VIRGÍLIO CASEIRO
ELEIÇÕES DG/AAC
Os anos de estórias e pelo universo do maestro da Orquestra Clássica do Centro
Três projectos avançam com as primeiras ideias sobre as candidaturas
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11 de Novembro de 2008 Ano XVIII N.º 188 Quinzenal gratuito
MAGNAS A irreverrência que fez velhas histórias na Academia P 12 e 13
a cabra
Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo
Jornal Universitário de Coimbra
Entrega de postais
ANA COELHO
AAC ruma a Lisboa Postais assinados por estudantes da Universidade de Coimbra vão ser entregues, entre hoje e amanhã, na Assembleia da República como crítica às políticas do governo para o ensino superior. A reivindicação, levado a cabo pela Direcção-Geral da Associação Académica após deliberação da última Assembleia Magna, diz respeito ao financiamento e à Acção Social Escolar.
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Angola
Independência foi há 33 anos A República de Angola conheceu a independância em 1975. Depois de uma longa guerra civil, que terminou em 2002, o país só agora começa a reconstrução. Porém, a abundância de recursos naturais e o investimento estrangeiro não conseguiu ainda trazer a prosperidade desejada.
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Estudante Atleta
UC elege Conselho Geral pela primeira vez A Universidade de Coimbra vai a votos no próximo dia 24 para eleger representantes dos professores, alunos, investigadores e funcionários para o Conselho Geral. A 13 dias das eleições, os cabeça de lista dos estudantes candidatos aos quatro lugares para alunos de licenciatura e mestrado falam, na primeira pessoa,
sobre os seus projectos. Nesta eleição, concorrem ainda 18 professores e dois funcionários. Quanto aos alunos de doutoramento, a quem cabe ocupar um lugar no conselho, não existe lista a votação. A introdução de elementos externos no governo da universidade e a possibilidade de unidades orgânicas
Alunos candidatos traçam objectivos e definem propostas em entrevista
da UC passarem a fundações públicas de direito privado são as maiores preocupações dos cinco estudantes candidatos. Por seu lado, a internacionalização da universidade é uma das principais linhas de força das três listas de professores e investigadores.
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Senado aprova Estatuto
O novo regulamento incentiva a participação do estudantes da Universidade de Coimbra nas secçõe desportivas da Associação Académica de Coimbra.
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acabra.net PUBLICIDADE
2 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira
DESTAQUE
ELEIÇÕES PARA O CONSELHO GERAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
ANA COELHO
O CONSELHO GERAL foi instituído como órgão de governo da universidade com os novos estatutos
UC vota para o primeiro Conselho Geral Alunos, professores e funcionários entram em campanha para eleger representantes para o novo órgão de gestão da universidade Pedro Crisóstomo Os estudantes, docentes, investigadores e não docentes candidatos ao Conselho Geral da Universidade de Coimbra (UC) têm, a partir de hoje, duas semanas de campanha eleitoral para discutir ideias sobre o futuro da universidade. A 1 dias da eleição, os cabeças de lista dos alunos mostram-se expectantes quanto à mobilização dos estudantes na votação, por ser a primeira vez que há eleições para o órgão, instituído com a aprovação dos novos estatutos da UC, em Setembro. Na corrida aos quatro assentos para os alunos do primeiro e segundo ciclos estão cinco listas, que disputam um mandato de dois anos no conselho. O projecto C, com o lema “Coimbra É Hoje”, tem como candidato Luís Rodrigues, estudante de Ciências Farmacêuticas. Fabian Figueiredo, aluno de Sociologia, é o número um da Lista M – “A UC
Merece Mais”. Já a Lista P – “Projectar o Futuro – tem como candidata a estudante de Medicina Inês Mesquita. Da Lista T, Nuno Mendonça, estudante de Direito, é o cabeça de lista e “Representa-te connosco” o lema. Por último, da Lista U – “Unidos Pela UC” – avança Filipe Andrade, aluno de Medicina. A eleição dos membros é feita através do Método de Hondt, sendo que os lugares disponíveis são distribuídos entre as listas, proporcionalmente aos votos arrecadados. No Conselho Geral existe ainda lugar para dezoito professores, dois não docentes e um aluno do terceiro ciclo, que completa o conjunto dos cinco estudantes que integram o órgão. Contudo, nesta eleição, não existe nenhuma candidatura por parte de um doutorando. À Comissão Eleitoral foi apresentado um projecto, que, todavia, não foi aceite, porque um dos elementos da lista tinha a inscrição por regularizar. Ainda assim, os estudantes são unânimes em concordar que estarem a concorrer cinco listas é um sinal de vitalidade e interesse dos estudantes pela representatividade na UC. No mesmo sentido, o presidente da Comissão Eleitoral, António dos Santos Justo, destaca a “grande
concorrência ao processo eleitoral”. Pelo contrário, o envolvimento de dez elementos externos na vida da universidade, através da sua presença no Conselho Geral, é tido pela maioria dos cabeças de lista dos estudantes como uma preocupação.
Conselho Geral traz mudanças na UC Entre as eleições e 15 de Janeiro de 2009, vai decorrer a primeira reunião ordinária do Conselho Geral, já com 25 membros eleitos, sendo que os restantes dez (personalidades “de reconhecido mérito”, externas à UC) vão ser propostos e votados em reunião. Mais tarde, entre estes, vai ser preferido um presidente. O órgão reúne, depois, ordinariamente, mais três vezes por ano, ou sempre que o reitor ou um terço dos seus membros solicitar ao presidente. Com as transformações impostas às universidades pelo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, em 2007, o Conselho Geral assume algumas competências do Senado Universitário, passando a definir “as linhas gerais de orientação da universidade”. A fixação da propina é agora deliberada pelo novo órgão. Algumas matérias apreciadas pelo Conselho Geral a pedido do reitor devem ser
precedidas de um parecer aprovado pelos membros externos. Da mesma forma, é no Conselho Geral que pode ser decidida a fusão ou extinção de faculdades, bem como a sua transformação em fundações ou entidades de natureza pública/privada no seio da UC. Um Provedor do Estudante vai ser indigitado pelo conselho. É também aos 35 membros do Conselho Geral que compete a eleição do reitor, até aqui escolhido pelos pro-
fessores catedráticos na extinta Assembleia de Universidade. O reitor, embora tenha assento, não tem direito de voto e pode ser substituído, suspenso ou destituído das funções por decisão do órgão. O presidente da Comissão Eleitoral reconhece que “a importância” do Conselho Geral pode ser “apelativa no sentido de mobilizar” a afluência às urnas no próximo dia 24, em cada faculdade.
CONSTITUIÇÃO DO CONSELHO GERAL
Professores, investigadores Elementos externos Estudantes Funcionários INFOGRAFIA POR ANA COELHO
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DESTAQUE
LISTA C • “COIMBRA É HOJE” • LUÍS RODRIGUES
“O principal problema da UC são as pessoas” O estudante de Ciências Farmacêuticas pretende levar ao Conselho Geral propostas de melhoramento das condições físicas e pedagógicas da Universidade de Coimbra João Miranda Cláudia Teixeira Quais os pontos que defende o vosso projecto? Integrar mais pró-activamente os estudantes nos serviços prestados à comunidade no sentido de os contextualizar com o mercado de trabalho. Em relação às propinas, entendemos o ensino superior como um bem público. Tentaremos encontrar o valor justo para os estudantes pagarem e, em conjunto com outros membros do Conselho Geral das outras universidades, fazer acções concertadas com o governo. Por exemplo, os estudantes do ensino superior parecem ter sido esquecidos nesta vanguarda dos portáteis nos primeiro e segundo ciclos. São estudantes do superior que dariam uma real utilidade aquele instrumento de trabalho. Defendemos ainda a criação de uma linha especial de transportes entre os pólos III e I, e entre o I e II. O principal problema da UC não é o dinheiro, são as pessoas. O que é para vocês um "valor
justo da propina"? Os estudantes que têm dificuldades económicas, sociais devem exigir uma propina que no mínimo seja concordante com as condições que têm. Através de uma propina diferenciada? Não defendemos a propina diferenciada. Vamos tentar estar concertados com os outros membros do Conselho Geral e das outras universidades para procurar soluções conjuntas, e remetê-las ao governo no sentido de este investir mais no ensino superior. Qual é a vossa opinião da entrada de elementos externos para o Conselho Geral (CG)? Não encontramos uma grande utilidade em termos de elementos externos para um CG. Quem seriam bons elementos externos? Já que tem de haver dez elementos externos, pelo menos devem ser representativos da sociedade ao nível económico, social. Não será com a
concentração de todos os representantes dos bancos nos dez. Como é que vão fazer lutar? Através do voto, através duma intervenção activa, de denúncia e vamos tentar que a haver um investimento de alianças externas na universidade que seja um investimento que nunca comprometa a autonomia universitária. Salvaguardo que os interesses dos estudantes não podem estar em causa com a intervenção de elementos externos. Em relação ao número de estudantes no Conselho Geral, achas que são suficientes? Acho o número diminuto. Não é representativo dos estudantes e eles vão ter que procurar as melhores armas para conseguir contrabalançar esse facto. Qual é a tua posição sobre o novo regime jurídico? Somos a favor de uma maior cooperação entre as faculdades. A união é a única forma da UC continuar com o peso que tem e nos últimos anos houve uma tentativa interna de frac-
turar essas unidades orgânicas. Isso é um perigo enorme à universalidade do saber. A vossa intenção no Conselho Geral é o combate contra o regime? Isso não terá grande sentido porque as linhas do CG são muito pragmáticas.
de estatutos, de natureza ideológica que os possam prejudicar. É fácil um estudante ter de trabalhar para pagar a propina, e no entanto não vê reconhecido o seu estatuto.
Como pretendem actuar em relação a Bolonha e ao regime de prescrições? No regime de prescrições vamos dar prioridade à defesa dos estudantes com problemas de reconhecimento
ANA COELHO
LISTA M • “A UC MERECE MAIS” • FABIAN FIGUEIREDO
“A democracia foi derrotada mais uma vez” Com uma posição crítica em relação ao regime jurídico do ensino superior, Fabian Figueiredo denuncia a falta de representatividade dos estudantes no Conselho Geral e o caminho para a privatização da UC Sónia Fernandes Cláudia Teixeira
ANA COELHO
Quais as razões da candidatura da Lista M? Decidimos concorrer ao Conselho Geral, porque a UC e os estudantes têm sido menosprezados, têm-nos cortado direitos e temos perdido condições. Desagrada-nos o facto de os estudantes só terem quatro lugares quando são a maioria na universidade. Cortaram-nos os direitos, os trabalhadores-estudantes foram esquecidos e ficou por resolver uma data de problemas quando o Processo de Bolonha foi implementado. Agora, chega o RJIES que defende os interesses que não
são os interesses dos estudantes. Todo o desinteresse que tem pairado sobre a UC indigna-nos e faznos querer fazer algo: queremos mudar e tornar isto mais dinâmico. Que apreciação fazes do RJIES? Com este novo regime jurídico o senado perde força. O Conselho Geral empurra o Senado para trás, que passa a ser meramente consultivo, e dá quatro lugares aos estudantes, o que são migalhas. A mesma coisa se passou com os funcionários. Mais: os elementos externos vão ter mais poder do que nós. A democracia foi derrotada mais uma vez. Achas que a UC corre o risco de privatização? O que significa privado? Privado significa que algo está submetido a interesses pessoais, não dos estudantes. O que é que na UC é nosso? Pagamos uma propina máxima e a que é que temos direito? Temos direito a ir às aulas e mais nada. Pagamos apontamentos, livros, habitação, alimentação, ou seja, pa-
gamos tudo. A universidade é pública mas para o utilizador tudo é privado. A universidade não é nossa. O Estado tem feito de tudo para isto passar para os privados. A universidade caminha para a privatização. Pretendem apresentar nomes para os elementos externos? Sou a favor da democracia das instituições, ou seja, de que a universidade eleja os seus próprios representantes. O interesse dos elementos externos não é tornar a UC um lugar mais justo. O ensino é um negócio espectacular. O objectivo é fazer com que os programas sirvam os interesses das empresas. Não vamos propor nome algum. Caso sejamos eleitos vamos mostrar a nossa posição contra a presença de elementos externos. Não é por uma questão de corporativismo ou de bairrismo universitário de Coimbra. Não quero é que o intelecto dos estudantes de Coimbra sirva os interesses desses elementos. Não é justo, não é correcto, nem é democrático.
Qual é a tua opinião sobre uma possível passagem de uma faculdade ou da universidade a fundação? Sou contra a lógica das fundações porque vai ao encontro da privatização. Achamos que a UC precisa de uma reformulação dos serviços administrativos, precisa de uma completa desburocratização. Como vai ser feita a vossa campanha? O exercício da recolha de assinaturas para a constituição de lista foi engraçado porque quase ninguém sabia o que era o RJIES. A nossa campanha vai servir, essencialmente, para informar os estudantes das mudanças que estão a acontecer. Uma das funções do Conselho Geral é fixar as propinas. Qual é a vossa posição em relação a elas? Eu vejo a educação como um investimento do país. Sou contra as propinas porque é uma limitação para quem quer vir para o ensino superior.
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DESTAQUE
LISTA P • “PROJECTAR O FUTURO” • INÊS MESQUITA
“O trabalho não se vai ficar pela lista” Dinâmica intelectual, deliberação intelectual, debate de ideias. São estas as palavras de ordem da estudante de Medicina, que pretende lutar contra o desconhecimento do que é o Conselho Geral junto dos estudantes Pedro Crisóstomo Sónia Fernandes Cláudia Teixeira O que vos levou a concorrer ao Conselho Geral? A experiência e o conhecimento que temos é positivo e construtivo para este órgão máximo de decisão da UC, aliados a outra questão muito importante – o conhecimento da própria orgânica da universidade… Como é que as faculdades funcionam, quais as suas necessidades e de que maneira é que podemos contribuir para construir o futuro da UC. E depois, obviamente, a vontade que os alunos desta lista têm em participar no plano estratégico de construção científica, pedagógica da UC, em questões de financiamento, Provedoria do Estudante, entidades orgânicas e cooptação. Temos capacidade de transpor estas questões, com sensatez, para a análise de tudo o que surgir em relação ao Conselho Geral. Um elemento da tua lista é da actual DG/AAC. É um projecto que sai desta direcção-geral ou
é completamente independente? São eleições completamente autónomas. Não é de todo uma via directa de ligação. Seria importante a presença de elementos da direcção-geral no Conselho Geral? Um dos principais objectivos da nossa lista é anular o vazio que existe nesta Academia relativamente ao conhecimento do que é que os representantes fazem nos órgãos da universidade. Queremos colmatar essa falha. Somos poucos alunos no Conselho Geral e por isso temos que sobressair pelo conteúdo. Faz sentido se for em uníssono, não dando tanta importância à DG/AAC. A UC deve ter três D’s: dinâmica intelectual, deliberação intelectual, debate de ideias. Quais são as vossas exigências? Esta lista é contra as instituições públicas de direito privado, porque os perigos são enormes. A questão da cooptação é uma delas, a questão das fundações outra. Há muitos estudan-
tes fora do ensino superior devido à acção social e a questão da fundação pode vir a influenciar isto. Acima de tudo, temos de assegurar que os elementos externos vão ao encontro da diversidade da UC. És contra ou a favor? O RJIES obriga a ter esses elementos e isso vai depender do perfil e capacidade de qualquer um. Não posso dizer que a presença deles é positiva ou negativa porque não sei quem vão ser. Mas por princípio… Obviamente que somos contra a questão dos elementos externos terem ido roubar a representatividade da razão de existir da Universidade de Coimbra, que é os estudantes. Essa presença nos órgãos externos só será positiva se acrescentar algo de positivo à realidade dos estudantes, não é a interesses, a intrigas, nem a conflitos. No que diz respeito às propinas, qual é a vossa posição? Somos pelo princípio do ensino público, gratuito e de qualidade e, acima
de tudo, idóneo e justo. Claro que somos contra as propinas por princípio, mas sabemos que elas são uma realidade, que existem e que aumentaram muito nos últimos anos. O que vamos fazer é o máximo esforço a debatermo-nos para que não aumentem.
pela lista. As pessoas que lá estiverem têm que assumir um barco comum.
Os próximos quinze dias esperam-se de debate intenso… Não acreditamos que os estudantes possam votar sem saberem quem são as pessoas e o que querem. Depois, sabendo que há a possibilidade de não estarem todos os elementos da nossa lista representados, o debate e o trabalho não se vão ficar ANA COELHO
LISTA T • “REPRESENTA-TE CONNOSCO” • NUNO MENDONÇA
“Votarei contra a fixação das propinas” A favor do ensino superior gratuito, contra as fundações. Nuno Mendonça rejeita a introdução de elementos externos no Conselho Geral e pretende exercer mandato próximo dos estudantes Pedro Crisóstomo Sónia Fernandes Cláudia Teixeira Qual é a vossa vontade para terem concorrido ao Conselho Geral? Os estudantes devem marcar posição como elemento fundamental para a construção de uma melhor universidade, que se quer competitiva, com condições.
ANA COELHO
O que achas sobre o número de alunos no Conselho Geral? É diminuto. Aliás, isso só vem corroborar o que os estudantes defenderam na Assembleia Estatutária, que deviam ser cinco, não compartimentados por ciclos.
