de largura (LIM, 2012).

Figura 10. Garcinia mangostana: a) Planta de mangostão; b) Ramo com folhas; c) Fruta imatura; d) Corte transversal do fruto maduro. Foto: Murthy, H. N. et al. (2018).

Raiz – O sistema radicular do mangostão é frágil, de crescimento lento e bastante emaranhado. O transplante de plântulas deve ser realizado com cuidado, tomando-se o cuidado para não danificar a raiz principal longa que tem muito poucas raízes laterais. Os pelos radiculares parecem estar ausentes tanto nas raízes principais quanto nas laterais.

Bourdeaut e Moreuil (1970) descreveram o desenvolvimento do sistema radicular de mangostões cultivados na Costa do Marfim e observaram que, em árvores de 3-8 m de altura e com uma extensão de copa de 2-5 m, a porção principal do sistema radicular se desenvolveu em uma profundidade do solo de apenas 5-30 cm; a raiz mais longa não se estendia a mais de 1 m da base do tronco. Ou seja, o sistema radicular do mangostanzeiro é originado da raiz adventícia, com raiz pivotante, e as raízes laterais são distribuídas de forma semelhante à parte aérea, com raízes grossas e finas, mas com poucas radicelas. (Figura 11).

Figura 11. Distribuição das raízes do mangostanzeiro. Foto: Célio Kersul do Sacramento.

Caule – O mangostão (Garcinia mangostana L.) é uma árvore perene de pequena ou média altura, variando de 6-25 metros, com um tronco reto, ramificado simetricamente para formar uma copa cônica (Figura 12). Essa árvore possui madeira dura variada e produze um látex gomoso abundante. Ou seja, o cerne do seu tronco é marrom escuro e denso, grosseiro e muito forte, podendo sua madeira ser utilizada em carpintaria (VERHEIJ, 1992). Tal espécie é principalmente de árvores de sub-bosque de florestas perenes de planície.

Figura 12. Raiz e caule da árvore de mongostão. Foto: Deamstime.com

Ramos – Árvores ou arbustos perenes com um tronco reto afilando para um dossel cônico, onde seus ramos em pares alternados no tronco em ângulo agudo, tornando-se posteriormente horizontais ou caídos (Figura 13); muito ocasionalmente os ramos são modificados para espinhos.

Figura 13. Ramificação simétrica e alternativamente oposta em mangostão. Foto: Yan Diczbalis.

Folhas – As folhas são simples, inteiras e acuminadas no ápice, ovais, oblongas ou elípticas, ligeiramente pecioladas (1,5-2 cm de comprimento) que prendem bem a parte aérea, opostas ou quase, ou em espirais de 3; e o par apical de folíolos esconde o botão terminal. São folhas com 15-25 cm de comprimento e com 4,5-13 cm de largura, brilhantes, espessas e coriáceas, verde escuro, raramente verde amarelo, glabras na face superior, verde pálido opaco ou verde amarelo na face inferior. Estas folhas apresentam muitas vezes com células glandulares e resinosas; estipulas 0 e ocasionalmente minúsculas (RIDLEY, 1967; WHITMORE, 1973). Eles são verde-oliva na face superior e verde-amarelo na face inferior com uma nervura central verde pálido que é proeminente em ambos os lados; há também muitas nervuras laterais igualmente espaçados, paralelas e proeminentes, em ângulo reto com o eixo principal (VERHEIJ, 1991; Figura 14).

Figura 14. Nervuras laterais espaçadas, folhas opostas e fruto na axila da folha do mangostão. Fonte: R. Wise.

Acredita-se que as folhas maduras sobrevivam por vários anos, com novas folhas se desenvolvendo na maioria dos ramos, resultantes de novos fluxos que ocorrem uma ou duas vezes por ano. As folhas jovens têm uma coloração rosa que muda para verde claro, mas essa cor dura apenas um período muito curto e logo adquirem a cor verde escura característica das folhas maduras (YAACOB; TINDALL, 1995; Figura 15).

Figura 15. Distintas colorações das folhas de mangostão: inicialmente rosa que muda para verde claro e, quando maduras, verde escura. Fotos: Klima Naturali e

popscreen.com.

Crescimento vegetativo – O mangostão tem uma fase juvenil extraordinariamente longa e as plantas cultivadas a partir de sementes normalmente não começam a frutificar até 10 a 12 anos após o estabelecimento no campo. No entanto, sob manejo cultural ideal, o período juvenil pode ser reduzido para 8 a 10 anos. Na Tailândia, foi relatado que o mangostão leva apenas 5 a 6 anos para atingir sua fase produtiva, mas isso aparentemente está associado a um período prolongado no viveiro que pode se estender de 3 a 5 anos; presume-se que a fase juvenil termina quando a planta produz 16 pares de rebentos laterais.

Na Indonésia, existe uma situação similar, mas, como os solos de Java e Sumatra são de origem vulcânica e extremamente férteis, pode-se esperar uma taxa de crescimento relativamente rápida (SUNARYONO, 1987). O longo período juvenil é provavelmente devido a vários fatores, notadamente a lenta taxa de crescimento das plântulas em desenvolvimento. Ao contrário das mudas da maioria das outras árvores frutíferas, o mangostão tem um sistema radicular frágil e sem pelos radiculares (HUME, 1950).

Observações feitas sobre o crescimento do mangostão no norte da Austrália mostraram que o crescimento vegetativo geralmente ocorre principalmente como resultado de fluxos intermitentes, a frequência dos fluxos dependendo da idade da planta. As árvores jovens podem produzir 6 fluxos por ano, tendo árvores apenas 1 ou 2. Sob condições controladas

de crescimento, os fluxos ocorreram em intervalos de 40-45 dias durante os primeiros 18 meses de crescimento das plantas juvenis (DOWNTON et al., 1990). Entre os fluxos, a gema terminal parece ficar dormente (HUME, 1947) e tem sido sugerido que qualquer tratamento que possa acelerar a quebra dessa dormência da gema pode aumentar a taxa de crescimento. Wiebel et al. (1992) descobriram que o tratamento da gema com ácido giberélico (GA3), particularmente em árvores jovens de 1-3 anos, foi eficaz; as citocininas foram eficazes apenas em plântulas muito jovens e as auxinas foram geralmente ineficazes.

É importante destacar que o mangostão é adaptado como uma cultura de sub-bosque em condições de floresta tropical e as árvores jovens expostas à luz solar direta ficam atrofiadas, com queima das folhas e redução na eficiência da descarga. As plantas com dois anos de idade foram observadas crescendo bem sob 50% de sombra (WIEBEL et al., 1992). Downton et al. (1990) postularam que altas intensidades de luz afetavam a eficácia da fotossíntese e a produção e movimento de assimilados. Isso também foi relacionado ao baixo número de estômatos, que ocorrem apenas na superfície inferior da folha e à limitada capacidade de troca gasosa de C02 das folhas. Também o desempenho do pomar no Norte da Austrália também está sendo usado para avaliar as melhores práticas agronômicas necessárias para tornar a cultura comercialmente viável (WIEBEL et al., 1992).

Verificou-se que o aumento do nível de C02 em ambientes controlados produziu um aumento no peso seco 77% superior ao das plantas cultivadas em concentrações ambientais de C02. Outros estudos pretendem fornecer uma solução para o crescimento normalmente fraco de mudas de mangostão (WIEBEL et al., 1992). Pesquisas na Malásia sobre a resposta fotossintética de mudas de mangostão a níveis crescentes de dióxido de carbono, também os efeitos do sombreamento e do alagamento no mangostão, também foram realizadas por Ramlan et al. (1992).

Floração – O mangostanzeiro apresenta tendência de florescimento em anos alternados, e a frutificação varia de planta para planta. As plantas florescem após o crescimento de fluxos vegetativos e principalmente após um período de estiagem. A época de florescimento pode ser concentrada em um ou mais períodos durante o ano, dependendo das condições climáticas, manejo e do número de fluxos vegetativos. O período entre a iniciação floral e a antese é de 25 dias e da antese até o fruto maduro 100 a 120 dias (YAACOB; TINDALL, 1995).

No Pará, em particular na microrregião Belém, onde se concentram os principais pomares de mangostanzeiros, quando a precipitação é normal, ocorre uma pequena floração, geralmente, no período de junho a agosto, e que é responsável pela pequena safra verificada entre outubro e dezembro. A safra principal ocorre entre janeiro e maio, e é resultante da floração que ocorre entre setembro a janeiro. Resultados referentes a dez safras consecutivas evidenciaram que, aproximadamente, 80% da produção de mangostão, na microrregião Belém, se verifica no período de janeiro a junho. A "safrinha", que ocorre no segundo semestre, é responsável por 20% da produção (SACRAMENTO et al., 2007; Figura 16).

Figura 16. Distribuição percentual da produção de frutos de mangostão durante o ano, na microrregião de Belém, PA. Fonte: Sacramento et al. (2007).

Flores – Flores geralmente masculinas ou femininas em árvores separadas, mas ocasionalmente bissexuais (e, se assim for, geralmente apenas fisiologicamente femininas). As árvores masculinas são relatadas por carregar grupos de 8-9 flores pequenas nas pontas dos ramos, mas este tipo de árvore é raro ou inexistente e é provável que esses relatos tenham resultado de uma identificação errônea da espécie; Garcinia malaccensis é muito semelhante a Garcinia mangostana (RICHARDS, 1990). Portanto, trata-se de uma planta que difere de muitas outras árvores tropicais pelo fato de os frutos se reproduzirem por partenogênese, ou seja, são produzidos sem fecundação. As flores são carregadas em tufos ou isoladas nas axilas das folhas, mas raramente terminais; a

menos que solitárias, ou seja, as flores femininas são solitárias, pareadas ou raramente 3 nos ápices dos ramos; pedicelos com 1,75-2 cm de comprimento e espessura.

As flores femininas têm 5 a 6 cm de diâmetro e têm quatro sépalas e quatro pétalas que nascem em pedicelos curtos e grossos (Figura 17). Parece haver diferentes relatos de estrutura floral na literatura e a situação exata em relação à estrutura floral precisa ser esclarecida. As seguintes descrições são consideradas atualmente aceitáveis e são baseadas naquelas fornecidas por IBPGR (1986) e Verheij (1991).

Figura 17. Frutas e flores femininas em ramo do mangostão (Garcinia mangostana L.). Fonte: Verheij, 1992.

As 4 sépalas são grandes, persistentes e bisseriadas (em 2 pares). No botão, as 2 sépalas internas são inteiramente envolvidas pelo par externo, que tem 2 cm de comprimento, e são menores e bordeadas de vermelho. As 2 sépalas externas, com 2 cm de comprimento, são verde-amareladas, côncavas e obtusas; as 2 sépalas internas são mais curtas e de cor rosa. As 4 pétalas são amplamente ovadas, obtusas, espessas, carnudas, verde amareladas e são orladas de vermelho ou são quase inteiramente vermelhas; elas são de 2,5 cm de largura x 3,0 cm de comprimento. Os estaminódios, que são numerosos, estão mais ou menos dispostos em grupos de 1 a 3 em 1-2 séries, formando um anel ao redor da base do ovário. São livres ou conatos curtos na base, com 0,5 cm de comprimento e anteras pequenas e estéreis (Figura 18). As flores femininas com grande ovário hipogínico

(súpero) montado em receptáculo de formas variadas e é amplamente elipsoide a globoso, séssil e com 4-8 lóculos (RIDLEY, 1967; WHITMORE, 1973). O estigma proeminente e espesso é séssil, com número de lóbulos igual ao número de lóculos do ovário. As flores são de curta duração; elas abrem no final da tarde e as pétalas caem logo depois.

Figura 18. Flor do mangostanzeiro mostrando detalhe dos estames atrofiados. Foto:Célio Kersul do Sacramento.

Fruto – O fruto normalmente partenocárpico é uma baga subglobular ou globosa deprimida, indeiscente, achatada na base onde é subtendida pelo cálice carnoso persistente (Figura 19) e pelos lóbulos do estigma; os restos dos lóbulos do estigma são evidentes no ponto terminal do fruto. Os frutos são esféricos ou levemente achatados e são relativamente pequenos, variando de 3,5 a 8,0 cm de diâmetro transversal e 3,6 a 6,5 cm de altura. Os pesos dos frutos variam de 75-150 g, dependendo da idade da árvore e sua localização geográfica (YAACOB; TINDALL, 1995).

Figura 19. Frutos de mangostão, destacando na sua parte superior o cálice carnoso persistente.

O pericarpo, casca ou casca da fruta é lisa, de espessura entre 0,5 a 1,0 cm, dura, violetapúrpura ou marrom-púrpura profunda externamente e violeta-púrpura por dentro, o qual contém um látex resinoso amarelo e amargo(RIDLEY, 1967; WHITMORE, 1973; Figura 20). Quando os frutos jovens são feridos, gotas amarelas desse látex são exsudadas. A casca madura e resistente forma uma excelente proteção para a polpa macia e comestível e facilita a embalagem e o transporte.

Figura 20. Diagrama de uma fruta de mangostão. Foto: Osman e Milan (2006).

A casca envolve a polpa comestível ou arilo que consiste em 4 a 8 segmentos brancos ou marfim, alguns dos quais contêm uma semente desenvolvida ou não desenvolvida, embora os frutos raramente tenham mais de 2, raramente 3 sementes desenvolvidas. A polpa normalmente constitui 31% do fruto inteiro (Figuras 21 e 22). Os segmentos são geralmente desiguais em tamanho e geralmente são 1 ou 2 segmentos maiores que contêm as sementes. O arilo, que se separa facilmente do pericarpo, é suculento, subácido, de sabor requintado e levemente aromático. As sementes grandes, achatadas, roxas escuras ou marrons são envoltas por fibras fracas que se estendem até o arilo (YAACOB; TINDALL, 1995).

Figura 21. Partes do fruto do mangostão (Garcinia mangostana L.). Foto: link.springer.com

Figura22. Destaque do mangostão: Foto 1: A) Frutos; B) Fruto cortado transversalmente, mostrando o pericarpo e arilo; C) Sementes cobertas pelo arilo. Foto 2: Frutos jovens de mangostão mostrando os lóbulos do estame (Beaufort, Sabah).

Semente – Cada fruto do mangostão pesa aproximadamente 55-150 g. O número de sementes por fruto varia de zero a três, sendo, mais frequentemente são encontrados frutos com 1 semente. Trata-se de uma semente grande, onde o seu peso varia entre 0,31 g e 1,8 g, com média de 0,87 g. As sementes são formadas a partir de tecido nucelar dos frutos por agamospermia e são, de fato, produzidas clonalmente por serem apomíticos (SAMSON, 1986). Além disso, o seu embrião é uma massa sólida representando o hipocótilo, mas os cotilédones evidentemente estão ausentes. Quando o fruto está completamente maduro, o teor de água das sementes ainda é bastante elevado, geralmente entre 57,7% e 67,4%.

