Jornal Universitário de Coimbra A Cabra - Edição nº 256

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acabra

12 DE FEVEREIRO DE 2012 • ANO XXII • N.º 256 • QUINZENAL GRATUITO DIRETORA ANA DUARTE • EDITOR-EXECUTIVA ANA MORAIS

GONÇALO QUADROS Menos universidade, melhor universidade “A Universidade tem de ser capaz de reter os melhores jovens”

Extinção da Fundação Cultural em curso PÁG. 16

RAFAELA CARVALHO

O presidente da Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Ricardo Morgado, adianta o valor ainda em sede de Conselho Fiscal da AAC. Apesar de ter tido o preço dos bilhetes mais baixo dos últimos anos, a quebra nas receitas ditou o saldo negativo da Festa das Latas. Morgado assume o erro e adianta que tudo virá descriminado no relatório que tudo indica sair do CF/AAC esta semana

lização de salas de aula da escola básica que lhe está contígua. No entanto, a passagem da gestão do edifício para a UC faz com que já se estejam a alinhavar as condições para a extinção da Fundação Cultural que, como considera a vice-reitora Clara Almeida Santos, deixa de “ser interessante” já que a atividade ficaria muito limitada. Fica tudo como em 2009.

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ANGOLA

Notório controlo na comunicação

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O desenvolvimento económico de Angola não tem tido obtido um reflexo na sociedade e no processo de democratização. A falta de direitos, liberdades e garantias é uma realidade ainda presente no país. O controlo da Informação está presente em todos órgão de comunicação geridos por jogos de interesses e influências.

EXPOSIÇÃO

“Sérgio Godinho e as 40 ilustrações” O Círculo de Artes Plásticas de Coimbra reúne vasto conjunto de ilustrações representativas do universo das canções de Sérgio Godinho. Até 2 de março.

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SUSTENTO ALTERNATIVO

Estudantes procuram a solidariedade social

Capoeira, um jogo de ritmos Praticada na Escola de Artes Marciais,a capoeira é uma arte de movimentos e espiritualidade PÁG. 7

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RELATÓRIO E CONTAS 2012

Festa das Latas 2012 com 12 mil euros de prejuízo

A efeméride dos 50 anos do Estádio Universitário de Coimbra servirá para anunciar o programa de dez meses e também para lembrar a passagem do organismo para UC O local onde 18 secções desportivas da Associação Académica de Coimbra treinam diariamente está ao abrigo de um plano de comemorações extenso que prevê entre outros: a exposição sobre a história do Estádio (onde também fica a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física), um plano de angariação de fundos para obras de requalificação do Pavilhão 1 e a proposta de uti-

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Cada vez há mais casos de estudantes que, sem dinheiro, têm de abandonar o Ensino Superior. Mas há aqueles que, sem se conformarem com a situação, buscam novas formas de autofinanciamento, de forma a poder concluir os estudos. A solidariedade social e a entreajuda têm sido a premissa para um sustento alternativo

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Mais informação em

acabra.net RAFAELA CARVALHO\

500º Aniversário da Biblioteca Geral PÁG. 10 E 11


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DESTAQUE Autofinanciamento alternativo

Apoios escasseiam. Solidariedade aumenta

Ao aliar-se a atual conjuntura socioeconómica à prática recorrente de números em detrimento de vidas, tem-se revelado cada vez mais difícil para muitos alunos permanecer no Ensino Superior (ES). Com a mudança das normas do regulamento de atribuição de bolsas do ano letivo anterior, muitos estudantes viram estas dificuldades agravar-se. Mas houve quem não desistisse e procurasse alternativas para resistir. Por Ana Duarte e Ana Morais

ILUSTRAÇÃO POR CAROLINA CAMPOS


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esde o ano letivo de 2011/2012, aquando da instauração do novo regulamento de atribuição de bolsas, muitos dos estudantes do Ensino Superior viram-se sem meios para prosseguir estudos. Créditos que faltavam obter, pequenas dívidas à Segurança Social, as mudanças do valor patrimonial ou até mesmo a definição clara de auxílios de emergência levaram a que muitos bolseiros perdessem o apoio e que, consequentemente, ficassem numa situação insustentável. Na Universidade de Coimbra (UC), alguns não tiveram outra hipótese senão abandonar os estudos. Mas essa via não foi aceite por todos. Houve quem ficasse apesar das adversidades, encontrando formas alternativas de se autofinanciar. A situação do ES é apenas um reflexo do quotidiano do país. Cada vez mais se troca isto e aquilo que de mais pessoal se tem para tentar sair de situações de aflição. Para Rui Namorado, professor da Faculdade de Economia da UC, “o Estado funciona insuficientemente porque a própria sociedade não tem recursos”. Cada vez mais se vê surgir em cada es-

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DESTAQUE quina uma loja de venda e troca de ouro, de velharias, de roupa usada. Tudo se põe à venda e se troca, para se ir ganhando algum. E agora, são os mais jovens que o fazem. Com a crescente desresponsabilização do Estado social para com os cidadãos que veem os seus direitos mais elementares gorados, há que encontrar mecanismos de sobrevivência. A ideia de cumprir um papel que não é o nosso e de substituir uma função que é do encargo do Estado ganha cada vez mais contornos. Assim, os estudantes aparecem como uma das franjas da sociedade que é mais afetada com a referida desresponsabilização. A depender da família, a reger-se com apoios sociais e a verem perdidos esses direitos, os estudantes não escapam à conjuntura. Mas, são os mesmos que mostram a criatividade necessária para resistir à situação. Como aponta Rui Namorado, uma das soluções passa pelo “pensamento crítico” dos jovens e da sua libertação face às imposições.

