Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA - 197

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MONTAGEM POR TATIANA SIMÕES

A Queima dos

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28 de Abril de 2009 Ano XVIII N.º 197 Quinzenal gratuito

a cabra

Director: João Miranda Editor-executivo: Pedro Crisóstomo

Jornal Universitário de Coimbra

Encerramento de cursos não atinge Universidade de Coimbra Depois de Mariano Gago ter anunciado uma reestruturação da oferta educativa no ensino superior, prevêse o encerramento de cerca de 300 cursos. No entanto, a vice-reitora da Universidade de Coimbra, Cristina Robalo Cordeiro, confirma que todos

os cursos ministrados pela UC se vão manter em funcionamento. A FENPROF teme que esta onda de encerramento de licenciaturas anunciada para o ensino superior possa conduzir ao despedimento de docentes universitários. As reformas avan-

Maioria das licenciaturas tem vagas preenchidas

çadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior vão abarcar também o ensino superior privado, originando o fecho de várias instituições e criação de outras com maiores qualificações.

P5 ANDRÉ FERREIRA

Nuno Piloto

“Gostava de ser um exemplo para os jovens” Há oito anos no clube, o capitão da Académica conta como é conciliar a vida de estudante com o futebol, dias depois de ter entregue a sua tese de mestrado. Nuno Piloto defende que, dentro de portas, a Académica está a fazer um campeonato “ao nível das melhores equipas” e define o oitavo lugar como o objectivo para o que resta da época.

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Viagem a Portugal

Palestiniano detido ao passar fronteira O activista da União Democrática da Juventude da Palestina Hashem Ezeya Albadarin foi detido por militares israelitas quando atravessava a fronteira com a Jordânia. Checkpoints de controlo são regidos por alguma arbitrariedade, admitem personalidades de ambos os campos do conflito.

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Como as artes plásticas guardam as memórias de Abril P 12 e 13

Ensaios à porta aberta Os três grupos de teatro da Academia ultimam os pormenores para as estreias

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acabra.net PUBLICIDADE


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DESTAQUE COMÉRCIO TRADICIONAL

TIAGO CARVALHO

APESAR DA CRISE, o “Café Santa Cruz” mantém os preços e aposta na dinamização cultural

As duas crises da Baixa de Coimbra Vive-se a maior recessão económica dos últimos 30 anos. Os pequenos comerciantes da Baixa de Coimbra garantem que o ano de crise apenas veio acentuar os problemas que já existiam. O que fazem para (ainda) sobreviver? Reportagem por Alice Alves e Eliana Neves nas tardes quentes que a Baixa ganha alguma vida. Os turistas multiplicamse, enchem as ruas e os cafés tradicionais, ignoram os pedintes e atiram pão aos pombos que infestam as esplanadas. Contudo, os comerciantes das lojas típicas da zona não se vêem com muito mais trabalho. Mesmo a meio da rua Visconde da Luz, é um pouco a custo que se vê o letreiro identificativo da “Fotos Gaspar”. A porta é pequena, o edifício antigo. Lá dentro cheira a bafio e é preciso subir umas escadas íngremes e estreitas para chegar ao laboratório. Ao som de Zeca Afonso, Carlos Vilela recebe-nos com estranheza. Já são poucos os jovens que procuram os serviços. “Hoje em dia toda a gente tem máquinas digitais. A reportagem de casamentos é o nosso único pára-quedas”, revela. As novas tecnologias há muito que desvirtuaram a necessidade de recorrer a alguém experiente. Todavia, dado que já não é recente o uso da máquina digital em detrimento da analógica, os problemas principais são outros: “o governo agora decretou o cartão único,

É

as pessoas já não vêm tirar fotos de passe, porque não as aceitam na Loja do Cidadão. A nossa crise é esta”. Opinião semelhante é a de Vasco Henriques, que sustenta o negócio na mesma rua, mediante a cobertura de casamentos. “Desde esta história do cartão único que já despedi cinco pessoas. Agora somos só dois”, desabafa com algum desconforto. Do mesmo ramo, Arlindo Santos, dos laboratórios “Diorama”, na rua dos Esteireiros, na Praça do Comércio, confessa que a hipótese de fechar as portas não é descabida: “vou pedir a reforma e, se for suficiente para manter a loja, continuo, senão fecho”. Carlos Vilela afirma, por seu turno, que “se isto até ao final do ano não melhorar só resta a reforma”. Entretanto, dedica-se à recuperação de fotos da Queima das Fitas de 1957, um trabalho que “pode não dar em nada” mas que – reconhece – “tem sido apaixonante”. No Adro de Cima, António Martins, proprietário da “Casa da Estrela”, especializada em produtos regionais da Serra da Estrela, é peremptório: “isto está paupérrimo”. O comerciante nada consegue apontar

para reverter a diminuição drástica das vendas. “Não há hipótese de dar a volta a isto”, lamenta. Até porque, os problemas da Baixa não se prendem exclusivamente com a crise. “Isto é uma cidade fantasma” afirma o velho comerciante, defendendo que a CMC pouco ou nada tem conseguido fazer. “A parte histórica da cidade foi deixada ao abandono, não há iniciativas”. Faz questão de frisar que não é sócio da Associação Comercial e Industrial de Coimbra

“A parte histórica da cidade foi deixada ao abandono, não há iniciativa” (ACIC): “ não concordo com as políticas. Desde que tiraram daqui o estacionamento já fecharam mais duas lojas”. Este é, aliás, um problema apontado pela maioria dos comerciantes. Na rua da Louça, desde 1981 que a “Mercearia Camponesa” está aberta ao público. O gerente, José

Mendonça, revela que mesmo sentindo os efeitos da crise ainda não optou por baixar os preços: “não há saldos de ouro e optar por isso seria caminhar para trás”. Enquanto mostra orgulhoso um vinho usado na comemoração do Tratado de Lisboa (um “Barros Colheita” de 1957, à venda por 365 euros) diz que vão contornando a crise com ofertas de alguns produtos e outras estratégias. Concordando com a maioria dos comerciantes vizinhos sobre o negócio na Baixa, considera que a crise apenas veio agravar a desertificação: “as pessoas preferem comprar nas grandes superfícies, estão fortemente viciados no cartão de crédito”, que confessa utilizar moderadamente. São poucos os passos que levam da mercearia ao sapateiro da rua. De acordo com Manuel Martins, proprietário da “Coimbrasil”, aberta há 13 anos, não há mais ou menos crise para ninguém, é geral: “temos é que trabalhar”. Culpa essencialmente as lojas chinesas pela diminuição do número de clientes. “As pessoas preferem comprar sapatos baratos a arranjá-los. Os clientes que temos ainda são aqueles com mais poder de

compra”. São poucos os fregueses jovens – “Portugal é um país de velhos” – sublinha, afirmando porém que ainda há algumas “raparigas que vêm pôr capas nos sapatos”. Apesar da desmotivação, não consegue disfarçar o sotaque cantante do Rio de Janeiro, onde esteve emigrado vários anos: “sem trabalhar primeiro lá fora não dá para ter um negócio aqui”. Embora o engenho seja outro, Celso Baía, dono de uma pequena loja de artigos de pesca aberta desde 1974, a “CelFat”, na esquina entre as ruas da Sota e do Sargento-Mor, considera que “as pessoas preferem arranjar aquilo que já têm, porque não se pode gastar dinheiro em certas coisas”. O entardecer à porta traz o problema do estacionamento à baila uma vez mais, bem como a falta de meios: “a ACIC bem tenta, mas não ajuda nada, não tem como…”.

Porque não se podem baixar os braços De volta à Visconde da Luz, a “Casa dos Linhos” capta a atenção dos transeuntes pela remodelação re-


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DESTAQUE

cente. Cristina Veigo, que gere há 12 anos o negócio de família (com 52), encara as consequências da crise de forma prática. A resposta inicial é de alguém que encara a situação económica actual com alguma leveza: “a repercussão tem sido normal, sentimos um pequeno abatimento, mas nada de muito drástico”. Considera que a redução de compras aos fornecedores não é nem de perto nem de longe uma solução: “os nossos clientes procuram a variedade. Apostámos em obras, viajámos muito e frequentámos várias feiras. É necessário ter uma boa percepção do produto e vários modelos para oferecer”. Enquanto fala, não perde

Em alguns casos, o dinamismo cultural serve para contornar o baixo consumo o ritmo e sorri distraidamente enquanto arruma jogos de toalhas e roupões esquecidos no balcão periférico. Não muito mais à frente, e fazendo jus ao nome da praça onde se situa, o “Café Santa Cruz” abriu as portas a 8 de Maio de 1923. José Cruz gere o investimento do pai há 15 anos e não tem qualquer problema em admitir que este é um estabelecimento diferente: “temos sofrido um pouco com a crise, os nossos preços não são os mesmos das outras casas aqui perto. Mas também temos em vista uma outra clientela, apesar de aqui ser complicado”. Os preços mantêmse, as estratégias para amenizar a diminuição do consumo passam pelo dinamismo cultural. Em parceria com a associação académica, esta casa promove ao longo do ano noites de fado, bem como variadas exposições. Logo ao virar da esquina, encontra-se uma estreita rua. O pouco movimento é testemunhado pelas duas senhoras que, embora desanimadas, não se cansam de esperar à porta pelos clientes. “Se não estivesse aqui para onde é que ia?”, questiona-se

Graça Almeida, uma vendedora de miudezas que admite ter sido derrotada pela crise. “Criou-se a ilusão de que nos grandes centros os produtos são sempre mais baratos e as pessoas estão automatizadas.” A vizinha comercial, Sandra Pinho, concorda: “há muito tempo que isto está assim, as pessoas simplesmente não vêm à Baixa. Isto está mesmo no fundinho”. As escadas que levam ao QuebraCostas situam-se já numa zona de passagem. É aqui entre a Baixa e o núcleo da Cidade Muralhada que se encontra a livraria “XM”. Isabel Santos assume-se como colaboradora, dizendo que tem na loja um papel mais “burocrático”. Admite que se sentem os efeitos da crise, mas não crê que sejam exclusivos da loja. “Os livros são prescindíveis e esta livraria é para um público-alvo ainda mais específico”, explica. Apesar do espólio musical que possuem ser alugado a um amigo, “o que se vende mais, ainda são os vinis. E alguns produtos de decoração”. A zona é de passagem, muitos são os turistas que espreitam pelo vidro e depois optam por entrar, constituindo a maioria do movimento. “A Baixa está morta, quase que parece não pertencer à cidade. Tornou-se mais sombria, as lojas que mais chamavam o público passaram para as grandes superfícies. Eu própria deixei de fazer as minhas compras na Baixa”, lamenta Isabel. A razão prende-se também com a falta de segurança: “sempre foi uma zona complicada, mas agora o meu receio ainda é maior. Não há vida, as pessoas a partir do fim da tarde têm receio de lá passar. Fecha tudo cedíssimo”. E a fiscalização “apertada” da Câmara, critica por sua vez o proprietário da “Fotos Gaspar”, não permite grande flexibilidade nas horas de fecho. Ao anoitecer as ruas tornam-se calmas, silenciosas, abandonadas. A crise económica sente-se agora mais do que nunca. Mas há outra mais profunda. Mesmo que a primeira acabe, os comerciantes da Baixa continuam sem ver o fim da sua própria crise. Com João Ribeiro

O QUE SE FAZ PELA BAIXA O estacionamento gratuito é uma das reivindicações mais presentes dos comerciantes da Baixa como forma de atrair mais clientes. Ao apelo, o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Carlos Encarnação, que está directamente responsável pelo Gabinete de Desenvolvimento Económico e Política Empresarial, responde que “os parques de maior dimensão são gratuitos, por exemplo, na zona da Casa do Sal”, mas afasta a possibilidade de alargar esta medida aos da Baixa, por terem menos lotação. O presidente da Agência de Promoção da Baixa de Coimbra, Armindo Gaspar, reconhece o problema do estacionamento, mas ressalva que uma melhor organização dos transportes seria uma solução e refere a passagem do Metro Mondego como uma mais-

valia para o pequeno comércio. Mas Armindo Gaspar, também proprietário da “Perfumaria Pétala”, aponta uma medida mais imediata: que todas as lojas da Baixa abram ao sábado. De momento, apenas alguns comércios o fazem, tornando a medida ineficaz, afirma. “Se não houver uma percentagem significativa de lojas abertas, nunca podemos fazer uma campanha muito agressiva, porque estamos de certa forma a enganar o consumidor”, explica o lojista. Nascida de uma iniciativa conjunta entre a CMC e os comerciantes, a agência, neste momento, reúne apenas 89 lojas, cerca de um quinto de todas as existentes na Baixa. “A trabalhar cada um para si é mais complicado”, lamenta Armindo Gaspar. PC e JR

PAULO MENDES • PRESIDENTE DA ACIC

JOÃO RIBEIRO

NO ESCRITÓRIO onde gere a loja que há cerca de 80 anos pertence à família

“Muitos estabelecimentos irão desaparecer ” Nos últimos dois anos, a Baixa perdeu 50 estabelecimentos. Paulo Mendes, à frente da ACIC há um ano e meio, fala do que está mal e da importância da gestão para salvar o pequeno comércio Pedro Crisóstomo João Ribeiro Quais as dificuldades mais apontadas pelos associados da Associação Comercial e Industrial de Coimbra? A crise do comércio tradicional não é de agora. É um processo que se desenrola há cerca de 15 anos, quando começou a concorrência das grandes unidades e do comércio organizado. O pêndulo da balança está completamente posto para um dos lados. O comércio organizado em grandes superfícies domina cerca de 90 por cento do mercado. Depois, há problemas de acessibilidades, estacionamento, de facilidade de circulação e também os hábitos de consumo. Os portugueses tinham um hábito de consumo num determinado local e, hoje, os hábitos de consumo são noutros locais. Tem-se acentuado neste ano? Agora, há um problema de consumo, não tanto porque as pessoas não tenham dinheiro para consumir, mas porque têm medo de consumir. E esse consumo é muito restrito em todo o tipo de coisas. Como é que é possível restituir a confiança nos consumidores? Enquanto houver problemas de estabilidade de emprego e enquanto as pessoas tiverem medo de ficar desempregadas, é extremamente difícil haver aumentos de consumo. Agora não sei bem o que é que começa primeiro: se é aumento de consumo para haver aumento de emprego, se o contrário. Essa baixa de consumo é notória na Baixa, este ano? É notória. Os indicadores que temos – que não são fiáveis – baseiam-se em conversas e contactos que nos

chegam. Estes primeiros três meses foram bastante maus para o comércio nacional. Há uma estratégia de concertação para ultrapassar esta crise? Estão a ser preparadas algumas medidas para ser postas em prática já em Maio. Os sábados são um dia tradicionalmente de comércio forte, o que não tem vindo a acontecer nestes últimos meses. A nossa ideia é pedir à câmara que deixe de cobrar estacionamentos ao sábado de manhã e vamos pedir aos comerciantes que abram aos sábados à tarde.

TEM DE EXISTIR UMA MUDANÇA DE HÁBITOS DOS EMPRESÁRIOS Acredita que a própria crise traz a vantagem de incentivar as lojas a mudarem de atitude? Sim. O comerciante é um indivíduo algo individualista e vê sempre o vizinho do lado como um concorrente: nada de fazer grandes confidencias ou de partilhar os segredos do negócio. Tem havido alguma capacidade de reunião das pessoas e vamos ver o que conseguimos tirar daí. É possível fazer algum tipo de estudo de mercado sobre a Baixa? Esses estudos já foram feitos. Desta crise haverá empresas que fecham e outras que abrem. As crises, tal como as guerras, tornam o futuro diferente daquilo que era o passado e, normalmente, nos períodos imediatamente a seguir há um grande desenvolvimento económico. Quem ficar, ficará melhor. Mas também reconheço que haverá muitos estabelecimentos que

irão desaparecer. Tem conhecimento de casos? Sim. Nestes últimos dois anos, tivemos na Baixa cerca de 50 estabelecimentos que encerraram e que não voltaram a abrir. Há 15 anos, se houvesse um espaço fechado, na semana seguinte haveria alguém interessado; hoje, isso não acontece. Não há uma substituição natural. Aí também entra a confiança… Exactamente. Há um grave problema social nisto tudo. Hoje, um gerente comercial se for à falência não tem nenhum apoio social. E depois vem o facto de ser extremamente difícil, em termos fiscais, encerrar um estabelecimento definitivamente. A fiscalidade é tão intrincada que, às vezes, há processos de encerramento de empresas que levavam dez anos. E chega-se a um ponto de não retorno: nem se consegue crescer porque não há capacidade financeira para se investir e continua-se assim até a saúde não o permitir mais… A iniciativa individual pode ser suficiente para sobreviver? A iniciativa passa sempre pelo individual. Dificilmente uma associação ou uma organização – como a ACIC – consegue alterar o trâmite das coisas. O empresário tem de ter uma capacidade de gestão, hoje, acima do que acontecia há alguns anos. Tem de estar atento a todos os pormenores da sua gestão. Tem de existir alguma mudança de hábitos por parte do empresário. Nota uma certa inércia? Há alguma. Mas nestes momentos de maior aflição, as coisas vão-se alterando aos poucos e poucos. Há, ao mesmo tempo, um pormenor que tem a ver com o tipo de actividades que dificilmente terão capacidade de continuar.


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ENSINO SUPERIOR ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA MOTORA NA UC

Faculdades contornam acessibilidades JOÃO MIRANDA

A UC oferece pouca acessibilidade para deficientes motores. Porém, o gabinete de apoio da universidade procura criar soluções João Miranda O exercício parecia até bastante simples. Conhecer alguns dos edifícios da Alta Universitária de Coimbra pela perspectiva de um estudante com deficiência motora, sem grandes conceitos definidos sobre a adaptação das estruturas aos meios de deslocação necessários. Comecemos pelo edifício das Matemáticas, logo a seguir às já irrealizáveis Escadas Monumentais. Com alguma mestria, uma cadeira de rodas ultrapassa o pequeno lance de escadas da entrada principal. Surge então um novo problema: os degraus que antecedem a porta difícil de abrir, no átrio do departamento. Contudo, existe uma solução. Torneando o edifício existe um acesso ao elevador que cumpre todos os pisos. De mais fácil trânsito são, logo ao lado, os edifícios das Químicas e Físicas, que contam com um declive no degrau de acesso ao piso das portas da entrada, elevadores em ambas as estruturas e rampas dentro dos próprios edifícios. Com o objectivo de superar as barreiras colocadas pela idade da estrutura, o edifício da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra dispõe de rampas de acesso, portas automáticas e ainda de uma escada-elevador que liga o átrio da entrada ao piso principal da biblioteca. Uma reali-

ESCADAS são o maior entrave aos estudantes com dificuldades motoras

dade um pouco diferente da faculdade de Direito, em que a dificuldade de aceder aos claustros do edifício dificilmente é superada pelo elevador existente. As duas rampas que antecedem a entrada da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) e os elevadores são uma mais-valia que contrasta, dentro do edifício, com a obrigatoriedade do uso de escadas no acesso a alguns anfiteatros. Lá, existem lugares dedicados a estudantes com dificuldades motoras, que se tornam impraticáveis quando tentamos incluir uma cadeira de rodas.