Quando limpas, as sementes parecem ser um pouco em forma de rim e bifurcadas; às vezes se assemelham a duas sementes combinadas em uma (Figura 23). Uma cicatriz que indica o ponto de fixação do arilo à semente é vista na superfície da mesma; isso se espalha em uma rede de linhas distintas através da semente. As sementes de cor marrom apresentam comprimento entre 1,7 cm e 2,5 cm (ENOCH, 1980) e largura de 1,5-2,0 cm e cerca de 0,7-1,2 cm de espessura.

Figura 23. Fruto de mangostão (A), casca ou pericarpo (B), polpa ou arilo (C) e semente (D). Foto: Panupon Khumsupan e Wandee Gritsanapan (2014).

- Aspecto fisiológico

Germinação – A prática mais conhecida e mais comum para a propagação do mangostão é através da semente. Estritamente definidos, elas não são sementes verdadeiras (embriões sexuais), mas são embriões adventícios (embriões assexuados), uma vez que não há fertilização sexual envolvida. Como as sementes são formadas a partir de tecido nucelar (origem assexuada), produzem mudas idênticas à planta-mãe; elas são apomíticas e se reproduzem fielmente ao tipo (GALANG, 1955; CAMPBELL, 1967). Pode haver pouca variação nas mudas resultantes e, posteriormente, nos frutos produzidos.

Existe uma ampla gama de pesos de sementes, de cerca de 0,5 g a 2,0 g por semente. Aquelas que são maduras estão geralmente na faixa de peso de 1,0-2,0 g. Sabe-se que a poliembrionia ocorre no mangostão dando origem a até três plântulas por semente. O fenômeno é relatado po ocorrer em até 11% do mangostão (WESTER, 1920, 1926).

Lim (1984) examinou a embriologia de sementes de mangostão e observou o desenvolvimento do endosperma a partir do núcleo primário do endosperma, sem fertilização e também o desenvolvimento tardio de proembriões adventícios do tegumento externo. A forma do proembrião maduro é subcilíndrica e tuberoide sem qualquer polaridade clara e isso foi interpretado por Sprecher (1919) como um tubérculo hipocótilo.

A germinação de sementes de mangostão é considerada bastante singular em comparação com sementes de outras espécies de culturas (VOGEL, 1980). Durante a germinação, o inchaço ocorre em extremidades opostas da semente, e um radical (raiz) e uma plúmula (rebento) emergem dessas extremidades opostas. A radícula morre quando as raízes adventícias se desenvolvem a partir da base da plúmula (HUME; COBIN, 1946; CHANDLER, 1958). A germinação geralmente ocorre em 14-21 dias, mas isso varia de 10 a 54 dias, dependendo da idade da semente e do meio de cultivo. As sementes da mesma planta geralmente variam muito no tempo de germinação em diferentes anos e estações.

Quando semeadas logo após serem extraídas dos frutos, ocasião em que o teor de água é superior a 60,0%, a emergência das plântulas inicia-se 11 dias após a semeadura e estabiliza-se por volta do trigésimo terceirodia, com porcentagem de emergência próxima a 100%. Como as sementes apresentam comportamento recalcitrante no armazenamento, é importante que sejam mantidas com elevado status de água, para que não haja

comprometimento da capacidade de germinação (Figura 24). Convém ressaltar, também, que, para a obtenção de elevadas porcentagens de germinação, é importante realizar uma criteriosa seleção das sementes, descartando as que apresentam massa igual ou inferior a 0,6 g (HUME; COBIN, 1946). Normalmente, sementes grandes (> 1g de peso) roliças e totalmente desenvolvidas são escolhidas para o plantio. Vários estudos relataram que sementes grandes estão associadas a maior viabilidade e maiores taxas de sobrevivência (WESTER, 1916; HORN, 1940a; HUME; COBIN, 1946).

Figura 24. Porcentagem de germinação de sementes de mangostão em função do teor de água e do tempo. Fonte: Carvalho (2014).

As técnicas de manejo de sementes são importantes devido à curta vida das sementes. Qualquer secagem pode reduzir drasticamente a germinação e as sementes geralmente perdem a viabilidade em 3-5 dias quando removidas do fruto. Quando mantida no fruto, a viabilidade pode ser mantida por 3-5 semanas (CHANDLER, 1958), mas a germinação resultante pode ser mais lenta (WINTERS; RODRIGUEZ-COLON, 1953).

As sementes frescas são cobertas por uma membrana muito fina, que é a única proteção contra a dessecação. As sementes podem ser armazenadas temporariamente em carvão úmido, turfa ou fibra de coco (GONZALEZ; ANOOS, 1951; WINTERS; RODRIQUEZCOLON, 1953). Em latas lacradas com carvão umedecido, as sementes sobrevivem por 3-5 semanas (CHANDLER, 1958).

A estratificação das sementes em substrato umedecido com água constitui-se em bom procedimento para assegurar altas porcentagens de germinação (SACRAMENTO et al.,

2007). Convém ressaltar, porém, que o período de estratificação não deve ultrapassar a dez dias, pois as sementes germinam dentro do substrato de estratificação. Portanto, o tipo de armazenamento temporário e o tempo após a extração do fruto afetam marcadamente a germinação (Figura 25).

Figura 25. Taxas de germinação (%) de sementes de mangostão registradas em diferentes tempos de armazenamento. Fonte: Gonzalez e Anoos (1951).

Antes da semeadura, as sementes são normalmente pré-germinadas. As sementes frescas são embebidas por 12 horas para facilitar a remoção da testa. A remoção manual da testa é delicada, mas é feita para aumentar a porcentagem de germinação. A retirada da testa também ajuda a produzir plântulas mais uniformes. As sementes devem ser semeadas em meio de drenagem livre, preferencialmente sob alta umidade, e o canteiro deve ser devidamente sombreado antes da emergência das plântulas.

As sementes geralmente são semeadas diretamente em polybags ou bandejas (HAVARD DUCLOS, 1950; Figura 26). Vários meios podem ser usados, incluindo solo rico em matéria orgânica (HUME, 1947), ou uma mistura de turfa-areia (1:1) ou uma mistura de

solo-areia (1:3). Outros meios com alta retenção de umidade incluem fibras de coco trituradas. Se desejado, o meio de cultura pode ser esterilizado, mas isso geralmente não é praticado.

Figura 26. Padrão de germinação da semente de mangostão de 7 a 50 dias após o plantio em substrato de areia esterilizada. DAP (Dia Após o Plantio). Fonte: Dede Suhendra e Novilda Elizabeth Mustamu (2018).

As sementes de mangostão, que antes foram limpas da polpa, são plantadas em areia estéril, depois de 7 dias aparecem os botões vermelhos escuros. Ou seja, os padrões de germinação foram observados a partir da idade de 7 dias após o plantio, 10 dias após o plantio, 12 dias após o plantio, 15 dias após o plantio, 25 dias após o plantio, 27 dias após o plantio, 30 dias após o plantio, 35 dias após o plantio, 45 dias após o plantio e 50 dias após o plantio. As alterações no crescimento do mangostão foram caracterizadas pelo aparecimento de gemas vermelho-escuras na idade de 7 dias após o plantio, logo o comprimento das brotações ocorreu na idade de 15 dias após o plantio. Após a perfeita abertura das folhas do mangostão, houve aumento do tamanho na idade de 35 dias após

o plantio e do comprimento do caule, em seguida o aumento do número de folhas e mudança na coloração das folhas de vermelho para verde na idade de 45-50 DAP (SUHENDRA; MUSTAMU, 2018).

Por outro lado, ao lidar com um grande número de sementes, a semeadura é geralmente em canteiro. Um canteiro típico pode ser feito de madeira ou cimento, e o meio de semeadura utilizado pode consistir em uma mistura de areia e solo na proporção de 3:1 em volume. O meio de semeadura deve ser profundo, até 1 m de profundidade. O meio precisa reter a umidade, mas bem drenado.

As sementes são plantadas com 5-10 mm de profundidade e espaçadas de 2-3 cm, se semeadas em canteiro e cobertas com areia. Elas são normalmente colocadas

individualmente no lado plano na posição horizontal. Geralmente, foi relatado que a germinação ocorre em 2-3 semanas e está completa em cerca de 6 semanas. No entanto, as sementes podem ser semeadas em qualquer posição, pois a germinação ainda ocorre quando as sementes são colocadas de lado ou mesmo de cabeça para baixo. Sob tais condições, as sementes germinarão em cerca de 20-30 dias após a semeadura (PADOLINA, 1931; GONZALEZ; ANOOS, 1951; ALMEYDA; MARTIN, 1978). Em comparação, as sementes quesão semeadas sem a remoção da testa requerem 4-5 semanas antes de germinarem, e as plântulas derivadas dessas sementes normalmente não são uniformes. Após a emergência, as plântulas devem ser regadas regularmente. As plântulas apresentam um crescimento muito lento.

O processo germinativo das sementes de mangostão, assim como o de outras espécies do gênero Garcinia, é bem peculiar. Inicialmente, ocorre a emergência de delgada raiz primária de origem embrionária, no polo oposto onde se originará o caule da planta. A emergência dessa raiz é rápida, visualizando-se seus primórdios entre cinco e sete dias após a semeadura. Posteriormente, por ocasião da emergência do caule, ocorre a formação, em sua base, de vigorosa raiz adventícia, com poucas raízes secundárias e geralmente de tamanho insignificante, que se constituirá no sistema radicular definitivo da planta (Figura 27), haja vista que a raiz de origem embrionária cresce apenas cerca de 5 a 7 cm e depois fenece (CARVALHO, 2014).

Figura 27. Plântula de mangostanzeiro evidenciando, à esquerda, a raiz primária de origem embrionária e, à direita, a raiz adventícia. Foto: José Edmar Urano de Carvalho, 2014.

PROPAGAÇÃO

O método mais comum de propagação do mangostanzeiro é por via seminífera, embora possa também ser propagado por enxertia, especialmente pelo método de garfagem no topo, em fenda cheia, e por cultura de tecidos (MÜLLER et al., 1995; GOH et al., 1988). No caso da propagação por enxertia, a semente constitui-se em elemento essencial, pois o porta-enxerto é o próprio mangostanzeiro obtido a partir de sementes. Presentemente, não há produção comercial de mudas propagadas por cultura de tecidos.

A propagação por sementes constitui-se em método simples e, ao contrário do observado na maioria das espécies frutíferas tropicais, não condiciona variações entre plantas, pois as sementes são apomíticas. Não obstante o fato de o embrião ser formado sem envolvimento de processo sexual, originando-se a partir de células da nucela, tem sido constatado, nos últimos anos, por meio de marcadores moleculares, a existência de variabilidade genética no mangostanzeiro, o que rejeita a hipótese de que todas as árvores dessa espécie são oriundas de um só clone (RAMAGE et al., 2004).

As principais desvantagens da propagação por sementes são: o tempo requerido para a formação das mudas, geralmente em torno de dois anos, e, principalmente, a longa fase

jovem das plantas, o que implica primeira produção de frutos, geralmente, oito anos após o plantio no local definitivo. Há casos, embora raros, de plantas oriundas de sementes iniciarem a produção de frutos seis anos após o plantio.

FENOLOGIA

A fenologia de uma planta compreende eventos periódicos ligados aos seus estágios específicos de desenvolvimento, e essas fenofases auxiliam na compreensão da relação entre o desenvolvimento da planta e as condições ambientais e sua correlação com a morfologia da planta. De fato, o momento da mudança que inaugura cada fenofase é comercialmente importante porque as fenofases têm um impacto direto no sucesso reprodutivo (KUSHWAHA; SINGH, 2008). As informações sobre a mudança também são úteis para descobrir as causas da variação entre as fases vegetativa e reprodutiva devido a fatores meteorológicos; temperatura e precipitação, em particular, têm recebido ultimamente bastante atenção (RAJAN et al., 2011).

Uma escala de dois dígitos Biologische Bundesantalt, Bundessortenamt und Chemische Industrie (escala BBCH) é usada para descrever os estágios vegetativo e reprodutivo das plantas. A escala BBCH primária descreve os estágios principais e secundários que constituem o ciclo de desenvolvimento das plantas, enquanto a escala BBCH estendida, representada por três dígitos, fornece mais detalhes das fenofases levando em consideração também os mesoestágios, numerados de 0 a n, que são incorporados entre os estágios primário e secundário (HACK et al., 1992). Os estágios primário e secundário são subdivididos em 10 estágios de crescimento fonológico claramente reconhecíveis e distinguíveis. As escalas BBCH básicas e estendidas são amplamente aceitas para codificar uniformemente os estágios de crescimento fenológico de muitas espécies de frutas, incluindo do mangostão.

A Figura 28 mostra os estágios de crescimento identificados no estudo realizado na Índia e sua duração e ocorrência (especialmente à luz dos graus-dia de crescimento acumulados) são apresentadas nas Tabelas 1 e 2. Um mesoestágio foi descrito em cada estágio de crescimento principal com base no comportamento de crescimento e no número de descargas durante o ano. Essas etapas primárias são elaboradas a seguir.

Figura 28. Ilustração dos principais estágios de crescimento fenológico do mangostão de acordo com a escala estendida BBCH, Biologische Bundesantalt, Bundessortenamt und Chemische Industrie (escala BBCH). Fotos: Awachare; Upreti (2020).

Tabela 1. Descrição dos estágios de crescimento fenológico de mangostão (Garcinia mangostana L.) de acordo com a escala estendida Biologische Bundesantalt, Bundessortenamt und Chemische Industrie escala (escala BBCH).

Código BBCH Descrição (mesoestágio 1)

Estágio de crescimento principal 0: DESENVOLVIMENTO DE BROTOS VEGETATIVOS 011 Iniciando o inchaço dos botões ou gemas 013 Final do inchaço do broto 017 Início do rompimento do broto 019 Final do rompimento do broto

Estágio de crescimento principal 1 DESENVOLVIMENTO DA FOLHA 110 Primeiras folhas separadas 113 As primeiras folhas se desdobraram 115 Mais folhas desdobradas 117 Todas as folhas desdobradas e totalmente expandidas 119 Folhas maduras

Estágio de crescimento principal 3: DESENVOLVIMENTO DE REBENTOS 311 Iniciação do crescimento de rebentos 313 30% do comprimento final do rebento 315 50% do comprimento final do rebento 317 70% do comprimento final do rebento 319 90% do comprimento final do rebento

Estágio de crescimento principal 5: DESENVOLVIMENTO REPRODUTIVO 513 Iniciação reprodutivo do inchaço do botão 517 Separação de pétalas 519 Final do desenvolvimento do botão floral

Estágio de crescimento principal 6: FLORAÇÃO 610 As primeiras flores abrem 617 Plena floração 619 Fim da floração

Estágio de crescimento principal 7: DESENVOLVIMENTO DO FRUTO 710 Frutificação 711 Crescimento inicial do ovário 712 20% do tamanho final da fruta 713 30% do tamanho final da fruta 715 50% do tamanho final da fruta 718 80% do tamanho final da fruta 719 Tamanho final do fruto

Estágio de crescimento principal 8 MATURIDADE DO FRUTO 810 Maturidade fisiológica 811 Início do amadurecimento 815 Amadurecimento avançado 819 Maturidade de colheita

Fonte: Awachare; Upreti (2020).

