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Crescimento vai-se diluindo no tempo
MERCADOS - PORTUGAL
Os números de agosto começam, gradualmente, a ir ao encontro da previsão de quebra que foi traçada pelos representantes de marcas desde o início do ano. Se nos primeiros meses do ano houve um crescimento significativo, - 17,8% em maio - esse vaise esbatendo com o passar dos meses e, no fim de agosto, as matrículas registam já uma subida inferior a 5% em relação ao período homólogo do ano passado. A suportar essa subida está a Solis, que lidera o quadro de matriculações, e o escalão 51-120cv assume-se, em definitivo, como o mais procurado.
Sinais de agosto já indiciam queda
Os primeiros oito meses de 2022 apresentam um resultado positivo em relação ao período homólogo do ano passado nas matrículas de tratores em Portugal, mas o crescimento já não é acentuado como o foi nos primeiros seis meses do ano. O aumento é agora de 4,47% e o cenário para o último quadrimestre do ano continua a denunciar uma quebra apontada por todos os representantes de marcas. Os preços da energia e das matérias-primas continuam a subir e a escassez de máquinas para entrega é cada vez maior, depois das marcas terem escoado um stock que dizia respeito a atrasos relativos ao final do ano passado.
Nesta fase, segundo nos relatou o Engº Nuno Santos, diretor-comercial do Entreposto Máquinas, “o arranque de 2023 dependerá das campanhas do final deste ano e das políticas económicas em que os governos europeus vão apostar”. A continuidade do período de guerra na Ucrânia, aliada a uma seca que tem inviabilizado a entrada das máquinas no terreno, esfriou a confiança do agricultor em investir e o ligeiro aumento em relação ao mesmo período do ano passado é, quase por inteiro, suportado pelo crescimento acentuado da Solis, marca que fortaleceu a sua quota de mercado. Mas a prova do decréscimo no mercado ao oitavo mês de 2022 fica clara com este dado: de janeiro a julho, todos os meses registaram mais de 500 tratores matriculados, e em agosto esse número não passou dos 439.
Analisando os segmentos de potência mais vendidos, o escalão 51-120cv confirma a preponderância no mercado, justificada pelos apoios do Governo para a Renovação do Parque de Tratores Agrícolas - 52,3% dos matriculados -, ficando o escalão abaixo dos 50cv mais uma vez aquém dos 40%, comprovando a perda contínua de força. Quanto aos segmentos de maior potência, o de 121-200cv continua na linha dos 7%, enquanto o escalão acima de 200cv matriculou 6 tratores em agosto – um pouco abaixo da média dos primeiros sete meses (6,85), chegando às 54 unidades nos primeiros oito meses.
Marcas
O impacto da Solis no mercado expressa-se na força dos números: com 585 tratores matriculados ao fim de oito meses em 2022, a marca indiana já superou o registo alcançado em 2021 (565), tendo ainda quatro meses para poder alargar o seu domínio. Entre os cinco primeiros, que não alteraram posições, volta a destacarse a quebra da Deutz-Fahr em relação ao período homólogo do ano anterior – em maio era de 23% e no fim de agosto 25,28% – e a da New Holland, ainda que residual (3%), ao contrário de John Deere e Kubota, que cresceram ambos na ordem dos 25%.
Marcas e modelos mais vendidos, classificados por segmentos de potência
janeiro a agosto
Segundo os dados do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), entre janeiro e agosto de 2022, foi a Solis que matriculou mais tratores e que teve o modelo mais vendido: o Solis 26 4WD Stage V registou 256 unidades transacionadas (no final de agosto, este modelo representa 43,8% do total dos modelos Solis matriculados), contabilizando mais 116 unidades do que o Farmtrac 26 4WD, segundo modelo mais matriculado no fim de agosto.
Quanto às marcas líderes nos diferentes escalões de potência, a Solis fortaleceu o domínio abaixo de 50cv, com 387 tratores matriculados novos, mais 197 do que a Kubota. No escalão 51-120cv, sobressai a New Holland, chegando mesmo aos 453 tratores matriculados, voltando aqui a situar-se a Kubota no segundo lugar mas já a 208 máquinas de distância. Nas potências mais elevadas, a John Deere estende o domínio e afastase da Valtra: nos 121-200cv, a marca norte-americana alargou a vantagem (110 contra 41), enquanto no escalão acima dos 200cv soma 21 tratores vendidos contra 9 da marca finlandesa.
Reboques
A quebra no mercado dos reboques que já se manifestava em maio mantém a tendência três meses depois: se no início do verão, as marcas haviam matriculado menos 19 reboques em relação ao período homólogo do ano passado, no fim de agosto esse número ascende aos 47, tendo quatro das cinco primeiras marcas quebrado, ainda que a Herculano tenha sofrido uma queda residual. A única do Top 5 a aumentar os seus registos em relação aos números no fim de agosto de 2021 foi a Ja&ma Reboal: de 98 unidades passou para 112, este ano. A Massil registou a maior subida: aumentou o número de reboques matriculados em perto de 80% com mais 46 reboques matriculados do que os 58 que havia matriculado no fim de agosto 2021.
A revista abolsamia contactou Sérgio Silva, gerente da Massil, que explicou desta forma o aumento de matriculações da marca. “Esta evolução deve-se ao reajuste e enquadramento nas novas diretivas das homologações nacionais. Fizemos algumas alterações na conceção e desenvolvimento e houve uma aposta nas novas tendências de mercado, desenvolvendo novos modelos de reboques e procurando, assim, satisfazer as necessidades dos nossos clientes.” Por fim, refira-se que, pese embora a quebra registada, a Galucho continua a liderar o mercado de matrículas de reboques.