Aquando dos estatutos, votaste a favor e disseste que o número era razoável. Foi a única alternativa. Quando digo razoável digo dentro daquilo que nos foi apresentado. Inicialmente apresentamos uma proposta de sete alunos, mas depois acabou por ficar assim. Se achas que o número é reduzido como vão ‘levantar a voz’? Há três ou quatro pontos que devem ser levantados logo a seguir às reuniões. Devemos tratar da acção social, dar continuidade ao trabalho que havia no Senado, e alertar sobre pequenos problemas causados pelo Processo de Bolonha. O facto de reunir ordinariamente quatro vezes por ano, vai dificultar essa ligação? Não acredito que venha a reunir só quatro vezes, dada a estrutura da universidade. É preciso uma proximidade saudável com a DirecçãoGeral da AAC (DG/AAC), porque é a estrutura que representa os estudantes.
Mas a DG não está representada no Conselho Geral… Não, mas poderá existir a possibilidade de ser cooptado, embora se levante um problema, porque não há cooptados por um ano. Como vais informar todos os estudantes? Irei tentar sempre que haja uma Assembleia Magna para colocar os presentes a par daquilo que se tem vindo a fazer no Conselho Geral. Criaremos um blogue. As pessoas vivem completamente alheadas, muitas nem sabem como funciona o Conselho Geral, quase ninguém sabe o que é. Isso é preocupante? Se chegarmos ao dia 24 e houver pessoas que não saibam dizer o que é o Conselho Geral, isso é preocupante. Quais são as vossas propostas? Queríamos alertar para as questões relativas à acção social, em relação às questões pedagógicas… O mesmo com o Processo de Bolonha. Votarei sempre contra a fixação das propinas,
por uma questão de princípio. Acredito no ensino superior gratuito e de qualidade. Em relação aos dez elementos externos que compõem o Conselho Geral, consideras o número excessivo? Sinceramente, acho. Quanto se deu a cooptação dos elementos externos para a Assembleia Estatutária, abstive-me e farei o mesmo nesta cooptação. Empresas atrás da universidade não é o caminho. Quem está dentro deve ter mais representação do que quem vem de fora. Achas preocupante que o presidente tenha de ser um elemento externo? Não sabia que era assim. No caso de uma instituição querer passar a fundação, que posição é que tomarias? Já votei contra nos estatutos e serei contra adiante. Vês algum perigo nas fundações? Não será o melhor caminho.
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DESTAQUE LISTA U • “UNIDOS PELA UC” • FILIPE ANDRADE
“Vamos levar a voz dos nossos colegas” O estudante de Medicina refere a importância do ensino superior gratuito, defende a redução das propinas e denuncia que os estudantes perderam poder de decisão “de forma gritante” na universidade Marta Pedro Cláudia Teixeira Porque concorrem ao Conselho Geral? Estamos a concorrer porque os estudantes têm direito de ter um ensino superior público, gratuito e de qualidade e uma gestão democrática da universidade, portanto, estamos a candidatar-nos para lutar por isso no Conselho Geral com as armas que pudermos e conseguirmos. Quais são as principais bandeiras da vossa lista? Temos a principal ambição de lutar por um ensino superior de qualidade e gratuito e vamos dar atenção a todas as situações que possam pôr isso em causa. A democraticidade na Academia é, para nós, muito importante e vemos com muita desconfiança as entidades externas que estão no Conselho Geral. Perdemos poder de decisão na UC. Vemos com maus olhos, por exemplo, entidades relacionadas com a banca a decidir ou a votar a alienação de património da universidade, a fixarem preços de
propinas ou até as operações de crédito à universidade. Vamos também, como é óbvio, levar a voz dos nossos colegas, porque as coisas não podem aparecer votadas e decididas, quer seja pelo reitor, quer pelo Conselho Geral, e não saber porque foram votadas e quem votou nelas. É importante trazer essas informações cá para fora. É este papel que nos cabe desempenhar. Achas o número de elementos externos excessivo, portanto? Além de excessivos, até achamos completamente dispensáveis. Não achamos que tenha grande lógica termos pessoas externas à universidade a dirigirem o seu destino. Se são externos à universidade que interesses é que eles vão defender no Conselho Geral?! Não vão defender de certeza os interesses da universidade porque eles são externos. A sua própria eleição não é feita da forma mais democrática. E em relação aos estudantes? Quatro estudantes em 35 elementos é manifestamente pouco. Perdemos poder de decisão na
universidade de forma gritante. O poder de influência é muito reduzido em questões muito importantes. Que apreciação geral fazes sobre o RJIES? O poder dos estudantes é reduzido, o reitor passa a ser eleito por um número muito inferior de pessoas. É um regime jurídico que quando mete elementos externos, e quando mete um gestor no Conselho Geral abre as portas a uma possível fundação, uma entidade de capitais públicos mas gerida de forma privada. Como é que vês a possível passagem de uma faculdade a fundação? É negativo. Nós defendemos que o ensino superior deve ser público, gratuito e de qualidade e portanto não deve ser gerido com carácter privado, não deve ser gerido numa óptica de empresariação, muito menos com uma óptica de empresariação que vá condicionar o funcionamento de determinados departamentos e de certas faculdades. A universidade corre o risco
de privatização? Privatização nos termos jurídicos da palavra não sei. Agora que corre o risco de começar a funcionar menos como uma entidade pública e corre o risco de funcionar cada vez mais como uma entidade privada, isso sim. Porque se não fosse assim qual seria a necessidade de haver no Conselho Geral elementos que vêm do mundo empresarial? Uma das funções do Conselho Geral é a fixação das propinas. O que defendem? Como defendemos um ensino gratuito, defendemos que as propinas não devem ser fixadas, deve haver uma redução das propinas, deve ser o Estado a financiar o Ensino Superior em vez dos alunos, portanto somos
contra. Se fores eleito, votarás contra a fixação? Com este preço, sim.
ANA COELHO
As entrevistas em
acabra.net
LISTAS DE PROFESSORES E INVESTIGADORES
Visões coincidentes sobre a UC A internacionalização da universidade é uma das principais linhas orientadoras das três listas de professores que concorrem ao Conselho Geral. Por Sónia Fernandes e Catarina Domingos
LISTA A • A lista que tem à cabeça Boaventura de Sousa Santos (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra) e José de Faria Costa (Faculdade de Direito) tem como nova ambição uma “fortíssima internacionalização e a consolidação de excelência”, como afirma Faria Costa. O número dois da lista A acrescenta ainda que se deve “transformar a UC em qualquer coisa em que se possa orgulhar, sobretudo no plano internacional”. As linhas de força deste projecto são, no entender do também presidente do Conselho Directivo da FDUC, “promover a cultura e a politica universitária e de ajuda e entreajuda ao reitor”. Para Faria Costa, a importância do Conselho Geral é “capital do desenvolvimento da política universitária”, uma vez que “este novo regime político [RJIES] altera substancialmente as escolhas e a estrutura normal relativa à universidade”. A lista A defende na moção estratégica que os estatutos “se afastam do primado da cidadania e da democracia”. Para o elemento da lista “o que importa é sobretudo os órgãos fazerem eles próprios o reforço da cidadania e gestão democrática”. Em relação aos elementos externos do Conselho Geral, a lista A considera que o número é razoável e afirma ainda que este já não é um assunto a discutir. Questionado sobre a possível privatização da Universidade de Coimbra, Faria Costa discorda. Quanto à possível passagem das faculdades a fundações, classifica-a como “um cenário fantasioso”, sublinhando que a sua lista “trabalha num quadro normativo de normalidade”.
LISTA E •
LISTA U •
Encabeçada por João Filipe Queiró (Departamento de Matemática), a Lista E define como linhas orientadoras para o seu projecto “defender uma boa interpretação do Conselho Geral e das suas competências” e o “reforço pela afirmação da universidade como uma instituição de referência, nacional e internacional”. No seu entender, a UC deve “ter a ambição de melhorar sempre” e acredita que este “é o caminho que assegura o melhor futuro, e é o único digno da Universidade de Coimbra”. Nos princípios da lista está referido como um dos pontos fundamentais a simplificação administrativa. Sobre este assunto, João Filipe Queiró explica que “é fundamental que a componente administrativa seja simplificada para os investigadores”. Na questão dos elementos externos, o docente considera que, “se forem escolhidas personalidades de grande qualidade e credibilidade, essa participação poderá ser útil à universidade, sem prejudicar a sua autonomia”. “Não devemos ter medo dos olhares externos”, acrescenta. O representante da lista E não crê que a aplicação do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) vá desvirtuar a UC da sua base fundadora e reafirma que a Universidade de Coimbra tem uma cultura institucional suficientemente forte para atravessar diferentes leis e governos. “Não foi a olhar para dentro, nem a contemplar o passado, que a Universidade de Coimbra se tornou a forte instituição que hoje é, e que queremos que continue a ser”, lembra.
A lista U, que tem como número um João Carlos Marques (Faculdade de Ciências e Tecnologia), define como linha principal do projecto a resposta às questões: “onde estamos, para onde queremos ir e como é que lá chegamos?”. Para Carlos Marques, o “Conselho Geral é o órgão por excelência onde terá lugar o debate das linhas estratégicas da universidade” e, por isso, defende que “a promoção da investigação interdisciplinar e transdisciplinar terá de ser uma das linhas de força da Universidade de Coimbra”. As principais bandeiras da lista U são ter um papel dinâmico no debate sobre a reorganização e reestruturação das áreas do saber na universidade. João Carlos Marques quer uma instituição “sem exclusões mas exigente, de prestígio internacional” e deseja ainda que “o mérito seja recompensado, que se conserve a tradição mas se aposte na inovação e modernidade, que catalise o desenvolvimento regional e nacional”. Para o cabeça de lista, o número de elementos externos a integrar o Conselho Geral “parece um número razoável” e afirma que “gostaria de ver integrar personalidades estrangeiras de grande prestígio” e também “pessoas que desempenharam papel de relevo na UC, que a compreendem bem por dentro”. Em relação a uma possível passagem a fundação das faculdades, João Carlos Marques considera que “se esta opção for serenamente discutida, pesados todos os factores, a UC saberá tomar a resolução que melhor garanta o seu futuro”. Todavia, sublinha: “acredito na universidade pública”.
6 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira
ENSINO SUPERIOR Há vida à noite na UC CLÁUDIA TEIXEIRA
ESTUDANTES DE ARQUITECTURA passam longas horas à noite a fazer projectos nas salas do departamento
Depois de um dia de aulas e quando o trabalho aperta, alguns departamentos da Universidade de Coimbra estão abertos à noite aos estudantes que precisam de fazer investigação ou realizar trabalhos. Por Sara Lopes e Renata Rodrigues
S
ão cerca de 22 horas no Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). O portão aberto facilita a entrada no local. Após subir as escadas surge um grande átrio com uma varanda comprida e cheia de portas. Nas várias salas de estudo do departamento ouve-se música e vive-se um clima de trabalho intenso mas também de descontracção e companheirismo. No quadro de ardósia vêem-se rabiscos de brincadeira. Em frente, as mesas repletas de maquetas rodeiam-se de olhares curiosos e atentos. O estudante de arquitectura David Pinheiro explica: “a quantidade de noites passadas no departamento depende muito dos trabalhos que tenho para apresentar mas quatro por semana é a média”. David denuncia a falta de apoios da faculdade, nomeadamente no que diz respeito à alimentação visto que “nem uma máquina de comida há”.
A mesma situação preocupa a aluna Tânia Correia. No entanto, e apesar de ser a sua primeira noite de estudo no departamento, Tânia está a adorar a experiência “pois o espírito de entreajuda é forte e o ambiente de trabalho em grupo é propício à troca de dúvidas e conhecimento”. Pedro Grilo, estudante do primeiro ano, sublinha que “a vida à noite no departamento de Arquitectura dá para tudo porque se vive um misto de brincadeira e trabalho”. Ouve-se alguém na sala dos alunos do quarto ano: “põe música”. E assim começa mais uma noite de trabalho.
Departamentos são melhor local de trabalho Num ambiente um pouco mais sério, os estudantes do Departamento de Engenharia Electrotécnica da FCTUC também optam pelo edifício para local de trabalho. Aqui o acesso aos alunos é mais restrito, o que torna o meio mais calmo e silencioso.
Num laboratório do terceiro piso o finalista de Engenharia Electrotécnica Nelson Bruno trabalha no projecto final de curso. O estudante refere que não fica no departamento até muito tarde pois passa lá a maior parte do dia, mas sublinha a importância do trabalho de grupo à noite visto que “é melhor para tirar dúvidas, já para não falar das muito melhores condições de estudo”. No mesmo laboratório encontrase Eunice Oliveira. A doutoranda conta que “grande parte das noites são passadas no departamento, inclusive o fim-de-semana”. “Sempre que posso venho para o departamento trabalhar”, reforça. Eunice explica que “existe mais facilidade em aceder a material de trabalho e mesmo nas condições de estudo, até porque se encontra sempre um orientador disponível”. “As dificuldades encontradas residem no facto de não haver uma impressora no laboratório e de a rede informática, que é indispensável no traba-
lho, falhar frequentemente”, denuncia a estudante. Grande parte dos estudantes de Engenharia Electrotécnica trabalham à noite no departamento desde o primeiro ano, mas para o estudante do quinto ano Gonçalo Marques, esta era a sua primeira visita ao edifício durante a noite. “Hoje não vou cá passar muito tempo, mas penso, no futuro, passar cá muitas noites porque o ambiente é sossegado e oferece muito boas condições”, afirma o estudante. No Departamento de Engenharia Informática da FCTUC o sistema de entrada é semelhante ao anterior, no entanto, todos os estudantes têm acesso ao edifício. Em comparação com o Departamento de Engenharia Electrotécnica, aqui vive-se um ambiente completamente diferente, muito mais dinâmico e repleto de estudantes. Devido ao ritmo intensivo de trabalho, o departamento tem uma sala de convívio com matraquilhos, uma
estrutura para jogar ténis de mesa que foi doada por um professor, uma televisão e uma consola de videojogos. A estudante do primeiro ano de mestrado Margarida Faria afirma que passa a maior parte das suas noites no departamento. Margarida explica que “os computadores da escola são do século passado” e, como tal, os estudantes têm que utilizar os computadores pessoais. “Há muita falta de tomadas e extensões e torna-se complicado tanta gente trabalhar ao mesmo tempo com esta condicionante”. A estudante refere ainda a falha constante da rede informática o que é problemático visto que “os projectos são maioritariamente de grupo e, portanto, há a necessidade de estarmos ligados em rede”. No local encontra-se um colega que já estava no departamento há dois dias seguidos. Margarida Faria conta que já foram chamadas ambulâncias várias vezes, devido a desmaios por exaustão. Com Cláudia Teixeira PUBLICIDADE
11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a
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ENSINO SUPERIOR
AAC entrega postais na Assembleia da República PEDRO CRISÓSTOMO
As políticas para o ensino superior levam os estudantes da UC a Lisboa. Direcção-geral da AAC não concerta esforços com uma faculdade da Universidade Nova de Lisboa Cláudia Teixeira Uma acção de protesto organizada pela Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (AEFCSH) está prevista para amanhã, 12. Os estudantes da Nova de Lisboa pretendem demonstrar a sua posição em relação às verbas atribuídas ao ensino superior no Orçamento de Estado para 2009 e ao Processo de Bolonha. O novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, as propinas e outros problemas relacionados com o superior fazem também parte das reivindicações da AEFCSH. Também a Associação Académica de Coimbra (AAC) se vai deslocar esta semana à capital para contestar as políticas governamentais para o ensino superior. Postais assinados por vários estudantes da Universidade de Coimbra (UC) a reclamar “mais e melhor acção social” são a forma de protesto encontrada pela Academia. O presidente da Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), André Oliveira, explica que o objectivo é que “a mensagem passe ao Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior”.
Magna discute estatutos A Assembleia Magna (AM) de amanhã retoma a discussão dos estatutos da Associação Académica de Coimbra (AAC). Em causa está a realização, ou não, de uma nova alteração do diploma. A reunião geral de alunos vem no seguimento da aprovação de uma moção apresentada na última magna pela estudante da Faculdade de Letras Ana Beatriz Rodrigues, em representação dos alunos do Conselho Directivo da faculdade. A moção propunha, então, o adiamento da discussão dos estatutos da AAC, visto que, e de acordo com a estudante, “os estudantes têm que estar consciencializados e melhor informados acerca da temática”. C.T.
Nova diminuição de bolsas
MOÇÃO DA ÚLTIMA MAGNA aprovou a entrega dos postais na Assembleia da República
Até ao fecho desta edição, a direcção-geral esperava uma resposta por parte da AR para saber se vai ser recebida hoje ou amanhã. André Oliveira explica que “tudo está a ser feito para que nos recebam na quarta-feira [amanhã]”. “Caso não seja possível”, explica André Oliveira, “a Academia vai deslocar-se a Lisboa dia 11 [hoje]”. Da mesma forma, era ainda desconhecido se outros estudantes da UC, para além dos elementos da DG/AAC, vão poder participar na acção. Na possibilidade de a entrega dos postais ser feita amanhã e, no que diz respeito a concertar esforços com a
AEFCSH na luta contra as políticas do executivo, André Oliveira é categórico: “a AAC não se vai juntar à acção de protesto dos colegas da Universidade Nova de Lisboa”. “Vamos a Lisboa por uma acção concreta, que é a acção social escolar, e com um objectivo único – entregar os postais na AR”, sublinha. O presidente da DG/AAC reafirma: “o propósito desta ida a Lisboa não é manifestarmo-nos, mas sim falar com a Comissão de Educação da AR e mostrar a posição dos estudantes da UC com a entrega simbólica de postais”. Já na última Assembleia Magna, a direcção-geral se mostrou contra as acções de rua. A iniciativa decorre de uma delibe-
ração da Assembleia Magna, onde foi aprovada uma moção apresentada pelo estudante de Medicina Marcos Lemos. De acordo com a moção, os postais deveriam incluir os actuais problemas do ensino superior, com o objectivo de criticar o actual governo. A última vez que a Academia se deslocou a Lisboa em protesto aconteceu no dia 28 de Março, na manifestação organizada pela Interjovem/CGTP (Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional).
