O morar e compartilhar

Page 1


2


O morar e o compartilhar

O MORAR E O COMPARTILHAR Ana Beatriz Rodriguez Nunes Monografia para o Trabalho Final de Graduação, do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para a obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Nov. 2016 Orientador de monografia:

Dr. Arq. Urb. Carlos Andrés

Hernández Arriagada Orientador de projeto: Prof. Dr. Gilberto Belleza

3


4


O morar e o compartilhar

“Não devemos ter medo dos confrontos. Até os planetas se chocam, e do caos nascem as estrelas.” - Charles Chaplin

5


6


O morar e o compartilhar

Aos meus “porcos-espinhos”, que comigo

compartilharam experiências de vida, viagens incríveis, horas de estudos, noites viradas e todos os momentos bons e ruins que me fizeram crescer profissional e pessoalmente. Esse trabalho apenas pôde ser realizado, por conta das pessoas incríveis que passaram e estão na minha vida.

7


Abstract

In a city where population growth is always increasing while personal

relationships are growing further apart, the thesis proposes to the SĂŁo Paulo citizen a new concept of living, different from the housing concept that is common in Brazilian reality.

Based on some Europeans concepts, the project presents the idea of

sharing housing, willing to create new bonds between people who live in the same environment. Placed on the Butantan district, in the western region of SĂŁo Paulo, the idea analyzes the implantation site along with the requirements and potentialities of the place, in order to create a setting that is compatible and improves the region.

Still in this context, it proposes equipment affording culture and leisure

structure to the residents of the project and the region, always seeking, through architecture, to create new interpersonal relationships among users.

Key-words Sharing, dwelling, multifunctional, socialization, living.

8


O morar e o compartilhar

Resumo

Em uma cidade onde se observa um constante crescimento populacional,

enquanto as relações interpessoais se distanciam na mesma proporção, o trabalho propõe um novo conceito de morar, diferente do que se vê na realidade brasileira. Baseado no conceito de conjuntos habitacionais bastante presentes em países europeus, o projeto apresenta a ideia de compartilhamento, objetivando criar novos laços entre pessoas que vivem em um mesmo espaço.

Localizado no distrito do Butantã, na região Oeste de São Paulo, a

proposta analisa o local de implantação juntamente com suas necessidades e potencialidades, buscando criar um conjunto que se adeque e aprimore a região.

Ainda nesse contexto, propõe equipamentos que oferecem estrutura

de cultura e lazer aos moradores do projeto e adjacências, sempre buscando, por meio da arquitetura, criar novas relações interpessoais entre os usuários.

palavras-chave

Compartilhamento, habitação, multifuncional, sociabilização, morar.

9


Sumário

Agradecimento 7 Abstract 8 Resumo 9

1. Introdução 12 1.1 Considerações iniciais 13 1.2 Tema 14 1.3 Justificativ a 15 1.4 Objetivo 16 Notas 19

2. Conceituação

20

2.1 Viver e conviver 22 2.2 As proximidades interpessoais 22 2.3 Estudos de caso 33 2.3.1 Sociópolis e a cidade do futuro

33

2.3.2 Sharing Tower: compartilhar e integrar

38

2.3.3. Kalkbreite: Integração e sustentabilidade 47 2.4 Conclusões parciais 59 Notas 62

10


O morar e o compartilhar

3. Morar e viver em comunidade 65 3.1 Definição 70 3.2 O conceito de morar 70 3.3 Propostas habitacionais pelo mundo 72 3.3.1 Residencial Vila Verde

74

3.3.2 Quinta Monroy 76 3.4 Propostas habitacionais no Brasil 78 3.4.1 Conjunto residencial

Operário em Realengo (IAPI) 80 3.5 Conclusão parcial 81 Notas 82

4.3.1 Equipamentos Urbanos

6.Conclusões 162 7. Peças gráficas 165 8. Bibliografia 178 9. Apêndice 182 Lista de siglas 183 Lista de Figuras 184

4. Território 84 4.1 O território investigado 4.2 Histórico da área 4.3 Relação com o entorno

5.2 Estratégias 143 5.3 Partido 148 5.4 Programa 150

85 89 104

106

4.3.2 Mobilidade 117 4.4 Legislação 4.5 Conclusão parcial Notas 137

5. Projeto

132 136

141

5.1 Localização 142

11


1. Introdução 12


O morar e o compartilhar

1.1 Considerações iniciais

A cidade de São Paulo é a maior cidade do hemisfério Sul e a sétima maior do mundo. Com

mais de 1.500 km² em área e quase 12 milhões de habitantes1, o tempo gasto em locomoção entre a residência, moradia, estudos, trabalho e lazer é demasiado. A busca pela união de atividades em um mesmo local tem sido uma preocupação cada vez maior entre arquitetos e urbanistas, na tentativa de economizar tempo de locomoção, voltando-o para as atividades que realmente importam.

Ainda nesse cenário, a quantidade de moradores da cidade continua crescendo, enquanto

a integração entre eles diminui na mesma frequência. Milhares e milhares de pessoas vivendo e convivendo em um mesmo ambiente, sem ao menos conhecer seus nomes. O centro da cidade possui um fluxo intenso de pessoas, e poucas são as que trocam alguma palavra entre si.

O conceito de hibridismo tem como princípio a união entre as necessidades de moradia e

lazer em um mesmo conjunto, trazendo vitalidade para a região, atraindo pessoas de diferentes classes e faixas etárias e criando assim novos centros para a cidade. Sem voltar a habitação exclusivamente para estudantes ou idosos – o que é comum no país - foca na diversidade e dinâmica da forma de morar e viver em um espaço. Ainda nesse contexto, a questão habitacional da cidade será trabalhada, a fim de encontrar uma solução para o distanciamento social e emocional da população, colocando a arquitetura como elemento incentivador das inter-relações humanas.

Organização

do trabalho

O trabalho organiza-se em cinco capítulos, que buscam explicar os principais pontos a

13


serem tratados, da seguinte forma:

CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO. Apresentação do tema, apontando as

questões e problemas abordados.

CAPÍTULO 2. CONCEITUAÇÃO: Apresenta projetos habitacionais já

existentes que possuem compartilhamento de espaços internos na moradia, além do estudo das proximidades interpessoais, a fim de prover um convívio com conforto para os usuários.

CAPÍTULO 3. MORAR E VIVER EM COMUNIDADE: Explicitadas as

diferenças entre os termos que intitulam o capítulo, apresenta a explicação dos conceitos e propostas habitacionais no Brasil e no mundo e suas formas de habitar, dependendo das necessidades do país.

CAPÍTULO 4. O TERRITÓRIO: Uma análise do local de implantação

do projeto proposto, compreendendo seu histórico e sua situação atual, adequando o projeto às suas necessidades locais.

CAPÍTULO 5. PROJETO: Explicação da proposta projetual, suas

estratégias, e seu desenvolvimento até a etapa final.

1.2 Tema

A proposta do projeto visa a criação de uma habitação democrática, que acima de tudo

privilegie o convívio entre pessoas com as mais diferentes histórias, faixas etárias e estilos de vida, de modo que possam viver coletivamente em espaços projetados para atender suas necessidades.

14


O morar e o compartilhar

Desta forma, pretende-se construir um conjunto habitacional compartilhado, que abrigue

pessoas com diferentes necessidades de moradia, explorando ao máximo o potencial espacial e urbanístico da construção e oferecendo equipamentos urbanos para toda a população. Para tanto, o projeto deverá contemplar residências permanentes ou semipermanentes que poderão abrigar, tanto estudantes de outras cidades, como recém casados, famílias com ou sem filhos e pessoas idosas.

O intuito do projeto é fomentar a convivência entre pessoas. Desta forma, as habitações

terão como ponto de partida o compartilhamento de áreas comuns. Dividindo um mesmo apartamento, espaços sociais como sala de estar, jantar, cozinha, serão partilhados entre moradores que não possuam consanguinidade ou nem ao menos se conheçam. Sendo assim, as relações pessoais serão formadas a partir do compartilhamento de espaços e a convivência nos mesmos, como ocorre em projetos já existentes, como o Sharing Tower, de Vicente Guallart, na Espanha, ou o conjunto Kalkbreite, na Suíça, onde a partilha é presente na forma de viver.

Além da parte habitacional, o conjunto contará com uma área multifuncional para uso

dos moradores e da população, contendo equipamentos como biblioteca, creche, auditório, centro de convivência que atenderá as necessidades do território e de seus moradores.

1.3 Justificativa

Pensando em uma resposta para o adensamento populacional que ocorre no centro

urbano, bem como para o crescente distanciamento e indiferença entre as pessoas como indivíduos, a proposta do projeto é criar um espaço residencial e urbanístico que se distancie do

15


centro comercial de São Paulo e aproxime as pessoas em espaços urbanizados de convivência e moradia.

Visto que o que ocorre com frequência é a exclusão de parte da população do mercado

imobiliário, devido aos altos preços do lote em relação aos equipamentos ao seu redor2 (serviços, transporte, empregos etc), a proposta de união de funções em um mesmo território acaba por enfrentar as distâncias geralmente presentes em projetos habitacionais e equipamentos urbanos. Além disso, o projeto situa-se em uma região que, apesar de não se localizar no centro comercial de São Paulo, tem apresentado alto crescimento econômico ao longo das últimas décadas.3

A escolha do local de implantação do projeto se baseia na necessidade de diminuir a

quantidade de pessoas no centro de São Paulo, e incentivá-las a morar em outros polos da cidade, ainda em desenvolvimento, mas com grande potencial. Os conjuntos híbridos no geral têm como objetivo criar intensidade e vitalidade para a cidade, atrair pessoas e favorecer a mistura entre as mesmas.4

1.4 Objetivo

A integração entre pessoas é o principal motor para a execução do projeto. Esta deve

existir tanto nas áreas comuns de uso público, como biblioteca ou auditório, quanto nos espaços privados internos das moradias, como cozinhas ou salas de jantar. São breves momentos onde há incentivo à integração entre outros usuários de maneira natural, tornando as atividades rotineiras um momento de confraternização.

Frente a este quadro, o programa proposto visa a implantação de apartamentos

residenciais de semi ou longa permanência, ou seja, que possam ser utilizados tanto por estudantes de outras cidades, que pretendem morar na região por um período de 5 a 8 anos,

16


O morar e o compartilhar por exemplo, assim como para novos casais que buscam uma moradia para se estabelecer antes de pensar em filhos; famílias que já possuem filhos e também casais de idosos que buscam um lugar que lhes proporcione lazer e atividades diárias. As residências contemplarão ambientes privados, onde os moradores exerçam atividades que podem não ser compartilhadas – como dormitórios e banheiros – e também ambientes em comum com os outros moradores, como cozinha ou espaço de estudos, baseado na lógica de projeto da Sharing Tower, do arquiteto Vicente Guallart, que aborda o compartilhamento de áreas comuns com o objetivo de integração e convivência entre os moradores.

A questão do compartilhamento habitacional é um ponto essencial na proposta projetual.

A habitação compartilhada é uma realidade em diversos países europeus, porém ainda não tão presente no Brasil. A intenção do projeto é proporcionar à população uma nova forma de morar. As opções de moradia compartilhada no Brasil, em sua maioria, restringem-se a casas para idosos e moradias estudantis, segregando as pessoas de acordo com sua situação atual ou momentânea, sem pensar na integração entre diferentes estilos de vida. É importante frisar que a proposta habitacional do projeto visa a moradia para pessoas que possuam vontade de partilha ou que almejam morar de uma maneira diferente da convencional no país. O sistema apresentado busca ser uma moradia acessível para todos, propiciando integração entre todos os moradores, assim como entre todos os usuários do conjunto, tanto nas atividades públicas, quanto nas privadas.

“O uso comum dos espaços encoraja as interações sociais” (GUALLART, 2004)

17


Questões

a serem tratadas

Os capítulos se dividem de forma a responder as seguintes questões:

1. Quais as melhores formas de morar e viver em comunidade, visando

um conforto e harmonia entre pessoas tão distintas, que se propõem a compartilhar espaços internos de suas residências?

2. Como a arquitetura pode influenciar a maneira das pessoas

interagirem e se relacionarem entre si?

3. Como o espaço arquitetônico interfere na forma de viver e morar

dos usuários, assim como suas funções?

4. Como o local onde o projeto é inserido influencia seu programa? E

como o programa do projeto influencia o seu entorno?

18

5. Como a proposta do projeto se encaixa ao estudo?


O morar e o compartilhar

Notas

1

Disponível em: http://www.

cidadedesaopaulo.com/sp/br/a-cidade-desao-paulo/3-dados-da-cidade-de-sao-paulo (Último acesso em 16/03/2016 às 13:40) 2

AMORIM, Anália. OTERO, Ruben.

Habitação e cidade. Pós graduação da Escola da Cidade. UPM-AC. São Paulo, 2009. 3

Disponível em: http://www.

prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/ cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/ bibliotecas_a_l/camilacerqueiracesar/ index.php?p=129 (Último acesso em 29.05.2016 às 21:40) 4

Disponível em http://

www.webartigos.com/artigos/ edificios-multifuncionaishibridos/121911/#ixzz43xT7zDa9 (Último acesso em 05.06.2016 às 19:00)

19


2. Conceituação 20


O morar e o compartilhar

Durante a era glacial, há milhares de anos, quando o globo estava coberto por uma densa camada de gelo, muitos dos animais não resistiram ao intenso frio e acabaram morrendo, devido à dificuldade em se adaptar às baixas temperaturas e ao clima inóspito. Em busca de conforto, uma vara de porcos-espinhos começou a se unir, juntando-se cada vez mais para se proteger do frio, compartilhando o calor de seus corpos. Desta forma, conseguiriam resistir melhor à temperatura. Assim permaneceram por algum tempo, imaginando que estariam seguros. Porém, infelizmente, os corpos que proporcionavam conforto e calor, eram os mesmos que os feriam com suas pontas agudas. Os espinhos passaram a ser um incômodo, ferindo a pele dos companheiros próximos. Assim sendo, foi necessário o afastamento entre eles, que magoados e feridos, se viram obrigados a aguentar sozinhos a rígida temperatura. Essa, porém, não foi a melhor solução. Sem o calor do próximo, sobreviver passou a ser algo quase impossível e uma grande quantidade de porcosespinhos começou a morrer de frio. Os que resistiram, voltaram a se aproximar aos poucos, tomando o devido cuidado para não se aproximar demais, a ponto de machucar os companheiros, mas mantendo uma distância que possibilitasse a troca de calor entre os corpos. Descobriram assim a distância necessária para garantir a sobrevivência, aprendendo a conviver com as pequenas feridas que um convívio tão próximo pudesse causar. Baseada na Fábula da convivência. SCHOPENHAUER, Arthur 5

21


2.1 Viver e conviver

A convivência entre os seres vivos sempre foi essencial para seu bem estar e sobrevivência,

tanto quanto o ar, água e alimento. No entanto, é um desafio diário e envolve um exercício de tolerância e amorosidade, que nem todos estão dispostos a viver. A proximidade pode gerar conflitos, disputa pelo poder e uma série de sentimentos que devem ser considerados e trabalhados. Optar, porém, por uma separação ou distanciamento para evita-los, não é a melhor solução.

A fábula mostra que quanto mais os seres vivos preocupam-se com a felicidade do

próximo, melhor seu sentimento de satisfação. Compartilhar experiências, vivências e calor acarreta um sentimento de tranquilidade e paz, trazendo bem estar a si mesmo.

O ser humano, assim como os animais, sempre teve a necessidade de viver em comunidade.

Tanto por motivos de segurança, quanto por motivos de troca e conforto. Ao longo dos anos, essa convivência foi se afastando de seu significado, sendo, por muitas vezes, esquecida, em uma ideia de que é melhor se viver sem a partilha. O problema real que ocorre, porém, é a dificuldade do ser humano em saber a distância exata para uma convivência harmoniosa, tanto entre familiares e pessoas próximas, quanto entre desconhecidos que compartilham os mesmos ambientes. Aprender a lidar e superar tais dificuldades pode trazer inúmeros benefícios a todos.

2.2 As proximidades interpessoais

A fábula de Schopenhauer descreve a importância da vivência em comunidade, mas

mantendo sempre uma distância saudável do próximo, para que não haja “ferimentos graves”.

22


O morar e o compartilhar

O antropólogo Edward T. Hall trabalha em seu livro A dimensão oculta6 as distâncias

interpessoais, segundo suas experiências no espaço e relação com o outro. A compreensão dos espaços e distâncias é um fator essencial para a construção de ambientes de convivência e devem ser respeitados de acordo com suas respectivas necessidades. Apesar do convívio ser algo necessário e saudável para os seres vivos, assim como na fábula, deve-se sempre haver uma distância a ser respeitada.

Hall estuda a percepção do espaço através de cinco sentidos, sendo eles o tato, olfato,

audição, visão e os receptores.7 Divididos em duas categorias, os receptores podem ser remotos - responsáveis pela percepção de objetos à distância: olhos, nariz e ouvidos – ou imediatos responsáveis pela análise próxima do entorno: tato, sensações na pele e músculos, como troca de calor.

O estudo dos mesmos e das distâncias interpessoais é algo essencial na atualidade,

principalmente devido à alta densidade urbana nos grandes centros e, por muitas vezes, a perda dos sentidos de espaços pessoais, na forma como devem ser tratados.

Assim, Hall classifica as distâncias em quatro diferentes zonas8, sendo eles distância

íntima, pessoal, social e pública. Dependendo da distância tratada, os sentidos são mais ou menos aguçados, modificando assim sua percepção do outro. Essas distâncias mudam de acordo com o nível de intimidade proposto ou oferecido aos indivíduos.

A classificação de espaços é importante devido à necessidade do ser humano de

manifestar territorialidade. Assim, as distâncias diferem de acordo com o relacionamento entre os indivíduos, suas ações e seus sentimentos. Por um lado, esse sistema pode ser aplicado a alguns animais, como aves ou primatas9. Apesar disso, mesmo entre os seres humanos, esses padrões podem ser diferentes dependendo da cultura, religião ou posição geográfica. Aspectos como a proximidade entre os indivíduos ou o tom usado em cada zona, diferem, por exemplo,

23


entre americanos, alemães e russos. Pode ser dividido entre família-não família, como ocorre nos países da Península Ibérica, ou por sistemas de castas e párias, comum na Índia. Judeus e árabes também possuem uma organização espacial diferente do que é o usual nos países ocidentais, principalmente no continente americano.10

Hediger11 exemplifica as distâncias de conforto com a presença de uma “bolha protetora”

imaginária presente ao redor de cada indivíduo. Essa bolha é a responsável pelas sensações de intimidade ou desconforto, dependendo de cada situação vivenciada pelos mesmos, que variam de acordo com as zonas citadas. Assim sendo, divide as quatro distâncias em duas fases cada: fase próxima e fase remota, resultando assim em oito diferentes categorias.

Distância íntima

Nessa zona, os cinco sentidos citados estão presentes, sendo assim fácil de se reconhecer

odor, calor, som e respiração, causando envolvimento entre ambas as partes. A visão, porém, é distorcida, devido à proximidade entre os indivíduos, não sendo assim tão presente. Essa distância é comum, normalmente entre amigos próximos, parentes ou casais.