Portugal e Europa
Linhai reforça liderança nos ATV’s e empate técnico nos UTV’s
Numa análise ao mercado de vendas de ATV’s (Veículos todo o terreno) e UTV’s (Veículos utilitários multitarefas) nos primeiros oito meses do ano, a Linhai reforçou a liderança de vendas de ATV’s: matriculou mais 97 veículos do que no mesmo período do ano passado, deixando a CF Moto mais longe, ainda que esta tenha melhorado os seus números também. Nos UTV’s, o cenário já é diferente pois regista-se um empate técnico entre BRP e CF Moto, tendo ambos 82 veículos matriculados, quando a BRP havia tomado a dianteira em maio. Nota para o crescimento do mercado dos veículos utilitários em relação à mesma altura do ano passado: nos ATV, há mais 34,35% de matriculados e nos UTV’s a subida é de 38,52%.
A visão de representantes das marcas
A revista abolsamia pediu a cinco especialistas uma leitura ao mercado nesta fase do ano bem como uma perspetiva sobre como poderá evoluir o cenário no último quadrimestre do ano.
Que leitura faz aos atuais números revelados após o fim do mês de agosto?
Como perspetiva o cenário no último quadrimestre do ano e no arranque de 2023?
“O mercado continua a apresentar uma evolução positiva em relação a 2021 baseado em dois fenómenos: o crescimento do mercado de tratores abaixo de 25cv e as entregas das unidades ao abrigo do plano de abates que se reflete basicamente no crescimento das potências ente 50 e 100cv. A previsão que tinha feito anteriormente de que o mercado iria apresentar uma queda acentuada a partir de Setembro é para manter. O ano de 2023 perspetiva-se, para já, como muito negativo, a menos que surja alguma ação do Governo que permita combater o cenário atual.”
“A percentagem de crescimento do mercado vai-se diluindo à medida que o ano avança. No primeiro trimestre havia um crescimento grande mas no período homólogo do ano passado ainda havia uma pandemia. Como fornecemos algumas marcas que trabalham em Portugal e que importam tratores sem rodas e nós fornecemos o conjunto pneu e jantes, nosso potencial de vendas é beneficiado. O aumento da venda de tratores está na razão inversa à venda de pneus novos, pois quem compra um trator novo já completo não vai comprar pneus para colocar num trator velho. Por outro lado, potencia as nossas vendas de primeiro equipamento. Dadas as condições geopolíticas do Mundo, é muito difícil fazer previsões. Irá continuar a um ritmo moderado como este ano, estamos a falar de um ano que, a nível meteorológico, não deu confiança ao mercado nem ao agricultor. A quebra aconteceu no terceiro trimestre, espera-se que a vinda das chuvas possa ajudar a restabelecer a confiança dos agricultores nos últimos meses do ano.”
Nuno Santos - Diretor-Comercial do Entreposto Máquinas
“As estatísticas do mês de agosto refletem um abrandamento do mercado. Os números de janeiro a agosto deste ano até foram superiores ao período homólogo do ano passado, mas o ritmo de registos diminuiu claramente. Nota-se uma desaceleração das vendas e o último quadrimestre aponta para ser mais fraco do que o do ano passado devido às ondas de choque provocadas pela subida de preços da energia e das matérias-primas. Veremos quais as soluções que o governo irá propor mas a crise que afeta a Europa, a inflação e a perda de confiança em geral do agricultor não ajudam. Numa economia depressiva, dificilmente o agricultor quererá investir em força.”
“O crescimento do mercado de tratores agrícolas até agosto é sobretudo resultado da medida de Renovação do Parque de Tratores Agrícolas. Verificamos que, em comparação com igual período do ano anterior, o mercado cresceu significativamente entre os 50 e os 100cv, sendo de destacar o grande aumento das vendas de tratores cabinados nestes segmentos de potência. Passado o efeito da medida de Renovação do Parque de Tratores Agrícolas, no último trimestre de 2022 e no início de 2023 prevemos uma queda acentuada do mercado devido ao ambiente macroeconómico de grande incerteza (inflação, aumento dos preços dos fatores de produção, aumento da taxa de juro, …), agravado no caso de Portugal pela situação de seca.”
“Creio que o mercado de tratores se vai manter regular até ao final do ano. Já o dos equipamentos e outros acoplados aos tratores, baixou. Os fatores de produção têm vindo a subir constantemente de preço e, ainda que os preços de produção dos clientes subam também, uma coisa não compensa a outra. É uma escalada de preços que não sabemos onde vai chegar. Existem subsídios para compensar algumas perdas do empresário agrícola mas se a produção dos empresários, de animais como vacas, borregos, porcos, não for compensatória e tiverem de recorrer ao dinheiro dos subsídios, no fim olham para as mãos e não têm lá nada. O mercado está cada vez mais volátil, não há meses iguais, e continua a depender muito dos fatores de produção e da Euribor, que tem estado a subir. Se esta atingir os 3%, 4%, o mercado estanca de vez pois ninguém tem capacidade para comprar equipamentos novos a pagar tanto dinheiro ao banco. Se cada pessoa ganha cada vez menos dinheiro na sua atividade, o cenário fica difícil. Mesmo quem tem dinheiro não compra tratores... com juros de 6 e 7%.”