BRUNO ALEIXO À CONVERSA “O estado do ensino superior deve estar mau, porque às vezes recebo mensagens do Hi5 cheias de erros”
PORTUGAL
SUICÍDIO Insucesso académico pode aumentar risco nos universitários
Especialistas analisam as orientações da política externa portuguesa
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a cabra
9 de Dezembro de 2008 Ano XVIII N.º 190 Quinzenal gratuito
Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo
Jornal Universitário de Coimbra
Tema
Secções culturais da AAC em risco de extinção A falta de actividades, a incomparência nas reuniões de Conselho Cultural da Associação Académica de Coimbra (AAC) e a inexistência de uma direcção eleita podem conduzir à extinção da secção de Escrita e Leitura (SESLA) e a de Gastronomia.
Por enquanto, ainda está tudo em aberto, porque o presidente da direcção-geral, André Oliveira, assegura que não vai ser tomada nenhuma decisão sem “falar com as próprias secções e o Conselho Cultural”. Contudo, as secções admitem que a situação ac-
Regulamento interno para pró-secções aceite em Conselho Cultural
As mudanças mundiais de 2008
tual se deve à “falta de novos elementos”. Em questão está ainda a Secção de Defesa dos Direitos Humanos, que, apesar de ter uma direcção eleita, também não apresenta actividade.
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O ano ainda não acabou, mas muito já aconteceu em 2008. A crise económica internacional, que começou nos EUA, surpreendeu o mundo. Uma inédita eleição de um presidente negro para a Casa Branca parece abrir o caminho para a “mudança”. Na Europa o Kosovo proclamou a sua independência unilateralmente e o Tratado de Lisboa esbarra na Irlanda. A Rússia invadiu a Geórgia pondo a comunidade internacional em alerta. O mundo assiste à ascensão de países emergentes.
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Manoel de Oliveira O cineasta mais velho do Mundo comemora 100 anos e Coimbra presta-lhe homenagem P6
Espanha
Faculdades ocupadas em Barcelona
Os estudantes da Universidade Autónoma de Barcelona ocuparam seis faculdades em protesto contra o Processo de Bolonha. Os ocupantes reivindicam a realização de um referendo vinculativo em que votem todos os implicados pelos efeitos da implementação de Bolonha.
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Coimbra verde em tempo de Outono Câmara anuncia novo parque na cidade e reabilita espaços mais antigos
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2 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira
DESTAQUE
Suicídio Prevenção diminui comportamentos de risco nos universitários A adaptação pedagógica, o insucesso escolar e a aproximação ao mundo do trabalho potenciam a tentativa de suicídio nos estudantes do superior. Por Pedro Crisóstomo, Daniela Ferreira e Vanessa Soares
A
transição dos estudantes para a universidade, o insucesso escolar, a auto-exigência de bons resultados escolares ou mesmo a aproximação ao mundo do trabalho podem acentuar o risco de suicídio entre os jovens que frequentam o ensino superior. Esta é a opinião de alguns especialistas, que, perante dados de 2008 que apontam o suicídio como a segunda causa de morte na juventude, em Portugal, defendem a aposta em campanhas de prevenção para reduzir o risco de suicídio até aos 25 anos. Um estudo da Association of University and College Counselors confirma mesmo que os estudantes universitários têm elevados níveis de ‘stress’, o que potencia o risco. Características tão díspares como a agressividade, o perfeccionismo, o medo de críticas e a beleza são comportamentos de para-suicidas, embora entrem em linha de conta a personalidade do estudante e as variáveis sócio-demográficas. As estatísticas (que não se referem apenas às camadas jovens) apontam igualmente para um aumento de 25 por cento de tentativas de suicídio em relação aos dados de 1996. Ou seja, em 12 anos, por cada 100 mil habitantes, o número cresceu de 200 para 250 casos. Face aos números, a Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS) alerta que os registos não são significativos relativamente a outros países do Norte e do Leste da Europa e que suicídio não pode nunca ser confundido com tentativa de suicídio (suicídio frustrado ou para-suicídio). Apesar de tudo, “o suicídio consumado [pelos jovens, em Portugal] é muito menos frequente”, explica o médico psiquiatra Pio Abreu. O chamado para-suicídio é o fenómeno que acontece mais vezes e que “tem a ver com a existência de uma vulnerabilidade especial num período crítico”, especifica.
Começando, desde logo, com a adaptação a uma nova relação pedagógica com os professores ou a formas de avaliação diferentes daquelas a que os estudantes conhecem até chegar à universidade, a frequência do ensino superior “marca o início da transição para o mundo do trabalho assim como a autonomia própria do jovem adulto”, sustenta a psicóloga Neuza Almeida, num artigo da SPS sobre “a ideação suicida em estudantes do ensino superior”. Para quem vive em residências universitárias ou em quartos arrendados, a solidão, as saudades da família e o medo de estar sozinho aumentam o risco de comportamentos para-suicidas (com mais incidência em estudantes das Ilhas e estrangeiros). Segundo o responsável pela Consulta de Prevenção do Suicídio nos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC), Carlos Braz Saraiva, “os jovens indiciam na sua história clínica comportamentos de risco que não têm uma suposta elevada intenção de morte, mas que poderão sinalizar um desfecho fatal”. Daí que “um bom processo de adaptação no primeiro ano do curso” constitua “um factor protector do risco de insucesso académico, de desmotivação académica, ou até de abandono escolar”, considera Neuza Almeida na mesma declaração. Braz Saraiva, também professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, acentua que “os aspectos académicos poderão suscitar a entrada no processo suicida”. Isso reporta, “muitas vezes, à frustração perante as expectativas goradas” e coexiste com outras do foro “amoroso ou sentimental”. Alguns casos derivam de “factores clínicos que têm a ver com as alterações da conduta e das emoções”. As perturbações do comportamento, explica o psiquiatra, correspondem “a actos depressivos onde a desesperança cursa persistentemente”.
Apoio escolar como forma de prevenção A prevenção do suicídio é, por isso, essencial em todas as fases da vida, concordam os psiquiatras. Os jovens, lembra Pio Abreu, “chamam a atenção dos pais por comportamentos fora do habitual, enviando mensagens que têm a ver com a necessidade de serem ouvidos” pela mão de médicos e psicólogos clínicos. Braz Saraiva realça que “a juventude obriga a uma especificidade diferente dos idosos”, exigindo-se que sejam conhecidos “bem os sinais de alarme, os indícios de risco”. Para o professor, cabe também ao Estado e às universidades resolver “políticas sociais contra a exclusão e o desemprego” e propor outras “que tenham a ver com o apoio escolar”. Em Coimbra, existem três bases de prevenção, sendo que apenas a consulta dos HUC está exclusivamente vocacionada para tal. A ajuda obedece a um apoio psico-terapêutico e, se necessário, a intervenção psicofarmacológica. O objectivo principal, explica o responsável, “é resolver aquilo que alguns autores chamam de ‘crise suicidária’”. Em 90 por cento dos casos, o problema é resolvido no espaço de um mês, “ficando depois um grupo residual de doentes”. Pio Abreu corrobora que os fármacos “travam a passagem ao lado”, mas chama a atenção: “é preciso perceber que os anti-depressivos não previnem o suicídio”. Pelo contrário, alerta, “podem activar a pessoa e fazer com que passe de um simples pensamento ao acto”. Falando do papel que os média exercem sobre os jovens, Pio Abreu defende que as televisões devem evitar reproduzir comportamentos de risco: “os média, pioneiros na procura de coisas insólitas, acabam por promover os comportamentos suicidas, já que influenciam as pessoas mais ao nível emocional”.
O ISOLAMENTO E A INIBIÇÃO SOCIAL são características de para-suicidas
O SUICÍDIO NO MUNDO Todos os anos cerca um milhão de pessoas no mundo termina com a própria vida, o que corresponde a quase 15 por cada 100 mil pessoas. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e colocam o suicídio na décima terceira causa de morte mais frequente a nível mundial. A organização estima que dez a 20 milhões de pessoas se tentam suicidar todos os anos. No entanto, presume que os números reais sejam ainda mais elevados. Nos últimos 50 anos, a taxa de suicídio aumentou 60 por cento. A OMS não tem dados certos do número de suicídios em todos os países, porque estes não comunicam os números reais. Os dados revelam que as taxas de suicídio são mais altas na Europa de Leste, especialmente na Lituânia, Estónia, Rússia e Bielorrússia.
Nestes países, o número de suicídios situa-se entre os 45 e 75 por cada 100 mil pessoas. Já a Europa Mediterrânica, a América Latina e a Ásia possuem as taxas de suicídio mais baixas: 6 a cada 100 mil habitantes. Pelo meio ficam a América do Norte, a Europa e a Austrália, com 10 a 35 suicídios. Apesar de a Ásia ter uma baixa taxa de suicídios, é neste continente que ocorre mais de metade, especialmente na China, no Japão e na Índia, devido à grande densidade populacional. A Organização Mundial de Saúde tem vindo a trabalhar na prevenção do suicídio através da implementação de vários projectos em alguns países. O objectivo é claro: consciencializar as pessoas de que “o suicídio é um problema de saúde pública”. Diana Craveiro
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DESTAQUE
ANA COELHO
OPINIÃO DESEJO DE “MORRER” Três, dois, um… passaram apenas três segundos e mais uma pessoa atentou contra a sua própria vida. Os números são alarmantes, cerca de três mil pessoas cometem suicídio diariamente em todo o mundo. O suicídio é actualmente uma das três principais causas de morte entre jovens e adultos, dos 15 aos 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos. Em Portugal é a segunda causa de morte entre jovens e este valor cresceu 25 por cento desde 1996. Os comportamentos suicidários constituem um flagelo da nossa sociedade contemporânea. Contudo, na maioria dos casos a pessoa escolheria outra forma de solucionar os problemas se não se encontrasse numa tal angústia que a impossibilita de considerar
CATEGORIAS E CARACTERÍSTICAS DE PARA-SUICIDAS HISTRIÓNICOS – egocentrismo, teatralidade, sugestionabilidade, exageros NARCISISTAS – vaidade, beleza, poder, altivez ANTI-SOCIAIS – impulsividades, irritabilidade, agressividade, irresponsabilidade ‘BORDERLINE’ – impulsividade, instabilidade, cólera, automutilações OBSESSIVOS – perfeccionismo, rigidez, indecisão, superstição DEPENDENTES – indecisão, não saber dizer não, desamparo, medo de ser abandonado EVITANTES – inibição social, medo de críticas, rejeição e de correr riscos FONTE: “ESTUDOS SOBRE O PARA-SUICÍDIO”
SOS sem chamadas sobre suicídio Linha direccionada para a prevenção do suicídio recebe maioria das chamadas sobre sexualidade e solidão Daniela Ferreira Vanessa Soares Para além da Consulta de Prevenção do Suicídio dos Hospitais da Universidade de Coimbra, a cidade tem, no seio da Associação Académica de Coimbra, uma linha de ajuda especialmente direccionada aos estudantes. A SOS-Estudante foi criada em 1997, mas ainda assim são poucas as chamadas que se direccionam para o suicídio e poucos os jovens que procuram ajuda neste problema. Os assuntos principais das conversas passam pela sexualidade, solidão e relacionamentos, temas que transpõem para segundo plano a iniciativa para a qual foi criada a secção. “Temos presente uma co-
munidade estudantil e existem problemas que podem chegar ao suicídio, embora esta ideia não seja motivo para ligar”, explica a presidente da secção, Filipa Craveiro. “A linha foi criada para estudantes, mas, com o passar do tempo, foram-nos ligando outras pessoas. A nossa média de idades é de 40 anos”, assegura a presidente. De acordo com as estatísticas da SOS-Estudante, no último ano lectivo, houve um total de 820 chamadas atendidas, em que 80 por cento foram efectuadas pelo sexo masculino com idades superiores a 40 anos, apesar de a faixa etária dos 22 aos 25 anos também apresentar um número considerável de chamadas. A confidencialidade e o anonimato de quem liga e de quem escuta são as características da linha. Mesmo tendo conhecimento das taxas de suicídio entre os jovens, Filipa Craveiro acredita que desabafar sobre os problemas que atormentam as pessoas é ainda um assunto tabu na sociedade, uma vez que o facto de “as pessoas estarem fecha-
das no seu mundo cria alguma dificuldade em falar nos seus problemas”. O grupo de estudantes que se presta a ouvir quem mais necessita tem formação para responder aos diversos tipos de chamadas, mas quanto ao suicídio, quem está à procura de ajuda recebe o mesmo atendimento como se de outro tema se tratasse. “Vamos tentar saber aquilo que levou a pessoa a ligar, e, a partir daí, a desabafar sobre o que a preocupa, sem dar opiniões, nem aconselhar e nem fazer juízos de valor”, explica. Em seguida, se a pessoa assim o desejar, a secção pode reencaminhar a pessoa para uma unidade hospitalar. Como linha de apoio, a SOS-Estudante considera, nas palavras de Filipa Craveiro, que deveria ser dada mais atenção à prevenção do suicídio, através de campanhas de prevenção com o intuito de sensibilizar as pessoas da realidade. A linha está disponível todos os dias entre as 20 horas e a uma da madrugada.
