Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 193

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ÁLBUM DE ESTREIA DE TADEO O trabalho do produtor madrileno é fiel às suas origens e uma ode cósmica à simplicidade

TRIBUNAIS CANTINAS O Direito Internacional depois da criação do Tribunal Penal

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3 de Março de 2009 Ano XVIII N.º 193 Quinzenal gratuito

Construção de novo restaurante universitário adiada P6

a cabra

Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo

Jornal Universitário de Coimbra

Empresas de tecnologia projectam nome de Coimbra além-fronteiras A segunda melhor incubadora de empresas e ideias do mundo está em Coimbra e o facto de ter criado, nos últimos dez anos, mais de mil postos de trabalho altamente qualificados parece ser um estímulo a quem por cá aposta nas tecnologias. Inovação e

produtividade são palavras-chave que, aliadas a um forte espírito empreendedor, dão sinais de vitalidade por parte das mais de cem empresas sediadas na cidade. A estreita ligação que estabelecem com a UC faz de Coimbra uma opor-

iParque pretende fixar mais massa crítica na região

tunidade para se desenvolverem um tipo de sociedade “referencial”. São os próprios promotores das empresas que destacam esse ambiente propício à inovação. Mesmo em ano de crise, pode Coimbra fugir à regra?

Sétima Arte

A relação do cinema com Coimbra

Cineastas e especialistas lamentam a pouca projecção da cidade no cinema português e apontam a falta de estruturas de produção em Coimbra. A pouca diversidade de oferta é comaltada pelos festivais e mostras cinematográfica.

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Propinas SÓNIA FERNANDES

Dificuldades no pagamento Estudos recentes mostram que há um crescimento da dificuldade, por parte dos alunos do ensino superior, em pagar as propinas. No entanto, a vice-reitora para a Pedagogia da UC afirma que “não foi feito nenhum estudo recente, na UC, que possa demonstrar maiores dificuldades”.

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Julião Sarmento O perfil do Prémio UC P8

Estádio Universitário à espera O projecto de requalificação está pronto, mas faltam as verbas para avançar

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DESTAQUE

ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

caso da Engifire e da Consulfogo. Ambas trabalham na área da segurança contra incêndios, o que para o coordenador do projecto da Consulfogo, Sílvio Saldanha, é, mais do que um constrangimento, “um estímulo”.

Pular a cerca Muitos dos projectos que estão hoje incubados no IPN nasceram nos laboratórios da universidade. São os chamados ‘spin-offs’ académicos. No entanto, nos primeiros anos da Incubadora, a maioria das empresas não vinha directamente da academia ou das instituições de Investigação e Desenvolvimento (I&D). “Eram criadas por ex-alunos que tinham desenvolvido outros projectos ou que tinham trabalhado por conta de outrem”, refere Paulo Santos. Actualmente, o IPN alberga também ‘spin-offs’ de empresas que já saíram do edifício, mas que se mantém ligadas em incubação virtual e se convertem “quase em padrinhos das novas empresas”. É o caso da Tangível, que foi para o edifício ao abrigo do programa de incubação virtual ‘Follow up’ da Critical Software. Paulo Santos conta como foi: “fomos apresentar a Tangível à Critical, que demonstrou logo muito interesse; fez-se um ‘case study’, e a Critical lançou um desafio à Tangível; ficaram muito satisfeitos com o resultado e hoje em dia são parceiros comerciais”.

Coimbra na rota da tecnologia A crise não passa ao lado da cidade, mas por cá são mais de cem as empresas que integram a segunda melhor incubadora do mundo. Inovadoras e produtivas, são o resultado do empreendedorismo e da massa crítica que sai da UC Adelaide Batista Pedro Crisóstomo 2009 começou da pior maneira. A palavra ‘crise’ continua a ecoar pelos quatro cantos do mundo e a recessão económica já atingiu a Europa. Apesar do cenário negro, Coimbra parece fugir à regra e tem um nicho de empresas jovens com base tecnológica e forte ligação à Universidade de Coimbra (UC) que apostam em áreas inovadoras e cujo rápido crescimento fala por si. O local que é tido como apenas mais uma cidade universitária com cerca de 140 mil habitantes, que muitos julgam ter parado no tempo, parece afinal estar na frente da corrida graças àquela que foi considerada, em Dezembro de 2008, a segunda melhor incubadora de empresas do mundo, a do Instituto Pedro Nunes (IPN). Em cerca de dez anos, gerou em Coimbra mais de mil postos de trabalho altamente qualificados, “uma importante parte dos quais oriundos das ‘spin-offs’ da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC)”, lembra o presidente dos conselhos directivo e científico, João Gabriel Silva.

A Incubadora tem hoje um universo de mais de 100 empresas incubadas, 60 por cento das quais germinadas directamente da academia, e que facturam cerca de 50 milhões de euros por ano. Para o director-executivo, Paulo Santos, as empresas do IPN estão “em contraciclo”. Apesar de admitir ser “difícil prever qual o volume de negócios para 2009”, acredita ser possível um crescimento de “uns 15 a 20 por cento”.

à universidade – ao lado do Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC) e perto do Pólo II – e o facto de as empresas se lançarem em desafios semelhantes permite que se cruzem ideias num ambiente propício à inovação. “Ter ao lado uma empresa de informática, outra de biotecnologia, ir ao bar e conversar com um bioquímico, um engenheiro informático ou um físico” é, na opinião de Paulo Santos, “importantíssimo para o sucesso destas

até que estas ganhem asas para voar. É unânime a importância do apoio do IPN para a viabilidade das empresas, como destaca Ana Sofia Almeida, sócia-fundadora da Tapestry, uma das empresas incubadas desde 2007: “ajuda a despistar os erros antes de os cometermos”. Normalmente, a incubação acontece durante quatro anos, mas há empresas que devido à sua área de actividade, como acontece com as biotecnologias, podem vir a precisar

Ao abrirmos a porta que separa o IPNIncubadora do exterior, deparamo-nos, desde logo, com um espaço pensado ao pormenor, que mostra como o sucesso também é resultado da forma como o edifício está organizado. As salas, com diferentes tamanhos, estão dispostas numa lógica que tem em conta as necessidades das empresas, desde a exposição solar à água, electricidade ou telecomunicações. Os corredores espelham a pujança científica que dentro de portas está em constante centrifugação. O ambiente próximo

empresas”. Quem o comprova é Gonçalo Quadros, presidente da Critical Software, que destaca a importância da capacidade de discutir com outras empresas: “isso traz uma mais-valia muito grande num contexto muito rico e dinâmico”.

de um maior tempo de incubação. Nesse caso, cabe à direcção do IPN abrir “pontualmente algumas excepções”, assegura Paulo Santos. Engana-se quem pensa que, por estarem fechados neste ninho, as empresas não enfrentam as adversidades que qualquer uma, já autónoma, enfrenta. Para Paulo Santos, “não devemos proteger as empresas da concorrência, elas devem estar expostas, e as que forem melhores ficarão”. Mesmo dentro da Incubadora há empresas concorrentes, como é o

Maturação empresarial O significado da ‘incubação’ é isso mesmo – um processo em que são fornecidos serviços especializados que, de forma estruturada e muito interactiva, ajudam na primeira fase do desenvolvimento das empresas,

Que cérebros vieram para ficar? Um dos critérios para as empresas de alta tecnologia decidirem onde se localizam é a disponibilidade de conhecimento. João Gabriel Silva não tem dúvidas sobre isso e argumenta que, “se a faculdade continuar a ter à saída pessoas muito qualificadas, as empresas vão-se manter ”. “De qualquer forma, não há que estabelecer isso como um objectivo muito grande”, defende o professor da FCTUC, para quem o facto de os licenciados partirem da cidade não é um indicador de falhanço. “É um motivo de orgulho”, contrapõe. Para Gonçalo Quadros, “Coimbra é uma oportunidade para desenvolver um tipo de sociedade de conhecimento que seja referencial porque tem uma muito boa universidade, laboratórios de excelência, pessoas talentosas”. Apesar disso, Paulo Santos é da opinião de que “neste momento, a preparação académica está um bocadinho desfasada do que é a realidade do mercado”. Todavia, ressalva que “vários cursos de ciências têm apostado na formação da área da gestão e do empreendedorismo, o que é bastante positivo”. O responsável pela Incubadora do IPN vai mais longe e defende que “os nossos jovens devem tomar conhecimento muito cedo de que é importante que procurem saber o que é uma empresa e o que é o mercado de trabalho – ainda na faculdade ou até antes, no secundário”. Isto porque, explicita, “não há mais lugar para as pessoas que dizem: ‘de números e finanças não quero saber, quero é saber do meu microscópio’”.


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DESTAQUE

PEDRO CRISÓSTOMO

Critical deverá crescer 20 por cento este ano Em dez anos, a Critical Software tornou-se referência das PME’s. Mas em Coimbra há outras que lhe seguem os passos no que toca ao sucesso Adelaide Batista O grupo Critical deverá crescer, este ano, menos 16 por cento do que em 2008, mas, mesmo assim – e em ano de dificuldades à escala global – o presidente, Gonçalo Quadros, espera que a rota ascendente dos últimos dez anos se traduza num crescimento de 20 por cento. “Continua a haver muitas dúvidas sobre o que vai acontecer” e, por isso, Gonçalo Quadros mantém algumas reservas sobre as previsões, pois, como sublinha, é preciso ter “mais tempo para perceber quais são os contornos da crise”. Mas quando falamos de sucessos empresariais na cidade é impossível fugirmos ao nome da Critical Software. Só no ano passado, o crescimento do volume de negócios era apontado para os 36 por cento, o que significa 19 milhões de euros face aos 14 milhões que havia registado em 2007. Marca de que o sucesso está a pas-

sar por aqui, a Critical Software é o exemplo paradigmático de como um negócio em ascensão pode ser feito fora dos grandes centros – Lisboa e Porto. O director da Incubadora do Instituto Pedro Nunes, Paulo Santos, acredita que tem havido um efeito “muito interessante” na “atracção de pessoas que tinham ido para Lisboa trabalhar e que, a certa altura, viram que o que estavam lá a fazer também conseguiam em Coimbra, pois tinham cá apoios e condições”. Terá sido o caso da Eneida que, embora não seja de Lisboa (tem a sede em Sines), aqui criou um pólo de investigação e desenvolvimento nas áreas de electricidade, telecomunicações e energia natural. A empresa “começou por fazer projectos mais na área dos serviços”, mas foi no IPN que “cresceu para a criação de produtos”, realça um dos doutorandos do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), José Oliveira, a trabalhar na Eneida.

A Tapestry e a internacionalização Dúvidas parece não haver sobre a necessidade de Coimbra ter um “tecido industrial em alta tecnologia” para a cidade se desenvolver, como persiste o presidente dos conselhos directivo e científico da FCTUC, João Gabriel Silva. Apostada em desenvolver tecnologias para a produção de jogos distribuídos na Internet está a Tapestry, incubada no IPN, que há dois anos se reposicionou para esta área. A ideia inicial era estar direccionada para a consultoria na área dos sistemas de informação, mas hoje o foco “estratégico” – adianta a sócia-gerente Ana Sofia Almeida – está na produção de jogos de entretenimento, educativos e no ‘advergaming’ (jogos como veículos publicitários). A Tapestry espera lançar, em breve, um novo serviço de “ferramentas para o público em geral, no extremo, fazer os seus próprios jogos”. Neste momento, a empresa está só em Coimbra, onde pretende manter a sede, mas o próximo passo é “abrir filiais e pontes noutros países”. Quando perguntamos se estar na cidade é uma oportunidade ou dificuldade, Ana Sofia Almeida hesita na resposta e diz que foi uma consequência natural do percurso de cada um. “Todos viemos para Coimbra por causa do curso na UC e acabámos ficando”.

Inovação a pensar no futuro Prestes a ser inaugurado, o iParque pretende ser o símbolo de uma cidade que deseja estar verdadeiramente no centro Adelaide Batista

NO IPN há lugar para a experiência e para as ideias de jovens investigadores

A construção do Coimbra Inovação Parque (iParque) está na recta final e “de uma só vez vai infraestruturar 100 hectares de espaço industrial: o sêxtuplo do que se fez em 30 anos” na cidade, realça o presidente do Conselho de Administração, Norberto Pires. A iniciativa pretende ser muito mais do que um simples pólo tecnológico. A pensar nas necessidades da sociedade do século XXI, o iParque concilia as infraestruturas industriais com zonas verdes, desportivas e habitacionais, pois, de acordo com Norberto Pires, “uma pessoa com determinada formação escolhe o sítio onde trabalha e prefere um local atractivo e onde tenha mais ofertas”. Também faz parte do projecto, a construção do ‘business center’ – um edifício com restaurantes, anfiteatros, salas de reuniões e serviço electrónico informático – que vai albergar empresas que prestem ser-

viços às restantes, nas áreas da contabilidade, consultoria e apoio jurídico. “Todas estas infraestruturas estão colocadas ao dispor das empresas, que pagam, em números redondos, 30 euros por metro quadrado para se instalar no parque”. O projecto tem como objectivo colmatar falhas que existem na região, dando um espaço de pós-incubação a empresas que são viáveis mas que “ainda não têm capacidade para ter uma sede e subsistir sem ajuda”, explica Norberto Pires. A actividade económica que resultar das empresas deverá “ser reinvestida para os motores que originaram este desenvolvimento, que são as universidades, os centros de investigação e desenvolvimento, e as empresas. Durante o processo, criam emprego a pessoas que assim não terão que sair de Coimbra e que, por sua vez, criarão mais emprego. É uma bola de neve”, sintetiza o responsável. A curto prazo, o foco está nas empresas de base tecnológica, mas o

iParque não pretende limitar aqui a oferta. Para já “identificámos cinco áreas estratégicas para a região e pretendemos que as iniciativas estejam sediadas no mesmo local, pois permite o efeito de ‘cluster’, ou seja, de conjunto”, revela o responsável. A saúde, a robótica, o multimédia, as telecomunicações e as áreas transversais vão ter cerca de duas empresas cada, com projectos-âncora em pólos de competitividade nacionais. O principal objectivo é “ fazer com que apareçam empresas e se desenvolvam as que já existem, e que são capazes de criar actividade económica com base em conhecimento que sai da universidade”, sustenta Norberto Pires. A UC é, aliás, uma das accionistas do projecto, com cinco por cento das acções, o que comprova que “a instituição vai ter uma atitude pró activa no iParque”. Esta aposta, que pretende atrair e fixar na região quadros altamente qualificados que saem das se faz a estória de instituições superiores, pode assim provar que nem só de história Coimbra.


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ENSINO SUPERIOR Coordenadores destacam potencial dos estudantes nos centros de investigação Os investigadores defendem um incentivo por parte das unidades de investigação e afirmam que “a integração favorece a formação dos alunos e a universidade” DANIELA CARDOSO

Cláudia Teixeira “A Universidade de Coimbra (UC) deveria pensar no potencial da colaboração de estudantes em projectos de investigação”. As palavras pertencem ao coordenador científico do Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Social e Vocacional (IPCDVS) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, Eduardo Ribeiro dos Santos. O coordenador do Centro de Pneumologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (UC), Carlos Robalo Cordeiro, acredita, igualmente, que “a curiosidade e a disponibilidade intelectual dos alunos constituem um potencial de activação, inovação e desenvolvimento, que as unidades de investigação deverão incentivar e acarinhar”. Robalo Cordeiro defende que “a integração em áreas de investigação favorece não apenas a formação dos alunos mas também a universidade, numa área vital para o seu desenvolvimento estratégico”. Na UC existem 84 centros de investigação, divididos por diferentes áreas, classificadas em “Ciências Humanas e Sociais”, “Ciências da Saúde e Ciências do Desporto”, “Ciências Exactas e Tecnológicas”, “Arquitectura” e “Ciências Naturais e Antropologia”. Com maior predominância nas ciências humanas e sociais e

A Universidade de Coimbra tem 84 centros de investigação nas ciências exactas e tecnológicas, os centros de investigação da UC constituem uma referência nacional e internacional na produção de ciência em diversos domínios. O estudante investigador do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, Paulo Martins, lamenta

O TRABALHO desenvolvido pelos estudantes investigadores “deveria estar sujeito a um contrato de trabalho”, defende um dos bolseiros

que “o peso” dos estudantes investigadores seja “muito reduzido”. A razão, explica, tem a ver com o facto de eles não terem nenhum vínculo laboral à instituição onde trabalham, pois “recebem uma bolsa para cumprir um objectivo proposto pelo centro e pelo orientador que o acompanhará”. No entanto, e perante todas estas adversidades, Paulo Martins ressalva que estes alunos, “em termos de investigação, fazem uma grande parte do trabalho científico existente hoje em Portugal”. Para o coordenador científico do Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Social e Vocacional (IPCDVS) da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC, Eduardo Ribeiro dos Santos, a participação dos estudantes constitui “uma forma complementar de aprendizagem e possível desenvolvimento de carreiras

científicas”. O professor acrescenta que, no que diz respeito a estudantes de doutoramento e pósdoutoramento, e ao IPCDVS, “coloca-se mesmo a centralidade do instituto para a prossecução dos seus trabalhos”.