“Tentamos viabilizar uma solução” A realidade das dificuldades dos es-

tudantes com deficiência motora não é alheia à UC e foi com esta preocupação que foi criado em 1989, com uma reestruturação em 2003, o Gabinete de Apoio Técnico-Pedagógico a Estudantes com Deficiência. Segundo um dos membros do gabinete, Maria José Correia, o objectivo do departamento é desenvolver todas as iniciativas possíveis para eliminar as barreiras físicas. A metodologia passa essencialmente por auferir a deficiência do estudante e o curso que frequenta. “Depois, tentamos sensibilizar os serviços das faculdades e viabilizar uma solução”, explica. “A recepção por parte das faculdades é sempre boa”, conta Maria José Correia, que adianta que a reestruturação dos edifícios se torna quase

sempre impossível devido à falta de verbas disponíveis. A solução passa então por criar condições: mediante a dificuldade de um determinado aluno, a turma em que ele está inserido é colocada numa sala onde as barreiras possam ser ultrapassadas. “Na FLUC, um aluno com deficiência motora será sempre colocado num anfiteatro ímpar, sem escadas de acesso”, exemplifica Correia. Ainda com a perspectiva de criar condições a estudantes com dificuldades motoras, foi criado um livro com o levantamento de todas as barreiras da universidade. Contudo, o recentemente inaugurado edifício da Casa das Caldeiras não consta no livro devido à obra ter sido concluída após a conclusão do documento.

Também no edifício da Associação Académica de Coimbra (AAC), as dificuldades de acesso a pessoas com deficiência motora são manifestas: as rampas de acesso apenas permitem o acesso aos primeiro e segundo pisos. Segundo a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante da DirecçãoGeral da AAC, Adriana Pimentel, esta é uma questão que a direcção “queria resolver”. Contudo, as dificuldades impostas na remodelação da estrutura original não o permitem. Sobre a restante estrutura da universidade, a dirigente estudantil garante que nunca receberam queixas, embora adiante que a direcção-geral vai, em Setembro, desenvolver uma série de iniciativas de apoio a estudantes com deficiência motora.

Estudantes europeus reafirmam posição contra ‘rankings’ Ministros do ensino superior europeus definem prioridades de Bolonha para os próximos dez anos em conferência na Bélgica Pedro Crisóstomo Uma década depois da declaração que veio reestruturar a rede de ensino superior europeia, os 46 países incluídos no Processo de Bolonha reúnem hoje, 28, e amanhã numa conferência ministerial, na Bélgica, para definir prioridades para os próximos dez anos. No encontro, vão participar os representantes dos estudantes de cada país, que deverão apresentar “uma tomada de posição contra a existência de classificações com ‘rankings’”, um apelo antigo da Associação de Estudantes Euro-

peus. O representante das Associações de Estudantes do Ensino Superior Universitário ao Conselho Nacional de Educação e estudante de Engenharia Civil na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, João Pita – que integra a comitiva portuguesa – esteve durante dois dias em reuniões preparatórias com os restantes estudantes. O objectivo foi fazer o ponto de situação sobre o que se passa em cada país e encontrar uma voz comum sobre os temas que vão ser debatidos até amanhã, em Lovaina, pelos ministros do ensino superior europeus. Hoje, na conferência ministerial em Lovaina, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, vai apresentar as conclusões de um relatório que sintetiza em 24 páginas os níveis de qualificações, os graus e os diplomas nacionais da adopção de

Bolonha em Portugal. Segundo o ministério, 98 por cento dos cursos estão adaptados aos “critérios e objectivos” de Bolonha. “Além disso, pretende-se que sejam consolidados os pontos que não estão terminados dentro do Processo de Bolonha” e que, na opinião de João Pita, têm de ser “fiscalizados” para os próximos dez anos: a dimensão social e a mobilidade. “As reformas estruturais ou legislativas estão feitas, falta a reforma funcional, no dia-a-dia das instituições”, defende o estudante. “Há algum caminho a fazer na aplicação no quotidiano, como por exemplo em ECTS, no reconhecimento de cadeiras no estrangeiro e em equivalências”. Um das preocupações mais prementes a debater, concretiza João Pita, é a forma como “os grupos mais desfavorecidos – e em equidade – podem ter maior acesso ao

ensino superior”. Depois, “há ainda a aprendizagem centrada no aluno”, o “fomento da mobilidade” e a “empregabilidade”. Quando uma das exigências da Associação de Estudantes Europeus é que a mobilidade na Europa cresça 20 por cento até 2020, meta que João Pita considera “muito ambiciosa”, “mais dramático é o facto de estudantes de famílias com um nível

sócio-económico mais elevado tenham números de mobilidade mais elevados do que estudantes com um nível sócio-económico inferior”. Já no que toca à formação, “é preciso reconhecer que, cientificamente, os professores do ensino superior em Portugal são muito bons, mas que para darem o salto ao encontro desta nova forma de ensino, precisam de formação”. ANDRÉ FERREIRA


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ENSINO SUPERIOR

UC não corre o risco de fechar cursos LEANDRO ROLIM

Reestruturação no ensino superior leva ao encerramento de vários cursos. A vice-reitora da UC, Cristina Robalo Cordeiro, assegura que Coimbra não será afectada Vasco Batista Em declarações ao “Expresso”, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, adiantou que as instituições universitárias vão sofrer “transformações muito significativas”. “Não é razoável haver na mesma região quatro cursos, cada um com poucos alunos e dificuldades em ter professores qualificados”, justifica. A decisão de Gago teve receptividade junto das estruturas sindicais. O responsável da Federação Nacional dos Professores (FENPROF) para o ensino superior, João Cunha Serra, afirmou, ao “Correio da Manhã” (CM), “estar disponível para estudar o caso com o governo e encontrar a melhor solução para o país”. Porém, alerta para o facto de a decisão poder levar a despedimentos. Como solução defende que “o pessoal [docente] libertado poderia ser aproveitado para áreas onde haja carência”. Também em declarações ao CM, o ex-presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos Superiores, Luciano Almeida, destacou a premência do assunto: “a racionalidade da oferta em função das necessidades de formação das regiões sucumbiu perante a necessidade de atrair alunos”. “Há cursos que ninguém sabe para que servem”, aler-

A VICE-REITORA DA UC, Cristina Robalo Cordeiro, afirma que “a UC tem todos os cursos preenchidos”

tou. A reestruturação no ensino superior não é inédita. Recentemente, foram encerrados cerca de 200 cursos. As universidades do Algarve, Évora e Trás-os-Montes e Alto Douro receberam, desde o último ano, sugestões para encerrar ou fundir alguns cursos. O maior exemplo foi a Universidade de Évora que suspendeu três licenciaturas e criou três cursos a funcionar em parceria com empresas. Não obstante, o encerramento de cursos não acontecerá na Universidade de Coimbra (UC). A vice-reitora, Cristina Robalo Cordeiro, afirma que “a UC tem todos os cursos preenchidos”. “Aqueles em que isso não acontece está mais do que

assegurado que vão continuar abertos, como seja Estudos Clássicos”.Esta reorganização vai afectar também universidades privadas: “o ensino privado tem de dar uma volta enorme”, referiu Gago ao semanário. O ministro admitiu que “vão sobrar poucas instituições privadas”. “Serão criadas instituições maiores e mais qualificadas”, avançou.

Universidades sem dinheiro O problema não é novo. As universidades portuguesas têm alegado sérias dificuldades financeiras. Todavia, Mariano Gago assegura que “não há nenhuma situação crítica com os níveis de financiamento actuais” e que o “orçamento corres-

ponde às necessidades”. O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) remeteu uma carta ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, alertando para a situação de ruptura das universidades públicas. Presidido pelo reitor da UC, Seabra Santos, o CRUP acredita que a solução passaria, num primeiro momento, por recorrer à reserva para recuperação institucional, uma rubrica inscrita no Orçamento de Estado e avaliada em 20 milhões de euros. Sem quaisquer adendas orçamentais, as universidades não conseguirão cumprir os seus compromissos salariais. Na UC, “essa questão não se coloca em termos tão dramáticos.

Há uma gestão equilibrada com contenção de despesas” expressa Robalo Cordeiro. A carta enviada pelo CRUP refere também a demora na atribuição do Fundo para o Desenvolvimento do Ensino Superior estimado em 24 milhões de euros. Paralelamente, Gago admitiu que os problemas financeiros do ensino superior residem na má gestão das universidades. Neste âmbito, Robalo Cordeiro, diz que “ fazer uma declaração dessa natureza significa um grande desconhecimento da realidade universitária”. “As universidades fazem um esforço muito grande de contenção de despesas, de gestão equilibrada e angariação de recursos ”, ressalva. Com Matheus Fierro

Regulamento interno da queima ainda não foi revisto SÓNIA FERNANDES

Dux culpa as sucessivas direcções-gerais pelo atraso e defende uma “redistribuição de poderes” dentro da estrutura da queima Cláudia Teixeira O Regulamento Interno da Queima das Fitas, de acordo com o artigo 76, “será revisto ordinariamente de cinco em cinco anos”, no entanto a última revisão foi feita há sete havendo um incumprimento do diploma. Segundo o presidente do Conselho de Veteranos, João Luís Jesus, “desde que o regulamento precisou de começar a ser revisto, nenhuma Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) mostrou disponibilidade para levar essa revisão a sério”. O Dux Veteranorum

salvaguarda que “é uma crítica à direcção-geral independentemente do seu mandato” e que “a única excepção foi no mandato do André Oliveira, que quis rever o regulamento à pressa”. André Oliveira, presidente da DG/AAC em 2008, diz não entender as críticas de João Luís Jesus e afirma que “uma das preocupações no início do mandato foi precisamente rever o regulamento e não fazia sentido estar a pedir uma revisão à pressa”. Desde 2007 que o Conselho de Veteranos, explica o Dux Veteranorum, tem elaborada uma proposta de revisão para o Regulamento Interno da Queima das Fitas. O então presidente da DG/AAC, Paulo Fernandes, salienta que “no final da queima de 2007, pôs-se em cima da mesa a alteração ao regulamento, no entanto, não foi possível proceder à revisão por indisponibilidade dos elementos que viriam a compor o colégio para a alteração do di-

ploma”. O ex-presidente da DG/AAC defende “alterações ao nível das distribuições de verbas, dos poderes do secretário-geral e da Comissão Fiscalizadora [órgão da Queima das Fitas] e até dos próprios comissários”. Também o actual presidente da DG/AAC, Jorge Serrote, afirma não compreender as críticas que lhe são tecidas e assegura que “por parte da direcção-geral existe toda a disponibilidade para rever o regulamento interno da queima”. “Há uma proposta do Conselho de Veteranos mas, por exemplo, este ano ainda não foi marcada nenhuma reunião do conselho para esse efeito”, critica. No que diz respeito ao documento elaborado pelo Conselho de Veteranos, João Luís Jesus adianta que “a proposta vem redistribuir poderes” e justifica: “neste momento há pessoas com demasiado poder dentro da Queima das Fitas, como é o caso

da Comissão Fiscalizadora (CF)”. “A CF está transformada num órgão executivo e o regulamento nem sequer lhe reconhece esse poder”, critica o Dux Veteranorum. André Oliveira considera que “é um facto que em determinados casos a CF tem demasiados poderes”. Já Jorge Serrote discorda e afirma que “a CF desempenha um papel extremamente importante na estrutura da Queima das Fitas, no acompanhamento e na fiscalização da mesma”. O secretário-geral da Queima das Fitas de 2008 e 2009, Filipe Pedro, diz que “a questão é controversa dentro da queima” e esclarece que “a CF deve existir mas mais regulada e não tão vasta no que diz respeito às decisões que lhe compete”. Em relação à revisão do Regulamento Interno da Queima das Fitas assegura que “ainda não foi revisto por falta de disponibilidade das pessoas para o efeito”.


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ENSINO SUPERIOR Organização da queima promete noite A história da festa académica é preenchida de momentos marcantes como “diferente” 110 ANOS DE HISTÓRIA

O outro lado da queima

a interrupção da festa e uma Assembleia Magna de Voto para decidir a sua realização ou não ARQUIVO

Ana Rita Santos Cláudia Teixeira

Realização da queima vai a plebiscito

O início oficial da Queima das Fitas de Coimbra remonta à década de 1930, mas a sua génese remete para uma festa académica já existente nos finais do século XIX. Como conta o Dux Veteranorum, João Luís Jesus, “o que começou por ser uma comemoração satírica do Centenário da Sebenta em 1899, rapidamente se transformou numa festa académica com sarau cultural, um cortejo e fogo-deartifício”. Segundo João Luís Jesus, “esta é a primeira coisa que faz lembrar uma Queima das Fitas, e a essa primeira comemoração estudantil foram acrescentadas mais coisas e a festa foi crescendo”. “Nos anos 30 juntou-se a Venda da Pasta, o Chá Dançante, o Baile de Gala e a Garraiada, daí resultando a Queima das Fitas nos módulos que conhecemos actualmente”, explica. 32 anos depois, a festa académica de Coimbra sofre a primeira interrupção, naquilo que foi uma pequena amostra do que aconteceria na Crise Académica de 1969. Corria o ano de 1962 quando a Queima das Fitas, pela primeira vez, não se realiza “devido a um confronto entre os estudantes, o regime e as autoridades universitárias”, conta o historiador Miguel Cardina. “A interrupção da queima de 62 foi também devida a um processo de luto académico de contestação estudantil, utilizando a tradição como forma de reivindicação da autonomia associativa que resultou, tanto em Lisboa, como em Coimbra, na prisão de vários estudantes e no decreto de luto académico”, acrescenta o historiador. Em 1969, vive-se a Crise Académica e com ela a Queima das Fitas é de novo interrompida, sendo retomada em 1980 com o então presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Maló de Abreu. Miguel Cardina afirma que “o interregno de 11 anos é muito importante porque reflecte uma crítica à forma como os estudantes estavam posicionados em relação à própria sociedade e toda a estruturação associada ao meio tradicional coim-

A Queima das Fitas leva o seu rumo natural até 2003, ano em que é proposta uma moção, na Assembleia Magna de 16 de Dezembro, no sentido de encerrar a festa académica como forma de protesto contra a política do governo para o ensino superior. O então presidente da DG/AAC, Vítor Hugo Salgado, defendeu uma Assembleia Magna de Voto – órgão máximo da AAC –, ou seja, um referendo sobre a realização ou não da Queima das Fitas. 4 452 estudantes, de um total de 5 661 votantes, pronunciaram-se pelo “Sim” à festa académica, enquanto 1129 votaram pela suspensão da iniciativa. Num clima de discussão acesa, a queima acabou por ter lugar. A festa da Academia de Coimbra constitui, desde sempre, uma importante fonte de receitas para as estruturas da AAC. Em 2006, o Relatório e Contas da Queima das Fitas de 2005 revelou um resultado líquido negativo. Na altura, em declarações à A CABRA, a comissão organizadora justificou o mau resultado alegando a existência de uma fraude nas entradas, o que foi investigado pelo Ministério Público. O Conselho Fiscal da AAC (CF/AAC), presidido então por José Malta, decidiu instaurar um inquérito para apurar a existência de irregularidades na actuação da Comissão Organizadora da Queima das Fitas 2005. O parecer do CF/AAC referiu que a gestão do orçamento da festa académica de 2005 “não foi rigorosa, culminando numa derrapagem orçamental, na qual se destaca o Pelouro da Produção”. De acordo com o órgão, a Comissão Fiscalizadora da queima não havia tomado “as diligências necessárias para evitar o resultado final”. Após o parecer negativo do CF/AAC, os membros da Comissão Central da Queima das Fitas 2005 e o secretário-geral foram demitidos pela Comissão Fiscalizadora da queima. Quatro anos depois, a Comissão Central anuncia ter sido atingido o maior saldo positivo de sempre. Com Alice Alves

EVENTOS como a queima do grelo surgiram na década de 1930

brão foi sendo posto em causa”. “A grande distinção que havia entre caloiro e doutor foi diminuindo, a capa e batina começava-se a vestir cada vez menos, as praxes começa-

ram a ser vistas como algo negativo no contexto social, houve portanto uma erosão das práticas mais hierárquicas e mais punitivas das praxes”, desenvolve.

Cláudia Teixeira A Queima das Fitas conta, este ano, com mais uma noite do que o habitual. De acordo com o secretáriogeral da Queima das Fitas, Filipe Pedro, a comissão organizadora da festa académica “vai tentar que a noite de 9 de Maio, a chamada Noite 110 Anos, seja diferente, que seja uma noite comemorativa e não apenas mais uma noite de folia no Parque da Canção”. Filipe Pedro explica que “o que esta noite tem de diferente das outras é a própria programação cultural já que há cinco artistas de renome nacional a actuar ao mesmo tempo em palco: Sérgio Godinho, Jorge Palma, Boss AC, Lúcia Moniz e Cool Hipnoise”. “Vamos também passar um vídeo com momentos marcantes da Queima das Fitas que vai abrir a Noite 110 Anos, com o objectivo de chamar a atenção das pessoas para outras actividades que a queima tem e que não são muito conhecidas, como a Venda da Pasta e o Chá das Cinco”, acrescenta. A Queima das Fitas inicia-se esta quinta-feira, 30, com a habitual Serenata Monumental e prolonga-se até 9 de Maio com as Noites do Parque. O cartaz conta com bandas como Cansei de Ser Sexy, Deolinda, Buraka Som Sistema, Morcheeba e Brandi Carlile.