outras opções. A intenção é, geralmente, parar a dor e não por termo à vida! É na procura deste apoio, de alguém que sofre e que sente necessidade de desabafar, que surge a SOS-ESTUDANTE e outras linhas de apoio. Sempre mantendo a confidencialidade e anonimato para quem liga e para quem escuta, tentando criar empatia, disponibilizando espaço e tempo. A partilha dos problemas com alguém desconhecido, que não julga, mas ouve, e se sente, nesse momento, responsável pelo outro, devolvendo-lhe a confiança em si próprio; ou encontrando pessoas que aceitam falar das ideias de morte, permitindo eventualmente afastar a ideia de suicídio - estas são essencialmente as bases em que assenta a nossa escuta, o nosso apoio. É urgente travar estes números, é importante desmistificar conceitos… Vivemos tão apressadamente que o outro é muitas vezes negligenciado ou esquecido. É nos momentos de crise e grande dificuldade, em que frequentemente todos pensam não haver qualquer solução e os próprios familiares e outros elementos de apoio sentem necessitar de ajuda, que a procura de apoio pode fazer a diferença, ajudando a pessoa a encontrar outras formas de viver. Três, dois, um… Vamos apoiar uma vida. Gonçalo Moura Costa Vice-coordenador de Voluntários SOS-ESTUDANTE
4 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira
ENSINO SUPERIOR Jorge Serrote vence por margem reduzida JOÃO MIRANDA
A Lista A vai formar a nova DG/AAC. Serrote superou Alexandre Leal por uma diferença de 74 votos Sónia Fernandes João Picanço Numa segunda volta em que foi preciso esperar quase 24 horas para se saber o resultado das votações depois de fecharem as urnas, Jorge Serrote confirmou a vitória frente a Alexandre Leal, com 3544 votos. Num universo de 7560 votantes, a Lista A venceu a concorrente, E, por uma margem reduzida de 74 votos. Depois de terminada a contagem na noite eleitoral da passada quinta-feira, só ao final do dia seguinte foi apurado o vencedor, uma vez que havia apenas uma diferença de 63 votos entre as listas. A razão da espera foi a necessidade de contar 194 votos por envelope, que só poderiam ser abertos após a confirmação dos nomes dos estudantes pelos serviços da Universidade de Coimbra (UC), e que poderiam ainda inverter a votação. “A questão dos envelopes deixou-nos a todos na expectativa, embora já tivéssemos reiterado confiança nesta vitória”, reage o próximo presidente da DG/AAC. A adesão às urnas nesta segunda volta foi superior à da primeira em quase 759 votos e em mais de três mil do que no ano passado. Para Jorge Serrote, a adesão às urnas em força já era esperada. O facto de haver só duas listas que “apostaram tanto na campanha” e
9 Jorge Serrote
NA NOITE ELEITORAL, a contagem dos votos só terminou depois das cinco da madrugada
que conseguiram “mobilizar tanta gente” chamou os estudantes às urnas. Já Alexandre Leal lamenta que o número de votos em branco (505) seja “mais um sinal de que realmente as coisas não estão bem”. Para o estudante de Economia, estes votos poderiam ter mudado o rumo das eleições, porque “se as pessoas não estavam contentes deveriam ter optado por uma alternativa que não os votos em branco”. Apesar da derrota, o cabeça de lista do projecto E acredita que foi uma “grande vitória, independentemente de ter ficado atrás”.
Adiamento da segunda volta ponderado O presidente da Comissão Eleitoral, Nuno Mendonça, garante que o processo decorreu dentro da normalidade e que não houve quaisquer percalços. Para o responsável, o principal entrave, tanto na primeira como na segunda voltas, foi o número elevado de envelopes. Nuno Mendonça explica que esta forma de votação se deve “ao facto de muitas pessoas não estarem matriculadas na UC ou porque os seus pedidos de matrícula não foram alterados”. Ainda foi ponderada em Comissão Eleitoral o adiamento da se-
gunda volta, que não chegou a acontecer, uma vez que se conseguiram “apurar os valores dos envelopes da primeira volta na terça-feira [dia 2, um dia antes da segunda]”. Quanto à questão do cacique, o presidente da Comissão Eleitoral reconhece que “há sempre apelo ao voto” nos dias de votação, mas garante que “foram respeitados os locais de voto, correndo tudo dentro da normalidade”. Já o Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC) ficou decidido logo na primeira volta. Através do Método de Hondt, a Lista A conseguiu apurar quatro elementos e a Lista
E garantiu a presença de três representantes. À semelhança das eleições para a DG/AAC, também para o fiscal se teve de esperar pela abertura dos envelopes para se apurar o resultado final. Na primeira volta as listas R, de João Reis, e U, de Marcos Lemos, ficaram excluídos de uma segunda volta, com 301 e 253 votos, respectivamente. Os brancos foram a terceira opção dos estudantes com um total de 443 votos. Jorge Serrote confessa que “está bastante feliz com o resultado” e diz-se satisfeito pela forma como as campanhas foram levadas a cabo por todas as listas.
“A causa estudantil não é sectária” 1. Já tens algum projecto pensado para quando iniciares o mandato? Temos alguns projectos idealizados, que iniciámos durante a campanha. Pautaremos a nossa acção ao nível da melhoria da qualidade do ensino. Provavelmente, vamos começar pelo levantamento de tudo aquilo que são problemas pedagógicos e estruturais das faculdades e sensibilizar a sociedade civil para a causa estudantil, porque não é uma causa sectária, é um investimento para o país.
2.E depois do levantamento, o que pretendes fazer? Pretendem o s levá-lo à s
entidades competentes: primeiro, na Universidade de Coimbra (UC); depois, à tutela.
3.Afirmaste
na campanha que não tinhas discutido com a lista se o reitor da UC se deve demitir, à semelhança do reitor da Universidade Nova de Lisboa, cujo órgão que o elegeu foi abolido. Agora que foste eleito, qual a tua posição? Ainda não tivemos oportunidade de discutir essa questão. Teremos obviamente que pensar a partir deste momento.
4.Mas como novo presidente da DG/AAC, que postura assumes? Foi uma posição de força, uma forma original de luta. Não sei se me cabe a mim sugerir ao reitor se deve ou não fazer algo idêntico.
Cabe à reitoria saber de que forma tomar as suas posições junto do governo.
5.
Não tens então opinião formada. Não, não tenho.
6.Vais tentar concertar esforços ou trocar ideias com elementos dos projectos derrotados? Sim. As listas tinham projectos e pessoas diferentes, mas todos têm como objectivo comum o melhor para a AAC. Julgo que é importante este debate de ideias e abrirmos, desde logo, a porta a quem queira colaborar connosco.
7.Como
esperas ver a AAC daqui a um ano? Espero uma Academia unida. Por outro lado, uma Academia mais
próxima de todos os estudantes, que faça com que estejam mais próximos daquilo que é o associativismo, o desporto e a cultura.
8.Actualmente,
existe um grande desinteresse pelo associativismo. A tua direcçãogeral vai inverter esta realidade? É nesse sentido que pautaremos a nossa acção, direccionando muitas das nossas actividades com o objectivo último de inverter este afastamento.
9.
Como pretendes fazer isso? Fazendo actividades que sejam de serviço directo aos estudantes: sessões de recrutamento, workshops e a resolução de problemas concretos dos nossos colegas. Cláudia Teixeira
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ENSINO SUPERIOR
Cultural discute extinção de secções Falta de actividades e de direcção eleita e não comparência no plenário geral das secções culturais levam à discussão de uma possível extinção de secções ANA COELHO
mais disponibilidade as coisas até se tinham resolvido”. Em relação a esta situação, André Oliveira clarifica: “isso não faz qualquer tipo de sentido já que a Secção de Defesa dos Direitos Humanos é uma das secções que tomou posse há menos de um ano mas não comparece nas culturais”. O presidente afirma ainda que “as secções têm actividade própria. A direcção-geral tem o dever de apoiar, mas não é o motor. Nunca negamos apoio e mostramos sempre preocupação em trabalhar em conjunto com as secções culturais”.
Vanessa Quitério Duas secções culturais da Associação Académica de Coimbra (AAC) correm o risco de extinção pelo facto de não apresentarem uma direcção eleita, nem actividade, nem marcarem presença no Conselho Cultural (plenário geral das secções culturais da AAC). Em causa estão as secções de Escrita e Leitura (SESLA) e de Gastronomia. O presidente da Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), André Oliveira, esclarece que “a discussão que se levanta é devido ao facto de estas secções, neste momento, não terem actividade e de se ter que ver se faz sentido ou não continuarem a existir”. A questão vai ser levada a Conselho Cultural, “local próprio para isso”, justifica André Oliveira. Esta “é uma situação que existe há algum tempo, mas que nunca tinha sido levantada antes”, continua. “O nosso objectivo não é extinguir secções, mas sim promover para que tenham actividades e funcionem dentro da normalidade”, assegura. A nível de financiamento, o dirigente associativo explica que “as secções, para receberem as verbas da queima das fitas, têm de apresentar um relatório de actividades. As que estão em atraso só podem receber essas verbas quando apre-
Regulamento para pró-secções aprovado
NO ÚLTIMO PLENÁRIO foi aprovada a criação de um regulamento para as pró-secções
sentarem o seu plano de actividades”. Para a presidente da SESLA, Ana Coutinho, o problema reside “na falta de novos membros na secção, já que todos acabaram o curso e saíram da cidade”. A mesma justificação é dada pelo vice-presidente da Secção de Gastronomia, José Carvalheiro: “não há actividades porque não há di-
recção. A que lá está já cessou actividade há muito tempo”. Numa situação semelhante encontra-se a Secção de Defesa dos Direitos Humanos que, ao contrário da SESLA e da Secção de Gastronomia, tem uma direcção de secção eleita e compareceu a uma reunião Conselho Cultural, no entanto, não apresenta actividades desde então.
A presidente da Secção de Defesa dos Direitos Humanos, Susana Sousa, explica que “quando a actual direcção-geral tomou posse houve muito interesse, tentaram arranjar formas de trabalhar connosco, fazer exposições e colóquios, só que entretanto essa motivação caiu em esquecimento”. Ao mesmo tempo acrescenta que “se calhar se a secção mostrasse
No último Conselho Cultural, aquando da discussão de um novo regulamento interno do órgão, foi aprovada a criação de um regulamento para as pró-secções. A de Fotografia foi a última a passar pelo processo, existindo oficialmente desde Dezembro do ano transacto. O presidente da DG/AAC afirma que o objectivo do regulamento é “assegurar que uma secção mostre trabalho e capacidade para poder desenvolver as suas actividades” e para, no período de formação, “vermos se tem viabilidade, para mais tarde passar a secção”. “Neste momento não existem pró-secções culturais, apenas a de bilhar que é desportiva”, remata.
Estudantes de Barcelona ocupam faculdades Depois da manifestação que juntou mais de dez mil estudantes no centro de Barcelona, a luta contra o Processo de Bolonha continua através de ocupações Patrícia Gonçalves em Barcelona Na capital da Catalunha cresce o número de faculdades ocupadas pelos estudantes que estão contra a aplicação do Processo de Bolonha nas universidades espanholas. Na Universidade Autónoma de Barcelona (UAB) estão ocupadas seis faculdades – Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia, Faculdade de Letras, Faculdade de Ciências da Comunicação, Faculdade de Psicologia e Terapia da Fala, Faculdade de Educação e a Faculdade de Ciências. Já este ano foram feitas outras ocupações em Espanha nas universidades de
Madrid, Sevilha e Valência. “Decidimos que faríamos [na UAB] uma ocupação experimental durante uma semana, na Faculdade de Ciências Políticas e Sociologia, e, se corresse bem, avançaríamos para as outras faculdades”, refere uma estudante de Jornalismo da Faculdade de Ciências da Comunicação (FCC) da UAB. As ocupações são pacíficas e não se pressupõe a completa pausa das actividades nas instituições de ensino. “O objectivo é substituir as aulas convencionais por aulas didácticas sobre Bolonha, organizamos debates e sessões informativas”, menciona um dos porta-vozes dos estudantes que ocupam a FCC. Os estudantes ocupantes pretendem que seja feito um referendo vinculativo em que sejam chamados a votar todos os implicados (professores, estudante e funcionários) pelos efeitos da aplicação do Processo de Bolonha e que seja reconhecido o deficit de 20 milhões de euros da UAB. Exigem, igualmente, que se retire o processo de expulsão a 28 estu-
dantes que entraram forçadamente no gabinete do reitor da UAB e que estão sujeitos a uma suspensão do ensino superior que vai de um a 11 anos. O Conselho Inter-universitário
da Catalunha revelou, em declarações à comunicação social catalã, a intenção de proceder ao referendo sobre o Bolonha, mas nunca pondo em causa a sua implementação. PATRÍCIA GONÇALVES
ESTUDANTES DA UAB reivindicam um referendo vinculativo
Na passada quinta-feira, ocorreu uma reunião entre o reitor da UAB, Lluís Ferrer, o reitor da Universidade Pompeu Fabra, Josep Joan Moreso, a Comissária da Universidade e Desenvolvimento da Genralitat da Catalunha, Blanca Palmada, e a Comissão de Negociação do Comité contra Bolonha da UAB. Depois da negociação, os estudantes comprometeram-se, em comunicado, com “um processo parcial de desocupação de modo a dar seguimento às negociações com o reitorado” e “o congelamento de ocupações futuras já planificadas esperando uma evolução das negociações”. Até à aplicação do Processo de Bolonha, uma licenciatura de quatro ou cinco anos, em Espanha, equivalia a dois ciclos completos. Depois da implementação do tratado, a licenciatura passa a ter três ou quatro anos mas equivale apenas ao primeiro ciclo. Como 80 por cento dos mestrados na UAB não são reconhecidos nem subvencionados pelo estado, o acesso ao segundo ciclo é mais restrito.