Acréscimo de estudantes na investigação A coordenadora científica do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Faculdade de Letras da UC, Maria do Céu Fialho, vê na integração ou colaboração dos estudantes “um modo possível de lhes oferecer algumas condições para a própria frequência de segundos ou terceiros ciclos, tendo em conta a grave crise económica que atravessamos”. A coordenadora científica explica que “o espaço aberto para apresentação de comunicações livres em colóquios e a publicação de trabalhos permite dar

corpos a um ‘curriculum’ que tem propiciado a obtenção de bolsas de doutoramento”. “Tarefas a recibo verde ou actos únicos, de apoio à investigação viabilizam a frequência de mestrados e dos futuros cursos de doutoramento”, acrescenta. No entanto, o investigador do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia da UC (FEUC), Alfredo Campos, afirma que recebe uma bolsa de investigação científica da Fundação para a Ciência e Tecnologia “apenas para fazer investigação, embora seja também estudante de mestrado, mas as duas actividades não têm ligação”. O estudante do segundo ano do mestrado em Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo na FEUC classifica esta situação como “perversa”, justificando que faz “ao fim e ao cabo um trabalho por conta de outrem, uma vez que não dá qual-

quer grau, o que é o pressuposto da bolsa”. Na opinião de Alfredo Campos, o tipo de trabalho desenvolvido pelos estudantes investigadores “deveria estar sujeito a um contrato de trabalho, e não a uma bolsa”, isto porque, continua o estudante, “é uma profissão como qualquer outra, mas não se tem o direito a tudo o que é inerente aos direitos do trabalho, como subsídios e acesso à segurança social”. No que diz respeito ao número de estudantes investigadores na UC, Carlos Robalo Cordeiro refere que se tem verificado “um acréscimo de procura em relação com a realização dos mestrados integrados”. A mesma opinião é partilhada por Eduardo Ribeiro dos Santos: “quando se faz apelo aos estudantes para colaborarem em projectos de investigação a resposta é sempre pronta e em grande número”.

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ENSINO SUPERIOR

UC desconhece actual situação económica de estudantes MÁRCIA ROCHA

A dificuldade no pagamento de despesas associadas ao ensino superior requer alternativas às medidas tradicionais de financiamento Maria Eduarda Eloy Até ao final de 2008, mais de cinco mil estudantes do ensino superior já tinham recorrido a empréstimos para pagar os seus estudos. Este facto traduz a dificuldade crescente dos alunos do ensino superior português no pagamento das propinas. No entanto, a situação económica dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC) não é conhecida. A vice-reitora para a Pedagogia da UC, Cristina Robalo Cordeiro, afirma que “não foi feito nenhum estudo recente, na Universidade de Coimbra, que possa demonstrar maiores dificuldades do que aquelas que se têm sentido nos últimos anos”. Por outro lado, o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Jorge Serrote, mostra-se preocupado com a existência de estudantes que “são excluídos do ensino superior por razões económicas”. Nesse âmbito, afirma que num estudo realizado pela DG/AAC sobre o custo de vida dos estudantes deslocados, em Coimbra, calculou-se que os alunos universitários da cidade “gastam em média 5260 euros por ano, um valor que não está ao alcance de todos, em

VICE-REITORA acredita que o recurso aos empréstimos não é a solução ideal

despesas com educação, renda e deslocações”. Jorge Serrote refere que este estudo foi apresentado às bancadas parlamentares com as quais a direcção-geral reuniu, com a intenção de alertar os partidos políticos para a situação dos estudantes. Na opinião de Cristina Robalo Cordeiro, o recurso aos empréstimos para financiar estudos superiores “é uma solução que já é utilizada em muitos países” mas que “apesar de atractiva, pode não ser sempre a solução ideal”. “Não deixa de ser, contudo, uma solução alternativa” conclui. A vice-reitora para a Peda-

gogia refere que a Universidade de Coimbra “criou algumas soluções alternativas [à Acção Social Escolar] de apoio social aos estudantes que têm dificuldades económicas”, nomeadamente o Fundo de Apoio Social, a atribuição de bolsas de estudo não estatais e a possibilidade de alunos em situações especiais pagarem um valor de propina mais baixo. Jorge Serrote considera que seria igualmente importante haver uma intervenção do Governo no “reforço da Acção Social Escolar do ensino superior, como foi feito com o ensino básico e secundário” ou a imple-

mentação de outras medidas como o aumento do plafond do IRS para gastos com a educação e o aumento do desconto no valor do passe escolar para alunos do Ensino Superior. O presidente da direcção-geral refere ainda que os representantes da associação académica estão a “pensar noutras formas de alertar [os estudantes]”, além da campanha que já foi lançada com o outdoor com a cara do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, colocado ao lado das escadas monumentais. Com Andreia Patrícia Silva

NEB/AAC organiza ciclo de debates e conferências Cláudia Teixeira O Núcleo de Biologia da Associação Académica de Coimbra (NEB/AAC) promove esta semana um ciclo de conferências e debates subordinado ao tema “Introdução às Ciências Forenses e Neurociências”. O evento teve início ontem e decorre até sextafeira, 6, no Auditório da Reitora da Universidade de Coimbra (UC). De acordo com um dos organizadores da actividade José Cruz, o objectivo da iniciativa é “proporcionar às pessoas o acesso a uma informação de qualidade e dar-lhes oportunidade de conhecer as instituições sediadas na cidade de Coimbra”. “Pretendemos transmitir aquilo que é produzido na cidade, fundamentar os dois vectores da Universidade de Coimbra, ou seja, a criação e transmissão de conhecimentos”, acrescenta. O ciclo de conferências e debates “Introdução às Ciências Forenses e Neurociências” conta com nomes como o professor da Faculdade de Medicina da UC e elemento do Instituto Nacional de Medicina Legal, Duarte Nuno Vieira, a professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC e membro do Centro de Ciências Forenses, Eugénia Cunha, e o professor da Faculdade de Direito da UC, Faria Costa. José Cruz refere que “muitas pessoas, devido a aulas e trabalhos, não podem comparecer ao evento na sua totalidade, como tal, estão à venda bilhetes pontuais”. “Os bilhetes gerais estiveram à venda até à passada sexta-feira, mas podem ser adquiridos bilhetes pontuais no próprio dia, no Auditório da Reitoria”, conclui.

SEMANA ECOLÓGICA

Grupo Ecológico defende Garraiada diferente Secção cultural da AAC realiza a Semana Ecológica da UC durante os próximos dias. Saídas de campo, workshops e documentários fazem parte da iniciativa Sónia Fernandes Devolver à Queima das Fitas uma “garraiada mais ecológica” é um dos objectivos que o Grupo Ecológico da Associação Académica de Coimbra (AAC) espera conseguir com um debate que vai realizar na próxima semana sobre os direitos dos animais. A ideia, como explica a presidente da secção cultural, Margarida Rosa, é

voltar à velha tradição em que “os doutores toureavam os caloiros com chocalhos e cornos”. Contudo, o comissário da Comissão Organizadora da Queima das Fitas 2009 responsável pela Garraiada, André Gonçalves, afirma que “este ano tudo se vai manter igual, até porque a Queima das Fitas comemora 110 anos e é da tradição”. O debate dos Direitos dos Animais é, de acordo com Margarida Rosa, “a actividade mais importante da semana, para a secção” e vai contar com a participação da Associação Animal, da Acção Animal e de duas pessoas da Liga Portuguesa dos Direitos do Animal. A Semana Ecológica da Universidade de Coimbra (UC) vai ter início no próximo sábado, dia 7, e termina no dia 14 de Março. Entre

as actividades programadas para esta semana dedicada ao ambiente estão uma saída de campo à Serra da Lousã, um workshop sobre vegetarianismo, um documentário subordinado ao tema “Uma Verdade Inconveniente” e um passeio com piquenique na Mata do Choupal. As iniciativas são gratuitas e vão ter lugar na AAC, com excepção das saídas de campo. Para a presidente da secção cultural da AAC, Margarida Rosa, esta actividade serve para “sensibilizar a comunidade académica para as questões ambientais”, mas também para divulgar a secção que está a “ganhar novamente folgo”, pretendendo assim cativar mais pessoas para as actividades. A dirigente associativa explica que “o workshop sobre vegetarianismo vai ter uma formadora a

explicar os benefícios da comida vegetariana e a fazer umas pequenas receitas que as pessoas podem provar”. A primeira actividade da Semana Ecológica da UC consiste numa saída de campo à Serra da Lousã e termina com o passeio na Mata do Choupal. A secção da AAC tem ainda agendado no mês de Abril uma subida de campo a Buracas do Casmilo, n o mês de Maio vai promover a cozinha solar c o m

fornos ecológicos nos jardins da AAC e campanhas de sensibilização na Queima das Fitas 2009. No ínicio do mês de Junho, o Grupo Ecológico vai organizar uma descida do rio.

D.R.


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ENSINO SUPERIOR

Arranque na construção de nova cantina sem perspectivas VIRGINIE BASTOS

Serrote afirma que atraso no alargamento do edifício da AAC às cantinas centrais é, “de forma muito indirecta, uma consequência do desinvestimento no ensino superior” Pedro Nunes O desinvestimento na Acção Social Escolar remeteu para o fundo da gaveta das prioridades da Universidade de Coimbra (UC): a construção de um novo restaurante universitário, na zona das Escadas Monumentais. Projectado na década de 80, esta proposta tem transitado entre reitorados, sem nunca ter sido objecto de uma iniciativa para a concretização. O administrador dos Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra (SASUC), António Luzio Vaz, assegura que “este não é um projecto para ser efectuado a curto prazo, pois as prioridades são as faculdades”. A coordenadora-geral do pelouro da Acção Social da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Carmo Páscoa, identifica “não existirem perspectivas do arranque da construção, visto não existirem condições financeiras para tal”. Luzio Vaz crê que “agora talvez não se justifique a construção do novo edifício”, identificando a redução verificada, em tempos recentes, no número de frequentadores dos restaurantes universitários.

LUZIO VAZ assegura que o projecto “não é para ser efectuado a curto prazo”

Carmo Páscoa ressalva a posição da DG/AAC relativamente a este tema, defendendo que “idealmente deveria ser construída uma nova cantina, e tantas estruturas de acção social quanto as necessárias”, mas considera que neste caso em particular “o esforço financeiro seria demasiado grande”. A dirigente associativa defende igualmente um incremento de verbas para a manutenção dos espaços existentes, contrariando este “claro sinal do desinvestimento governamental face ao ensino superior”. “A UC não está mal servida de cantinas e, caso todas

as restantes [cantinas] se mantenham abertas, não se justifica esta iniciativa”. O administrador dos SASUC alerta para a falta de vocação dos espaços das cantinas centrais da universidade que “não foram construídos para serem cantinas”, mas espaços a serem ocupados pela associação académica. Na opinião de Luzio Vaz, este é um aspecto importante para a concretização do projecto uma vez que “a intenção era dar à AAC o espaço onde agora é a cantina dos grelhados e dos snacks”, uma área necessária para a expansão da acti-

vidade da associação e respectivas secções. “É uma prioridade transferir estes espaços para a Associação Académica de Coimbra”, conclui. O presidente da DG/AAC, Jorge Serrote, reconhece que esta transferência de espaços para a associação “pode ser importante”. A conversão das actuais cantinas em “salas de estudo e de trabalho, bem como em espaços a serem ocupados pelas secções, conjugada com outros projectos de requalificação do edifício, representará uma oportunidade para a AAC e pode criar uma dinâmica que faça a cultura brotar dos jardins

da associação académica”, afiança o presidente. “A desresponsabilização mais do que descarada dos sucessivos executivos governamentais”, da qual “a acção social no ensino superior é "apenas" mais uma das suas facetas” tem, na opinião de Carmo Páscoa, impedido que este passo se concretize. A não possibilidade da construção dessas novas cantinas, ainda que “de forma muito indirecta” é, na perspectiva de Jorge Serrote, “uma consequência do desinvestimento no ensino superior por parte do executivo”.

da AAC explica que os candidatos passam por um processo de selecção antes de integrarem o grupo de trabalho e que o único requisito é serem estudantes. “Não damos qualquer tipo de preferência, por exemplo, a estudantes de Psicologia, apesar de grande parte dos nossos voluntários serem desse curso”. “Depois da sessão, os interessados marcam uma entrevista onde se podem dar a conhecer às pessoas que já integram a linha. Depois de ser feita essa entrevista vemos se a pessoa está apta para a próxima fase que consiste num mês de formação”, afirma a dirigente associativa. Filipa Craveiro refere que nesse mês de formação são abordadas formas de comunicar no sentido de “ensinar as pessoas a atender o telefone nas circunstâncias difíceis que nos contactam”. “Fazemos também algumas simulações para

os voluntários terem noção do que se passa na realidade”, acrescenta. A dirigente associativa explica que depois do mês de formação existe uma segunda entrevista que é definitiva e se a pessoa for aceite, passa a integrar o grupo de voluntários. Contudo, “pode acontecer que, ao longo da formação, a pessoa não tenha a evolução desejada e, portanto, não fica a fazer parte da Linha SOS”, ressalva. Filipa Craveiro explica ainda que o atendimento telefónico não é feito na Associação Académica de Coimbra, mas sim num edifício cedido pela Reitoria da Universidade de Coimbra que “ninguém sabe onde é por uma questão de segurança e de anonimato para quem faz o serviço”. A presidente da secção acrescenta que “a sala na AAC serve apenas para o esclarecimento de questões sobre a participação na Linha SOS-Estudante e para questões administrativas”.

SOS-Estudante recruta voluntários A secção cultural da Associação Académica de Coimbra promove esclarecimentos a partir de hoje, 3, até dia 12 Cláudia Teixeira Decorrem nos dias 3, 4 e 5 e 10, 11 e 12, às 21 horas, sessões de esclarecimento sobre o trabalho desenvolvido na Linha SOS-Estudante da Associação Académica de Coimbra (AAC). As sessões têm lugar no MiniAuditório Salgado Zenha da AAC e, de acordo com a presidente da Linha SOS-Estudante, Filipa Craveiro, o objectivo é “dar a conhecer às pessoas no que consiste a linha e recrutar voluntários para fazer o atendimento telefónico”. A presidente da secção cultural

ANDRÉ FERREIRA


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CULTURA

XI SEMANA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Cultura veloz em movimento Estudantes, professores e conimbricenses unem-se pela cultura. Sob a égide da “Velocidade e Movimento”, as diversas iniciativas da Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC) já estão a decorrer TIAGO CARVALHO

Tiago Carvalho Sara Galamba A décima primeira edição da Semana Cultural da UC começou no passado sábado e estende-se até ao dia 7 deste mês. Com mais de cem iniciativas, o consultor da programação deste evento, Giacomo Scalisi, salienta que “o programa é muito extenso, e vai desde conferências e exposições até festas e galas”. Na tentativa de construir um novo rumo para a Semana Cultural, a organização pretende “criar um evento mais «espectacular», com artistas e companhias nacionais e europeias, e gerar mais diálogo entre as diversas faculdades e os grupos de estudantes que propuseram actividades”, adianta Giocomo Scalisi. “VLCD! Do lugar onde estou já me fui embora”, estreou ontem na Semana Cultural, e hoje, 3, a peça repete, no mesmo espaço – o Teatro Académico de Gil Vicente. Encenada pela primeira vez em Novembro de 2008, pelo Teatro Meridional de Lisboa, o espectáculo visa “perceber de que maneira a velocidade, em que vivemos hoje em dia, afecta as relações entre as pessoas”, revela o director da companhia, Miguel Seabra. Numa peça em que “a palavra não é a principal forma de comunicação cénica, é privilegiada a técnica de ‘clown teatral’, o gesto e a criação colectiva”, explica Miguel Seabra. O nome da peça remete para a escrita de mensagens em telemóveis, onde a rapidez de comunicar ganha destaque e a palavra velocidade sobressai. No quinto dia da Semana Cultural, 4 deste mês, “Homem – Legenda”, uma criação de Pedro Gil e Pedro Carmo, põe no palco o Homem e uma Legenda que interagem com o espectador. Este espectáculo, que vai estar em cena no palco do Anfiteatro do Gabinete de Física, “aborda temas e questões que tocam os jovens, mas adultos, estudantes na UC”, destaca Pedro Gil. A sala de São Pedro da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) acolhe, no dia 5, quinta-feira, uma produção do Teatro da Rainha. “Uma noite na biblioteca” é o convite especialmente adequado aos frequentadores assíduos da BGUC, mas que não deixam de interessar ao público em geral pois “é um texto de grande dimensão poética que levanta questões pertinentes ao mundo de hoje”, esclarece o ence-

nador da peça, Luís Varela. A peça não está propriamente relacionada com o tema da Semana Cultural, porém, Varela afirma que esta “faz parte de uma estratégia cultural da universidade para a sua nobre biblioteca”. Segundo o encenador, esta representação tem uma “dimensão mágica e só pode ser apresentada dentro de um sítio e espaço próprio, ou seja, neste caso numa biblioteca”. Circolando, companhia teatral do Porto, também vai marcar a sua presença na cidade de Coimbra. “Cavaterra” é o espectáculo apresentado. A exaltação dos materiais e das sensações, “puxa para hoje um tempo sem máquinas”, entende o director artístico do projecto e actor, André Braga. Com vista a homenagear os mineiros, a terra, a pedra e o carvão “fazer coisas dinâmicas com coisas passadas” tornou-se objectivo da peça, considera o director da companhia. A velocidade presente na peça é “reduzida, porque são os movimentos do corpo humano que dominam na acção”, esclarece o director artístico. Com actuações desde 2004, predominantemente no estrangeiro, também é a primeira vez que a peça e a companhia vêm a Coimbra.

