Revista
Encantados
Edicao 1/ 2018
Indice 4 educação
8 curiosidades
12 conto
Encantados
Contos de fadas nas escolas voltados a edução infantil O tema é relevante pois os Contos de Fadas são muito atrativo para as crianças, sendo que os professores devem analisá-los. A metodologia usada para elaborar o artigo inclui pesquisa em referências, sendo que os dados coletados são expostos descritivamente e analisados criticamente.
conflitos interiores. As crianças, quando ouvem um conto de fada, projetam inconscientemente partes delas mesmas em vários personagens da história, usando-os como repositórios psicológicos para elementos contraditórios do eu”. (2000, p.31)
É importante ressaltarmos que a literatura infantil é voltada às crianças entre dois a dez anos de idade. Para “prender” a criança, a narrativa A evolução dos contos de fadas deve ser acessível à linguagem do pequeno, que através da leitura Os contos perduram o imaginário infantil por séculos e séculos, individual ou não a entenderá, estimulando ludicamente o pensamento ultrapassam gerações. Inicialmente, os contos de fadas eram infantil. E promover até mesmo valores éticos e cristãos através deste direcionados aos adultos, em reuniões sociais com o pretexto de entreter gênero. falava-se abertamente em adultério, incesto e até mesmo canibalismo. Segundo registros de Cashdan (2003, p.25): “Era uma vez um rei e uma rainha que estavam tão desgostosos por não terem filhos, tão desgostosos que nem se pode dizer. Foram a todas as “Originalmente concebidos como entretenimento para adultos, os contos estações de água do mundo. Tudo foi tentado- promessas, peregrinações, de fadas eram contados em reuniões sociais, nas salas de fiar, nos pequenos cultos- e nada obtinha sucesso. Por fim, a rainha engravidou e campos e em outros ambientes onde os adultos se reuniam - não nas deu à luz uma filha”... (PERRAULT, 2005, p. 224) creches”. É impossível precisarmos o surgimento dos Contos de Fadas, mas podeSomente no século XVII, as versões de contos de fada, hoje consideradas se dizer que são narrativas muito antigas e que por gerações e gerações clássicas, nasceram. Foi na corte de Luís XIV, através de Charles permeiam, não somente o imaginário infantil, mas o “EU” que todo ser Perrault. humano tem. Sendo assim, foi possível definir-se que os contos são narrativas populares passadas oralmente, de geração em geração. Quando foram direcionados às crianças, os contos passaram a transmitir valores sociais e morais. Visando compreender como os Contos de Fadas podem visibilizar o crescimento moral e intelectual da criança, busca-se diariamente entender de que maneira as crianças já na fase infantil relaciona o imaginário com a realidade. Há muito pesquisa-se a evolução dos contos de fadas, desde suas adaptações para o cinema até as releituras, seria possível alcançar a criança através das conhecidas narrativas? Segundo Bettelheim (2007): “Estas estórias falam ao ego em germinação e encorajam seu desenvolvimento, enquanto ao mesmo tempo aliviam pressões préconscientes e inconscientes [...] começam onde a criança realmente se encontra no seu ser psicológico e emocional. Falam de suas pressões internas graves de um modo que ela inconscientemente compreende”. (BETTELHEIM, 2007, p.72) Através de estudos, descobriu-se que a criança imagina-se muitas vezes no papel dos personagens maravilhosos, onde o sofrimento é longo, mas também onde o mal nunca vence. São inúmeras narrativas que revelam um mundo encantado, mas é impossível não acharmos uma “lição de moral” nas histórias. Segundo Cashdan: “O modo pelo qual os contos de fada resolvem esses conflitos é oferecendo às crianças um palco onde elas podem representar seus
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O que é possível determinar é que os Contos surgiram da inventividade do homem, que através das reuniões sociais foram sendo transmitidas. Imagina-se que os contos tenham evoluído através de cada cultura, sofrendo uma “alteração social”. Na forma como atualment e são conhecidos, os contos de fadas surgiram na Europa, especialmente na França e na Alemanha, no final do século XVII e XVIII (LUBETSKY, 1989). Muitos são os registros na literatura de que o movimento romântico implantado na época trouxe aos contos um sentido mais humanitário (GÓES, 1991). Sendo assim, toda a violência que permeia os contos de Perrault concede espaço ao humanismo que, de forma delicada, ultrapassa as histórias dos irmãos Grimm, preconizando a solidariedade e o amor ao próximo. Principais autores de contos de fadas Destacam sem dúvida nenhuma, como autores de Contos de Fadas os seguintes autores. Além dos irmãos Grimm encontra-se o francês Charles Perrault, que deu vida à Chapeuzinho Vermelho, Bela Adormecida, Pequeno Polegar e Gato de Botas; Andersen, que nos presenteou com a história do Patinho Feio; Charles Dickens, com o Conto de Natal e a história de Oliver Twist. Já no Brasil, a maior conquista foi Monteiro Lobato, cuja a obra ainda hoje serve de base ao início literário de muitas crianças. Charles Perrault nasceu em Paris no dia 12 de janeiro de 1628 e morreu