UC debate qualidade no ensino Cláudia Teixeira O Auditório da Reitoria recebe quinta-feira, 30, às 9 horas, o Seminário sobre Garantia da Qualidade e Acreditação. O encontro é organizado pela UC, pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e pela Conferência de Reitores das Universidades Espanholas (CRUE), e surge no âmbito do projecto “Peritos de Bolonha 2008/2009 – Furthering Bologna Reforms”. O evento conta com a participação do ministro do ensino superior, Mariano Gago, do reitor da UC e presidente do CRUP, Seabra Santos, e do director do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior, Alberto Amaral, entre outros. PUBLICIDADE


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CULTURA

A arte escondida na AAC LEANDRO ROLIM

O MURAL dos jardins da AAC, de Abel Manta, carece de reparação e iluminação, reconhece o administrador do edifício

Embora diariamente centenas de pessoas passem por ele, poucos conhecem o vasto espólio artístico da AAC. Nas paredes da sede e nas salas dos organismos e secções, as obras repartem-se por murais, esculturas e até uns cornos de marfim. Por Maria João Fernandes e Sara Oliveira associção académica tem uma série de obras de arte espalhadas por todo edifício da Padre António Vieira. Contudo, apesar do seu valor artístico e patrimonial, algumas encontram-se degradadas e esquecidas, outras preservadas em museus, ou dentro dos próprios organismos e secções da academia. A história do traje, de João Abel Manta, é um conjunto de sete painéis de azulejo de 1960 que se situa na parede lateral da sede da AAC, dirigida para a Avenida Sá da Bandeira. Até há cerca de três semanas, o último painel esteve temporariamente escondido dos olhos de quem passava, por estar sobreposto por uma lona de publicidade à Linha SOS-Estudante. Entretanto, foi substituída por outra que publicita a Queima das Fitas. Apesar da nova lona não ocultar a obra de arte, o administrador da associação académica, Miguel Franco, quando questionado sobre o assunto, refere que a nova faixa só vai estar naquele sítio durante 15 dias e que depois disso “não vai ser colocada mais publicidade ali”. As obras espalhadas pelos jardins da AAC não se encontram em muito bom estado. Pinturas degradadas e cobertas de ervas daninhas, sem iluminação, ou uma mão perdida da sua marionete, são alguns dos obstáculos à plena contemplação das obras. A estátua que ainda existe nos jardins da AAC, foi outrora dife-

A

rente. Já esteve completa, e do seu todo fazia parte uma mão, representativa do governo, que segurava a figura do reitor, Seabra Santos. A estátua surgiu após o aumento das propinas por parte da reitoria da Universidade de Coimbra. Contudo, hoje a estrutura está incompleta, presa em ferros provisórios. O autor da escultura, Hélder Almeida, explica que “a estrutura poderia ter durado muitos anos se, na altura da instalação, tivesse sido bem feita no seu todo”. A figura do reitor, fora dada como desaparecida, mas Hélder Almeida encontrou-a em pedaços nos jardins da AAC. “Tenho-a comigo, mas nunca mais consegui chegar a acordo com as várias direcções-gerais seguintes para a reinstalação”, revela o autor da obra. Já Miguel Franco,garante que as obras do jardim vão ficar concluídas até ao final deste ano, e que estão “a estudar a possibilidade de reabilitar a mão”.

Arte “privada” Grande parte do espólio artístico da AAC não está à vista de quem apenas passe pelos corredores do edifício. Mora entre as paredes que montam a sede, em várias secções, e apenas alguns as conhecem. A secção de Fado da AAC tem duas pinturas de Tó Nogueira, antigo seccionista e presidente daquela secção, que datam de 1992, que em vez da tradicional parede, escolheram o tecto. Numa das salas está pintado o símbolo da AAC e na outra está o símbolo da secção,

ambas em tons de preto e branco. À Rádio Universidade de Coimbra (RUC) chega também a arte, não pela música, mas pela tinta. No corredor central existem três painéis que em nada passam despercebidos. O mais antigo tem sensivelmente 23 anos e comemora a passagem da emissão da rádio a frequência FM. “No rules, great radio” numa garrafa de whisky e “sempre no ar” são os slogans presentes nas duas outras pinturas que assinalam diferentes épocas da rádio universitária. No terceiro piso, uma espécie de janela abre-se nas paredes do Coro Misto da UC. Mesmo sem assinatura, sítios típicos de Coimbra como a Torre Cabra ou a Sé Velha estão registados numa das salas. Chaves da cidade oriundas de urbes de vários países, um corno de marfim vindo de África, uma batuta cuja loja data de 1790, uma arma do século XIX, porcelanas, salvas ou medalhas compõem o espólio de mais de mil peças que estão no museu do Orfeon da UC. Também na Secção de Fado se pode encontrar mais um dos espólios da academia de Coimbra. Brasões, documentos em latim, quadros, um documento do rei D. Carlos I de Espanha ou prémios que ganham as formas mais diversas compõem a enorme vitrina onde está parte da colecção de troféus, obras de arte e antiguidades que os vários grupos da secção de Fado recolheram em vários países do mundo. Todas estas peças podem ser vis-

tas por quem se dirigir aos dois museus existentes na AAC. O da secção de Fado encontra-se na sala Tó Nogueira, por baixo da sala de estudo. O museu do Orfeon encontra-se mesmo na sua sede, no ter-

ceiro piso da associação. Embora os dois possuam centenas de peças, o 25 de Abril fez desaparecer muitas que nunca mais regressaram às colecções a que sempre pertenceram. PUBLICIDADE


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CULTURA

Livros sobre rodas Com mais de 12 mil exemplares e 18 percursos definidos, a bibliomóvel de Coimbra percorre aldeias de toda a região, disponibilizando a leitura a quem está longe da urbe e não conhece as paredes uma biblioteca. Por Sara Oliveira ão 14h20 e é tempo de sair da Casa da Cultura de Coimbra para a ronda da tarde. A cor não deixa margens para confusões, pois o amarelo inebriante ofusca qualquer dúvida. Aparentemente simples, traz o mundo lá dentro. Deixa-se conduzir pela vontade de chegar ao interior no meio do nada para assim levar o conhecimento a quem chega a esperar um mês por ele. Por entre as curvas a que os caminhos longos e tortuosos obrigam, os livros são movidos por quatro rodas, e não se deixam intimidar pela força da oscilação. Circulam pela região de Coimbra, e encontram hoje, em 6800 pessoas, uma porta aberta. A biblioteca itinerante – bibliomóvel - leva aquilo a que muitos não têm acesso, caso a “carrinha amarela” não passasse por ali. A primeira paragem da tarde fica a 25 minutos da cidade. No meio da montanha, onde pouco mais existe do que um café, a bibliomóvel estaciona e o trânsito resume-se a um tractor e dois carros. Engarrafamento é coisa de cidade, e segundo quem lá vive, “não faz falta nenhuma”. Lídia Inácio trabalha no café daquela zona. Sempre que sente a bibliomóvel estacionar à frente do café, vai a casa buscar o livro que tem, e, expectante, volta para escolher outro. Lídia pode demorar três meses a lê-lo que não lhe cobram nada por isso, mas garante que volta à carrinha “sempre que eles passam pela terra”. A biblioteca itinerante já existe há oito anos. Luís Neves é funcionário há sete, e muitos foram os sorrisos que já descobriu por causa de um livro. “Há meninos que não conhecem a biblioteca municipal, e essa é a única maneira que têm de aceder aos livros”, sublinha. É

SARA OLIVEIRA

S

A BIBLIOMÓVEL é visitada diariamente por dezenas de pessoas de todas as idades e de vários sítios da região de Coimbra

muito falador, e entre um livro que está na prateleira e o preenchimento da requisição do leitor, trata logo de quebrar o gelo dando azo a dois dedos de conversa. Para Luís, “isto funciona quase como uma família”, e garante que “as pessoas continuam a ter um contacto regular”. A familiaridade é a alma de muitos negócios, e na bibliomóvel a regra não tem excepção. Da responsabilidade da Casa Municipal da Cultura, a biblioteca itinerante dispõe de um cômputo bibliotecário de mais de 12 mil exemplares. Apesar da oferta generosa, por vezes surgem pedidos “invulgares”.

“Quando nos pedem o que não temos, tentamos sempre arranjar o livro na biblioteca municipal e levar dali a um mês à pessoa que nos pediu”, garante Patrícia Santos, funcionária da bibliomóvel. Fazendo as contas, os livros passam mais tempo a circular nas diferentes localidades de Coimbra que não avistam a velha universidade, do que dentro da própria biblioteca itinerante, pois a carrinha não leva mais do que quatro mil livros. Existem 18 percursos definidos e por circularem tanto, “alguns livros chegam muito mal tratados”, confessa Patrícia, que explica que já ti-

veram de “deixar de fazer uma instituição porque os livros ficavam em muito mau estado e muitos ficaram perdidos para sempre”. O extravio de publicações não é muito frequente, segundo quem lida com eles de perto, mas ainda assim acontecem. “Alguns já nãos aparecem cá há seis anos”, lembra Luís Neves. O analógico ainda impera dentro dos poucos metros da bibliomóvel, e a tecnologia ainda é terreno por desbravar. Patrícia e Luís não escondem que “um veículo maior, com computador, internet, leitor de DVDs ou CDs seria muito bem-

vindo, e faria toda a diferença”. A informatização dos empréstimos assegurava uma maior rapidez no atendimento dos muitos pedidos que têm, por vezes ao mesmo tempo, “num espaço de tempo tão curto”, garantem. Entretanto, já se passaram três horas, e mais um dia chega ao fim. Às 17h30 já ninguém espera pela bibliomóvel, e o caminho é precisamente o inverso. Para trás ficam livros que daqui a um mês vão conhecer outro destino, ou a espera paciente nas prateleiras sobre rodas, de que alguém os decida conhecer novamente.

quer coisa que acontece em Lisboa tem mais divulgação que qualquer outro evento

palavra “português” por “indie”, ironiza Vítor Ferreira. Outra das queixas do director prende-se com a equipa de projeccionistas que estiveram na origem das falhas técnicas verificadas ao longo das projecções. “Curiosamente, apesar de termos uma equipa de voluntários, as maiores falhas vieram dos prestadores de serviços profissionais, como os projeccionistas que trabalharam connosco e que demonstraram uma clara falta de atenção e profissionalismo”, comenta. “O meu querido mês de Agosto” foi o grande vencedor da da XVI edição do Caminhos do Cinema Português. O realizador Miguel Gomes marcou presença na gala de encerramento no Teatro Académico de Gil Vicente para receber o Grande Prémio do Festival.

Mais um caminho percorrido A falta de divulgação a nível nacional continua a ser um dos principais problemas do Caminhos do Cinema Português François Fernandes As câmaras desligaram-se, as luzes apagaram-se e soou o derradeiro “corta!”. Terminou, no passado domingo, 26, a XVI Edição do Festival Caminhos do Cinema Português. Entre longas e curtas-metragens, ensaios visuais e animações, foram mais de 38 horas dedicadas ao cinema português. O evento organizado pelo Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra já

foi o terceiro festival de cinema mais importante de Portugal. Neste momento luta para entrar nos dez primeiros. À hora de fazer o balanço da edição 2009 do “Caminhos”, o director do festival, Vítor Ferreira, mostra-se satisfeito mas admite que ainda há muito trabalho pela frente. “Foi uma edição bem montada. Tivemos mais público que no ano passado e demonstrámos que o festival tem pernas para andar”, refere o director. “No entanto, ainda continua a ser muito difícil organizar um festival desta dimensão com uma equipa de voluntários”, continua. Este ano passaram pelo festival conimbricense alguns dos grandes nomes do actual cinema português. Estiveram presentes Alexandre Cebrián Valente, João Botelho e, sobretudo, Nicolau Breyner que

conquistou o público na noite de 21 de Abril. “Gostei muito da noite em que esteve cá o Nicolau Breyner. Quando um público está 60 minutos à conversa com um realizador é porque se sentiu identificado. Isso é muito importante para nós”, comenta Vítor Ferreira. No entanto, o “Caminhos” continua a enfrentar um desafio que tem vindo a ser recorrente ao longo das últimas edições. A organização acusa a imprensa nacional de centralizar a cultura e de continuar a não dar o merecido destaque ao evento. “Apesar de tudo ainda não conseguimos a atenção que desejávamos. Qual-

noutro ponto do país”, comenta o director do festival. “Talvez a solução passe por alterar o título e substituir a


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CULTURA

TEATRO NA AAC

cultura por

Inquilinos da casa dos sonhos

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Dá-se vida a textos. É-se quem não se seria lá fora. GEFAC, TEUC e CITAC garantem a vanguarda de Coimbra no panorama das artes performativas. Por Ana França, Filipa Magalhães e Eliana Neves

O

Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) tem a porta escancarada. É barulhento. São mais de trinta pessoas - dançarinos, actores e músicos. Transportam-se caixas de roupa e instrumentos de sopro. Traz-se comida e cerveja. O espaço é pequeno para tanta gente. À esquerda amontoam-se cadeiras em fila, escondidas por casacos, guarda-chuvas e malas. A organização é contra-natura. Ao pé da porta, um cinzeiro enorme. No canto oposto, uma mesa de aspecto frágil sustenta uma aparelhagem de aspecto antigo. Do lado direito, um espelho acompanha toda a parede. Isto também é uma academia de dança. Ao fundo da sala, pequenos rectângulos entreabertos passam por janelas. Fazem-se alongamentos e exercícios vocais. Quem passasse lá fora… Mandíbulas estalam entre o que parecem uivos ou gritos. O GEFAC tem mais de quatro décadas. É um grupo diferente. Ressalvam a simbiose entre a contemporaneidade e os traços mais antigos das nossas tradições. Dos textos que trabalham, sempre antologias de contos e testemunhas de oralidade antiga, extraem trejeitos rurais que depois reconhecem nos gestos da cidade. Adério Araújo, um dos encenadores, pede ao elenco que represente trivialidades de uma rotina. A ideia do contágio urbano é transmitida através de gestos limpos que variam entre o simples verificar de horas até ao correr para apanhar o autocarro ao mesmo tempo que se transporta uma mala pesadíssima. Nesta peça, com nome provisório de “Você está aqui”, a ideia é despojarem-se dos adornos etnográficos que normalmente marcam as suas actuações. Querem ser mais “hoje”, explorar o isolacionismo próprio da vida citadina, a interacção que é sempre mais do que um encontro fortuito, mas ainda assim alienado pelo frenesim quotidiano. No Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC) desenvolve-se um conceito diferente. A peça “Reality Show”, cuja encenação é levada a cabo por Wojtek Ziemilski, estreou ontem, 27, aqui mesmo, neste quarto escuro do segundo piso da AAC. A porta aberta deixa antever um espaço que se caracteriza em torno de uma única palavra - opaco. Paredes negras tal como o chão e o tecto. Junto a uns improvisados bastidores destacam-se dois cadeirões em tons grená. Os oito actores começam por

aquecer as vozes e relaxar os músculos faciais, enquanto caminham, ora murmurando ora gritando. O eco propaga-se pelo espaço. No início do ensaio, despem-se ali mesmo e vestem a indumentária branca das personagens. O palco subleva-se num jogo de luzes. “A realidade… a realidade é que sei muito pouco sobre realidade”, declama um dos actores. Depois da breve actuação, formam um círculo e dispensam 20 minutos para ouvir as correcções do encenador, embora também se ouçam sugestões amistosas por parte do elenco. “O que há de original no CITAC é o seu espírito comunitário, cada um faz uma coisa”, realça Ziemilski, pois, apesar de ter chegado com uma ideia clara sobre o projecto que queria por em prática “há muito espaço no início onde todos dão sugestões e enfoques diferentes”. É este o tipo de relação que preza com os seus actores, que acabam por beneficiar progressivamente com a aprendizagem de novas componentes técnicas. Neste ensaio em particular, a equipa do CITAC tinha descoberto um hipnótico efeito de filmagens. Vê-se uma das actrizes “projectada” na parede, como num limbo de sombras de si própria, desdobradas e cintilantes, que se afastam e logo retornam: “Conseguimos”, exclama-se, e todos batem palmas.

ABR

EXPOSIÇÃO TRUFFAUT D.R.

Uma Viagem Pela Filmografia, Personagens e Vida do Cineasta Francês FNAC • ENTRADA LIVRE

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VI RALLY-PAPER NOCTURNO Queima das Fitas • 19H ENCONTRO NOS JARDINS DA AAC

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UMA CARTA GEOGRÁFICA Exposição TAGV • ENTRADA LIVRE

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COLDFINGER Música na FNAC 22h30 • Entrada livre ANDRÉ FERREIRA

até

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SONHAR PORTUGAL Exposição de José Julio Barros GALERIA ALMEDINA • ENTRADA LIVRE até

30 ABR

O aroma da personagem emana do actor 20 horas, primeiro piso do edifício da Associação Académica de Coimbra (AAC). Abre-se a porta pesada da sala de ensaios do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) e de imediato se ouve alguém que fabrica um choro. Os nove actores que integram a nova peça, “Popo”, a estrear no dia 7 de Maio, já se encontram devidamente caracterizados. Uma actriz de pé remenda um chapéu à pressa. As camisas ajustam-se aos corpos com alfinetes de fralda. Desenrasques que o espectador não vê. A azáfama é grande. Aspira-se o longo tapete azul que simula o palco. Fuma-se muito, e o cigarro na mesma mão agita-se para dar as indicações de última hora. Pedro Malacas, o encenador, acomodase nas bancadas que formam um mini-anfiteatro. Apenas um holofote. No fundo da sala, pousada na mesa, essa luz quente desenha um círculo restrito de intimismo. O fumo mistura-se com o pó e materializa o feixe de luz que se entranha nos materiais dispostos aleatoriamente. Há escadotes, teci-

CICLO 25 DE ABRIL Cinema Documental TAGV • 3 ¤

30 ABR

DAKOTA SUITE OS ENSAIOS prolongam-se pela noite dentro, em vésperas de estreia

dos, colchões de espuma, latas de cerveja, cabides despidos, pincéis. Um carrinho de compras. Pedro fala de um TEUC que respira sob o estigma da tradição. Fala de 70 anos de história que pesam o tanto que a responsabilidade pesa. Este ano, na décima edição do Festival Anual de Teatro Académico de Lisboa (FATAL), o TEUC terá honras de abertura. O evento vai homenagear Paulo Quintela, director artístico do núcleo ao longo de 30 anos. Privilegia a minimização do cenário. “Arranjar fogo-deartifício”, nas palavras do encenador, corresponde a proteger os actores da pior maneira, “escondendo-os”. Para Pedro, este desprezo da componente cénica

garante a liberdade dos seus actores, não fosse o TEUC um “óptimo laboratório de experimentação”. Diz-se orgulhoso do seu jovem elenco, desprendido e ousado, sem os vícios dos actores profissionais. O texto é de Georg Büchner, um jovem alemão frustrado com a decadência dos ideais da Revolução Francesa. Uma biografia à altura da ironia com que disseca o ultraromantismo da época. A certa altura, depois de muito se questionar sobre o nó que tinha dado no lenço, eis que o Rei se lembra – “O povo! Era do povo que me queria lembrar!”. Pedro apaga o cigarro e gesticula para a régie. Entra o som. “Um minuto de silêncio e começamos”.