Festas e Segredos As novidades são mais que muitas, mas a que tem ganho mais destaque é “Na rua Futurista”. Idealizada pela companhia lisboeta Útero, Miguel Moreira é o seu encenador. O projecto já existe há algum tempo, com o nome “Na Rua”, e foi convidado para integrar a Semana Cultural com adaptação do tema ao futurismo. O espectáculo consiste numa “bola, em forma de iglô onde as pessoas colocam a cabeça e dão de caras com um espaço vazio, mas com muitas coisas boas. Segredos”, adianta o programador. Estas estórias são contadas por actores que vão habitar as ruas e a Universidade de Coimbra. O Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) também está presente na Semana Cultural. “Reviravolta é um workshop de danças tradicionais, durante toda a semana, que visa criar um espectáculo a ser apresentado no último dia da Semana Cultural”, esclarece Adérito Araújo, um dos elementos do grupo. O espectáculo conta com a colaboração do departamento de Engenharia Informática, e com Clara Andermatt, que segundo o elemento do grupo etnográfico, “é uma coreógrafa muito concei-

A XI SEMANA CULTARAL DA UC conta com 98 realizações

tuada, a trabalhar numa área pouco usual – a dança tradicional”. “Até Breves”, concurso de curtas-metragens da tvAAC, volta a marcar presença, pela terceira vez. Nesta edição com menos participantes do que no ano anterior, segundo a responsável pelo projecto Ana Mesquita, o principal problema foi “o extravio de trabalhos, que não chegaram à secção”, mas

a exibição dos projectos a concurso no Auditório da Reitoria é algo que, segundo a responsável, “é muito positivo em termos de assistência”. A celebrar 120 anos, a revista “Via Latina” toma este ano o nome da Semana Cultural como nome da edição. O director da publicação, João Picanço, afirma que o balanço final da revista “é positivo”. Apesar de haver menos partici-

pantes, a direcção apostou “num desenho e num corte mais limpos e em nomes em extensão no panorama artístico e literário português”, remata. A secção de Fotografia da AAC inaugurou, no passado dia 1, sob o lema “Velocidade e Movimento”. A exposição conta com aproximadamente vinte fotografias, de seis fotógrafos, e vai estar patente ao público até dia 7 de Março.


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CULTURA

PERFIL • JULIÃO SARMENTO

cultura por

cá O construtor do desejo

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JOSÉ MANUEL COSTA ALVES

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“VLCD! - DO LUGAR ONDE ESTOU JÁ ME FUI EMBORA” TAGV • 21H30 NORMAL 10¤ ESTUDANTE 8¤

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AFTER BOCCIONI Exposição de Fotografia Pedro Medeiros 10H • TAGV • ENTRADA LIVRE

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POETAS EM RESIDÊNCIA Miro Villar e Márcio André CAFÉ-TEATRO TAGV • ENTRADA LIVRE

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MU Música Folk OFICINA MUNICIPAL DO TEATRO 22H • 2¤ COM DIREITO A UMA BEBIDA

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É JÁ DIA 9 que Sarmento recebe o Prémio UC, na inauguração da Casa das Caldeiras

NA RUA FUTURISTA 17H ÀS 19H PRAÇA DA REPÚBLICA

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SENTIR TUDO DE TODAS AS MANEIRAS Teatro FACULDADE DE PSICOLOGIA DA UC 21H30

Por detrás de palavras simples, sem ornamentos, e com obras que deixaram um rasto pelo mundo, está Julião Sarmento. É o primeiro artista plástico a receber o Prémio Universidade de Coimbra e imprime na arte a sua personalidade. Por Sara Oliveira e Andreia Silva ala de si e da sua obra sem rodeios. Mas não lhe peçam para se auto-caracterizar. Aliás, acha isso uma “estupidez”. Por essa razão, perde muito pouco tempo a pensar em si. Os amigos vêm nele um sentido de humor aguçado e uma espontaneidade juvenil. Não gosta da palavra inspiração, porque significa muito pouca coisa. Prefere encontrar estímulos na literatura e no cinema. A sua vida não se pauta pelas afirmações. Interrogações, mais que muitas. Tem 60 anos e um espólio invejável. As suas obras já andaram pelos quatro continentes, e não parecem querer estagnar na Península Ibérica. O site oficial do artista está totalmente em inglês. É um indício claro da sua internacionalização. Julião Manuel Tavares Sena Sarmento nasceu a 4 de Novembro de 1948 e admite que é “um homem do mundo, não apenas de Portugal e de Lisboa”. O reconhecimento internacional já não o surpreende. “Sempre trabalhei para isso”. Os países visitados pelo artista português deram-lhes muitas estórias para contar. Mas Julião Sarmento não se rende aos encantos da curiosidade de uma pergunta e não aprofunda a resposta, nem se alonga nas histórias. “As recordações são dife-

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7 8 e

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AS BACANTES TEATRO DA CERCA DE S.BERNARDO 21H30 NORMAL 10¤ • ESTUDANTE 5¤

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CENAS DO CES: NOITE E NEVOEIRO Ciclo de Cinema e Conversas SALA DE SEMINÁRIOS DO CES/UC 17H30 • ENTRADA LIVRE

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CENAS DE ESPERA II OFICINA MUNICIPAL DO TEATRO 22H • 2¤ COM DIREITO A UMA BEBIDA

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A CASINHA DE CHOCOLATE Espectáculo de Patinagem TAGV 10H30 • 15H • 21H30 NORMAL 8¤ • ESTUDANTE 6¤

Por Virginie Bastos

rentes. Há países mais agradáveis do que outros e há aqueles onde o trabalho é recebido de uma maneira completamente diferente”, sintetiza. As obras do português estão plantadas por todo o mundo, em museus como Guggenheim em Nova Iorque, Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles ou no Hara, Museu de Arte Contemporânea de Tóquio. Pensa sempre duas vezes antes de abandonar Portugal e quando chega a uma conclusão apercebe-se que já é tarde de mais. Apesar do forte da sua internacionalização serem as exposições, Julião Sarmento também deixou uma marca do ensino. Leccionou em países como o Japão ou a Alemanha. Foi na Escola Superior de BelasArtes de Lisboa que iniciou o seu percurso quando corria o ano de 1967. Depois de oito anos, expôs pela primeira vez no estrangeiro em 1979, na Suíça, cinco anos depois de Portugal ter saído da ditadura. A sua obra é grande e vasta. Toma na escultura, na pintura, fotografia e cinema as suas formas. Quem fala da obra de Sarmento, refere uma “enorme coerência nos temas, uma imensa flexibilidade e talento no uso das técnicas”, como nota Alexandre Melo, um dos amigos mais próximos do autor.

Delfim Sardo, teórico e crítico de arte, fala de um carácter cinematográfico muito marcante na sua obra, e aponta a existência de “uma utilização da imagem como estratégia de sedução através de mecanismos de erotização”, como escreveu uma vez. É a partir da fotografia e do vídeo que Sarmento começa a sugerir a personificação do desejo, através da figura feminina. “O desejo é a única coisa que merece ser explorada”, garante o pintor. Julião Sarmento sempre gostou de cinema, e desde cedo se fez rodear pela sua linguagem. “Não sei se cheguei ao cinema através da arte, se cheguei à arte através do cinema. É impossível separá-lo de todo o resto”. Apesar de ser natural do Estoril, este ano Coimbra surge-lhe no currículo. “Uma surpresa”, revela o artista plástico. O Prémio Universidade de Coimbra (UC) está aberto a todos e abrange as várias áreas da cultura e da ciência, mas é a primeira vez que premeia alguém das artes plásticas. Julião Sarmento personifica esse reconhecimento. Carlos Robalo, médico e professor na Faculdade de Medicina da UC, foi o intermediário. Propôs à UC o nome do artista plástico. O médico mostra-se satisfeito e revela que é “um grande sinal de modernidade o

facto da instituição universitária e centenária atribuir este prémio a um artista contemporâneo”. Num tom assertivo e directo, Julião Sarmento responde ao que lhe perguntam. Não gosta de florear nem de se alongar. Não é um “artista representativo, mas sim representacional”, repara. Há quem diga que as suas obras falam, e admite: “no fundo sou um contador de estórias”. O primeiro alvo do trabalho de Julião Sarmento é ele próprio. Para além de ser reconhecido individualmente, o pintor expõe com outros artistas. Contudo, é cauteloso quanto ao confronto de ideias: “só exponho com algumas pessoas e em algumas circunstâncias”. O pulsar da arte em Portugal carece de crítica. É o vencedor do Prémio Universidade de Coimbra que partilha a opinião. “Existe algum jornalismo de arte, mas crítica de arte não. Seria agradável que essa vertente fosse explorada”. A entrega do prémio, no valor de 25 mil euros, vai ter lugar no próximo dia 9 de Março, segunda-feira. A inauguração da Casa das Caldeiras, que vai acolher pós-graduações, mestrados e doutoramentos do curso de Estudos Artísticos da UC, irá coincidir com a cerimónia da entrega do prémio. Um acaso feliz.


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CULTURA

Rituais futricas de antigamente A par da cultura estudantil, existe na cidade uma outra cultura com raízes nas tradições da população de Coimbra. Romarias, fogueiras, serenatas e feiras fazem parte história dos rituais futricas. Por João Miranda

A

relação de Coimbra com a universidade ultrapassa qualquer lógica que conheçamos em alguma outra cidade portuguesa que albergue um pólo de ensino superior. Aliás, a própria denominação de Coimbra como a “cidade dos estudantes” é demonstrativo dessa mesma singularidade. Não é, portanto, estranha a forma como a cultura estudantil e académica se embrenhou no meio da cidade. Contudo, existe em Coimbra uma outra cultura que encontra as suas raízes e tradições na população local, nos futricas e nas tricanas, nos “não-estudantes”. “Dava-se o nome de futrica ao homem de Coimbra que não estudava na universidade”, explica o responsável técnico do Grupo Etnográfico da Região de Coimbra, António Nunes, que descreve que era nas serenatas futricas que melhor se fazia a distinção entre os estudantes e os “não-estudantes”. “A

grande rivalidade que existia era sobretudo evidente nas fogueiras

“Dava-se o nome de futrica ao homem de Coimbra que não estudava na universidade” de S. João. Por vezes aconteciam algumas guerras por causa das tricanas e havia rixas fortes ao ponto de chegar a polícia e interromper os festejos”, acrescenta. Para António Nunes, as Fogueiras de S. João eram a grande manifestação cultural da população de Coimbra. Com incertezas em relação à data de origem, sabese que as fogueiras assumiram o seu auge no início do século XX, e contrariamente ao que o nome pode sugerir, as festas eram também

realizadas nas noites de S. António e S. Pedro. “Havia vários tipos de Fogueiras de S. João espalhadas pelos vários largos da cidade, na Alta, no Largo do Romal, no Pátio da Inquisição”, elenca António Nunes. “Existiam ainda palanques enfeitados com verduras, nomeadamente murta e alecrim, que eram colocados nos centros dos largos. Nesses palanques havia os cantadores e as cantadeiras”. A música era também conduzida por um conjunto. As Fogueiras de S. João só conheciam o seu fim, normalmente, quando o sol raiava. Aí, era tradição ir beber água às fontes da Sereia ou da Arregaça.

A tradição e a Igreja Outra tradição subjacente à cultura futrica eram as romarias, em especial a do Espírito Santo e a do Senhor da Serra, que é uma aldeia na zona de Miranda do Corvo que possuía uma pequena capela e um cruzeiro que servia de ponto de afluência de uma romaria que decorria no mês de

Agosto e na qual participavam não só habitantes do distrito como pessoas de todo o país. “Havia gente que vinha a pé da zona do mar, de Aveiro”, refere António Nunes. A Romaria do Espírito Santo ou romaria das campainhas, devido aos produtos de barro que lá eram comercializados, tinha como ponto de afluência a Igreja de Santo António dos Olivais. Aí organizavam-se bailes e grandes refeições. Também a Procissão da Rainha Santa trazia pessoas das mais diversas zonas do país, assumindose como uma das maiores festas de raiz religiosa da cidade, mas também com um carácter profano patentes na dualidade festiva, em que, ao mesmo tempo que a procissão atravessava Coimbra, tinham lugar actuações de ranchos e bailes. “As romarias eram importantes porque havia troca de conhecimentos, a nível das músicas, das danças; as pessoas evidenciavamse pela maneira de cantar e de trajar”, defende o responsável técnico do Grupo Etnográfico da Região de Coimbra, que acredita que “as romarias foram os pontos em que, de

facto, as pessoas acabaram por se aconchegar a outros modos de vida”. António Nunes aponta também que, contrariamente ao “cantar os reis” que era uma tradição dos “arrabaldes”, em Coimbra existia a Visita aos Presépios. Esta tradição estendia-se entre o dia de Natal e o dia 6 de Janeiro, todos os anos, e consistia numa jornada até aos presépios da cidade, para aí se entoarem cânticos de louvor. As tradições de cariz religioso espelhavam-se também nas várias feiras da cidade, das quais se destacam a Feira dos Lázaros, em honra à ressurreição de Lázaro, e a Feira de S. Bartolomeu, em honra ao santo milagroso. Menos estanques no tempo, as serenatas futricas não tinham uma data determinada para a sua realização. Devidamente ensaiadas, as músicas recaiam essencialmente sobre “a tradição da Rainha Santa, da vida do campo e dos amores das tricanas”, como explica António Nunes. “Muitas delas eram feitas dentro de barcas serranas, por altura das festas da Rainha Santa, no rio”, acrescenta.

As tradições de carácter profano Se a tradição e a cultura ligada à religião assumiam uma grande expressão em Coimbra, existiam também diversas iniciativas de carácter profano. Como a tradição

“As romarias foram os pontos em que as pessoas acabaram por se aconchegar a outros modos de vida”

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

das pulhas, realizada nos arredores de Coimbra, por altura do Carnaval, “onde as pessoas se juntavam e acabavam por fazer uma crítica social às individualidades, aos seus costumes e às faltas que tinham tido durante o ano”, refere o responsável do grupo etnográfico. No entender de António Nunes, todas estas tradições e costumes resultam da mistura populacional e da situação geográfica da cidade: “Coimbra é uma zona de confluência e de passagem entre o Norte e o Sul e a cidade sempre teve, de alguma forma, influências das pessoas que para ela iam estudar”. “Portanto eu acho que houve uma mistura de várias culturas do país. Não sei dizer se existe uma cultura genuinamente coimbrã”, conclui.


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DESPORTOS NÁUTICOS

7e8 MAR

Campeonato Nacional de Juniores e Seniores MONTEMOR-O-VELHO

VOLEIBOL

Académica na série dos primeiros André Ferreira Foi preciso quase uma hora para a equipa sénior masculina de voleibol da Associação Académica de Coimbra (AAC) saber por telefone que vai disputar a série dos primeiros da segunda fase da Divisão A2. Depois de terem vencido o Clube Nacional Ginástica por 3-0, os estudantes esperaram pelo resultado entre o Sporting Clube das Caldas e o Centro Voleibol de Espinho (3-0 para a equipa das Caldas da Rainha), para saber se iriam para a próxima fase, que era o “objectivo da Académica no principio da época”, relata o treinador, Carlos Marques. Assim, a Académica acaba esta primeira fase em oitavo lugar com 32 pontos. Agora, com a manutenção garantida, a AAC vai jogar frente ao líder Sporting das Caldas que, para o treinador dos estudantes, “é a melhor equipa da primeira fase, porque perdeu um em 22 jogos”. Carlos Marques considera que “o favoritismo está do lado do Caldas”, mas a Académica vai tentar fazer o melhor possível “para contrariar esse favoritismo”, revela. Nos confrontos com a equipa das Caldas da Rainha, a turma de Coimbra perdeu ambos os encontros, mas, em casa, esteve a vencer por 2-0. O capitão de equipa, Gonçalo Forte, assegura que “passa pela cabeça de todos surpreender”. Para esta primeira fase da época, o técnico academista fala numa gestão difícil do plantel. A Académica já mudou de passador e libero várias vezes ao longo da competição. “Somos uma equipa que tem de jogar com condicionalismos das pessoas estarem ou não disponíveis”, afirma o técnico. A mesma sorte não teve a equipa sénior feminina, que terminou a fase regular da Divisão A2 no sexto lugar com 25 pontos, ficando assim fora da série dos primeiros, que está reservada apenas aos quatro primeiros lugares. A disputar a série dos últimos, o treinador Rui Freitas define como objectivo a manutenção. Na segunda fase, as equipas partem com metade dos pontos somados na primeira metade da época, o que faz com que o técnico acredite que “a tarefa está praticamente concretizada, sem exageros”. O primeiro jogo está marcado para o próximo domingo, dia 8, com o Senhora da Hora.