Encantados na mesma cidade, em 16 de maio de 1703. Foi escritor e poeta francês do século XVII, estabelecendo um novo gênero literário- os contos de fadas. Por ter sido o primeiro a dar acabamento literário a esse gênero, recebeu o título de pai da Literatura Infantil. Suas histórias mais conhecidas são Le Petit Chaperon rouge (Chapeuzinho Vermelho), La Belle au bois dormant (A Bela Adormecida), Le Maître chat ou le Chat botté (O Gato de Botas), Cendrillon ou la petite pantoufle de verre (Cinderella), La Barbe bleue (Barba Azul) e Le Petit Poucet (O Pequeno Polegar). Muitas de suas histórias são editadas, traduzidas e distribuídas nos mais variados meios de comunicação, sendo ainda adaptadas para o teatro, cinema e a televisão, tanto em formato de animação como de ação viva. Os irmãos Grimm, Jacob nascido em 4 de janeiro de 1785 e falecido em 20 de setembro de 1863, Wilhelm nasceu em 24 de fevereiro de 1786 e faleceu em 16 de dezembro de 185. Foram dois alemães que se dedicaram ao registro de inúmeras fábulas infantis, sendo destaque no meio literário. Na tradição oral, as histórias compiladas não eram destinadas as crianças e sim aos adultos. Mas os irmãos Grimm dedicaram-se ao público infantil em razão da temática mágica e maravilhosa dos contos. Juntando, assim, esses dois universos: o popular e o infantil. O Romantismo trouxe ao mundo um sentido mais humanitário. Assim, a violência presente nos contos de Charles Perrault, cede lugar a um humanismo, onde se destaca o sentido do maravilhoso da vida. Perpassam pelas histórias, de forma suave, duas temáticas em especial: a solidariedade e o amor ao próximo. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes nessas histórias, o que predomina, sempre são a esperança e a confiança na vida. É possível observar essa diferença, confrontando-se os finais da história de Chapeuzinho Vermelho em Perrault, que termina com o lobo devorando a menina e a avó, e em Grimm, onde o caçador abre a barriga do lobo, deixando que as duas fiquem vivas e felizes enquanto o lobo morria com a barriga cheia de pedras que o caçador ali colocou. Hans Christian Andersen nasceu em Odense no dia 2 de Abril de 1805 e faleceu em Copenhague, no dia 4 de Agosto do ano de 1875, foi exímio escritor dinamarquês de histórias infantis. Filho de um modesto sapateiro, o que muito dificultou os estudos de Andersen, mas os seus ensaios poéticos e o conto “Criança Moribunda” garantiram-lhe um lugar no Instituto de Copenhague. De sua autoria destacam-se peças de teatro, canções patrióticas, contos, histórias, e, os contos de fadas, pelos quais é mundialmente conhecido. Entre os contos de Andersen, destacam-se: O Abeto, O Patinho Feio, A Caixinha de Surpresas, Os Sapatinhos Vermelhos, O Pequeno Cláudio e o Grande Cláudio, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, A Roupa Nova do Rei, A Princesa e a Ervilha, A Pequena Vendedora de Fósforos, A Polegarzinha, dentre outros.
introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa. Entre os seus maiores clássicos estão “David Copperfield” e “Oliver Twist”. José Bento Renato Monteiro Lobato, brasileiro, nasceu em Taubat no dia 18 de abril de 1882, faleceu em São Paulo no dia 4 de julho do ano de 1948, foi um dos mais influentes escritores brasileiros do século XX. Além de escritor, foi editor de livros inéditos e autor de importantes traduções. Mas o que promulgou seu reconhecimento mundial foi o conjunto educativo de suas obras para o público infantil. Produziu também contos, tendo como temática a cultura brasileira, artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um livro sobre a importância do petróleo e do ferro, e um único romance- O Presidente Negro. A obra para o público infantil mais conhecida foi Reinações de Narizinho (1931), Caçadas de Pedrinho (1933) e O Picapau Amarelo (1939). O significado de alguns contos de fadas Desvendar o real significado dos Contos de Fadas tem sido por séculos um desafio para os educadores e leitores. Através de estudos sobre o período em que foram escrito é possível sugerir-se uma interpretação para os Contos de Fadas analisados. Pois muitos retratam a sociedade da época e os costumes, pertinentemente, procurava-se através destas narrativas transmitir lições moralistas. Veja-se alguns contos e o seu possível significado: Chapeuzinho Vermelho de Perrault, neste conto defende-se que a menina que não obedece as regras se expõe ao perigo, a punição é inevitável. É importante ressaltar que a versão de Perrault apesar de mostrar que a desobediência não tem um bom resultado, mostra também um certo ar de erotismo no diálogo do Lobo com a menina, que rapidamente responde aos questionamentos do estranho. Mais significativo ainda, é o diálogo que Chapeuzinho Vermelho já dentro da casa da avó, mantém com o Lobo, mesmo sabendo que não era sua adorável avó que estava deitada na cama. No diálogo do referido conto, perpassa a curiosidade do que inevitável: o Lobo vai devorar sua presa e a menina não reage de forma alguma, não lembra sequer das recomendações de sua mãe. Este conto sofreu varias modificações e a versão do século XXI é que a menina foi salva pelo caçador que ouviu seus gritos.