Acompanhe em
acabra.net
Uma diminuição no valor das bolsas de estudo atribuídas pelos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC) está prevista para este ano lectivo. O administrador dos SASUC, António Luzio Vaz, refere que esta redução se deve a “mudança de critérios impostos pelo governo”. “Agora é contabilizado o subsídio de Natal na fórmula de atribuição de bolsas, o que faz com que aumente o rendimento do agregado e que, portanto, a bolsa de estudo baixe”, explica. À margem das bolsas de estudo, uma auditoria financeira do Tribunal de Contas detectou ilegalidades nas contas dos SASUC. Luzio Vaz explica que se tratam de “ilegalidades meramente formais”. “Na minha opinião, isto é uma forma de fazer o lobby das privadas”, critica o administrador. C.T.
Três projectos em marcha para a DG/AAC ANA COELHO
Até agora, apenas Jorge Serrote oficializou a candidatura, mas já se conhecem mais duas listas: Projecto U e FAE João Oliveira João Picanço Decorrem nos dias 26 e 27 de Novembro as eleições para os corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra (AAC). O actual vice-presidente da Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), Jorge Serrote, é, para já, o único candidato oficial. “É um projecto de continuidade da actual DG/AAC mas a lista integra também pessoas novas”, assegura.
De acordo com o dirigente associativo, “o projecto apresenta quatro bandeiras fundamentais”. Na política educativa, Jorge Serrote acredita que “cada vez mais se desinveste no ensino superior e as propinas estão cada vez mais elevadas”. Mostra-se também preocupado com as políticas de juventude e defende que a AAC deve ter um papel mais interventivo “para impedir o afastamento dos estudantes do associativismo e da política”. Jorge Serrote pretende “privilegiar o serviço ao estudante” e refere a reabilitação do Campo de Santa Cruz e o novo estatuto do estudante-atleta como fundamentais para uma aposta no desporto universitário. O estudante garante ainda que não existe qualquer tipo de apoio partidário e que vai privilegiar o diálogo no que diz respeito à forma
de luta estudantil. O elemento do projecto U Henrique Paranhos explica que o grupo ainda não tem candidato definido, mas denuncia a “inércia total face aos problemas dos estudantes” das direcções-gerais anteriores. De acordo com o estudante, o objectivo principal do grupo é “defender os direitos dos estudantes e uma escola verdadeiramente pública e de qualidade”. O projecto U opõe-se ao novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) e os cortes orçamentais no Ensino Superior. Os atrasos no pagamento das bolsas e o novo sistema de empréstimos constituem, igualmente, uma preocupação para os elementos do projecto. De acordo com Henrique Paranhos, “não chegam acções simbólicas. Um dia de gabinete é suficiente para saber
que essa forma de luta não chega”. A luta pela Acção Social Escolar e a denúncia dos sucessivos cortes orçamentais por parte do Governo constituem as principais bandeiras da Frente de Acção Estudantil (FAE). O elemento do grupo candidato à DG/AAC, Manuel Afonso, explica que “a acção social é um direito básico que tem vindo a ser estrangulado” e promete adoptar “uma solução que vá para além da luta de gabinete”. Outra das preocupações diz respeito à falta de pluralidade, defendendo que existem “muitos projectos mas poucas ideias”. Manuel Afonso garante que “a FAE não beneficia de qualquer apoio partidário” e que “a campanha é financiada com o «plafond» da papelaria da AAC e contributos dos elementos da lista”. Com Cláudia Teixeira
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CULTURA TAGV tem condições limitadas cultura porcá para grandes espectáculos 11 NOV
ANA COELHO
LUTAS ESTUDANTIS: ONTEM E HOJE
Conversa CAFÉ-TEATRO TAGV • 18H ENTRADA LIVRE
11 NOV
OS MALUCOS DE MAIO Cinema - Ciclo Louis Mall FNAC • 21H30 • ENTRADA LIVRE
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Com a vinda do bailado russo “O Lago dos Cisnes”, A CABRA foi conhecer as capacidades e as limitações que o teatro da universidade enfrenta para receber grandes espectáculos Sara Lopes Renata Rodrigues
NOV
ENCONTRO DE AUTORES Sessão com António Arnaut ALMEDINA ESTÁDIO • 21H ENTRADA LIVRE
14 15 e NOV
MÉDICO À FORÇA Teatro • Trama que envolve violência, mentira, sedução e poder TAGV • 21H30 • 8¤; ESTUDANTE 6¤
14 NOV
SUPA AO VIVO Música FNAC • 22H • ENTRADA LIVRE
17 NOV
EU SERVI O REI DE INGLATERRA Cinema TAGV • 21H30 • 4,5¤; ESTUDANTE 3,5¤
18 NOV
O MEU IRMÃO É FILHO ÚNICO Cinema Realizador: Daniele Luchetti TAGV • 21H30 • 4,5¤; ESTUDANTE 3,5¤
19 20 e NOV
ARTE_REAL_MENTE_ ARTE Colóquios de Outono 2008 Reflexão sobre a produção artística e a produção de pensamento AUDITÓRIO DA REITORIA UC ENTRADA LIVRE
19 NOV
XI FESTIVAL DE MÚSICA DE COIMBRA
Apesar de Coimbra ser uma cidade aberta à cultura, segundo alguns especialistas, não tem as infra-estruturas necessárias para estar na rota dos grandes espectáculos. Contudo, o “Lago dos Cisnes”, que o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) acolhe no fim deste mês, é exemplo de como são contornadas algumas limitações. Segundo o coordenador do curso de Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e antigo director do TAGV, Abílio Hernandez, “o teatro tem todas as condições para receber um espectáculo de qualidade”. Contudo, o docente reitera: “se os grandes espectáculos exigirem grande capacidade técnica, ao nível do espaço, é obvio que tem limitações”. O actual vice-director do TAGV, Francisco Paz, responsável pela programação, reconhece: “ não temos as condições ideais, nem perto disso”. Contudo, explica: “fazemos desde há muitos anos esse tipo de espectáculos com as condições que temos”. O professor de Estudos Artísticos da FLUC, Fernando Matos de Oliveira, afirma acerca da temática que
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DEZ
PINTURA DE DULCE ZAMITH Exposição GALERIA ARTE VÁRIA 2ª A SÁBADO - 12H- 20H
Por João Picanço
“Portugal ainda vive muito concentrado em Lisboa e Porto”. Ao nível do orçamento dedicado aos grandes espectáculos por parte do Estado, o docente explica que ”a itinerância dos espectáculos é um critério importante de financiamento para outros espectáculos”. Um dos constrangimentos apontados por Francisco Paz é “a falta de espaços laterais”, bem como “a idade do palco – que está velho – e a inclinação, que não abona a favor dos espectáculos”. Contudo, o vice-director adverte que “não é impeditivo”. As cadeiras, a estrutura do palco, o ar
condicionado e o equipamento de luz e som são os materiais com mais carência de arranjo, segundo Francisco Paz. Uma das formas de contornar as limitações financeiras é “alugar o material que temos às entidades que o TAGV acolhe, a preços mais módicos”, o que faz com que “se recupere aos poucos o investimento que o TAGV faz”, declara. Aquando do cargo como director, Abilio Hernadez refere que as dificuldades também existiram. “Num ou noutro caso, houve manifesta dificuldade, sem grande margem de manobra”. Os exemplos ilustrativos
apontados por Hernadez são a ópera “O Boticário” e o bailado “Pedro e Inês”. Relativamente a este, que veio a Coimbra quando a cidade foi Capital da Cultura, em 2003, o ex-director refere que “foi necessário fazer grandes alterações no cenário, e isso necessariamente significou um acréscimo de custo no espectáculo”. Contudo, o docente assevera: “não podemos duplicar a dimensão do palco”. Reconhece que Coimbra necessita de uma estrutura apta para grandes espectáculos, mas conclui que “o TAGV, com o palco que tem, desenvolve um excelente trabalho”.
Do centro onde a arte acontece O hodierno edifício que o Pátio da Inquisição abraça é o local escolhido por muitos para mostrar arte em Coimbra e mostrá-la… a quem está disposto a vê-la Sara Oliveira
António Rosado - piano Pedro Carneiro - marimba/vibrafone TAGV • 21H30 • 10¤; ESTUDANTE 8¤ até
O PALCO tem 50 anos e possui uma inclinação impeditiva a alguns espectáculos
A porta é de vidro. Comprida, alta e larga. Fica no Pátio da Inquisição, onde as paredes que lhe suportam as frinchas estão para lá de uma arcada velha, sinuosa e que esconde todas as rugas que o tempo lhe quis rasgar. Por entre tanto barro e tanta fissura, estão traços de actualidade a contrastar com o envolvente: é a exposição “A Part of My Life”, de Marianne Muller, no Centro de
Artes Visuais de Coimbra (CAV) até ao primeiro dia de Janeiro do próximo ano. Depois de passar o vidro, opulentas paredes se insurgem num reflexo celestial abalando de rompante a retina de um primeiro olhar: o branco. Do lado esquerdo, numa das muitas paredes que suporta o edifício, um quadro enorme. É invulgar pela dimensão que abrange a parede que amistosamente o suporta. Tem um emoldurado largo que é réplica de todos os outros quadros que aquela sala contém. Esse quadro, aí. Sim. É uma fotografia: uma espécie de rosa ou duas. O que quisermos que seja. Uma mancha brusca e harmoniosamente delineada. Tem contornos pouco precisos, mas a sua profundidade atinge a sensibilidade de muitos. Num outro espaço, estão salas pequenas, recônditas e entrelaçadas umas nas outras, ligando-se pelas
fotografias que albergam. No âmago de cada sala, três e quatro sumptuosos retratos onde os pormenores são centro do norte e do sul do piso principal daquele espaço. As imagens que compõem todo aquele espaço são as formas de expressão artística de uma fotógrafa que o elegeu para se mostrar. É só dela aquele espaço. São os seus traços que através da objectiva que a definem perante a multidão anónima que ali entra e a contempla através de uma moldura com quatro lados pretos e fortes. A passo lento, deixo para trás o chão e fujo para aquele que ainda não pisei. Os passos ecoam por todo o lado. Paro. É um quadro que choca aquilo que habitualmente muitos reprimem por força de convenções sociais: um nu. Sem pudor. Sem preconceitos. Nem ângulos censurados. Num outro recôndito espaço, está
um televisor LCD. Sento-me no paralelepípedo que lá está e observo a imagem. Identifico um típico lavatório de uma casa de banho. Olho e volto a olhar e continuo sem perceber de onde veio. Do chão sai literalmente o som de água a correr do lavatório que está na parede daquele espaço, envolvendo o próprio espectador. Depois de percorrer 20 imagens fotográficas ao longo da grande sala, facilmente se percebe que percorrem todo um mundo feminino bastante real que explora o íntimo das visões de cada fotografia, onde a figura da mulher é o vértice de uma pirâmide assente na dicotomia corpo – alma. Quando o som do último passo caminha para abandonar a sala, uma frase dactilografada no cimento da parede “aproxima-te, ouve-me”, de Rui Chafes, transpõe-me para dentro da arte fora daquele edifício.
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CULTURA
VIRGÍLIO CASEIRO - MAESTRO DA ORQUESTRA CLÁSSICA DO CENTRO
“A morte é uma felicidade triste” A música, a musicoterapia e a docência são valências que fazem parte do dicionário do mestre do som que nasceu e vive em Coimbra. Por Eduarda Barbosa e Sara Oliveira PEDRO MONTEIRO
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om que idade sentiu o interesse pela música? Apareceu no útero materno. Sem saber comecei a criar o gosto no útero materno. E depois no período perinatal, aí também cantei. Foi a primeira vez que cantei e a partir daí o gosto manteve-se e continuei a cantar e a tocar sempre que possível. Porquê esse interesse em aprofundar o conhecimento musical? A vida é complicada e cheia de percursos, caminhos, cruzamentos, quer de factos ou de pessoas. Se estivermos acordados para a vida rapidamente nos apercebemos que há um conjunto de realidades inerentes à nossa própria formação e evolução que nos leva todos os dias a fazer rotundas. Elas são pontos de encontro e de divergência, porque todos nós procuramos chegar a uma rotunda, mas, mal chegamos a uma rotunda, queremos lá estar o menos tempo possível. A vida é feita deste sair e partir, deste partir e chegar. Quando regressamos às coisas, saboreamo-las de forma diferente porque o enriquecimento que fizemos durante o périplo dá-nos conhecimentos e abre-nos perspectivas para saborear as coisas que já tivemos, de uma forma diferente. Foi musicoterapeuta. Porquê? A musicoterapia é um tipo de exploração da música tendo conta a incidência terapêutica em relação a uma pessoa que queremos modificar. Só por isso é inebriante, interessantíssimo! A música ao ser encarada como complementarização terapêutica permite estabelecer uma relação de proximidade com o outro. Em determinada altura da minha vida, eu próprio cheguei à conclusão de que sou anormal. Durante muito tempo preocupei-me com isso, mas depois cheguei à conclusão que os normais são anormais que conseguiram a maioria. E é por isso que se calhar com essa ansiedade toda, de quatro em quatro anos vamos às eleições votar para ver se conseguimos maioria. Se integrarmos a nossa maioria, somos normais, se continuarmos num partido de minoria, somos anormais, neste caso, ideológico. A música só por si não cura nada, mas pode proporcionar condições facilitadoras para a cura. Então a musicoterapia contribui para um melhor desenvolvimento pessoal e cognitivo? Na minha vida, tudo contribuiu
para um melhor entendimento cognitivo, afectivo e motor porque eu sou tripartido. Quando somos tripartidos somos divinos. Tudo o que envolve algum espírito e alguma cedência metafísica é ternário. Tudo o que tem a ver com estabilidade, tranquilidade e aprendizagem é quaternário. Está sentada numa cadeira com quatro pernas e está estável. Está numa sala com quatro paredes e acha normal. Há este confronto entre o quaternário e o ternário que é importante ter noção disso. O grande papel do educador não é transferir para o aluno os conhecimentos, é criar condições de instabilidade para que ele próprio procure conhecimento. A vida vainos ensinando isto. Temos de saber viver com o que temos. Para isso, é necessário esforço de introspecção filosófica para que consigamos entender que todas as vidas vão ter acidentes de percurso, uns transponíveis outros intransponíveis. Como é que olha para a sua carreira docente? Como alguém que dedicou a sua vida a um fenómeno interessantíssimo, alucinante e inebriador. Agarrar nos outros e transformar-me no homem mais rico, com a maior fortuna pública que não conseguem descapitalizar. Um professor para além dos conhecimentos que tem de saber, tem de gerir todo o “comércio cultural” com uma tranquilidade de quem tem a certeza que tem stocks para as pessoas todas. Quando só tenho a especificidade do conhecimento da minha área, rejeito os alunos porque tenho medo que eles descubram a fragilidade dos meus conhecimentos. E aqui aparece o conceito de dois professores totalmente diferentes: os acessíveis, que são geralmente os bons, e os inacessíveis, que são os maus com medo de serem descobertos. Ao longo da carreira docente fui ganhando uma fortuna, guardando-a no meu cofre. Todos os anos abro as portas do cofre e digo aos meus alunos: “o capital é vosso, metam as mãos, levem o que quiserem, sirvam-se à vontade deste capital”. E sempre que os alunos metem as mãos no meu cofre e tiram o capital do conhecimento que querem tirar, eu fico ainda mais rico. Já esteve em muitos países. Comparativamente, Portugal dá mais ou menos importância à música? Portugal tem um modelo cultural que decorre do analfabetismo que no Estado Novo abundava. Depois tentou recuperar, mas o investimento nunca foi fundamental e su-
ficiente para poder mudar a face das coisas. Ao longo da vida, uma pessoa recebeu o conhecimento visualmente, auditivamente, gustativamente, olfactivamente, tactivamente e foi amadurecendo. Nesses cinco sentidos, o sistema educativo só amadurece um: a visão. Os outros ficam em estado subdesenvolvido e consequentemente “anormalizados”. Contudo, a ignorância dá-nos tranquilidade. O estereótipo de que a música clássica é elitista é por vezes generalizado. Considerao verdadeiro? Não. É apenas aferida para um determinado estado de audição adulta. Como não há estimulação para uma audição adulta no nosso sistema educativo, há uma diferença muito grande entre a capacidade de compreensão auditiva e o produto das pessoas mais desenvolvidas auditivamente. Costumo explicar que a música erudita vive num palácio, ao passo que as pessoas geradas por este sistema educativo vivem num T1. O mundo é a grande aprendizagem da vida. Fazendo uma retrospectiva, o que é que ainda lhe falta fazer? Ser feliz, globalmente, em tudo o que a expressão envolve. Ser feliz não é concretizar um projecto, achá-lo mau e rejeitá-lo só porque ele não está bom. Ser feliz é conseguir habituar-se a esperar tranquilamente na fila da vida à espera da morte. Durante muito tempo, perante a expectativa da morte, vivemos numa angústia que nos torna até hipocondríacos. Ser feliz é ser capaz de digerir as coisas. Sei que estou na fila da morte, sei que não estou apressado em morrer, mas tenho a tranquilidade airosa de saber que a minha vez chega e que tenho que aproveitar hoje tudo aquilo que possa, para que se for amanhã, eu esteja de consciência tranquila. Isto é que é a felicidade. Isso também o atormenta? Atormentou-me muito durante muito tempo. É preciso gerir, viver e interrogarmo-nos muito no silêncio e na escuridão dos quartos iluminados, porque nos quartos iluminados podemos ter uma escuridão terrível, nas casas movimentadas podemos ter uma solidão angustiante. Perante a morte da minha mãe podia matar-me… Mas neste leque de opções escolhi o que me deu mais prazer: ficar ao pé dela a chorar, construir a minha felicidade perante dados inamovíveis, uma felicidade triste. A morte é uma felicidade triste.
