Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 195

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RÖYKSOPP

ILHAS FAROÉ

“Junior" é uma mistura de pop electrónico com o registo mais calmo e característico da dupla norueguesa P 15

A caça às baleias repete-se todos os anos e parece não ter fim à vista P 13

31 de Março de 2009 Ano XVIII N.º 195 Quinzenal gratuito

MENTIRA Cinco psicólogos explicam o que nos leva a mentir P2e3

a cabra

Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo

Jornal Universitário de Coimbra

17 1969

Edifício da AAC

ABRIL

O futebol

40

dentro das linhas da cidade

ANOS

ESPECIAL NA PRÓXIMA EDIÇÃO

P 10 e 11

Portugal

“Um quase Estado-providência”

Entidades reclamam espaço

Há vários anos que a falta de espaço afecta a AAC. Secções, organismos e Queima das Fitas queixam-se que o seu trabalho é afectado por causa das limitações físicas do edifício. O presidente da direcção-geral, Jorge Serrote, admite que as soluções que se têm tomado são apenas provisórias. No entanto, as medidas a longo prazo ficam adiadas porque “não existem verbas da parte da Reitoria”.

P5

Psicologia desportiva

A crise económica trouxe uma nova confiança à protecção e à garantia do Estado. O sistema de welfare state liberal de países como a Grã-Bretanha e os EUA vai, segundo os analistas, aproximar-se do Estado-providência mais tipicamente europeu. Destes países, Portugal é um dos que menos gasta na segurança social. A sua sustentabilidade parece depender das reformas que forem realizadas.

Seminário analisa realidade actual Nos jogos, nos treinos e nos resultados, os factores psicológicos afectam o rendimento dos atletas e o psicólogo torna-se a figura de proa para ajudar no alcance do bemestar e do sucesso. O seminário “A importância da psicologia em contexto desportivo” pôs em evidência como estes profissionais são cada vez mais solicitados pelos clubes.

P 12

Coimbra

P7

O que fazem os deputados do distrito?

Entrevista

O distrito de Coimbra possui 10 deputados no Parlamento. Ainda assim, ao longo dos últimos quatro anos, apenas duas acções legislativas de carácter local foram apresentadas. A oposição acusa deputados de inércia e desligamento da realidade de Coimbra. Sociólogos apontam que este não é um problema exclusivo do distrito.

Raquel Freire fala da atracção pelo obscuro P6

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Tecnologia

UC explora redes sociais A UC deixou-se contagiar pelas redes sociais. Desde o Twitter ao Youtube, até à Rede de Antigos Estudantes, são várias as plataformas que podem ser usadas para estar em contacto constante com a universidade. O vice-reitor Pedro Saraiva acredita que as redes se vão tornar “cada vez mais dinâmicas”.

P8

@

Mais informação em

ANDRÉ FERREIRA

acabra.net


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DESTAQUE

A cor de que se veste uma mentira Diz-se que a mentira é a base da civilização moderna. Verdade ou não, cinco psicólogos explicam o que é a mentira e porque mentimos, afinal. Por Pedro Crisóstomo, Vanessa Soares, Catarina Santos e Tânia Santos alsos elogios, histórias rocambolescas, omissões de factos. A mentira pode assumir várias formas, basta que um mentiroso saiba até onde chegar com ela. É a própria psicologia que sustenta esta ‘teoria’ e são os próprios psicólogos os primeiros a assumir que toda a gente mente, das crianças aos adultos, dos mais inteligentes às pessoas com menos auto-estima. Se dúvidas parece não haver quanto a isto – quando, aliás, amanhã, primeiro de Abril, se celebra o Dia das Mentiras e se aceita quase tudo como brincadeira – um estudo americano veio comprovar há uns anos isso mesmo: que todos os indivíduos mentem aproximadamente 200 vezes por dia (uma média de uma

F

vez a cada cinco minutos) e em frases tão vulgares como “essa saia fica-te mesmo bem”. Mas, afinal, o que é mentir e, mais do que tudo, por que é que mentimos? À pergunta, os psicólogos respondem por consenso que “uma pessoa mente quando comunica o que sabe que é contrário ao que realmente aconteceu”, como explicam Cátia Figueiredo e Eduardo Santos, docentes do Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social da Universidade de Coimbra (IPCDVSUC). Ainda assim, é difícil afirmar em concreto se as pessoas mentem mais hoje do que há três ou quatro décadas, até porque não há estudos que o digam. Um dia Teixeira de Pascoaes escreveu que

“é na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna”. A psicóloga e docente da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), Catarina Morgado, arrisca dizer que “o quadro de valores se alterou e, eticamente, deve ser mais fácil mentir hoje do que há 30 ou 40 anos”. Será, assim, a mentira mais interessante do que a verdade, como pensava o filósofo inglês Francis Bacon? Cláudia Andrade, docente de psicologia na mesma escola, prefere colocar a questão ao contrário: “o que é a verdade?”. “Não raras vezes” é “a visão que temos das coisas”, respondem, por sua vez, Cátia Figueiredo e Eduardo Santos.

Da mentira ao mentiroso Os especialistas concordam nos motivos que podem levar as pessoas a mentir: o medo das consequências, a insegurança ou a baixa auto-estima, por pressão de outras pessoas, por razões patológicas ou ainda pelos benefícios que uma mentira pode trazer. Cláudia Andrade defende que é possível mentir para evitar uma preocupação. Por vezes, “até podemos mentir com boas intenções, nem que seja para agradar alguém”, reforça Catarina Morgado. “Daí que se dê cor à mentira e este tipo de mentira (em que ninguém é prejudicado) seja o branco”, comparam os docentes do IPCDVSUC. Da mesma forma, uma pessoa

pode mentir sem ter consciência de que o está a fazer, no caso de algumas situações patológicas. “Mas, nesse caso, não podemos dizer que se trate claramente de uma mentira”, uma vez que “para alguém ser considerado mentiroso, tem de haver uma dimensão consciente”, diz Rui Carreteiro, investigador do Conselho Científico do Instituto Nacional de Psicologia e Neurociências. Perguntamos, então, que relação existe entre a mentira e a inteligência. “Quer pessoas inteligentes quer pessoas pouco inteligentes podem mentir, sendo o grau de elaboração da mentira que tende a alterar”, continua Carreteiro. As pessoas com um maior nível de inteligência são capazes de elaborar uma mentira

SINAIS QUE AJUDAM A DESCOBRIR SE UMA PESSOA ESTÁ A MENTIR Os movimentos dos braços e das mãos tornamse quase mecânicos, não havendo sincronização entre os gestos e as palavras. 1

Uma ou ambas as mãos podem ser levadas ao rosto a fim de tapar a boca, como se indicasse que a pessoa não acredita no que está a dizer ou que está insegura. 2

Quem mente tende a distanciar-se da pessoa com quem está a falar, ora virando a cabeça, ora posicionando o corpo para o lado oposto. 3

A pessoa que mente recorre muito frequentemente ao sarcasmo e ao humor. 4

O tempo que uma pessoa demora a responder a uma pergunta pode significar que está a formular uma mentira para depois continuar na mesma linha de pensamento. 5


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DESTAQUE

ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

VOX POP AS MAIORES MENTIRAS QUE OS ESTUDANTES JÁ DISSERAM

Telma Alves Estudante de Educação Básica 20 anos “Uma vez estava apertada para ir à casa de banho e a professora não me deixava sair. Então, decidi pintar um lenço de papel com uma caneta vermelha e dizer que estava a sangrar pelo nariz. Ela lá me deixou sair”.

Andreia Tavares Estudante de Direito 21 anos “Menti a um professor, no 9.º ano, dizendo que ia ver o jogo de Portugal, mas não. O que aconteceu é que saltei o portão da escola, caí e fui-me sentar no ginásio desportivo a assistir a um concurso de danças. No fim do jogo, voltei para a aula e quando cheguei o professor já sabia de tudo. Até tinha arranjado umas bandeiras de Portugal, mas não deu resultado”.

mais competente, antes de mais porque, sublinham Cátia Figueiredo e Eduardo Santos, “mentir está associado à capacidade de pensar, de sentir”. Também as crianças quanto mais inteligentes forem mais cedo aprendem a mentir. Exemplo disso é quando não demonstram “descontentamento com as prendas recebidas sob pena de não receberem mais”, explica Carreteiro. Por outro lado, “nas pessoas menos inteligentes, as mentiras são facilmente detectáveis e em caso de debilidade mental, muitas vezes temos afirmações erradas, mas que não devem necessariamente ser consideradas mentira”, completa o investigador.

Mentir por dependência “Na sua forma patológica, a mentira pode tornar-se numa dependência perigosa, tal como o jogo, álcool ou drogas”, defende Carreteiro. Nesse caso, quando se conta uma mentira, a única solução é contar uma outra e assim sucessivamente. Numa situação destas,

“Porque é que precisava de mentir?”, “Para ser sincero…”, “Podemos falar mais tarde” são expressões utilizadas para uma pessoa conseguir ganhar tempo a pensar numa resposta. 6

o sujeito acaba por cair num ciclo vicioso. Um mentiroso compulsivo é alguém que sente uma pulsão para mentir de forma quase automática. “A criação de ima-

Terapia psicológica é forma de tratamento para um mentiroso compulsivo gem falsa, ou de histórias falsas em torno de si e acerca dos outros, poderá levar a uma bola de neve” e “tudo isto não leva a uma gestão saudável da própria vida”,

A pessoa que mente não gesticula ao mesmo tempo que fala. 7

comentam os docentes do IPCDVSUC. Os mentirosos compulsivos sofrem de disfunção e desequilíbrio que pode estar relacionado com distúrbios de personalidade. “Os dependentes da mentira sabem que estão a mentir mas não se conseguem controlar”, realça Carreteiro, para quem “os mentirosos compulsivos são geralmente pessoas inteligentes”. Por isso, esta “incapacidade” em controlar os impulsos “é causadora de um sofrimento nítido, razão pela qual deve ser alvo de tratamento”. O primeiro passo a dar, continua o psicólogo, passa por assumir que se tem um problema e que é necessário tratá-lo através da realização de terapia psicológica.

Polígrafo precisa de contraprova, sempre Embora seja delicado confirmar através de mensagens não verbais se uma pessoa está a falar a verdade, Cláudia Andrade aponta que é possível percebermos que alguém mente se parecer ansiosa, irritável e aparentar estar ausente. Os investigadores do IPCDVSUC confirmam que “há

O corpo de quem mente reage involuntariamente: as mãos tremem, escondendo-as porque não se sente à vontade; a pessoa pode corar, transpirar e respirar com dificuldade e a voz pode falhar. 8

métodos que nos dão indicações da mentira – como o polígrafo, análise da linguagem corporal e expressão facial – mas são sempre métodos que precisam de contraprova, sempre”. Também os gestos, o tipo de expressão facial e a entoação que se dá a uma frase podem indicar algum desconforto no emissor. “Basta estarmos numa situação em que nos sentimos avaliados e que estamos sob o escrutínio dos outros para, naturalmente, já nos sentirmos mais ansiosos”, diz Catarina Morgado. Por isso, é preciso ter um “elevado grau de conhecimento da pessoa” para chegarmos a uma conclusão assertiva, justifica Cláudia Andrade. Em muitos países, o polígrafo – uma invenção de James Mackenzie, de 1902 – não é considerado uma prova em tribunal, porque exige sempre uma prova cognitiva para ver se há incoerências no discurso. Acontece que o aparelho, explicam Cátia Figueiredo e Eduardo Santos, pode dar “falsos positivos (porque tem a ver com a sudação e a condutibilidade eléctrica da pele) em, por exemplo, pessoas muito ansiosas”.

Por ansiedade, a pessoa tende a engolir em seco antes de falar. 9

Júlia Gonçalves Estudante de Direito 21 anos “Disse a uma professora no 12.º ano que tinha de ir ao Brasil fazer uma operação a um quisto nos ovários, quando na verdade era só para passar férias. Trouxe um atestado médico”.

Ângela Pereira Estudante de Ciências da Educação 21 anos “Disse uma vez a um professor que não podia fazer um trabalho porque tinha exame de código, mas, na verdade, tinha ido sair à noite e não me apeteceu fazer o trabalho”.

A pessoa que mente adquire uma expressão mais relaxada quando alguém muda o assunto da conversa e continuará a acrescentar informações até se certificar de que as pessoas estão convencidas. 10


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ENSINO SUPERIOR Universidade de Coimbra evita falência técnica

DG/AAC lança campanha sobre acção social ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

Ginástica orçamental é um dos motivos apontados por membros do Conselho Geral para que a falência técnica não se torne uma realidade Nuno Agostinho Cláudia Teixeira A possível declaração de falência técnica da Universidade de Coimbra (UC) para o ano de 2010 foi discutida na última reunião de Conselho Geral (CG). O reitor da UC, Seabra Santos, fez saber que não presta declarações sobre o assunto. De acordo com o elemento pelos estudantes para o CG, Inês Mesquita, “por enquanto, com o orçamento deste ano, a UC vai ter saldo positivo”. “Entretanto foi apresentado pelo reitor um plano estratégico para definir o orçamento para 2010 tendo em conta a possibilidade de falência técnica”, acrescenta. Também eleito para o CG, Luís Rodrigues afirma que “há muitas despesas necessárias que deveriam ser prioritárias e que vão ficar sem resposta por falta manifesta de fundos”. “Isto acontece porque o estado português deveria dar o dobro do dinheiro que dá actualmente para cumprir a média da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico]”, denuncia.