Música na FNAC 22h30 • Entrada livre

30 ABR

A CINDERELA Bailado Clássico TAGV • 10¤

7 13 a

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IX FEIRA DE ARTESANATO Praça da República Entrada Livre

Por Sara Oliveira


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HÓQUEI EM PATINS MAI

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APDG Penafiel vs. Académica 21H • PENAFIEL

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FUTEBOL DISTRITAIS

XADREZ

C.O.J.A vs Académica PARQUE DE JOGOS DA C.O.J.A

Open Queima das Fitas 10H30 • CENTRO COMERCIAL DOLCE VITA

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ANDEBOL Académica vs AD Sanjoanense 21H PAVILHÃO 3 DO ESTÁDIO UNIVERSITÁRIO

CAMPEONATOS NACIONAIS UNIVERSITÁRIOS 2009

AAC consegue título em futsal D.R.

A Académica esteve representada na prova universitária em seis modalidades e regressou com o título nacional de futsal Catarina Domingos O último dia da participação academista nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU) deste ano terminou com a conquista da Associação Académica de Coimbra (AAC) do título de campeão nacional de futsal. Com o triunfo, a equipa de Coimbra vai representar Portugal nos Campeonatos Europeus Universitários em Podgorica, Montenegro, entre os dias 20 e 26 de Julho. É a segunda vez que a Académica é a representante nacional nos europeus da modalidade, tendo conseguido como melhor resultado um quinto lugar, em 2007, na Eslovénia. A AAC venceu a Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) por 0-4, com dois golos da autoria de João Cunha. Picasso e Miguel Silva foram os outros marcadores de serviço. “Foi uma vitória suada, um jogo difícil de concretizar, com um adversário aguerrido e lutador que nos impôs algumas dificuldades”, classifica o técnico da equipa da Académica, João Oliveira. A AAC sucede à Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI), que tinha conquistado o troféu na época transacta. No ano

ACADÉMICA venceu os estudantes do Minho por 0-4

passado, a turma coimbrã tinha conseguido apenas o quinto lugar. Este é o primeiro ano de João Oliveira no comando técnico da equipa de futsal da Académica, o que deixa o treinador “muito orgulhoso”. “Ainda mais sendo o meu primeiro ano na Académica, acho que melhor era impossível”, confessa. Nas palavras do técnico, “o grande objectivo” a concretizar é “uma classificação melhor que esse quinto lugar”. Na hora da vitória, João Oliveira destaca a qualidade da equipa como o factor de sucesso. “São joga-

dores federados que jogam ao mais alto nível no futsal em Portugal, com grandes capacidades físicas e tácticas”, defende. Na fase de grupos, a AAC venceu dois jogos e perdeu um. Nas meias-finais, a AAC eliminou a AAUBI nas grandes penalidades (46), após um empate a dois golos.

Outros resultados Nos Campeonatos Nacionais Universitários, realizados pelo Instituto Politécnico do Porto, entre 20 e 25 de Abril, a AAC fez-se representar em seis modalidades.

Sem o tetracampeão Nuno Santos, que deixou de ser estudante universitário, este ano o badminton da Académica esteve representada por outros três atletas. Em singulares masculinos, José Silva conquistou um segundo lugar. Em pares masculinos, a AAC também alcançou o segundo posto pela dupla Nuno Baía/José Silva. “Dignificámos a Académica e demos o nosso melhor”, considera Nuno Baía. Pela fase de grupos ficaram Sara Sintra em singulares femininos e a dupla José Silva/Sara Sintra em pares mistos.

Já no andebol feminino, a AAC alcançou o quarto lugar, depois de perder com o Instituto Politécnico de Leiria por 42-29. Miguel Catarino, que orienta a equipa, sublinha que foi uma classificação “honrosa” e que “serviu para descobrir novas atletas”. No basquetebol feminino, a Académica ficou-se pela fase de grupos e não conseguiu revalidar o título conquistado em 2008. Pela fase de grupos também ficou a equipa de voleibol masculino, assim como o ténis, com a representação de Pedro Cristóvão.

Olivais a caminho da revalidação A equipa feminina garantiu a presença na final do campeonato nacional. Novo triunfo está mais perto Catarina Domingos André Ferreira Na segunda jornada das meias-finais da Liga Feminina, a equipa do Olivais Coimbra venceu o Algés por 73-64 no passado sábado. A equipa de José Miguel Araújo já tinha vencido o primeiro encontro, pelo que não foi necessário recorrer ao terceiro jogo. Para esta partida, o técnico do Olivais apostou no mesmo “cinco” inicial da primeira jornada do play-off. O primeiro período do jogo foi equilibrado e tal reflectiu-se no empate 1717. Nestes primeiros dez minutos foi

Ana Fonseca quem mais se destacou com três triplos marcados. No segundo período, o Olivais foi mais dominador. Durante os primeiros minutos, a equipa conseguiu descolar-se no marcador, com Ambrosia Anderson a evidenciar-se com sete pontos. O Olivais saiu para o intervalo com uma vantagem de dez pontos que dava conforto para gerir o resultado até ao fim. Apesar disso, a segunda metade do jogo voltou a ser mais equilibrada, com reflexo nos parciais (14-16 no terceiro período e 21-20 no quarto período). No terceiro período, o Algés ainda se aproximou da equipa adversária, mas, com o desempenho defensivo de Ambrosia Anderson e com a expulsão de Amanda Jackson do lado da equipa lisboeta, o jogo não mudou de rumo. Até ao final, o Olivais geriu a vantagem e assegurou a presença na

final, onde vai encontrar o Vagos, que eliminou o CAB Madeira.

Em busca de mais um êxito No fim do encontro, o técnico José Miguel Araújo considerou o resultado justo e destacou a importância de não recorrer ao terceiro jogo para alcançar a final. “Estivemos melhor no ataque e foi isso que nos deu o controlo do jogo e obrigou a equipa do Algés a jogar de forma diferente”, acrescentou. Depois da conquista da Supertaça feminina, da Taça de Portugal e da participação nas competições europeias da Eurocup Women, o Olivais tenta alcançar mais um êxito esta temporada. José Miguel Araújo lembra que a equipa tem muitos minutos jogados, devido à participação europeia. “Para acabar em beleza, queremos o título”, sublinha.

SÓNIA FERNANDES


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DESPORTO

NUNO PILOTO • CAPITÃO DA AAC/OAF P•R•O•LONGA•M•E•N•T•O

Um mestre a meio campo

BASQUETEBOL

Com 27 anos, Nuno Piloto entregou a sua tese de mestrado. O capitão fala como é ser jogador-estudante, antevê as hipóteses da Académica para o que resta do campeonato e conta que a renovação ainda está indefinida SÓNIA FERNANDES

Catarina Domingos André Ferreira Vieste treinar para a Académica porque sabias que vinhas estudar para Coimbra. Como é que tudo se passou? Fiz a candidatura em função da minha média e daquilo que pretendia. A proximidade com Viseu fazia de Coimbra uma boa hipótese. Como também queria continuar a jogar futebol, vim treinar aos juniores da Académica. Na altura vim acompanhado do treinador do meu clube, Os Repesenses. Ele conseguiu que eu viesse cá treinar e depois tudo se passou com normalidade. Acabei por ficar. Estás na Académica desde de 2002, como é ser capitão da Briosa? Acaba por ser invulgar para um clube como a Académica. É um clube diferente e ser um clube diferente passa por ter jogadores da casa que simbolizem o binómio jogador-estudante. Anteriormente, havia o Miguel Rocha, o Pedro Roma ou o Paulo Adriano, que foram pessoas que souberam o que é ser da Académica e os valores que se têm de defender, e que me passaram a mística deste clube. Quando o Pavlovic saiu, foste deslocado para médio defensivo, uma posição que não te é estranha, mas tu eras mais um médio de transição. É a posição ideal para ti? No ano passado, quando o Milos [Pavlovic] se tinha lesionado, acabei o campeonato nessa posição. Não é a minha posição de origem, mas também não é uma posição que me desagrade. Com o Domingos, comecei como defesa direito depois passei a número oito, uma posição em que o médio tem mais liberdade para atacar, mas também defender. Jogar a médio defensivo é uma posição a que me estou a adaptar, porque obriga a um outro tipo de posicionamento e uma restrição de movimentos. Mas estou a gostar. Descreve o que sentiste no golo que marcaste ao Belenenses, não sabias para onde ir depois de marcares… Era para ir para o lado da Mancha Negra, mas lembrei-me da injustiça que foram as faixas que puseram depois do jogo com o Vitória de Setúbal. As faixas foram ofensivas e nós não merecíamos. Ia para lá, mas hesitei e fiquei com os meus colegas. Terminaste

a

licenciatura

Na última jornada da fase regular da Liga Portuguesa de Basquetebol, a equipa sénior da Académica venceu o Vagos por 74-76. A turma de Norberto Alves termina a primeira fase no quinto lugar com 50 pontos, os mesmos que a equipa de Aveiro, que tem vantagem no número de pontos marcados e assim consegue o quarto lugar. No alinhamento para os play-off, a AAC vai voltar a encontrar o Vagos.

VOLEIBOL

NUNO PILOTO chegou à Académica em 2001

sempre como jogador profissional. Entregaste há pouco tempo a tese de mestrado. Como é conciliar as duas coisas? O primeiro ano foi o ano de juniores. Treinávamos ao final da tarde e acabou por se tornar mais fácil. Nos anos seguintes, na equipa B, já tínhamos treinos bidiários, mas dava para conciliar, mesmo com aulas laboratoriais. Com a vinda para equipa A também consegui conciliar. No ano de estágio curricular não me criaram entraves. Foi com naturalidade que tenho este percurso académico. Também comecei a jogar futebol com a condição de ter sempre boas notas. É claro que é com sacrifícios e muita força de vontade.

tes áreas. Os parâmetros que foram estudados foram o risco cardiovascular e o risco tromboembólico. A EPO beneficia a oxigenação muscular e leva ao aumento da performance. Mas há os perigos de aumentar a viscosidade sanguínea e as paragens cardíacas.

TEMOS TIDO UM CAMPEONATO EM CASA AO NÍVEL DAS MELHORES EQUIPAS

A Académica está a fazer o melhor campeonato dos últimos anos. Como é que o balneário está a sentir isso? Sentimos que temos um grupo unido e coeso e isso é o ponto fundamental para que tudo corra bem dentro do campo. Temos tido um campeonato em casa ao nível das melhores equipas. É natural que, estando a manutenção conseguida, ficar no oitavo lugar é o objectivo mais aliciante. É algo tangível e que nós procuramos obter.

Fala-nos um pouco da tua tese de mestrado. O título é “A utilização da rhEPO no doping — Estudo dos efeitos cardiovasculares e metabólicos em ratos submetidos a exercício físico”. Falei com o Instituto Farmacologia Terapêutica Experimental, onde tinha feito a tese de estágio. Na altura eles estavam a utilizar a EPO (Eritropoietina) num estudo animal e aproveitamos essa EPO para submeter ratos a exercício físico. Fomos vendo as alterações que foram produzidas em diferen-

Consideras-te um exemplo por conseguires conciliar os estudos com o desporto? Gosto mais de me ver como um exemplo para os mais novos, no sentido que entendam a necessidade de continuar, conciliando os estudos, sobretudo naquela transição para o futebol sénior. É nesse passo que muitos jogadores se perdem, por deslumbramento. Por lesões ou pela brevidade da carreira, há sempre a necessidade de termos algo a que nos agarrar.

Quando fica definida a pasta da renovação do contrato? Quero ver a minha vida resolvida no final da época. O prazo que tenho estabelecido será até ao final de Maio, que coincide com o final do campeonato e a ida para férias.

O que é que podes adiantar? Não está mesmo nada definido e não há muito mais a dizer. O facto de seres “o menino da casa” da Académica pode influenciar? Sinto-me acarinhado e isso é um argumento de peso para que eu fique. Para quando uma Académica europeia? São passos graduais. A Académica está num bom caminho. Temos mais jogadores portugueses, com mais qualidade. Temos condições em termos de infraestruturas. Passa agora por haver uma estrutura mais forte e que possibilite, com o recrutamento de jogadores, esse acrescento de qualidade.

AS ESCOLHAS DO CAPITÃO

A equipa sénior feminina de voleibol da Académica perdeu com o líder Ginásio Clube de Santo Tirso por 1-3, em jogo da segunda fase da Série dos Últimos da Divisão A2. A AAC soma agora 23 pontos e está no terceiro lugar da série. A equipa de Santo Tirso lidera com 27 pontos. Na próxima jornada, a formação de Rui Freitas recebe o Clube Desportivo da Póvoa.

HÓQUEI EM PATINS A Académica venceu o Clube de Patinagem de Beja por 2-1 em encontro da quarta jornada do apuramento do campeão do Campeonato Nacional da 3ª Divisão. A turma de Miguel Vieira subiu ao segundo lugar da tabela classificativa com sete pontos. Na quinta jornada, a AAC desloca-se ao norte para jogar com o APDG/Penafiel, que perdeu 74 com o Valado de Frades.

Melhor jogador da liga Liedson

Melhor jogador do mundo Cristiano Ronaldo

Melhor Clube do Mundo Barcelona

Cidade para visitar Miami

Coimbra Tradição e vida universitária

Académica Passado, história, simpatia e carinho

Domingos Paciência Importante, porque apostou em mim e tive maior projecção graças a ele, motivador, rigoroso

Sonho

ANDEBOL Na quarta jornada da fase complementar do Campeonato Nacional de 2ª Divisão, a Académica venceu o Batalha AC por 2026. A equipa de Ricardo Sousa soma agora 36 pontos. Na próxima ronda, a AAC recebe a AD Sanjoanense, segunda classificada com menos três pontos. A equipa sénior feminina perdeu com a AD Sanjoanense por 16-32.

Jogar pela Selecção Nacional Catarina Domingos


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TEMA

D.R.

Q

uando à meia noite e vinte da madrugada de 25 de Abril se ouviu “Grândola Vila Morena” na Rádio Renascença, estava dado sinal. Quando as tropas comandadas por Salgueiro Maia cercaram o quartel do Carmo, em Lisboa, era o presságio de que a sociedade portuguesa estaria prestes a sofrer uma mudança. A Revolução de Abril de 1974 trouxe profundas alterações, sendo uma delas a libertação da arte. Murais, cartoons, cartazes, esculturas e pinturas mostram-nos hoje a revolução que se viveu há 35 anos, mas que ficou registada das mais diversas formas. “O 25 de Abril libertou consciências, libertou vontades e libertou a arte”. É assim que o arquivista do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, José Patrício, define a importância da revolução dos cravos para a conquista da liberdade de expressão artística. Durante o Estado Novo, os artistas não pararam de criar, mas com a democracia conquistada e a abolição da censura, os movimentos artísticos adquiriram uma nova expressão estética. Nas palavras de José Patrício, a revolução “entrou sem pudor pelas diferentes artes no dia a seguir ao seu eclodir”. Os jornais foram os primeiros a receber os sinais de mudança. Os ideais, os sentimentos e as opiniões anteriormente oprimidas ganharam expressão pública, surgindo novas formas de fazer títulos, novas cores e grafismos. Isto porque, segundo José Patrício, “as pessoas sentiram que podiam escrever o que queriam, porque a vida era nova e a existência apaixonante”, considera.

União pelos ideais de Abril A 7 de Maio de 1974, constitui-se um agrupamento que se designou de Movimento Democrático de Artistas Plásticos (MDAP). Num artigo da revista Flama - “Movimento Democrático dos Artistas Plásticos: a intervenção necessária”, de 2 de Agosto de 1974 - podia ler-se sobre o MDAP: “é um agrupamento de artistas antifascistas que se unem em moldes de classe profissional, resultante de uma tomada de consciência para uma intervenção politizada, na nova realidade portuguesa, após o golpe de Estado do 25 de Abril”. O autor do artigo, Eurico Gonçalves, acrescentava ainda que, “não se definindo como partido político, o MDAP denunciará os processos fascistas e reaccionários atentatórios das liberdades, deveres e direitos dos artistas”. A respeito deste movimento, é de destacar uma festa realizada em Junho de 1974, em que 48 artistas se

reuniram em Lisboa para pintar um painel (de 4,5 por 25 metros) livremente e sem esquema prévio. Um dos artistas a participar na iniciativa foi Eduardo Nery (ver caixa). O crítico de arte e professor catedrático da Universidade de Lisboa, Rui Mário Gonçalves, refere a propósito deste painel que “a ideia era ver como o público ia reagir, criar uma colaboração popular”. Os artistas consideravam “que fazer uma pintura mural numa tarde era um grande feito”, mas com a intervenção da população o painel acabou por ficar concluído muito rapidamente. A obra acabou por ser, algum tempo depois, destruída num incêndio.