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BASQUETEBOL

HÓQUEI EM PATINS

Académica vs Vitória de Guimarães 18H • PAVILHÃO MULTIDESPORTOS

Académica vs Roller Lagos CP 18H • ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO N.º 1

7 MAR

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FUTEBOL Académica vs GD Arouce ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

A remar pela defesa do título SÓNIA FERNANDES

Falta menos de uma semana para a equipa de remo da Académica entrar na água e defender o título de clubes de 2008 Tiago Canoso Catarina Domingos Dentro de um barco a motor, o treinador dá as indicações para os atletas que remam desde a ponte do Açude à ponte Rainha Santa Isabel. “Devagar também conta”, “força no ataque” ou “descontrai os ombros” são algumas das ordens que se ouvem durante o treino. O Campeonato Nacional de Juniores e Seniores, a primeira prova pontuável para o Ranking Nacional de Clubes, está à porta. A equipa de remo da Associação Académica de Coimbra (AAC) parte, no próximo fim-de-semana, para a defesa do título conquistado em Setembro do ano passado. Foi a primeira vez na história que a Académica se sagrou campeã nacional de clubes, com 1379 pontos. São os próprios atletas que transportam as embarcações e os remos para a margem do Mondego, o que explica o atraso do início do treino. Os vários escalões vão juntos para a água e começam o vai e vem pelo rio. Noutros dias, a preparação faz-se também no ginásio ou nos simuladores de remo indoor. Devido ao elevado número de atletas, muitas vezes, é necessário os remadores

NA ÉPOCA PASSADA, a Académica sagrou-se campeã com 1379 pontos

darem lugar a colegas em terra. Não foi o caso desta sessão, pelas ausências de alguns seniores que estavam doentes. Pouco mais de uma hora depois, é hora de regressar a terra, lavar e recolher as embarcações. “Estamos mais fortes” A poucas semanas da Primavera, esta é a primeira prova do Campeonato Nacional de Inverno. O mau tempo e a greve dos árbitros têm adiado o arranque das provas pontuáveis. “Às vezes a motivação tornase difícil de gerir”, considera o treinador da Académica, Júlio Amândio.

Após a surpresa da vitória da época transacta, que pôs termo ao domínio do Clube Fluvial Portuense, o técnico antevê uma AAC “mais forte”. A vinda de novos atletas e a aposta na prova rainha dos campeonatos nacionais, com um novo tipo de barco, o Shell 8, justificam o optimismo. No entanto, Júlio Amândio acredita que “há clubes que não estiveram na luta o ano passado e que vão estar este ano, como o Futebol Clube do Porto”. O atleta sénior Pedro Gonçalves, de 19 anos, vive o seu primeiro ano neste escalão. “Não vou ter a mesma notabilidade que tive no ano passado, porque a competição é mais in-

tensa, mas quero manter sempre a mesma mentalidade de tentar ganhar”, sublinha. Relativamente à antevisão do Nacional Clubes, o jovem defende que “a Académica tem grandes capacidades de vencer a Académica do ano passado”. “Temos oportunidades para isso, bons atletas e instalações”, realça. No mesmo sentido, Júlio Amândio, que vai cumprir a segunda época em Coimbra, destaca o trabalho feito pela secção de desportos náuticos, que “aumentou o número de atletas e melhorou o aspecto desportivo, o que faz com que os outros clubes olhem para a equipa com outros olhos”. “Aqui vê-se dinâmica”, afirma.

da Lusofonia [em Lisboa, entre 11 e 19 de Julho deste ano]” é o seu grande objectivo. A prova teste para estes jogos é a Taça de Portugal, a disputar em 23 de Maio. Em relação ao futuro, o treinador José Martins assume que “a grande

aposta é no Campeonato Nacional de Combates de sub-21”. Para esta prova o técnico mostra-se optimista e confia mesmo que a equipa pode “fazer um brilharete”. A competição realiza-se a 9 de Maio, em Salvaterra de Magos.

Quatro atletas no pódio A Académica levou cinco atletas ao Campeonato Nacional de Seniores de Taekwondo e arrecadou quatro medalhas João Ribeiro Na prova disputada no Seixal, no passado sábado, dia 28, dos cinco atletas participantes, apenas Nélson Relvão, da categoria -80 kg, não conseguiu ficar entre os três primeiros. Sílvia Costa, -46 kg, e Filipe Ribeiro, -80 kg, conseguiram medalhas de prata. Hugo Magalhães, -58 kg, e Cláudia Ribeiro, -67 kg, ficaram em terceiro lugar. Na apreciação do treinador, José Martins, “o torneio correu muito bem”. Para o técnico, os resultados não foram melhores pelo

facto de a equipa academista concorrer apenas com dois atletas seniores, sendo os restantes juniores. José Martins realça ainda as provas de Cláudia Ribeiro e Filipe Ribeiro. O treinador chama a atenção para a participação destes desportistas que “tiraram o lugar a atletas que já estavam no pódio há algum tempo”. Filipe Ribeiro venceu quatro, dos cinco combates que disputou, perdendo apenas na final da sua categoria. O medalhado aponta “o cansaço e as lesões” como os grandes impedimentos para a obtenção do ouro. Para o futuro, o atleta quer “continuar a treinar para tentar ganhar sempre”. Hugo Magalhães, medalha de bronze na categoria de -58 kg, considera a sua participação positiva. “Estive parado bastante tempo e só voltei agora à competição”, explica o atleta. “Concorrer aos jogos

D.R.


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DESPORTO

REMODELAÇÃO DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

Projecto à espera de verbas

BASQUETEBOL SÓNIA FERNANDES

Com plano já desenhado, o estádio aguarda uma intervenção sucessivamente adiada. Campeonato europeu de ténis exige reestruturação imediata Catarina Domingos Sónia Fernandes Dentro de um ano e quatro meses, o Estádio Universitário de Coimbra (EUC) vai acolher o Campeonato Europeu de Ténis Universitário, que vai trazer à cidade cerca de 300 atletas de 12 a 14 países. A prova vai obrigar à intervenção nos courts de ténis, mas a requalificação total do EUC já se coloca há vários anos. Na margem esquerda do Mondego, o complexo desportivo, inaugurado em 1963, apresenta condições precárias nos balneários, coberturas, pisos dos pavilhões e espaços exteriores. O Pavilhão 1, inaugurado em 1967, suportou concertos, eventos e edições da Festa das Latas durante largos anos. O campo pelado, ao lado esquerdo do Pavilhão 1, recebeu a edição 2006 da Latada, que danificou o sistema de escoamento do terreno. O campo principal, onde actua a equipa sénior de futebol da Associação Académica de Coimbra (AAC), é envolvido por uma pista de atletismo em elevado estado de degradação, desnivelada, já só feita em terra. A velha tribuna deste campo, que serve de balneário, está despida e também ela espera uma remodelação. Mais à frente, três courts de ténis, envolvidos por cedros, estão desactivados, cobertos de vegetação rasteira que já não deixa ver o piso. Às restantes instalações faltam novas valências que as tornariam mais modernas. Em 2004, a requalificação do complexo desportivo parecia ganhar forma com a constituição de uma Comissão para o Desenvolvimento do Estádio Universitário, que terminou o seu trabalho em 2006, com a elaboração de um projecto para remodelar todas as instalações. Inicialmente avaliado em 20 milhões de euros, o projecto contempla a demolição do edifício dos serviços administrativos, do Pavilhão 2, do mini-pavilhão e da antiga piscina. Quanto a construções de raiz, nasce o Centro Desportivo, na qual as secções desportivas da AAC ficam alojadas; e o Centro Aquático, para a natação, squash e sala de musculação. O director do EUC, Joaquim Vieira, estima que de 2006 até agora o projecto esteja avaliado em 27 milhões de euros. No entanto, a obtenção de financiamento tem sido um

obstáculo. Como o Quadro Referência de Estratégia Nacional (QREN) “não teve nenhuma linha para o desporto universitário”, o EUC está a tentar uma candidatura individual à entidade. A Fundação Cultural da Universidade de Coimbra, da qual o estádio faz parte, também é uma esperança, segundo o responsável, “de poder tentar arranjar financiamento de uma maneira própria”. De acordo com Joaquim Vieira, as fontes de verbas, datas de arranque e conclusão das obras são pontos indefinidos.

HÓQUEI EM PATINS A equipa feminina de hóquei em patins da Académica foi até Portimão vencer o Hóquei Clube local, por 1-3. A equipa de Sérgio Gama soma assim 16 pontos, permanecendo no oitavo lugar do Campeonato Nacional Feminino Zona Sul. A AAC joga a próxima ronda em casa, defrontando o Roller Lagos CP, uma partida que encerra a fase regular da prova.

Contagem decrescente para 2010 A pouco mais de um ano do início da prova europeia universitária, os nove courts de ténis vão sofrer uma remodelação. “Os seis pisos que estão em piso sintético vão ter bancadas e os campos desactivados de pó de tijolo vão dar lugar a dois campos cobertos”, explica Joaquim Vieira. Para a execução do plano, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) vai dar um apoio financeiro de 50 mil euros. O vereador do desporto, Luís Providência, justifica o suporte com a vontade de “dar as melhores condições a quem visita Coimbra”. Ainda assim, o vereador recusa para já a ideia da autarquia ajudar na requalificação total do EUC, avançando que esta é uma tarefa que compete ao governo. “Não queremos, nem podemos substituir o governo nesta tarefa”, afirma. Para o coordenador-geral do desporto da Direcção-Geral da AAC, Rafael Ferreira, apesar de no estádio “ser tudo prioritário”, o objectivo é ter “tudo pronto para o europeu de ténis, três a quatro meses antes”. Para a prova de 2010, o responsável pela ligação entre a faculdade de Desporto e o EUC, Miguel Fachada, acredita numa “requalificação estratégica para além do período do campeonato europeu”. No mesmo sentido, Joaquim Vieira defende que se deve “tentar fazer algo que não seja só para o campeonato”. Há cinco anos como director do EUC, Joaquim Vieira aponta como razões do adiamento das obras, a falta de financiamento directo e a prática desportiva pouco incrementada. No entanto, salienta a importância de ter um plano elaborado. “A dificuldade de ter projectos está ultrapassada. Agora falta o financiamento, porque a requalificação urge”.

A equipa sénior de basquetebol da Associação Académica de Coimbra (AAC) venceu em casa o Illiabum por 76-75. O triunfo só foi conseguido nos últimos quatro segundos, com um triplo de Fernando Sousa. Com esta vitória, a equipa de Norberto Alves encontra-se no quarto lugar, com 39 pontos. Na próxima jornada, recebe o Vitória de Guimarães, no Pavilhão Multidesportos.

RÂGUEBI A AAC perdeu por 2214 com o Vitória de Setúbal, em jogo em atraso da 14ª jornada do Campeonato Nacional de I Divisão. A equipa de Sérgio Franco continua assim na liderança do campeonato, com 48 pontos. O próximo embate é dia 21 de Março frente à Escola Agrária de Coimbra.

FUTEBOL A Académica SF empatou a zero frente ao S. Pedro Alva. Com o empate sofrido a Académica soma 41 pontos no Campeonato Distrital 1ª Divisão Série A, com 41 pontos. Na próxima jornada, a AAC recebe no Estádio Universitário o Grupo Desportivo Arouce, encontro que põe termo à primeira fase da competição. NOS COURTS DESACTIVADOS vão nascer dois courts de ténis com cobertura

Sara Galamba PUBLICIDADE


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35 mm Realizadores e cinéfilos apontam parca projecção de Coimbra no cinema nacional. Festivais e mostras assumem papel de dinamização de diversidade de oferta cinematográfica na cidade. Por Diana Craveiro e João Miranda astava ver a pequena sequência da panorâmica sobre a avenida marginal do Mondego, com a Alta a escalar pela universidade, para qualquer um depreender onde foi filmada a curta-metragem “Respirar (Debaixo D’Água)”, de António Ferreira. Aliás, quando questionados sobre metragens filmadas em Coimbra, “Respirar (Debaixo D’Água)” foi o filme que mais depressa os cineastas e estudiosos do cinema mencionaram. De resto, “temos o ‘Rasganço’, da Raquel Freire; o ‘Verdes Anos’, do Armando de Miranda e… Ah! ‘Há o Capas Negras’... Não me lembro de mais nenhum…”. “Eu diria que a projecção de Coimbra no cinema português é quase nula”, lamenta António Ferreira, porque a cidade “é um bocadinho vazia do filme português ou como palco no cinema português”. A opinião é partilhada por todos os cinéfilos. Quando comparada com outros centros urbanos, como Lisboa ou Porto, Coimbra assume um papel menos que secundário,

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como cenário da produção cinematográfica nacional. Uma explicação pode estar na inexistência, na cidade, de uma vertente pedagógica mais prática direccionada para o cinema. “O Porto, apesar de não ser um centro cinematográfico, tem escolas de cinema com bastante actividade e isso reflecte-se”, acredita o realizador. E aponta uma solução: “se houvesse em Coimbra uma escola, com uma vertente prática forte, em que as pessoas saíssem de lá a saber fazer filmes, e não só a saber falar sobre eles, isso iria implicar um aumento de produção na cidade”. Outra razão apontada pelo também fundador da produtora conimbricense Zed Filmes prendese com os meios que a sétima arte acarreta, que, no entender de António Ferreira, estão centralizados em Lisboa. Opinião contrária tem o realizador de “Peixe Fora D’Água”, Paulo César Fajardo, que explica que “Coimbra tem sido palco de vários trabalhos, sobretudo de época, tanto em cinema como em televisão, e principalmente a zona da

Baixa tem garantido de alguma forma essa originalidade que nos transporta à altura do Bocage, por exemplo”. “Coimbra sem dúvida que ainda é um pano de fundo por excelência para se realizar trabalhos”, defende. Fajardo explica

“Coimbra não tem estruturas de produção que chamem pessoas para cá” ainda que existem muitos realizadores naturais de Coimbra que abandonam a cidade para desenvolver projectos, mas que acabam por voltar, “como é o caso da Raquel Freire, do João Lopes, ou do falecido José Álvaro Morais, que são grandes autores que, por terem a sua origem aqui na região Centro, acabam por regressar e evidenciar a região”. Independentemente das opiniões que defendam, todos con-

cordam numa ideia: “Coimbra tem, do ponto de vista do cenário natural e do cenário construído, espaços notáveis para funcionar como cenário de um filme de ficção”, como defende o docente da Licenciatura de Estudos Artísticos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Abílio Hernandez.

Número de salas não significa variedade Também a falta de meios impossibilita o crescimento da produção cinematográfica na cidade. “Coimbra não tem estruturas de produção que chamem pessoas para cá”, explica Abílio Hernandez, que aponta a Zed Filmes como exemplo de coragem e de contrariedade à situação. A solução encontrada por Paulo César Fajardo passa pela criação de meios de realização cinematográfica. “Era necessário que existissem várias plataformas a nível de produção alojadas aqui na região Centro”. Contudo, segundo o reali-

zador, esta questão não deve ser entendida como uma limitação à produção cinematográfica: “basta que os autores queiram usar Coimbra como o pano de fundo nas suas histórias e tudo o resto acaba por se ir influenciar”. A relação da cidade com o cinema está também patente na falta de espaços e de diversidade na projecção de metragens. “Coimbra tem muitas salas de cinema, mas é como se não tivesse, porque essas salas, dos centros comerciais, pertencem à mesma empresa, a Lusomundo. E essas salas, de um modo geral, são programadas em Lisboa na sede da empresa”, argumenta o docente da FLUC. Com o encerramento das salas de cinema do Centro Comercial Avenida e do Teatro Sousa Bastos, a projecção cinematografia ficou confinada às salas dos grandes centros comerciais. Segundo Abílio Hernandez “as salas de cinema que existiam em Coimbra progra-


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TEMA

D.R.

Falta de apoios ao cinema documental João Miranda

A METRAGEM “Respirar (Debaixo D’Água)” é dos puocos filmes a ter como pano de fundo a cidade de Coimbra

mavam-se. Não estavam tão dependentes do planeamento das distribuidoras e exibidores”. Para o docente, a única sala em Coimbra que recupera os filmes mais desligados da vertente comercial é o Teatro Académico de Gil Vicente,

“Há muitos filmes de qualidade que ou o conimbricense vai ver a Lisboa ou fica à espera do DVD” embora, sempre com um atraso em relação à apresentação, porque “se estreasse ficava sujeito à programação das distribuidoras”. “Há muitos filmes de qualidade que ou o conimbricense vai ver a Lisboa ou fica à espera de comprar o DVD”, conclui. A solução passa, se-

gundo o membro do Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra (CEC) e director do festival Caminhos do Cinema Português, Vítor Ferreira, pela edificação de um espaço polivalente e acessível a toda a população de Coimbra, em que pudessem ser projectados filmes fora da lógica do mercado.