Luís Rodrigues explica que “foi constituída uma comissão com alguns membros do Conselho Geral, nomeadamente os membros externos ligados às empresas, que apresentou um parecer ao conselho, o que deu aos membros a hipótese de tomar uma boa decisão”. O estudante de Ciências Farmacêuticas acredita que “a Universidade de Coimbra se vai aguentar”. “Este ano, a Universidade de Coimbra só não declara falência técnica graças a um grande apertar em todas as áreas transversais da instituição”, justifica. A estudante de Medicina ressalva que “há uma preocupação, por

parte do Conselho Geral, em não utilizar o dinheiro das propinas para despesas correntes, portanto, não será esse o caminho para fugir à declaração de falência técnica”. A estudante eleita para o CG explica que a universidade encontrou formas de financiamento próprias para evitar a falência técnica: “num projecto de investigação a universidade gasta recursos e foi aprovado em CG a universidade começar a receber uma percentagem do que for produzido nesses projectos”. “São estes os pilares para evitar uma falência técnica, falência esta que não vai acontecer porque o CG não deixará que tal aconteça”.

O QUE SIGNIFICA FALÊNCIA TÉCNICA? A falência técnica acontece quando o passivo excede o valor do activo, ou seja, quando a instituição possui uma situação líquida (capitais próprios) negativa. A situação de falência técnica não implica que a instituição seja obrigada a declarar falência, embora seja o mais provável. A maioria das falências acontece por crises de liquidez e muitas instituições entram em falência a partir de situações líquidas positivas, ou seja, vão à falência sem estarem previamente em falência técnica.

Cláudia Teixeira A Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) realiza a partir de hoje, 31, uma campanha informativa, sobre Acção Social Escolar, denominada “Quem Quer Ser o Ministro Extraordinário?”. De acordo com o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Jorge Serrote, “a campanha é dirigida aos estudantes e à sociedade civil, e vai ser feita nos mesmos moldes da que foi feita com o outdoor que ainda se encontra no fundo das Escadas Monumentais”. “O outdoor nas monumentais vai ser substituído por outro, também com a cara do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, alusivo ao filme «Quem Quer Ser Bilionário», onde o ministro responde de forma errada à questão «quem é que devia ter investido na acção social neste ano?»”, explica o dirigente associativo. O presidente da DG/AAC refere a importância da consciencialização dos alunos e da sociedade civil no que diz respeito a este tema e espera que o ministro Mariano Gago preste esclarecimentos sobre a situação dos estudantes do ensino superior. Serrote afirma que “a direcçãogeral tem tentado colocar a questão da Acção Social Escolar na ordem do dia, visto que há estudantes que são afastados do ensino superior por questões financeiras, e esta iniciativa vem nesse seguimento”. “Não podemos deixar que esta questão passe incólume e é importante chamar o ministro Mariano Gago à razão”, acrescenta.

PROVEDOR DO ESTUDANTE

Regulamento apresentado em Conselho Geral ANDRÉ FERREIRA

Mediar o contacto entre os estudantes e os órgãos da Universidade de Coimbra é uma das principais funções do provedor Maria João Fernandes Patrícia Gonçalves Na última reunião do Conselho Geral (CG), dia 16 de Março, foi apresentado o regulamento do Provedor do Estudante da Universidade de Coimbra (UC). De momento, “ainda não há um nome ou uma data definida para fazer a proposta, mas estima-se que no final do ano o cargo estará entregue”, de acordo com um dos estudantes com assento no conselho, Nuno Mendonça. Segundo os Estatutos da UC, o Provedor do Estudante é proposto pelo

reitor para um mandato de três anos e designado pelo CG, depois de ouvido o Senado Universitário. Os estatutos são, ainda assim, omissos quanto à obrigatoriedade de o provedor ser um docente, um funcionário ou um estudante da instituição – sendo apenas referido que a escolha deverá ser feita “de entre pessoas de comprovada reputação, credibilidade e integridade pessoal junto da comunidade universitária e designadamente junto dos estudantes”. O provedor tem como principais funções mediar o contacto entre os estudantes e os órgãos da universidade de modo a solucionar as queixas apresentadas pelos alunos. Como esclarece Nuno Mendonça, o provedor “recebe as queixas e dá-lhes um tratamento que se baseia na comunicação com os serviços envolvidos. Deve ouvir as partes e finaliza a sua função tirando um parecer ou uma recomendação”.

O provedor actua sobre cada caso em particular, mas também vai realizar um relatório anual para apresentar à comunidade académica, cumprindo “um papel vigilante”, como refere Inês Mesquita, também eleita para o Conselho Geral. Para além de representar os alunos da UC, o provedor deve certificar-se de que os estudantes esgotaram todas as resoluções ao seu alcance para normalizar as situações de descontentamento. Nuno Mendonça afirma que o provedor será “como um mediador no funcionamento da vida corrente do estudante”. Inês Mesquita sublinha que quem assumir o cargo “deve ter uma articulação essencial com a associação académica e com os núcleos de estudantes” e que “deve ser uma pessoa com credibilidade, quer junto dos alunos, quer junto dos vários órgãos da instituição, uma vez que só assim poderá exercer a sua influência sobre eles”.


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ENSINO SUPERIOR

Secções, organismos e queima queixam-se de falta de espaço na AAC LEANDRO ROLIM

REALIZA-SE HOJE, 31, um plenário geral para discutir o problema dos espaços na AAC

Entidades da AAC denunciam escassez de salas para as suas actividades. Jorge Serrote indica que a falta de meios económicos é o principal entrave a uma reestruturação do espaço Diana Craveiro João Ribeiro A falta de espaço para as secções, organismos e Queima das Fitas na sede da Associação Académica de Coimbra (AAC) é um problema recorrente cuja discussão não é nova. As limitações físicas do edifício da Padre António Vieira reflectem-se de várias formas no trabalho das secções. O presidente da tvAAC, Jorge Ribeiro, nota que “são precisos espaços específicos, tal como estúdios, régie, salas para a direcção e redacção” e que a sua falta “cria algumas complicações no trabalho da televisão”. Também o presidente da secção de Fotografia, João Costa, aponta dificuldades e dá o exemplo do processo de tratamento de imagens. “Quando fui fotografar a ‘Pillow Fight’ [dia 25] acabei por tratar as fotografias em casa, porque a sala fica facilmente lotada”, conta. O gabinete da Queima das Fitas sofre das mesmas contingências, o que, para o secretário-geral, Filipe Pedro, origina situações “dramáticas”. “É complicado para nós utilizar a mesma sala simultaneamente para reunirmos e receber entidades”, lamenta. Os organismos autónomos sentem igualmente as dificuldades

impostas pelo pouco espaço existente no edifício da AAC. O elemento do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) Inês Alves assume que “já não há espaço para colocar adereços, figurinos e cenários, após os espectáculos”. “Há uma falta de espaço e sentimos isso”, conclui. O presidente do Orfeon Académico de Coimbra, Nuno Sequeira, afirma mesmo que já teve que pedir salas emprestadas para ensaios.

Soluções pontuais não são o caminho Para discutir a falta de espaço das secções e organismos foi convocada para hoje uma reunião em que serão ouvidas propostas e soluções dos vários interessados. Na opinião do membro do Conselho Desportivo Eduardo Cabrita, “a cedência de espaços não resolve o problema”. O responsável sugere a construção de um edifício que aloje exclusivamente as secções desportivas, perto do Estádio Universitário de Coimbra. Desta forma, “liberta-se o espaço existente na Padre António Vieira para as secções culturais”, explica. A falta de meios é a razão apontada por Eduardo Cabrita para a impraticabilidade desta solução, contudo critica a “inexistência de visão global de uma associação

como tal”. Jorge Ribeiro avança com uma proposta concreta: “registar as salas do edifício e ver exactamente o que se faz lá, quais as secções que as usam e que actividades têm”, explica. “Este levantamento poderá ser útil para confrontar secções e organismos no espaço do plenário e ver o que se pode ceder”, concretiza o presidente da tvAAC. Já o membro do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) João Pereira, apesar de concordar que “é importante ouvir toda a gente e saber o que é que cada secção faz com as salas”, mostra-se incerto em relação à reunião de hoje. “Há secções que não vão aparecer e não ficaremos a saber qual é a utilização das salas” nota. Para fazer face a estas questões há quem recorra a soluções menos ortodoxas, como é o caso da Queima das Fitas. “Neste momento a nossa sala privilegiada de reuniões é a esplanada do bar da AAC”, ironiza Filipe Pedro. A partilha de salas entre secções é outra das formas de contornar a falta de espaço. Um dos exemplos é a sala que, actualmente, é partilhada pelas secções de Fotografia e de Divulgação das Culturas Lusófonas e que, por sua vez, lhes foi cedida pela secção de Natação. No final do segundo mandato de

Fernando Gonçalves (2006) foi criada “uma comissão para discutir soluções para o problema da distribuição de espaços”, de acordo com Ricardo Matos, na altura nomeado para a dirigir. Foi durante o mandato de Paulo Fernandes que a comissão levou a cabo um inquérito enviado a todas as secções e organismos. Nesse inquérito apurava-se o tipo de actividades desenvolvidas, bem como sugestões para a resolução do problema dos espaços no edifício da AAC. Para Ricardo Matos, “o problema não era a falta de espaço, mas sim a sua má distribuição”. “O propósito era olhar para as salas como um local de trabalho e não com outros fins, como museus ou arquivos”, explica. Em relação à cedência de salas, como foi o caso da secção de Natação às secções de Fotografia e de Divulgação das Culturas Lusófonas, Ricardo Matos esclarece que “estas soluções pontuais não resolvem o problema de fundo e prejudicam tanto as secções que cedem os espaços como as que os vêm ocupar”. Matos tece várias acusações à Direcção-Geral da AAC (DG/AAC), presidida por André Oliveira e afirma que “não houve qualquer interesse da direcção-geral em discutir o assunto”, chegando mesmo a dizer que “era objectivo [da

DG/AAC] não avançar de acordo com as sugestões da comissão”. André Oliveira recusa as acusações e explica que “para uma comissão funcionar é preciso haver vontade de todos os intervenientes e lembra que “os organismos autónomos deixaram de participar na comissão”.

Falta de meios condiciona medidas a longo prazo O presidente da DG/AAC, Jorge Serrote, defende que “a solução passa por chegar a entendimento com algumas secções e organismos em relação a casos concretos”. Serrote admite que as soluções que têm sido postas em prática são “provisórias”, contudo aponta a falta de meios económicos como entraves para medidas a longo prazo. “Já se fala de uma reestruturação do edifício da AAC, mas é algo que só daqui a alguns anos é que pode arrancar”, revela. O projecto de uma nova infra-estrutura no Pólo II está também condicionado: “é algo que foi idealizado, mas não existem verbas por parte da Reitoria”. Quanto à reunião de hoje, “a DG/AAC está a aguardar e a conversar com as secções e organismos”, mas confia que resultará algo de concreto dela.

Com Filipa Magalhães


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CULTURA

RAQUEL FREIRE • CINEASTA

cultura por 1

a

ABR

15

cá “Quantos medos são precisos

para construir uma tradição?”

ABR

PINTURA E ESCULTURA EXPOSIÇÃO DE JOÃO CAETANO CAFÉ SANTA CRUZ

3

ABR

Foi no curso de Direito, em Coimbra, que descobriu que o cinema era o seu caminho. Fez documentários, curtas e longas metragens. Agora, está a escrever um livro e a preparar um novo filme. Por Tiago Carvalho e Sara Oliveira

SOAKED LAMB Salão Brasil 23H • 5¤

3 ABR

VIII FESTIVAL DE TUNAS MISTAS DE COIMBRA 8 BALADAS 21H • TAGV GRATUITO

4

ABR

ANDRÉ SARDET PAVILHÃO POLIDESPORTIVO 21H30 15¤ -20¤

4 ABR

DIATRIBES SALÃO BRAZIL 3¤ • 11H

5

ABR

A JIGSAW – LIKE THE WOLF FNAC • 17H

10 ABR

MILLION DOLLAR LIPS FNAC • 17H

11 ABR

BEATRIZ PORTUGAL JAZZ QUINTET Salão Brasil 11H • 5¤

14 ABR

a

30 ABR

JOSÉ JÚLIO MONTEIRO DE BARROS EXPOSIÇÃO DE PINTURA GALERIA ALMEDINA

14 ABR

O TIGRE E A NEVE FNAC • 21H30

Por Patrícia Gonçalves

SARA OLIVEIRA

Raquel rende-se aos encantos do apetecível. Mas quando chove, não tem medo de se molhar. Tem 35 anos. Deu cinco deles a Coimbra, mas deixou a cidade para mais tarde fazer dela um filme – “Rasganço”. Polémico, por sinal. Não era anti-praxe, mas viveu numa República que o era com todas as letras. Escolheu a diferença para não se apagar. No Bairro Alto, em Lisboa, mostra na primeira pessoa como a sua vida dava uma longa-metragem só com imagens. Como é que foi a sua experiência na Associação Académica de Coimbra (AAC)? Deu-me a consciência de que é muito difícil o equilíbrio de estar no poder, de ser justa, respeitar as regras da democracia e não ficar viciada no próprio poder. Nós estivemos quatro anos na [Direcção-Geral da ] AAC e no final decidimos todos sair e extinguir a lista. O poder estava-nos a sujar as mãos a todos. Aí percebi que não era Direito [que queria] e não iria seguir uma carreira política. Por muito que a situação de poder me desafie. Por que é que escolheu Coimbra para estudar? A minha avó paterna foi a primeira mulher a ir no cortejo da queima como finalista com cartola, bengala e traje. Para ela foi um triunfo e uma conquista poder desfilar com todas as honras de estudante que está a terminar o curso. Os meus pais estiveram ligados à AAC, estiveram os dois presos na cantina quando a PIDE fechou aquilo tudo. Como os meus pais andaram lá, tinha uma ideologia muito romântica, e a noção de que Direito tinha de ser em Coimbra. Coimbra tem tradição a mais? Quando eu cheguei a Coimbra tive a noção que tudo era regulamentado. Havia regras para tudo, demasiadas. Mas quantos medos são precisos para construir uma tradição? A tradição constrói-se sobre o medo, não sobre o respeito. As regras quando fazem sentido são regras que evoluem com as pessoas. Acho que Coimbra tem tradições revolucionárias, é um sítio de lutas estudantis, emancipação dos direitos das mulheres, da resistência ao fascismo, e é uma tradição que espero que continue a existir. Respeito as tradições que quiser. E as que não quiser são uma opressão à minha pessoa. Se não fores forte podes ser atropelado. Foi anti-praxe?

