IRMÃOS COEN ESTÃO DE VOLTA Os realizadores de “Este País não é para Velhos” regressam ao humor negro com Clonney, Malkovich e Pitt P 18
ESTATUTOS AAC VELHA ALTA Revisão extraordinária do diploma a caminho P4
Como era o pólo universitário há 70 anos? P 12 e 13
a cabra
7 de Outubro de 2008 Ano XVIII N.º 186 Quinzenal gratuito
Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo
Jornal Universitário de Coimbra
Relatório e Contas de núcleo de Relações Internacionais chumbado O plenário do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Associação Académica de Coimbra (NERIFE/AAC) reprovou o Relatório e Contas relativo ao mandato de 2007/2008. Na base da decisão está
a falta de clareza do documento, apontada por vários estudantes. A actual direcção acusa ainda o gasto abusivo em telecomunicações e despesas de representação. O Conselho Fiscal da AAC refere que não há memória da reprovação
Conselho Fiscal refere que à luz dos estatutos da AAC não existe solução
de um Relatório e Contas na Academia e que estatutariamente não há uma resposta para o problema. Os novos corpos gerentes acreditam que irá ser realizado um novo plenário para a apresentação de um documento mais discriminado. P 5 FÁBIO TEIXEIRA
Imigração Estrangeiros “irregulares” na Europa Os 27 estados membros da União Europeia chegaram a um acordo político sobre Imigração e Asilo. Depois do choque inicial das “muralhas da Europa” e da directiva de retorno, o documento é “um pequeno passo”, para uns, e uma “forma péssima de lidar” com a imigração, para outros: com ou sem restrições, a Europa precisa de emigrantes.
P 14
XVIII Festuna Irreverência e diversão na gala dos dezoito anos do festival de tunas de Coimbra P8
Desporto universitário
Quando o espírito de grupo não chega
O desporto universitário está a dar mostras que pode ser uma aposta de futuro. No entanto, a falta de apoios e patrocínios, a que acresce a reduzida visibilidade, tornam difícil o caminho a trilhar. Os responsáveis acreditam que há quem siga na direcção correcta. P 10
Teatro em Coimbra Mudanças recentes trazem novas perspectivas para as companhias profissionais
P2e3
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acabra.net PUBLICIDADE
2 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
DESTAQUE Coimbra na companhia do teatro
Com um cariz imponente ao nível das artes de palco, o teatro parece afirmar-se na cidade como uma ar Novas propostas e velhas críticas emergem quando se fala de teatro em Coimbra. Por Pedro Crisóstom
A
mudança foi rápida, depois de uma longa espera. Os cabos, as roupas e os adereços não demoraram mais do que uma semana a conhecerem nova casa. A adaptarse aos novos residentes está o Teatro da Cerca de S. Bernardo. As paredes estão brancas e as divisões vazias acentuam o eco de um lugar à espera de definição. A cortina já abriu e ainda cheira a novo. Depois de A Escola da Noite (EN) e O Teatrão terem estado a programar em espaços provisórios durante mais de cinco anos, as duas companhias têm, a partir de agora, a responsabilidade de gerir e programar o Teatro da Cerca de S. Bernardo e a Oficina Municipal de Teatro (OMT), respectivamente. Estas transformações vieram avivar a discussão em torno do papel das artes de palco na cidade e o estado do teatro em Coimbra. Que mudanças pode trazer à cidade em termos culturais a transferência definitiva das duas companhias para espaços próprios? O vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Mário Nunes, acredita que “agora está nas mãos das companhias [programar os espaços], com a autarquia a apoiar”. Desde 2002 que EN estava provisoriamente na OMT à espera de se transferir para a Cerca de S. Bernardo, o que veio a acontecer há duas semanas, muito depois dos seis meses inicialmente previstos. O Teatrão, por sua vez, encontrava-se no Museu dos Transportes desde 2003, que fica livre para acolher o Núcleo do Carro Eléctrico. “A estabilidade que a mudança dá às duas companhias vai permitir finalmente desenvolver projectos a médio prazo”, perspectiva Pedro Rodrigues, da administração d’A Escola da Noite. “Esta demora inibiu-nos de fazer certas coisas na OMT, mas agora temos uma ‘esta-
dia’ de quatro anos para trabalhar”. Assim, a EN toma a responsabilidade de escolher e definir toda a programação, com a condição de integrar oito espectáculos definidos pela câmara, por ano. “A EN é responsável por pôr todo o teatro em movimento, desde a senhora da limpeza à direcção artística, pas-
sando pela gestão do bar”, explica o administrador. Do lado d’O Teatrão, Isabel Craveiro admite que a companhia, durante cinco anos, teve “uma posição conciliadora, em que esperou, muitas vezes, prejudicando o seu trabalho”, mas sublinha que em diante se segue uma fase diferente. “A Oficina possibilita ter uma programação de dança interessante e receber artistas estrangeiros que possam vir trabalhar com esta cidade”, revela.
O que fica do passado… Apesar de novas perspectivas, há quem defenda que a mudança não pode ser vista como um ‘ponto de chegada’. Como adverte o professor da Faculdade de Letras da UC, João Maria André, “a construção do teatro [da Cerca] não resolve de maneira nenhuma outros problemas”. “Este desfecho não é inteiramente satisfatório, porque as condições em que a EN aceita tomar conta daquele espaço mostram bem a ausência de política cultural”, aponta. Na opinião de Pedro Rodrigues, o universo dos agentes teatrais “não se esgota nestas duas companhias
A Escola da Noite defende a criação de um Teatro Nacional em Coimbra nem isto resolve os problemas da falta de espaço e de condições para outros aspectos culturais em Coimbra”. Mário Nunes defende-se, justificando que “Coimbra está bem servida” e que “há a liberdade de as próprias companhias residentes incluírem outras nacionais e internacionais na sua programação”. O facto de Coimbra não ter um Teatro Nacional leva Pedro Rodrigues a assumir esta como uma necessidade premente: “não existe e, quando se fala em descentralização, a cidade tem toda a legitimidade para o poder reivindicar, pois só há Teatros Nacionais em Lisboa e no Porto”. A razão, insiste, prende-se com a “pujança dos agentes culturais na área do teatro, que lutam pelo segundo lugar” a nível nacional. Contudo, João Maria André, igualmente membro da direcção da Cooperativa Bonifrates, lembra existirem grupos que, não conseguindo sobreviver em Coimbra, “foram para o Porto por falta de apoios, espaços e equipamentos”. “As condições são, muitas vezes, precárias”, denuncia. Da Escola da Noite, a posição é idêntica. “Reconhecendo que a câ-
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DESTAQUE HUGO MENESES
uma arte em movimento. sóstomo e Sara Oliveira ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES
mara, nos últimos anos, tem vindo a desinvestir, não podemos senão criticar essa postura e defender exactamente o contrário”, acusa Pedro Rodrigues. Mário Nunes adverte que a câmara “não pode ser a única a apoiar as actividades culturais” e fala em apoios: “temos um protocolo em que cedemos as instalações, apoiamos na água, na luz...”. …Rumo para o futuro Se, por um lado, as políticas culturais adoptadas pela autarquia têm sido questionadas por vários agentes e personalidades, nos últimos seis anos (desde que começou o “caso” Teatro da Cerca), por outro, há quem saia em defesa de uma outra perspectiva onde também o público é o grande interveniente. Há ou não uma estratégia de Teatro para a cidade? “Somos todos responsáveis pela construção de uma estratégia”, defende a directora d’O Teatrão. “Não aceito que seja imputável à autarquia a culpa de em Coimbra não haver uma estratégia”, declara. “Não existe uma plataforma de discussão criada – não existe localmente e
Agentes culturais querem maior envolvimento da cidade para o teatro não existe a nível nacional –, e isto não é um problema de Coimbra. Não é sequer um problema do teatro; é um problema das artes e da sociedade em geral”, entende Isabel Craveiro. Já na perspectiva de Pedro Rodrigues, continua a haver o “problema da falta de diálogo entre a câmara e os agentes culturais”. Da mesma forma, insiste na ideia de que “quando parece que os agentes estão em guerra com a autarquia ou com o Ministério da Cultura, deveria acontecer um esforço conjunto para que o trabalho se faça com a maior tranquilidade possível e para que os públicos possam usufruir dos espectáculos”. O vereador da Cultura contrapõe: “politicamente a câmara está a dar um contributo mais que válido para o teatro, com o único objectivo de difundir, divulgar e criar composições teatrais”. Isabel Craveiro aponta uma alternativa: “o mínimo que se pode exigir é que tanto a universidade, câmara e agentes culturais, uma vez por ano, se encontrem, discutam e julguem abertamente quais são as suas ideias”.
O TEATRO da Alta está parado desde 1989
Sousa Bastos avança com residências e associações culturais O antigo teatro da Alta tem espaço para acolher três associações culturais Pedro Crisóstomo Sara Oliveira O Teatro Sousa Bastos, fechado há 19 anos, está prestes a entrar em fase de concurso para entrega da obra da requalificação do edifício. O projecto, apresentado pelo proprietário privado (e promotor do teatro),“foi aceite pela câmara em termos informais”, segundo o Director do Gabinete do Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra, Sidónio Simões, depois de várias propostas rejeitadas pela autarquia. O Sousa Bastos, actualmente,
“não tem condições para ser um teatro”, devido às dimensões reduzidas do piso do rés-do-chão, entende o director. As remodelações do Sousa Bastos vão, por isso, avançar com o objectivo de “aproveitar os pisos superiores do edifício para alojamento de estudantes ou de outro género”, adianta o responsável do Centro Histórico. O rés-do-chão será aproveitado pela autarquia para a “construção de uma sala polivalente, bem como três espaços para associações”. Em 2005, começaram prospecções arqueológicas no teatro para se apurar da existência de uma igreja no subsolo. Sob responsabilidade camarária ficou a saber-se que o rés-do-chão estava directamente assente na rocha. Segundo Sidónio Simões, aquilo que con-
firma ser uma igreja é uma janela oval que se situa numa das laterais, não existindo assim mais vestígio algum. Assim, objectivo das obras passa por “resolver a ruína e dar algum uso ao espaço, permitindo o uso da sala pelos habitantes da Alta e da Baixa”. No ano de 2003, surgiu o movimento de contestação “Sousa Bastos Vivo”, consequente de um outro nascido em 1996, que defendia a revitalização do edifício como espaço cultural condigno para a população local. O movimento mais recente acabou por se extinguir, sendo tido retomada a temática em Março deste ano no colóquio “Cidade, Arte e Política o valor estratégico da cultura” por um dos defensores do “Sousa Bastos Vivo”, quando assistia à sessão na plateia.
EM DISCURSO DIRECTO ISABEL CRAVEIRO • DIRECTORA D’O TEATRÃO
“O QUE É QUE OS ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS DEIXAM A ESTA CIDADE?” É tão fácil e prazeiroso ter uma postura construtiva quando discutimos o teatro. Isso pode ser uma forma de criar uma nova relação dos próprios universitários com a cidade, que precisa de ser reformulada. O que é que estes estudantes universitários, durante os quatro anos que cá estão, deixam a esta cidade para além do dinheiro que gastam e das coisas que consomem? Nem sempre foi assim. Já houve alturas difíceis, em que as pessoas se ligavam de uma forma diferente aos sítios por onde passavam, que
construíam uma ligação com os sítios que produziam alguma coisa. Os estudantes precisam de produzir pensamento. Não acredito que as pessoas entre os 18 e os 30 anos não produzam pensamento, e não é só aquele conhecimento científico acumulado. Esse conhecimento tem de transbordar dos muros da universidade e contaminar a cidade. As pessoas precisam de viver mais a cidade; precisam de ir ver mais espectáculos; de discutir coisas; de ler livros. Eu não concebo que esta univer-
sidade, com o peso que tem, não se sente a uma mesa com os outros agentes culturais, com a CMC, com as outras estruturas de ensino superior, com as outras companhias, e ter uma pauta sobre quais são os pontos importantes a discutir aqui. E quando há tanta produção de conhecimento na universidade que não extravasa… Que estratégia vamos montar para mudar isto? Não conseguimos fazer isto sozinhos. O teatro faz uma parte, mas não acredito que faça revoluções!
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ENSINO SUPERIOR Casa das Caldeiras abre no segundo semestre Cláudia Teixeira O edifício da Casa das Caldeiras, reconstruído pelo arquitecto João Mendes Ribeiro para o curso de Estudos Artísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), tem abertura prevista para o segundo semestre do presente ano lectivo. De acordo com o presidente do Secretariado de Estudos Artísticos, Abílio Hernandez, "a inauguração não está ainda marcada mas as obras estão praticamente concluídas". O professor da FLUC explica que "o concurso para o mobiliário do edifício já foi lançado pela Reitoria" e muito em breve "vão ser lançados os concursos para uma cafetaria e para uma livraria de arte". O projecto de João Mendes Ribeiro foi orçamentado em dois milhões de euros, dos quais 550 mil advieram do fundo de investimento da UC. Hernandez revela que na Casa das Caldeiras "vão dar-se apenas os cursos de pós-graduação, mestrado e doutoramento". "Toda a licenciatura vai continuar a decorrer na faculdade, porque não há espaço no edifício novo para tudo", esclarece. O responsável pelo curso de Estudos Artísticos ressalva ainda a importância do projecto, que reside no facto de "a nova sede abrir o curso e a faculdade para a cidade, através de um trabalho de programação dos espaços". Abílio Hernandez afirma que um dos grandes objectivos é precisamente "fazer com que o curso de Estudos Artísticos, do domínio das artes, tenha uma grande ligação com a cidade".
ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA
Diploma sofre nova revisão Erros de lógica e de interpretação em disposições dos estatutos da AAC levam à revisão extraordinária do diploma. O assunto vai ser levado a magna e uma nova assembleia estatutária pode ser eleita DANIELA CARDOSO
Cláudia Teixeira Os estatutos da Associação Académica de Coimbra (AAC), aprovados em plenário a 24 de Abril do ano passado, vão ser alvo de uma nova revisão. O presidente da Mesa da Assembleia Magna da AAC, Nuno Mendonça, adianta que o assunto vai ser levado a magna, para conhecimento dos estudantes, e que uma nova assembleia estatutária será eleita. "Legalmente não seria necessário eleger outra assembleia, mas é mais democrático se assim for", esclarece o dirigente associativo. Nuno Mendonça acredita que "este será um processo mais célere que nos anos anteriores, porque vão ser logo apontadas as gralhas e as deficiências a suprir". Já o presidente da DirecçãoGeral da AAC, André Oliveira, é da opinião de que a revisão dos estatutos da AAC deve ser feita pela assembleia estatutária eleita em 2006 para o efeito, "porque não se pretende uma nova discussão e seria muito mais simples a última assembleia reunir e fazer essas alterações". "No entanto, se isso legalmente não for possível, faz sentido haver novo processo eleitoral para não ficarmos com os estatutos como estão", esclarece o presidente da DG/AAC. De acordo com o presidente da Mesa da Assembleia Magna, esta revisão torna-se necessária, porque "há algumas disposições nos estatutos que não são suficientemente
NOVA REVISÃO vai ter em atenção disposições pouco claras
claras". "No que diz respeito às sanções do Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), há questões que não estão bem explicadas", exemplifica. No seu entendimento, "os estatutos devem ser o mais claros possíveis, para não dar lugar a outras interpretações que não sejam as correctas". André Oliveira defende que "é importante que os estatutos da associação estejam correctamente elaborados para que a sua consulta seja de fácil acesso a todos os estudantes da universidade e seccionistas da Academia".