Compreende-se nesse ínterim que a desobediência da menina teve uma Charles John Huffam Dickens nasceu em Portsmouth no dia 7 de consequência irremediável: a morte. Misturando-se assim dois fevereiro de 1812 e faleceu no dia 9 de Junho de 1870, que também elementos realista e tão pertinentes ao século XXI: confiança no adaptou o pseudônimo Boz no início da sua atividade literária, foi o mais desconhecido e curiosidade do proibido, mas atrativo aos olhos. popular dos romancistas ingleses da era vitoriana. Outro singular conto para ser analisado é Branca de Neve dos Irmãos Com seus romances e contos, obteve fama e sucesso, em vida e até Grimm, neste, a princesa tão esperada e desejada pela bondosa rainha mesmo após sua morte. passa por mais momentos ao ficar órfã da mãe e ganhar uma madrasta. Esta a rejeita no momento em que é informada pelo espelho de que Embora seus romances não serem considerados, pelos parâmetros Branca de Neve era a mais bela. atuais, muito realistas, Dickens contribuiu em grande parte para a
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Encantados É notável os elementos ultra humanos na madrasta rainha: inveja, ódio, ganância e um desejo incontrolável de ser única. Ao longo do conto, o leitor é motivado a odiar a madrasta que usa dos mais afoitos meios de matar a pobre e indefesa princesa. Mas há um elemento surpreendente nesta narrativa, o caçador que ao ouvir o choro da menina e se compadecer, não obedece a ordem recebida da rainha, que desejava a morte de sua rival. Este enigmático personagem não só salva a princesa da morte como a alerta do perigo que a cerca. A jovem princesa caminha desorientada mente pelo bosque, até que acha a pequena e estranha casa dos sete anões. Um fator relevante a este conto é que na época em que foi escrito, a sociedade buscava na mulher o papel de mãe e esposa. Voltando a análise do conto, os anões desempenharam papel importante, pois no folclore europeu, esses pequenos indivíduos permeiam apenas a riqueza e não dão a mínima importância ao desejo sexual. No referido conto, os anões mostraram-se amistosos, em troca de comida e casa, Branca de Neve servir-lhes-ia de dona de casa.
forma de lobo e ataca a indefesa Lucie, mistério esse- o ataque do loboque será investigado pela irmã Valerie, que passará a desconfiar de todos os homens. Nesta narrativa, compreende-se que a autora usou somente como referência a narrativa de Charles Perrault, onde o Lobo devora a menina. A lição que os leitores poderiam ter dessa versão é: todos são suspeitos, até mesmo àquele quieto e sedutor homem. A importância dos contos de fada no ambiente escolar No processo de desenvolvimento infantil, a entrada no mundo escolar traz novas descobertas para a criança. Um mundo de conhecimento e desafios onde a utilização de estratégias como o uso de contos de fada no cotidiano gera seguranças e um mundo de fantasia importante para o desenvolvimento da criança. Ao usarmos os contos de fadas na escola, podemos proporcionar momentos de reflexão e aprendizagens que o indivíduo levará por todo a vida, o professor faz a intermediação entre a realidade e fantasia. Os contos de fadas na sala de aula, além de promover a imaginação do estudante, proporciona ao professor momentos de compartilhar sonhos e fantasias de sua infância.
A maldade sem tamanho da madrasta rainha é narrada com riquezas de detalhes, desde o belo vestido- que a sufocou- a cruel maçã envenenada, O professor que compreender que a literatura poderá contribuir para a oferecida pela bondosa madrasta disfarçada. formação cognitiva e social do aluno, procurará desde a educação infantil até as séries finais do ensino médio, trabalhar e incutir no aluno A maçã envenenada é o ápice da narrativa, pois é neste ponto que entra que a literatura e consequentemente, a leitura propiciam novos o belo e corajoso príncipe, é seduzido pela beleza da jovem princesa, paradigmas para qualquer situação que a eles forem apresentadas. decide salvá-la, beijando e despertando-a para o amor. Entende-se que o docente como mediador está respaldado pelos Neste conto, é verossímil a mistura de fortes elementos antagônicos: a recentes estudos que comprovam: a literatura infantil influencia em maldade x a bondade, a ganância x a ingenuidade, a morte x a vida. O todos os aspectos da educação do aluno, atuando nas diversas áreas do autor Corso ressalta: conhecimento. Pois através da instrução e afetividade dos primeiros educadores, poderá despertar a sensibilidade e amor à leitura. “Convém ressaltar a ligação dessa princesa com as cores, desde as características com as quais deveria nascer, até as que conservou em seu Na Educação Infantil, momento de descobertas e anseios, o mundo dos sono enfeitiçado. Tanto uma quanto a outra são as cores que a mãe a contos de fadas torna-se cada vez mais interessante e fruto de novas pintou, as primeiras do desejo da rainha boa, as segundas com a inveja técnicas de ensino, pois com base nos contos é possível trabalhar vários da madrasta”. (CORSO, 2006, p.84) itens como: a convivência do indivíduo na sociedade relacionar-se com o próximo e a aceitação do diferente. Os contos de fada hoje Atualmente são feitas releituras dos principais contos de fadas e muitas Nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a literatura, mais são as adaptações para o cinema. precisamente os Contos de Fadas tem cativado as crianças, não as narrativas originais, mas sim as adaptações, a condensação e facilidade Dentre as adaptações para o cinema é importante destacar-se os no acesso a esse gênero literário. seguintes contos: A Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Cinderela. Muitos contos são meras alusões às narrativas originais. Cabe aqui ressaltar que tanto na Educação Infantil como no Ensino Fundamental, utilizar-se dos Contos de Fadas requer competências Modernizar os Contos de Fadas tem sido grande aposta entre os especiais do professor ou contador de histórias, pois, estes, não deve escritores, trazer a narrativa aos dias atuais tem aproximado e até ater-se somente a leitura da narrativa, mas sim passar a criança o real mesmo gerado novos leitores, sejam eles crianças ou não. O interessante valor do Conto, seja ele qual for. A escolha pode ser feita levando em de destacar-se nesse ponto é que, muitos adolescentes sequer tinham o consideração o objetivo pretendido. hábito da leitura, mas com o advento dessa nova onda literária, muitos por curiosidade, talvez, lido os tão conhecidos Contos de Fadas. O ambiente escolar deve sim propiciar o contato com os mais variados gêneros literários, mas aos Contos de Fadas, deve ser dada maior Das releituras atuais dos Contos de Fadas, destaca-se, o livro A Garota da atenção, a criança deve ser inserida neste mundo de fantasias, onde o Capa Vermelha, este, é uma alusão ao conto Chapeuzinho Vermelho. A bem geralmente vence o mal. autora tendo como pano de fundo a história, recria e moderniza o tão conhecido conto. Mas nesse novo “Conto” não sabe-se quem é o famigerado Lobo, todos são suspeitos, desde o mais bonzinho até o cruel homem, que toma
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5 Contos de fadas extremamente bizarros que você ainda não conhece 1 – O rato, o pássaro e a salsicha Era uma vez um rato, um pássaro e uma salsicha. Os três eram superamigos e moravam juntos em uma pequena casinha na floresta. Como qualquer pessoa que divida uma casa com alguém, cada um tinha uma tarefa para fazer.