A teia de solidariedade

Na UC, têm surgido vários casos de financiamento alternativo. A

solidariedade e o conceito de entreajuda está na base de todos eles. O sucesso que estão a ter é a prova disso. Diogo Barbosa, estudante do curso de História da Faculdade de Letras da UC (FLUC), perdeu a bolsa devido ao novo regulamento para a sua atribuição. Não tendo conseguido matricular-se neste ano letivo, por não ter pago as propinas do ano anterior, continuou a frequentar as aulas. Mais tarde, em dezembro de 2012, efetuou o pagamento das propinas. Depois de já ter realizado alguns exames na época normal, percebeu que tinha prescrito por cinco créditos. “Como prescrevi, tinha de pagar 600 euros mais uma multa de 75, e ainda um requerimento de dez euros e esperar pela resposta”, explica Diogo. Para evitar essa espera, surgiu a ideia, entre amigos, de “ir cozinhar a casa das pessoas e cobrar uma quantia ridícula [2 euros]”. Para divulgar a sua ideia utilizou a rede social Facebook e, em menos de uma semana, atingiu uma proporção inesperada; recebeu ajuda de várias pessoas e recebeu pedidos de vários sítios para fazer uma refeição. “Cozinhe em sua casa” é o nome do projeto, cujo design,

“de pessoas simples para pessoas simples”, afirma Diogo, foi feito por uma estudante da área que viu a ideia e se ofereceu para ajudar. Um outro estudante, Pedro [nome fictício], também perdeu a bolsa com o novo regulamento por incumprimento de créditos necessários, tinha feito apenas sete das oito cadeiras necessárias. “O Estado desistiu do investimento que tinha feito em mim” é assim que encara a sua situação. Sem desistir, procurou algo que “as pessoas consumissem independentemente do preço” para poder vender. O tabaco foi a resposta imediata e, mais uma vez, o Facebook ajudou na publicidade, com a criação da página “Tabaco sem Capas”. Recebendo as folhas inteiras, o processo, assegura, “é rápido e mais saudável”, não há qualquer aditivo químico e a preparação e embalamento são da sua responsabilidade. Ainda assim, o preço é mais baixo que o valor de mercado. Reconhecendo que este não é um procedimento totalmente legal, a necessidade de financiamento assim o obriga. Ambos os casos revelam como a teia de solidariedade se revelou rápida e tem sido eficaz nesta co-

A situação do ES é apenas um reflexo do quotidiano do país. Cada vez mais se troca isto e aquilo que de mais pessoal se tem para tentar sair de situações de aflição

Perante estas ideias inovadoras, estes estudantes mostraram que a capacidade de iniciativa resulta, mas sem nunca desistir de um papel interventivo leta de dinheiro. Em poucos dias, os valores obtidos ultrapassaram qualquer expetativa inicial. Diogo admite mesmo que, com esta “brincadeira”, descobriu que tem muitos amigos, e todos eles dispostos a ajudar. Mas este apoio que providenciam uns aos outros é feito, segundo Pedro, “sempre com a consciência de que estamos a fazer um papel que não é o nosso”.

Meios diferentes para o mesmo fim

“No ano que a minha bolsa desceu, fiz uma lesão no joelho e tinha de fazer fisioterapia. Gastava cerca de 60 euros por mês em fisioterapia. A receber 98 euros não consegui fazer face às despesas todas”. Já concluiu o mestrado em Estudos Artísticos, mas a tarefa não foi fácil para Nilce Carvalho. Face aos constrangimentos financeiros que tinha, trabalhava nas férias de verão na apanha da fruta, e, ao mesmo tempo, recebia algumas ajudas alimentares da parte de uma tia.

Quando estava a chegar ao final do mestrado, não tinha dinheiro para pagar as propinas e já estava com dívidas, porque tinha pedido dinheiro emprestado a amigos para continuar a estudar. “Foi aí que eu pensei: se cada amigo meu do Facebook me desse um euro, visto que tinha perto de 1200 amigos e conhecia toda a gente, não iria custar muito a cada pessoa”, afirma Nilce. Assim o fez e, em cerca de 12 dias, conseguiu o dinheiro. Se qualquer um destes casos pensou em recorrer aos Serviços de Ação Social da UC (SASUC) ou à Associação Académica de Coimbra? Sim, mas à partida já sabiam que não iam ter uma resposta. “Os SASUC estão a ficar cada vez mais com os pés e com as mãos atadas. Cabe-nos a nós arranjar soluções”, lamenta Nilce. Por sua vez, Diogo Barbosa é assertivo: “prefiro sinceramente tentar orientar-me sozinho”.

Maior capacidade de resistência

Três casos semelhantes que nas

suas diferenças nos revelam um elemento comum: a luta para sobreviver a esta sociedade em que parece faltar o Estado Social. A oposição face à atual conjuntura foi o que moveu estes estudantes, o que, segundo Rui Namorado, lhes confere uma “capacidade de resistência maior”, comparativamente a quem se conforma. O também investigador refere mesmo que “é de encorajar todas as iniciativas deste género”. Contudo, é perentório ao referir uma aposta na coletivização em detrimento do individualismo. “Todas essas iniciativas deviam pôr os protagonistas a falar entre eles”, aponta. Diogo e Pedro perceberam essa potencialidade e juntos vão já organizar uma febrada para angariar dinheiro para ambos. Rui Namorado sugere como possível solução que os estudantes procurem várias formas existentes por todo o mundo de economia de reciprocidade e solidariedade para se poderem inspirar. E através disso beneficiar dos seus potenciais, mas nunca esquecendo a lógica de coletivo. O

professor invoca assim a necessidade de «as pessoas perceberem que o “desenrascanço” individual tem outra dimensão se se congregar com outros e complementálos». Apesar destes estudantes terem a noção de que estão a cumprir uma missão que não é a deles, as críticas não se restringem ao Estado. Também a Associação Académica de Coimbra e a própria UC são referidas como entidades que ficam aquém das necessidades atuais dos estudantes. No entanto, Rui Namorado vai mais longe e considera que “a pressão sobre o serviço social deve ser permanente e a capacidade de tomar a iniciativa própria também”, ao mesmo tempo que se “exige ao máximo a interferência nas técnicas de apoio social”. Perante estas ideias inovadoras, estes estudantes mostraram que a capacidade de iniciativa resulta, mas nunca sem se desistir de um papel interventivo. “A solidariedade não deve substituir o Estado, mas pode ser um complemento”, apura o investigador.


