INOVA 13

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ANO 2 | NO 13 | SET 2011

R$ 12,00

EXEMPLAR CORT E SIA

tablet notável Mais acessível e popular, ele impulsiona a inovação

Testes de HIV Diagnóstico pronto em menos de uma hora

Maria das Graças Foster A diretora de Gás e Energia da Petrobras fala de investimentos, mão de obra, projetos e até dos chineses


CartaCapital, Universidade Federal do ABC e revista Inova ABCD apresentam mais um seminário da série

Diálogos Capitais 2011

Desafios da Inovação no Brasil e no ABC REALIZAÇÃO POLÍTICA, ECONOMIA E CULTURA

www.cartacapital.com.br

Inscrições gratuitas Vagas limitadas

Palestrantes convidados Abertura Aloizio Mercadante, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Luiz Barretto, presidente do Sebrae Mario Reali, presidente do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC Helio Waldman, reitor da UFABC

Mesa 1: Desafios da Inovação no Brasil Mauro Borges Lemos, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi) Ricardo Abramovay, professor da Universidade de São Paulo Carlos Eduardo Calmanovici, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei)

Mesa 2: Desafios da Inovação em São Paulo e no ABC Luis Paulo Bresciani, secretário-executivo do Consórcio Intermunicipal Grande ABC e professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) Klaus Werner Capelle, pró-reitor de Pesquisa da UFABC Fausto Cestari, ex-secretário-executivo da Agência de Desenvolvimento do ABC Data: 17 de outubro de 2011 Horário: das 9 às 13h Local: Campus da Universidade Federal do ABC – Santo André Informações: www.cartacapital.com.br, www.abcdmaior.com.br e www.ufabc.edu.br


AMANDA PEROBELLI

ANO 2 | NO 13 | SET 2011

EXPEDIENTE Diretor de redação Celso Horta Editor Sérgio Pinto de Almeida Editores assistentes Cecília Zioni Denise Natale Secretaria de redação Sonia Nabarrete Repórteres Clébio Cavagnolle Cantares Joana Horta Sucursal Rio de Janeiro Maurício Thuswohl Correspondente Flávio Aguiar (Berlim) Direção de arte Ligia Minami Ilustração Paulo Henrique dos Santos fotografia Amanda Perobelli Tratamento de imagens Fabiano Ibidi Colaboraram nesta edição Ana Valim Laís Correard Michelly Cyrillo Fotos de capa Tablet: Amanda Perobelli Maria das Graças Foster: Andris Bovo Contato com a redação revistainova@abcdmaior.com.br

DEPARTAMENTO COMERCIAL (11) 4335-6017 publicidade Jader Reinecke ASSINATURAs Jéssica D’Andréa Impressão Leograf Tiragem 25 mil exemplares INOVA é uma publicação da MIDIA PRESS Editora Ltda. Travessa Monteiro Lobato, 95 Centro | São Bernardo do Campo Fone (11) 4128-1430 INOVA não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

correção Na reportagem Inovar em novas empresas é mais fácil, publicada na edição nº 12 de INOVA, a pesquisa citada foi feita entre 2008 e 2009, e não em 2010, como informado, e coordenada pela professora da USP, Lisete Barlach.

editorial

A REVOLUÇÃO DOS TABLETS O Brasil ocupa espaço cada vez mais destacado no concerto das nações. E, à medida que a crise internacional se aguça, as razões desse crédito apenas se reforçam. Mas, internamente, quem lê os principais jornais e revistas pátrios ou acessa os canais eletrônicos encontra um Brasil sem norte, ocupado pela corrupção e pelo desgoverno. O leitor de INOVA, contudo, acompanha, a cada edição, os esforços de muitos brasileiros, governantes, empresários, trabalhadores, cientistas, intelectuais e estudantes na construção de uma nação com desenvolvimento sustentável e justiça social. E a chave para essas políticas tem sido sempre a inovação, em todos os campos, do industrial ao social. A edição de agosto de INOVA foi dedicada a traduzir as principais iniciativas contidas no Plano Brasil Maior, o programa de desenvolvimento industrial e de inovação, como mola da competitividade, formulado pelo governo Dilma Rousseff. O que se viu em seguida ao anúncio, na mídia conservadora do país, foi um verdadeiro bombardeio de pessimismo: nada vai funcionar, as empresas automotivas não irão trocar impostos por inovação, o regime tributário do imposto sobre faturamento em alguns setores não interessa às empresas, e assim por diante. Esse pessimismo diante de projetos de políticas públicas que apostam no potencial econômico e social do Brasil não é novo. Durante meses, essas vozes tentaram desacreditar a viabilidade dos programas de nacionalização da produção de tablets no Brasil. A reportagem de capa desta edição de INOVA prova exatamente o contrário. O potencial de renovação do conhecimento, embutido na produção e consumo do tablet, explica, mais uma vez, porque o mundo tem hoje os olhos voltados para o Brasil. Celso Horta



divulgação

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Sustentabilidade Construtora lança edifício com energia eólica e solar e vende quase tudo em uma semana

6 Entrevista

Maria das Graças Foster, diretora de Gás e Energia da Petrobras revela os investimentos da empresa no setor

25 Notas

Universidades brasileiras sobem no ranking; sete empresas de olho no céu do Brasil e a inovação social

21 Alimentação

Bernardo Portella/Acervo ASCOM de Bio Manguinhos

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shutterstock

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Internacional O correspondente Flávio Aguiar viaja aos Estados Unidos e vê boas mudanças no comportamento de Tio Sam

22 Tecnologia

Estudantes pernambucanos criam aplicativo para celular que ajuda deficientes auditivos

28 Serviços

O programa do governo que vai financiar o estudo de brasileiros no exterior e trazer estrangeiros para o país

13 Capa Saúde

Na luta contra a aids, Fiocruz cria testes de HIV com resultados que saem no mesmo dia

Febre dos tablets mobiliza gigantes do setor Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, prevê o que vai acontecer no final do ano: “as vendas vão bombar.”

Mandarim

Crescimento da economia chinesa provoca aumento na procura pelos cursos de mandarim no Brasil

Renato AraÚjo | ABr

PAULO HENRIQUE S. R. DOS SANTOS

Consumidores mais exigentes obrigam indústrias a gastar muito em alimentos melhores e mais baratos


entrevista

Maria das Graças Foster

Michelly Cyrillo

michelly@abcdmaior.com.br

Petrobras quer ga oferta que supere Para isso, além de investir no pré-sal, tem planos para ampliar

Por superstição ou preconceito, até os anos 70, muitas empresas – entre elas a Petrobras – não admitiam mulheres em seus quadros técnicos e menos ainda de direção. No final dessa década, uma jovem recém-formada em engenharia química pela Universidade Federal Fluminense conseguiu vaga na estatal como estagiária. Maria das Graças Silva Foster tornou-se em 2007 a primeira mulher nomeada para uma diretoria da Petrobras, a de Gás e Energia. Ao longo desses anos, fez mestrado em engenharia nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e obteve MBA em economia pela Fundação Getulio Vargas. Também foi secretária de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia, entre 2003 e 2006. Chegou a presidir duas subsidiárias da estatal – que hoje emprega mais de 10 mil mulheres, desde operadoras em plataformas em alto mar até cientistas em seus centros de pesquisa e chefes de departamentos. Volta e meia apontada como possível sucessora de José Sérgio Gabrielli no comando da Petrobras, em agosto Maria das Graças Foster esteve em São Bernardo do Campo e conversou com INOVA. E falou, entre outros assuntos, do plano de investimentos da estatal até 2015. 6

INOVA | SETEMBRO 2011


arantir a demanda

a produção de óleo e gás – e até de biocombustíveis Inova – Em seu planejamento estratégico, a Petrobras prevê investimentos importantes, destinados em boa parte aos projetos do pré-sal, pressupondo forte aumento na demanda de bens e serviços. Qual é a política para os fornecedores nacionais, nessa concorrência? Maria das Graças Foster – A legislação estabeleceu um índice de nacionalização dos equipamentos a serem contratados, variando entre 50% e 85%. E as áreas são muito diversas: vão desde o campo do conhecimento com um projeto básico até uma grande indústria, por exemplo, do segmento de caldeiraria. Para todos os segmentos existirá demanda firme, real, e não apenas hipóteses.

A diretora da Petrobras e as universidades: redes temáticas ajudam a empresa nos projetos de inovação

Andris Bovo

Inova – A indústria nacional vai conseguir competir, por exemplo, com produtos importados chineses na cadeia do pré-sal? MGF – Nós apoiamos a política industrial do governo, segundo a qual tudo que pode ser feito no Brasil será feito no Brasil. Nós cumprimos essa exigência e temos porcentagens a respeitar no contrato de compromisso, em que se prevê o número exato de fornecedores locais. Chineses serão bemvindos ao Brasil para investir: chegarão aqui para construir, produzir, gerar renda e emprego. Nesse caso, serão considerados fornecedores locais. De outra forma, não. Inova – E quanto ao aumento de mão de obra? MGF – Serão abertos mais de 212 mil postos de trabalho, diretamente no pré-sal. Essa mão de obra deve ser especializada, com conhecimentos específicos. A Petrobras está confiando no Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, o Prominp, que capacita trabalhadores para áreas como essas. Há muito trabalho a ser feito na Petrobras, que é a quarta maior

empresa de energia do mundo e a maior entre as que fazem também os trabalhos exploratórios. Por exemplo, depois da exploração, vem a avaliação do produto obtido e vários testes de longa duração são realizados para verificar se ele é potencialmente recuperável. Inova – Qual é o papel das universidades nos projetos de inovação da empresa? MGF – Nós mantemos redes temáticas nas universidades, que nos auxiliam nos projetos de inovação. Funciona desta forma: um grupo, reunindo diversas universidades no país, desenvolve estudos em áreas como as de refino, geoquímica, geofísica, petróleo, turbinas. Essas redes são fundamentais. E como há, ainda, muitas áreas de estudos em aberto, a universidade que tiver interesse em integrar as redes temáticas, basta acessar o site da Petrobras e buscar as informações para se habilitar a fazer parte do trabalho. Inova – Entre os planos da Petrobras, está a decisão de ampliar a produção de biocombustível, etanol e biodiesel. E para a área de gás, o que se pensa fazer? MGF – São R$ 13,2 bilhões os recursos reservados para o segmento de gás, cujo primeiro ciclo de investimentos já foi concluído. Ele visava à consolidação da infraestrutura de transporte. Para o segundo ciclo, os investimentos serão destinados a assegurar mercado ao gás associado à produção de petróleo, particularmente do pré-sal. A maior parte desses investimentos, aproximadamente US$ 9 bilhões, visa atender o aumento de demanda, incluindo a ampliação das térmicas a gás e das plantas de transformação química do gás natural em fertilizantes. Os demais investimentos estão direcionados principalmente à construção de terminais de regaseificação de gás natural liquefeito e de liquefação e processamento de gás natural. SETEMBRO 2011 | INOVA

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Chineses serão bem-vindos ao Brasil para investir: chegarão aqui para construir, produzir, gerar renda e emprego. Nesse caso, serão considerados fornecedores locais. De outra forma, não.”