O responsável pelo estabelecimento pediu para que os três provassem que eram os melhores médicos do mundo, caso contrário, eles não poderiam se hospedar em sua pousada. Espertos e com uma boa carta na manga, eles concordaram com o homem e resolveram mostrar o quão incríveis eram.
O primeiro cirurgião cortou a própria mão fora; o segundo, o seu coração; e o terceiro arrancou os próprios olhos. Segundo eles, tudo O pássaro devia sair e recolher madeira. O rato era o responsável por seria recolocado na manhã seguinte. O que o dono da pousada não sabia carregar água e acender o fogo, enquanto a salsicha cozinhava. Até aí, era que os cirurgiões tinham uma arma secreta: uma espécie de cola tudo bem, tudo ótimo, e a paz reinava no lar dessa estranha família feliz. mágica que reconstituía as partes do corpo que estavam arrancadas. Num belo dia, porém, o pássaro encontrou um amigo enquanto caminhava pela floresta à procura de lenha. O tal amigo começou a provocar o passarinho e a dizer que ele estava sendo bobo por fazer o serviço mais pesado, já que o rato e a salsicha ficavam em casa “sem fazer nada”. Cabeça oca, o passarinho caiu na lábia do tal amigo e decidiu abandonar seu trabalho.
Mas eles não esperavam, mesmo, era que uma das funcionárias da pensão, que ficou responsável por cuidar dos olhos, da mão e do coração, acabaria se distraindo de sua função quando o namorado dela apareceu para dizer “oi”, trocar uns beijinhos e tal e coisa. Nesse momento de distração, a funcionária não percebeu que um gato esfomeado simplesmente devorou as partes dos corpos dos médicos.
Quando voltou para casa, o pássaro disse ao rato e à salsicha que não iria mais trabalhar como escravo para eles, que, se eles quisessem madeira, que fossem buscar na floresta. O rato e a salsicha ficaram surpresos, mas acabaram concordando em trocar suas funções.
Quando a moça descobriu o que tinha acontecido, entrou em pânico e seu namorado resolveu ajudá-la. O homem cortou a mão de um ladrão que ele havia recentemente prendido. Em seguida, arrancou o coração de um porco e os olhos de um gato. Pronto. Isso deveria servir.
Já no outro dia a salsicha saiu para buscar lenha. O tempo passou e ela não voltava nunca. O pássaro saiu nervoso à procura da amiga quando encontrou um cachorro com uma salsicha em sua boca. O passarinho implorou para que o cão não comesse a salsicha, mas o cachorro não deu ouvidos à ave, alegando que a salsicha já estava morta.
No dia seguinte, os três cirurgiões magicamente reconstituíram seus corpos e foram embora. No meio do caminho, porém, o primeiro médico começou a roubar dinheiro de estranhos; o segundo começou a rolar na lama; e o terceiro não conseguia dormir à noite e começou a enxergar ratos correndo por todos os cantos.
O pássaro voltou para casa e descobriu que o rato, que nunca foi um grande especialista em cozinhar, acabou caindo dentro da panela onde preparava o almoço e morreu. Desesperado, o pássaro espalhou madeira por todos os cantos da casa, incendiou o local e, claro, morreu também. E todos viveram felizes para sempre. No céu. Fim.
Percebendo que havia, definitivamente, algo muito errado, os três voltaram para a pousada e exigiram receber de volta as partes originais de seus corpos. A essa altura, a funcionária havia fugido com seu namorado e ninguém mais sabia o paradeiro dos pedaços dos médicos. Como vingança, os cirurgiões exigiram todo o dinheiro do dono da pousada, como forma de recompensa pelo prejuízo. E todos viveram estranhos para sempre. The end.
2 – Os três cirurgiões do exército Tudo começou quando três grandes médicos, muito vaidosos por sinal, se autonomearam os melhores do mundo. Os amigos começaram então a viajar na tentativa de ficarem cada vez mais conhecidos e aclamados. Depois de viajarem por bastante tempo, eles eventualmente fizeram uma parada em uma pousada.
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3 – O herdeiro encantado Essa história russa conta a saga de um comerciante que deixou suas três filhas em casa quando precisou fazer uma viagem de negócios. Ele prometeu a elas que traria presentes exóticos. As primeiras duas filhas pediram novos casacos, enquanto a filha mais nova fez um desenho de uma flor e entregou ao pai.
Encantados Em suas viagens, o homem comprou os casacos, mas não conseguia achar de forma alguma uma flor parecida com a que a filha havia desenhado. Até que, quando já estava perto de casa, ele avistou um castelo com muitas dessas flores em volta. Empolgado, o homem foi colher uma flor, mas foi surpreendido por uma cobra monstruosa que apareceu diante dele. O comerciante implorou por piedade e só foi libertado depois de prometer que faria da filha mais nova a esposa da cobra.