Cartoon - “despoletador de consciências” Mesmo durante o regime, o cartoon foi usado para chamar a atenção da sociedade, provocar um despertar para a realidade do país e para a necessidade de mudança, apesar das limitações impostas pela censura. “Sempre foi um despoletador de consciências, ”, afirma o crítico e especialista em cartoon, Osvaldo Sousa. A partir de 1969, houve uma certa abertura nesta área e no jornal “O Século” artistas como Baltasar e João Martins, que integravam as oficinas gráficas do jornal, voltam a publicar trabalhos, delineando uma nova tendência política. “Muitas vezes, pensavam que estavam a ser demasiado ousados ou irrevrentes. Depois, veiose a descobrir que o próprio Marcello [Caetano] usou os cartoonistas para mostrar ou para fingir que tinha uma certa abertura. Foram um pouco utilizados, mas tiveram um papel importantíssimo”, salienta o crítico. Também “A Mosca”, suplemento do Diário de Lisboa, teve um papel importante ao publicar trabalhos do artista João Abel Manta, que tenta recriar o humor gráfico dando uma grande importância à componente plástica dos trabalhos, sem se limitar a mostrar o desenho de humor como uma simples anedota ou crítica. Manta é um dos artistas mais reconhecidos no que toca ao cartoon , embora se tenha retirado ainda na época de 70 e rejeite a designação de cartoonista. Segundo Osvaldo de Sousa, foi “um pintor que teve uma necessidade cívica de intervenção. É quase como um pedagogo que tenta ensinar e abrir os olhos à sociedade”. Para o crítico de arte, Abel Manta tenta

“CELEBRAÇÃO DOS 30 ANOS DO 25 DE ABRIL” é uma das obras presentes na exposiçâo de António Colaço

mostrar que “o nacionalismo” português deveria ir além da mentalidade dos três F, Fátima-Fado-Futebol, que predominou durante o regime salazarista. Com a revolução, o cartoon popularizou-se e muitos artistas que antes se dedicavam exclusivamente às artes plásticas passaram também a trabalhar no desenho humorístico. Passa a existir “uma paleta incrível de diferentes opiniões políticas, uma grande panóplia de estilos estéticos e formas de expressão”, refere Osvaldo Sousa. Mas, ainda durante a década de

70, o entusiasmo abrandou e continuaram em actividade apenas os artistas que realmente faziam do cartoon a sua profissão.

O cartoon foi um “despoletador de consciências” antes e depois do 25 de Abril Cartaz - o papel político Outra das manifestações artísticas com maior visibilidade durante a revolução foi o cartaz. Usado como forma de propaganda pelo Movimento das Forças Armadas e pelos partidos, deu cor e expressão aos ideais políticos. Segundo Manuel Augusto Araújo [profissão], surgiram cartazes de diferente natureza, como

anúncios a iniciativas, cartazes de propaganda e de contra-propaganda partidária, que “procuravam valorizar determinados objectivos e conceitos como a liberdade, a democracia e a unidade”. Rui Mário Gonçalves recorda que “os partidos mais pequenos tinham os cartazes mais elaborados, pois tinham a necessidade de um lugar de destaque no panorama político”. Já nos grandes partidos, lembra, “não havia tanto essa preocupação, pois tinham os seus líderes como figuras principais”. Segundo o crítico de arte, o Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses / Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (PCTP/MRPP) era um exemplo de partido com pouca expressão que se valia dos cartazes. “Usava cores como o amarelo e o vermelho porque achavam que constituia um sinal maoísta”. “Mas penso

TRAÇOS DA REVOLUÇÃO


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TEMA

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO 25 DE ABRIL

QUANDO OS ARTISTAS PLÁSTICOS SE UNIRAM

MURAL organizado pelo Movimento Demorático dos Artistas Plásticos em 1974 contou com a colaboraçâo de populares

que as pessoas não perceberam isso”, considera.

A arte pública Para além das artes gráficas, ocorreram também transformações no que toca à construção de esculturas de rua. Elementos como a liberdade, o asssociativismo e a paz foram amplamente retratados, bem como a figura do trabalhador nas várias profissões, além do papel da mulher enquanto mãe, esposa e trabalhadora. A própria concepção de municipalismo mudou. Com a legitimidade democrática conquistada, surgem novas competências e um maior suporte financeiro, o que permite o surgimento dos primeiros monumentos comemorativos durante as décadas de 80 e 90. A 1 de Junho de 1996, foi inaugurada, em Montemor-o-Novo, uma escultura de Hélder Batista. A inicia-

tiva partiu da União de Resistentes Anti-Fascistas Portugueses (URAP). O artista relembra o facto de o monumento estar construído entre um

um movimento contra a minha pessoa, afirmando que a igreja não é um local de teatro”. No entanto, e apesar da polémica, Hélder Batista considera que, pela presença das pessoas na inauguração, a obra foi compreendida.

“Não acredito na arte da revolução”

“Os partidos mais pequenos tinham os cartazes mais elaborados” Cine-Teatro e uma igreja, situação que, na altura, gerou polémica. “O padre da terra fez, num jornal local,

Apesar de existirem várias obras e manifestações artísticas relacionadas com a revolução, algumas opiniões convergem para a ideia de que não houve uma arte do 25 de Abril propriamente dita. “Não acredito na arte da revolução; não creio que tenha trazido alguma coisa de importante ao nível do desenvolvimento da arte contemporânea”. Esta é a opinião do artista plástico Julião Sarmento, para quem a revolução permitiu, isso sim, “uma maior circulação de ideias e uma prática artística livre”. Também

o arquitecto e militante do PCP, Manuel Augusto Araújo, partilha da mesma opinião, afirmando a existência de uma arte não de Abril, mas com maior vitalidade nessa época. “Os criadores que interviram nesse período utilizaram, como muitos deles já utilizavam antes, os mais variados recursos - da caricatura à lírica, da sátira à subversão iconográfica”, refere. Actualmente, há ainda artistas interessados em retratar o espírito de Abril. Segundo Hélder Batista, “continuam a surgir encomendas de obras ou concursos sobre o tema”. Prova disso é a recente exposição “Abril, Ânimos Mil” do artista António Colaço, que está patente até dia 9 de Maio, na Associação 25 de Abril, em Lisboa. Segundo Colaço, “Abril foi e deve continuar a ser um mês de actos. O passado e o futuro estão fundidos num presente que queremos sempre vivo”.

“A primeira reunião aconteceu no interior da Galeria 111. Sobre ela já passou tempo de mais para me lembrar quantos artistas estiveram na formação do Movimento Democratico de Artistas Plásticos (MDAP), mas seriam pelo menos 50 ou 60, alguns com um passado de anti-fascismo conhecido, outros filiados na clandestinidade em partidos de oposição ao regime, outros intelectuais de esquerda. Aliás, todos o eram, independentemente do seu ideário político próprio.” É desta maneira que o artista plástico Eduardo Nery recorda os primeiros passos de um movimento do qual fez parte juntamente com artistas como Júlio Pomar e João Abel Manta. O artista, que em 1969 foi um dos fundadores da Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos, explica que a 7 de Maio de 1974, data em que se auto constituiu o MDAP, poucos sabiam ao certo o que se pretendia fazer. “Antes de mais, queriam manifestar o seu repúdio pelo regime fascista e colocarse claramente ao lado das forças revolucionárias.”, esclarece. Uma das iniciativas levadas a cabo pelo movimento realizouse a 10 de Junho de 1974, quando 48 artistas, tantos quantos os anos de duração do regime fascista, se reuniram num pavilhão à beira Tejo para fazer uma pintura colectiva a fim de demonstrarem o apoio à revolução. Na opinião de Eduardo Nery, “esta festa foi espantosa. Havia imensa gente que passou pelo pavilhão sob um calor tórrido e intensíssimo. Muitos pintores conseguiram esbater as fronteiras entre o quadrado de tela a si destinado, uma proeza difícil, visto cada um ter o seu estilo próprio. Um dos aspectos mais interessantes foi o facto de os artistas plásticos se terem organizado tão bem e em tão poucos dias”. O MDAP durou pouco tempo, foi perdendo força quando alguns artistas começaram a movimentar-se de formas diferentes na conjuntura política da altura. “Começaram a aparecer as primeiras fracturas e algum malestar pela dificuldade de se entenderem as razões subjacentes no pensamento de alguns artistas pretendendo ter maior protagonismo”, revela Eduardo Nery.

Do vermelho e amarelo dos cartazes políticos ao preto e branco dos cartoons, o 25 de Abril trouxe consigo a explosão de uma corrente artística aprisionada até então pelo cizentismo do regime. Ainda hoje, a Revolução de Abril está presente na cultura artística portuguesa. Por Catarina Fonseca e Andreia Silva


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CIDADE

ILUSTRAÇÃO POR RAFAEL ANTUNES

Coimbra é uma cidade “relativamente” segura

A natureza é instável e precisa de pouco tempo para instaurar o caos numa cidade. Embora sem grande historial de catástrofes naturais, Coimbra não deixa de ser um alvo. Fomos perceber se estamos bem protegidos Marta Pedro João Ribeiro As imagens do sismo ocorrido em Itália, a 6 de Abril, chocaram o mundo e lembraram a muitos que as catástrofes naturais não avisam antes de chegar e os seus efeitos são devastadores. Também Coimbra está sujeita a vários tipos de ameaças, mas será que está preparada para as enfrentar? Para o responsável pelo Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Coimbra, António Martins, “nunca se está totalmente preparado”. No entanto, assegura que a corporação está “munida de instrumentos de planeamento, gestão e meios que podem minimizar efeitos devastadores”. O presidente da Associação Riscos e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Fernando Rebelo, considera que “Coimbra é uma cidade relativamente segura” e afirma mesmo que “há um ‘know how’ extraordinariamente superior ao de outras cidades no respeitante a inundações e incêndios”. Se as probabilidades de ocorrência de sismos em Coimbra são reduzidas, como refere Fernando Rebelo, já as cheias e os fogos parecem ser fonte de maiores preocupações. “Devido ao Mondego, existe o maior risco de inundações urbanas e de deslizamentos de terras”, explica o coman-

dante dos Bombeiros Sapadores de Coimbra, José Almeida. “Temos também os incêndios que podem ter consequências catastróficas se forem em zonas históricas”, concretiza. O território urbano conimbricense experimentou recentemente as consequências da sua posição geográfica neste Inverno, com a inundação da Baixa. José Almeida admite a impotência dos meios humanos perante a natureza. “Controlaram-se os caudais do rio, fizeram-se as obras hidráulicas, tentou-se orientar as obras de forma a controlar o caudal, mas, mesmo assim, existem situações que ficam longe do nosso alcance”. No entanto, Fernando Rebelo acredita que é pouco provável que este tipo de inundações “assumam a dimensão de catástrofe com numerosas mortes”. “O grande risco de inundação para Coimbra estaria em função de um eventual colapso da Barragem da Aguieira”, situação que lhe parece, ainda assim, improvável. Verão após Verão, Portugal é assolado por incêndios em todo o território. Rodeada por uma extensa mancha florestal, paira sobre a zona urbana de Coimbra o pesadelo das chamas. Desde 2005 que José Almeida é bombeiro na cidade e foi nesse ano que presenciou a situação mais grave. “Qualquer incêndio de grande dimensão pode ter grandes proporções como teve em 2005 e tornar-se uma grande ameaça para as pessoas que moram na cidade”, fun-

damenta. O factor humano bate a natureza quando se apuram os responsáveis pelos fogos. “Queimadas, fogueiras mal apagadas, queima de lixos, lançamento de foguetes ou fogo posto”, são as principais causas originárias de incêndios, como aponta António Martins. “A origem humana dos fogos representa 99 por cento dos casos”, reforça. De todos os perigos que ameaçam Coimbra, os incêndios são os que reúnem mais preocupação e atenção das autoridades. Este ano, os Bombeiros Sapadores vão adquirir quatro viaturas, de acordo com o comandante da corporação.

Alta e Baixa da cidade com fragilidades Ruas estreitas, prédios antigos e estacionamento caótico são algumas das características que tornam a zona histórica de Coimbra mais frágil, caso a cidade seja atingida por alguma calamidade. Por exemplo, “em caso de um sismo de grandes proporções haveria grandes dificuldades na Alta e na Baixa”, afirma Fernando Rebelo. Em caso de incêndios, José Almeida adverte que “as consequências podem ser catastróficas em zonas históricas”, devido à própria natureza destes locais. O ordenamento do território tem um papel fundamental na minimização dos danos, materiais e humanos e, para o comandante dos sapadores, “cada vez se tem isso mais em consideração”. “Quando se faz um prédio, é necessário haver um sis-

tema de segurança contra sismos e incêndios”, acrescenta. No entanto, Coimbra ainda abunda em prédios antigos construídos quando não existia qualquer tipo de regulamento. “Neste momento, as coisas estão muito melhores”, conclui José Almeida.

“A Protecção Civil somos todos nós” Se um incêndio, inundação, sismo ou outro tipo de catástrofe se abater sobre Coimbra, é de imediato accionado todo um mecanismo que vai desde os Bombeiros, à Protecção Civil, passando pelo INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) e pela Cruz Vermelha. “Pelo menos 90 por cento das ocorrências são resolvidas pelas três corporações de bombeiros [Voluntários, Sapadores e de Brasfemes]”, esclarece José Almeida. Só em casos de gravidade extrema é activado o Plano de Emergência, altura em que entram em cena os agentes da Protecção Civil e até as Forças Armadas. Segundo António Martins, “podemos considerar os Planos de Emergência como uma forma de planear o antes, o durante e o depois do acontecimento”. No que respeita à formação dos profissionais da Protecção Civil, o comandante do CDOS é peremptório em afirmar que estes são “abnegados e treinados para operarem nas mais diversas situações de perigo”. Ao papel a desempenhar pelas for-

ças de segurança deve-se somar a acção de cada cidadão. Os procedimentos que cada pessoa deve tomar individualmente são vários e dependem do perigo em causa. José Almeida chama a atenção para a limpeza das sarjetas, que facilita a intervenção em caso de cheias. Também, de forma a evitar e reduzir a dimensão dos incêndios, os cuidados nas matas são essenciais. “Legalmente, já se remete para o cidadão uma quota de responsabilidade” para estas situações. António Martins evoca mesmo o slogan: “a Protecção Civil somos todos nós”. Quando a terra treme, cabe ao cidadão, num primeiro momento, a defesa pessoal. “O sismo actua imediatamente e não nos dá a possibilidade de ajudar no momento” e, por isso, “a defesa imediata” cabe às pessoas, “procurando locais que os possam proteger”, explica José Almeida. Em regra, a maioria “não tem consciência dos riscos quando, ao longo da vida, não assistiu a qualquer das suas manifestações”, adverte Fernando Rebelo. Para contrariar este desconhecimento, a Associação Riscos vai promover uma conferência no final do mês de Maio no Auditório da Reitoria. Apesar das condicionantes apontadas, Coimbra tem vindo a apostar na segurança dos habitantes e, nas palavras de António Martins, “comparativamente a outras cidades médias, não é insegura”.


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PAÍS & MUNDO D.R.

OS CHECKPOINTS são uma umas das formas que o governo israelita encontrou para contrariar os ataques bombistas no seu território

Activista palestiniano impedido de viajar para Portugal INFOGRAIFA POR JOÃO MIRANDA

guisse apanhar o voo” que o traria Detenção antes a Portugal, sublinha o presidente do voo não permite da FMJD. a participação de Os check-points dirigente da na fronteira Juventude da Este tipo de detenções arbitrárias Palestina em colóquios constitui uma prática diária por Vasco Batista Pedro Nunes O dirigente da União Democrática da Juventude da Palestina (UDJP), Hashem Ezeya Albadarin, detido por militares israelitas, falha viagem a Portugal dinamizada pela Federação Mundial Juventude Democrática (FMJD). A detenção de Albadarin aconteceu dias antes do primeiro de uma série de colóquios, em Coimbra, Lisboa e Porto, organizados pela Juventude Comunista Portuguesa. Uma entrevista ao jornal A CABRA estava agendada para a tarde da passada quinta-feira, 23. Segundo o presidente da FMJD, Tiago Vieira, “Albadarin foi preso por forças do exército israelita, ao tentar passar a fronteira entre o território palestiniano e a Jordânia, portanto, sem tocar em nenhum momento em Israel”. A viagem de Albadarin foi interrompida na fronteira da Cisjordânia, território palestiniano da margem Ocidental do rio Jordão, com a Jordânia. Albadarin ficou detido durante cerca de oito horas, “o suficiente para impedir que conse-

parte das forças militares israelitas. “O exército de Israel tem uma política diária de prender e deter [palestinianos], muitas vezes de forma aleatória”, afirma. Relatando a experiência da sua recente passagem pela Palestina, Tiago Vieira revela que “o ambiente em Israel é muito tenso a todos níveis, criado por uma cultura muito violenta, do ponto de vista de imagem e de choque”. Uma realidade que espelha este ambiente é a proporcionada pelos “check-points”, pontos de fronteira israelita que controlam o fluxo de pessoas dentro do território palestiniano. O dirigente da FMJD relembra a última visita da organização à Palestina, onde, “dentro de uma cidade, os palestinianos que acompanhavam a delegação foram impedidos de passar. Os soldados israelitas disseram: «os europeus podem passar. Vocês esperam 20 minutos e depois a gente já volta a conversar»”. Segundo Tiago Vieira, esta arbitrariedade do sistema dos checkpoints afecta, diariamente, milhares de palestinianos, dificultando o seu quotidiano, o seu trabalho e o acesso à saúde e à educação. Além dos longos perío-

A FEDERAÇÃO MUNDIAL DE JUVENTUDE DEMOCRÁTICA A FMJD é uma organização juvenil mundial sedeada em Budapeste. Foi fundada em Londres, no rescaldo da Segunda Guerra Mundial, a 10 de Novembro de 1945, sendo reconhecida pelas Nações Unidas como organização juvenil não-governamental. Organiza o Festival Mundial da Juventude e Estudantes, no qual se reúnem milhares de par-

ticipantes, associações e juventudes partidárias oriundas das mais diversas partes do mundo. A federação, actualmente presidida pela juventude portuguesa, tem como princípios basilares, a união e a solidariedade com vista a consciencializar os jovens para ideais da liberdade e da cooperação para a paz.

dos de espera, também as detenções e mortes são uma realidade nestes pontos de controlo. “Dois estudantes universitários de dezanove anos morreram após passarem o dia detidos, algemados ao sol, num check-point”, critíca. No que diz respeito à circulação entre os dois territórios, a vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa, Esther Mucznick, afirma que “é preciso ter uma autorização e por uma razão muito simples: tem a ver com os atentados terroristas e com a segurança”. Contudo, reconhece que “por vezes, na atribuição dessas licenças possa haver alguma arbitrariedade”. E ainda que seja de “lamentar”, Mucznick, acredita que “é necessário esse tipo de segurança”. A situação de Hashem justificou o protesto formal da federação, que abordou, em carta aberta, a Embaixada de Israel em Lisboa, estando a aguardar uma resposta. “É uma espera relativa porque, geralmente, a postura que nós conhecemos das autoridades de Israel é de um desprezo e de uma falta de respeito profunda”, adverte o presidente da FMJD. O Jornal A CABRA entrou em contacto com a representação diplomática de Israel em Portugal e foi informado de que as instâncias teriam apenas conhecimento da situação através do comunicado difundido pela FMJD, sem adiantar pormenores adicionais. Com Rui Miguel Perreira


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PAÍS & MUNDO

Consumo de vinho baixa, mas exportações aumentam na Europa LEANDRO ROLIM

Pela primeira vez em vários anos o consumo de vinho baixou. 2009 será um ano complicado para este mercado. André Ferreira Com o aparecimento da crise mundial, também o mercado do vinho enfrenta dificuldades. Como alerta a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV), depois de um crescimento sucessivo do consumo de vinho no mundo, o ano de 2008 marca o ponto de viragem. Em praticamente todo o mundo, o consumo de vinho diminuiu. Em contraste, a exportação aumentou nos países onde a produção é maior. Também em Portugal o aumento da exportação de vinho não foi acompanhado pelo consumo. No ano de 2008, segundo o OIV estima-se o consumo de vinho tenha atingido os 4.800 milhares de hectolitros, representando uma redução de 5 hectolitros em relação ao ano transacto. A França mantémse como o país que mais consome com 31.750 milhares de hectolitros. As exportações vinícolas deste país são também as mais valiosas. Segue-se a Itália com 26.000 milhares, menos 700 hectolitros seguindo-se a Alemanha com 20.000 milhares, com uma diminuição no consumo de 152 hectolitros. O Reino Unido também baixou o consumo para menos de 13.483 milhares, menos 219 hectolitros e a Espanha com 12.790 milhares de hectolitros, menos 481.