24


O morar e o compartilhar Fase

próxima: de

0 a 15 cm

Essa é a fase mais presente

entre casais e em combates corpoa-corpo. Há quase necessariamente o contato físico entre os envolvidos. Apenas detalhes são percebidos, como pelos ou poros, por exemplo, enquanto Figura 1 À essa distância, o envolvimento pessoal impede que haja incômodo por conta da invasão das bolhas pessoais. Edição sobre imagem. Foto disponibilizada por Jéssika Rimet.

a

visão

periférica

é

praticamente

inexistente

e

audição

diminuída,

sendo

é

a

possível trocar sussurros. As bolhas pessoais se sobrepõem, sem causar desconforto, devido à relação íntima entre os indivíduos, ou a intenção de

tê-la.

A figura 1 representa um exemplo de fase próxima, onde as bolhas pessoais de cada

indivíduo se sobrepõem – representada na cor verde, sobreposição das bolhas azul e amarela. Há contato físico máximo, onde pernas, abdome, braços e partes da face se tocam, além de criar outros inúmeros estímulos sensoriais, em uma proximidade onde a visão periférica perde o foco, enquanto a visão próxima é extremamente nítida. A troca de palavras é quase inexistente, sendo substituída pelos outros sentidos presentes.

25


Fase

afastada:

de

15 a 45 cm

À esta distância, já é possível manter o foco

dos olhos, sem que a visão periférica seja totalmente embaçada, possibilitando a definição do contorno da cabeça e dos ombros. Há troca de calor entre os envolvidos, e algumas partes do corpo – como as mãos- podem se tocar. Odores exalados pelo outro ainda são perceptíveis, mas já não tão intensamente.

A comunicação pode ser feita em baixo

tom de voz. Esta distância é comum entre pessoas que possuam algum tipo de envolvimento pessoal, causando

desconforto

quando

ocorrido

entre

pessoas desconhecidas, como pode acontecer despropositadamente em aglomerações de pessoas, Figura 2 Distância íntima - afastada. A proximidade entre os indivíduos permite o toque, apesar de não ser necessário. Edição sobre imagem. Acervo pessoal da autora.

como por exemplo em ônibus e metrôs lotados.

A figura 2 mostra a proximidade, bastante

presente entre familiares, amigos ou conhecidos próximos. Para que haja comunicação, não é necessário o aumento do nível de voz, apesar de não estarem próximos o suficiente para troca de calor ou distorção da visão.

26


O morar e o compartilhar

Distância pessoal:

É a distância entre pessoas que possuem algum tipo de relação, mas sem que haja contato

físico. Considerando-se que cada indivíduo possua sua “bolha protetora”, que mantém distância de outras pessoas, à esta distância, essa “bolha” praticamente não é invadida.

Fase

próxima: de

45 a 75 cm

A proximidade se dá ao fato

de que os indivíduos podem afetar o outro. Desta forma, o contato físico ainda é possível, como segurar mãos, porém não é essencial nem tão presente. Não há distorção dos traços. As bolhas pessoais Figura 3 A imagem mostra dois colegas a uma distância próxima, onde a visão é nítida, mas a proximidade é grande o suficiente para ser possível tocar o outro. Acervo pessoal da autora.

ficam próximas, e a sobreposição prolongada das mesmas, significa relação pessoal distintiva.

Na figura 3, os indivíduos

podem tocar a outra pessoa, porém há nitidez de suas feições e noção de volume, principalmente em relação a objetos.

27


Fase

afastada: de

75 a 120 cm.

Essa fase é presente entre

pessoas que tratam de assuntos com envolvimento pessoal. Detalhes do cabelo, sujeira nos dentes, pintas, rugas, manchas nas roupas podem ser percebidos. A voz mantem-se em tom moderado, não há troca de calor Figura 4 A figura mostra duas pessoas trocando informações. Elas podem se tocar, porém não há necessidade. Edição sobre imagem. Acervo pessoal da autora.

entre os corpos e odores exalados pela outra pessoa, que quando não intensos, não são percebidos.

A figura 4 pode ser expressada “pelo alcance da mão”. Assim, o toque pode se dar com

facilidade, ou pode haver um pequeno esforço para que os participantes se toquem entre si, como estendendo os braços.

Distância Social

É a distância presente em situações de trabalho, comércio ou serviços, tanto entre

pessoas que se conhecem, quanto entre pessoas que desejam ter uma relação. Não há contato físico entre os participantes, nem a intenção de haver. Os detalhes no rosto não são percebidos e o tom de voz é normal, audível até 6 metros de distância.

28


O morar e o compartilhar Fase

próxima:

O

1,20 a 1,50 m

envolvimento

pessoal

ocorre, porém de forma impessoal ou por vezes forçada, acontecendo principalmente em ambientes de negócios ou serviços. Essa distância é encontrada tanto entre colegas de trabalho, quanto em reuniões informais ou entre secretárias em escritórios e consultórios (Fig. 5).

Muitas vezes há um efeito de dominação, principalmente quando um

dos indivíduos está de pé falando com uma secretária ou recepcionista, por exemplo. Expressões faciais ainda são perceptíveis.

Fase

afastada: de

Figura 5 D i s t â n c i a entre colegas de trabalho, onde pode haver ou não relação pessoal. Edição sobre imagem. Acervo pessoal da autora.

2,10 a 3,50 m

Com uma relação mais formal,

essa fase é presente principalmente em relações ocorridas em escritórios de pessoas com cargos importantes, mantendo visitantes na fase afastada da distância social. Os participantes não possuem contato físico, os detalhes mais sutis do outro são

Figura 6 Distância encontrada em escritórios, entre o dono da sala e o convidado. Edição sobre foto. Disponível em: http://bit.ly/2f11vgf

29


perdidos, o nível de voz mantem-se elevado e a figura completa ou semi completa do participante é percebida.

Na figura 6, a distância entre os indivíduos é grande, passando impessoalidade e

formalidade. O nível de voz já encontra-se mais alto e é necessário certo esforço para tocar no outro participante, como mover-se para frente ou levantar-se.

Distância pública

As mudanças sensoriais que acontecem na transição da distância social para a pública

são bastante importantes e notórias. As bolhas pessoais dos indivíduos envolvidos não chegam nem minimamente perto de serem invadidas. Normalmente não há relação pessoal entre os envolvidos, havendo um locutor principal e seus ouvintes. São distâncias presentes em aglomerações ou grupos de pessoas, envolvendo números maiores de participantes.

Fase

próxima: de

Essa

3,50 a 7,50 m

distância

pode

ser

considerada como uma distância segura para reação de fuga. Isso significa que um indivíduo que se sinta ameaçado pode facilmente exercer uma função de fuga ou defesa. Essa distância é muito comum entre animais, variando,

30

Figura 7 Sala de aula no estilo auditório apresenta a fase próxima da distância pública. Imagem divulgação.


O morar e o compartilhar porém, de acordo com seu tamanho ou agilidade. Entre seres humanos é geralmente usada em discursos formais, para conjuntos de pessoas ou plateias, ou em aulas tipo palestra (Fig. 7). Por isso, a voz é mantida em tom elevado, mas ainda sem auxílio eletrônico. A visão pode captar todo o corpo do interlocutor e detalhes da face ou do corpo, como cor de olhos ou manchas na pele, são imperceptíveis.

Fase

afastada:

7,5m

ou mais.

É a distância presente em eventos com pessoas públicas, principalmente mantida por

questões de segurança (Fig. 8). Na maioria dos casos, a voz é praticamente ou totalmente

Figura 8 Em apresentações envolvendo pessoas públicas é comum o uso de aparelhos para a comunicaçao, que muitas vezes se dá por um locutor e diversos ouvintes. Disponível em: http://bit.ly/2g5G0bL

31


inaudível sem a presença de equipamentos eletrônicos, sendo a visão o único sentido possível de ser utilizado naturalmente. A linguagem gestual é bastante importante como forma de comunicação.

Como apresentado por Hall em seu livro, as distâncias presentes nos seres humanos variam

tanto de acordo com costumes, culturas e religiões, quanto de acordo com as necessidades de comunicação, proximidades entre as pessoas, situações apresentadas e as impressões que se pretende passar. Assim como visto na fábula de Schopenhauer, as distâncias devem sempre ser respeitadas, a fim de não causar incômodos para nenhuma das partes envolvidas. Tanto entre seres humanos, quanto entre animais, elas são utilizadas entre a mesma espécie de forma a gerar sempre harmonia entre os envolvidos. Assim sendo, fica possível estabelecer dimensões e distâncias de espaços, assim como entender quais lugares podem ser de uso público e quais podem ser privados, para que em todos haja conforto para os usuários.

32


O morar e o compartilhar

2.3 Estudos de caso

Figura 9 Projeto de Sociópolis, na Espanha. Disponível em: http://bit. ly/2g8x2M3

2.3.1 Sociópolis e a cidade do futuro

A ideia de cidade do futuro europeia geralmente gera um conflito

entre duas ideias: o novo e o antigo. Por um lado, tem-se o modelo do século

33


Figura 10 Modelo de Cerdá propunha à Barcelona um traçado urbanístico completamente em estrutura radial ou quadricula. Disponível em: http://bit.ly/2eRUsrN

XIX de Walter Benjamin, que, com o projeto “Arcade”, visa a implantação de vias como os blocos em grade do modelo de Cerdá.12

Esse modelo de cidade é tão aceito, por proporcionar uma sensação

familiar ao local e aos seus usuários (Fig. 10). Porém, esse exemplo de cidade não condiz com a realidade contemporânea, devido à enorme quantidade de pessoas que se aglomeram nos centros urbanos. Pequenas cidades já não suportam as grandes concentrações de pessoas, que acabam mudando para maiores centros, que oferecem espaços comerciais, indústrias, áreas residenciais mistas e uma maior infraestrutura. Sendo assim, manter a ideia de viver em uma cidade antiga separada do meio

34


O morar e o compartilhar rural, não condiz com as possibilidades de unir as duas formas de vida.

O arquiteto e professor americano Mitchell Joachim propõe com projetos conceituais,

que a cidade do futuro seja um local adaptado ao pedestre, com carros adaptados à cidade, e não o contrário13. Para sua existência, ele defende a presença de cinco pontos essenciais, entre eles a presença de áreas públicas, que podem ser voltadas para fins estéticos como também para plantio e resfriamento da cidade; a conversão da energia gerada por exercícios físicos em energia elétrica para movimentar meios de transportes e despoluir águas; a construção de prédios autossuficientes, que utilizem de placas de absorção de energia solar e eólica em suas janelas e entre torres, entre outros.

Os pontos presentes em cidades do futuro já existentes como Masdar em Abu Dhabi, ou

Songdo, na Coréia do Sul visam a integração entre pessoas, preocupação com meio ambiente, incentivo à utilização de meios de transportes públicos ou não poluentes, integração de diversos serviços em um só espaço, incentivo à cultura e lazer e principalmente uma cidade pensada nas pessoas, onde os meios de transporte se adaptem a ela14.

O projeto de Sociópolis, na Espanha, apresenta uma nova experiência arquitetônica,

onde as prioridades antigas de funções e as atuais de tecnologias se misturam em um único projeto15. Nele, o conceito divergente de cidade e campo, se une em um só lugar, ainda propondo integração e diversidade de usos.

Sociópolis localiza-se na fronteira entre a área agrícola e urbana e possui em seu subsolo

um estacionamento que desacelera o ritmo entre os dois lados, representando a desaceleração entre a transição de áreas. Pela primeira vez no milênio, é criado um projeto com integrações reais e uma visão europeia da cidade do futuro. Com a criação de um novo padrão, Sociópolis visa uma integração entre pessoas, buscando uma sociedade o mais igualitária possível, fazendo com que grupos marginalizados da sociedade encontram aqui um local democrático para se morar.

35


A proposta de Sociópolis, ainda conta com a construção de moradias que redefinem o

conceito de “máquina de viver”, promovendo uma nova ideia de moradia baseada não apenas na funcionalidade, mas principalmente na troca. A necessidade de interação surge como uma resposta dos desafios criativos e culturais da atualidade, buscando uma sociedade homogênea e informal.16

Com a participação de 13 equipes de arquitetos e escritórios no projeto, Toyo Ito, MVRDV,

Alejandro Zaera, Greg Lynn entre outros, sob a direção de Vicente Guallart, a proposta foi criar um

36


O morar e o compartilhar masterplan para a área de Valência, contando com a geração de novas tipologias habitacionais que gerem integração entre os moradores, além de oferecer instalações e espaços públicos.

Os edifícios acabam se tornando seres híbridos com programas mistos, e o projeto vira

uma microcidade, estimulando ação e criação entre seus usuários, unindo a cidade à cultura.

Figura 11 Projeto de Sociópolis. Disponível em: http://www. guallart.com/files/ projects/sociopolis/ sociopolis_%20(15). jpg

37


Figura 12 Sharing Tower. Vivências entre diferentes pessoas. Disponível em: http://bit. ly/2fsnzOo

2.3.2 Sharing Tower: compartilhar e integrar

A proposta do conjunto “Sharing Tower” elaborado para o projeto

de Sociópolis em Valência, Espanha tem como um dos principais objetivos encorajar as interações entre os indivíduos por meio da arquitetura.17

38


O morar e o compartilhar

Devido à carência de avanço da área habitacional na região na época, foi necessária a

criação de novas formas de morar para o futuro. Preocupa-se primeiramente com a criação de espaços de qualidade, áreas verdes e diferentes equipamentos que induzam interações interpessoais, relações sociais e hibridização entre pessoas. Além disso, o projeto propõe diversas tipologias habitacionais para as novas famílias que se inseriam no país na época.

O termo “novas famílias”, destina-se à grande presença de famílias que se diferenciam

do modelo de família tradicional que se tinha até então – um casal com um ou mais filhos. Tendo em vista que menos de 50% da população ainda seguia esse padrão, enquanto novas famílias - mesmo sem laços sanguíneos, mas que partilhavam mesmo espaços, atividades e recursoseram criadas, a implantação de moradias voltadas para as mesmas foi necessária.

om uma área de 6.600 m², o programa conta com 99 apartamentos compartilhados para

jovens, centros de informações para jovens e mulheres e mais de 300 vagas de estacionamento. O projeto propôs novos modelos de habitação que comportassem as necessidades de diferentes tipos novos de famílias e pessoas que precisassem de suporte público, entre elas, filhos emancipados, idosos – muitas vezes morando sozinhos -, imigrantes, entre outros18. Conta com unidades para locação, equipamentos voltados para artes, esportes, sociabilidade, estúdios etc, oferecendo assim a estrutura necessária para os moradores.

O programa visa a criação de um modelo de moradia que possua novas tipologias de

habitação familiar que fujam do padrão, promovendo integração entre os moradores e seus vizinhos, o compartilhamento de espaços enquanto moradia e inspiração em projetos de edifícios híbridos. Assim, Guallart aborda tópicos como o isolamento humano e a dificuldade para se obter interações pessoais; a concepção de espaços que promovam a qualidade ambiental e a interação com natureza; a utilização da tecnologia para uma melhor qualidade de vida e a unificação de ambientes em um espaço interno doméstico.19

39


O projeto surge com o objetivo de criar um habitat solidário, onde haja maior integração

social entre seus habitantes, promovendo melhores condições familiares, alta qualidade ambiental e com novas tipologias habitacionais.20 A questão proposta como base para o projeto baseou-se em dedicar o conhecimento que já se tem hoje para desenvolver habitações públicas que supram as necessidades atuais e futuras.21

O projeto da Sharing Tower, de Guallart e María Díaz distingue-se de outros projetos

principalmente devido às relações dinâmicas que ocorrem entre seus habitantes e o compartilhamento de espaços entre os mesmos, justificado pela sociedade conectada do século XXI, que consegue dividir e compartilhar recursos22. O ponto chave do projeto é decidir quantos recursos serão compartilhados por quantas pessoas, organizando o espaço para que haja a maior quantidade de trocas, sem que haja desconforto quando ocorram.

O projeto é organizado de forma a obter o dobro de benefícios ocupando apenas metade

do espaço, ou utilizando apenas metade dos recursos, a fim de incentivar a integração por meio do compartilhamento de ambientes.23 A organização do espaço habitacional ocorre tendo em vista as principais atividades necessárias para cada atividade e o tempo gasto em cada uma delas. Sendo assim, afazeres que possam ser compartilhados, e que gastem pouco tempo para serem executados – como cozinhar, lavar, passar, entre outros, que geralmente ocupam menos de 10% do tempo – podem ser executados em espaços compartilhados com outros moradores, economizando área dentro da própria moradia, uma vez que não é lógico que cada apartamento possua um espaço individual para estas atividades, além de provocar encontros casuais e relações dinâmicas entre vizinhos do mesmo andar.24

Recintos considerados particulares – como quarto ou banheiro – localizam-se dentro

de cada espaço individual, não havendo a necessidade de compartilhamento com os outros

40


O morar e o compartilhar moradores. Com tal divisão, apartamentos com área privada de 25 m² possuem então uma área efetiva de 90 m², sendo a área compartilhada de 75 m². Além disso, as divisões por andares se dão por aparência, sons e cheiros. Cada andar pode ser arranjado de acordo com as necessidades e vontades dos moradores.

Guallart cria um esquema onde cada função vital da moradia é representada por um objeto

de acordo com a função principal nele desenvolvida, e os divide por entre os apartamentos. Primeiramente, o arquiteto defende a existência de três espaços físicos, onde entre o espaço público e o privado, há o espaço compartilhado (Fig. 13).

Figura 13 Modificação sobre imagem. Disponível em: http://bit.ly/2fSY4Wm

A partir desse conceito, são divididos os objetos necessários para cada local, para que se

compreenda as necessidades de cada espaço. Assim, os ambientes são divididos por funções – como comer, dormir, conviver etc – e dentro deles são colocados os móveis essenciais, como ilustrado na figura 14 – ou seja: na área de descanso encontra-se a cama, na área de comida, a

41


mesa etc.

Guallart afirma que cada indivíduo deve dispor de ao menos

25 m² para locar seus móveis essenciais. Porém, há a possibilidade de compartilhamento de recursos em áreas em comum, como salas, cozinhas etc. Com essa partilha, os espaços utilizados são menores e os espaços excedentes podem ser voltados para os usos particulares, oferecendo áreas maiores para uso particular e espaços mais amplos para o uso coletivo (Fig.15).

42

Figura 14 Modificação sobre imagem. Disponível em: http:// www.guallart.com/files/ projects/sharing-tower/ sharing%20(5).jpg


O morar e o compartilhar

O esquema mostra a proposta de compartilhamento citada, com divisão de ambientes de

acordo com as metragens necessárias, assim como as disposições de objetos de forma a tornálos de uso particular ou compartilhado.

Figura 15 modificação sobre imagem. Disponível em: http:// bit.ly/2fSY4Wm

43


As plantas de cada pavimento são diversificadas, dando movimento e coloração na

fachada. Todas contam com uma área central compartilhada – representada em cores nas figuras a seguir (fig. 16 e 17) - rodeadas pelos dormitórios individuais – vistos em planta (fig.18)

As áreas compartilhadas localizam-se no centro da planta do pavimento (Fig. 19), podendo

ser divididas entre todos os moradores do andar.