Quando voltou para casa, a filha mais jovem foi a primeira a ver o pai e voluntariamente foi ao castelo com ele. Durante o dia, a construção estava totalmente vazia, mas a cobra aparecia ao final de todas as tardes. O primeiro pedido do animal foi o de que a cama da menina fosse colocada para fora de seu quarto, depois, ao lado de sua cama e, finalmente, ela deveria dormir ao lado do animal. A cobra se apaixonou pela garota profundamente e, vendo que ela sentia falta de sua família, permitiu que ela fosse visitar seu pai e suas irmãs com a condição de que voltasse para casa ao final do dia. Quando a garota chegou em casa, suas irmãs sentiram inveja da felicidade da mais nova e a forçaram a ficar lá, fingindo
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Encantados choro com a ajuda de cebolas, que elas esfregavam em seus olhos. Quando retornou ao castelo, a garota encontrou não a cobra, mas um príncipe muito bonito, morto de tristeza. Fim.
Assim que o irmão mais novo ficou bêbado, o mais velho o matou e o enterrou abaixo de uma ponte. Em seguida, levou o javali ao rei e exigiu a princesa em troca. Ele afirmou a todos que o irmão havia sido cortado em pedacinhos pela besta.
4 – O buraco
O assassino e sua esposa viveram felizes por muito tempo até que um pastor encontrou uma caveira embaixo de uma ponte e resolveu usar uma parte do material para incrementar um berrante que ele estava fazendo. Logicamente, os ossos eram do irmão mais novo do agora príncipe do reino.
Esse conto é a respeito de uma viúva e suas duas filhas. Sua filha biológica era feia e preguiçosa; a outra, sua enteada, era linda e gentil. O que você acha que aconteceu com a menina “do bem”? Foi explorada pela madrasta, é claro. A pobrezinha costurava dia e noite até seus dedos sangrarem. Um dia a enteada derrubou sua agulha em um poço. Nessa situação o que você faria? Pediria outra agulha à madrasta? Pegaria uma agulha escondido para não ouvir sermão? Pularia no poço? A mocinha da história escolheu a terceira opção e, depois da queda, acordou em um lugar bonito e ensolarado. Andando pela terra nova e desconhecida, nossa mistura de Cinderela com Alice encontrou um forno cheio de pães assando. Ela viu que os alimentos precisavam ser retirados logo, caso contrário, ficariam queimados – e assim o fez. Ao lado do forno havia uma árvore de maçã, com frutos suculentos. Perto dali, a garota encontrou a casa da Mãe Buraco, uma senhora de idade que pediu para que ela fizesse faxina. A garota fez tudo o que a senhora a pedia e, conforme cumpria cada tarefa, era coberta de ouro e, quando já tinha ouro o suficiente, voltou ao mundo real. A madrasta, encantada com o que havia acontecido com a jovem, jogou a filha biológica no poço com a esperança de que ela também voltaria coberta de ouro. Chegando à terra misteriosa a menina se deparou com o forno e com a árvore de maçãs. Chegou à casa da senhora e se recusou a prestar qualquer tipo de ajuda. Ela foi convidada a se retirar e, decepcionada com a preguiça da garota, Mãe Buraco a cobriu com um material superquente e grudento, que ficou preso ao corpo da menina por toda a sua vida.
5 – A caveira cantante Tudo começou com a presença de um gigante javali que tocava o terror em um pobre reino, destruindo construções e afastando visitantes e moradores. Desesperado, o rei ofereceu sua única filha como recompensa a quem conseguisse matar o monstro. Logo em seguida dois irmãos se voluntariaram a fazer o serviço: o mais novo não tinha orgulho e ao outro faltava gentileza. Para aumentar as chances de capturar o animal, os dois se dividiram na floresta e seguiram caminhos contrários. No meio da busca, o irmão mais jovem encontrou um gnomo, que sentiu que ele tinha um bom coração e resolveu presenteá-lo com uma lança mágica, para que ele pudesse achar e matar o javali. O jovem acabou encontrando o animal procurado e, com a ajuda de sua arma, dividiu o coração da besta em duas partes. Voltando ao castelo e carregando o corpo da besta, o garoto encontrou seu irmão bebendo em uma taverna. O irmão mais velho, ao perceber que o mais novo havia vencido o desafio, ofereceu a ele uma taça de vinho para celebrar.
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Quando o pastor soprou o berrante, uma música sombria a respeito de assassinato começou a ser ouvida. Assustado, o homem levou seu instrumento bizarro ao rei, que foi até a ponte e desenterrou os ossos do irmão traído. Como punição, o príncipe foi amarrado em um saco e jogado ao mar para morrer afogado.