Curiosamente não. Estava numa República anti-praxe. Mas dei por mim a contestar a tradição anti-praxe. Estava na República quando a minha avó me queria oferecer um traje académico, coisa que nunca me passaria pela cabeça. Ela, enquanto mulher, tinha imenso orgulho naquilo porque era um símbolo da sua liberdade, como ela se tinha conseguido emancipar. E eu por respeito a isso, disselhe que sim. Comentei isso num almoço na República. E logo me disseram que se eu vestisse o traje académico me atiravam com tudo pela janela, nunca mais me falavam. Era expulsa. Disse-lhes que eles eram tão fascistas como os outros. E não, não aceito isso. Nunca praxei ninguém, nem nunca pratiquei a praxe, apenas usei o traje académico como símbolo do estudante da Universidade de Coimbra. Foi a primeira a fazer uma serenata… O que é que há numa mulher que a impeça de fazer uma serenata? Não pode expressar o seu amor? Não pode cantar? Não pode fazer charme a alguém? Não entendia. Se fosse pela tradição, ainda tínhamos a escravatura hoje em dia e as mulheres não podiam votar. Fizemos um grupo feminino que fazia várias serenatas, mas fomos muito mal tratadas por grupos da academia. A primeira vez que actuámos não conseguimos que fosse num sítio da universidade. Foi na casa da cultura. Quando demos o concerto, à porta estavam vários praxistas que nos atiraram tomates. É uma atitude de exclusão! “De loucos todos temos um pouco”. Como é a loucura da Raquel? Fui muito amada na minha infância e não tenho a necessidade constante de agradar. Porque é que as pessoas aderem à praxe? Porque querem pertencer ao grupo. Com os vencedores estamos protegidos. Mas é do conflito de ideias que surge o progresso. Eu tinha uma loucura bastante inconsciente no que fazia. O Expresso denominou-a de “cineasta obscena”. É a expressão ideal para a descrever? O “obscena” vinha do lado do obscuro, porque obscena em latim, significa obscuro, ou seja, aquele lado que não se explica bem. O lado mais negro, menos ordenado, mais caótico. Sou uma cineasta que filma uma área pela qual se sente atraída, pelo lado mais obscuro das pessoas, mais

RAQUEL, antes de filmar, costuma perceber que ângulos a câmara capta

obsceno. Porquê? Porque não me interessa fazer a apologia da ordem e do sistema. Isso já existe. Sem liberdade vive-se muito pior. A sinopse do “Veneno Cura” lança muitas questões. “Quando perde tudo o que há a perder”, o que é que a faz continuar? As pessoas. O amor que eu sinto pelas pessoas. Não era capaz de ser eremita. Coimbra vai estar na rota dos seus próximos filmes? Neste momento não. Mas foi-me feito um desafio em Coimbra, há algum tempo, e era uma coisa que eu gostava de fazer, mas não sei quando. É segredo. Existem muitas ideias que lhe surgem do nada e quer concretizar ou é mais linear? Não, eu agora estou com cinco projectos ao mesmo tempo. Estou a ter-

minar “A vida queima” e a escrever um livro. Tenho um documentário que vai estrear agora. Tenho o “As leis do corpo” para começar, e dou aulas. A Raquel tem uma tendência enorme para a dispersão. Fez um casamento político em frente à Assembleia da República. Foi só político? Sim, uma acção política directa. Pertenço a um grupo de activistas, os Panteras Rosa, e a acção partiu desse grupo. Fizemos um projecto, que sabíamos que ia chumbar. E se não nos permitiam [casar], nós cá fora desafiámos as regras e decidimos fazê-lo. Quais são as cores da vida da Raquel? Vermelho. Porque é a cor do sentimento e é impossível viver sem amor. E do amor em sentido absoluto. Não imagino a minha vida sem o amor que eu tenho. Sempre que me dizem “é por aqui”, eu posso sempre questionar isso. Podem-nos tirar o dinheiro para fazermos tudo, podem, mas não me podem tirar o sonho.


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DESPORTO

PSICOLOGIA EM CONTEXTO DESPORTIVO

P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

A importância do treino mental

BASQUETEBOL

CATARINA SANTOS

Em competição, o desgaste físico é acompanhado de esforço mental. Entra em acção o psicólogo para ajudar no alcance do sucesso Catarina Domingos Uma vitória ou uma derrota dependem de centésimos de tempo ou de espaço. Para lidar com o sucesso e com o fracasso, a área da psicologia desportiva é cada vez mais explorada como uma das áreas que influencia o rendimento dos intervenientes. Este foi o ponto de partida para o seminário “A importância da psicologia em contexto desportivo”, organizado pelo departamento de formação da Académica/Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF), no passado sábado, 28. O treino mental, as pressões sociais, as lesões e alta competição foram os pontos abordados pelos oito oradores que estiveram presentes na iniciativa. Desmistificando preconceitos relacionados com a ideia da intervenção psicológica, o psicólogo Jorge Silvério defende que “há muita preocupação com a parte física e esquece-se a cabeça”. Um psicólogo desportivo trabalha os níveis de confiança, a atenção, a relação treinador-atleta, a liderança e o espírito de equipa. “Não é fácil ter um balneário e pô-lo na mesma direcção”, adverte o docente da Universidade do Minho. O director do Departamento Pedagógico do Futebol Clube do Porto,

FUTEBOL

É UNÂNIME PARA OS ESPECIALISTAS que o treinador não consegue fazer tudo sozinho

Ângelo Santos, sublinha a necessidade de se falar em psicologia social quando se fala em prática desportiva. “O desporto é um fenómeno social, que envolve muita gente”, alerta. Perante a inevitabilidade da pressão, o director considera que “o psicólogo é mais um a fazer influência”.

Psicologia na formação e nas lesões O sonho de uma carreira desportiva começa cedo e as pressões sociais também surgem na tenra idade. No período de iniciação, “trabalha-se a comunicação dos pais e dos treinadores”, conta o director da Associação Portuguesa de Escolas de Futebol, Pedro Teques. Ainda assim,

o docente chama a atenção para o comportamento paternal e esclarece que “o envolvimento dos pais não é o que fazem nas bancadas, mas sim em casa”. “Nesta etapa, o fundamental para os jovens é o prazer de jogar”. Outro dos momentos em que o treino psicológico assume importância é na altura das lesões. “É durante o sacrifício que o atleta se conhece a si próprio”, sustenta o docente e instrutor UEFA, José Neto. Durante o período de recuperação de uma lesão, os riscos maiores incluem a perda de identidade, a ansiedade e a falta de confiança. A dor, o stress emocional ou a culpabilidade são, no entender de José Neto, “factores que condicionam o insucesso

ou o sucesso da recuperação”. O autor do livro “Lesões, Treino… Futebol” sublinha que, no período de acompanhamento, “lesões iguais em atletas diferentes, têm um tipo de intervenção diferente”. A convergência de todos para superar a dor é um dos passos mais importantes. “O envolvimento dos diferentes profissionais implica uma tomada de atitudes de encorajamento capaz de tranquilizar”, resume. O seminário que analisou a intervenção do psicólogo foi o segundo organizado pelo departamento de formação e juntou estudantes da área da psicologia e desporto, treinadores e atletas.

A lutar por um lugar na divisão de honra D.R.

Com o fim da fase regular do campeonato, a Académica termina em primeiro lugar e tenta agora o regresso ao escalão principal Ana Catarina Fonseca Andreia Silva Depois de ter ficado em primeiro lugar na fase regular do Campeonato Nacional da Primeira Divisão com 57 pontos, a equipa sénior de rugby da Associação Académica de Coimbra (AAC) vai disputar no próximo fim-de-semana as meias-finais da prova. No sábado passado, a Académica venceu o Rugby Clube de Évora por 17-8, terminando a

Depois de ter assegurado a presença nos play-off, a equipa sénior da Académica perdeu em casa com o CAB Madeira por 75-89, em jogo da 30ª jornada da Liga Portuguesa de Basquetebol. É a nona derrota da turma de Norberto Alves esta temporada. Com este resultado, a equipa dos estudantes mantém-se no 5º lugar da tabela classificativa, com 45 pontos. O próximo encontro está marcado para dia 11 de Abril frente ao Seixal FC.

etapa regular com 12 vitórias. Para a última fase, constituída por meias-finais e final, a AAC vai lutar por um lugar na Divisão de Honra, escalão principal do rugby português, no qual a Académica participou na temporada passada. O treinador, Sérgio Franco, realça a regularidade da equipa e mostra-se confiante. “Vamos conseguir atingir os nossos objectivos de vencer na fase final os dois jogos que faltam”. No entanto, reconhece que “os desequilíbrios de outros tempos já lá vão” e que “há equipas que realmente se esforçaram e que têm uma boa organização”. Apesar dos bons resultados, chegar até aqui não foi fácil. O presidente do clube, Jaime Carvalho, aponta “algumas lesões” e falhas no que toca ao “compromisso por parte de atletas da secção” como principais dificuldades da equipa. A presença desta época na pri-

meira divisão acarreta um nível competitivo bastante inferior. “A diferença existente entre as equipas que disputam este campeonato e as da Divisão de Honra é astronómica. Este ano ganhámos, salvo erro, três jogos por mais de 100 pontos de diferença”, explica Jaime Carvalho. Na temporada passada, a AAC terminou a passagem pelo primeiro escalão em último lugar, com seis pontos. No que diz respeito ao reconhecimento nacional, o presidente da formação refere que “a equipa não tem grande projecção neste momento”, apesar de ser dos clubes com mais títulos a nível internacional. Para o futuro, Sérgio Franco prevê algumas dificuldades para a Académica acompanhar a crescente profissionalização da modalidade, mas acredita que nos próximos tempos “vai alcançar o lugar que historicamente lhe pertence”.

A Académica SF venceu fora o S. Pedro Alva por 10. A equipa de Bruno Fonseca conseguiu a segunda vitória na fase de apuramento da 1ª Divisão Distrital Série A da Associação de Futebol de Coimbra e soma agora seis pontos. Na próxima jornada, dia 5, a AAC joga em Lagares da Beira com a equipa local.

BADMINTON Na sexta jornada do Circuito Nacional de Veteranos, em S. Paio de Oleiros, a Académica alcançou as meias-finais no torneio de pares, com a dupla Miguel Oliveira (AAC)/Pedro Jorge (Clube de Badminton de Leiria) a conseguir um terceiro lugar. Entre 30 de Abril e 3 de Maio, a Académica fazse representar por três atletas nos Campeonatos Internacionais de Portugal, nas Caldas da Rainha.

ANDEBOL A equipa júnior da Académica perdeu fora com a AD Sanjoanense por 26-22, em jogo da oitava jornada do Campeonato Nacional de Juniores Segunda Fase Zona 2. Com esta derrota, a equipa de Miguel Catarino soma 20 pontos. Na próxima ronda, a AAC joga com o Grupo Futebol Empregados Comércio, em Santarém. Liliana Guimarães Sónia Nogueira


8 | a cabra | 31 de Março de 2009 | Terça-feira

CIÊNCIA & TECNOLOGIA Redes sociais ligam comunidade universitária Twitter, Rede de Antigos Estudantes da UC e WOC são algumas das plataformas on-line utilizadas pela universidade para a interacção entre alunos e professores Alice Alves Filipa Faria Amanhã, 1 de Abril, o Twitter da Universidade de Coimbra (UC) comemora um ano. O Twitter é uma rede social destinada ao microblogging, onde são permitidas actualizações com um máximo de 140 caracteres enviadas através de SMS, e-mail ou sítios da internet oficiais. Ligadas à universidade existem duas contas do Twitter. A conta Media UC, gerida pela Assessoria de Media da Universidade de Coimbra, foi criada há um ano, com o intuito de fazer chegar aos jornalistas comunicados, novidades e notas de agenda da universidade. O outro registo no Twitter surgiu há dois meses, servindo de reforço ao site Estou na UC. Como explica o assessor de imprensa da

UC, Pedro Santos, esta conta “é dirigida a estudantes pré-universitários como forma de divulgação da universidade e angariação de potenciais alunos”. Pedro Santos afirma que ainda é cedo para tirar conclusões sobre o impacto que o Twitter Estou na UC teve nos alunos. “A página on-line, essa sim, revela-se um ponto importante para nos aproximarmos dos estudantes”, defende o assessor de imprensa. Além do Twitter, o Estou na UC tem também um canal no Youtube, onde podem ser vistas notícias sobre actividades da instituição, divulgadas nos media. Embora esteja preocupada em recrutar novos alunos, a UC não esquece os que por ela já passaram e, para o demonstrar, em 2006, foi criada a Rede de Antigos Estudantes da Universidade de Coimbra. A responsável pelo projecto, Isabel Gomes, explica que é importante manter esta rede, porque “a maior parte dos estudantes que se forma na UC acaba por não ficar na ci-

dade a exercer a sua actividade”. “O reconhecimento da natureza singular que representa toda a vivência enquanto estudantes da universidade”, é o aspecto apontado pelo vice-reitor responsável de Comunicação e Identidade da UC, Pedro Saraiva, para que valesse a pena criar esta rede de interacção entre a universidade e os antigos alunos. A rede foi desenvolvida em parceria com as associações de antigos estudantes espalhadas por todo o país, que, segundo Pedro Saraiva, “devem ser dinamizadas, tirando partido das novas tecnologias de informação e comunicação”.