Figura 16 Representação das áreas comuns do projeto. Disponível em: http://bit.ly/2fOJLCY

44


O morar e o compartilhar

Figura 17 Esquema dos apartamentos. A área em laranja é compartilhada entre os moradores. Imagem modificada pela autora. Disponível em: http://bit.ly/2fT0Hr7

Figura 18 Planta representando a área comunitária (azul) e os apartamentos individuais, com dormitório e banheiro. Acima, os objetos representam a quantidade necessária de cada função pelo pavimento. Disponível em: http://bit.ly/2g4Jqf1

45


Figura 19 Plantas dos pavimentos. Áreas em laranja são compartilhadas, rodeadas pelos dormitórios individuais, em branco. Disponível em: http://www.guallart.com/projects/sharing-tower

46


O morar e o compartilhar

Figura 20 Edição sobre imagem. Disponível em: http://bit.ly/2fel6Hm

2.3.3. Kalkbreite: Integração e sustentabilidade

O que à primeira vista parecia ser um projeto utópico, está construído

e já em funcionamento em Zurique, na Suíça. O projeto habitacional que

47


visa a convivência de aproximadamente 250 moradores em comunidade e o espírito ecológico, vem sendo apreciado e levado como uma nova tendência na forma de construir e habitar em comunidade.25

Figura 21 Pátio interno de uso público. Apesar de se localizar no centro da cidade, passa a sensação de estar no meio do campo. O paisagismo foi proposto pelos próprios moradores. Edição sobre imagem. Disponível em http://bit.ly/2fel6Hm.w

48

O projeto de Kalkbreite cria um espaço para

os usuários que lembra uma pequena vila, mesmo localizando-se no centro de uma grande cidade. Além das diversas moradias comunitárias existentes, como


O morar e o compartilhar repúblicas, apartamentos uni ou plurifamiliares, há também espaços como lojas, áreas de convivência, um pátio interno central com playground, espaços de lazer e descanso (Fig. 21). Tudo isso acima de uma garagem e estação de trem26

O conjunto Kalkbreite encontra-se na região central da cidade mais populosa da Suíça.

Enquanto durante o dia os trens trafegam pela cidade cumprindo seus usuais itinerários, à noite eles estacionam dentro do prédio, na garagem da companhia de transportes da cidade. O projeto foi, desta forma, construído acima da garagem, dando vida ao estacionamento de trens, mas sem tirar sua função.27

Com uma área de 6.350 m², as propostas de construção no terreno foram variadas ao

longo dos anos, passando desde a construção de casas populares até a decisão por um edifício ecológico que possuísse uso misto entre habitação e comércio, porém mantendo a garagem de bondes já existente no local.

O projeto foi então proposto pelo escritório de arquitetura Müller Sigrist em 2009 e

finalizado em agosto de 2014, quase 40 anos depois da sua primeira proposta, podendo então ser ocupado pelos seus moradores.

A vida

em comunidade

A convivência e integração social no projeto são extremamente valorizados e para se

morar lá, deve-se se ter isso em mente. Espaços comuns como cozinhas e banheiros são divididos entre as mais diferentes pessoas: desde crianças e estudantes, a idosos ou grandes famílias.

49


Tolerância é a palavra de ordem no conjunto. E para os mais reservados, sempre há a possibilidade de simplesmente se retirar para o quarto, onde encontrará um espaço para si mesmo.28

A proposta de compartilhamento não contempla apenas pessoas sozinhas, idosos ou

estudantes de outras cidades que buscam companhia para acabar com a solidão. Pasquale Talerico é um exemplo disso. Morando em Kalkbreite com apenas sua cama, mesa, notebook e alguns objetos pessoais, é um arquiteto formado e trabalha a poucos metros de seu local de residência. Sendo um dos responsáveis pela ideia e vice coordenador do projeto, vive atualmente com sua filha de dez anos, compartilhando a cozinha e banheiro com ela e com mais 15 outros moradores, entre eles adultos e crianças.

“Quando me separei, pensei em me mudar com a minha filha para um apartamento de dois quartos em algum bairro de Zurique. Mas aí me perguntei: quem iria jogar todas as noites banco imobiliário com ela? Não suporto jogos de tabuleiro”29 - Pasquale Talerico.

Morar em um local onde haja outras pessoas interessadas em jogos de tabuleiro, surge

como uma resposta ao problema de Talerico. O compartilhamento de espaços internos gera não somente vizinhos, mas amigos e até mesmo uma nova família.

A integração vai além da divisão de cômodos da casa. Grupos com interesses em comum

são formados pelos moradores, utilizando os espaços do conjunto para serem executados. Enquanto o grupo de jardinagem planta verduras no teto do prédio, o grupo de ioga utiliza uma das salas disponíveis para suas aulas matinais e as crianças já organizam um clube para jovens em uma outra sala30 (Fig. 22).

50


O morar e o compartilhar

Figura 22 As salas de reunião são disponíveis para os moradores fazerem suas atividades como aulas de pintura, cursos ou pequenas reuniões. Edição sobre imagem. Disponível em: http://bit. ly/2fel6Hm

Os dormitórios individuais possuem uma área bastante reduzida em

relação às outras moradias suíças: os espaços privados de Kalkbreite chegam a possuir de 13 a 32m² a menos do que os convencionais. O espaço reduzido dos apartamentos reforça a ideia de possuir apenas o necessário. E isso não significa que os moradores escolheram fazer um voto de pobreza.31

Objetos que não cabem dentro dos espaços privados podem

facilmente ser deixados nos espaços compartilhados, podendo então ser usados também pelos outros moradores. Livros que não teriam espaços nas prateleiras do apartamento vão para a biblioteca comunitária, aumentando

51


Figura 23 O s espaços internos recebem especial preocupação com o meio ambiente, tendo aquecimento pelo piso, materiais ecológicos e bom isolamento térmico. Disponível em: http://bit.ly/2fel6Hm

assim o acervo geral. E murais com anúncios de doações, compras e trocas também são frequentes pelos corredores.32

A mistura habitacional e divisão de espaços também se dá em relação

aos moradores, que possuem as mais diversas profissões e ocupações: designers, arquitetos, músicos, assistentes pessoais etc. O principal objetivo comum baseia-se na união de pessoas que almejam morar em comunidade e de uma forma ecologicamente correta, dentro de um centro urbano. E assim, a integração entre moradores passa a ser mais importante do que sua privacidade.33

52


O morar e o compartilhar Organização

A área total de Kalkbreite divide-se em 60% reservado para a parte habitacional, 37% para

o comércio e 3% voltado para espaços coletivos, como o pátio sobre o estacionamento de trens e o jardim no teto.34 Na parte residencial encontram-se 55 apartamentos com 97 quartos no

Figura 24 Plantas do 5º pavimento. Tradução pela autora. Disponível em: http://bit. ly/2fVrWFf

53


total. A disposição de quartos e apartamentos varia de acordo com as necessidades de cada um, podendo oferecer mais ou menos privacidade. Desta forma, há desde apartamentos de apenas um quarto até os considerados “grande família” onde 22 apartamentos contendo de um a nove quartos são divididos entre aproximadamente 50 moradores35 (Fig. 24 e 25).

Figura 25 Planta do 6º pavimento. Tradução pela autora. Disponível em: http://bit.ly/2fVrWFf

54


O morar e o compartilhar

A diversidade habitacional no conjunto é referência no projeto, buscando criar integração

entre pessoas de diferentes faixas etárias, nacionalidades e mesmo suíços de outras cidades, dispondo de tipologias igualmente diversificadas para seus moradores, como é apresentado nas tabelas a seguir (Fig. 26, 27 e 28).

Figura 26 Relação de pessoas de diferentes nacionalidades morando em Kalkbreite.Tradução pela autora. Disponível em: http://bit.ly/2fVrWFf

Figura 27 Tabela mostra a diversidade etária no projeto. Tradução pela autora. Disponível em: http://bit.ly/2fVrWFf

55


Figura 28 As diferentes tipologias de cada unidade do projeto possibilitam a diversidade habitacional. Tradução pela autora. Disponível em: http://bit. ly/2fVrWFf

A decoração é feita pelos próprios moradores, que trazem para o espaço comum móveis,

objetos de decoração e até peças de brechó, dando um ar leve de república estudantil para o ambiente.

Para amigos e turistas, uma pensão foi planejada visando o conforto dos visitantes no

momento de hospedagem, uma vez que os apartamentos possuem dimensões tão reduzidas. Ainda há a presença de três “clusters” contendo de nove a doze quitinetes em um andar. Eles possuem banheiro e cozinha individuais, mas contam com uma sala e cozinha coletiva para integração caso desejada. As portas dos apartamentos foram feitas transparentes, para promover a integração, mas foram logo cobertas por pôsteres ou panos pelos moradores, uma vez que muitos querem ter a liberdade de atravessar do banheiro ao quarto sem serem observados. Isso

56


O morar e o compartilhar afirma a importância de perceber a linha que divide a vontade de integração, com a necessidade de um espaço privado.36

Figura 29 Muitos moradores moram em quitinetes e compartilham espaços como sala e cozinha. Disponível em: http://bit. ly/2fel6Hm

Os 40% de comércio totalizam aproximadamente 800 m² e conta com

áreas coletivas como espaços de ginástica, salas de reuniões, de meditação, yoga, sauna, lavanderias, cinema, restaurante, bar etc., totalizando 24 estabelecimentos comerciais (Fig. 30). Desta forma, os moradores podem usufruir dos espaços – tanto para trabalhar, quanto para comprar- permitindo

57


que haja menos movimentação para longe de seu local de moradia, o que se torna uma vantagem. As distâncias podem ser percorridas em questão de minutos, uma vez que o conjunto funciona como uma pequena vila dentro da cidade.

Sustentabilidade

As

duas

caracterizam

o

palavras

que

conjunto

são

integração e sustentabilidade. Assim sendo, o edifício foi construído baseado nos padrões ecológicos, contando com placas fotovoltaicas nos telhados, reutilização de água e incentivando a utilização de meios Figura 30 Na fachada encontra-se a parte comercial, como o cinema, o café e o mercado de produtos orgânicos. Imagem disponibilizada por Natascha Bradfield.

58

de transporte mais limpos, como bicicletas, sendo assim vetada aos moradores a posse ou aluguel de qualquer automóvel poluente. Em contrapartida, são disponibilizadas


O morar e o compartilhar 300 vagas no subsolo para bicicletas. Dessa forma, quem se propõe a morar no edifício deve possuir uma grande vontade de viver em comunidade e de ser o mais ecologicamente correto possível, resolvendo assim problemas sociais como o distanciamento entre as pessoas; e urbanos como o trânsito e a poluição. 37

2.4 Conclusões parciais

A análise das situações existentes relacionadas à moradia compartilhada e às necessidades

de cada indivíduo de possuir o seu espaço pessoal – sua bolha protetora –torna possível responder às duas perguntas feitas no primeiro capítulo:

1.

Quais as melhores formas de morar e viver em comunidade, visando um conforto

e harmonia entre pessoas tão distintas que se propõem a compartilhar espaços internos de suas residências?

A convivência entre seres de uma mesma espécie sempre foi essencial para a sua existência.

O compartilhamento de espaços comuns, moradias, assim como costumes e experiências é vital para a evolução e preservação da espécie. A fábula de Schopenhauer ilustra a importância da troca de experiências e a convivência para a conservação da vida. O mesmo ocorre com o ser humano. Entende-se que todos os seres possuem a necessidade de compartilhar e viver em conjunto. Assim sendo, o sucesso encontrado nos projetos de Kalkbreite e Sociópolis é totalmente compreensível.

Atualmente, a tendência de afastamento entre as pessoas, em busca de uma sensação

de privacidade e conforto, é muito frequente, trazendo indiferença dos mesmos à importância

59


da troca e da partilha. Enquanto o compartilhamento é cada vez mais incentivado em outros países, como os citados acima, no Brasil ainda não é tão presente. A proposta do projeto é, então, incentivar uma nova forma de morar, em relação ao que o brasileiro está habituado. Isso implica em uma mudança de paradigmas e, muitas vezes, até de cultura. Qualquer mudança de costumes e rotina pode causar sensação de receio ou insegurança. Os primeiros edifícios de mais de quatro pavimentos eram vistos como gavetas empilhadas. “Quem iria morar em uma pilha de caixas?”; A ideia de uma caixa que transportava pessoas entre pavimentos também causou receio na população, quando o elevador foi inventado. O novo gera dúvidas.

Após a análise das necessidades e preocupações da população, o projeto aqui proposto

atenta para as questões de conforto e harmonia, respeitando as distâncias apresentadas por Hall, dispondo de apartamentos compartilhados que buscam a integração entre vizinhos de uma forma saudável e natural, preservando os limites das “bolhas pessoais” que protegem cada indivíduo, mas promovendo encontros casuais onde as mesmas possam se sobrepor de forma harmônica. O projeto propõe apartamentos modelo tríplex, onde há dez quartos, divididos em espaços tanto individuais quanto duplos que partilham entre si a mesma sala de estar, jantar, cozinha, sala de estudos e espaço de leitura, dentro da área interna do apartamento. Desta forma, todos possuem as áreas desejáveis em uma residência, porém otimizando espaço, uma vez que são partilhadas com mais nove famílias.

Visto isso, encontra-se a resposta para a segunda questão abordada no primeiro capítulo:

2.

Como a arquitetura pode influenciar a maneira das pessoas interagirem e se

relacionarem entre si?

60

De acordo com a disposição de ambientes, divisão de dormitórios, compartilhamentos de


O morar e o compartilhar áreas internas da residência, assim como de áreas externas, o projeto é inteiramente baseado no conceito compartilhamento e convívio entre as pessoas. Diagramando espaços, a convivência já fica pré-estabelecida neles.

Diferentemente do habitual em São Paulo, os apartamentos compartilhados não

contemplarão apenas a partilha entre estudantes de outras cidades, pessoas da terceira idade ou pessoas de baixa renda. O projeto visa o compartilhamento entre pessoas de todas idades, rendas e históricos de vida. Assim como ocorre em Sociópolis e em Kalkbreite, o principal objetivo é a integração entre pessoas que não tenham apenas os mesmo interesses, mas sim, que desejem ampliar suas visões em relação a diferentes mundos e até mesmo, criar novos vínculos com as pessoas com quem convivem.

Casos de filhos que precisam pagar cuidadores para pais idosos, para garantir que alguém

perceba caso ocorra um acidente, como quedas ou infartos por exemplo, são frequentes. Pais que precisam pagar para que cuidem de seus filhos quando querem passar uma noite no cinema, pela preocupação de deixá-los sozinhos por poucas horas, sem a supervisão de um responsável, ocorrem sucessivas vezes. Quando há o compartilhamento de espaços comuns em um apartamento, a necessidade de pagar alguém que preste um serviço que um vizinho amigo faria com prazer, desaparece.

Além disso, a integração entre pessoas de diversas idades é algo saudável para o

crescimento pessoal e a saúde mental. Moradias voltadas para a terceira idade geram a convivência entre idosos, porém, o relacionamento entre uma pessoa de maior idade com uma criança pode ser saudável para ambos.

61


Notas 5

Adaptação pela autora.

SCHOPENHAUER, Arthur. 1851. Fábula da convivência. Disponível em: http:// diariodeumadiretora.blogspot.com. br/2013/02/fabula-do-porco-espinhoschopenhauer.html (Último acesso em 27.04.2016 às 14:50) 6

HALL. Edward T. A dimensão

oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Edição original em português Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. Edição original em inglês: The Hidden Dimension. Anchor Books, 1966 7

COLIN, Sílvio. Proxêmica.

Disponível em: https://coisasdaarquitetura. wordpress.com/2011/01/23/proxemica/ (Último acesso em 10.05.2016 às 7:50) 8

HALL. Edward T. A dimensão

oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Edição original em português Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. Edição original em inglês: The Hidden Dimension.

62

Anchor Books, 1966 9 Ibid. 10 Ibid 11 Ibid. 12

GUALLART, Vicente. Sociópolis:

project for a city of the future. Barcelona: Ed. Actar, 2004. 13 Disponível em: http:// planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ cidade/conteudo_412389.shtml (Último acesso em 01.06.2016 às 23:10) 14

Disponível em: http://www.bbc.

com/portuguese/noticias/2013/08/130822_ cidades_inteligentes_vj_cc (Último acesso em 01.06.2016 às 23:00) 15 Ibid. 16 Ibid. 17

GUALLART, Vicente. Sociópolis:

project for a city of the future. Barcelona: Ed. Actar, 2004. 18 Ibid. 19

FREITAS, Beatriz dos Santos.

Um olhar sobre o conceito: unidade de moradia para estudantes. São Paulo 2015.


O morar e o compartilhar 20

Disponível em: http://urban-e.

24-04-2016)

aq.upm.es/articulos/ver/soci-polis/

27

Ibid.

completo (Último acesso em 28.03.2016)

28

Disponível em: http://

21

www.swissinfo.ch/por/arquitetura-

FREITAS, Beatriz dos Santos.

Um olhar sobre o conceito: unidade de

ecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9dio-

moradia para estudantes. São Paulo 2015.

para-pessoas-que-gostam-de-

22

compartilhar/41074802 (Último acesso em

GUALLART, Vicente. Sociópolis:

Project for a city if the future. Barcelona:

24-04-2016 às 20:20)

Actar, 2004.

29

23

www.swissinfo.ch/por/arquitetura-

Disponível em: http://www.

Disponível em: http://

guallart.com/projects/sharing-tower.

ecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9dio-

(Último acesso em 27.03.2016)

para-pessoas-que-gostam-de-

24

compartilhar/41074802 (Último acesso em

Disponível em: http://www.

guallart.com/projects/sharing-tower.

