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Prova de Campo: Deutz-Fahr 6135 C RVShift

Média Potência associada a Versatilidade

por João Sobral / fotografia abolsamia

Em abril, fomos até Águeda para experimentarmos em campo duas unidades do modelo 6135 C numa exploração que se dedica à criação de gado. Ao longo de uma jornada de trabalho, distribuímos fardos no estábulo ao início da manhã, fizemos transporte em estrada com uma cisterna Herculano e, em campo, realizámos lavoura numa parcela para milho com uma charrua Pöttinger.

Os tratores Deutz-Fahr 6C apresentam uma estrutura compacta, associada a um nível médio de potência, e as funcionalidades para agricultura de precisão. Posicionamse imediatamente acima dos modelos da série 5 na gama da marca, e imediatamente abaixo dos modelos da série 6.4.

Foi na Agro-Pecuária Irmãos Soares, situada em Óis da Ribeira, Águeda, que tivemos oportunidade de experimentar em campo o Deutz-Fahr 6135 C. Nesta casa dedicada à criação de gado bovino, que conta com a força de trabalho de membros da família pertencentes a três gerações, as tarefas de campo estão a cargo de tratores Deutz-Fahr de diferentes épocas.

Por ocasião desta Prova de Campo, a SDF Portugal pôs à nossa disposição duas unidades do mesmo modelo, uma na versão standard, em cor verde, e uma outra na versão Warrior, com especificações mais altas, e em cor preta.

A série 6C

A série 6C situa-se imediatamente acima da série 5 e imediatamente abaixo da série 6.4, sendo composta por três modelos – 6115C, 6125C e 6135C –, que disponibilizam, respetivamente, 120, 129 e 135 cv de potência nominal.

Para cada um dos modelos, a marca oferece três opões de transmissão: mecânica com três níveis de powershift, RVShift com powershift total (a versão que testámos), e TTV de variação contínua.

Motor de 3,8 litros

O modelo testado, Deutz-Fahr 6135 C, é o mais potente da série 6C. É propulsionado por um motor FARMotion de 4 cilindros, com 3849 cm³ de capacidade, equipado com turbo de geometria variável e ventoinha viscostática eVisco.

A potência nominal situa-se nos 135 cv, sendo disponibilizado um boost que eleva a potência até aos 143 cv, para as tarefas com TDF ou em transporte, a velocidade superior a 15 km/h. Para cumprir a norma de emissões da Fase V, recorre a um sistema DOC+DPF+SCR.

Quanto à manutenção, está definida para intervalos de 600 horas.

Transmissão RVShift de 20 relações

A transmissão do modelo testado é uma full powershift desenvolvida internamente pela SDF. Assume a designação RVShift, sendo o escalonamento de 20 relações sob carga para a frente e 16 para trás. Quanto às gamas, são duas, normal e heavy duty. A comutação entre gamas é feita automaticamente entre as relações 1 e 15, mas, se necessário, o operador pode alternar entre as duas gamas simplesmente premindo um botão.

O utilizador pode optar por selecionar as relações pretendidas através do modo manual ou então pode ativar o modo APS (powershift automático), deixando essa responsabilidade ao sofware que gere a transmissão.

Na prática, em modo APS a transmissão tem um comportamento que se assemelha às caixas automáticas dos automóveis, alternando entre relações sob carga de forma natural e suave.

Entre os opcionais, a Deutz-Fahr disponibiliza o elevador dianteiro com TDF, fornecido pela Sauter.

Dispõe de dois modos de funcionamento: trabalho e transporte. Para cada um destes modos, o operador pode definir a relação mínima e a relação máxima que é utilizada pela caixa usando a função APS. Pode ainda definir, entre 1 e 13, qual é a relação de arranque que é automaticamente engrenada após uma paragem.

Por norma, em modo de trabalho o operador define um leque de relações mais curto e uma relação mais baixa de arranque, e no modo de transporte fará o oposto, definindo uma relação mais alta de arranque, dada a necessidade de rapidez ao entrar numa via, e dada a necessidade de dispor de uma gama mais ampla de relações disponíveis, para um intervalo maior de velocidade.