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Branca de Neve Há muito e muito tempo, bem no meio do inverno, quando os flocos de neve caíam do céu leves como plumas, uma rainha estava sentada costurando junto a uma janela com esquadrias de ébano. Costurava distraída, olhando os flocos de neve que caíam lá fora e, por isso, espetou o dedo com a agulha e três gotas de sangue caíram na neve. Aquele vermelho em cima do branco ficou tão bonito que ela pensou: “Eu queria ter um neném assim, que fosse branco como a neve, vermelho como o sangue e negro como a madeira da moldura desta janela.” Algum tempo depois, ela teve uma filha, que era branca como a neve, vermelha como o sangue e tinha cabelos negros como o ébano. Deram a ela o nome de Branca de Neve, mas, quando ela nasceu, a rainha morreu. Um ano mais tarde, o rei casou de novo. A nova rainha era linda, mas muito orgulhosa e prepotente; tão vaidosa que não podia suportar a idéia de que alguém pudesse ser mais bonita do que ela. Tinha um espelho mágico e gostava de se olhar nele e perguntar: - Espelho, espelho, vem já e me diz quem é a mais linda de todo o país? E o espelho respondia: - Senhora Rainha, tu és a mais linda de todo o país. Então ela ficava satisfeita, porque sabia que o espelho dizia sempre a verdade. Mas, à medida que Branca de Neve crescia, ia ficando cada vez mais bonita e, quando tinha sete anos, já era tão bela quanto o dia e mais bonita do que a própria rainha. Um dia, quando a rainha perguntou ao espelho: - Espelho, espelho, vem já e me diz quem é a mais linda de todo o país? O espelho respondeu: - Senhora Rainha, tu és a mais linda que está aqui, mas Branca de Neve é mil vezes mais linda que todas as lindas que há por aí. A rainha engoliu em seco, ficou amarela e verde de inveja. Cada vez que ela olhava para Branca de Neve, depois disso, tinha tanto ódio dela que seu sangue até fervia no peito. A inveja e o orgulho cresceram como ervas daninha dentro do coração da rainha até que ela não conseguia ter um momento de sossego, nem de noite nem de dia. Finalmente, mandou chamar um caçador e disse: - Suma com essa menina da minha frente. Quero que você a leve para o fundo da floresta e a mate. Para provar que você fez mesmo isso, tragame os pulmões e o fígado dela. O caçador obedeceu. Levou a menina para a floresta, mas, quando puxou seu facão de caça e se preparava para atravessar o coração inocente de Branca de Neve, ela começou a chorar e disse: - Por favor, querido caçador, deixe-me viver. Eu fujo para o fundo do mato e nunca mais volto para casa... Ela era tão bonita que o caçador ficou com pena e disse: - Está bem, menina, pobre coitada. Fuja! Mas, para si mesmo, pensou: “Num instante os animais selvagens vão devorá-la.” Porém, como nesse caso não era ele mesmo quem ia matar a criança, isso já tirava um peso enorme de cima dele. Logo depois, um filhote de javali saiu correndo do mato. O caçador meteu a faca nele, tirou os pulmões e o fígado e os levou para a rainha, como prova de que tinha cumprido sua missão. A malvada mandou o cozinheiro salgar e assar esses miúdos e comeu tudo, certa de que estava comendo os pulmões e o fígado de Branca de Neve. Enquanto isso, a pobre menina estava sozinha no meio da grande floresta. Apavorada, ela se assustava com todas as folhas das árvores e não sabia para onde ir. Começou a correr. Correu, correu, por cima de pedras afiadas e pelo meio de moitas de espinhos e os animais ferozes passavam por ela sem fazer mal nenhum. Correu enquanto as pernas
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aguentaram até que, finalmente, pouco antes de anoitecer, avistou uma casinha e entrou nela para descansar. Lá dentro tudo era pequenininho, mas limpo de fazer gosto. A mesa estava posta com uma toalha branca e sete pratinhos, cada um com sua faca, seu garfo, sua colher e sete canequinhas. Do outro lado, junto à parede, havia sete caminhas enfileiradas, cobertas por lençóis brancos imaculados. Branca de Neve estava morrendo de fome e sede, mas não queria comer a comida toda de ninguém, por isso comeu um pouquinho de pão e de legumes de cada prato e bebeu um gole de vinho de cada caneca. Depois estava tão cansada que resolveu se deitar em uma das camas, mas nenhuma servia exatamente para ela - algumas eram compridas demais, outras eram curtas demais, até que a sétima era do tamanho perfeito. Resolveu ficar por ali, rezou suas orações e caiu no sono. Quando já estava bem escuro, chegaram os donos da casa. Eram sete anões que, todos os dias, iam para as montanhas minerar prata, com suas pás e picaretas. Acenderam suas sete velinhas e, quando tudo ficou iluminado, eles perceberam que alguém tinha estado por ali, porque algumas coisas estavam fora do lugar. O primeiro disse: - Quem sentou na minha cadeira? E o segundo: - Quem comeu no meu prato? E o terceiro: - Quem deu uma dentada no meu pão? E o quarto: - Quem andou beliscando os meus legumes? E o quinto: - Quem usou o meu garfo? E o sexto: - Quem cortou com minha faca? E o sétimo: - Quem bebeu na minha caneca? Depois, o primeiro olhou em volta e viu que a cama dele estava amassada, como se tivesse uma coisa cavada no meio e perguntou: - Quem deitou na minha cama? Os outros vieram correndo e gritaram: - Alguém deitou na minha cama também! Mas quando o sétimo olhou para a cama dele, viu que Branca de Neve ainda estava deitada lá, dormindo. Chamou os outros, que chegaram num instante. Começaram a gritar muito espantados, foram buscar as velas e as levantou bem alto por cima de Branca de Neve: - Deus do céu! - gritaram - Deus do céu! Que menina tão linda! Ficaram tão maravilhados com ela que nem a acordaram, mas deixaram que ela continuasse dormindo na caminha. O sétimo anão dormiu com seus companheiros, uma hora com cada um e depois a noite já tinha acabado. Na manhã seguinte, Branca de Neve acordou e, quando viu os sete anões, levou um susto. Mas eles foram muito simpáticos, com um jeito amigo e perguntaram: - Qual é o seu nome?
Encantados - Meu nome é Branco de Neve - respondeu ela. - Como é que você veio parar na nossa casa? - os anões quiseram saber.