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ENSINO SUPERIOR ARQUIVO - OLGA JUSKIEWICZ

Nova gestão e desafios para o EUC O Estádio Universitário aproveitará os dez meses de comemorações para arrecadar fundos para a requalificação do espaço. A afetação de volta à Universidade deixa a Fundação Cultural a caminho da extinção

Liliana Cunha

O EUC situa-se na margem esquerda do rio Mondego

O Estádio Universitário de Coimbra (EUC) faz amanhã, 13, cinquenta anos. Em funcionamento estreito com a Associação Académica de Coimbra (AAC) e com as suas secções desportivas, tem servido de espaço à prática de desporto feito por atletas universitários e não só. O objetivo da reitoria é “alertar para o estado em que algumas infra-estruturas se encontram. Durante estes dez meses vamos fazer uma campanha de angariação de 250 mil euros”, explica a vice-reitora para a comunicação e cultura da UC, Clara Almeida Santos. Para as comemorações também se inclui uma mostra/exposição do que “lá se fez, o que se faz e o potencial que o Estádio tem para as secções de AAC que lá treinam”, adianta a vice-reitora. De resto, a Fundação Cultural da Universidade de Coimbra e os seus organismos passam de volta para a UC: “já não é interessante manter a fundação e as actividades passarão novamente para o lado da UC como era antes de 2009”, atesta Clara Almeida Santos. Assim, a receita a gerar pela

instituição da taxa utilizador-pagador já negociada anteriormente reverterá para a Universidade. A vice-reitora que ficou com a reabilitação e gestão do espaço acredita que a instituição para onde vá o dinheiro “pouco importa”. “Agora com a perspetiva do estádio deixar de estar afetado à Fundação Cultural da universidade e passar a estar integrado na UC essa pasta não fica comigo”, explica Clara Almeida Santos. Fica assim ao dever de Helena Freitas, vice-reitora para as relações institucionais.

“Os 50 anos são a primeira pedra da reabilitação do Estádio”, assevera Helena Freitas. E no que toca a isso, um primeiro projeto é avançado pela mesma. “Estamos a contar com a própria requalificação de toda a área inerente à intervenção no Convento de S. Francisco e com a possibilidade de chegarmos a um acordo com a Faculdade de Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra de ocupar pelo menos parte das instalações da Escola Silva Gaio”, avança a vice-reitora. O trato seria o de ocupar algumas salas abolindo a via que separava a Faculdade da Escola Básica Silva Gaio. Há um enquadra-

mento exterior ao estádio que pode então condicionar esse facto. Helena Freitas lembra ainda que são planos que dependerão sempre da oportunidade de financiamento que houver. “Há uma proposta que a câmara municipal patrocina mas depende de outros ministérios. Isso implicaria que a FCDEF permanecesse naquela zona”, adianta a vice-reitora para explicar que a falta de condições e espaço desta Faculdade pode assim ser passível de remediar. A Universidade faz esforço para manter o EUC. Em três anos foram lá “colocados um milhão e 500 mil euros só para manter a porta aberta sem possibilidade de reabilitar nenhum dos espaços”, evoca Clara Almeida Santos. A possibilidade de Coimbra poder receber os EUSA Games, em 2016, pode catapultar o EUC para um papel definitivo na estratégia da UC. “Seria excelente receber aqui os jogos olímpicos do desporto universitário. Era fôlego para o Estádio ser aquilo que pode ser”, assinala a vice-reitora. Quanto às negociações para os atletas da secção pagarem uma quota pela utilização do espaço estiveram paradas. Mas Helena Freitas promete continuar numa perspetiva de equidade, já que a própria “FCDEF paga uma renda à UC pela utilização do EUC. Se uns pagam, os outros também têm de pagar”. Em representação do Conselho Desportivo da AAC, Miguel Franco salienta que o mais importante é a noção de que “o desporto e as secções desportivas são o maior meio de fixar estudantes da UC que, em vez de irem para fora, ficam cá”.

mos à Queima das Fitas, que foi solidária connosco”, justifica Ricardo Morgado. Quanto ao motivo do dinheiro servir para organização da Festa das Latas (FL2012) do ano anterior porque não haveria fundo, Morgado garante que o que é “complicado é a quantidade de custos fixos em cada mês, de uma falta de liquidez e a FL2012 está incluída nas contas da DG/AAC”. O compromisso, esse, ainda não está saldado na totalidade. Diogo Alves e Miguel Franco (também membro do Conselho Desportivo) acreditam na justificação da DG/AAC para o adiantamento e percebem a situação “muito difícil da casa”, afirma Miguel Franco. A situação anunciada internamente era a de que a QF já não teria dinheiro para distribuir porque tinha emprestado tudo à DG/AAC e ao

CD/AAC, mas não foi o que se sucedeu. “A QF não tem esse capital na conta, não tem capital para entregar”, diz Diogo Alves. No entanto, Miguel Franco explica que há dinheiro - “a QF já prevê no próprio regulamento duas verbas - 30 mil euros fixos para despesas diferidas que estão cativos na conta e depois há uma verba cativo para começar o trabalho e toda esta verba está guardada, não pode ser usada para outro meio”. Quanto à venda antecipada de vouchers o dinheiro já está a servir para fundo de organização. As primeiras bandas vão ser anunciadas já esta semana: “este dinheiro vai servir para a contratação de algumas bandas”, adianta o secretário-geral da QF2013, André Gomes. Também o relatório da QF está previsto estar fechado esta semana.

“Seria excelente receber aqui os ‘Jogos Olímpicos’ do Desporto Universitário” Novos projectos de requalificação

Verbas da Queima desbloqueadas após aprovação do relatório A atribuição do saldo positivo da última Queima das Fitas para as secções culturais e núcleos está em embargo porque o relatório ainda não foi aprovado. Mas a DG/AAC já retribuiu parte do dinheiro Liliana Cunha Outro relatório. Outros envolvimentos. O relatório de contas da Queima das Fitas (QF) 2012 ainda não foi aprovado. Em causa está o desbloqueamento de verbas para o Conselho Desportivo e Direção-geral da Associação Académica de Coim-

bra (DG/AAC) que foi concedido sem serem fechadas as contas. Quanto ao empréstimo concedido à DG/AAC fez com que o fundo de maneio da Queima das Fitas ficasse indisponível para outros adiantamentos. O Conselho Cultural (CC/AAC) que reclamara também esse adiantamento assistiu ao seu atraso até à aprovação posterior do relatório – “pedimos o adiantamento urgentemente, porque o período cultural mais ativo é de janeiro a junho, onde existem mais despesas, mais atividades por parte das secções. Isto porque a QF não tem esse capital na conta, não tem capital para entregar”, lamenta o membro da Comissão Executiva do Conselho Cultural, Diogo Alves. O desbloqueamento das verbas estará agora calculado pois “uma vez que a DG/AAC já devolveu parte do

dinheiro que foi emprestado, a QF tem condições de para a semana poder assegurar que todas as entidades que têm direito a receber a distribuição de verbas”, atesta João Luís Jesus. Entidades como o Conselho Desportivo/AAC, o CC/AAC, a própria DG/AAC, o Conselho de Veteranos e o Conselho Inter-Núcleos podem assim receber as verbas. “Vão receber pelo menos 50 por cento da verba a que têm direito, o resto fica dependente do saldar da dívida da DG/AAC para com a QF”, lembra o Dux Veteranorum.