Os dados mostram que a tendência é a diminuição no consumo em praticamente toda a Europa, mantendo ainda assim a grande fatia do mercado. Só países como os Estados Unidos da América, a Austrália e a África do Sul tiveram um aumento no consumo de vinho, embora pouco significativo. Nos EUA, o aumento foi dos 26.500 milhares de hectolitros, em 2007, para 27.250 milhares, em 2008. Os consumos também tiveram um ligeiro aumento na Austrália pas-

sando de 4.769 milhares para 4.912 milhares e na África do Sul o acréscimo foi ainda menor. O consumo aumentou neste país de 3.557 milhares para 3.576 milhares de hectolitros. Embora com o consumo em baixa, as exportações na Europa estão a aumentar. O país que mais exporta (volume) é a Itália, com 17,2 milhões de hectolitros, o que equivale a 19% do mercado mundial. Segue-se a Espanha, a França, a Alemanha e Portugal. Segundo a Organização Internacional da

Vinha e do Vinho, o nosso país exportou em 2008 cerca de 3,1 milhões de hectolitros de vinho, representando assim, 3% do mercado mundial. Segundo o relatório para 2008/2009 da ViniPortugal, Associação Interprofissional para a Promoção de Vinhos Portugueses, a produção de vinho apresenta uma tendência para baixar ainda mais do que em 2008 devido às condições climatéricas. As temperaturas mais baixas do que é habitual e a existência de chuva

durante a floração das vinhas fizeram com que a vinha perdesse qualidade e que a sua maioria fosse mesmo devastada. Ainda assim, muitos são os especialistas e enólogos que se mostram confiantes em relação à qualidade de vinhos. Segundo as previsões do mesmo relatório prevê-se um decréscimo de produção entre os 12 a 30 por cento em relação ao ano de 2007, variando de região para região. Supõe-se que o Alentejo, Terras de Sado e Bairrada são as regiões que mais vão baixar a produção. LEANDRO ROLIM

PORTUGAL assim como a generalidade dos países Europeus viu o seu consumo interno baixar

BREVES D.R.

Islândia A social-democrata Johanna Sigurdardottir venceu as eleições legislativas na Islândia. A sua coligação com o Partido dos Verdes reuniu 49,7 por cento das intenções de voto. Com esta vitória, Sigurdardottir consegue a primeira maioria absoluta para a esquerda, com 34 das 63 cadeiras do parlamento islandês. O Partido da Independência, pela primeira vez na curta história da república islandesa, ficou afastado do poder, conseguindo apenas 22,9 por cento dos votos. O Movimento do Cidadão, recentemente criado, conseguiu uma votação de sete por cento, quatro lugares no parlamento. Sem representação parlamentar ficou o Partido Libe-

ral que perdeu os quatro deputados que tinha. Esta ilha do Atlântico atravessa uma grave crise económica, até agora sem paralelo no mundo. Com uma inflação de 15 pontos percentuais e uma taxa de desemprego de 9 por cento a Islândia está longe da prosperidade económica que a colocava antes entre os países mais ricos do mundo. Para piorar, o valor das suas principais exportações, como o alumínio, caiu em flecha. Com todo o seu sector bancário arruinado, o custo das hipotecas dobrou e os investidores jogam agora pelo seguro. Estas eleições antecipadas foram marcadas após a demissão do governo em Janeiro. R.M.P.

Sri Lanka

Portugal

A Organização das Nações Unidas acusou a guerrilha da minoria tâmil de usar crianças para combater contra o exército cingalês. Em declarações à agência noticiosa Efe, o porta-voz das Nações Unidas no Sri Lanka, Gordon Weiss, afirmou que a guerrilha recrutou, inclusive, “a filha de 16 anos de um dos funcionários da ONU”. Jornalistas da agência relatam situações em que mães chegam a manter os seus filhos em buracos cavados na terra para escapar a estes recrutamentos por parte dos guerrilheiros. Nos últimos meses o exército tem intensificado os ataques contra s tigres-tâmil. A guerra civil neste país já dura à mais de 25 anos. R.M.P.

O ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, admitiu a entrada em vigor “ainda este ano” do Acordo Ortográfico. Estas declarações deram-se, no passado domingo, 26, na inauguração do museu,alusivo à descoberta do Brasil, “Descoberta do Novo Mundo", em Belmonte. Perante uma comitiva brasileira, o ministro adiantou ainda que tudo estava a ser feito de maneira a que a transição ocorra “sem rupturas” e “integrando toda a gente”. No Brasil o Acordo ortográfico entrou em vigor em Janeiro de 2009 e encontra-se em fase de transição. Em Portugal apenas o jornal desportivo Record introduziu estas alterações. R.M.P.


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cabra | 17

CIÊNCIA & TECNOLOGIA Medicina à distância une hospitais DANIELA CARDOSO

A tecnologia ao serviço da saúde é o princípio básico da telemedicina, um conceito desenvolvido em Portugal na última década Patrícia Neves Luís Simões A telemedicina utiliza as tecnologias de informação e telecomunicações na prestação de cuidados e serviços médicos. A ideia chegou a Portugal em 1998 pela mão do actual director do Serviço de Cardiologia do Hospital Pediátrico de Coimbra, Eduardo Castela. Desde então, a telemedicina tem vindo a expandir-se e é hoje usada em vários centros hospitalares nacionais. De simples consultas de rotina a cirurgias mais complexas, a telemedicina permite a transmissão em tempo real de áudio, vídeo e dados através de uma ligação de banda larga. Segundo os sítios da internet da Associação para o Desenvolvimento da Telemedicina e da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, esta inovação tecnológica proporcionou uma melhoria significativa na qualidade dos cuidados de saúde. As vantagens passam pela redução de custos, o rápido atendimento, maior conforto dos utentes, acesso mais fácil ao diagnóstico do especialista e a quebra de isolamento geográfico. Também para os profissionais de saúde houve benefícios, entre os quais a sua formação contínua a partir de qualquer local e a possibilidade de consultar colegas fisicamente distantes. Existem no entanto alguns problemas associados à telemedicina. A re-

49

A TELEMEDICINA proporciona uma melhoria significativa na qualidade dos cuidados de saúde

lação médico-paciente corre o risco de se tornar menos humana e, caso o doente não seja totalmente honesto, o diagnóstico pode ficar comprometido.

O exemplo do Hospital Pediátrico O também presidente da Associação Portuguesa de Telemedicina, Eduardo Castela, destaca a grande importância deste método no Hospital Pediátrico: “os utentes escusam de se deslocar a outros hospitais para serem consultados”. O hospital dispõe de uma rede de urgências 24 horas por dia, o que Eduardo Castela considera “fabuloso”. “As crianças e as grávidas são vistas em tempo real, evitando deslocações desnecessárias e dispendio-

Director do ICNAS

A FCTUC E A TELEMEDICINA A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) tem vários projectos de investigação nesta área. Um deles é o LifeStream. Apoiado num projecto anterior da PT Inovação, o LifeStream foi idealizado para o transporte seguro de crianças e recém-nascidos de unidades de saúde primárias para os hospitais centrais. A tecnologia instalada nos veículos permite o acompanhamento em tempo real dos sinais vitais do utente e a comunicação permanente entre a equipa médica do hospital e os

tripulantes da ambulância. Outro projecto em que a FCTUC está envolvida é o WEIRD. Os princípios são semelhantes aos do LifeStream, com a transmissão de dados, mas as suas aplicações estendem-se a outras áreas, como a prevenção de incêndios florestais e erupções vulcânicas. No que respeita à telemedicina, o projecto WEIRD refere-se a um conjunto de aplicações destinadas a apoiar operações de emergência, assistência remota dos doentes e vigilância através de imagens médicas de diagnóstico.

“Somos a primeira unidade capaz de produzir radionuclídeos” 1. Qual vai ser o uso do Ins-

Adriano Rodrigues

sas”, acrescenta. A recepção da telemedicina por parte dos utentes é muito boa devido ao conforto oferecido. Prova disso são as 1900 consultas efectuadas no ano passado no Hospital Pediátrico. Esta tecnologia é utilizada também em consultas de cardiologia pediátrica em toda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa. “Estamos há dois anos a colaborar com Angola e vamos começar a colaborar com Cabo verde”, refere Eduardo Castela. Ao longo dos últimos dez anos, a telemedicina tem evoluído e chegado a cada vez mais pessoas. Apesar dos inconvenientes, é, segundo os especialistas, uma tecnologia que traz vantagens para médicos e pacientes e que está a criar ligações internacionais entre diferentes hospitais.

tituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS)? Pelos estatutos da Universidade de Coimbra, o Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde é uma unidade de investigação que congrega prestação de cuidados de saúde aplicando radiações. A partir daqui, podemos fazer um conjunto de exames, dado que nesta unidade existe uma medicina nuclear convencional e existe um tomógrafo PET (Tomografia por Emissão de Positrões). Esta unidade tem como característica possuir uma máquina, que é o acelerador de partículas e que vai conseguir fabricar iões radioactivos. Estes iões podem ser ligados a moléculas que vão permitir a realização de um conjunto de exa-

mes de tomografia de emissão de positrões. A particularidade [do instituto] é ter o ciclotrão e reunir no edifício o conjunto das valências todas, uma unidade de produção, uma unidade PET e uma unidade de medicina nuclear.

2.

Qual a importância do instituto para Portugal? É grande. Somos a primeira unidade que é capaz de produzir radionuclídeos. Vamos fazer vários radiofármacos, vários radionuclídeos, que permitem fazer um conjunto de exames que se aplicam quer à patologia degenerativa cerebral, quer à patologia tumoral ou cardíaca. Vamos fazer investigação e prestar cuidados de saúde na realização de exames

de PET utilizando o nosso fabrico. Vamos fazer uso do que produzimos em investigação e do que produzimos na realização de exames de medicina nuclear.

3.Que tipo de investigações vão desenvolver? Teremos um campo vasto de investigação na orientação diagnóstica, na terapêutica do tratamento do cancro. Teremos uma parte muito nobre no fabrico de carbono-11 para poder estudar patologia degenerativa cerebral, nomeadamente as doença de Parkinson, Alzheimer, e outras doenças degenerativas cerebrais.

4.

Qual é o estado da medicina nuclear em Portugal? A medicina nuclear é uma técnica

não evasiva com excelentes resultados, nomeadamente no diagnóstico precoce, no seguimento dos doentes durante o tratamento das diferentes patologias. É uma técnica fácil, relativamente acessível, mas que precisa de material caro para a realização de exames. A cobertura da medicina nuclear convencional faz-se nas grandes cidades como em Lisboa e Porto e em Coimbra tem uma cobertura aceitável. Em relação ao número de PET a cobertura já não é tão grande. Em Portugal temos neste momento sete PETs, a nossa cobertura ideal seria o dobro. Em relação à produção dos materiais radioactivos, é evidente que até agora todo o material que vem para o PET é importado de Espanha.


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CINEMA

ARTES FEITAS

As Ruínas ”

uma altura em que o cinema de horror é dominado pelo “Torture Porn”, filmes que colocam as personagens em situações de tortura, e nos quais podemos inserir “Saw” ou “Hostel”, eis que nos deparamos com uma reinvenção do género. “As Ruínas” pega em toda a violência característica dos filmes acima mencionados e adiciona o elemento sobrenatural para tornar as coisas mais interessantes, o que até certo ponto consegue. A história gira em torno de um grupo de jovens que decide fazer uma expedição a uma pirâmide inca. O pior acontece quando, por força das circunstâncias, se vêm presos no cimo da ruína que, como se não bastasse, é dominada por plantas carnívoras. Uma ideia rebuscada, sim, mas que não deixa de ser intrigante para quem procura originalidade num meio que sofre com a falta

N

DE CARTER SMITH COM JONATHAN TUCKER JENA MALONE SHAWN ASHMORE 2009

Ainda é possível! CRÍTICA DE JOSÉ SANTIAGO

dela. A interpretar os jovens atormentados encontramos um elenco que, dada a faixa etária, não podia ser melhor, com actores que já deram provas das capacidades e que não contam só com a boa aparência para conseguir um papel. Entre eles encontramos Jonathan Tucker, da série “Os irmãos Donnely” e do filme “As Virgens Suicidas”, Jena Malone, de “Orgulho e Perconceito” assim como “Donnie Darko”, e também Shawn Ashmore, de “3 Needles” e “The Quiet”. São interpertações convincentes, bastante acima da média e que conferem um equilíbrio estranho a este tipo de obra, onde toda a violência gerada é contrabalançada pelo sentimento de desespero e paranóia que transpira a cada minuto do filme. É dado tempo suficiente para o espectador conhecer as personagens e ganhar alguma simpatia para com elas, o que torna cada morte ainda mais

difícil de ver. O realizador de serviço é o novato Carter Smith que até agora só tinha duas curtas no currículo, mas a grande mais valia é de facto o argumentista Scott B. Smith, que adapta aqui o seu próprio livro ao grande ecrã. Smith é a mente por detrás da história do filme “O Plano” de Sam Raimi, e que lhe valeu uma nomeação para o Óscar de melhor argumento original no ano de 1999. “As Ruínas” é uma agradável surpresa dentro de um género gasto no que toca a possibilidades de exploração. Peca pela óbvia escolha na idade das personagens principais mas não nos distrai para esse facto com as piadas cliché a que já nos habituámos, aliás, todo o humor, que é escasso, é também bastante contido. Ideal para quem procura emoções fortes e que não se importe de dar um passo fora da área de conforto que são as sequelas de acção disponíveis por esta altura do ano.

A Organização”

O

International Bank of Bussiness and Credit é uma das maiores instituições bancárias do mundo. O aspecto respeitável, no entanto, esconde negócios moralmente questionáveis e a busca do lucro sem respeito pela vida humana. Provavelmente uma das consequências menos aguardadas da recente crise financeira internacional é a ausência de credibilidade da estória que sustenta “A Organização”. Para acreditar que um banco, no actual contexto mundial, é capaz de controlar seja o que for de forma eficaz é preciso um grande esforço. Mas deixemos isso de parte. Tom Tykwer (“Corre, Lola

Corre” e “O Perfume”) é um dos realizadores europeus mais estimulantes da actualidade e, como parece ser o destino de qualquer realizador europeu estimulante, mais tarde ou mais cedo vai trabalhar nos EUA. Ainda não é o caso deste filme, maioritariamente filmado na Alemanha, mas a influência de outro cineasta europeu transformado em ícone de Hollywood é cada vez mais sentida em Tykwer. O pastiche de um plano de “Vertigo” acontece mais uma vez e a própria evolução narrativa não está alheia do conceito de McGuffin tão caro a Hitchcock. A gestão da tensão é outro dos pontos altos, com a utilização de uma subtil banda sonora a aju-

dar. Apesar das bem conseguidas cenas de acção, em particular o tiroteio no Guggenheim, Tykwer não consegue ainda atingir niveís Hitchcockianos. O aspecto visual dominador da sede do Banco é interessante mas o McGuffin escolhido não é assumido como tal. Fica a meio caminho entre o puro pretexto para a acção e o motor efectivo da narrativa. A Clive Owen não se pedia uma interpretação digna de prémios, mas é capaz de mostrar porque tantos o consideravam uma forte alternativa a Daniel Craig no papel de 007.