A comunidade foi criada com o objectivo de dar a conhecer o que acontece na universidade e oferecer aos antigos alunos a possibilidade de voltar a reviver os tempos de estudantes da UC frequentando as “acções de formação de conferência à distância qualificadas pela universidade”, acrescenta Pedro Saraiva. O utilizador pode ainda restabelecer contactos dos seus tempos académicos, pois a plataforma permite saber quantas pessoas do seu curso estão registadas, e estabelecer uma rede de comunicação pessoal e profissional. A rede tem actualmente 15 mil membros e todos os meses recebe

cerca de 400 novos registos. Em dois anos o número de antigos estudantes a usufruir da rede será igual ao número de alunos matriculados na universidade, adianta o assessor da UC. Além das plataformas utilizadas para interagir com os futuros e antigos estudantes, a Universidade de Coimbra dinamiza a plataforma Web On Campus (WOC) para aproximar professores e actuais

alunos. Pedro Saraiva explica que é “um suporte à actividade pedagógica e um veículo de eleição para disponibilizar informação escolar aos alunos”. Através da WOC os alunos têm acesso ao material disponibilizado pelos professores, sumários das aulas e às suas notas obtidas a cada cadeira. Pedro Saraiva não esconde o orgulho na “eficácia do funcionamento de todas estas plataformas de apoio à comunicação” e diz ter consciência de que “ainda podem evoluir e melhorar”. No futuro é pretendido “torná-las ainda mais dinâmicas”, defende.

Conclusão da expansão do Biocant prevista para 2011 D.R.

O centro de inovação e desenvolvimento situado em Cantanhede vai abrigar quatro novas estruturas Patrícia Gonçalves A segunda fase do projecto Biocant vai atrair sete empresas “na sua maioria jovens ou criadas com base em investigação realizada no Biocant”, explica o presidente do conselho de administração do centro de inovação, Carlos Faro. A expansão do Biocant consiste na criação de quatro novas estruturas. O Biocant II, para a instalação de empresas que necessitem de espaço laboratorial próprio; o CNC Biotech, que vai alojar o sector de biotecnologia do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC); o Biocentro , um

“espaço multimédia dedicado à divulgação das biociências; e o Biopilot, é uma unidade industrial piloto de biotecnologia. O projecto de 18 milhões será financiado por capitais próprios do Biocant, sendo que a Câmara Municipal de Cantanhede é o principal accionista. Espera-se também o financiamento da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), uma vez que o concurso para parques de ciência e tecnologia “está para breve, provavelmente em Abril”, afirma Carlos Faro. Estima-se que o espaço físico do Biocant que vai restar desta segunda fase será reservado para uma grande unidade industrial ou um centro de investigação e desenvolvimento de uma empresa multinacional. O Biocant é o primeiro parque de biotecnologia de Portugal, tendo criado 120 postos de trabalho desde a sua abertura em Setembro de 2005.

No ano passado, também em Setembro, o Biocant assinou um protocolo com o Ministério da Ciência e Tecnologia de Moçambique que já está em vigor. Neste momento, “estão a ser estudados projectos específicos de interesse comum e a possibilidade de replicar o modelo Biocant em Moçambique”, explica o presidente do Biocant. O Biocant é também um marco para o município em que está localizado, “contribuiu em muito para a mudança de paradigma de desenvolvimento do concelho e para a imagem de Cantanhede, que passou a ser conhecida pela aposta na inovação e na alta tecnologia”, afirma Carlos Faro. A Cabra tentou contactar o presidente da CCDRC, Alfredo Marques, e o presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, João Moura, contudo, mostraram-se indisponíveis para prestar declarações até ao fecho desta edição.


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CIDADE

Opiniões dividem-se quanto ao trabalho dos deputados por Coimbra Nas últimas eleições legislativas, em 2005, o distrito de Coimbra elegeu dez deputados na Assembleia da República. Contudo, até agora, apenas duas acções de carácter local foram apresentadas LEANDRO ROLIM

Marta Pedro João Ribeiro “Somos eleitos por círculos, mas o mandato do deputado é um mandato nacional”, é assim que Fernando Antunes, um dos deputados do Partido Social Democrata (PSD) eleitos por Coimbra para a Assembleia da República (AR), comenta a questão da representatividade. Esta é, de resto, uma opinião partilhada pela maioria dos deputados do círculo. A deputada do Partido Socialista (PS), Matilde Sousa Franco, confessa que avançou para o parlamento “cheia de esperança de poder fazer muito mais” mas que alguns “condicionalismos” a levaram a dedicar-se sobretudo a questões nacionais. A consulta às iniciativas encabeçadas pelos deputados de Coimbra revela que o trabalho legislativo não tem dado resposta aos desafios que o distrito impõe. O deputado por Coimbra do PSD, Paulo Pereira Coelho, admite que “há muitas razões de queixa em relação à maneira como as coisas funcionaram”. Paulo Coelho culpa o Governo socialista e embora não responsabilize os outros deputados admite que “apesar de terem mostrado alguma incomodidade, o que conta são os resultados”.

Actividade com pouco reflexo em Coimbra Uma das críticas mais frequentes é a falta de proximidade dos deputados em relação ao distrito pelo qual foram eleitos. O sociólogo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES), Fernando Ruivo, afirma que “este não é um problema exclusivo de Coimbra, pois toda a classe política está sediada em Lisboa”, o que se traduz “num desconhecimento dos problemas dos círculos que representam”. “O que me liga a Coimbra são relações afectivas que, por vezes, são mais importantes que as outras”, declara a deputada do PS, Maria Almeida Santos, num vídeo de apresentação no site do Parlamento Global. É desta forma que a deputada justifica a sua candidatura pelo círculo, apesar de “nunca ter morado ou estudado em Coimbra”, como refere no mesmo vídeo. Com uma perspectiva mais próxima da cidade, o deputado do PS e vereador da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Vítor Baptista, reforça que o seu trabalho no município o ajuda a ter “uma visão mais geral dos problemas do distrito”. Entre os deputados que representam Coimbra na AR,

Vítor Baptista é o único que ocupa estes dois cargos em simultâneo e afasta a existência de qualquer desvantagem derivada desta situação. “Ainda bem que as reuniões não são coincidentes, o que me permite conciliar os dois cargos”, explica. O deputado do PS, João Portugal, refere que “no distrito já visitou instituições sociais, empresas e cidadãos individuais”, no cumprimento do Regimento da AR que reserva “as segundas-feiras para o contacto dos deputados com o eleitorado”. O politólogo André Freire encontra a explicação para a relação entre deputados e círculo eleitoral no próprio método de voto. “Por um lado, existem círculos muito grandes e, por outro lado, o voto é feito em sistema de lista fechada”, esclarece. O especialista critica a preocupação dos deputados em “agradar ao líder”, o que acaba por afectar “o zelo pelos interesses de quem os elege”. Em relação ao que foi feito pelo grupo de deputados, as opiniões divergem. “Como em todas as profissões, na AR há deputados mais empenhados e outros menos. De uma forma geral, penso que os deputados, tanto do PS como do PSD, se preocupam com o distrito”, assegura o deputado do PSD, Miguel Almeida. Na opinião do deputado socialista, Horácio Antunes, “não há falta de iniciativas” e faz referência a várias acções: “requerimentos, perguntas ao Governo, a discussão em plenários e visitas aos diversos locais do distrito”. Em termos de acções legislativas de carácter local, Coimbra tem apenas duas, relacionadas com a criação e integração de freguesias. “Há outras formas de trabalho que não passam pela tarefa legislativa, propriamente dita”, defende Maria Almeida Santos. A socialista assegura que o grupo de deputados de Coimbra “apresentou as iniciativas que achou necessárias”. Para além de legislar, o trabalho dos deputados tem passado, nomeadamente, pela apresentação de requerimentos e intervenções em plenário. Miguel Almeida refere, por exemplo, a “apresentação do projecto de promoção do Baixo Mondego, aprovado por unanimidade”.

Oposição critica trabalho dos deputados Entre os líderes de algumas das listas que não conseguiram assento na AR a avaliação acerca da prestação dos deputados por Coimbra é unânime: ficou muito por fazer. O cabeça de lista, em 2005, pela Coligação Democrática Unitária (CDU), Mário Nogueira, é assertivo na sua apreciação do trabalho dos

AS INTERVENÇÕES dos deputados eleitos por Coimbra centram-se em assuntos da agenda nacional

deputados: “não consigo fazer avaliação nem positiva nem negativa, porque não há avaliação nenhuma a fazer de uma coisa que não existe”. Mário Nogueira continua: “Coimbra não perdeu, mas também não ganhou nada durante estes quatro anos”. Opinião coincidente tem o excandidato pelo Partido Popular (PP), Luís Nobre Guedes, que afirma não terem sido feitos progressos “em relação àqueles que são os problemas do distrito e da cidade de Coimbra”. Segundo Nobre Guedes, “os deputados deviam ter apresentado sugestões concretas para que fosse reconhecido a Coimbra um estatuto

especial na área universitária e na área da saúde”. O candidato às legislativas de 2005 do Bloco de Es-

“Coimbra não perdeu nem ganhou nada durante estes quatro anos” querda, José Manuel Pureza, salienta a saída da Direcção Regional de Economia (DRE) do centro de Coimbra como resultado da “falta de

atenção e de acção” por parte dos deputados em relação à região. Segundo Fernando Ruivo, a reduzida importância política de Coimbra no panorama actual “é uma tendência que não é de agora”. O facto de “os grandes decisores não saírem de Coimbra, ou quando saem, esquecerem a cidade rapidamente” é, para o investigador, a principal justificação para a perda de influência da região. A CABRA contactou a deputada do PSD, Zita Seabra que se mostrou indisponível para prestar declarações até ao fecho desta edição. Com Filipe Sousa


10 | a cabra | 31 de Março de 2009 | Terça-feira

TEMA

CLUBES DE COIMBRA

O ESTÁDIO DA CIDADE

ANDRÉ FERREIRA

O PRIMEIRO jogo do União de Coimbra em casa, após a consagração como campeão da Divisão de Honra, decorreu em clima de festa

Quem vive em Coimbra desconhece que existem na cidade outros clubes para além da AAC/OAF. Depois de o União de Coimbra se sagrar campeão da Divisão de Honra da AFC, A CABRA foi conhecer outras equipas da cidade. Por Catarina Domingos e João Miranda jogo ainda não começou e o trio de bombos e gaiteiros, Boinas Negras de Ribeira de Frades já circula no Estádio Sérgio Conceição, em Coimbra, numa perfeita romaria azul e encarnada. Lá dentro, os cerca de 200 adeptos parecem ignorar as 2500 cadeiras do estádio e empoleiram-se no corrimão que faz a divisão entre a bancada e o campo. O ambiente é de festa. E o caso não é para menos, afinal este é o primeiro jogo do União de Coimbra em casa após a consagração como campeão da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Coimbra (AFC). Tanto a direcção como a

O

equipa fazem questão de celebrar a solenidade do acontecimento e, após a leitura de um comunicado a agradecer aos sócios pela dedicação ao clube, os jogadores entram em campo com a cara e o cabelo pintados com as cores do clube. Não é preciso esperar muito e, aos cinco minutos, pelos pés de Bandeira está inaugurado o marcador. Nas bancadas, o rejúbilo é geral, e quase que como dominadas pela voz que soa dos altifalantes do estádio, as bandeiras e os cachecóis erguemse no ar. Mas é sol de pouca dura – um castigo mal assinalado depressa desperta a ira dos adeptos, que não

temem em encontrar na disputa uma repetição da própria história: “Oh Lucílio Baptista, põe-te a pau!”. E enquanto uns não descansam sem que seja reposta a justiça em campo, outros aproveitam para tratar de negócios pendentes: “Oh Zé, meti o teu nome para o porco e já o paguei”. Os dois golos no final da primeira parte não esmorecem a dúvida sobre a legitimidade do juiz da partida e um comentário mais ríspido instaura uma discussão sobre a toda lógica darwinista, que só termina com o reparo de uma adepta que pede em alta voz: “não digam mal do homem! Nós somos humanos, não somos animais!”.

O frio finalmente leva a melhor e a segunda parte começa com a maioria da massa associativa amontoada no único canto da bancada onde o sol ainda espreita. Dentro de campo, os três golos da segunda parte acabam por definir o resultado final, 6-0, que, tendo em conta a época da equipa, não representam uma grande surpresa.

União de Coimbra campeão O Clube Futebol União de Coimbra (CFUC) soma agora 65 pontos, com 81 golos marcados em toda a temporada. A festa da subida deu-se no passado dia 22 de Março, em que

nem a primeira derrota desta época evitou a consagração do título. Depois de ter caído para as distritais em 2006/07, o CFUC atravessou uma crise financeira, com dívidas à segurança social e ao fisco, que obrigou à venda judicial dos bens do clube. Entretanto, uma nova direcção eleita, sob o comando de Carlos Félix, impulsionou novas medidas e novos projectos para o clube, como a reabilitação do Campo da Arregaça. Para o presidente do União de Coimbra, o objectivo é agora “melhorar sempre, para poder lutar pela II Divisão”. Para além da recuperação do antigo campo, a direcção tem ainda prepa-


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TEMA

ANDRÉ FERREIRA

O VIGOR DA MOCIDADE conta actualmente com 200 atletas inscritos

rado as comemorações dos 90 anos do clube e a dinamização de uma equipa feminina de futebol. Fundado em 1919, o União de Coimbra contou já com uma presença na I Divisão Nacional na época de 1972/73. A equipa alcançou ainda os quartos-de-final da Taça de Portugal em 1944.