6 | a cabra | 9 de Dezmbro de 2008 | Terça-feira
CULTURA
MANOEL DE OLIVEIRA
cultura por
cá 100 Anos de Memórias
9 DEZ
PROPRIEDADE PRIVADA Apresentação por Rui Simões FNAC • 21H30 • ENTRADA LIVRE
9 10 e DEZ
As imagens vasculham um século de história. Manoel de Oliveira comemora um centenário de vida e Coimbra presta-lhe homenagem
CINANIMA 32º FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE ANIMAÇÃO TAGV • 21H30 • 4,5¤ PREÇO ESTUDANTE: 3,5¤
13 DEZ
HIGH FLYING BIRD Música FNAC • 22H • ENTRADA LIVRE
15 DEZ
Ana Sofia Costa Sara Oliveira A Biblioteca Municipal de Coimbra foi o local escolhido para expor oito momentos da vida do cineasta mais antigo do mundo. Apesar dos inúmeros trabalhos cinematográficos realizados por Manoel de Oliveira, segundo um dos mentores do projecto, António Fresco, “nesta mostra foi decidido que se iria pôr de lado toda uma vida dedicada à sétima arte para dar a conhecer outras facetas do
cineasta” e acrescenta que o objectivo é “conhecer uma faceta pessoal [do realizador] que é desconhecida”. O dia em que Manoel de Oliveira oficialmente pôde pilotar um avião, o momento em que se sagrou vicecampeão de Portugal em salto à vara, uma corrida de automóveis com amigos ou até um passeio pela praia são alguns dos episódios que foram captados pela objectiva de uma máquina fotográfica e que agora chegam a Coimbra na exposição “Manoel de Oliveira – Imagens de juventude”. António Fresco, ainda não consegue avançar uma data precisa para a abertura da exposição, mas “uma coisa é certa: tem de estar aberta ao público no dia 12 deste mês”. Depois de passar pela Biblioteca Municipal de Coimbra, Fresco explica que “as bibliotecas escolares vão poder requisitar os cartazes que quiserem para, também elas exporem nas escolas”.
“O Oliveira é o cinema português” Actualmente Manoel de Oliveira é estudado em universidades de todo o mundo. O docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Fausto Cruchinho, já publicou vários livros sobre o trabalho do cineasta e confirma mesmo que “já existe aquilo a que se pode chamar Estudos Oliveirianos”. O Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20) está a desenvolver um projecto que vai sair até ao final de 2009. Cruchinho é um dos mentores do projecto e conta que “está previsto apenas um livro, onde são compilados textos de diversos estudiosos universitários do Oliveira”. Este é um projecto multicultural porque é fruto de colaborações que vêm dos Estados Unidos, Europa e Brasil. Para Fausto Cruchinho, “o Oliveira é o cinema português” e destaca o filme “Angélica” de entre todo o seu
trabalho, por considerar que “muito do que o filme contém está nos projectos que ele fez a partir dos anos 70, onde a realização do amor e da paixão não se faz pela consumação física do amor, mas pelo amor como ideia pura, ideal, a de que os corpos não se podem tocar, pois quando o fazem, tornam-se impuros, a não ser que se toquem depois da morte”. A partir dos anos 90, a filmografia de Oliveira conhece uma viragem e “desenvolve-se a ideia do fim dos conflitos dos sexos, unindo-se num só e criando uma espécie de mito do andrógino que ele depois vai desenvolvendo nos seus vários filmes”, adianta o docente. O trabalho de Manoel de Oliveira tem sido projectado ao nível da Europa e do mundo. Os 100 anos que o realizador agora comemora, ainda lhe permitem estar no activo. É Manoel de Oliveira que ainda escreve, realiza e monta todos os seus filmes.
II GALA DO DESPORTO DE COIMBRA
D.R.
PAVILHÃO MULTIDESPORTOS ENTRADA LIVRE
17 DEZ
"MY BLUEBERRY NIGHTS, O SABOR DO AMOR" Ciclo "Ao Sabor de Wong" FNAC • 21H30 • ENTRADA LIVRE
20 DEZ
SÁBADOS NO MUSEU: "CURTO CIRCUITO" Museu da Ciência 15H00 ÀS 16H00 • ENTRADA 3 ¤
21
PARA ALÉM destas imagens, vão estar em exposição na Biblioteca Municipal de Coimbra mais cinco momentos da vida do cineasta
DEZ
XII Mondego chega a Coimbra
PAULO VINTÉM Música FNAC • 17H • ENTRADA LIVRE
21 DEZ
CONCERTO DE NATAL PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL 14H00 às 16H00
O festival pretende relançar o gosto pela dança tradicional, tendo a presença de grupos de todo o país Vanessa Quitério
27 DEZ
FEIRA DAS VELHARIAS PRAÇA DO COMÉRCIO 9H00 às 19H00 ENTRADA LIVRE
30 31 a DEZ
PERCURSO PEDONAL COIMBRA JUDAICA MUSEU DA CIÊNCIA DA UC 15H - 16H • ENTRADA LIVRE
Por Vasco Batista
A Orquestra Típica e Rancho, grupo de dança tradicional portuguesa da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC), apresenta no próximo dia 14 de Dezembro mais um Mondego – festival académico de folclore. O evento tem lugar no Instituto Português da Juventude (IPJ) e pretende “pautar-se por uma nova dinâmica e uma nova viragem”, adianta o vice-presidente da SF/AAC, Hugo Ribeiro. O Mondego conta este ano com a XII edição, tendo estado interrompido cerca de três anos. Dar a conhecer o folclore que se faz
nas universidades é o principal objectivo deste evento. Na opinião de Raquel Almeida, membro da direcção artística da Orquestra Típica e Rancho, “o Mondego serve para divulgar este género de dança tradicional feito por estudantes. Reúne vários grupos que têm em comum o folclore e a etnografia, proporcionando uma agradável troca de saberes.” Sobem ao palco do IPJ já no próximo domingo cinco grupos do Orfeão Universitário do Porto, um grupo de danças folclóricas e música popular do Minho e um grupo de danças e cantares do Ribatejo. A Orquestra Típica e Rancho organiza o Mondego com o intuito de “chamar a camada mais jovem e mostrar às outras pessoas o que nós fazemos e o que conseguimos fazer”, afirma a responsável pela organização do XII Mondego, Melissa Gana. Já Raquel Almeida, organizadora também de anteriores festivais Mondego, refere
que “a nossa intenção é ter no evento população que já adere a isto, como os mais idosos, mas também atrair os jovens para que percebam o que se pode fazer ao nível das academias”. Por outro lado, as dificuldades assombram a organização deste ano. Hugo Ribeiro refere que “há um desinteresse não só por parte da malta mais nova mas também de instituições da cidade e do distrito, bem como da entidade gestora da universidade. Ambos demonstram despreocupação com o património musical intrínseco da cidade e dos estudantes”. Na opinião do vice-presidente da SF/AAC o Mondego este “tem de ser um festival que faça a Típica e toda a secção se orgulhar de o mostrar a Coimbra”. Num grupo com 27 anos de existência, composto maioritariamente por estudantes universitários, a renovação faz parte do role de preocupações. Contudo, o que parece
sobrepor-se à óbvia necessidade de integrar novos elementos, segundo Hugo Ribeiro, são “ os apoios relativamente ao Mondego”. O aparente desinteresse dos estudantes pelas danças tradicionais populares deve-se ao facto de quando “pensam em ranchos, associam logo ao ‘não gosto’ e concluem que não é para nós”, aponta Raquel Almeida. O festival tem entrada livre e, por ser no espaço que é, é esperada grande adesão por parte do público. O vice-presidente da SF/AAC adianta que “por ser no IPJ acredito que pode trazer mais pessoas. Se na próxima semana tudo for divulgado como deve de ser, as pessoas vão lá só pelo Mondego”. Embora a Típica seja o primeiro grupo da Secção de Fado, em termos históricos, “o grupo está neste momento a atravessar uma grande crise que é preciso recuperar. Nada melhor que um grande festival”, conclui Hugo Ribeiro.
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DESPORTO
Olivais recebe israelitas para a Eurocup
P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O BASQUETEBOL
JOÃO RIBEIRO
Após alcançar a passagem aos 16 avos-de-final da Eurocup feminina, o Olivais joga a primeira mão esta quinta-feira Catarina Domingos Frederico Fernandes Tiago Teixeira A equipa feminina de basquetebol do Olivais Coimbra retoma esta quinta-feira a sua aventura europeia, ao receber, no Pavilhão Multidesportos, as israelitas do Elitzur Achva Ramla. As atletas de Coimbra fizeram história no basquetebol feminino português, ao garantirem, no passado dia 27 de Novembro, a passagem à segunda fase da Eurocup Women. O feito foi conseguido depois da vitória tangencial sobre as espanholas do Extrugasa por 65-66, após prolongamento. No final do tempo regulamentar, o placard assinalava uma igualdade a 54 pontos. Para a história ficam também as vitórias sobre o Tarbes (França) e o Pallacanestro de Ribera (Itália), de ligas europeias mais competitivas. É a segunda vez que uma equipa feminina supera a fase de qualificação de uma prova europeia. A primeira vez aconteceu com o CAB Madeira, em 1999, na Taça Liliana Ronchetti. “O objectivo inicial do Olivais era as jogadoras ganharem mais experiência, numa competição diferente, com as melhores equipas da Europa, e, se fosse possível, conseguir ganhar um jogo”, conta o presidente do
FUTEBOL
AS ATLETAS DO OLIVAIS já preparam a recepção ao Elitzur
clube, Carlos Almeida. No seu entender, o êxito passou “pelo trabalho do treinador, pela motivação que ele e a equipa técnica conseguem dar e pelo empenhamento das jogadoras”. Nas contas finais, a equipa somou nove pontos, com três vitórias e outras tantas derrotas, ficando no segundo posto do grupo J. No espaço de sete meses, o treinador José Miguel Araújo conquistou um campeonato nacional, uma supertaça e a passagem à fase final da Eurocup. Perante a competitividade das outras formações europeias, o técnico relata que não há segredos para o sucesso europeu. O trabalho passou por detectar fragilidades e
“perceber o que não se podia fazer contra este tipo de equipas”. O momento vivido em Vilagarcia é recordado por José Araújo como “gratificante”. “Na discussão de um apuramento directo, a tensão é outra”, acrescenta. Para si, o apuramento histórico significa que “o [basquetebol] feminino não está assim tão mal como se tem dito nos últimos anos, há pessoas a trabalhar com qualidade e afinco”.
O próximo adversário Nos 16 avos-de-final, o Olivais tem pela frente a equipa israelita do Elitzur Achva Ramla, que chegou às meias-finais da competição na época
transacta. Nesta edição, o Elitzur venceu o grupo C, com seis vitórias em igual número de jogos. “É uma equipa altamente profissional, com muitas jogadoras estrangeiras, habituada às lides europeias e que já chegou muito longe”, analisa o técnico da equipa conimbricense. Ainda assim, José Araújo afirma que “acima de tudo, há que desfrutar deste tipo de jogos”. Quanto a cuidados especiais, o treinador sublinha que a preparação deste encontro é semelhante à das restantes partidas, tentando fazer “o melhor possível”. O desafio está marcado para as 20h30. A segunda mão em Israel está agendada para dia 18.
Só vitórias para o hóquei ANA COELHO
A Académica está a fazer um início de campeonato vitorioso. Os estudantes contam só com triunfos nas oito partidas realizadas João Ribeiro A disputar a Série B da Terceira Divisão Nacional Zona Norte, a equipa sénior de hóquei em patins da Associação Académica de Coimbra (AAC) é líder isolada, tendo até agora ganho os oito jogos já disputados. Neste fim-de-semana, a Académica venceu o Gualdim Pais por 7-1, em jogo da oitava jornada da prova. A continuidade da equipa técnica e do plantel, que permanecem da época anterior, é o grande se-
Depois de duas derrotas frente ao Benfica e CAB Madeira, a equipa sénior de basquetebol da Académica venceu o Aliança por 60-72. Esta é a oitava vitória da AAC na prova. A equipa de Norberto Alves soma agora 20 pontos, encontra-se no sexto posto, a dois do líder Benfica, que continua sem perder. Na próxima jornada, a Académica joga com o Barreirense, quarto classificado da liga.
gredo apontado pelo treinador, Miguel Vieira. “É a continuação do trabalho do ano passado, já que a equipa era a mesma”, afirma. A presidente da Secção de Patinagem da AAC, Maria Fátima Valente, partilha da mesma opinião. No seu entender, este sucesso “é apenas fruto do trabalho que tem vindo a ser desenvolvido e que vem de épocas anteriores”. Contudo admite que “a equipa também tem tido a sorte do seu lado”. Perante um cenário tão animador, a subida de divisão pode tornar-se uma realidade. No entanto, o discurso é cauteloso. “Esta equipa não estabelece a subida como um objectivo primordial”, sublinha a presidente. Fátima Valente admite mesmo que “vai ser muito complicado caso a subida se concretize”. Este receio tem como justificação “os encargos com a federação, em taxas de autorização e arbitragens, que quase duplicam
em relação à terceira divisão”. Ainda assim, a responsável adverte que “não é por isso que a equipa vai começar a perder jogos”. “Quem estiver na direcção desta secção, vai fazer os possíveis para conseguir fazer face a essas despesas”. Caso vença a série em que actualmente se insere, a Académica vai ter de disputar uma fase final com os vencedores das três séries restantes da terceira divisão para apurar quem sobe à segunda divisão. À margem dos triunfos da equipa de hóquei em patins, há o desejo de criar uma equipa de patinagem artística. Contudo, a presidente aponta a falta de espaço como o grande entrave a este projecto. “Temos um espaço limitado. Desde Julho que andamos a tentar encontrar um lugar, mas nem todos são adequados à prática da patinagem artística”, lamenta.
Na 11ª jornada da Série A da Primeira Divisão Distrital de Coimbra, a equipa sénior de futebol da Académica SF venceu o Clube Desportivo de Arouce por 1-2. Foi o regresso às vitórias, uma vez que a equipa já não ganhava há mais de um mês. Com este resultado, a AAC soma 15 pontos. Na próxima jornada, defronta o Eirense.
VOLEIBOL Após a eliminação da Taça de Portugal, a equipa sénior masculina de voleibol venceu o Centro Voleibol de Oeiras por 3-2. Depois de ter estado a vencer por 2-0, a Académica descuidou-se e deixou levar o jogo para a negra. Com esta vitória, a AAC entra num ciclo de três vitórias consecutivas para a Divisão A2. Na próxima jornada, a equipa de Carlos Marques defronta o Clube Nacional Ginástica.