A MÚSICA é o centro do mundo de Virgílio Caseiro
PERFIL Nasceu em Ansião a 8 de Julho de 1948. É licenciado em Ciências Musicais, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Nova de Lisboa, e Mestre em Ciências Musicais, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. É especialista em musicoterapia, direcção coral e de orquestra. Como musicólogo, tem realizado conferências e concertos como maestro e cantor em vários países da Europa e do mundo. Já foi agraciado com diversos prémios de naturezas diversas, e actualmente rege a Orquestra Clássica do Centro, em Coimbra. S.O.
10 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira
DESPORTO
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BASQUETEBOL
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Académica vs Galitos FC 15H • PAVILHÃO MULTIDESPORTOS
Para voltar à Divisão de Honra Ana Coelho Com a esperança de regressar ao escalão principal, a Secção de Rugby da Associação Académica de Coimbra (AAC) tem apostado numa equipa jovem e renovada. Depois de ter descido de escalão e voltado ao Campeonato Nacional da I Divisão, a Académica encontrase neste momento no primeiro lugar da tabela, ainda que tenha mais encontros disputados que os adversários. O balanço dos últimos quatro jogos, “é positivo, com a vitória sobre os três adversários directos”, defende o treinador da AAC, Sérgio Franco. Na sua opinião, Rugby Clube Lousã, CR Arcos Valdevez e o Vitória Futebol Clube são os candidatos aos primeiros lugares. Este ano a equipa da Académica perdeu 19 dos 39 jogadores que integravam o grupo na época anterior. Por essa razão foram integrados vários jogadores do escalão inferior. A AAC está num processo de renovação. “É um trabalho que leva tempo porque é uma equipa praticamente nova”, acrescenta Sérgio Franco. Para além da perda de atletas, por razões académicas e profissionais, o
A
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VOLEIBOL
ANDEBOL
Sporting C. Caldas vs Académica 17H30 • PAVILHÃO RAUL JARDIM GRAÇA
Académica vs AD Sanjoanense 18H • PAVILHÃO UNIVERSITÁRIO 3
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HÓQUEI EM PATINS FC Oliveira do Hospital vs Académica 21H • PAVILHÃO DESPORTIVO MUNICIPAL
Estatuto para proteger estudantes atletas ANA COELHO
ALÉM DE DIREITOS, o estatuto exige que o atleta treine seriamente e se dedique à prática desportiva
O regulamento vem valorizar a prática desportiva dos que representam a UC e a AAC Ana Coelho Catarina Domingos
clube enfrenta outros problemas. Para o presidente da Secção de Rugby da AAC, Jaime Carvalho, “o problema é que todos são atletas amadores e não se pode exigir que treinem como os profissionais”. Para Sérgio Franco, a equipa também tem trunfos. “Há falta de peso no bloco de avançados, o que poderá ser um ponto a nosso favor, porque são mais rápidos”, revela. O campeonato fez uma paragem por causa da Taça de Portugal. A AAC está isenta da primeira eliminatória da prova, mas volta a jogar no sábado, dia 15, com a Associação Prazer de Jogar Rugby. No entender de Jaime Carvalho, a paragem pode ser “prejudicial para a equipa, já que se treina com menos frequência”. A Associação Prazer de Jogar Rugby é a equipa que lidera o Grupo Norte/Centro da Segunda Divisão, num escalão abaixo da AAC. Assim, para o treinador Sérgio Franco “apesar de o adversário jogar bem, a Académica é favorita", conclui.
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No último Senado Universitário foi aprovado, por unanimidade, o Estatuto Estudante Atleta, uma reivindicação estudantil. O documento contempla a possibilidade de adiar o prazo de entrega de trabalhos, de escolher primeiro os horários em detrimento de outros estudantes, de poder ir a outras turmas práticas mesmo depois da escolha de turnos durante o ano, de requerer exame a quatro cadeiras semestrais na época especial e de pedir relevação de faltas. Para o coordenador-geral do desporto da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), Miguel Portugal, a aprovação “é uma maneira de recompensar os estudantes que praticam desporto”. No mesmo sentido, a vice-reitora da Universidade de Coimbra (UC) e mentora do projecto, Cristina Robalo Cordeiro, reforça que o Estatuto do Estudante Atleta “ revela o lugar que deve ser dado ao desporto na Universidade de Coimbra para os estudantes que
querem praticá-lo de forma séria e regular”. Apesar de entrar em vigor no dia seguinte à aprovação no Senado, ficou a ressalva que o regulamento necessita de algumas alterações para tornar o texto mais consentâneo com a linguagem jurídica. “Há um aspecto ou outro que é preciso acautelar em termos de expressão e de linguagem”, explica a vice-reitora. Ao contrário das outras instituições do ensino superior, o novo texto inclui não só a participação nas provas da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), como também salvaguarda os estudantes universitários que competem dentro das secções. Nas outras universidades do país apenas só é considerado o primeiro aspecto. “Pegou-se em ideias, na especificidade da AAC e fez-se o regulamento mais completo do país”, avalia Miguel Portugal. Mas o Regulamento do Estudante Atleta não tem só regalias. Também abarca deveres, “para que as coisas corram bem e sejam feitas com seriedade”, como afirma Cristina Robalo Cordeiro. “No fundo o estudante tem de mostrar que treina, tem que perder tempo com o desporto que pratica e ter aproveitamento escolar”, resume o coordenador do desporto. O mecanismo de controlo está a
cargo do Observatório do Desporto da UC, que vai ser constituído por um membro da reitoria, um membro da Faculdade de Desporto, um membro dos Serviços de Acção Social e um membro do Conselho Desportivo da AAC. A vice-reitora conta que “o órgão vai não vigiar, mas acompanhar os actos e as actividades dos estudantes”. A cessação de direitos acontece quando o estudante atleta faltar a duas ou mais competições. No entanto, este aspecto vai ser refor-
O estatuto ainda vai sofrer algumas alterações para o adequar à linguagem jurídica mulado, uma vez que nem todos os atletas têm o mesmo número de momentos competitivos. “Não achamos correcto que um atleta que tenha 30 ou 40 momentos competitivos durante o ano seja eliminado à segunda competição”, defende Miguel Portugal. Cristina Robalo Cordeiro recusa a ideia que “a UC é das últimas” a adoptar um regulamento como este e classifica a ideia como “inovadora”. Por outro lado, a mentora do projecto acredita que “com o re-
conhecimento e a valorização do estudante atleta podem atrair-se mais jovens para o desporto”.
O que pensam os atletas Apesar de alguns atletas não estarem a par da aprovação do Estatuto Atleta Estudante, todos salientam a importância para continuar a prática desportiva. Com 25 anos, Rui Pita actua na equipa principal da Secção de Futebol da AAC, da qual também é presidente. “Perdemos muito tempo e isso prejudica-nos claramente nos estudos e se de alguma forma formos recompensados, tudo bem”, sublinha. Para Fernando Sousa, extremo da equipa sénior de basquetebol da AAC e estudante de Gestão na Faculdade de Economia da UC, o novo documento é “uma forma de incentivar os estudantes a praticarem o desporto”. “Muitos atletas ao ingressarem no ensino superior desistem dos desportos que praticam, devido às incompatibilidades e ao acumular de trabalho”, argumenta o atleta. Como “trabalhador, atleta e estudante”, Fernando Sousa diz que a gestão das actividades é “uma questão de organização”. O novo estatuto já era uma batalha com décadas e veio para fixar “a prática desportiva na UC e reconhecer o esforço e dedicação dos atletas”, como se lê no preâmbulo.
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DESPORTO
UNIÃO DE COIMBRA
P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O
Clube deve a antigos jogadores ANA COELHO
BASQUETEBOL A equipa sénior de basquetebol da Associação Académica de Coimbra (AAC) perdeu fora com o Casino Ginásio por 7367. Esta é a segunda derrota que a equipa de Norberto Alves sofre na Liga Portuguesa de Basquetebol. Assim, depois do jogo antecipado da nona jornada da prova, a Académica cai para quinto lugar, com 12 pontos somados. Na próxima ronda, a Académica recebe o Galitos FC, no Pavilhão Multidesportos, em mais uma jornada cruzada.
VOLEIBOL
ENTRETANTO, A CAMÂRA MUNICIPAL anunciou que vai atribuir um relvado sintético ao Campo da Arregaça
As dificuldades financeiras continuam a ensombrar o clube. Dentro de campo, a União ainda não conhece o sabor da derrota Catarina Domingos André Ferreira Há dois anos a jogar nas distritais, a União de Coimbra atravessa uma fase de mudança, em busca da saúde financeira. Eleito há quatro meses como presidente, Carlos Félix afirma que “está tudo a ser resolvido com as Finanças e Segurança Social, através de um investidor”, recusando-se, contudo, a revelar o nome do negociante. Por outro lado, o clube tenta
sobreviver com um passivo de 600 mil euros. Apesar dos ordenados do plantel estarem em dia, o clube tem dívidas a saldar com antigos atletas. Gabriel Carvalho, agora no Grupo Desportivo Guiense, revela que o clube conimbricense lhe deve 3500 euros, relativos a um ano e meio de ordenados. O guarda-redes de 26 anos avança que “o advogado está a resolver a situação via tribunal e vai interpelar um processo”. Em relação ao período que esteve na União de Coimbra, o jogador conta que foi afastado da titularidade, depois da chegada do investidor que exigiu a sua saída da baliza para a entrada de um outro guarda-redes, filho de um apoiante do clube. “O técnico disse-me que não estava para compactuar com estes joguinhos e que se ia embora”, lembra. Carlos Félix explica que, “com os antigos jogadores”, estão “a tentar
arranjar protocolos de acordo para lhes podermos pagar faseadamente”. Ainda no plano financeiro, o presidente conta que os sócios têm as quotas em dia. Ainda que não tenha havido uma grande campanha para angariar sócios, desde o início do mandato do actual presidente entraram mais 250 sócios. A treinar em Taveiro, no Estádio Sérgio Conceição, a União de Coimbra vê agora a hipótese de regressar ao Campo da Arregaça. O clube é um dos sete contemplados com um relvado sintético de terceira geração, atribuído pela Câmara Municipal de Coimbra. Quanto à importância da reabilitação do espaço, Carlos Félix destaca a possibilidade de “desenvolver muito mais as camadas jovens”. “Até os seniores poderiam eventualmente jogar na Arregaça, o que seria bem melhor”, acrescenta. O
projecto deve ser concretizado até Julho de 2009.
Sempre a ganhar Ao cabo da sétima jornada, a União de Coimbra é líder isolada da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra, com 21 pontos. Este fim-de-semana, a equipa de Pedro Ilharco recebeu e goleou o Moinhos por 8-0. Com o melhor ataque e defesa e o maior número de vitórias da prova, a União soma e segue. O “primeiro objectivo” é alcançar a Terceira Divisão Nacional. “Comprometi-me nas eleições quando fui eleito a subir de divisão, é isso que estamos a tentar fazer”, assegura o presidente. Carlos Félix tem confiança no grupo e classifica-o como “uma excelente equipa”. Na próxima jornada, dia 16, a União joga na Carapinheira com a equipa local.
Bilhar dá os primeiros passos na AAC Aprovada há pouco mais de um mês, a Pró-Secção de Bilhar tem até dois anos para mostrar que pode vir a ser a 26ª secção desportiva da AAC Emanuela Gomes José Vasconcelos Com a intenção de levar o bilhar à comunidade universitária, foi criada a nova Pró-Secção de Bilhar da Associação Académica de Coimbra (AAC). A aprovação deste projecto foi dada no plenário das secções desportivas, tendo a Pró-Secção até dois anos para
mostrar que tem condições para se tornar numa Secção Desportiva da AAC. O primeiro passo, segundo Ricardo Salgado, um dos responsáveis pelo projecto, vai ser dado com a apresentação da equipa, com a realização de um torneio de abertura. A equipa já é composta por seis atletas, estando mais três praticantes em processo de inscrição na Federação Portuguesa de Bilhar. O espaço, também a ser apresentado, está situado na rua do Brasil, que devido a questões burocráticas ainda não foi estreado. Ricardo Salgado descreveo mesmo como “novo, único em Coimbra e talvez no país”, com condições excepcionais. O passo seguinte vai concretizarse ainda com a abertura de uma es-
cola de Pool, aberta a todos estudantes, e com a criação de um Campeonato Nacional de Bilhar Universitário, com a cooperação da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU). Durante a fase de crescimento da modalidade, estão também pensados vários torneios de captação de atletas. A Pró-Secção vai estar aberta a todos os estudantes do ensino superior e prevê-se, de momento, um sistema de quotas para quem frequentar a escola, somente para compensar o aluguer do espaço. Ricardo Salgado assegura que o projecto possibilita a um aluno de condições financeiras médias praticar esta modalidade, de custos elevados, e ascender em termos competitivos. Para já, a iniciativa só conta com
apoios de pequenos financiadores “amigos”, uma vez que, por ser uma Pró-Secção, não tem direito ao dinheiro da AAC, ainda que conte com apoio na divulgação. Apesar de defender que o bilhar não tem expressão na zona centro, Ricardo Salgado mostra-se optimista e deseja “trazer para Coimbra grandes eventos da modalidade”. GONÇALO CARVALHO
Este fimde-semana foi de jornada dupla para a equipa sénior de voleibol da AAC. A turma de Carlos Marques sofreu duas derrotas. No sábado, perdeu frente ao Centro Voleibol de Lisboa por 3-0 e, no domingo, foi derrotado pelo Desportivo de Gueifães por 3-1. Em seniores femininos, a AAC também não foi feliz, ao perder por 3-1 com o AC Juventude.
HÓQUEI EM PATINS A AAC somou a quarta vitória no Campeonato Nacional de Terceira Divisão – Zona Norte B, ao vencer em casa o Perosinho por 7-3. Em quatro jornadas, a equipa de Miguel Vieira só conhece triunfos, somando agora 12 pontos. A Académica partilha a liderança com o Marinhense e, na próxima jornada, joga em Oliveira do Hospital, com o clube local.
ANDEBOL Para o Campeonato Nacional da Segunda Divisão – Zona Centro, a Académica somou o segundo empate consecutivo. Em Aveiro, a AAC empatou com a JOBRA a 23. À nona jornada, a equipa de Ricardo Sousa soma 17 pontos. Este domingo, no jogo para a Taça Presidente da República, a equipa dos estudantes venceu por 31-26 o Ílhavo AC, na primeira eliminatória da Zona Norte. Catarina Domingos
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UMA MAGNA DE ESTÓRIAS E HISTÓRIAS
Na véspera da Assembleia Magna, fomos conhecer os momentos mais caricatos que marcaram o órgão máximo da Academia. Por Diana Craveiro e João Miranda
uem hoje participa numa Assembleia Magna pode não imaginar os momentos de irreverência que pautam a história do órgão máximo da Associação Académica de Coimbra (AAC). Desde magnas que resultaram em manifestações e manifestações que deram em magnas até à apresentação de moções que apelavam à desobediência civil através do nudismo, várias foram as situações que demonstram a originalidade dos estudantes. Corria a década de 70 e, resultado da crise académica de 69, a Academia vivia tempos conturbados e assaltada pelo combate entre várias facções políticas. “As magnas eram um autêntico faroeste”, lembra o antigo estudantes da Universidade de Coimbra (UC) Joaquim Reis. A rivalidade entre os diferentes grupos conduziu a que os estudantes ligados ao Movimento Reorganizador do Partido do Proletariado (MRPP) fossem impedidos de falar na magna. Joaquim Reis lembra que, “apesar disso, o dirigente do MRPP da altura insistiu em ir falar e voou do balcão do Teatro Académico Gil Vicente para a plateia”. “Havia grupos partidários de extrema-esquerda e de direita que formavam tipo piquetes, que ficavam regra geral no balcão, para quando a malta do MRPP ia falar. O dirigente foi atirado do balcão pelo menos três vezes”, acrescenta o antigo estudante. Contudo, Joaquim Reis explica que o aluno nunca se magoou, devido ao facto de os estudantes que compunham a plateia no piso de baixo apararem
a queda. No ano lectivo de 77/78, a discussão sobre a reintegração da praxe, após dez anos de luto académico, veio trazer uma nova controvérsia na Academia, que se reflectia na própria discussão das Assembleias Magnas. Joaquim Reis recorda que numa magna realizada nos jardins da associação, uma proposta foi posta à votação e a direcção apelou à unanimidade de voto. Na altura do escrutínio, vários estudantes abstiveram-se. “Quando perguntam «Então quem vota contra?» só houve um gajo que pôs o braço no ar, que fui eu. E então, curiosamente, o colega que estava a contar os votos diz «Eh pá, não há ninguém a votar contra.» e há alguém que diz «Não, está ali um!» e ele «Ah, o teu voto não conta, que tu és maluquinho! Unanimidade!»”, recorda Joaquim Reis.