Inversor com ajuste de sensibilidade

O inversor é eletro-hidráulico e dispõe de um ajuste de sensibilidade da resposta. É dada ao operador a possibilidade de escolher entre cinco diferentes níveis de sensibilidade.

Stop & Go com três modos

Com esta funcionalidade ativada, o operador pode imobilizar e retomar a marcha sem recorrer à embraiagem. Na prática, a embraiagem é ativada eletronicamente, sem que o operador tenha de atuar sobre o pedal respetivo.

Neste modelo, o Stop & Go foi melhorado e o operador pode escolher entre três modos diferentes, que variam na forma como se faz a paragem do trator (através do pedal de travão ou através do joystick) e também na forma como é feito o reinício de marcha.

Cruise control

Permite manter uma velocidade constante sem recorrer ao acelerador. Define-se a velocidade pressionando de forma demorada o joystick para a esquerda. Posteriormente, para ativar e desativar o cruise control, repete-se o mesmo movimento do joystick mas de forma mais rápida. Nas unidades que dispõem de joystick advanced, existe um botão dedicado na lateral do joystick onde também pode ser ajustado o cruise control.

O apoio de braço da versão RVShift é diferenciado e inclui dois joysticks.

Modo Eco

A velocidade máxima de 40 km/h é atingida na relação 17 às 2200 rpm. Nas últimas três relações, o modo Eco permite que o trator atinja a velocidade máxima a regimes mais baixos, se as condições de carga o permitirem, sendo o regime de 1910, 1675 e 1605 rpm, respetivamente nas relações 18, 19 e 20.

Direção

Os modelos 6C podem ser configurados com circuito de direção rápida (SDD). Através de uma bomba de rotor duplo, é possível reduzir para metade, de 5,4 para 2,7, o número de voltas do volante necessárias para que as rodas completem um curso completo de viragem.

Sistema de travagem

Como é habitual na marca, o eixo dianteiro conta com discos de travão integrados, o que contribui para uma segurança acrescida. O travão de parque de acionamento hidráulico é outro elemento que merece destaque. Aplica uma pressão constante sobre os discos de travão traseiros, garantindo uma imobilização efetiva do trator e é muito mais prático do que um travão convencional.

Apreciação dos operadores

O conjunto motor/ transmissão revelou uma interessante disponibilidade de resposta no decorrer das tarefas realizadas. Mas foi na lavoura que mais nos surpreendeu, com uma resposta progressiva nas situações de variação de carga impostas pelas zonas da parcela que apresentavam maior compactação. Para este comportamento contribui uma caixa que está bem escalonada e que em modo automático permite alternar entre relações de forma natural e suave.

A grande vantagem deste trator em relação ao Deutz-Fahr 5125 que está ao serviço na nossa exploração é ter uma caixa que sem ser de variação contínua, é muito aproximada. E tem uma capacidade de resposta que me surpreendeu, para um trator de 135 cv. Destaco como pontos fortes o conforto da cabine, o conforto proporcionado pela caixa, que é de uso intuitivo, e o sistema de suspensão do eixo dianteiro, que está muito equilibrado.

Consumo

O trabalho com charrua foi realizado à profundidade de 25 a 30 cm numa parcela adjacente à Lagoa da Pateira, com solo relativamente compactado, onde não foi feita mobilização com charrua nas últimas cinco campanhas. O trabalho foi realizado a uma velocidade a oscilar entre os 8 e os 9 km/h, tendo-se registado um consumo médio de 9,7 litros/hora. Na operação de transporte com cisterna, num percurso maioritariamente plano, o consumo médio registado foi de 4,9 litros/hora.

Sistema Hidráulico

Os 6C com transmissão RVShift podem ser configurados com sistema hidráulico CCLS (centro fechado com sensor de carga), com fluxo de 90 L/min (concilia uma bomba de 55 e outra de 35 L/min), ou com fluxo de 120 L/min.

Através do iMonitor o operador tem acesso a regular o caudal, entre 1 e 100%, e o tempo de atuação, entre 1 e 60 segundos.