Última revisão foi há dois anos A última revisão dos estatutos, efectuada em 2006, contém um conjunto alargado de alterações, nomeadamente no que diz respeito ao Conselho Cultural da AAC, ao Conselho Fiscal (que passa a ter sete elementos em vez de cinco) e à Queima das Fitas. Os estatutos da AAC são revistos ordinariamente de cinco em cinco anos por uma assembleia eleita para o efeito. No entanto, pode também haver uma revisão extraordinária se a Assembleia
Magna assim o deliberar. Apesar desta directiva, antes da revisão de 2006, o diploma não sofria alterações desde 1997. A assembleia de revisão é constituída por 33 sócios: o presidente da Mesa da Assembleia Magna, um elemento da DG e do CF da AAC, um representante dos organismos autónomos, um do Conselho de Veteranos e um do Conselho de Repúblicas, dois representantes das secções culturais, três das secções desportivas, dois dos núcleos de estudantes e 20 membros eleitos por método de Hondt.
Prescrições não devem afectar maioria dos estudantes da UC O regime de prescrições está a ser implementado na UC. A reitoria garante que está a analisar favoravelmente os pedidos de manutenção Sofia Piçarra Alguns alunos da Universidade de Coimbra (UC) foram surpreendidos, nos últimos meses, com cartas de aviso de prescrição. A ideia de que haveria uma directiva do reitor a impedir a prescrição de estudantes até 2010 levou a que os alunos ignorassem a real situação curricular em que se encontravam, não accionando os mecanismos necessários à sua clarificação. A vice-reitora da UC, Cristina Ro-
ANA COELHO
balo Cordeiro, garante que “não há nenhuma deliberação que elimine o regime de prescrições”. A docente admite que as indicações eram para considerar este ano como “transição e adaptação ao Processo de Bolonha e poderia haver situações para estudar”, mas as decisões do senado não se poderiam sobrepor à lei. A UC criou um gabinete nos serviços académicos para prestar apoio aos estudantes afectados pelo regime de prescrições. Para responder às questões dos alunos, também o pelouro da Pedagogia da DirecçãoGeral da Associação Académica de Coimbra criou “um horário de atendimento direccionado a estes estudantes, bem como um blogue onde se encontra informação útil e um e-mail através do qual podem pedir esclarecimentos”, explica a coordenadorageral do pelouro, Cátia Viana. Para evitar a prescrição, os estu-
dantes podem enviar um requerimento ao reitor a explicar a situação em que se encontram, que depois é analisada caso a caso. Cristina Robalo Cordeiro assegura que “já chegaram dezenas de requerimentos para serem analisados pelo gabinete do reitor e têm sido despachados favoravelmente”. Existe também a possibilidade de fazer disciplinas isoladas, no entanto, segundo Cátia Viana, estas “podem custar 80, 100, e até 150 euros” cada. A dirigente associativa denuncia que “há faculdades que dão como primeira opção fazer disciplinas isoladas” antes de referirem a possibilidade de apresentar o requerimento para reavaliar os currículos. A chefe de divisão dos serviços académicos da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Silvia Figueiredo, explica que “aos estudantes que
prescrevem é vedada a inscrição nesse ou noutro curso durante um ano, em qualquer universidade pública”. Apesar da autonomia administrativa e financeira da FCTUC face à UC, o processo é igual em toda a universidade. Silvia Figueiredo esclarece que após o ano de interrupção os estudantes podem pedir o reingresso, que é automático. “Durante o ano de prescrição, o aluno é livre para frequentar as disciplinas isoladas do seu curso, solicitando posteriormente que lhe sejam creditadas depois de reingressar”. Apesar de não haver ainda uma data limite para a entrega de requerimentos na Reitoria, o que pode gerar alguma confusão na hora das matrículas, a vice-reitora Cristina Robalo Cordeiro é optimista: “julgo que a maior parte dos estudantes não prescreverá”.
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ENSINO SUPERIOR
Plenário do núcleo de RI chumba relatório e contas Estudantes acusam falta de clareza no documento. Actual direcção aponta gastos abusivos à anterior. Conselho Fiscal não sabe como actuar
DANIELA CARDOSO
João Miranda Cláudia Teixeira A direcção cessante do Núcleo de Estudantes de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Associação Académica de Coimbra (NERIFE/AAC) apresentou na passada quarta-feira, 1, o Relatório e Contas referente ao mandato 2007/2008. Após larga discussão, o documento foi reprovado. O novo tesoureiro do núcleo, Samuel Vilela, aponta as razões para a decisão dos estudantes: “assim que tomámos posse, tivemos conhecimento de várias despesas com as quais não concordamos, porque não achamos que sejam justificáveis para um núcleo como o nosso”. Os gastos prendem-se, no entender do dirigente, com despesas de representação exageradas e com facturas de telecomunicações de valor elevado: “entre Março e Maio, tempo em que eles [núcleo anterior] usaram o telemóvel, gastaram cerca de 300 euros, num período em que até já nem houve muitas actividades”. Segundo Samuel Vilela, outra razão da reprovação do relatório prende-se com a falta de discrimi-
O RELATÓRIO E CONTAS DO NERIFE apresentou um gasto de aproximadamente 300 euros em telecomunicações
nação no documento. “O Relatório e Contas não estava suficientemente claro ou bem discriminado para podermos ter uma noção real de onde e por que é que foram feitos os gastos”, explica. O tesoureiro cessante, Hugo Soares, corrobora a ideia da falta de clareza no documento como motivo da reprovação do documento. Contudo, adverte que tudo está dentro do trâmites legais. Já o presidente cessante, Pedro Vilela, diz não estar surpreendido com a decisão dos estudantes e atribui a resolução a “desavenças pes-
soais e alguns problemas do passado”. Sobre a acusação do uso indevido e excessivo de fundos do núcleo, Pedro Vilela, argumenta não perceber o que se considera um “uso abusivo”. “Façam uma média de quanto é que o NERIFE gastou num ano inteiro em telemóvel, comparem com outros núcleos e vejam se é assim tão descabido”, defende o antigo dirigente. Ainda assim, Pedro Vilela admite ter usado o telemóvel em proveito próprio. “O núcleo fez-me estar muitas vezes longe das pessoas de que eu gosto e é normal que se faça
uma chamada ou outra para uso pessoal”, admite.
Futuro na mão do fiscal A acta do plenário vai ser agora entregue ao Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC) para apreciação. O membro do CF/AAC Rúben Santos adverte que não há memória de um relatório e contas ser reprovado na AAC e “estatutariamente não há nada que indique o que fazer”. Samuel Vilela acredita que “o mais provável é que seja convocado um novo plenário para a apresentação de um novo relatório que de-
verá vir mais discriminado”. No entanto, adverte: “se continuar a ser chumbado não sabemos o que vai acontecer e o Conselho Fiscal não sabe informar. Na AAC ninguém sabe”. “É a primeira vez que é chumbado um Relatório e Contas”, acrescenta o tesoureiro. Rúben Santos lembra que os núcleos são obrigados a apresentar a contabilidade à Direcção-Geral da AAC. Porém, o administrador, Pedro Simões, declara que o “núcleo apresentou sempre as contas regularmente” e que nunca houve suspeitas de algum problema.
Feira de emprego arranca hoje Evento reúne 25 empresas com o objectivo de recrutar recém-licenciados Cláudia Teixeira “Mundo Emprego AAC 08” é o nome da feira que a Praça da República recebe a partir de hoje, 7. O evento, organizado pela Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) em parceria com o Gabinete de Saídas Profissionais da Universidade de Coimbra, decorre até dia 9 e conta com a participação de
ANA COELHO
cerca de 25 empresas. De acordo com o presidente da DG/AAC, André Oliveira, a iniciativa tem como principal objectivo ser "um ponto de encontro entre quem recruta e quem procura emprego". O dirigente afirma que no espaço vão estar presentes empresas como a Vodafone, a Tv Cabo, a Critical Software. Além destas, o presidente da DG/AAC sublinha a presença de associações como a ACIC e a AIESEC, e o Instituto Português da Juventude. Num espaço de 1400 metros quadrados, a feira vai ainda ter uma componente de formação com uma série de conferências e
workshops. De acordo com o coordenador-geral do pelouro das Saídas Profissionais, Carlos Martins, "o tema de uma das conferências vai ser 'Empregabilidade e recepção a licenciados por Bolonha'". André Oliveira revela que "vai haver uma conferência com ex-presidentes da direcção-geral onde se vai discutir a importância que para eles teve o associativismo aquando a sua chegada ao mercado de trabalho". Para além das empresas, das conferências e dos workshops, a feira “vai ter uma vertente cultural, com a actuação de tunas e de grupos de fados da AAC", acrescenta. PUBLICIDADE
6 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
ENSINO SUPERIOR
Ensino privado de novo em discussão JOÃO MIRANDA
Apesar do encerramento de instituições superiores privadas, este tipo de ensino continua a ser a escolha de muitos Adelaide Batista Rui Miguel Pereira Pelo terceiro ano consecutivo, o número de estudantes que procuram um lugar no ensino superior bate recordes. O ‘numerus clausus’ parece diminuir perante os já mais de 44 mil jovens que pretendem prosseguir estudos superiores. Perante as polémicas sobre o ensino privado, será esta ainda uma opção a considerar? De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística, das 328 instituições de ensino superior existentes em Portugal, 150 são privadas. Este número foi largamente ampliado durante a década de 80, quando se verificou um importante crescimento no número de instituições privadas. O sociólogo Elísio Estanque defende que este fenómeno só foi possível por haver um ‘numerus clausus’ “muito restrito”, que deixava “um conjunto muito significativo de candidatos fora do sistema, o que criava problemas de natureza social e política”. A explicação avançada pelo também professor da Universidade de Coimbra (UC) denuncia a via facilitista que o governo da altura seguiu no momento do reconhecimento e criação dessas instituições privadas: “havia uma pressão grande contra as instituições de ensino superior e, por isso, a abertura de institutos e universidades privadas contribuiu para a diminuir”. Sem avançar com um estereó-
O INSTITUTO MIGUEL TORGA conta já com 71 anos de existência
tipo, Elísio Estanque lembra que, a par do nascimento destes institutos de ensino, surgiu a ideia de que “se destinavam aos filhos das classes altas”. Hoje, porém, a realidade parece ser outra e as privadas “absorvem sobretudo filhos da classe média que não conseguiram entrar no ensino superior público”. “Achei a Moderna equivalente à Faculdade de Direito da UC”. A frase é de Miguel Amaral, actual aluno da UC que já frequentou três estabelecimentos privados. O estudante admite a sua preferência pelo curso que frequenta hoje e não esquece o facilitismo experienciado no curso da privada Bissaya Barreto.
Já o licenciado pelo Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), Nuno Lobo, faz um “balanço muito negativo do curso”, no entanto, salienta que “se tivesse escolhido o mesmo curso no público a situação seria igual”. Elísio Estanque corrobora as duas opiniões ao defender que “a universidade pública tem uma tradição muito maior e, portanto, um corpo docente muito mais estabilizado, com mais experiência e mais prestígio”. Contudo, sublinha que existem igualmente em Portugal “instituições privadas que têm já uma projecção significativa e grande reconhecimento em diversas áreas”.
A importância da avaliação nas privadas A Universidade Internacional (Lisboa, Figueira da Foz e Instituto Politécnico Internacional de Lisboa) e a Universidade Moderna foram, na semana passada, encerradas por ordem do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Segundo comunicado do ministério, “estes estabelecimentos de ensino já não preenchiam os requisitos para lhes ser atribuído o estatuto de universidade”. Existem “vencimentos e honorários em dívida a docentes, funcionários e demais colaboradores” que tornam estas instituições economicamente inviáveis. A Universidade Livre, criada em
1979, foi a primeira instituição de ensino privado do país. Em 1986, perdeu o reconhecimento por parte do Governo e originou outras três instituições: A Lusíada, a Autónoma e a Portucalense. Ficaram também conhecidos, na altura, os problemas na reitoria da Universidade Autónoma, denúncias internas na Lusófona e Portucalense e, mais tarde, a investigação de crimes económicos na Independente, que resultaram no seu encerramento. Elísio Estanque destaca o papel do Governo na fiscalização das instituições: “o que é importante é que haja mecanismos de avaliação que garantam a qualidade, que separem o trigo do joio”.
A praxe tem sido motivo de discussão entre alunos, instituições e Governo. O comunicado de Mariano Gago originou várias reacções Maria Eduarda Eloy Nos últimos anos, tem-se assistido a uma sucessão de casos mediáticos associados à praxe no ensino superior. Os abusos cometidos surgem espalhados por todo o país e com consequências diversas. Casos como o de Santarém, Macedo de Cavaleiros e Castelo Branco são exemplo de situações que chegaram, efectiva-
mente, à barra dos tribunais. Motivado por queixas de praxes violentas, por parte de estudantes e pais, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, fez chegar às instituições de ensino superior uma carta. O documento adverte para a “degradação física e psicológica dos mais novos, o que é uma afronta aos valores da própria educação”. O texto revela ainda que “deve ser eficazmente combatida por todos e, muito especialmente, pelos próprios responsáveis das instituições”. Na sequência do comunicado, alguns estabelecimentos de ensino superior optaram por proibir completamente as praxes no interior das suas instalações, nomeadamente a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST). O director do IST, Carlos Matos
Ferreira, publicou, no passado dia 19 de Setembro, um documento em que refere “não reconhecer legitimidade a qualquer auto-denominada comissão de praxe” e, como tal, proibiu as actividades praxísticas dentro do campus universitário. Quando questionado acerca da posição do director, o presidente da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico, Jean Barroca, considera que “não faz muito sentido, porque proibir as praxes dentro do Instituto não significa acabar com as praxes e não resolve o problema da introdução de valores no ensino superior”. Noutras instituições, como a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, os órgãos de direcção conseguiram chegar a um consenso com os elementos da comissão de praxe. De acordo com um elemento da co-
missão de praxe, Vanessa Martinho, “a directora apoia a praxe, mas uma praxe de integração”. Outro elemento do grupo, Pedro Almeida, menciona que “os caloiros não podem ‘estar de quatro’ ou ‘pintados’, nem pode existir nenhum tipo de actividade mais humilhante”. “Até agora, está a correr tudo bem”, remata. Na opinião dos alunos, tudo se encontra dentro da normalidade. A aluna do primeiro ano da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Josefina Rodrigues, acredita que “as praxes foram uma maneira de fazer amigos”. A estudante revela ainda que a praxe “tem sido interessante” e “não têm havido abusos”.
Com Sónia Fernandes e Sara Ferreira
GONÇALO CARVALHO
Praxe gera discórdia no seio das instituições
7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a
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CULTURA ISABEL NOBRE VARGUES, directora do TAGV
“Vamos tentar puxar grandes espectáculos com as nossas armas” Depois de tempos conturbados entre instituição e dirigentes, surge no panorama do teatro da universidade uma nova direcção e avizinham-se novos rumos para o futuro Por Vanessa Quitério e Lino Ramos ANA COELHO
De que forma encara as sucessivas demissões de directores do TAGV e como antevê a sua entrada? Todos os directores fizeram o seu melhor. Se não conseguiram desconheço as suas razões. Contudo, penso que temos como resolver os assuntos. Isto não é nenhuma crítica, mas houve situações que se foram arrastando. Ainda não conheço a actual situação, mas tenho uma ideia do que é preciso alterar, porque alteraramse as ‘regras do jogo’ no que toca à legislação. Pode ser paradoxal, pois se não temos dinheiro para ter boas ideias e fazer uma boa programação como é que isso pode ser possível? Se dependermos, como dependemos da Fundação da Universidade, nada poderá ser feito, pelo menos nesta fase sem o seu conhecimento e prévio consentimento. Viu este convite como um reconhecimento do trabalho que tem desenvolvido na universidade? Sou lutadora. Talvez por lidar com projectos de alguma envergadura há já algum tempo e ter responsabilidades em algumas publicações, o reitor viu em mim uma pessoa capaz de dar essa resposta. Só o tempo dirá como tudo se irá desenvolver, também há deveres de lealdade e não tomarei nenhuma decisão sem que ele não saiba. Quais são as alterações mais significativas com a entrada do TAGV na Fundação Cultural da Universidade de Coimbra (UC)? Existem duas questões distintas: uma é ‘arrumar a casa’, uma tarefa que o vice-reitor me pediu com urgência, e outra é a questão do financiamento. Estamos em reuniões para acordar colaborações com instituições dentro e fora da cidade e ver como irão ser conseguidos esses apoios, sejam eles para programar, para reabilitar, ou até mesmo relativamente ao funcionamento eléctrico pois esta casa tem um nível muito elevado de manutenção. Existe alguma estratégia definida para esta nova fase do TAGV? O programador por sua iniciativa já deu algumas ideias, umas que irão ser agendadas e outras que já o estavam e não vão desaparecer porque são boas ofertas para o público desta cidade. Ao nível da promoção do
PARA ISABEL VARGUES, a nova fundação Cultural da UC vai permitir maior agilidade ao TAGV
Teatro, estamos também a repensar os mecanismos de ‘chamariz’ ao nosso público. Não está somente na nossa esfera, há que depois receber um ‘feed-back’. Relativamente à difusão, acho que um exagero de cartazes não leva a uma melhor divulgação. A verdade é que alguns espectáculos não se podem programar sem dinheiro e é esse é o ponto de partida para a busca do apoio que neste momento estamos a traçar. Hoje as pessoas são muito mais pragmáticas e assertivas e vêm quando querem e lhes apetece. Pertencendo à Fundação, a autonomia do TAGV vai ser afectada? É evidente que o teatro é um instituto que tem alguma autonomia, mas não total. No quadro da Fundação ainda se está a discutir como vai ficar essa autonomia. É uma instituição que ainda não está de pé, apenas conhecemos os nomes das pessoas e quais vão ser as suas grandes linhas orientadora. A Fundação, sendo um grupo menor, poderá ser mais ágil. Mas, como sabemos, as instituições são as pessoas e tudo depende muito da sua capacidade de pôr as coisas em marcha.