Tabela 2. Duração e soma térmica/requisitos de graus de crescimento acumulados (GDD) para estágios fenológicos de crescimento do mangostão (Garcinia mangostana L.) cultivado nos pomares experimentais em Chettalli, no estado de Karnataka, Índia, da Estação Experimental de Horticultura Central de Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola—Instituto Indiano de Pesquisa Hortícola (ICAR-IIHR).

Código BBCH Estágio de crescimento principal Duração (dias) Graus-dias de crescimento acumulados (GDD)

011 - 019 Estágio de crescimento principal 0: Desenvolvimento de brotos vegetativos 110 – 119 Estágio de crescimento principal 1: Desenvolvimento da folha 113 1.060,36

119 1.084,8

311 – 319 Estágio de crescimento principal 3: Desenvolvimento de rebentos 179 1.704,64

513 – 519 Estágio de crescimento principal 5: Desenvolvimento reprodutivo 610 - 619 Estágio de crescimento principal 6: Floração 710 – 719 Estágio de crescimento principal 7: Desenvolvimento do fruto 810 - 819 Estágio de crescimento principal 8: Maturidade do fruto 89 875,87

57 450,69

94 764,59

121 1,.73,75

Graus-dias totais

Fonte: Awachare; Upreti (2020).

7.114,7

O mangostão prospera bem na faixa de temperatura de 22–35 ºC e suporta temperaturas tão altas quanto 37–38 ºC. No entanto, as temperaturas acima de 34 ºC e abaixo de 10 ºC, podem ter efeito adverso na floração e frutificação (APIRATIKORN et al., 2012). No estudo realizado por Awachare e Upreti (2020), as temperaturas máxima e mínima do ar foram de 31,36 ºC e 19,05 ºC, respectivamente, durante os principais estádios de desenvolvimento reprodutivo, floração e desenvolvimento dos frutos com temperatura média de 25,21 ºC (Figura 29). As fenofases, por exemplo o desenvolvimento reprodutivo e a floração sob as encostas orientais de “Western Ghats” ocorrem durante abril-junho, no entanto, a floração fora de temporada também foi relatada durante agosto-setembro no sul da Tailândia e na Malásia, o que provavelmente seria devido às condições climáticas predominantes/ variabilidade (especialmente temperatura e chuva). Além disso, as outras variáveis, por exemplo a temperatura do solo, radiação solar, estresse hídrico, umidade relativa e condição nutricional também podem ter o efeito (SDOODEE, 2007). Segundo Awachare e Upreti (2020), as temperaturas máxima e mínima de 35,6 ºC e 22,5 ºC, respectivamente, com média de 29,05 ºC (Figura 29) durante o desenvolvimento e

maturação dos frutos (julho-outubro), que estão próximas aos valores apresentados por Boonklong (2005), enquanto estudava o impacto do clima na produção de mangostão.

Figura 29. Progressão sequencial dos estágios fenológicos de crescimento do mangostão (Garcinia mangostana L.) cultivado nos pomares experimentais em Chettalli, no estado de Karnataka, Índia. A barra indica o tempo decorrido em cada estágio; temperatura média (ºC) (2017–2018). Fonte: Awachare e Upreti (2020).

Portanto, a fenologia é um aspecto muitas vezes esquecido da ecologia do mangostão, pois os códigos e as descrições dos estágios fonológicos do mangostão como dados na escala estendida Biologische Bundesantalt, Bundessortenamt und Chemische Industrie (a escala BBCH) foram elaborados usando um sistema de notação de três dígitos. Um total de sete estágios primários de crescimento, ou seja, desenvolvimento de gemas ou brotos (Estágio 0), desenvolvimento de folhas (Estágio 1), desenvolvimento de brotos ou rebentos (Estágio 3), desenvolvimento reprodutivo (Estágio 5), floração (Estágio 6), desenvolvimento de frutos (Estágio 7) e maturação dos frutos (Estágio 8), são descritos e ilustrados. A duração de cada estágio de crescimento principal foi medida em dias e quantificada em acúmulo térmico/graus-dia crescentes. Explica-se a importância dos estádios primários de crescimento para o manejo do pomar e melhoramento das culturas, no monitoramento do crescimento e desenvolvimento das plantas (especialmente à luz

dos impactos das mudanças climáticas) e na avaliação da produtividade e qualidade dos frutos. Além disso, a escala estendida BBCH será uma ferramenta útil para caracterização de germoplasma, bem como para padronizar as fenofases observadas em diferentes condições ambientais (AWACHARE; UPRETI, 2020).

MELHORAMENTO

A maioria das espécies de Garcinia é apomítica (CORNER, 1988) e o desenvolvimento de frutos e sementes nessas espécies é através da agamospermia, ou seja, produção de sementes sem a fusão de gametas (THOMAS, 1997). O modo de desenvolvimento do embrião e da semente foi estudado apenas em Garcinia mangostana e foi relatado que o desenvolvimento embrionário em mangostão é a partir de tegumentos e não do óvulo (LAN, 1989). Portanto, as espécies de Garcinia são consideradas exclusivamente apomíticas (HORN 1940; RICHARDS 1990a) e as plantas produzidas por semente ou propagação vegetativa são homogêneas e geneticamente idênticas (HORN, 1940). Consequentemente, a variabilidade observada em mangostão, tamarindo Malabar e kokum no campo/selvagem é provavelmente devido à diferença de condições ambientais. No entanto, vários estudos revelaram que uma população de reprodução apomítica nem sempre carrega as mesmas propriedades genéticas, mesmo em apomixes legítimas (ASKER; JERLING, 1992); variabilidade em progênies e populações foi relatada em espécies apomíticas legítimas Taraxacum (FORD; RICHARDS, 1985). Portanto, o melhoramento de espécies de Garcinia mangostana é principalmente a exploração da variabilidade genética existente e o melhoramento dessas espécies é apenas por meio de seleção, em vez de reprodução convencional.

Pesquisas recentes

Melhoramento por mutação. Houve poucas tentativas de aplicar mutações induzidas em mangostão. No entanto, na Indonésia, Rostini et al. (2003) usaram irradiação de raios gama com dosagens de 1 a 3 krad para ampliar a variabilidade genética do mangostão para melhorar as características desejadas do mangostão. Os resultados constataram que mais de 80% das sementes irradiadas com 1 krad e 2 krad apresentaram variações nas taxas de crescimento, altura das plantas, tamanho das folhas, cor das folhas, teor de clorofila, número de raízes laterais e comprimento das raízes.

Hibridação. O mangostão é auto-fértil, mas macho estéril e, como possui muitas espécies relacionadas que são totalmente férteis, a hibridização pode ser possível, especialmente com espécies intimamente relacionadas, como Garcinia hombroniana.

No Vietnã, avanços recentes na cultura de tecidos de mangostão provaram ser úteis no resgate de embriões de hibridização interespecífica (SANDO, 2001). Agora é preciso fazer uma avaliação de quais espécies usar para fazer cruzamentos.

Matrizes de diversidade genética. Como resultado da pesquisa em cultura de tecidos, Te-Chato e Lim (2000) analisaram algumas espécies selvagens, bem como o mangostão. As espécies foram chamadas localmente chamuang, mahput, pawa e somkhag.

Com base na citometria de fluxo, pawa mostrou ter o menor conteúdo de DNA. Mahput tem o maior conteúdo de DNA, três vezes maior que o de pawa. Também foi demonstrado, a partir do sequenciamento do DNA genômico usando um primer específico, que o mangostão teve a relação mais próxima com a pawa, seguido por somkhang e mahput.

Existe claramente a necessidade de expandir as análises genéticas utilizando uma grande variedade de técnicas atuais para auxiliar na identificação de genitores masculinos para cruzamento, uma vez que o mangostão é feminino.

VARIEDADES

O mangostão é uma planta apomítica e a propagação é por semente apomítica, onde o embrião e a semente se formam sem fertilização (SOBIR; POERWANTO, 2007). Assim, as árvores de mangostão são essencialmente clonais, o que significa que a descendência é geneticamente idêntica à planta mãe (MANSYAH et al., 2010). Com base nessa suposição, existe apenas uma variedade de mangostão cultivado (HORN, 1940; SOBIR; POERWANTO, 2007; MANSYAH et al., 2010). No entanto, variações distintas nos caracteres morfológicos podem ser observadas na Indonésia e no Sudeste Asiático, onde os mangostões são cultivados.

Estudos anteriores sugeriram que a variação das plantas de mangostão entre as regiões se devia a diferenças nas condições ambientais (HORN, 1940). No entanto, estudos recentes usando marcadores de DNA confirmaram a variabilidade genética entre a população de mangostão e Garcinia spp. (SOBIR; POERWANTO, 2007; SOBIR et al., 2011). Esses

estudos sugerem que o mangostão não se originou de uma única hibridização de seus pais sexuais ancestrais (Garcinia malaccensis e Garcinia hombioniana) como se pensava anteriormente. O Sudeste Asiático, incluindo a Indonésia, é um centro de diversidade para Garcinia, e isso provavelmente explicaria a variação entre as populações de mangostão (SOBIR et al., 2011).

Mansyah et al. (2010) identificaram onze características morfológicas que podem ser usadas para distinguir variedades de mangostão na Indonésia, sendo elas: forma do dossel ou copa; área foliar; peso do fruto; cor da folha madura; número de flores e frutos por ramo; forma de fruta; forma de base de frutas; forma, tamanho e espessura do lóbulo do estigma; número de segmentos de frutos; comprimento do pedicelo; e espessura da casca.

Existem várias variedades de mangostão identificadas que são cultivadas em regiões específicas da Indonésia: Kaligesing, Wanayasa, Puspahiang, Bogor Raya, Ratu Kamang, Ratu Tembilahan, Marel, Lingsar e Malinau (IAQA, 2010). Puspahiang, Wanayasa e Bogor Raya são as três principais variedades de mangostão cultivadas comercialmente na Indonésia. As características morfológicas dessas variedades são apresentadas na Tabela 3. A variedade Kaligesing também é preferida em toda a Indonésia, pois é resistente à broca dos frutos e à murcha de fusarium (IAQA, 2011).

Tabela 3. Características das variedades comuns de mangostão na Indonésia.

Característica

Forma da fruta Variedades Puspahiang Wanayasa Bogor Raya

Oval Redondo Redondo esférico

Tamanho do fruto Altura: 41–61 mm Diâmetro: 44–64 mm Altura: 30–451 mm Diâmetro: 45–55 mm Altura: 30–451 mm Diâmetro: 45–50 mm

Cor da casca Violeta escuro Violeta vermelho Violeta vermelho

Espessura da casca Média 3-5 mm 6-9 mm

Cor do mesocarpo Branco Branco leite Branco neve

Textura do mesocarpo Macio Macio Macio não fibroso

Sabor do mesocarpo Doce fresco Doce fresco Ácido doce

Teor de açúcar 15,0 °Bx 17,75 °Bx 18,65 °Bx

Peso do fruto 50-131 g 90-110 g 75-94 g

Região de cultivo Comarca de Tasikmalaya Comarca de Purwakarta Comarcas de Bogor e Sukabumi

Época de colheita Setembro a abril Dezembro a abril Outubro a fevereiro

Fonte: IAQA, 2010.

Com base na Figura 30, pode-se observar que as diferenças no caráter da planta de mangostão são o formato da coroa (pirâmide, redonda, oblonga e alongada), formato oval da folha, ponta da folha (aguda ou afunilada e obtusa), base da folha (obtusa e aguda ou afunilada), tamanho da flor (grande, médio e pequeno), formato do fruto (redondo mais acentuado e redondo achatado), cor do fruto (branco cremoso e branco neve) e formato da semente (elipse, oval, longa e forma irregular) (SYAHPUTRA et al., 2021).

Figura 30. As diferenças nas características morfológicas de árvores de mangostão, folhas, flores, frutos e sementes no distrito de Langkat, norte de Sumatra. Fotos: Syahputra et al. (2021).

COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO FRUTO

ARILO. A qualidade do fruto do mangostão é afetada por diferenças nas condições climáticas (POPENOE, 1928). A análise química do arilo maduro, considerada a porção comestível, é fornecida na Tabela 4. As análises variam muito dependendo da fonte.

Tabela 4. Análise aproximada de 100 g de arilo mangostão maduro com adaptação de Kanchanapom; Kanchanapom (1998).

Fontes 1 2 3 4 5 Intervalo ou valor

Umidade (%) Calorias 79,7 83,0 79,3 80,2 84,9 79,2-84,9 76,0 63,0 81,0 60-63 - 60-81

Proteínas (g,%) Graxa (%) Carboidratos (%) Açúcar total (%) Açúcares redutores (%) Fibras (%) Cinza (%) Cálcio (%) Fósforo (%) 0,7 0,6 0,5 0,5-0,6 0,5 0,5-0,7 0,8 0,6 0,2 0,1-0,6 - 0,1-0,8 18,6 15,6 19,2 14,3-15,6 19,8 14,3-19,8 17,5 17,5 4,3 4,3 1,3 5,1 0,5 5,0-5,1 0,3 0,3-5,1 0,2 0,2 - 0,2-0,23 0,23 0,2-0,23 18,0 8,0 25,0 0,01-0,8 11,0 0,01-18,0 11,0 12,0 17,0 0,02-12,0 17,0 0,02-17,0

Ferro (%) 0,3 0,8 0,9 0,2-0,8 0,9 0,2-0,9

Vitamina A (I.U.) - 0,0 14,0 - 14,0 0-14,0

Tiamina (Vitamina B2) % 0,06 0,03 0,09 0,03 0,09 0,03-0,09

Riboflavina (Vitamina B2) % 0,01 0,0 0,06 - 0,06 0-0,06

Niacina (Vitamina B5) % 0,1 0-0,1

Ácida 0,49 0,49

Ácido ascórbico (vitamina C) % 2,0 2,0 66,0 1,0-2,0 66,0 1,0-66,0

Ácido cítrico (g/100g) 0,63 0,63

Valores de vitamina A em unidades internacionais; 1 U.I. = 0,6 mg de betacaroteno. Fontes: 1-Intengan et al. (1968), Coronel (1983); 2-Leung et al. (1952) e Dede Juanda & Bambang Cahyono (2000); 3- Dept. of Agric. Ext. (1990); 4-Morton (1987); 5-Poomipamorn e Kumkong (1997).