As contas do Vigor Na década de 30, um grupo de jovens solteiros de Fala, revoltado com o facto de apenas serem admitidos homens casados como sócios na única associação local, decidiu criar o Grupo Recreativo Vigor Mocidade. Contudo, só 20 anos depois se começaram a organizar as primeiras equipas de futebol. Sem campo próprio, a equipa disputava unicamente torneios organizados por outros clubes, como visitante. O recinto próprio só viria a ser inaugurado em 1964, com o nome “Campo dos Sardões”. Foi o primeiro passo para o Vigor ascender às divisões distritais de Coimbra, as quais só abandonou quando atingiu a III Divisão Nacional, escalão que ocupa actualmente, em sexto lugar, tendo já garantida a manutenção. A subida à III Divisão implicou profundas reestruturações na equipa e na organização do clube, que o presidente do Vigor da Mocidade, Mário Fernandes, explica terem sido necessárias para dar resposta ao escalão em que a equipa

compete. “As equipas, quando vão à III Divisão, têm de ter já um estatuto. E nós não o tínhamos”, defende o dirigente. A forte aposta nas camadas jovens reflecte-se na composição da equipa sénior, que integra unicamente estudantes e trabalhadores. A massa associativa de cerca de mil pessoas debate-se com a falta de financiamento. Mário Fernandes lamenta que “o clube não receba os subsídios que qualquer equipa da III Divisão aufere. O Vigor com água, luz, gás e manutenção do campo gasta 2500 euros mensais”. No futuro, o presidente do Vigor da Mocidade acredita que a crise vai afectar todos os clubes da III Divisão Nacional. Contudo, o dirigente argumenta que, devido à condição financeira do Vigor e à ginástica orçamental consequente, o clube vai conseguir “equilibrar as contas”.

Académica SF aposta na juventude Depois de terminar em primeiro lugar a fase regular da I Divisão Distrital Série A, a Académica SF luta agora por um lugar na Divisão de Honra. Muitas vezes confundida com o Organismo Autónomo de Futebol (OAF), a Académica SF é na verdade a representação sénior da Secção de Futebol da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC) no desporto nacional. O clube foi criado em 1887, mas ANDRÉ FERREIRA

O CAMPO SINTÉTICO do Vigor foi aplicado há três anos

foi precisar esperar pela época de 1922/23 para obter a primeira vitória oficial, contra o Moderno. Da história da equipa fazem também parte a conquista da primeira edição da Taça de Portugal, em 1939, e a presença na Taça das Taças, na temporada de 1969/70. Uma deliberação da Assembleia Magna da AAC pôs termo ao futebol profissional da Academia e abriu as portas à divisão do clube entre a SF/AAC e o OAF. Nos últimos anos a equipa tem oscilado entre a Divisão de Honra e a I Divisão Distrital. Actualmente, a par do trabalho para voltar ao escalão mais alto das distritais, o clube tenta “pôr as contas em ordem, organizar melhor a equipa e apostar na formação”, como explica o presidente da SF/AAC, Rui Pita. Este investimento já começou a reflectir-se na vida do clube, que rapidamente passou de 25 para 140 atletas. Também a reabertura do Campo de Santa Cruz veio trazer um novo fôlego à secção. Porém, como aponta Rui Pita, o espaço não está modelado para competições de futebol de 11, o que faz do Estádio Universitário a principal casa da Académica SF. Todavia, também as condições do estádio não são as melhores para a prática futebolística. “O estado do Estádio Universitário é muito mau. Está degradado e é difícil fazer alguma coisa lá em baixo. Em termos de iluminação é ridículo, está direccionada para a pista de

atletismo”, critica o presidente da SF/AAC. Ainda assim, a equipa pretende continuar o trabalho desenvolvido, não só nos seniores, como nas outras camadas, como o demonstram as recentes iniciativas da secção: a fundação de escolas de futebol e a criação de uma equipa feminina.

Eirense inaugura novo sintético A inauguração do campo relvado sintético do União Clube Eirense veio trazer um novo ânimo ao Parque Desportivo do Campo Vale do Fôjo. Porém, a mudança infraestrutural não se vai ficar pelas novas instalações e está já projectada “a construção de uma nova bancada e a aquisição de terrenos [adjacentes] para fazer um campo de apoio ao novo”, assegura a presidente do Eirense, Catarina Crisóstomo. Fundado em 1964, o clube conta na sua história com uma presença na III Divisão Nacional e com uma participação na Taça de Portugal, ambos na época de 1971/72. Desde então, o Eirense tem competido apenas nas divisões distritais, tendo terminado esta época em oitavo lugar na I Divisão Distrital Série A. Na segunda fase da prova, o Eirense disputa o torneio de encerramento. Com cerca de 500 sócios, 150 atletas de formação e 25 seniores, “a situação do clube é de crescimento. Foram criadas escolas de formação,

que têm conquistado alguns patamares”, sublinha Catarina Crisóstomo. Apesar do isolamento da sede em relação ao centro de Eiras, a aplicação do sintético veio trazer novas pessoas para o clube. “Temos verificado muita gente a vir ver treinos, a acompanhar os atletas e a envolverem-se mais com o clube”, constata a presidente, que adianta ainda que a próxima etapa da colectividade vai ser resolver a gestão de espaço.

Adémia em último Com apenas um ponto somado em toda a temporada na Divisão de Honra, a Associação Desportiva e Cultural da Adémia não se livra da despromoção à I Distrital. O clube, de 28 anos, começou apenas por integrar camadas seniores, mas durante o 15º aniversário inscreveu uma equipa de juvenis e mais tarde, uma de juniores. Actualmente, conta, para além das anteriores, com escolas e infantis A e B. No início deste ano, a Câmara Municipal de Coimbra confirmou a instalação de um campo sintético no pelado do clube. No próximo domingo, 5 de Abril, a Adémia vai defrontar o primeiro classificado da Divisão de Honra, o União de Coimbra, num jogo sem grandes sobressaltos, afinal o destino das duas equipas já está definido. SÓNIA FERNANDES

APESAR do isolamento da sede do Eirense, a aplicação do novo sintético veio trazer mais adeptos para o clube


12 | a cabra | 31 de Março de 2009 | Terça-feira

PAÍS & MUNDO D.R.

A PRIVATIZAÇÃO da segurança social falhou. Nos EUA, exige-se a mão do Estado

Estado-providência português ainda longe dos parceiros europeus Com o actual panorama de crise financeira internacional, alguns Estados podem ter dificuldades para garantir a protecção social mais adequada Vasco Batista Bruno Monterroso No período de prosperidade económica após a Segunda Guerra Mundial, os países mais desenvolvidos do mundo adoptaram modelos de regulação social assentes na relação entre o capital e o trabalho. O Estado, a par das suas habituais funções, alargou o seu âmbito de intervenção com vista ao desenvolvimento económico. Foram, assim, aplicados os ideais do Estado-providência que pautam por uma segurança social eficaz e pelo bem-estar, ao mesmo tempo que fomentam a justiça social. O intervencionismo estatal é redobrado, seja pela redistribuição dos rendimentos, seja pela criação de um rendimento mínimo, criando um sistema de cobertura de riscos, como são os subsídios de doença e de desemprego. A implementação desta nova matriz de Estado ocorreu de

acordo com diferentes padrões, conhecendo variações geográficas, notórias no sul da Europa. Em Portugal, o sistema nasceu numa fase mais tardia e sob um regime antidemocrático. “As raízes mais directas remontam ao governo de Marcelo Caetano, que generalizou o pagamento de pensões aos idosos” refere o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), Pedro Lains. Inicialmente com um cariz corporativo de regulação social, por estar centrado na protecção dos trabalhadores por conta de outrem, só recentemente gerou mecanismos minimamente efica-

Portugal é um dos países europeus que menos gasta na protecção social zes de protecção da pobreza. Com o choque petrolífero da década de 70, o modelo conheceu vários problemas. As dificuldades económicas vieram perturbar as expectativas sociais que já se tinham adaptado a um modelo de protecção social desenvolvido, com a agravante da evolução demográfica estar marcada pelo envelhecimento populacional. Portugal tem diferentes proble-

mas dos países com sistemas de protecção mais desenvolvidos. “As políticas sociais [em Portugal] ocupam um papel importante nas políticas do Estado, mas estão longe do nível de desenvolvimento de outros Estados-providência europeus” afirma o sociólogo Boaventura Sousa Santos. “Eu costumo chamar-lhe um «quase Estado-providência»” acrescenta.

Portugal providente “é viável” Na aplicação do Estado-providência e com o intuito de fazer face às novas exigências na vertente social foi estruturado um sistema de segurança social. O secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, assegurou recentemente que o Sistema de Pensões dos portugueses é “uma referência a nível europeu”, uma vez que "garante uma cobertura efectiva entre os 70 e os 80 por cento", relativamente ao último salário recebido. “Se [Pedro Marques] se refere à actualidade, não posso dizer que não. Se ele fala do que irá acontecer dentro de uma dezena de anos, é óbvio que não está a dizer a verdade. E se fala para os jovens, então estará a mentir descaradamente” argumenta o docente da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), João Sousa Andrade. Paralelamente, Pedro Lains, acredita que “as coisas não estão piores, porque

o sistema é recente e portanto não cobre cabalmente toda a população”. “Os pensionistas que não descontaram, têm pensões muito reduzidas. Se essas pensões fossem «normais» o sistema entraria em colapso. Um dia serão mais elevadas e o sistema terá ainda de ser reformado para permitir isso. O que Pedro Marques disse não tem muito sentido” explica. Na verdade, Portugal é dos países europeus que menos gasta na protecção social. Por outro lado, o actual sistema de financiamento também não lhe permite gastar mais. Além disso, terão que se criar condições institucionais para que o sistema de protecção social não sofra problemas de financiamento. Neste sentido, a viabilidade do sistema de Segurança Social tem sido posta em causa. No entender de Pedro Lains “[o sistema] tem que sofrer muitas reformas para ser viável nos próximos vinte anos. Uma parte terá que ser gerida por entidades não estatais”. Adversamente, Sousa Santos considera que o sistema “é viável”. “Se as opções financeiras forem as correctas é evidente que temos condições para a sustentabilidade do sistema. Não podemos gastar dinheiro em actividades não-produtivas, comprar submarinos e ao mesmo ter dinheiro para a Segurança Social” contrapõe. No sentido de se assegurar uma

maior sustentabilidade do sistema, “temos de dar um peso muito mais elevado a uma componente de capitalização [que] pode ser oferecida por um agente público e por privados” acredita o docente da FEUC. “ Só que isso representa um acréscimo de dívida pública brutal para se aplicar agora a todos e os descontos que [iriam] parar aos cofres do Estado seriam muito menores” refere. Para vários analistas, o facto dos sistemas de “welfare state” liberal dos Estados Unidos da América (EUA) e da Grã-Bretanha se parecerem aproximar cada vez mais do Estado-providência é uma prova

“A privatização não é um bom caminho na área social, em caso nenhum” de que privatização do sistema não tem sido positiva. “A privatização não é um bom caminho na área social, em caso nenhum” destaca o investigador. Para Lains, “o sistema norte-americano é mais injusto e não é necessariamente mais eficiente no sentido de garantir melhores pensões com os mesmos descontos”. “Deverão ser os EUA a aproximarem-se da Europa” explica Sousa Andrade.


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PAÍS & MUNDO

ILHAS FAROÉ D.R.

Baleias mortas todos os anos por tradição Ritual de iniciação à vida adulta mata todos os anos centenas de baleias-piloto na costa das Ilhas Faroé Filipa Faria Francisco Fernandes Rui Miguel Perreira Todos os anos, por altura do Verão, nas Ilhas Faroé, região autónoma dinamarquesa, um grupo de homens é encarregue de arrastar centenas de baleias-piloto até ao porto da cidade de Calder. Desde, pelo menos, 1584 que a caça às baleias-piloto representa, para a população local, um dos principais meios para a sua subsistência. Estima-se que perto de 30 por cento da carne produzida localmente provenha desta forma de caça. Assim se percebe a importância que esta comunidade dinamarquesa atribui, ainda, à baleação. Esta actividade começou a ser combatida em 1946, quando a Organização das Nações Unidas criou a Convenção Internacional para a Regulação da Actividade Baleeira, convenção que a Dinamarca assinou. Em 1986, a Comissão Baleeira Internacional pôs em vigor uma moratória que proibia unicamente a caça comercial de todas as espécies de cetáceos. Contudo, o perigo de extinção das baleias permanece, pois esta proibição deixa de fora diversas formas de caça, incluindo para fins cien-

tíficos. Nas Ilhas Faroé acontece todos os anos, a par da caça de baleias, um ritual de iniciação à vida adulta para os jovens da ilha, que consiste em golpear mortalmente cetáceos capturados na costa do território. Este acto é classificado por muitas associações de direitos dos animais como uma matança, contudo, a população da ilha ainda olha para este acto como um ponto importante da sua cultura. Para a presidente da Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais, Maria de Céu Sampaio, este é “um acto de tortura” que subsiste porque “ainda existem pessoas que se deliciam a ver este tipo de espectáculos”.