Com este novo modelo de gestão, como fica a situação dos estudante que trabalham na portaria do TAGV? As coisas vão sendo feitas, está quase tudo resolvido. Alguns podem querer continuar e outros não. Há que repensar o lugar que desempenham, pois ainda é um grupo grande [dezassete pessoas]. Essa tem sido a solução encontrada. Têm demonstrado que gostam daquilo que fazem e que isso tem valor. E isso merece todo o respeito. Quanto ao modelo de contratação ainda estamos a definir. Vão proceder a despedimentos devido a questões de orçamento? Eu creio que não. A minha intenção é integrar as pessoas que aqui estão, as quais terão, naturalmente, de ver as suas funções redefinidas. E, neste momento, já estamos atrasados. A demissão do Manuel Portela fez com que algumas questões não pudessem ser de imediato tratadas. Acha que os jovens de Coimbra estão afastados do TAGV? Não sei se será medo ou ignorân-
cia… As pessoas estão informadas… medo não será. Mas se perguntar aos jovens o que eles querem ter no TAGV, sei qual será a resposta. Contudo, esta sala não pode ter nem pipocas nem pessoas aos pulos. Mas se os estudantes estão afastados há que criar mecanismos para os chamar, como por exemplo, concertos adequados à sua geração. Mas não vai ao teatro quem demonstra uma ignorância relativamente a essas actividades. Ou já se
Coimbra é uma marca, independentemente da universidade tem uma formação cultural ou uma tarefa de que goste ligada à arte e cultura, ou não existe entusiasmo por actividades do género. Aqui, no ambiente académico, dificilmente se cria pois a vida estudantil é muito frenética. Tudo passa pela internet e pelas novas tecnologias, dispersando assim a atenção dos jovens, independentemente da oferta diversificada e adequada à idade.
As ofertas são elitizadas? Internamente isso ainda não foi bem definido. Está a ser discutido o porquê de os preços serem os praticados, mas contornar isso com a incerta economia nacional é uma questão a resolver. Num ou outro espectáculo pode-se colmatar a questão dos preços, noutros pode pedir-se um apoio específico. Passa muito pelo mecenato. Não estamos num bom momento económico. Coimbra reúne as condições necessárias para ser a rota dos grandes espectáculos? Coimbra poderá estar ainda nesta rota. E vamos tentar puxar os grandes espectáculos para cá com as nossas armas. É bom que tudo circule aqui na zona centro e ter este olhar distante. Insistir junto das instituições e públicos-alvos. E Coimbra é uma marca, independentemente da universidade. E a quanto a relações com outras instituições? Estão todas muito bem pensadas. Com a câmara já recomeçámos a tomar novamente esse contacto, e com outras instituições também, nomeadamente com a AAC.
8 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
CULTURA XVIII GALA DO FESTIVAL INTERNACIONAL DE TUNAS DE COIMBRA
cultura por
cá Maioridade chega ao Festuna
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JÁ TENHO IDADE PARA TER JUÍZO Com interpretação de Pedro Tochas TAGV • 21H30 • 10¤
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DA COR DA VIDA Dina ao vivo FNAC • 22H • ENTRADA LIVRE
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9ª FESTA DO CINEMA FRANCÊS Bruno Parrinha, João Camões, Miguel Mira, Hernâni Fauscino, João Parrinha, João Viegas SALÃO BRAZIL • 23H até
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CURSO DE INICIAÇÃO TEATRAL CITAC • com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian INSCRIÇÕES ABERTAS
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CONCERTOS PEDAGÓGICOS Violoncelo e contrabaixo PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL 11H até
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TNT - TUMULTO NO TEATRO A Escola da Noite TEATRO DA CERCA DE S. BERNARDO 3ª A SÁBADO - 21H30 • DOMINGO - 16H
23 até
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PEDRO MONTEIRO
Mesmo cantada duas vezes, uma canção não soa igual. As luzes, o ritmo e o ambiente em palco ofereceram diferentes experiências ao espectador Pedro Monteiro Vanessa Quitério A repetição da famosa “A Desfolhada” foi estranha ao início, mas rapidamente revelou que um encontro de tunas é um pretexto para conhecer diferentes abordagens a um mesmo estilo de música. A gala da XVIII edição do Festival Internacional de Tunas encheu a sala do Teatro Académico Gil Vicente no sábado, 4. Um a um, os lugares vazios da plateia foram preenchidos pelo público heterogéneo. Um ligeiro atraso inquieta a audiência mais impaciente, as luzes apagam-se lentamente e começa o espectáculo. Os acordes de “Senhora Lua” põem fim às inquietações. Pela primeira vez, a Estudantina, tuna da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC), assume a abertura do Festuna, de forma a colmatar a falta da espanhola Tuna Magistério de Murcia. A dimensão internacional do evento foi afectada, mas em nada diminuiu a sua qualidade. O vice-presidente da SF/AAC, Hugo Ribeiro, afirma que “este foi um Festuna nacional mas um Festuna cheio”. De novo a sala escurece. Sons desconhecidos invadiram-na. Uma tela branca abriu a porta para uma galáxia imaginária. Vinda do nada, entra em cena uma espécie de nave espacial da Estudantina em alusão à saga
O ESPECTÁCULO contou apenas com tunas nacionais
Star Trek. São largados risos. O caricato da situação faz antever que a noite promete. A originalidade pauta os vários vídeos que antecedem a apresentação das tunas, como a recriação de uma música dos Bee Gees na Alta da cidade. A boa disposição e a irreverência das apresentações é transversal a todas as tunas e arranca do público palmas, risos e até alguns piropos. O teatro de Coimbra, silenciosamente emudece, em momentos que incluíram eternos clássicos como “Lisboa ao Luar” e “Verdes Anos”. A Tuna da Universidade Católica do Porto (TUCP) acaba por compen-
sar a ausência de “nuestros hermanos” ao escolher abrir a sua apresentação com o tema espanhol “La Noche y Tu”. Desce-se para Sul. A Estudantina Universitária de Lisboa apresenta um ritmo de percursão descontraído e animado. Recupera e reinventa “A Desfolhada”, na segunda versão da noite, com uma maior exploração vocal. Parece uma canção diferente. Daí que o primeiro prémio não tenha sido uma surpresa. Voltamos a Norte. A Azeituna – Tuna de Ciências da Universidade do Minho – marca a diferença com rit-
mos célticos. A capacidade de improviso e boa disposição da Tuna Universitária do Instituto Superior Técnico (TUIST) vale-lhe o prémio simpatia e um terceiro lugar. O grupo de Cordas da SF/AAC apresenta-se depois como um “digestivo” num registo instrumental e muito íntimo, antecedendo a tão esperada entrega dos prémios. Na queda do pano, uma réstia de animação agita o público. Fica a marca de sucesso de mais um festival. “Uma marca para a Academia e para Coimbra”, conclui Hugo Ribeiro.
GUITARRA PORTUGUESA Exposição PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL DAS 14 ÀS 20H até
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CERÂMICA
DE
COIMBRA SÉC. XX
Exposição CONVENTO DE S. FRANCISCO 10H-12H30 E 14-18H30 • 1¤
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UM SIMPLES OLHAR DA CULTURA BRASILEIRA
Artes da Lua dinamizam Praça da Canção A alternativa sustentável chega à cidade nos próximos dias. O ensino, a gastronomia e a diversão dão o mote a quem quer aprender a fazer diferente Sofia Piçarra
Fotografia de Pádua GALERIA ALMEDINA • ENTRADA LIVRE 10-18H até
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NOV
CABARÉ DA SANTA Musical para maiores de 16 OFICINA MUNICIPAL DE TEATRO 4ª A SÁB - 21H30 • DOM - 19H • 4 A 10¤
Por Ana Coelho
Fadas, palhaços e feiticeiros. Os seres mágicos visitam Coimbra no próximo fim de semana, para a segunda edição do Artes da Lua d’Outono. A decorrer na Praça da Canção, de 10 a 12 de Outubro e com entrada livre, a iniciativa parte da associação cultural Colectivo Germinal e conta com diversas actividades. O programa inclui espectáculos para crianças, concertos,
demonstrações de artes circenses, teatro, diversos ateliês e oficinas de dança, mas vai haver espaço para “quem quiser dar o seu contributo para a animação com iniciativas livres”, como explica Afonso Faria, da organização. No recinto, entre as bancas de produtos e os espaços de animação, vai existir ainda uma Aldeia de Seres Mágicos. Dedicada às crianças, a construção reutiliza embalagens, cartões e outros materiais, confirmando a ideia de sustentabilidade que orienta todo o evento. Tudo realizado com trabalho voluntário. Mas entre a vasta oferta, Faria destaca o Encontro de Educação Integral e Intuitiva, que pretende ser “uma reflexão abrangente de todas as formas de educação, desde as mais tradicionais e formais, às mais alternativas, sendo transversal a todos: pais, educadores, professo-
res e alunos”. No encontro, vai fazer-se um levantamento de escolas com métodos pedagógicos alternativos que permita aos pais e formadores saber onde encontrar outras formas de ensino. O evento rejeita a ideia da relação convencional entre professor e aluno, e procura antes “ser uma partilha, porque todos somos conhecimento e trazemos algo para o debate, assumindo um papel interveniente”, explica o membro da organização. Durante a actividade decorre também o Mercadilho do Artes, onde o conceito inspirador é a troca directa de produtos. Aqui, o visitante vai poder encontrar produtos naturais, artesanais e manufacturados, e há até espaço para medicinas alternativas. Na procura de estilos de vida sustentáveis que conduz o Artes da Lua d’Outono, há espaço para alimen-
tar o espírito, mas também o corpo. Durante o encontro vai funcionar uma Cozinha Comunitária, que nos três dias serve refeições vegetarianas, preparadas com produtos ecológicos e locais. Para Afonso Faria, a expectativa é de que “mais do que uma actividade para ser assistida, o Artes envolva os visitantes, que sintam que fazem parte e contribuem para o seu encanto”.
7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a
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BASQUETEBOL Académica vs Ovarense 17H • ARENA DOLCE VITA
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DESPORTO
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FUTEBOL - DISTRITAIS
AD Albicastrense vs Académica 18H • MUNICIPAL CASTELO BRANCO
Agrário de lamas vs Académica MIRANDA DO CORVO
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Vilamoura vs Académica HIPÓDROMO VILAMOURA
Uma nova era para o Basquetebol D.R.
O Basquetebol nacional regressou ao amadorismo. A Académica venceu na estreia Catarina Domingos André Ferreira Depois do fim da Liga Profissional, o basquetebol português entrou este fim-de-semana numa nova etapa. Passados 13 anos de profissionalismo, a modalidade regressou ao campeonato amador e para trás ficaram os incumprimentos financeiros por parte dos clubes. O presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol (FPB), Mário Saldanha, diz-se pouco surpreendido com este desfecho e defende que “só pecou por tardio, a morte era anunciada”. O responsável aponta como principal erro da Liga Profissional “a falta de rigor de gestão”. “Com uma gestão catastrófica é evidente que as coisas tinham de resultar da forma como resultaram”, acrescenta. Para além das dívidas, Mário Saldanha refere a falta de comunicação e marketing durante o projecto profissional. Atrás do espectáculo estavam “sempre alguns mecenas e câmaras municipais, mas isto não podia durar a vida inteira”, considera. Quanto ao processo de liquidação das dívidas, o presidente afirma que “a Federação não tem meios para obrigar os clubes a cumprir obrigações financeiras”,
ACADÉMICA venceu o primeiro jogo frente ao Queluz Sintra
salvo “situações pontuais” como dívidas a treinadores, a jogadores e a árbitros, que estão a ser pagas. Com a criação da Liga Portuguesa de Basquetebol, a Proliga, prova secundária e organizada pela Federação, não foi esquecida. “Pela morte da Liga Profissional não íamos sacrificar os outros 15 clubes, que trabalharam para que a Proliga fosse uma realidade”, conta Mário Saldanha. No novo modelo competitivo estabeleceu-se que há jogos cruzados entre as duas provas. O
presidente explica que o facto dos órgãos de comunicação só estarem dispostos a transmitir aquilo que é principal levou a que se estabelecesse esta ligação. Para assegurar “o futuro do basquetebol português”, as equipas participantes só podem ter no plantel três jogadores estrangeiros. Além disso, cada clube deve ter no mínimo três escalões de formação. As novas obrigações trazem, na opinião de Mário Saldanha, “menos gastos e progressão do jogador português”.
Académica de volta ao primeiro escalão A equipa sénior da Associação Académica de Coimbra (AAC) está presente no primeiro escalão do basquetebol nacional, depois de ter sido semi-finalista da Proliga na época transacta. Na primeira jornada realizada este fim-desemana, a Académica entrou a vencer na Liga, ao derrotar o Queluz Sintra por 50-65. “O nosso primeiro objectivo é não descer de divisão”, define Bruno Costa, presidente da Secção de Basquetebol
da AAC. O técnico Norberto Alves antevê “jogos complicados com equipas fortes”, mas diz que “os jogadores são todos ambiciosos”. Para o treinador, a Académica fez “um bom trabalho no recrutamento de estrangeiros”, embora tenha o “orçamento mais baixo da liga”. O fim da Liga Profissional também não surpreendeu Norberto Alves. “A dificuldade de cumprir determinados compromissos levaram a um fim esperado”, defende.
A união faz os campeões A Secção de Desportos Náuticos sagrou-se campeã nacional de clubes pela primeira vez, após 26 anos de existência Ana Coelho Na última prova pontuável, a Académica conquistou em casa, nas águas do Mondego, o primeiro lugar no Ranking Nacional de Clubes. O segundo lugar ficou para o Ginásio Figueirense. Em épocas anteriores, a equipa tinha apenas conseguido o quinto lugar. As expectativas foram superadas, uma vez que o objectivo inicial era atingir o quarto lugar no Ranking Nacional. “No início do ano, a conquista não passava de um sonho”, re-
vela o treinador, Júlio Amândio. A Secção de Desportos Náuticos (SDN/AAC) conseguiu um feito único na história da Académica que, até então, só tinha conquistado dois segundos lugares, nos anos 90. Para o presidente da SDN/AAC, Rúben Leite, o segredo para o êxito reside na aposta da captação de jovens para fazer um trabalho de base e no regresso de alguns veteranos, que para além de serem referências para os mais novos, ajudaram na conquista de alguns pontos para o clube. “Foi a união entre todos que levou a este sucesso”, acrescenta. No mesmo sentido, Júlio Amândio acredita que o sucesso da equipa deve-se ao facto de todos “puxarem na mesma direcção”, no rumo à vitória do campeonato. “São todos campeões”, resume. Para a prática do remo, o principal obstáculo é o facto de se tratar de um
D.R.
desporto dispendioso. “É um investimento bastante grande e temos sempre dificuldades em arranjar patrocinadores”, explica Rúben Leite. O clube tem sido alvo de grande procura por atletas que querem treinar a modalidade, o que torna difícil a tarefa de oferecer boas condições a todos. “Para ter mais atletas no Inverno, não podemos treinar no rio por causa das condições climatéricas, o que pode ser uma limitação que temos de contornar, com a gestão do treino, com os horários”, confessa Júlio Amândio. Para a próxima época já se pensa na revalidação do primeiro lugar do Ranking Nacional e o apuramento para o Campeonato da Europa em 2010, que irá realizar-se em Montemor-o-Velho. Antes, em 2009, Coimbra torna a receber o Campeonato Nacional de Sprint.
