21 de maio de 2013 • ANO XXII • N.º 261 • QUINZENAL GRATUITO DIRETORa ana duarte • EDITORa-EXECUTIVa ana morais
acabra
micro-conto
Elevadores
jornal universitário de coimbra
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rafaela carvalho
Serviço de alimentação dos SASUC As críticas às refeições são cada vez mais frequentes. O administrador dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra mostra-se preocupado e tenta auscultar os problemas através de representantes como os estudantes conselheiros PÁG. 4
Prescrições
basquetebol na AAC
mobilidade na UC
CPTTP
Sinistralidade
Mais um ano só nos Ânsia de vencer para Falta de consenso na Tratamento do Capital Jovem da mestrados integrados festejar os 85 anos conversão da nota trauma psicogénico Segurança Rodoviária A ameaça de mais de 2 mil alunos prescreverem o seu percurso académico no presente ano letivo levou a que os estudantes conselheiros requeressem um aumento de um ano no processo. A proposta de mais um ano de transição está em discussão pública e tudo indica que será aceite. No entanto, a alteração só se aplica aos alunos de mestrado integrado que estivessem em condições de prescrever. Não há impacto nos estudantes que, em licenciatura, estejam em risco.
Apesar de todas as dificuldades económicas, a Secção de Basquetebol da Associação Académica de Coimbra vai celebrar os seus 85 anos de existência com algumas atividades. Mas antes, ainda há um objetivo a cumprir – vencer o Benfica no ‘play-off’ da final do Campeonato da Liga Portuguesa de Basquetebol, no próximo fim-de-semana. As “águias” estão com vantagem, mas a Académica acredita na vitória. Contudo, a falta de um espaço próprio para as equipas treinarem gera problemas de “identidade” da secção.
Na reta final do ano letivo há ainda alunos que não têm as equivalências, decorrentes do programa de mobilidade que realizaram, ratificadas. Depois de ouvir a Divisão de Relações Internacionais, os coordenadores departamentais e os alunos, percebe-se que há confusão no que diz respeito à forma de converter a nota obtida no país de acolhimento e a que depois se obtém na UC. Alguns estudantes queixam-se de falta de acompanhamento e não existe consenso quanto à existência de uma tabela que uniformize a nota final.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, mais de cinco milhões de pessoas morrem a cada ano como resultado de algum tipo de trauma. Dia 1 de junho, Coimbra vê nascer, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, o primeiro Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico a nível nacional. A iniciativa surge para colmatar a lacuna da falta de resposta às consequências de situações traumáticas. João Redondo vai coordenar o Centro composto por psiquiatras, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais.
Durante os próximos dias 31 de maio a 7 de junho, Coimbra acolhe um vasto conjunto de atividades que visa a prevenção rodoviária. Num programa que passa por ações de sensibilizações nas escolas a simulações de acidentes, os jovens e todo o público em geral terão oportunidade de entrar em maior contacto com a problemática da sinistralidade nas estradas. O evento, que resulta de uma organização da Câmara Municipal de Coimbra e da revista Fórum Estudante, conta também com um leque de parceiros locais.
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Mais informações em
Banco de Tempo
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Com mais de sessenta membros e em atividade desde há dez anos, esta iniciativa conjunta do movimento internacional de mulheres Graal e do Centro de Apoio Social de Pais e Amigos dos Alunos da Escola Nº10 (CASPAE 10) pretende incentivar as relações intergeracionais e a noção de comunidade com algo tão simples como a troca de algumas horas por dia PÁG. 10 E 11
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d.r.
programas de mobilidade
Discórdia na compreensão do processo de equivalências na UC Na origem da maioria das incongruências dos processos de mobilidade estão a conversão de notas e a equivalência nos planos de estudo. A parca informação, aliada à falta de acompanhamento, vem intensificar uma confusão que parece existir nas instituições que regulam o processo. Por Liliana Cunha e Carolina Varela
E
studar no estrangeiro é uma opção cada vez mais recorrente no ensino superior. Os programas de mobilidade que a Universidade de Coimbra (UC) oferece multiplicam-se por todos os continentes do mundo. De entre o leque de oportunidades, saíram, no último ano letivo, 478 estudantes da UC. O programa Erasmus é o mais procurado, tendo registado cerca de 80 por cento do global. “O Erasmus foi o primeiro programa de mobilidade e tem um conjunto de regras de qualidade, que são obrigatórias e a UC aplica-as a todos os programas”, assegura a chefe da Divisão de Relações Internacionais (DRI), Filomena Marques de Carvalho. Com a função de executar e garantir o correto desenvolvimento dos processos de candidatura, a DRI surge como plataforma de
interface na relação dos estudantes com as entidades de acolhimento. Também os coordenadores departamentais de cada curso assumem um papel importante na divulgação, aconselhamento e planeamento. Depois de tomada a decisão de
António Ribeiro: “o aluno é sempre quem corre os riscos, o professor nunca corre riscos” saída, o aluno traça, em conjunto com o coordenador, um plano de estudos para a universidade recetora que lhe garanta equivalência às unidades curriculares da UC. “Quando o aluno decide prosseguir com a sua mobilidade terá um plano de estudos que,
depois de aprovado, lhe garante todas as equivalências, se for cumprido com sucesso”, clarifica a coordenadora departamental da Faculdade de Medicina da UC (FMUC), Marília Dourado. Fazer corresponder a nota obtida na escala do país de destino à escala nacional é mais uma das competências do coordenador, que, por vezes, gera alguma discórdia.
Método de conversão
“No sistema da creditação das unidades curriculares (ECTS) que usamos, há sempre o crédito e o ‘grade’. Junta-se à nota quantitativa uma escala que explica que um 12 foi tido por 80 por cento dos estudantes, tendo um valor menor do que se for tido por menos [alunos]”, explica Filomena Marques de Carvalho. A escala referida expressa-se em ‘A,B,C,D,E’ por ordem decrescen-
te de valor, correspondendo o ‘A’ aos dez por cento de alunos que obtiveram a nota “com desempenho excecional” e o ‘E’ aos dez por cento que “satisfazem os critérios mínimos”, segundo a escala em vigor. Quer isto dizer que, à nota obtida no estrangeiro, juntam-se
“Nesta altura já só queria uma resposta ou uma justificação”, lamenta Joana França critérios comparativos das notas obtidas à cadeira equivalente do plano de Portugal. A responsável pela DRI não hesita: “é preciso tentar nivelar os resultados que se tiveram lá fora com os de cá”. Dentro de todo o processo há uma série de percalços a que o
estudante pode estar sujeito se não cumprir todas as etapas. “O aluno é sempre quem corre os riscos, o professor nunca corre riscos. Agora o aluno tem que ser bem informado e é essa a minha função”, esclarece o coordenador departamental da Faculdade de Farmácia da UC (FFUC), António Ribeiro. Exemplo da informação que às vezes falha é o caso da aluna do mestrado em Comunicação e Jornalismo da FLUC, Joana França. “Ia fazendo os procedimentos todos como a DRI mandava. Mas, já para o fim, quando tive que entregar um dos papéis é que soube como iam ser as equivalências. Aí já não dava para voltar atrás”, lembra a estudante, que fez Erasmus em Itália no ano letivo anterior. Marília Dourado alerta para a “possibilidade de poder haver alguma discrepância nas classifica-
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ções, em consequência da escalas nacionais não serem exatamente iguais”. É o caso de Itália, onde a classificação vai de zero a 30. “Enquanto lá estava, encontrei uma tabela na internet que nos dava algumas equivalências, não era da universidade, mas pensei que fosse universal e pensava que ia ter notas melhores do que depois tive”, conta Joana França, que ainda hoje, passado um ano, não viu qualquer resposta ou explicação ao seu caso. “Nesta altura já não espero que me subam as notas, só queria uma resposta ou uma justificação”, lamenta.
(Des)informação
A questão da conversão de notas é a que mais controvérsia levanta. Se por um lado, a DRI afirma não existir uma tabela uniformizada que regule o processo, por outro, há estudantes que garantem ter-lhes sido fornecida uma tabela, pela qual também alguns coordenadores se dizem reger. “As pessoas têm a mania que há uma tabela. Não há nenhuma tabela predefinida entre países”, assegura Filomena Marques de Carvalho. Na FFUC, “em relação às conversões há tabelas de acordo com o que foi estipulado em Conselho Científico. Os alunos têm acesso às tabelas. Um aluno só vai para fora quando souber o que o espera, não pode ter surpresas”, ressalta António Ribeiro. O estudante de Desporto da Faculdade de Ciências do Desporto e
Educação Física da UC (FCDEF), Ivo Nunes, conta que já sabia à partida as equivalências que iria ter relativamente às cadeiras que frequentou na Polónia, no início do presente ano letivo. “Levei a tabela da Comissão Europeia”, determina. “Recebi uma tabela a explicar o modo de equivalências de Portugal, neste caso da FLUC”, confirma também a estudante de Jornalismo da FLUC, Inês Silva, que integrou o projeto Erasmus em Roterdão no início do ano letivo. As incongruências continu-
“Não há nenhuma tabela predefinida entre países”, assegura a chefe da DRI am. Marília Dourado partilha o processo vinculado nas palavras da representante da DRI. “Não existe nenhuma tabela, tanto quanto conheça”, aponta a coordenadora da FMUC. Explica que a classificação que atribui remete para “a tabela de equivalência (escala ECTS), tendo em conta o ‘ranking’ da faculdade, referente aos últimos três anos letivos, por unidade curricular”. Para além da falta de consenso que parece existir entre as instâncias que asseguram o desenvolvimento dos processos de mobilidade, também a falta de clareza
na informação é o problema de que alguns alunos se queixam. “A minha coordenadora não me sabia dizer as notas até chegar, porque era feita através da nota do melhor aluno desse ano, nessa disciplina, e através da minha média. É complicado, nem eu percebo muito bem”, expõe o estudante de Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), José Abrantes.
Falta de acompanhamento
A par da escassa informação por vezes notada, encontra-se também uma lacuna no apoio aos estudantes, por parte dos coordenadores. “Abri um novo acordo completamente sozinha. Jornalismo não tinha protocolo com Roterdão, consegui abri-lo numa das melhores universidades a nível europeu e ninguém me apoiou”, acusa Inês Silva. “A coordenadora sempre me disse que eu é que tinha de fazer os contactos, o plano e entregar-lhos. Ela só assinou. A única coisa que ela me disse foi: quando chegarem, avisem”, confessa. José Abrantes conta que ao chegar à Hungria viu-se obrigado a trocar uma das cadeiras protocoladas no plano de estudos, não tendo recebido a aprovação da coordenadora. “Mandámos e-mails e a nossa resposta ainda hoje não chegou. Arriscámos chegar cá e não ter equivalência
Tabela de conversão da Comissão Europeia entregue aos estudantes e utilizada por vários coordenadores
à cadeira que tivemos de mudar”, recorda. “Ainda não recebi as equivalências, a última informação que me foi dada é que vão ser presentes a Conselho Pedagógico, mas até agora não me tinham dito nada”, revela Ivo Nunes. O aluno de Desporto acrescenta: “cheguei em fevereiro e só recebi informações porque procurei. Considero que houve um atraso”. A coordenadora da FMUC explica que “as equivalências e as classificações propostas pelo coordenador departamental são ra-
A chefe da DRI: “não tenho conhecimento de nenhum caso que não tenha corrido bem” tificadas pelo Conselho Científico e comunicadas ao Conselho Pedagógico e à Divisão Académica”.
Direito de recorrer
Em situações de conversão de notas e equivalências que o aluno considere injustas, resta-lhe o direito de apresentar uma exposição do caso. Filomena Marques de Carvalho indica que o aluno “pode apresentar uma reclamação, embora a questão da avaliação seja sempre subjetiva”. Observa que “quem analisa o requerimento normalmente é a faculdade e vai para os ca-
nais normais – para o Conselho Científico, para mim e, em última instância, para o provedor ou o reitor”. Mais uma vez, a informação parece dividir-se. Marília Dourado ressalta que “não há essa possibilidade porque tudo é feito no rigoroso cumprimento da lei”. A coordenadora acrescenta ainda que “durante a instrução do processo de candidatura, os alunos são alertados para a possibilidade de poder haver alguma discrepância nas classificações, em consequências de as escalas nacionais não serem exatamente iguais”. A vice-reitora para a Pedagogia, Madalena Alarcão, esclarece que “em última análise, [o aluno] pode sempre dizer que não quer aquela nota e vir a substitui-la”. A vice-reitora adianta que à luz da revisão do regulamento pedagógico, em discussão, prevê-se que “o aluno possa fazer melhoria de classificação, voltando a inscrever-se na unidade a que quer fazer melhoria e frequentando-a”. Quase no final do ano letivo, Ivo Nunes ainda não recebeu as equivalências do primeiro semestre e Inês Silva e Joana França continuam à espera da resposta à reclamação que emitiram. Como eles, outros estudantes esperam na incerteza. “Não tenho conhecimento de nenhum caso que não tenha corrido bem. É um processo que, como tudo, vai melhorando”, alega a chefe da DRI.