Reunião com o ministro, em directo Também as propostas levadas a discussão na Assembleia Magna arriscam muitas vezes pela sua originalidade. Outro antigo estudante da UC, Ricardo Matos, lembra que aquando da discussão da relação da estrutura da Queima das Fitas com a AAC existiam várias propostas divergentes. Enquanto uns apoiavam que deveria ser o Conselho de Veteranos a assumir uma posição mais forte dentro da Comissão Fiscalizadora da festa, outros defendiam que esse papel teria de passar pela Direcção-Geral da AAC (DG/AAC). A controvérsia foi-se gerando com vários momentos de choque ARQUIVO
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até que, numa Assembleia Magna para discutir o assunto, um estudante afecto à posição da DG/AAC decide propor o emparedamento da porta da sala do Conselho de Veteranos, enquanto este não se demovesse da sua ideia de autonomizar a Queima das Fitas em relação à AAC. “A reacção das pessoas foi, na altura, eufórica, no sentido de rirem e bater palmas, mas depois acabaram por não votar favoravelmente”, conta Ricardo Matos. Contudo, a ideia de que a AAC teria que possuir uma posição mais forte na Queima das Fitas acabou por sair triunfante. Ricardo Matos enumera também como uma das histórias mais marcantes, uma magna que decorreu à mesma hora do que um programa televisivo de debate, em que o Ministro da Educação da altura, Marçal Grilo, respondia às questões do público, que contactava o programa telefonicamente. “Estávamos em plena Assembleia Magna quando disseram isso à DG/AAC. Então o presidente da direcçãogeral, António Silva, não podia perder a oportunidade de ligar para fazer questões ao ministro, mas ele não podia estar na assembleia ao mesmo tempo”, recorda Ricardo Matos. A solução encontrada passou pela instalação de um televisor na sala onde decorria a Assembleia Magna. “A malta reagiu muito bem, a Academia de Coimbra a interpelar em directo o ministro. Ele lá tentou responder mas ficou entalado, como é óbvio... O presidente colocava as questões e depois desligava, mas o ministro fugiu à pergunta”, relembra Ricardo Matos. O presidente da DG/AAC no ano lectivo de 97/98, António Silva, lembra uma moção aprovada que deliberava a realização de uma manifestação à porta da Expo 98: “foi uma situação um bocado complicada, que poderia jogar contra nós, porque a exposição era um símbolo de representação do país”. “Em virtude de não haver condições objectivas e práticas para realizar a manifestação, acabámos por torná-la numa acção de sensibilização. Por isso, fomos em dois autocarros cheios de estudantes para Lisboa onde fizemos uma acção de sensibilização à porta da Expo 98”, conta António Silva. O antigo dirigente recorda ainda que “chegou a haver moções apresentadas com o aval da DG/AAC para realizar caminhadas até Lisboa e ainda moções de incentivo à desordem pública em Coimbra, para as pessoas saírem de casa todas sem roupa. Essas, claro, que a DG/AAC já não podia apresentar”.
Magna em vias de facto Já o antigo presidente da DG/AAC e da Mesa da Assembleia Magna, Vitor Hugo Salgado, guarda na memória as duas primeiras magnas enquanto presidente do órgão: “a primeira assembleia a que eu presidi, no auditório Paulo Quintela,
tinha cerca de cem pessoas que decidiram encerrar a universidade por tempo indeterminado enquanto não se resolvesse o problema de falta de verbas de funcionamento”. Em Dezembro de 2001, a segunda reunião máxima, inicialmente agendada para o Palco Paulo Quintela, teve de se mudar para os jardins da associação devido à grande afluência. “Teve a participação de cerca de três mil estudantes. Na altura, foi votado um conjunto de matérias e um conjunto de medidas, como falar com o primeiro-ministro, António Guterres”, conta Vitor Hugo Salgado. Em 2002, uma Assembleia Magna deliberou a realização de uma manifestação nacional em Lisboa, à qual algumas associações de estudantes não aderiram. “A direcção-geral então desmobilizou-se da manifestação, mas a Academia de Coimbra não é só a DG/AAC, e assim houve quem mobilizasse para ir à manifestação e foram dois autocarros aqui de Coimbra”, conta Ricardo Matos. Para essa noite estava também marcada uma Assembleia Magna. Segundo o antigo estudante, “o presidente da DG/AAC, que era na altura o Vítor Hugo Salgado, tinha um jantar de apoiantes marcado para esse dia. Então juntou-se [na Assembleia Magna] no Paulo Quintela a malta que tinha ido à manifestação e os apoiantes da lista da DG/AAC, que tinham vindo em massa do jantar”. O recinto rapidamente sobrelotou, tendo alguns estudantes que se sentar no palco e começou a gerar-se uma discussão se, tendo em conta as condições, deveria decorrer a magna, que depressa se transformou em briga. “A sensação que tenho é que as pessoas que se pegaram eram ambas apoiantes da mesma tendência e lembro-me de estar a ver a situação e dizer: «Mas estes gajos estão onde, para andar à porrada entre eles próprios?» não fazia muito sentido”, recorda Ricardo Matos.
nessa mesma Assembleia Magna, dois estudantes subiram ao palanque e “pegando nesse processo da manifestação, imitaram o discurso do Vitor Hugo Salgado. «Foi marcada uma manifestação mas eu não vou, por isso, demito-me!» Pegaram no discurso que ele tinha feito para o Reitor e adaptaram-no”. Ricardo Matos lembra ainda um estudante que declamava as suas intervenções todas em verso : “não propunha nada, rigorosamente nada e tinha discursos muito com-
pridos mas o pessoal sentava-se e ficava a ouvir aquilo”. As propostas que o antigo estudante ressalva como mais caricatas passam pela pintura do edifício da Direcção Regional da Educação do Centro de preto e o envio de folhas de papel higiénico para a caixa de correio do Ministério da Educação. Uma manifestação de pijama, para simbolizar o adormecimento do ensino superior, e um jogo de roleta russa entre o presidente da DG/AAC e o Ministro da Educação foram pro-
postas que não viram o apoio dos restantes sócios da Academia. Algumas intervenções da Assembleia Magna, como “Iremos ao ministério partir aquela porcaria toda!”, chegaram mesmo a transformar-se em míticos indicativos da Rádio Universidade de Coimbra. “No fundo, são histórias que têm a ver com a própria irreverência da Academia de Coimbra”, remata António Silva. Com Inês Almas Rodrigues ARQUIVO
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“Demito-me!” “Depois destas magnas todas, uma, que me marcou bastante, foi a magna em que a DG/AAC pediu a demissão do reitor”, confessa Vitor Hugo Salgado. No órgão máximo da Academia, o presidente colocou dez questões ao Reitor da UC, que a DG/AAC considerava “essencial serem respondidas”, caso não visse satisfeita a sua vontade, a direcção dos estudantes exigiria a demissão do reitor. Na sequência do ultimato, Fernando Rebelo demitiuse. Na Assembleia Magna seguinte, Vitor Hugo Salgado subiu ao palanque, onde leu as questões colocadas na reunião anterior. No final de cada uma, deu a resposta: “demito-me”, encenando uma possível resposta do reitor. “A partir da terceira questão, o que acabo por verificar é que o auditório completo já dizia «demito-me, demito-me, demito-me»”, conta o antigo dirigente. Ricardo Matos recorda que,
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CIDADE
CENTRO COMERCIAL AVENIDA
Desertificação sem solução à vista O comércio activo e a localização do edifício Avenida, são insuficientes para atrair clientes e possíveis investidores. Lojistas e administração não encontram alternativas viáveis CAROLINE MITCHELL
Elizabete Paulos Ribeiro Vanessa Soares “Piorar, não piora, não tem é tendência para melhorar”, é assim que o administrador do Centro Comercial Avenida (CCA), Humberto Almeida, caracteriza a actual situação do edifício. É notório o abandono do espaço, lojas fechadas, poucos ou nenhuns clientes, tentativas de atracção de público, e nem a posição central do edifício faz com que alguma das especulações acerca da possível venda, se concretizem. O edifício com 115 anos de existência já foi circo, foi teatro de referência, palco de grandes manifestações políticas e teve lotações esgotadas de grandes êxitos cinematográficos. Mais tarde, foi transformado em centro comercial, fazendo parte da história da cidade e dos seus habitantes. “Naquela altura era impensável que este espaço ficasse ao abandono”, refere o proprietário do Bar Avenida, Arlindo Coelho. Apesar de alguns lojistas não se mostrarem arrependidos por se terem fixado naquele espaço, quando se fala do motivo principal que originou a ausência de clientes, a opinião é unânime: o fecho dos cinemas. “Estou aqui há 19 anos e o motivo da escolha foi fácil, era um espaço comer-
cial com duas salas de cinema, e o seu encerramento originou a redução de clientes”, comenta Arlindo Coelho. A cidade tem assistido e contribuído para que a crise que o Avenida vive há anos se venha arrastando. Como objectivo de a solucionar realizou-se recentemente um leilão para a venda das duas salas de cinema, existentes no rés-do-chão, que entretanto encerraram, mas o valor da licitação não foi atingido. “Interessados há, não têm é dinheiro, facto que inviabilizou a existência de ofertas aliciantes para a aprovação da venda”, refere o subgerente da empresa responsável pelo leilão das salas, António Florindo. O regresso do dinamismo ao edificio parece depender de novos investimentos. A possível venda dos três primeiros pisos ao Instituto Superior Miguel Torga foi outra das hipóteses que surgiu para reaproveitar o CCA. Para muitos dos lojistas, esta seria uma boa solução, como mostra a proprietária do estabelecimento Zita Cabeleireira, Teresa Rasteiro, “seriam muitos alunos que nos entrariam pelo edifício, o que era muito bom para movimentar o espaço”. Apesar da visão pessimista que assombra o edifício, existem muitas lojas que resistem a esta realidade e
todos os dias cumprem o horário de funcionamento. “Os novos centros comerciais não têm certas lojas que nós temos”, afirma a funcionária da Flôr de Coimbra, Maria Adelaide. “São entre 1000 a 1500 as pessoas que passam diariamente no CCA”, segundo o administrador do edifício. “São muitas as horas mortas sem passar uma única pessoa no corredor, porque o nossos clientes de passagem são cada vez menos”, refere a proprietária do salão Zita Cabeleireiro. Os vários pisos do Avenida são preenchidos por clientes habituais, mas para os comerciantes parecem não ser suficientes. A Câmara Municipal de Coimbra já propôs soluções informais para reaproveitar o edificio, uma delas passava pela sua tranformação num Centro de Saúde, no entanto Carlos Encarnação, actualmente, afirma não ter nada a declarar sobre a situação do Avenida. “O futuro imediato será o mesmo que se vive actualmente, o da sobrevivência e da gestão corrente. Vão continuar a fechar e a abrir lojas”, conclui o administrador das CCA. Enquanto isso, os comerciantes anseiam por um bom investimento no local, para que o centro comercial volte a ter a vida que tinha noutros tempos. O pensamento dos lojistas resume-se assim ao de Teresa Rasteiro, “penso sempre que amanhã vai ser um dia melhor”.
CENTRO COMERCIAL vive dos clientes habituais
Insegurança move contestação na Baixa A zona histórica da cidade tem sido palco de sucessivos assaltos. Várias soluções foram projectadas, mas as insatisfações mantêm-se Sónia Fernandes Marta Pedro “Durante a noite não há um único agente da PSP a policiar a Baixa” afirma Luís Fernandes, dono da loja de antiguidades O Cantinho da Freiria, que este ano já foi assaltado 3 vezes. Este local da cidade de Coimbra passa, actualmente, por uma crise de insegurança, a que nenhum dos comerciantes fica indiferente. Entre as 500 lojas existentes na Baixa, 300 já foram vandalizadas. As longas ruas desta zona, tornam-se perigosas quando a noite chega à cidade. Lúcio Borges, proprietário da pastelaria Moeda conta que “o perigo aumenta durante a noite, porque de dia é um local mais ou menos seguro”. Os res-
tantes lojistas não hesitam em responder da mesma forma quando a questão é a segurança. Na ourivesaria Rainha Santa, Filomena Cruz, explica que se acostumou a ficar “à porta porque tenho medo de estar dentro da loja sozinha”. Os lojistas apontam o dedo às entidades policiais e politicas pela problemática que assombra a Baixa conimbricense. Manuela Ferreira, dona do restaurante Febris, diz sem oscilar que se fosse “por problemas de estacionamento tínhamos logo a polícia em cima mas quando é para nos proteger da insegurança já não há polícias”. Diariamente uma ou outra loja é vandalizada como conta Rogélia Cardoso, funcionária da Ourivesaria Chieira. “No outro dia cheguei aqui e tínhamos os toldos todos rasgados”, relata a jovem. O clima de medo que passeia pelas ruas da Baixa, assustam não só as pessoas que fazem deste sitio o seu local de trabalho, os seus habitantes, mas também quem por ali passa. Esta realidade é confirmada por Manuela Ferreira que declara que “as pessoas não saem à rua com medo, já não há pessoas que queiram morar aqui”.
Desde o inicio do ano que a onda de criminalidade se tem vindo a acentuar, e apesar dos dados o mostrarem, o chefe da PSP de Coimbra, Humberto Santos certifica que “o que se passa na Baixa são casos desfasa-
dos da realidade de Coimbra”. Lúcio Borges, cujo estabelecimento já foi assaltado 3 vezes, não partilha da mesma opinião e refere que “as obras envolventes, os edifícios abandonados, a pouca iluminação e a falta de ANA COELHO
A MAIORIA dos assaltos acontece depois do encerramento das lojas
policiamento” contribuem para que os assaltos se tornem mais fáceis e frequentes. O alarmismo entre os comerciantes atingiu o seu auge esta semana quando a vaga de assaltos nocturnos aumentou. Os 40 comerciantes presentes no protesto que se realizou em frente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) manifestaram o seu desagrado perante a vaga de criminalidade registada. Posteriormente, os presentes foram convocados para uma reunião no Governo Civil de Coimbra (GCC), de onde saiu uma promessa de elaboração de um “Contrato Local de Segurança”. Luís Fernandes, representante dos lojistas acredita que “vá funcionar porque estamos perto das eleições”. As 17 câmaras de vigilância a instalar em breve na Baixa podem ser uma possível solução para travar os assaltos que se tem feito sentir, “mas por enquanto ainda é só um projecto”, afirma o proprietário do Encanto da Freiria. A maioria dos lojistas anseia soluções urgentes tal como confessa Manuela Ferreira: “isto tem de mudar. Assim não vivemos seguros nem descansados”.
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PAÍS & MUNDO Portugal deixa problemas ambientais para segundo plano O país continua a apresentar vários problemas ambientais. Apesar do apurar de sensibilidades por parte dos cidadãos, a crise económica sobrepõe-se agora às questões ambientais D.R.
Rui Miguel Pereira Vanessa Quitério Depois de todo o alarmismo lançado pelo ex-presidente americano, Al Gore, em 2006, com o documentário “Uma verdade inconveniente”, a causa ambiental parece já não ser uma prioridade para os cidadãos. Anunciou-se o degelo no Árctico e consequente aumento do nível médio das águas do mar, o progressivo agravamento da temperatura global, tempestades cada vez mais fortes e irregulares estações do ano. O mundo parecia acordar em bloco para a causa ambiental. Contudo, depressa as preocupações ambientais esmoreceram. Em Portugal discutiram-se as alterações climáticas. Em 2006 e 2007 foi revisto o Plano Nacional das Alterações Climáticas (PNAC), que visa cumprir as metas do Protocolo de Quioto. “Em termos globais, estávamos pior do que há algum tempo atrás”, denuncia o presidente do Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) e também docente da Universidade Nova de Lisboa (UNL), Carlos Nunes da Costa. “Ainda esta semana saiu um relatório que coloca Portugal em sexto lugar num contexto de mais de 150 países, na análise de países com maior gasto e desperdício de água”, acrescenta.
Crise económica matou a crise ambiental Uma crise económica ao nível internacional mudou as preocupações e prioridades das agendas políticas e mediáticas. Já ninguém parece preocupado com o facto de o nível do mar poder subir seis metros ou de o clima se alterar radicalmente. “A crise financeira tapou a crise da alteração climática" critica Eugénio Sequeira, presidente da Liga Portuguesa da Natureza (LPN). Esta sucessão de crises não esconde a realidade. Os grupos ambientais defendem de forma unânime que o ordenamento de território é a causa mais preocupante no nosso país. Para Eugénio Sequeira, “a ocupação dos espaços naturais e a destruição dos recursos naturais está a ser cada vez mais grave”. As grandes cidades crescem a um ritmo frenético e entram em conflito com áreas protegidas e de reserva natural. Os solos vão dando espaço às cidades e aos empreendimentos de betão. “Ao contrário da
maior parte dos países da Europa, Portugal permite que os solos passem facilmente do uso rural para o uso urbano, favorecendo a aquisição de mais-valias urbanísticas por parte dos privados”, refere o presidente da GEOTA. Os espaços denominados pelo Plano Director Municipal (PDM), áreas de reserva ecológica, acabam por diminuir devido aos interesses de construção por parte das empresas.