24-04-2016 às 20:20)

(Último acesso em 27.03.2016 às 12:40)

30

25

www.swissinfo.ch/por/arquitetura-

Disponível em: http://

Disponível em: http://

www.tageswoche.ch/de/2015_08/

ecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9dio-

schweiz/680984/ (Último acesso em 24-04-

para-pessoas-que-gostam-de-

2016)

compartilhar/41074802 (Último acesso em

26

Disponível em: http://

24-04-2016 às 20:20)

www.swissinfo.ch/por/arquitetura-

31

Disponível em: http://

ecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9dio-

www.swissinfo.ch/por/arquitetura-

para-pessoas-que-gostam-de-

ecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9dio-

compartilhar/41074802 Último acesso em

para-pessoas-que-gostam-de-

63


compartilhar/41074802 (Último acesso em

37

24-04-2016 às 20:20)

www.swissinfo.ch/por/arquitetura-

32 Ibid.

ecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9dio-

33

para-pessoas-que-gostam-de-

Disponível em: http://www.

inyourpocket.com/Zurich/Kalkbreite-an-

compartilhar/41074802 (Último acesso em

urban-laboratory_73489f (Último acesso

24-04-2016 às 20:20)

em 26-04-2016 às 20:30) 34

Disponível em: http://irap.hsr.ch/

fileadmin/user_upload/irap.hsr.ch/Tagung_ Wohnen_Mobilitaet/A2_Kalkbreite_ Zuerich.pdf (Último acesso em 10/05/2016 às 19:50) 35

Disponível em: http://

www.swissinfo.ch/por/arquiteturaecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9diopara-pessoas-que-gostam-decompartilhar/41074802 (Último acesso em 24-04-2016 às 20:20) 36

Disponível em: http://

www.swissinfo.ch/por/arquiteturaecol%C3%B3gica_um-pr%C3%A9diopara-pessoas-que-gostam-decompartilhar/41074802 (Último acesso em 24-04-2016 às 20:20)

64

Disponível em: http://


O morar e o compartilhar

3. Morar e viver em comunidade

65


66


O morar e o compartilhar

Morar:38 1 t.i. residir em (determinado local); habitar, viver <mora na rua das Acárias> <mora em Brasília> 2 int. residir sob determinadas condições, em determinadas circunstâncias <decidiu m. sozinho> <mora bem> 3 t.i. compartilhar moradia, viver com <mora com a mãe> <mora com vários gatos> 4 t.i. fig. Enraizar-se em (determinado local); achar-se <naqueles meses, a tristeza morou naquela casa> 5 t.i. B infrm. Frequentar (local) com assiduidade; visitar (local) com frequência <ávido por leituras, mora na Biblioteca Nacional> 6 t.i. B infrm. Entender, compreender <não morou naquilo que o chefe disse> demorar-se, ficar, morar, viver com, deter, demorar, retardar, reter, impedir, embaraçar’.

67


Viver: 39 1 int. ter vida, estar com vida <é preciso respeitar-se tudo o que vive> <estava moribundo, mas ainda vivia> 2 t.d.int. Aproveitar (a vida) no que ela tem de melhor, gozar a vida, passa-la bem <devemos v. a vida agora, e não depois de velhos.> <este é um homem que sabe v.> 3 t.i. ter como principal alimento; alimentar-se de, nutrir-se de <ninguém pode v. de chocolate> <pássaro vive de alpiste> 4 t.i. e pron. Retirar sua subsistência de; ter como atividade produtiva; manter-se <aqueles aborígenes vivem da caça> <nessa região, vive-se da indústria metalúrgica> <vivo do meu trabalho> 4.1 t.i. fig. Manter-se às custas de <muitas amizades vivem de intrigas maldosas> 5 int. continuar a existir, perdurar, permanecer <até quando viverá o nosso amor?> 5.1 int. passar à posteridade, perpetuar-se <as grandes ideias sempre viverão> 6 t.i. entreter relações com; privar da companhia de; conviver, frequentar <ele vive com a mãe> <no colégio, passou a v. com más companhias> 7 t.d. morar em, habitar, residir <um povo antigo viveu nessa terra><eu gostaria de viver na Europa> 8

68


O morar e o compartilhar

pred. Levar a vida (de certo modo ou em determinada condição) <ele vive sozinho> <viveu solteiro até os 30 anos> 9 t.d. assumir (sua própria vida) <deixe-me v. minha vida em paz> <ele vive sua vida sem perturbar ninguém> 10 t.d. passar por (certa experiência); vivenciar <v. um grande amor> <v. uma longa espera> 11 t.d levar (uma certa vida) vivíamos uma vida tranquila> <é um horror viver tal vida> - s.m 12 o processo de existir; a vida - v. com estar amigado com <ele passou a v. com a secretária> - v. para dedicar-se inteiramente a <v. para a música> <vivia para os filhos> - GRAM seguido de gerúndio ou de a+ infinitivo, funciona como v.aux.. exprimindo ‘continuação da ação’ (aspecto incoativo): vive rindo de tudo; vive a reclamar que ganha pouco

69


3.1 Definição

O conceito de viver e de morar muitas vezes é confundido. Apesar de ambos possuírem

significados similares, podem ser utilizados de formas distintas.

O presente trabalho frisa a diferença entre os dois significados, a fim de criar uma

melhor compreensão das duas ideias. Dessa forma, aborda a definição de morar, principalmente relacionado ao ato físico de habitar; residir ou compartilhar moradia. Relaciona-se, no caso, especialmente com o local da ação. Em contrapartida, o conceito de viver será relacionado essencialmente à ideia de aproveitar a vida no que ela tem de melhor, no sentido mais abstrato e emocional da palavra. Assim sendo, as ideias de “morar em algum lugar” e “viver em algum lugar” passarão significados distintos, sendo a primeira relacionada ao ato de residir, enquanto a segunda será voltada à ideia de aproveitar o local de residência. Morar em um lugar onde você possa viver o lugar, faz toda a diferença.

3.2 O conceito de morar

O instinto de busca por proteção contra o clima e predadores dos primeiros seres

humanos foi o principal responsável pela ideia de moradia que origina o que se tem atualmente, sendo, portanto, a demonstração mais antiga de arquitetura. O conceito de residir em um local que protegesse contra males externos foi, portanto, um dos principais responsáveis pela sobrevivência até hoje da raça humana.40

A necessidade de proteção e abrigo não se limita apenas aos seres humanos, sendo

comum entre peixes, répteis, aves e outros mamíferos, o que pode ter servido de inspiração para as moradias construídas pelo homem. Desde proteção em cavernas ou plantas por peixes, ou

70


O morar e o compartilhar mesmo a criação de plataformas elevadas em árvores por macacos, a necessidade de repousar em um local que ofereça proteção e conforto mostrou-se desde sempre um meio necessário de sobrevivência para qualquer espécie.

Apesar de moradias primitivas não serem atualmente tão amplamente estudadas no

ramo da arquitetura, a transmissão que se teve de seus conhecimentos foi responsável pelo aprimoramento das habitações ao longo dos anos, levando-nos ao que se tem hoje, como palácios, templos, edifícios etc.

O autor Bernard Rudofsky, cita em seu livro41 a importância de saber classificar os

tipos de moradia mais antigas, tanto animais quanto humanas, uma vez que elas não seguem um estilo ou uma regra, mas são feitas pensando na função a ser exercida. Além disso, são construídas pensando no menor consumo possível de material, melhor desempenho de acordo com o entorno, resistência e conforto, fatores hoje muito considerados na busca de edificações sustentáveis. Apesar de a espécie humana não ser tão veloz e forte, assim como não possuir garras ou dentes afiados, a evolução do cérebro humano foi responsável pela possibilidade de construção de objetos e edifícios que sempre buscam uma melhor solução, adaptando-se aos mais diversos climas, territórios e meios externos.42

A arquitetura que conhecemos hoje em dia é considerada de adição, ou seja, acrescenta

materiais a um espaço onde antes nada havia. A arquitetura primordial, ao contrário, dava-se por subtração, com perfuração em grandes árvores, acomodação em cavernas ou escavação em montanhas ou solo. A partir da sua compreensão, foi possível a construção de arcos, abóbodas, entre outros elementos arquitetônicos, baseados nas formas dessas moradias primitivas. Inspirada nesses primeiros exemplos arquitetônicos, foi possível a construção futura de adição, como em ocas e cabanas feitas com troncos curvados, peles de animais, tecidos etc. A construção de moradias rápidas pelos Homens nômades foi adaptando-se com o tempo, dependendo de suas

71


necessidades temporais. E apesar de rudimentar, ofereceu-nos base para diversos elementos que se encontram bastante presentes na arquitetura contemporânea.

3.3 Propostas habitacionais pelo mundo

O arquiteto chileno Alejandro Aravena, vencedor do prêmio Pritzker de 2016, cria uma

forma diferente da habitual de se morar. Criando habitações de interesses social e público, o arquiteto projeta residências de baixo custo, voltadas à população carente, visando uma arquitetura que tanto traga soluções às necessidades sociais, quanto se integre ao meio onde está situada.

Diferentemente de outros arquitetos, Aravena não foca seus projetos em expô-los para

outros profissionais, mas sim, para a população que realmente necessita deles. Tratando de questões como pobreza, poluição e segregação, busca aplicar seus conhecimentos para projetar não apenas a arquitetura, mas também lidar com os fatores externos a ela43. Compromete-se então com a sociedade no geral e os problemas a ela atrelados, principalmente em relação à crise habitacional e a busca por um ambiente urbano mais qualificado.44

Atualmente, mais de 3 bilhões de pessoas moram nas cidades, sendo um terço delas

classificadas como abaixo da linha de pobreza. Com o aumento da população que vive nas cidades, até 2030 seria necessário que se construísse aproximadamente um milhão de moradias por semana para suprir com as necessidades habitacionais da população. Dada a impossibilidade de tal produção, há duas alternativas: a diminuição de áreas, comprometendo a qualidade das moradias, ou a dispersão dos moradores, encaminhando-os para periferias e locais afastados dos grandes centros, onde os custos de terra são menores, afastando-os, porém, das oportunidades

72


O morar e o compartilhar e facilidades que a cidade oferece.45

Junto a seu escritório Elemental, Aravena propõe um novo modelo habitacional. Com

um sistema aberto, nomeado “incremental” capaz de ser complementado pelos próprios moradores, as necessidades de cada habitante e suas famílias vão sendo supridas de acordo com as exigências que surgem com o tempo.

Dessa forma, o arquiteto projeta metade da residência, deixando que a outra metade seja

completada pelo morador da forma como lhe convir, dando assim personalidades diferentes aos projetos e criando um vínculo e identidade da casa com seu dono. Visto isso, Aravena detecta três pontos46 que devem ser implantados no projeto inicial a ser entregue ao morador. O primeiro é relacionado ao pontos mais difíceis de serem executados por uma pessoa comum. Assim sendo, a parte de hidráulica -incluindo cozinha e banheiro- assim como telhado, escadaria e estrutura são projetados na planta inicial da residência. O segundo, ainda com relação ao primeiro é o que não pode ser feito individualmente. E o terceiro relaciona-se à garantia de bem comum do futuro.

O escritório ainda preocupa-se com a localização do projeto e seu adensamento,

combinando-os para que os custos não sejam elevados a ponto de serem inviáveis; com o espaço coletivo, localizado entre o espaço público e privado, colaborando com o traçado urbano e com a estruturação das residências a fim de incentivar a sua ampliação. O projeto possui então, um grande adensamento com baixo crescimento e sem aumentar a população de forma tão perceptível, oferecendo residências menores, com possibilidade de ampliação e com o conforto disponível em moradias de pessoas com maior renda.

Apesar das inúmeras vantagens apresentadas, a proposta de ampliação de moradias de

Aravena não foi bem aceita na cidade de São Paulo, Brasil. Houve uma tentativa de inserção da proposta para a favela de Paraisópolis no ano de 2008, onde o escritório propôs casas de 40

73


m² que fossem duplicadas pelos moradores. Porém, o Estado interviu, limitando a proposta à 55m², não sendo bem aceita pelo arquiteto. A recusa da proposta de Aravena pelo Estado se deu, afinal, devido ao poder exercido pelas grandes construtoras, em relação à entrega de casas prontas, vendo que uma vez que os moradores fossem os responsáveis pela finalização de suas moradias, haveria menor lucro para as empresas.

3.3.1 Residencial Vila Verde

Construído pelo escritório Elemental em 2010, na cidade de Constitución, no Chile, o projeto

segue a mesma proposta citada acima: construção de metade do projeto, com ampliação pelos moradores, segundo suas necessidades (Fig. 31). Aravena enfatiza a importância da participação

Figura 31 R e s i d e n c i a l Vila Verde. Moradias entregues aos moradores pela “metade”. Disponível em: http://bit.ly/2geJtJ3

74


O morar e o compartilhar

Figura 32 H a b i t a ç õ e s já modificadas pelos moradores. Disponível em: http://bit.ly/2fvbfzQ

do povo na construção de suas casas, e da vantagem apresentada tanto aos moradores, quanto ao governo, que acabam tendo custos menores em localizações melhores.47

Convidados por uma empresa florestal em 2009, pediu-se que construíssem moradias

aos trabalhadores, para oferecer-lhes a possibilidade de casa própria, servindo como uma contribuição da empresa para com seus funcionários. Em busca de ampliar a contribuição para a habitação social, Aravena e seu escritório propuseram a tipologia inovadora e econômica, poupando dinheiro da construção para preencher as necessidades de cada família. Financiados pela empresa, não houve problemas financeiros, principalmente devido ao grande adensamento da área – com um total de 9.000 unidades em trinta cidades diferentes48. O grande impacto deu-se principalmente devido à escala das cidades implantadas – que possuíam uma população que não ultrapassava de 20.000 habitantes, tornando qualquer contribuição arquitetônica um grande feito.

75


3.3.2 Quinta Monroy

A obra localizada em Iquiqui, no Chile, é mais um exemplo de projeto do escritório

Elemental. Seguindo o mesmo conceito da Vila Verde, o cenário possui uma área inicial de 36 m², com quatro dormitórios, com espaços para camas de casal ou closets; banheiros com possibilidade de banheira além de chuveiro e máquina de lavar e ainda garagem para um carro 49

. Há também a possibilidade de ampliação para o dobro da metragem, se construídos pelos

próprios moradores. Vistos esses pontos, fica clara a intenção de Aravena de construir uma residência acessível para pessoas de baixa renda, porém oferecendo todo o conforto de uma casa de renda superior.

As moradias do conjunto foram feitas após um pedido do governo chileno, voltadas para

abrigar 100 famílias que habitaram por 30 anos ilegalmente um terreno no centro de Iquiqui, uma cidade localizada no deserto do Chile. Participando de um programa habitacional chileno, os custos para com a obra seriam limitados, se não houvesse a proposta de Aravena50.

Criando uma casa por lote, seria possível alocar apenas 30% das famílias necessárias, uma vez que com a implantação de tipologias separadas, os gastos são maiores – por isso há normalmente a implantação desse tipo de habitação em terrenos mais baratos, porém mais afastados. Figura 33 Antes e depois das residências modificadas pelos moradores. Modificação sobre imagem. Disponível em: http://bit. ly/2g67bmF

76


O morar e o compartilhar

Para uma melhor ocupação

do solo, a área do lote individual foi

reduzida,

causando

uma

aglomeração. Edifícios verticalizados Figura 34 Os esquemas mostram o a proposta de Aravena. A primeira imagem não é viável por ser uma casa= um lote.

impossibilitam a

ampliação

das

residências, o que iria contra a proposta de Aravena

Foi,

portanto,

necessário

mudar a estratégia de projeto, reformulando os gastos, a ponto de propor um conjunto que abrigasse as 100 famílias e suas ampliações. Figura 35 Inviável por ocupar muito espaço (a=b)

Edifícios

verticalizados

permitem ampliação do térreo e do último andar, impossibilitando a mesma para os outros pavimentos. Assim sendo, a proposta foi criar apartamentos que possuíam apenas

Figura 36 Com “unidades sobrepostas” a proposta de aumentar a residência fica inviável. Imagens disponíveis em: http:// arktetonix.com. br/2012/10/quintamonroy-elemental/

o térreo e mais um andar, podendo assim ter a ampliação desejada.

O escritório trata da habitação

social como um investimento, uma vez que vai melhorando com o passar do tempo, ao invés de

77


se desvalorizar. As áreas entre os espaços privados e

projeto pronto, e seus 50% restantes

públicos são voltadas para o coletivo, onde há integração

à espera da construção do próprio

entre as famílias e convivência das mesmas. Com 50% do

morador, a habitação – que seria minúscula se dependesse dos gastos oferecidos pelo governo51 – tornase então uma moradia de classe média, com espaços agradáveis e de tamanhos confortáveis, mostrando uma ampliação de 30 m² para 70 m².

Figura 37 Residências modificadas pelos moradores trazem sensação de lar e pertencimento

3.4 Propostas habitacionais no Brasil

As possibilidades de habitação em São Paulo são enormes. Mesmo para os que possuem

baixa renda, habitações de interesse social, de mercado popular etc, são voltadas especificamente para esse essa parcela da população52.

Porém, essa grande parte da população de baixa renda acaba tendo que morar em áreas

mais afastadas do centro, onde os custos de terra são menores devido à escassez de serviços voltados para comércio, cultura, trabalho e lazer. É função do Estado gerar leis que ampliem as regras de uso e ocupação do solo, beneficiando todas as camadas da população.

78


O morar e o compartilhar

No início do século XX a cidade passou por um processo de crescimento demográfico

devido à industrialização, fazendo com que o governo investisse na infraestrutura urbana para dar apoio a essas atividades. Nesse momento, surgem as vilas operárias, projetadas para locação por trabalhadores e suas famílias. De 1900 a 1920, mais de 30 mil casas foram construídas, porém o inquilino acabava em desvantagem em relação ao proprietário do imóvel. Com a criação de novas leis 20 anos mais tarde, esse modelo habitacional acabou perdendo sua força, sendo substituído por residências na periferia da cidade. Nesse momento, a era Vargas começa a intervir nos projetos habitacionais, apresentando uma melhoria nas condições e modo de vida da classe operária, introduzindo assim a população aos novos costumes da vida moderna53.

Após o Primeiro Congresso da Habitação, realizado em São Paulo no ano de 1931, as

formas de projetar moradias se modificaram, baseados em novos conceitos e ideias de arquitetos como Le Corbusier, Lúcio Costa, Villanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha e Fábio Penteado. Os conceitos modernistas, como a utilização de pilotis, térreo livre, planta e fachada livre, estrutura independente etc, serviram como base para a grande produção habitacional que se iniciava.

Após o Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM), a arquitetura moderna

se afirmou no Brasil, ganhando ainda mais força na semana de Arte Moderna de 1922. Com a mistura harmônica entre passado e presente, internacional e local, e o envolvimento com a cultura popular, a arquitetura ganhou uma nova identidade no país54.

Em uma busca de um consenso entre trabalho e dinheiro, o governo inicia em 1931 a

construção de moradias voltadas para aposentados e pensionistas. Os IAPs foram experiências essenciais na nova forma de morar que se implantava no país, em relação ao padrão de moradia urbana para a classe trabalhadora55.

A era moderna foi de grande importância para o desenvolvimento habitacional brasileiro,

devido a preocupação dos arquitetos com esse tema, principalmente em relação à concentração

79


populacional gerada com a industrialização. Devido à demanda habitacional que surgia para trabalhadores, os novos conjuntos residenciais criavam uma forma diferente de morar, gerando um novo modelo habitacional no país.

3.4.1 Conjunto residencial Operário em Realengo (IAPI)

Em meio a mudanças e novos paradigmas habitacionais, surgem então os conjuntos

residenciais operários, voltados para trabalhadores de baixa renda, oferecendo em seu programa vivência urbana, comércio, serviços, áreas sociais e de lazer. Situado no subúrbio do Rio de Janeiro, o projeto de Realengo, em 1938 pretendia expandir horizontalmente a cidade56.

Realengo foi o primeiro conjunto a materializar as propostas que vinham sido discutidas

na época. Diferentemente do seu entorno, o grande prisma branco com fachadas movimentadas por varandas chamava atenção em relação às residências unifamiliares que o rodeavam.