ANDEBOL A equipa sénior de andebol da AAC venceu a ADC Benavente por 27-30. A turma de Ricardo Sousa beneficiou da derrota da JOBRA, para se encurtar a distância para a liderança em dois pontos. Assim sendo, a Académica está em terceiro lugar, com 29 pontos. Na próxima jornada, a AAC recebe o CD Feirense. A equipa sénior feminina perdeu com o Benfica de Castelo Branco por 1015. Catarina Domingos
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CIÊNCIA & TECNOLOGIA PEDRO COELHO
AS EXPERIÊNCIAS DOS EXPLORATÓRIOS dão para adaptar a todas as idades
Exploratório fecha as portas este mês O centro de ciência vai mudar para a margem esquerda do Parque Verde. Antes disso, fomos experimentar a ciência que tem vindo a animar crianças e adultos Diana Craveiro Patrícia Neves À entrada os monitores esperam pelos visitantes. O grupo de alunos do secundário chega com um pequeno atraso. Vêm de Famalicão. A cidade, que lhes é diferente, faz com que se percam nas horas adiando a descoberta do exploratório. Encaminhados para a entrada do Observatório situado dentro da Casa da Cultura de Coimbra, o grupo de jovens, entre os 15 e os 16 anos, segue o monitor até à primeira experiência. É pedido a cada um que se deixe rodar num carrossel com os braços levantados e com um haltere em cada mão. "Agora baixa os braços", ordena o monitor Francisco. Obedecendo à ordem, os estudantes notam como a velocidade com que rodavam no carrossel aumenta assim que baixam os braços. A explicação é simples: "ao baixarem os braços, aproximam-nos do eixo de rotação, diminuindo a inércia e aumentando a velocidade", explica, prontamente, o guia.
Não conseguindo escapar à curiosidade, alguns elementos afastam-se do grupo e começam a explorar por conta própria. Interagir com a ciência atrai-os, apesar de nem tudo o que está exposto ser direccionado para a sua idade. "Estás lindo oh Xavier!". A afirmação parte de um dos colegas que, de volta da experiência "Tu ou eu? Espelho ou vidro", observa como um vidro, através de jogos de luzes, se pode transformar num espelho. Sentados frente a frente e separados pelo vidro, dois alunos regulam a quantidade de luz emitida do seu lado do vidro, o que leva a que as imagens se sobreponham. "Agora tu vais ver a cara dele com o cabelo dela", explica o monitor. A reacção é imediata e gera um coro de risos. Trocando de alunos e de posição, um rapaz brinca: "Ele tem os dentes no nariz dela!". Mais uma vez as atenções dispersam. Mas agora os alunos tocam numa bola com uma luz cor-de-rosa que parece ter raios dentro dela. Reparando, o monitor lança-lhes um desafio: "tentem
acender a lâmpada, colocando uma mão nela e outra na bola", o que, de um modo geral, todos conseguem realizar. O que acontece é que cada pessoa funciona como um transmissor fazendo com que ao colocar uma mão na lâmpada e outra na "Bola de plasma", a primeira se ilumine até à zona onde a mão está. Numa esquina do exploratório, os alunos olham desconfiados para um cesto de basquete e um tubo, aparentemente pouco entusiasmados. O monitor faz uma pergunta simples: "Tenho uma bola na mão. Se a largar o que é que faz com que ela caia ao chão?". A resposta, rápida mas errada, parte de um dos rapazes do grupo: "é o atrito!". Depois de explicado que é a gravidade que atrai a bola para o centro da Terra, e não o atrito, o guia liga o ar que sai do tubo e faz com que a bola levite. Então, vem a explicação científica: o ar envolve a bola e "mesmo que se dêem pequenos piparotes, ela volta à posição inicial". Afinal de contas, o tubo serve para encestar a bola, o que gera uma grande animação.
As reacções são semelhantes ao longo da visita. Sente-se a emoção na descoberta das experiências e esta atinge o auge na "Visita às es-
O NOVO EXPLORATÓRIO DE COIMBRA O Exploratório vai mudar para a margem esquerda do Parque Verde do Mondego. Uma das responsáveis pela equipa, Cristina Monteiro, explica que este vai ser "um espaço diferente num edifício construído de raiz e mais amplo". O novo centro vai ter dois edifícios e um espaço exterior grande. "Vai ter infraestruturas que não temos aqui: um auditório e um espaço de experimentário onde vai ser possível que alunos e professores façam ateliês", conta Cristina Monteiro. Outra das novidades está no tema da exposição, que vai ser "Em boa forma com a ciência". A responsável revelou ainda que em exposição vão estar módulos interactivos que associarão as ciências básicas à saúde. O Exploratório vai abrir ao público a partir de Março.
trelas", no mini-planetário situado no exterior do edifício. À entrada, as recomendações do monitor deixam o grupo receoso, sem saber o que esperar. "Não usem telemóveis nem nada que possa emitir luz e ao mínimo distúrbio eu desligo as luzes. Não pisem a parte branca do chão, que é onde se vão sentar". Já dentro do insuflável fechado as reacções são outras. Observar a lua, o sol e as constelações deixam a maioria interessada e acima de tudo maravilhada. O monitor explica, com algumas paragens para mandar "desligar o telemóvel", o movimento solar e o signo do zodíaco a que corresponde determinada constelação. "A ursa maior não parece nada uma ursa", afirma uma rapariga, que mudando o céu de disposição consegue assemelhar o conjunto de estrelas a uma ursa sentada. Terminada a visita, o tempo não dá espaço para mais descobertas e os alunos correm para o autocarro. Os monitores sabem que chegou a hora de arrumar tudo. Desmancha-se o insuflável. Limpa-se o planetário. O Exploratório volta ao silêncio. PUBLICIDADE
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CIDADE
Afinal, Coimbra ainda é verde Um novo espaço traz novidade à paisagem conimbricense. A viver da história e com tons enfraquecidos, os actuais parques verdes esperam pela concretização de vários projectos DANIEL TIAGO
Tiago Carvalho Marta Pedro Sara São Miguel “Coimbra, uma cidade verde”, é este o lema que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) apresenta para o próximo ano. O vereador dos espaços verdes da cidade, Luís Providência, afirma que a imagem do município será a partir de Janeiro ainda mais preocupada com a dinamização de parques e jardins. “Há novos projectos que vão ser anunciados, um novo jardim e novas iniciativas para dinamizar os espaços já existentes”, revela o vereador. A zona urbana próxima do Bairro Norton de Matos acolherá o novo espaço, complementando todos os outros que se espalham pela cidade. O verde, agora ofuscado pelos tons de Outono, predomina pelas várias zonas de Coimbra. E as baixas temperaturas parecem não assustar as dezenas de visitantes que diariamente chegam ao Jardim Botânico, que se assume como um património dividido entre a universidade e o município. A biodiversidade é um dos atractivos do jardim que se encontra preservada devido ao apoio de muitos estudantes universitários, com “apoios zero, é tudo em regime de voluntariado”, esclarece a directora do Jardim Botânico, Helena Freitas. Desde o dia um de Dezembro que o jardim está aberto todos os dias, facto que não se verificava devido à falta de financiamentos. “Por falta de condições de remuneração, não tínhamos possibilidade de pagar a um responsável, agora há uma empresa que vem fazer esse serviço com o qual o Botânico fez um protocolo”, explica Helena Freitas. A privação de algumas zonas do jardim tem causado algumas especulações, no entanto, esta é justificada como sendo uma forma de preservar o espaço e a segurança dos visitantes.” Não há zonas encerradas, há zonas de acesso reservado”, assegura a directora do Jardim Botânico. “O Choupal tem cada vez mais força”, é assim que o técnico do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), João Silva, descreve a situação actual desta zona histórica. “O pulmão de Coimbra”, como lhe chamam os conimbricenses, apesar de parecer esquecido, continua a cativar muitas pessoas, assumindose como “um grande espaço de visita e de convívio”, diz o técnico, também responsável pela Mata Nacional do Choupal. Dos 79 hectares que constituem o Choupal, a grande maioria sofrerá uma reorganização com vista a adequar-se aos diferentes públicos. O projecto
do viaduto que ocupará uma zona da mata tem vindo a inquietar os ambientalistas, assim o demonstra o presidente do Núcleo Regional da Quercus de Coimbra, António Luís Campos: “os espaços verdes ainda são vistos como secundários e portanto se for preciso sacrificar, sacrifica-se”. João Silva reafirma, no entanto, que a passagem do viaduto não afectará o seu funcionamento, “pois o choupal é muito mais do que a área por onde o viaduto irá passar”. Junto ao rio, um verde sempre vivo convida os cidadãos de Coimbra a uma pausa na rotina. “O Parque Verde é um cartão de vista da cidade”, afirma o tesoureiro do grupo ecológico da Associação Académica de Coimbra (AAC), Gonçalo Brites. Além de ser o mais recente, é também o espaço mais frequentado da cidade, que na opinião de Luís Providência se traduziu numa estrutura positiva porque “veio colmatar uma lacuna que existia, e num só espaço passou-se a fazer um pouco de tudo, desde passear até usufruir de algumas práticas desportivas”. Apontado pelo vereador como o substituto do Choupal, este parque central, com infra-estruturas e actividades que o dinamizam, é o eleito das várias faixas etárias da população conimbricense. “A adesão das pessoas ao Parque Verde é fantástica”, remata Providência. Longe no espaço e na evolução, o Penedo da Saudade destaca-se pelos aspectos negativos que por ele passeiam. Apesar da importância histórica que o acompanha, os projectos para o espaço têm escasseado e a imagem enfraquecida está cada vez mais associada ao Penedo da Saudade. A insegurança alojou-se para lá do miradouro principal e já vários casos o comprovaram. A resolução da situação não está nas mãos da autarquia, pelo menos assim o declara Luís Providência: “admito que possa haver alturas do ano em que a intervenção devesse ser mais apertada, mas isso não depende directamente da Câmara Municipal”. Bem mais perto do centro da cidade, o Jardim da Sereia tem vindo a “recuperar aos poucos a má fama que ganhou durante muitos anos”, como vinca António Luís Campos. “É um espaço muito agradável que não é muito aproveitado, tirando a parte da entrada, todas as restantes não são muito frequentadas”, afirma, por seu lado, o tesoureiro do Grupo Ecológico da AAC. Vários projectos estão lançados para o espaço voltar a emergir nas preferências dos conimbricenses, assim o vincula o vereador da CMC: “o espaço tem várias carências. Há vários elementos de atracção
PASSEAR NOS ESPAÇOS VERDES não é hábito dos conimbricences, consideram os responsáveis
pensados para este jardim, no âmbito do centro histórico, como sendo a criação de uma casa de chá, quiosques e uma rede de equipamentos que leve as pessoas a querer usufruir do espaço”, conclui.
“Em Coimbra não há a cultura de ir passear para espaços verdes”, frisa o responsável regional da Quercus. Um passeio pela cidade ressalta as diferenças que existem entre espaços com um verde que se distingue. Um novo projecto está
para chegar, remodelando a imagem tradicional paisagística dada pelos que já existem. Espaços verdes abundam pelo roteiro da cidade, “as pessoas é que não os frequentam”, partilha a directora do Jardim Botânico.
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TEMA
MUNDO EM 2008 A análise do plano político internacional no ano que está prestes a acabar. Por Bruno Monterroso e Rui Miguel Pereira
FRANÇA O presidente francês e também, ainda, presidente do Conselho da União Europeia, Nicolas Sarkozy, tem em mãos um Tratado de Lisboa quase defunto. Sarkozy destacou-se pela mediação na questão georgiana, de tal forma que ganhou o reconhecimento internacional e ainda recuperou a sua imagem internamente. Apesar disso, não conseguiu retomar a popularidade com que foi eleito em Maio do ano passado.
E.U.A. Neste mesmo ano, deflagrou em solo americano a maior crise económica mundial desde 1929 e o país conta já com uma taxa de desemprego de 8,5 por cento da população activa. Para além do combate à crise, o novo presidente eleito, Barack Obama, afirmou já ter como prioridade, a partir de Janeiro, a redefinição quer do panorama geo-político (Robert Gates), quer da diplomacia no Mundo (Hillary Clinton) .
VENEZUELA Apesar da economia ter crescido 4,6 por cento no terceiro trimestre e a subida da inflação têm contribuído para a diminuição da popularidade do presidente. Contudo, Hugo Chavez volta a insistir no referendo para uma emenda constitucional, possibilitando o mandato perpétuo. A política externa, baseada na exportação dos seus recursos energéticos, foi reforçada com o aumento do preço do petróleo.
UM ANO DE MUDANÇAS A análise de especialistas no plano político e económico internacional de um ano marcado por novos conflitos e uma profunda crise financeira Por João Miranda
Quando, no início do ano, o editor da revista “The Economist”, Daniel Franklin, apontava um democrata como o novo presidente dos Estados Unidos, apenas se enganava no nome, pois viria a ser Obama e não Clinton, o candidato eleito. Daniel Franklin previa ainda que, juntamente com os Estados Unidos, seria a China a desempenhar um papel decisivo no plano internacional em 2008. Desde então, o mundo tem testemunhado uma série de convulsões e confirmações de expectativas no plano internacional. A par da eleição do
ZIMBABWE Recentemente, o actual presidente, Robert Mugabe, hà 28 anos no poder, e os dois líderes da oposição, após eleições marcadas pela violência, assinaram um acordo de partilha do poder, o qual ainda não foi implementado. Espera-se que este acordo possa assegurar a estabilidade necessária ao combate à hiper-inflação e à escassez de produtos básicos que ameaçam o povo do Zimbabwe.
novo presidente, os EUA assistem à continuação da guerra no Iraque e Afeganistão. A China realizou os seus primeiros Jogos Olímpicos. As fronteiras da Europa de Leste foram redefinidas pela emancipação de novos estados (como a Abcázia, a Ossétia do Sul ou o Kosovo). E todo o mundo mergulhou numa crise financeira. Para a docente de Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra Daniela Nascimento, o ano de 2008 “ficou marcado por vários momentos importantes”. Entre eles, destaca, os
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TEMA
IRÃO Este país do Médio Oriente enfrenta quezílias não só a nivel interno como a nível internacional. O seu presidente, Mahmoud Ahmadinejad, vai ter de enfrentar uma reeleição complicada em 2009. Existe um descontentamento crescente do povo perante as políticas económicas do lider. Este ano as sanções ao Irão, por parte da comunidade internacional, devido ao seu programa nuclear, agudizaram-se, mas sem sucesso.