A fruta tem um alto teor de umidade. O arilo macio da fruta é a porção comestível, que constitui cerca de 25-30% da fruta. Intengan et al. (1968) consideram uma média de 26% do fruto como a porção comestível. Em relação a matéria seca, Nakasone e Paull (1998) avaliam que o arilo é constituído por 20%.

Os dados da Tabela 5, mostram que o arilo contém uma alta porcentagem de carboidratos, principalmente na forma de açúcares. O valor energético do arilo é de 340 kJ/100g (VERHEIJ, 1992). Geralmente é relativamente pobre em minerais (TONGDEE;

SUWANAGUL, 1989) e vitaminas, mas os níveis de cálcio, fósforo e ácido ascórbico são comparativamente elevados.

Enquanto a porcentagem de sólidos solúveis totais varia de aproximadamente 13 a 20%, dependendo do estágio de maturidade do fruto. Com o fruto imaturo o intervalo é de 1315,2%, mas quando maduro é de cerca de 18,3-19,0% (TONGDEE, 1985; NAKASONE; PAULL, 1998).

O arilo do fruto do mangostão possui um sabor delicado e único. MacLeod e Pieris (1982) analisaram os compostos voláteis que contribuem para o aroma e detectaram cerca de 52 compostos. Destes compostos, 28 foram identificados. Quantitativamente, os principais componentes foram (Z)-hex-3-en-1-ol (27%), octano (15%), acetato de hexil (8%) e αcopaeno (7%). Os principais contribuintes para o sabor do mangostão são o acetato de hexil, (Z)-hex-3-enil acetato (cis-hex-3-enil-acetato) e (Z)-hex-3-en-1-ol. Seis sesquiterpenos também foram identificados.

SEMENTES. As sementes possuem sabor de nozes (CORONEL, 1983). A semente contém cerca de 30% de óleo (PRATT; DEL ROSARIO, 1913). As xantonas, isoladas das cascas dos frutos e dos arilos e sementes comestíveis do mangostão, foram testadas quanto ao seu potencial antituberculose. As α- e β-mangostinas e a garcinona B exibiram forte efeito inibitório contra Mycobacterium tuberculosis (SUKSAMRARN et al., 2003).

CASCA. A casca é dura e libera uma espécie de resina amarela quando cortada. A casca também é rica em pectina e, após o tratamento com cloreto de sódio (para eliminar a adstringência), pode-se produzir geleia (MORTON, 1987). Quando seca e moída, é ministrada como medicamento por possuir características adstringentes, contra disenterias (MÜLLER et al., 1995) e diarreias crônicas (ALMEYDA; MARTIN, 1976). Em seu país de origem, a casca do mangostão é utilizada como corante caseiro (ALMEYDA; MARTIN, 1976; MÜLLER et al., 1995).

A casca de frutas secas é utilizada farmaceuticamente como adstringente (PRATT; DEL ROSARIO, 1913). Também Du e Francis (1977) relataram que a casca do mangostão contém uma quantidade substancial de pigmento vermelho. O pigmento principal é identificado como cianidina-3-soforosídeo, enquanto um pigmento secundário como cianidina-3-glicosídeo (KANCHANAPOM; KANCHANAPOM, 1998). De acordo com Mahabusarakum et al. (1983), a casca contém cinco xantonas polioxigenadas, incluindo mangostina 4,β-mangostina, nor-mangostina e gartanina. Esses compostos são usados na

medicina e, até certo ponto, como agentes antibacterianos. O teor de xantona na casca e vários outros compostos farmaceuticamente ativos aumentam à medida que prossegue o amadurecimento do fruto. Portanto, os princípios ativos são as mangostinas e seus derivados, que são tipos de xantonas. Além das xantonas, as frutas de mangostão contêm flavonas.

Ji et al. (2007) citam que a casca do fruto contém elevados teores de xantonas, uma classe de combinações de polifenóis; sendo o pericarpo, segundo Naczk e Shahidi (2006), uma das maiores fontes de xantonas encontradas até então, sendo verificada atividade antioxidante (LEONG; SHUI, 2002; MOONGKARNDI et al., 2004; OKONOGI et al., 2007; LEONTOWICZ et al., 2007), ação antibacteriana (CHANARAT et al., 1997), antifúngica, anti-inflamatória, antitumoral (HO et al., 2002), e atividade antileucêmica (MATSUMOTO et al., 2003; CHIANG et al., 2004).

PRODUÇÃO DE MUDAS

Sexuada. Nos principais países produtores de mangostão, a formação de mudas é feita sexuadamente, considerando-se que as sementes dessa espécie são apomíticas e, portanto, as plantas não apresentam variabilidade genética. Quanto à germinação (Figura 31), as sementes perdem rapidamente a viabilidade e não podem ser conservadas pelos métodos convencionais de armazenamento, que têm como pressupostos básicos a redução do teor de água e o armazenamento em baixas temperaturas. A1guns procedimentos têm sido indicados para manter a viabilidade das sementes por períodos que possibilitem o transporte das sementes de um local para outro. Normalmente, é recomendada a estratificação das sementes em substrato umedecido com água. O substrato para estratificação das sementes pode ser fibra de coco, pó de serragem curtida ou vermiculita. Alternativamente, as sementes podem ser conservadas dentro dos frutos ou em sacos de polietileno por períodos de até 35 dias (MÜLLER et al., 1991). Em condições favoráveis de temperatura e umidade, a quase totalidade das sementes germina entre 10 e 20 dias após a semeadura (MÜLLER et al., 1995).

Figura 31. Germinação de semente e formação de mudas de mangostão. Fonte: www.shutterstock.com.

As sementes utilizadas para germinação (propagação) são extraídas de frutos recémcolhidos, previamente à seleção da melhor árvore ou daquela com as características desejadas. Em seguida, são separados da polpa com serragem, lavadas com água e secas por uma hora. O substrato deve ser areia fina, lavada, para que haja uma boa germinação (Figura 32). As sementes devem ser grandes, bem formadas, pesando mais de 1 g para conseguir plantas vigorosas (VARGAS et al., 1999). É importante saber que as sementes perdem a viabilidade 5 dias após serem extraídas do fruto e ficam viáveis por 3 a 5 semanas dentro dele. Se for desejada uma viabilidade mais longa (por exemplo, três meses), é necessário armazenar as sementes em recipientes herméticos. Para acelerar a germinação, as sementes devem ser embebidas em água por 24 horas. As sementes geralmente levam de 20 a 22 dias para germinar e a germinação uniforme leva 43 dias (MORTON, 1987).

Figura 32. Plântula de mangostão de uma semana, sendo as sementes semeadas diretamente em polybags. Foto: Yan Diczbalis.

As sementes de mangostão são recalcitrantes, ou seja, não podem manter a viabilidade quando secas e submetidas a baixas temperaturas (WINTERS; RODRIGUEZ-COLON, 1953; CHIN, 1976). Como resultado, as plantas terão que ser conservadas em bancos de genes de campo ou em bancos de genes de cultura de tecidos. Devido aos problemas de manutenção, cada acesso deverá ser justificado e duplicado em local alternativo. O mesmo se aplicará às espécies silvestres que se mostraram úteis para porta-enxertos (TIXIER, 1955).

Após o transplantio, as mudas devem ser mantidas em local sombreado, com 50% de luminosidade (Figura 33). Os tratos culturais do viveiro consistem na manutenção da umidade por meio de irrigações e na eliminação periódica de plantas daninhas que crescem no substrato.

Figura 33. Muda de mangostão.

Müller et al. (1989) recomendam adubações foliares com produtos que tenham na formulação macro e micronutrientes e a aplicação preventiva, a cada dois meses, de fungicidas à base de cobre (3 g.L-1 de água), mais Mancozeb (2 g.L-1), para controlar eventuais doenças que possam ocorrer nos viveiros.

Quando bem manejada, após dois anos de viveiro, a muda apresenta 30 a 40 cm de altura e está pronta para o plantio definitivo ou para ser utilizada como porta-enxerto.

Assexuada. O mangostanzeiro pode ser propagado por enxertia de garfagem no topo em fenda cheia, embora os métodos de enxertia em fenda lateral e de encostia também possam ser utilizados. No processo de enxertia, são usadas, como porta-enxertos, mudas de mangostão, com dois anos de idade. Os garfos ou enxertos devem ser retirados de ramos ortotrópicos (centrais), pois os ramos laterais formam plantas com crescimento lateral (plagiotropia). Após o processo de enxertia, o garfo e parte do porta-enxerto devem

ser envolvidos por um saco transparente (câmara úmida), a fim de evitar a evaporação da água e o ressecamento do enxerto. As mudas recém-enxertadas devem ser mantidas em local sombreado. Embora a propagação assexuada reduza em até dois anos o período vegetativo, na prática, tem sido observado que plantas propagadas por semente apresentam crescimento mais vigoroso e, quando adultas, suplantam em produção aquelas originadas de mudas enxertadas. Desse modo, a enxertia praticamente não tem sido utilizada na implantação de pomares comerciais. Nos outros países produtores, também não se utiliza a propagação vegetativa na formação de pomares comerciais.

O enxerto de fenda é um dos métodos de enxerto mais antigos e amplamente utilizados (Figura 34). Nesta técnica, um rebento saudável é obtido como o rebento de uma plantamãe selecionada ainda em crescimento ativo e é então inserido em um porta-enxerto saudável (OSMAN; MILAN, 2006).Na Embrapa Amazônia Oriental, o cultivo de plantas enxertadas confirmou o crescimento lento, porém a quase totalidade das plantas entraram em fase reprodutiva quatro anos após o plantio, havendo casos de plantas com três anos de idade produzirem 65 frutos. No que concerne ao caule irregular e aos ramos decumbentes, foi constatado que, quando se utilizam garfos oriundos de ramos-guia, a arquitetura da planta é semelhante à de plantas propagadas por sementes. Efetivamente, há necessidade de pesquisas que confirmem a viabilidade da implantação de pomares com mudas enxertadas (CARVALHO, 2014).

Figura 34. Planta de mangostão propagada vegetativamente derivada de enxertia de fenda. Fotos: Osman e Milan (2006) e (MARDI).

Mesmo assim, em condições de clima e solo favoráveis e manejo adequado, o mangostanzeiro pode iniciar a frutificação a partir de quatro anos (planta enxertada) ou seis anos (pé-franco), em ambos os casos, após o plantio (SACRAMENTO et al., 2007).

Cultura de tecidos. A cultura de tecidos é uma ferramenta para cultivar uma planta inteira a partir de uma única célula ou tecido sob condições assépticas. É cultivado em meio sintético em um recipiente adequado sob um ambiente controlado. Estratégias de cultura de tecidos que podem ser utilizadas para a conservação in vitro de culturas de frutas tropicais foram descritas por Sahijram e Rajasekharan (1998). Tem sido amplamente utilizado para muitas espécies diferentes, incluindo mangostão. Alang e Normah (1991) revisaram o uso de técnicas in vitro para propagação do mangostão. A cultura de tecidos tem potencial para uso em mangostão para: (i) conservação de germoplasma, e (ii) micropropagação de materiais de plantio, (iii) reprodução de mutagênese in vitro. Também pode ser usado como avaliação da diversidade.

Como os métodos de propagação vegetativa usados com o mangostão têm mostrado resultados variáveis, vários pesquisadores têm investigado o uso da cultura de tecidos, com graus variados de sucesso (ALMEYDA; MARTIN, 1976). Goh et al. (1988) utilizaram explantes de plântulas assepticamente germinadas em seus estudos in vitro sobre a micropropagação do mangostão. Brotos em proliferação foram obtidos de segmentos de cotilédones cultivados em meio modificado de Murashige e Skoog (1962) com 6-benzilaminopurina. Múltiplas gemas axilares e adventícias foram formadas a partir de ápices de brotos e explantes nodais e intermodais, mas segmentos de raiz produziram poucas gemas. Os brotos foram enraizados por tratamento com ácido indol-butírico e foram prontamente estabelecidos em uma mistura de vermiculita:areia (1:1).

Goh et al. (1990) mostraram ainda que a benzilaminopurina (BAP) produziu um ótimo desenvolvimento de brotos a partir de explantes de plântulas, mas concentrações mais altas causaram brotos agrupados e atrofiados. Quando foram utilizadas folhas de árvores maduras que passaram de vermelho para verde, a frequência de formação de brotos diminuiu. O número de gemas vegetativas formadas foi maior em folhas vermelhas de plântulas, em comparação com folhas vermelhas jovens retiradas de árvores adultas. Plântulas de explantes de plântulas foram aclimatadas com sucesso e estabelecidas no solo.

CONDIÇÕES EDAFOCLIMÁTICAS

1-Restrições à propagação do mangostão

As árvores de mangostão passam por uma fase juvenil que pode durar de 12 a 20 anos, embora um bom manejo resulte em árvores frutíferas em 5 a 7 anos após o plantio. A árvore tem uma ecologia rigorosa que a limita a 10°N e 10°S do equador (mas até 18° em áreas sem geadas), por exemplo, Malgaxe (Madagascar) e Queensland (Austrália). Uma curta estação seca é necessária para estimular a floração, mas o mangostão pode florescer duas vezes por ano ou esporadicamente e erraticamente. A precipitação anual de 1.270 mm é necessária e a faixa de temperatura ideal é de 25-35 °C com umidade relativa acima de 80% (KRISHNAMURTHI; RAO, 1962; BOURDEAUT; MOREUIL, 1970).

Em termos de exigências agroclimáticas, o mangostão prefere solos profundos, férteis, bem drenados e ligeiramente ácidos com elevado teor de matéria orgânica. As plantas não crescem bem em solos com pH alto. A árvore está adaptada a chuvas fortes e bem distribuídas. O mangostão requer alta umidade e precipitação anual de 1.200 mm ou mais, sem períodos secos prolongados. Algumas das plantas produtivas do mangostão são encontradas crescendo perto das margens de riachos, lagos, lagoas ou canais onde suas raízes estão quase constantemente úmidas. No entanto, as plantas requerem um curto período de seca para a indução de flores. A faixa de temperatura ideal é de 25ºC a 35°C. As exigências agroclimáticas do mangostão em comparação com outra fruta tropical (manga) são mostradas na Tabela 5.