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ENSINO SUPERIOR
Serviços de alimentação cada vez mais criticados entre os estudantes
Várias são as críticas apontadas aos serviços de alimentação dos SASUC. O administrador tenta ouvir os estudantes, reunindo com os seus representantes na procura de uma solução para uma melhor ementa e qualidade de serviço. Por Ana Duarte e Gonçalo Mota rafaela carvalho
F
ilas intermináveis à hora das refeições, a diminuição da qualidade dos pratos servidos e o encerramento das Cantinas Amarelas para requalificação parecem ser os principais problemas que os estudantes da Universidade de Coimbra (UC) apontam à alimentação dos Serviços de Ação Social UC (SASUC). Estes problemas preocupam já o administrador dos SASUC, José Pires Marques, que, numa tentativa de ouvir os estudantes, reuniu com elementos da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) – nomeadamente da Área de Ação Social -, núcleos e os representantes dos estudantes no Conselho Geral da UC. O estudante representante para o primeiro e segundo ciclos, José Dias, explica que o administrador “lançou o desafio de tentar auscultar alguns estudantes sobre esses problemas” via Facebook. No entanto, Luís Rodrigues, também conselheiro, afirma: “não tivemos um ‘feedback’ considerável”. José Dias, por sua vez, elucida que o ‘feedback’ que tem recebido foi mais “ao nível pessoal”. A coordenadora-geral da Área de Ação Social da DG/AAC, Mariana Pereira, que também já tomou conhecimento da problemática do funcionamento atual
das cantinas, partilha da opinião dos conselheiros e acrescenta ainda que a qualidade dos SASUC foi discutida no Fórum AAC. Para José Pires Marques, o congestionamento que as cantinas sofrem, principalmente à hora de almoço (13h) e à de jantar (20h), não é provocada pelos serviços, nem está relacionado com o fecho das Cantinas Amarelas. “Vi [muitos estudantes] que tiravam o prato, esqueciam-se dos talheres e vinham atrás buscá-lo, depois já estavam lá à frente e esqueciam-se do guardanapo”, aponta o administrador como uma das principais razões para a existência das grandes filas. Se este tipo de comportamento for frequente, Pires Marques explica que, por norma, acabam por ser servidas apenas três pessoas por minuto, quando os serviços têm a capacidade de servir nove. “Para servir 1500 pratos a um ritmo de três refeições por minuto, vejam quanto tempo é necessário. Mas se for ao ritmo de nove, é possível fazer aquilo tudo em hora e meia”, acrescenta. Os horários coincidentes também agravam a espera dos estudantes. O responsável pelo Núcleo de Alimentação dos SASUC, Luís Lavrador, sugere que a hora do final das aulas seja alterada de
forma a reduzir “a avalanche de estudantes”.
Qualidade das ementas sociais
Muitos estudantes referem que a qualidade e a diversidade das refeições sociais dos SASUC andam a decrescer. Afirmam que a comida se repete ao almoço e ao jantar, que falta salada e que as quantidades são menores. A coordenadora da Área da Ação Social diz serem estas as queixas que também já ouviu. “Ao nível do prato social, há alguns pratos que baixaram de qualidade”, atesta. Luís Lavrador desmente a ideia de as refeições se repetirem ao almoço e ao jantar, alertando para o facto de elas serem sempre diferentes e afixadas todos os dias. “O que poderá acontecer é que a forma de confecionar é idêntica e as pessoas pensam que estão a comer o mesmo, mas não”, justifica o responsável pela alimentação.
Diminuição das refeições ‘snack’ e pressão orçamental
De há um ano para cá, em termos globais, as refeições servidas nas cantinas decresceram, tendo esta diminuição sido mais sentida nos ‘snacks’. Porém, as sociais
aumentaram no primeiro quadrimestre do ano, de acordo com Pires Marques. Esta diminuição de venda de ‘snacks’ – por norma, os pratos mais caros – trouxe um grave problema orçamental para os SASUC. Luís Lavrador conta que os serviços foram “ao encontro do gosto dos estudantes”, no que toca à confeção de pratos mais variados. “Hoje temos muito menos procura. Se calhar vamos ter de redefinir os ‘snacks’, com problemas orçamentais gravíssimos”, lamenta o responsável. Pires Marques alerta para a “importância” de venda deste tipo de refeição nas cantinas, para conseguir equilibrar o orçamento dos SASUC, que depende ainda da verba do Orçamento do Estado. “Isto [equilíbrio] só se consegue se nem todo o estudante comer a refeição social, ou seja, que algum coma uma refeição ligeiramente mais alta”, diz o administrador. De forma a tentar aliviar a pressão nas cantinas, Pires Marques e Luís Lavrador pretendem introduzir na ementa ‘snack’, “a pedido dos estudantes”, um prato com dois hambúrgueres, uma fatia de queijo, um ovo estrelado, batatas, arroz e salada. “É um prato rápido. O fulano tem pouco tempo e há muita fila na refeição social,
vai aos ‘snacks’ e tem aquele prato rápido por 2,90”, explicita o administrador dos serviços. “O que se quer é que o aluno que tem mais um bocadinho de poder de compra não tenha que estar sujeito à refeição social e estar na fila à espera”, adita.
O encerramento das Amarelas
Desde março que as Cantinas Amarelas estão fechadas para obras. Segundo José Dias, o reitor já deu o alerta acerca das profundas obras de requalificação que o edifício irá sofrer. Adianta também que “não se aproveita muito ao nível da infraestrutura e vai ter que haver de facto uma reconstrução”. Esta obra, que irá demorar algum tempo, prevê, ainda, custos avultados para a reitoria. Apesar de os SASUC não terem qualquer encargo com esta requalificação, o administrador revela que se pensou em fazer “uma mega cozinha para abastecer todas as cantinas da unidade central”. “Mas pode não ser essa a solução”, remata. NOTA As opiniões dos estudantes expressas no texto foram recolhidas em formato Vox Pop pelo Jornal A CABRA.
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ENSINO SUPERIOR transição do regulamento de prescrições
Mais um ano nos mestrados integrados
ana duarte - arquivo
Estudantes conselheiros pediram ao reitor mais um ano de transição para o regime de prescrições. Mas alterações são apenas para os casos de mestrado integrado Ana Morais Desde o início do corrente ano letivo que muitas foram as críticas ao novo Regulamento de Prescrições. Entre outros motivos, a principal queixa apontada pelos estudantes foi a falta de explicações na contagem de unidades curriculares (ECTS), que estava a ser contabilizada na sua globalidade, sobretudo no caso dos mestrados integrados. Como explicita o provedor do estudante, Rogério Leal, “as pessoas dos mestrados integrados não tinham percebido que a lei das prescrições funcionava relativamente às licenciaturas, pensando que podiam fazer cadeiras do quarto ou do quinto ano e que essas contavam para a contagem total de ECTS para efeitos de prescrição e não contam”. Estes erros de cálculo aconteciam também com o Inforestudante, o que Rogério Leal classifica como um “erro da parte da universidade”. Desta forma, os estudantes conselheiros, concertados com o senador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, núcleos de estudantes do Polo II e ainda Direção-geral da Associação Académica de Coimbra, tomaram a iniciativa de pedir ao reitor da Universidade de Coimbra mais um ano de transição para o novo regulamento. Depois de um ‘feedback’ positivo da parte do reitor e do parecer positivo do Senado, o processo encontra-se a cumprir os trâmites legais de um mês de discussão pública. Ainda assim, o representante dos estudantes do primeiro e segundo ciclos no Conselho Geral (CG), Luís Rodri-
Os estudantes do Conselho Geral da UC pediram ao reitor mais um ano de transição para o Regulamento de Prescrições gues, acredita que “os passos críticos já foram ultrapassados”. “No caso das licenciaturas não há nenhum impacto porque as unidades curriculares tinham sido calculadas, não houve nenhuma alteração. O processo fica exatamente como estava definido.” É desta forma que a vice-reitora para a Pedagogia, Madalena Alarcão, clarifica as alterações que advêm do pedido dos estudantes conselheiros. Assim, para a vice-reitora, a “única diferença que haverá é que para este ano ainda será feito o cálculo com a totalidade dos ECTS no caso dos mestrados integrados”. Luís Rodrigues sublinha que mais um ano de transição “não significa que os alunos de licenciatura não vão prescrever”, mas sim que “se um aluno prescrevesse com o novo regulamento - e não prescrevesse no regulamento anterior - não vai prescrever”. “É só isso que signifi-
ca a norma de transição”, assevera. E o estudante conselheiro conclui: “aquele aluno que prescrevia com o novo regulamento e que prescrevia com o anterior prescreve na mesma”.
Acompanhamento do estudante
Para combater o insucesso escolar de estudantes como estes, Madalena Alarcão sugere a possibilidade de um acompanhamento inicial do percurso académico: “sendo um estudante de risco do ponto de vista de prescrição, pode ser de alguma forma apoiado no sentido de se perceber qual a razão para que este risco exista”. A vice-reitora insiste nesta prática ao invés da ilusão que pode ser criado nos alunos “com mais dois ou três anos de transição” do regime de prescrições. No entanto, e já depois do Jornal A CABRA ter noticiado em novem-
bro de 2012 que “dois mil alunos correm risco de prescrever no próximo ano”, a situação ganhou novos contornos. Como explica Madalena Alarcão, “foi visível que muitos estudantes este ano recuperaram muitas das cadeiras em atraso, houve um esforço bastante grande nalguns casos e muito bem sucedido noutros de realizarem essas unidades curriculares”. Ainda assim, a vice-reitora relembra que há ainda situações em que “o aluno está inscrito mas não faz rigorosamente nada, nem sequer se apresenta a avaliação”. Quando questionado se nos últimos tempos as queixas chegadas ao gabinete do provedor de estudante sobre o regime de prescrições foram muitas, Rogério Leal responde: “ultimamente não”. Porém, nos meses de outubro e novembro do ano passado os pedidos de ajuda foram bastantes. Também em alguns cursos se nota
mais incisão do problema, como é o caso dos mestrados integrados, sobretudo no caso das engenharias do Polo II, como elucida o provedor do estudante.
Um ano é suficiente?
Para o representante dos estudantes do primeiro e segundo ciclos no CG, José Dias, este ano a mais de transição serve para que “toda a comunidade universitária tenha conhecimento de todas as alíneas [do regulamento] e para que se possam reunir as condições para no próximo ano letivo o regulamento entrar na sua plenitude”. Opinião partilhada pelo representante dos estudantes do terceiro ciclo no CG, Nelson Coelho: “os estudantes para o ano já saberão e já terão o Inforestudante preparado para dar informação fidedigna para que não comprometam o seu percurso por um erro”.
Cancelamento do Ciências sem Fronteiras afeta contas da UC O cancelamento do programa de mobilidade Ciências sem Fronteiras (CsF) em Portugal, anunciado pelo governo brasileiro, pode prejudicar as contas da UC Ana Morais Talvez devido à proximidade cultural, o Brasil e os estudantes brasileiros em Portugal são cenários bem frequentes. Intercâmbios e programas de mobilidade que promovam o desenvolvimento científico apresentam-se cada
vez em maior número e para os mais diversos destinos. Segundo dados do Ministério de Educação e Ciência (MEC), estão 7 mil alunos brasileiros a estudar em Portugal. Contudo, uma decisão do governo brasileiro, relativa a um dos programas de mobilidade existentes entre Portugal e Brasil, veio abalar estes números. A suspensão temporária do programa Ciência sem Fronteiras em Portugal, responsável por trazer até às universidades portuguesas cerca de 3 mil estudantes brasileiros (dados do MEC), vem agora impedir, por tempo indeterminado, que esta mobilidade continue. Desta forma, a Universidade de Coimbra (UC), sendo a universidade portuguesa com mais estu-
dantes brasileiros, vai também ser afetada. Em novembro de 2012, em entrevista ao Jornal A CABRA, o reitor, João Gabriel Silva, garantia: “este ano letivo estão a estudar na UC quase mil bolseiros do governo brasileiro”. Nas contas do reitor, mil alunos a pagar mil euros “dá um milhão de euros num ano”, o que se traduz num “afluxo adicional de dinheiro relevante” para a UC. Assim, com esta suspensão, as contas da UC vão ser abaladas. Porém, o vice-reitor para as Relações Internacionais, Joaquim Ramos de Carvalho, preferindo não responder a entrevistas para já, garante que “neste momento decorrem ainda interações entre o governo português e o governo
brasileiro para clarificar a situação das bolsas CsF”. Nomeadamente qual o tipo de bolseiros envolvidos e a duração da suspensão, ao que acresce que a UC não recebeu ainda qualquer comunicação oficial sobre esta questão. Também o MEC, em comunicado, ressalva que “o governo português está em contacto com o governo brasileiro sobre o futuro do CSF”. Uma das justificações dadas pelo primeiro-ministro brasileiro da Educação, Aloizio Mercadante, para esta suspensão foi a necessidade de aprendizagem de outro idioma que não o português. Justificação que não é válida para Maira Correia, estudante de Engenharia Informática, ao abrigo do CsF: “o motivo de intercâmbio
não é só aprender uma nova língua, é trabalhar na área noutro país e é todo o conhecimento que se ganha”. Sem saber deste cancelamento, anunciado pelo governo brasileiro a 24 de abril, Maira mostra-se “surpresa”. Também ao abrigo do CsF, Ethiane Mezadri, estudante de Engenharia Química, considera que “Portugal vai perder bastante”. Contudo, acredita que esta suspensão não vai afetar as relações entre os dois países. A estudar Jornalismo com a bolsa CsF, Carol Santanta, sugere que “poderia ser feita uma diminuição do número de vagas em Portugal para haver um maior equilíbrio no número de ofertas destas bolsas pelo mundo”.
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CULTURA arquivo
arte e universidade
Universidade, madrinha da cultura conimbricense A Universidade de Coimbra (UC), sendo uma referência que tantas vezes se confunde com a própria cidade, é responsável não só pelo estudo das várias artes como também se torna um dos elementos mais dinâmicos da própria atividade artística e cultural de Coimbra. Por Daniel Alves da Silva
A
ligação entre a arte e a universidade “tem vindo a crescer ao longo dos últimos anos”. Quem o diz é o diretor do Teatro Académico de Gil Vicente, Fernando Matos Oliveira, ressalvando que as artes têm hoje “presenças muito diferenciadas nas universidades”. “Começou por ser uma relação com os textos escritos”, explica o diretor, referindo-se à literatura e à poesia. Hoje é já uma “relação plena”, que inclui todas as práticas artísticas, como os estudos performativos, num trajeto de aceitação e legitimação destas práticas artísticas que se iniciou entre a I Guerra Mundial e o fim do século XX. Mas hoje, a universidade não se limita apenas ao estudo e reflexão sobre as artes. “A Universidade não é um mero lugar onde se pode estudar arte ou onde a arte pode estar”, refere o diretor do Colégio das Artes e também artista, António Olaio. Torna-se necessário reconhecer a importância no “sentido interpelador” e de “estímulo a outros horizontes de conhecimento”, já que quando os artistas fazem arte, estão também a exercer a “capacidade da sua mente poder ser usada com novos horizontes”, justifica o director do Colégio das Artes. A presença de cada vez mais artistas a lecionar e/ ou investigar e a abertura de cursos no âmbito das artes performativas, “não estritamente nas faculdades de Belas-Artes”, veio aproximar as instituições de ensino das práticas artísticas, acrescenta Matos Oliveira, assumindo que a “relação entre a arte e a Universidade é muito longa mas que tem vindo a crescer e a intensificar-se ao longo dos séculos”.