RÚSSIA Depois de se opôr ao reconhecimento da independência do Kosovo, a Rússia invade a Geórgia sobre o pretexto de proteger os seus cidadãos na Ossétia do Sul. A Rússia parece despertar para uma política externa cada vez mais "fria". Dimitri Medvedev é eleito para presidente. Ainda assim, Putin mantém a sua influência. A classe média em ascensão pode exigir mais pluralismo, tentando contrariar a tendência autoritária.
CHINA
ÍNDIA
Este país encontra-se dividido em três, ainda que não reconhecidos internacionalmente. Foi um dos países do mundo considerado este ano, como "Estado falhado". Com a retirada das forças etíopes, esta situação tornou-se ainda mais caótica. Os clãs dividem-se em confrontos civis e a comunidade internacional apenas intervem no país para proteger os seus barcos, sucessivamente sequestrados por piratas.
Jogos Olímpicos de Pequim, a declaração de independência do Kosovo, a indiciação do presidente sudanês, Omar Bashir, por crimes de guerra no Darfur, a guerra russo-georgiana e a eleição de Barack Obama. Segundo Daniela Nascimento, “todos estes acontecimentos significaram alterações políticas e geoestratégicas no panorama internacional e cujas repercussões e consequências vão fazer-se sentir nos próximos anos”. Já na opinião da directora da edição portuguesa do Le Monde Diplomatique, Sandra Monteiro, os marcos
de 2008 estão interligados com mutações ocorridas em dois planos. Do ponto de vista político e institucional, a mudança aparece com a emergência de novas potências, como a China, a Índia ou o Brasil. “Para esta emergência de um mundo assente na multipolaridade” contribuiu “o fim da administração de Bush”, explica Sandra Monteiro. Num outro plano, a mutação “encontra-se nas várias manifestações da crise internacional a que assistimos ao longo de todo o ano de 2008”, acredita a jornalista. Também para os membros da di-
INFOGRAFIA POR JOÃO MIRANDA
SOMÁLIA
2008 fica marcado pelos 200 mortos nos atentados terroristas de Dezembro, em Bombaim. A maior democracia do planeta junta assim o terrorismo à sua lista de problemas, que inclui a disputa com o Paquistão pela região de Caxemira e uma enorme desigualdade económico-social entre os seus habitantes, sendo que a sua maioria vive com menos de um dólar por dia.
Se na China a crise não adquiriu proporções mais significativas, tal se deve, em parte, ao surpreendente crescimento das suas exportações, até porque o volume da sua produção industrial cresceu apenas 8,2 por cento, menos de metade do ano anterior. 2008 fica inevitavelmente marcado pelos maiores Jogos Olímpicos de sempre, a sombra da questão tibetana e a confirmação da importância da China.
recção do Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC), Vítor Silva e Rui Namorado Rosa, a crise financeira foi um dos marcos de 2008: “o crescimento económico tem limites, que se manifestaram na escassez e no preço de matérias-primas em geral, mas mais notavelmente no petróleo. A perspectiva de crise económica grave terá sido um factor indutor da precipitação da crise financeira”.
O ano que aí vem Segundo Vítor Dias e Rui Namorado Rosa, a carência de fontes de
matéria-prima aumentam a possibilidade de tensão e guerra entre as várias potências: “devemos prever um próximo ano de grandes dificuldades para os povos, de grandes perigos para a humanidade face a uma eventual guerra imperialista, mas também do incremento de um amplo movimento anti-imperialista que terá necessariamente um forte componente a favor da paz”. Sandra Monteiro não aponta previsões para 2009. Contudo, deixa o desejo de “que acabe a guerra no Iraque e de que os soldados não mudem
apenas para outro palco de guerra, mas regressem a casa; que seja encerrada a prisão de Guantanamo; que a Palestina seja finalmente um Estado independente e que encerrem os paraísos fiscais”. Também Daniela Nascimento espera que a partir da nova administração norte-americana “se abram novas perspectivas e oportunidades para políticas e decisões multilaterais para os grandes desafios económicos, políticos e ambientais que já existem e aos que certamente se colocarão de novo no mundo”.
12 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira
PAÍS & MUNDO D.R.
A CIMEIRA DA CPLP juntou, este ano, em Lisboa os líderes de todos os países lusófonos
Política externa de “navegação à vista” Apesar de pragmática, a política externa portuguesa sofre várias críticas. O polémico reconhecimento do Kosovo e a ineficácia da CPLP são alguns dos problemas apontados pelos especialistas. Por Pedro Nunes e Rui Miguel Pereira ano de 2008 foi agitado para o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado. A teia política das relações externas portuguesas, contou com países como a China, Venezuela, o recente Kosovo e foi ainda reforçada no empenho nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). Este último foi representado através de uma cimeira que serviu para introduzir a presidência portuguesa da CPLP, bem como a aprovação do polémico “Acordo Ortográfico”. As alterações que se registam no panorama mundial, assim como as oportunidades que advêm da participação de Portugal neste género de organizações, representam para o analista político, José Goulão, uma oportunidade para que “sem representar ingerências” para países terceiros, Portugal consiga “uma voz forte no mundo e, assim, também transformar a língua portuguesa no panorama mundial”. A centralidade da questão cultural, apesar de assumida como um objectivo central da CPLP, é para o director do Centro de Estudos Internacionais (CEI), Pedro Jordão, uma questão desconsiderada, pois “a ponte cultural é fraca”. O especialista considera ainda que a acção portuguesa, nestes países, apesar de “positiva, é relativamente ineficaz”. Ambos os peritos consideram ser importante
O
uma aposta efectiva de Portugal na CPLP, e não apenas, como explica José Goulão “uma espécie de intermediário entre interesses terceiros e uma comunidade lusófona”, encarando esta relação como “uma obrigação que Portugal tem de cumprir como se tivesse ficado com este fardo do antigamente, e não saiba bem como tratar com ele”. A participação portuguesa em Timor-Leste, que conta com forças da Guarda Nacional Republicana (GNR) e da Policia de Segurança Pública (PSP), também merece reparos na perspectiva de José Goulão. “Uma coisa era apoiar as forças independentistas quando se tratava de lutar pela independência, outra coisa é intervir em favor de facções político-militares contra outras”, considera, referindo-se ao apoio tácito da diplomacia portuguesa a Xanana Gusmão e Ramos Horta, agora alvos da contestação do povo timorense.
Portugal no Espaço Europeu O entusiasmo resultante da Cimeira Europeia de Lisboa, não se alastrou ao processo de ratificação do tratado homónimo. Desde Junho que o veto irlandês constitui o principal entrave à conclusão do processo. Este “cavalo de batalha” do governo português, que permitiria a Portugal imprimir a sua
marca no processo de construção europeu, apesar de constituir um provável fracasso “não deve ser sobrevalorizado”, assegura José Goulão. O jornalista pensa que “os irlandeses vão ser obrigados a, sucessivamente, fazer referendos até dizerem que sim”, ainda que o processo fique indelevelmente marcado pelo facto de “a Europa dos cidadãos ter tido medo dos cidadãos”. Esta opinião é partilhada pelo director do CEI, Pedro Jordão, ao considerar que “a Europa viu drasticamente reduzida a sua autoridade moral para ensinar democracia ao Mundo”. Outra questão sensível que marcou a política europeia prende-se com o reconhecimento da independência do Kosovo. Este momento também foi delicado para a política externa nacional, pois após a declaração unilateral da independência em 17 de Fevereiro e pronto reconhecimento por parte de alguns estados europeus, Portugal tardou em reconhecer a legitimidade da acção. Para José Goulão “não há um reconhecimento tardio do Kosovo”, mas sim “um reconhecimento prematuro”. “Portugal não tinha que re-
conhecer o estado do Kosovo. O Kosovo é uma coisa artificial criada pelos Estados Unidos”, acrescenta. O jornalista considera ainda que este é “um dos grandes erros da política externa”, sobretudo pela explicação do próprio ministro dos negócios estrangeiros, em que Portugal reconhece, não por considerar politicamente justificável a independência do Kosovo, mas por se tratar de um facto consumado. Este critério poderia, segundo Goulão, ser aplicado ao caso da Abcázia e da Ossétia do Sul.
As relações com as potências emergentes A agudização da crise económica mundial fomentou o aprofundamento das relações com actores emergentes. As missões diplomáticas realizaram operações de promoção nacional junto de governos de estados como a Rússia, a Índia e a China, ficando a última visita marcada pelo insólito apelo do ministro da economia, Manuel Pinho, para as vantagens comparativas dos baixos salários praticados em Portu-
gal. O especialista em política internacional, Pedro Jordão, considera que “para o regime da Venezuela é útil mostrar recepções calorosas por parte de um país europeu”, e para Portugal “há um sector que retira seguramente vantagens que é a comunidade portuguesa na Venezuela”, José Goulão acrescenta e defende “uma política de bilateralidade com varias potências”. Neste cenário, Pedro Jordão, mostra que “Portugal tem interesse, mas com um peso quantitativo marginal” para a República Popular da China, por outro lado, o acesso a pequenas quotas percentuais no mercado desse país poderiam representar, para Portugal, “um substancial impulso para as empresas nacionais, que se encontram em marasmo económico”. As grandes linhas orientadoras da política externa portuguesa possuem “algum pragmatismo, mas com limites”, comenta Pedro Jordão. Na opinião de José Goulão “Portugal opta por uma tendência dos parceiros da União Europeia e dos próprios Estados Unidos, uma tendência de pragmatismo olhando para os interesses próprios”, pois Portugal não possui “a realpolitik que poderia e deveria ter, porque é muito parcial e muito aleatória”, e pratica uma política externa de “navegação à vista”.
9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a
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PAÍS & MUNDO
O mundo à espera da nova equipa da Casa Branca D.R.
Eleito o presidente, começa a nomeação da equipa. Barack Obama desilude aqueles que esperavam uma administração apenas de democratas
forma como a politica externa deveria ser conduzida. Hillary, apesar destas anunciadas divergências, será a Secretária de Estado, e terá um papel fundamental nas orientações políticas da administração. Grande parte dos, até agora, no-
Barack Obama supreendeu o seu eleitorado ao manter como Secretário de Estado para a Defesa, Robert Gates
Rui Miguel Pereira A “dream team” do novo presidente Estados Unidos da América, Barack Obama, começa a ganhar forma. E se era de esperar que Obama escolheria apenas para a sua equipa membros da “casta democrata” o mesmo não se tem vindo a verificar. Há pelo menos um nome, ligado à anterior administração Bush e que vai integrar a equipa de Obama. O mundo tem os olhos postos em Washington, e cada nomeação pode significar alterações não só na política interna, mas também na política externa. As expectativas em torno de Obama e da sua nova equipa estendem-se para lá do eleitorado norteamericano, prova disso foram os milhares de europeus que o receberam em Berlim ainda antes de ser eleito. Também eles esperam ver uma “Mudança” na política externa dos EUA. Acusado pelos seus adversários, durante a corrida à Casa Branca, de inexperiência no campo internacional, Obama não tem um legado fácil. Desde logo, prometeu a retirada dos tropas do Iraque e o reforço do combate ao terrorismo no Afeganistão. Precisamente o que o comentador de politica internacional, Luís Delgado, aponta como segunda razão das elevadas expectativas em torno de
Surpresa é a manutenção do Secretário de Estado para a Defesa, Robert Gates. Este republicano ex-director da CIA fez, desde 2006, parte da equipa de George W. Bush exactamente na mesma posição em que vai transitar a equipa de Obama. Mas um outro nome se destaca na equipa de Barack Obama. A nomeação da sua rival nas eleições primária, Hilary Clinton, não sendo um surpresa, pois ainda antes da eleição de Barack se falava nesta possibilidade, não deixa de ser surpreendente. Afinal, uma das “armas” de Hillary contra Obama nas primárias, foi a divergência na
meados pertenceram à equipa de Bill Clinton ou estiveram directamente ligados ao seu mandato na Casa Branca. Esta dualidade, susceptível de críticas, foi a forma que Obama encontrou para mostrar a necessidade de uma união entre democratas e republicanos para a resolução dos problemas do país. Luís Delgado acredita que este conceito “dá um sinal aos dois partidos internamente”. Por um lado, Obama mostra que o seu partido está unido e, por outro, o partido republicano diz “contêm connosco”. Contudo, Obama já está a arrasar as expectativas de algum eleitorado que queria ver uma administração “mais socialista”. Segundo o analista, “há uma grande frustração de muitos americanos que pensavam que ele ia acabar com o sistema de Washington”. Com Igor Reis
Portugal
França • China
2000 novos agentes para a PSP e GNR e sete novas carreiras de tiro são dois objectivos anunciados pelo governo para o próximo ano. O Orçamento de Estado para 2009 dirige um aumento em oito por cento para o Ministério da Administração Interna. O ministro da pasta, Rui Pereira, anunciou durante a inauguração de um quartel da GNR em Joane, Vila Nova de Famalicão, que este aumento vai permitir a continuação do “programa de compra de 42 mil novas pistolas para as forças policiais, dez mil das quais já adquiridas, bem como investir na construção e recuperação de quartéis”. A lei de programação das forças de segurança tem um prazo de 5 anos. R.M.P.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, recebeu no domingo, 7, o líder espiritual do Tibete e Prémio Nobel da Paz, Dalai Lama. O governo chinês reagiu a este encontro anunciando o cancelamento da cimeira UE-China a acontecer esta semana. Esta reacção chinesa prendeu-se com o facto de a França presidir, neste momento, ao Conselho da União Europeia. O Dalai Lama mostrou-se agradado com a recepção e destacou a necessidade de não isolar a China no panorama mundial. Ainda este ano, aquando da primeira visita do Dalai Lama à França, o presidente francês, assim como outros líderes europeus, tinha recusado receber o líder budista. R.M.P.