10 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
DESPORTO P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O AAC/OAF A Académica empatou a uma bola frente ao Nacional da Madeira. Aos 28 minutos, Nené marcou para os insulares, após falha defensiva de Nuno Piloto, que se redimiu e repôs a igualdade aos 82 minutos. A equipa de Domingos Paciência soma agora sete pontos e já não perde em casa há mais de dez meses. Na 6ª jornada da Liga Sagres, a Briosa defronta o Trofense.
DESPORTO UNIVERSITÁRIO
Carências e conquistas HUGO MENESES
HÓQUEI EM PATINS A Académica entrou a vencer no Campeonato Nacional de Terceira Divisão Zona B. Os estudantes deslocaram-se a Cucujães e ganharam à equipa local por 1-3. Com os três primeiros pontos da época, a AAC recebe o ACRP Vouga na próxima jornada. A ACADÉMICA tem 14 modalidades com ligação à FADU
RÂGUEBI A equipa de râguebi sub-20 da Associação Académica de Coimbra (AAC) perdeu o jogo da Super Taça frente ao CF Os Belenenses. O resultado final foi 72-8. Os oito pontos da AAC foram marcados por Henrique Ribeiro e Manuel Santos. O campeonato nacional de râguebi sub-20 tem início no dia 25 de Outubro. Na primeira jornada, a Académica folga e entra apenas em prova no início de Novembro.
ANDEBOL A equipa sénior de Andebol da AAC regressou às vitórias. Em jogo referente à quarta jornada do Campeonato Nacional Segunda Divisão Zona Centro, a turma de Ricardo Sousa venceu o Andebol Clube Lamego por 29-25. A Académica soma agora dez pontos e, na próxima ronda, desloca-se ao Municipal de Castelo Branco para jogar com a AD Albicastrense.
Catarina Domingos
Longe do nível de outros países, Portugal ainda não dá o devido valor ao desporto universitário Ana Coelho Catarina Domingos Vanessa Soares Os atletas queixam-se das condições, dos poucos apoios e apenas exaltam o espírito de grupo. O caminho a percorrer parece ser longo. “Estamos ainda numa fase muito embrionária”, considera Nuno Santos, coordenador técnico da Secção de Badminton e que participou em vários Campeonatos Universitários. O primeiro vice-presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), Estêvão Cordovil, salienta a importância da prática desportiva durante o ensino superior. “É importante que se entenda que o desporto universitário é uma peça fundamental para que os jovens portugueses adquiram hábitos saudáveis, aguçando a sua sensibilidade desportiva e formação sócio-pessoal”, afirma o responsável. Apesar dos apoios fornecidos pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) e pelo Instituto do Desporto de Portugal (IDP), faltam patrocínios e
cooperação de entidades privadas. “Os apoios de entidades privadas e patrocinadores esbarram sempre na reduzida visibilidade dada ao desporto universitário em termos mediáticos”, avalia Estêvão Cordovil. No seu entender, falta também “apoio de algumas instituições de ensino superior”. Algumas universidades já têm o estatuto de atleta-estudante. Não é o caso da Universidade de Coimbra (UC). “A UC sempre esteve na vanguarda do desporto e este é um ponto em que estamos a ficar um pouco atrasados”, diz o coordenador-geral do desporto da DirecçãoGeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Miguel Portugal. Na opinião do coordenador estamos perante uma realidade ignorada. “Na política desportiva do país, o desporto universitário foi deixado para trás”, defende. Já Estêvão Cordovil argumenta que “quando se olha para o número de atletas e modalidades que existem entre os estudantes, não se pode falar de uma realidade ignorada”. “Aqueles que mais nos merecem consideração, os atletas, técnicos e dirigentes, continuam a lutar, dando credibilidade ao desporto universitário”, acrescenta. O responsável fala ainda de um “problema complexo”, derivado da “inexistência de um projecto estruturado para o desenvolvimento
desportivo na educação”.
Desporto estudantil a ganhar espaço O valor do desporto académico deu sinais nos Campeonatos Mundiais de Futsal Universitário. Na Eslovénia, a selecção nacional masculina sagrou-se campeã pela primeira vez na história, ao vencer a Ucrânia por 5-1. “Foi uma prova viva que o desporto universitário tem tudo para andar para a frente e melhorar”, enaltece André Sousa, guarda-redes da selecção, eleito o melhor da prova. O também guarda-redes da AAC conta que teve boas condições de trabalho.
“Há gente a remar na direcção correcta (...) e o futuro terá que crescer com mais mãos” “Quanto à Liga Universitária portuguesa as condições já são diferentes, muitas vezes não temos campo para treinar, bolas e equipamentos”, contrapõe. No Brasil, a selecção feminina alcançou o segundo posto. Margarida Marques, que representou a selecção feminina, considera que “há
muita qualidade em Portugal, mas há pessoas que têm de ir jogar para fora do país”. Nuno Santos, da sua experiência, sublinha que “o desporto universitário tem de ser encarado como uma necessidade, não como um passatempo, deve ser um hábito de cada pessoa e estar salvaguardado nos currículos de cada universidade”. As conquistas do futsal são, para Estêvão Cordovil, “resultado de muitos anos de trabalho e apostas certas”. “Custa perceber que existem dezenas de modalidades com potencial para crescer, mas por falta de apoio e desinteresse acabam por ficar sem resposta”. Portugal vai estar na rota de competições internacionais de desporto universitário. Já este ano, o país acolheu o Campeonato Mundial de Badminton, em Braga. Em 2010, é o Porto que recebe a prova mundial universitária de Rugby 7. E em 2011, o Algarve organiza o Campeonato Europeu Universitário de Golfe. O facto de Portugal ser o país anfitrião em algumas provas significa que, para o vice-presidente da FADU, “há gente a remar na direcção correcta”. Contudo, não esquece que “as organizações de eventos universitários têm um impacto nacional reduzido”. “Ninguém mudará o país sozinho e o futuro terá que crescer com mais mãos”, assegura. PUBLICIDADE
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CIDADE ANA COELHO
COIMBRA
Estacionamento condicionado? NA FALTA de espaço para estacionar, muitos condutores improvisam um local para o carro
As dificuldades de estacionamento são evidentes na cidade, apesar das medidas aplicadas pelo munícipio. Oposição apresenta soluções Daniela Fernandes Ana Margarida Gomes Marta Pedro Qual o morador de Coimbra que nunca se deparou com problemas devido ao estacionamento irregular em Coimbra? Automóveis em segunda fila, estacionados em cima de passeios ou sobre passadeiras abundam por toda a cidade. “O problema de Coimbra é um velho problema”, afirma o vereador do Partido Socialista (PS) na Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Vítor Baptista. Se o estacionamento em Coimbra já foi um tema de grande discussão, actualmente tem vindo a ser descurado. As filas para estacionar tendem a
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Carlos Félix Presidente da União de Coimbra
aumentar e os protestos continuam a surgir. Para o vereador do PS, “é urgente que se resolva o problema da falta de estacionamento em Coimbra, para que se possa circular mais junto ao centro histórico, junto à universidade e à Baixa”. Enquanto que para uns o problema do estacionamento se deve à falta de infraestruturas próprias para o efeito, para outros deve-se à falta de civismo dos condutores. O vereador da Coligação Democrática Unitário (CDU) na CMC, Jorge Gouveia Monteiro, por sua vez, não concorda que haja falta de estacionamento em Coimbra. Contudo, afirma que há excesso de automóveis em circulação. Jorge Gouveia Monteiro apresenta a solução para o problema: “se os automóveis ficassem em casa, as pessoas andassem de transportes públicos e o metro começasse a funcionar, deixava de haver problemas de estacionamento”. Dina Rocha, chefe de divisão da Polícia Municipal (PM), partilha da mesma opinião que Gouveia
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Monteiro e diz mesmo que “o estacionamento que existe dentro da cidade é para ser usado num sistema de rotatividade, por exemplo, para uma pessoa que venha a uma consulta ou ao centro comercial. Não se deve trazer a viatura e deixá-la estacionada no mesmo local o dia todo”. A falta de estacionamento afecta principalmente os estudantes, como salienta Vítor Baptista: “há carências profundas na zona da Universidade”. Numa cidade que é dos estudantes, as facilidades são cada vez menores. Aumenta a taxa de estacionamento, o tempo perdido é cada vez maior e as penalizações para os infractores são cada vez mais frequentes. Dina Rocha justifica que os procedimentos levados a cabo pela PM se inserem numa política que tem por objectivo “reduzir o estacionamento dentro da cidade para um período cada vez mais pequeno. Por detrás do estacionamento pago não está uma política de ganhar dinheiro, mas sim uma política que visa melhorar o ambiente citadino”. Gou-
Porque aceitou o desafio de assumir o comando da União de Coimbra? Foi-me proposto este desafio, por causa da situaçao muito grave em que está a União e devido aos meus conhecimentos a nível imoviliário e futebolistico. A União não tinha apoios nenhuns, vieram todos, depois, através de mim. Tudo o que me disseram era mentira. As dificuldades eram três vezes piores do que aquilo que estavam.
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veia Monteiro ressalva a importância destas políticas, que habituam os cidadãos “a não invadir todos os cantos da cidade com o seu automóvel”. “Quem tem carros tem que perceber que estorva mais do que aquilo que resolve”, acrescenta o vereador. Na tentativa de encontrar responsáveis pela situação que se vive em Coimbra, as sugestões são muitas, mas a chefe de divisão da PM acredita não existirem culpados. Afirma ainda que a situação se deve à “política promovida pelo governo, que visa sensibilizar as pessoas, processo este que em Coimbra está a ser mais demorado pela falta de sensibilidade da população local para esta questão”. Várias têm sido as medidas aplicadas com vista à redução dos problemas no estacionamento, contudo estas políticas não têm sortido efeito. O vereador do CDU declara ser“ impraticável aguentar uma cidade com os 40.000 carros que passam diariamente na Rua da Sofia, por exemplo”. Dina Rocha sustenta esta afirmação,
Está satisfeito com o rumo que o seu mandato tem tomado? Está a ser muito difícil, porque tenho muitos problemas para resolver e estão a ser solucionados um a um. Inclusive há muito pouco tempo não podiamos inscrever jogadores e agora já estão a jogar. Enquanto presidente propus-me a resolver os problemas financeiros e levar a equipa a um patamar superior. Temos como principal objectivo passar à 3º divisão e sanar todas as dívidas fiscais.
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acrescentando que “não é concebível que as pessoas estacionem em cima do passeio ou em cima de uma passadeira, pois estes têm outra utilidade e há pessoas que acabam por sofrer com isso”. Há projectos em desenvolvimento para tentar solucionar a falta de estacionamento, como a construção de um parque na Praça da República e de outro na Universidade, como garante Vítor Baptista. No campo das soluções, Gouveia Monteiro acredita que não são necessários mais estacionamentos, mas sim “a melhoria dos transportes públicos e sua remodelação”. Para além dos projectos materiais, Dina Rocha acredita que a resolução do problema passa essencialmente por campanhas anuais de sensibilização de forma a incutir nas pessoas o espírito cívico e de protecção do ambiente. Até ao fecho desta edição, não foi possível obter declarações do presidente da CMC, Carlos Encarnação, sobre a posição da autarquia acerca deste tema.
Coimbra tem espaço para dois clubes como a União de Coimbra e a Académica? Penso que sim, têm dois espaços, duas grandes equipas. Mas para duas grandes equipas é preciso é que sejam tratados da mesma maneira o que não é o caso.
Tiago Carvalho
12 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
TEMA D.R.