“Efeito de rede”
Para além do ensino, dimensão fundamental da Universidade, esta assume-se também como produtora de eventos culturais. Existem duas
dimensões nesse papel, segundo a vice-reitora da UC para a Cultura e Comunicação, Clara Almeida Santos. “A primeira é enquanto entidade de acolhimento e co-organizadora” da atividade cultural. Por outro lado, é “promotora”, tendo tido um papel “dinamizador” dos agentes culturais locais. A UC é, portanto, “um agente cultural indispensável”, frisa a vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Maria José Azevedo. “Pela sua dimensão, é obrigatoriamente um grande agente cultural da cidade”, reitera ainda. O diretor do TAGV assume não conhecer cidades com a mesma dimensão em Portugal e no estrangeiro que apresentem uma diversidade cultural como Coimbra. “A escala da universidade também permite que alguns institutos e centros de investigação, associações complementem” a programação existente, constata Matos Oliveira. O Centro de Documentação 25 de Abril, o Centro de Estudos Sociais e o Jardim Botânico, são alguns dos elementos ligados à UC que também apresentam atividades, e alguns deles “querem ser um parceiro também na programação cultural”, do TAGV. “Há um efeito de rede que se tem tornado mais dialogante em Coimbra”, que também se alastra a outras entidades não universitárias que operam na atividade artística e cultural da cidade.
O impacto da UC
Referindo-se a parcerias estabelecidas com outras entidades, Clara Almeida Santos refere que são os próprios grupos que muitas vezes propõem. “Não pode estar cada um para seu lado a trabalhar”, uma norma que pauta o panorama cultural conimbricense. “E não sendo algumas vezes possível o apoio financeiro, há outras modalidades; o
Para além do ensino a Universidade de Coimbra assume-se também como produtora de eventos culturais “género de coisas que não passam por dinheiro diretamente, mas por uma colaboração”, logística ou de divulgação: como o piano que se encontra no Salão Brazil, cedido a esse espaço num exemplo das várias parcerias que a UC apresenta. Dado o seu peso histórico houve, durante um tempo, “alguma resistência a essa carga fortíssima da universidade”, explica António Olaio, “como se fosse uma espécie de mal que cegava outras visões da cidade”. O diretor do Colégio das Artes acredita que já se passou essa fase, conseguindo-se “ler a cidade plural, com todas as relações”, entre
as quais aquela que estabelece com a universidade.
“Respira-se o ar da própria cidade”
Para Olaio, qualquer faculdade, departamento ou unidade orgânica “tem que ter a consciência da sua dimensão urbana, não vive independente do lugar onde está”. E menciona o próprio Colégio das Artes, que apesar de não pensar em termos locais, só obtém “uma dimensão interessante e só passa a fronteira da cidade se tiver uma relação com ela própria”. Numa cidade tão umbilicalmente
ligada à sua universidade, torna-se difícil vislumbrar cenários sem a presença dessa mesma instituição. Ainda assim, o diretor do Colégio das Artes não imagina que a vida cultural fosse inexistente: “de certeza que outras formas de expressão encontrariam o seu caminho”. Mas nesta realidade, em que a “universidade ocupa muito desse espaço”, não pode ser visto como uma “fatalidade ou como um domínio excessivo”, remata. “Não é uma questão de hegemonia nem de luta por protagonismos”, indica Matos Oliveira. “É uma consequência da presença da UC” na cidade, conclui.
Colégio das Artes reflete ligação entre “Arte e Universidade” O Colégio das Artes é no dia 30 de maio lugar do encontro “ Arte e Universidade”, com várias conferências e mesas redondas sobre as relações existentes entre estes dois conceitos. James Elkins (crítico e historiador de arte e professor na School of Art do Art Institute of Chicago), Agnaldo Farias (professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de S. Paulo, crítico de arte e curador do museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro entre 1998 e 2000 e director do museu de Arte Contemporânea da Universidade de S. Paulo entre 1990 e 1993) e Filomena Molder (escritora,filósofa e professora na Universidade Nova de Lisboa) são os oradores convidados que irão discursar antes do início de cada mesa. As conferências e as mesas de debate, constituídas por diversos artistas, críticos, curadores e professores dividem-se em três linhas. O director do Colégio das Artes, António Olaio, explica os vários painéis: “Investigar Arte” é “ter a arte como objectivo”, “Arte e Investigação” é “o paralelo entre outras investigações e a prática artística” e “Arte como Investigação” é “apontando a arte como investigação independentemente de ter enquadramento académico ou não” já que, acrescenta, o “próprio processo artístico é uma investigação” por si. O director do Colégio das Artes conclui referindo que o desejo foi de “tentar criar condições para que a discussão seja rica”, e que seja “eventualmente contraditória, com perplexidades e que não esteja a antecipar conclusões”, remata. O evento tem o preço de 10 euros para estudantes e 25 para o público em geral.
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desporto
Basquetebol
85 anos de superação
arquivo
No dia 25, a Secção de Basquetebol completa 85 anos de história. A equipa espera fechar as comemorações com a chave de ouro: vencer o Benfica em casa na terceira partida dos finais da Liga. Apesar das restrições económicas, a equipa tem vindo a ultrapassar todas as expetativas. Por Camila Correia e Filipe Furtado
O
Benfica chega a Coimbra em vantagem no próximo fim-de-semana para disputar o terceiro jogo do ‘play-off’ da final do Campeonato da Liga Portuguesa de Basquetebol (LPB). Depois de um jogo muito renhido entre a formação da Académica e as águias (69-67), o segundo encontro esteve sob controlo dos encarnados desde o início. Os 31 pontos de Lace Dunn, os 16 de Frederick Gentry e os 12 ressaltos de Betinho Gomes justificaram o parcial de 9462. Do lado dos estudantes, o reforço polaco Szymon Lukasiak foi o melhor marcador (21 pontos.), seguido de João Balseiro com 16 pontos. O desgaste físico foi preponderante na derrota da formação de Coimbra, depois de três jogos em cinco dias, incluindo a deslocação à Madeira. Nos dois últimos jogos, o treinador da Académica, Norberto Alves, esteve ausente dos comandos da equipa. Hospitalizado no Funchal após o jogo frente ao CAB Madeira na última quarta-feira, o treinador está a recuperar de uma síndrome coronária aguda. Apesar de não ser o cenário ideal para a equipa, o capitão Fernando Sousa afirma que “o Noberto está a recuperar bem e a equipa respondeu à altura” e com a atitude que o técnico
espectaria. Na mesma altura em que se disputa a final do campeonato, a Secção Basquetebol da Associação Académica de Coimbra (SB/AAC) comemora os 85 anos do seu primeiro jogo oficial. Em 1928, a SB/AAC estreou-se na primeira jornada do primeiro Campeonato Regional de Coimbra, realizada a 22 de abril, contra a Associação Cristã de Estudantes. Os estudantes perderam por 39-08. A intenção do clube é celebrar o 85º aniversário no dia 25 de maio, junto daqueles que passaram pela Académica ao longo dos anos, desde atletas, diretores e amigos da secção. As comemorações terão início pelas 10h com um jogo amigável entre antigos atletas, no Campo Santa Cruz. De seguida, ao meio-dia, no edifício da AAC, haverá a inauguração de uma placa alusiva ao evento e um almoço antes do jogo.
Secção com dificuldades
No entanto, apesar do trajeto histórico da secção e dos bons resultados desportivos desta temporada, a Académica enfrenta um momento financeiro complicado. “A Académica tem a equipa mais barata dos últimos 10 anos, teve que se adaptar aos tempos”, con-
fessa o presidente da Secção de Basquetebol, Carlos Gonçalves. Segundo o responsável, o apoio do Departamento de Desporto da Câmara Municipal de Coimbra tem sido essencial para a manutenção do trabalho da secção.
Falta de espaço próprio
Neste contexto, um dos principais problemas do Basquetebol é a falta de pavilhão próprio, o que leva a equipa a pagar aluguer, desde janeiro, para treinar nos pavilhões de escolas. O Conselho Desportivo da AAC assumiu estas despesas só até ao mês de dezembro. Na visão do presidente, esta situação é impraticável em termos financeiros. Carlos Gonçalves também lança críticas à DG/AAC: “a Secção de Basquetebol deve ser a única secção de desporto coletivo que não tem nenhum dos pavilhões entregues à AAC e isso não compreendo.” A falta de espaço próprio impede a realização de iniciativas da secção, a possibilidade de captar receitas e prejudica a formação de identidade dentro da Secção de Basquetebol. “Passamos meses sem ver algumas equipas, porque cada um treina no seu sitio e é muito complicado encontrarmo-nos”, justifica Carlos Gonçalves. Outro aspeto agravante trata-se do incumprimento do apoio
financeiro à secção por arte de alguns patrocinadores. Apesar da secundarização da transmissão televisiva dos jogos da modalidade, este ano, a Federação Portuguesa de Basquetebol introduziu as transmissões obrigatórias da Liga, através de ‘livestream’. Não é o mesmo tipo de transmissão, mas os clubes também não se adaptaram para captar patrocínios pela nova plataforma. Neste aspeto, o presidente é direto: “é um problema que tem que se dar a volta muito rapidamente ou o basquetebol pode atrofiar ainda mais”. Com um dos orçamentos mais baixos dos últimos anos, a equipa sénior masculina tem superado todas as expetativas. Durante a época, a Académica marcou presença nas finais da SuperTaça, Taça Hugo dos Santos, Taça da Liga e, agora, na final do campeonato. “Há muitos anos que não faziam um campeonato tão bom
como este”, elogia a antiga jogadora, Carmo Rebelo, que espera que a equipa dos estudantes continue a ser um “grande baluarte do basquetebol nacional.” Os atletas da Académica têm sido convocados para seleções distritais e estágios de observação da seleção nacional. O capitão da equipa, Fernando Sousa, ingressou na Académica em 1988. Com mais de dois terços da sua vida a envergar a camisola da Briosa, o número 9 diz que tem sido uma “honra” e que fará sempre parte da sua identidade. Ao Benfica basta mais uma vitória nos ‘play-off’s’ para reafirmar o título, mas o capitão da Académica é taxativo: “para nós, é um jogo de vida ou morte, e a pressão que vamos sentir vai ser muito positiva para termos o melhor resultado possível”. No dia 25 de maio joga-se a terceira jornada da final, às 16h, no Pavilhão Multidesportos Mário Mexia.
As recentes conquistas da secção
• Campeões distritais Sub-16 feminino, • Campeões distritais Sub-18 Masculino • 20 atletas convocados para seleções distritais • Daniel Relvão convocado para seleção nacional Sub-18 • Projeto de inclusão Trissomia 21
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cidade
Uma semana de prevenção rodoviária Coimbra “Capital Jovem da Segurança Rodoviária” traz de 31 de maio a 7 de junho várias atividades que visam a prevenção nas estradas portuguesas João Valadão Situada no centro de Portugal e ocupada por milhares de jovens que nela circulam diariamente, Coimbra foi a cidade escolhida para ser a “Capital Jovem da Segurança Rodoviária”. O responsável da revista Fórum Estudante, Jorge Vicente, reconhece que a realização do evento resulta de uma “conjunção de esforços bastante profícua”, traduzidas numa semana de variadas atividades, que vão para além do dia 7 de junho, entre outras que já tiveram o seu início. Como exemplo, Jorge Vicente destaca a simulação de acidentes rodoviários, um
ato que pretende dar a conhecer os perigos e as medidas de socorrismo a tomar em situações graves e complexas. No que toca à comunidade estudantil, detentora do maior número da população jovem de Coimbra, o destaque dá-se na concretização de uma campanha de sensibilização para os perigos da prática da condução associada ao consumo de álcool, numa coorganização do Automóvel Clube de Portugal (ACP) e da Associação Académica de Coimbra. A responsável do ACP, Joana Mello, não esconde o desejo de um “forte impacto” da campanha e espera o seu alargamento a todo o país. Envolvido em várias atividades, o ACP dá também oportunidade aos mais jovens de terem um primeiro contacto com o mundo automóvel. Joana Mello esclarece que o ACP, em conjunto com a Escola de Condução do ACP, irá promover uma aula de condução para jovens entre os 14 e os 17 anos. Para além das ações de sensibilização junto do público universi-
tário, as atividades decorrem também junto dos alunos do ensino secundário, básico e primário, com intervenções da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Polícia de Segurança Pública. “Serão ações de sensibilização teórica, efetuadas em sala de aula”, explica o capitão da GNR, Romeu Martins. Para o militar, a importância da iniciativa prende-se com o alto nível de sinistralidade rodoviária em Portugal. Contudo, apesar do panorama preocupante a nível nacional, o militar não acredita que a insegurança rodoviária apresente uma tendência crescente no distrito de Coimbra.
Os erros de uma inconsciência
Joana Mello acredita que o número de incidentes rodoviários nas faixas etárias mais novas se deve a um misto de comportamentos incorretos e a uma falta de intervenção por parte das forças policiais. “Os jovens quando tiram a carta gostam de velocidade, acham que nunca lhes acontece nada e não têm cons-
ciência do risco e do perigo”, alerta a responsável do ACP. Já Jorge Vicente reconhece a “facilidade” com que os jovens cometem “exageros” de forma involuntária. O responsável do ACP valoriza, no entanto, o trabalho das forças policiais em ações de sensibilização: “basta recordar o seu papel ao longo dos anos, apesar de tudo, tem havido um grande controlo do processo.”