BARACK OBAMA TEM ATÉ JANEIRO para escolher a sua equipa
Obama (a primeira é o facto de ter sido eleito um presidente de uma minoria étnica). Luís Delgado afirma que a política externa não costuma ser a área predilecta dos democratas, ainda assim, Barack Obama herda uma guerra no Afeganistão, no Iraque, a ascensão nuclear de países como o Irão, Paquistão e Coreia do Norte, factos que nenhum presidente norteamericano pode negligenciar.
A retirada do Iraque O Médio Oriente vai continuar a receber grande parte da atenção da nova administração, ou não fosse este o local onde os EUA tem actualmente o seu maior contingente militar.
Numa altura em que o Iraque começa a apresentar melhorias na segurança e o parlamento iraquiano aprova a manutenção das tropas dos EUA para além do mandato da ONU, Obama veio afirmar que é favorável à continuação de forças de segurança no Iraque, mesmo depois de retirar as tropas do território. Para Luís Delgado, este não vai ser um factor causador de frustração nas expectativas do eleitorado. Destaca o analista que o mais importante vai ser “quando as pessoas forem avaliar daqui a quatro anos a questão e se esta já estará resolvida”. Além disso os “os iraquianos começam de facto a assumir o controle do país”.
A equipa do burro e do elefante
BREVES D.R.
Grécia A morte de um jovem grego às mãos da polícia, no sábado, 6, principiou uma onda de violência e protesto no país helénico. O jovem de 15 anos, Andréas Grigoropoulos, foi atingido a tiro depois de arremessar uma bomba incendiária contra um carro de polícia. O agente da força de polícia grega já foi detido e acusado de homicídio com dolo. Entretanto milhares de manifestantes, na mesma noite em Atenas, apedrejaram montras de lojas, incendiaram vários carros e atiraram bombas incendiárias contra a tropa de choque grega. O ministro do Interior, Prokopis Pavlopoulos, e o secretário de Estado, Panayotis Hinofotis, já apresentaram a demissão ao primeiroministro, Costas Caramanlis. E
apesar dos protestos se terem alastrado a várias cidades no mesmo fim-de-semana, o primeiro-ministro grego não aceitou a demissão. A polícia de choque, munida de gás lacrimogéneo, actuou desde logo contra os primeiros sinais de manifestação. Ainda assim, os manifestantes montaram barricadas ao longo da grande avenida Egnatia, atearam fogueiras e atacaram as fachadas do Banco Nacional da Grécia e do Banco Emporiki, precisamente, dois dos edifícios mais castigados pelos manifestantes. O polícia e o ministro Pavlopoulos já manifestaram publicamente a “profunda dor” pela morte do jovem. R.M.P.
14 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira
CINEMA
ARTES FEITAS
“
Amália, o filme ”
e uma coisa ninguém tem dúvidas: Amália Rodrigues foi uma figura incontornável do século XX português, tanto pelo seu talento como pela sua personalidade cinzenta. Era óbvio que, mais cedo ou mais tarde, alguém iria querer fazer um filme sobre a sua vida. Afinal de contas estamos perante alguém que construiu uma carreira ímpar quase a partir do nada. Correu meio mundo, conheceu reis e chefes de estado, teve vários amantes e foi, aparentemente, contestada pelo seu próprio público. Havia aqui matériaprima suficiente para construir uma narrativa relativamente coerente e bem estruturada. Pelo menos à partida, claro. Manuel S. Fonseca (o produtor) não teve vergonha de admitir que a ideia para este filme surgiu durante o visionamento de “La Vie en Rose”, o biopic de Edith Piaf. E a verdade é que, mesmo se o quisesse negar, as semelhanças são demasiadas. Tal como no filme de
D
DE CARLOS COELHO DA SILVA COM SANDRA BARATA CARLA CHAMBEL RICARDO CARRIÇO 2008
Que estranha forma de fazer cinema CRÍTICA DE MILENE SANTOS
Olivier Dahan, também aqui a vida da diva é contada recorrendo a cenas dispersas estruturadas através de um flashback e há mesmo um plano específico (em que a câmara se posiciona atrás da protagonista) que se repete em ambos os filmes. Mas as semelhanças ficam-se por aqui. A narrativa não tem um fio condutor coerente (nem a vida nem a obra), resumindo a acção a pouco mais de uma dúzia de episódios biográficos mal contados. As personagens entram e saem de cena quando convém ao (pobre) argumento, como se estivéssemos perante um teatro de fantoches (tanto em função como em profundidade). Fica-se sem perceber aspectos tão básicos como as razões que a levaram a cantar, ou a forma como conseguiu alcançar fama mundial. A referência à carreira de Amália como actriz (na época dourada do cinema português) resume-se a um poster mostrado durante uma transição e a um convite feito para gravar um filme em França. Num filme
biográfico o mínimo que se espera é que alguém tente desconstruir o mito que lhe dá origem. No entanto, nem mesmo isso alguém tem coragem de fazer. Quando o tema começa a ficar mais quente e a imagem da diva começa a sair dos padrões divinos, logo vem uma cena (atente-se no momento em que Amália dá o casaco a uma pedinte à saída) cuja única função é restaurar a divindade ao personagem. O suposto clímax é repetido tantas vezes ao longo da obra que quando acontece pela enésima vez, já perto do final, está longe de ter a carga dramática que deveria ter tido. Nem a montagem lamechas, em que se recordam os elementos chave do filme, ajuda. Vistas bem as coisas, se o filme se ficasse por essa montagem o efeito seria o mesmo e o tempo desperdiçado seria bem menor. Se a tudo isso se juntar umas localizações escandalosamente falsas e a execrável pronúncia brasileira de Ricardo Carriço, estamos perante uma das obras mais falhadas do ano.
Madagáscar 2” epois de chegarem a Madagáscar no capítulo anterior, Alex o Leão, Marty a Zebra, Glória o Hipopótamo e Melman a Girafa vão agora a África onde descobrem o seu lar ancestral e antepassados não muito distantes. A guerra entre os estúdios de animação tem um líder destacado e, infelizmente para Madagáscar 2, não é a Dreamworks. É verdade que o ogre verde é uma criação deste estúdio dos amigos Spielberg, Katzenberg e Geffen, mas não consegue ainda chegar ao nível de qualidade e apelo que tanto miúdos e graúdos sentem com uma obra dos estúdios Pixar. Pode não ser justo referir numa crítica que este filme não é aquele, mas o barómetro de qualidade é
D
indiscutível em todos os campos. Enquanto que a Pixar caminha na direcção do fotorrealismo, em Madagáscar 2 a opção é por uma estilização cartoonesca de animais excessivamente antropomorfizados, assim como na maioria das animações da Dreamworks. Se em contos de fadas com gatos de botas e princesas consegue ser adequado, quando há interacção entre humanos e animais num universo que adere às convenções do Real, já começa a ser mais complicado aceitar. Voltemos ao filme. Ao chegarem a África todos os quatro protagonistas encontram os seus grupos naturais onde se encaixam perfeitamente, até que a fórmula do capítulo anterior é repetida. Alex e Marty confrontam-se, colo-
cando em causa a sua amizade, até que uma situação-limite os obriga a reatar o relacionamento entre ambos. Se a preocupação com os amigos é uma mensagem importante a passar às crianças, talvez seja importante também não as tratar como se fossem imbecis e investir em narrativas inovadoras e refrescantes (Wall.E). Também a registar o enorme tiro no pé que é manter as personagens mais carismáticas, os pinguins, de fora do ecrã durante a maior parte do tempo. Os melhores momentos são protagonizados por estas aves impossibilitadas de voar, desde uma emboscada a turistas na savana a negociações sindicais com os trabalhadores manuais do seu novo projecto.
FERNANDO OLIVEIRA
DE
ERIC DARNELL TOM MCGRATH COM
BEN STILLER CHRIS ROCK DAVID SCHWIMMER JADA PINKETT SMITH 2008
Acho que já não estamos na Pixar
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ARTES FEITAS
OUVIR
LER
New York City” O pop que (não) vem do Brasil
ma mulher e três homens. Uma italiana, um argentino e dois norte-americanos. Nenhum deles é brasileiro. O quarteto lança New York City, nome dado em função da cidade onde a banda se formou. De uma banda chamada Brazilian Girls espera-se samba, forró, bossanova ou funk de favela. Mas não. O álbum começa com St. Petersburg: da poderosa voz de Sabina Sciubba emerge um tema pop, ao estilo de Architecture in Helsinki ou Au Revoir Simone. Sciubba, o teclista argentino Didi GutDE man e os norte-americanos BRAZILIAN GIRLS Jesse Murphy (baixo) e EDITORA Aaron Johnston (bateria) UNIVERSAL MUSIC PORTUGAL deixam antever um disco que em nada se parece com 2008 os sons brasileiros mais comuns. Segue-se Loosing Myself. As teclas de Didi Gutman dão o electrónico por que se espera. Sabina Sciubba, conjugando o inglês com o francês, oferece-nos uma faixa que em tudo faz lembrar a cultura disco. De Nova Iorque para Berlin, os Brazilian Girl chegam-nos agora com o cabaret e o burlesco muito ao estilo dos alemães Dresden Dolls. O disco segue por sonoridades mais calmas, como é o caso de Strangeboy , L’Interprete e Mano de Dios que lembra os sons vindos da Islândia. Com New York City, os Brazilian Girls agradam a todos, sem ganhar um público específico. Sofisticado, eclético, multilinguístico, dançável, noisy, electrizante, burlesco, energético, recomendado.
U
O homem que odiava a chuva e outras estórias perversas”
A liberdade de ser perverso
DE
GUILHERME MELO EDITORA NOTÍCIAS
m “O homem que odiava a chuva e outras estórias perversas”, Guilherme Melo recebe-nos no seu estilo a lembrar a crónica de costumes. O título não podia estar mais adequado para avisar o leitor porventura mais incauto: nove breves contos, onde as personagens não terminam a viver felizes para sempre. De facto, a felicidade não mora aqui. Ainda assim, terminamos a leitura de cada uma das histórias que Melo constrói com um sorriso nos lábios, pela forma como o autor entrelaça as personagens com um toque aceso de ironia. O homem que odiava a chuva, a alma caridosa que auxiliava cegos, o bom padre da pequena paróquia, não há personagens inocentes nestas páginas, que fazem da cidade grande e anónima palco predilecto da acção. Os contos não são, como já se disse, felizes. Mas a sua reunião é um feliz encontro com o estilo de Guilherme Melo. Nascido em Maputo, em 1931, Melo escreve de forma directa, mas sem perder a mão às palavras. O homem é o seu tema preferido. As suas ânsias, os seus medos, as suas angústias, o que o torna, o que nos torna tão pequeninos. Desconstruindo ideias do
E
homem puro, o autor apresenta-nos um universo de personagens caricaturas de todos nós, mas sem precisar recorrer ao exagero, bastando-lhe observar os quadros do dia-a-dia. As estórias perversas que nos traz são, por isso, histórias pequenas de gente pequena, mas onde conseguimos descortinar personagens e características que não nos são totalmente desconhecidas. A maldade, daquela maldade que de tão entranhada se faz escondida, o desespero, ou simplesmente a desistência estão presentes em cada um destes contos. Mas há outra característica comum a todos eles: a liberdade. O prazer da descoberta, do contacto com aquele interior negro que trazemos cá dentro e escondemos como um tesouro ruim, dá a cada uma destas gentes o prazer muitas vezes negado de ser livre. E é talvez por isso mesmo uma obra inquietante, pelo poder de Guilherme Melo nos pôr a nu perante nós e os outros, quase sussurrando ao ouvido o bom que é deixar cair a máscara, perder o peso da mentira e descobrir a relidade vil que a todos nos completa.
SOFIA PIÇARRA
VER
Vermelho”
CLÁUDIA TEIXEIRA
“História de redenção” GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro
Artigos disponíveis na:
DE
KRZYSZTOF KIESLOWSKI EDITORA MK2 2007
zul, Branco e Vermelho, as cores que correspondem a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tema da triologia realizada por Krzysztof Kieslowski. Vermelho (A Fraternidade é Vermelha) é o último filme do realizador polaco que escolheu para o papel principal a sua actriz fetiche, a suíça Irène Jacob (A vida Dupla de Verónica (1991), A Vida interior de Martin Frost (2007)), no papel da modelo Valentine, que contracena com o experiente Jean-Louis Trintignant (o actor que recusou o papel principal de O último Tango em Paris (O Homem que mente (1968), Z (1969))), que encarna a personagem de um juiz reformado que ocupa o seu tempo a espiar as conversas telefónicas dos vizinhos. A acção é espoletada pelo atropelamento da cadela do juiz por Valentine… após o encontro com a personagem de Trintignant a acção perde toda a linearidade, desenrolandose em três vectores que se entrecruzam e confundem, com a relação entre a modelo e o juiz num plano central, com ramificações para a relação familiar e pessoal de Valentine, a carreira passada e a vida amorosa do juiz, e as desventuras sentimentais de um casal (Karin e Auguste) alvo da indiscreta atenção do juiz. Confrontado com a imoralidade da sua
A
acção, o juiz acaba por confessar simbolicamente o seu crime e precipitar o desenlace do drama, convencendo Valentine a seguir o seu destino, que se cruza com Auguste, sugerindo o inicio de uma nova relação. Os seus destinos cruzam-se num acidente de ferry-boat ao largo do Canal da Mancha, onde as personagens dos outros filmes da triologia também se encontram, e do qual emergem como únicos sobreviventes. Vermelho é uma história de redenção, onde as duas personagens principais se salvam mutuamente, o passado, representado pelo juiz, e o presente/futuro representado por Valentine e Auguste. Representa também a redenção de Kieslowski, no seu último filme, e talvez o maior filme de um cineasta genial, que faleceu dois anos após as filmagens, tendo colhido onze prémios, e a nomeação para três Óscares da academia, incluindo a categoria de melhor realizador. A fotografia (também ela nomeada para um Óscar) é brilhante, dominada pela cor vermelha, presente na personalidade das personagens e também nos seus destinos.