Empréstimo e venda de Vouchers superada

“Fui sincero desde o início do mandato ao dizer que a AAC passava dificuldades. Chegámos a uma altura em que tínhamos falta de liquidez e implicava toda a casa. Daí recorre-


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ENSINO SUPERIOR

Um relatório sem números

RELATÓRIO E CONTAS DA DIREÇÃO-GERAL DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA 2012

O segundo mês de 2013 continua sem números relativos às contas feitas pela DG/AAC no ano anterior. No entanto, Morgado, que tomou posse pela segunda vez, adianta que a Latada deu prejuízo em 12 mil euros

ANA MORAIS

Liliana Cunha

“Isto nunca aconteceu antes, mas a verdade é que o que estamos a fazer é respeitar os prazos”, assegura o atual presidente do Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/AAC), Jorge Resende. Envolto em polémica por ser o primeiro dos últimos tempos a ser apresentado depois da tomada de posse de um novo mandato, o relatório está sem números para todos os efeitos. Os sócios da AAC, com novos corpos gerentes desde o dia 24 do mês passado, ainda não conhecem o saldo real de todas as contas que foram prestadas no mandato anterior e o presidente manteve-se. Quanto à tomada de posse da nova equipa, Ricardo Morgado cumpriu a norma do artigo 151º dos estatutos ao assumir funções cerca de quinze dias “excluindo férias escolares” depois da ata final de eleição.

“Transparência”

Jorge Resende acredita que o tempo de análise do relatório é o natural: “se tivéssemos convocado a AM antes da tomada de posse aí é que estava alguma coisa de errado. Era sinal que num tempo recorde tínhamos analisado um ano de contas”. Mas a estranheza persiste. Morgado atesta que, desta vez, está a ser um exercício mais “escrutinado e transparente”. Teima também em afirmar que há dados que nunca foram incluídos e vão estar no relatório. É o caso da margem do passivo da AAC que foi agravada. O presidente de 2012 assume-o: “faltam-nos alguns dados para confirmar a agravação do saldo negativo”. O relatório e contas de 2012 já foi para trás: “propusemos algumas correcções”, esclarece o presidente do CF/AAC. “O que é importante para o CF é que essas despesas estejam todas no relatório e que não haja omissões, manobras para disfarçar alguma coisa”, frisa Jorge Resende. “Fizemos a Festa das Latas mais barata dos últimos anos, no preço dos bilhetes”, lembra Ricardo Morgado. Porém a mesma deu prejuízo: resultou em “cerca de 12 mil euros”, enumera o presidente da DG/AAC. O primeiro número está adiantado. Mas a gala dos 125 anos na opinião de Jorge Resende também está assinalada no relatório como dano nas contas: “poderiam ter sido mais cau-

O presidente do CF/AAC, Jorge Resende, acredita que “à partida” o parecer é emitido esta semana

ESTATUTOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

Como foi nos últimos mandatos?

No que toca ao relatório, Morgado afirma que “é sempre entregue todos os anos por volta do dia 20 ou 21”. Com efeito e apontando para o artigo 50º [ver caixa], a prática pode dar-se até à terceira semana do ano civil. Morgado apresentou a 21 de janeiro o relatório ao CF/AAC. No entanto, nem Eduardo Melo nem Miguel Portugal – seus antecessores, o fizeram, Artigo 59º Competência embora Morgado diga que sim. Eduardo Melo, presidente da DireCompete ao Conselho Fiscal: c. Emitir parecer sobre o relatório anual e contas da Direção-Geral ção-geral da AAC (DG/AAC) cessante em 2011, viu o relatório de contas do e apresenta-lo à Mesa da Assembleia Magna até quatro semanas seu mandato ser aprovado numa Asapós a entrada em funções da Mesa. sembleia Magna (AM) a 25 de janeiro. Portugal viu as suas contas Artigo 151º Tomada de posse serem votadas pelos sócios a 19 de jaA ata final deve ser apresentada até vinte dias úteis após escrutínio e os neiro de 2010. Morgado, reeleito, membros eleitos tomam posse em cerimónia pública até quinze dias de- ainda não apresentou números. “O que acontecia era o CF/AAC dar o papois da publicação da ata final, excluindo período de férias escolares. recer num ou dois dias e haver AM na telosos”, assevera. Quanto à recente mitisse entregar o dinheiro à ourive- semana a seguir. Os fiscais anteriores propagação de rumores no que toca saria. O preço apontado para o reló- emitiram em parecer que era necesaos relógios encomendados pela gio fixa-se nos 590 euros. O que falta sário mais tempo de análise”, explica DG/AAC à Ourivesaria Góis, Mor- “é ultimar com a ourivesaria a vinda o actual presidente da DG/AAC. A gado e Carlos Goís, gerente das lojas, dos relógios para fazermos as trocas avaliação do Conselho Fiscal pode estêm algo a dizer. “Não há nenhuma de verbas. Em cada relógio a AAC re- tender-se até quatro semanas, o que queixa em tribunal, o que houver cebe uma margem”. Carlos Goís in- faz com que o parecer tenha de ser para ser resolvido é entre nós e a siste que não há nenhuma questão emitido até à próxima semana. AAC”, afirma Carlos Góis. Morgado suspensa, mas hesita quanto à dívida. declara que “não foram encomenda- De resto, o mesmo até se predispõe a AM de relatório e dos 125 relógios, mas 50”. Antes de “vender os relógios” nas suas lojas se outra de orçamento os adquirir fez-se uma pré-venda, a AAC assim o desejar, já que não há “A Assembleia Magna tem de ser este para dar à DG/AAC o fundo que per- um posto de venda. mês. Espero que ontem tenha sido Artigo 50º Competências do Tesoureiro É da competência do tesoureiro: c. Elaborar o relatório anual e contas e apresenta-lo ao Conselho Fiscal até três semanas após o final do ano civil, devendo este re latório ser disponibilizado a qualquer sócio que o pretenda até dois dias úteis antes da Assembleia Magna para a sua aprovação.

mesmo a última reunião”, admite Ricardo Morgado. A convocação da AM para votação do relatório e contas de 2012 estará a cargo do CF/AAC que após emitir parecer convoca a AM. Jorge Resende garante que, “à partida, seja positivo ou negativo” estará a análise pronta. O presidente do CF/AAC não tem problemas em dizer que “se tiver que dar parecer negativo darei, isso posso garantir. Não depende só de mim, há mais sete”. Mas estará prevista outra AM para março. Com intuito da DG/AAC fazer cumprir um dos projetos do novo mandato - apresentar um orçamento para este ano. Para “fazer execução orçamental, saber se houve derrapagens financeiras. Só assim se saberá a realidade das coisas”, explica o presidente da DG/AAC. E acrescenta que “as contas da AAC não têm de andar nos jornais, não têm de andar nos blogs, mas se andam é porque há pouca transparência para os próprios sócios e tem de ser internamente que temos de resolver esse problema para estarem informados para o bem e para o mal”. Morgado parece não ter receio dos alaridos, tapa-se com a verdade dos estatutos e está pronto para responder – “estamos a fazer as coisas de modo diferente e quando se faz à primeira é-se criticado e poucas vezes elogiado. Há coisas que as pessoas vão compreender, outras não”, redime-se.