Crescimento económico compatível Existem igualmente outros problemas que preocupam as entidades ambientais do nosso país. Ao nível dos recursos hídricos, cerca de 40 por cento dos rios apresentam um aproveitamento pouco satisfatório. O plano nacional de barragens de 2007 ainda não conseguiu reunir consenso entre o governo e as organizações Ambientais. A Liga Portuguesa da Natureza afirma que a construção de barragens é necessária. No entanto, a forma como o processo de construção está a ser conduzido não favorece a eficiência dos recursos. “Tapam os vales, onde está o melhor das zonas ecológicas. Simultaneamente a intensificação agrícola em outros campos adjacentes causam grandes problemas nas águas devido à rega intensiva que põe em causa a qualidade das águas subterrâneas”, explica o presidente da NPL. A tudo isto acrescem os recentes empreendimentos turísticos como os campos de golfe em zonas naturais. O docente da UNL compara o actual consumo hídrico exagerado destes novos projectos: “basta pensar que os campos de golfe gastam
ASPECTOS POSITIVOS DO AMBIENTE Na questão ambiental, nem só de pontos negativos se fala no nosso país. A GEOTA, a Quercus e a Liga Portuguesa da Natureza destacam a melhoria no que diz respeito à área ardida. De 100 mil hectares ardidos em anos anteriores passou-se para cerca de 15 mil hectares. A sensibilidade dos cidadãos para as questões da separação dos lixos e para os consumos mais equilibrados de energia é, na perspectiva de Hélder Spínola, da Quercus, “um aspecto que tem vindo a melhorar”. O incremento na produção de energias alternativas, vindas de fontes renováveis é outro aspecto positivo da luta ambiental defendida pelas organizações ligadas ao assunto.
o equivalente ao consumo de uma aldeia de quatro mil habitantes. Infelizmente, considera-se hoje em dia que um empreendimento turístico é que tem importância”. “Proteger o ambiente é perfeitamente compatível com o crescimento económico forte”. Além disso, Hugo Tente, da Quercus, nota que “só temos um país e quando o quisermos reparar já vai ser tarde”. Todos os esforços parecem infundados em matéria de ambiente. A qualidade de vida nos grandes centros urbanos é apontada como preocupação urgente dos ambientalistas. “Desde 2005 que são registados valores que ultrapassam o que está previsto na lei e valores que são menos prejudiciais à saúde. As áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto têm apresentado valores quase inadmissíveis”, destaca Hélder Spínola, da Quercus.
Áreas protegidas “abocanhadas” Muito criticada é a política do imediatismo praticada pelos órgãos de poder e a “falta de visão global” que os mesmos e as sociedades têm da questão ambiental. “Do ponto de vista do discurso estamos a melhorar, mas há que mudar no ponto de vista dos actos concretos do dia-adia e no terreno” defende Hélder Spínola. As soluções para todas estas questões existem. São desde logo todas as regras de boa conduta que o cidadão comum, nas palavras de Carlos Nunes da Costa, “não dá valor”. Mais acrescenta Eugénio Sequeira que “com o pretexto de resolver o problema energético estamos a dar cabo do ecossistema”. A troca dos transportes pessoais pelos transportes colectivos é apontada como a alternativa saudável à melhoria da qualidade do ar nas cidades. A gestão consciente do uso dos recursos hídricos e da electricidade é também o método mais indicado para reduzir o défice energético e a dependência exterior face ao petróleo. A causa ambiental no nosso país parece estar a passar para um plano defendido somente pelas associações ambientais que lutam diariamente contra a inacção dos próprios cidadãos. “Não podemos continuar a abocanhar as áreas protegidas da reserva ecológica, que é importante manter”, aponta a Quercus. “A defesa da natureza passa por um dever ético. Se destruirmos estes ecossistemas estamos a destruir-nos a nós próprios” conclui Eugénio Sequeira. Com Vânia Carvalho
SÓ TEMOS UM PAÍS e quando o quisermos reparar já vai ser tarde diz Hugo Tente
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PAÍS & MUNDO
D.R.
Angola comemora 33 anos de liberdade AS ULTIMAS ELEIÇÕES deram um resultado esmagador ao partido Movimento Popular de Libertação de Angola com mais de 80 por cento dos votos
6Passados seis anos da guerra civil, Angola é uma potência do continente africano. Ainda assim, persistem os problemas internos Hugo Anes Rui Miguel Pereira Angola comemora, hoje, a sua independência. Depois de um longo período caracterizado por um difícil processo de reconstrução, o país africano começa a mostrar sinais de franca evolução. Porém, as opiniões quanto ao rumo e prioridades para a Angola dividem-se. Há quem continue a pensar na consolidação da paz, e quem, para além disso, veja a necessidade de aprofundar a democracia no país africano. Em Setembro, ocorreram as segundas eleições legislativas da sua curta história de liberdade democrática. O resultado, muito criticado no seio da União Europeia, deu a vitória esmagadora ao partido de José Eduardo dos Santos, o Movimento Popular da Libertação da Angola (MPLA), com 81,64 por cento dos votos. O docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Alberto Oliveira Pinto, não viu, contudo, este processo eleitoral como “pouco democrático”. Já a docente da
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, Daniela Nascimento, pensa que o processo eleitoral ficou à quem do que seria de esperar numa democracia, sublinhando que “grande parte dos problemas que a sociedade angolana enfrenta hoje têm também a sua raiz no autoritarismo e défice de cultura democrática”. Esta preocupação é, em parte, partilhada pelo escrito angolano José Eduardo Agualusa, para quem o resultado traduz a “inexistência de correntes de opinião fortes e de opiniões diferentes”. Apesar disto, o escritor admite que o processo eleitoral correu bem e que “foi justo”. Esta preocupação ainda actual, com a paz, toma forma ao olharmos para uma guerra de 27 anos que deixou sequelas evidentes no povo angolano. “Para nós, o resultado das eleições pouco importa, a manutenção da paz é a nossa prioridade” afirma o presidente executivo da Casa de Angola, Bento Monteiro.
Economia emergente, sociedade em construção “Apesar das muitas contrariedades no processo de independência, Angola é hoje uma das potências africanas em afirmação”, afirma Daniela Nascimento. Recentemente foi anunciado mais um acordo para a construção de uma refinaria na cidade do Lobito. A Endiama - Empresa Nacional de Diamantes de Angola,
está a criar a segunda unidade industrial de corte e lapidação, estima-se que a produção mensal atinja o equivalente a 20 milhões de dólares. O crescimento do Produto Interno Bruto, segundo as previsões do Banco de Angola, vai situar-se em 2008 nos 16,2 por cento. Angola é um dos países africanos com maiores reservas de petróleo e diamantes, grande parte da sua economia se encontra na dependência do aproveitamento destes recursos. Sobre o enorme potencial angolano, Alberto Oliveira Pinto alerta para o facto de estes recursos estarem a ser “mal aproveitados”: existe somente “uma parte muito reduzida da sociedade que beneficia daqueles recursos”. Este desequilíbrio na distribuição da riqueza leva a população angolana a recorrer à chamada “economia paralela”, que foge a qualquer forma de controlo lícita. A professora de relações internacionais corrobora esta versão ao afirmar que os recursos e os benefícios se têm concentrado essencialmente nas mãos de “uma elite governativa”. Agualusa acrescenta ainda que “existe um desequilíbrio social imenso, onde a maioria das pessoas vive abaixo do limiar de pobreza”. A educação é também um dos principais problemas de Angola. Salas lotadas para o ensino básico e secundário não
permitem a correcta preparação dos estudantes angolanos. Alberto Oliveira Pinto salienta isso mesmo e acrescenta que “não basta haver universidades, é preciso haver uma educação de base”. Actualmente, Angola conta apenas com um establecimento de ensino superior público, a Universidade Agostinho Neto. Perante este panorama, a estudante angolana de Serviço Social Aleida Moisés mostra-se preocupada e considera que a educação deve ser uma das prioridades para o futuro de Angola. Como faz notar José Eduardo Agualusa, os estudantes angolanos são a grande esperança para o futuro de Angola: “acredito que se houver uma mudança vai ser protagonizada por estas pessoas, estes estudantes”.
O processo de descolonização A independência angolana ocorreu após um conturbado pe-
ríodo político em Portugal. Na condição de povo colonizado, desde 1961 que Angola se insurgiu contra a presença portuguesa. Como faz notar Alberto Oliveira Pinto, “foi um povo colonizado, que combateu pela sua independência”, a guerra civil que se seguiu, era “uma inevitabilidade”. O processo de descolonização da Angola fez parte das prioridades do General Spínola e do Movimento das Forças Armadas, logo após o 25 de Abril. A ugência desta acção prendeu-se mesmo com a própria génese da revolução em Portugal. Foi um processo rápido e controverso,que ainda hoje é criticado e apontado como uma das causas da guerra em Angola. Sobre as repercussões deste acontecimento no futuro de Angola, Alberto Oliveira Pinto considera ainda que “Portugal pouco podia ter feito” para evitar a guerra. Daniela Nascimento, pelo contrário, entende que Portugal podia ter feito mais e explica que o “conflito foi claramente influenciado pela estratégia de descolonização desastrosa e acelerada”. Contudo, ambos os docentes concordam que a guerra civil surgiu da disputa pelo controlo político e económico de Angola e dos recursos, principalmente por parte da União Nacional Para a Total Independência de Angola e o MPLA.
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CIÊNCIA & TECNOLOGIA Estabelecimentos de ensino não estão preparados para o “e-escola” Um ano depois do projecto “e-escola” ter sido implementado em Portugal, A CABRA foi perceber como é que as escolas estão a lidar com a introdução da iniciativa no quotidiano dos alunos. Contudo, a posição não é unânime entre os professores. Por Diana Craveiro, Maria Eduarda Eloy e Inês Almas Rodrigues
O
governo tem apostado, nos últimos anos, no "choque tecnológico" e em medidas que sustentem esse desenvolvimento desde o início do mandato. Anunciada como a mais ambiciosa iniciativa do plano tecnológico nacional de combate à info-exclusão, o projecto "e-escola" abrange também trabalhadores em formação ao abrigo do programa Novas Oportunidades (e-oportunidades). No final de Julho, foi conhecido o Magalhães, um computador portátil dirigido aos mais novos e promovido no âmbito do programa "e-escolinha". Segundo o portal do projecto, "a iniciativa destina-se aos alunos do primeiro ciclo do ensino básico para garantir a generalização do uso do computador e da internet, potenciando o acesso ao conhecimento". Na perspectiva do governo, pretende-se que o Magalhães seja um aliado dos professores na tarefa de ensinar e desenvolver as capacidades das crianças. Mais do que um brinquedo ou acessório, o Magalhães deve iniciar as crianças no mundo da internet: ajudá-las a fazer pesquisas, orientando-as para os sites que devem (e podem) consultar, e também ajudar os pequenos estudantes a fazer trabalhos. Segundo informações disponíveis no website "eescolinha", o computador foi "concebido para crianças dos seis aos 11 anos e é gratuito para os alunos inscritos no primeiro escalão da Acção Social Escolar". Segundo o presidente do Conselho Executivo da Escola Primária de Pampilhosa da Serra, Vítor Machado, o programa "e-escolinha" "está a ter muita adesão". "Os encarregados de educação são
favoráveis à compra do computador", acrescenta, porque é uma "ferramenta que [os alunos] têm que explorar e utilizar". Vítor Machado refere ainda que a escola tem condições para receber e pôr em prática o projecto "e-escolinha", o que não acontece em todos os estabelecimentos de ensino. Ainda antes de Hugo Chávez receber um Magalhães das mãos de José Sócrates e de testar a sua re-
níveis para todos os alunos, a preço reduzido e com acesso a internet móvel é o objectivo da campanha "e-escola". No início deste ano lectivo, a medida foi alargada à totalidade dos alunos do ensino básico e secundário e conta com a participação das três grandes operadoras móveis de Portugal. Um dos estabelecimentos de ensino que implementou o programa "e-escola" foi a Escola José Falcão, em Miranda do Corvo. Na opinião de João Santos, docente na escola e responsável pela formação de professores sobre o Ma-
têm maior possibilidade de produzirem materiais pedagógicos e conteúdos educativos diferentes". No entanto, João Santos refere que as infra-estruturas dos estabelecimentos de ensino têm que acompanhar a evolução tecnológica e ser dotadas de equipamentos adequados o que, no caso da escola de Miranda do Corvo ainda não sucedeu. Na opinião de uma professora do ensino básico da região de Coimbra, que prefere manter-se anónima, "a adesão ao programa foi grande devido ao estado em
para este "choque tecnológico". "Por exemplo, a escola tem portáteis mas os computadores ligamse à mesma ficha com extensões", porque só há uma tomada disponível nas salas de aula. Tentámos contactar outras escolas do centro e periferia de Coimbra mas não houve disponibilidade dos docentes para responder às nossas questões. Na Escola Secundária de Jaime Cortesão, apesar da adesão ao programa "e-escola", recusaram-se a prestar declarações. Se há estabelecimentos de en-
que está o país". Refere-se, nomeadamente, às carências económicas de várias famílias que vêm nesta iniciativa governamental a oportunidade única de adquirirem um computador. Tal como João Santos, a professora considera que as infraestruturas não estão preparadas
sino que já estão preparados para o "e-escola", há outros que têm muitos problemas em implementar o projecto. No entanto, o projecto "e-escolinha" prevê entregar 500 mil portáteis aos alunos do primeiro ciclo.
FOTOMONTAGEM POR ANA COELHO
sistência atirando-o ao chão, já o programa "e-escola" fazia parte do quotidiano dos estabelecimentos de ensino e dos estudantes portugueses. Com o slogan "Um aluno, um computador", a medida começou por ser aplicada aos estudantes do segundo ciclo do ensino básico e aos professores. Computadores portáteis dispo-
galhães, o programa direccionado ao ensino básico e secundário "faz sentido para se generalizar o acesso às tecnologias de informação e comunicação". O responsável considera que as condições de aquisição dos computadores do programa "e-escola" são vantajosas para os compradores e que "os professores
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18 | a cabra | 11 de Novembro de 2008 | Terça-feira
CINEMA
ARTES FEITAS
“
Entre os dedos ”
m 2006, Guedes e Serra estreavam-se nas longasmetragens com “Coisa Ruim”, desde logo, um filme categorizado como de terror. Uma vez mais com a colaboração de Rodrigo Guedes de Carvalho como argumentista, a nova aposta desta dupla apresenta-se radicalmente diferente da ficção fantástica que o primeiro filme nos trouxe. “Entre os dedos” é um retrato cru e actualíssimo da nossa sociedade. Do bairro social, ao hospital, passando pela opulência de alguns locais, cruzam-se vidas que, apesar de diferentes, vivem uma angústia semelhante. A família de Paulo (Filipe Duarte) é obrigada a lidar com um trabalho precário, sendo conduzida aos poucos para o caminho da pobreza. Num ambiente em que tudo parece falhar, os valores morais e sociais estão constantemente à beira do colapso. A sua esposa Lúcia (Isabel Abreu) trabalha para uma empresa de limpeza, expurgando o
E
DE TIAGO GUEDES FREDERICO SERRA COM FILIPE DUARTE ISABEL ABREU LAVÍNIA MOREIRA 2008
Estou cansada, ando farta disto CRÍTICA DE CLÁUDIA MORAIS
mundo dos “outros” da sujidade, embelezando a sala ou o quarto de alguém com a sua face dura marcada pelo cansaço. Bela (Lavínia Moreira), enfermeira e irmã de Paulo, está no centro do turbilhão. Em casa, faz companhia a um pai (Luís Filipe Rocha) que, de madrugada, ainda ouve a som elevado “Angola é nossa!”, e no hospital lida com a vida e a morte de Nuno (Gonçalo Waddington), observando tudo o que a rodeia com compaixão e uma calma inabaláveis. As imagens a preto e branco de que é feito “Entre os Dedos” distanciam o espectador do supérfluo. O tom monocromático apenas nos deixa ver o muito escuro e o muito claro, luz e sombra que figuram os extremos que as vidas de cada uma das personagens tocam. A câmara-ao-ombro e os planos sequência implicam uma atitude de contemplação “voyeurista” por nossa parte, o que vai permitir um maior grau de empatia entre o pú-
blico e as personagens. A fotografia, que apostou em “close-ups”, também contribui para esse efeito intimista. “Entre os dedos” apresenta-nos tanto o essencial como o acessório, o que o torna quase neo-realista – contudo, é difícil encerrá-lo numa categoria só. A música minimalista de Jorge C. surge pontualmente no filme para marcar um compasso de melancolia, adequando-se na perfeição ao ambiente de desespero, umas vezes mudo, outras violento. O sentimento que o filme cria é o que se depreende do seu título – entre os dedos tudo flui e desaparece – e quando há falta de tudo, tudo falha. Num sentido lato, “Entre os dedos” retrata as relações falhadas entre pessoas que não têm tempo para se olharem com demora umas para as outras, para se apreciarem e se aperceberem do “outro”, de tão encerradas que estão numa rotina de constante luta pela sobrevivência.
