Tragabalho de Graduação Integrado I Aluno: Diogo Oliveira CAP responsável: Simone Vizioli
à curiosidade e dúvida.
Apresentação O trabalho é fruto de inquietações geradas a partir de uma experimentação sobre o papel durante a disciplina de pré TGI. [figura1] A partir da inserção de dois processos sobre uma folha em branco – a dobra e a impressão - despertou-me o interesse de investigar a relação entre lógicas distintas que coexistem. Decorrente também da forma como intervi no papel, a escala tornou-se um mote de intervenção e análise para o desenvolvimento de TGI. Dentro dessa investigação, busquei classificar as análises, feitas por fotos (constatações) e projetos (intenções), em contraste – justaposição de escalas distintas, que geram choque pela diferença - e contrapontos – um subgrupo dessa classificação, em que intervenções de escalas distintas se reafirmam e dialogam dentro de suas características.
CONT -RAS - T E S
Contraste entre porto e favela
Contraste entre porto e comunidade da conceiçãozinha (Santos) A cidade que, apesar de possuir uma condição geomorfológica delicada, foi urbanizada por sua posição estratégica de escoamento e recebimento de mercadorias, instalando-se uma grande zona portuária que se contrasta com comunidades locais, inicialmente de pesqueiros. Houve uma dominância da lógica infraestrutural de escoamento de mercadorias com uma consequente substituição de características sociais, espaciais e físicas locais. Foto de Yan Boechat
O contraponto (punctus contra punctus) é aqui utilizado a partir de seu conceito musical (harmonia) onde é definido como a combinação de duas ou mais linhas melódicas independentes, que desenvolvem-se com coerência harmônica adquirindo uma complexidade musical capaz de estabelecer uma unidade.
CONT RAPO NTOS
Superstudio – monumento contínuo O Monumento Contínuo foi concebido como uma estrutura nova e contínua que se relaciona com as camadas existentes em locais urbanizados ou não. Em representações e ‘storyboards’ realizadas pelo grupo evidencia-se a proposta do grupo de atender a novas dinâmicas sociais para o novo homem desterritorializado, nômade, sem posses abordado também por grupos como Archigram e Archizoom. Ao depararmo-nos com a representação proposta pelo grupo, o objeto sempre é posto e analisado em conjunto com um contexto, uma situação, disparando e evidenciando diferenças e potencialidades entre o projeto e suas diversas situações. Ele torna-se um objeto de relação universal, evidenciador de diferenças. Apesar de ter sido pensado como uma estrutura de um mundo desobjetificado, ao se contrapor com o existente, significa e passa a ser significado. Distanciando-se substancialmente da proposta moderna autônoma.
Vigliecca e Associados - Paraisópolis Essa abordagem proposta pelo escritório Vigliecca e Associados para Paraisópolis chama a atenção pela precisão de leitura de uma situação e da capacidade de intervir com um elemento que se contrapõe a lógica urbana local, para potencializar as próprias dinâmicas públicas e sociais. Ao constar que habitações que se estabelecem nos perímetros dos quarteirões apresentam melhores investimentos, os moradores adotam um maior compromisso com o valor público sobre o qual se relacionam. Dessa forma se optou por criar novos acessos ao interior das quadras a fim de multiplicar o contato do miolo com os espaços públicos, estabelecendo um compromisso social que induzirá uma autotransformação da área.