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Inova – O que foi feito na primeira parte desse ciclo de investimentos? MGF – Entre 2007 e 2011, investimos U$ 15 bilhões na construção de gasodutos e estações de compressão. Foi um investimento grande, pois não adiantaria dispor de gás e não ter como distribuí-lo. Por isso, ampliamos a malha de tubulações e agora já temos a mobilidade necessária para distribuir essa energia. Inova – Na área de gás natural, que crescimento é esperado? MGF – Nessa área já houve um bom crescimento, de 2000 a 2010. Esse aumento foi de 220 bilhões de m³ para 417 bilhões de m³. Pelo gasoduto Bolívia-Brasil, também conhecido como Gasbol, passava 1 milhão m³/dia, quando começou a operar. Hoje passam 31 milhões e a oferta total de gás natural no Brasil é de 55 milhões m³/dia. A perspectiva é subir a 78 milhões em 2015 e a 102 milhões em 2020. Depois de investir na ampliação da malha de tubulações, agora a Petrobras expande a exploração do gás. Acreditamos no aquecimento da indústria brasileira e consideramos o gás uma fonte de energia alternativa ao setor. A ideia é garantir uma oferta que supere a demanda.

Inova – E há também planos para a área de fertilizantes? MGF – Fertilizantes nitrogenados são produzidos a partir do gás natural e novas unidades serão instaladas em Uberaba (MG), Linhares (ES), Laranjeiras (SE) e Três Lagoas (MS). A planta de Três Lagoas será abastecida pelo gás natural transportado pelo Gasoduto Bolívia-Brasil e terá capacidade para produzir, por ano, 1,210 milhão de toneladas de ureia e 81 mil de amônia. Em 2015, quando as quatro novas unidades estiverem funcionando, a produção será de 3,659 milhões de toneladas de ureia, ante uma demanda estimada em 4,076 milhões de toneladas. O que se pretende é chegar à autossuficiência em alguns produtos ou reduzir a dependência de importações. Inova – Na soma de todos os projetos, qual é o investimento previsto pela Petrobras, daqui até 2015? MGF – Os investimentos em áreas diversas de geração de energia em gás natural, petróleo e produção de fertilizantes vão somar US$ 224,7 bilhões (R$ 357,2 bilhões). Do total, US$ 117,7 bilhões serão aportes em exploração e produção, sendo que pouco menos da metade, US$ 53,4 bilhões, será para o pré-sal.


ProIndústria

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ProIndústria-Mauá Fórum 2011

TI, Engenharia, Manufatura, Gestão de Produção

4-5 outubro

- 8h30 às 18h00

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divulgação

notas

Laboratório de motores: funcionando desde agosto

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

IPT moderniza laboratório de motores Petrobras e governo paulista investem R$ 6,2 milhões para controlar poluição de veículos comerciais Começou a funcionar em agosto o laboratório de motores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), reformado para atuar em pesquisa e desenvolvimento de combustíveis, aditivos e propulsores a combustão, com foco em motores e veículos do ciclo diesel. O laboratório, que existe há 30 anos, recebeu investimentos de R$ 6,2 milhões, R$ 5 milhões dos quais aplicados em equipamentos, fornecidos pela Petrobras. O governo paulista custeou, com R$ 1,2 milhão, a reforma da infraestrutura laboratorial. Com os novos equipamentos, informa o IPT, será possível certificar veículos comerciais de acordo com as novas legislações ambientais – entre elas, o Euro 5, do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), a vigorar em janeiro de 2012, para diminuir os níveis de poluição emitidos por caminhões e ônibus.

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INOVA | SETEMBRO 2011

Vêm aí 208 novos institutos de ciência e tecnologia Até 2014 serão criados mais 120 novos campi de escolas técnicas, quatro universidades federais e 47 novos campi universitários. Das quatro novas universidades federais, duas serão instaladas na Bahia e as outras nos estados do Pará e Ceará. Outras 12 universidades federais de 11 estados ganharão 15 campi. O governo federal também assinou termos de compromisso com 120 municípios para a construção de unidades de educação profissional entre 2013 e 2014, sendo que já estão sendo construídas 88 escolas técnicas, com término previsto para o final de 2012. Assim, até 2014 o Brasil terá 208 novas unidades vinculadas a Institutos Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Ifets).

Marco civil da internet chega ao Congresso Chegou ao Congresso Nacional, em agosto, o projeto de lei do marco civil da internet, tratando de direitos dos usuários, responsabilidades dos provedores de serviços e atuação do Estado no desenvolvimento e uso da rede no Brasil. Propõe, por exemplo, que os provedores de acesso guardem os registros de conexão sob sigilo por um ano, com liberação das informações apenas mediante ordem judicial. Na proposta, iniciativa do governo federal, são fixadas dez diretrizes para governança e uso da internet, determinando respeito aos princípios como liberdade de expressão, pluralidade, diversidade, abertura, colaboração, exercício da cidadania, proteção à privacidade e dados pessoais, livre iniciativa, livre concorrência e defesa do consumidor.

Que existem no mundo mais de 100 mil publicações científicas? E que os países do grupo Brics publicam 18% desse total? E que, segundo uma das mais prestigiadas bases internacionais de indexação, a Thomson-Reuters-ISI, o Brasil está na 13ª posição em número de artigos publicados e na 35ª posição em citações por artigo?


EDUCAÇÃO

Universidades brasileiras sobem em rankings globais Sete universidades brasileiras aparecem nas listas de melhores do mundo uma tendência de melhora na posição da universidade. Ficar entre as 200 primeiras é algo bastante expressivo”, comenta. No ranking britânico, são consideradas duas mil universidades. No espanhol, 20 mil institutos. Constar dessas listas mostra que “o ambiente de ciência e tecnologia está melhorando em São Paulo e no Brasil. O ranking da QS, por exemplo, classifica a performance das universidades nas diferentes áreas do conhecimento. Em várias delas, a USP teve desempenho ainda melhor que o conseguido na classificação geral”, ressaltou Zago. Em alguns casos, está entre as 100 melhores do mundo, como em ciências da vida e medicina (70º lugar), em humanidades (80º), em ciências exatas e da terra (86º) e em engenharia (97º). Para Ronaldo Pilli, pró-reitor de pesquisa da Unicamp, estar entre as 300 melhores é significativo para a Unicamp, principalmente pelo “progresso de 57 pontos na classificação, o que reflete vários esforços que estamos fazendo na universidade, especialmente no que diz respeito à qualificação do nosso corpo de pesquisadores”, afirmou também à Agência Fapesp. No relatório preparado pela Thomson Reuters para o lançamento do World University Ranking, as escolas brasileiras são consideradas “força dominante entre os ‘tigres latinos’ do setor, México, Chile e Argentina”, e é ressaltado o fato de ser o Brasil responsável por quase 19% de todas as pesquisas sobre medicina tropical no mundo, contando com mais de 12% dos pesquisadores em parasitologia.

As maiores e melhores No QS World University 2011, as cinco primeiras colocadas são as universidades de Cambridge (Reino Unido), de Harvard (EUA), Instituto de Tecnologia de Massachussetts, o MIT (EUA), e as universidades de Yale (EUA) e de Oxford (Reino Unido). Por países, os EUA encabeçam a lista, com 13 universidades entre as 20 melhores e 70 no total. Segue o Reino Unido, com cinco entre as 20 primeiras. Detalhe: o QS World University é formado com base no voto de 33 mil professores e 16 mil empregadores de recém formados.

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Um salto de 84 pontos na primeira lista das 300 melhores universidades do mundo foi obtido pela Universidade de São Paulo (USP), este ano, de acordo com o ranking britânico QS World University 2011, publicado em setembro, em que também a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) é incluída, com salto de 57 pontos. A USP ficou no 169º posto e a Unicamp no 235º. O ranking é elaborado pela Quacquarelli Symonds, empresa especializada na produção de informações e estatísticas para o ensino superior. Nada menos de sete universidades brasileiras estão em outro estudo semelhante, o Ranking Mundial de Universidades, produzido pelo Laboratório de Cibermetria, ligado ao maior centro de pesquisa da Espanha e um dos principais da Europa, o Conselho Superior de Investigações Científicas (Csic). São estas as brasileiras incluídas na listagem: USP (43º lugar), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (150º), Unicamp (158º), Universidade Federal do Rio de Janeiro (170º), Universidade Federal de Santa Catarina (206º), Unesp (260º) e Universidade Federal de Minas Gerais (265º). Qual é a importância de constar desses relatórios? Marco Antônio Zago, pró-reitor de pesquisa da USP, considera que “cada ranking mede um aspecto específico ao privilegiar determinados critérios”, como afirmou à Agência Fapesp. E como a USP, entre outras escolas brasileiras, é citada em vários desses estudos e tem subido posições em todos os publicados até agora, o fato é importante por apontar, “de maneira bastante consistente


notas Embrapii estreia em 2012

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

Ficção científica ajuda a pensar P&D

No final de 2012, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) começará a atender empresas, informa o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ronaldo Mota. Modelo a atuação da empresa, ainda na fase de processo-piloto, é a premiada Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Autores consagrados de ficção científica foram contratados pela Intel, que fabrica processadores, para escreverem histórias curtas onde os personagens do futuro fazem usos da tecnologia fornecida pela empresa. Os contos serão editados em uma coleção, chamada O Projeto Amanhã, cujo objetivo é capturar a imaginação do público em relação às pesquisas atuais. A Intel acredita que isso pode antecipar as aspirações dos consumidores e ajudar na adoção de seus produtos, no futuro.

Corrida para ocupar um espaço orbital

Projeto Amanhã vai aliar literatura e tecnologia

Pelo menos sete empresas estão interessadas em explorar o espaço orbital brasileiro e apresentaram propostas à licitação promovida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para atuar por satélites de comunicação em um dos quatro espaços orbitais com cobertura sobre o território brasileiro. O valor mínimo a ser pago por ocupação é de R$ 3,94 milhões, com prazo de 15 anos, renovável por mais 15 anos.

MCTI quer feirão de inovação

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O MCTI quer realizar uma feira nacional de inovação especialmente voltada para pequenas empresas. Segundo adiantou o ministro Aloizio Mercadante, o evento poderá ter a participação de bancos privados e oficiais, como Caixa Econômica, BNDES, Finep, além das instituições privadas que financiam capital semente (investimento feito na fase inicial do novo negócio). O objetivo é democratizar o acesso ao crédito para os pequenos empresários.

CPqD, balanço de 35 anos Com 35 anos de atividade completados este ano, o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) estima faturar R$ 280 milhões até dezembro, aumentando a receita de 2010 em quase 22% nominais. Desmembrado da antiga Telebrás, o Centro faz parte de um conjunto de empresas e organizações criadas para disseminar tecnologias, cuja receita deve chegar a R$ 460 milhões este ano (12% mais que os R$ 410 milhões de 2010). O CPqD é o maior depositante de registros de programas de computador (softwares) do país e só perde para a Embrapa entre as instituições não acadêmicas de pesquisa brasileira no número de pedidos de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

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100 mil mestres e doutores na USP A Universidade de São Paulo (USP) atingiu este ano a marca de 100 mil mestres e doutores formados e, em comemoração, a Pró-Reitoria de Pós-Graduação lançou um site sobre os títulos outorgados pela universidade. Mais informações: www.prpg.usp.br/100mil

Parceria cria centro de nanotecnologia O governo brasileiro formalizou, em agosto, parceria com a China visando à criação do Centro BrasilChina de Nanotecnologia, com foco no desenvolvimento de dispositivos e processos de uso civil. O orçamento inicial será de US$ 3 milhões e o novo órgão funcionará por meio de uma rede virtual de pesquisadores e intercâmbios entre os dois países.


inovação social

Ana Valim

avalimalberti@yahoo.com.br Miguel Fernandes

Mais de R$ 2 bilhões das empresas para ações sociais As empresas que integram o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) investiram R$ 2,02 bilhões em ações sociais próprias ou de terceiros, no Brasil, entre 2009 e 2010. Essa informação consta do Censo GIFE, realizado a cada dois anos e o principal mapeamento dos investidores sociais privados do país. Um investimento que cresce ano a ano: em 2008 foram R$ 1,3 bilhões e em 2009, R$1,9 bilhões. O GIFE conta com 134 associados (63 são fundações e institutos empresariais; 25 empresas; oito fundações e institutos independentes; três fundações e institutos familiares e três fundações e institutos comunitários). Segundo dados do censo, a Rede GIFE beneficiou, no período, cerca de 24 milhões de pes­soas, com destaque para as áreas de educação, juventude e cultura.