A importância dos festivais Num plano de falta de diversidade na oferta de cinema em Coimbra, as iniciativas de mostra cinematográfica assumem um papel determinante na divulgação de metragens nacionais. “O festival já tem bastante relevância a nível nacional e é uma iniciativa de referência. Por cá, têm passado grandes cineastas e grandes filmes a que de outra forma não teríamos acesso”, acredita Paulo César Fajardo. Também Abílio Hernandez destaca a importância do festival e aponta duas necessidades para o

evento: “em primeiro, uma organização mais cuidada e possivelmente um trabalho mais aprofundado na sua produção e, em segundo lugar, um apoio maior da própria cidade, uma vez que do ministério vai tendo algum apoio menor ou maior, mas lá vai tendo algum apoio”. Outra iniciativa que dá os primeiros passos é o Mostralíngua, que segundo Abílio Hernandez destaca a apresentação de produções mais pequenas e independentes. Contudo, Vítor Ferreira refere que a cidade carece de mais iniciativas e critica “a inércia de algumas associações e cineclubes e a falta de apoios”. Por seu lado, António Ferreira considera que “Coimbra não está mal servida a esse nível” e acusa a população conimbricense de se lamentar pela falta de iniciativas e não participar nas que já existem: “as pessoas em vez de se queixarem mais, deviam queixarse menos e comparecer mais”. Com Tiago Carvalho, Maria Eduarda Eloy e Andreia Patrícia Silva

“No cinema documental, em contraste com o cinema do resto do mercado, em vez de ser a produtora a propor aos realizadores realizar determinada obra, parte dos próprios realizadores apresentar às produtoras propostas”, explica o realizador do documentário “Futebol de Causas”, Ricardo Martins, que lembra as dificuldades que lhe surgiram no período de produção: “tive que pedinchar à câmara e fazer muita força para que me cedesse imagens e ainda assim não cedeu gratuitamente, e recebi apenas uma pequena percentagem das imagens. Deparei-me com uma falta gritante de apoios”. Ricardo Martins lamenta a falta de apoios ao cinema documental e aponta o dedo à perspectiva que as instituições “de ver o cinema documental como uma subcultura ou uma produção para uma minoria e não ver como uma marca de pretender relevar dados históricos”.

Também Abílio Hernandez critica a forma como o cinema documental é encarado e elenca algumas soluções: “é preciso é que o documentário seja tratado com a mesma dignidade do filme de ficção. E que não seja apenas reduzido ao chamado filme turístico, que no fundo é uma colecção de bilhetes-postais”. “O documental como género cinematográfico maior pode ter em Coimbra um espaço de desenvolvimento. Coimbra é uma cidade, embora muito estragada, que tem muitos sítios belíssimos para poder ser transformada em imagens de filme”, acrescenta. Para o realizador de “Ainda Há Pastores, Jorge Pelicano, “é possível fazer documentários em todo o lado. A cidade de Coimbra também é um desses sítios”. Segundo o realizador “é preciso é haver histórias e alguém se interessar em fazer histórias sobre a cidade de Coimbra ou que englobem a cidade de Coimbra”. Com Maria Eduarda Eloy e Andreia Silva

Cinema na Academia Diana Craveiro São vários os nomes de cineastas que passaram por Coimbra. Raquel Freire, autora de "Rasganço", estudou Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (UC). João Botelho, que realizou filmes como "Quem és tu?" e "A mulher que acreditava ser Presidente dos Estados Unidos da América", frequentou o curso de Engenharia Mecânica na Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, tendo sido também director do CITAC. A Academia de Coimbra e o cinema português têm uma relação que Vítor Ferreira considera "privilegiada". "A associação académica, antes de ser uma escola de cinema, é uma escola de vida", defende, "e essa escola de vida pode-se repercutir, ou não, nas obras que esses realizadores depois fazem ao longo das suas carreiras". A Associação Académica de Coim-

bra (AAC) tem todos os anos o festival Caminhos do Cinema Português, uma iniciativa que Abílio Hernandez, docente da Faculdade de Letras da UC, pensa ser acompanhada pelos universitários, mas que não pode ter a ambição de um grande público, porque "os grandes públicos são para os grandes êxitos comerciais e esses nem sempre têm qualidade artística". Vítor Ferreira defende que o festival Caminhos do Cinema Português tem um determinado público, que "consome regularmente ano após ano" e lamenta que não haja mais iniciativas do género na cidade. Com mais ou menos festivais, Coimbra vai estando ligada a alguns filmes e, se a cidade pode influenciar os filmes de um realizador, Vítor Ferreira pensa que estes seriam ainda melhores "se em Coimbra existisse um curso muito mais técnico". Com Maria Eduarda Elloy e João Miranda


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CIDADE

CASA DOS POBRES DE COIMBRA

Um espaço sem espaço SARA GALAMBA

As novas instalações para a Casa dos Pobres deixam para trás um velho edifício desgastado que há muitos anos acolhe vários idosos Virgínie Bastos Sara Cruz Cristiana Domingues Marta Pedro Da Praça do Comércio vê-se uma janela onde uma idosa descansa e vai observando quem passa. Num corredor frio e escuro vê-se luz de uma porta verde que nos convida a entrar. As poucas mas largas escadas trazem consigo a ansiedade de quem não sabe o que vai encontrar. Para além de uma antiga pensão, este espaço é hoje a Casa dos Pobres. As escadas abrem espaço para um corredor apertado ao ar livre, onde os utentes se juntam. Os raios de sol batem sobre a cara dos cerca de dez idosos que ali estão, sem os agitar demasiado."O tempo vai-se passando", deixa escapar uma idosa, recostada num pequeno sofá. As pernas cobertas por uma manta esfarrapada não cobrem as mãos enrugadas que pegam num espelho e o olhar inquieto de quem anseia ver o tempo passar. 14h45m. O grande relógio, colocado à vista de todos os visitantes, passa despercebido aos que ali vivem. O som dos ponteiros incomoda o silêncio.

À direita, na velha mas acolhedora sala de jantar, estão duas mesas que se alongam para dar lugar a uma sala de estar com sofás e uma televisão antiga. Nas paredes, imponentes quadros de ‘Grandes Amigos da Casa dos Pobres’ contrastam com os trabalhos coloridos: as flores e as cartolinas educativas que tentam dar cor a uma sala com pouca luz. Ao lado, três cozinheiros limpam afincadamente a cozinha."É pequena mas é o que há", comentam. Os inúmeros utensílios espalhados parecem encolhê-la ainda mais. Tachos, talheres e pratos sobrepõem-se sobre uma pequena mesa que ocupa quase toda a cozinha. Escondida, uma porta da cozinha, parecendo que não ia dar a lado nenhum, leva-nos para os quartos do primeiro andar. Alguns decorados com figuras religiosas, outros com fotografias de familiares contrastam com alguns posters pornográficos. Outros estão vazios e sem vida. Os medicamentos espalhados pelas mesas de cabeceiras predominam, são quase personagens secundárias. Um outro corredor estreito que não permite que mais de duas pessoas o atravessem, leva-nos às escadas do segundo andar. Os quartos são bastante semelhantes, mas com mais uma cama do que no andar anterior. A degradação parece não ter medo de subir as escadas. Num dos quartos, uma senhora cose uma blusa. A vista treme-lhe a cada dedada, mas ela resiste e continua. No gabinete médico, o sorriso do enfermeiro debate-se com dificuldade em arranjar espaço para as

A CASA DOS POBRES acolhe 49 idosos com poucas possibilidades

dezenas de medicamentos que invadiram a sala. É jovem e é uma visita constante do lar. Ao virar a esquina da parede enrugada pela tinta, uma senhora desce vagarosamente pelas escadas. As suas pernas estão em ferida e apoia-se por uma frágil bengala."A velhice traz-me tudo", lamenta-se enquanto as escadas parecem complicar-lhe a vida. No corredor cadeiras de rodas e mesas de servir amontoam-se, dificultando a passagem. Na sala de convívio sente-se o ambiente diferente da sala de estar do andar de baixo. Sentados em pequenos sofás, oito idosos com expressões semelhantes, olham-se e não dizem nada, quietos vêem o seu corpo ser agitado por uma das 23 funcionárias da instituição, cuja com-

panhia parece indiferente. O silêncio torna o espaço frio. Uma manta que cobria os pés é agitada, a reacção não é nenhuma, o olhar continua vago. Minutos depois, um jovem entra na sala. Sorri. Vai direito a uma das idosas e carinhosamente cumprimenta-a. Espalhadas pelos quatro andares do edifício existem cinco casas de banho. A tinta vai caindo aos poucos, a humidade parece morar por ali e os equipamentos são "os que se vão arranjando", confessa uma das responsáveis pela instituição. A paisagem da janela do terceiro andar é coberta por inúmeros lençóis. Ao lado, na lavandaria, umas mãos irrequietas tentam conter os montes de roupa que parecem ter vida e que ameaçam cair a cada segundo.

No pátio do primeiro andar, onde o sol aquece os corpos quietos, ouvese uma gargalhada, fala-se do passado e do que se deixou para trás. Num minuto, o silêncio volta. Olham-se e voltam a entreter-se consigo mesmos. Um idoso entra e procura que alguém lhe ceda o lugar. "Ficas em pé", ouve-se. Em breve a falta de espaço que coabita com os 29 idosos da Casa dos Pobres, deixará de ser uma preocupação. As novas instalações em S. Martinho do Bispo estão prontas. Acostumados ao que têm e à azáfama deste lado do rio, a maioria prefere ficar por aqui. Aqui num velho edifício onde os passos das pessoas, os sons estranhos que passeiam pela rua conseguem vencer a frágil madeira e vão fazendo companhia à solidão.

meios de comunicação nunca foram capazes de apostar numa verdadeira política que dê voz ao resto do país, incluindo Coimbra” explica Adelino Gomes, concluindo que “o papel das delegações regionais é cada vez mais reduzido”.

A projecção de Coimbra na RTP é defendida pelo provedor do telespectador, Paquete de Oliveira, que apesar de concordar com a pouca visibilidade da cidade nos noticiários de prime-time do canal, certifica que o programa Portugal em Directo “lhe dedica bastante atenção”. Um presente sem visibilidade nacional assombra Coimbra. “Uma cidade de referência a nível cultural, com um vector forte que é a saúde, devia garantir mais mediatização” defende o provedor do telespectador da RTP. “Os telespectadores dizemme que Coimbra devia ser mais difundida, porque para eles existem sempre coisas a acontecer”, acrescenta. A falta de acontecimentos de relevância que destaquem a cidade contribui para a situação actual. “A culpa é certamente dos jornalistas que não estão a cumprir bem a sua função, mas pode ser também de Coimbra”, sustenta Adelino Gomes. Para que se volte ao destaque do passado, “é preciso que Coimbra tenha algo para dizer”, conclui o provedor da RDP.

A voz de Coimbra sem eco nacional A importância de Coimbra para os media nacionais está longe de encher manchetes. O pacifismo dos habitantes é apontado como uma das causas Sónia Fernandes Marta Pedro “Mas onde é que estão as coisas interessantes que se deviam estar a passar em Coimbra?” questiona o provedor do ouvinte da Rádio Difusão Portugal (RDP), Adelino Gomes. Se há cerca de 20 anos atrás as notícias diárias de Coimbra eram comuns nos media nacionais, hoje em dia isto não é uma realidade. A difusão da cidade dos estudantes é cada vez menos notória e “já nem a Queima das Fitas tem importância” argumenta Adelino Gomes. Com apenas dois jornais locais diários, “As Beiras” e o “Diário de Coimbra”, “os acontecimentos da cidade não vão

para além dos seus limites geográficos naturais”, como afirma Mário Bettencourt Resendes. O provedor do leitor do Diário de Notícias acredita que as “responsabilidades são repartidas entre os habitantes e as autoridades eleitas”, justificando assim a falta de mediatização que se verifica. Quando se fala de delegações regionais dos vários meios de comunicação de difusão nacional, denota-se uma fraca presença na cidade. Os números comprovam-no. Apenas dois jornais de grande tiragem têm repartições localizadas em território conimbricense, o Jornal de Notícias e o Correio da Manhã. Contudo, como esclarece Mário Bettencourt Resendes, “o destaque de Coimbra resumese aos casos do dia”. Antena 1, Cidade FM, Mega FM e a Rádio Clube Português assumem-se como as rádios de maior difusão com presença regional em Coimbra. A diminuta presença da cidade no panorama radiofónico é injustificável para o provedor do ouvinte da RDP que quer “acreditar que Coimbra seja muito mais do que aquilo que se ouve

na rádio”. Notícia em vários jornais e rádios foi o despedimento de 14 funcionários da região Centro, pela delegação da TVI-Coimbra, em Dezembro de 2008. Este facto estendeu-se também a várias comissões de Coimbra. “Os

ANDRÉ FERREIRA

NOS VÁRIOS JORNAIS diários nacionais denota-se a fraca presença de Coimbra


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PAÍS & MUNDO SERVIÇO MILITAR OBRIGATÓRIO D.R.

EM OUTUBRO DO ANO PASSADO os militares deram voz ao seu descontentamento

“Ténue linha entre servir e mercenarismo” O fim do Serviço Militar Obrigatório transformou as Forças Armadas Portuguesas. Responsáveis afirmam que o país tem hoje menos militares, mas mais bem preparados nas suas fileiras Rui Miguel Pereira Luis Simões Passaram quase cinco anos desde o fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO). Por esta altura, saber marchar ou ir à inspecção deixou de ser um requisito para qualquer jovem português. Actualmente tudo se resume a uma visita de um dia a uma unidade. Foi em 2004 e com o apoio do PS, CDS/PP, PSD e BE que o Ministro da Defesa, Paulo Portas, pôs fim ao SMO. Ao contrário do que aconteceu em países como a Alemanha, Portugal não referendou esta alteração. A primeira contrariedade sentida, com o fim do SMO, foi a descida do número de militares no activo. Em 2004 existiam 18 383 militares nos quadros permanentes das Forças Armadas Portuguesas (FAP), já em 2008 esse número baixou para 17 580. Também os militares em regime de voluntariado e contrato baixaram de 20 436 militares para 19 137

militares. O coronel da Força Aérea, Luís Fraga, alerta para o facto de não existirem "reservas em número suficiente para enfrentar uma situação de conflito com larga duração temporal", ainda que o número actual permita às FAP cumprir as missões a que estão adstritas. No mesmo sentido, um dos responsáveis pela revista militar Operacional, Miguel Machado, afirma que "sem SMO, a capacidade de mobilização em grande escala, seja para responder a um conflito ou seja para responder a situações de emergência grave, como catástrofes naturais, é claramente menor".

A fragilidade na hora da recruta Na opinião do presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Lima Coelho, existe uma "degradação da exigência" para o ingresso nas FAP, pois "quando existem determinados tipos de exigências físicas, muitos jovens têm dificuldades em cumpri-las na totalidade". Ainda assim, apesar desta degradação, é cada vez mais evidente a dificuldade em recrutar jovens para suprimir esta tendência, segundo o presidente da ANS, "hoje, muitas das vagas que estão em aberto não são preenchidas". O também professor da Universidade Aberta, Luís Fraga, mostra que, com o fim do SMO, a formação de um militar ficou mais cara

para o país, com a agravante de se apresentarem a concurso para "profissionais militares, indivíduos com um nível de formação escolar muito mais baixo". Tanto Lima Coelho como Luís Fraga apontam como único ponto positivo, no fim do SMO, o facto de a profissionalização contribuir para uma melhor preparação técnica dos militares.

O descontentamento dos militares portugueses O Orçamento de Estado (OE) para 2009 contempla um aumento de 3,9 pontos percentuais, em relação a 2008, para o Ministério da Defesa, sendo que um dos maiores aumentos se destinou às forças destacadas no estrangeiro, 20,7 por cento. Um diploma importante é a Lei de Programação Militar de 2006, neste momento a ser revisto, que contempla a modernização das FAP. Segundo o ministério, estes investimentos são "equilibrados" e vão ocorrer de forma "faseada". O presidente da ANS tece duras críticas aos cortes de encargos com a saúde dos militares, incluindo o agregado familiar, presentes no OE, menos 35 por cento: "um militar não pode estar preocupado se, na sua retaguarda, a sua mulher tenha ou não assistência na doença. Isso causa uma desmotivação, insatisfação e uma perda cada vez maior do sentido desta necessidade permanente de disponibilidade".