FERNANDO OLIVEIRA

DE

TOM TYKWER COM

CLIVE OWEN NAOMI WATTS ARMIN MUELLER-STAUL 2009

Jovem Aprendiz de Hitchcock


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ARTES RTES F FEITAS EITAS A

OUVIR

LER

Beware!” ill Oldham nasceu em 1970 em LouisNas Barbas ville, Kentucky. Cedo revelou dotes artístido Diabo cos na arte da representação, fotografia e música. Aos 17 anos mudou-se para Hollywood, e participou em vários filmes, mas saiu desiludido com as voltas do carrossel cinematográfico. Em 1993, surge o primeiro registo de uma voz frágil e taciturna no corpo de um jovem de pouca barba. A barba cresceu. Os diferentes rumos que a sua música foi tomando e a inconstância de músicos com quem tocava, fizeram com que entre 93 e 97, Will Oldham vestisse as suas produções sob vários nomes e experiências: “Palace Brothers”, “Palace Songs”, DE “Palace Music”, ou simplesmente BONNIE ‘PRINCE’ BILLY “Palace”. É só a partir de 1998 que EDITORA surge o seu principal e actual DRAG CITY alter-ego: Bonnie ‘Prince’ Billy, um nome enigmático que engole 2009 diversas referências caras a Oldham como Bonnie Prince Charlie ou Billy The Kid. Bonnie ‘Prince’ Billy, é um homem solitário que vive bem perto das margens da escuridão, a sua música pertence às raízes melódicas norte-americanas do country ou nu-folk, embalada pela escrita cuidada de letras que rondam os temas da morte, sexo, e solidão iluminadas por um mordaz sentido de humor. “Beware!” é o oitavo disco de Bonnie, num sentido global mantém-se fiel à sonoridade dos restantes, mas existem diferenças assinaláveis, quando na faixa de abertura “Beware Your Only Friend”, se anunciam coros femininos, que não deixam cair a voz de Bonnie no silêncio. Os temas ganham densidade com a presença constante de violinos, trompetes em delírio, uma secção rítmica notável ou pelos pormenores de palmas e inesperadas soluções de composição jazzisticas. Na voz de Bonnie nota-se um novo ânimo, como se pela primeira vez cantasse de cabeça erguida “You don’t love me, that’s alright”! Ao longo de “Beware!”, Bonnie vai puxando um invisível fio de celebração pessoal, “You Can’t Hurt Me Now” e “I Don’t Belong To Anyone “são disso exemplo. Este é um disco que irá marcar a obra de Bonnie ‘Prince’ Billy, sem que por isso toque no génio de “I See A Darkness” (1998), talvez porque Bonnie queira experimental a luz, ou apenas tornar a sua música comercialmente mais apelativa. Mas se Bonnie ‘Prince’ Billy está diferente… cuidado! Os ventos podem mesmo mudar…

W

As Esquinas do Tempo”

Virei a esquina e perdi-me

DE

ROSA LOBATO DE FARIA EDITORA PORTO EDITORA 2008

C

preensão dos que a rodeiam. Pelo meio da história, Margarida ainda há-de acordar, depois de mais umas noites no mesmo quarto, na época pombalina, só que no papel de uma jovem presa numa cela de um convento. Nos “nossos tempos”, a personagem principal desapareceu sem deixar rasto e a família e namorados procuram-na, ante duas irmãs que nada dizem, mas (quase) tudo pressentem. Nos séculos velhos, vai descobrindo o que aproxima e afasta o papel da mulher nos diferentes anos. E assim reza a história, a alternar entre três séculos, durante uma semana dos nossos dias, deixando o leitor por vezes tão ou mais confesso que a personagem. Andamos, nós e ela, sem saber muito bem onde vamos estar na página seguinte. Os amantes e a família, invariavelmente são muito semelhantes, fisica e psicologicamente, à rebeldia da época em que habitem. O quarto, percebe-se, é um portal, onde o tempo, que não é linear, se cruza. Esquina com esquina. Uma escrita light, a fingir profundidade. É pena. E até admito que a pressa de encontrar a Rosa me tenha impedido de perceber a história na sua plenitude. Termino como comecei: por uma declaração de interesses. Apesar da desilusão, não desisto, e no próximo título assinado por RBL, lá estarei, página a página, à procura da escritora de “O Prenúncio das Águas” ou “Os Pássaros de Seda”. Mas fechei a porta deste quarto.

SOFIA PIÇARA

VER

Aelita”

Viagem de Protazanov

CARLO PATRÃO

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena

FILME

A Cabra aconselha Extras

A Cabra d’Ouro

Artigos disponíveis na:

omeço por uma declaração de interesses: Rosa Lobato Faria é um dos nomes de que mais gosto na literatura portuguesa actual. Preconceitos de actriz, dondoca, escritora de letras de música, à parte, acima de tudo, porque me surpreendeu. No primeiro, no segundo, no terceiro livros, e por aí adiante. A diferença é que nos primeiros comecei pela supresa positiva. Nos que se seguiram, lá para o sexto, a pergunta que me incomodava a cada página era: onde é que ela está? E foi esse mesmo sentimento que me perseguiu enquanto li “As Esquinas do Tempo”. Aliás, quase me forçava a ler, na esperança de na página seguinte me reencontrar com uma das minhas escritora preferidas. Só que terminei o livro da mesma forma que terminei os últimos três que li da mesma autora: a pensar se não teria que repensar essa ideia. “As Esquinas do Tempo” começa com Margarida, uma professora que vai passar umas noites numa antiga casa senhorial,a Casa da Azenha. Independente, com um amante novo e um eterno amigo com aspirações a namorado, Margarida transpira século XXI. Só que, depois de adormecer no quarto que lhe coube, descobre-se na manhã seguinte muitos anos antes, cem, para ser exacta, em 1908. Aí, a jovem, que não perde nunca a consciência de quem é, tem pais novos, irmãs novas, um prometido novo. Mas hábitos velhos, que lhe valem a incom-

DE

YAKOV PROTAZANOV EDITORA DIVISA 2009

É

fantástico como em menos de dois minutos conseguimos partir com um sorriso de satisfação, ser invadidos por aquela sensação que nos assalta sempre no pleno momento da catarse da narrativa e culminar tudo num redondo “Hã?!, mas o que é que se passou ali?”. É esse o poder de “Aelita”. A obra-prima de Protazanov é tudo menos um filme fácil. A complexidade metafórica do romance de Alexei Tolstoi acompanha a própria complexidade visual gerada pelos cenários e figurinos de Aleksandra Eskter, em que a inspiração construtivista e as marcas futuristas não escondem o conflito artístico próprio de um momento histórico. O guião remete-nos para da década 20. Los, o engenheiro responsável da Estação de Rádio de Moscovo, consegue decifrar um radiograma emitido de Marte. A mensagem acaba por ocupar o pensamento do jovem engenheiro, que numa obsessão quase insana, vive ofuscado pela frase “Anta, Odeli, Uta” e pela ideia da construção de um engenho que o permita viajar até ao planeta vermelho. Ao mesmo tempo, Aelita, a rainha de Marte, debate-se com o objectivo de tomar o poder ao seu pai e subjugar o planeta à

sua vontade. O destino dos dois está obviamente interligado numa relação que, no cômputo da história, assume menos importância do que esperaríamos à partida. Pela mão da Divisa, o filme chega-nos na sua versão integral e restaurada em que a banda sonora é brilhantemente adaptada das obras de Stravinsky, Glazunov e Scriabini. Também o som está remasterizado e adaptado a sistemas 5.1! Mas onde o som marca pontos, falha tudo o resto. Os dois únicos vídeos dos extras (um pequeno vídeo com os comentários do historiador P. Shepotinnik e uma apresentação de fotos e desenhos) não fazem jus à obra. Os quatro textos que acompanham o filme (Futurismo e Cinema, Yakov Protazanov, Fimlografias e Fichas), embora bastante interessantes, pecam pelo facto de serem unicamente veiculados em espanhol. De resto, merece-se acrescentar que “Aelita” foi fundador do cinema de “ficção-científica social” e foi a primeira longa-metragem dedicada à ideia da viagem pelo espaço, tónica que esteve em voga em todo o século que lhe seguiu.

JOÃO MIRANDA


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SOLTAS

ALMOÇO SOCIAL

MATEUS BARREIRINHAS • PRESIDENTE DA ARCÁDIA - ORGANIZAÇÃO DA FEIRA DO LIVRO Sopa de Legumes

Carapau Frito

Arroz Doce

FEIRA DO LIVRO

O LIVRO E A

O FUTURO

LEITURA Como vê a evolução da feira? Tem evoluído no sentido do tamanho, começou por ser feita em stands individualizados; depois passou para uma fase de tenda e, de há dois anos a esta parte tem tido a ocupação máxima da praça, que são dois mil metros quadrados. O máximo que aquele espaço contempla são 53 expositores, mas nos últimos anos tem vindo a decrescer. Este ano só se conseguiu 32. Tem alguma explicação para essa diminuição? Tem a ver com o momento menos bom. Daí que as pessoas se sintam, de alguma forma, impotentes para alterar o curso deste fenómeno que é a insegurança de cada um de nós, do seu dia-a-dia. É possível chegar aos 70 mil visitantes na Feira, como pretendia? Devo dizer que quando adiantei esse número foi com alguma utopia. No entanto, as pessoas têm vindo com muita intensidade à feira. O tema deste ano foi “A Arte vem à Feira” e, de facto, o livro hoje não é só saber, traz consigo um conjunto de atitudes e actividades que faz com que tudo aquilo seja um espaço de arte e de saber. Convidámos a Arte à Vista, que tem uma mostra permanente de peças de artistas plásticos de cerâmica e escultura. Temos uma parceria com a secção de fotografia da Associação Académica de Coimbra.

Vivemos uma “crise” do livro e da leitura? Gradualmente, as pessoas estão a ler mais. Agora, com a internet, lêemse biliões de palavras por dia! No capítulo da compra, talvez haja um bocado de crise porque a oferta também é muita. Um livro, ao fim de quinze dias, está “velho” no estabelecimento onde se encontra porque o livreiro tem dificuldade em acomodar tanto livro. Portanto, muitos livros não chegam sequer a ser mostrados ao público. É necessário uma feira como esta para o leitor ter contacto com obras que nunca viu. Talvez houvesse a necessidade de se ser mais cauteloso quanto ao número de títulos a editar. Era importante que os livros, em português, chegassem a todos os PALOP’s gratuitamente. Falta uma visão universal da lusofonia. Isto traz alguns custos, mas através da diplomacia há condições para que se faça. Acha que há uma educação para a leitura? Há. O Plano Nacional de Leitura não desobrigou em nada dessa função e todos os dias está atento a isso. A meu ver, a questão está no excesso de carga horária. Temos que dividir o dia em três tempos: um para dormir, um para trabalhar e outro para fazer o que melhor interessa à pessoa. Se não utilizarmos estes três tempos no tempo correcto, algum deles fica inacabado. É importante ter esta gestão do tempo.

O livro terá que se adequar aos tempos? Acho que não. O livro não precisa de se adaptar em nada, é a consequência da vivência de cada um que fala apenas pela escrita. Haverá sempre escritores e haverá sempre leitores. Mesmo com a internet. Mas uma coisa é fazer o “copy paste” do livro, outra coisa, que é necessária, é que nós somos muito necessitados dos formatos, das cores, dos tipos de letra. Mesmo com a concorrência da tecnologia? Vai manter as suas propriedades forçosamente. Desde os pergaminhos que necessitamos de mexer, de tocar, de cheirar. Felizmente tenho uma boa biblioteca, e quando toco num livro as emoções vêm lá do fundo. Quando levei aquele livro para casa foi porque algo me despertou tal efeito. A escrita também funciona através da lombada e dos títulos. A capa tem um peso enorme, o tipo de caracter que se aplica, a descompactação do texto é algo que retrai imediatamente. O segundo elemento é quando abrimos o livro e olhamos para a formatação do texto, a disposição dos caracteres, o tamanho, sente-se empatia pelo texto e, depois há o conteúdo, obviamente. Penso que isto nunca desaparecerá. Como disse Rousseau, “desde o contrato social que os livros estão sempre nas revoluções”.

RUI MIGUEL PEREIRA

João Ribeiro

18 ABRIL DE 1997 • EDIÇÃO N.º 29 • MENSAL 100$

VOLTA QUEIMA” m Abril de 1997, A CABRA noticiava que “foi por pouco que as secções desportivas não se desligaram da Queima das Fitas 1997”. As secções desportivas estiveram na iminência de boicotar o programa da queima. Na base da polémica, esteve o orçamento inicial “de 2900 contos que a Comissão Central da Queima das Fitas (CCQF) 1997 [afectou] às secções desportivas”. O valor era bas-

E

tante desfasado do solicitado pelas secções e avaliado em 21 mil contos. “É a velha guerra pelos tostões a que nos habituámos”, referia A CABRA. Face ao orçamento definido pela comissão para os projectos desportivos apresentados pelas 16 secções, a polémica instalou-se. Excepto a secção de halterofilismo, “cujo presidente integra a Comissão Fiscalizadora da Queima”, todas se revoltaram. Segundo a comissária do desporto, Ana Santos, “o dinheiro afectado era suficiente para a realização dos projectos entregues”. Em anos anteriores, o montante atribuído às secções desportivas “variou entre os 7 e os 10 mil contos”. Ainda assim, no entender da comissária, “as secções desportivas estão mal habituadas”. As secções acusaram a comissá-

ria de intransigência e arrogância, não permitindo o diálogo entre as partes envolvidas. “A impossibilidade de chegar a um consenso” conduziu a um “comunicado por carta à CCQF assinado pelas 15 secções insatisfeitas”. Para além da questão orçamental, “outros factores contribuíram para esta tomada de posição”. O projecto apresentado pela pró-secção dos desportos radicais “fora preterido em benefício de uma empresa privada que entregara um projecto semelhante, mas com custos inferiores”. Ana Santos declarou que “se fosse [uma secção], seria diferente”. O presidente da secção de rugby, António Rochete, lamentava “que a CCQF se tenha esquecido da ajuda prestada pelas secções desportivas, em alguns momentos”. Ameaçava-se o “grande divórcio” entre a “festa de todos os estudan-

18ºANIVERSÁRIO A CABRA sai do arquivo...

tes da Academia de Coimbra e a própria Academia”. A tensão agudizava-se e a “maior festa da Academia caminhava a passos largos para a descredibilização”. Urgia “discutir qual o estatuto que a Academia deseja para a Queima”. Assim, António Silva, presidente da direcção-geral da AAC, demonstrou numa reunião “situações que podiam descredibilizar a Queima”. “Com uma postura diferente da assumida em anteriores reuniões”, a comissão central e as secções desportivas “chegaram finalmente a um consenso”.

Estava devolvida a “Queima à Academia”. Vasco Batista


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O MUNDO AO CONTRÁRIO

SOLTAS

REINO UNIDO A agente polícial Pam Fleming declarou ter usado truques Jedi para interrogar suspeitos. Segundo Fleming, a sua fé ajuda-a a combater o crime e a desordem nas ruas de Glasgow. “Ser uma Jedi é um estilo de vida, não uma brincadeira”, disse. Fleming é uma das oito polícias do seu distrito que seguem esta crença. Estima-se que existam 400 mil seguidores no Reino Unido.

ÍNDIA Cientistas inspiraram-se no coração da barata para desenvolver um novo projecto. Segundo Sujoy Guha, professor chefe da pesquisa, o coração do insecto é menos susceptível a interrupções cardiorrespiratórias pois tem 13 compartimentos para bombear sangue – nove a mais do que o humano. O coração artificial, de metal e plástico, custará cerca de 1,5 mil euros, 30 vezes menos do que os disponíveis no mercado.

TEM DIAS... Por Licenciado Arsénio Coelho

O SEXO É PARA AS MULHERES dmito: nunca gostei de ficar pelo óbvio. Ao longo da minha existência sempre evitei sair na estação mais concorrida. Não há nada que me dê mais prazer do que forçar a porta da carruagem e atirar-me ao sabor do vento sobre os carris do imprevisto. Muitas vezes acabo

A

RÚSSIA O palhaço Valerik Kashkin foi proibido de usar os tradicionais sapatos gigantes nas apresentações do Circo Estatal de Moscovo. A regra foi criada por motivos de segurança depois de ter caído de um arame, a três metros do chão. “Os calçados são uma peça importante da minha fantasia. Sem eles, o impacto deve ser menor”, lamentou. Matheus Fierro

CARICATURA POR GISELA FRANCISCO

por partir os dentes no duro chão da realidade. Mesmo assim costuma valer a pena. Infelizmente, desta vez, não fui capaz de resistir. Na próxima sexta-feira começa o evento para o qual Coimbra foi criada: a QUEIMA. São seis letrinhas a tresandar a vinho, tradição e emoção. Por isso

mesmo, decidi falar sobre sexo. Na minha modesta opinião, o sexo é das coisas mais sobrevalorizadas algumas vez concebidas pela raça humana. Ora pensem bem: para chegar àquilo que os americanos chamam de terceira base é necessário um esforço sobre-humano… a menos que estejas disposto a pagar, o que torna as coisas substancialmente mais fáceis. Mas supondo que se segue o caminho mais ortodoxo. É necessário pagar cafés, mostrar-se interessado, conquistar, gastar dinheiro a disfarçar o cheiro do tabaco dos estofos do carro… para quê? Quanto dura o orgasmo masculino? Basicamente o mesmo tempo que se leva a beber um shot. Em segundo lugar, já repararam o sexista que é o sexo? Todos sabemos o quanto é mal vista a ejaculação precoce, mas se uma mulher chega ao orgasmo em cinco minutos é a mais concorrida do sítio. Se isto não é sexismo, não sei o que pode ser. É como se uma mulher ganhasse uma corrida de Fórmula Um à quinta volta e o homem tivesse que percorrer 50 voltas para subir ao último lugar do pódio. E se calhar ainda o mandavam ao sexólogo. E como me irritam esses indivíduos. Um sexólogo, basicamente, é um sujeito que tem um diploma que o atesta como especialista em sexo. Isto tem alguma lógica? O que ele devia ter era uma declara-