Uma campanha para todos
Sobre os resultados do evento, Jorge Vicente comenta que a expectativa é que os jovens, cada vez mais, possam ficar sensibilizados para “a responsabilidade que é a questão rodoviária”. Para o responsável, é necessário que os jovens tenham consciência da responsabilidade do processo de mobilização da cidade, tanto condutores, como peões. “Cada vez mais é fundamental que os jovens saibam quais são as medidas a tomar” sempre que conduzem, adianta o responsável da Fórum Estudante.
Apesar do público-alvo ser os jovens, o evento não se esgota nessa faixa etária, na medida em que muitas das atividades se destinam à população em geral. Jorge Vicente adverte para as atividades destinadas também aos mais idosos: “acreditamos que a partir da juventude conseguimos envolver toda a sociedade”. O responsável observa que, para além da sensibilização para com os mais jovens, este evento tem também como objetivo mudar atitudes menos corretas que estão vincadas nas faixas etárias superiores. A ser realizada entre os próximos dias 30 de maio e 7 de junho, a atividade resulta de um esforço conjunto da Câmara Municipal de Coimbra e da Fórum Estudante, com o envolvimento de um vasto leque de parceiros locais. Para além de Coimbra, não está agendado nenhum alargamento a outra cidade do país. Jorge Vicente realça que este é um evento “para Coimbra” e espera que o seu sucesso contribua para uma nova edição em 2014. Catarina carvalho
Artesãos e livreiros partilham mais uma vez as bancas Apresentadas numa nova realização conjunta, a Feira do Livro e a Feira de Artesanato trazem às margens do Mondego mais de duas centenas de expositores João Valadão A ocuparem um espaço entre o Parque Doutor Manuel Braga e o Parque Verde do Mondego, a
Feira do Livro e a Feira de Artesanato de Coimbra trazem, de 24 de maio a 2 de junho, um vasto conjunto de atividades culturais e expositores de vários pontos do país. As edições contam, pela segunda vez, com uma organização conjunta. A vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, Maria José Azevedo, explica que esta foi uma “aposta ganha” no ano anterior e que se apresenta como um evento socioeconómico e cultural da “maior importância” para a cidade. Segundo Maria José Azevedo,
as feiras apresentam no seu conjunto um total de mais de duas centenas de expositores. A realizar a décima terceira edição, a Feira do Artesanato conta com a animação de um variado programa de lazer, que integra um conjunto diversificado de grupos musicais. Para além dos naturais lançamentos de livros, a agenda cultural inclui a participação de diversas turmas de escolas do ensino básico e secundário da cidade, que terão a oportunidade de demonstrar talentos na área de declamação em língua portugue-
sa, do teatro ou da dança. Para a responsável da editora Alma Azul, Elsa Ligeiro, a participação dos alunos e professores de português nas feiras de livros é uma mais-valia. “Os professores podem chamar à atenção para autores desconhecidos dos alunos, mas estruturantes na literatura portuguesa”, ressalva a responsável. A Feira do Livro, que conta com uma vasta participação das várias editoras e livrarias de Coimbra, tem também no seu conjunto de expositores a presença de vários alfarrabistas. “É um conjunto a
nível nacional, que traz tesouros de primeiras edições de autores consagrados”, explica Maria José Azevedo. Por outro lado, Elsa Ligeiro, que não desvaloriza a presença da figura do alfarrabista, afirma que a feira “não pode ser feita de alfarrabistas”. A responsável da editora Alma Azul defende uma maior modernização da feira, com uma aposta nas novas tecnologias e na abertura a outras artes. “É preciso conciliar as novas tecnologias com a edição em papel e receber o que é novo”, sublinha Elsa Ligeiro.
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ciência & tecnologia
Resposta pioneira ao trauma roberto mortágua
Surge, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, o primeiro espaço de prevenção e tratamento do trauma psicogénico em Portugal Juliana Pereira Carolina Varela Fruto de uma ação conjunta entre o Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC), o Grupo de Violência e o Hospital Sobral Cid, à qual se associaram inúmeras instituições, nasce, com data prevista para 1 de junho, o Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico. O Centro, que vai ter espaço nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), é o primeiro do género a ser desenvolvido em Portugal. Durante a cerimónia de assinatura do protocolo que vincula a iniciativa, o diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Joaquim Murta, frisa a importância “deste tipo de iniciativas de diferenciação de hospitais”. “Tentar dar resposta a um conjunto de situações traumáticas que depois vêm a repercutir-se na saúde mental e física das pessoas” é o que norteia o projeto, não hesita o diretor do serviço de psiquiatria do CHUC, António Reis Marques. Os dados da Organização Mundial de Saúde revelam que mais de cinco milhões de pessoas morrem a cada ano como resultado de algum tipo de trauma. Segundo o estudo do psiquiatra Afonso de Albuquerque, cerca de 75 por cento da população portuguesa esteve exposta a pelo menos uma situação traumática e 43,5 por cento a mais de uma. A necessidade
O atendimento aos pacientes vai funcionar de forma a garantir uma resposta rápida - no espaço de 48 horas - aos casos mais urgentes, num regime de continuidade dos cuidados e com espaço para a personalização. “Numa fase inicial, as pessoas vão entrar, sobretudo, vindas do CHUC, do INEM e do Grupo de Violência. Vamos construindo a resposta gradualmente”, ressalta o coordenador.
Casos específicos
As sequelas resultantes de algum tipo de trauma são uma das principais causas de morte entre os 15 e os 44 anos de responder às consequências traumáticas de situações como acidentes de viação, violência doméstica e sexual, agressão, desastres naturais, doenças graves, guerras e demais situações assume um caráter de urgência.
Estrutura e funcionamento
Entre psiquiatras, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais compõe-se a equipa que vai dar rosto ao
atendimento nos HUC. Ainda assim, a equipa estende-se por 11 instituições, numa lógica de cooperação. A formação dos profissionais merece espaço na fase de arranque da iniciativa. O coordenador do Centro, João Redondo, alerta para a existência de “um conjunto de patologias que, não tendo a dimensão [do stress pós-traumático], são recorrentes e incapacitam [as pessoas], e ficam [sem resposta] pelos serviços”. Prevenir e conhecer a realidade da
comunidade são duas das diretrizes de base do projeto. Nas palavras de João Redondo, surge a premissa que os conduz: “como é que junto das pessoas que estão em sofrimento eu posso potenciar os fatores protetores e diminuir ou anular os fatores de risco?”. O coordenador propõe um trabalho a três níveis – “a ideia é trabalhar com a pessoa; com a família da pessoa; com a pessoa e com a família [em conjunto]; e com a pessoa, a família e a comunidade”.
As crianças são o grupo mais suscetível às repercussões originadas por experiências de trauma. “São pessoas em desenvolvimento, quer do ponto de vista psicológico, quer do ponto de vista físico”, lembra João Redondo. De acordo com o responsável do Centro, importa “que as pessoas saibam que respostas podem encontrar e assim garantir-lhes qualidade de vida”. Fatores como o agravamento do desemprego, do abandono escolar e das dificuldades económicas são alguns dos problemas sociais que a crise, que hoje assalta o mundo, arrasta. Também eles têm expressão na eventual deterioração de um quadro clínico traumático. O presidente do CHUC, José Martins Nunes, assegura que “vivemos momentos muito difíceis na sociedade portuguesa que agravam o trauma”. “Entendemos que tínhamos uma responsabilidade nesta matéria e com estas instituições conseguimos criar um espírito de entreajuda para a cidade”, garante. João Redondo deixa o apelo: “falamos de uma ideia de cidadania, onde todos temos de olhar uns pelos outros. As pessoas hoje estão cada vez mais isoladas, todos somos corresponsáveis e participantes na mudança”.
Dieta mediterrânica: um exemplo a seguir Aliar uma alimentação saudável a uma prática frequente de exercício físico são duas das premissas na senda de um coração saudável Joel Saraiva Carolina Varela A rota para um coração saudável parece estar traçada há já algum tempo. No mês em que se celebra o coração, a alimentação merece destaque. A par de uma atividade física adequada, as escolhas alimentares regradas são as premissas que os especialistas da área apontam como fatores de sucesso. A dieta mediterrânica preenche todos os requisitos de uma alimentação equilibrada. O presidente da delegação do Centro da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Polybio Serra e Silva, prefere cha-
mar-lhe “comportamento mediterrânico”. Adverte que não se trata apenas do que comemos, mas também do comportamento associado. “Na base da pirâmide temos uma série de copos de água, indivíduos a praticar atividade física e outros sentados à volta de uma mesa”, continua o médico, que não hesita ao afirmar que “a sesta é o que torna a dieta mediterrânica diferente de todas as outras”. A nutricionista dos Serviços Médicos Universitários, Paula Cristina, explica que “uma dieta equilibrada deve conter proteínas, hidratos de carbono, lípidos, minerais e vitaminas na quantidade adequada”. A uma alimentação saudável, importa associar a prática de atividade física. Polybio Serra e Silva ressalta que “com 30 minutos de marcha já se faz a prevenção das doenças cardiovasculares, se chegar aos 40 minutos começa a fazer um certo emagrecimento”. O ritmo acelerado de hoje deixou cair no esquecimento alguns
dos hábitos mais característicos da dieta mediterrânica e, simultaneamente, importou costumes alimentares de outras culturas, considerados pouco saudáveis. “Hoje, estudantes, adultos e crianças comem muito ‘fast food’”, não hesita Paula Cristina. Com o passar do tempo, os velhos hábitos do convívio em torno da mesa têm vindo a perder-se. A crise financeira é uma das mais frequentes justificações para a escolha de alimentos com baixo teor nutritivo. A especialista aponta o exemplo da frequente escolha de refrigerantes prejudiciais à saúde, quando “custa muito menos comprar duas laranjas e fazer um sumo natural, que é antioxidante e facilitador da absorção de ferro”.
Saúde em risco
Associada a uma alimentação desregrada, surge uma panóplia de doenças mais frequentes. Destacam-se a diabetes, a obesidade, a hipertensão-arterial e o enfarte do
miocárdio. Num contexto de graves ameaças à saúde, a prevenção assume um papel preponderante. É em casa e nas escolas que deve começar a consciencialização dos mais jovens. “A educação é fundamental, os pais são primordiais e, na escola, os professores devem educar”, frisa a nutricionista. “Cada vez mais, com a crise, os nutricionistas não estão nas escolas, mas deviam estar para ensinar a comer”, alerta. Num mês em que as festas académicas tomam conta dos jovens de norte a sul do país, Paula Cristina acusa: “os estudantes bebem muito”. Ideia também partilhada pelo presidente da delegação do Centro da FPC. “Costumo falar em quatro fatores de risco: tabaco, sedentarismo, má alimentação e excesso de álcool”, observa. “Vejo aqui estudantes de 20 e tal anos que, depois de terem abusado das bebidas alcoólicas, têm valores hepáticos que nem os velhinhos têm”, lamenta a nutricionista, que
desfaz o mito: “eu sou novo, nada me acontece”.
Oferta da UC
As cantinas da Universidade de Coimbra (UC) representam uma escolha alimentar saudável e financeiramente sustentável. O responsável pelo Núcleo de Alimentação dos Serviços de Ação Social da UC (SASUC), Luís Lavrador, assegura que “as ementas são sempre escolhidas tendo em conta o equilíbrio nutricional, dentro das regras da alimentação racional e dietética e da pirâmide alimentar”. “Temos um veterinário na receção das mercadorias que controla todas as entradas, um bioquímico que procede às análises biológicas dos alimentos e nutricionistas”, ressalta o administrador dos SASUC, José Pires Marques. Também a preferência por cozidos, grelhados, assados e estufados parece ser uma preocupação na oferta alimentar, cujos níveis de gordura estão sujeitos a uma quantidade controlada.
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banco de tempo
Ampulheta de solidariedade
A moeda de troca é o tempo e todos os serviços valem o mesmo. Dá-se por prazer, recebe-se com satisfação e vice-versa. Há dez anos em Coimbra, o Banco de Tempo, mais do que ser uma plataforma de trocas que facilitam o quotidiano dos seus membros, tornou-se uma comunidade que promove a camaradagem intergeracional e a promoção dos valores de partilha. Por Rafaela Carvalho e Anna Charlotte Reis
U
ma explicação de física quântica vale exatamente o mesmo que uma caminhada. E uma caminhada pode muito bem ser uma aula de inglês ao ar livre. “Andamos, um grupo de cinco ou seis, às voltas no Parque Linear durante duas horas a falar inglês que parecemos malucas. É divertidíssimo, funciona e falamos sobre a vida”, conta Rute Castela, técnica de projetos do movimento internacional de mulheres Graal. Este grupo, de abrangência mundial foi o responsável pela criação em Portugal da iniciativa Banco de Tempo. A ideia principal é dar uma hora de tempo e em troca receber uma hora do tempo de alguém. “E todos os serviços valem o mesmo”, explica Rute Castela. Depois de ter comemorado este ano o décimo aniversário, a delegação do Banco de Tempo em Coimbra está hoje associada ao Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola nº 10 (CASPAE 10) e conta com cerca de 65 membros com idades variadas. “Um dos objetivos principais é estimular a construção de solidariedades intergeracionais”, afirma a técnica de projetos. Por isso mesmo, há jovens que dão horas do seu tempo para fazer companhia a idosos, e idosos que dão horas do seu tempo para ensinar a jovens as atividades tão singulares como ponto de Arraiolos. A nível mundial, a iniciativa do Banco de Tempo não é uma novidade. Há muito que se lançam espaços para a troca de serviços e até, por vezes, de bens materiais. Existem inclusive algumas iniciativas nas quais foi criada uma moeda de troca específica. No entanto, em Portugal o conceito não reuniu grande aceitação. Outro dos modelos implementado a nível internacional, e em especial nos Estados Unidos da América, é através de uma plataforma online onde as pessoas trocam serviços de forma virtual. “Elimina muito a parte do contacto humano que connosco tem de existir, porque um dos objetivos principais é estimular a noção de comunidade”, explica Rute Castela.