Centro Educacional Unificado Os Centros Educacionais Unificados foram implementados diante de uma política de inclusão social tomando como base a proposta educacional de Anísio Teixeira, que defendia que a escola pública deveria ser capaz de cumprir um papel formador do cidadão, passando a ser um instrumento para a estruturação da sociedade e das cidades¹. Tais Centros foram inseridos em áreas periféricas com grande ausência de investimentos em diversos setores tanto públicos como privados. Sua escala monumental “estabelece-se, o contraste entre o referencial urbano positivo e a vizinhança empobrecida, que, a partir da presença do equipamento público de qualidade, esboça mudanças para melhor”. ² ANELLI, Renato. “Centros Educacionais Unificados: arquitetura e educação em São Paulo”. Arquitextos, nº 55.02. São Paulo, Portal Vitruvius, dez. 2004 PROJETODESIGN - Edição 284 Outubro de 2003
ÁR EA
Urbanização da Zona Noroeste
Com a abertura da via Anchieta, na década de 40 há um forte incremento demográfico para a cidade, ocasionando grandes transformações na ocupação do espaço urbano. Alguns casarões da praia dão lugar a prédios de apartamentos construídos para atender ao mercado imobiliário, que serve principalmente moradores da Grande São Paulo e Interior. São famílias que passam fins de semana e férias no litoral. As mais abastadas criam novos bairros. A classe média vai ocupar áreas centrais, anteriormente ocupadas pela classe operária. As famílias de baixa renda começam, então, a se transferir para pontos menos valorizados na Zona Noroeste e nos morros, além das margens dos rios e canais naturais, onde surgem as favelas de palafitas. Os assentamentos precários, informais, passam a ocupar grandes extensões territoriais do espaço urbano, como conseqüência do movimento migratório, da verticalização, do encarecimento do custo da terra e do incentivo à especulação imobiliária. Estudos realizados pela Seplan mostram que esse processo começou a se intensificar a partir dos anos 60. Ganhou maior impulso, ainda, a partir dos anos 70/80, com a construção da Rodovia dos Imigrantes, que facilitou o acesso à região. Diário Oficial de Santos, 30 de maio de 1990
Obras realizadas duante o perĂodo militar para expansĂŁo da cidade de Santos na Zona Noroeste
CUBATテグ
Sテグ VICENTE
Limites geogrテ。ficos da cidade marcado pelo Estuテ。rio
SANTOS
Caracterização da área segundo o Plano Diretor de Santos 2010
Levantamento de Equipamentos, Vias e Ă reas na Zona Noroeste de Santos
Vias arteriais
O programa habitacional Dez por cento da população de Santos constituídos de pessoas com baixos recursos financeiros, residem ou vão residir em conjuntos habitacionais. Sem exceção, esse contingente de quase 45 mil pessoas enfrenta problemas de construção vazamentos, rachaduras etc. - e não recebe, pelo que paga pelos apartamentos ou casas, nenhum benefício em termos de melhora na qualidade de vida, isso porque, à exceção de um único conjunto, nenhum outro oferece um mínimo de área verde ou de locais para recreação. Ao contrário, os conjuntos estão localizados em regiões áridas, onde a terra foi invadida pelo concreto e onde praticamente não existem árvores ou jardins. Assim, a população de poucos recursos, que já enfrenta problemas econômicos e sociais, também carece de infra-estrutura que lhe permita o lazer, pelo menos próximo de onde mora. O Dale Coutinho, na Zona Noroeste, com 1.200 apartamentos e população de mais de quatro mil pessoas, e o Jardim Castelo, com 636 casas e mais de três mil moradores, são conjuntos sem áreas de lazer, sem praças municipais, sem arborização, e situados em região árida. Outros dois conjuntos de prédios, em construção, podem seguir o mesmo caminho dos que já estão construídos, carecendo de áreas verdes e de locais de lazer para seus habitantes, que não serão poucos: o dos Estivadores, na Zona Noroeste, terá quase mil apartamentos, com mais de cinco mil moradores. O BNH, na sua política de dar casa a quem não tem, falha no que se refere áreas de lazer - embora falhe também, e muito, no que se refere à qualidade das construções . Mas, de modo geral, praticamente toda a Cidade está na mesma situação dos conjuntos habitacionais: as raras praças têm pouco verde, estão sem bancos e não são funcionais, para dar à população um local de lazer. excertos do texto publicado em A Tribuna em 24 de maio de 1981 Conjuntos Habitacionais na ZN com datas da implementação
“Em vez de serem vistas e discutidas como problemas, as favelas devem ser encaradas como parte fundamental da sociedade. Só a partir disso é possível enfrentar os graves problemas da cidade, inclusive os de segurança pública” Jaílson de Souza.
Favela Dique Vila Gilda
Vila Gilda
Maior favela sobre palafitas do Brasil População 20~25 mil habitantes (COHAB-ST) Média salarial: 1 salário mínimo/mês.