Figura 38 C o n j u n t o Realengo. BONDUKI, 1998Acervo da associação dos moradores do conjunto de Realengo Disponível em: http://bit. ly/2gdQiva)

80


O morar e o compartilhar

Carlos Frederico Ferreira, arquiteto responsável, busca uma qualidade urbanística junto à

uma variação formal do edifício. Sempre preocupado com iluminação e ventilação, as unidades são implantadas de forma a serem modificadas dependendo das necessidades de seu programa habitacional. Ainda apresenta de forma didática elementos marcantes, como os avanços das varandas em relação à fachada, as mãos francesas responsáveis por sua estruturação e marquise na área comercial57.

O programa do edifício buscava, então, uma organização da vida cotidiana em apenas um

edifício, onde houvesse a concentração de trabalhadores, a fim de ensinar na prática uma nova maneira de se viver no coletivo.

3.5 Conclusão parcial

As formas de morar e viver se distinguem em relação às épocas, culturas, países e

necessidades. As propostas habitacionais buscam oferecer o necessário para os moradores, de acordo com suas conveniências, e mudam com o passar do tempo.

As propostas citadas neste capítulo, mostram como as preocupações habitacionais

mudam, sendo necessárias adaptações, mas sempre levando em consideração os projetos já criados e existentes. Sendo assim, o projeto aqui proposto deverá conciliar as necessidades habitacionais atuais de São Paulo, com as necessidades gerais do bairro de implantação.

Ainda buscará unir as funções de morar e viver em um só conjunto. Vistos os conceitos

abordados no capítulo, ambos exercerão suas funções de forma harmônica. Enquanto as habitações serão locais para se morar, ou seja, habitar, estabelecer residência, local para as atividades essenciais como dormir, comer, tomar banho etc; também será um local para se viver, não se limitando apenas às funções vitais, mas sendo um ambiente onde as pessoas aproveitem

81


de seu espaço, curtam a vida e gastem com prazer suas horas de lazer. A mesma ideia se aplicará em todo o terreno do projeto, onde será possível viver em todas as suas áreas comuns, como restaurante, academia, biblioteca, espaço de convivência etc. Assim sendo, o projeto será usado e vivido completamente por todos os seus usuários.

Notas

moradias. Revista Arquitetura & Urbanismo. P 76-79. Edição 161. Agosto 2007) 41

RUDOFSKY, Bernard. Architecture

without architects. Nova York, Estados 38

HOUAISS, Antônio. Dicionário

Houaiss da língua portuguesa. Instituto

42 Ibid.

Antônio Houaisss, Rio de Janeiro: Objetiva,

43

2001.

publico.pt/culturaipsilon/noticia/o-

39

HOUAISS, Antônio. Dicionário

Disponível em: https://www.

chileno-alejandro-aravena-e-o-premio-

Houaiss da língua portuguesa. Instituto

pritzker-2016-1720085 (Último acesso em:

Antônio Houaisss, Rio de Janeiro: Objetiva,

29.05.2016 às 14:50)

2001.

44

40

LEITE, Maria Amélia D’Azevedo.

REBELLO, Yopanan. As primeiras

82

Unidos. 1964.

Disponível em: https://www.

publico.pt/culturaipsilon/noticia/ochileno-alejandro-aravena-e-o-premio-


O morar e o compartilhar pritzker-2016-1720085 (Último acesso em:

(Último acesso em: 29.05.2016 às 16:40)

29.05.2016 às 14:50)

52

45

Habitação e cidade. Pós graduação da

Disponível em: http://www.

AMORIM, Anália. OTERO, Ruben.

elementalchile.cl/en/projects/abc-of-

Escola da Cidade. UPM-AC. São Paulo,

incremental-housing/ (Último acesso em:

2009.

29.05.2016 às 15:00)

53 Ibid.

46

54

Disponível em: http://www.

Disponível em: http://

elementalchile.cl/en/projects/abc-of-

unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/

incremental-housing/ (Último acesso em:

index.php/anais/article/viewFile/3048/2983

29.05.2016 às 15:00)

(Último acesso em: 04.06.2016 às 9:20)

47

Ibid.

55

48

Disponível em: http://www.

unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/

Disponível em: http://

archdaily.com.br/br/01-156685/habitacao-

index.php/anais/article/viewFile/3048/2983

villa-verde-slash-elemental (Último acesso

(Último acesso em: 04.06.2016 às 9:30)

em: 29.05.2016 às 15:10)

56

49

unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/

Disponível em: http://www.

Disponível em: http://

elementalchile.cl/en/projects/abc-of-

index.php/anais/article/viewFile/3048/2983

incremental-housing/ (Último acesso em:

(Último acesso em 04.06.2016 às 10:00)

29.05.2016 às 15:00)

57

50

Paula. Os pioneiros da habitação social.

Disponível em: http://arktetonix.

com.br/2012/10/quinta-monroy-elemental/

BONDUKI, Nabil. KOURY, Ana

Vol. 3. Ed. Unesp, 2014.

(Último acesso em 29.05.2016 às 16:30) 51

Disponível em: http://arktetonix.

com.br/2012/10/quinta-monroy-elemental/

83


84

4. Territรณrio


O morar e o compartilhar

4.1 O território investigado

O local escolhido para a implantação do projeto localiza-se no distrito do Butantã, na

zona Oeste da cidade de São Paulo, capital. O nome do distrito origina-se da língua original paulista – formada na época dos bandeirantes paulistas no Brasil Colônia58, atualmente extinta - significando “local de ventos fortes, terra dura, socada e de taipa”59.

O Butantã sofreu uma enorme mudança ao longo dos anos, sendo percebido como uma

possibilidade urbana, apenas quando houve a necessidade de se encontrar um local afastado o suficiente das principais áreas urbanas, para a instalação do atual instituto Butantã.

Atualmente, a região conta com ampla infraestrutura e equipamentos urbanos,

principalmente no setor terciário, nas áreas de comércio, empreendimentos, serviços, esporte, cultura, lazer etc, porém mantendo o caráter de vanguarda original, caracterizado pela economia do açúcar, devido às entidades da área da educação, ciência e saúde60.

A região do Butantã possui hoje 56,1 km² de área, abrigando uma população de mais de 377

mil habitantes divididas em seus cinco distritos. (Fig. 39) A região majoritariamente residencial conta com 108.675 domicílios e quase 6.000 estabelecimentos comerciais, além de mais de três milhões de metros quadrados de áreas ajardinadas, CEIs, EMEIs, EMEFs, unidades de saúde e clubes.61

O bairro possui atualmente diversos serviços e opções de lazer, assim como mercados,

escolas, universidades e pequenos parques que atraem os moradores locais. Apesar de não ser

85


caracterizado pela vida noturna, sua demanda de restaurantes e bares supre as necessidades locais.

O terreno escolhido localiza-se entre duas das principais avenidas da região: avenida Eliseu

de Almeida e avenida Prof. Francisco Morato, ao lado do shopping Butantã no bairro Jardim

Figura 39 À esquerda, em destaque, a localização da subprefeitura do Butantã. À direita, o distrito investigado.

86


O morar e o compartilhar

Trussardi, dentro do subdistrito do Butantã, paralelas à Rodovia Raposo Tavares. (Fig 40).

Atualmente o local da implantação é um grande terreno sem uso,

(Fig. 41) com uma barreira física e visual, que torna a passagem de pedestres na sua frente escura e perigosa e o ambiente noturno inóspito (Fig. 42). A

Figura 40 Local da implantação, com as principais vias próximas. Edição sobre imagem feita pela autora. Fonte: Google Maps.

fachada posterior dá acesso à uma rua local, com residências de um, dois ou no máximo três pavimentos, tornando-se também um ambiente sem vida, principalmente durante à noite.

87


Figura 41 Local da implantação do projeto, ao lado do Shopping Butantã. Edição sobre imagem feita pela autora Disponível em Google Maps.

Figura 42 O muro impede a visão dos pedestres, tornandose uma área sem vida Edição sobre imagem feita pela autora. Disponível em Google Maps.

88


O morar e o compartilhar

4.2 Histórico da área

A região do Butantã localizada na zona Oeste de São Paulo era constituída inicialmente

de terras pertencentes ao português Afonso Sardinha e sua esposa que, por não possuírem herdeiros, as doaram para a igreja em 1750. Estas foram divididas em 19 grandes sítios, que dariam forma aos futuros bairros da região e seriam arrendadas por jesuítas, anos depois. Com sua expulsão após menos de uma década, tornaram-se propriedade do Estado e futuramente herança de Ana Rodrigues. Mais de um século depois, a propriedade nomeada Fazenda Butantã é comprada por dr. Arnaldo de Oliveira Barreto.

O principal impulso para o desenvolvimento da região inicia-se com a proposta da criação

de um local voltado para a produção de soros. No ano de 1889, o médico Vital Brasil identifica um surto de peste bubônica na região do porto de Santos. Surge então, a necessidade de implantar um edifício onde fosse possível a fabricação de um soro que combatesse a doença.

O local a ser escolhido deveria ser afastado do centro - para não criar instabilidade na

população - e amplo - para evitar o risco de alastramento e devido a necessidade de trazer animais que produzissem o soro para local próximo ao edifício. A Fazenda Butantã localizava-se em meio a rota para outros Estados, facilitando a entrada de animais para experimentos, sendo então escolhida como sítio de implantação do atual Instituto Butantã.62

No início de 1901, o atual instituto Butantã é inaugurado com o nome instituto

Serumtherapico, gerando desenvolvimento no bairro. Treze anos depois, são criados laboratórios de pesquisa no prédio central, com uma cerimônia contando com a presença de médicos, autoridades e convidados do cientista Vital Brasil (Fig. 43).

89


Figura 43 Inauguração do Instituto Butantã no jornal Estado de São Paulo, de 1914. Disponível em: http:// acervo.estadao. com.br/noticias/ acervo,butantahistoria-de-um-prediocentenario,9920,0.htm

No ano seguinte, mais de 2 milhões de metros quadrados da área

são vendidos para a companhia City, que inicia os primeiros bairros na região, como a Vila Butantã, Vila Lageado e Cidade Jardim. O crescimento populacional da área aumenta ainda mais com o nascimento da

90


O morar e o compartilhar Universidade de São Paulo, e na década de 1930/40 com a industrialização da zona Sul e Oeste da cidade, as vilas são oficializadas como bairros. Nessa mesma década, surge o bairro Jardim Trussardi, onde o projeto está localizado, seguido por outros bairros da região, como Jardim Ademar e Vila Pirajussara.

Os anos 2000 representam um paradoxo na capital paulista, principalmente no distrito.

Mais de 52 milhões de habitantes morando no Butantã, divididos entre pessoas de classe média alta, média baixa e pobres. Enquanto muitos possuem boa qualidade de vida, outra parte da população encontra-se nas 63 comunidades (antigamente denominadas favelas) do distrito, sendo a maioria em pontos de risco da região.

A evolução urbana do distrito se deu progressivamente, relacionada aos equipamentos

da região e principalmente às novas rotas criadas. Com a urbanização crescente do centro se alastrando para as zonas afastadas, o surgimento de novas vias facilitou o acesso ao bairro.

As plantas da cidade ao longo dos anos também se modificaram visivelmente. Iniciando-se

com um terreno afastado da urbanização e de todos os acessos, a região do Butantã presenciou uma significativa evolução urbana, populacional e de infraestrutura a partir dos anos 1900, formando o território que se tem hoje, com vasta gama de possibilidades para todos os tipos de público.

Nos mapas e plantas a seguir é possível perceber as características mencionadas, assim

como o progresso da região e do desenho urbano ao longo do tempo.

91


Figura 44 Linha do tempo do bairro do ButantĂŁ. Desenvolvido pela autora

92


O morar e o compartilhar

Figura 45 Mapas de urbanização da cidade ao longo dos anos. Butantã passou de uma região não urbanizada à um local repleto de parques, e referências urbanas. Mapas disponíveis em: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/

93


Figura 46 Planta do distrito de Butantã no ano 1913. O instituto Butantã é a primeira marca imponente no bairro. Disponível em: http://smdu. prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1913.jpg

94


O morar e o compartilhar

Figura 47 Instituto Butantã em sua inauguração em 1914. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/noticias/lugares,butantan,7436,0. htm

1913 95


96


O morar e o compartilhar

Figura 49 Cia City inicia o processo de loteamento do bairro. Disponível em: http://bit. ly/2eDpljy

Figura 48 Planta do distrito do Butantã em 1916. A região já passa por mudanças com a implantação de novas ruas, que surgem com a ampliação do bairro de Pinheiros. Disponível em: http://smdu. prefeitura.sp.gov.br/ historico_demografico/ img/mapas/1916.jpg

1916 97


1924 98

Figura 50 Butantã no ano de 1924. A cidade já presencia grande urbanização, com maior quantidade de terrenos arruados. Disponível em: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/ historico_demografico/img/mapas/1924.jpg


O morar e o compartilhar

Figura 51 Planta em 1943. A região do Butantã apresenta um grande desenvolvimento, já apresentando bairros atuais como Vila Gomes, Vila Clotilde e Vila Butantã. Disponível em: http://smdu. prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/ img/mapas/1943.jpg

1943 99


100


O morar e o compartilhar

Figura 53 Imagem aérea do bairro do Butantã na década de 50. Disponível em: http://profwladimir. blogspot.com. br/2012_11_01_archive. html

Figura 52 Em 1952, a região começa a ter maior quantidade de ruas e acessos. A cidade universitária traz grande foco ao distrito. http://smdu. prefeitura.sp.gov.br/ historico_demografico/ img/mapas/1952.jpg

1952 101


102


O morar e o compartilhar

Figura 55 Imagem aérea do bairro nos dias de hoje. Disponível em Google Maps.

Figura 54 Distrito do Butantã e seus arredores atualmente. O crescimento foi progressivo e evidente, camuflando o distrito entre os demais ao redor. Disponível em: http://bit.ly/2fFsVZB

2016 103


Os mapas mostram a crescente evolução no bairro do Butantã, assim como sua urbanização

e desenvolvimento desde seus primeiros registros até a atualidade. Vistos tais pontos, é notória a importância da região e sua valorização. Apesar de afastada do centro, possui atualmente diversos equipamentos e pontos atrativos devido sua história e crescimento gradual.

4.3 Relação com o entorno

Como visto anteriormente, a região do Butantã demonstrou um

grande adensamento e crescimento econômico63 a partir dos anos 1970.

A região no entorno do projeto é caracterizada como de uso misto

com predominância residencial, possuindo também um diversificado setor terciário, repleto de empresas de micro, pequeno, médio e grande porte de serviços e comércios em todo o eixo da Avenida Francisco Morato e Eliseu de Almeida. Ainda há a prevalência de residências de classe média e baixa, mas com indícios de mudanças e verticalização, principalmente devido às futuras estações de metrô da linha 4 – amarela que estão previstas, como a estação Vila Sônia e a estação mais próxima da área de projeto, São PauloMorumbi64, interligação também com a futura linha 17 – ouro do metrô.

A implantação de um conjunto habitacional na região, que contemple

residências voltadas para mais de um estilo diferente de vida mostra ser

104


O morar e o compartilhar vantajoso para todas faixas etárias, apresentando diferentes possibilidades para cada uma delas.

Devido ao aumento do setor terciário na área65, os serviços tendem a crescer na região,

tanto em pequenos negócios, como na parte de escritórios e empresas, oferecendo possibilidades para jovens, adultos e idosos que procurem emprego próximo ao local de residência, ou vice versa.

A área também situa-se próxima à diferentes instituições de ensino, desde o infantil até

o universitário. Desta forma, tanto crianças iniciando a vida escolar, quanto jovens em suas atividades acadêmicas têm possibilidade de moradia próxima à sua instituição de ensino. Ainda, devido à proximidade com o metrô, apresenta fácil acesso para universidades que se localizam na área central da cidade, como Mackenzie, Belas Artes, Casper Líbero, entre outras, sem implicar em valores elevados – como ocorre em suas proximidades - ou a dificuldade em conseguir vagas em moradias estudantis, assim como nos conjuntos residenciais da USP, por exemplo.

As opções de religião, cultura e lazer dentro de um raio de 2 km do terreno de implantação

são amplas e diversificadas. Shoppings, estádio, parques, igrejas, academias e alguns centros com atividades específicas situam-se nas proximidades e atendem as necessidades de todos os moradores do conjunto, principalmente crianças e idosos, que possuem mais tempo para dedicarem-se a tais atividades.

Além dos equipamentos urbanos disponíveis para a população, o conjunto ainda contará

com uma variedade de equipamentos, que servirão de apoio aos edifícios vizinhos e ampliarão as opções de cultura e serviços da região como biblioteca, auditório, centro de convivência e estudos, academia, creche, entre outros.

105


4.3.1 Equipamentos Urbanos

A escolha do local de implantação de projeto baseou-se em dois

pontos: o território existente e as necessidades para o local.

Primeiramente, foram verificados os equipamentos já existentes na

região. Levou-se em consideração equipamentos que fossem vitais ou úteis aos futuros moradores e usuários do projeto.

Os equipamentos próximos à área do projeto deveriam oferecer apoio

à nova população residente. Escolher um local que já possuísse infraestrutura mínima, foi essencial para garantir um aprimoramento da região, evitando a superpopulação de áreas que não oferecessem o necessário para os novos moradores, o que ocasionaria um problema, ao invés de uma solução.

O conjunto projetado é voltado para uma população ampla e

diversificada, tanto em relação a faixas etárias, quanto em história de vida, cidades natais etc. Ao contrário de outros conjuntos habitacionais em São Paulo, que se voltam unicamente para estudantes – como ocorre, por exemplo, no conjunto residencial CRUSP66, na Universidade de São Paulo -, ou voltados apenas à terceira idade – como na vila dos idosos67, também em São Paulo-, o conjunto visa uma integração entre pessoas das mais distintas faixas etárias. Desde famílias com crianças pequenas a idosos morando sozinhos. Assim sendo, os equipamentos ao redor devem ser variados para atender às diferentes demandas dos moradores.

106


O morar e o compartilhar

A partir da análise dos equipamentos já existentes na área, foram divididas seis categorias

de interesses, para uma melhor compreensão da situação local e para a decisão do programa de usos do projeto.

107


Figura 56 Mapa de equipamentos urbanos da área. Edição sobre imagem pela autora. Disponível em Google Maps

108

Figura 57 (Ao lado) Imagens dos quipamentos mapeados >>>>>


O morar e o compartilhar

109


EDUCAÇÃO “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” Nelson Mandela

O primeiro ponto pesquisado foi a questão da educação. A idade dos

moradores é variada, dessa forma, a análise visa a importância e facilidade de residir próximo ao seu local de estudo.

A área abrange diversas instituições de ensino. Crianças encontram

escolas públicas e particulares a menos de 2 km de distância. Universitários localizam-se próximos à Universidade de São Paulo – de fácil acesso por meio de transporte público, além da ciclovia que liga o terreno à universidade- e próximos à futura estação São Paulo- Morumbi da linha 4- amarela do metrô, que possibilita o acesso à diversas universidades da cidade, localizadas no centro, como Mackenzie, Casper Líbero, PUC etc. Escolas de idiomas também são amplamente presentes, que podem ser utilizadas por moradores de todas as idades.