Mangels forma jovens no ABC e em Três Corações Investir na formação de jovens é a proposta da Mangels através do Projeto Social Formare, desenvolvido em parceria com a Fundação Iochpe. A ideia é promover a qualificação profissional de jovens de 17 anos, moradores de comunidades de baixa renda das regiões do ABC, em São Paulo, e Três Corações, em Minas Gerais. O projeto oferece cursos de Operador de Produção Siderúrgica e Serviços e Operador de Produção Siderúrgica e Mecânica, em período integral, com duração de um ano, certificados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Os participantes recebem todos os benefícios oferecidos pela empresa, como alimentação, cesta básica, transporte fretado e uma bolsa-auxílio de R$ 275 mensais. Nos três anos do projeto, 80% dos alunos foram efetivados na própria Mangels.

HSBC entre as 20 empresas modelo em sustentatiblidade O Instituto HSBC de Solidariedade investiu em 2010, R$ 17,8 milhões no financiamento de 297 projetos de organizações do terceiro setor (238 voltados a educação, 47 na categoria comunidade e 12 na área do meio ambiente), beneficiando um total de 182.459 pessoas. Esse investimento garantiu que o HSBC ficasse no ranking das 20 empresas consideradas modelo pelo Guia Exame de Sustentabilidade.

Volkswagen premia projetos e organizações sociais O concurso Volkswagen na Comunidade 2011 entregou R$ 1 milhão em prêmios aos dez projetos, 29 organizações sociais e colaboradores vencedores deste ano. Os projetos premiados beneficiaram cerca de 3.500 pessoas diretamente. Desde 2008, quando teve início, o concurso registrou 1.194 projetos inscritos de 1.076 organizações de todo o Brasil e nesta edição recebeu o número recorde de 380 projetos e ampliou a premiação de oito para dez projetos. Cada vencedor recebeu R$ 30 mil e também um curso de Gestão de Projetos Sociais.

Lanchonete Escola: contra a vulnerabilidade do jovem

Banco Santander apoia jovens em São Bernardo

O Banco Santander investiu R$ 300 mil no Projeto Lanchonete Escola, da Fundação Criança de São Bernardo do Campo, que já está funcionando na Cidade dos Direitos da Criança e do Adolescente. O objetivo é contribuir para a inserção social e produtiva de 48 jovens, entre 16 a 21 anos, em situação de vulnerabilidade. O projeto prevê a formação teórica e prática nas áreas de desenvolvimento pessoal, produção, comercialização e distribuição de gêneros alimentícios.

Petrobras dá 30 milhões para esporte e cidadania O Programa Petrobras Esporte & Cidadania está com inscrições abertas até 1º de março de 2012 e selecionará projetos que promovam a inclusão social por meio de atividades esportivas para crianças e adolescentes. A iniciativa, em parceria com o Ministério do Esporte, destina R$ 30 milhões para a execução dos projetos selecionados. Durante o período de inscrições serão promovidas caravanas esportivas em todos os estados brasileiros, com oficinas para capacitação de organizações sociais em elaboração dos projetos. Até 2014, serão destinados recursos para quatro diferentes segmentos: Esporte de Rendimento (boxe, esgrima, remo, taekwondo e levantamento de peso), Esporte Educacional, Esporte de Participação e Memória do Esporte. Mais informações em www.petrobras.com.br/ppec

SETEMBRO 2011 | INOVA

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alimentos

Contra a crise, inovação Indústria investe em novos produtos mais saudáveis e de menor custo Clébio Cavagnolle Cantares clebio@abcdmaior.com.br

divulgação

ste ano, de janeiro a julho, a indústria de alimentos produziu 1,1% menos do que no mesmo período de 2010, informa a mais recente pesquisa sobre produção industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foi um dos primeiros setores a sentir os efeitos do aumento da inflação e das medidas de controle do crédito, tomadas ao final do ano passado pelo governo federal. Mas nem por isso foram reduzidos os investimentos, principalmente os destinados à inovação. Uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em junho, revelou que o setor tem programados projetos de inovação de R$ 4,8 bilhões para todo o ano, quase o dobro dos R$ 2,5 bilhões investidos em 2010. O objetivo, segundo a Fiesp, é melhorar a eficiência dos processos produtivos para produzir mais a custos menores e ganhar pontos diante da concorrência – interna e externa. Por isso, algumas das maiores indústrias de alimentos estão investindo também em novos produtos, com ênfase na

linha de alimentos mais saudáveis. O grupo Unilever, por exemplo, desenvolve globalmente o Programa de Aprimoramento Nutricional, em que 150 cientistas trabalham em várias partes do mundo para identificar alimentos mais saudáveis e práticos, sem perda de qualidade, aparência ou sabor, diz Leonice Ferreira, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Local para Alimentos. Estão previstos lançamentos e reformulações de produtos, como o ketchup Hellmann’s, com 30% menos sal e 20% menos açúcar. Essa é uma preocupação antiga na empresa que, nos anos 1990 eliminou a gordura trans em suas margarinas, e assumiu o compromisso de diminuir em suas fórmulas a quantidade de substâncias consideradas potencialmente prejudiciais à saúde pela Organização Mundial de Saúde, diz a gerente. A ideia é, em parcerias com fornecedores, desenvolver processos e ingredientes capazes de promover essa redução de maneira gradual, com base em viabilidade, segurança do produto e aceitação pelos consumidores. A Cargill inaugurou em junho, na cidade paulista de Campinas, um centro de tecnologia e inovação, baseado em conceitos sustentáveis. Foram investidos R$ 20 milhões no projeto, instalado em uma área de 20 mil metros quadrados, equipado com laborató-

Fiesp calcula: R$ 4,8 bilhões de investimentos para novos produtos

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rios para áreas de bebidas, panificação, confeitos, produtos de conveniência e derivados de leite. Também foram montados laboratórios de sabores e aromas e um centro para criação e desenvolvimento de ingredientes e de embalagens, como as de papel, têxteis, corrugados e biopolímeros. Sergio Rial, vice-presidente sênior da Cargill Incorporated, diz que a criação do centro decorre da rápida expansão dos negócios do grupo na América Latina com os clientes locais, regionais e globais cada vez mais demandando novos produtos e melhores formulações. Por isso, busca-se unir as diferentes capacidades técnicas e a gama de ingredientes em um único local, de onde partirão parcerias com clientes e com a comunidade acadêmica para desenvolver novidades.

Modelo de inovação A Bunge Brasil anunciou, em agosto, seu plano de investimentos no Brasil da ordem de US$ 2,5 bilhões para o setor de açúcar e bioenergia. Está prevista expansão de 50% na capacidade de processamento industrial das oito usinas do grupo, elevando-a para 30 milhões de toneladas de cana-de-açúcar/ ano, destinados à produção de açúcar, etanol e energia elétrica. Os recursos incluem também a área agrícola e de máquinas e equipamentos para plantio e manutenção. Em termos de açúcar e bioenergia, o Brasil é o lugar ideal para investimento, segundo Alberto Weisser, presidente da Bunge Limited. “O mercado doméstico brasileiro está crescendo rapidamente e o país é símbolo de inovação e avanço em combustíveis renováveis e energia limpa”, afirma Pedro Parente, presidente da Bunge Brasil. A Kraft Foods acaba de inaugurar uma fábrica em Vitória de Santo Antão, em Pernambuco, onde foram investidos R$ 100 milhões para produzir bebidas em pó e chocolates. Na nova unidade, trabalham 600 funcionários e a empresa aposta na força do mercado do Norte e Nordeste do Brasil. Atentas às mudanças do mercado, Nestlé, Adria e Sadia também preparam investimentos em novos produtos com menor concentração de sal e açúcar.


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sustentabilidade

Edifícios sustentáveis: energia eólica, energia solar e abastecimento de carros elétricos

Edifício ecológico pode virar tendência Prédio residencial vende 85% das unidades na semana de lançamento ocalização, segurança, conforto e lazer – a esses fatores, sempre considerados na hora de comprar um imóvel, juntase agora a sustentabilidade. É um atrativo ecológico e econômico, pois pode reduzir impactos negativos no planeta e alguns custos de manutenção, como as taxas de condomínio, menores em até 20% na comparação com as de outros empreendimentos do mesmo porte. O primeiro edifício construído na cidade do Rio de Janeiro atendendo aos princípios da sustentabilidade é o Residencial Wonderfull, obra da construtora Calper no Recreio dos Bandeirantes. Vai funcionar com energia eólica, além da solar e elétrica, e mostrou-se um sucesso de vendas já no seu lançamento, no início de agosto. Em uma semana, foram vendidas 435 das 512 unidades previstas e

que, com dois dormitórios, têm preço a partir de R$ 240 mil. Dentre os primeiros compradores, 40% eram investidores e 60% serão moradores e destes, 40% já residem no bairro.

selo verde O condomínio, o primeiro da série Selo Verde, criado pela construtora, terá oito geradores eólicos e oito painéis solares, que trabalharão simultaneamente para proporcionar energia limpa às áreas comuns de cada bloco. Além disso, foram instaladas tomadas no estacionamento que alimentarão os motores de carros elétricos e híbridos. “As grandes montadoras estão investindo nesse tipo de veículo. Acreditamos que até a Copa de 2014 a cidade receberá um volume significativo desses carros”, diz Davidson Meira Junior, engenheiro responsável pelo projeto. O primeiro condomínio residencial a

usar energia eólica no Brasil foi o Neo, lançado em Florianópolis, Santa Catarina, em março de 2010. Conta com duas turbinas de vento para aquecer a água usada nos seus 24 apartamentos. Em fevereiro deste ano, moradores de um prédio na Barra da Tijuca, também no Rio de Janeiro, compraram por R$ 25 mil um gerador de energia eólica, de fabricação brasileira. Ele garante a iluminação na garagem e nas escadas. Em imóveis não residenciais, a energia eólica torna-se mais frequente: na Câmara Municipal de São José, na região metropolitana de Florianópolis, foi instalado, no ano passado, um aerogerador exatamente igual ao usado na Casa Branca, sede do governo dos Estados Unidos. E em Porto Alegre, um prédio comercial – devidamente batizado de Eólis –, desde 2006 usa a energia que vem do vento. (SN) SETEMBRO 2011 | INOVA

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especial tablets

Brasil tablets AMANDA PEROBELLI

aposta na PRODUÇÃO de

Maurício José Junior, gerente de tecnologia da informação: de olho nos aplicativos


Joana Horta | Mauricio Thuswohl

joana@abcdmaior.com.br | mauricio@abcdmaior.com.br

Governo incentiva a nacionalização de componentes, a produção no país ganha força no segundo semestre e consumidor poderá pagar até 40% menos da informação e comunicação há anos. Desde 2011, pelo menos, essas empresas investem em pesquisa e desenvolvimento de aparelhos, como os tablets, que comportam o futuro previsto para a convergência digital. No final de agosto, o ex-campeão mundial de xadrez, o russo Gary Kasparov, desafiou simultaneamente enxadristas profissionais, ministros e representantes do governo, em tablets produzidos no Brasil. No mesmo evento, promovido em Brasília pela Semp Toshiba para marcar o lançamento da nova versão de seu produto, Aloizio Mercadante, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, destacou a política de promoção gradual de nacionalização dos tablets. “Nós estabelecemos uma política para que, no começo, 20% do conteúdo seja feito no Brasil. Em três anos, 80% terá de ser produzido aqui. Diziam que a indústria não aceitaria isso, mas 25 empresas já se inscreveram para produzir no Brasil, aproveitando os ajustes fiscais e produtivos.” O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ressalta o potencial do produto e aposta nas expectativas dos consumidores. “Como se trata de um aparelho muito ambicionado pelo consumidor, que está com bom poder aquisitivo, acho que as vendas vão bombar no fim do ano”, afirmou, em recente programa de rádio, o Bom Dia Ministro, da Empresa Brasileira de Comunicações.