Tabela 5. Exigências agroclimáticas do mangostão em comparação a mangueira.

Espécies

Altitude

(m) Requerimentos climáticos

Chuvas

(mm) Ótimo de

Temp. (°C) Duração da estação

seca Requerimento agronômico pH

Mangostão 0-600 >1.300 25-23 Nenhum ou curto 5.5-6.8

Manga 0-700 1000-2000 24-27 4 meses para floração 5.0-7.5

Fonte: UDPSM (2002).

1-Condições climáticas

Precipitações. O mangostão parece exigir um abastecimento de água ininterrupto com uma curta estação seca de 15 a 30 dias, esta última sucedendo ao iniciar a floração.

O ideal é que as chuvas sejam bem distribuídas ao longo do ano. Tem sido relatado que uma precipitação anual acima de 1.270 mm é necessária (FIRMINGER, 1869). Dede Juanda e Bambang Cahyono (2000) relataram uma precipitação adequada de 1.270-2.500 mm por ano, favoravelmente com dez meses úmidos.

No cultivo do mangostão parece que qualquer estresse devido ao déficit hídrico deve ser evitado e a irrigação pode ser necessária de tempos em tempos e especialmente durante a estação seca. É importante frisar que as árvores de mangostão podem resistir a algum alagamento, mas não à seca.

No entanto, as árvores de mangostão podem crescer com sucesso em outras áreas quando um suprimento constante de água é fornecido através da irrigação, especialmente durante a estação seca (OCHSE et al., 1961; PALMA GIL et al., 1972; VIETMEYER et al., 1975). Nas Filipinas, árvores frutíferas também podem ser encontradas onde a chuva não é distribuída uniformemente (GALANG, 1955).

Temperatura. O mangostão prospera na faixa de temperatura de 25-35 °C quando a UR é superior a 80% (BOURDEAUT; MOREUIL, 1970), mas uma faixa de 20-25 °C também é aceitável para o seu cultivo (VIETMEYER et al., 1975). Dede Juanda e Bambang Cahyono (2000) relataram uma faixa de temperatura adequada de 25-32 °C, mas o crescimento é afetado quando a temperatura cai abaixo de 25 °C. Temperaturas abaixo de 5 °C e acima de 38-40 °C são letais e como o crescimento é retardado em

temperaturas de 15-20 °C, portanto, tal condição não é recomendado para plantar.

Intensidade da luz solar. O sombreamento é essencial durante os primeiros 2-4 anos de crescimento, tanto no viveiro quanto durante o início do estabelecimento no campo (NAKASONE; PAULL, 1998). Não há relatos de resposta ao fotoperíodo. A taxa fotossintética é constante em uma faixa de temperatura de 27-35 °C, sob 20-50% de sombra (WEIBEL et al., 1993). Dede Juanda e Bambang Cahyono (2000) afirmaram que a intensidade da luz solar adequada é de 40-70%. As folhagem e frutos são suscetíveis a queimaduras solares sob luz solar direta (VERHEIJ, 1992).

No Sudeste Asiático, o sombreamento é oferecido a árvore de mangostão por outras árvores nos tradicionais pomares de fruteiras em plantios de sistemas de policultivos ou consorciados. Em algumas plantações na Malásia, fileiras alternadas de Indigofera sp. foram cultivadas para fornecer a sombra necessária nos primeiros anos de seu estabelecimento. Por outro lado, Hackett e Carolane (1982) afirmaram que as árvores de mangostão florescem tanto em dias longos quanto curtos, embora os cultivos mais produtivos geralmente sigam a floração de dias longos.

Vento: As árvores de mangostão têm uma estrutura de galhos bastante compacta e de grande ângulo e, portanto, raramente estão sujeitas a danos causados pelo vento. No entanto, em condições expostas, as folhas e os frutos podem ser rasgados ou machucados por ventos fortes e a presença de um quebra-vento é recomendada onde essas condições são prováveis de ocorrer, como nas Filipinas, onde os tufões são predominantes. Um risco adicional é que ventos fortes reduzam o nível de umidade relativa ao redor das árvores; observou-se que um alto nível de umidade é essencial para que ocorra um crescimento satisfatório (YAACOB; TINDALL, 1995).

2-Condições edáficas.

O mangostão pode crescer com sucesso em uma ampla variedade de solos (CAMPBELL, 1967; ALMEYDA; MARTIN, 1978). No entanto, a árvore não está adaptada a solos calcários, solos aluviais arenosos ou solos arenosos com baixo teor de húmus. São favoráveis ao crescimento do mangostão, alto teor de matéria orgânica e pH ótimo ente 5,5 a 7,0.

Os melhores solos para o cultivo do mangostão são porosos, profundos, úmidos, mas bem drenados, ligeiramente ácidos, franco-argilosos e, preferivelmente, com alto teor de matéria orgânica (GALANG, 1955; ALMEYDA; MARTIN, 1978; DEDE JUANDA; BAMBANG CAHYONO, 2000). Apesar de um sistema radicular relativamente fraco, as árvores podem tolerar solos pesados que impedem o movimento da água, desde que a transpiração seja limitada pela alta umidade e sombra. Sob condições secas, a irrigação é necessária, e coberturas mortas (grossas) são muito benéficas (VERHEIJ, 1992).

De acordo com Sacramento et al. (2007), o mangostão cultivado no Brasil adapta-se bem em solos profundos argilo-arenosos, bem drenados e, preferivelmente, com alto teor de matéria orgânica. Em Una (BA), o mangostão é cultivado em Latossolos Vermelho-

Amarelos, considerados de baixa fertilidade natural. No Estado do Pará, os plantios estão estabelecidos em Latossolo Amarelo.

SISTEMA DE PRODUÇÃO

Para o cultivo do Garcinia mangostana deve aplicar as melhores condições agronômicas ao longo do seu ciclo vegetativo, visando obter um elevado desenvolvimento da árvore e sua maior produtividade em poucos anos (6-8 anos).

ESCOLHA DA ÁREA

Na escolha da área, para investimento em cultivo de mangostão, o produtor deve avaliar, além dos aspectos edafoclimáticos, os aspectos estratégicos de localização da propriedade em relação ao mercado consumidor e a proximidade de outros produtores, visando à formação de volume em larga escala para comercialização em grandes centros. Considerando que o mangostanzeiro inicia a frutificação somente a partir de seis a oito anos, após o plantio, o produtor deve planejar o preparo da área para a exploração de outros cultivos de produção mais precoce, para consórcio durante o período improdutivo dessa frutífera, objetivando reduzir os custos de implantação e propiciar maior proteção do solo. Uma das opções utilizadas com ótimo resultado, durante os quatro primeiros anos de crescimento do mangostanzeiro, é o consórcio com a bananeira.

ANÁLISE DE SOLO E CALAGEM

Antes de preparar o local do pomar, é aconselhável avaliar o perfil do solo e analisar a camada do solo da zona de enraizamento. Para garantir que a amostra de solo seja representativa da parcela, ela deve ser retirada de pelo menos cinco pontos uniformemente distribuídos. Pegue as amostras até uma profundidade de 50 cm, descartando a camada de grama, e depois misture-as. Separe 1-2 kg de solo, coloque-o em um saco plástico e envie-o ao laboratório para testes físico-químicos.

Geralmente, é difícil corrigir características químicas atípicas no solo, embora algumas medidas possam ser tomadas para melhorar os casos graves. Para baixar o pH do solo pode ser útil aplicar aditivos acidificantes como enxofre e matéria orgânica, esterco e adubo verde, que tornam o carbonato de cálcio solúvel, formando ácidos orgânicos e dióxido de carbono. O carbonato de sódio está presente em solos com pH superior a 8,3 e evita a floculação da argila e a estruturação das partículas; como resultado, o solo é

duro, asfixiante e impermeável. Três a dez toneladas de gesso (sulfato de cálcio) por hectare são aplicadas para remediar este problema. Isso libera Ca, que desloca o sódio para fora do complexo de troca, que então precisa ser lixiviado. De outra forma, a correção da acidez do solo deve ser feita para elevar o pH do solo para 5,5 -7,0 (pH ideal para o mangostão), a uma profundidade mínima de 40 cm em área total. A aplicação do corretivo de acidez deve ser feita com calcário dolomítico.

PREPARAÇÃO DO SOLO

O preparo do solo para o cultivo do mangostão, quando realizado de forma correta desempenha um importante papel para o transplantio de mudas, e no posterior crescimento e desenvolvimento lento das plantas, principalmente por se trata de uma espécie perene. Por este motivo, é necessário avaliar sua viabilidade econômica em função de três tipos de situações: sem preparo, preparo mínimo e preparo total do campo. Sem preparo. É raro que as sementes sejam semeadas diretamente no pomar, embora em hortas domésticas isso às vezes seja praticado; mais frequentemente as mudas são transplantadas. O plantio da área de mangostão poderá ser realizado no início do inverno com mudas de 2 anos, as quais são preparadas no viveiro e, para garantir sua sobrevivência as condições adversas, recomenda-se fazer o sombreamento das mudas em cada cova. No plantio de um pomar é preciso lembrar que as árvores maduras exigirão um espaço de 40 a 80 m² por árvore. Altas taxas de matéria orgânica no solo são recomendadas, e as práticas normalmente seguem as recomendações para outras culturas (MARSHALL; MARSHALL, 1983). A matéria orgânica pode ser incorporada nos locais de plantio 6-9 meses antes do plantio.

Preparo mínimo. O preparo mínimo do solo para a semeadura do magostão poderá ser realizado apenas nas linhas de plantio com aração mecânica. Se houver necessidade de acesso a equipamentos, uma nova limpeza de terreno pode ser feita usando um trator para remover plantas grandes junto com suas raízes. O uso de uma escavadeira pode causar compactação do solo e a aração profunda subsequente precisa ser realizada após a limpeza do terreno. Sob condições médias do solo, uma passada de aração de disco (ou escarificação profunda) seguida de gradagem é suficiente para atingir a preparação do solo desejada (OSMAN; MILAN, 2006).

Preparo do solo em toda área. A aração e gradagem com o trator podem ser feitas em toda área a ser cultivada com o mangosteiro no início da estação úmida, mas tal procedimento só é viável quando se pretende aproveitar os espaços livres para o plantio consociado com outras espécies.

TRANSPLANTE DE MUDAS

As mudas estão prontas para serem transplantadas para o campo quando tiverem cerca de 2 anos de idade. As covas de plantio são abertas com um tamanho mínimo de 60 x 60 x 60 cm. Em algumas operações comerciais, covas maiores são abertas cerca de um mês antes do transplante (dimensão da cova de 1,2 m x 1,3 m). A matéria orgânica pode ser misturada com o solo superficial e usada para preencher a cova de plantio ao redor da muda. A adição de fosfato (por exemplo, na quantidade de 100 g/cova) é recomendada. Varas de bambú são usadas como tutores das mudas nos estágios iniciais (OSMAN; MILAN, 2006). Várias recomendações para reduzir a lesão radicular no transplante foram feitas por Almeyda e Martin (1976). O período para atingir o estágio de duas folhas varia e depende do tamanho da semente, do vigor da semente, do tipo de meio e das condições de crescimento. A taxa de sobrevivência dos transplantes foi observada declinando com o aumento da idade das mudas (HORN, 1940). O crescimento lento das plântulas é geralmente atribuído a um sistema radicular fraco, caracterizado pela ausência de pêlos radiculares e desenvolvimento radicular lateral deficiente.

É importante destacar que as mudas provenientes de polybags ou com um grande torrão do viveiro são transplantadas com o mínimo de perturbação possível para o sistema radicular. As mudas de mangostão têm uma raiz principal longa e delicada e um sistema radicular lateral ruim. Muitas falhas de mudas podem estar relacionadas a danos na raiz principal durante o transplante. Também é recomendado, mas raramente praticado, que as folhas das mudas sejam podadas ao meio para evitar danos indevidos às folhas (HORN, 1940a). As falhas também se devem à superexposição das mudas ao sol direto durante o transplante (OCHSE et al., 1961).

Em condições favoráveis, com irrigação regular e sombreamento adequado, as plantas podem atingir uma altura de 30-35cm e desenvolver uma área foliar superior a 200 cm2 após um ano; a taxa de crescimento é considerada a mais lenta de quase todas as mudas de frutas tropicais que têm um período juvenil prolongado.

Em algumas áreas, as sementes são semeadas diretamente em sacos de polietileno de 18 cm x 10 cm e posteriormente transferidas para sacos de 30 cm x 19 cm, normalmente após o desenvolvimento do segundo par de folhas, o que pode ocorrer três ou quatro meses depois (BORDEAUT;MOREUIL, 1970). As mudas podem ser transplantadas para o pomar após 1-2 anos, quando atingirem aproximadamente 45-60 cm de altura.

Devido ao sistema radicular pouco desenvolvido, no entanto, recomenda-se que o transplante seja realizado quando as mudas não tiverem mais de 60 cm de altura, pois a raiz principal pode estar bastante desenvolvida nessa época. O uso de antitranspirantes, para reduzir a perda de água estomática, também tem sido sugerido. A seleção de plântulas vigorosas nos estágios iniciais de crescimento garante a sobrevivência de árvores de crescimento vigoroso (ALMEYDA; MARTIN, 1976).

TUTORAMENTO

Embora as árvores de mangostão sejam geralmente robustas, as mudas jovens, principalmente aquelas cultivadas à sombra, podem precisar de suporte por estacas ou tutores. Estes são melhor inseridos no momento do plantio para que o sistema radicular não seja danificado; isso poderia ocorrer se as estacas fossem cravadas no solo posteriormente. As estacas devem ter pelo menos 1 m de altura e deve-se tomar cuidado para evitar que a muda se atrite contra a estaca, envolvendo o tronco com uma faixa protetora de juta ou outro material disponível onde for amarrado à estaca.

SOMBREAMENTO

O sombeamento deve ser fornecido rapidamente e é fundamental durante os primeiros dois anos de estabelecimento. As plantas de mangostão requerem cerca de 30-50% de sombra para protegê-las do sol quente e evitar que as folhas se queimem (MOA, 2002). A sombra pode ser fornecida usando cestas de bambu que são colocadas de cabeça para baixo em um tripé acima das mudas (Figura 35). O tapume (cesta de bambu) da sombra deve estar 1,2-2 m acima do nível do solo (cesto suspenso por estacas ou tripé). As cestas podem fornecer a sombra necessária por cerca de dois anos, pois duram tanto tempo.

Figura 35. Plantas jovens de mangostão receberam a sombra necessária no campo usando cestas de bambu (MARDI). Foto: Osman; Milan (2006).