Ainda em Outubro do ano passado o General Loureiro dos Santos veio a público denunciar o mal-estar vivido nas fileiras das FAP, resultado da política financeira adoptada pelo governo. Lima Coelho revê-se em parte nestas declarações e afirma que muitos militares se vêem forçados a ter outra ocupação nas horas de descanso para responder às ne-

O fim do Serviço Militar Obrigatório ditou a redução dos Quadros nas Forças Armadas cessidades do agregado familiar e que "pontualmente, dos mais velhos aos mais novos, podem surgir atitudes de desespero". O Coronel Luís Fraga concorda e acrescenta que "isso deve ser feito segundo regras e normas que estão consignadas na Lei". Um dos problemas levantados na discussão sobre o SMO foi a possível mercenarização das FAP e o que isso poderia significar para

uma instituição com a função de assegurar a soberania. Lima Coelho mostra-se preocupado com o materialismo de jovens que seguem a carreira militar e afirma que a interrogação, na hora de ingressar, não deve ser “o que é que eu vou ganhar com isso?”. Para o presidente da ANS existe uma "ténue linha entre servir e mercenarismo". O coronel da Força Aérea, Luís Fraga, crê que "o ingresso nas Forças Armadas por razões meramente económicas é a pior de todas as razões para se escolher servir o país", acrescentando com ironia que "umas Forças Armadas onde a única motivação é o dinheiro que se recebe no final do mês assemelha-se a um bando de pardais que foge ao m e n o r ruído".


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PAÍS & MUNDO TRIBUNAIS INTERNACIONAIS

Uma justiça de colaboração O tabuleiro político mundial dita a imperfeição da justiça internacional. Ainda assim, o Tribunal Penal Internacional assume-se, cada vez mais, como um caso de sucesso D.R.

Vasco Batista Rui Miguel Pereira A justiça internacional conheceu nos últimos 50 anos um importante desenvolvimento. Foi com o conhecimento das atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial que se abriram os olhos do Mundo para a necessidade de uma justiça de cariz internacional. Actualmente, o Tribunal Penal Internacional (TPI) e o Tribunal Internacional de Justiça (ver caixa), ambos com sede em Haia, assumem-se como órgãos fundamentais no direito internacional. O TPI absolveu, na semana passada, o antigo presidente sérvio Milan Milutinovic. Esta absolvição ocorreu no mesmo dia em que militares da ex-Jugoslávia, considerados aliados de Slobodan Milosevic, foram condenados a cumprir pena de prisão por levarem a cabo uma campanha de violência contra a população civil albanesa kosovar. Este tribunal, assim como outros internacionais, está dependente da colaboração dos estados que ratificaram os respectivos estatutos. Como explica o docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC), Francisco Ferreira de Almeida, o funcionamento da justiça internacional penal necessita da colaboração dos Estados. "Normalmente os arguidos estão no interior desse Estado, há polícias que conseguem fazer as detenções e cumprir os mandatos de captura. No plano internacional, é tudo mais complicado", mostra Ferreira de Almeida. É o jogo do "mundo das soberanias", conclui o investigador do Centro de Estudos Sociais, José Manuel Pureza.

O problema das soberanias Portugal ratificou o Estatuto de Roma do TPI em 2001, obrigando desde logo a alterações nas leis nacionais. Mas muitos países, incluindo os Estado Unidos da América (EUA), China e Israel recusaram este tribunal. Para Pureza, a grande resistência destes países em aceitar este tribunal internacional assenta no receio de ver "os seus nacionais ou crimes praticados no seu território serem julgados por tribunais não nacionais". Ainda assim, com o assinalável sucesso dos Tribunais Penais Internacionais para o Ruanda e ex-Jugoslávia, os estados têm vindo a reconhecer a importância do Direito Internacional, pelo que já não se "aceita que o conceito de soberania seja um conceito absoluto", explica Ferreira de Almeida.

Apesar da importância incontornável dos órgãos judiciais, o risco de politização inerente a essas instâncias mostra-se inegável. "A dimensão política nunca está totalmente ausente das Relações Internacionais e não podemos ter a pretensão de que as coisas se coloquem num domínio estritamente jurídico", relembra o docente da FDUC. De facto, é "uma imperfeição própria da justiça internacional", pelo que "temos de aceitar isso naturalmente", acrescenta. Neste sentido, o TPI é visto com alguma desconfiança, face ao limitado alcance jurisdicional que

Enquanto existirem Estados a patrocinar actos criminosos, tem de haver tribunais penais internacionais revela. "Nunca vemos nacionais dos EUA ou da China a serem julgados, mas é preferível que alguns vão sendo julgados, pois justiça igual para todos dificilmente haverá, pelo menos, nos tempos mais próximos" alerta o docente.

Tribunais com futuro Paralelamente, os indíviduos são sujeitos de direito internacional, pelo que, nessa qualidade, têm direitos e obrigações. Uma vez que há crimes "patrocinados pelos estados", tem de haver instituições internacionais que julguem essas pessoas. "Não são crimes que possam ser julgados internamente", destaca Ferreira de Almeida. José Pureza realça que "o caminho é muito incipiente", mas que "os próximos anos trarão solidez a esses tribunais" e que "a viabilidade ao TPI irá influenciar a viabilidade dos outros tribunais internacionais". Por sua vez, Ferreira de Almeida refere que "há uma conjuntura mais favorável para que esses tribunais possam funcionar no futuro". O TPI, afirma José Pureza, é o "caminho certo para a afirmação de uma justiça permanente e aberta". A este respeito, o docente da FDUC refere que se "pensarmos no que se passou no pós-Segunda Guerra Mundial, foram alcançados marcos muitos importantes" até aos dias de hoje. É certo que ainda "subsistem imperfeições", mas foram precisas muitas décadas para os avanços registados e "é essa a mensagem que devemos passar", finaliza Ferreira de Almeida.

O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL tem sede permanente em Haia, na Holanda

TRIBUNAL EUROPEU DOS DIREITOS DO HOMEM

TRIBUNAL INTERNACIONAL DE JUSTIÇA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DAS COMUNIDADES EUROPEIAS

Cabe a este tribunal vigiar o cumprimento da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (CEDH), assinada por países europeus. Na opinião do docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Afonso Patrão, este tribunal representa "o mais perfeito mecanismo internacional de protecção dos direitos fundamentais". Um particular pode a ele recorrer quando um Estado, vinculado à CEDH, viole os direitos nela consagrados. R.M.P.

Este tribunal, órgão da ONU, não permite a participação directa dos particulares, estando reservado aos litígios entre Estados. Os Estados só se submetem à jurisdição deste tribunal se o consentirem, sem este consentimento não podem ser julgados. Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Afonso Patrão, apesar deste determinante requisito "não parece haver alternativa a esta solução". R.M.P.

A missão essencial desta instituição consiste em apreciar a legalidade dos actos comunitários e assegurar a interpretação e aplicação do direito comunitário. Apesar de algumas limitações no que concerne à legitimidade dos particulares e ao poder sancionatório sobre os Estados, o docente da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Afonso Patrão, considera que o Tribunal de Justiça é um tribunal “especialmente eficaz”. R.M.P.


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CIÊNCIA & TECNOLOGIA TIAGO CARVALHO

NAS VISITAS GUIADAS AO BOTÂNICO são muitas as árvores que cativam a atenção de quem o visita

ESPAÇOS RESERVADOS DO BOTÂNICO

Plantas por descobrir... A paz que envolve o Jardim Botânico da UC convida os conimbricenses, e não só, a visitá-lo. Contudo, nem todas as zonas estão abertas ao público. Fomos acompanhar uma visita e partimos à descoberta das partes mais reservadas. Por Diana Craveiro e Patrícia Neves O Jardim Botânico da Univeridade de Coimbra (JBUC) é um dos mais importantes a nível nacional e alberga plantas de todo o mundo. Mandado construir pelo Marquês de Pombal, o jardim tem um papel relevante na preservação de espé-

cies em vias de extinção. Em tempos, o Botânico servia apenas para os estudantes da Universidade de Coimbra estudarem possíveis medicamentos. Hoje em dia, possibilita um agradável passeio. A visita começa com uma breve

RHODODENDRON PONTICUM O rododendro é um arbusto da família das ericáceas que tem mais de 1000 espécies, entre elas as azálias. Cresce bem em solos ácidos e pode ser admirada com flor no JBUC nos meses de Abril ou Maio. Na reserva do Carimbo, no caramulo, há uma mata densa só com estes arbustos.

história sobre o jardim. O público, crianças do primeiro ciclo do ensino básico, demora algum tempo a concentrar-se devido à novidade da actividade. Depois das boas vindas, a primeira paragem são as estufas quentes que reproduzem o clima tropical, quente e húmido. A primeira, é a estufa mais pequena do jardim, onde cresce o maior nenúfar do mundo – a Victoria. O seu ponto auge de crescimento é em Agosto, quando a planta consegue suportar o peso de uma criança de 30 quilos. Da estufa pequena seguimos para uma maior. Aqui podemos ver uma grande variedade de plantas, desde a Mimosa Sensitive, que se encolhe quando lhe mexem, até à Cola, a planta que dá origem à Coca-cola. Ao lado da Mimosa Sensitive, está uma cana-de-açúcar. Para explicar a origem deste alimento, a monitora pergunta de onde vem o açúcar, ao que uma das crianças responde “Do açucareiro!”. Na mesma estufa podemos ver vários exemplares de plantas carnívoras que, na realidade, são todas pequenas. “Só nos filmes é que são grandes” revela a guia.

Uma parte do Botânico encontrase em obras de remodelação, reduzindo a visita. Mesmo assim, a monitora explica que é lá que se encontra a Árvore do Chile, actualmente em vias de extinção. Ao lado desta está a maior árvore do mundo, Sequóia, que, embora tenha apenas 120 anos, pode chegar aos dois mil e atingir cerca de 120 metros de altura. Atravessamos o jardim até a outra ponta, curiosos devido ao desafio da guia: “Acreditam em fantasmas? Vou mostrar-vos um!”. Não conseguindo assustar as crianças, a monitora guia o seu público até à Eucalyptus citriodora, uma grande árvore que deve o seu nome ao aroma a citrinos. “Cheira a limão!”, exclama um dos pequenos, ao que outro acusa: “Você andou aqui a esfregar limão!”. Esta espécie, oriunda dos desertos da Austrália, brilha à luz da lua, sendo por isso chamada de “fantasma do deserto”. A visita segue para a mata, outro dos locais vedado ao público por um grande portão, que está recheada de plantas bastante distintas. A Figueira Estranguladora, que tem dois tipos de raízes, atraiu logo a atenção dos mais pequenos pela sua al-

NEPENTHES

tura e envergadura. As raízes aéreas crescem dos ramos da figueira e formam estacas naturais para os segurar, já que estes ficam muito pesados ao longo dos anos. As raízes subterrâneas crescem à volta das outras plantas, “estrangulando-as”. Das plantas estranguladoras passamos para o Bambu. Oriundo da Ásia, esta espécie fora do seu meio natural cresce 30 centímetros em menos de uma semana, enquanto que no continente de origem cresce um metro no mesmo período de tempo. O último espaço visitado é a estufa-fria, onde é explicada a origem das plantas. Com recurso a um pequeno charco, a monitora explica que esta evolução se divide em cinco grupos: algas, musgo, fetos, plantas com pinha e plantas com flor e fruto. O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra promove actividades culturais todas as semanas para sensibilizar as pessoas para questões ambientais. Para este mês, o JBUC oferece workshops, visitas-ateliês, peddypapers e mesmo meditações guiadas para relaxar no meio envolvente natural.

VICTORIA Vulgarmente conhecida como ‘papa-moscas’, esta planta tem um líquido dentro do tubo que faz com que os insectos fiquem presos e sejam digeridos. Esta é a maneira que as plantas insectívoras têm para compensar a falta de nutrientes do "habitat" pobre em que vivem.

É a rainha dos nenúfares. Sendo uma planta aquática, é muito apreciada não só pela dimensão e morfologia das folhas como pela beleza e pela peculariedade das flores. Diz-se que as ‘mães-índias’, na Amazónia, colocavam os bebés nas folhas, como se estivessem num berço.


18 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

CINEMA

ARTES FEITAS

O Wrestler ”

R

DE DARREN ARONOSKY COM MICKEY ROURKE MARISA TOMEI EVAN RACHEL WOOD 2008

Quando um actor deixa de o ser CRÍTICA DE FRANÇOIS FERNANDES

andy “The Ram” Robinson é uma antiga estrela de wrestling que vai sobrevivendo a trabalhar num supermercado enquanto compete na “liga dos últimos” da modalidade. Mal tem dinheiro para pagar a roulotte onde vive e a sua única voz amiga é uma stripper. Um dia, após um violento combate, sofre um ataque cardíaco que o obriga a ser operado de urgência. Os médicos exigem um ponto final na sua carreira profissional, mas Hollywood já nos ensinou que nem tudo é assim tão fácil. Começando pelo inevitável: sim, é verdade que a performance de Mickey Rourke em “The Wrestler” é arrasadora em todos os sentidos. Não há volta a dar nem retórica que o possa negar. É daquelas certezas universais. Provavelmente mais incontestável que qualquer lei da física ou da química. No entanto, não é menos verdade que é algo injusto – especialmente para a concorrência - colocar Mickey Rourke no

papel de uma estrela dos anos 80 decadente e cheia de vícios pouco recomendáveis. Seria como se Aronosfy quisesse fazer um filme sobre uma vedeta caduca de um reality show e fosse buscar o Zé Maria (alguém ainda se lembra?). É um daqueles casos em que a linha que separa o actor principal do respectivo personagem se dissipa e o conceito de representação é inevitavelmente subvertido. Será Rourke a fazer Randy “The Raw”, ou pelo contrário, Randy “The Raw” é Rourke? Acima de tudo, “The Wrester” é uma flagrante submissão a um passado glorioso. Randy “The Raw” Robinson vive nos anos 80. Uma época em que a Nintendo NES era rainha e os Guns N’ Roses queimavam walkmans. É um homem encurralado numa época que não lhe pertence e que tudo vai fazer para voltar a sentir a velha glória - mesmo que isso lhe possa custar a vida. “Fuckin' 80's man, best shit ever!”, diz a personagem de Marisa Tomei a uma

dada altura. “Then that Cobain pussy had to come around and ruin it all”, responde-lhe Randy. Ao nível fílmico, Darren Aronosky segue a velha máxima do “less is more”. A grande parte do tempo limita-se a recorrer a planos frios e académicos, mas, quando a situação assim o exige, não tem medo de pegar na câmara para reproduzir o ambiente claustrofóbico e inquietante dos meandros das divisões regionais do wrestling profissional. Não deslumbra, é certo, mas o resultado final é claramente satisfatório. Menos satisfatória, porém, é a previsível linha narrativa, vista e revista dezenas de vezes – sem ir mais longe, temos, por exemplo, “Rocky Balboa”, um outro campeão a quem lhe é dada a oportunidade de regressar. Se não fossem as grandes interpretações de Rourke e de Marisa Tomei, o sentimento de déjà vu poderia tornar-se sufocante. Felizmente salvou-se antes de a contagem chegar aos três.

Coraline e a Porta Secreta”

C

oraline é a adaptação do conto homónimo de Neil Gaiman, famoso autor de romances e novelas gráficas de fantasia, plenos em bizarrias e humor negro muito “brit”. Trata a história de uma menina que vive desagradada com a maneira como os pais a tratam. Obcecados com o trabalho, não dão a atenção devida à sua filha. Enfadada, divertese a explorar os cantos da casa, até que, como “Alice no País das Maravilhas”, descobre uma porta para um mundo alternativo. É similar ao mundo real, excepto que ali tudo é divertido e mágico… incluindo os pais de Coraline, subitamente interes-

sados em tratar a sua filha como uma rainha. Mas nem tudo é que parece, e aquele mundo cheio de cor e alegria, esconde uma realidade muito negra. O conto é traduzido para o grande ecrã adoptando a técnica de “stop-motion”, pela mão de Henry Selick, realizador do seminal “Estranho Mundo de Jack”. Entre ecos do imaginário gótico de Burton e o tom surreal dos contos de Gaiman, Selick entrega um trabalho de animação esteticamente apurado, tecnicamente impressionante e, que por ser sustentado por técnicas artesanais, fica muito longe da plasticidade do “CG” das obras da

Dreamworks ou Pixar. Pena é que Coraline, ao contrário do que é habitual nestas andanças (e já agora, no imaginário de Gaiman), não tenha o sentido de humor muito apurado (facto a que a dobragem em português não é indiferente). Ainda assim, a riqueza narrativa de Coraline é enorme, dada a pletora de subtextos que se podem extrair do conto – qualidade comum aos melhores contos infantis. E só por esse facto, já vale a pena entrar na toca do coelho.