O tablet não é apenas um livro digital... É uma forma diferente de transmissão do saber. É uma revolução pedagógica profunda, e isso não se faz em menos de uma década.” Cezar Alvarez, secretário-executivo do Ministério das Comunicações

Valter Campanato | ABr

febre mundial pelos tablets não tem fronteiras e invadiu o Brasil de forma absolutamente avassaladora. Tudo que diz respeito a esses pequenos e eficientes objetos de consumo envolve números estratosféricos, investimentos milionários e um mercado consumidor ávido. Os tablets – que alguns usuários preferem chamar, de maneira abrasileirada, de “tabletes” – ditam moda, estilo e comportamento. Já são frequentes, e até banais, em reuniões e salas de aula, mas também passaram a ser vistos em restaurantes, supermercados e até metrôs e ônibus. Neste segundo semestre de 2011, por exemplo, a Foxconn, gigante taiwanesa do setor de tecnologia, prepara o início da produção do tablet iPad, uma febre em todo o mundo, e do telefone inteligente iPhone no Brasil. Com investimentos da ordem de R$ 12 bilhões para a expansão de sua unidade na cidade paulista de Jundiaí, e a promessa de geração de 100 mil empregos diretos, a produção dos produtos Apple no país está diretamente relacionada com o conjunto de medidas, lançado pelo governo brasileiro para desonerar os tablets de impostos, reduzir o custo de produção e favorecer o consumo, em um mercado aberto a novas tecnologias de comunicação. Como a Foxconn e outras empresas transnacionais, a indústria nacional pretende disputar essa promissora fatia de mercado, alvo de discussão de estímulos para setores de tecnologia


especial tablets

Muito mais tablet, muito menos computador

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Em 2011, a venda global de computadores vai crescer 3,8% e atingirá a marca de 364 milhões de unidades comercializadas. Quem garante é a Gartner, consultoria mundial que, no começo do ano, previa aumento de 10,5% e depois baixou para 9,3%. Agora, a previsão caiu para menos da metade. A revisão veio em razão da desaceleração dos mercados da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, e do aumento das vendas de tablets – de que se espera a comercialização de quase 55 milhões de unidades até dezembro, com avanço de nada menos de 181%. Os tablets, diz a consultoria, vão substituir gradualmente o mercado de computadores, como os notebooks fizeram com os computadores de mesa. A tendência é de os consumidores mais jovens usarem mais de um dispositivo, sem substituição dos equipamentos mais antigos.

Benjamim Sicsú, da Samsung: política do governo é uma reposta social

A produção de tablet se enquadra na Lei do Bem (Lei nº 11.196, de 21 de novembro de 2005), que, ao adicionar “máquinas automáticas de processamento de dados, portáteis” e “com até 140 centímetros quadrados”, rebaixa a 0% a cobrança de tributos como PIS e Cofins, de até 9,25%. Outro incentivo é a criação e o estímulo do Processo Produtivo Básico (PPB) dos tablets, que reduz de 15% para 3% o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e induz a nacionalização da cadeia produtiva. “Das empresas que se submeteram aos processos nos dois ministérios, sete receberam autorização e algumas já estão começando a produzir seus tablets”, informa José Gustavo Gontijo, gerente de projetos da Secretaria de Telecomunicações do Ministério das Comunicações.

Política para tablets A política desenhada para os tablets segue a lógica adotada pelo governo, anos atrás, de baratear os custos dos computadores, garantir o acesso da população ao produto e combater a pirataria. “Na política de inclusão digital, em um primeiro momento era importante ter um terminal mais barato. Então fizemos um conjunto de programas com destaque para o Computador para Todos e a Lei do Bem, além da alíquota zero de PIS/Cofins e de ações para promover a produção em larga escala. Os preços dos computadores baixaram e hoje estão em um patamar razoável”, diz Cezar Alvarez, secretário-executivo do Ministério das Comunicações. A última licitação do Ministério da Educação para compra de minicomputadores, dentro de um programa de descontos especiais para escolas públicas, teve como vencedor um equipamento que custa R$ 370, acrescenta Alvarez. Para ele, “mesmo com toda a isenção similar acertada em conjunto com os ministérios do Desenvolvimento e da Ciência, os tablets ainda vão demandar tempo para chegar a uma escala e a um patamar de competição com os minicomputadores.” Alvarez avalia que o uso de tablets e terminais na educação significa uma inovação no ensino, que induzirá a transformações graduais no ambiente escolar. “A utilização dos aparelhos na sala de aula tem também um caráter cultural, pedagógico e de sensibilização dos professores, pois muda o processo educacional. O tablet não é apenas um livro

digital, representa um processo coletivo de aprendizado horizontal entre diferentes colegas, há uma produção coletiva. É uma forma diferente de transmissão do saber. É uma revolução pedagógica profunda, e isso não se faz em menos de uma década”, comenta. Alvarez destaca o fato dessa iniciativa fazer parte da política pública brasileira para criação de incentivos diversos à busca pela inovação e pela constituição de empresas nacionais com capacidade de desenvolvimento de tecnologia de ponta. “Esse é um processo que passa por qualificação, incentivo aos cientistas, criação de patentes, muito dinheiro para investir e mercado consumidor”. No que se refere à ação do governo, ele chama a atenção para a regulamentação da Lei do Poder de Compra, “prevista e nunca materializada desde a velha Lei de Informática, passando pela Lei Geral de Telecomunicações.” Para ter direito ao PPB, as empresas têm de cumprir metas de produção local. Essa nacionalização se fará por produtos e metas: as placas-mãe deverão ter 50% de componentes de origem nacional, percentual que subirá para 80% em 2012, e para 95% a partir de 2013. Nas placas para conexão sem fio, a parcela de componentes locais será de 50% em 2013 e de 80% a partir de 2014. Os carregadores de baterias devem ter componentes nacionais em pelo menos 50% este ano, subindo a 80% a partir do ano seguinte. Para módulos de memória RAM, a fatia nacional começa em 40% e vai a 50% de 2012 em diante. Para unidades de armazenamento SSD, as etapas são de 35% agora, 50% no ano que vem e 80% a partir de 2013. Benjamim Sicsú, vice-presidente de novos negócios da Samsung, considera a redução da carga tributária uma facilitadora do acesso à tecnologia. “Essa política é uma resposta social, uma vez que há mais de dez anos o governo ouve dos empresários que reduzir a carga tributaria diminui o contrabando. Essa política começou com os notebooks e está dando certo, agora ligada também às estratégias de inclusão educacional”, diz ele. Afonso Antonio Hennel, presidente da Semp Toshiba, acredita no potencial de compra do país e reforça suas apostas, a partir dessa política. A venda de computadores da Semp já atingiu a dos televisores. No total, mais de 24 milhões de unidades vendidas, 12 milhões de cada. “O Brasil é exemplo de solidez aos olhos do mundo e com potencial ainda a explorar”, afirma Hennel.


AMANDA PEROBELLI

Caixinha multiuso

Um computador nas mãos: muito mais do que apenas uma ferramenta

Quem tem um tablet pode ler livros e jornais, ver filmes e vídeos, ouvir música, realizar telefonia por internet, acessar o GPS – só para citar as principais funções – em um só dispositivo. Essa versatilidade conquistou os consumidores globalmente e, agora, o aparelho começa a ser usado por empresas de vários setores, permitindo aplicações inusitadas, muito além daquelas desenvolvidas em um escritório: realiza pequenas tarefas de produtividade e seu tamanho e flexibilidade favorecem o uso tanto em hospitais como em escritórios de arquitetura, para trabalhos simples de organização, dispensando notebooks ou desktops. No Salão do Automóvel de Genebra, um dos principais eventos da indústria automobilística, a Volkswagen lançou este ano o carro-conceito Bulli, nova geração da Kombi tradicional, e substituiu o equipamento de som convencional por um iPad. Na indústria da moda, o aparelho soluciona um antigo problema: a falta de espaço para expor todas as peças de uma coleção nas lojas. A Billabong, por exemplo, marca controlada pelo grupo australiano GSM, usa tablets para exibir seu catálogo junto aos clientes. A vantagem, explica Leonardo Santos, gerente de tecnologia da informação do grupo no Brasil, é poder revelar um grande número de peças, além de ser uma atração a mais para consumidores que gostam de tecnologia. Na área da construção civil, em estandes de vendas da Cyrela, os tablets apontam as várias etapas de um projeto e como deverá ficar, depois de concluído. “A casa própria é um sonho e o que nós tentamos fazer foi mostrá-la em um equipamento próximo do nosso cliente”, diz Fernando Moulin, gerente de e-business. Gerente de tecnologia da informação da TVT, emissora de televisão da Fundação Sociedade Comunicação Cultural e Trabalho, há um ano no ar, Maurício José Junior, diz que os grandes diferenciais do aparelho são a mobilidade e as possibilidades de conexão 3G ou wireless. “Além de práticos e compactos, seus aplicativos são mais fáceis de serem desenvolvidos e custam menos ao consumidor do que os aplicativos de PC.” A facilidade para o desenvolvimento de aplicativos se dá pelo fato de a grande maioria dos tablets utilizar apenas SETEMBRO 2011 | INOVA

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fotos: AMANDA PEROBELLI

especial tablets

dois tipos de sistema operacional. Enquanto a Apple, com seu Ipad, oferece um sistema próprio, os demais fabricante apostam no sistema Android, da Google. “São duas grandes fornecedoras, fortes e consagradas, com concorrência muito difícil. Mas existe um grande potencial para o mercado de softwares e aplicativos”, afirma Junior. Hoje, ele e sua equipe trabalham no projeto de um aplicativo que coloque a programação da TVT em celulares e tablets. A opção de criação local está relacionada ao custo. “Esse é um mercado ainda pouco explorado e, por isso, sai mais barato contratar profissionais para o desenvolvimento interno. No entanto, faltam profissionais qualificados e é preciso investir em formação de mão de obra”, afirma. Roberto Meyer, vice-presidente de Relações Públicas da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, também destaca, na área de desenvolvimento de software, o grande potencial para inovações, embora critique a falta de incentivos diretos. “Não precisa ser, necessariamente, um incentivo tributário. Mas é preciso incentivar a produção de softwares educacionais, e-books nacionais. Acabamos não oferecendo uma série de conteúdos locais com enorme potencial.” Para o executivo, a iniciativa do governo abre boas chances para o desenvolvimento da cadeia produtiva de informática, mas é preciso ampliar a ação. “O governo do Uruguai, por exemplo, ao implementar a meta de um computador por aluno, fez, em paralelo, a montagem de uma rede de telecomunicações para garantir que ninguém tenha

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de se deslocar mais de 300 metros da sua casa para encontrar sinal”, acrescenta. A falta de especificações para as telecomunicações também é pontuada por José Maurício Junior, da TVT, como obstáculo ao aproveitamento do aparelho. “Eu posso usar meu tablet com conexão 3G para fazer uma teleconferência com um executivo na Alemanha, por custo baixíssimo. Isso é convergência digital. Mas quem me oferece a tecnologia de internet, a operadora de telefonia, não tem interesse em deixar de ganhar com a ligação. A velocidade de transmissão de dados é reduzida, resultando em má qualidade do serviço. Ou seja, ainda falta regulação para que o produto funcione de fato.”