VISITA AO PASSADO DA VELHA ALTA Onde hoje se distribui o Pólo I da UC esteve em tempos um núcleo residencial, comercial e espaços de lazer. A CABRA foi revisitar a Velha Alta da cidade e percorrer as principais mudanças ocorridas durante o século passado. Por João Miranda e Sofia Piçarra
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s estudantes que percorrem as ruas da Velha Alta de Coimbra desconhecem que, na realidade, aquele espaço como hoje o conhecemos tem afinal pouco mais de 30 anos. No fim da década de 30, o Estado Novo deu início a um processo de expropriações e demolições que culminaria na construção de novos edifícios, concluído apenas nos anos 70, e que transformou irreversivelmente uma das zonas nobres e mais emblemáticas da cidade. No local onde actualmente se situam as faculdades de Letras, Medicina e os edifícios de Matemática, Física e Química, em 1934 estudantes, artesãos, vendedores e habitantes partilhavam a mesma área. A vizinhança fomentava uma estreita relação entre a comunidade estudantil e a população residente. Os agregados familiares, o comércio e as zonas de lazer desenvolviam na Alta um dinamismo próprio que não se esgotava no período escolar. Mas, pela mão de Cottinelli Telmo, responsável pelo plano de reestruturação urbana da Alta de Coimbra, até então com muitas funções, passou apenas a albergar um núcleo universitário. A transformação obrigou à
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demolição não só de edifícios de habitação e comércio, como inclusive de estruturas da própria universidade, num total de 202 prédios. As mudanças foram profundas. O Observatório Astronómico do Pateo da Universidade e o Observatório Astronómico Pombalino, o Colégio de S. Boaventura, o Colégio dos Lóios, o Colégio de S. Paulo Ermita, o Colégio dos Militares, parte do Castelo de Coimbra e muralhas, o Arco do Castelo e Arco do Aqueduto de São Sebastião não sobreviveram à ânsia reformista de Salazar. Para lá da Porta Férrea, o Colégio de S. Pedro, a Sé Nova, o Museu de História Natural, o Laboratório Químico, a Imprensa da Universidade, o Colégio dos Grilos, o Colégio de S. Bento, a casa dos Melos e o Museu Nacional Machado de Castro. Para concretizar a remodelação do espaço, o governo encetou um processo de expropriações de várias casas habitacionais e 97 estabelecimentos comerciais. Em 1942, existiam na Alta de Coimbra seis alfaiatarias, duas modistas, duas tipografias, uma relojoaria, um merceeiro e restaurador, quatro encadernadores e douradores, cinco barbearias e duas latoarias. Apenas
três anos depois, o êxodo do comércio era evidente: haviam desaparecido cinco alfaiates, uma modista, uma tipografia, a relojoaria, quatro barbearias e restava um encadernador. A sede do Governo Civil, o Museu de Antropologia e o Largo da Feira deram lugar à actual Faculdade de Medicina, e na Alameda de Camões ergue-se hoje a nova Faculdade de Letras. A Biblioteca Geral ocupou o edifício onde funcionava a antiga Faculdade de Letras e o Arco do Castelo é hoje a Praça D. Dinis. Nasceu também um novo Arquivo e chegou mesmo a estar previsto um hospital para substituir o Colégio de São Jerónimo e o Colégio das Artes, mas que acabou por não se concretizar. Nos cerca de 50 anos que demorou todo o processo, o perfil da cidade alterou-se de forma profunda. Pelo caminho, desapareceu parte do agregado histórico, como elementos marcantes da arquitectura tradicional da Alta de Coimbra. No seu lugar, nasceram blocos de edifícios em frontal ruptura arquitectónica com o passado. Hoje, a preocupação com a traça singular que caracteriza a cidade permite recuperar e proteger o património que restou. Com Francisca Saldanha
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7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a
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TEMA D.R./ COLECÇÃO REGINA ANACLETO
A HISTÓRIA DE UMA REFORMA A demolição da Velha Alta surtiu efeitos não só no funcionamento da universidade, como em toda a população residente. Especialistas referem motivos e consequências da remodelação do espaço. Por João Miranda
DANIELA CARDOSO
D.R./ COLECÇÃO SÉRGIO NAMORADO
A vontade do governo de Oliveira Salazar de reestruturar e expandir o espaço universitário de Coimbra levou a que se procedessem a mudanças profundas e estruturais na alta universitária na primeira metade do século XX. Em 1934, iniciou-se um processo de expropriações de moradias e estabelecimentos comerciais de uma Alta em que habitantes e lojistas se viram obrigados a abandonar o espaço que até então dividiam com a Universidade de Coimbra. Sete anos depois, começaram a ser demolidos os primeiros edifícios com vista à construção de um novo pólo de ensino superior. Para a Técnica Superior de História da Arte do Gabinete para o Centro Histórico da Câmara Municipal de Coimbra, Luísa Silva, “a ideia de remodelar os espaços universitários nasceu com a convicção de que o velho núcleo de edifícios prefigurava uma cidade universitária, bastando para isso ampliá-lo”. Por esse motivo, entendeu-se manter a localização da instituição de ensino, em vez que realojar os novos edifícios, construídos de raiz. Num outro plano, o historiador Amadeu Carvalho Homem encontra um “certo mimetismo entre o autoritarismo provinciano do Salazar de Santa Comba e o autoritarismo fascista de Mussolini”. O professor considera que a admiração do estadista português pelo seu congénere italiano orientou as novas estruturas. “Toda aquela construção que nós hoje podemos observar não correspondente à Velha Alta, aquelas faculdades e aquelas estátuas de sentido um pouco proto-romano, um pouco proto-clássico, toda aquela imponência um bocado
balofa, tudo aquilo tresanda a edificação fascista”, acrescenta. Já Nuno Rosmaninho, no livro “Evolução do Espaço Físico de Coimbra”, atribui a reestruturação da Alta à necessidade de segregar as zonas escolares das áreas de habitação. O processo de reestruturação daquele espaço provocou inúmeras dificuldades entre os lojistas e a reinstalação e readaptação dos residentes na alta levantou vários problemas. Luísa Silva refere que “a população não reagiu da melhor forma à reestruturação efectuada”. Chegou-se mesmo a estabelecer um paralelo entre a demolição dos edifícios à devastação que se sentia em várias cidades europeias, devido à Segunda Guerra Mundial. Contudo, não se levantaram grandes protestos. “É evidente que não passava pela cabeça de ninguém bater o pé, ou mesmo invocar direitos adquiridos ou direitos de indemnização, perante Salazar”, lembra Carvalho Homem. Também no plano nacional a remodelação da Alta surtiu efeitos. Criou-se uma nova perspectiva na população portuguesa sobre a Universidade de Coimbra. Segundo Carvalho Homem, o único dividendo que Salazar tirou de todo o processo foi “a vantagem de mostrar aos visitantes, sobretudo aos menos esclarecidos, que havia ali um núcleo que era o equivalente à cidade dos doutores”. “E isso pode eventualmente deslumbrar sobretudo aquele tipo de mentalidade menos instruída e menos esclarecida que julga que o fazer uma coutada de natureza territorial num interior de um espaço universitário até fica muito bem”, conclui. Com Francisca Saldanha
DANIELA CARDOSO
INFOGRAFIA POR JOÃO MIRANDA
14 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
PAÍS & MUNDO UE avança com política de imigração
PEDRO CRISÓSTOMO
Depois da aprovação da directiva de retorno em Junho, a UE espera agora ver assinado o Pacto para a Imigração e Asilo. A decisão do Conselho de Ministros da União não é, no entanto, pacífica Adelaide Batista Ivo Borges Rui Miguel Pereira Após o falhanço adiado do Tratado de Lisboa, a União Europeia (UE) parece agora recompor-se. Na próxima reunião de Conselho de Ministros, a 15 de Outubro, os 27 estados-membros assinam a sua primeira política comum sobre o asilo e imigração. O Pacto sobre Imigração e Asilo aprovado dia 25 de Setembro, dá forma a uma futura legislação conjunta e vem reforçar os poderes do FRONTEX, órgão responsável pela segurança das fronteiras da UE. Contudo, o texto representa apenas um compromisso. O deputado socialista europeu, Armando França sublinha que a natureza do documento “não é legal, apenas politico”. Juntamente com o Pacto de Asilo e Imigração foi também dado um passo importante para a criação de um “Cartão Azul”. À semelhança do “Green Card” norte-americano, este cartão visa atrair mão-de-obra mais qualificada, como é o caso dos estudantes. Esta proposta abrange todos os que tiverem pelo menos três anos de estudos universitários ou experiência profissional comprovada durante um mínimo de cinco anos. O documento para a imigração e asilo está longe de ser uma questão pacífica. Iniciada a controvérsia com a directiva de retorno, entretanto já aprovada em Parlamento Europeu, o Pacto não escapa a igual resistência.
Na opinião do dirigente da SOS Racismo, Mamadu Ba, “a Europa está a lidar de forma péssima com a questão da imigração”. O responsável acredita que estas políticas restritivas vão contribuir para entregar os imigrantes às máfias. “Não há nenhuma lei ou norma que possa impedir ou regular os fluxos migratórios”, acrescenta Mamadu Ba. De forma contrária pensa o social-democrata, Carlos Coelho. Para o eurodeputado a integração passa pela organização e regulação da imigração: “o sucesso de qualquer política de imigração passa pela capacidade de acolhimento”. Existe um facto ao qual ninguém é indiferente, a Europa é um continente envelhecido. Os fluxos migratórios parecem ser a resposta para que todos apontam. Carlos Coelho recorda que até ao ano 2030 a Europa irá precisar de 21 milhões de imigrantes, salienta no entanto que “não podemos assimilar toda a gente”.
Directiva de retorno Até agora o Parlamento Europeu em processo de co-decisão com o Conselho de Ministros apenas aprovou a directiva de retorno. O diploma prevê, entre outras medidas, o retorno voluntário dos imigrantes “irregulares” até trinta dias, estipula prazos máximos para a sua detenção até 18 meses e impede os imigrantes de entrar novamente no espaço europeu por um período de cinco anos. Para a dirigente da Amnistia Internacional, Sónia Pires, é duvidoso que com estes prazos existam “me-
lhorias no tratamento aos imigrantes”, contudo a activista reconhece que a tentativa de harmonização dos seus direitos é no mínimo “louvável”. No entanto, e pela natureza legislativa da directiva, os países membros estão apenas obrigados a cumprir o seu fim. Assim, Portugal mantém, por exemplo, o prazo máximo de sessenta dias para a detenção, ficando longe dos máximos permitidos na directiva. O euro-deputado Armando França sublinha que Portugal tem actualmente “uma legislação avançada, humanista”. Refere ainda que para o partido-socialista, “o prazo da directiva é desproporcionado”. Sónia Pires vai mais longe e classifica-a de “desumana”. As reacções no plano internacional não se fizeram esperar. Após a aprovação da directiva em Junho deste ano o Mercosul, união aduaneira composta por países da América Latina acusou a Europa de ignorar a sua história e o contributo que as migrações entre países transatlânticos trouxeram para o desenvolvimento do continente Europeu. Na opinião do deputado Carlos Coelho, as políticas para a imigração e asilo têm aspectos positivos, ainda que não se conheça, para já, o conteúdo legislativo do pacto. Já o deputado Armando França acusa este Pacto de ser “tímido” mas ainda assim importante. Apesar disso a directiva foi votada negativamente pelo seu partido e seus homólogos europeus, alegando a “desproporcionalidade dos prazos máximos”.
A LEI DA IMIGRAÇÃO portuguesa entrou em vigor no ano passado
NÚMEROS SOBRE IMIGRAÇÃO A imigração para o Continente Europeu tem vindo a crescer de forma significativa, segundo o Eurostat, sendo que de 1994 a 2007, foram mais de 21 milhões. Só em território nacional, são perto de 400 mil os residentes provenientes do estrangeiro. Desde a abertura do espaço Schengen a Portugal, em1991, o número de emigrantes residentes cresceu cerca de 35 por cento. Sobre a imigração ilegal, as contas são naturalmente mais complicadas. O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) não adianta números. As associações apontam para 150 mil emigrantes em situação irregular. Portugal, sendo um país cada vez mais na rota da imigração, é também, segundo Armando França, um dos que tem “uma legislação humanista” à altura do desafio.
BREVES Irão • França • Israel “Não é a solução”. O ministro dos negócios estrangeiros francês, Bernard Kouchner, deixou o recado, este fim-de-semana, sobre um eventual ataque ao Irão por parte de Israel. Isto apesar de o ministro francês já ter considerado como “inaceitável” um eventual fabrico de arsenal nuclear por parte do Irão. Kouchner insiste que a solução deve seguir a via do diálogo. Desde que o regime de Teerão reactivou o seu programa nuclear, em 2006, que a comunidade internacional tem tentado, por diversas vezes, negociar com a república islâmica, mas sem sucesso. Ainda no mês passado este país
rejeitou a resolução das Nações Unidas para suspender o enriquecimento de urânio. O nervosismo instalado em Israel parece ainda mais justificado com o facto de Ahmadinejad não reconhecer o Estado muçulmano e já por várias vezes ter declarado o seu “aniquilamento”. Os Estados Unidos sublinham a necessidade de prosseguir na via do diálogo e no agravamento das sanções económicas, contudo também para eles um Irão nuclearmente armado é algo inconcebível. “Um Irão dotado de armas nucleares é um grande perigo para o mundo”, afirma o presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush.
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Zimbabwe
Kosovo
A economia do país africano aproxima-se do colapso. Economistas independentes estimam uma hiperinflação perto dos 40 milhões pontos percentuais e não existem sinais de melhoria, muito pelo contrário. A inflação começou a ganhar contornos surreais desde 2006, quando se apresentou na casa dos 1000 pontos percentuais, passando para 12 mil em 2007. Neste momento, um dólar americano vale 10 triliões de dólares zibabweanos. O presidente reeleito sobre grande controvérsia este ano, Robert Mugabe, rejeita delegar o controlo financeiro do país. Exactamente a única solução apontada pelos economistas.
Portugal prepara-se para reconhecer a independência do Kosovo. O ministro dos negócios estrangeiros, Luís Amado, apresenta hoje, 7, ao Parlamento português a tomada de posição oficial do governo. O embaixador russo para a União Europeia, Vladimir Chizov, classificou esta possibilidade como “um erro”, “tal como aconteceu com os outros países que já reconheceram” a ex-província Sérvia. Sobre isto, também o embaixador sérvio em territorio português pediu contenção ao governo. Portugal é o único país europeu, sem problemas com minorias étnicas no seu território, que ainda não reconheceu o Kosovo.
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PAÍS & MUNDO D.R.
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MAIS DE 900 MILITARES da coligação foram mortos no Afeganistão desde 2001
Afeganistão, quatro anos depois Quando se assinalam quatro anos sobre as primeiras eleições afegãs do pós-guerra, A CABRA foi perceber qual a situação actual do país. Especialistas partem do actual teatro de operações e traçam caminhos diferentes para o conflito. Por Diana Craveiro, Ana Rita Ribeiro, Inês Almas Rodrigues
U
ma onda de violência contra as Forças de Assistência e Segurança Internacional e forças afegãs volta a pôr o Afeganistão na agenda internacional. O especialista em questões do Médio Oriente, do Instituto de Políticas Sociais da Universidade Católica Portuguesa (UCP), Miguel Monjardino, não está optimista em relação ao país, sublinhando que o "governo tem muitas dificuldades em manter credibilidade e segurança junto da população local". O general Loureiro dos Santos,
“A NATO não é adequada para este tipo de operações” afirma que o governo afegão, "enleado na corrupção", não consegue impor autoridade no país o que faz com que haja "muita criminalidade e uma tendência para os afegãos se recordarem do regime talibã como um regime melhor do que o actual". Apesar dos esforços do presidente da República Islâmica do Afeganistão, Hamid Karzai, em tentar mediar a situação com o Presidente dos
Estados Unidos da América (EUA), George W. Bush e o presidente do Irão, Mohamed Ahmadinejad, a situação económica e social do país está longe de encontrar estabilidade. Ao longo dos últimos anos, o país tem vivido períodos conturbados e a invasão, em 2001 pelos EUA, confirmaram que o país está longe de atingir a democracia. Loureiro dos Santos define a situação no terreno como sendo "muito preocupante", porque os EUA "em vez de prosseguirem com a operação do Afeganistão e consolidarem a estabilização do país, voltaram pela força para o Iraque", retirando meios no Afeganistão. Quando questionado sobre a intervenção da NATO no Afeganistão, Miguel Monjardino não considera que o problema possa ser resolvido com o aumento de efectivos militares. Estes podem ajudar a estabilizar a situação e a melhorar a segurança da população, mas tendo em conta a história e sociedade afegã, o ideal é que este trabalho seja feito o mais rapidamente possível pelo exército e polícia afegã, praticamente inexistente no país. "É um dilema muito difícil: o Afeganistão precisa de mais segurança, porque sem segurança não há economia, e actualmente não há segurança nem uma economia fiável no país", prossegue o professor da
UCP, classificando a situação de "insustentável por muito mais tempo". Já Loureiro dos Santos, diz que a solução não passa pela NATO, mas sim por “uma maior intervenção dos Estados Unidos, porque a NATO é uma coligação e uma coligação não é adequada para conduzir este tipo de operações de contra-solução".
"Vazio de poder" Após a queda do antigo presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, em Agosto deste ano, instalou-se um "vazio de poder" neste país e as expectativas de Loureiro dos Santos é que esse vazio desapareça e que se consiga "acabar com o extremismo violento". O Paquistão sempre teve uma enorme influência em tudo o que se passava no Afeganistão. Segundo Miguel Monjardino, "as opções políticas que a NATO, EUA e Europa têm seguido em relação ao Afeganistão não parecem levar em conta a questão paquistanesa". O professor conclui que o Paquistão precisa de exercer um maior controlo nas fronteiras, mas para isso tem que ter ajuda de organismos internacionais. "O governo afegão não pode falhar, mas o governo civil do Paquistão também não." No entanto, "as acções que estão a ser levadas a cabo põem em causa a credibilidade do
governo civil do Paquistão", resultando numa conjuntura de grande tensão entre os dois objectivos.
Uma eventual retirada do Afeganistão "Se houver uma retirada dos EUA no Afeganistão, ou Iraque, não terá muitas repercussões no local. Agora, a nível global estas serão enormes", diz Loureiro dos Santos. Em primeiro lugar, por ser um "desprestígio para a nação mais poderosa do planeta" e pela possibilidade de um novo ataque terrorista por parte da Al-Qaeda. O especialista
“O Afeganistão foi claramente um tubo de ensaio” defende que o problema deixou de interessar apenas aos EUA e passou a ser uma questão global, uma vez que as restantes nações perceberam que também estão vulneráveis aos atentados terroristas. Monjardino, duvida que no caso de “uma retirada no Afeganistão, a situação vá mudar drasticamente no Iraque. A Al-Qaeda não vai conseguir triunfar no coração do Golfo Pérsico e isso é
uma derrota estratégica muito importante." Possivelmente a organização vai conseguir sobreviver nas montanhas do Afeganistão e do Paquistão, o que é uma fonte de preocupação para os dois países, arrisca o professor. Apesar da diferença de opiniões, ambos os especialistas concordam que o Paquistão é um problema para a segurança europeia. O Afeganistão "foi claramente um tubo de ensaio militar", afirma Miguel Monjardino, "porque o que os EUA conseguiram fazer com o derrube dos talibãs foi notável do ponto de vista militar”. Na opinião deste especialista, “quando se tratou do planeamento militar para derrubar o regime de Saddam Hussein" os americanos avançaram com um plano semelhante ao do Iraque e os resultados, do ponto de vista convencional, não foram maus porque o regime caiu muito rapidamente. “A influência do Afeganistão no planeamento militar iraquiano foi extremamente negativa”, conclui. A janela de oportunidades está a fechar-se no Afeganistão. "Se não houver um melhor governo, que seja menos corrupto, tribunais que funcionem, mais polícia e desenvolvimento básico, a missão afegã será vista pela história como um grande insucesso”. “Mas é possível que isso não aconteça”, acredita Miguel Monjardino.