Entidades tentam combater baleação O Partido para os Animais da Dinamarca (PvdD) dirigiu-se à Comissão Europeia em Dezembro de 2008 para saber qual o grau de conhecimento da situação. Como resposta, a comissão declarou que existem dificuldades em intervir de forma mais directa devido ao facto de as Ilhas Faroé não fazerem parte da União Europeia (UE). Porém, já este ano, o Parlamento Europeu aprovou um relatório que apoia a manutenção da moratória de 1986 à actividade ba-

leeira. As Ilhas Faroé, apesar de serem uma província autónoma da Dinamarca, que aderiu em 1973 à Comunidade Económica Europeia, conservaram o direito de não integrar o grupo de países. Ainda assim, em declarações à A CABRA, o PvdD admitiu acreditar que “é possível utilizar o ano das eleições europeias para mobilizar as pessoas contra estes crimes sangrentos”. Segundo a página de Internet do Ministério de Assuntos Exteriores e Embaixadas da Dinamarca, o executivo tem “recebido correspondência que expressa sentimentos causados pelas imagens que circulam na Internet e que retratam cenas de caça a baleias-piloto nas Ilhas Faroé, que normalmente vêm acompanhadas de comentários difamatórios”. A entidade defende que, antes “de se fazer qualquer julgamento”, é necessário ter em conta que a caça é para produção de alimentos, está regulamentada pelas autoridades e é biologicamente sustentável. O Partido para os Animais da Dinamarca já fez circular uma carta de protesto dirigida ao primeiro-ministro das ilhas, Kaj Leo Holm Johannesen. No início de Março o protesto atingiu as 50 mil assinaturas.

AS ILHAS FAROÉ asseguram que a caça às baleias é sustentável

BREVES D.R.

Mayotte • França A ilha francesa Mayotte, no Oceano Índico, decidiu no domingo passado aproximar-se da França e tornar-se o 101.º departamento francês. Segundo as autoridades, 95 por cento votaram a favor e apenas 4,6 por cento contra. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, mostrou-se satisfeito com o resultado do referendo, que contou com mais de 60 por cento de participação da população. O governo de Comores, que reivindica esta ilha como sendo parte da sua república, considerou, desde logo, o referendo como "nulo e sem valor". A ilha de Mayotte tem 186 mil habitantes, sendo que um terço

são imigrantes ilegais. Com este referendo o processo de aproximação ao país europeu ganha um novo impulso. As tradições de poligamia e justiça islâmica ficam em risco de desaparecer em 2011, altura em que se pode efectivar a aproximação. O ministro do Interior, Michele Alliot-Marie, acredita que "isto vai reforçar o lugar de Mayotte na república [francesa]", reafirmando valores como a igualdade entre homens e mulheres e de justiça igual para todos. A França conta com quatro departamentos ultramarinos: Guadeloupe, Martinica, Guinana Francesa e Reunião. Mayotte pode tornar-se o quinto. R.M.P

Turquia

Angola • Holanda

As recentes eleições locais deram a vitória ao Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), do qual o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, faz parte. Apesar da vitória, o resultado (menos seis pontos que a última ida às urnas) mostrou as dificuldades que o executivo de Erdogan atravessa. O próprio primeiro-ministro admite que este resultado é desapontante, mas justifica-se com o efeito da crise económica. O Partido Republicano do Povo aparece em segundo lugar, seguido do Partido da Acção Nacionalista. Em algumas zonas foram registrados confrontos entre eleitores e familiares de vários candidatos a chefe de aldeia. R.M.P

Os dois países têm, segundo a ministra holandesa dos Assuntos Económicos, Maria Van Der Hoeven, “muitas oportunidades de cooperação na área económica e de energias”. O elemento principal nesta cooperação é o projecto LNG (gás liquido natural). A ministra holandesa, durante a visita ao país africano, ressalvou a importância que um acordo sobre LNG pode ter para fornecimento do gás líquido natural ao noroeste da Europa. O mercado angolano conta com cerca de 60 empresas holandesas a trabalhar actualmente no país, número que pode facilmente aumentar nos próximos anos. R.M.P PUBLICIDADE


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CINEMA

ARTES FEITAS

Choke - Asfixia”

D

DE CLARK GREGG COM SAM ROCKWELL ANJELICA HUSTON KELLY MACDONALD 2009

Demência contida CRÍTICA DE JOSÉ SANTIAGO

epois de “Fight Club”, chega-nos a segunda adaptação de um romance de Chuck Palahniuk ao grande ecrã. “Choke” segue o dia-a-dia de Victor Mancini, um desistente do curso de medicina que agora ganha a vida como figurante num parque temático relativo à época colonial. Até aqui tudo bem. No entanto, a vida de Victor não se resume a isso, e, para pagar as contas da mãe, que se encontra internada com Alzheimer, recorre a um estratagema sádico. Escolhe um restaurante, procura pessoas que demonstrem ter o 'à vontade' financeiro para o efeito e, no meio da refeição, finge engasgar-se na esperança que essa pessoa o salve. Escusado será dizer que, durante a representação, alguém eventualmente o acode e, após a conversa de cerimónia em que ele explica as dificuldades que atravessa, sentem-se na obrigação de

o ajudar financeiramente. Quando comparado com “Fight Club”, “Choke” fica a perder em muito mas apenas no trabalho de realização, o que, até certo ponto, se perdoa, sendo esta a obra de estreia do até então actor, Clark Gregg. Não encontramos a montagem frenética de David Fincher, mas antes uma calma que serve perfeitamente uma história já por si demente. O trabalho de adaptação é sempre discutível, especialmente quando se fala de Chuck Palahniuk, conhecido pela estrutura narrativa que é, por muitos, considerada inadaptável. Mas o que é certo é que estes filmes vão vendo a luz do dia, e, como obras independentes, têm todo o mérito. No caso específico de “Choke” basta dizer que Chuck supervisionou toda a produção e deu a bênção ao lançamento. No que toca ao trabalho de actores, não podia ter havido melhor escolha no casting do que

Sam Rockwell para interpertar Victor, um vigarista que, não se sabe muito bem como, consegue tudo o que quer das mulheres, e tudo isto com um ar desmazelado que apenas pode ser apelidado de Vagabundo Chic. Angelica Huston interpreta a mãe de Victor e, ao contrário de Rockwell, é aqui uma sombra da actriz que foi noutros tempos e passa despercebida, mesmo no meio de actores que, embora reconhecíveis, não vão fazer ninguém soltar o nome deles. Infelizmente, “Choke” vai passar despercebido pelas nossas salas de cinema. Falta-lhe o nome de um actor conhecido e, noutras mãos, tinha o potencial para se tornar num êxito como “Fight Club”. É académico demais para se tornar num objecto de culto e demasiado demente para se adaptar ao mercado comercial. Não é carne nem é peixe, mas é um belo pato.

Killshot - Alvo a Abater ”

D

epois de filmes como “A paixão de Shakespeare” ou “O Capitão Corelli”, parece impensável que tenha sido, também, John Madden a realizar “Killshot – Alvo a Abater”. A melhor comparação que consigo encontrar para este filme é um manto que, ao longe, parece ter apenas diferentes tonalidades mas que, ao perto, vemos ser um manto de remendos, e alguns deles mal cosidos. “Killshot” foi filmado em 2006 mas só teve luz verde em 2008. Nesse espaço de dois anos, a distribuidora levou a cabo a missão de tornar o filme o mais agradável possível atra-

vés de uma sucessão de cortes, re-edições e até novas filmagens. O problema é que dessa demanda resultou a trapalhada que agora nos é apresentada. Não fosse o sucesso de Mickey Rourke em “The Wrestler”, “Alvo a Abater” podia ser um daqueles filmes condenados ao arquivo do estúdio. Problemas de edição à parte, o filme vive das personagens e da interacção entre elas, pondo o diálogo para um plano principal e a acção a servir apenas como fundo. O elenco está recheado de nomes conhecidos que dão credibilidade aos papéis que desempenham. O destaque principal vai para Mickey

Rourke, que já mostra aqui traços do seu caminho para a reinvenção, mas destacam-se também as interpretações de Thomas Jane, Diane Lane, Joseph Gordon-Levitt e Rosário Dawson. Killshot segue os moldes de filmes como “Há dias de Azar” em que uma história convencional do género “assassinos tentam matar casal que viu demais” assume contornos de originalidade com algum bom diálogo. No entanto, os problemas de edição são suficientes para distrair e fazer com que só se repare nos erros.

JOSÉ SANTIAGO

DE

JOHN MADDEN COM

DIANE LANE MICKEY ROURKE THOMAS JANE 2009

Nem tudo 0 que é luz é ouro


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ARTES FEITAS

OUVIR

LER

Junior” êm da Noruega e chamam-se Röyksopp. A dupla formada em 1998 por Torbjorn Brundtland e Svein Berge lançou este mês o seu sexto álbum, “Junior”, dois anos após “Back To Mine”, disco que os confirmou como uma das melhores bandas de música electrónica na altura. “Junior” conta com a participação de Lykke Li, Anneli Drecker, Robyn e Karin Dreijer-Andersson (dos The Knife), num álbum com canções meticulosamente produzidas e de som envolvente. Mantendo o caminho electrónico que tão bem identifica os Röyksopp, o conjunto de DE canções surge num registo RÖYKSOPP mais agressivo que nos trabaEDITORA lhos anteriores. Com uma esWALL OF SOUND trutura invulgar – a dupla da ASTRALWERKS gélida Noruega parece não ter 2009 optado pelo fio condutor característico de um álbum – “Junior” apresenta um clima futurista e consegue ser empolgante e, ao mesmo tempo, viajante. A viagem começa com o primeiro single, Happy Up Here: uma canção divertida, bem ao género de Peter, Bjorn & John ou MGMT. Segue-se The Girl and the Robot. Robyn empresta a voz àquele que será o segundo single do álbum, uma canção com rasgos de pop há muito esquecidos. O registo mais calmo, característico de Brundtland e Berge, surge duas faixas depois com Röyksopp Forever e Miss It So Much (com a participação de Lykke Li), voltando a subir de tom com Tricky Tricky. O álbum, de 11 faixas intercaladas por temas instrumentais, é uma verdadeira obra de arte da pop electrónica, homogéneo e extremamente energético e dançável. A banda lançará, ainda este ano, o álbum “Senior” que, segundo Torbjorn Brundtland e Svein Berge, é “mais calmo e introspectivo” e o oposto de “Junior” no que diz respeito à sonoridade. Ficamos à espera!

O pop electrónico da Noruega

V

Os Bichos” A Obra de Torga revisitada

DE

MIGUEL TORGA EDITORA BOOKET/DOM QUIXOTE 2007

cina da Universidade de Coimbra. Miguel Torga participou moderadamente na boémia coimbrã e publicou o seu primeiro livro de poesia "Ansiedade", ainda estudante, em 1928. É em Coimbra que se instala, posteriormente em 1939, depois de ter exercido medicina na sua terra natal. E edita então os “Bichos” na década de 40. Os livros de prosa, poesia e até mesmo o teatro também se tornam uma constante na vida de Torga. Uma lista extensa, mas digna de pesquisa que vai ficar por citar dão arte, cor e forma à bibliografia do autor. Muitas das obras espelham o espírito serrano e árido do norte transmontano de onde era natural, tanto na prosa como na poesia e no teatro. As suas obras foram traduzidas para várias línguas, entre elas o japonês, o croata e o chinês. De Citar sim, alguns prémios recebidos, anos volvidos. Em 1969, recebe um prémio do Diário de Notícias, em 89, o Prémio Camões e vários outros galardões internacionais. A vida havia de ser imperiosa. Adolfo Correia Rocha descobre que tem um cancro e morre a 17 de Janeiro de 1995. Deixa obras inacabadas, mas a literatura de Torga permanece até hoje como um bastião contemporâneo bastante recomendado.

CARLA SANTOS

VER

Inland Empire” O que se passa com David Lynch?

CLÁUDIA TEIXEIRA

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena FILME

A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

EXTRAS

Artigos disponíveis na:

M

uita tinta já fez correr Miguel Torga, tanto sobre a sua poesia como pela prosa. Mas é a sua obra “Os bichos” que merece destaque mais uma vez. A genialidade do autor vai para além do contar histórias sobre animais quandoTorga personifica muitas vezes os próprios bichos. E o leitor pode sentir o farejar, o cacarejar e o carregar de carga na primeira pessoa. Abre-se uma perspectiva completamente diferente do mundo, onde o escritor dá racionalidade e autonomia a personagens comummente conhecidas mais pelo instinto animal. Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, compila pequenos contos de perspectivas curiosas com fins “sui generis” que nos fazem rir, chorar de alegria ou de raiva, e em alguns casos penar de ressentimento por alguns destinos. Podiam ser histórias para crianças contadas aos adultos num completo reverso de contar histórias. E Não são historietas para dormir, mas sim daquelas que muitas vezes nos fazem acordar para uma vida nem sempre fácil ou simples. O homem que se escondeu por trás do escritor nasceu em Trás-os-Montes, foi estudante na Faculdade de Medi-

DE

DAVID LYNCH EDITORA ATLANTA FILMES 2006

indispensável tempo e dedicação para ver e assimilar Inland Empire. Os demónios de David Lynch ("Blue Velvet", "Twin Peaks" e "Mulholland Drive") andam à solta neste filme que, alegadamente, não possuía enredo e em grande medida auto-financiado. Estes são exorcizados através de Nikki Grace, fazendo jus ao subtítulo de “a woman in trouble”, uma extraordinária interpretação de Laura Dern ("Blue Velvet", "Rambling Rose", "Recount"), um dos elementos de apreensão facilitada no filme. Nikki é uma jovem actriz abastada à procura de interpretar um papel que eternize a sua carreira, quando aceita a proposta do realizador Kinglsey Stuart (Jeremy Irons), para contracenar com Devon Berk (Justin Theroux) em "On High in Blue Tomorrows". O filme é originalmente uma produção polaca dos anos 40 que retratava uma maldição cigana, que acabou com os dois protagonistas assassinados, nunca tendo sido concluída. Um filme dentro de um filme, onde a protagonista confunde a sua identidade, se funde com a personagem e com a artista original. O filme passa para o domínio do surreal, onde os "Rabbits", as

É

prostitutas, dançar " The Loco-Motion" ou as variações entre o Sul da Califórnia e a Polónia fazem tanto sentido como o resto da acção, um reflexo das preocupações de Nikki Grace/Sue Blue (ou de Lynch?, sobre a infidelidade?, sobre os sonhos/pesadelos?). Confuso? Sim, mas não de uma forma frustrante... e melhora… terminando com uma grandiosa cena de dança onde pontificam um lenhador (que serra de forma decidida um grande tronco), um macaco e uma mulher sem uma perna… enquanto disparam flashes de máquinas fotográficas… No capítulo dos extras, Inland Empire é uma positiva excepção à regra, onde compensa dar uma vista de olhos ao "making of" (tão esclarecedor sobre o filme como sobre Lynch), contemplando ainda um documentário sobre o realizador ("Pretty as a Picture: The art of David Lynch") que aborda outros aspectos artísticos de Lynch, como a música ou as artes plásticas, e uma entrevista concedida a Rui Pedro Tendinha em Berlim, para a rubrica "Grande Cinema".