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CULTURA

40 ilustradores desenham o cá universo de Sérgio Godinho

cultura por 12 FEV

"NATUREZA MORTA" CineMa aMsCav 21h30 1€ C/desConTos

14 FEV

EMMY CURL

14 a 15

MúsiCa saLão BraziL 22h00 • 5€

FEV

"PAGAR? AQUI NINGUÉM PAGA!" TeaTro TCsB 21h30 10€ C/desConTos

16

até

FEV

"LABORATÓRIO TEATRO E COMUNIDADE"

TeaTro oMT 22h00 • 4€

20 FEV

"UM GESTO QUE NÃO

dança TaGv • 21h30 7,5€ C/desConTos

PASSA DE UMA AMEAÇA"

22 FEV

"ZEITGEIST: O FILME"

CineMa Casa da esquina 21h00 • enTrada Livre

24 FEV

"CONTA-ME COMO É"

LeiTura enCenada CapC - edifíCio sede 15h00 • enTrada Livre

25 FEV

"DESTE LADO DA RESSURREIÇÃO"

CineMa TaGv 21h30

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4€ C/desConTos

FEV

MúsiCa saLão BraziL 22h30 4€ C/desConTos

De portas abertas até dia 2 de março, o CAPC dá a conhecer a sua nova exposição, que reúne 40 ilustrações de 40 canções de Sérgio Godinho

Daniel Alves da Silva Ana Sousa

As canções ilustradas de Sérgio Godinho ocupam as paredes do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), numa relação cúmplice entre as palavras e os desenhos da nata da ilustração nacional. Os temas desdobram-se em múltiplas interpretações, manifestando assim o olhar único, mas transmissível, de cada ilustrador. Numa exposição onde, explica o diretor do CAPC, Carlos Antunes, “o território estrito da arte contemporânea é aberto a outras manifestações artísticas”. As canções de Sérgio Godinho, que, acrescenta Carlos Antunes, são consideradas “património nacional” por uma vasta maioria, figuram nas paredes desta casa em imagens ousadas de diversos ilustradores que segundo o curador da exposição, João Paulo Cotrim, “poderiam abordar de forma dinâmica e variada – no estilo e nas técnicas – estas canções”. Esta exposição resulta de uma seleção de ilustrações criadas originalmente para o livro “Sérgio Godinho e as 40 ilustrações”. João Paulo Cotrim foi o responsável pela escolha dos ilustradores para as canções previamente selecionadas por Sérgio Godinho. A ideia, que persistia há já algum tempo, foi ressuscitada “à mesa da amizade”, pelos dois. O mote, segundo o curador, foi “rein-

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FEV

"LANÇAMENTO DA REVISTA VIA LATINA"

apresenTação Café-TeaTro TaGv 18h30 • enTrada Livre

Por Daniel Alves da Silva

terpretar as canções do Sérgio com outros instrumentos: as imagens”. O universo de Sérgio Godinho é “habitado por personagens tão carismáticas que vivem as mais diversas histórias em cenários tão vibrantes”, que, confessa João Paulo Cotrim, “estavam mesmo a pedir a ilustração”.

Canções intemporais

O músico marcou presença na inauguração da exposição, no dia 2

Pelas mãos de João Paulo Cotrim, os ilustradores receberam as canções que tentaram reinventar. Através da voz de cada ilustrador, as palavras de Sérgio Godinho são traduzidas em imagens que revelam a essência das canções. “Acabámos por reinventar uma canção”, reforça Ana Biscaia, a quem coube ilustrar o tema “Emboscadas”, um original do disco “Na Vida Real”. Ainda que reconhecido por todos, Sérgio Godinho apresenta pormenores encobertos que, como adita o ilustrador Esgar Acelerado, obriga os que se aventuram a desenhar as músicas a conceberem “uma imagem completamente desprovida de qualquer referência anterior”. Esgar Acelerado é ilustrador de uma canção que remonta a 1979, “Arranja-me Um Emprego”, que 33 anos depois ainda espelha as ansiedades contemporâneas. O caráter revolucionário das canções de Sérgio Godinho é corroborado por Carlos Antunes, que assim justifica a visita da exposição à cidade de Coimbra, portadora ela própria de uma “dimensão revolucionária”. O director do CAPC assume que perante o estado onde o país se encontra é “da maior relevância poder dar voz às canções do Sérgio”, e uma das melhores formas é certamente “através das imagens criadas pelos ilustradores”, presentes na exposição no CAPC até ao dia 2 de março.

Água como ponte entre diversidade de eventos

De 1 de março até 1 de maio decorrerá a XV Semana Cultural da UC. O programa será revelado, na sua totalidade, no próximo dia 21 de fevereiro

Daniel Alves da Silva

OS CAPITÃES DA AREIA

RAFAELA CARVALHO

A XV Semana Cultural da Universidade de Coimbra (UC), subordinada ao tema “Ser de Água”, multiplicar-se-á numa programação que se estenderá durante dois meses. Polissémico, o tema permite uma pluralidade de desconstruções, simbolizadas pela diversidade de eventos e atividades que serão oferecidos aos estudantes e à cidade. A vice-reitora para a Cultura e Co-

municação da UC, Clara Almeida Santos, avança com os motivos da escolha deste tema. Em primeiro lugar, “celebra-se em 2013 o ano internacional de cooperação ao acesso à água”. A água, matriz da vida, é também símbolo do “regresso ao essencial”, motivado pelo atual contexto socioeconómico, que se manifesta através da “busca do que é mais importante”. Por último, Clara Almeida Santos salienta a “dupla perspetiva, de separar e unir”, característica da água: os oceanos que nos separam, mas também nos unem ao Brasil e ao Oriente. Regiões que marcam esta Semana Cultural. O Oriente: “neste ano comemoram-se os 500 anos da chegada dos portugueses à China”, explica a vice-reitora. Haverá, por isso, e à semelhança do ano passado, um dia dedicado ao país, a 20 de março. Por outro lado, o Brasil mar-

cará presença em eventos integrados na programação do “Ano do Brasil em Portugal”.