16 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
CIÊNCIA & TECNOLOGIA CARLOS FIOLHAIS, docente da FCTUC
“O choque tecnológico foi muitas coisas e não foi coisa nenhuma” O físico defende o ensino experimental nas universidades e critica os estudantes por serem demasiado passivos a reivindicar condições na UC. Por Diana Craveiro e Inês Almas Rodrigues DIANA CRAVEIRO
Carlos Fiolhais recebeu-nos na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (UC), de que é director, para uma conversa que era para ser (só) sobre ciência... Falou de ciência, política, livros, a cidade e a universidade. O físico anunciou que vai publicar um novo livro, referiu a blogoesfera como a sua intervenção pública mais activa e comentou o Plano Tecnológico. E quase nem foi preciso fazer as perguntas… É autor do artigo científico mais citado do mundo. O que é que isso significa para si? Não há nada como ser exacto na Ciência. Em Julho tinha mais de 5600 citações. Fico contente, porque é melhor ter um artigo muito citado do que ter um artigo pouco citado... E é melhor ter um artigo pouco citado do que não ter nenhum. Trata-se de uma colaboração internacional no início da década de 90 com pessoas dos Estados Unidos da América, em particular com John Perdew, onde apareceu o resultado certo na hora certa. É muito útil em vários ramos da ciência. O resultado é uma fórmula que permite descrever a ligação química e que tem aplicações em muitos ramos, como a Química, a Física, a Farmácia, a Biologia e a Nanotecnologia. A partir do momento em que a fórmula entrou nos programas de computador, passou a ser usada porque era útil. E isto é bom para a Ciência portuguesa e para a Universidade de Coimbra. Escreveu vários livros… (interrompe) Tenho aqui um. É o meu próximo livro, chamado “Engenho Luso e Outras Crónicas”. Tratase de uma colectânea de artigos que publiquei no “Público”. Com temas como cultura, ciência, economia, desporto e internacional. O livro vai ser publicado até ao fim do mês. Não sei quantos livros tenho, mas são mais de 40. Tenho alguns de ficção científica e cultural e tenho também uma intervenção directa na própria política da educação. Aliás, a maior parte são escolares. Não devo apenas falar do ensino, mas intervir no ensino. Claro que não faço isto sozinho; um dos segredos de ter um trabalho que chegue às pessoas é ter boas equipas. Procuro juntar pessoas e esforços, e entusiasmar os amigos e é assim que se consegue esse número [de livros] que espero que não pare. Tenho 52 anos, não tenho tantos livros como anos, mas ainda vou a tempo. Os anos não
posso diminuir, mas os livros posso aumentar! A minha intervenção pública não se resume a jornais e revistas. Agora, a minha intervenção mais activa é na internet, no blogue “De Rerum Natura”, que sabemos que é visto internacionalmente e como uma experiência nova. O blogue tem a vantagem de interagir com as pessoas e isso compensa o nosso trabalho. A maior parte dos leitores é jovem, pois quem sai da televisão para ir à internet não são pessoas da terceira idade. Como é que faz para chegar às crianças? Para chegar às crianças uma pessoa tem que ser especial, não as vamos matar com as minhas crónicas. Se não, elas não cresciam, mirravam! Nós criámos uma colecção de livros para crianças chamada “Ciência Divertida”, que tem mais de nove títulos, a única para crianças feita por portugueses, o que diz logo de um estado de subdesenvolvimento. Os livros deram lugar a uma série para a RTP2 e esperamos que estes façam crescer o entusiasmo das crianças face à ciência. Pensa que deviam existir mais programas de televisão sobre ciência? A televisão tem muito lixo, há quem diga que estamos condenados a isso. Há espaço na televisão para os mais pequenos onde deve caber um apontamento de ciência. Sou um dos autores do programa “Mega Ciência”, que teve boas audiências. Ainda fiz outro, o “ABCiência”. Não é verdade que não há público, mas o que é certo é que nenhum dos dois teve continuação. É preciso não estarmos fechados e não nos cingirmos aos programas de “massas”, como o Big Brother. Em relação ao Plano Tecnológico, em que é que este governo foi diferente dos outros? Desenvolver o país passa pela tecnologia e a intenção é boa. Se se conseguiu ou não, tem que se ver mais tarde na altura das eleições. O que me faz impressão é o espectáculo da propaganda. Às vezes, dá a ideia que não é tanto a questão da tecnologia, é a questão de parecer moderno, porque se tem tecnologia e isso é uma ilusão. E levanta grandes questões: será que aquele é o investimento mais correcto para fazer nas escolas? Não deveriam apostar mais no ensino experimental? É uma ilusão as pessoas pensarem que, por
terem computador, ficam mais inteligentes. Acha que o acordo com o MIT (Massachusetts Institute of Technology) foi ou não um bom primeiro passo para implementar o Plano Tecnológico? O Plano Tecnológico antes chamava-se choque tecnológico e eu fico chocado. O choque tecnológico foi muitas coisas e não foi nen h u m a . Qualquer acordo que as universid a d e s portuguesas possam fazer é b o m , mas o que é
“ENGENHEIRO LUSO E OUTRAS CRÓNICAS” é o próximo livro do físico
É uma ilusão as pessoas pensarem que, por terem computador, ficam mais inteligentes menos bom é que se defenda aquilo apenas como imagem. A ciência é internacional e só pode evoluir se houver estes acordos. Agora, se passarmos a vida apenas a falar disso, acho que não temos tempo para o resto. Percebo que haja iniciativas especiais nas melhores escolas, mas isso não deve descorar o trabalho que tem de ser feito com outras. O
trabalho universitário é um trabalho a nível internacional. O professor do MIT vem para aqui ensinar a mesma ciência que ensina lá e nós somos convidados para lá ir e vamos ensinar o que ensinamos aqui. A UC é uma universidade diferente, quanto mais nesta fase pós-Bolonha em que há cada vez mais Erasmus. Quando acabei o curso, há 32 anos, tive possibilidade de ir imediatamente para a Alemanha e a realidade era completamente diferente. Fiquei contente quando saí, porque nas bibliotecas da universidade na Alemanha podíamos levar livros para casa, o que não acontecia aqui. Gostava de ver os estudantes mais activos a exigir coisas para as bibliotecas. Ter as bibliotecas abertas mais tempo, poder levar mais livros para casa durante mais tempo. Era
preciso haver uma solicitação activa dos estudantes, que são muito importantes para isso. As bibliotecas precisam dos estudantes a quererem verdadeiramente tomá--las como suas. Os estudantes precisam de dizer: “eu pago propinas e não é pouco, tenho direito a ter acesso a isso”. Se os livros são poucos, as propinas devem ser para alargar as bibliotecas, a ciência, a electrónica… Vejo alguma passividade nos estudantes. Já tenho falado com o Presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra sobre isto. Muito do serviço adicional tem de se fazer à noite: não é preciso contratar mais funcionários para a biblioteca estar aberta mais tempo. Podiam pôr os estudantes encarregues de assumir a responsabilidade de acesso aos bens.
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ESTATUTO EDITORIAL De acordo com o Artigo 17º, alínea 3, da Lei de Imprensa, qualquer publicação deve divulgar, anualmente, o seu estatuto editorial
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18 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
CINEMA
ARTES FEITAS
“
Destruir Depois de Ler ”
S
DE JOEL E ETHAN COEN COM GEORGE CLONNEY BRAD PITT JOHN MALKOVICH 2008
Depois dos Óscares os Coen voltaram para nos fazer rir… e chorar por mais CRÍTICA DE FRANÇOIS FERNANDES
abem como se costuma dizer: bom filho à casa torna. Neste caso, bons filhos. Depois do memorável “No Country for Old Men”, os irmãos Coen regressam em grande forma ao delicioso e cruel humor negro que os celebrizou. A última vez que vimos os Coen a tentar fazer algo do género foi em 2004 com o insípido e desapontante remake de “The LadyKillers”, que levou a comunidade cinéfila a perguntar se os bons irmãos não teriam perdido o jeito para estas coisas. Felizmente, por agora, não parece haver razões para duvidar. “Burn After Reading” é cruel (ou se não, vejamos o que o destino reservou ao mais pacífico e simpático dos personagens), é selvagem e moralmente pouco aceitável, mas… bolas, já não me ria no cinema assim há muito muito tempo. Pode-se dizer que, com esta obra, os Coen criaram a definitiva ode ao absurdo e à paranóia de uma sociedade com
sede de conspirações. Para isso deram vida a personagens absurdos e egoístas, atiraram-lhes algo que lhes desse uma oportunidade de viajar a um universo desconhecido, onde pudessem dar alguma emoção e condimento a uma existência invariavelmente monótona (as informações secretas actuam como típico MacGuffin que vai, invariavelmente, perdendo importância ao longo do filme) e sentaram-se a ver o destrutivo e inevitável desfecho. Mestres do mise en scéne e da encenação, os irmãos Coen revelaram mais uma vez o seu olho clínico para a comédia. Fazer rir não tem nenhum pré-requisito multimilionário. Não são precisos efeitos especiais nem orçamentos astronómicos e os Coen sabem-no melhor que ninguém. Um silêncio no tempo certo, uma simples expressão de olhar, uma situação inesperada, ou, até mesmo, um retrato do Vladimir Putin no sítio certo, é suficiente para distinguir
uma obra vencedora de um filme que sai directamente para DVD. Se for verdade que Deus está nos pormenores, então os Coen têm lugar assegurado na galeria de divindades de uma qualquer religião politeísta. «Mas e a violência desconcertante?», estarão neste momento a perguntar os leitores familiarizados com a obra destes dois senhores. Não se preocupem que ela continua lá. Gratuita e inesperada como nos tempos de “Fargo “ e “Raising Arizona” e capaz de subverter as estratégias narrativas e práticas cinematográficas mais comuns. No entanto é curioso ver como “Burn After Reading” tem muito mais de “No Country for Old Men” do que seria de esperar. Com medo de revelar mais do que devia, só quero chamar a vossa atenção para o diálogo final (com o brilhante J.K. Simmons a assumir o papel de um inesperado Tommy Lee Jones) e para o que o guião reservou a Brad Pitt.
Tempestade Tropical ” “
T
ropic Thunder” é a nova comédia de Ben Stiller sobre a produção dum épico de guerra, onde o elenco é abandonado em pleno Laos para filmar o filme em estilo cinema verité. Stiller é o “action hero” à antiga, um Schwarzenneger tornado famoso pela sua saga de “blockbusters” apocalípticos, “Scorcher” (que já vai no 6º filme… e 6º apocalipse). Downey Jr. é o actor de método que já ganhou 5 óscares, e que, para o seu papel no filme, faz uma plástica para mudar a sua cor de pele e assim assumir em pleno o papel de sargento negro. Jackson é o estereótipo dos rappers afro-americanos que querem ser actores, conhecido pela sua
linha de marketing que vende a bebida “booty sweat”. Sobra Black, numa caricatura simplista de um Eddie Murphy branco, Coogan enquanto realizador inexperiente, Nolte, o veterano de guerra desiludido e o precioso “cameo” de Tom Cruise enquanto produtor. Ora, se cada uma destas personagens acaba por ajudar a formar uma sátira bem sucedida a Hollywood, a verdade é que Stiller nunca as sabe aproveitar, preferindo usálas enquanto meros veículos de gags brejeiros, escandalosamente escatológicos e sobretudo, de profundo mau gosto (para já nem falar de todas as referências previsíveis aos clássicos de Vietname, como “Platoon” e “Apocalypse Now”).
No entanto, com um elenco destes, algo havia de funcionar, e de facto, Downey Jr. tem aqui um papel que quase salva o filme, cheio de toques subtis, um perfeito sentido de timing cómico e alguns diálogos memoráveis. Tom Cruise é o outro factor de redenção, participando, num registo único e sem precedentes, nas únicas cenas verdadeiramente hilariantes do filme (é ver para crer). O resto é um miasma doloroso de sketches que parecem ter sido editados do “Saturday Night Live”, repletos de piadinhas de adolescente e interpretações sofríveis. Na era pós Judd Apatow sabe a pouco… a muito pouco.
RUI CRAVEIRINHA
DE
BEN STILLER COM
BEN STILLER ROBERT DOWNEY JR. JACK BLACK 2008
Um relampagozinho tropical
7 de Outubro de 2008 | Terça-feira | a
cabra | 19
ARTES FEITAS OUVIR
LER
með suð í eyrum við spilum endalaust ”
O
s sigur rós já não andam tão tristes. Ou pelos menos, assim nos é dado pensar, depois de ouvirmos o seu último disco “með suð í eyrum við spilum endalaust” (em inglês, “With a buzz in our ears we play endlessly”), editado no Verão passado. Nas duas canções que introduzem o álbum, é bem notória esta vontade da banda islandesa em arriscar por terrenos mais pop e musicalmente mais alegres e festivos. Há motivo para alarme? Não, esperemos que não. Nada se alterou significativamente na sua forma de fazer múDE sica. Está lá a atmosfera viSIGUR RÓS brante e enérgica, nas canções “gobbledigook ou EDITORA BEGGARS XL við spilum endalaust”. Está lá também a atmosfera me2008 lancólica, instrospectiva e solitária dos belíssimos (e melhores!) discos do grupo, “ágætis byrjun e ( )”, agora visível em temas como “ára bátur” e “straumnes”. Há ainda uma canção que, sem dúvida alguma, se destaca em todo o álbum. Chama-se festival e dura uns preciosos quase dez minutos. A fórmula, definitivamente, não mudou. Os sigur rós continuam a provocar emoções em quem os ouve. As palavras cantadas continuam intraduzíveis e intensas. A registar, há apenas algumas particularidades. “með suð eyrum við spilum endalaust” é o único longa-duração da banda a não ser gravado inteiramente na Islândia. O produtor é Flood, que já trabalhou com nomes como os Smashing Pumpkins e os Nine Inch Nails. E, pela primeira vez na história dos sigur rós, há uma música, a última do álbum, cantada em inglês. Esta constitui, talvez, a grande mudança no seu percurso musical, por contrastar com o “hopelandish” – espécie de dialecto inventado pelos próprios – e com o islandês a que sempre nos habituaram desde que saiu Von, disco de estreia do grupo. Já não há surpresa, é verdade, mas as suas canções continuam a encantar-nos e eles aí estão para o confirmar já no próximo mês de Novembro, em Lisboa.
E eles levitam para fora da Islândia…
O Vendedor de passados ” Inventam-se memórias
DE
JOSÉ EDUARDO AGUALUSA EDITORA BOOKET - PUBLICAÇÕES DOM QUIXOTE EDIÇÃO 2007
N
a Luanda do pós-guerra, Félix Ventura, negro albino, ganha a vida reinventando passados e genealogias para os novosricos da sociedade angolana. Pela casa do "homem sem cor" passeiam os que desgovernam o país, governando-se, homens de futuro e fortuna assegurados que querem garantir um passado de raízes com a força da História e da verosimilhança. Eulálio é a única companhia de Félix. Partilham o medo do sol e os segredos da casa onde se desenrola toda a narrativa. Eulálio desmonta a cadência dos dias sempre iguais, sempre quentes e sempre húmidos. Eulálio é uma osga. Mas quando a casa dorme, Eulálio e Félix sonham-se. Nos encontros oníricos, a osga recupera a sua forma humana, recorda a vida em forma de gente e conversa com o vendedor de passados. Uma noite, a rotina é interrompida pela chegada de José Buchmann, fotógrafo de guerra, retratista de morte e sombras, da ausência de cor, que procura memórias para fazer suas. Na casa onde se pressentem as "almas velhas de escritores", Félix e Eulálio assistem ao transfigurar de Buchmann, que se deixa possuir pela vida inventada e se recria, assumindo como identidade inata a que comprou.