Corrida Mortal ” m 2012, com o colapso financeiro dos EUA (Cenário que ganhou um realismo inesperado com a recente crise...) a criminalidade disparou, e as prisões viraram palcos de reality shows violentos onde a última novidade são as corridas de automóveis até à morte. Jensen Ames (Jason Statham) é uma antiga glória das corridas NASCAR que é preso pela morte da sua mulher, crime que obviamente não cometeu. O que ele não sabia é que toda esta conspiração foi organizada pela própria directora da prisão, Hennessey (Joan Allen), que precisava de um novo piloto para manter as audiências. Ames entra na prisão e vai cor-
E
rer para tentar ganhar a liberdade e ao mesmo tempo vingarse da malandrice que lhe fizeram. O filme de Paul W. S. Anderson (Resident Evil, Alien vs Predator) nem começa mal, os créditos iniciais prometiam, mas os problemas surgem quando os actores não correspondem, como é o caso de Joan Allen, que cada vez que aparece em cena e abre a boca nos dá vontade de lhe dar umas chapadas para ver se acorda, tal é a pouca dinâmica que a actriz dá a uma personagem relevante e que devia ter muito mais carisma. Acresce a isto o facto de o filme ser bastante previsível do início ao fim. Grande parte das cenas de acção são muito forçadas e sem nexo.
Como se não bastasse, oferecem-nos ainda algumas tiradas “cómicas” completamente fora de “timing”, nas quais os actores falam directamente para a plateia, o que é capaz de causar náuseas a qualquer pessoa do tão ridículo que chegam a ser. O conceito do filme não é mau, e as corridas até chegam a ser interessantes, criando alguma adrenalina no espectador, mas esta é sucessivamente cortada por pormenores completamente fora do contexto. Em suma, é apenas mais um filme banal de acção e cheio de clichés: entretenimento barato que chega para passar o tempo, mas que não vale o bilhete.
RAFAEL FERNANDES
DE
PAUL W.S. ANDERSON COM
JASON STATHAM JOAN ALLEN IAN MCSHANE 2008
Desastre rodoviário
11 de Novembro de 2008 | Terça-feira | a
cabra | 19
ARTES FEITAS
OUVIR
LER
Preteeen Weaponry ” mporta começar por dizer que os Oneida, um trio oriundo de Brooklyn, já não são propriamente novatos nesta coisa de ser uma banda. Não sendo das mais expostas ao mediatismo lá no bairro, contam já com onze anos de actividade e um sem fim de edições. Têm, aliás, um especial gosto por registos em formato split com outros projectos (Atheists, Reconsider, de 2002, foi editado a meias com os Liars). Além do mais, desde o início que atraíram a atenção do submundo nova iorquino à custa de espectáculos ao vivo descritos como perfeitamente caóticos e DE selvagens. Coisa muito do ONEIDA agrado do artista nova iorquino. EDITORA JAGJAGUWAR Foram, de resto, desde logo, difíceis de catalogar. Porque a 2008 banda pode ser atirada para o caixote do rock psicadélico dos anos 70 e do kraut-rock, mas com uma abordagem punk mais destrutiva que construtiva. Junte-se a isso um gosto por sintetizadores baratos e falíveis, alguns toques de ruído ambiente, e conotações da imprensa com algum jazz avant-garde, e fica-se sem saber muito bem em que prateleira os arquivar. Preteen Weapony é o novo disco do trio, e chega exactamente na forma de um tríptico, quase sempre instrumental. A banda insiste, aliás, que o disco deve ser ouvido dessa forma, partes I, II e III por essa ordem. O que até faz sentido, apesar de estas não significarem de todo uma progressão contínua do início ao fim do álbum. Em vez disso, cada uma delas representa exactamente um crescendo, que finaliza com uma queda mais ou menos suave até ao início da progressão seguinte, ao invés de explodir em algo de muito concreto, resultando num registo tenso e inquietante. De tal forma que acaba com um perturbador crescendo de tensão ao longo do qual os elementos vão desaparecendo até que o som cai num vazio e o disco termina. Para muitos, é esta a grande falha do disco. Apontar no vazio. No entanto, isso vai perfeitamente na linha da destruição de convenções que a banda parece gostar de seguir. As coisas não têm de ser forçosamente como nós queremos que sejam. Ou como estamos habituados a tê-las...
I
Armas de destruição psicadélica
A Terceira Rosa” “Quando me tocas, a batida da terra coincide com a do meu coração”
DE
MANUEL ALEGRE EDITORA DOM QUIXOTE 1999
O
tagonismos. A família dela é da “Situação”. A dele, luta contra o Estado Novo. Depois da inocência de Alba, do esplendor do Verão, da entrega do momento da revelação, Lisboa rouba a menina-mulher. A cidade grande, onde é Inverno dentro de Xavier, que sofre a desilusão da perda, de um amor que foi sempre despedida. Xavier é Alba pura, Cláudia é Lisboa, “rainha e puta”. A história das personagens cruza-se com a do País. Assistimos à prisão do pai do jovem, conhecemos o fim do General Sem Medo, vemos chegar a Revolução de Abril pelos olhos de Xavier. Em “A Terceira Rosa” Manuel Alegre apresenta a paixão, fome e alimento, festa e veneno, fogo e mágoa. Mas traz também o amor pelo amor, pelo sentimento de estar apaixonado, mais que o amor pela pessoa concreta. Escrita numa prosa com sabor a poesia, o autor assume a dificuldade em definir fronteiras: “vejo o romance como inundação da prosa, como poesia, uma escrita mão rimada, mas ritmada”. A história chega em pequenos capítulos que tornam a leitura leve, dando tempo ao leitor para saborear a história. “Uma história sem história”, porque igual a tantas outras. Porque já todos fomos Xavier.
SOFIA PIÇARRA
VER
Roma: Cidade Aberta ”
A cidade aberta ao neo-realismo
EMANUEL BOTELHO
GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena
FILME
A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
Artigos disponíveis na:
amor primeiro. A entrega total, a que se dá por completo, a que se exige por inteiro. Manuel Alegre desmonta, n’ “A Terceira Rosa” a descoberta da paixão, do outro com a força incontrolável dos sentidos. Alba, algures na década de 50. Xavier encontra Cláudia e perde-se a si. Melhor dizer, reencontro. Porque aquele amor estava marcado “desde sempre”, adivinhava a mãe de Xavier. Na pele do jovem, o leitor reconhecese e recupera a memória do primeiro amor. Do que se cola na pele e se tatua no sangue. Porque Cláudia é o arquétipo. A medida a todas as paixões que se seguirem, numa espera que nunca se concretiza. Xavier pressagia já: “andarei pelo mundo, dar-te-ei outros nomes. Passará muito tempo, continuo à tua espera, inventado o teu corpo noutros corpos, reinventado o teu rosto noutros rostos. Tu és todas, tu és nenhuma, tu és só uma”. O amor desenrola-se. Inocente e violento, mistério e desejo, encontro e desencontro como só o primeiro. Sagrado e pecado como mais nenhum depois dele. Graça e alquimia, liturgia de sagração e encantamento, dirá Xavier. É Julho, e Cláudia espera por ele. Mas a narrativa alimenta-se de an-
EXTRAS
COLECÇÃO COSTA DO CASTELO FILMES
2006
uando Spielberg surgiu com o "Resgate do Soldado Ryan" e a mini-série "Irmãos de Armas", a crítica não se poupou a rasgar elogios ao realismo com que a câmara de Steven segue o desenrolar das cenas de guerra. Contudo, 53 anos antes, já Rossellini decidira pegar numa câmara e, num registo visual, uma vezes estático, outras vezes completamente tremido, conseguiu desenvolver uma narrativa profundamente objectiva, característica, aliás, que valeu ao filme o título de "fundador do cinema neo-realista italiano". A trama poderá parecer bastante simples. Numa cidade parcialmente destruída pela guerra, Giorgio Manfredi (ou Giovanni Episcopo, ou Luigi Ferraris), líder de um grupo que resiste contra a ocupação nazi, traído pela sua amante, é detido pela Gestapo. Mas, a narrativa deixa transparecer mais do que a evidente enumeração dos factos. A relação dos resistentes com a família, com o padre do bairro, ou mesmo a relação entre si manifesta o cunho pessoal do realizador (ele próprio insurgente contra a ocupação nazi durante a guerra). Também a noção da mais
Q
profunda precarização da vida humana se reflecte através das condições mundanas de sobrevivência a que os personagens são submetidos. Impressionante, também, poderão ser as condições de rodagem da película. Numa Roma arrasada, no fim da Segunda Guerra Mundial, Rossellini usou como gabinete de produção, um prostíbulo antigo. O filme foi todo ele gravado em pequenos rolos de 50 metros, adquiridos no mercado negro, com cheques sem fundos e notas promissórias emitidos por mecenas falidos disfarçados de produtores. Ainda assim, o filme entrou para a história como um dos maiores clássicos do cinema italiano. Nesta edição de DVD, o filme partilha o espaço com um pequeno documentário sobre Rossellini e uma biografia e filmografia escrita do realizador.
JOÃO MIRANDA
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SOLTAS
ALMOÇO SOCIAL
JOSÉ DIAS • PRESIDENTE DO CONSELHO DA CIDADE Maçã
Sopa de Feijão
UNIVERSIDADE
ESPAÇOS VERDES Coimbra é uma cidade verde? Se no conceito de verde metermos os espaços verdes, ecológicos e ambientais, eu direi que é uma cidade menos verde do que aquilo que hoje seria normal para uma cidade média, num país da União Europeia e num país com a história e o património botânico que tem a cidade. Coimbra tem uma orografia que facilitaria uma existência de variados pulmões descentralizados, com a possibilidade de existência de pequenas hortas que ainda resistem, permitindo a renovação ambiental. O trabalho que a provedoria do ambiente tem tido em Coimbra tem sido positivo, porque tem tido uma série de preocupações ambientais alertando para os casos mais graves. A poluição ambiental assombra a cidade? Seria um contra censo dizer que não. Não vivemos numa cidade diferente das demais. Está sujeita a índices de poluição modernos, que castigam a saúde ambiental. Sou um utilizador dos transportes públicos de Coimbra, não tenho carro, mas utilizo diariamente os trolleys. Coimbra é a única cidade da Península Ibérica há 60 anos com viaturas movidas a electricidade, uma energia limpa. Atendendo à orografia de Coimbra, penso que há toda a vantagem em renovar o parque dos nossos transportes públicos, melhorar a formação dos nossos motoristas, melhorar a visibilidade e a interpretação dos cidadãos, melhorando também a nossa página web.
Lombo assado
CIDADANIA O que interessa aos cidadãos de Coimbra discutir? Penso que as questões que têm a ver com as Finanças, com a empregabilidade, com as pensões, o centro familiar. A única arma a que os cidadãos se agarram é a abstenção. Abstêm-se de participar, pagaram a uns tantos para serem a elite que os governa e hoje há uma endémica, uma pandemia democrática em Portugal que é “se eu participo vou ficar doente, vou-me enervar, só dá chatices, portanto, não”. Isto aplica-se aos mais pobres, aos mais ricos, aos menos e aos mais letrados. O problema da participação cívica em Coimbra não é o estigma das classes baixas, das minorias étnicas ou dos estrangeiros. Coimbra é provinciana? Coimbra é uma cidade bastante provinciana, como aliás é o próprio país. Sejamos humildes e honestos. Hoje em dia ai daqueles que pensem que são uma nova centralidade. Para mim são um velho provincianismo. Mas há o provincianismo bacoco e não um provincianismo que devia passar por alguma ruralidade, interioridade e partilha. Aquilo que devia ser uma energia explosiva transformou-se numa implosiva. São poucos os dirigentes da República oriundos de Coimbra, pois exporta mais para fora do país, é mais conhecida pelos de fora que pelos de dentro.
ANA COELHO
ia de 30 de Outubro, dez e meia da noite, Teatro Paulo Quintela. Academia reúne mais uma vez a Assembleia Magna”. É desta forma que A CABRA inicia o artigo que aborda a realização de mais uma Assembleia Magna originada por alterações governamentais, indesejada pela presidente da Direcção Geral da Associação Académica de
“D
O que é que a Universidade tem dado à cidade? Tem dado placas com nomes de antigos professores. A universidade deixou aqui edifícios, alguns a cair. Deixou livros, bibliotecas, memórias, deixou sentimentos, emprego, dinheiro na cidade de investimento colateral, de tal forma que penso que nunca foi feito nenhum estudo com algum rigor – a universidade devia estar bem colocada para o fazer – sobre o impacto económico e ciêntifico que a Universidade tem tido para Coimbra. A Universidade é pouco aberta à comunidade. Entrevista por Sara Oliveira
NOVEMBRO DE 1996 • EDIÇÃO N.º 27 • MENSAL • 100$00
MALDITA MAGNA”
Coimbra vive à sombra dos estudantes? Sim, Coimbra é uma cidade que vive muito à sombra do ensino. O ensino é provavelmente o maior empregador. Uma grande fatia da sua mobilidade e do seu futuro tem de passar por esta comunidade, que muitas vezes é subdividida erradamente. Os estudantes mais conhecidos, os professores menos, os técnicos e pessoal administrativo estão na comunidade indiferenciada. Sou defensor da governação municipal. Coimbra só tinha a ganhar se, para além do executivo municipal, tivesse um órgão de consulta, constituído por representantes do executivo municipal, em que um vértice seria o presidente da Câmara, um representante do saber - o Reitor da UC -, e um terceiro vértice teria a solidariedade social, que tem o pulso principal na importância que a Igreja Católica tem em Coimbra.
Coimbra (DG/AAC), Zita Henriques, e onde a indignação e as dúvidas falaram alto. Em cima da mesa, estiveram as polémicas alterações da Lei Bases do Sistema Educativo (LBSE) propostas por Marçal Grilo, Ministro da Educação. A Assembleia Magna foi o reflexo de toda a indignação que invadiu o ensino universitário. As graves alterações no futuro dos alunos da universidade agitaram por todo o país os estudantes e a Academia de Coimbra não foi excepção. Uma das alterações previa que aos alunos saídos dos Politécnicos e das Escolas Superiores de Educação seria atribuído o mesmo grau de licenciatura que aos alunos universitários, passando a competir de igual maneira no mercado de trabalho. “Não estão nada satisfeitos”, assim retratava o jornal o clima que se
fazia sentir por entre os estudantes. A ideia de convocar a magna do dia 30 de Novembro surgiu por parte de Isaac Lourenço, coordenador da Política Educativa da DG/AAC. Porém, Zita Henriques “terá ficado visivelmente irritada quando soube da notícia”, assim o referiam fontes “seguras” ao jornal de 1996. Cerca de 600 alunos responderam à chamada, e encheram o Teatro Paulo Quintela de “discursos inflamados”. “A Casa quase vinha abaixo” narrava A CABRA, quando Cristina Martins, aluna da FCTUC sobiu ao palco e lançou a voz da revolta.”Nós nas universidades trabalhamos mais e suamos mais do que nos politécnicos. Onde é que nós, Coimbra, que sempre tivemos uma preparação científica terrível, vamos ficar”, questionava
18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...
a jovem. A Presidente da AAC sobe ao palco para acalmar os ânimos e avisa que “a AAC não pretende que esta seja uma luta de estudantes contra estudantes”. As tomadas de posições radicais iam subindo ao palco à medida que a noite avançava e várias propostas de luta surgiram, mas apenas a proposta da DG/AAC, “um moderado manifesto contra a LBSE com uma manifestação pacífica frente ao Senado no dia 6 de Novembro”, foi aprovada. O Erro de Grilo, como o intitula A CABRA no artigo anterior, acabou assim por originar uma magna que terminou com a chuva de crí-
ticas à Direcção Geral", tal como refere o artigo citado. Marta Pedro
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O MUNDO AO CONTRÁRIO
SOLTAS
BRASIL Um pedreiro de 59 anos acabou a pernoitar na prisão após ter sido apanhado pela sua vizinha a ter relações sexuais com o muro da sua casa. A senhora, que ouviu um barulho no quintal, surpreendeu o indivíduo a penetrar um dos buracos do muro, enquanto sussurrava e acariciava a parede do mesmo. O “amante nocturno” acabou por confessar o crime e garantir que estava muito arrependido.
TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho
ERASMUS MÚLTIPLOS
A
procura de novas experiências, exercitar uma língua estrangeira ou conhecer novas culturas e nacionalidades.