O sombreamento deve ser fornecido pelo menos nos primeiros seis meses após o plantio. Outros materiais como folhas de coqueiro, folhas de dendê, folhas de bananeira ou gramíneas também podem ser usados para dar sombra às mudas (Figura 36). Folhas de palmeira são frequentemente usadas como sombra; elas são muito adequadas para o efeito, pois as folhas vão secando gradualmente, permitindo que as mudas fiquem endurecidas.

Figura 36. Uma planta jovem de mangostão que recebeu a sombra necessária com folhas de coqueiro (MARDI). Foto: Osman; Milan, 2006.

Já foi mencionado que uma cultura temporária de sombra, que também pode fornecer uma renda em dinheiro para o produtor, pode ser cultivada como uma cultura de entrelinha. Culturas como banana e mamão podem ser estabelecidas cerca de seis meses antes do plantio das mudas de mangostão. No entanto, essas culturas de sombra devem ser removidas dois a três anos depois, antes de começarem a competir com as mudas de mangostão. Alternativamente, o sombreamento pode ser obtido com povoamentos mistos (policultivos), com culturas como banana, rambutâ, durião e coco, distanciadas pelo menos a 1,5 m da árvore do mangostão. Os pomares de mangostão florescem muito bem sob o coqueiro (Figura 37). Em áreas com estação seca pronunciada, é uma boa prática cultivar sempre o mangostão sob sombra parcial.

Figura 37. Plantas de mangostão cultivadas sob coqueiros para aproveitar a sombra natural (MARDI). Foto: Osman; Milan, 2006.

A sombra é mantida até 2-4 anos e depois é gradualmente reduzida para permitir a exposição total ao sol (FAIRCHILD, 1915; HUME, 1947; GONZALEZ; ANOOS, 1951; ALMEYDA; MARTIN, 1978). No entanto, em algumas condições climáticas, por exemplo em Mindanao, Filipinas, o mangostão já bem estabelecido pode ser transplantado definitivamente ao ar livre, sem sombra (Figura 38). Ao considerar um pomar, é melhor verificar a prática local para sombreamento usada pelos produtores da região.

Figura 38. Pomar de mangostão jovem sem sombra com mais de 4 anos de idade. Foto: Yaacob; Tindall (1995).

As mudas que são transplantadas também requerem cobertura morta. A cobertura morta deve ser feita logo após o transplante. Uma cobertura pesada ao redor da planta é uma boa alternativa para o controle de ervas daninhas. A cobertura é aplicada a 30 cm da base do tronco até a extensão do dossel (HUME, 1947). Durante qualquer estação seca, a área ao redor da base da planta deve ser coberta com cobertura morta para manter o solo continuamente úmido (FAIRCHILD, 1915; HUME, 1947; ALMEYDA; MARTIN, 1978). Cachos de frutos de dendezeiros vazios, cascas de coco e gramíneas secas são coberturas úteis. As culturas de cobertura (Crotalaria sp., feijão-fradinho, kudzu tropical, etc.) também ajudam.

ÉPOCA DE PLANTIO

O plantio no campo deve ser feito no início da estação chuvosa ou inverno. Isso evita danos, pois as mudas são sensíveis a condições secas. Também neste momento não há necessidade de irrigação suplementar.

ESTABELECIMENTO DO CAMPO: PLANTIO

O plantio em áreas com irrigação suplementar pode ser efetuado em qualquer época do ano, enquanto em áreas não irrigadas deve ser realizado no início do período de chuvas. As covas devem ter dimensões aproximadas de 40 cm x 40 cm x 40 cm e podem ser abertas com dragas manuais ou enxadões ou, mecanicamente, com broca perfuratriz de 18 polegadas de diâmetro atrelada à tomada de força de um trator. No último caso, há riscos de compactação das paredes laterais, principalmente em solos argilosos, sendo necessário que, após a abertura, efetue-se raspagem das paredes laterais com uma pá reta. As covas devem ser adubadas com 200 g de superfosfato simples e 10 a 20 litros de esterco.

Caso o plantio seja efetuado em pleno sol, ou seja, sem uma cultura para sombreamento provisório, é necessário proteger as plantas da radiação solar direta. Isto pode ser feito com folhas de palmeiras. O mangostanzeiro cresce melhor nos dois primeiros anos após o plantio, com nível de sombra em torno de 50%.

ESPAÇAMENTO

Em pomares mistos com outras frutas, como durian, rambutan ou coco, é permitida consorcia desde que obedeça uma área de 40-80 m² por planta de mangostão e são plantadas no espaçamento de 8-10m (110-140 plantas/ha). Recomenda-se um espaçamento de 11-12 m se for necessário o acesso ao pomar de algum tipo de equipamento. No cultivo comercial, o plantio quadrado é recomendado para o mangostão, mas vai depender da densidade de plantio, do tipo de material de plantio utilizado, profundidade e qualidade do solo, topografia e irrigação. O espaçamento para mudas de mangostão propagadas a partir de sementes é recomendada em 7 m x 7 m, totalizando 200 plantas por hectare. Outros espaçamentos de 6 m em linha e 6-8 m entre fileiras também são utilizados, totalizando 280 plantas por hectare (OSMAN; MILAN, 2006).

IRRIGAÇÃO

O mangostão é sensível a ambientes muito úmidos ou muito secos. Quanto plantada em região que não tem chuvas uniformemente distribuídas ao longo do ano, um sistema de irrigação intenso é recomendado para fornecer água durante os meses secos. As plantas de mangostão podem se beneficiar de irrigação suplementar, mesmo que sejam plantadas em áreas bastante úmidas. O sistema radicular do mangostão carece de pêlos radiculares (HUME, 1947); consequentemente, há pouco contato com o solo para absorção eficiente da água. Por esta razão, a planta requer um suprimento constante e abundante de água no solo (FAIRCHILD, 1915; HUME, 1947; GONZALEZ; ANOOS, 1951; OCHSE et al., 1961; ALMEYDA; MARTIN, 1978). No entanto, na fase de muda, a água parada pode matar as plantas (POPENOE, 1928). A grande necessidade de água é indicada naturalmente por algumas árvores de mangostão mais frutíferas que crescem nas margens de riachos, lagos, lagoas ou canais onde as raízes estão quase constantemente molhadas (POPENOE, 1928). A escolha correta do sistema de irrigação é essencial, pois um sistema inadequado pode levar à erosão do solo, alagamentos e também aumentar o custo de produção. Alguns sistemas de irrigação, como irrigação por gotejamento, irrigação por microaspersores, podem ser ideais dependendo do tipo de solo, topografia, fonte de água, espaçamento de plantio e custo. O sistema de irrigação por gotejamento fornece água diretamente para a zona radicular das árvores através de uma rede de tubos (Figura 39). A principal vantagem deste sistema é a economia de água, uma vez que a perda de água por evaporação é mínima em comparação com outros sistemas de irrigação.

Figura 39. Árvore jovem com sistema de irrigação por gotejamento. Foto: Yaacob; Tindall (1995).

A irrigação por gotejamento, o uso de microjato e aspersores de baixa pressão podem ser considerados métodos práticos de aplicação de irrigação e fertilizantes solúveis, incluídos no sistema de irrigação, parecem ser um método eficaz para garantir um suprimento adequado de macro e micronutrientes.

A prática geral no Sudeste Asiático parece irrigar as árvores a cada duas semanas durante a estação seca e considera-se que as árvores se beneficiam da irrigação suplementar, mesmo em áreas relativamente úmidas (VERHEIJ, 1991). Coberturas pesadas são geralmente consideradas valiosas na conservação da umidade do solo, mas a irrigação é considerada necessária, mesmo com pequenos déficits de solo/água. Atualmente, as quantidades específicas de necessidade de água em diferentes estágios de crescimento das plantas ainda não foram estabelecidas. Algumas práticas são indicadas abaixo:

Na fase de canteiro. As plântulas em polybags são regadas duas vezes ao dia, uma vez pela manhã e outra à noite. É importante que a mistura de solo usada no polybag não seja muito compacta, pois pode ocorrer alagamento ou encharcamento.

No estabelecimento de campo. Se o transplante não for realizado durante o início da estação chuvosa, é necessário um sistema de irrigação para evitar o choque do transplante. No entanto, a rega contínua deve ser evitada porque muita água pode causar um crescimento atrofiado.

Floração e frutificação. Condições secas imediatamente antes e durante a floração podem ser desejáveis para induzir uma boa frutificação. Artificialmente, um período seco contínuo de 15-30 dias (para limitar o crescimento de gemas apicais) seguido de duas regas pesadas, espaçadas de 7 dias, pode ser imposta às árvores para induzir a floração. A rega regular é então necessária durante o crescimento e desenvolvimento dos frutos, com pelo menos 80-85% da evaporação do tanque - ET0 (KANCHANAPOM; KANCHANAPOM, 1998) (Figura 40). Uma quantidade insuficiente de água pode retardar severamente o desenvolvimento dos frutos. O excesso de água tende a resultar em árvores formando novos brotos. As plantas que formam novos brotos durante a frutificação resultam em frutos pequenos ou abortados.

Figura 40. Etapas requeridas para induzir a floração em mangostão na Tailândia. Fonte: Salakpetch (1996).

CONSORCIAÇÃO

As indicações de espaçamento para o cultivo do mangostanzeiro no Brasil variam desde 7 m x 7 m até 10 m x 10 m (SACRAMENTO et al., 2007). Em um pomar de 13 hectares, estabelecido no município de Marituba-PA, em espaçamento quadrangular de 10 m x 10 m, consorciado com rambuteiras plantadas a 5 m de distância dos mangostanzeiros (100 mangostanzeiros e 300 rambuteiras), somente depois de 20 anos houve comprometimento na produção de mangostão, devido à sombra excessiva provocada pelas árvores de rambutã. O açaizeiro também vem sendo utilizado por agricultores paraenses e baianos em consórcio com o mangostanzeiro (Figura 41). Nesse caso, os mangostanzeiros são estabelecidos no espaçamento de 10 m x 10 m, com uma fileira de touceiras de açaizeiro, com quatro plantas, distanciadas dos mangostanzeiros em 5 m (100 mangostanzeiros e 300 touceiras de açaizeiro). Esse último consórcio, conquanto não seja recomendado por Sacramento (2001), tem-se mostrado bastante satisfatório, com boa produção de açaí (30 a 40 kg/touceira) e de mangostão (800 a 1.000 frutos/planta).

Figura 41. Consorciação de mangostanzeiro com mamoeiros e araçazeiros em Una, BA. Foto: Célio Kersul do Sacramento (2007).

ADUBAÇÃO

Brasil. Não existem estudos sobre os requerimentos nutricionais do mangostanzeiro, nem recomendações de adubação devidamente consolidadas. Para solos de baixa fertilidade da Amazônia, os seguintes procedimentos são adotados pelos agricultores para pomares implantados com mudas oriundas de sementes, que só entram em fase reprodutiva oito anos após o plantio:

a) Nos três primeiros anos, adubar cada planta com 300 g da formulação NPK 14-14-14 e 20 litros de esterco por planta O adubo químico deve ser aplicado em três parcelas de 100 g, no início, meio e fim do período de chuvas, e o orgânico, no início das chuvas.

b) A partir do quarto e até o sétimo ano, cada planta deve receber 450 g da formulação NPK 14-14-14 e 20 litros de esterco. O adubo químico deve ser parcelado em três aplicações de 150 g, também no início, meio e fim do período de chuvas. A adubação orgânica deve ser realizada no início das chuvas.

c) Quando as plantas entrarem em fase reprodutiva, utilizar a formulação NPK 10-28-20 e 20 litros de esterco. No primeiro ano de frutificação, cada planta deve ser adubada com

500 g dessa formulação e, por ocasião da floração, com 200 g de cloreto de potássio. A adubação com cloreto de potássio tem por objetivo reduzir a incidência do distúrbio fisiológico conhecido como ¨rompimento dos vasos lactíferos¨. Nos anos seguintes, aumentar gradualmente a quantidade de adubo químico, até o máximo de 2,0 kg, mantendo-se sempre a proporção de 5:2, entre a formulação NPK e o cloreto de potássio (CARVALHO, 2014).

Índia. Verificaram-se que as plantas de mangostão respondem bem à adubação (GALANG, 1955), e fertilizantes orgânicos diluídos que podem ser absorvidos lentamente também são considerados desejáveis (HUME, 1947). Na Índia, os produtores foram orientados para dar a cada planta uma adubação orgânica regular com esterco bem fermentado (45-90 kg) e farelo de amendoim (4,5-6,8 kg) todos os anos. Da mesma forma, a aplicação de um fertilizante nitrogenado produz um crescimento vegetativo mais rápido das plantas (OCHSE et al., 1961; PALMA GIL et al., 1972). Os fertilizantes podem ser aplicados em círculo ao redor da base da planta na borda do dossel. Há uma escassez de informações exatas sobre os fertilizantes para o mangostão, no entanto, as seguintes recomendações gerais são sugeridas: 50-100 g de sulfato de amônio é aplicado um mês após o plantio e novamente no final da estação chuvosa ou 6 meses após o plantio. Durante os anos subsequentes de crescimento vegetativo, a quantidade de fertilizante é aumentada gradualmente. Quando as plantas começam a frutificar, são aplicados 500 g de fertilizante completo rico em N e K, uma vez no início e outra no final da estação chuvosa, ou a cada 6 meses. A quantidade de fertilizante é gradualmente aumentada a cada ano à medida que as plantas crescem e a produção de frutas aumenta. As plantas totalmente crescidas devem receber pelo menos 2 kg de fertilizante completo por ano.

O calcário dolomítico é aplicada na proporção de 0,2 kg por planta por ano de idade, sem aumento mesmo após os 15 anos. O esterco de galinha também pode ser aplicado na proporção de 2 kg por planta por ano, pois acredita-se que isso melhora o vigor.

Tailândia. Para a Tailândia, Kanchanapom e Kanchanapom (1998) sugeriram o cronograma mostrado na Tabela 6. Para árvores com 15 anos ou mais, metade é aplicada quando o crescimento vegetativo está sendo estimulado após a colheita dos frutos e o restante é aplicado 2-5 semanas após a antese.

Tabela 6. Um cronograma de fertilizantes do mangostão na Tailândia.

Idade da árvore (ano) Estrume/fertilizante Quantidade por planta (por ano)

Plantas jovens 1-15 anos Estrumo orgânico Dolomítico, N,P,K 200 g, 70 g, 6 g, 50 g

>15 anos

10:10:19 (N:P:K)

Fonte: Kanchanapom e Kanchanapom, 1998.

2-7 kg

Austrália. A programação de fertilizantes que foi usada na Estação de Pesquisa Hortícola Kamerunga (agora fechada), Cairns, Austrália, é apresentada na Tabela 7. Os micronutrientes foram aplicados, principalmente para zinco e ferro. Antes da primeira colheita, a adubação total foi aplicada em quatro partes nos meses de agosto, dezembro, fevereiro e abril.