E foi embora correndo. Um pouco mais tarde, quando caiu a noite, os sete anões voltaram para casa. Ficaram horrorizados ao ver sua adorada Então ela contou a eles tudo o que tinha acontecido, como a madrasta Branca de Neve caída no chão! Ela estava tão imóvel que eles pensaram queria matá-la, como o caçador poupou a vida dela, como ela tinha que ela estivesse morta. Levantaram-na com cuidado e, quando viram caminhado o dia todo até que, finalmente, encontrou a casinha deles. Os que a roupa estava apertada demais, cortaram o corpete. Com isso, ela anões disseram: respirou um pouquinho e, bem devagar, foi voltando à vida. Quando os anões ouviram o que tinha acontecido, disseram: - Se você tomar conta de nossa casa cozinhar para nós, fizer as camas, - É claro que essa velha vendedora era a rainha malvada e mais lavar, costurar e cerzir as nossas roupas e deixar tudo bem limpinho e ninguém. Você tem arrumado sempre, pode ficar morando conosco e nunca vai lhe faltar nada. que ser mais cuidadosa e não pode deixar ninguém entrar em casa. - Que bom! - disse Branca de Neve - Eu ia adorar... Quando a malvada chegou em casa, foi direto para a frente do espelho perguntar: E foi assim que ela ficou tomando conta da casa. Todas as manhãs eles - Espelho, espelho, vem já e me diz, quem é a mais linda de todo o país? saíam para a montanha, para garimpar ouro e prata e, todas as noites, E o espelho respondeu, como sempre: voltavam para casa e ela tinha que ter feito o jantar. Mas ela passava o dia todo sozinha e os bondosos anões acharam bom avisar: - Senhora Rainha, tu és a mais linda que está aqui, mas Branca de Neve, - Muito cuidado com sua madrasta. Ela vai descobrir logo que você está que já foi-se embora com os sete anões, na montanha onde mora, é mil aqui. Não vezes mais linda que todas as lindas que há por aí. deixe ninguém entrar nunca. Quando ouviu isso, a rainha sentiu um aperto tão grande no peito que parecia que o Pois bem, a rainha que pensava ter comido os pulmões e o fígado de sangue ia ferver, pois compreendeu que Branca de Neve ainda estava Branca de Neve, agora tinha certeza de que era a mais bonita do lugar. viva. Foi até diante do espelho e perguntou: - Mas não faz mal... - disse - Desta vez vou pensar em alguma coisa que - Espelho, espelho, vem já e me diz quem é a mais linda de todo o país? vai mesmo E o espelho respondeu: destruir você de uma vez por todas... Com a ajuda de uns encantamentos mágicos que conhecia, fez um pente - Senhora Rainha, tu és a mais linda que está aqui, mas Branca de Neve, envenenado. que já foi-se embora com os sete anões, na montanha onde mora, é mil Depois se disfarçou de novo, como se fosse outra velhinha. E, mais uma vezes mais linda que todas as lindas que há por aí. vez, A rainha engoliu em seco. Como ela sabia que o espelho não mentia nunca, compreendeu que o caçador a enganara e que Branca de Neve ainda estava viva. Ficou então pensando sem parar, imaginando que jeito podia dar para matar a menina, porque ela tinha que ser a mulher mais linda do mundo... Se não, a inveja não ia deixá-la em paz. Afinal, acabou fazendo um plano. Sujou o rosto todo e se vestiu como se fosse uma velha vendedora ambulante, para que ninguém pudesse reconhecê-la. Com esse disfarce, atravessou as sete montanhas até a casa dos sete anões bateu na porta e anunciou: - Belas coisas para vender! Quem quer comprar? Bonito e barato! Branca de Neve olhou pela janela e perguntou: - Bom dia, minha boa velha, que é que a senhora tem para vender? - Corpetes lindos, de todas as cores - respondeu ela. E estendeu um corpete brilhante, tecido em seda colorida. “Esta senhora tem um ar tão honesto,” pensou Branca de Neve, “não pode fazer mal se eu deixar que ela entre...” Por isso, abriu a porta e comprou o belo corpete. - Minha filha, você está toda mal-ajambrada! - disse a velha - Venha cá, deixe que eu dê o laço direito...
atravessou as sete montanhas até a casa dos sete anões, bateu na porta e disse: - Belas coisas para vender! Quem quer comprar? Bonito e barato! Branca de Neve olhou pela janela e disse: - Vá embora! Não posso deixar ninguém entrar. - Mas você pode olhar, não pode? - perguntou a velha, mostrando o pente. A menina gostou tanto dele que esqueceu de tudo e abriu a porta. Combinaram o preço e aí a velha disse: - Agora eu vou pentear você direitinho. Sem desconfiar de nada, Branca de Neve ficou bem quieta, deixando que a velha a penteasse, mas, assim que o pente tocou seu cabelo, o veneno fez efeito e ela caiu desmaiada, como se estivesse morta. - Aí está, minha beleza, - disse a malvada - agora vai ser o seu fim.
E foi-se embora. Mas, felizmente, a noite já vinha caindo e logo os anões chegaram em casa. Quando viram Branca de Neve caída no chão como se estivesse morta, imediatamente desconfiaram da madrasta. Examinaram Branca de Neve com cuidado e encontraram o pente envenenado. Assim que o arrancaram dos cabelos dela, a menina despertou e contou como tudo tinha acontecido. Mais uma vez, eles avisaram que ela precisava ter cuidado e não devia abrir a porta para Sem desconfiar de nada, Branca de Neve se aproximou dela e deixou ninguém. Quando a rainha chegou ao castelo, foi direto para o espelho e que a velha a vestisse e amarrasse o corpete novo. Mas ela teve um gesto perguntou: tão rápido e apertou tanto o cadarço do colete, que Branca de Neve ficou - Espelho, espelho, vem já e me diz quem é a mais linda de todo o país? sem fôlego e caiu como se tivesse morrido. O espelho respondeu do mesmo jeito que antes: - Muito bem, - disse a rainha - agora você não é mais a mais linda do - Senhora Rainha, tu és a mais linda que está aqui, mas Branca de Neve, mundo. que já foi-se
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Encantados embora com os sete anões, na montanha onde mora, é mil vezes mais linda que todas as lindas que há por aí. Quando ouviu o espelho dizer isso, ela tremeu e se sacudiu de raiva, gritando: - Branca de Neve tem que morrer! Mesmo que isto custe a minha própria vida. Então ela foi até um quarto secreto e isolado onde ninguém entrava, nem se sabia que existia e fez uma maçã muito venenosa. Tinha um aspecto tão bonito por fora, branca com faces vermelhas, que qualquer pessoa que a visse ia querer comer. Mas qualquer um que comesse um pedacinho ia morrer. Quando a maçã ficou pronta, ela sujou bem o rosto e se disfarçou de camponesa. E, mais uma vez, atravessou as sete montanhas até a casa dos sete anões. Bateu na porta e Branca de Neve pôs a cabeça para fora da janela. - Não posso deixar ninguém entrar. Os anões não querem. - Não faz mal - disse a camponesa - eu só quero me livrar dessas maçãs. Tome. Eu lhe dou uma de presente. - Não posso - disse Branca de Neve - não posso aceitar nada.