PEDRO NUNES
16 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira
SOLTAS
ALMOÇO SOCIAL
BRUNO ALEIXO • APRESENTADOR DE TELEVISÃO Sopa de Feijão
Frango assado
Leite-creme
PROGRAMA NA SIC ALÉM DO CABO
ENSINO SUPERIOR
Como é que foi o salto do Youtube para a “SIC do Cabo”? Nem sei. Alguém meteu uns filmes meus na internet. Depois, estava eu no Brasil e os homens da SIC foram lá a casa, para falar comigo. Deixaram o recado com o porteiro, que me avisou por fax. Eu depois só respondi quando tive vagar, passadas umas semanas. A SIC mandou lá um sujeito para falar comigo, mas era brasileiro. Devia ser um advogado com uma procuração, ou assim. Vinha cheio de ideias mas eu dei-lhe a volta. Bemfeita, para não querer tudo à moda dele.
Possuis formação universitária. Como olhas para o estado do Ensino Superior nos dias de hoje? Sim, estive três anos em Direito. Nunca acabei o curso, mas tendo três anos feitos, considerei-me bacharel. Agora com Bolonha já sou licenciado, porque os cursos são de três anos. O estado do ensino superior deve estar mau, porque às vezes recebo mensagens de Hi5 cheias de erros. Vou a ver e é de garotos que andam na faculdade.
De onde é que apareceu o busto? O Busto aparecia lá no Aires, de vez em quando. Conheço-o já há muito ano. Precisava de um ajudante e ele ofereceu-se. Queria muito. Ele e um outro fulano, que era zarolho. Fiz um casting e escolhi o Busto, que o zarolho só dava para filmar de um dos lados. O Busto é bom, fica bem na televisão. Deve-me muitos favores, agora. Que conselho darias a uma pessoa que pretende começar um programa? Digo já que o mercado dos talk shows está saturadíssimo. Já não dá, façam outra coisa. Documentários, por exemplo. Eu arranjo-lhe um contacto na RTP 2, se essa pessoa quiser. Metem-nos a passar de madrugada, depois daquilo das universidades, mas a essa hora há muito padeiro e guarda-nocturno a ver. Até o porteiro lá do prédio vê televisão a essa hora.
Muitas pessoas comentam o facto de teres morrido no início e agora apareceres com uma nova cara. Como é que explicas este paradigma? Não explico, até porque nem percebi essa pergunta, mas posso explicar as palavras soltas que entendi. A cara nova foi porque tive uns problemas com uma americanada chata. Quanto a isso do boato de ter morrido, ocorreram aí uns problemas e tive que me ausentar do país. Quando dei por ela, tinha havido um funeral meu. Mais que isto, têm que perguntar à agência funerária que organizou o velório. Foi a "Odete & Alves", se não me engano. Pudemos rever os teus tempos de escola. Ainda manténs contacto com os colegas? Sim, com alguns. Um dos meus melhores amigos, o Ribeiro, vem dos tempos da escola. Ele é médico. O Aires também lá andava, mas era noutro ano, não era no meu. Depois havia o Vasco, o Ramiro… O Ramiro vi-o no outro dia, com um garoto, devia ser o filho mais novo.
E a praxe? Olhe, quando era garoto gostava muito. No meu tempo de estudante também praxei. Fazia trupes. Rapei para cima de duzentos caloiros, o que ainda hoje é recorde municipal. Há gente que rapou mais, mas não num período de dois anos. Agora gosto menos das praxes. Os desfiles estorvam muito o trânsito. Foi bom terem mudado o desfile da queima para o domingo. Aos domingos estorva-me pouco. Costumo ir a Taveiro, ver a União. Ou então à caça.
Depois de teres denunciado o Aires publicamente, continuas a frequentar o estabelecimento? Sim, claro. Cada estabelecimento tenta dar um cunho pessoal ao serviço. Além disso, pouca gente lá vai e tenho sempre mesa livre e o jornal para ler. Uma vez o Aires fechou porque teve um funeral e eu tive que ir a outro café. Fiquei quarenta minutos à espera que o jornal vagasse, que esteve um velho a ler os editais da Câmara todos, de alto a baixo.
Como viste as recentes eleições para a Direcção-Geral da AAC? Olhe, confesso que não tenho acompanhado muito. Havia qualquer coisa no jornal (no calinas, acho) mas nem li, vi só as fotografias dos gajos. Sei que havia três vestidos de estudante e um que não andava vestido de estudante. À segunda volta parece que foram dois estudantes, não foi? Por isso agora não os distingo.
Entrevista por João Miranda e Cláudia Teixeira com a colaboração dos criadores de “O Programa do Aleixo”
DEZEMBRO 2007 • EDIÇÃO N.º 175 • QUINZENAL • GRATUITO
ENTÃO E O DARFUR?”
s letras brancas sobre o fundo negro da primeira página surpreenderam os leitores d’A CABRA, numa das edições mais arrojadas do jornal até à data. Há um ano atrás, a edição especial de vinte páginas dava destaque total à questão do conflito no Darfur, explicando passo a passo o início da guerra e o seu arrastar ao longo do tempo, levando consigo milhares
A
de vidas e deixando outras totalmente na miséria. O conflito foi relatado e discutido por diversas personalidades, entre elas Eric Reeves, famoso investigador e analista e Noé Monteiro, jornalista da RTP. O próprio director do jornal na altura, Helder Almeida, desenvolveu o editorial sob o lema “Porque o lamento não chega…”, onde afirmou que é preciso fazer muito mais para pôr fim ao problema já conhecido como o holocausto do século XXI. Outro convidado especial, o eurodeputado Miguel Portas, criticou duramente a posição dos países desenvolvidos face ao conflito: “se fosse uma região com fortíssimas riquezas, o assunto teria sido tratado de outro modo”. Defendeu ainda a criação de uma força militar na União
Europeia para actuar no terreno. A fotoreportagem, a cargo de Evelyn Hock, descreve através de imagens chocantes a maior crise humanitária do planeta, em que milhares de pessoas deslocadas tentam sobreviver em campos de concentração, onde a fome, doença e morte pairam no ar. Esta edição especial contou também com a colaboração do ilustrador Luís Afonso, responsável pelos cartoons no “PÚBLICO”. Entre muitos outros textos de opinião, A CABRA deu a conhecer ainda outros conflitos semelhantes, casos da Somália, Bósnia-Herzegovina e Ruanda. A última página reservou um espaço de opinião a Opheera McDoom, enviada especial da Reuters ao Sudão. Afirmava que
18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...
não é fácil separar o trabalho de jornalista das emoções que sente enquanto ser humano, perante as atrocidades cometidas no Darfur e deixava ainda o alerta de que “há violações até sobre membros da ajuda humanitária!”. Ao lado, dois desenhos feitos por crianças locais evidenciam o horrível panorama da região e, principalmente, a forma como os mais novos encaram o problema. Passou apenas um ano, mas esta edição d’A CABRA merece ser recordada pelo simples facto
de ainda retratar a situação actual, porque pouco ou nada mudou no Darfur. Infelizmente. Luís Simões
9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a
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O MUNDO AO CONTRÁRIO
SOLTAS
EUA Um labrador de seis anos tornou-se bacharel em Direito. O cão recebeu o diploma da Universidade de Baylor, no estado do Texas, depois de ter assistido, durante mais de dois anos, a todas as aulas exigidas. Skeeter frequentou as aulas como cão-guia de uma estudante. O diploma dá ao cão o título de “dog tor”, um trocadilho com as palavas “doctor”, doutor, e “dog”, cão.
TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho
É NATAL, É NATAL, LÁ LÁ LÁ LÁ LÁ
E
cá estamos nós. Chegámos a Dezembro e temos um novo presidente na Academia.
Confesso que pensei fazer uma série de observações pertinentes (como é meu apanágio) sobre o seu apelido e a respectiva utili-
CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES
ITÁLIA A paixão de um homem de 82 anos só parou depois de a polícia ter chegado. O italiano tomou uma dose de viagra e insistiu em ter relações sexuais com a esposa... com a mesma idade. Mas a ideia não agradou à mulher, que chamou a polícia. Segundo a senhora, “aos 82 anos, tanta paixão podia ser mortal”. GRÃ-BRETANHA A autarquia da cidade de Bolton arranjou uma maneria de acabar com os desacatos à saída dos bares: vão oferecer embalagens para fazer bolinhas de sabão. O objectivo é levar a que o ambiente fique mais descontraído. Já em Devon as mulheres que usarem sapatos de salto alto vão receber chinelos para não se magoarem à saída do bar, depois de terem bebido demais. Diana Craveiro
dade numa quadra que envolve pinheiros, mas infelizmente vai ter que ficar para outro dia. Voltemos ao que realmente interessa: Dezembro. Pessoalmente, quando olho para um calendário e vejo o mês de Dezembro fico especialmente animado. Não consigo deixar de pensar no Natal e em como vai ser divertido o dia 25. Tudo começa logo no primeiro dia do mês ao erguer a bela e reluzente árvore de Natal comprada por 20 euros no Jumbo. Tradição bonita, hein? Ainda seria mais bonita se a minha instalação eléctrica não ligasse a música das luzes da árvore sempre que acendo a luz da cozinha. As escapadelas durante a noite para comer “qualquer coisa” (e por “qualquer coisa” entenda-se mesmo qualquer coisa que esteja dentro do frigorifico ou no perímetro circundante – animais de estimação incluídos) ficam adiadas até Janeiro. Isto claro, se não quiser que toda a gente acorde sobressaltada a pensar que entrámos em guerra com a Lapónia. À medida que o mês avança, o bichinho do Natal vai ficando cada vez maior. A contagem começa no dia 20. Por essa altura começo a pensar: “Boa, faltam 5 dias para o Natal”. Depois 4… Depois 3… Depois 2… Depois 1… e … Chegou o Natal. E para quê? Para passá-lo a ver o Sozinho em Casa ou o Amor Acontece na TVI e a comer o bolo-rei que comprei há
15 dias atrás (e que começava a ganhar uma peculiar textura aveludada no topo). Quando dou por mim já estou no dia 26 e o grande presente de Natal, pelo qual esperei impacientemente nos últimos meses, está enfiado na gaveta da mesinha de cabeceira. Que frustrante que é o dia 26 de Dezembro! Nesse dia sinto-me sempre a criatura viva vertebrada mais inútil à face do globo. O suposto dia mais especial do ano já só volta daí a 364 (ou 365) dias e desperdicei-o a comer e a ver televisão. Dali para frente tenho uns exames para fazer e uma porcaria de uma árvore de Natal para desfazer. Subitamente a ideia de enfeitar um pinheiro com bolas e luzes deixou de parecer tão inteligente. Mas de onde veio aquilo afinal? Quem é que teve a ideia de arrancar um pinheiro, enfeitá-lo com luzes que piscam, colocá-lo no meio da sala, e comemorar o nascimento de Cristo com aquilo? Parece uma coisa que um estudante faria depois de uma noite de Queima. No dia seguinte acorda, tem as meias penduradas na chaminé e um pinheiro cheio de luzes no meio da sala (que estranhamente não se lembra como foi ali parar). Valhanos ao menos a passagem de ano. Todas as crónicas em
arseniocoelho. blogs.sapo.pt
COM PERSONALIDADE D.R.
KALÓ • 33 ANOS • VOCALISTA DOS BUNNYRANCH
IT’S ONLY ROCK ‘N’ ROLL De momento, não tenho qualquer lema de vida, já tive. Nasci em Coimbra há 33 anos. Gosto de música, de cinema e sou um leitor incompetente, gosto da vida e de viver. Não me relaciono por aí além com a literatura. Gosto de futebol. Estou a acabar o curso de Filosofia, cheguei ao último ano e perdi-me, mas agora estou a recuperar. Coimbra já me disse muita coisa, mas hoje já não me diz tanto quanto isso. Sou do tempo em que via todos os dias uma coisa nova, passei por esse tempo e por essa experiência. De há um tempo para cá, não me tem atraído muito, mas é a minha cidade, a cidade da minha equipa, a Académica, e é a cidade onde eu nasci, vivi e onde tenho os meus amigos, a maior parte deles. Por cá, apenas existe um circuito de locais improvisados para tocar, e é de tirar o chapéu às pessoas que promovem esse tipo de eventos. O TAGV é um sítio fantástico mas que não tem grande assiduidade por parte das pessoas, assim como o Ar D’Rato. Há pouca coisa, mas tem de se lutar por aquilo que se tem. O meu primeiro contacto com a música foi com a banda Garbage Catz em 1991/1992. Hoje, continuamos os melhores amigos.
A melhor experiência musical para mim foi e é os Bunnyranch. A minha família encara mal a minha carreira na música, mas os meus amigos verdadeiros estão comigo. Com o público há bons e maus dias. A ligação dá-se como o público quiser. Faço o meu trabalho e divirtome, ninguém é obrigado a gostar e, se calhar, não tenho o talento suficiente para puxar pelas pessoas. Não sou daquelas pessoas que pedem uma festa… cada um sabe de si, e um concerto é um concerto. Viajar em trabalho é o máximo, não quero outra coisa. Ir atrás procurar pelo passado é sempre bom, mas depende daquilo que se vai à procura em termos musicais, das referências, e, se for de maneira íntegra e imparcial, não se corre o risco ridículo de descobrir a pólvora e não saber manter a distância crítica perante as coisas. Uma reunião dos Tédio Boys não me parece que seja possível, até porque tenho novos projectos, um álbum novo que sai em Março. Tenho muitos álbuns em casa que ainda não ouvi. O que ouço passa por tudo, desde os anos 40 até agora, mas não tenho muito um espírito aberto. Não tenho nada contra as recentes reuniões de bandas, se lhes dá prazer, dinheiro… Cada um sabe de si. A música representa o mais importante da minha vida, é aquilo que mais quero fazer
e é para o que trabalho todos os dias. A minha vida é a música. Entrevista por João Afonso Ribeiro e Sara Rufo
18 | a cabra | 9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira
OPINIÃO
ANA COELHO
“SE GOSTO DE TI SE GOSTAS DE MIM SE ISSO NÃO CHEGA TENS O MUNDO AO CONTRÁRIO….”