Ao mesmo tempo, Ângela Lúcia atravessa a existência solitária de Félix. Nos antípodas da presença de Buchmann, Ângela procura nas nuvens e no arco-íris a luz perfeita para capturar nos seus retratos. A languidez e os sussurros da presença feminina alteram os hábitos da casa. A osga suspeita do acaso. O encontro de duas existências tão diferentes, mas tão iguais, não pode ser coincidência. Desconhecer as razões não é acaso, é ignorância. Entra em cena uma nova personagem, essencial para o deslinde da trama. Edmundo Barata dos Reis, vadio profissional e ex-gente, como o próprio se resume, traz para a história os passados autênticos das personagens, forçando-as a um confronto com as memórias que lhes altera irremediavelmente o futuro. Entre o sonho e a realidade, as recordações verídicas e as recordações que se desejam como fiéis, “O Vendedor de passados” é uma reflexão da importância da memória no que somos e no percurso que fazemos. Agualusa cria um enredo onde, entre a verdade e a mentira, a ficção e o real, as figuras se reinventam por vontade própria ou pelo decorrer dos acontecimentos. O resultado é uma história onde as personagens e os seus alter-egos imaginados se confundem magistralmente.
SOFIA PIÇARRA
VER
Leni Riefenstahl - O Tirunfo da Vontade; Olympia ”
O Cinema e a Política
INÊS RODRIGUES
FILME
EXTRAS Artigos disponíveis na: DE
LENI RIEFENSTAHL 2007
D
eve o Cinema assumir uma posição política declarada? Defender uma determinada ideologia, por ela pugnar e procurar a adesão dos seus espectadores à mensagem que pretende transmitir? Se a ideologia que professa se revelar errada ou acabar do lado errado da História, como serão recordados os filmes que a defenderam? Questões que podem ser aplicadas num contexto de apresentação de Leni Riefenstahl, actriz e realizadora alemã famosa (ou infame) pelos trabalhos que produziu sob encomenda do Partido Nazi, e escolhida a dedo pelo próprio Hitler para os concretizar. Depois da II Guerra Mundial, Riefenstahl repetiu até à exaustão o seu afastamento da ideologia Nazi, como o trabalho feito para o III Reich era isso apenas, trabalho. No entanto, ao observar o engajamento da câmara colocado ao serviço da mensagem a passar (Um Povo, Uma Alemanha, Um Líder), torna-se difícil aceitar tal alegação. Ainda mais quando sabemos que, para filmar tanto o Congresso do Partido em Nuremberga como para filmar as Olímpiadas de 1936, Riefenstahl pediu e teve recur-
sos pouco utilizados na altura. Apesar de se tratarem de obras destinadas a propagandear um dos regimes mais brutais da História, é inevitável admirar o prodigío técnico de ambos os filmes, sendo ainda hoje analisados como exemplos de inovação na década de trinta e cuja influência se sente ainda no uso de ângulos e planos das actuais transmissões olímpicas. Como deve então o espectador reagir ao ver “O Triunfo da Vontade” ou “Olympia”? São inegáveis os atributos técnicos que Riefenstahl utiliza com grande à vontade, mas é também inegável a sensação de desconforto ao ver a celebração de Nuremberga, conhecendo a História e sabendo quais os caminhos trilhados por aquelas personagens. Edição dupla da espanhola Cameo Media, com comentários áudio (em castelhano) como único extra além da ficha técnica. Apesar das legendas para a banda sonora dos filmes, a faixa de comentário não teve tal sorte. Também há a destacar a fraca qualidade da banda-imagem, fruto da relação tensa que a Humanidade tem com estas obras, estando mesmo banidas em diversos países.
FERNANDO OLIVEIRA
20 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
SOLTAS ALMOÇO SOCIAL
JOÃO NETO • JUDOCA • 9º CLASSIFICADO NOS JOGOS OLÍMPICOS PEQUIM 2008 Sopa de Feijão
JOGOS OLÍMPICOS “Acho que os resultados foram muito bons, dada a dimensão que Portugal tem. Nuns Jogos Olímpicos é extremamente positivo ficarem quatro judocas nos dez primeiros. Não vou abandonar completamente o judo. Com a idade que tenho posso continuar a competir. Mas não me estou a ver a fazer a vida que fiz nos últimos dois anos, com estágios, competições todos os fins-de-semana. Só fazia judo, não fazia mais nada. Estou praticamente há dois anos sem estudar. Vou acabar o curso, trabalhar em Farmácia e ter uma vida pessoal normal. Daqui a dois ou três anos, se eu me sentir com força para me classificar para os Jogos Olímpicos de 2012, não digo que não. Não posso concordar com as palavras da Vanessa. Qualquer pessoa que vai aos Jogos vai lá dar o seu melhor e não para se deixar perder. Não acho que os atletas vão lá e se deixem perder. Quanto às declarações de alguns atletas, houve um exagero. No caso do Marco Fortes, ele quis dizer que naquele dia nem devia ter saído da cama, ironizou a prestação dele e só isso. O comandante Vicente Moura esteve mal. Parece que teve vergonha dos atletas quando estes não lhe davam as medalhas que ele ambicionava. No final, quando as coisas começaram a melhorar, ele já se recandidatava. Devia ter tomado uma atitude no fim dos Jogos e não a meio”. VANESSA QUITÉRIO
E
m Outubro de 1996, são aprovados os novos estatutos da Associação Académica de Coimbra, 14 anos depois da última revisão. A CABRA noticiou, na sua 26ª edição, “a extraordinária revisão”, como lhe chamou. Desfasados da realidade académica de então, os estatutos da AAC necessitavam, na opinião da maio-
VIDA ACADÉMICA
Lombo assado
JUDO PORTUGUÊS “As pessoas que estão de fora ficam iludidas. Temos alguns atletas no topo e que dão visibilidade à modalidade. Parece que está tudo bem, mas a base está mal ou cada vez pior. Há cada vez menos gente com um bom nível na selecção nacional. Nós não temos suplentes, para nos substituírem em caso de lesão ou em caso de abandono. Se eu deixar, se o João Pina deixar, se a Telma Monteiro deixar, não há ninguém, neste momento, com nível para se qualificar para os jogos, nessas categorias. Temos de melhorar o nosso desporto escolar. Aliás, tem de haver desporto escolar, porque aquilo que há é uma brincadeira. O desporto universitário também tem de mudar. Não é só ter secções na Associação Académica e praticar desporto. Acho que as próprias faculdades deviam ter equipas. O desporto não está inserido no ensino como acontece noutros países. O desporto devia ser uma pirâmide com uma base grande, mas, em Portugal, temos uma pirâmide invertida, não temos base”.
“Lembro-me do ano de caloiro. Lembro-me que na primeira Latada ia ter um Campeonato da Europa dali a dez dias e quase nem podia beber água. Foi uma Latada muito triste. Fui praxado quanto baste. A praxe serviu para me integrar. Deime logo bem com o meu padrinho. Eu dizia que tinha de ir para o treino e eles diziam para eu ir. Lembro-me de algumas oportunidades em que não tinha competições e podia ir a algumas serenatas. Houve um ano em que pude vir à Queima das Fitas mais tempo, porque não tinha Campeonato do Mundo. Por acaso calhou no ano em que eu fui no carro. Lembrome da viagem de finalistas que eu também fiz. Ultimamente já não faz sentido eu andar na vida académica, porque não vou à faculdade e não tenho lá amigos. Já não trajo. Acho que não perdi nada da vida académica, porque acho que o que os estudantes fazem é um exagero autêntico. Ganhei mais em saúde. Tive outras coisas que um estudante pode não ter, porque praticamente dorme um dia inteiro, como visitar outros países. Não trocava isso por nada”.
Entrevista por Catarina Domingos
22 DE OUTUBRO DE 1996 • EDIÇÃO N.º 26 • 100$00
EXTRAORDINÁRIA REVISÃO ”
Melão
ria, de uma revisão, que surge finalmente depois de “um intenso e complicado processo no qual estiveram envolvidas centenas de pessoas, mas a que a generalidade dos sócios se manteve alheia”. No inicio da década de 90, surgiram as primeiras propostas de revisão aos estatutos de 1982. Depois de um polémico referendo que revelava as fragilidades do antigo texto, surge a Assembleia de Revisão dos Estatutos, que teve uma influência decisiva na alteração que se deu. Dotados de um molde rígido e pensado para uma associação com um número menor de sócios e uma estrutura menos complexa, os antigos estatutos foram assim sujeitos a uma revisão profunda, onde novidades não faltaram. Depois de três anos de trabalho,
em Julho de 1996 entram em vigor os novos estatutos da AAC. “ O que há de novo?” perguntava o artigo do jornal em um dos dois artigos que dedicou ao tema. Com uma estrutura semelhante ao texto anterior, os novos estatutos possuíam um novo princípio base: o princípio da promoção dos Direitos do Homem, o que proibía a AAC de receber financiamentos de entidades que contrariassem os princípios da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Introduzindo uma nova categoria de sócios – a de sócios extraordinários, os estatutos não alteraram os órgãos da AAC, modificando apenas algumas das suas competências e o seu funcionamento. Tal aconteceu não apenas com o Conselho Fiscal, mas também com as “Secções Associati-
18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...
vas”. Um dos artigos que A CABRA qualifica como “o mais importante” é o que prescreve a responsabilidade das direcções de secção. A maior inovação deste texto estatutário de 1996 é a institucionalização dos Núcleos e ainda dos Conselhos Cultural e Desportivo. As restantes e mais importantes alterações relacionam-se com a data das eleições, que é fixada em Novembro, com o aumento dos elementos da Direcção-Geral da AAC e com as regras que passariam a regular a Assembleia Magna. Surgindo numa altura em que a AAC se preparava para comemorar o
seu 109º aniversário, os novos estatutos marcaram um período de renovação da academia. Marta Pedro
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O MUNDO AO CONTRÁRIO
SOLTAS ALEMANHA Um homem de 39 anos foi condenado a três de prisão por alugar os serviços sexuais da sua esposa ao vizinho. Em troca, o vizinho, de 60 anos, deveria ceder uma grade de cervejas por dia. A mulher, que temeu pela sua vida, acabou por denunciar o acordo à polícia e o condenado deverá agora submeter-se a reabilitação.
INDIA A luz faltou num templo hindu enquanto estava a ser celebrado um casamento no qual participavam 40 casais. Precisamente quando os noivos colocavam os colares sagrados nas suas respectivas, o local ficou às escuras e vários casais trocaram as noivas. O erro foi descoberto e improvisada uma reza “correctora” que permitiu aos noivos colocar os colares no pescoço do par certo.
TEM DIAS...
A MINHA FILA É MAIOR QUE A TUA
E
lá começou o novo ano lectivo. Voltaram as capas negras, os cânticos
de gosto duvidoso, os convívios, as ruas cheias de vómito e as filas. É verdade. Não se espantem. As filas CLÁUDIA TEIXEIRA
BRASIL Um homem foi preso por alegadamente ter feito sexo com cerca de 400… vacas. Durante quatro anos o “chupa-vacas” , como foi apelidado pela população, causou elevados prejuízos aos fazendeiros. Manteve relações sexuais com éguas e cavalos. Porém, admitiu que as vacas leiteiras eram o seu animal de eleição. Adelaide Batista
pertencem tanto à Universidade de Coimbra como o rasganço ou a Queima das Fitas. Ora, senão vejamos: há umas semanas chegaram os caloiros. Cheios de sonhos e esperanças de perderem finalmente a virgindade, e o que é que lhes fazem? Colocam-nos no Pateo das Escolas a fazer fila para entrar numa tenda. Horas e horas. O sol a apertar, o cérebro a esturrar e o raio da tenda que nunca mais se aproxima (sim, porque por aquela altura o cérebro está tão queimado que já não somos nós que nos mexemos. É a tenda. Com os seus olhos em forma de ar condicionado… que nos vigiam… a cada passo…). Não importa que já se tenham inventado as senhas. A partir de certo ponto duas pessoas alinham-se e está tudo lixado. É só ver a fila a formarse. Parece que estamos a jogar o Snake. Se as pontas se tocam estamos tramados. Claro que nessa altura os caloiros devem estar a pensar “Que se lixe. Também é só este ano”. Coitadinhos. Nem sabem o que lhes espera… Cá para mim as filas da UC fazem parte de um plano curricular oculto para nos preparar para a vida. Afinal de contas as filas vão-nos acompanhar para o resto das nossas existências: nos supermercados, nas casas de banho, no centro de emprego. Felizmente que a ciência se pôs a trabalhar para nos facilitar a vida e nos trouxe a invenção mais importante desde aquela coisa que faz buracos negros: estou a falar, claro, das fitas labirínticas que conseguem encai-
xar 3 mil pessoas num espaço de 10 metros quadrados. Um pouco como o Bar da AAC numa terça-feira às três da manhã. Para mim, o pior de uma fila nem é a espera. O pior mesmo é ser o último. Ser o último de uma fila deixa-me inquieto. Sentes-te o idiota do grupo. Todos entraram antes de ti. Até que chegue mais alguém fico inquieto. Agora quando chega, aí sim, olho para ele com superioridade, “pois é meu amigo. Deixas tudo para a última da hora”. Outro dos grandes problemas das filas são as emergências. O que fazemos quando estamos há quatro horas na fila para conseguir bilhetes para o Porto-Sporting e nos lembramos que é sexta-feira e ainda não registámos o Euro-Milhões? Normalmente deixamos lá a namorada, mas e se estivermos sozinhos? Um dia, numas bilheteiras do cinema, estive 10 minutos a fazer fila atrás de uma garrafa de água. O gajo que estava à minha frente perguntoume se podia deixar a garrafa a guardar o lugar. Ele nunca mais vinha e lá estava eu, a agarrar na garrafa e a colocá-la um pouco mais à frente. No final acabei por comprar um bilhete para mim e para a garrafa. Fomos ver o “Mamma Mia!” Mas acho que ela não gostou muito. P.S. Consegui escrever uma crónica sobre filas sem referir num só momento a palavra “bicha”. Acho que mereço uma recompensa. Não? Licenciado Arsénio Coelho
COM PERSONALIDADE DANIELA CARDOSO
DAGOBERTO FELIZ • 47 ANOS • ACTOR E ENCENADOR
UM HOMEM DE LEIS E PALCOS Sou de Santos, uma cidade do litoral brasileiro no estado de São Paulo... mas torço pelo Palmeiras Futebol Clube! Comecei a tocar piano com seis anos. Fiz o curso técnico para professor de piano no Conservatório; na Universidade Católica de Santos estudei Direito e também comecei a trabalhar com música coral. Num coro, conheci um director musical que misturava técnicas de música com técnica de Teatro. A minha ligação ao teatro começa nessa altura, dirigindo coros encenados e fazendo direcções musicais para espectáculos teatrais. Posso considerar-me actor desde há 10 anos, quando fiz o curso de palhaço com uma grande professora e actriz, Beth Dorgan. Antes disso, era um músico que trabalhava com o Teatro. Poderá achar estranho alguém estudar Direito e Teatro e estar apaixonado pelas duas áreas... Mas as duas falam de pessoas e das suas vidas e é nesse espírito que vejo o meu trabalho teatral. O importante são as pessoas e as suas ânsias de cidadãos. Há anos atrás pude reviver o meu curso através de uma peça de teatro escrita por um advogado criminalista sobre o uso do Direito. Chamava-se “Nada mais foi dito nem perguntado”. Há 12 anos, juntei-me a um grupo de pessoas e resolvemos fazer um espectáculo chamado “Verás que tudo é mentira” e, a partir desse espectáculo, nasce o Folias d’Arte. Vive-se uma crença no actor completo que faz desde criação de figurinos, maquilhagem até direcção teatral: é a ideia do actor que cuida de tudo, em que não existe alguém que está acima dos restantes, em que todos sabem os pormenores e os detalhes do espectáculo que estão a produzir. Mantenho a ideia de que não há um artista a trabalhar num espectáculo, mas sim um artista dentro de um grupo a trabalhar para um espectáculo. O grupo é como uma família no sentido de união, de trabalho e cooperação. É a família enquanto conceito, enquanto espaço libertador que permite experimentar. Para a experiência do teatro sinto que é preciso esse espaço. E essa liberdade de experiência que sinto no Brasil também a tenho aqui em Portugal. Estou em Portugal pela terceira vez, vim sempre com projectos teatrais, primeiro com o espectáculo “Otelo” e depois com “Oresteia”. Agora vim para encenar o “Cabaré da Santa” com O Teatrão.