Tabela 7. Cronograma de fertilizantes anteriormente praticado para mangostão na Estação de Pesquisa Hortícola Kamerunga, Austrália.

Idade da planta (anos) 1-2 Fertilizante por planta por ano (g) (N:P:K) 70:6:50

2-4

4-6 210:18:150

350:30:250

6-8 490:42:350

8-10

Plantas portadoras de sementes

Fonte: Chay-Prove (2004).

630:54:450

700:60:500

CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS

O crescimento extremamente lento torna as mudas de mongostão muito vulneráveis e podem ser rapidamente ultrapassadas por ervas daninhas, portanto, a capina é extremamente necessária. Um programa geral de manutenção, como corte de ervas daninhas e/ou uso de herbicidas de contato, pode ser implementado após 2 anos. Se a cobertura morta foi realizada com sucesso ao redor da base da planta, a capina de coroamento da árvore pode não ser necessária.

Como a sombra fornecida pela árvore pode ocultar as ervas daninhas, são necessárias verificações regulares de tais ocorrências no pomar. Durante o crescimento inicial, as ervas daninhas ao redor do tronco da planta devem ser removidas, tomando cuidado para

não danificar as plantas jovens. Para árvores adultas, as ervas daninhas podem ser controladas pela pulverização de paraquat a 1,0 kg/ha ou glufosinato de amônio a 0,5 kg/ha (MOA, 2002).

Onde os herbicidas estão disponíveis e seu uso é considerado desejável, como em pomares comerciais, a maioria das ervas daninhas anuais e perenes podem ser controladas usando glifosato a uma taxa de 1,5-3,75 kg/ha de ingrediente ativo ou, como pulverização local direcionada a ervas daninhas individuais, a uma taxa de 150 ml em 18 litros de água. O paraquat, que mata a parte aérea de todos os tipos de plantas daninhas, pode ser usado, na proporção de 0,5-1,0 kg/ha, preferencialmente misturado com um surfactante para garantir uma cobertura foliar adequada. A Figura 42 mostra o controle de ervas daninhas pelo uso de herbicidas.

Figura 42. Uso de herbicidas no controle de ervas daninhas (aplicação em coroamento). Foto: Yaacob; Tindall (1995).

As culturas de cobertura leguminosas úteis incluem Crotalaria spp., Pueraria phaseoloides, feijão-fradinho, fava de veludo e fava-de-cavalo. Estas podem ser semeadas uma vez que as árvores de mangostão estejam estabelecidas e devem ser

semeadas novamente a cada 3-4 anos. Deve-se ter o cuidado de garantir que uma distância de pelo menos um metro ao redor da base das árvores seja mantido livre de plantas de cobertura e ervas daninhas, uma vez que o mangostão, como a maioria das outras árvores frutíferas tropicais, é sensível à competição, principalmente durante o início estágios de crescimento. À medida que as árvores amadurecem, o aumento do tamanho da copa restringirá o crescimento das plantas daninhas e das culturas de cobertura entre as árvores (YAACOB; TINDALL, 1995).

Mulching ou cobertura morta. Todas as árvores, especialmente as plantas jovens, responderão bem ao mulching regular, principalmente durante a estação seca. Os mulches restringem o crescimento de ervas daninhas, mantêm uma temperatura do solo relativamente baixa e evitam a perda excessiva de umidade do solo por evaporação. A decomposição de uma cobertura morta também contribuirá para o conteúdo orgânico do solo ao redor da base da árvore. As coberturas podem consistir em grama seca, ervas daninhas, folhas de coco, folhas de bananeira ou quaisquer subprodutos de processamento disponíveis, como casca de coco, café ou amendoim. Em Porto Rico, costuma-se dar às árvores jovens uma cobertura anual, com pelo menos 2,5 cm de profundidade, de esterco bem curtido, aplicada no final da estação chuvosa (WINTERS, 1953).

PODA

A saúde geral das árvores de mangostão, que também está relacionada à sua produtividade, pode ser estimada a partir do tamanho do dossel ou da extensão do dossel. O objetivo da poda é remover a madeira morta para permitir o máximo desenvolvimento de um dossel aberto, remover galhos que podem deixar seus frutos tocar o solo para permitir o acesso de máquinas agrícolas e facilitar a colheita. As árvores jovens precisarão de pouca poda, exceto quando necessário para formar os troncos principais. À medida que as árvores crescem, elas podem precisar imediatamente de poda cuidadosa. O mangostão geralmente termina seu estágio juvenil quando o tronco tem 16 pares de ventosas laterais (chupões laterais ao redor do tronco) e depois cresce em uma copa piramidal. Até então, nenhuma poda é necessária, exceto para remover galhos quebrados ou mortos.

As árvores de mangostão crescem em uma forma piramidal bem formada e normalmente não requerem manutenção durante os anos de formação. No entanto, a poda preventiva para remover galhos fracos e mortos e a poda corretiva para remover galhos de

crescimento ereto e galhos internos menores devem ser realizadas regularmente. A limitação de altura da árvore de 8 a 10 m pode ser desejável, para reduzir a altura da planta a um nível conveniente para a colheita e promover maior desenvolvimento dos ramos laterais. Uma árvore crescendo em condições favoráveis pode ter produzido 16 camadas de galhos a partir do caule principal no momento da primeira colheita, que pode ser de 10 a 12 anos após o plantio.

A poda corretiva regular para remover as ventosas na base do tronco principal, galhos estranhos que crescem na vertical e pequenos galhos internos (internos) é uma boa prática (FAIRCHILD, 1915; HUME, 1947). Devido à altura da árvore adulta e ao fato de os frutos nascerem isoladamente, dificultando a colheita, sugere-se que a poda pode ser útil para limitar a planta a uma altura de 8-10 m, permitindo maior expansão dos ramos laterais.

As árvores produzem fluxos periódicos de crescimento de brotos, até 6 por ano quando em estádio vegetativo e apenas 1 ou 2 por ano quando em estádio de produção. Nenhuma poda deve ser feita quando houver flores, frutos ou fluxos de crescimento de brotos. Ou seja, poda é realizada preferencialmente quando as árvores não estão dando flores, frutos ou folhas novas e a melhor época para podar normalmente é logo após a colheita.

A remoção de ramos fracos, subdimensionados, mortos ou doentes de dentro da estrutura de árvores velhas normalmente resulta na promoção da floração e frutificação. Isto é particularmente verdadeiro para árvores velhas que ficaram improdutivas por vários anos. Os galhos que estão em contato com o solo também devem ser removidos, visando a elevação da “saia” do mangostanzeiro, o que facilita a colheita manual de frutos (Figura 43). Árvores com folhagem densa geralmente produzem frutos apenas nas pontas dos galhos e, consequentemente, muito do seu potencial de frutificação pode ser perdido. Uma poda criteriosa, aumentando a penetração de luz na copa das árvores, é, portanto, uma prática desejável. A poda severa do mangostão pode, no entanto, reduzir consideravelmente o nível de produção (ALMEYDA; MARTIN, 1976). Portanto, o corte drástico das árvores deve ser evitado.

Figura 43. a) Árvores com folhagem densa sem poda de formação e com as pontas dos galhos tocando o solo e b). Árvore podada com elevação da “saia” do mangostanzeiro.

Foto: Hosakatte Niranjana Murthy et al. (2022).

No corte de um galho, a prática normal de três cortes é desejável. O primeiro corte é feito por baixo a cerca de 15 cm do tronco principal. O segundo corte é feito por cima a cerca de 30 cm do corte. Assim, o primeiro corte protege contra rachaduras à medida que o ramo se afasta. O terceiro corte para retirar o toco deve então ser feito no tronco principal ou na bifurcação do galho. A superfície cortada deve ser protegida com um produto (calda bordalesa ou calda sulfocálcica) de poda comercial

Alternativamente, o uso de porta-enxertos anões também tem sido sugerido. Na Tailândia, para as plantas de mangostão que levam de 12 a 20 anos para frutificar, pequenos ramos internos são podados de plantas velhas e improdutivas para estimular a produção.

RALEAMENTO DE FRUTOS

A maior frutificação do mangostanzeiro ocorre nos ápices dos ramos expostos à luminosidade. Geralmente cada ápice de ramo apresenta apenas um fruto, entretanto podem ocorrer dois ou mais frutos por ápice ou mesmo em gemas perto do ápice, causando competição e gerando frutos de menor tamanho (Figura 44). Neste caso, o produtor deve manter somente o fruto localizado no centro. O raleamento tem como objetivo reduzir o número de frutos na árvore para estimular a produção de frutos maiores e com peso médio de 130 a 140 gramas, os quais obtêm melhores preços no mercado. A eliminação do excesso de frutos deve ser feita logo após a antese, não apresentando nenhuma vantagem quando aplicada a partir de determinado estádio de desenvolvimento do fruto (SACRAMENTO et al., 2007).

Figura 44. Ápice de ramo de mangostanzeiro com três frutos. Foto: Célio Kersul do Sacramento (2007).

DOENÇAS E PRAGAS

É importante destacar que o mangostão não parece sofrer ataques graves das principais pragas e doenças (HUME, 1947).

1. Doenças

As seguintes doenças foram relatadas por Sacramento et al. (2007) atacando o mangostanzeiro no Brasil: Queima-do-fio (Koleroga noxia) e murchado mangostanzeiro.

Queima-do-fio (Koleroga noxia). Essa doença tem sido relatada em plantios de mangostão do Pará, não havendo registros de sua ocorrência em plantios na Bahia (Figura 45). De acordo com Almeyda e Martin (1976), a queima-do-fio é comum em mangostanzeiros cultivados em Porto Rico, sendo encontrada também em cacaueiro, cafeeiro e seringueira, ocorrendo quando há excesso de sombra e umidade. A fase vegetativa do fungo ocorre como um filamento, que primeiro começa sobre os ramos menores. Quando o fungo alcança as folhas, forma um filme esbranquiçado sobre o limbo e então os ramos jovens são cobertos pelo filamento. Alguns frutos, principalmente aqueles em desenvolvimento, são cobertos com o filamento e secam. As folhas começam a perder o brilho, tornam-se marrom-claras e eventualmente de coloração marrom-escuras ou mesmo negras. Neste estágio, elas se desprendem do ramo, porém permanecem suspensas por um fio semelhante à teia de aranha, o que constitui a melhor característica para o seu mangostanzeiros acima de 15 anos, em espaçamento de 10 m x 10 m, pode-se considerar como boa produção 600 frutos por planta, o que resultaria em uma produtividade de 6 t.ha-1 .

FIGURA 45. Folhas do mangostanzeiro com sintomas de ataque de queima-do-fio. Foto: Célio Kersul do Sacramento (2007).

Murcha do mangostanzeiro. Na região sul da Bahia, a murcha do mangostanzeiro tem se constituído no principal problema fitossanitário dessa espécie frutífera. A doença tem sido detectada principalmente em mangostanzeiros frutíferos, e as plantas atacadas caracterizam-se por apresentar sintomas iniciais de amarelecimento, queda de folhas e murchamento dos frutos. Em menos de 1 mês, após os primeiros sintomas, a planta fica com aspecto de queimada e reduzida apenas a ramos secos (Figura 46). O ataque tem sido observado em mangostanzeiros frutíferos nos municípios de Una, Taperoá, Ituberá e Tancredo Neves, tanto em plantios comerciais como em plantas isoladas. Amostras de raízes de plantas atacadas foram analisadas no Labotatório de Fitopatologia do Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/ CEPLAC) e, de acordo com Bezerra et al. (2003), foram encontrados diversos fungos associados às raízes de mangostanzeiros atacados: Mycoleptodiscus sp, Lasiodiplodia theobromae, Ganoderma philippi, Fusarium solani, Phytophthora sp., Beltrania e Cilindocladium sp., Xylaria sp., Cytospora sp. e Rosellinia sp. Não há resultados conclusivos, estando o problema em observação. Mudas plantadas nas covas onde houve morte do mangostanzeiro, não apresentam nenhum sintoma da doença na fase vegetativa.

Figura 46. Murcha do mangostanzeiro. Foto: Célio Kersul do Sacramento (2007).

Outras doenças que causam problemas ao mangostanzeiro, como cancro-do-tronco e podridão-marrom-da-raiz, são relatadas por Yaacoob e Tindall (1995).

Cancro-do-tronco (Zignoella garcineae P. Henn.). Na Malásia, esse fungo provoca a formação de galhas em ramos novos, as quais avançam para ramos adultos e, eventualmente, provocam a morte da parte infectada. Em casos sérios de infecção, a planta pode morrer, por isso, recomendam-se o corte e a queima da parte afetada, para prevenir a dispersão da doença.

Podridão-marrom-da-raiz (Phellinus noxius (Córner) G. H. Cunn) e podridão-

vermelha-da-raiz (Ganoderma sp.). Essas doenças, que ocorrem na Malásia, causam sérios problemas ao cultivo do mangostanzeiro. Ambas resultam de infecções das raízes, pelo contato com esporos de tocos podres de cultivos anteriores. As lesões desenvolvemse no tronco e são seguidas pelo murchamento das folhas. O controle consiste, principalmente, em remover ou queimar os troncos derrubados, antes da implantação do cultivo. As lesões marrons das raízes podem ser tratadas com fungicidas.

Duas doenças generalizadas, tais como: cancro do caule e fuligem estão discriminadas na Tabela 8.

Tabela 8. Principais doenças do mangostão e seu controle.

Doenças

Cancro do caule,

Zignoella garcineae.

Fuligem, Corticum salmonicolor. Danos A doença ataca ramos e caules. As folhas murcham e caem causando a morte da planta. As hastes tornamse cancerosas. As plantas atacadas por este fungo devem ser completamente erradicadas, as partes infectadas devem ser queimadas para impedir a propagação da doença.

Ataca os galhos, fazendo com que as folhas murchem, sequem e morram. As áreas afetadas ficam rosadas. Melhorar a aeração e a penetração da luz solar por meio da poda de ramos sobrepostos reduzirá a infecção. Raspe e pinte a parte afetada com Tridemorth (Calicin).

Fonte: Mohd. Khalid and Rukayah (1993).

Controle

A queima de fios, causada por Pellicularia koleroga, foi registrada em Porto Rico, EUA e em outros lugares sob condições de excesso de sombra e umidade (ROGER, 1951). As hastes menores são atacadas primeiro e a doença torna-se severa quando ataca as folhas, formando uma película esbranquiçada sobre a lâmina. As folhas ficam marrom-claras e depois escurecem antes da abscisão. A remoção de alguma sombra e a aplicação de calda bordalesa ou outros fungicidas de cobre podem ser usados para controlar a doença.