Inês Serra *
A História acredita que o Mundo muda a cada geração. Cabe à nossa fazer tanta coisa...
Cartas ao director podem ser enviadas para
acabra@gmail.com
Não basta gostar e cuidar do seu amigo de quatro patas. E todos os outros? Nem todo o cidadão gosta e cuida e tem um amigo. Nada fazer é ser conivente com o cenário de total anarquia e injustiça na forma como Portugal lida com os seus animais. Talvez o nosso Mundo esteja mesmo ao contrário. Num país que se preocupa com a imagem, que tem um leque cada vez maior de subsídios à discrição, que fala em “choque tecnológico”, também se deixa impune o caçador que enjeita o cão que “já não serve para a caça”(- diz ele); se considera normal o enorme número de abandonos a cada Verão, se encolhe o ombro perante situações de maus tratos aos animais, e que, e que e que…. Este é o país da “não-incrição”, onde “nada acontece”, é o “jardim à beira mar plantado”, tudo tão cor-de-rosa, mas afinal é também aquele em que a cada semana ficam a agonizar até à morte milhares de animais nos passeios, nos jardins, nas faixas das estradas, ou junto ao lixo, como se fossem tal, atropelados, mal tratados… Estes hábitos hediondos parecem vir há muito e conservaremse nas características de um certo “portuguesismo”. E com isto Associações como a AGIR travam dia a dia uma luta herculeana, uma corrida contra o tempo numa passadeira rolante. Viramos então o Mundo ao contrário e sou eu que estou presa à corrente num canto do terraço dos meus donos, como sempre o mesmo e levo uma festa de quando em vez e porrada por qualquer coisa que ele ache incorrecto. Sou um bibelô? Ou terei cometido algum crime? Serás tu aquela que vagueia à beira da estrada, ao frio e à fome, de barriga
a arrastar no chão, na iminência de uma morte horrível. “Porquê?” – pensas. “Socorro”- pensas. Eras tão linda pequenina e depois cresceste e engravidaste, por descuido dos teus donos e passaste a estar a mais. E ele, é aquele que está no Canil Municipal, depois de muito sofrimento pelas ruas, fica chorando toda a noite e encolhido, assustado, contra as paredes frias da cela, todo o dia, nunca sabendo se amanhã continua vivo. É assustador pormo-nos na pele deles, não é? A História acredita que o Mundo muda a cada geração. Cabe à nossa fazer tanta coisa…. Cabe à nossa o empenho, a urgência de mudar estes hábitos, de fomentar o respeito pelos animais, que nos são tão gratos, tão amigos. Talvez criar uma Carta dos Deveres do Cidadão perante o Animal, uma vez que os últimos não têm forma de reivindicar os seus direitos, independentemente de haver Leis ou não, de se cumprirem ou não. Eles apenas querem viver, não querem o mal de ninguém. Porquê fazer-lhes mal? Não basta estarem leis escritas no papel, é necessário a sua eficiência e activismo. E se somos nós o futuro deste planeta, devíamos investir então não só no presente, mas já no futuro e implementar a consciencialização animal e ambiental na educação, tanto na escola, como no seio da família. Pois é aqui que se semeia o bem ou o mal, é uma questão de opção! “A grandeza de uma nação e o seu progresso moral podem ser medidos pela forma como tratam os seus animais” (Mahatma Ghandy). * Voluntária da AGIR (Associação Agir pelos Animais)
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9 de Dezembro de 2008 | Terça-feira | a
cabra | 19
OPINIÃO “SOMOS 20 MIL ESTUDANTES NESTA UNIVERSIDADE!”
A ÉTICA DO CACIQUE
Henrique Paranhos e Pedro Lourenço *
As eleições são um dos elementos-base de um regime democrático, mas só assim podem ser apelidadas se respeitarem a igualdade e se forem impedidos os abusos de poder, as discriminações e as exclusões. Se estas condições não são aceites nem conseguidas, as eleições tornam-se uma fraude, um grave atentado à democracia e um instrumento de monopolização do poder, deixando de ser legítimo. O que vemos na nossa Academia é uma democracia pobre, cada vez mais esvaziada de princípios e valores democráticos, cada vez mais faz-de-conta, na qual a participação se resume ao acto de votar em data certa em eleições de democraticidade cada vez mais duvidosa. As eleições a que temos assistido são disso exemplo – constituem uma vergonha, uma burla e um desrespeito que causa a degradação da democracia dentro da nossa academia, pelos corruptos, carreiristas e oportunistas. Tudo isto tem sido por demais evidente. Recorrem à nossa casa e aos cargos postos ao nosso serviço (seja para núcleos de estudantes, órgãos de gestão da universidade, assembleias de revisão de estatutos, DG/AAC, etc) por mera ambição pessoal, por sede de poder, de fama e de popularidade. São abutres na sua caça ao voto, visíveis nos largos sorrisos, que apenas surgem em altura de campanha, nos telefonemas desesperados a implorar o voto, no cacique desmesurado e sem fronteiras até ao limite último da urna. Cabe-nos a nós, estudantes conscientes que acreditam numa mudança de mentalidades, unirmo-nos e saber reconhecer quem realmente nos oferece ideias, quem luta por causas justas, quem se candidata não para vencer desesperadamente e ter assim assegurado um futuro político egocêntrico, mas quem trabalha para passar uma mensagem diferente, de uma mentalidade mais justa, honesta e coerente, trabalhando para o futuro de uma universidade melhor. Pagamos quase 1000 euros de propinas, o preço e o tempo de espera das cantinas aumentou e a sua qualidade não melhorou, as bolsas chegam de forma tardia, há estudantes a viver em péssimas condi-
ções e a ter aulas em departamentos em que o tecto cai ou em que não têm lugar para se sentar. Há estudantes em risco de prescrever e muitos de nós faltam às aulas para trabalhar para pagar as propinas. A tudo isto junta-se a imposição do Processo de Bolonha e a redução do número de estudantes presentes nos órgãos de gestão das universidades e faculdades, entre outras consequências do RJIES. Perante tudo isto, as últimas DG's/AAC representam o vazio e a inércia. Enclausuram-se sobre si mesmas nos gabinetes, fogem dos estudantes que os elegem, negam os problemas reais, escondem-se das magnas que abandonam quando perdem votações. Sendo alérgicas à democracia, facilmente observamos que têm um défice de participação interna: são constituídas por páginas e páginas de rostos cuja única função é o “Pelouro do Flyer”. Estes “Flyers-for-the-boys”, alguns até sem ideias ou ideais, são então ocos, porque chegadas as Magnas ou, mais genericamente, a época de trabalho, apresentam-nos poucos rostos e nenhuma força. Assim, a maior parte dos constituintes das mais recentes DG’s não contribuem para a discussão e criação de projectos, para a defesa dos estudantes, para que possamos acreditar numa efectiva participação, para que possamos sentir uma verdadeira democracia. As últimas DG's/AAC reflectemnos o fim e a decomposição. Não nos digam que não há causas mobilizadoras. Larguem esse egocentrismo, essa ataraxia, essa falta de vontade e de interesse em Lutar. Não nos digam que nós não o queremos. Somos 20 mil estudantes nesta Universidade! Somos 20 mil forças, 20 mil vontades e 20 mil causas para nos unirmos! Somos 20 mil que não adormecem! VINTE MIL!! Juntemo-nos, 20 mil vozes não podem nunca ser caladas! Seremos 20 mil em uníssono, por um ensino superior Público, Gratuito e de Qualidade! Seremos uma academia unida! Não somos fortes se desta vez não nos levantarmos do chão, se não nos erguermos contra todos estes ataques! * estudantes de Engenharia Civil
Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com
EDITORIAL
A
pós uma primeira volta concorrida, que se pautou por uma série de quezílias entre listas, num desfecho já previsível, visto os meios que mobilizavam, a lista A e a lista E passaram à segunda volta das eleições para os corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra. Sem diferenças programáticas de fundo, as assimetrias desenharam-se no essencial pelas caras que se faziam representar e pelo diverso material propagandístico. Como reforço de campanha complementou-se o material informa-
“
rigismo associativismo, de tal forma que alguns arautos conhecedores dessa razão discorrem já sobre uma suposta ética do cacique. Embora o cacique se tenha desenvolvido a níveis de profissionalização tal que se engendrem tácticas pelos mesmos “profissionais” que preferem votar no último momento, aí descansados por terem cumprido o seu papel. Embora o cacique se tenha apoderado das novas tecnologias e viaje entre telemóveis e caixas de e-mail à velocidade da luz. A verdade é que o cacique é coacção ao voto, e a coacção ao voto é, antes de
A verdade é que o cacique é coacção ao voto, e a coacção ao voto é, antes de tudo, crime.
tivo (e menos informativo). E com uma pequena margem venceu a lista A, margem tão pequena que obrigou a abertura dos envelopes de voto. Contudo, não podemos esquecer a figura já crónica de eleições para a direcção-geral. E ele esteve sempre lá, quer fizesse sol ou chuva, desde a abertura até ao encerramento das urnas e nem a hora do almoço o poupou. Contra qualquer adversidade, ética ou legalidade, ele repetiu até à exaustão a sua mítica frase “Oh colega, já votaste?”. Falo do cacique, do colega sempre pronto a informar que tem um projecto, e que o seu projecto tem ideias, e isto tudo, durante os dias em que decorre o plebiscito. E embora alguns admitam o cacique como “uma situação cultural” intrínseca a Coimbra e à associação académica. Embora o cacique faça já parte de um qualquer compêndio de um jovem integrado nas lides do di-
tudo, crime. É suposto a campanha ser o espaço de discussão de projectos, de apresentação de ideias e de divulgação das listas. Se não tem essa capacidade, então não é mais esclarecidos que os estudantes vão votar numa ou noutra lista. Não é em menos de dois minutos e com uma pessoa pelo braço, ou com uma palmadinha nas costas, que se explica um projecto ou que se debatem ideias. E no meio disto, a Comissão Eleitoral deve ter um papel preponderante no combate a esta prática. Não pode deambular pelos locais de voto desviando o olhar, a assobiar para o lado, ou mesmo a participar na galhofa da caça ao voto. É crucial que cumpra a sua função, afinal de contas, não se tratam aqui de eleições menores, por muito que alguns as entendam como o ensaio para umas “eleições maiores”. João Miranda
Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editora-Executiva Multimédia: Vanessa Quitério Editores: Ana Coelho (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, André Ferreira, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, João Picanço, João Ribeiro, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Soares Fotografia André Ferreira, Caroline Mitchell, Daniel Tiago, João Ribeiro, Patrícia Gonçalves, Pedro Coelho Ilustração Gisela Francisco, Marco Moura, Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Colaboraram nesta edição Ana Sofia Costa, Daniela Ferreira, Frederico Fernandes, João Afonso Ribeiro, Luís Simões, Sara São Miguel, Sara Rufo, Tiago Teixeira, Vasco Batista Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra
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Estudantes em Espanha
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Inov.UC
Os estudantes da Universidade Autónoma de Barcelona tiveram uma ousadia digna de registo. As constantes rebelias que em Portugal apenas se ficam por panfletos, faixas e pouco mais, em Espanha impulsionam massas não conformadas que ocupam faculdades e que não arredam pé até verem os seus problemas (deles e de todos nós) resolvidos. Perante isto, o que falta aos estudantes que estão no ocidente da Península Ibérica? S.O.
acabra.net
Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra
Os sete séculos que a UC carrega transformaram a história num presente diferente porque “nem só de pão vive o Homem”. O evento fez “sair do Páteo” muitas mentes e abriu as portas do imaginário de muitos. Numa tarde alternativa e dinâmica, o empreendedorismo, a inovação e o conhecimento estiveram de mãos dadas, na sexta-feira passada, numa das poucas vezes em que os quatro lados da universidade não existiram. S.O.
Notas sobre arte...
Teixeira dos Santos
Após dois trimestres positivos, que resultaram na descida do IVA, e o anunciado controlo das contas públicas, o ministro viu o pior guardado para o fim. Fortemente criticado, o Orçamento de Estado para o próximo ano parece cada vez mais “irrealista”. A crise económica veio complicar, ainda mais, a vida a Teixeira dos Santos, que foi recentemente eleito pelo Financial Times como o pior ministro das Finanças da Europa. R.M.P. PUBLICIDADE
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As Castas I • Luzia Lage Acrílico/madeira • 2007 Cabelo comprido e forte, os dedos grossos. A expressão facial é enigmática. A insatisfação de mulher perdida, talvez - esvaziando-lhe o rosto e prolongandose na sombra, a mesma que lhe endurece o olhar. Uma pessoa, quatro cabeças. Quatro mulheres e a mesma cena escarlate e dourada de mistério e criatividade. É o princípio e o presente que Luzia Lage transporta para uma mescla de obras sugestivas, onde vai à procura da procura do Homem, aqui representado no mesmo rosto feminino. De princesa, talvez, e a cara triangular, ligeiramente adormecida, às vezes escarlate em meia face grácil. São mulheres frágeis e paradoxalmente imponentes no semblante aquelas que a autora veste em formas soltas e desproporcionadas. A profundidade da leitura contrasta com a repulsa que assalta em cada canto. A pintura é larga no traço preto,
tanto quanto o é em drama e mistério. “Discutem-se as derradeiras alterações, o apuramento da forma, da cor, do sentido”, escreve a autora sobre as obras em mostra. As figuras são tão iguais no pensamento quanto no conflito interior. E o comprimento das personagens habita o esforço – por cumprir – que as faz ficar estáticas e altivas no sono permanente. É sonho (não banal) que rompemos quando olhamos “As Castas I”. Um título sugestivo quando um outro quadro que o continua, “As Castas II”, entronca com maior agressividade e repulsa. Luzia Lage expõe conjuntamente com “As Casta I” mais 29 obras, numa mostra a que chamou “Do Princípio ao Presente” e que se está patente no Edifício Chiado, em Coimbra, até 17 de Janeiro. Por Pedro Crisóstomo
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