RUI CRAVEIRINHA

DE

HENRY SELLICK COM

ANA BOLA MARIA RUEFF NUNO LOPES 2009

No País das Maravilhas


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cabra | 19

ARTES FEITAS

OUVIR

LER

Contacto” adeo é Miguel Sar, um produtor madrileno, Para o Cosmos desde cedo intimamente ligado ao crescimento do e mais além movimento clubbing na capital espanhola. Começou a dar os primeiros passos na cena electrónica por volta de 1997, impulsionado por nomes como Basic Channel, Kenny Larkin, Jeff Mills ou Plastikman. As referências de então mantêm-se e estão bem patentes naquele que era um dos discos mais aguardados dos últimos tempos. Contacto é um álbum fiel às suas origens. Um trabalho onde se percebe o mundo onde Tadeo vive, uma ode cósmica à simplicidade. O cosmos é, aliás, uma das paixões de Tadeo. Ao que parece uma paixão que o acompanha desde criança, DE mutando-se ao ritmo dos bleeps e TADEO loops tão intensos na música do esEDITORA panhol... NET28 As expectativas de Tadeo para Contacto são baixas. Muito por 2009 culpa da distribuidora, o álbum foi editado com cerca de meio ano de atraso, o que no entender do produtor desvirtua o conceito do seu trabalho. “Contacto tinha um tempo e esse tempo passou”, mas para nós, Contacto cabe num espaço temporal bem mais amplo. Os loops não cansam. Revitalizam-se. Uma e outra vez... E mais outra... Fechar os olhos e embarcar na jornada hipnótica pode ser algo extremamente viciante. É-o, de facto. Estamos perante techno abstracto para pessoas abstractas. Não é algo que se dance apenas por dançar. A dança aqui é apenas um dos muitos estímulos condicionados a que o nosso corpo se sujeita involuntariamente. O álbum de estreia de Tadeo é, sem dúvida, um dos mais interessantes trabalhos deste ainda curto 2009, um álbum carregado de temas muito bem produzidos, que nos fazem vaguear entre Detroit e as coordenadas dub, tão naturalmente ligadas ao techno... Aqui ao lado mora a Net28, colectivo-mãe de muitas editoras madrilenas, tais como a Cyclical Tracks (editora de Tadeo), a Mupa, a Cmyk Musik ou a Apnea e através delas Espanha deu-nos a conhecer nomes tão ilustres como Alex Under, Imek ou Damián Schwartz. Depois de uma primeira compilação editada em meados de 2008, onde se mostravam trabalhos dos já referidos Alex Under e Damián, mas também do francês From Karaoke To Stardom, do britânico Kevin Gorman ou do alter ego de Tadeo, Circunbalation, surge no início deste 2009, Contacto, uma pérola raríssima e indispensável no panorama discográfico musical actual.

T

Budapeste ”

Livro não é CD

DE

CHICO BUARQUE EDITORA DOM QUIXOTE 2004

omecemos pelo princípio: a história. Temos José Costa, nome comum para personagem que começa comum, apagada quase, como manda a profissão que escolheu, ser escritor por conta de outrem. Ele cria, para outros assinarem. E vive feliz desse vampirismo literário que lhe rouba a autoria das suas obras. Casado, com uma daquelas relações a resvalar para o desencanto da classe média; explorado por um patrão que se diz amigo e sócio. Um dia, depois de um encontro internacional de escritores anónimos, José Costa é obrigado a pernoitar em Budapeste. E prende-se-lhe o ouvido e o coração à língua húngara. Começa aqui a jornada da personagem principal, que por amor à língua, e mais tarde a uma mulher, decide partir para Budapeste, para descobrir que segredos encerram as palavras e as sílabas que lhe despertam a atenção. Assim, começa a viver por temporadas, umas vezes no Brasil, com Vanda, a esposa legítima, a profissão legítima, a vida legítima. Depois, em Budapeste, com Kriska, a professora que lhe ensina a descodificar da “única lingua que o Diabo respeita”, segundo rezam as más línguas. Admito, quando o tirei da prateleira, a única coisa que me motivou o gesto foi mesmo o nome do autor. Por conhecer a

C

riqueza das letras de Chico Buarque, quis saber até que ponto não seria também um compositor feliz de narrativas mais longas que uma pauta de três minutos. E com efeito, Chico Buarque, o compositor está lá. Está lá quando a frase soa a rima, quando o parágrafo soa a canção para se ouvir mas não para ler. Mas é verdade também que pouco mais dessa magia se encontra no livro. Quanto à narrativa em si, por vezes, ficamos com a sensação que algo se perdeu pelo caminho, ou que o autor queria escrever duas histórias, a do escritor que escreve para que outro assine, e a de um escritor apaixonado por uma língua que lhe motiva uma vida nova. Assim, tudo junto, numa só, soa a solução fácil que não resulta nem para o tema da identidade e ficção, nem para o amor por um um dialecto diferente daquele com que crescemos a desconstruir o mundo. “Budapeste”, de 2003, não é a primeira obra de Chico Buarque, mas confesso que é a primeira que li e não me aguça os sentidos para as próximas. O titulo deste texto é roubado de uma frase encontrada numa crítica que versa sobre a mesma obra, e onde o autor versa sobre a diferença entre música e literatura. Não podia estar mais de acordo, pelo que espero que isso me desculpe a ousadia de cometer, também eu, o pecado das personagens de Chico Buarque.

SOFIA PIÇARRA

VER

Metropolis” o filme ‘Metrópolis’ só foi preservado um original incompleto e cópias incompletas de versões mais curtas e alteradas. Considera-se que mais de um quarto de filme possa estar perdido. Com esta versão que aqui vêem procurou-se montar todas as partes do filme que ainda resistem, de acordo com a versão de estreia”. A mensagem que inicia o filme deixa transparecer as constantes mutações que a metragem original, de Janeiro de 1927, foi sofrendo. Sobre a tutela da Friederich Wilhelm Murnau Stiftung, esta edição pretende recriar a versão projectada na estreia, em Berlim, e adopta a banda sonora original de Gottfried Huppertz. Em conjunto com os desenhos de Otto Hunte, Erich Kettelhut e Karl Vollbrecht e os efeitos criados por Eugen Schüfftan, Fritz Lang concebeu toda uma cidade erguida em altura e enterrada na profundidade do subsolo, numa linha que divide dois grupos muitos distintos. Os que habitam os fantásticos arranha-céus, que planeiam e dominam toda a cidade, que vivem entre os mais faustosos cenários, como é o caso de Johann Fredersen (Alfred Abel). No pólo oposto, debaixo do solo, vive-se num clima de laboração frenética que faz lembrar “Tempos Moder-

“Moloch!”

ANDRÉ TEJO

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior

FILME

Vale a pena A Cabra aconselha

EXTRAS

A Cabra d’Ouro DE

FRITZ LANG

Artigos disponíveis na: EDITORA DIVISA 2008

D

nos”, entre a massa operária e as máquinas de trabalho. Nada parece fazer alterar essa ordem lógica, até que um dia o filho de Fredersen, Freder (Gustav Fröhlich), conhece Maria (Brigitte Helm) e entra no mundo dos operários. Não fossem alguns extras estarem apenas veiculados em castelhano e poderíamos dizer que esta edição DVD, com dois discos, era perfeita. O primeiro é exclusivamente dedicado ao filme. O que pode parecer muito injusto dito assim, uma vez que a banda sonora foi remasterizada para Dolby Digital 5.1 e temos ainda a opção de assistir ao filme com os comentários do historiador do cinema, Enno Patalas. No segundo disco, encontramos dois documentários, um sobre toda a produção do filme e outro sobre o restauro da película. Este disco possui ainda quatro galerias fotográficas sobre cenas desaparecidas, design de vestuário, esboços arquitectónicos e cartazes publicitários; biografias de realizador e actores, ficha técnica e créditos, todos em castelhano. Se mais argumentos faltarem para ver “Metrópolis”, saiba-se que foi o primeiro filme incluído no Registo de Memórias do Mundo, as obras seleccionadas pela UNESCO.

JOÃO MIRANDA


20 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

SOLTAS

CRÓNICA DE VIAGENS

BÓSNIA-HERZEGOVINA • SARAJEVO ANDREIA SILVA

UMA CIDADE QUE A GUERRA TORNOU MAIS TRISTE

U

ma linha de comboio surge timidamente com a manhã acabada de surgir. Com o começo do dia, surge-me Sarajevo, real, desprovida de eufemismos, tal como a guerra a fez. A cidade onde o arquiduque Francisco Fernando, do Império Austro-Hungaro, foi assassinado, esforça-se por ultrapassar os conflitos políticos do passado. As ruas são simples, tal como as suas pessoas. Encontram-se pedaços de culturas muito diferentes que a história obrigou a misturar. As mulheres muçulmanas, cobertas com lenços vão rezar à mesquita, com o seu passo rápido e

A CIDADE DE SARAJEVO é pouco cosmopolita

olhar baixo; enquanto que as mulheres católicas e ortodoxas, destapadas, sem nada a esconder de forma obrigatória, frequentam assiduamente as lojas e os cafés. Tudo parece pequeno e, sobretudo, pobre. Para lá das lojas de roupa no centro da cidade (onde se denota o pouco cosmopolitismo que existe em Sarajevo) há a pequena mulher suja, de pés descalços sob a neve, fingindo não sentir as temperaturas negativas. Os cafés estão cheios de iguarias e montras convidativas, mas não pudemos deixar de reparar no rapazinho a pedir esmola. A pobreza

é algo universal, mas ali observamos as casas, as marcas dos atentados, as coisas por construir e pensamos que tudo poderia ter sido diferente. Os elementos da cidade confundem-se e criam um ambiente caótico. Autocarros antigos cheios de pessoas, a universidade, as religiões, as casas pequenas, os prédios destruidos e esburacados, os cafés, a policia sempre desconfiada, os pedintes. Abundam ainda os mercados e lojas ligadas ao comércio tradicional. Os supermercados são poucos e nem sequer existe um restaurante McDo-

MARÇO 2001 • EDIÇÃO N.º 66 • QUINZENAL GRATUITO

3ª MOSTRA CULTURAL DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA ”

o início de Março de 2001, A CABRA dava destaque à 3ª Mostra Cultural da Universidade de Coimbra (UC), que decorreu entre 1 e 9 desse mês. Em entrevista, a pró-reitora para a cultura, Maria de Fátima Sousa e Silva, falava deste evento e da sua importância. Para a edição de

N

2001, a pró-reitora previa “um substancial aumento do número de participantes”. Comparada com as duas anteriores mostras culturais, a edição de 2001 “tem uma quantidade e uma variedade de iniciativas que suplanta as anteriores”, notava Maria de Fátima. No que diz respeito ao próprio cartaz, a responsável destacava “uma exposição de fotografia sobre a Universidade que patente no Teatro Académico Gil Vicente” e “colóquios sobre o Pátio da Universidade, sobre o papel cultural da UC e ainda sessões destinadas à reflexão sobre saídas profissionais”. A terminar, a próreitora para a cultura deixava o apelo: “é um privilégio ser estudante da UC e faz parte desse privilégio auferir de todas as vantagens por ela oferecidas”. A 3ª Mostra Cultural da UC in-

cluía desde encontros gastronómicos regionais, a ciclos de cinema, passando por concertos e aulas de danças e cantares tradicionais dos PALOP. Outro assunto de grande destaque nesta edição d’ A CABRA foi a comemoração dos 15 anos da Rádio Universidade de Coimbra (RUC), a 1 de Março, que ocupou cinco páginas. Para não deixar passar em branco esta data, A CABRA deu a conhecer a RUC através de uma reportagem de ambiente no seu estúdio. “Uma rádio com cor”, era assim que a própria estação se definia. O jornal incluía também espaço para uma entrevista com o presidente da RUC na altura, José Carlos Santos, que sintetizava o objectivo da estação: “a RUC procura oferecer a quem a sintoniza um acrescento cultural, musical e de entretenimento que

nald's. A Bósnia-Herzegovina era a república mais pobre da Jugoslávia. Com a queda do muro de Berlim, o fim da União Soviética e a independência do país, os problemas sócio-económicos agravaram-se. E depois vieram os ataques sérvios, entre 1992 e 1995, que dispersaram os habitantes (a população desceu para metade, em relação a anos anteriores ao conflito). Actualmente o país é governado sob um regime tripartido e rotativo, onde Croatas, Sérvios e Bósnios tentam unir esforços numa paz conjunta.

Sentei-me num dos poucos jardins que a cidade tem e pensei que ainda é possivel ao país voltar ao que foi. Em Sarajevo a paz ainda não é completamente estável, mas o que importa é a sua existência. Para além das diferenças culturais e do passado, as pessoas estão a fazer um esforço para regressar, construindo uma nova sociedade. E é assim a capital da Bósnia-Herzegovina, com um passado demasiado presente, mas com um futuro que trará, decerto, a alegria que nunca deveria ter sido retirada. Por Andreia Silva

18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...

as pessoas não têm de outro modo”. O presidente afirmava a sua aposta na formação e na continuação da RUC como escola de rádio e concluía que “a RUC é um desafio constante”. O último artigo sobre o aniversário da RUC debruçou-se sobre o encontro de rádios universitárias promovido pela de Coimbra no foyer do TAGV. Estiveram presentes, além da RUC, a Rádio Universidade do Minho (RUM) e a Rádio Universidade do Marão (RUMarão). João Ribeiro


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cabra | 21

O MUNDO AO CONTRÁRIO

SOLTAS

ITÁLIA Um homem de 45 anos imbuído pelo seu espírito religioso, decidiu mudar de sexo. Isto porque o italiano quer ser freira. O homossexual assumido, afirma não se contentar com a condição de padre. Em Maio irá realizar uma cirurgia de mudança de sexo e posteriormente, e apesar de não ter o apoio da igreja, irá entrar para um convento.

EUA Um jovem de 18 anos, foi detido na Florida por ter roubado uma maçã decorativa da mesa da professora. Depois da docente lhe ter confiscado a mola com a qual ele se ia entretendo, o aluno pegou na maçã e disse que só devolveria o objecto decorativo caso recebesse a sua mola de volta. A educadora chamou a polícia mas apesar disso o jovem continuou intransigente. Acabou preso e teve que pagar uma fiança de US$ 500.

TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho

A MALDIÇÃO DO FINAL DE SEMANA

O

Sol está-se quase a pôr. Escrevo estas linhas a uma sexta-feira, portanto não falta muito para começar tudo outra vez. Mais um fim-desemana que se aproxima. Podem não acreditar em mim, podem chamar-me louco, mas há algo de macabro a acontecer em Coimbra do qual ninguém quer falar. As forças do oculto são demasiado podero-

sas. Se algo me acontecer saibam que me chamei Arsénio e que não tive medo de enfrentar a escuridão. … Como sabem, Coimbra é a cidade dos estudantes. Criaturas vigorosas e rebeldes que têm orgulho em declamar aos quatro ventos a sua independência. São os reis das saídas nocturnas e dos shots de qualquer coisa alcoólica.

INGLATERRA Um casal britânico tem como animal de estimação uma raposa. O animal partilha a casa com os seus donos e tem um quarto próprio com televisão e tudo. O casal tem, ainda, mais três animais de estimação. Adoptada quando tinha ainda dez dias de vida, a raposa tem resistido a todas as tentativas para reintroduzi-la no seu habitat natural.

Marta Pedro CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

No entanto, há uma coisa que faz com que estas nobres criaturas fiquem com tremores e suores frios – entre outras maleitas. Nunca se perguntaram o que é que leva, todos os fins-de-semana, os valentes estudantes a trocar a vida de rebeldia e alcoolismo (já lá diz o cântico) pela sopinha da mãezinha? Certamente que, numa situação normal, nunca passaria pela cabeça destes rebeldes voltar à aldeia para dormir na caminha com lençóis do pequeno pónei. Nunca! Numa situação normal, claro. A realidade exige medidas extraordinárias. Ora peçam a um estudante de Coimbra para passar um fim-de-semana cá, e vejam como ele começava a transpirar. Quando começarem a ouvir o irritante som das malas com rodas a descer pela vossa rua, saiam de casa e metam-se no primeiro comboio que encontrarem. Sigam o meu conselho. É o melhor que vocês fazem. Neste momento já caiu a noite e começo a ouvir algo a arrastar-se lá fora. Sim, infelizmente tenho que ficar em Coimbra ao fim-desemana. Será que as tábuas de madeira com que forrei as minhas janelas vão aguentar? Pelo sim pelo não vou procurar o crucifixo. Sabem porque é que o Estado Novo resolveu destruir toda a alta de Coimbra? Não foi para construir a zona universitária. Não. Isso foi o

que o governo quis que o povo pensasse. A realidade é bem mais cruel. Salazar quis matá-las a todas. Quis acabar de vez com as terríveis criaturas que neste momento estão a tentar arrombar a porta da minha casa. Infelizmente não conseguiu. Elas voltam sempre. Todas as sextas-feiras, quando a noite cai, Coimbra enche-se de mortos-vivos em busca de cérebros humanos. Ninguém sabe de onde eles vêm, ninguém sabe como os deter. Há textos antigos que afirmam que só um DUX ou um dirigente associativo poderá vencer as criaturas. No entanto, os mesmos textos não adiantam qualquer explicação sobre aquilo que torna esses dois altos representantes da Associação Académica de Coimbra desinteressantes perante criaturas que só se interessam por cérebros humanos. … Sinto a porta a ceder. Não vai aguentar muito mais tempo. Vou ter que terminar por aqui. Antes que a ligação à internet se corte vou enviar este texto para o bom e velho pessoal do jornal ACABRA. Eles vão saber o que fazer. Deus nos ajude a todos. Todas as crónicas em

arseniocoelho. blogs.sapo.pt

COM PERSONALIDADE ANDRÉ FERREIRA

ADOLFO LUXÚRIA CANIBAL • 49 ANOS • VOCALISTA DOS MÃO MORTA

UM JURISTA DILETANTE O nome “Adolfo Luxúria Canibal” surgiu há muitos anos. Na altura havia a mania de criar nomes. Tinha a ver com o punk. Todo o nosso grupo, em Braga, tinha os seus nomes. Eu criei este para mim e acabou por ficar. Não me considero um “homem dos sete ofícios”. Eu tenho apenas um ofício: sou jurista. Faço música por paixão, por diletância. Os outros mil e um ofícios que aparecem nas minhas biografias circunscrevem-se a meia dúzia de anos e a uma situação muito particular, que foi a minha estadia em França. Lá, ia fazendo várias coisas, “biscates”. Em França esses biscates são bem pagos e surgiram em diversas áreas. No entanto, não tiveram muita importância, não eram profissões. E não dei a mesma importância a todas as áreas que explorei. A minha área preferida é a música. Mas é evidente que gosto muito da minha profissão. Ser Jurista é ter uma profissão muito vasta. Há coisas que gosto mais, outras que gosto menos, mas na generalidade gosto bastante dela. Não a trocava por nenhuma outra. Quanto à música e à atitude dos Mão Morta, o objectivo primeiro é interno. É extravasarmos para além das nossas profissões o nosso gosto pela música. Esse objectivo interno torna-se ainda num objectivo segundo, também interno. É através do nosso gosto pela música que criamos os nossos laços de camarada-

gem, de brincadeira, de “bando excursionista”. Em termos criativos o que nos interessa é partilhar ideias, partilhar gostos, internamente, mas também com o exterior. Com outras bandas e com o público. Gostos por livros, gostos por ideias, gostos por músicas. É na busca da partilha e da exteriorização de gostos que o percurso dos Mão Morta é balizado. A melhor recompensa de todos os anos que passei em contacto com a música é o facto de, ao fim de vinte e cinco anos, poder continuar a fazer música e continuar a ter um espaço de manobra, de liberdade para isso. Continuar com as portas abertas e o futuro aberto para a música.