Os tratores com bomba de 120 L/min dispõem de Power Beyond, para trabalharem em parceria com alfaias que requerem óleo em fluxo contínuo.

O sistema hidráulico integra ainda uma funcionalidade de amortecimento de vibração, destinada ao transporte em estrada com alfaias montadas, de forma a poupar os componentes do trator ao stress imposto por solavancos.

O sistema hidráulico pode ser configurado com até 10 vias traseiras e bomba de 120 L/min.

TDF

O acionamento da TDF é feito de forma proporcional à carga exercida pela alfaia que está a ser utilizada. São três os regimes disponíveis na TDF traseira. Os regimes de 540 e 1000 rpm são atingidos às 1960 rpm do motor, enquanto o regime 540E é atingido às 1593 rpm do motor. Nas unidades configuradas com TDF frontal, o regime de 1000 rpm é atingido às 1950 rpm do motor. É disponibilizada a funcionalidade TDF Auto, que liga e desliga a TDF em função da posição do elevador hidráulico.

Cabine TopVisionPro

Equipada com suspensão mecânica, a cabine apresenta um ambiente de trabalho alinhado com o que é habitual encontrarmos noutros modelos de maior potência da Deutz-Fahr. Existem duas versões disponíveis do apoio de braço: Basic e Advanced. Nesta segunda versão, o joystick principal dispõe de mais botões, o que se traduz num maior número de funções disponíveis: função de inversor, ajuste da velocidade cruise, um botão livre para configuração e uma memória adicional do regime do motor.

InfoCenter e iMonitor

É no InfoCenter de 5”, um visor TFT a cores situado no painel de instrumentos, que o operador pode fazer a maior parte das configurações do motor e da transmissão, e onde tem ainda acesso à visualização de dados de rendimento, consumo ou diagnóstico.

No iMonitor, é possível fazer ajustes mais precisos de algumas funcionalidades disponíveis, incluindo o sistema de gestão de cabeceiras, a telemetria, a condução automática, as diversas ferramentas ISOBUS, ou ainda a ferramenta AutoTurn, que possibilita a programação da viragem automática nas cabeceiras sem a intervenção do operador.

Miguel Soares (Irmãos Soares)

“Este modelo de média potência alterna facilmente entre tarefas muito diversificadas, mostrando-se muito versátil. No transporte, permite fazer deslocações a baixo regime, e com o conforto de uma gestão automática das relações de caixa. No carregador frontal, o fluxo hidráulico proporcionado pela bomba é mais do que suficiente para uma resposta bastante rápida e os comandos do carregador são ergonómicos e intuitivos. Na mobilização de solo, o conjunto motor/transmissão, associado aos pneus Trelleborg que equipavam a unidade de teste, asseguraram um bom poder de tração mesmo em zonas mais difíceis da parcela, onde enfrentámos uma área com água à superfície e algumas zonas com visível compactação”.

João Sobral (abolsamia)

“O motor Farmotion, a transmissão RVShift com modo automático, a cabine TopVision de quatro pilares com suspensão mecânica, a suspensão e os travões no eixo dianteiro, o sistema hidráulico load sensing com bomba de 120 L/min, e as ferramentas para agricultura de precisão compõem o leque de argumentos do trator que testámos em campo”.

PONTOS MAIS

- Motor e transmissão

- Manobrabilidade

- Sistema de travagem

- Desempenho com carregador

PONTOS MENOS

- Espaço para o passageiro

- Dimensão da caixa de ferramentas

- Carregador não antecipa o fim do curso de elevação

Versão Warrior

Para além da cor preta, esta versão distinguese por disponibilizar mais funcionalidades no apoio de braço, e diversos outros pormenores, entre eles: cobertura do tapete da cabine, faróis Led no capot, rádio com Bluetooth e assento profissional com ajuste automático de peso e porta documentos.

Preço

Com o nível de equipamento standard, a unidade em teste é comercializada em Portugal por um montante de 140.680 Eur + IVA. A versão Warrior tem um acréscimo de preço de 2500 Eur + IVA.

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