As doenças fúngicas da mancha foliar causadas por espécies de Pestalotia e Leptostoma podem causar danos menores (ROGER, 1951; SU, 1993).

Ocasionalmente, antracnose e doença bacteriana da bainha foliar foram registradas. O controle é possível com fungicidas comuns.

Botryodiplodia theobromae, uma podridão de frutos, não ataca as árvores, mas pode ser um problema para a podridão de pós-colheita.

2. Pragas

As seguintes pragas foram relatadas por Sacramento et al. (2007) atacando o mangostanzeiro no Brasil: abelha-arapuá ou abelha-cachorro (Trigona spinipes), ácaros (Tetranichus sp.), tripes (Thrips sp.), etc.

Abelha-arapuá ou abelha-cachorro (Trigona spinipes). Essas abelhas danificam os botões florais e o fruto em crescimento, causando ferimentos na sua superfície. Dessas feridas, exsuda uma resina amarela, conferindo ao fruto um aspecto rugoso. Os danos causados pelas abelhas-arapuá são externos e não afetam a parte comestível dos frutos, entretanto estes ficam com o aspecto visual comprometido, é rejeitado por mercados mais exigentes. A medida mais viável de controle dessa praga consiste na eliminação de seus ninhos, num raio de 500 m do pomar. Porém, essa prática não é de fácil execução (SACRAMENTO et al., 2007).

Ácaros (Tetranichus sp.). O mangostão atacado por ácaros apresenta, externamente, aspecto ferruginoso. Embora não haja dano interno e não seja limitante à comercialização, o aspecto ferruginoso dificulta a colheita e a classificação dos frutos quanto ao estágio de maturação (Figura 47). Em outras frutíferas, recomendam-se inspeções periódicas para detectar a presença de ácaros, utilizando-se de uma lente de aumento (10x) e, em caso de danos econômicos, tem sido utilizada a aplicação de acaricidas específicos e enxofre. No caso do mangostanzeiro, apesar dos danos causados, não tem sido aplicado nenhum produto para controle dos ácaros e, especificamente no caso de aplicação do enxofre, pode comprometer a qualidade do fruto, na comercialização, pelo odor desse produto químico.

Figura 47. Mangostão com sintomas de ataque por ácaros. Foto: Célio Kersul do Sacramento (2007).

Tripes (Thrips sp.). O ataque de tripes ocorre em plantios do Pará, sendo a maior frequência no período de estiagem, e os sintomas nos frutos atacados assemelham-se aos danos provocados por ácaros (Figura 48).

Figura 48. Mangostão danificado por Tripes. Foto: Célio Kersul do Sacramento (2007).

Além dessas pragas, em outros países produtores, as formigas, tripes, ácaro vermelho, cochonilhas, morcegos, ratos e nematoides têm sido relatados como problemas no cultivo do mangostanzeiro (YAACOOB; TINDALL, 1995). Casos isolados de infestação por ácaros e cochonilhas também foram relatados.

Formigas. Uma praga comum, relatada em Porto Rico e em outros lugares, é uma pequena formiga, Myrnelachista ramulorum Wheeler. Essas formigas, que têm tórax amarelo e cabeça e abdômen azul-escuro, vivem em grandes colônias nos galhos das árvores e em tocos velhos e em decomposição. Eles perfuravam túneis longos e irregulares através do tronco central da árvore e estes também podem se estender até os galhos vivos, causando o murchamento nos meristemas apicais ou nos pontos de crescimento (danificando o novo crescimento). As plantas às vezes são estimuladas a desenvolver uma massa de folhagem densa. Algum controle pode ser obtido pela poda de galhos mortos, remoção de tocos velhos e pulverização das colônias com malathion.

Tripes (Thrips spp.), ácaro vermelho (Tetranyclnus spp.) e outras espécies de ácaros têm sido relatados como infestando flores e danificando a superfície do fruto, tornando-o inadequado para exportação. Essas pragas são normalmente pulverizadas na floração com pó de enxofre ou carbaril ou organofosfatos.

Escama do coco. As escamas são frequentemente encontradas infestando as plantas adultas. A escama do coco (Aspidiotus destructor Sig.) forma colônias na superfície inferior das folhas, causando o desenvolvimento de manchas amarelas e geralmente reduzindo o vigor.

As lagartas e gafanhotos podem causar alguns danos às folhas. Uma lagarta mastigadora de folhas na Índia pode ser a mesma que ataca novos brotos nas Filipinas (Eupterote favia Cramer) e que foi identificada como Orgyra sp. da família Lymantridae da mariposa touceira. Lagartas de várias espécies podem danificar brotos e folhas jovens e os capsídeos podem desfolhar as plantas (GALANG, 1955).

Besouros amarelos (Hypomeces squamosus F.). Esses insetos mastigadores de folhas foram relatados no norte da Malásia. Em infestações graves, as novas folhas produzidas durante um fluxo podem ser severamente danificadas.

A cigarrinha-do-mato (Onomachus leuconotus Serv.) é uma praga de mangostões na Malásia. Os adultos põem ovos nos galhos e as larvas se alimentam dos tecidos moles dentro do galho. Em infestações severas, os ramos infectados podem apresentar uma séria perda de vigor. Nematoides. Os relatórios publicados sobre a infestação de nematoides em raízes de mangostão são muito limitados, mas foi observado por Chawla et al. (1981) que Tylenchulus semipenetrans Cobb., o nematoide dos citros, foi encontrado em raízes de mangostão cultivados em Tamil Nadu, Índia. As fêmeas adultas foram encontradas aderidas às raízes e os estágios larvais foram encontrados no solo ao redor das raízes. Os efeitos desta infestação no crescimento das árvores não são conhecidos. Apenas algumas pragas de insetos foram relatadas, possivelmente devido à seiva amarga do mangostão. As principais pragas de insetos são lagartas mastigadores de folhas (Stictoptera sp.) que se alimentam de folhas e brotos jovens, o bicho-mineiro (Phyllocnictis citrella) que perfura as folhas e besouros que põem ovos nos frutos e suas larvas se alimentam da polpa e das sementes. As brocas do fruto (Curculio sp.) também são notáveis no distrito de Mantin, Negeri Sembilan, Malásia. Nas Filipinas, a lagartado-mato (Eupterote favia) se alimenta das folhas; a escama do coco (Aspidiotus destructor) forma colônias na face inferior da folha, causando amarelecimento das manchas e prejudicando o crescimento das plantas (GABRIEL, 1975). As três pragas generalizadas estão discriminadas estão na Tabela 9.

Tabela 9. Principais pragas do mangostão e seu controle. Pragas Danos

Mastigador de folhas, Stictoptera sp. (Noctuidae) No estágio larval come folhas e brotos jovens. Muitas vezes ocorre no canteiro. Se a população for alta, a planta ficará desfolhada.

Pulverizar com inseticida sistêmico, como dimetoato e methamidophos. Pulverizar no intervalo de duas semanas.

Bicho-mineiro (Phyllocnictis citrella) (Lyontiidae) As larvas são frequentemente encontradas em brotos jovens. A fase larval faz túneis na epiderme. Adulto uma mariposa. Se a infestação não for grave, o inseto pode ser controlado por agentes biológicos. Se o nível de dano for alto, o controle pode ser realizado por pulverização com methidithion, abamectin e fenthion.

Broca do fruto, Curculio sp. (Curculionidae) O estágio larval ataca os frutos do estágio amadurecimento ao maduro. A broca come o mesocarpo, arilo e semente. Cada fruto pode abrigar até 8 larvas. As larvas saem da fruta para o solo e empupam mais tarde, tornando-se besouros adultos Nenhuma recomendação de controle disponível. Destrua todos os frutos afetados para reduzir a população de besouros no campo.

Fonte: Mohd. Khalid and Rukayah (1993). Controle

PRODUTIVIDADE

Bin Osmán e Milan (2006) relatam que, em condições ótimas de crescimento, na primeira colheita há rendimentos de 100 a 300 frutos de árvore-1 e até 500 em árvores em pleno crescimento. Os mesmos autores apontam que a produtividade tem aumentado entre 1.000 e 2.000 frutos nas árvores após o décimo ano de início da fase produtiva e especificam que, com uma densidade populacional de 15 árvores ha-1, a produtividade é de 4,5 t ha-1 .

Sob condições ideais na Malásia, as árvores de mangostão começam a frutificar 6-8 anos após o plantio. O rendimento varia de árvore para árvore e de estação para estação. A primeira colheita pode render 100-300 frutos por árvore e cerca de 500 frutos em uma árvore totalmente crescida. O rendimento aumenta constantemente até 1.000-2.000 frutos

por árvore nos 10-20 anos de cultivo. Na Tailândia, o rendimento médio em 1987 foi de 4,5 t/ha. Para um peso médio estimado de 75 g por fruto e 150 árvores/ha, isso equivale a 400 frutos por árvore (VERHEIJ, 1992).

Árvores em dois pequenos pomares nas colinas Nilgiri no sul da Índia produziram em média 360 frutos por ano durante um período de 18 anos, as melhores árvores produzindo consistentemente até 500 frutos por ano (VERHEIJ, 1992). Juanda e Cahyono (2000), apontam que na Indonésia, a partir de uma produção inicial de 10 a 20 frutos de árvore-1 aos cinco anos de idade, são registrados aumentos de mais de 1.000 frutos de árvore-1 após 15 anos. Inclusive, são relatados casos de produção de até 1.500 frutos por árvore (KERSUL, 2001).

Na Austrália, os rendimentos são variáveis, e cerca de 400-900 frutos podem ser colhidos de cada árvore adulta (CHAY-PROVE, 2004). Árvores mais velhas (45 anos) podem produzir 3.000 frutos por árvore e então diminuir o rendimento (KANCHANAPOM; KANCHANAPOM, 1998).

No México, Díaz-Fuentes e Picón (2007) relatam que, em uma plantação de 31 anos, a produção média foi de 350 frutos de árvores-1 por ano. Kersul (2001) estima que uma boa produção é aquela em que são obtidos cerca de 600 frutos para cada árvore de 15 anos espaçadas de 10 m a 10 m, o que equivale a uma produtividade de 6 t ha-1 .

Na Indonésia, a produção aumenta de uma média de 10-20 frutos por árvore após o 5º ano para mais de 1.000 frutos por árvore após o 15º ano, conforme mostrado na Tabela 10 (DEDE JUANDA; BAMBANG CAHYONO, 2000).

Tabela 10. Produção de frutos de mangostão de acordo com a idade da árvore na Indonésia.

Idade da árvore Número de frutos produzidos por ano 5 anos 10 - 20

6 anos

7 anos 40 - 60

70 - 90

8 anos

9 anos

10 anos

15 anos em diante

Fonte: Dede Juanda; Bambang Cahyono (2000).

100 - 150

200 - 300

350 - 500

1.000 – 1.500

Normalmente, a árvore do mangostão é pouco perturbada pela colheita, mas uma atenção cuidadosa ao seu estado e cuidados após a colheita são importantes para garantir melhores rendimentos e melhor qualidade dos frutos no ano seguinte. Portanto, as árvores tendem a produzir em anos alternados (VIETMEYER, 1975). Uma safra leve estimada é de 100 frutos por planta, enquanto uma safra pesada é de 500-600 ou mais frutos por planta (FAIRCHILD, 1915; POPENOE, 1928; GALANG, 1955). Rendimentos de 200-800 frutos por planta adulta foram relatados em locais com bons solos e foram observados até 2.000 frutos/árvore. As colheitas médias obtidas são 400-700 frutos/árvore. Com 15

árvores/ha resultará em mais de 4.500 kg + frutos/ha.

PRÁTICAS DE CULTIVO UTILIZADA NA INDONÉSIA

A produção de mangostão na Indonésia é geralmente em pequena escala, e as árvores são frequentemente cultivadas em quintais e em encostas íngremes. Os mangostões são geralmente cultivados consorciados com outras culturas (policultivos), como banana (Musa spp.), coco (Cocos nucifera), mamão (Carica papaya), mandioca (Manihot esculenta) etc., visando proporcionar as plantas juvenis de mangostão o sombreamento durante os primeiros 4 anos de idade.

Os mangostões são propagados a partir de sementes ou por métodos vegetativos, como enxertia e rebento. Novas variedades de mangostão e material de plantio são propagados a partir de sementes certificadas registradas no Departamento de Agricultura da Indonésia (IAQA, 2008). O material vegetativo utilizado para novas plantações tem geralmente um a dois anos de idade e cerca de 30 cm de altura. As árvores de mangostão são de crescimento lento e leva no mínimo seis anos para a árvore atingir a maturidade e começar a dar frutos.

Os pomares geralmente consistem em uma variedade de mangostão, e as árvores jovens são comumente plantadas no início da estação chuvosa. As plantas são normalmente espaçadas a uma distância de 10 m por 10 m com outras plantas, como banana e coco plantadas no meio para fornecer sombra. Em terrenos íngremes, as parcelas são em terraços (Figura 49). Na base de cada terraço há uma vala para recolher folhas caídas e restos vegetais durante o período de frutificação e colheita.

Figura 49. Plantação de mangostão em terraceamento e vala. Foto: Department of Agriculture, Fisheries and Forestry Biosecurity (2012), Canberra, Austrália.

Não existem técnicas hortícolas específicas necessárias para produzir mangostões. As árvores requerem pouco cuidado até que a floração comece quando a árvore atinge 6 a 10 anos de idade.

As árvores de mangostão requerem umidade adequada e boa drenagem, especialmente durante o estágio inicial de estabelecimento. A cobertura morta é espalhada ao redor da base das árvores jovens para manter o solo úmido. A cobertura morta também atua como fertilizante orgânico, enriquecendo o solo com nutrientes. À medida que a árvore amadurece, o solo é coberto naturalmente pela queda de folhas e restos vegetais das plantas vizinhas. O solo é limpo do excesso de folhas a cada dois meses ou mais, e as folhas são queimadas. Durante o período de frutificação e colheita, o pomar é limpo de restos vegetais com mais regularidade.

As árvores são levemente podadas antes da floração para permitir que mais luz solar penetre. As árvores são novamente podadas após a colheita para promover um novo crescimento. Os produtores podam galhos velhos, doentes e danificados, galhos que tocam o solo e ventosas (chupões) que crescem da base do tronco.

As ervas daninhas são controladas manualmente ou naturalmente através de cobertura

morta. As pulverizações químicas não são uma prática comum para o manejo de plantas daninhas.

A irrigação não é necessária, pois a chuva natural fornece água suficiente para as plantas. Além disso, a sombra da vegetação circundante evita a perda de água e a cobertura morta mantém o solo úmido.

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