Projeto de urbanização do Dique (2007) A administração da COHAB-ST apresentou, em 2007, uma proposta para a urbanização e regularização do Dique Vila Gilda. Segundo esta proposta, 1.654 famílias serão mantidas na área, com a remoção de 2.402 unidades habitacionais, atendendo a um total de 4.056 moradores. O projeto urbanístico da área propõe a criação de uma Rua Beira Rio, a ser executada por meio de uma grande área de aterro hidráulico em toda a extensão da ocupação, para permitir a passagem de pedestres e automóveis, buscando funcionar como um limitador da área e inibir novas ocupações irregulares. Entretanto, devido aos impactos ao ecossistema estuarino, há dificuldades para se obter o licenciamento ambiental destas obras propostas pela COHAB-ST, podendo-se retardar ainda mais o processo de regularização fundiária do Dique Vila Gilda e, em decorrência, impossibilitar a comercialização das novas unidades habitacionais a serem implantadas neste local. Fabiano, Caio E Muniz, Suely - Dique Vila Gilda - Caminhos para a regularização. Instituto de Registro Imobiliário do Brasil
“Quando falamos em moradias estamos falando de muito mais do que paredes e compartimentos domiciliares. Não se trata simplesmente de um abrigo para uma única família. É uma moradia. Um Espaço plural, onde grupos unidos por valores, práticas, vivências, memórias e posição social constroem seu enraizamento como força de realização das suas vidas. A moradia significa que as pessoas estão inseridas em relações socioespaciais” Jailson de Souza e Silva e Jorge Luiz Barbosa
Residências da favela com interface com a rua
Residências próximas à favela produzidas através de programas habitacionais
ComĂŠrcio localizado na favela
extensão da favela em direção ao mangue
Interface com o mangue
P R O P O S T A S
contraponto limite | tensĂŁo | violĂŞncia | conflito | interface | contexto cidade | megaestrutura | tecnologia | infraestrutura | social | choque arquitetura | paisagem | escala | programa | superstudio | habitar
Escala É o marco zero. Dela nasce todo o questionamento. Ela tensiona, se contrapõe e ressalta o outro, é necessária no contexto. Limite - Linha ou ponto divisório entre determinada extensão superficial ou terreno e o espaço superficial ou terreno adjacente; linha de demarcação. (Michaelis) - A água como limite. – Marco. - O limite é relação. Em algum casos podem ser borradas. Propõese, dentro de borrar e complexizar as relações existentes. Ficam destacadas algumas dessas relações que mais saltam com a proposta público/privado – cidade/arquitetura arquitetura/paisagem, moradia/ habitação. - Para Tschumi uma vez que a arquitetura não é uma disciplina autônoma, ela e construída por limites. “ De fato, o conceito de limites está diretamente relacionado com a definição de arquitetura. O que entende-se por definir, ‘demarcar os limites de’ assim como ‘expor a essencial natureza de’.” HIS Doença contemporânea reducionista, tratada com placebo e ironia. Violência Para Tschumi, qualquer relação entre a arquitetura e seu usuário é marcada pela violência, pela intrusão a intromissão de um espaço em outro. O corpo perturba a pureza arquitetônica, e o espaço induz comportamentos. Condições induzem ações e ações alimentam espaços.
Tendo em vista a complexidade de relações entre diversas esferas condensadas em um só local - área/cidade | meio ambiente/ocupação | limites geográficos/ocupaçao | Zona Noroeste/cidade | moradia/habitação - , o desenvolvimento projetual ficou muito pautado nas relações que poderiam ser disparadas de acordo com a implantação desse objeto de outra escala contrapondo-se com toda essa força contrária de atuação sendo abordadas diversas possibilidades que transitavam em campos distintos, ora se aproximando mais de uma intervenção crítica reveladora de uma condição, ora buscava se calcar mais na melhoria da região, sempre se atentando a não escapar da relação investigativa proposta no início do trabalho. A primeira proposta estudada nasce de um contraste e uma relação entre interveções tão próximas e tão distintas, resignificada para um uso voltado ao local. Trata-se de uma intervenção carregada da disposição dos próprios portos existentes, locais de carga e descarga de materiais, voltando-se a lógica urbana da favela. O programa era pensado como um equipamento de educação local e lazer, construindo uma praça no nível térreo e os equipamentos ocorreriam nos demais pavimentos.