No futuro, para mim e para os Mão Morta, acho que a música vai estar sempre presente. É o meu desejo Entrevista por Susana Rocha


22 | a cabra | 3 de Março de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO

“É URGENTE!”

Jorge Serrote *

ANDRÉ FERREIRA

É premente lutar por aquilo que acreditamos ser o melhor para o ensino superior

Cartas ao director podem ser enviadas para

acabra@gmail.com

O ensino superior português continua a enfrentar desafios que necessitam de respostas céleres e concretas rumo ao seu desenvolvimento O primeiro destes desafios prende-se com o actual estado de sub-financiamento em que vivem as instituições de ensino superior. Em 2009, apesar do Governo ter reforçado o Orçamento para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior em 7,8%, esse aumento pautou-se por um incremento meramente nominal. Tendo em conta o facto de as universidades serem responsáveis pelo pagamento dos 11% de contribuição para a Caixa Geral de Aposentações e também a inflação e os aumentos salariais estabelecidos para a função pública facilmente concluímos que esse acréscimo não se verifica. Se em anos anteriores as universidades viviam uma situação de profunda carência de meios financeiros para se poderem adaptar às exigências dos novos tempos, com mais este encargo a recair sobre as mesmas só se pode concluir que agora enfrentarão ainda mais dificuldades para se tornarem universidades de excelência com reconhecimento a nível internacional. Nunca aceitaremos a passagem para um regime fundacional como resposta, para alterar a actual situação de sub-financiamento. Questionamo-nos o porquê de não permitir às universidades que não tenham aderido ao modelo fundacional a possibilidade de elaborar contratos-programa com a tutela, para que as mesmas possam fazer uma gestão a médio/longo prazo. O ensino superior é um factor essencial e um índice de aferição do desenvolvimento económicosocial do país, sendo por esta razão que é sobre o Estado que, em primeira instância recai o dever de proporcionar todas as condições para que o país disponha do melhor ensino superior possível. Outra das questões a que urge dar resposta versa sobre o, infelizmente, galopante constrangimento financeiro que vem sucessivamente afectando os Serviços de Acção Social (SAS). Esta

questão é da maior importância, pois não nos podemos esquecer que são os Serviços de Acção Social quem garante que muitos dos estudantes da nossa universidade possam continuar a adquirir a sua formação e a perseguir o seu desejo de uma vida melhor. São também os SAS uma das melhores concretizações do princípio constitucionalmente consagrado da Igualdade de Oportunidades. Mais, um Estado que abdica de apoiar aqueles que nascem com menos condições é um estado que não dignifica todos os seus cidadãos. São gritantes, nos dias que correm, as situações de injustiça social no ensino superior: desde estudantes na U.B.I. que recorrem ao Banco Alimentar Contra a Fome para se poderem alimentar, passando por estudantes que não têm recursos financeiros suficientes para pagar as suas propinas. Está claro aos olhos de todos que o sistema de acção social em Portugal está claramente a falhar. Não é apenas pelo facto de o país estar neste momento a atravessar um período de crise que estas situações se verificam, apenas veio agudizar a situação. Na realidade, parece consensual que todas estas situações devem ser invertidas, para que possamos rumar ao ensino superior que todos idealizamos. Não podemos ficar alheios a injustiças como estas, urge sensibilizar toda a sociedade, a exemplo de iniciativas como o “outdoor” e a campanha (Des)Governos levadas a cabo pela Direcção-Geral da AAC, mas ao mesmo tempo preparar estratégias de resolução dos problemas enunciados. É premente lutar por aquilo que acreditamos ser o melhor para o ensino superior, não podendo este ser apenas um dever dos dirigentes associativos, deve sim ser uma desígnio de todos os estudantes rumo ao desenvolvimento do ensino superior e consequentemente rumo ao desenvolvimento do país! * Presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra

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3 de Março de 2009 | Terça-feira | a

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OPINIÃO “A QUEIMA ASSUMIU-SE EM 2008 COMO UMA DAS FORÇAS VIVAS DA CIDADE”

EDITORIAL A ACÇÃO SOCIAL ESCOLAR E OS EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS

Filipe Pedro *

No passado dia 19 de Janeiro de 2009 a Queima das Fitas de Coimbra apresentou o seu relatório e contas. Mais que a história dos números, que mais uma vez significa um enorme encaixe financeiro na AAC, e nas suas secções, núcleos, organismos etc.… Importa lembrar o sucesso que foi a Queima das Fitas 2008 em todas as suas actividades e em toda a sua amplitude. Não entendo como o jornal “A Cabra” não considera a apresentação do Relatório e Contas da Queima da Fitas 2008 como uma ocorrência digna de registo na versão impressa do jornal “A Cabra”, tendo lançado um jornal impresso no dia 26 de Janeiro. Mais: A Queima das Fitas assumiuse em 2008 como uma das forças vivas da cidade de Coimbra não só, na Semana das Noites do Parque, mas num horizonte temporal e de actividades muito mais vasto. Realizámos mais de 60 actividades, começámos com “A Queima do Colete”, pelo meio tivemos encontros de coros, recitais de Guitarra clássica, Recital de Harpa, a regata Internacional da Queima das Fitas, o torneio de rugby, meeting de natação, jogos tradicionais, surf trip, entre tantas outras que foram um enorme sucesso a todos os níveis. Durante meses, a Queima das Fitas dinamizou a cidade de Coimbra, aliando-se as organizações da cidade e do país, como a Universidade de Coimbra, a Câmara Municipal de Coimbra, a ACIC, o Governo Civil, a Assembleia da República, a AAC e as suas secções, incluindo a secção de Jornalismo, entre outros. Durante todo este tempo, contamse pelos dedos das mãos as vezes que “A Cabra” publicou artigos relativos

à Queima das Fitas. Por mais de três meses houve actividades, o que contabiliza cerca de seis edições do Jornal “universitário” “A Cabra”. Mais ainda não me lembro de ver ninguém da Comissão Organizadora da Queima das Fitas entrevistado como tal, excepto no suplemento sobre a Queima das Fitas, pago pela mesma. Não é por a Queima das Fitas ser um dos principais financiadores do Jornal “A Cabra” e da secção de Jornalismo que existe a obrigação desta publicar as matérias alusivas à Queima das Fitas, não devemos entrar em clientelismos. Mas a linha editorial do Jornal “A Cabra” deve reflectir sobre se a Queima das Fitas é ou não um evento que se digne a estar presente na sua versão impressa. Relembro que estamos a falar de um dos ícones da cidade de Coimbra. É o ponto alto da grande maioria dos estudantes da nossa universidade. Para um jornal universitário parece-me importante publicar o balanço da festa que a todos nos marca. Bem sei que “acabra.net” publicou um artigo sobre o balanço da Queima 2008, mas parece-me importante que esteja também na versão impressa. Não queria uma capa de jornal, nem um artigo de uma página, apenas algo que assinalasse o facto. Por último, só dizer que este facto não é novidade, o mesmo já sucedeu em 2006 e 2007. Resta-me desejar que a secção de Jornalismo reflicta sobre a sua atitude perante a Queima das Fitas. * Secretário-Geral da Queima das Fitas

A CABRA ERROU Na última edição d'A CABRA foi adiantado no artigo “Novas ameaças colocam a NATO em encruzilhada” que a aliança transantlântica celebrava 50 anos,quando na verdade o tratado celebra 60 anos. Também na infografia do artigo “Porque faz sentido falar em Darwin” era apontada a morte de Darwin no ano de 1859, quando, na verdade, morreu em 1882. A todos os leitores, as nossas desculpas pelos lapsos cometidos. A direcção

Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com

Na semana passada, foi anunciado pelo gabinete de imprensa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que, até Dezembro de 2008, 5500 estudantes recorreram a empréstimos ao abrigo do Sistema de Empréstimos a Estudantes do Ensino Superior com Garantia Mútua. No ano do arranque da medida, tal número não deve ser encarado como uma gota no oceano ou como uma imagem afastada da realidade dimensional do ensino superior. Deve, sim, ser encarado e interpretado à luz das sucessivas medidas do executivo governamental para com a Acção Social Escolar. Medidas como os sucessivos cortes orçamentais, a crescente desresponsabilização estatal para com os apoios sociais aos estudantes e a crónica tentativa de privatização empurram os estudantes para uma situação de estrangulamento financeiro, que não tendo outra hipótese, encontram nos empréstimos a única

nas arrasta por si essas mesmas lógicas para a Universidade de Coimbra e a criação de um modelo fundacional de instituições em que o governo limpa as mãos quanto ao investimento nessas instituições. Estas medidas do executivo governamental evidenciam, a um prazo muito mais curto do que poderemos pensar, a morte da Acção Social Escolar. Também a lógica da reforma de Bolonha e as consequências que já se sentem não parecem muito abonatórias ao crescimento da acção social no ensino superior. Contudo, é imperativo compreendermos que isto não é “uma realidade à qual já não podemos fugir e à qual nos temos que adaptar”. Não. Não é por qualquer gesto de simpatia ou caridade que o governo vai por si pôr um travão a esta lógica. Não é por si que as empresas, que encontram nestas medidas uma perspectiva de lucro, vão abrandar na tentativa de intromissão nas universidades.

Cabe-nos a nós, estudantes da UC, pôr um travão, porque estas medidas não vão prejudicar ninguém tão directamente como a nós

tábua de salvação. Uma análise a estes números também nunca poderá ser desligada da realidade das recentes reformas estruturais do ensino superior. Se a possibilidade da substituição dos reais sistemas de apoio social por empréstimos veio ser dinamizada pelo Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES), a verdade é que todas as políticas envolventes também não combatem essa possibilidade, aliás, agudizam-na. A lógica mercantilista que o RJIES veio trazer para o ensino superior não agoura o incremento das medidas sociais para o futuro. A instalação de um Conselho Geral com a participação de membros externos à universidade e com ligação às lógicas empresariais ape-

Cabe-nos a nós parar estas medidas, cabe-nos a nós, estudantes da Universidade de Coimbra, pôr um travão, porque estas medidas não vão prejudicar ninguém tão directamente como a nós. Porque se hoje são 5500 estudantes a recorrer aos empréstimos, com a progressão das medidas do executivo, para o ano serão muitos mais, e no outro mais ainda. E consecutivamente o governo vai dando cada vez mais machadadas num direito que deve ser de todos. João Miranda

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Coelho, Márcia Rocha, Pedro Monteiro, Sara Galamba, Sónia Fernandes, Tiago Carvalho, Virginie Bastos Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboradoram nesta edição Andreia Patrícia Silva, Cristiana Domingues, Filipe Sousa, Luís Nunes, Maria Eduarda Eloy, Nuno Agostinho, Sara Cruz, Sara Galamba, Vasco Batista, Virginie Bastos Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra


Mais informação disponível em Redacção: Secção de Jornalismo Associação Académica de Coimbra Rua Padre António Vieira 3000 Coimbra Telf: 239 82 15 54

Basquetebol AAC

Sofrer a bom sofrer. Tem sido assim nos jogos de basquetebol da Académica. Os adeptos têm de esperar pelo último segundo para gritarem vitória... Nos últimos dois jogos, a Académica conseguiu alcançar a vitória nos derradeiros segundos e, contra o Illiabum, Fernando Sousa marcou o cesto da vitória a quatro segundos do final do jogo. A equipa não perde há cinco jogos e está agora no quarto lugar da liga principal. S.F.

Fax: 239 82 15 54 e-mail: acabra@gmail.com

acabra.net

Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Faculdade de Farmácia

O estudo sobre a administração oral de insulina foi esta semana distinguido com o prémio Bluepharma/Universidade de Coimbra. A investigadora da faculdade de Farmácia Ana Catarina Reis é assim distinguida por um trabalho que promete dar que falar. Nos seis anos de existência do prémio, só por duas vezes ficou em Coimbra. A aposta da faculdade de Farmácia na investigação está a dar frutos. M.P.

Notas sobre arte...

Coreia do Norte/ONU

O reatar de conversações entre a Coreia do Norte e a ONU é um novo passo para o desanuviar da tensão entre as duas Coreias. Este pedido norte-coreano acontece depois de anunciar que está a preparar um teste com um míssil, alegadamente, para o desenvolvimento de um programa espacial pacífico. Pyongyang tem recebido apelos do Japão e Coreia do Sul para renunciar a qualquer pretensa nuclear. R.M.P. PUBLICIDADE

Where's the life? (…) • Ilídio Salteiro Óleo s/ tela • 2007 No início tudo é denso e obscuro, mas à medida que o tempo passa vai-se tornando mais claro e fácil de entender. É esta a mensagem que Ilídio Salteiro tenta transmitir nesta obra. O conjunto de quatro quadros conta um percurso que vai desde a procura de um sentido de vida até ao encontro da obra de arte. Mas também pode ter outro significado: qual o caminho que a arte contemporânea ainda tem de percorrer? Que futuro se espera para a relação entre a obra e o seu consumidor? O primeiro quadro, “Where's the life?” (Onde está a vida?), representa o início da busca. Os tons em castanho escuro e claro, com algumas pinceladas de azul, denotam a dificuldade do caminho. O automóvel quase nem se vê, muito menos os seus ocupantes. É um trajecto que se percorre quase sem saber, um fim ainda muito distante. A vegetação densa da floresta mostra as dificuldades não só da vida, como da própria arte contemporânea. Qual a sua representação na sociedade? Como é que ela é encarada pelos cidadãos? Olhando para a tela, parece que ainda há muita coisa para descobrir na arte dos dias de hoje. O segundo quadro, “Where was the museum of contemporary art?” (Onde estava o museu de arte contemporânea?), permanece ainda obscuro, com os mesmos tons na tela, mas mostra já que a

resposta está próxima de ser encontrada. É a busca não só do próprio museu, mas também do próprio sentido da arte contemporânea, sentido esse que subitamente começa a tornar-se mais evidente no terceiro quadro, “Where's the museum of contemporary art?” (Onde está o museu de arte contemporânea?). A floresta é menos densa, o automóvel mais visível, os tons da tela mais claros. O caminho para encontrar, não só o quadro, como o sentido da arte, está próximo… E eis que, subitamente, o conceito é encontrado. Em “Where's the paiting?” (Onde está o quadro?), a última tela, a floresta desaparece, as árvores estão desfolhadas e o céu é um imenso azul. O encontro com o quadro é o próximo passo. Será também o reconhecimento dos cidadãos face à arte contemporânea? Na tela, tudo se tornou subitamente claro, mas não sabemos se as respostas foram encontradas. O último quadro representa o mistério, deixando muitas perguntas no ar. Esta é uma das obras que se podem encontrar na exposição “O mistério do Narciso” até 26 de Março, nas Galerias Santa Clara, em Coimbra. São artistas portugueses contemporâneos que cruzam escultura, pintura, desenho, artes plásticas e vídeo, onde a geometria e a simplicidade dos materiais ganham lugar de destaque. Por Andreia Silva

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