Para crianças menores de 3 anos também há duas possibilidades. Um

berçário particular, vinculado ao colégio de ensino espanhol Miguel de Cervantes e a creche pública Dona Ana Rosa. Porém, devido ao programa repleto de ensino relacionado à cidadania e civilidade oferecido pela creche68, a abrangência de sua procura vai além dos arredores do bairro. Assim, a disponibilidade de vagas é limitada, impedindo que todas as crianças tenham acesso ao ensino público. Esse ponto será considerado no projeto, com a implantação de uma creche na

110


O morar e o compartilhar parte de serviços do conjunto.

RELIGIÃO “Minha religião é o amor a todos os seres vivos” Leon Tolstoi

A religião é um ponto importante, que serve como apoio na vida do

Homem, preenchendo, muitas vezes, espaços vazios, trazendo esperança, fé e regrando a forma de viver de milhares de indivíduos por todo o mundo.

A palavra origina-se do latim, de religare69, que significa “re-ligar” o

Homem a uma crença, onde deposita sua fé em um Ser supremo para preencher o vazio que há entre os seres humanos e seu Deus.

Uma vez que a religião dita a forma de agir de seus praticantes, traz

conforto e, muitas vezes, os torna seres humanos melhores, por apresentar um conjunto de princípios morais e éticos, a presença de templos religiosos no entorno do projeto é um ponto positivo para os que crêem.

Os templos indicados no mapa (Fig.56) são em sua maioria cristãos,

religião predominante no Brasil, a maior nação cristã do mundo, com quase 83% da população, dividida entre católicos e evangélicos70. Apesar de não estarem indicados no mapa, por se situarem a mais de um quilômetro de distância do terreno escolhido, o bairro e seus arredores ainda contam com centros budistas, espíritas, de umbanda, islâmicos etc, oferecendo apoio para diferentes religiões.

111


COMÉRCIO

“É bom ter dinheiro e as coisas que o dinheiro pode comprar, mas também é bom, checar de vez em quando, e ter certeza de que você não perdeu as coisas que o dinheiro não pode comprar.” - George Lorimer

As avenidas Francisco Morato e Eliseu de Almeida são majoritariamente

comerciais, com inúmeros estabelecimentos de micro ou pequenos negócios. (Fig. 58). O mapa da figura 56 indica alguns estabelecimentos comerciais de maior porte, como mercados varejistas – Pão de Açúcar, Dia – atacadistas e lojas de departamento– Makro e Walmart. Além desses, há uma enorme quantidade de pequenos comércios e serviços, como mecânicas, lojas de roupas, docerias, padarias, lanchonetes, restaurantes e o Shopping Butantã localizado ao lado do projeto proposto.

A proximidade do projeto com eixos comerciais permite a locomoção até

estes por meios menos poluentes, como por bicicleta ou até mesmo a pé. Desta forma, a quantidade de pessoas gerando trânsito ou utilizando o transporte público diminui bastante, contribuindo com um desafogamento do tráfego da região. Figura 58 (Ao lado) Eixos com comércio predominante. Avenida Eliseu de Almeida e Francisco Morato. Edição sobre imagem. Disponível em Google Maps

112


O morar e o compartilhar

113


SAÚDE “Em geral, nove décimos da nossa felicidade baseiam-se exclusivamente na saúde. Com ela, tudo se transforma em fonte de prazer.” – Arthur Schoppenhauer

No quesito saúde, a região no entorno do terreno é bem equipada.

Apesar de ser associados à tristeza, tragédia e doenças, trazendo sentimentos negativos a respeito, possuir hospitais e prontos socorros nas proximidades de sua moradia são importantes e facilitadores em casos de enfermidades.

O território analisado na figura 56 foca, principalmente, na área de

projeto e suas redondezas em até 2 km. Além das unidades listadas no mapa da figura 56, ainda há diversas opções de hospitais, prontos socorros, UBS, além do hospital no interior do instituto Butantã, o mais importante relacionado ao tratamento de doenças causadas por animais peçonhentos. Ainda conta com uma grande quantidade de pequenos consultórios médicos, dentistas, laboratórios etc., também presentes na região, principalmente nas travessas da avenida Francisco Morato.

114


O morar e o compartilhar PARQUES “A natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas.” – Goethe.

A presença de parques e áreas verdes é um ponto forte na região do

Butantã. A existência deles é responsável por uma melhoria na qualidade de vida, proporcionando o contato direto com a natureza, purificação do ar, diminuição da temperatura, além de esbanjarem beleza.

O Parque Municipal Previdência localiza-se exatamente em frente ao

projeto e conta com uma área de mais de 90 mil quilômetros quadrados. O local é um ambiente que atende todas as idades, gostos e estilos. Há uma trilha para caminhadas, playgrounds, áreas de piquenique, jardim aromático, aparelhos de ginástica voltados para a terceira idade, orquidário, viveiro de gansos e ainda abriga o Museu do Meio Ambiente e a sede do grupo Escoteiro Raposo Tavares71.

A apenas algumas centenas de metros, localiza-se o Parque Luís Carlos

Prestes, um pequeno parque municipal de 27 mil metros quadrados ligando três platôs através de escadas, dando acesso à Rodovia Raposo Tavares. Apesar de bem menor do que o Previdência, o parque conta com churrasqueiras, quadras, aparelhos de ginástica, quiosques, pistas de caminhada, trilhas e espaço comunitário72.

A região ainda conta com outras praças e áreas verdes que oferecem aos

usuários espaços ao ar livre, de contato com a natureza, de lazer e prática de atividades em meio ao verde.

115


CULTURA E LAZER “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte” – Arnaldo Antunes

Vivenciar momentos de lazer é essencial para a qualidade de vida dos

indivíduos. Promover a cultura é essencial para sua saúde mental, gerando sensação de bem estar e contribuindo para a saúde geral do corpo, além de gerar nos seres humanos a sensação de pertencimento – a uma religião, a uma cidade, a um país e à sua cultura – e contribuindo para a identidade de cada um.

O Brasil é conhecido como “país do futebol”, sendo o esporte mais popular

entre os brasileiros, tanto como protagonistas, quanto como expectadores. O Estádio Cícero Pompeu de Toledo é a sede oficial do time brasileiro São Paulo Futebol Clube73, sediando partidas de futebol de campeonatos Paulistas, nacionais, e até mesmo Copas do mundo. O estádio ainda serve de palco para grandes shows nacionais e internacionais, oferece espaço para festas e conta com diversas lojas, restaurante e academia. O bairro conta também com outras academias de ginástica, natação e crossfit.

A casa da cultura do Butantã encontra-se a menos de um quilômetro de

distância do terreno e também é uma opção de cultura e prática de atividades, contando com oficinas de fotografia, pintura em tecido, ioga, grupo de terceira idade, aulas de violão, dança, teclado74 entre outros.

116


O morar e o compartilhar

4.3.2 Mobilidade

A escolha de implantação do projeto também considerou a questão da mobilidade urbana.

Visto que cada vez mais o uso do automóvel particular é desestimulado75 e que as distâncias na cidade são demasiadas para serem percorridas a pé, o cuidado com a localização do projeto em relação aos meios de transportes é essencial, além de ser atualmente um dos principais pontos observados na escolha do local de moradia.

Como já mencionado, a região encontra-se entre duas grandes avenidas do Butantã,

que interligam o centro com outros bairros da cidade. O desenho urbano atual da área visa a locomoção, não apenas de carros nas avenidas, mas também através dos corredores de ônibus, futuras estações de metrô e a importante ciclovia localizada na avenida Eliseu de Almeida.

METRÔ:

A ideia de um meio de transporte que percorresse a cidade por seu subterrâneo surgiu

inicialmente como algo absurdo e bastante criticado na sua época. Em 1863, Londres nunca imaginaria que estaria prestes a criar um dos maiores feitos da engenharia, capaz de transportar grande parte da população da cidade de um lado ao outro em questão de minutos76.

São Paulo foi a primeira cidade brasileira a contar com linhas de metrô, mais de 110 anos

após a inauguração da primeira no Reino Unido. Hoje a rede metroferroviária paulista é a maior do Brasil, possuindo 12 linhas e 159 estações existentes dentro de aproximadamente 337 km de extensão77, apresentando uma solução para o problema de mobilidade presente na cidade, apesar de ainda nem se comparar à quantidade de linhas e estações de outras metrópoles do

117


mundo, como Londres ou Nova York.

Ainda assim, o sistema metroviário apresenta inúmeros pontos positivos:

Maior quantidade de pessoas por vagão (180 pessoas por vagão);

Fuga do trânsito da cidade;

Longos percursos em menos tempo;

Alta frequência de vagões, diminuindo o tempo de espera na estação;

Menos poluente (emite aproximadamente 6g de CO2/km rodado78);

Baixo custo.

Visto isso, localizar-se perto de uma estação de metrô acarreta inúmeras vantagens, tanto

pessoais quanto para o meio ambiente. A escolha de implantação levou esse ponto bastante em consideração, visando uma boa qualidade de vida e como um ponto facilitador no cotidiano dos usuários do projeto.

O terreno localiza-se a aproximadamente 500 metros da futura estação São Paulo-

Morumbi, ponto de ligação entre as linhas 4 e 17 do metrô. (Fig. 60)

Figura 59 Corte da futura estação São Paulo-Morumbi, ainda em obras. Disponível em: http://bit.ly/2fITxJ9

118


O morar e o compartilhar

Figura 60 Localização da futura estação São Paulo- Morumbi e do projeto, em uma distância de aproximadamente 500 m. Edição sobre imagem feita pela autora. Disponível em Google Maps.

A existência de uma estação de metrô facilitará tanto para pessoas

que trabalham no centro, quanto para estudantes de diversas universidades que se localizam na região mais central, como nas avenidas Paulista e Consolação, locais de diversas universidades. Ainda será um atrativo para que pessoas de outras regiões conheçam o projeto facilmente. A estação ainda possuirá ligação com a futura estação do aeroporto, trazendo movimento para a região. (Fig. 61)

119


Figura 61 Linhas atual e futura do metrô. A estação mais próxima do projeto (São Paulo – Morumbi) terá ligação entre ambas. Edição feita pela autora. Imagens disponíveis em: http://bit. ly/2fVEnAM e http://bit.ly/2eDtK6

120


O morar e o compartilhar ÔNIBUS

No ano de 2013, a prefeitura de São Paulo iniciou a Operação Dá Licença para o ônibus,

um projeto que prioriza o uso do transporte público através de faixas exclusivas e pontos em toda a capital79. As faixas variam de acordo com o horário, mas são normalmente exclusivas nos horários de pico, servindo como “fura-fila” em meio ao tráfego intenso.

Nos últimos anos, a implantação de corredores de ônibus tem sido ampliada por toda a

cidade. Com as faixas exclusivas para o transporte público, a velocidade dos ônibus cresceu em 11% na cidade e houve uma redução de 5% dos gases responsáveis pelo efeito estufa e outros tantos prejudiciais à saúde80.

O que anteriormente era uma opção longa e exaustiva, atualmente passou a ser uma

opção mais rápida, principalmente em horários de pico, uma vez que nas principais avenidas da cidade foram implantadas no mínimo uma faixa de uso exclusivo de ônibus, além da instalação de ar-condicionado e internet livre no interior dos ônibus da cidade, oferecendo maior comodidade e conforto nos longos trajetos urbanos.

O terreno do projeto encontra-se entre as principais avenidas do bairro e ambas possuem

em sua extensão corredores exclusivos de ônibus. Dando acesso para diferentes sentidos e bairros – desde o município de Taboão da Serra, ao centro da cidade, Lapa, Itapecerica da Serra, Santo Amaro etc.– as possibilidades de ônibus na região são diversas, assim como a quantidade de pontos de ônibus ao redor (Fig. 62).

121


Figura 62 Pontos de ônibus no entorno do projeto. Disponível em: Google Maps

A rede de ônibus é bastante ampla na cidade, existindo geralmente um ponto à uma

distância a pé dos locais. Diferentemente do sistema de metrô, os ônibus chegam a inúmeros pontos centrais ou afastados, sendo uma opção fácil para que não quer fazer longos trajetos a pé, após o transporte público.

122


O morar e o compartilhar CICLOVIAS

O Código de Trânsito Brasileiro prevê a existência de estrutura cicloviária para o

deslocamento de ciclistas, consistindo em ciclovias e ciclofaixas, além de existir também em algumas prefeituras as chamadas rotas de bicicleta ou ciclorrotas81.

O deslocamento com bicicletas é tão bem-visto atualmente, devido principalmente

à questões ambientais, uma vez que a emissão de CO2 de uma bicicleta é nula. Além disso, a bicicleta é uma forma saudável e barata (gratuita!) de se locomover, além de ocupar menos espaço em meio ao trânsito, surgindo como mais uma solução para o trânsito caótico de São Paulo.

Assim sendo, o Plano Diretor Estratégico da cidade (PDE) tem como princípio priorizar o

uso de transporte coletivo e veículos não motorizados82, bem como ampliar suas redes a fim de racionalizar o uso do automóvel83.

A ciclovia implantada ao longo da Avenida Eliseu de Almeida foi uma grande conquista

para a cidade. A Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo – Ciclocidade foi grande responsável por esse feito, após anos batalhando, realizando levantamentos de dados do local, que apontavam a importância de uma ciclovia para a região84.

A ciclovia interliga desde o município de Taboão da Serra até o metrô Butantã, da linha 4,

próximo à USP.

123


Figura 63 Indicação da ciclovia no mapa, que passa em frente ao terreno do projeto e vai até as proximidades do metrô Butantã. Edição sobre imagem. Disponível em: http:// bit.ly/2g9jAtJ

A quantidade de ciclistas é surpreendente e apresentou um

grande crescimento desde 2014, quando a ciclovia ainda estava sendo implantada, até sua implantação total em 2015. O destaque se deu na participação feminina, que aumentou de nove mulheres pedalando antes da ciclovia, para 139 (Fig. 64). A segurança oferecida por uma estrutura cicloviária é incentivadora para todos ciclistas, principalmente para crianças e adolescentes,85 como observado na figura 64.

124


O morar e o compartilhar

Em 2015, a associação efetivou uma contagem na ciclovia no cruzamento da Avenida

Eliseu de Almeida com a Av. Dep. Jacob Salvador Sveibil, ponto próximo ao terreno de projeto. (Fig. 65)

Figura 64 Comparativo ao longo dos anos da participação de mulheres e crianças na ciclovia. Disponível em: http://www.ciclocidade. org.br/noticias/695relatorio-de-contagemde-ciclistas-eliseu-dealmeida-2015

125


Figura 65 Local da contagem da ciclovia. Terreno de projeto destacado em cor. Edição sobre imagem. Disponível em: Google Maps.

126

Os resultados demonstrados a seguir foram

coletados da pesquisa efetuada. Em um período de 14 horas, passaram pelo ponto 1.245 ciclistas, com uma média de 88,93 ciclistas por hora e 1,48 ciclistas por minuto.


O morar e o compartilhar

Observa-se nos gráficos

que a ciclovia é uma opção bastante utilizada pelas pessoas ao longo do dia, mostrando ser uma boa possibilidade de locomoção

pela

cidade.

Os

horários com fluxo mais intenso são no período da manhã – das 6h às 8h – e à noite – das 16h às 18h, horários comerciais, sendo provável que os ciclistas utilizem a rota a caminho do trabalho ou escola/universidade. (Fig. 66)

Figura 66 Gráficos indicando o fluxo de ciclistas no ponto indicado. Disponível em: http://www.ciclocidade. org.br/noticias/695relatorio-de-contagemde-ciclistas-eliseu-dealmeida-2015

127


Figura 67 Fluxos e mĂŠdias de ciclistas. DisponĂ­vel em: http://www.ciclocidade.org.br/noticias/695relatorio-de-contagem-de-ciclistas-eliseu-dealmeida-2015

128


O morar e o compartilhar

Antes da ciclovia, já havia pessoas que faziam o percurso de bicicleta, porém as condições

não eram facilitadoras. Interpretando os gráficos, é compreensível o aumento do fluxo durante os anos. A inauguração parcial da ciclovia ocorreu em junho de 2014. Em setembro já é possível perceber sua influência, com o aumento do número de usuários. A obra finaliza-se no início de 2015 e pouco depois já é feita a contagem do gráfico, indicando o evidente aumento de usuários.

A figura 68 indica quantidade de ciclistas e seus percursos, sendo a maioria em direção

ao centro da cidade, onde localiza-se a maior quantidade de escritórios, além de ser também em direção à grande parte das universidades – até mesmo em sentido USP. Por outro lado, a quantidade de ciclistas em direção oposta também é grande, que indica um grande fluxo em ambos sentidos.

A predominância é de ciclistas adultos (97%) em relação a de adolescentes e crianças; e de

homens (89%) em relação a mulheres – apesar de seu número ter crescido radicalmente, perdendo apenas em quantia para a ciclovia da Av. Faria Lima, onde 13% dos ciclistas são mulheres86.

Figura 68 Ilustração indicando quantidade de ciclistas, suas origens e destinos. A ciclovia dá acesso ao município de Taboão da Serra, ao bairro do Morumbi e ao centro da cidade. Disponível em: http://bit.ly/2gccJNW

129


Observa-se

na

figura

69

que 99% dos ciclistas cumpre com as regras da ciclovia, mantendo-se dentro dela, na mão correta e não utilizando a calçada, o que acarreta em maior segurança para todos, em todos os sentidos.

Os dados coletados mostram

os pontos positivos que uma ciclovia na região traz consigo, entre eles, maior segurança para os ciclistas, possibilitando novas opções de mobilidade; menos CO2 emitido na atmosfera; desafogamento no tráfego da cidade; melhoria na qualidade de vida das pessoas e em sua saúde física, entre outros.

Figura 69 Gráficos indicando o modo de deslocamento. Disponível em: http://www. ciclocidade.org.br/noticias/695-relatorio-decontagem-de-ciclistas-eliseu-de-almeida-2015

130


O morar e o compartilhar

Um experimento realizado em 2014 considerou os três principais pontos relacionados à

mobilidade (distância, tempo e custo) para eleger a melhor opção de locomoção pela cidade. Seis pessoas deveriam partir do bairro do Brooklin, em São Paulo sentido Avenida Paulista, no centro da cidade, utilizando diferentes meios de transporte, às 18h, horário de pico na cidade. A figura 70 ilustra os resultados obtidos.

Figura 70 Percurso feito por 6 pessoas, partindo do Brooklin à avenida Paulista, às 18h. Tabela adaptada pela autora. Disponível em: http://bit. ly/2fX18mb

A análise da tabela (Fig. 70) permite perceber que a utilização de

bicicleta é a forma mais rápida e barata de locomoção, além de ser a menos poluente e a mais saudável. Visto isto, é compreensível que seja necessária a implantação de ciclovias por toda a cidade. Possuir uma ciclovia em frente ao local de moradia é um grande incentivador da prática.

131


4.4 Legislação

O novo Plano Diretor Estratégico (PDE) aprovado

em 2014 visa uma cidade mais equilibrada e humana, com a aproximação física entre o local de emprego e a residência. Preocupa-se com questões ambientais, sociais e econômicas, a fim de aumentar a qualidade de vida da população.87Para isso, conta com 10 estratégias (Fig. 71).