Uma mostra cultural para os estudantes Apesar de se ter expandido, alargando-se a uma mostra voltada para a cidade, com atividades em locais que, muitas vezes, não são espaços exclusivos da UC, a programação “é feita a pensar, em primeiro lugar, na comunidade universitária”, esclarece a vice-reitora. E embora o envolvimento direto de alguns núcleos nas próprias atividades da Semana Cultural, não se consegue “alcançar de maneira massiva o público universitário”, lamenta Clara Almeida Santos. O arranque da Semana Cultural será marcado, como habitual, pela celebração do aniversário da Univer-

sidade, no dia 1 de março. Este ano haverá uma conferência do embaixador João de Deus Ramos, vencedor do prémio UC, sendo que à noite irá ocorrer um concerto comemorativo dos 723 anos da UC, no TAGV. Intitulado “Ser de Água e Música”, o evento terá a Orquestra Clássica do Centro, sob a batuta do maestro David Wyn Lloyd, a interpretar temas que se cruzam com o espírito da Semana. Apesar da falta de motivação de alguns estudantes, que se inibem de participar em actividades culturais, Clara Almeida Santos deixa uma sugestão. “Deviam inverter a marcha e experimentar”, referindo as várias actividades “para todos os gostos”. A vice-reitora acrescenta que se cada um dos estudantes for a um dos eventos, serão “23 mil espetadores garantidos na Semana Cultural”.


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DESPORTO CAPOEIRA - COIMBRAMMA

Da necessidade da luta: um significado, uma expressão A capoeira é uma das várias artes marciais que podem ser praticadas em Coimbra. Por detrás dos rápidos movimentos que a caraterizam, escondem-se rituais de espiritualidade e músicas fortes, que a tornam numa importante fonte cultural. Por João Valadão. Fotografias por Rafaela Carvalho

“O

berimbau está tocando, a roda se está formando” na Escola De Artes Marciais de Coimbra - COIMBRAMMA. Ritmos e canções da Terra de Vera Cruz espalham-se pelo ginásio, situado no sexto piso do Centro Comercial Avenida. Um pequeno grupo ocupa-se de um conjunto de instrumentos arcaicos é a primeira parte do treino de capoeira. “É uma arte inventada pelos escravos vindos de Angola, para o Brasil”, começa por explicar o aluno e também professor de capoeira, Miguel Ruivo. Face à proibição de praticar qualquer tipo de arte marcial, a necessidade de disfarçar este costume levou à criação da capoeira. “Os aspetos mais acrobáticos da capoeira são esse disfarce, quando aparecia o fazendeiro, eles [os escravos] começavam a dançar”, adianta Miguel Ruivo. Mas se os capoeiristas viram a sua prática condenada durante o domínio português, a repressão continuou durante o século XIX, com o Governo a decretar a sua proibição em 1890. Só na primeira metade do século XX a perseguição abranda e em 1932 abre a primeira academia de capoeira do mundo. Considera pelo presidente brasi-

leiro, Getúlio Vargas, como “uma coisa bem brasileira”, a capoeira é hoje uma parte integrante da cultura do Brasil e uma arte marcial praticada um pouco por todo o mundo. A simplicidade dos seus instrumentos improvisados remete para as suas origens pobres e para as fazendas do interior brasileiro. Para contrariar a crença popular de que na capoeira o objetivo é não acertar no adversário, Miguel Ruivo sustenta que o que se aprende “o desvio de uma maneira elegante”, não descartando a possibilidade de acertar no adversário.

Ritmos e espiritualidade

Distinta pela sua história, pelos seus ritmos e movimentos, a capoeira divide-se em três estilos principais: angola, regional e o contemporâneo. Praticada pelos escravos negros nos remotos tempos de escravatura, a capoeira angola vê a sua arte personificada no mestre Vicente Ferreira ou “Pastinha”, como é conhecido. “É uma capoeira mais ligeira, mais jogada, mais lenta e muito mais elegante”, comenta Miguel Ruivo. Dinamizado pela altura da sua legalização e intimamente ligado à primeira academia de capoeira, o estilo regional move-se por um ritmo diferente. “Foi idealizado por Manoel dos

Reis Machado, o mestre “Bimba”, e é mais rápido, acelerado, mais à base da luta”, explana ainda o professor de capoeira. Com o passar dos anos a capoeira viu uma evolução, que também passou pela conjugação de elementos do estilo angola e regional. Mais do que uma luta ou um jogo, a capoeira carateriza-se pela sua espiritualidade, bem como a expressão de vidas reprimidas ou sentimentos de alegria. Miguel Ruivo esclarece que “há na capoeira angola as ladainhas, músicas que retratam variadíssimos acontecimentos”. A origem ancestral da capoeira traz com ela um significado de espiritualidade, também ligada à evolução gradual do capoeirista. Miguel Ruivo conta a ligação da arte marcial aos cultos religiosos africanos: “a capoeira está muito ligada ao candomblé e aos Orixá [divindades]”. “Muitas das músicas que ouvimos aqui são chamamentos a Iemanjá”, acrescenta. É imbuído nessa vertente espiritualista que o capoeirista realiza o seu primeiro batismo, onde recebe a sua primeira corda e o seu nome.

A capoeira na Escola da Artes Marciais

Já com alguma prática no berimbau e orientação no treino, Guilherme

Franco é um dos sete praticantes permanentes de capoeira na Coimbra MMA, um número que tem vindo a aumentar recentemente. Com oito meses de prática, o jovem explica que “era algo que queria fazer desde pequeno” e que a experiência “tem sido definitivamente benéfica”. Miguel Ruivo salienta o elevado número de alunos Erasmus a praticar esta arte marcial. Um número que, pela sua própria natureza, é rotativo de ano para ano. Através da aprendizagem de instrumentos e das próprias letras das canções, os ca-

poeiristas vão interiorizando aos poucos as origens e princípios da sua prática. O professor explica que uma das principais preocupações é “focar a parte cultural” e que “as pessoas toquem os instrumentos e se envolvam”. Para além dos treinos semanais, a escola não tem agendado eventos fixos. Miguel Ruivo lembra que o ano passado aconteceu na cidade o Eurogym, onde a Coimbra MMA deu ‘workshops’ de capoeira a pessoas de diversas nacionalidades. A interação com outros grupos dá-se com a criação de convívios, tanto a nível nacional como internacional. À motivação da prática física e à criação de novas amizades, princípios de qualquer prática desportiva, juntam-se os ritmos quentes trazidos do Brasil e da África subsariana para criar uma das artes marciais mais animadas e apelativas da atualidade.