Confiança e vontade de receber
“Não queremos ninguém
rico aqui,
é uma espécie de comuna marxista”
Rute Castela
Para ser membro do projeto basta disponibilizar algumas horas e principalmente solicitar outras em troca. O processo de seleção de pessoas consiste numa entrevista, onde a coordenação solicita contactos de referência que possam estabelecer uma relação de confiança entre os membros. “Temos também reuniões de grupo onde acabamos por contactar e interagir com as pessoas, por isso a questão da confiança não se levanta”, atesta Verónica Ferreira, membro do grupo há cerca de um ano e meio. Para além desta questão, levanta-se um outro obstáculo junto dos membros. Segundo as responsáveis pelo Banco de Tempo, as pessoas chegam com a conceção de que é um projeto de voluntariado. Porém, a ideia é receber tanto quanto se dá. “As pessoas interessam-se bastante pelo conceito, mas depois têm muita dificuldade em pedir. Não queremos ninguém rico aqui, é uma espécie de comuna marxista”, refere Rute Castela. Verónica Ferreira conta que a sua intenção inicial era oferecer serviços que poderiam ser úteis a outras pessoas. “No entanto, na altura da inscrição foi me feita uma pergunta que é bastante difícil de responder: que serviços poderia eu requisitar? Uma pessoa tem que pensar no que necessita, no que poderá vir a necessitar e muitas vezes é difícil pedir ajuda”, declara. O funcionamento do Banco de Tempo é um pouco peculiar, uma vez que se assemelha a uma instituição financeira, onde se realizam transações económicas. A única diferença é que a moeda de troca é o tempo, contabilizado em cheques que descrevem o serviço realizado e as horas dedicadas aos mesmos. Tudo isto é arquivado e inserido num sistema informático. “O objetivo é que o extrato da conta esteja mais próximo do zero, tanto para as horas que se dá, como para as horas que se recebe”, explica Mónica Amaral, técnica responsável no CASPAE 10.
Ajudar por gosto
Aliar a satisfação à solidariedade é um dos desafios daqueles que se disponibilizam a doar um pouco dos seus dias em prol da comunidade. “Realmente o que interessa é que a pessoa preste um serviço que seja prazeroso para si”, enfatiza Mónica Amaral. Uma pessoa pode trabalhar a maior parte do seu dia em determinada atividade e mesmo assim gostar do que faz e disponibilizar as suas horas livres a desempenhar as mesmas funções. Entretanto, se essa pessoa quer realizar outras tarefas fora do seu horário de expediente poderá optar por fornecer outro tipo de tarefa. Entre as propostas de serviços do Banco de Tempo podem-se encontrar as mais diversas tarefas: acompanhamento de crianças e idosos, atividades recreativas, ajuda doméstica, jardinagem, bricolage, culinária, lavores, lições, secretariado e burocracia, entre outros. No entanto, Rute Varela conta que “há sempre coisas surpreendentes”. “Há pessoas que sabem coisas muito estranhas, nós temos na listagem de serviços coisas que eu ainda não sei bem o que são”, diz Rute Castela referindo-se a medicinas alternativas invulgares. Apoios informáticos, traduções e acompanhamento de idosos são algumas dos serviços mais requisitados. Até porque “as pessoas não precisam de pedir só para si, podem pedir para alguém da família ou para um amigo”, adianta Rute Castela.
A necessidade de ter tempo para dar
Embora Coimbra seja uma cidade com uma população de grande expressão universitária, o Banco de Tempo conta apenas com alguns
membros estudantis. A sua percentagem é reduzida uma vez que é uma população inconstante. “A vida de estudante não é fácil”, assevera Mónica Amaral, que considera necessário que os estudantes pensem “se o tempo que têm seria útil a alguém e se há pessoas que têm tempo para lhes dar um serviço que não terão de pagar”. Um dos problemas que a coordenação sente é o de manter uma colaboração regular com membros ativos. “Acontece tanto com estudantes como pessoas que trabalham gostarem muito da ideia, mas depois terem muito pouco tempo”, refere Rute Castela. A técnica de projetos admite que com esta iniciativa se pode “ganhar tempo objetivamente, mas obviamente também tem de ter tempo para dar com outras coisas”.
De pequenino se torce o pepino
Para os mais novos já existe, em outros locais do país, pequenas delegações denominadas “Mini Banco de Tempo” onde as crianças a nível escolar trocam entre si tarefas rotineiras, como ajudar os colegas a se adaptarem ao início das aulas. “As crianças quando entram na escola ficam um bocado assustadas e a ideia é que os mais velhos ajudem os mais novos”, desenvolve Mónica Amaral. Em Coimbra o projeto está em andamento com a implementação prevista, para já, de forma experimental. Com os miúdos não existe o mesmo rigor que se tem com os adultos. Não há troca de cheques, a contabilidade é feita em cartazes e as tarefas são contadas em minutos. “A ideia é criar nas crianças a noção de que dar e receber é importante e não custa nada, não custa dinheiro sequer”, remata a responsável do CASPAE 10.
CONTACTOs A delegação de Coimbra do Banco de Tempo está situada na sede do Centro de Apoio Social de Pais e Amigos da Escola nº10 (CASPAE 10) na Rua Cidade Santos, nº64, junto ao Monte Formoso. O horário de atendimento é entre as 17h00 e as 18h00, às segundas e quintas, e entre as 15h00 e as 16h30, às terças e quartas. Os responsáveis podem ser contactados através dos número 239705529 / 239090370 / 969830718 e do email bdtcoimbra@gmail. com.
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banco de tempo
ilustração por andreia prata
12 | a cabra | 21 de maio de 2013 | Terça-feira
país
RAFAELA CARVALHO
Gestão turva de águas limpas
A estratégia de sucessivos governos em Portugal no que ao serviço público de águas diz respeito tem sido tendencialmente “privatizadora”
A tentativa de promulgação da lei das águas recuperou o “fantasma” da privatização do setor. Movimentos de cidadãos unem-se contra as medidas governamentais que visam uma progressiva privatização dos serviços municipais de água a nível nacional. Por António Cardoso e Anna Charlotte Reis
A
água é um bem indispensável à vida, e como todo bem público, pressupõe-se um acesso livre a este recurso de forma a suprir as principais necessidades humanas. Porém, a recente tentativa do atual executivo governamental em promulgar a lei das águas visa reduzir para quatro empresas os 18 atuais sistemas multimunicipais de abastecimento de água e tratamento de esgotos. Esta estratégia, segundo o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, João Paulo Barbosa de Melo, em declarações à agência Lusa, configura “uma rutura com o edifício legislativo em vigor”, e permite ao poder central a possibilidade de decidir sem o acordo dos municípios. A lei tem gerado discórdia nos vários setores da sociedade e, nesse contexto, vários movimentos sociais veem a tentativa de fundir as atuais empresas multimunicipais como um passo para a privatização. O membro do movimento “Água é de todos”, Jorge Fael, acredita que “ já não estamos a falar de uma perspetiva de privatização, mas há uma estratégia claramente ‘privatizadora’ do serviço público de águas nacional”. No entanto, o presidente da Concelho de Administração das Águas de Coimbra, Marcelo Nuno Pereira, acredita que estes movimentos não dão soluções aos problemas reais, perdendo o foco na questão principal, que deveria ser um compromisso das empresas para com os utilizadores. “As ine-
ficiências que condicionam e que distorcem o funcionamento deste setor traduzem-se em mais custos para os consumidores”, afirma Marcelo Nuno, ao dizer que essa deveria ser a preocupação primordial destes grupos sociais.
Um problema de governos anteriores
A tentativa de privatização deste serviço não é um questão atual. No governo de António Guterres, em 2000, o então ministro do Ambiente, José Sócrates, tinha definido uma estratégia que previa a privatização das Águas de Portugal. “ Este é um processo que já vem de governos anteriores, contudo agora apenas tem um enfoque mais pesado porque uma das medidas que a ‘troika’ impõe, na lógica do pagamento do resgate, é a privatização de tudo o que é setor público”, ressalva Margarida Fonseca, membro da delegação de Coimbra do Movimento de Utentes de Serviço Público (MUSP). As implicações que surgem com a privatização das empresas de serviços públicos são previstas pelos movimentos, nomeadamente o aumento dos preços para os cidadãos. A concentração e privatização das empresas do setor poderia implicar uma uniformização dos preços, “só que nunca era uma uniformização por baixo”, adverte Margarida Fonseca, que acredita que a privatização visa essencialmente o lucro e uma perspetiva de mercado. Visão diferente é a do presiden-
te das Águas de Coimbra, que vê na privatização de algumas empresas municipais uma forma destas instituições concorrerem de forma livre, independentemente de serem privadas ou públicas. “Somos tão bons como qualquer privado, se nos derem essa possibilidade, tenho a certeza que vamos concorrer e vamos ganhar”, afiança Marcelo Nuno. Em contraponto, o membro da campanha “Água é de todos” alerta para “o estudo da própria associação empresarial do setor que confirma que a água é 30 por cento mais cara no caso da gestão privada e assevera essas mesmas consequências, com os exemplos da França e do Reino Unido, em que a gestão privada tem um peso significativo, e efeitos iguais nos consumidores. Pública ou privada, a questão que está em torno da água é a manutenção da sua qualidade. “Como os próprios relatórios elaborados pela entidade reguladora confirmam, o serviço público de água e saneamento em Portugal revela qualidade”, concorda Jorge Fael, referindo-se ao elevado nível de controlo da água distribuída em Portugal. Mas a principal preocupação deverá ser que este serviço continue a chegar a todas as pessoas. “A água é um bem público e é a base da vida e da sustentação do planeta e, portanto, dos seres vivos. Ela tem que ser pública onde quer que seja” , enfatiza Margarida Fonseca. com Ian Ezerin
rafaela carvalho
21 de maio de 2013 | Terça-feira | a
cabra | 13
mundo
Monarquia Europeias
Regimes sem implicações na crise
As monarquias europeias são parte integrante da história do continente e adaptaram-se às necessidades democráticas. Monarquia ‘versus’ República é cada vez mais um “duelo” premente em vários países europeus, sendo o fator económico o mais enfatizado. Por António Cardoso e João Martins
C
om séculos de existência, as monarquias europeias são ainda uma realidade. Na Europa demonstraram ao longo dos tempos ser capazes de acompanhar as tendências das políticas vigentes e construíram o seu estado-nação com base em ideais de democracia. Atualmente existem 12 monarquias, sendo a sua maioria constitucionais, ou seja, o monarca, apesar de chefe de Estado, não tem influênciadireta política sobre a governação do país. No entanto, no contexto de instabilidade europeia atual, a vigência desses regimes é posta em causa; as críticas partem, sobretudo, dos movimentos republicanos existentes nesses países. “Não há nada de útil nos regimes monárquicos, a única coisa que eles fazem é servir o interesse dos governos”, afirma o diretor-executivo da organização republicana inglesa “Republic”, Graham Smith. Diferente opinião tem o presidente da Causa Real Portuguesa, Luís Lavradio, que acredita que estes movimentos têm pouca força em termos representativos da população e optam por usar sempre a mesma retórica. Acrescenta que “os países monárquicos, tendo um chefe de Estado que caracteriza o seu próprio país, acaba por salvaguardar a sua independência de forma muito mais natural do que os outros”.
Elite menos nobiliárquica
Uma característica intrínseca às monarquias é o reconhecimento de títulos nobiliárquicos, que criam, de certa forma, uma elite social. Esta é apontada pelos movimentos republicanos como
FOTOMONTAGEM POR CATARINA CARVALHO
um dos principais fatores pouco democratizantes dos países subordinados a estes regimes. Porém, Luís Lavradio recorda que em França e na Alemanha, ambos regimes republicanos, também existem títulos de nobreza que são “reconhecidos como parte dos nomes dos cidadãos e não implicam um estatuto diferente dentro de um país”. As monarquias europeias tentam uma maior aproximação ao público e tendem a afastar a imagem de uma elite fechada em si própria. O professor de História Económica da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), António Rafael Amaro, admite que “os regimes monárquicos evoluíram muito e hoje aproximam-se bastante do público, através de casamentos fora da própria nobreza”.
Crise na Europa
A crise económica que afeta os Estados-membros da União Europeia poderia levantar algumas questões quanto à pertinência de determinados regimes, nomeadamente o monárquico. O ativista republicano Graham Smith admite que apesar das monarquias não terem efeitos diretos na crise económica, isso poderá ter algum peso em países como a Espanha. Todavia, “as monarquias desaparecerão graças à campanha que o povo fará contra elas”, assevera o inglês, numa referência aos países monárquicos do norte da Europa. Nas palavras do historiador da FEUC, “a crise atual nada tem a ver com a forma do regime”. Na sua opinião, a problemática é centrada em questões superficiais, que apresentam uma visão economicista do problema e onde
A instabilidade europeia põe em causa as monarquias, sobretudo pelos movimentos republicanos o fundamental deveria ser a forma como é construído o Estado-nação. A crise europeia é, “acima de tudo, financeira, económica, porventura cultural e até ética”, enfatiza Rafael Amaro. Os custos associados às representações das chefias de Estado é diferente em ambos os regimes. No parecer de Luís Lavradio, em Portugal, o Presidente da República não traz qualquer tipo de benefício económico. Baseando-
-se em estudos independentes, o presidente da Causa Real refere que “o valor do ‘branding’ da família real é claramente benéfico para o país, e isso numa república não existe”. De opinião distinta é Graham Smith, que considera que os regimes republicanos têm um menor custo associado com as representações estaduais. Contudo, “não é essa quantia que vai fazer grande diferença no orçamento público”, acrescenta.