132

Figura 71 Estratégias propostas pelo PDE. Disponível em: http://gestaourbana. prefeitura.sp.gov.br/ entenda-a-lei/


O morar e o compartilhar

A cidade é organizada em macrozonas, macroáreas, Zona Urbana e Zona Rural. Nelas,

há seu respectivo zoneamento, dependendo das necessidades de cada uma. A figura 72 mostra o entorno da área do projeto com suas respectivas zonas, que definem os usos e atividades propostos para elas.

ÁREA DE PROJETO

Figura 72 Zoneamento da região. Edição sobre imagem. Disponível em: http:// gestaourbana.prefeitura.sp.gov.br/wpcontent/uploads/2016/03/Butant%C3%A3. pdf

133


O terreno do projeto encontra-se em uma ZEU – Zona Eixo de

Estruturação da Transformação Urbana, onde há incentivo à implantação de equipamentos de uso residencial e não residencial, com altas densidades demográficas e construtivas, a fim de melhorar a qualidade da paisagem urbana e espaços públicos juntamente ao sistema de transporte coletivo88.

A ZEU possui quatro divisões, todas inseridas na macrozona, mas cada

uma contendo uma função diferente. A ZEU visa promover uma Estruturação e Qualificação Urbana, enquanto a ZEUa possui um foco ambiental, e a ZEUP e ZEUPa ainda não possuem até então o decreto publicado89.

Cada Zona possui suas leis de acordo com o necessário para a área. A

tabela da figura 63 indica algumas das exigências para o projeto em relação ao uso e ocupação do solo.

Segundo a tabela da figura 73 ZEU indicada possui Coeficiente de

Aproveitamento (C.A.) mínimo de 0,5 e máximo de 4, ou seja, pode-se construir em até quatro vezes a área do terreno. A Taxa de Ocupação (T.O) é de 70%, uma vez que o terreno de projeto possui 16.000 m² de área. Não há limite de gabarito de altura para o projeto e não é necessário o recuo frontal, apenas lateral e dos fundos, de três metros em relação ao limite do terreno.

Considerando os dados apresentados, o projeto terá, portanto, uso

habitacional e não habitacional, utilizando o C.A. mínimo de 2,5 e o T.O com 0,45.

134


O morar e o compartilhar

Figura 73 Quadro (3) de zoneamento. Disponível em: http://gestaourbana. prefeitura.sp.gov.br/arquivos-zoneamentobiblio/ (Última visualização em 07.10.2016 às 09:10)

135


4.5 Conclusão parcial

Assim como o programa proposto, a escolha do local de implantação

do projeto foi planejada de acordo com os diferentes tópicos mencionados ao longo do capítulo. Para adotar uma região para a implantação, é necessário compreender sua história, suas características, sua realidade atual, seu funcionamento no cotidiano de quem ali vive e de quem ali irá viver. Uma vez compreendidos os pontos listados, é necessário analisar o efeito que o projeto irá surtir na região, ou seja, os impactos positivos ou negativos que por ele serão causados. A partir dessa percepção, é possível responder à pergunta do primeiro capítulo. 4.

Como o local onde o projeto é inserido influencia seu programa? E como o programa do projeto influencia o local onde está inserido?

Como analisado ao longo do capítulo 4, os equipamentos urbanos

existentes foram fatores decisivos na escolha da implantação, observando o que o território tem a oferecer, assim como o que ainda necessita que o projeto ofereça. Escolher uma região que suportasse o programa proposto e não gerasse problemas, mas pelo contrário, enriquecesse o local foi um ponto decisivo. Os equipamentos existentes ainda auxiliam na escolha do programa do projeto, que será tratado no capítulo seguinte, a fim de não criar conflitos de interesses e gerar uma melhora nos serviços existentes do bairro.

136


O morar e o compartilhar

Notas

br/obras/pdf/linha-4-amarela/rap-l4-sma. pdf (Último acesso em 05.06.2016 às 19:10) 65

Disponível em: http://vivaobutanta.

blogspot.com.br/2011/07/historiado-butanta.html 58

RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas

(Último

acesso

em:

29.05.2015 às 21:50)

brasileiras: para o conhecimento das línguas

66

indígenas. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

Universidade de São Paulo. Disponível em:

59

http://www.usp.br/coseas/COSEASHP/

Disponível em: http://www.prefeitura.

Conjunto

Residencial

da

sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/

COSEAS2010_moradia.html

bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_

visualização: 18/08/2016 às 10:20)

a_l/camilacerqueiracesar/index.php?p=129

67

(último acesso em 29/09/2016 às 10:15)

http://www.vigliecca.com.br/pt-BR/

60 Ibid.

projects/elderly-housing (Último acesso

61 Disponível

em:

http://www.

Última

Vila dos idosos. Disponível em:

em 18/082016 às 10:40)

saopaulominhacidade.com.br/conteudo/34/

68 Disponível

Butanta (último acesso em: 03.10.2016 às 10:30)

archdaily.com.br/br/769469/instituto-

62

dona-ana-rosa-roccovidal-perkins-plus-will

Dados coletados durante o evento

em:

http://www.

“Jornada do Patrimônio” de São Paulo, ocorrido

(Último acesso em 22/08/2016 às 08:00)

no Instituto Butantã em 28.08.2016.

69 Disponível

63

Disponível em http://www.metro.sp.gov.

webartigos.com/artigos/o-conceito-

br/obras/pdf/linha-4-amarela/rap-l4-sma.pdf

e-a-importancia-da-religiao-na-vida-

(Último acesso em 05.06.2016 às 19:00)

humana/81523/ (Última visualização em:

64

15.10.2016 às 18:00)

Disponível em http://www.metro.sp.gov.

em:

http://www.

137


70

Instituto

Brasileiro

casa_de_cultura/

de Geografia e Estatística. Censo

index.php?p=1556

Demográfico 2010 – Características

75

gerais da população, religião e pessoas

prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2015/06/

com deficiência. Censo demogr., Rio de

Jornal-PL-do-Zoneamento.pdf (Último acesso em:

Janeiro, 2010.

12.10.2016 às 21:00)

71

Disponível

em:

http://

76

Disponível

em:

http://gestaourbana.

Disponível em: http://www.infoescola.com/

www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/

transporte/metro/ (Último acesso em: 12.10.2016 às

secretarias/meio_ambiente/parques/

18:00)

regiao_centrooeste/

77

index.php?p=5763 (Última visualização

com.br/veja-o-mapa-de-estacoes-do-metro-e-cptm/

em: 15.10.2016 às 19:00)

(Último acesso em: 12.10.2016 às 18:25)

72

Disponível

em:

http://

78

Disponível

em:

http://www.metrocptm.

Disponível em: http://www.metro.sp.gov.

www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/

br/metro/sustentabilidade/menos-emissao-gases.

secretarias/meio_ambiente/parques/

aspx (Último acesso em: 13.10.2016 às 11:30)

regiao_centrooeste/

79

index.php?p=5756 (Último acesso em:

infograficos/faixas-e-corredores-de-onibus/ (último

15.10.2016 às 19:20)

acesso em: 16.10.2016)

73

Disponível

em:

http://www.

Disponível em: http://noticias.terra.com.br/

80 Disponível

em:

http://sustentabilidade.

morumbitour.com.br/ (Último acesso

estadao.com.br/blogs/ambiente-se/velocidade-

em: 15.10.2016 às 20:00)

cresce-11-e-emissoes-caem-5-com-faixas-de-onibus/

74

138

IBGE,

Disponível

em:

http://

81

Disponível em: http://www.ciclocidade.org.

www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/

br/ciclovias (Último acesso em 13.10.2016 às 12:00)

secretarias/subprefeituras/butanta/

82

Art. 6 inciso XI do Plano Diretor Estratégico


O morar e o compartilhar da cidade de São Paulo. 2015. 83

Art. 7 inciso IV do Plano Diretor Estratégico da

cidade de São Paulo. 2015. 84

Disponível em: http://www.ciclocidade.org.br/

noticias/695-relatorio-de-contagem-de-ciclistas-eliseude-almeida-2015 (Último acesso em: 13.10.2016 às 13:00) 85

Disponível em: http://www.ciclocidade.org.br/

noticias/695-relatorio-de-contagem-de-ciclistas-eliseude-almeida-2015 (Último acesso em 13.10.2016 às 13:00) 86

Disponível em: http://www.ciclocidade.org.br/

noticias/695-relatorio-de-contagem-de-ciclistas-eliseude-almeida-2015 (Último acesso em 15.10.2016 às 22:00) 87

Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.

sp.gov.br/marco-regulatorio/plano-diretor/

(Último

acesso em 16.10.2016 às 15:30) 88

Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.

sp.gov.br/zona-eixo-de-estruturacao-da-transformacaourbana-zeu/ (Último acesso em 16.10.2016 às 15:30) 89

Disponível em: http://gestaourbana.prefeitura.

sp.gov.br/zona-eixo-de-estruturacao-da-transformacaourbana-zeu/ (Último acesso em 16.10.2016 às 15:30)

139


140


O morar e o compartilhar

5. Projeto 141


5.1 Localização

142

Figura 74 Localização do terreno com implantação do projeto. Modificação sobre imagem. Disponível em Google Maps.


O morar e o compartilhar

5.2 Estratégias

Visto que todo território urbano apresenta pontos positivos e negativos, o estabelecimento

de estratégias para o projeto apresenta uma proposta de solução para as questões deficientes e melhoria para as potencialidades. Após as análises realizadas nos capítulos anteriores, o projeto cria estratégias em busca da criação de um local mais ativo, seguro e atrativo, dividido nos seguintes segmentos:

I. ESTRATÉGIA DE MOBILIDADE:

A região do projeto é privilegiada em relação ao transporte público.

Como apresentado no capítulo 4, as opções de metrô, ônibus, bicicleta e carros são amplas. O projeto busca incentivar o uso do transporte público e do menos poluente (bicicleta), uma vez que se localiza em uma área da cidade com inúmeras possibilidades de mobilidade urbana.

A permeabilidade por entre o terreno gera novos fluxos, tanto para

pedestres, quanto para automóveis e ciclistas, criando um novo trajeto entre a avenida principal e a local. Vagas para bicicletas serão implantadas por todo o térreo, bem como no estacionamento coberto, a fim de incentivar a posse e o uso das mesmas. As vagas de estacionamento localizam-se no subsolo, com duas vagas por unidade habitacional, totalizando na proporção uma vaga para oito moradores, desestimulando a posse do carro próprio.

143


II. ESTRATÉGIA URBANA:

O terreno atualmente é um espaço vazio cercado por um grande muro que serve como

barreira física e visual para o local, tornando a passagem pela sua frente perigosa, mesmo durante o dia (Fig. 75). Os fundos do terreno atualmente compreendem espaços vazios, escuros e sem vida, muitas vezes utilizados apenas para vagas de carros e caminhões, do lado de fora do muro (Fig. 76). A fluidez por entre o terreno, assim como a nova rua implantada paralelamente no projeto, fazem com que o pedestre tenha novas possibilidades de travessia, mais seguras e interessantes do que as opções atuais.

O projeto busca trazer vitalidade ao local atualmente sem uso, tanto no período diurno

Figura 75 O terreno, atualmente, é cercado por um muro de aproximadamente 5 metros de altura, tornando a passagem de pedestres extremamente ameaçadora. Modificação sobre imagem. Disponível em: Google Maps

144


O morar e o compartilhar quanto no noturno, uma vez que a área torna-se perigosa à noite, quando os serviços públicos do entorno

estão

fechados.

Desta

forma, contará com equipamentos públicos

em

todo

o

térreo,

permitindo o fluxo de pedestres por entre os mesmos e convidando diferentes indivíduos a usufruir dos equipamentos urbanos criados.

Figura 76 Os fundos do terreno são usados como estacionamento para carros, com vista vapenas para o muro que o cerca. Disponível em: Google Maps.

145


III. ESTRATÉGIA ECONÔMICA:

O terreno atualmente apresenta-se apenas como uma área inativa e

inerte em uma região com tamanho potencial urbanístico.

O programa conta com um conjunto multifuncional no térreo, voltado

não somente aos futuros moradores do projeto, mas também beneficiando os moradores da região, bem como usuários de qualquer parte da cidade, atraindo uma população diversificada ao terreno e oferecendo um programa que supre as necessidades locais. Todo o térreo do projeto conta com serviços voltados a toda a população, com equipamentos para todas as idades e necessidades, promovendo lazer, cultura, alimentação, atividades físicas e educação para crianças.

IV. ESTRATÉGIA SOCIAL:

Solidão e individualismo são bastante presentes na sociedade paulistana,

repleta de pessoas fisicamente próximas, mas distantes entre si, mesmo quando convivem em um mesmo ambiente. Locais onde ocorre a integração entre pessoas, costumam ser limitadores em relação a idades, regiões ou culturas, sendo então escassos os casos de integração entre crianças, jovens, idosos; estudantes, profissionais e aposentados.

A estratégia baseia-se em promover cultura, integração e sociabilidade

em um ambiente multicultural e diversificado, entre pessoas de diferentes estilos de vida, idades, regiões e culturas, ao mesmo tempo em que a moradia torna-se um local para morar, viver e compartilhar.

146


O morar e o compartilhar IV. ESTRATÉGIA HABITACIONAL

O modelo habitacional da cidade de São Paulo, em sua maioria, conta com

unidades residenciais unifamiliares, com os equipamentos residenciais –cozinha, salas, dormitórios e banheiros- individuais por cada família, onde vizinhos de um mesmo prédio não se conhecem e nem se relacionam. Modelos habitacionais onde há integração e compartilhamento entre indivíduos desconhecidos são exclusivos para estudantes – como ocorre em habitações estudantis - ou para idosos – em centros e lares para a terceira idade. Como observado nos capítulos anteriores, o compartilhamento habitacional entre pessoas é uma realidade em países europeus. Tendo em vista a situação habitacional brasileira, a proposta busca ser uma inovação para o futuro da cidade, além de extremamente benéfico aos que dela usufruem.

O projeto propõe então ao cidadão paulistano, um novo conceito de

morar, baseado no compartilhamento de espaços, introduzindo assim uma nova forma de se relacionar com seus vizinhos e “co-moradores”.

A aplicação das estratégias citadas, junto com o programa do projeto,

visa atrair um maior público para a região, assim como criar um ambiente agradável tanto de moradia quanto de permanência, criar novos fluxos, melhorar a qualidade de vida e promover a conexão interpessoal entre pessoas que frequentam um mesmo espaço.

147


5.3 Partido

Localizado em um terreno de aproximadamente 16.000m² e mais de sete metros de

desnível, o projeto conta com duas vertentes. Em primeiro plano, situado no térreo, localizamse três edifícios implantados em sentido paralelo às ruas principais, repousando sobre o terreno

de acordo com sua topografia existente (Fig. 77). Os percursos feitos a pé atravessam os edifícios, tornando a passagem agradável ao pedestre. Os edifícios são de uso público, voltados para toda a população, atraindo visitantes locais, moradores e pessoas de todas regiões da cidade, por oferecer equipamentos ausentes ou escassos no bairro.

148

Figura 77 O terreno possui quatro níveis “térreos”. Os edifícios públicos se acomodam sobre o terreno, se ajustando à sua topografia. Em azul são representados os edifícios propostos, enquanto o terreno é ilustrado em tons de marrom.


O morar e o compartilhar

Os edifícios residenciais se implantam sobre pilotis, elevados da laje

superior do térreo, trazendo leveza ao conjunto. Sua implantação sofreu modificações, levando em consideração insolação, ventilação, barreiras e conforto interno. Sendo assim, consiste em lâminas de 4x24 metros, que partilham a circulação horizontal e vertical entre si (Fig. 78)

Figura 78 Os edifícios habitacionais (em azul) se elevam das lajes dos edifícios térreos (em verde), trazendo leveza. São interligados por passarelas.

149


5.4 Programa

O projeto proposto divide-se, então, em dois conjuntos de edifícios,

separados por suas funções. Os edifícios térreos contam com o programa Figura 79 A travessia (em laranja) ocorre por todo o terreno de forma sutil, por entre ou ao redor dos edifícios térreos

150

multifuncional, onde lojas, biblioteca, auditório, creche, entre outros ganham espaço para uso público (Fig. 79, em verde). Elevado em relação aos edifícios térreos, localiza-se o conjunto residencial, onde 10 conjuntos duplos dão espaço para 120 unidades habitacionais tríplex compartilhadas (Fig. 79, em azul).


O morar e o compartilhar PROGRAMA MULTIFUNCIONAL

Os edifícios implantados diretamente nos térreos são horizontais, repousando sobre o

terreno de aproximadamente sete metros graduais de desnível, desde seu acesso na avenida Eliseu de Almeida, até a rua Aguiar de Castro, de caráter local. Aproveitando seu declive, são implantados de forma a tornar a travessia do pedestre pelo terreno mais agradável e convidando-o a atravessar todos os prédios para chegar à rua local (Fig. 79). A diferença entre os níveis foi fator de influência para a decisão sobre as alturas dos pés direitos, fazendo com que praticamente todos os pisos ficassem no mesmo nível de algum dos térreos abertos com área verde.

Baseados nos dados coletados no capítulo 4, percebe-se a vasta gama de possibilidades

da área disponível aos futuros moradores. Opções de ensino, saúde, comércio, religião, cultura e lazer são bastante presentes na região.

O projeto preocupou-se em suprir o entorno com equipamentos que ainda não existiam

ou eram deficitários na região, a saber: 1. Auditório

2.

Biblioteca e espaço de estudos

3.

Academia + Quadra esportiva

4.

Restaurante e cafés

5.

Lojas de serviços rápidos

6.

Creche para 50 crianças

7.

Centro de convivência

Cuidadosamente pensados e com suas respectivas justificativas, buscam ampliar as

possibilidades do território de projeto.

151


1. AUDITÓRIO:

O shopping Butantã possui salas de cinema convencional, porém

não conta com espaço para apresentações de dança ou peças de teatro de pequena escala. O auditório do projeto visa o incentivo à ida a peças e apresentações como forma de entretenimento, substituindo o cinema comum. 2.

BIBLIOTECA

A região, apesar de bem equipada e repleta de equipamentos de

ensino, não conta com uma biblioteca de acesso livre ao público. A proposta de implantação de biblioteca no projeto busca o incentivo à leitura e a oferta de um espaço de estudos para a população, com locais para a execução de trabalhos em grupo, assim como para o estudo individual. 3.

ACADEMIA E QUADRA ESPORTIVA

A academia é de uso dos moradores, assim como dos moradores da

região. Ainda há a presença de uma quadra esportiva para o incentivo ao esporte. 4.

RESTAURANTE E CAFÉS

O restaurante surge como uma alternativa às praças de alimentação

presentes nos centros comerciais da cidade. Localizado em espaço aberto e arejado – ao contrário do que ocorre em shoppings, onde é necessário entrar no prédio – o restaurante e os cafés apresentam uma opção mais aprazível e de fácil acesso aos moradores do conjunto.

152

5.

LOJAS DE SERVIÇOS RÁPIDOS

Fato que o shopping Butantã oferece inúmeras opções de comércio


O morar e o compartilhar de roupas, assim como mercado, acessórios etc. As lojas no conjunto oferecerão porém, serviços como padaria, açougue, costureira, entre outros. 6.