ção assinada pela sua mulher e autenticada pelo notário. Só nesse caso é que poderia acreditar nele. E que mania é essa de dizerem que o sexo se faz com imaginação? Antigamente só existiam duas posições: ou tenho vontade ou não tenho. Agora há Kamasutras e sei lá mais o quê. Não tenho tempo para essas coisas. Tenho que trabalhar. Outra coisa que os sexólogos defendem é que o “sexo só se pode fazer se os dois tiverem de acordo”. E se forem três? Faz-se uma votação para apurar a maioria? Todas estas inovações só conduzem a situações constrangedoras. Outro dia a minha mais-que tudo disse-me que os insultos a excitavam. E eu como sou um gajo que gosta de fazer as pessoas felizes acedi ao seu pedido. Então ali estávamos nós: Ela: - Seu porco, animal, idiota. Eu: - E tu que nem sabes entrar numa rotunda? Resumindo e concluindo: o sexo é um aborrecimento. Porque, vamos admitir, se fosse assim tão bom como dizem o estado já o tinha privatizado. Todas as crónicas em

arseniocoelho. blogs.sapo.pt

COM PERSONALIDADE RUI PEREIRA

RUSS LOSSING • MÚSICO

UMA VIDA PARA O IMPROVISO Sou um compositor, um improvisador e um músico de jazz. Vivo em Nova Iorque mas cresci no Ohio. Para mim chegou a uma altura em que não podia crescer mais no Ohio, apesar de haver bons músicos. Tenho uma base de música clássica e aplico isso nas minhas improvisações. Improvisar num trio é como se fosse uma con-

versa entre três pessoas. Pode haver uma altura em que uma fala mais e os outros ouvem, outras vezes falam todos juntos. Eu tanto gosto de tocar sozinho como em trio, são apenas diferentes formas de tocar. Eu não penso que seja fácil tocar sozinho, todo o som é controlado por ti. No meu passado toquei vários tipos de música, comecei muito cedo com música clássica e depois quando cresci comecei a tocar jazz. Mas também experimentei rock, funk, R&B e música country. Ainda assim, não me imagino a voltar a esses tempos. Fui desenvolvendo ao longo dos anos um som em que me sinto confortável. Tenho dois diplomas, uma licenciatura em música clássica para piano e um mestrado em jazz. Desde pequeno que quis tocar piano, comecei com cinco anos. Os meus irmãos também tiveram aulas de piano, tínhamos um piano em casa. De certa forma, não fui eu que escolhi o piano, foi ele que me escolheu a mim. Fiz o meu primeiro recital com seis anos, e o meu primeiro concerto profissional com 16 anos. Quando somos novos apenas imitamos, aprendemos os estilos. É assim na música, na pintura, na escultura, na escrita. Demoramos anos a encontrar o nosso estilo. Quando tinha 10 anos fui a um restaurante e ouvi a música Twinkle Twinkle Little Star. Conhecia a música porque Mozart fez várias variações desta música e eu quando era pequeno toquei. No final da actuação fui falar com o músico e ele disse-me que estava a improvisar. Então fui para casa e comecei a improvisar, fi-lo todos os dias e sem saber nada. Três anos depois tive um professor de jazz e ele introduziu-me à linguagem do jazz. Durante anos procurei músicas. Quando era mais novo tive de fazer um grande esforço para encontrar músicas. Logo que encontrava um novo tipo de música ficava nele durante algum tempo e aprendia-o. Agora podemos simplesmente passar de música em música de qualquer parte do mundo. A internet é tão acessível que nem sei se não será acessível de mais. Apesar de ser fantástico… Pensando bem acho que estou a ficar velho. No jazz existem tantas pequenas sub-categorias que podemos estudá-las durante anos. Estive em Coimbra o ano passado no Jazz ao Centro. Este ano voltei. Adoro tocar aqui. As pessoas respondem mesmo à música, têm a mente muito aberta e querem ouvir novos estilos. E não há nada como ouvir jazz ao vivo. Entrevista por Rui Miguel Pereira


22 | a cabra | 28 de Abril de 2009 | Terça-feira

OPINIÃO

CLÁUDIA TEIXEIRA

OS PROBLEMAS ACTUAIS DA UC QUAL O PAPEL DOS ESTUDANTES? Luís Bento Rodrigues *

O Investimento no Ensino Superior por estudante em média é o mesmo de há 20 anos atrás… Tempos de mudança são tempos para actuar

Cartas ao director podem ser enviadas para

acabra@gmail.com

O meu objectivo ao escrever este artigo de opinião é consciencializar a comunidade estudantil dos reais problemas da UC e qual o papel que os estudantes devem ter. O principal problema, e mais actual, é o da falta de recursos financeiros. Este problema não é, de todo, distante dos estudantes, uma vez que está em curso, por exemplo, uma diminuição do pessoal docente a qual não vai ao encontro das necessidades dos estudantes, bem pelo contrário, e é contra a Reforma de Bolonha que pressupõe a existência de uma Avaliação Contínua com menos alunos por professor. O Governo quer Bolonha mas não quer assumir os custos necessários que esta acarreta. A Despesa continua superior à Receita desde 2005 (ano de significativo corte de verbas) e os Saldos de Gerência da Universidade têm limites. Estamos no limite e a falência técnica da UC é eminente. A culpa não pertence à Reitoria mas sim ao Governo, na medida em que estamos num Ensino Público que tem obrigatoriamente de ser assistido financeiramente pelo Estado. Os fundos do Estado não dão para pagar sequer ao pessoal. As propinas que representam cerca de 11 por cento da Receita têm necessariamente que ser desviadas para o funcionamento, à margem da Lei. Adiamento de projectos estruturais e necessários à qualidade do Ensino, escassez de recursos para alimentar o actual aparelho e o não pagamento de bolsas são exemplos de outros problemas. Não há margem para manter o actual valor das propinas, sob pena da Universidade fechar portas. Por outras palavras, vai aumentar o esforço financeiro das famílias. O Investimento no Ensino Superior por estudante, em média, é o mesmo de há 20 anos atrás… Tempos de mudança são tempos para actuar. Um outro problema actual que vem no seguimento da aplicação do processo de Bolonha está na utilização incorrecta do sistema de créditos, uma vez que as cadeiras não estão adaptadas a este e está a abusar-se do esforço exigido aos estudantes, por várias razões: os docentes não reúnem no início do semestre, como deveriam fazer, para planear o esforço dos estudantes de modo a haver um equilíbrio, os estudantes não têm um bom método de fazer trabalhos e perdem

muito mais tempo do que deveriam, e por último, o desconhecimento dos estudantes da possibilidade para optar entre avaliação contínua ou descontínua numa dada unidade curricular, mesmo que o docente não o permita. Uma consequência óbvia é o alheamento dos estudantes para as actividades extra-curriculares, importantes para a formação do indivíduo do ponto de vista cultural, político e humano. Que tipo de pessoas estamos a formar? Quais a consequências a médio prazo? A Universidade não deve ser um espaço privilegiado de aprendizagem cívica e humana? O Regime de Prescrições é um regime essencial no sentido de o dinheiro dos contribuintes ser bem usado nas Universidades. Todavia, pode acontecer pagar o justo pelo pecador e nesse sentido deve haver mecanismos que salvaguardem o justo e haver sensibilidade por parte da instituição que até agora tem havido. A DG/AAC tomou como bandeira eleitoral o aumento da qualidade de ensino. É, no meu entender, boa mas desfasada da realidade actual, na medida em que a Universidade está numa espécie de “estado de coma” devido à falta de verbas, lutase para sobreviver. Não bastam as cartas nem tomadas de posição. As acções simbólicas esgotaram e em pouco resultaram. É preciso mais e melhor. Os estudantes devem unirse neste marco histórico aos seus Reitores e sensibilizar de facto a opinião pública. Estamos em ano eleitoral, tem de ser aproveitado uma vez que haverá necessariamente maior abertura política. Os Dirigentes Estudantis não podem só por si mudar muito. É essencial uma camada estudantil mais crítica, mais activa e mais irreverente, pronta a actuar sempre que a situação o exigir. Apenas somos fortes se estivermos unidos, tal como as gerações anteriores à nossa nos ensinaram. A Mudança está ao nosso alcance! A AAC deve reunir-se em MAGNA de milhares e decretar o que achar por bem e necessário. Os estudantes devem assumir o seu papel insubstituível para defender o Ensino Público e de Qualidade bem como a Acção Social. * Estudante e membro do Conselho Geral da UC PUBLICIDADE


28 de Abril de 2009 | Terça-feira | a

cabra | 23

OPINIÃO EDITORIAL

RISOS SARCÁSTICOS POR DESCRÉDITO E FALTA DE CONSCIÊNCIA

SE A INCONSTÂNCIA NÃO MANDASSE NAS PALAVRAS

Olga Roriz * D.R.

F

Escrever sobre o estado da Dança em Portugal não é o mesmo que escrever sobre a Dança em Portugal, muito menos sobre a Dança, do estado em Portugal. Sobre qual delas escrever, sobre qual delas posso, devo ou consigo discernir? Será que a 29 de Abril, dia Mundial da Dança, não nos devíamos esquecer das desgraças, do desgoverno, da ausência de política, da escassez de apoios, da instalada e impune incompetência e rejubilar esta maravilhosa e incomparável arte? As dúvidas, questões e instaladas inseguranças são já por si um indício de que por terras lusitanas a coisa não dança bem. «Um povo culto é um povo ingovernável» afirmou António de Oliveira Salazar. Será que foram mesmo 40 anos de azar e outros tantos a penar? Enfim, coisas deste pequeno Portugal. Será que querem acabar com a Dança? Se sim, é melhor que nos informem por carta, por e-mail ou mesmo por sms. Claro que estou a brincar. Claro que sei que ninguém no seu juízo perfeito quer acabar com a Dança. Claro que sei que é difícil governar, tomar resoluções, assumir responsabilidades, arriscar em novos caminhos, clarificar políticas culturais, traçar estratégias sólidas, enfim, construir um presente que o futuro não tenha de esquecer. A Dança é uma das riquezas do nosso país. Tão pobre mas tão rica. A Dança não pode acabar. A boa Dança não pode acabar mas para isso precisamos de ajuda, de mais

atenção e de mais respeito. Público não nos falta, inspiração também não. O que nos falta então? (Risos sarcásticos por descrédito e falta de paciência). Bom, por princípio não gosto de me repetir mas neste momento acho pertinente fazê-lo. Por isso aqui vai o texto que o ano passado pela mesma data li para uma sala cheia no Teatro Camões e que infelizmente se coaduna 1 ano depois “Nada ou pouco temos a comemorar neste dia mundial da dança. Não porque a dança neste país esteja mal de saúde, bem pelo contrário, mas porque os senhores doutores insistem em nos diagnosticar falsas doenças, impondo-nos uma série de exaustivas análises clínicas. Deixem de nos tentar organizar. Dêem-nos condições de trabalho que nós nos governamos. Não tentem destruir o que construímos a pulso apenas para encobrir a vossa incompetência, a vossa falta de clareza e visão do futuro. Há anos atrás pensávamos ter batido no fundo e restava-nos a esperança de algo mudar. Grande engano o nosso! Para bater no fundo ainda muito nos falta e o pior é que nem nós, profissionais da queda, saberemos como cair. Quanto a mim, estou tão farta e descrente dos nossos governantes que estou prestes a perder-lhes o respeito. E isto é triste!!! Resta-me desejar que a força da dança extrapole o corpo e se faça voz para que alguém nos ouça. Viva a dança!”

Secção de Jornalismo, Associação Académica de Coimbra, Rua Padre António Vieira, 3000 - Coimbra Tel. 239821554 Fax. 239821554 e-mail: acabra@gmail.com

* Coreógrafa

oi preciso acreditar quando em Janeiro ouvimos prometido esbarrar o conformismo contra a parede. Que o conformismo estava descolado da pele da Academia só acreditava quem quisesse, mas era preciso acreditar – dizia o apelo, aguerrido. De Janeiro para cá, os meses não foram de outra coisa senão de conformismo. Não duvidamos que estamos numa fase de crise económica e de crise política e que, portanto, tudo vai em contra ciclo em relação ao movimento associativo e à participação cívica dos estudantes. No entanto, os desafios são os de sempre, e agora, mais do que nunca, devem ser lembrados a bom som. Sob o que temos assistido nos últimos anos, corremos o risco de deixar que as novas lutas estudantis sejam imperceptíveis para aqueles que

rança queira marcar o passo, mais preocupada em estar próxima do núcleo de intervenção – que são os estudantes – do que em se fazer publicitar com frases feitas e inócuas vontades que só à falsidade devem proveito? Mas ainda mais grave é que a consciência dos dirigentes associativos não pesa no momento em que se assumem um discurso balofo, reduzido a palavras decoradas, contraditórias em si mesmas em relação àquilo que dizem defender para assegurar os direitos e a boa graça dos estudantes. Coimbra está sempre a despedirse e a receber novos estudantes; a renovação geracional que aqui se gera – com aqueles que adoptam a cidade como sua, agora, e para o futuro, cada vez por menos anos – não pode ser alheada das exigências de um ensino mais preocupado com a acção social, a pedagogia, a representatividade. Mas assumir, por

Grave é a imperceptibilidade em que vivem os estudantes da UC perante as suas próprias lutas

não fazem parte do núcleo estudantil. Para não ir muito longe, basta reparar na superficialidade com que foi encarado um dirigente associativo na grande entrevista que Jorge Serrote deu à TSF e ao Diário de Notícias, este domingo, onde à margem ficaram as questões prementes que preocupam a agenda das universidades portuguesas. De fora ficaram pontos essenciais sobre o estado do ensino superior, quando o absurdo das palavras chega ao ponto de o ministro Mariano Gago estar em consciência convicto de que não existe “nenhuma situação crítica com os níveis de financiamento actuais” nas instituições. Mas tão grave quanto isto é a própria imperceptibilidade em que vivem os estudantes da Universidade de Coimbra perante as suas próprias lutas. São os estudantes passivos, à espera que alguém lhes leve a mensagem? Ou podem, desde o início, participar nas concepções das lideranças, desde que essa lide-

princípio, que existe uma dificuldade de mobilização que é inultrapassável quando os problemas estão à flor da pele e são sentidos por todos – e todos os dias – é sinal de que o inconformismo apregoado, afinal, tem tanto de incongruência quanto de ‘show off’. E se, em boa verdade, a associação académica passou a estar mais imbricada nos assuntos da cidade, a mobilização para as causas estudantis perdeu em proporção inversa e sem retorno absoluto. Por isso, e enquanto a actividade da associação académica se esgotar dentro de portas na mera conjugação de vontades administrativas e na promoção cultural e desportiva, não são os sinais do tempo. São os sinais de que as lideranças querem esperar que o tempo passe e com ele o conformismo. Para isso dizem que é preciso acreditar. Desacreditemos. Pedro Crisóstomo Editor-executivo

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Director João Miranda Editor-Executivo Pedro Crisóstomo Editor-Executivo Multimédia: João Ribeiro Editores: André Ferreira (Fotografia), Cláudia Teixeira (Ensino Superior), Sara Oliveira (Cultura), Catarina Domingos (Desporto), Marta Pedro (Cidade), Rui Miguel Pereira (País & Mundo), Diana Craveiro (Ciência & Tecnologia) Secretária de Redacção Sónia Fernandes Paginação Pedro Crisóstomo, Sónia Fernandes, Tatiana Simões Redacção Adelaide Batista, Ana Coelho, Andreia Silva, Carolina de Sá, Eunice Oliveira, Filipa Faria, Hugo Anes, João Picanço, Patrícia Gonçalves, Patrícia Neves, Pedro Nunes, Tiago Carvalho, Vasco Batista, Vanessa Quitério, Vanessa Soares Fotografia Ana Relvas França, João Miranda, João Ribeiro, Leandro Rolim, Sara Oliveira, Sónia Fernandes Ilustração Rafael Antunes, Tatiana Simões Colaboraram nesta edição Alice Alves, Ana Relvas França, Ana Rita Santos, Catarina Fonseca, Eliana Neves, Filipa Magalhães, Luís Simões, Maria João Fernandes, Matheus Fierro Colaboradores permanentes Ana Val-do-Rio, Carla Santos, Carlo Patrão, Cláudia Morais, Dário Ribeiro, Emanuel Botelho, Fátima Almeida, Fernando Oliveira, François Fernandes, Inês Rodrigues, José Afonso Biscaia, José Santiago, Milene Santos, Pedro Nunes, Sofia Piçarra, Rafael Fernandes, Rui Craveirinha Publicidade Sónia Fernandes - 239821554; 914926850 Impressão FIG - Fotocomposição e Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra, Serviços de Acção Social da Universidade de Coimbra


Mais informação disponível em Redacção: Secção de Jornalismo Associação Académica de Coimbra Rua Padre António Vieira 3000 Coimbra Telf: 239 82 15 54

Futsal AAC

Depois de um quinto lugar na temporada transacta, a equipa universitária da AAC, orientada por João Oliveira, arrecadou o título nacional. A Académica venceu a Associação Académica da Universidade do Minho por 0-4 e alcançou o ouro universitário, o único da participação da AAC nos Campeonatos Nacionais Universitários 2009. Agora a turma de Coimbra vai representar Portugal nos campeonatos europeus em Julho. C.D.

Fax: 239 82 15 54 e-mail: acabra@gmail.com

acabra.net

Concepção e Produção: Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra

Ministério da Cultura

O ministro José António Pinto Ribeiro anunciou que o Acordo Ortográfico entrará em vigor ainda este ano, sem contudo precisar alguma data. O Brasil já iniciou este processo e Portugal só tem a perder enquanto não o fizer. Pinto Ribeiro assegurou, igualmente, que tudo será feito “sem rupturas e com grande tranquilidade”, resta saber se a medida será cumprida dentro do tempo anunciado. J.R.

Notas sobre arte...

Câmara Municipal

A Revolução de 25 de Abril celebrou 35 anos e a Câmara Municipal não organizou qualquer iniciativa de comemoração deste marco. O presidente, Carlos Encarnação, baseou-se na falta de participação da população para justificar a ausência de festejos. Impõe-se questionar se o melhor a fazer é investir na mobilização da sociedade civil para a festa da Liberdade, ou simplesmente ignorá-la, como fez a edilidade. J.R. PUBLICIDADE

Untitled (playing with Gould playing Bach) Miguel Soares • Vídeo PAL, p\b, som • 2007 Quem entra no espaço ouve imediatamente aqueles sons sem nome nem rosto. Parece uma simples música de fundo numa exposição contemporânea. Ao percorrermos os corredores, vamos encontrando a origem dos sons, e estes ganham uma nova perspectiva. E significado. É um vídeo relativamente simples, com apenas duas imagens diferentes, onde o conhecido pianista Glen Gould toca Bach com o seu frenético movimento de mãos, acompanhado de uma flauta e violino. Mas, para além da aparente simplicidade, é uma obra singular, que revela ter mais conteúdo para além do óbvio. Parecemos não compreender qual a ligação entre o que vemos e o que ouvimos, pois Miguel Soares resolveu transpôr a música clássica para o século XXI. Tirou-lhe a beleza e harmonia que se requerem essenciais, e deu-lhe futurismo, moder-

nismo, desordem. É por isso que vemos muito mais do que Glen Gould a tocar piano. A repetição dos gestos e dos sons alteram os nossos sentidos perante tamanha violação do conceito de clássico. O piano está descompassado; pára, recomeça. Os dedos tocam a mesma tecla vezes sem conta. Nas palavras de Filipa Ramos, o video “amplifica a neurose compulsiva e repetitiva” do gesto de Gould. Miguel Soares, o autor, nasceu em Braga em 1970, tendo desenvolvido o seu percurso artístico durante a década de 90. O seu trabalho, que vai desde a fotografia, a representações 3D e vídeo, centra-se essencialmente em temas como a tecnologia, a arquitectura, geografia e design, apresentando sempre novas formas de percepcionarmos a realidade que nos rodeia. Esta e outras obras do autor estão expostas no Centro de Artes Visuais (CAV) até 7 Junho. Por Andreia Silva

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