Independentemente da pertinência ou não dos regimes europeus, o professor da FEUC lembra que deve ser exigido às chefias de Estado, neste contexto de crise, uma maior contenção dos seus comportamentos, quer em monarquias, quer nas repúblicas. Ainda assim, “a res publica é, sem dúvida, a defesa do bem comum, da boa governação do espaço público, que é igual para todos”, conclui.
Aldeias abandonadas criam oportunidades de negócio Despovoamento de áreas rurais em Espanha poderá ser solucionado pela venda de aldeias inteiras a investidores estrangeiros com preços de “saldo” Camila Correia Atualmente, por menos de 70 mil euros pode-se comprar uma aldeia inteira em algumas zonas rurais da Espanha. O potencial imobiliário de antigos povoamentos nas regiões da Galiza, Astúrias, Extremadura, Andaluzia e
Catalunha tem-se intensificado progressivamente nos últimos anos. Estas regiões têm despertado o interesse de investidores norte-americanos e do norte da Europa. Segundo o Instituto Nacional de Estatística Espanhol (INE), são quase 3 mil aldeias abandonadas em Espanha. No entanto, a maioria não pode ser vendida por não estar devidamente documentada (é desconhecida a área total, não há escritura ou não se conhecem os proprietários), apesar de se tratar de propriedades particulares. O portal aldeasabandonadas. com é responsável pela venda de aproximadamente 65 destas aldeias. Segundo Rafael Canales, porta-voz do portal, “o êxodo ru-
ral e a emigração foram um fator determinante” para as povoações ficarem desertas. Como eram maioritariamente habitadas por pessoas idosas, o abandono também é consequência de processos de herança não concluídos. No geral, os compradores representam empresários dispostos a realizar grandes investimenstos nas aldeias. A princípio, o objetivo das vendas era direcionado para a edificação de turismo rural e favorecer a construção de hotéis, mas atualmente são poucos os investidores que pertencem ao ramo da hotelaria. “Os empresários querem deixar as cidades e ir viver para as aldeias. Praticamente 80 por cento dos compradores querem aldeias para uso próprio”,
ressalva Rafael Canales. O porta-voz ainda atribui à crise europeia a presença marcante de investidores estrangeiros. “Trata-se de um reflexo da crise espanhola e da indisponibilidade dos bancos em conceder empréstimos”, afirma. A ocupação estrangeira é bem vista pelos moradores das aldeias vizinhas, principalmente sob o ponto de vista económico, uma vez que se “fixam famílias com filhos e dão uma nova alma a zonas que até então estavam débeis economicamente. É um processo de revitalização”, julga Canales. As oportunidades de negócio em Espanha são muitas e crescentes. Contudo, segundo o porta-voz, cada vez há mais em-
presários que lhes pedem aldeias em Portugal. “É um mercado que pretendemos expandir e tem muito potencial, pois, da mesma maneira que Espanha, Portugal tem muitas aldeias abandonadas”. O facto é que o país passou pelo mesmo problema da emigração e do êxodo rural que Espanha. Em Portugal também há propriedades à venda dessa forma, mas não por um valor tão desejável. Um exemplo disso é a aldeia alentejana do Pereiro, no Marvão, que está à venda há quase dois anos por 7 milhões de euros. Assim, zonas que estariam condenadas ao abandono, são reinventadas pelo empreendedorismo dos novos proprietários das suas casas. com António Cardoso
14 | a cabra | 21 de maio de 2013 | Terça-feira
cinema
artes
E
“AdoEssência Amor ” De Terrence Malick Com Ben Affleck Olga Kurylenko Javier Bardem 2013
Imagens que procuram história
ver
crítica de joão ribeiro
A
o lado de Nicolas Winding Refn, Quentin Tarantino é um puto medroso com as cuecas manchadas. Toda a violência pela qual Tarantino é tão agraciado e até mimado, não é mais do que uma gota de sangue quando comparada com os filmes de Refn. Sádico, Winding Refn é sádico, mas dizemo-lo com aquele silvar sinistro e aterrador que dá arrepios na espinha. O mesmo silvar com que Charlie Bronson - o melhor papel da carreira de Tom Hardy - presenteia uma plateia impávida perante uma loucura assoladora. É a viagem ao centro de uma mente criminosa, senhoras e senhores. Bronson auto-intitula-se o “prisioneiro mais violento do
m “A Essência do Amor”, Terrence Malick parece trazer-nos uma espécie de refugo do sublime “A Árvore da Vida” (2011). Do amor familiar e quase espiritual que marca o seu filme anterior, agora deparamo-nos com uma história banal, superficial e muito pouco consistente. Salva-se a técnica ímpar de Malick. Neil (Ben Affleck) e Marina (Olga Kurylenko) conhecem-se e vivem um idílio apaixonado em França, entre as margens do Sena e o Monte St. Michel, soberbamente captado pela câmara de Malick. Os dois vão para os EUA, para casa de Neil, que recebe também a filha de Marina. O que no início parecia um sonho depressa entra na depressão quotidiana e, como os vistos não duram para sempre, o casal vê-se obrigado a separar-se. Entretanto, reaparece na vida de Neil uma amiga de infância, Jane (Rachel McAdams). O resto do filme prossegue até ao fim como um
Reino Unido”, de tal forma que a rainha o manda libertar porque dá prejuízo tê-lo atrás das grades. Ainda assim “em comparação com a escumalha de múltiplos assassinos, violadores e pedófilos junto aos quais está preso, ele é praticamente um anjo”. Um anjo de bigode aprumado e punhos cerrados, mas capaz de sentir o peso de um coração partido. Bronson, na verdade, não faz mal a uma mosca. Reféns quere-os apenas como isco para uma briga. A cela não é mais do que um quarto de hotel. O prisioneiro mais violento do Reino Unido procura nada mais, nada menos do que atenção e quer, acima de tudo, ser famoso. Porém, “Bronson” não é apenas a história de um homem
agressivo. Winding Refn cria uma longa-metragem teatral de sequências magistrais que chegam a deixar o espectador com o estômago revolto perante as cenas mais asquerosas. “Bronson” é bizarro, talvez, mas nutrido de uma perversidade fantástica. Refn transporta para o grande ecrã o prisioneiro incompreensível a quem queremos tocar a alma e perceber do que é feita. Se a raiz do mal existe, é ali que a encontramos. Enquanto o realizador dinamarquês leva a Cannes o seu mais recente “Only God Forgives”, vale sempre a pena recordar a hedionda, mas verídica, história mais violenta do Reino Unido. RAFAELA CARVALHO
pingue-pongue entre Neil e os seus dois amores. Simultaneamente, a ação é pontuada pelas reflexões interiores de um padre (Javier Bardem) que perdeu de vista o seu Deus e a sua fé, mas que se mostram praticamente inócuas para a história. À pobreza do enredo junta-se a vulgaridade das personagens. Marina, que assume quase inteiramente o papel de narradora, é uma caricatura em si mesma. Ninguém ficará convencido da seriedade de uma personagem que passa duas horas aos saltinhos e gritinhos e a dançar contra a luz. Em Neil encontramos alguma daquela inquietação que nos remete, por exemplo, para a personagem de Brad Pitt em “A Árvore da Vida”, mas muito fica por explorar. Quanto às restantes, se algo de promissor poderia haver num padre que atravessa uma crise de fé, logo se perde no mar de trivialidades com que ele nos brinda. Mas Malick será sempre Malick.
filme
E isto significa, acima de tudo, que, não obstante o mau enredo e as péssimas personagens, poderemos contar com uma experiência imagética que vai para além do imediato. Cada cena, cada movimento de câmara, cada segundo de plano fixo é feito com a máxima intensidade e com uma carga artística a que poucos nos habituaram. Até agora, Terrence Malick havia feito generosos intervalos entre grandes filmes, portanto, a rodagem de “A Essência do Amor”, apenas dois anos após o enorme “A Árvore da Vida”, constitui uma surpresa. Com efeito, uma má surpresa. Uma realização soberba não pode salvar um mau argumento, que parece ter sido concebido numa urgência contraproducente em nome dos prazos e ciclos de Hollywood. Esperemos que seja esta a devida exceção à regra e que Malick regresse daqui a uns bons anos com uma obra-prima inolvidável em todos os sentidos.
“
Bronson”
De Nicolas Winding Refn editora
DVD Independente 2010
Artigo disponível na:
O anjo mais violento do Reino Unido
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feitas
ouvir
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ler
True Romance”
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omecemos por esclarecer e avisar: Charli XCX nasceu nos ano 90, criou-se durante Romance Adiado o ‘boom’ das ‘girls groups’, e como tal aprendeu a ‘rappar’ com Mel B das Spice Girls. Assim não a podemos levar a sério, quando não canta e diz umas palavras por cima duma batida. Ou então finjamos para esta crítica que o dito palavreado ritmado é opção estética e homenagem propositada a 1996. Com “True Romance”, a inglesa pretende inserir-se no núcleo de artistas que procuram criar uma pop inventiva, sem medo de usar a linguagem ‘mainstream’ que fora recolhendo ao longo da sua educação musical. “Set Me Free” , “Stay Away” ou De “Nuclear Seasons” poderiam muiCharli XCX to bem ter ‘airplay’ em qualquer ‘playlist’ de rádio nacional com amEditora bições de agradar a um grande púIAMSOUND blico. Está lá a cadência crescente, o refrão em plenos pulmões e o des2013 gosto amoroso de adolescente. Apesar disso, são as três muito bem construídas e com uma produção soberba de Ariel Rechshaid; pertencem à primeira parte do disco, mais orientada para a pop com influências “Kate Bushianas”, sombrias de tema e de sonoridade. A excepção acontece com “You ( ha ha ha)”, reinvenção de um tema de Gold Panda, e que serve como ‘teaser’ para a metade seguinte do disco, que se inicia com “Grins”. Produzida por Blood Diamonds, colaborador habitual de Grimes, abre a metade comandada pelo hip hop e preenchida por uma equipa de produção cheia de ‘beatmakers’. É nesta segunda parte que a música de Charli atinge os seus maiores altos e baixos. O supra referido rap, toma proporções embaraçosas quando Charli convida Brooke Candy (outra colaboradora de Grimes), em “Cloud Aura” para (tentar) ‘rappar’. O ‘flow’ roça a incompetência, e as rimas a ingenuidade de um miúdo de 10 anos. No entanto, é também nesta segunda parte que Charli se revela mais interessante. “How Can I” carrega o peso de um qualquer ‘beat’ digno do ‘flow’ de Asap Rocky e faria figura perto de outros registos de R’n’B mais recentes que utilizam a estética lo-fi para realçar a voz. Em “Look You Up” faz-nos lembrar Robyn em “Dancing on My Own”, e encerra o disco em jeito de promessa, já que apesar de o registo de estreia da inglesa não ser um tiro certeiro, deixa razões mais do que suficientes para que não a percamos de vista. Luís luzio
A espera, o desamparo e a solidão num lar de idosos
De Paco Roca Editora Bertrand 2013
jogar
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rido, doente de Alzheimer, ou Félix, que acha que ainda é militar. Entre estas personagens, surge Miguel, o colega de quarto de Emílio, pessoa mesquinha e cheia de energia que pautou toda a sua vida por se afastar de qualquer relação de afecto, por medo de a perder. É ele quem nos dá a visão mais seca do lar, da visível decadência, de, apesar da ternura, surgir sempre a velhice como qualidade limitadora, uma sensação de frustração permanente. Assim que o livro avança, também a doença de Emílio se vai desenvolvendo, surgindo sinais crescentes da sua deterioração mental. Perde-se o controlo. Perde-se a autonomia. Contudo, nessa luta para não perder a autonomia, surgem-nos também traços sublimes de alegria. Um encontro com os filhos, pequenas brincadeiras estouvadas ou uma tentativa de aventura são de puro encanto, numa banda desenhada que tão bem retrata cada momento, cada expressão facial, quer os breves sorrisos quer a vergonha de se envelhecer. Paco Roca, com este “Rugas”, retrata o envelhecimento sem grandes melodramas, próximo de um lar de idosos qualquer que encontremos por aí, numa luta de velhos contra a velhice, com um toque de ternura final só possível pelo olhar atento de Roca. joão gaspar
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Bioshock Infinite”
O entertainer que queria ser artista
guerra das cabras A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
Artigos disponíveis na:
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em-se observado um crescente interesse da arte pelo tema do envelhecimento e da sua decadência. Paco Roca, ilustrador de Valência, voltou-se para esse mesmo tema ao reparar que, com a idade, o seu pai era quase um reflexo do seu avô. Ao observar as rugas que surgiam no rosto do seu pai, assim como a ouvir histórias dos pais dos seus colegas que também sofriam da mesma transformação, Paco Roca decidiu recolher histórias sobre o processo de envelhecer e da batalha contra o mesmo. Assim surgiu “Rugas”, um livro de banda desenhada editado em 2007, que tem agora em 2013 a sua primeira edição em Portugal, um ano depois de ter sido adaptado para o cinema. “Rugas” fala de Emílio, um bancário reformado que é internado num lar de idosos. Sofre de Alzheimer. Resignado, Emílio encontra um lar onde as únicas actividades existentes são comer, dormir, tomar remédios e pouco mais que isso. Simples jogos ou actividades como o bingo ou a ginástica são de uma dureza e frustração atroz. Tudo o resto são tempos de espera. São-nos apresentadas diversas personagens, desde o locutor de rádio Juan, que já só consegue repetir as palavras dos outros, o casal Dolores e Modesto, em que a mulher cuida de forma meiga e paciente do seu ma-
Rugas”
Plataforma Disponíveis Xbox360 e PS3 Editora Take-Two Interactive 2013
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en Levine sempre foi o herdeiro da Looking Glass Studios que se mostrou mais habilidoso a aliar o apelo lúdico do desenho pro-jogador desse estúdio com vertentes estéticas e narrativas plenas em alusões às mais sofisticadas obras de FC. Este equilíbrio difícil entre “low” e “high-brow”encaixa que nem uma luva num meio “artístico”cuja condição sine qua non para qualquer valorização é a marca de entretenimento popular e acessível. Na sua essência, “Infinite” é isso mesmo: mais um FPS emesteróides, fantasia belicista hiper-violenta vista da perspetiva das miras das mais rocambolescasarmas e super-poderes... Isto é, matéria fértil para mais um título adolescente. Só que Levine conjuga esse jogo com um cenário delicioso: Columbia, a cidade nas nuvens que serve como a nova Rapture, é mais uma alegoria subversiva dos EUA, paródia do seu fundamentalismo político-religioso que nunca hesita em arrasar os mitos fundadores de um país erguido sobre a violência do colonialismo e do esclavagismo. É na viagem por esse glorioso espaço ficcional que o jogo se eleva, à medida que exploramos uma América tornada rêverie
futurista de Meliés, pintada num estilo barroco hiperbolizado até à quinta dimensão, sempre com a virtuosa mise-en-scéne que marcou “Bioshock”. Mas Levine quis ir mais longe, e teceu uma estória que além de elementos distópicos, abordando conceitos tão bizarros como a identidade e a volição humanas num multi-verso que permite viagens no tempo, dando um cheirinho a H.G. Wells ou P.K. Dick. Infelizmente, Levine não é nenhum erudito e trata de forma tacanha e superficial estas referências, resultando em algo mais próximo de“Lost” ou “Inception” do que propriamente de uma obra de Stanislaw Lem. Acima de tudo procura-se entreter as massas, e como esses padrões de gosto são tão baixos, esse facto torna a experiência vulgar e grosseira, impedindo-a de ser algo tão deslumbrante como ocasionalmente ambiciona. Levine também gostaria de fazer do seu espetáculo arte, e por muito que seja incapaz de o fazer, pelo menos proporciona entretenimento que tem algo a dizer sobre o mundo, com reflexões sobre temáticas tabus nos videojogos. E isso já vale qualquer coisa. rui craveirinha
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21 de maio de 2013 | Terça-feira
soltas Reflexos de um aquário
critic’arte
Uma caixa escura preenchida pelo colorido de 16 pessoas e um cadeirão vermelho. Uma criação coletiva do Curso de Iniciação 2012/2013 do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC). Um início infantil embalado pelo “mar enrola na areia”. Uma guerra entre peixes e tubarões que se desenrola. E no fundo, um aquário que não é mais do que uma metáfora da sociedade atual e das suas curiosas e questionáveis rotinas. Apenas com um elemento cénico - um cadeirão vermelho - marca presença durante toda a criação coletiva. Para além desta presença, toda a narrativa é desenvolvida através de diálogos e sobretudo das várias interações e variações de movimentos. Ora num registo calmo e suave, ora num registo apressado e atropelado, os peixes refletem a sociedade em que vivemos. Através de uma caricatura da rotina e dos ‘slogans’ triviais e publicitários que nos marcam, os habitantes deste aquário mostram como esta alienação nos torna seres obedientes e muitas vezes sem espírito crítico. As relações de poder que se estabelecem entre peixes e tubarões são ricas em simbolismos da atualidade e estendem-se a uma relação relativa à democracia e aos princípios éticos que vigoram. As desigualdades e injustiças que se notam entre os que de uma forma ou de outra exercem poder sobre os mais frágeis é notória em toda a peça, abordando-se mesmo conceitos como “herói” ou “guerra”. Ainda assim, a obediência ou não às normas parece ser uma das questões centrais da criação. Com a ânsia de se libertar de qualquer ideologia, os que permanecem no aquário deixam-se levar pela rotina e pela trivialidade, acabando por “secar” e desvanecer no chão da caixa negra. A luz que, de quando a quando, aparece para iluminar estes seres aquáticos, parece também tendenciosa, dando enfoque apenas a alguns acontecimentos em detrimento de outros detalhes. Por Ana Morais d.r.