Devo dizer que gosto muito de Portugal, vejo história espalhada por todo o país, nas casas, nos castelos, nas igrejas, nas pessoas.
Estar aqui também me faz pensar o meu modo de vida. Vivo em São Paulo, são 20 milhões de pessoas, é um ritmo de vida muito diferente do que se vive aqui. Lá eu faço 563 coisas ao mesmo tempo, aqui eu só tenho este projecto. Também vejo que as pessoas aqui se queixam de falta de segurança, mas em São Paulo eu não posso passar na rua sem
ir olhando por cima do ombro, aqui passeio de madrugada sem esse medo.
Entrevista por Tiago Canoso
22 | a cabra | 7 de Outubro de 2008 | Terça-feira
OPINIÃO APELO À DESOBEDIÊNCIA Daniel Salvador Joana *
ANA COELHO
Entenda-se por praxe humilhação disfarçada de processo de integração praticada no início de cada ano
Cartas ao director podem ser enviadas para
acabra@gmail.com
No início do ano lectivo, importa, mais uma vez, lançar o aviso. Em pleno século XXI, num país da União Europeia, existem ainda cidadãos e cidadãs que continuam a ter MEDO quando dão entrada – pasme-se – numa Universidade ou Politécnico. Basta passear durante dez minutos pelas ruas de Coimbra, ou outra qualquer cidade, para nos depararmos com quadros indicadores de civilização tais como: alunas de 17 anos que cantam canções obscenas sobre elas mesmas, coradas até às orelhas, sob o olhar de gozo de colegas quatro ou cinco anos mais velhos, ou alunos que rastejam no chão imundo sob os gritos coléricos dos “generais de negro” (isto para não falar nos famosos rituais de cariz medieval como “levar nas unhas” ou “ser rapado”). E se é verdade que nem todas as praxes são desta natureza, também é verdade que são estas (e outras muito mais repugnantes) as histórias reais que chegam aos ouvidos de muitos alunos finalistas do secundário que anseiam e temem ao mesmo tempo o dia em que se tornarão universitários. A praxe (e entenda-se por praxe humilhação disfarçada de processo de integração praticada no início de cada ano) é, por princípio, uma prática irracional que não deveria ser admitida. Em dois argumentos provo isso: 1-Na praxe, manda mais quem tem menos sucesso. É a altura em que aqueles que demoram sete, oito, dez anos para concluírem uma licenciatura de quatro (obviamente que daqui se excluem os trabalhadores estudantes, ou aqueles que demoram a acabar por motivos de força maior) têm oportunidade de descarregar as suas frustrações e mostrarem ao mundo que afinal ainda têm alguma credibilidade. Pelo menos uma vez no ano todos os respeitam. 2- A praxe não integra nem é livre. Primeiro, a maior parte dos “doutores” que praxam, após a praxe desaparecem da vida dos estudantes do primeiro ano, o que demonstra que apenas se querem divertir às suas custas e não integrá-los. Depois, há quem diga que os “caloiros” podem sempre escolher ser anti-praxe. Escolha livre? Poderia parecer mas não é. Caso o “caloiro” escolha esse caminho vêm os “ses”. “Se queres ser anti-praxe,
não trajarás, não participarás no cortejo da Queima das Fitas, não irás a jantares de curso, poderás mesmo não arranjar amigos”. Argumentos fortes para quem vem com 17 ou 18 anos para uma cidade estranha onde não conhece ninguém… O mundo é a preto e branco para os “constitucionalistas da praxe”. Ninguém pode gostar do cortejo da queima sem se sujeitar à praxe, ninguém pode trajar se não souber humilhar colegas que anseiam integração. Belos exemplos do pensamento crítico e evoluído dos universitários. Há alguns anos que sou antipraxe, desde essa altura que professo essa opinião. No entanto, sempre usei traje (paguei-o caro, não admito que ninguém me impeça de o usar) e participei nos convívios onde se cultiva a amizade. Tomei parte do espírito académico, senti a tradição de Coimbra e para isso nunca foi preciso humilhar ou assustar ninguém. Fui a jantares de curso, fui no “carro” do cortejo e fiz muitos e bons amigos. Arrependome de ter sido praxado, hoje teria sido diferente. Ah, e que não me ameaçassem que ia a “conselho de veteranos” ou “tribunais de praxe”, essas assustadoras instâncias da justiça que fariam o próprio Mugabe tremer de pavor. Os universitários são crescidos de mais para brincar à Justiça! Acusar X ou Y é uma prática comum entre os alunos da Escola Primária onde dou aulas. Aos colegas do primeiro ano deixo um apelo: Desobedeçam! Não permitam que os humilhem! Estamos num país livre. Ninguém vai ficar sem amigos, ninguém vos impedirá de participar em festas ou vestir o traje estudantil de Coimbra (que vos vai ficar tão caro). Revoltem-se! Estarão a escrever uma das páginas mais belas da História da vossa Universidade, estarão a dar um passo em frente, em direcção à liberdade de escolha e no combate à humilhação que alguns tentam impor. Os vossos futuros colegas relembrar-vos-ão e agradecer-vosão. E se houver abusos, não se esqueçam que existe a polícia, e que o Código Civil é o único que têm de cumprir. *Estudante de Mestrado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra PUBLICIDADE
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OPINIÃO O ENSINO SUPERIOR
EDITORIAL
João Rodrigues *
É PRECISO DESPERTAR!
Para um mero estudante do secundário, o ensino superior é o sonho de toda uma vida, é o culminar do nosso árduo caminho de doze anos e o início de um novo ciclo. Mas nem tudo, até à nossa entrada para o ensino superior, é assim tão colorido. Existem muitos obstáculos e os maiores de todos são os “belos” Exames Nacionais, que nos avaliam em duas simples horas, em que estamos fechados numa sala, e onde despejamos toda a matéria que demos ao longo, não de três, mas de doze anos, deixando de fazer sentido toda a história da avaliação contínua. Exame este que pode ser ainda mais complicado se olharmos para as deficientes condições de algumas escolas, tanto materiais como humanas. Grande parte das escolas portuguesas têm poucas ou nenhumas condições para a preparação dos estudantes para o Exame Nacional, ou por falta de materiais, ou até porque muitos desses estudantes, principalmente do agrupamento de Artes, não tem rendimentos suficientes para os adquirir, e o apoio do Estado às escolas é cada vez menor, passando agora a ser responsabilidade das autarquias as várias escolas, afastando assim, o Estado de problemas graves, que agora, já não lhe podem ser atribuídos. Mas após este exame, que pode ser bom para alguns e mau para outros, passamos por uma fase difícil, a das candidaturas. Quantos são os estudantes que não entram para o ensino superior público porque as médias para o seu curso são demasiado altas? É bem verdade que temos de exigir competência e resultados, mas é com uma nota de exame que sabem se vamos ou não bem preparados para frequentar a faculdade? Não acho a melhor maneira de ajudar os jovens a cumprir os seus sonhos, sendo depois, empurrados para o mercado de trabalho para serem explorados como mão-de-obra barata. Depois da entrada no ensino superior público, chegam mais
despesas, como as propinas, que se viram aumentadas devido ao desinvestimento do Estado e ao Processo de Bolonha, um meio de agravar a elitização da educação e de abrir portas à sua privatização e mercantilização. O Processo de Bolonha diminui a qualidade das licenciaturas e agrava as despesas dos alunos que pretendem uma formação que lhes permita aceder ao mercado de trabalho. A divisão das licenciaturas em dois ciclos, assim como a redução do seu número de anos tem o objectivo de reduzir a comparticipação do Estado com a educação e fazer o estudante pagar para ter a sua formação, num valor ainda mais alto de propinas no segundo ciclo a preço de “mestrado”. Não esquecendo ainda os milhares de jovens que são colocados a centenas de quilómetros de casa e têm que se sustentar de alguma forma, entrando no mercado de trabalho ao mesmo tempo que tiram o seu curso, porque, de certo modo, o Estado e as próprias universidades não têm disponibilidade financeira para ajudar os estudantes através de bolsas de estudo, porque não são apenas as propinas que custam dinheiro, uma vez que no ensino superior não existem manuais próprios da disciplina, mas sim, materiais de apoio como as fotocópias, outros livros que estão à venda no mercado por preços exorbitantes e que muitos destes estudantes não têm possibilidade de os adquirir. Outra das perspectivas que nós, alunos do ensino secundário, temos é que no ensino superior a Acção Social Escolar, com a implementação do Processo de Bolonha, em 2005, passou a ser praticamente inexistente. Para terminar, a Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário deseja um Ensino Superior Público, mais justo, menos desigual, e realmente público e gratuito. * membro da Delegação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Secundário
Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com
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começou mais um ano, “caloiros” e “doutores” encetam cânticos pela Alta da cidade, as filas das matrículas parecem nunca ter fim, a procura de casa torna-se numa tortura... Contudo, num outro plano, o início de mais um ano trouxe também consigo a demonstração prática das opções do executivo governamental para o ensino superior. As consequências da aplicação do Processo de Bolonha são cada vez mais patentes. As turmas manifestamente grandes provocam a sobrelotação das salas de aula e a impossibilidade da realização da avaliação contínua. A divisão
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completamente alheada da política do ensino superior. As campanhas de informação e mobilização, por parte da direcção da academia, tornaram-se escassas ou completamente nulas. Os jardins da associação, onde noutros tempos se desenrolaram participadas assembleias magnas, são hoje cenário de guerras de balões de água e demonstrações de fogo-deartifício. Resultado destas opções, não é portanto de admirar que as lutas de rua (salvo raras colagens a iniciativas da CGTPIN) se tenham convertido em miragens no ideário e história da AAC. Numa Academia de Causas
Numa Academia de Causas seria de esperar que a causa maior fosse os próprios estudantes
das licenciaturas em dois ciclos acarretou a diminuição da qualidade pedagógica e já se conhecem os valores das propinas de mestrado. Também a implementação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior começa a surtir os primeiros efeitos. A remodelação dos órgãos de gestão veio reduzir substancialmente a participação dos estudantes nas decisões da vida da Universidade de Coimbra (UC). A par disto, só no início do ano, as propinas conheceram um aumento de 4,8%, o regime de prescrições ameaça expulsar milhares de alunos da universidade e os estágios continuam a não ser a prometida porta para o mercado de trabalho. Face a todas estas questões, seria natural que os estudantes se insurgissem contra as políticas adoptadas para o ensino superior. Porém, a realidade é completamente diferente. Assistimos hoje a uma Academia
seria de esperar que a causa maior fosse os próprios estudantes. Seria de esperar que a Academia soubesse encetar uma resposta organizada a todas estas políticas. Seria de esperar a realização de mais do que as assembleias magnas estatutariamente previstas. Seriam de esperar campanhas de informação e mobilização sobre todos os problemas que afectam os estudantes do ensino superior e em todas as faculdades. Seriam de esperar iniciativas de luta claras e concretas. Mas em vez disso, os únicos gritos de luta que se ouvem são os da disputa entre licenciaturas, no decurso da praxe. João Miranda
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editora-Executiva Multimédia: Vanessa Quitério Editores: Daniela Cardoso (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Ana Raquel Melo, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Inês Almeida, João Picanço, João Ribeiro, Liliana Figueira, Patrícia Gonçalves, Salvador Cerqueira, Sofia Piçarra, Soraia Manuel Ramos Fotografia Ana Coelho, Cláudia Teixeira, Diana Craveiro, Fábio Teixeira, Gonçalo Carvalho, Hugo Meneses, João Miranda, Pedro Crisóstomo Ilustração Marcos Moura, Rafael Antunes Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Birrento Almeida, Milene Santos, Pedro Nunes, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Colaboraram nesta edição Ana Margarida Gomes, Ana Rita Ribeiro, André Ferreira, Daniela Fernandes, Francisca Saldanha, Inês Almas Rodrigues, Ivo Borges, Lino Ramos, Maria Eduarda Eloy, Pedro Monteiro, Sara Ferreira, Tiago Canoso, Tiago Carvalho, Vanessa Soares Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra
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Náuticos AAC
Após 26 anos de existência, a equipa da Secção de Desportos Náuticos da Associação Académica de Coimbra sagrou-se, no passado dia 27, pela primeira vez, campeã nacional. A vitória foi uma surpresa para a equipa, que no início da época apenas ambicionava o quarto lugar no ranking. O colectivo prepara-se agora para a revalidação do título e o apuramento do Campeonato da Europa, em 2010.
acabra.net
Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra
Secção de Fado
No último fim-de-semana, realizou-se a XVIII edição do FESTUNA, organizada pela Secção de Fado da AAC. O evento contou com várias novidades, entre elas, um convívio nos jardins da AAC. O festival teve início há 18 anos quando a Estudantina decidiu institucionalizar um encontro de tunas. Desde então já marcaram presença no festival mais de 4000 tunos das mais variadas academias nacionais e internacionais.
Cartoon :: Por Marcos Moura
Notas sobre arte...
Mariano Gago
Depois de anos de desinvestimento contínuo por parte do executivo para com o ensino superior, que se concretizou na agudização dos problemas estruturais das universidades, o ministro veio anunciar um crescimento de 7,8% no orçamento global para o ensino superior, em 2009. Contudo, não podemos deixar de reparar que estes valores representam apenas uma pequena restituição dos cortes feitos no orçamento de Estado. J.M. PUBLICIDADE
New Brighton • Martin Parr Fotografia • 1985 Um dólar na mão direita, dois gelados na esquerda. Um rapaz escanzelado. Outro nem chega ao balcão. Uma empregada aborrecida. São estes fracos elementos, empastados de cores quentes e sólidas, que matizam esta foto tirada nas praias “imundas” de New Brighton. Neste pequeno espaço azulmenta, o branco açucarado da luz exterior adocica a atmosfera. Torna-a pegajosa. Rompendo as janelas, tenta disfarçar a barreira física que nos separa da praia. Na fila desordenada, braços suados acotovelam-se por um gelado enquanto o dólar na mão amolece e ameaça rasgarse. Apenas dois olhares apatetados denunciam algo para lá do perceptível por nós. O momento é a própria substância da fotografia, uma evidência do vulgar. Esta banal fotografia de férias parece, à partida, nada ter a ver com uma foto de James Dean a deambular sozinho, num dia chuvoso em pleno Times
Square. E na verdade, não tem. Em rigor, o que as associa é o simples facto de pertencerem a autores da prestigiada agência Magnum. Longe dos grandes conflitos e crises internacionais, Martin Parr intitula-se o fotógrafo do populismo. Não é o típico fotojornalista, talvez nem seja fotojornalista. Nos seus trabalhos é evidente o estilo crítico e irreverente onde procura criar “ficção da realidade”. O seu humor envergonha-nos silenciosamente pela semelhança com as nossas vidas. Transforma-a num cartoon. Para ele “a atrofia moral das nossas vidas significa que só podemos encontrar a salvação adoptando um certo humor”. É professor de fotografia na Universidade de Gales desde 2004, mas nem isso acalma a irreverência do seu talento. Actualmente procura aplicar a sua fotografia em contextos como a publicidade, cinema e moda. Por Rui Miguel Pereira