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CIDADE

SMTUC adaptam horário de autocarros à época de carnaval

Apesar de os estudantes do Ensino Superior já estarem em aulas, o número de autocarros vai ser reduzido, à semelhança daquele praticado no mês de agosto

ANA MORAIS

João Valadão Os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC) vão adaptar o horário da sua rede de autocarros ao período de carnaval, nomeadamente de 11 a 13 do presente mês. A alteração prevê um horário semelhante ao que se de dá durante o mês de agosto, altura em que Coimbra se encontra vazia de estudantes e de parte dos seus munícipes, que aproveitam o período de férias para se deslocar para outras zonas do país. No entanto, neste carnaval, à exceção dos alunos do ensino básico e secundário, que se veem dispensados de atender às aulas, os alunos do Ensino Superior (ES) iniciaram já o segundo semestre. Segundo o administrador dos SMTUC, Manuel Correia de Oliveira, esta é uma experiência que já foi feita anteriormente. O administrador esclarece que “a oferta é feita com base na procura analisada de outros anos”. Ainda que muitos estudantes universitários se encontrem em Coimbra, os SMTUC justificam esta opção como sendo a correta. Questionado sobre a viabilidade da medida, face ao facto de os alunos universitários já terem

De a 11 a 13 de fevereiro os SMTUC vão praticar o horário de período de férias escolares iniciado o seu período de aulas, o administrador justifica a medida por esta “ser uma altura de exames”. A análise prende-se com o número de bilhetes comprados ou carregados pelos alunos do ES, que segundo o mesmo, apresenta resultados mais baixos nesta altura do ano. Os serviços adiantam

que durante o dia de hoje, dia de carnaval, os transportes poderão sofrer alterações pontuais, em virtude de diversas iniciativas relacionadas com esta celebração. Manuel Correia Oliveira adianta também que os SMTUC têm vindo a adaptar os seus horários em diversas situações, como

no período noturno. Contudo, essa adaptação não se dá unicamente através de reduções. Durante o fim-de-semana o número de autocarros disponíveis aumenta, de modo a satisfazer as necessidades dos estudantes que vêm das suas terras natal. Apesar dos cortes financeiros a

que têm sido sujeito e à falta de apoio Estatais, os SMTUC têm conseguido evitar um grande aumento de preços. Para além dos bilhetes de viagens simples, o estudante pode adquirir o passe mensal por 22 euros, um desconto de 13 euros face ao passe normal.

Novas infraestruturas não traduzem eficácia do serviço Criado no segundo semestre de 2012, o Gabinete de Relação com o Munícipe foi recentemente renovado. A avaliação à sua eficácia suscita reações mistas

João Valadão

Reinaugurado no passado mês de janeiro, o Gabinete de Relação com o Munícipe encontra-se instalado no edifício da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Sediado num espaço amplo, com

múltiplos balcões de atendimento, o espaço prima pelo seu design moderno e pela fácil acessibilidade a diversos requerimentos. Desde 2011, fruto de uma profunda remodelação, o novo Gabinete visa simplificar os processos administrativos através da conjugação de vários serviços num mesmo local. A CMC pretende assim uma maior facilidade de interação com o cidadão e uma crescente satisfação deste para com a autarquia. O espaço conta também com a instalação de senhas distribuídas pelos vários serviços, de modo a criar uma maior fluidez das filas de espera. No entanto, apesar da modernidade e facilidades oferecidas, a

satisfação dos utentes dá-se a vários níveis. Daniel Cecílio, que se descolou ao Gabinete com vista a resolver problemas de nível urbanístico, opina que o atendimento “ainda é meio confuso”. Também Luís Almeida, que procurou a renovação de uma licença para esplanada, diz que em termos de eficácia “as coisas estão iguais”, ainda que o espaço esteja “mais agradável”. Equipado com um Sistema de Gestão de Reclamações, de modo a criar uma maior eficácia na receção de queixas por parte dos cidadãos, o Gabinete conta também com técnicos especializados, sujeitos a diversas ações de formação. A comerciante Maria Coelho valoriza o espaço, que diz estar

“mais amplo, alegre e iluminado”. Por outro lado, no que toca ao serviço, a comerciante reclama que “só muda a estrutura, o atendimento não tem grandes diferenças”. A opinião é partilhada por Maria Antunes, que se deslocou para o tratar de matérias de licenciamento: “o serviço é eficaz mas até certo ponto, não consegui resolver tudo”. Contudo, para todo o munícipe que se sinta insatisfeito, a CMC disponibiliza um inquérito de satisfação, de modo a alcançar um maior número de necessidades. Este mecanismo permite assim, ao cidadão ser mais ativo na vida da autarquia, fornecendo variadas sugestões para a competência do serviço.

D.R.


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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

O homem, a evolução a três níveis: físico, social e sexual

Na nossa espécie a evolução é tudo menos linear. Há determinados traços ou caracteres que se cruzam e, mediante as hipóteses, explicam à sua maneira o percurso humano na árvore evolutiva. O certo é que não é apenas da parte física que somos como somos atualmente. Por Paulo Sérgio Santos e Joel Saraiva