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“Untraceable Patterns + A Praça + Story Case” Videodança TCSB • 21h30 Entrada livre
21 MAR
“Olha o palhaço no meio da rua” Teatro Rua Larga • 17h00 Entrada livre
23 MAI
“Tempestade sobre o Monte Branco” Cinema
Casa Municipal da Cultura 17h30 • Entrada livre
uma ideia para o ensino superior Cláudia Cavadas • Diretora do Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC A participação de toda a comunidade universitária contribuirá para uma Universidade melhor
N
este momento de crise, todos os elementos da comunidade académica têm que unir esforços, e devem assumir o seu papel de forma construtiva, com empenho e paixão para que a Universidade vá ainda mais longe. Nesta crónica gostaria de focar a vossa atenção para dois elementos da comunidade universitária que poderão contribuir para uma universidade mais forte: os estudantes de doutoramento (3º ciclo) e os investigadores doutorados sem vínculo direto à universidade (bolseiros de pós-doutoramento, investigadores de projetos, investigadores contratados pelos centros de investigação ou unidades orgânicas, investigadores FCT, investigadores do programa Ciência). Os estudantes de doutoramento são a força motriz na produção de novo conhecimento – da investigação. Os centros de investigação e a Universidade no seu todo deverão fornecer as melhores condições possíveis para o seu acolhimento e formação específica. Com o apoio do(s) orientador(es) científicos, estes estudantes deverão realizar a sua investigação e apresentá-la em reuniões científicas e produzir publicações científicas de elevada qualidade, sempre que possível, em revistas de elevado impacto na comunidade científica. E, o final do seu percurso culminará com a apresentação e discussão da tese de doutoramento. Para estes estudantes brilhantes e dedicados, os 3/4 anos que passam na universidade deveriam ser mais abrangentes e enriquecedores e, por outro lado, poderiam ainda contribuir mais para a instituição. A par-
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“Camerata Aberta” Música TAGV • 21h30 7€ C/Descontos
ticipação deste estudantes graduados na lecionação de aulas na universidade (nas licenciaturas ou mestrados integrados) deveria ser obrigatória e fazer parte da sua formação. Esta atividade desenvolvida, mesmo que curta (exemplo: 4 h/semestre), tornará o seu currículo mais competitivo, melhorará as suas competências de comunicação e favorece a integração na instituição e na sociedade. Esta não é uma ideia nova e é praticada em diversas universidades internacionalmente conceituadas. Como atrás referido, a comunidade de investigadores doutorados que realiza investigação no seio dos centros de investigação da universidade são outra peça fundamental para a manutenção e desenvolvimento da investigação científica. Na Universidade de Coimbra são cerca de 300 os investigadores doutorados e a sua integração como comunidade universitária de plenos direitos tem sido feita, na sua maioria, através do Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC. A Universidade necessita destes investiga-
dores para potenciar a investigação de qualidade mas deverá criar condições de acolhimento de modo ter capacidade de manter e atrair os melhores jovens/recém investigadores. Aqui apresento algumas ideias que a universidade poderá desenvolver que permitirão promover a participação, formação e integração na universidade dos jovens/ recém investigadores doutorados: acolher e apoiar iniciativas inovadoras propostas por estes; solicitar a sua participação pontual na lecionação de aulas na universidade; incentivar que organizem conferências e eventos científicos. E ainda, a universidade deveria promover a realização de seminários/workshops direcionados para estes investigadores, que permitem desenvolver e alargar as suas competências e competitividade: escrita de projetos de investigação ganhadores, apresentações orais de sucesso, comunicação com o público e com os ‘media’, oportunidades e desenvolvimento de ‘networking’, propriedade intelectual, inovação, etc. Em conclusão, uma maior integração e participação destes dois elementos da comunidade universitária contribuirá para uma Universidade mais eficaz, mais jovem, e melhor.
d.r.
cultura
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“III Laboratório de Criação Corpo em Manifesto” Oficina Casa da Esquina 11h00 às 20h00 • 25€
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cá
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“Esta televisão é sua” Cinema Ateneu • 22h00 Entrada Livre
29 30 e
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“Serpente” Teatro TCSB • 21h30 10€ C/Descontos
por
“Navalha na Carne”
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“Banjazz” Música TAGV • 15h00 3,5€
Teatro Tabacaria - OMT 22h00 • 5€
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“O Diabo, Provavelmente” Cinema Fila K • 21h30 1€ C/Descontos
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soltas
elevadores
micro-conto
Por Clara Pinto Correia
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stas coisas, regra geral, começam a desenhar-se logo no elevador. É um espaço pequeno, fechado, onde ficamos a uma distância física um do outro pouco mais que mínima, indutora do toque e do olhar mais intenso. Lá dentro, estamos numa espécie de cápsula de suspensão de toda a descrença, num mergulho de energia branca que nos faz sentirmo-nos capazes de mudar até o mundo. Sei que há colegas que gostam especialmente da situação ambígua que se cria quando entram com uma desconhecida atraente dentro de uma casa vazia na penumbra, só uma lâmpada pendurada por aqui e por ali e os estores corridos quase até ao fundo, uns móveis usados deixados em desalinho por cima da alcatifa, um espaço onde qualquer história nova parece tão desejável que se torna tentadora. Mas eu não. Quando ando durante vários dias seguidos de bairro em bairro com uma mulher que por qualquer razão começa a tornar-se apetecível, o meu momento de passar à acção é sempre o do elevador. A mãe dos meus três filhos não trabalha em imobiliária, e portanto não precisa de saber nada disto. Uma mulher sozinha que está a procurar comprar, vender ou alugar uma casa, está sempre nalguma encruzilhada particular da sua vida, onde vai dar o salto para a independência pela primeira vez ou vai mas é mudar de rumo de uma vez por todas. Isto dificilmente se imagina, mas são as mulheres quem pede a maior parte dos divórcios. São as mulheres quem realmente possui sentido de aventura. E também são as mulheres quem, nestas alturas específicas, está com frequência profundamente fragilizado – e, por conseguinte, disponível para receber carinho por parte de desconhecidos
como nós. É preciso não esquecer que estamos treinados, ao ponto de o fazermos por mero instinto, para sermos solícitos e convincentes. Somos simpáticos por profissão, apenas porque aprendemos depressa que sem simpatia não facturamos. Muitos de nós já perceberam que, se o cliente em perspectiva é uma mulher, o melhor é ir bem vestido ou elegante, senão ela desiste de ver casas logo à segunda tentativa. E, sobretudo, bem – creio que ninguém se lembra de que temos que fazer dezenas de contactos por dia para conseguirmos triunfar no ramo, o que quer dizer que
temos muitíssimas mais oportunidades de, por mero acaso, conhecermos mulheres que nos interessam. A dança ritual que acabamos por fazer dentro daquele objecto cúmplice e silencioso em movimento não é minimamente destituída de encanto. Já acabei em casa delas, já acabei num hotel, até já acabei numa mansão senhorial de praia com uma vista no terraço que nunca hei-de esquecer. Mas o que realmente me seduz não
entre a arregaça e o calhabé Por Bacharel Jorge Gabriel
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ma vez disseram-me que o festival da Eurovisão faz parte da memória colectiva portuguesa. E eu acreditei. Até porque é fácil constatar a importância histórica de alguns dos temas que foram cantados ao longo dos anos. Em 1969, houve um verde esperança no vestido de Simone de Oliveira que se apresentava cinzento a um país a preto e branco. Quatro anos mais tarde, pouco haveria a dizer sobre a indumentária de Fernando Tordo, a não ser que o seu avental, que muitos chamariam teimosamente de gravata, combinava com a irreverência da poesia de Ary dos Santos, teimando em saltar blazer fora como se quisesse pegar o mundo pelos cornos da desgraça. O festival da Eurovisão foi a eira onde se desfolhou um país, a arena onde se espetaram bandarilhas de esperança no dorso de um bovino a que simpaticamente chamamos
Portugal. Mais houve para além desta vertente política, nem só com versos prenhes de Ary dos Santos se fez o festival. Houve também espaço para a sensível poesia de José Niza, por exemplo, ou até para notáveis demonstrações de poliglotismo por parte de José Cid, imagine-se. Mais ou menos política que fosse, a participação portuguesa prendia o país à televisão. Já a partir dos anos setenta, o inconfundível hino da Eurovisão e a voz de Eládio Clímaco constituíam um ‘cocktail’ patriótico de inigualável efeito. De tal forma, que a mesma receita era usada nos saudosos Jogos Sem Fronteiras, a única competição até à data que conseguiu transformar um grupo de humildes alentejanos, de Moura oriundos, em heróis nacionais. Durante anos, famílias juntavam-se, rezavam aos santinhos para que nuestros hermanos estivessem de boa disposição e dispensassem dez
é o momento da consumação, porque esses momentos acabam por ser todos mais ou menos iguais. O que realmente me seduz, e para isso não há mesmo nada melhor que o elevador, é o próprio jogo da sedução. Às vezes sou eu que lhes toco no braço. Se as sinto crisparem-se continuo a ser agradável, mudo de conversa e não insisto. Dou-lhes a ver que estou acima dos sentimentos. Mas, se elas se viram para mim e sorriem, então fico a saber que já posso beijá-las. Isso quer dizer que já entrei na fase da conquista, e esta é, de todas, a que me faz bater com mais força o coração. Às vezes espero até conseguir
conduzi-las no dia seguinte para um sítio bonito e recatado, como aquela casa de chá do Chiado onde a miúda gira do balcão me recebe sempre com um olhar matreiro. Às vezes o ambiente que se criou entre nós durante as visitas anteriores já está de tal forma carregado de electricidade que até as beijo logo ali no elevador. Às vezes, para que conste, são elas que tomam a iniciativa. Dão-me o braço na rua entre uma casa e outra,
por exemplo. Os chapéus de chuva são óptimos para esse tipo de aproximação. Já conheci uma mulher que me beijou sem mais explicações assim que fechei atrás de fim a porta da casa que eu ia mostrar-lhe, e foi com este avanço que começou um namoro que ainda durou um ano inteiro. Outros beijos são apenas gratificações imediatas da altura. De parte a parte, creio que ambos sabemos logo se aquilo é para continuar ou não. Há colegas tão vidrados na conquista que nunca dão mais seguimento a nada assim que conseguem concretizar a primeira entrega delas. Até sei que muitos deles gostam especialmente de chegar a vias de facto dentro do casulo estranho da casa vazia quase às escuras. Já os ouvi contarem histórias de massagens e conversas doces que se tornam especialmente excitantes naquele contexto. Eu, pelo contrário, sempre gostei de enleios que me proporcionassem um mínimo de continuidade no tempo. E gosto de passear com as minhas mulheres pelo meu mundo, que não é de forma nenhuma o mundo da mãe dos meus filhos. A mãe dos meus filhos até recebe mensagens anónimas a clamar traição. Tanto quanto sei, nunca lhes liga. Nem nunca me pergunta seja o que for sobre as minhas aventuras galantes. Ficamos todos melhor assim. Quando eles eram pequenos ainda lhes mudei mais fraldas do que ela. Vou com frequência ao supermercado, e faço o jantar com mais frequência ainda. Às quartas à noite e sábados de manhã, quando me junto com os outros para o nosso momento sagrado de futebol onde só entram homens, até costumo levar o meu filho mais novo. Tem um talento francamente promissor. E adora-me. Sou um óptimo chefe de família.