PEDRO NUNES


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SOLTAS

CRÓNICA DE VIAGENS

INGLATERRA • LONDRES ANA RELVAS FRANÇA

AMDEN TOWN “Ó TEMPO… VOLTA PARA TRÁS…”

CAMDEN HIGH ROAD é um regresso aos anos 70 dos Sex Pistols

I

ntenso. Algures entre o pouco provável e o assumidamente surreal. Com um despudor invejável dois rapazes quase adultos de mão dada e uma rapariga de corpete rosa-sujo e calças de ganga sentam-se numa calçada a beber enormes cappuccinos da multinacional Starbucks que por aqui prolifera como por contágio. Demoro-me nos ateliers de tatuagens, uns mais obscuros que outros, e na quantidade de pessoas que saem lá de dentro, indiscriminadamente, como se uma repartição dos CTT se tratasse. É Camden High Road, o centro nevrálgico da vanguarda artística de Londres. Vanguarda no seu sentido primário e num outro, a vanguarda reciclada: uma cadeira de

época rococó com o tampo forrado com a(s) Marilyn Monroe de Andy Wahrol. Chego ao mercado de Camden Lock, onde pulsa e para onde converge todo o ânimo característico da zona. Foi construído há apenas 15 anos mas a sua estrutura é um fac simile de uma praça de comércio vitoriana, longas vigas de ferro escuro, tijolo por fora e três andares de comércio virados para uma espécie de jardim interior comum onde as tendas de comida chinesa, angolana, mexicana assentaram arreais em parceria útil com os vendedores de sumo de laranja natural e os de donuts recheados com aquilo que a nossa imaginação deixar. Toda uma refeição multicultural de três pratos.

Toda a gente come em pequenas caixas de alumínio. Usam os pauzinhos com uma destreza absurda e a refeição faz-se de uma destas formas: em correria para o metro ou sentados ao longo do Regent’s Canal, o curso de água que se ramifica por Camden - um cenário romântico na acepção literária do termo. Por aqui, isto é o que passa por almoço com os amigos. Um pouco mais à frente, o Stabels Market, um antigo hospital veterinário para cavalos, é agora um notável espólio de antiguidades: mobília de época, espelhos barrocos, vestidos antigos de cerimónia, chapéus com rede negra e penas de pavão e deliciosos exemplares de antigas máquinas de escrever. Outra viagem. Camden é uma página arrancada

MARÇO DE 1995 • EDIÇÃO N.º 18 • MENSAL • 100$00

RUC: NEM SEMPRE NO AR”

E

m Março de 1995, aconteceu o inesperado: a programação regular da Rádio Universidade de Coimbra (RUC) foi interrompida e, então, A CABRA apresentava as etapas dos imprevistos que dificultaram a situação económica da rádio. Segundo a directora de informação, em 1995, Suzana Costa, o facto de a RUC fugir ao padrão comercial dificultava a captação de

publicidade. Como se não bastasse, dizia a então directora que o apoio da reitoria não era suficiente. Assim, “seria ideal criar todo um processo de gestão que permitisse tornar a rádio mais credível, espelho de uma maior responsabilidade”, acrescentava a Suzana Costa. A opinião era corroborada pelo director da rádio, António Mendes, que sublinhava ainda que o “amor à camisola” não bastava para assegurar a coerência da programação e responsabilização individual. A CABRA adiantava depois que, num referendo realizado entre os sócios da RUC, 88 por cento defendiam a passagem da secção a organismo autónomo como forma de resolver os problemas financeiros que afectavam a rádio.

António Mendes suportava-se ainda no exemplo do TEUC para demonstrar como a passagem a organismo autónomo iria beneficiar a vertente de formação da rádio. Outra medida defendida pela auto-denominada “direcção de recurso” era a semi-profissionalização do órgão. Quando confrontado com a pergunta “será que a profissionalização da RUC não acabaria com a vocação universitária e de formação que é a sua característica principal?”, o director assegurou que não e defendia que esta mudança poderia proporcionar sinergias com instituições, como o Instituto de Estudos Jornalísticos. Também a programação sofreu uma remodelação e uma redução horária. A CABRA adiantava, numa caixa de texto à parte do ar-

de ficção idealista onde ninguém repara que já não estamos nos anos 70 dos idolatrados Sex Pistols. São ruas com banda sonora onde se presta justa reverência aos seus boémios embaixadores – Pete Doherty, Amy Winehouse, Blur ou Oásis. Tal é a sua importância que, uma agência de viagens local anunciava no Camden Gazette que, por 170 libras, sensivelmente o mesmo em euros, estava disponível um percurso chamado “Amy’s Day”, constituído por uma visita fugaz aos vários bares, quiosques, mercearias por onde Amy Winehouse andou antes de se ter tornado um fenómeno. Por aqui, é-se uma dama vitoriana ou um Charles Dickens com relativa facilidade, é-se uma housewife ame-

ricana dos anos 50 ou a sua homóloga funambulesca - a pin-up dos postais que entretinham os soldados da II Grande Guerra. E conseguem ser isto tudo com verosimilhanças q.b., dedicados que são à compleição das suas individualidades. É que já ali do outro lado da rua, na After Dark, vende-se roupa interior dos anos 40. Contudo, devo avisar, não é de algodão, não estica, não se adapta. Dizem que a tolerância tem aqui o seu extremo e quem é de Camden não quer deixar esbater esta fama que os distingue. Alguns londrinos mais dramáticos ou só mais ébrios não consegui distinguir, dizem que quem está cansado de Londres, está cansado da vida. Por Ana Relvas França

18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...

tigo, a nova grelha, que passava então a ser das 11 horas da manhã à meia-noite. Contudo, ficava bem explícito que a diminuição da quantidade servia apenas para aumentar a qualidade. Entre negociações com órgãos gerentes da Academia e novos projectos, pretendia-se uma “nova era” na história da RUC e a certeza de que os recentes planos seguissem em frente. Os programas, esses, seriam entregues à “prata da casa”. Em aberto ficava o resultado das “negociações entre a RUC e a Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra, para

saber se os ambiciosos planos da rádio ‘sempre no ar’ iriam avante”. Sara Fidalgo


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O MUNDO AO CONTRÁRIO

SOLTAS

CAMBODJA Os preservativos de marca “Number One Plus” estão a fazer sucesso no Cambodja. Não, não é pelas razões habituais: segurança anti-doenças sexualmente transmissíveis e prevenção da gravidez, mas sim pela qualidade do lubrificante! Segundo os especialistas, é para “curar” o acne. “Depois de usá-lo durante três dias, todo o meu acne secou e desapareceu”, disse uma das beneficiadas. As vendas estão a animar os vendedores locais, pois saem centenas de unidades diariamente.

TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho

O AMOR ESTÁ NO AR hegou a Primavera. Os pássaros chilreiam, as flores começam a desabrochar, o céu é mais azul e o amor anda no ar. Bonito, não? Pois a verdade é que não. A única coisa que me irrita mais do

C

que andar por Coimbra e confrontarme com aquelas estranhas criaturas que andam a pedir assinaturas (sabese lá para o quê), é passar pelo Parque D. Manuel Braga e não me poder sentar porque os bancos estão todos

CARICATURA POR GISELA FRANCISCO E ILUSTRAÇÃO POR TATIANA SIMÕES

ISRAEL Um novo e revolucionário método de massagens está a ser usado por um Spa israelita. O tratamento consiste no uso de seis cobras não venenosas que ao deslizarem sobre os clientes vão proporcionando uma eficiente massagem, relaxando os músculos e criando um bem-estar geral. ESCÓCIA Elaine Davidson é oficialmente conhecida por ser a mulher com mais piercings no corpo, em todo o mundo. De nacionalidade brasileira, Davidson transporta consigo cerca de 3950 piercings, dos quais 500 nos órgãos genitais. O peso total dos objectos atinge cerca de três quilogramas. Sara Coimbra

ocupados por casalinhos ocupados a trocar saliva. Mas o que se passa com esta gente? É do calor, é? Pois a mim a única coisa que o calor me faz é suar. Mas pronto, se dizem que o amor anda no ar, eu acredito. É uma coisa muito curiosa o amor. Tenho que admitir que a paixão nos faz ficar num estado de euforia único. O cérebro começa a abrandar, começas a ver a tua cara-metade em câmara lenta – como se tivesses a ver a repetição de um golo – e quando ligas o rádio parece que todas as músicas falam de ti. Até consegues perceber porque é que “dançar agarrados não é dançar”. Ah, e claro. Começas a escrever poemas sem saber porquê. Há estudos que defendem que o amor activa involuntariamente o mecanismo da rima, mas ainda não foram efectuadas experiências suficientes nesta área. E depois por causa disto ainda pareces mais parvo. Sobretudo porque nem todos podemos ser o Fernando Pessoa ou o Camões… e isso nota-se. Vais jantar com a tua namorada e quando te trazem as bebidas ficas a olhar para a garrafa e dizes: “Água mineral água natural, os teus olhos brilham como o cristal”. Se reparares, nos minutos seguintes fica um silêncio constrangedor no ar. É quando ela está a pensar: “O Sol é uma estrela e o Halley um cometa. Mas porque fui eu sair com o gajo mais idiota do planeta?” Mas uma coisa é certa: que bonitos são os beijos dos apaixonados. Com os olhos fechados. Se bem que

estou desconfiado que anda por aí muita boa gente que fecha os olhos para não ver o que tem à frente. Mas não importa. São bonitos na mesma. E longos também. Parece que estamos a fazer uma endoscopia. Tens tempo para explorar os 32 dentes, com as respectivas cáries, chumbos, espaços... Claro que passado um bocadinho já não sabes o que fazer. Infelizmente ainda ninguém inventou um kamasutra para beijos. Então pensas: “Eu não vou parar. Deixa a parar primeiro”. Mas já não aguentas mais e abres os olhos. Que pouco romântico que é beijar com os olhos abertos. É como fazer amor a ver o Domingo Desportivo. Mas o pior é quando abres os olhos e reparas que a tua namorada (ou namorado, que eu nisto sou muito liberal) também tem os olhos abertos. Acontece então um efeito inesperado. Vês esses olhos tão grandes a olhar para ti com a boca aberta. Parece que estás a fazer respiração boca-a-boca a um besugo. Mas o mais bonito é que não te importas. Não te importas porque estás apaixonado. Tão apaixonado que nem reparas num indivíduo que passa por ti e te amaldiçoa porque está cansado e não se pode sentar no banco que estás a usar como quarto de hotel. Enfim, há que definir as prioridades. Todas as crónicas em

arseniocoelho. blogs.sapo.pt

COM PERSONALIDADE PATRÍCIA GONÇALVES

KÁTIA GUERREIRO • 33 ANOS • FADISTA E MÉDICA

UM ENCONTRO PARA A VIDA Sou clássica. Gosto muito do fado tradicional, sobretudo pelo facto de nunca ter crescido no meio do fado e, para mim, há muito a descobrir no fado tradicional. Não preciso de fazer uma fuga para outros géneros musicais. Exploro o fado ao máximo. O fado é a expressão máxima das minhas emoções. Ajudou a conhecer-me enquanto mulher. E comecei a perceber que há muito mais gente a compreender esta coisa estranha do fado. Estranho como as pessoas se deixam encantar e apaixonar por isto quando, às vezes, nem sequer percebem a língua. Acabei por perceber que toda a gente acaba por ter esse pedaço que eu achava que era estranho em mim - que são as emoções fortes e, portanto, acabei por encontrar muito mais empatia e a tornar-me uma mulher muito mais serena quando descobri o fado. Sou uma mulher interessada por imensas coisas. Cada vez mais gosto de arte, de pintura. Quanto mais viajo, quantos mais museus visito, mais me interesso e mais quero saber. Gosto de flores. Gosto da família e dos amigos, que são para mim uma grande âncora. Não sei ser só médica ou só fadista. Há um equilíbrio de forças de uma carreira e da outra. Quando estou em cima do palco, exorcizo aquilo que absorvo das pessoas que estão doentes. Há uma certa catarse em cima do palco e há duas maneiras de estar radicalmente diferentes. Há toda a magia do palco, há a luz, os aplausos, há todo um conjunto de emoções que me ajudam a viver e a ser mais forte, a conhecer-me melhor, a mim e os outros. Tudo aquilo que faço quando estou no palco é para partilhar. Não vou para cima de um palco para estar sozinha. E só faz sentido a entrega quando há alguém para receber. É muito difícil estar com o público à frente e expormo-nos na totalidade. É a total nudez perante os outros. Tenho um bocadinho dos horizontes alargados da vida de Angola. Sou capaz de gostar dos outros com o coração aberto, sem desconfianças. Tenho vontade de conhecer o que está para lá do deserto, para lá daquela estrada, o que está tão longe. Porque em Portugal está tudo aqui ao pé, mas nós temos alguma dificuldade em querer passar para o lado de lá. Às vezes, custa que as pessoas se entreguem ao fado e que se deixem encantar por ele. Porque tem qualquer coisa de muito especial. É preciso encontrarmo-nos com o fado na altura certa e, a partir daí, caímos para o resto da vida. Acho que é o que vai acontecer com os públicos que já estão conquistados e com todos aqueles que ainda estão por conquistar. Enquanto houver bons intérpretes e bons representantes, o fado não vai deixar de ser ouvido. É preciso é que seja bem tratado. Entrevista por Patrícia Gonçalves