A segunda implantação sugerida, apresentada na pré-banca de TGI I, trata-se de uma conseqüência da primeira proposta, buscando relacionar a intervenção para a Zona Noroeste como um todo, não atuando somente no local. As dimensões propostas para o equipamento aumentaram e suas conexões foram estabelecidas também com vias arteriais. O programa resultante também aumentou para incorporar novas dinâmicas ao equipamento em questão. Nessa intervenção, a atenção dada ao equipamento em relação à via anchieta também foi grande, o que carecia de um aumento na escala de intervenção para ser notável mesmo a 800m de distância e para veículos em elevada velocidade. Além disso, foi pensado em incorporar habitações no equipamento, aproximando-se mais das megaestruturas.
Diante da segunda hipótese de implantação e dos comentários da banca, houve um processo de redistanciamento das práticas para tentar reavaliar as decisões tomadas diante da proposta inicial de pensar a arquitetura como relação, como diferença e evidenciador de diferenças, incluindo dinâmicas que se complementem com o local. Nesse processo, duas frentes foram tomadas. Assumi tais questões como mote e descolei a arquitetura do lugar, para pensá-la como uma reveladora de condições semelhantes diante de um elemento, a água. Nesse ponto, sugeri a criação de um equipamento flutuante e navegável, um sistema semelhante ao de balsas que agiria em diversas áreas dessa região, sendo possível relacionar um mesmo elemento em diversos contextos. O programa nessa embarcação deveria ser revisto e repensado. A que dinâmicas responderia? Funcionaria como um circo itinerante que monta sua estrutura e parte? Seria uma infraestrutura itinerante de saúde, lazer e cultura? Pensar um navio que se atraca a uma região para alimentá-la? Essa investigação sucitou novos interesses em aprofundar tais indagações, no entanto não foi muito aprofundada, a não ser por tentar tomar nota da viabilidade e construtibilidade dessa arquitetura.
Estudo de uma embarcação flutuante e navegável
A outra frente foi oposta. Buscou-se fixar o projeto em vínculos mais latentes da região,embasando-me no levantamento de equipamentos, de vias, dinâmicas, de depoimentos de moradores da Zona Noroeste e da Vila Gilda e de constatações de possibilidade de construções de vínculos entre a área para agir e as relações criadas a partir das dinâmicas existentes das áreas. A implantação resultante insere-se como uma continuidade da Av. Jovino de Melo (arterial que tem acesso para a Av. Nossa Sra de Fátima), onde o programa passaria ao longo dessa extensão da via. O prolongamento da rua possibilitou pensar uma interligação entre o bairro São Manoel com a Rádio Clube também, gerando uma concentração de fluxo naquele equipamento. Ela foi pensada como um centro de Educação e capacitação profissional e também como equipamentos de extensão e lazer.
salas de atividades multiúso (para esportes, produção de imagem e som, dança)
teatro e cinemas praça
cobertura utilizada como espaço livre público.
centro de educação e capacitação profissional
Considerações Parciais Fica claro que a exploração do tema e seu desenvolvimento se fez de maneira muito tátil, evidenciando-se fraquezas, incertezas, dúvidas nas explorações realizadas, mas que também disparam questões pertinentes ao desenrolar do processo e se mostram coerentes dentro do recorte estabelecido como exploração. Foi interessante, dentro das explorações projetuais realizadas, conseguir estabelecer algum grau de relação com as referências analisadas - em maior ou menor escala. O primeiro, com os CEU´s, por sua implantação isolada, destacada e contrastante, mas que age tendo em vista a dinâmica local; o segundo com uma exploração que se aproxima mais do Monumento Contínuo por sua relatividade e seu teor mais crítico (e tecnológico) e a terceira, uma mescla de CEU e Paraisópolis, buscando, a partir de uma análise da área, encontrar potencialidades de convívio e sociabilidade. Por fim, encaro essa entrega de TGI I como parte de um processo em andamento, buscando não excluir possibilidades.