Mercado cobiçado Desde o ano passado, a Samsung produz o Galaxy Tab de sete polegadas em sua fábrica em Campinas, e ainda desenvolve novos projetos, como as versões de 10,1 polegadas e 8,9 polegadas. De acordo com Sicsú, a empresa pretende aproveitar as medidas para expandir a produção dos tablets. “Não é só um negócio com os grandes grupos chineses. O governo demorou, mas fixou uma nova política industrial para o tablet”, ressalta Benjamim Sicsú. A companhia estima que venderá 200 mil unidaders este ano, o dobro das vendas de 2010. Para Sicsú, as novas medidas também são eficientes no combate à pirataria. “Não estamos preocupados com o aumento da concorrência e sim com a inibição do mercado irregular”, pois a concorrência estimulada pela

Uma atração a mais na Copa do Mundo em 2014 O governo federal entende que a Copa do Mundo será mais um estímulo à produção dos novos aparelhos. Ao participar de conferência sobre investimentos em infraestrutura e tecnologia para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas de 2016, o ministro do Esporte, Orlando Silva, afirmou, em agosto, que questões como a tecnologia da informação, infraestrutura e telecomunicações serão temas chaves para a capacidade de realização dos certames. No mesmo evento, o ministro Aloizio Mercadante disse que este é o momento para o país investir em transferência de tecnologia e fortalecer a produção nacional. Como exemplo, citou a fabricação de tablets que poderão ter seu preço final barateado em até 40% com a política de incentivos fiscais.


O vai e volta da HP

Consumidor quer e fabricante produz: 55 milhões de unidades vendidas no mundo até dezembro

Em meados de agosto, a HP anunciou, oficialmente, o abandono do mercado de tablets HP TouchPad e smartphones das famílias Pre (Pre, Pre Plus, Pre 2 e Pre 3), Pixi (Pixi e Pixi Plus) e Veer, pouco mais de um mês depois de chegarem ao mercado. Todos esses produtos são resultado da aquisição da Palm em abril de 2010, em transação avaliada em US$ 1,2 bilhão. A empresa fez, então, uma megaqueima de estoques. No entanto, uma semana depois, ao perceber a grande procura por seu produto, decidiu retomar sua produção e comercialização.

senvolver um projeto educacional pioneiro em conjunto com a Universidade Estácio de Sá, que tem 200 mil alunos, para ensino digitalizado. As primeiras turmas abriram o semestre, no Rio de Janeiro e em São Paulo, com seis mil de nossos tablets e outros seis mil estão a caminho”, informa Afonso Antonio Hennel, presidente da Semp Toshiba. Até dezembro, outras quatro empresas devem estar prontas para entrar no mercado: a coreana LG e as brasileiras CCE, Positivo e Itautec. Estas duas últimas, porém, ainda não decidiram se terão manufatura nacional ou se irão importar os produtos. Sem mais detalhes, a Itautec apenas confirma o lançamento de um aparelho. A CCE anunciou o pré-lançamento do tablet Win Touch, na E l e trolar Show 2011, em agosto, em São Paulo, e prevê entrar com uma leva de produtos neste semestre – todos ainda sem data marcada.

É preciso incentivar a produção de softwares educacionais, e-books nacionais. Acabamos não oferecendo uma série de conteúdos locais com enorme potencial.” Roberto Meyer, vice-presidente de Relações Públicas da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação

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redução de custos não assusta, mas estimula os processos de pesquisa e desenvolvimento e, por consequência, a capacidade de inovação das empresas. “Quem sai ganhando é o consumidor. A lei obriga que parte do faturamento seja investida em pesquisa e desenvolvimento. Grande parte dessa atividade é dirigida para o desenvolvimento de aplicativos, mas, obviamente, quanto mais P&D, mais inovação.” A Motorola prefere não falar em números, mas, por meio de sua assessoria de imprensa, informa que todas as unidades do Xoom vendidas no país, desde final de abril, são produzidas em sua fábrica de Jaguariúna, a 113 quilômetros de São Paulo. Para entrar na disputa desse mercado, a ZTE vai importar da China as primeiras unidades do seu modelo V9 e, em seguida, terceirizará a produção, até ficar pronta sua fábrica em construção, em Hortolândia, a 115 quilômetros da capital paulista. Eliandro Ávila, presidente da empresa no Brasil, prevê venda de 150 mil unidades este ano e informa que a produção local deve começar nos primeiros meses de 2012. Outros estados também terão fábricas de tablets: em Extrema, Minas Gerais, a Multilaser produzirá o Life, cujas vendas iniciais estão estimadas em 70 mil unidades. A Moove Computadores, instalada no polo de informática de Ilhéus, na Bahia, deve produzir o Win Tab. E a Semp Toshiba iniciou em setembro a entrega de seu myPad, montado em Salvador, com demanda esperada de 50 mil unidades. “Em maio do ano passado iniciamos a fabricação do tablet de dez polegadas, com software Android. Foi o primeiro tablet fabricado no Brasil. Isso nos permitiu de-

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INTERNACIONAL

flávio Aguiar correspondente em Berlim flavio-aguiar@t-online.de

De um modo geral, a situação dos Estados Unidos é descrita como atrasada em relação à de outros países ou regiões, como Japão, China, Índia e Europa. Mas o assunto está presente em toda parte...”

Em agosto, fiz visita de três semanas aos Estados Unidos. Fiquei restrito ao nordeste do país: Nova York, depois os estados da Virgínia e de Vermont, onde vivi há quase 50 anos. Meu interesse: energia renovável a partir do lixo, e também ver se “um outro país é possível” por lá, parodiando o mote do Fórum Social Mundial. Encontrei essa nova Terra (ainda) do Nunca? Resposta: sim e não. Comecemos pela energia, e chegaremos ao outro tema, pois estão interligados, sobretudo se entendermos energia num sentido bem amplo, como se verá. Por lá, o tema se chama Waste-to-energy (WtE) ou Energy-from-waste (EfW). O conceito genérico é o de produzir energia ou calor a partir de resíduos (lixo) de variadas espécies. De um modo geral, a situação dos Estados Unidos é descrita como atrasada em relação à de outros países ou regiões, como Japão, China, Índia e Europa. Mas o assunto está presente em toda parte, até nas laterais dos ônibus da capital, Washington. O método mais antigo e tradicional de obter energia ou gás a partir do lixo é o da incineração, agressivo ao meio ambiente por disseminar poluentes ácidos e de gás carbônico na atmosfera. Métodos alternativos incluem:

rquivo pessoal

gaseificação (produz hidrogênio e combustíveis sintéticos); despolimerização térmica (óleo cru, que pode ser refinado);

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flávio aguiar

Estados Unidos, um outro país é

Ônibus em Washington: energia renovável nas ruas

pirólise (alcatrão e óleos); plasma-gaseificação (gases sintéticos: hidrogênio, monóxido de carbono, eletricidade e até sal); processos não termais, como fermentação, digestão anaeróbica (tratamento de resíduos biodegradáveis por microrganismos em ausência de oxigênio), tratamento biomecânico (metano, etanol, ácido láctico, hidrogênio, dióxido de carbono. Em Virgínia, acompanhei a inauguração de uma nova unidade produtora de energia, a Bear Garden Power Station, no condado de Buckingham, ao sul de Charlottesville, onde me hospedava. Com investimento de US$ 619 milhões, a usina segue o padrão e se destina a atender o consumo regional. Além da energia, foram citados como outros fatores positivos a geração de 700 empregos locais,


PAULO HENRIQUE S. R. DOS SANTOS

, é possível durante dois anos, ativação do comércio regional, a agregação de US$ 1 milhão à receita anual de impostos territoriais, e o impulso ao novo projeto regional de implementação escolar, estimado em US$ 23,5 milhões. Essa unidade faz parte de um projeto geral do estado que, até 2015, vai promover US$ 3,3 bilhões em benefícios econômicos e US$ 175 milhões em arrecadação fiscal. Esses números são importantes para avaliar o impacto geral de projetos desse tipo, pois o número de trabalhadores fixos neles empregados em tempo integral é relativamente baixo: 135 no total, sendo 24 na unidade de Bear Garden.

mudanças nas terras de Tio Sam De Virginia, passemos a Vermont. Esse pequeno estado (pouco mais de 600 mil habitantes) da Nova Inglaterra, nordeste dos Estados Unidos, era descrito por moradores de outras plagas como atrasado e conservador. Hoje, Vermont é considerado o estado verde alternativo e é frequentemente indicado como um dos mais – senão o mais – consistentemente à esquerda no espectro político norte-americano. Sem dúvida, isso reflete o fato de Vermont ter se tornado um estado universitário por excelência: é impressionante a quantidade de jovens, que lota sua maior cidade (Burlington, 42 mil habitantes em 2010) a todas as horas do dia e da noite.

Aquilo que era fator de atraso, um estado predominantemente rural e pouco industrializado, transformou-se em fonte de estilos de vida alternativos num país mega-industrializado, com megaproblemas daí decorrentes, e com uma política megaimperial em termos mundiais. Em suma, Vermont tornou-se uma prova de que nas terras do Tio Sam um outro país é possível. No campo energético, isso se manifesta pelo grande número de empresas, agências e associações de todos os tipos, inclusive empresariais, que dão consultoria e assessoria para renovação energética, em escala nacional e até internacional: Vermont Environmental Consortium, VEC, Renewable Energy Vermont, Carbon Harvest Energy LLC, Chiptec, Chittenden County Solid Waste District, entre várias outras. Existe até uma unidade para produção de energia a partir de... resíduos de cerveja, para alegria dos consumidores: instalada na cervejaria Magic Hat, em South Burlington, com investimento de US$ 4 milhões, mede 14 metros de altura e 16 de diâmetro, e produz gás utilizado como fonte energética para a fabricação da própria cerveja. O conceito geral por trás de iniciativas como essa é de que elas barateiam o custo da energia e reduzem a dependência das grandes corporações. Mas nem tudo são flores no caminho energético dos Estados Unidos. O maior perigo contra energias renováveis e temas paralelos vem do atual elenco de pré-candidatos à disputa presidencial, em 2012, pelo Partido Republicano, opositor do presidente Obama. Michelle

Bachmann (deputada federal por Minnesota), Rick Perry (governador do Texas) e Mitt Romney (ex-governador de Massachussets), os candidatos a candidato até agora mais cotados têm se especializado em defender tudo o que há de mais reacionário em todas as frentes. Michelle e Perry são diretamente ligados ao Tea Party; Romney não era, mas está sequioso em busca de votos desse setor. Defendem a criminalização do aborto, o fim dos casamentos homossexuais, criticam a teoria evolucionista e... afirmam – sobretudo os dois primeiros – que o aquecimento global não é consequência da ação humana. Todos eles atacam a Environmental Protection Agency, agência criada – vejam só – pelo também republicano Richard Nixon, em 1970. Pretendem fechá-la ou neutralizar seus poderes. Para encerrar, vale lembrar uma anedota verídica que, junto com o caso (esperemos que ocaso também) republicano, ilustra a questão energética. Em 1964, quando eu estudava na Burlington High School, o conselho da escola se reuniu e decidiu que um estudante deveria cortar os cabelos, que usava compridos, no estilo Beatle (hoje algo quase conservador...), se quisesse continuar frequentando as aulas (!). Assim aconteceu. Hoje, no pequeno, mas grande estado de Vermont isso seria absolutamente impensável. O que comprova (como o exemplo negativo dos republicanos) que a principal fonte de energias alternativas continua sendo a abertura das mentes e dos corações.