continuava com suas lindas bochechas vermelhas. - Não podemos botar essa menina na terra escura - disseram. Então fizeram um caixão transparente, de vidro, de modo que ela pudesse ser vista de todos os lados. Deitaram Branca de Neve no caixão e escreveram o nome dela em letras de ouro, acrescentando que ela era filha de um rei. Depois puseram o caixão no alto de uma colina e um deles sempre ficava ao lado, montando guarda. E os pássaros foram chegando e também choraram por Branca de Neve; primeiro uma coruja, depois um corvo e depois uma pomba. Branca de Neve ficou no caixão por muitos e muitos anos. Ela não se decompunha e parecia dormir, continuando sempre branca como a neve, vermelha como o sangue e negra como o ébano. Até que um dia um príncipe veio por aquela floresta e parou para passar a noite junto à casa dos sete anões. Viu o caixão no alto da colina, viu a linda Branca de Neve dentro dele, leu as letras de ouro no caixão. Então, disse aos anões: - Eu quero esse caixão, por favor. Pagarei por ele o quanto vocês pedirem. Mas os anões responderam: - Não nos separaríamos dele nem por todo o dinheiro do mundo. - Então, por favor, me deem o caixão, - insistiu ele - porque não vou poder continuar vivendo se não puder ficar olhando Branca de Neve. Vou honrá-la e respeitá-la para sempre.
- Você está com medo de que esteja envenenada? - perguntou a velha - Bobagem... Veja, vou cortar a maçã pelo meio. Você fica com a banda vermelha e eu fico com a banda branca.
Aí os anões ficaram com pena e resolveram dar o caixão a ele. Quando os criados do príncipe o levantaram e foi carregá-lo nos ombros, um deles tropeçou numa raiz. Com o tropeção, o pedaço envenenado da maçã que ela havia comido se soltou da garganta, Branca de Neve desengasgou, abriu os olhos, levantou a tampa do caixão, sentou e voltou à vida.
Mas a maçã tinha sido tão bem feita que só a banda vermelha é que tinha veneno. Branca de Neve estava morrendo de vontade de comer a maçã e, quando viu a camponesa dando uma dentada na fruta, não conseguiu resistir. Estendeu a mão e pegou a metade envenenada. Assim que deu uma mordida, caiu morta no chão. A rainha deu um olhar cruel, uma gargalhada terrível e disse: - Branca como a neve, vermelha como o sangue, negra como o ébano... Desta vez os
- Onde é que eu estou? - perguntou. - Está comigo! - respondeu o príncipe, todo alegre. Então ele contou o que tinha acontecido e disse: - Eu amo você mais do que qualquer outra coisa no mundo. Venha comigo até o castelo de meu pai e vamos nos casar.
anões não vão conseguir reviver você... E, quando chegou ao castelo, perguntou ao espelho: - Espelho, espelho, vem já e me diz, quem é a mais linda de todo o país? E o espelho finalmente respondeu: - Senhora Rainha, tu és a mais linda de todo o país. Então seu coração invejoso ficou sossegado - se é que um coração invejoso pode ficar sossegado. Quando os anões voltaram para casa ao cair da noite, encontraram Branca de Neve caída no chão. Não saía nem um pouco de hálito de sua boca e ela estava morta realmente. Eles a levantaram, procuraram bem para ver se encontravam alguma coisa venenosa, afrouxaram as roupas dela, despentearam o cabelo, lavaram a menina com água e vinho, mas não adiantou nada - sua bemamada estava morta e morta ficou. Puseram-na numa maca, sentaramse todos em volta, choraram e se lamentaram durante três dias. Depois iam enterrá-la. Mas ela ainda tinha aspecto fresco e cheio de vida e
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Branca de Neve também se apaixonou pelo príncipe e foi com ele. Começaram logo os preparativos para uma festa maravilhosa de casamento. A madrasta malvada de Branca de Neve também foi convidada. Depois de se arrumar toda, com suas roupas mais bonitas, foi para frente do espelho perguntar: - Espelho, espelho, vem já e me diz, quem é a mais linda de todo o país? O espelho respondeu: - Senhora rainha, tu és a mais linda que está aqui, mas a jovem rainha é mil vezes mais linda que todas as lindas que há por aí. Ouvindo isso, a malvada xingou e amaldiçoou. Ficou tão horrorizada que não sabia o que fazer. Primeiro não queria ir ao casamento, mas não podia resistir à curiosidade de ver a jovem rainha. No momento em que entrou no salão, reconheceu Branca de Neve e ficou tão apavorada que nem conseguiu se mexer. Mas já tinham mandado botar dois sapatinhos de ferro na brasa. Alguém os tirou de lá com umas tenazes e os pôs diante dela, que foi obrigada a calçar os sapatinhos em brasa e dançar até cair morta.