E, graças à minha profissão, sou um homem que faz muitas mulheres muito felizes. Ser agente imobiliário requer de nós uma plasticidade francamente acima da média.
Clara Pinto Correia 53 anos Professora universitária, jornalista, cronista, bióloga e escritora portuguesa, Clara Pinto Correia é natural de Lisboa. Licenciou-se em Biologia, doutorou-se em Biologia Celular e o seu percurso académico seguiu por áreas de investigação em Portugal e nos EUA. Colaborou em várias publicações nacionais como “O Jornal”, “Jornal de Letras”, “Visão”, “Diário de Notícias”, “24 Horas”. Mas foi em 1984 que o seu gosto pela escrita se começou a concretizar. Atualmente é autora de uma extensa obra, da qual destaca os títulos “The Ovary of Eve” (Chicago Press), “Dodologia” (Relógio d’Água), “Os Mensageiros Secundários” (Idem), “Viagens de Mandeville: tradução integral, introdução, notas, ilustrações e legendas”(Gulbenkian). Considera que os pontos mais altos da sua carreira foram o trabalho que desenvolveu em Harvard com Stephen Jay Gould e aquele que desenvolve atualmente no “Developmental Biology” com Scott Gilbert. A autora defende como máxima de vida: “se não soubermos amar não somos nada”. Daniela Gonçalves
O actual festival ou o festival da actualidade d.r.
pontos à malta. Roíam unhas durante as sofríveis ligações às várias capitais europeias, ansiando que algum estado mais generoso se lembrasse de oferecer uns pontinhos aos representantes lusos, a ver se é desta que passamos do raio do sétimo lugar, ah
rico José Cid e aquela música das línguas, dizia-se. No fim-de-semana passado houve nova edição do festival da Eurovisão. E eu resolvi dar uma vista de olhos. O que vi pareceu-se mais com uma concentração tuning do que propria-
mente com um festival. Salvo raras excepções, viu-se uma montra de obras techno-trance-house-dubstep, interpretadas por bonecas insufláveis e senhores claramente ligados ao mundo da produção de azeite. Tudo isto sempre em inglês, e cuja a mensagem central dos vários intérpretes parecia implicar que a solução para os problemas do mundo actual passa por dançar, dançar sem parar, até se ver a luz do sol. O actual festival da Eurovisão é um festival de actualidade. Onde antes bastava um intérprete e uma letra, hoje é obrigatório despender o orçamento de estado de San Marino em strobes e fogo-de-artifício. Portugal não participou. Razões financeiras, alegou-se. Pelo que vi, talvez seja a primeira medida de contenção de despesas que fez sentido. . *Por escolha do autor este texto não segue as regras do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
18 | a cabra | 21 de maio de 2013 | Terça-feira
opinião
Cartas à Diretora Porque é que a praxe é humilhante se Jesus nos ensinou a amar uns aos outros? paulo pinto*
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É vergar a espinha desses malandros individualistas à grande corporação denominada sociedade, tirar o vírus burguesito desses corpos mandriões.
A praxe é inofensiva. São só brincadeiras para quebrar um gelo em pleno verão de Setembro, quando se iniciam. Ora, estes defensores da praxe, desconhecem a sua dama amada, já que o exercício praxístico não tem como função a integração, mas antes a sujeição do caloiro a um novo universo, neste caso o microcosmos mui particular que é denominado mundo universitário. Perguntem a um qualquer dux de uma faculdade que perceba realmente de praxe. Poupo-vos o trabalho. Cito um artigo dum conhecido blog do meio praxístico (‘props’ para o autor): «As “praxes”, neste caso os Ritos de Iniciação, visam, antes de mais, marcar uma separação clara de grau de ensino e vivência. Os ritos a que os caloiros são submetidos visam, sobretudo, desprover o indivíduo do seu egoísmo
e individualismo (próprio de um modo de pensar muito…”liceal”), para o integrar numa nova matriz de cariz mais corporativista, conferindo-lhe espírito de corpo, de unicidade a um foro social e cultural totalmente díspar do restante da sociedade (e do que, até aí, pudera experienciar)». Ou seja, não há cá espaço para humilhações ou boas vindas. É vergar a espinha desses malandros individualistas à grande corporação denominada sociedade, tirar o vírus burguesito desses corpos mandriões. Há quem acredite que existe transcendência na praxe. Através do esforço, dos mantras entoados preenchidos de ‘eférreás’, ‘aliquás’ e ‘ariquás’, não interessa que a reza esteja errada, os milagres aconteciam quando ajoelhados os pastores murmuravam avé maria passa passa. E
a fé reside também na tentativa de elevar o espírito até ao idílico espaço-tempo rodeado por capas negras e colheres de pau, o nirvana forjado a álcool e a visões de caloirinhos de quatro. Assim se manifesta a transcendência nos arredores das faculdades. A hierarquia existe de facto, não me debruçarei a discorrer num dos poucos pontos em que todos estão de acordo; e muitos que se assumem ateus seguem essa estrutura bem organizada com um culto rígido, embora com ligeiras alterações entre faculdades causadas pela dispersão geográfica do continente praxista coimbrão. Da moral não preciso de me pronunciar, os praxistas sentem que o tempo ainda não acabou, palpitam-lhes os valores de Coimbra, ah! a tradição, os edifícios milenares, os banhos de cerveja, as trupes desde os tempos dos afon-
sinhos… As tradições, a bênção das pastas numa escola e estado laicos, onde as pastas da futura carreira como desempregado profissional são benzidas em água benta católica apostólica romana; porque não também em água islâmica ou judaica, em nome do multiculturalismo religioso? Pessoalmente acrescentaria caules incensos, o doce odor do sândalo a penetrar delicadamente pelas fitas lascadas, ventos orientais que sempre me tranquilizam. Pugno por uma maior diversidade, democrático-burocrática, boletim triplicado para a escolha da colher, prateada ou dourada, que lançará gotas para o preto brilhante das peles negras, já fitadas. *estudante da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
rafaela carvalho
A Cabra errou: Na edição 261, a fotografia de primeira página referente ao artigo “Sensibilização/Sinalização de Idosos - Ocupar um tempo que falta e o outro que sobra aos mais velhos” foi mal atribuída a Daniel Alves da Silva. A fotografia é, na verdade, da autoria de Ana Morais. Aos visados e leitores, as nossas desculpas. A Direção Cartas à diretora podem ser enviadas para
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21 de maio de 2013 | Terça-feira | a
cabra | 19
opinião
rafaela carvalho
Editorial Sucessivas contradições
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De ano para ano, assistimos a uma degradação dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC). Este ano, as críticas direcionam-se à divisão de alimentação, mais propriamente à qualidade das refeições servidas nas cantinas universitárias – mas não só. A história começa mais propriamente aquando do encerramento das Cantinas Amarelas para obras. Muitos foram aqueles que ficaram perplexos com tal fecho, sem reparar, talvez, que o edifício (que data de 1985), está velho, gasto e com condições higiénicas em baixo. Ora, este episódio originou sucessivos e recorrentes atrofios nas filas das restantes cantinas, tornando uma hora de intervalo para almoço insuficiente para muitos. Porém, o administrador dos SASUC, José Pires Marques, parece não ver a situação dessa forma. Na sua opinião, são os estudantes que, quando estão na fila, atrasam o serviço. Por vezes acontece. Mas não deve ser esta a postura do administrador de serviços que se querem (mais) sociais. Sobre a qualidade da refeição, que há a dizer? De um lado, os estudantes dizem que se nota menos qualidade e variedade; do outro, o responsável por essa divisão nega tudo, apenas justificando com o facto de que “muitos produtos podem ser confecionados de forma idêntica” e que sempre tentarem ir ao encontro da vontade daqueles que usufruem das cantinas. Parece haver aqui algumas contradições por verificar.
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A falta de consenso é a prova evidente do insuficiente acompanhamento e da parca informação que muitas vezes caracterizam os processos e dão origem a decisões prejudiciais
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A experiência de ensino no estrangeiro é uma opção cada vez mais merecedora de reconhecimento. O programa Erasmus acumula-se em cada vez mais currículos, mas não é por isso que o processo se afigura transparente para todos. As versões do processo multiplicam-se entre a Divisão de Relações Internacionais (DRI), os coordenadores e os estudantes. A falta de consenso é prova evidente do insuficiente acompanhamento e da parca informação que muitas vezes caracterizam os processos e dão origem a decisões prejudiciais para o estudante. O paradoxo é inevitável. Se por um lado, uma educação no estrangeiro é alvo de cada vez mais destaque, por outro, as equivalências parecem nem sempre o reconhecer. Fazer Erasmus torna-se numa experiência enriquecedora a muitos níveis, mas que muitas vezes espelha alguma injustiça na conversão de notas. As incongruências amontoam-se quando focamos o processo de equivalências. A DRI assegura que não existe uma tabela que fixe o método de conversão entre as notas do país de acolhimento e a escala nacional. Se este facto é uma verdade no desempenho das funções de vários coordenadores e na experiência de vários alunos, o contrário também ganha espaço na voz de outros coordenadores e estudantes. Estamos perante um cenário de contradição e divergência que cria desigualdades no modo de tratamento dos estudantes entre cursos e faculdades. A injustiça é um sentimento inevitável face à encruzilhada de supostas diretivas que não encontram o consenso. Por Ana Duarte e Carolina Varela
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Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Carolina Varela (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Paginação Catarina Carvalho, Rafaela Carvalho Redação Ana Francisco, Beatriz Barroca, Daniela Proença, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Pedro Martins Colaborou nesta edição Anna Charlotte Reis, Camila Correia, Gonçalo Mota, Juliana Pereira Fotografia Ana Duarte, Catarina Carvalho, Rafaela Carvalho, Roberto Mortágua Ilustração Andreia Prata, Carolina Campos, João Pedro Fonseca Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Rui Craveirinha, Tiago Mota Publicidade Ana Duarte - 239828096/239410437 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Cláudia Cavadas, Clara Pinto Correia
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CPTTP
Nascido de um projeto que visa prevenir e tratar as consequências de situações traumáticas, o Centro de Prevenção e Tratamento do Trauma Psicogénico (CPTTP) tem abertura marcada para 1 de junho. O Centro é pioneiro no país e vai funcionar nos Hospitais da Universidade de Coimbra. A equipa de atendimento vai contar com psiquiatras, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais. À iniciativa juntaram-se várias instituições que vão funcionar numa lógica de cooperação. O Centro vai funcionar com um atendimento continuando, onde os casos mais urgentes são atendidos no espaço de 48 horas. C.V. PÁG. 9
Ministério da Educação do Brasil
No mês passado o governo brasileiro suspendeu o programa de mobilidade Ciência sem Fronteiras para Portugal, responsável por trazer para as universidades portuguesas cerca de 3 mil estudantes. Desta forma, as universidades nacionais vão ressentir-se, sobretudo a Universidade de Coimbra, a que tem mais estudantes brasileiros no país. A justificação usada pelo ministro de educação do Brasil, Aloizio Mercadante, - necessidade de aprender outro idioma - parece mascarar outros motivos, já que os objetivos de intercâmbio não se esgotam na aprendizagem de uma nova língua, mas sim na troca de conhecimentos e culturas. A.M. PÁG. 5
Grupos contra a privatização da água
Tempos em que a discussão da privatização da água ressurge no seio da comunidade portuguesa, muitas são as vozes que se levantam contra esta tentativa de lucrar com um bem que é público. Recurso natural de todos e para todos, a água não deve ser usada com o intuito de obter receita. Desta forma, os movimentos contra a privatização da água têm tido um papel importante no sentido de voltar a trazer à discussão os verdadeiros estímulos deste objetivo. Marcelo Nuno Pereira mostra um discurso erróneo ao referir que estes grupos “não dão soluções”. Mas fica a questão: não passam as soluções por uma discussão mais participada? PÁG. 12 A.M.
Afinal, “Nada mais nos é dado” por Ana Morais
200 x 100 O ar está frio, o céu cinzento. As gaivotas levam para longe os desejos de quem por cá, a medo, os quer cumprir. No cais, a calma aparente de um fim de tarde contrasta com a rotina apressada e desgastada pelos desejos já longínquos. Dizem-nos que “Cada um cumpre o destino que lhe cumpre, /E deseja o destino que deseja”. Mas as vontades são impostas e ninguém “cumpre o que deseja/nem deseja o que cumpre”. Questionar e contrariar a maré torna-se tão difícil que acabamos mergulhados em desejos e vontades que não temos. Impõem-nos uma rotina desenfreada sem nos questionarmos, sem nos permitirem uma escolhe livre de tudo e de qualquer coisa. E se a fuga for cumprir “o que somos”? Afinal, “Nada mais nos é dado”.