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Um game de estratégia só de boas ações e voluntariado: em Você Pode é preciso superar a gripe suína, a expansão da coleta seletiva de lixo e manter o equilíbrio de indicadores como saúde, educação e meio ambiente

tecnologia

Smartphones para deficientes auditivos Aplicativo de celular amplia a capacidade de comunicação de surdos, traduz a linguagem dos sinais para a linguagem falada e vice-versa Laís Correard lais.cultura@gmail.com

eis estudantes de ciência da computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ficaram em segundo lugar na 9ª Edição do Imagine Cup 2011, realizada em Nova York, em julho. Seu aplicativo para telefone celular, capaz de traduzir a Língua Brasileira dos Sinais para o português falado e escrito, e vice-versa, foi premiado na categoria de interoperabilidade na olimpíada de tecnologia e computação, promovida pela Microsoft. O objetivo do projeto é o de contribuir para a inclusão social de deficientes auditivos. O aplicativo, batizado de Prodeaf, permite a esse deficiente realizar ligações telefônicas, enviar mensagem via SMS e também conversar com pessoas que não conhecem a linguagem dos sinais. Isso pode ocorrer em locais abertos ou fechados, na rua ou em prédios e casas. Funciona, resumidamente, da seguinte forma: a câmera de vídeo do aparelho celular captura os sinais realizados pelo deficiente, que são processados pelo servidor e traduzidos em voz na língua portuguesa. Na situação inversa, a pessoa fala ao microfone do aparelho e sua mensagem, depois de processada, é convertida por meio de um

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processo de mutação (avatar), que produz os sinais. O aplicativo foi desenvolvido para ser utilizado pelo sistema operacional Windows Phone 7, cujo lançamento no Brasil está previsto para o mês de outubro. A plataforma utilizada é a Azure, um servidor basea­do nos conceitos da computação nas nuvens. “Escolhemos esse servidor porque ele permite que 10 ou 100 usuários utilizem o serviço com a mesma qualidade técnica no mesmo momento”, informa Flávio Almeida, um dos estudantes premiados. O software já é uma realidade e os estudantes agora querem seu aperfeiçoamento. Flávio explica que “a linguagem dos sinais

Brasil premiado: tecnologia inovadora

possui uma série de variações”, e, além disso, há características regionais, pois a forma como se fala em Pernambuco não é exatamente a mesma de São Paulo. “Então teremos de fazer uma pesquisa ampla para atender a todas as regiões do país. Nós trabalhamos primeiramente para levar à competição o conceito do aplicativo”.

Inclusão social O projeto destacou-se na competição internacional por estar diretamente sintonizado com as Oito Metas do Milênio, estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), e tema da competição deste ano. “Existem no mundo cerca de 150 milhões de pessoas com deficiência auditiva. Pensando nisso, nós conseguimos, por meio de uma tecnologia inovadora, criar um instrumento prático que vai integrar essas pessoas, geralmente isoladas, à sociedade, e fazer com que vivam de forma normal”, ressalta Flávio. O Prodeaf também possibilita a interação nas redes sociais, o acesso às informações de programas de rádio e televisão, além do acesso ao conteúdo de documentos de texto e planilhas pertencentes ao Open XLM, como o Word e o Excel. Ana Valencia é intérprete de sinais da Associação de Surdos de Pernambuco (Asspe), testou o sistema e aprovou. Para ela, “a maior


DIVULGAÇÃO

barreira na vida dos surdos sempre foi a comunicação e, por isso, a nova tecnologia significa a independência para muitos deles”. O Prodeaf foi bem aceito pelo pessoal da entidade, e “todos os deficientes que tiverem condições certamente vão querer ter acesso a ele”, acredita Nelson Valença, que preside a Asspe. O prêmio da Imagine Cup contribuiu também para o surgimento de uma fábrica de software de caráter social, tendo os membros da equipe como fundadores. “A ideia de desenvolver um produto para surdos se deu antes mesmo de pensarmos em participar da competição, devido à amizade de um dos integrantes com um deficiente. Por isso já tínhamos interesse em desenvolver algo que ajudasse as pessoas. Mas agora, com o projeto consolidado, certamente o caráter social já faz parte do nosso DNA”, conta Flávio. A perspectiva é que, em até dois anos, o aplicativo esteja disponível no mercado para ser comercializado em lojas virtuais. O custo é estimado em torno de 10 dólares. O projeto para o desenvolvimento da primeira via do aplicativo, que transforma a voz na linguagem dos sinais, acabou de ser aprovado em edital de apoio a propostas inovadoras do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e deve estar disponível no mercado em 18 meses. Ainda não há previsão para o lançamento da segunda via, que transforma os sinais em voz.

Game para trabalho voluntário Mais brasileiros brilharam na competição em Nova York: estudantes do Paraná, alunos de tecnologia em jogos digitais da Universidade Positivo, em Curitiba, ficaram em primeiro lugar na categoria Game Design: Windows/Xbox, com o desenvolvimento do jogo Ucan – palavra cuja tradução literal para o português significa Você Pode. O Ucan foi desenvolvido para ser um game de estratégia, em que os jogadores precisam pensar: o personagem está em uma cidade e deve resolver problemas com boas ações e voluntariado. Se conseguir, passa para a próxima fase. “Os desafios encontrados foram inspirados em experiências reais, em cidades de todo o mundo, de pessoas que desenvolveram um trabalho e fizeram a diferença em sua comunidade. A primeira fase ocorre na capital do Paraná e as principais dificuldades a serem superadas são a gripe suína e a expansão da coleta seletiva de lixo. Para evoluir no game, é necessário também que o jogador mantenha equilibrados alguns indicadores que medem o desempenho em

áreas como saúde, educação e meio ambiente”, explica Rafaela Costa, integrante do grupo Signum Team, o premiado. Os estudantes se tornaram sócios de uma empresa de desenvolvimento tecnológico e fundaram um núcleo de criação de games e o Ucan vai chegar ao mercado nacional em 2012, disponível primeiramente nas máquinas da fábrica de computadores Positivo. “Além disso, o objetivo é difundir o game em escolas públicas”, conta Rafaela.

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saúde

Da Fiocruz saiu o novo teste: antes até um mês para o resultado

Resultado do exame HIV mais rápido Novo exame abrevia o diagnóstico, pode reduzir a mortalidade ainda alta e é mais barato Ministério da Saúde constatou: 40% das pessoas que fazem o teste de HIV, vírus causador da Síndrome da Imunodeficência Adquirida (aids), não voltam para buscar o resultado e só procuram atendimento quando os sintomas da doença se manifestam, já em fase avançada. Com isso, embora o Brasil tenha um modelo exemplar de tratamento, ainda são altas as taxas de mortalidade em razão da aids. O atraso no ataque à doença é uma das causas, segundo o ministério. A situação pode mudar com o uso de um novo teste confirmatório, cujos resultados ficam prontos bem mais rápido, produzido pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e lançado em agosto deste ano. Em vez de até um mês de espera, o resultado agora poderá ser obtido em poucas horas. Pelo sistema atual, o suspeito de ser portador do vírus HIV faz um exame de triagem, o Elisa. Se o resul-

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tado for positivo, passa por um novo teste, o Western blot, ou imunoflorescência, que confirma o diagnóstico do primeiro. Isso porque o Elisa pode indicar falsos positivos, já que os antígenos (partículas produzidas pelo sistema imunológico) algumas vezes estão associados a outras doenças infecciosas. Entre a realização de um exame e o outro confirmatório, o intervalo de até um mês leva muitas pessoas a desistir do processo do diagnóstico. “Com o novo sistema que revela a presença do HIV em um só procedimento, no mesmo dia a pessoa terá a confirmação do diagnóstico, receberá a orientação e o encaminhamento médico. Isso agiliza o tratamento”, garante Antonio Ferreira, gerente de Programa de Reativos da Bio-Manguinhos/Fiocruz. Para Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o Brasil tem mortalidade elevada por aids, o que não é compatível com um país que oferece gratuitamente todos os antirretrovirais do mercado. “A alta mortalidade só é explicada porque as pessoas chegam tar-

diamente ao diagnóstico. É preciso romper essa barreira social, cultural, que leva a pessoa a não fazer o exame para não passar por semanas de angústia até o resultado definitivo”, afirma. A simplificação do diagnóstico foi alcançada graças a um acordo firmado entre o Bio-Manguinhos e o laboratório americano Chimbio, pelo qual foram desenvolvidos dois kits de testes rápidos. O primeiro, o de triagem, foi lançado em fevereiro deste ano. O segundo teste, o confirmatório, chamado Imunoblot, teve lançamento em agosto, durante o 2º Simpósio Internacional de Imunobiológicos, organizado pelo Bio-Manguinhos.

Picada na ponta do dedo A coleta de material para o teste HIV é feita através de uma simples picada de agulha, na ponta de um dedo. Em até 20 minutos, sai o resultado. Mas o exame confirmatório só é eficaz a partir do 25º dia de infecção, explicam os médicos. Antes des-


Bernardo Portella/Acervo ASCOM de Bio Manguinhos

Resultado rápido também de hepatite C

se prazo, a pessoa pode estar na chamada “janela imunológica”, isto é, está infectada, embora seu organismo ainda não tenha produzido anticorpos. Outra vantagem do exame é seu baixo custo, cinco vezes menor que o Western blot. Com a adoção de testes rápidos para detecção de hepatite C e HIV, a economia do Ministério da Saúde pode chegar a 80% em relação aos outros testes importados. A produção inicial no Bio Manguinhos é estimada em 150 mil kits/ano. Estima-se que, em dois anos o novo teste substituirá totalmente os métodos Elisa/Western blot. O governo pretende implantar esse sistema primeiro em grupos vulneráveis, como moradores de rua, prostitutas, garotos de programa, além de populações indígenas e ribeirinhas e grávidas que não completaram o pré-natal. Também será aplicado em campanhas específicas do Ministério da Saúde, como as que ocorrem no Carnaval e em festas como a do Peão Boiadeiro. Depois, até o final do ano, ele estará disponível em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS).