18 | a cabra | 31 de Março de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO

O AUTISMO Elsa Romão Vargues Vieira *

PEDRO CRISÓSTOMO

O Autismo e os indivíduos com Autismo têm o direito a ser respeitados

Cartas ao director podem ser enviadas para

acabra@gmail.com

Tal como cada um de nós cada pessoa com autismo é única, mas com incapacidades comuns. Com capacidades específicas, muitas vezes notáveis, são seres raros e especiais onde se destaca a pureza e a ingenuidade “sui géneris”. O Autismo é hoje considerado como uma perturbação grave do desenvolvimento que se prolonga por toda a vida e afecta as funções cerebrais. Pode ter uma grande variedade de expressões clínicas e comportamentais. A causa ou as múltiplas causas não são ainda conhecidas, contudo, as investigações reportam para a existência de uma base biológica. A maioria dos casos apresenta uma disfunção do sistema nervoso central. Estudos recentes indicam que 6 em cada 1000 indivíduos são portadores de “Perturbações do Espectro do Autismo”. É mais frequente no sexo masculino (4:1). Como se manifesta? Dificuldade na relação com o outro (tendência ao isolamento ou relação muito desajeitada); Dificuldade de comunicação verbal e não verbal (dificuldade de usar e compreender a linguagem gestual e oral, ausência e dificuldade no contacto ocular, dificuldade em expressar e compreender as emoções do outro; Comportamentos ritualizados e repetitivos e resistência à mudança; Défice de criatividade e imaginação (dificuldade no jogo “faz de conta” simbólico, dificuldade em brincar e desenvolver actividades em conjunto com o outro, a dificuldade em partilhar experiências); Excessiva ou deficiente sensibilidade aos estímulos sensoriais (não gosta de colo, não gosta de contacto físico ou procura jogos que implicam um contacto físico vigoroso, o barulho incomoda-o ou parece surdo e não reage ao som, fascínio por luzes ou dando a sensação e que não vê. Não podia deixar de referir que é de uma profunda indelicadeza e desrespeito a forma como a palavra autismo é muitas vezes referida pelos nossos Governantes em expressões do tipo: “O autismo do Governo…” O Autismo e os indivíduos com Autismo têm o direito a ser respeitados. A Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo de Coimbra é

uma IPSS sem fins lucrativos, fundada em Coimbra desde 1994. Tem a resposta social de CAO, de CATL e de Formação. Actualmente fazemos uma grande aposta na qualificação e formação: - Encontra-se a decorrer, desde o início de Março um curso em Técnico de Instalações Eléctricas, no âmbito do POPH, Medida 6.2, Qualificação Profissional para pessoas com deficiência e incapacidades. - Estão abertas as inscrições para um Curso de Baby-Siters com início previsto para Maio, em horário laboral, no âmbito do POPH, Medida 6.1, Formar para inclusão. - Estão abertas as inscrições para o Curso Formar para a Igualdade II. Este curso é constituído por vários módulos que abordam a questão do autismo e estratégias de intervenção, como hipoterapia, hidroterapia, musicoterapia, psicomotricidade, desporto adaptado, comunicação, entre outros. - Ainda este ano vai ocorrer uma formação específica no Método ABA. - Está previsto um dia de Actividades Desportivas a realizar em Coimbra, organizado pela empresa For “Life Project”, com o objectivo de angariação de fundos para a aquisição de uma primeira residência para pessoas com autismo. Para o efeito o envolvimento de toda a comunidade é imprescindível. Para o efeito apelamos à responsabilidade social das Empresas. A data inicialmente prevista para o evento é a 18 de Abril do corrente. - No âmbito da celebração do DIA MUNDIAL DO AUTISMO que ocorre a 02 de Abril do corrente, foram convidadas diversas Entidades para uma Palestra a ocorrer no período da manhã no Auditório da Casa Municipal da Cultura e no período da tarde haverá uma concentração no Pavilhão Desportivo da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da U.C. para a realização de actividades lúdicas e desportivas. Este evento está aberto a toda a comunidade. * Presidente da Associação Portuguesa Para As Perturbações do Desenvolvimento e Autismo Coimbra PUBLICIDADE


31 de Março de 2009 | Terça-feira | a

cabra | 19

OPINIÃO 17 DE ABRIL DE 1969

EDITORIAL

EDIÇÃO ESPECIAL D’A CABRA

O NEGÓCIO SUPERIOR

Corria o ano 1969, o alargamento das frentes de combate na Guerra Colonial implicava a mobilização de cada vez mais jovens, dos quais muitos eram estudantes universitários. Após a Crise Académica de 62, que se traduziu na rebelião de estudantes das academias de Coimbra, Lisboa e Porto contra o regime vigente, a repressão nas instituições de ensino superior tomava agora contornos sufocantes. No dia 17 de Abril, várias figuras do regime, entre as quais o Ministro da Educação, José Hermano Saraiva, e o Presidente da República, Américo Thomaz, dirigem-se a Coimbra para marcar presença na cerimónia de inauguração do edifício do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra. Numa sala cheia, o então presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC), Alberto Martins, pede a palavra para expressar o descontenta-

mento da Academia relativamente à situação política do país. A palavra é recusada e os estudantes presentes manifestam ali o repúdio à situação. Nesse mesmo dia, a cidade é cercada pela polícia de choque. A Academia instaurou, então, a greve aos exames de Junho. Como represália, a direcção da Academia foi demitida e os dirigentes foram suspensos da universidade. Iniciou-se um processo de luta estudantil que extravasou o espaço da universidade e do qual não ficaram alheios os organismos culturais e desportivos da casa. Quando se assinalam os 40 anos do acontecimento e para marcar um dos mais importantes momentos da história da AAC, A CABRA reserva a próxima edição à Crise Académica de 1969. E porque a data é especial, saímos a uma sexta-feira, no próprio dia 17 de Abril. A direcção

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Passaram já mais de quatro anos das últimas eleições legislativas. Então, o distrito de Coimbra elegeu dez deputados (seis pelo Partido Socialista e os restantes pelo Partido Social Democrata), contudo, apenas duas acções legislativas de carácter local foram apresentadas e as duas relacionadas com a criação e integração de freguesias. As justificações são várias, como a necessidade de uma perspectiva nacional que um deputado deve assumir ou a indispensabilidade de cumprir a agenda do grupo parlamentar. Porém, há uma realidade inegável: o afastamento e a falta de ligação dos deputados eleitos pelo círculo de Coimbra ao distrito. Só assim se pode justificar que encarando os problemas que, não só a cidade, como todo o distrito atravessa, a postura assumida seja de um total alheamento. Só assim se percebe que perante um sistema universitário em que o sub-financiamento arrasta cada vez mais estudantes para fora do sistema de ensino e em que os sucessivos cortes na Acção Social Escolar ameaçam a sobrevivência de cantinas, residências e bolsas, a posição demonstrada seja a desvirtuação completa de todo o compromisso que assumiram durante a campanha eleitoral. Em 2005, os mesmos candidatos que hoje ocupam as bancadas do Parlamento argumentavam que era necessário reconhecimento de um ensino superior de excelência em Portugal. Necessidade essa que englobava a Universidade de Coimbra e os seus estudantes. Defendiam também, perante os estudantes, que era imperativo a criação de medidas sociais que protegessem os alunos e a sua frequência no ensino superior. Contudo, quatro anos volvidos, a realidade que é visível a cada um de nós é completamente diferente. Acoplados ao raciocínio governamental de desresponsabilização e de abertura à privatização do ensino, os mesmos deputados aprovam o sub-financiamento e todas as medidas encetadas para o ensino superior. Nos finais de 2009, vão ter lugar novas eleições legislativas. Esperemos então para ver que novas promessas para o ensino superior e para a Universidade de Coimbra os candidatos trarão nas malas, quando aterrarem outra vez de pára-quedas no distrito.

O problema da ginástica orçamental na UC reside no parco financiamento que lhe é atribuído

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Após sete instituições de ensino superior, entre elas a Universidade da Beira Interior e a Universidade do Minho terem declarado ruptura financeira, na última reunião do Conselho Geral da UC foi posta à discussão a possível falência técnica da instituição para o ano de 2010. Contudo, o reitor da universidade, Seabra Santos, fez saber que não presta declarações sobre o assunto. A solução para evitar a declaração de falência passa pela criação de mecanismos orçamentais que possibilitem a apresentação de sistemas de quase auto-sustentabilidade. Porém, a solução nunca deveria passar por esta ginástica orçamental a que a UC tem de se prestar. Até porque o problema não reside na instituição, reside sim no parco financiamento que lhe é atribuído. Na lógica de submeter o encargo de captar o financiamento às instituições, o governo lava daí as mãos e acabam por ser as universidades a ter que lidar com um processo que não conseguem suportar. Seguindo este fio condutor, o próximo passo parece bastante óbvio. Quando o financiamento já suprimir todas as necessidades das escolas, quando as instituições já não conseguirem por si arranjar formas de captar fundos, terão que se virar para o único meio possível, os estudantes. Aí teremos o incrementar do valor das propinas e o ensino cada vez mais será um negócio. João Miranda

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Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Coelho, Ana Relvas França, Catarina Santos, Leandro Rolim, Sara Oliveira Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboraram nesta edição Alice Alves,Bruno Monterroso, Filipa Magalhães, Filipe Sousa, Maria João Fernandes, Nuno Agostinho, Sara Coimbra, Sara Fidalgo, Vasco Batista Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, José Santiago, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra


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EUA

Nova administração, novas políticas. Com o início da reunião de Bona sob a égide da ONU para discutir temas ambientais, os EUA assumiram estar disponíveis para assinar um acordo sobre as alterações climáticas até ao final do ano. Todd Stern, da nova delegação da administração Obama, prometeu agir contra os problemas climáticos, mas alertou para a importância do compromisso dos principais países desenvolvidos. V.B.

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RUC

Música, animação e comemorações. Três palavras que marcam o mês de Março em que a RUC comemorou 23 anos. O concerto dos Buraka Som Sistema, no Pavilhão Multidesportos, foi um dos pontos altos das celebrações. Seguiram-se The Ruby Suns que, dia 26, encerraram o ciclo de concertos. O presidente da RUC, Alexandre Lemos, já adiantou a realização de uma festa de encerramento no dia 2 de Abril. V.B.

Notas sobre arte...

Faculdade de Letras

O Instituto de Estudos Jornalísticos da FLUC assinou um convénio de cooperação com a Globo Comunicação, em parceria com a ERC e com o Alto Comissariado para a Imigração e o Diálogo Intercultural. O protocolo visa a cooperação e o intercâmbio cultural entre a UC e a Globo através da realização de projectos com profissionais da televisão, estudantes e docentes. Tudo em prol de uma melhor formação profissional. V.B. PUBLICIDADE

Corpo Ausente • Gil Maia Acrílico s/ tela • 2002 O mundo contemporâneo vive cansado, em constante movimento. Nunca pára. Muito para além das vidas agitadas, há um constante diálogo no interior dos nossos corpos. E, por vezes, é difícil manter em nós uma perfeita relação entre o corpo e a mente. De repente, torna-se difícil pensar com clareza, queremos fugir do quotidiano. É essa a ideia que Gil Maia pretende transmitir. Um corpo que já se abandonou e que apenas podemos imaginar por tímidos contornos. Restaram apenas os moldes das roupas; os músculos vermelhos, cansados de tanto lutar; as veias e as artérias que bombeiam o sangue, num sinal claro de que o corpo ainda funciona. Só a mente se encontra muito longe dali. É como um colete de forças que durante muito tempo guardou todos os medos que habitavam o pensamento, mas que não aguentou mais e, subitamente,

explodiu. Todos os constituintes físicos são abandonados sob um fundo escuro, que denota a solidão que habita a mente; o mistério que o dia-a-dia por vezes representa, sem nos dar as respostas imediatas a dúvidas existenciais; e, ainda, uma busca incessante pela paz de espírito. Existe uma saída. As linhas de um azul claro mostram que, apesar da ausência, o corpo está por aqui, algures, tentando encontrar uma resposta para a agitação do espírito. Ainda há hipótese de um regresso, porque, no fundo, existirão sempre músculos para lutar e veias para bombear o sangue. Mesmo que a mente por vezes pare e exploda. Mesmo que surjam dias em que apetece estar ausente. A obra faz parte do espólio da Galeria Sete, em exposição até 25 de Abril, em Coimbra. Por Andreia Silva PUBLICIDADE


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