REINO UNIDO Um clérigo de Sheffield foi obrigado a submeter-se a cirurgia para retirar uma batata do ânus. De acordo com a vítima, o incidente terá resultado de um desequilibrio acidental sobre o tubérculo enquanto pendurava cortinas… nu. Segundo a enfermeira, o caso não é único, tendo já sido retirados objectos como bonecas russas ou tubos de desodorizante. EUA Uma mulher de 53 anos foi detida após ter recorrido aos serviços da polícia com o objectivo de reaver o dinheiro que gastou em cocaína, que veio a descobrir ser falsa. A insatisfeita Juanita, que queria apenas “justiça”, acabou presa por posse e consumo de cocaína. Adelaide Batista
Estas são algumas das justificações dadas pelos homens que costumam frequentar habitualmente a Avenida Fernão de Magalhães a partir das duas da manhã. Mas não é CARICATURA E ILUSTRAÇÃO POR GISELA FRANCISCO
disso que quero falar esta semana. Esta semana quero falar de algo que todos os estudantes equacionaram fazer um dia (não, lamento mas também não vou falar de brinquedos sexuais). Vou, isso sim, falar do programa Erasmus. Foi durante o pomposo jantar de curso da Latada (algures entre um penálti de vinho tinto e uma fêvera afogada em gordura) que reencontrei o “Pistola” e a Sílvia, dois excolegas que resolveram aventurar-se no maravilhoso mundo do programa Erasmus. Em Setembro partiram para a Polónia cheios de incertezas e com sede de aventura. Embora o regresso definitivo só esteja marcado para Janeiro, pode-se dizer que não vão voltar de bolsos vazios. Como não conseguia controlar a minha curiosidade, larguei tudo o que estava a fazer e acerquei-me do “Pistola” (a origem do apelido fica para outro dia). “Então? Já provaste a comida internacional?”, perguntei eu, tentando obter uma resposta de teor puramente gastronómico. E foi então que ele me respondeu: “A coisa está fraca para os meus lados. Mas a Sílvia já comeu dois Italianos e um Sueco”. E foi aí que me caiu tudo aos pés. E isto porquê? Estão a ver os dois M&Ms? O vermelho e o amarelo? Estão a ver o amarelo? Aquele ser arredondado e assexuado de olhos esbugalhados? Pois a Sílvia é assim. Só que ainda mais arredondada. E com bigode. Na escola secundária chamavam-lhe baleia. Quando chegou à
Universidade ascendeu a baleeiro. O que é que os estrangeiros viram nela? Isso não sei. Fui para casa pensar nisso e durante três dias não consegui dormir. Foi enquanto subia as “Monumentais”, entre os esgares de esforço e as dores nas pernas, que se fez luz na minha cabeça. De repente tudo ficou claro (ou era isso ou uma trombose). O programa Erasmus foi criado para impedir que aconteça uma catástrofe de proporções apocalípticas em Coimbra. Todos conhecemos a história por detrás daquelas estruturas esféricas que se encontram no cimo das “Monumentais”. E todos temos uma amiga como a Sílvia. Então como é possível que ainda não tenham caído? Pois meus amigos, a resposta é simples. Quando uma aluna assim assina as folhas de inscrição, é accionado imediatamente um sistema de emergência que vai subtilmente injectando no cérebro dessa aluna pequenas mensagens subliminares que a vão levar a optar por ir de Erasmus, lá para o segundo ano. Depois é só esperar. Isso porque lá fora haverá sempre alguém que ache as mulheres com buço exóticas. Provavelmente devem pensar que estão a ter relações com um camarão. Elas ficam satisfeitas, os estrangeiros ficam com mais uma nacionalidade nos respectivos currículos, a universidade fica satisfeita e Coimbra viu assim evitada a sua destruição parcial. Ainda dizem que o dinheiro das propinas não é bem gasto.
COM PERSONALIDADE VANESSA QUITÉRIO
FERNANDO TABORDA • 74 ANOS • ACTOR
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acabra.net
TEATRO COMO PAIXÃO ABSOLUTA Sou um fanático pelo teatro. Quando me acordam a primeira coisa que digo é “se faz favor vão ao teatro”. Nasci numa aldeia no concelho do Fundão, uma região que considero extremamente bonita. Desde miúdo que tive uma certa propensão para a imitação das pessoas. Gostava imenso de conversar e ouvir boas estórias. Fiz o liceu num internato, onde tirei muitos apontamentos para a minha biblioteca interior. Nos anos cinquenta, incentivaram-me a tirar o curso de teatro. Muitos diziam que era para loucos. Mas depois veio a treta da tropa e fui um dos muitos portugueses sacrificados. Malhei com as costas em África durante dois anos a comandar uma companhia. Não me enquadrava naquilo. Foi em Luanda que consegui encontrar as obras completas de Federico García Lorca. Aqui em Portugal, era um autor proibido. Até que vim de África. Antes disso casei e tirei o curso no Magistério Primário em Lisboa onde comecei a trabalhar com miúdos. A dramatização de textos para mim foi o meu grande processo didáctico. O teatro servia muito para o ensino e uma das grandes razões do teatro é a pedagógica. Dei aulas mas acabei a trabalhar num banco. Para mal dos meus pecados, era um trabalho que não suportava. Ainda no banco, participei na direcção do Ateneu e passei pelo teatro amador da Bonifrates. Ao fazer de Sancho Pança, recebi o maior elogio que qualquer actor poderia receber de um crítico. Nos “60 minutos com Brecht” quase que parei. Foi a fatídica estreia em que tive um enfarte. Pensei que terminava tudo. Mas não, vim de lá ainda melhor. Não tive medo. Se tivesse que morrer, tinha que ser naquela altura, naquele dia, naquele palco. Em 1992, entro em contacto com o cinema, numa série de Francisco Manso sobre artistas que se suicidaram. Depois participei numa longa-metragem, o “Esquece tudo o que te disse”. Gostei imenso, mas não é como o teatro. O papel que mais me marcou foi realmente Sacho Pança. Havia na minha aldeia uma personagem que era o Leopoldo. Todos o tratavam por “Doutor”. Era bêbado mas com uma personalidade extraordinária. Na realidade serviu para me inspirar no Sancho Pança pois era um sonhador mas com os pés assentes na terra. A criação de uma personagem não surge do nada. Eu não tenho o curso de teatro, nem existem fórmulas para se representar. É muito bom quando se acaba um espectáculo e se ouvem palmas. É uma sensação agradável. Resumo a minha vida ao amor que tenho ao teatro. É como respirar. O objectivo de um actor é sentir-se não a pessoa mas a personagem. Quando chego a sentir a personagem, já não sou o Fernando Taborda. Apanho os bocados, que são as personagens, e aí sinto-me completo. A arte é o antónimo da obrigatoriedade e si-
nónimo de liberdade. Entrevista por Vanessa Quitério
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OPINIÃO
“MOBILIDADE NUMA EUROPA CADA VEZ MAIS ALARGADA”
Cíntia Vargas *
PEDRO CRISÓSTOMO
As acções visam a construção de um sentimento europeu através da educação e partilha de experiências
Cartas ao director podem ser enviadas para
acabra@gmail.com
Há alguns anos atrás, surgia o Programa “Juventude”, hoje “Juventude em Acção”, um programa da União Europeia para os jovens. Financiado pela União Europeia, tem como objectivo estimular o sentido activo de cidadania europeia, a solidariedade e tolerância entre os jovens europeus e o seu envolvimento na construção do futuro da União Europeia. O programa promove a mobilidade dentro e fora das fronteiras europeias, o diálogo intercultural e encoraja a inclusão de todos os jovens, independentemente da sua origem educacional, social ou cultural. O Intercâmbio de Jovens é a acção mais popular perante os jovens, uma vez que permite que um ou mais grupos de jovens sejam acolhidos por outro grupo de outro país, com o objectivo de participarem num programa de actividades comum. Os temas são escolhidos de acordo com os interesses dos jovens dentro de um parâmetro de objectivos elegíveis. Estes projectos envolvem a participação activa dos jovens e são concebidos para permitir que os participantes tenham conhecimento e estejam conscientes da existência de realidades sociais e culturais diferentes das suas, para aprenderem uns com os outros e reforçar o seu sentido enquanto cidadãos europeus. Através da educação não formal, são tratados temas como os direitos humanos, tomada de consciência europeia, compromisso para com o meio ambiente, segurança e mobilidade internacionais. Uma acção mais conhecida pelos jovens é O Serviço Voluntário Europeu, que permite aos jovens desenvolver num período que pode ir até doze meses uma acção de voluntariado num país diferente do seu país de residência. Fomenta a solidariedade entre os jovens e é um verdadeiro serviço de aprendizagem. Para além do benefício para as comunidades locais, os voluntários adquirem novas competências e linguagens e descobrem outras culturas. Ainda engloba uma acção que visa a promoção de parcerias com os países de vizinhança e a formação de profissionais activos no domínio da juventude e nas suas organizações, em particular projectos de liderança, conselheiros juvenis e supervisores destes projectos. Também apoia a troca de experiências, saberes e boas práticas destes profissionais, bem como as actividades que conduzam ao estabelecimento de projectos de longo prazo, projectos de alta qualidade, redes e parcerias. A última acção apoia a cooperação, seminários e o Diálogo Estruturado entre os jovens, profissionais activos
na área da juventude. Este tipo de iniciativas tem como o objectivo último promover a mobilidade e a criação de laços entre jovens numa Europa cada vez mais alargada e, ao mesmo tempo, fragmentada em diferentes estados-nação. Tal como a criação da própria União Europeia com o propósito de encontrar a Paz e a Cooperação entre os Estados Europeus, estas acções visam a construção de um sentimento europeu através da educação e partilha de experiências. Já com duas edições passadas e avaliadas, o Programa Juventude em Acção está mais bem estruturado e enquadra melhor as suas acções no tipo de trabalho desenvolvido por Associações Juvenis e ONG’s. Este tipo de trabalho é desenvolvido por voluntários, não permite qualquer tipo de remuneração; pelo contrário, proporciona experiências inesquecíveis e enriquecedoras e capta as iniciativas juvenis e projectos jovens financiando-os e ajudando a desenvolvêlos e implementá-los. Requer ainda uma avaliação final por parte da Agência Nacional para o Programa Juventude em Acção. Em Portugal, a Agência Nacional responsável pela gestão do programa “Juventude em Acção” está instalada em Braga. Apesar de alguma divulgação, este programa que possibilita a muitos jovens realizar experiências e aprendizagens significativas, é ainda pouco conhecido pela maioria dos portugueses. Uma das associações juvenis que em Portugal tem realizado várias acções do Programa Juventude, proporcionando a uma boa centena de jovens europeus experiências imperdíveis, é a Take Off. Aqui fica um pequeno relato de um dos jovens participantes no intercâmbio juvenil Crossing Roads, realizado em Rodoliovos, Grécia. “Várias actividades lúdicas preencheram o nosso calendário diário, entre visitas, jogos, reflexões e workshops. A apresentação nacional foi um sucesso, apesar de marcada por um grande nervosismo, já que a sala estava repleta de habitantes locais. Mostrámos a nossa coragem ao cantarmos o hino nacional, ao explicarmos a simbologia da bandeira, ao falarmos da Académica de Coimbra, entoarmos o grito académico, representar o milagre das Rosas e exibir o filme sobre a cidade de Coimbra. Nestas actividades saiu reforçado o nosso espírito de união e amizade”. A terminar, fica uma nota a registar: Juventude em Acção é um programa para todos. * Cíntia Vargas, Líder juvenil e vice-presidente da Associação Take Off PUBLICIDADE
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OPINIÃO AQUI HÁ GATO
EDITORIAL
Ricardo Matos * Três. Sim, apenas 3 gralhas é o que se pode apontar de errado na redacção final dos Estatutos da AAC, que entraram em vigor a 3/1/2008. Foram revistos durante 2007 por uma assembleia eleita para tal, como estipulado pelos Estatutos. Esta assembleia, de 33 sócios efectivos da AAC, trabalhou durante um ano para conseguir concretizar esta revisão. Sim, durante um ano! Agora, apenas por causa de três gralhas, querem reiniciar todo o processo, quando os Estatutos estabelecem que as revisões só ocorrem de cinco em cinco anos. A AAC precisa de estabilidade estatutária. Não pode andar constantemente a mudar as suas regras. Após vigorarem cinco anos, todos estarão em melhores condições de discutir o que precisa de ser mudado nos Estatutos, avaliando a sua aplicação na prática. Uma revisão não é tarefa simples. Primeiro porque os Estatutos são a lei fundamental da Casa. Não podem ser revistos de ânimo leve. É preciso discussão profunda. Depois, porque a AAC não é pequena (órgãos gerentes, secções, núcleos, ...) e, por isso, ninguém a pode conhecer por completo. Sempre foi claro na Academia que uma revisão de estatutos tem que ser um processo bem discutido envolvendo os vários sectores da AAC. É por todos estes motivos que a revisão só pode ser feita de cinco em cinco anos e por uma assembleia eleita especificamente para o efeito. Mas afinal que gralhas são estas? Simples: três artigos (28º, 41º e 62º), que não foram alterados nesta revisão, remetem para disposições noutros artigos usando seus números como referência (40º, 20º e 60º, respectivamente). Mas como a última revisão acrescentou artigos, na nova redacção os números correctos seriam outros (42º, 21º e 61º, respectivamente). É uma conclusão fácil para quem faça uma leitura comparada dos novos e dos antigos Estatutos, sem qualquer preconceito. Assim, é claro que, o que os novos Estatutos precisam é, tão somente, de uma correcção e não de uma revisão. E, como foi afirmado na última Assembleia Magna (AM), a lei prevê que correcções a gralhas podem ser feitas sem ser necessário nova revisão. Mas se é possível fazer correcções sem eleger nova assembleia, o que estará a mover os actuais Órgãos Gerentes da AAC para estarem a tentar reiniciar um processo de revisão?
A última Magna clarificou algumas coisas. O Presidente da Mesa da AM, na sua exposição de motivos, tentou levantar dúvidas sobre se estaria correcto que a sanção de suspensão aplicada a um sócio dirigente, implicasse a perda de mandato. Por mais tentativas de interpretação enviesadas que se façam, os antigos Estatutos são bem claros quanto a isso e na última revisão não houve qualquer alteração nessa matéria. E a explicação é simples: se, no decorrer de um processo disciplinar, um membro da AAC é suspenso, pelo período que vigorar essa suspensão, perde todos os seus direitos de sócio. Como tal, é natural que perca o seu mandato se for dirigente. Sabe-se que ocorreu um caso destes recentemente. E parece que não caiu bem aos actuais Corpos Gerentes. Será um motivo? Na mesma AM, um membro do CF veio corroborar a ideia de que era necessário uma revisão, não por causa de gralhas mas antes para clarificar as competências do órgão a que pertence. Seria triste que, ao fim de um ano de mandato, os membros do CF ainda não tivessem descoberto que nos Estatutos há um artigo (47º) que enuncia as competências do órgão. Mas não é disso que se trata. As competências definidas no tal artigo são oito e apenas oito. Nem mais, nem menos. Não será isto claro? Ou será que pretendem uma revisão para lhe dar mais competências? Será, por ventura, o CF um órgão com tarefas e visibilidade a menos para a sede de protagonismos dos seus titulares? Estarão as tendências federalistas de novo à espreita para se introduzirem à socapa em nova revisão? Preocupa ver gente que se demonstra tão desconhecedora dos Estatutos da AAC a promover a sua revisão a todo o custo. Se a intenção fosse só corrigir gralhas, a hipótese de revisão nem seria colocada. A revisão demora mais de um ano e a correcção apenas semanas. As três gralhas apenas servem como desculpa. É gato escondido com o rabo de fora. Os próprios protagonistas acabam por se desmascarar. Uma nova revisão de estatutos só pode ser iniciada daqui a 4 anos ou se existir um motivo para revisão extraordinária. Três gralhas não são motivo para tal. E a incapacidade de alguns sócios para interpretar os Estatutos, também não. * Sócio seccionista da AAC
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O REGIME INDESEJADO
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xiste um ditado popular que, variando na sua forma, conforme a região do país, se acabou por generalizar em qualquer coisa como: “Pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita”. O mesmo se poderia dizer do Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES). Corria o mês de Junho de 2007 e já a objecção demonstrada pelos grupos parlamentares da oposição fez o Partido Socialista apresentar inúmeras versões do projecto-lei. Também na rua e nas faculdades, os estudantes mostraram a sua contestação ao novo regime e ao que ele representava para o ensino superior. E o caso não era para menos… A aprovação deste projecto-lei desencadearia uma série de alterações no ensino superior (de resto, as mais profundas desde a Lei de Autonomia das Universidades de 1988) que conduziriam à ingerência de en-
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Coimbra, foi remetido para agente consultivo. Para o substituir foi criado o Conselho Geral onde os estudantes viram reduzida a sua participação para cinco lugares. As cadeiras dos estudantes foram ocupadas por elementos externos à universidade por quem passam obrigatoriamente todas as decisões tomadas pelo reitor. A perspectiva de instituições de ensino superior poderem passar a fundações públicas de direito privado veio agudizar o risco da privatização do ensino superior e o risco da federalização das universidades, como a de Coimbra. Também a eleição do reitor deixou de ser incumbência da Assembleia da Universidade, órgão alargado onde participam estudantes, professores e funcionários, para passar a ser responsabilidade do Conselho Geral. Todo este processo significou
Impõe-se aos estudantes que saibam recuperar a sua voz nas decisões da universidade, nas decisões que os afectam
tidades externas na universidade, à perda de participação dos estudantes nos órgãos de gestão e à possível privatização das instituições do ensino superior. Contudo, o regime foi aprovado e depressa todas as universidades e politécnicos se viram obrigados a aplicá-lo. Quase tão rápida, quanto a implementação, foi a confirmação das suspeitas dos estudantes sobre os efeitos práticos da instituição do regime. O Senado Universitário, órgão onde professores, funcionários e estudantes (inclusive discentes indigitados pela Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra) decidiam as principais questões da Universidade de
mais do que uma simples alteração na estrutura ou na prática institucional da UC. O RJIES revelou-se o abalar das estruturas democráticas da universidade e um retrocesso nas aspirações dos estudantes de um ensino superior gratuito e de qualidade. Todavia, leis instituídas não são inabaláveis e podem ser revogadas (como é prova a história do ensino superior) e impõe-se aos estudantes que saibam recuperar a sua voz nas decisões da universidade, nas decisões que os afectam e que saibam dar combate pela realização das suas aspirações por um ensino superior democrático, público, gratuito e de qualidade. João Miranda
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