A cada hora morre um brasileiro contaminado Até 1996, receber o diagnóstico positivo de HIV representava uma sentença de morte. Naquele ano, começou a ser usado o coquetel anti-HIV, uma combinação de medicamentos que impede a reprodução do vírus no organismo e prolonga a vida do paciente. No Brasil, os medicamentos necessários ao tratamento de pacientes infectados são distribuídos gratuitamente, o que conteve a epidemia, embora não tenha reduzido a taxa de mortalidade. Ainda são mais de 11 mil mortes por ano. Ou mais de uma morte por hora, segundo o Ministério da Saúde. Inicialmente, a doença esteve associada aos homossexuais masculinos. Hoje ela atinge, indistintamente, pessoas de qualquer orientação sexual e também de qualquer idade, avançando sobretudo na terceira idade. O Ministério da Saúde calcula que existe, atualmente, mais de 600 mil infectados no Brasil. Desse total, 255 mil nem sabem que têm a doença. A cada ano, 35 mil novos casos são registrados. (SN)

A Fiocruz também desenvolveu um teste rápido para diagnosticar a hepatite C, que afeta mais de 3 milhões de brasileiros. O exame usa apenas uma gota de sangue retirada do dedo do paciente e o resultado é obtido em apenas 30 minutos. Inicialmente, o teste será usado nos Centros de Testagem e Aconselhamento das capitais e depois será levado às unidades básicas de saúde. Segundo especialistas, o vírus da hepatite C é mais contagioso e resistente que o HIV e também pode ser transmitido sexualmente ou por contato com sangue contaminado. A doença assintomática por alguns anos, muitas vezes só é descoberta em fase avançada, quando já comprometeu grande parcela do fígado. A Secretaria da Saúde de São Paulo calcula que metade dos transplantes de fígado realizados no Estado é de pessoas que contraíram hepatites B e C. O presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologia, Raymundo Paraná, se diz otimista em relação ao diagnóstico mais rápido, mas alerta que é preciso ampliar a oferta de imunização, hoje só disponível para os tipos A e B, e também o tratamento. O teste rápido de hepatite C está sendo usado nos hemocentros de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Deve ser incorporado a outros hemocentros até o final do ano, o que deve tornar as transfusões de sangue mais seguras, além de permitir o processamento de até 3,5 milhões de exames em amostras de sangue por ano.

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comunicação

o negócio é mandarim

Leonardo Priori: 15 viagens à China e mudança de tratamento

Executivos brasileiros aprendem a falar a língua para Sonia Nabarrete sonia@abcdmaior.com.br

fotos: AMANDA PEROBELLI

s chineses levam a sério o ditado: primeiro faça amizades; depois, faça negócios. Assim, para ter sucesso entre eles e levar vantagem nos negócios é preciso dominar o idioma falado no país, hoje o principal parceiro comercial do Brasil. “Há dez anos, tínhamos 40 alunos e hoje esse número aumentou 15 vezes”, informa Liang Yan, vice-diretora do Centro de Língua e Cultura Chinesa (Chinbra). Hoje muitas empresas procuram o centro em busca de executivos bilíngues. A escola fica em São Paulo e é recomendada pelo Consulado da República Popular da China. O interesse pelo curso de mandarim também é crescente no Instituto Confúcio, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), único órgão brasileiro autorizado pelo governo da China a aplicar testes de proficiência de língua chinesa. As aulas são ministradas por professores vindos da universidade de Hubei, na China, especializados no ensino de mandarim para es-

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trangeiros. “Começamos com 90 alunos há três anos e hoje são mais de 600. É um curso que exige grande dedicação, mas quem leva adiante brilha feito ouro”, diz Laura Ferreira Lobo, assistente do curso. O curso completo de mandarim dura quatro anos e nele é dada ênfase à conversação – geralmente, primeiro o aluno aprende a falar e depois, a escrever. Nas aulas também são transmitidos conhecimentos sobre a cultura e a filosofia chinesas.

Vale à pena Leonardo Priori Ferreira da Silva vai concluir no final deste ano o curso de mandarim na Chinbra. Gerente de desenvolvimento de produtos e novos negócios internacionais com joint ventures na China em uma montadora, ele já visitou o país 15 vezes nos últimos cinco anos, e diz ter constatado grande diferença no relacionamento com os parceiros comerciais chineses desde que passou a falar a língua deles. “Falar mandarim estabelece um clima de confiança e empatia”, explica, “além de mostrar nosso verdadeiro interesse pelo país.” Carlos Antonio Vitelli iniciou o curso de


Serviço Centro de Língua e Cultura Chinesa Curso básico (2 semestres), intermediário (3 semestres) e avançado (3 semestres). Curso básico: R$ 50 de matrícula, R$ 100 de material, R$ 165 de mensalidade. Unidades próximas ao metrô Ana Rosa e Vila Madalena, em São Paulo, e organiza turmas especiais para empresas. Informações: (11) 3675-6898 ou www.chinbra.com.br

Instituto Confúcio, Unesp Módulos semestrais de 50 horas. Curso básico: R$ 45 de matrícula, R$ 170 de material (em até cinco parcelas) e R$ 100 de mensalidade (quatro aulas semanais). O curso é dado em São Paulo e em todas as cidades onde a Unesp tem unidades. Mantém convênio com a Uninove e as Faculdades Integradas Rio Branco, em São Paulo, e com a Universidade Católica de Santos. Informações: (11) 3107-2943 ou info@institutoconfucio.unesp.com

mandarim negociar com os chineses

mandarim há dois meses no Instituto Confúcio, motivado pela perspectiva de bons negócios para sua empresa de importação e exportação, a Dax, sediada em São Caetano do Sul, São Paulo. “Muitos empresários chineses não falam inglês e a comunicação tem de ser feita por meio de intérprete, o que cria um distanciamento. Com o curso, além de aprender o idioma, estou tendo a oportunidade de conhecer melhor a cultura chinesa, o que é fundamental para uma boa negociação”, afirma.

Carlos Antônio Vitelli: fugindo dos intérpretes

A arte de negociar com os chineses Além dos cursos de língua, crescem também a oferta e a demanda de cursos destinados a preparar brasileiros para se relacionar com os novos parceiros chineses. Um deles é o Cultura dos Negócios na China – Ambiente Cultural e Econômico, oferecido a cada semestre na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, em parceira com a BG Corporativa Cultural. Com total de 60 horas, as aulas são ministradas por Rafael Guanaes, especialista em cultura voltada a negócios, e Suzana Bandeira, especialista em comércio exterior. “Hoje, cerca de 20 mil empresas brasileiras importam produtos chineses, outras 2,5 mil exportam e um número ainda não calculado pensa em instalar-se em território chinês”, diz Guanaes. O interesse é grande, mas falta preparo para lidar com um povo que desenvolve a arte da negociação ao longo de cinco mil anos, enquanto o Brasil apenas engatinha no comércio internacional, comenta. Rafael Guanaes também aponta alguns primeiros cuidados básicos que o brasileiro deve ter se pretende negociar com chineses – e que valem também para os contatos com empresários de nacionalidades de que se tem pouco conhecimento. Dominar o idioma: gera confiança e facilita a comunicação, sem depender de tradutores. Mas é importante lembrar que fala-se quase uma centena de dialetos de mandarim no país; Conhecer a cultura: estrangeiro que demonstra conhecimento sobre os principais fatos e personagens da história e da arte do país desperta mais simpatia; Controlar a ansiedade: a negociação é sempre demorada, porém tem efeito duradouro. Na China não é costume dizer “negócio fechado” e sim “boa cooperação”, para indicar que esse não é o fim, mas o começo de uma relação comercial; Ser mais que fornecedor ou cliente: para o empresário chinês, o interlocutor é uma pessoa, além de parceiro comercial, e é natural que procurem se tornar amigos; Usar as duas mãos: na China considera-se sinal de respeito, ao entregar e receber cartões de visitas ou presentes, o visitante usar sempre as duas mãos. Agora, quatro regras de ouro para um comportamento exemplar à mesa: Respeitar a hierarquia: cada lugar à mesa é escolhido de acordo com o nível hierárquico e todos os lugares são indicados pelo anfitrião; Comer bem: refeições sempre fazem parte das negociações e costumam ser boas, fartas e variadas. É bom conhecer alguma coisa da gastronomia chinesa. Atenção: ao contrário do que se diz, cachorro não faz parte do cardápio do país. O animal foi consumido em épocas de guerra e fome; Beber com moderação. Como muitos povos, os chineses costumam brindar, mas é bom ir com calma. O baijiu, bebida típica, tem alto teor alcoólico. Empresário embriagado só faz perder oportunidades; Respeitar os costumes: símbolo da fartura, o peixe é o último prato a ser servido. O anfitrião pode presentear o visitante com a cabeça do peixe, considerada uma parte nobre.

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SETEMBRO/2011 – WWW.SEBRAE.COM.BR – 0800 570 0800

INFORME DO SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

ASSESSORIA PARA INOVAR

Projeto do Sebrae em parceria com Agência de Desenvolvimento Econômico apoia a inovação nas micro e pequenas empresas

O

ABCD, região rica em empresas com forte tradição em inovação, abriga importantes complexos industriais ao lado de milhares de micro e pequenas empresas. Berço histórico da indústria automobilística brasileira, é o quarto maior mercado consumidor do País. Neste cenário, em dezembro do ano passado, nasceu o projeto ABC Inovação, parceria entre o Sebrae e a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. O objetivo é aumentar a competitividade de micro e pequenas empresas por meio da incorporação permanente da cultura da inovação. Com uma grande variedade de cadeias produtivas, um setor de serviços e uma rede de comércio varejista em crescimento, além das múltiplas oportunidades, o ambiente de competição é cada vez mais intenso. “Isso faz com que a capacidade de se diferenciar no mercado passe a ser um fator chave para as empresas obterem sucesso nos negócios”,

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afirma Luiz Almeida, gestor do projeto. Na busca pela diferenciação, a inovação ocupa papel central. Em seu sentido mais amplo, abrange aspectos relacionados ao desenvolvimento e melhoria de produtos ou serviços, processos produtivos, gestão e posicionamentos mercadológicos. Neste contexto, o aumento da produtividade e a conquista de diferenciais tornam-se fundamentais para manter o negócio competitivo. O público-alvo é de 560 micro e pequenas empresas dos setores metal-mecânico e plásticos. Elas serão beneficiadas durante 20 meses por meio de palestras, cursos, informações e, principalmente, consultorias regulares e programadas em inovação e tecnologia. Em pouco mais de dois meses, já participam do programa 105 empresas. Nos próximos meses, serão empreendidos esforços para a adesão de novos empresários até alcançar a meta de 560 empresas beneficiadas. Dentro do projeto, são realizadas visitas, palestras presenciais e cursos em gestão da inovação.