CRECHE

As opções de ensino, apesar de abundantes, não contam com

educação para crianças pequenas – com exceção de uma creche pública de qualidade, porém com enorme procura, portanto com pouca disponibilidade e mais afastada do terreno. Desta forma, a implantação da creche para crianças pequenas é uma proposta essencial, principalmente para os pais que passam o dia fora e precisam de um local próximo da residência para deixar seus filhos. 7.

CENTRO DE CONVIVÊNCIA

Uma vez que o principal intuito do projeto é a convivência entre

pessoas, a proposta de um centro é essencial para troca de experiências entre todos os moradores do conjunto, não apenas os do mesmo módulo habitacional. O centro contará com espaços de uso público, onde podem ocorrer aulas de culinária, pintura, idiomas, assim como tardes de chá, jantares temáticos, noites de jogos etc, incentivando a convivência entre todos os usuários do local.

A partir dos equipamentos propostos, organizou-se um diagrama com os níveis de

proximidade necessários e os acessos existentes, para propor uma melhor localização para os mesmos. (Fig. 80).

153


Figura 80 Programa de necessidades do projeto, com nĂ­veis de proximidades entre equipamentos. GrĂĄfico realizado pela autora.

154


O morar e o compartilhar

Os serviços listados anteriormente se dividem nos três edifícios térreos do projeto,

localizados de acordo com seus usos e frequências. Atividades que atraem um maior público, não somente os moradores locais, mas de toda a cidade, localizam-se no edifício mais próximo à avenida Eliseu de Almeida, como o auditório e a biblioteca. Uma vez que há a necessidade de situarem-se em locais mais silenciosos, o distanciamento da avenida ocorre através do paisagismo, contemplando uma área verde com árvores e espelhos d’água.

O edifício central possui fachadas para as duas faces, formando assim pátios internos

nos dois níveis de térreo. Nele, localizam-se os equipamentos voltados aos moradores locais e principalmente aos futuros moradores do projeto, como a academia, serviços rápidos, cafés e restaurante.

No edifício mais afastado da avenida principal, e portanto mais próximo da rua Aguiar

de Castro, localiza-se a creche e o centro de convivência, a fim de incentivar a entrada e uso dos moradores locais, devido ao fato de ser o edifício mais próximo da rua posterior, que possui caráter residencial. A creche foi implantada o mais afastado possível da avenida, para que fosse possível possuir um pátio aberto para as crianças, sem que fosse enclausurado entre paredes, e ao mesmo tempo não sofresse riscos da avenida. Situa-se um metro acima da rua Aguiar de Castro, bem como o centro de convivência, sendo necessária a entrada no projeto para seu usufruto.

Devido ao grande aumento populacional na área, criou-se uma rua paralela ao terreno que

une a avenida Eliseu de Almeida com a rua Aguiar de Castro, dando acesso ao estacionamento criado sob o segundo térreo. Os térreos contam ainda com área verde, redário e espelho d’água. (Fig. 81)

155


Figura 81 Implantação dos edifícios térreos (públicos) e serviços disponíveis.

156


O morar e o compartilhar PROPOSTA HABITACIONAL

A implantação dos edifícios residenciais foi pensada de acordo com seu conforto térmico.

Implantadas no eixo Norte-Sul, as fachadas dos apartamentos voltam-se para as faces Leste e Oeste, dispondo de sol em grande parte do dia.

Houve um estudo sobre as habitações, que foram mudadas ao longo das análises. Suas

primeiras disposições consistiam em edifícios compridos, que formavam extensos “paredões” que barravam a visão, ventilação e circulação por entre os edifícios. As unidades habitacionais ofereciam menor compartilhamento, com no máximo quatro dormitórios por unidade, que acabava por se assemelhar às unidades residenciais tão presentes em São Paulo. Desta forma, a ideia de implantar maior quantidade de dormitórios compartilhando um mesmo espaço comum, não se aplicava ao projeto. (Fig. 81)

Decidiu-se então projetar módulos menores de edifícios, constando de dois prédios que

compartilham uma mesma circulação vertical e se interligam aos outros por meio de passarelas. As unidades habitacionais dobraram de tamanho, aumentando assim o compartilhamento interno, passando de quatro dormitórios para onze no interior dos apartamentos, que partilhariam, a mesma quantidade de equipamentos, porém dispondo ainda de uma sala de estudos e de leitura/ descanso (Fig.82).

157


Figura 82 (Acima) A proposta inicial para as unidades habitacionais não se adequava à proposta, uma vez que ocupavam um grande espaço e não criavam compartilhamento entre muitos dormitórios. A proposta foi modificada e aprimorada.

158

Figura 83 (Ao lado) vA proposta final possui a mesma quantidade de equipamentos da primeira, porém sendo compartilhados entre mais que o dobro de indivíduos. As unidades passaram a englobar dois módulos de 4x12m e contemplar 10 dormitórios, para 16 pessoas.


O morar e o compartilhar

159


A principal proposta do projeto tem foco no

Com

a

proposta,

cada

compartilhamento habitacional. Os apartamentos se

indivíduo conta com uma área

entendem em módulos de 4x24 metros, em modelo

privada de 8 a 16 m², porém

triplex, onde 10 dormitórios dividem área de cozinha, sala

desfrutando de mais área comum

de jantar, sala de estar, sala de estudos e sala de leitura

com seus co-moradores.

(Fig. 83). Nestes 10 quartos, há a possibilidade de abrigar

16 pessoas. Com a necessidade de compartilhamento de

na laje superior dos edifícios térreos,

áreas necessárias como cozinhas e salas, a convivência

sendo compartilhadas entre todos os

surge como algo natural e não forçada, não havendo

moradores, visando uma economia

barreiras entre os moradores de uma mesma unidade,

de espaço interno, de energia e de

criando assim novas “famílias”.

Os apartamentos contam com dois dormitórios

no nível de entrada, pensados principalmente para pessoas com dificuldade de mobilidade, cada qual com espaço para duas pessoas.

As outras opções

de dormitório dividem-se nos pavimentos superior e inferior, em quartos para casais ou solteiros, variando de acordo com as necessidades de cada um. Desta forma, é possível que um casal more em um quarto no andar superior, por exemplo, tendo ao seu lado o quarto de seu filho, o de um estudante de outra cidade, o quarto de um casal de idosos, todos partilhando a mesma cozinha e áreas comuns.

160

As lavanderias encontram-se


O morar e o compartilhar água. As lajes são utilizadas como um térreo privativo

estilo de vida para a população, o

aos moradores, onde encontra-se ainda uma área de

projeto conta com espaços públicos,

descanso, playground e horta para os habitantes.

áreas verdes, setores de cultura,

Pensando na economia e em uma melhoria da qualidade

lazer, educação e atividades físicas,

de vida para os moradores, o projeto conta com

preocupando-se com a economia e

jardineiras nas janelas dos dormitórios, oferecendo

melhoria da qualidade de vida, além

possibilidade para cada morador possuir a própria horta

da integração e compartilhamento

ou floreira.

de espaços, culturas e vidas.

Portanto, além da proposta principal de

compartilhamento habitacional, a fim de criar um novo

Figura 84 Corte do apartamento A entrada do apartamento localiza-se no pavimento intermediário, com os demais quartos dividindo-se entre o pavimento superior e inferior.

161


6.ConclusĂľes 162


O morar e o compartilhar

Após os estudos e análises realizados em conjuntos habitacionais compartilhados já

existentes em outros países, o projeto busca trazer para a realidade brasileira uma ideia que alie os propósitos implícitos nas moradias compartilhadas e a adaptação ao entorno, criando um espaço que integre não apenas os moradores do conjunto, mas atraia novos usuários para o seu convívio.

A proposta é trazer à luz uma mudança de paradigmas em relação ao ato de morar,

que traga no seu bojo a ideia de compartilhar vidas e espaços e de viver de fato em sociedade, de forma mais humanizada, considerando seu semelhante como alguém com quem se pode compartilhar.

Como o projeto é proposto, se adequando ao estudado?

Em resposta à questão formulada no primeiro capítulo, são feitas as seguintes conclusões:

Criação de uma centralidade no terreno atualmente inerte, com equipamentos

urbanos e residenciais que suprem e aperfeiçoam as questões do bairro tratado;

Criação de uma unidade habitacional que difere das presentes na cidade, utilizando

como base projetos existentes na Europa que apresentam resultados satisfatórios em questão de compartilhamento de equipamentos residenciais;

Incentivo à partilha através da arquitetura projetada;

Desta forma, o projeto cumpre com o proposto, baseado nas análises e questionamentos

feitos, indicando uma nova possibilidade para a proposta habitacional da cidade de São Paulo. Conclui-se que a proposta de compartilhamento habitacional é viável, e deve ser compreendida e lapidada para conquistar efeitos satisfatórios no país, a fim de solucionar problemas habitacionais, sociais e urbanos, tão presentes na sociedade brasileira.

163


164


O morar e o compartilhar

7. Peรงas grรกficas 165


166


O morar e o compartilhar

167


168


O morar e o compartilhar

169


170


O morar e o compartilhar

171


172


O morar e o compartilhar

173


174


O morar e o compartilhar

175


176


O morar e o compartilhar

177


8. Bibliografia 178


O morar e o compartilhar AMORIM, Anália. OTERO, Ruben. Habitação e cidade. Pós graduação da Escola da Cidade. UPM-AC. São Paulo, 2009. BONDUKI, Nabil. KOURY, Ana Paula. ARAVECCHIA, Nilce. Habitação e urbanização: Considerações sobre a arquitetura no período Vargas. BONDUKI, Nabil. KOURY, Ana Paula. Os pioneiros da habitação social. Vol. 3. Ed. Unesp, 2014. GUALLART, Vicente. Sociópolis: project for a city of the future. Barcelona: Ed. Actar, 2004. HALL. Edward T. A dimensão oculta. São Paulo: Martins Fontes, 2005. Edição original em português Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977. Edição original em inglês: The Hidden Dimension. Anchor Books, 1966 HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Instituto Antônio Houaisss, Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2010 – Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. Censo demogr., Rio de Janeiro, 2010. LEITE, Maria Amélia D’Azevedo. REBELLO, Yopanan. As primeiras moradias. Revista Arquitetura & Urbanismo. P 76-79. Edição 161. Agosto 2007) Prefeitura de São Paulo. Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo. 2015. RUDOFSKY, Bernard. Architecture without architects. Nova York, Estados Unidos. 1964. RODRIGUES, Aryon Dall’Igna. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Edições Loyola, 2002. SCHOPENHAUER, Arthur. 1851. Fábula da convivência.

179


WEBSITES: CARVALHO, Anderson Marques De. O conceito e a importância da religião na vida humana. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/o-conceitoe-a-importancia-da-religiao-na-vida-humana/81523/#ixzz4Q6Su0JVR CICLOCIDADE. Ciclovias, ciclofaixas e rotas de bicicleta em São Paulo. Disponível em: http://www.ciclocidade.org.br/ciclovias COLIN, Sílvio. Proxêmica. Disponível em: https://coisasdaarquitetura.wordpress. com/2011/01/23/proxemica/ GUALLART, Vicente. Projeto Sharing Tower. Disponível em: http://www. guallart.com/projects/sharing-tower. Elemental Chile | Site oficial. Disponível em: http://www.elementalchile.cl Estádio Cícero Pompeu de Toledo. Disponível em: http://www.morumbitour. com.br/ HIGUTI, André. Quinta Monroy | Elemental. 2012.Disponível em: http:// arktetonix.com.br/2012/10/quinta-monroy-elemental/ In your Pocket. Kalkbreite - an urban laboratory. (Kalkbreite – um laboratório urbano) Disponível em: http://www.inyourpocket.com/Zurich/Kalkbreite-anurban-laboratory_73489f (Último acesso em 26-04-2016 às 20:30) MÁRQUEZ, Leonardo. Habitação Villa Verde/ Elemental. 2013. Disponível em:

http://www.archdaily.com.br/br/01-156685/habitacao-villa-verde-slash-

elemental Prefeitura de São Paulo. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/ Prefeitura de São Paulo. Dados gerais. Disponível em: http://www.prefeitura.

180


O morar e o compartilhar sp.gov.br Prefeitura de São Paulo. Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo. Disponível em: http://bit.ly/2fTjFy7 QUEIRÓS, Luís Miguel. ANDRADE, Sérgio C. Alejandro Aravena: um Pritzker para a arquitectura social. 2016. Disponível em: https://www.publico.pt/culturaipsilon/ noticia/o-chileno-alejandro-aravena-e-o-premio-pritzker-2016-1720085 RoccoVidal Perkins+Will. Instituto Dona Ana Rosa. 2015 Disponível em: http:// www.archdaily.com.br/br/769469/instituto-dona-ana-rosa-roccovidal-perkinsplus-will Site oficial do metrô de São Paulo. Metrô. Disponível em http://www.metro. sp.gov.br Site oficial de turismo da cidade de São Paulo. Disponível em: http://www. cidadedesaopaulo.com/sp/ Subprefeitura Butantã. São Paulo, minha cidade. Disponível em: http://www. saopaulominhacidade.com.br/conteudo/34/Butanta

SIEGFRIED,

Samanta.

Zürcher. Kalkbreite: Wie im Dorf – aber in der Stadt. (Como uma vila, mas na cidade). Disponível em:

http://www.tageswoche.ch/de/2015_08/

schweiz/680984/ Superintendencia Assistência Social. Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.usp.br/coseas/COSEASHP/COSEAS2010_ moradia.html. THOELE, Alexander. Um prédio para pessoas que gostam de compartilhar. 2014. Disponível em: http://www.swissinfo.ch/por/arquitetura-ecol%C3%B3gica_ um-pr%C3%A9dio-para-pessoas-que-gostam-de-compartilhar/41074802.

181


VIGLIECCA e Associados. Vila dos idosos. Disponível em: http://www.vigliecca. com.br/pt-BR/projects/elderly-housing Webartigos. Disponível em: http://www.webartigos.com/ WAKEFIELD, Jane. Cidades do futuro: você gostaria de viver em uma cidade inteligente? 2013. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/ noticias/2013/08/130822_cidades_inteligentes_vj_cc

9. Apêndice 182


O morar e o compartilhar

Lista de siglas C.A.: Coeficiente de Aproveitamento CIAM: Congresso Internacional de Arquitetura Moderna CRUSP: Conjunto residencial da Universidade de São Paulo. IAP: Instituto de Aposentadoria e Pensão PDE: Plano Diretor Estratégico T.O: Taxa de Ocupação USP: Universidade de São Paulo ZEU: Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana

183


Lista de Figuras Figura 1 Distância íntima - próxima 25 Figura 2 Distância íntima - afastada 26 Figura 3 Distância pessoal - próxima

28

Figura 4 Distância pessoal - afastada

28

Figura 5 Distância social - próxima 29 Figura 6 Distância social - afastada 29 Figura 7Distância pública - próxima 30 Figura 8 Distância pública - afastada 31 Figura 9 Projeto de Sociópolis, na Espanha

33

Figura 10 Modelo de Cerdá 34 Figura 11 Projeto de Sociópolis

37

Figura 12 Sharing Tower 38 Figura 13 Esquema Sharing Tower 41 Figura 14 Esquema Sharing Tower 42 Figura 15 Sharing Tower Diagrama 43

184

Figura 16 Áreas comuns de Sharing Tower

44

Figura 17 Esquema de compartilhamento na Sharing Tower

45


O morar e o compartilhar Figura 18 Esquema com área comunitária e apartamentos

45

Figura 19 Esquema dos pavimentos - Sharing Tower

46

Figura 20 Kalkbreite

47

Figura 21 Pátio interno de uso público. 48 Figura 22 Salas de reunião 51 Figura 23 Espaços internos 52 Figura 24 Planta do 5º pavimento 53 Figura 25 Planta do 6º pavimento 54 Figura 26 Tabela de nacionalidades em Kalkbreite

55

Figura 27 Tabela de diversidade etária em Kalkbreite

55

Figura 28 Tabela de tipologias em Kalkbreite

56

Figura 29 Quitinet

57

Figura 30 Fachada comercial 58 Figura 31 Residencial Vila Verde

74

Figura 32 Habitações já modificadas pelos moradores

75

Figura 33 Antes e depois das residências modificadas pelos moradores.

76

Figura 34 Propostas de Aravena

77

Figura 35 Proposta inviável

77

Figura 36 Proposta inviável

77

Figura 37 Residências modificadas pelos moradores

78

Figura 38 Conjunto Realengo

80

Figura 39 Mapa localização bairro Butantã

86

Figura 40 Local da implantação, com as principais vias próximas

87

Figura 41 Local da implantação do projeto

88

185


Figura 42 O muro impede a visão dos pedestres

88

Figura 43 Jornal Estado de São Paulo, de 1914

90

Figura 44 Linha do tempo do bairro do Butantã

92

Figura 45 Mapas de urbanização da cidade ao longo dos anos

93

Figura 46 Planta do distrito de Butantã no ano 1913

94

Figura 47 Instituto Butantã em sua inauguração em 1914

95

Figura 48 Planta do distrito do Butantã em 1916

97

Figura 49 Cia City inicia o processo de loteamento do bairro

97

Figura 50 Butantã no ano de 1924 98 Figura 51 Planta do Butantã em 1943

99

Figura 52 Foto em 1952 da região 101 Figura 53 Imagem aérea do bairro do Butantã na década de 50

101

Figura 54 Distrito do Butantã e seus arredores atualmente

103

Figura 55 Imagem aérea do bairro nos dias de hoje

103

Figura 56 Mapa de equipamentos urbanos da área

108

Figura 57 Imagens dos quipamentos mapeados

108

Figura 58 Eixos com comércio predominante

112

Figura 59 Corte da futura estação São Paulo-Morumbi

118

Figura 60 Localização da estação São Paulo- Morumbi e do projeto

119

Figura 61 Linhas atual e futura do metrô

120

Figura 62 Pontos de ônibus no entorno do projeto

122

Figura 63 Mapa com a ciclovia em frente ao projeto

124

Figura 64 Usuários (mulheres e crianças) da ciclovia

125

Figura 65 Local da contagem da ciclovia 126

186


O morar e o compartilhar Figura 66 Fluxo de ciclistas no ponto analisado

127

Figura 67 Fluxos e médias de ciclistas

128

Figura 68 Quantidade de ciclistas, suas origens e destinos

129

Figura 69 Modo de deslocamento 130 Figura 70 Tabela de percursos às 18h

131

Figura 71 Estratégias propostas pelo PDE 132 Figura 72 Zoneamento da região 133 Figura 73 Quadro (3) de zoneamento.

135

Figura 74 Localização do terreno com implantação do projeto

142

Figura 75 Frente do terreno 145 Figura 76 Fundos do terreno 145 Figura 77 Esquema do partido do projeto

148

Figura 78 Esquema indicando serviços e habitação do projeto

149

Figura 79 Fluxos proposta do projeto

150

Figura 80 Gráfico de proximidades do projeto

154

187


Figura 81 Implantação dos edifícios térreos e serviços disponíveis

156

Figura 82 Proposta inicial habitacional 158 Figura 83 Proposta final habitacional

158

Figura 84 Corte do apartamento 161

188


O morar e o compartilhar

189


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.