Projeto agrega números

Empresas atendidas até o momento 105

Investimentos R$ 6,9 milhões

v

Público-alvo 560 micro e pequenas empresas

Período 20 meses


Foto: Divulgação

CADA EMPRESA É MONITORADA E AVALIADA AO LONGO DO PROJETO PARA MENSURAR OS RESULTADOS ALCANÇADOS E, EVENTUALMENTE, REFORÇAR ALGUNS ASPECTOS DA GESTÃO OU DO PROCESSO PRODUTIVO Francisco Araújo, da Durum: “O projeto abre os olhos e mostra onde estão os nossos erros”

//Atendimento personalizado As consultorias são realizadas em visitas programadas às empresas participantes, dentro de um ciclo completo que envolve a gestão administrativa e financeira, a análise e melhoria do processo produtivo com foco na inovação e tecnologia e, por fim, a gestão de marketing e vendas. Cada empresa é monitorada e avaliada periodicamente ao longo do projeto para mensurar os resultados alcançados e, eventualmente, reforçar alguns aspectos da gestão ou do processo produtivo. Segundo Almeida, este é o maior projeto para atendimento a micro e pequenas empresas já realizado pela Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. “O empresário da região nunca teve algo desse porte à disposição, em especial nas áreas de tecnologia e inovação”, destaca o

gestor do projeto. Francisco José de Araújo, diretor da Durum do Brasil, empresa do segmento metalmecânico, participa do projeto e atesta sua funcionalidade. Com base nesta consultoria, Araújo já realizou diversas mudanças na companhia. “Damos total prioridade à inovação, tanto que estamos mantendo conversas com uma universidade do Paraná para pesquisas sobre ligas. Fomentamos esses estudos a partir de universidades para trazer novas tecnologias”, destaca. O executivo afirma que o projeto do Sebrae e da Agência possibilitou nova visão para os negócios de sua empresa. “A consultoria na área de marketing melhorou nossas ações. Na área financeira, tivemos uma checagem de tudo. Estamos, inclusive, estabelecendo novos fluxos para redução de custos. Já em promoção e

vendas, recebemos do consultor uma ferramenta interessante pra fazer controle de estoque. A visita durou cerca de uma hora, mas foi muito produtiva, tanto que possibilitou verificar erros que não enxergávamos sozinhos. Agora, estamos consertando,” destaca. Francisco afirma que o projeto “abre os olhos e mostra onde estão os erros”. “Não se muda da noite para o dia, mas estamos tomando ações importantes e promissoras. Na área de marketing, por exemplo, entendemos a necessidade de mudar nosso perfil de vendas e dinamizar esse fluxo. Estamos trabalhando nisso com grandes perspectivas”, finaliza. O projeto ABC Inovação contribui com muitas empresas, como a de Francisco, para inovar e conquistar espaços no mercado. E

Serviço Sebrae Santo André (11) 4990-1911 - e-mail: ergrandeabc@sebraesp.com.br Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC (11) 4433-7352 - e-mail:agenciagabc@agenciagabc.com.br

Empreender – Informe do Sebrae. Presidente do Conselho Deliberativo Nacional: Roberto Simões. Diretor-Presidente: Luiz Barretto. Diretor-Técnico: Carlos Alberto dos Santos. Diretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos. Gerente de Marketing e Comunicação: Cândida Bittencourt. Edição: Ana Canêdo, Antônio Viegas. Endereço: SGAS 604/605, módulos 30 e 31, Asa Sul, Brasília/DF, CEP: 70.200-645 Fone: (61) 3348-7100 – Para falar com o Sebrae: 0800 570 0800 Na internet: sebrae.com.br // twitter.com/sebrae // facebook.com/sebrae // youtube.com/tvsebrae

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serviços

Passaporte para e Programa Ciência sem Fronteiras prevê a concessão de até 75 mil bolsas de estudos Consolidar, expandir e internacionalizar a ciência, a tecnologia, a inovação e a competitividade brasileira, essas são as metas do programa Ciência sem Fronteiras, destinado aos pesquisadores brasileiros interessados em inserir seus trabalhos nas melhores experiências internacionais. Para isso, serão concedidas até 75 mil bolsas de estudo nos próximos três anos, com investimentos de R$ 3,2 bilhões. Além de melhorar a qualidade dos estudantes e pesquisadores brasileiros, principalmente nas áreas de engenharia e tecnologia, o programa Ciência sem Fronteiras quer atrair também jovens talentos e pesquisadores do exterior para trabalhar no Brasil, através de chamadas públicas internacionais em periódicos, revistas de grande prestígio e entidades científicas. O programa foi criado pelas instituições de fomento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e do Ministério da Educação, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de secretarias de ensino superior e de ensino tecnológico. Anunciado durante o lançamento do Plano Brasil Maior, em julho deste ano, o programa faz parte de uma série de medidas de incentivo aos investimentos em ciência, tecnologia e inovação. Alunos de graduação, pós-graduação, doutorado e pós-doutorado podem concorrer a bolsas de estudo em 30 instituições selecionadas entre as mais bem classificadas nos rankings internacionais em cada grande área do conhecimento. São universidades, institutos de pesquisa e centros de tecnologia que se caracterizam pela excelência na produção científica e na formação de recursos humanos para o mercado de trabalho. Além de melhorar a qualidade dos estudantes e pesquisadores brasileiros, Ciência sem Fronteiras quer atrair também jovens talentos e pesquisadores do exterior para trabalhar no Brasil, através de convocações públicas internacionais em periódicos, revistas de grande prestígio e entidades científicas.

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Modalidades e regras para participação Graduação Para concorrer a uma das 27,5 mil bolsas para graduação, os interessados devem apresentar alto desempenho acadêmico, caracterizado por critérios de excelência como a nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a premiação em programas de iniciação científica e tecnológica, olimpíadas e concursos temáticos, bem como a excelência de sua universidade de origem. As bolsas no exterior são do tipo sanduíche, no caso de áreas prioritárias ou correlatas do programa, com pagamento de passagens, auxílio instalação e seguro saúde para cumprir programa de mobilidade. O prazo das bolsas é de 6 a 15 meses, se for incluído estágio programado de pesquisa ou inovação/tecnologia em indústria, centro de pesquisa ou laboratório.

Educação profissional e tecnologia O público alvo das bolsas são alunos de cursos superiores indicados por institutos de formação profissional e tecnológica, em especial os relacionados às áreas prioritárias do programa. Serão selecionados, preferencialmente, os estudantes matriculados no penúltimo ano de formação. O programa prevê o intercâmbio na instituição parceira por um período de seis meses e, no retorno, a instituição local deverá facilitar o processo de revalidação de disciplinas/créditos, de forma a não prejudicar o prosseguimento dos estudos. Serão criados mecanismos especiais para o retorno das experiências dos estudantes na instituição de origem, entre eles, a atuação como ponto focal para outros estudantes interessados. Além de sua participação em projetos de pesquisa nas temáticas do curso aproveitadas na instituição estrangeira.

Pós-graduação Na distribuição das 24,7 mil bolsas da categoria, terão prioridade os candidatos que completaram pelo menos um ano de doutorado no Brasil, foram aceitos para as atividades de pesquisa no exterior e que sejam fluentes na língua do país de destino ou em inglês. Os estudantes de doutorado sem bolsa nacional poderão ser indicados para participação no programa.

Doutorado pleno As 9.940 bolsas destinadas ao doutorado pleno vão permitir titulação acadêmica no exterior em áreas prioritárias e nas melhores instituições internacionais. Nas áreas tecnológicas e nas áreas aplicadas, visa também o fortalecimento da inovação, cujo principal resultado será a aproximação com o setor empresarial e com a sociedade civil.

Pós-doutorado São 11 mil bolsas para candidatos com título de doutor em instituições de excelência no exterior. Tem duração mínima de 6 meses e máxima de 24 meses.

Estágio sênior Destina 660 bolsas, de dois a seis meses de duração, com o objetivo de propiciar ao pesquisador consolidado o desenvolvimento de projeto de pesquisa ou parte dele em instituições estrangeiras de competência internacionalmente reconhecida.


estudar lá fora em três anos para pesquisadores brasileiros e estrangeiros

Na tentativa de atrair pesquisadores de outros países e brasileiros residentes no exterior, o programa Ciência sem Fronteira ainda terá duas modalidades, Bolsa Brasil Jovens Cientistas de Grande Talento e Bolsa Brasil Pesquisadores Visitantes Especiais.

Jovens Cientistas de Grande Talento Com 1,2 mil bolsas previstas, destina-se aos jovens com produção científica diferenciada que permaneçam no país por três anos desenvolvendo atividades com grupo de pesquisas. Serão selecionados cientistas em início de carreira, prioritariamente brasileiros, que atuem nos temas do programa e tenham se destacado qualitativa e quantitativamente pela produção científica ou tecnológica. A bolsa é de R$ 7 mil/ano, mais R$ 40 mil anuais em recursos de pesquisa adicionais.

Áreas de interesse Engenharias e demais áreas tecnológicas Ciências exatas e da terra: física, química, biologia e geociências Ciências biomédicas e da saúde Computação e tecnologias da informação Tecnologia aeroespacial Fármacos Produção agrícola sustentável Petróleo, gás e carvão mineral Energias renováveis Tecnologia mineral Biotecnologia Nanotecnologia e novos materiais Tecnologias de prevenção e mitigação de desastres naturais Biodiversidade e bioprospecção Ciências do mar Indústria criativa Novas tecnologias de engenharia construtiva Formação de tecnólogos

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Cientistas e lideranças internacionais

Pesquisadores Visitantes Especiais Com 300 bolsas programadas, o objetivo é obter o compromisso de pesquisadores estrangeiros em visitar o Brasil com regularidade previamente definida (pelo menos um mês a cada ano) e receber estudantes e pesquisadores brasileiros em seu laboratório. Um grupo no Brasil se responsabilizará pelo gerenciamento do projeto. A bolsa do visitante especial é de R$14 mil/mês, a ser paga quando estiver no país, além de custeio de uma viagem anual e outros benefícios. Está prevista verba de R$ 50 mil/ano para o laboratório hospedeiro.

Mais informações

www.capes.gov.br

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ponto de vista | Bruno Rondani

Por que em São Bernardo do Campo?

AMANDA PEROBELLI

Antes de conectar dois países, é necessário conectar as cidades-sede. E a cidade escolhida no Brasil foi São Bernardo do Campo, um entre os principais polos de inovação do país com infraestrutura mínima de trabalho.”

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Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb) nasceu de uma iniciativa de cooperação internacional destinada a desenvolver uma rede de pesquisa e inovação capaz de unir governos, academias e empresas dos dois países – distantes um do outro em mais de 10 mil quilômetros. Teoria e prática ensinam que a consolidação de redes de inovação internacionais não se dá de forma independente e desconexa das redes locais nas quais atua. Para ter impacto global, um organismo como o Cisb precisa antes ter impacto local. E precisa encontrar um ambiente a partir do qual possa construir relações e vínculos que assegurem estabilidade e, daí, projetar-se pelo Brasil afora, em busca de projetos com contraparte sueca. Antes de conectar dois países, é necessário conectar as cidades-sede. E a cidade escolhida no Brasil foi São Bernardo do Campo, um entre os principais polos de inovação do país com infraestrutura mínima de trabalho. Do lado sueco, a cidade sede é Linköping. A partir da aproximação entre São Bernardo do Campo e Linköping se começou a definir a instalação do Cisb e da interação entre as duas cidades surgiram três propostas de projetos de inovação, relacionadas ao desenvolvimento urbano que viriam a formar o portfólio de projetos do Centro. São Bernardo do Campo, polo da industrialização nacional e Capital do Automóvel entre as décadas de 1950 e 1960,

cresceu e desenvolveu-se consistentemente até meados da década de 1990, quando a indústria de transformação em todo o país passou por grande crise. A partir daí, tornou-se premente constituir uma nova vocação para a região do ABCD, baseada na indústria de base e também em serviços, conhecimento e inovação. Nesse contexto, foi criada em 2005 a Universidade Federal do ABC, com projeto pedagógico inovador, aumentando o número de tradicionais instituições de ensino da região. Algumas das principais universidades suecas, como o Royal Institute of Technology, Chalmers University of Technology e Linköping University, aproximam-se da UFABC e do Centro Universitário da FEI para desenhar projetos de cooperação científica. Em 2009, o governo paulista instituiu o grupo de trabalho do Parque Tecnológico do ABC, aumentando a capacidade da região para atrair novas instituições articuladoras como o Cisb. Deve-se lembrar que a Suécia tem grande experiência na criação dos chamados parques tecnológicos, capazes de reunir governo, universidades e empresas em um ambiente propício à cooperação. Outro fator favorável é a grande convergência entre os planos de desenvolvimento e os desafios da cidade de São Bernardo do Campo com as áreas de atuação foco do Cisb, entre eles, energia sustentável, transporte e logística, defesa e segurança e desenvolvimento urbano. Não sem razão, portanto, a escolhida foi a cidade de São Bernardo do Campo. Bruno Rondani é diretor executivo do Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro (Cisb)




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