RAFAELA CARVALHO

A

O polegar oponível é a capacidade de o referido dedo tocar em todos os restantes dedos da mão

evolução humana é um assunto sempre atual no cerne da comunidade científica. Um estudo recente publicado na revista “Biology Letters” aponta mais um facto explicativo acerca de caracteres existentes no nosso corpo com funções evolutivas. Segundo a pesquisa, os nossos dedos, após algum tempo submersos num meio líquido, ficam enrugados, o que pode explicar uma melhor capacidade de controlar objetos que se encontrem debaixo de água. A pele enrugada apresenta uma estrutura similar aos pneus dos automóveis, isto é, a textura permite uma maior drenagem do líquido envolvente, facilitando assim a aderência, argumentando então a favor da teoria do macaco aquático. Esta hipótese postula que os nossos antepassados poderão ter passado por uma fase semiaquática, explicando ainda algumas características tais como a perda de pêlos corporais e o bipedismo. A docente da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Lisboa (ESELx), Cristina Cruz, começa por referir que os pêlos corporais “passaram a ser supérfluos, embora mante-

nhamos um conjunto de pilosidades que aparentam ter uma função específica, como é o caso das sobrancelhas, que nos permite impedir que o suor escorra para os olhos”. Olhando para os nossos antepassados, a diferença é notória. “A seleção evoluiu no sentido de ser mais vantajoso existirem estratégias de proteção do que propriamente a camada de pêlos que nos protegia”, explica Cristina Cruz. A hipótese do macaco aquático não é a única que tenta aclarar a postura erecta, a passagem de um modo de locomoção quadrúpede para bípede. Cristina Cruz adianta que as justificações atuais prendem-se com “a libertação das mãos, permitindo o transporte de utensílios e o desenvolvimento da motricidade fina, o alargamento do tempo de gestação e o aumento da capacidade craniana e consequente complexificação das aptidões cognitivas”. O polegar oponível (capacidade de o referido dedo tocar em todos os restantes dedos da mão) tem uma ligação à motricidade fina e à capacidade de fabricar instrumentos, responsável pelo “surgimento de uma linguagem mais rudimentar. Existe

uma relação entre a capacidade de motricidade e a zona do cérebro onde está localizada a linguagem”, explicita a docente da ESELx. Em termos fisionómicos, a mudança de uma dieta herbívora para uma de génese carnívora/omnívora pode explicar a relação entre a diminuição do aparelho digestivo e o aumento do cérebro. “Uma dieta à base de frutos e folhas implica uma maior fermentação e um aparelho digestivo de maiores dimensões para fazer o processamento das fibras”, refere Cristina Cruz, o que justifica que uma dieta mais à base de carne, e consequentemente mais proteica, tenha contribuído para o aumento do tamanho do cérebro, o órgão do corpo humano que mais energia gasta.

Sexualmente social

“Nós somos um animal social”, inicia o docente do Departamento de Ciências da Vida da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (DCVFCTUC), Paulo Gama Mota. Portanto, nem só de evolução física é feito o percurso do homem ao longo de milhões de anos. Existem caracteres sociais e sexuais

com funções marcadamente evolutivas. “A sociabilidade e vivência em grupo é uma característica herdada dos nossos antepassados primatas. Em termos biológicos a vivência em grupo tem vantagens no que diz respeito à proteção contra predadores, controlo de território e recursos, proteção contra rivais, etc. Nas sociedades humanas tem ainda a vantagem adicional de podermos usufruir da cooperação e entreajuda”, demonstra a docente da Universidade Nova de Lisboa (UNL), Cláudia Sousa. A nossa própria evolução faz intersetar a evolução de diversas características, como a passagem do quadrupedismo para o bipedismo com o momento em que começa a prevalência da visão sobre o olfato, “quando afastámos a cara do chão”, afirma Cristina Cruz. O uso preferencial da visão permitiu que passássemos a “conseguir ver a uma grande distância e isso permite-nos não só detetar potenciais predadores como ver presas, encontrar alimento e ver indivíduos da nossa própria espécie”, acrescenta Paulo Gama Mota. Doutorado pela Universidade de Nottingham, Keith Harrison,

autor do livro “O Nosso Corpo – O Peixe que Evoluiu”, expõe outro facto curioso: a existência de mamilos nos homens. Cristina Cruz começa por demonstrar que “os cães também têm mamilos e não amamentam, é uma questão transversal”, para que se perceba a explicação de Keith Harrison, “talvez seja um facto surpreendente, mas todos os embriões iniciam o seu desenvolvimento no útero como embriões femininos”. É, depois, o início da produção de testosterona que vai diferenciar os fetos em femininos e masculinos e o evidente não desenvolvimento de seios nos homens. A nível sexual, outra questão interessante é a da menopausa. “A mulher não pára de procriar tão cedo. A nossa esperança média de vida é que tem vindo a aumentar criando esse período pós-menopausa em que as mulheres já não podem produzir filhos”, sustenta Cláudia Sousa. Paulo Gama Mota refere a existência de outras teorias, como a hipótese da avó: “a menopausa evolui como forma de garantir que os avós pudessem cuidar dos netos e assim aumentar a qualidade dos cuidados parentais”.


10 | a cabra | 12 de fevereiro de 2013 | Terça-feira

Uma Biblioteca...

500 ANOS BGUC

não para alunos mas para

estudantes

A Biblioteca da Universidade de Coimbra comemora este ano meio milénio de experiência na interação com o livro. Todavia, não é o passado que agora se celebra, mas sim um futuro para o qual se idealiza uma “congregação” dos diversos saberes. exto por Rafaela Carvalho e Ian Ezerin. Fotografia por Rafaela Carvalho

E

m que outro sítio podemos encontrar uma primeira edição d’”Os Lusíadas” de Luís Camões na mesma prateleira de uma Bíblia Hebraica manuscrita do século XV? Ou o manuscrito de “Frei Luís de Sousa” de Almeida Garrett, bem como a versão enviada para imprimir, a poucas salas de distância do primeiro livro clandestinamente impresso no Brasil – “Relação da entrada que fez… D. António do Desterro Malheyro, Bispo do Rio de Janeiro, em 1747… para esta Diocesi…”, de Luís António Rosado da Cunha? “É uma biblioteca rica porque conserva no seu acervo obras insubstituíveis”, refere José Augusto Bernardes. O diretor da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra (BGUC) acredita que “nas bibliotecas a antiguidade é um valor em si mesmo”. Ao edifício situado no Largo da Porta Férrea as obras chegam por depósito legal [cerca de 15 mil por ano], aquisições, incorporações e doações. Estas últimas têm sido declinadas pela direção já que não dispõe de espaço para as incorporar. Por esta e outras dificuldades, José Augusto Bernardes considera que as comemorações do 500º aniversário, mais do que “chamar a atenção para aquilo que a Biblioteca foi, servem para chamar a atenção para as suas necessidades e para a mais-valia que esta representa numa universidade”. Se já a 12 de fevereiro de 1513, a primeira referência à “Livraria de

Estudo” referia a necessidade de consertar canos que deixavam entrar água e de colocar cadeados nos livros para evitar furtos e manter a ordenação, depois de quinhentos anos as dificuldades, ainda que outras, mantêm-se. Falta de recursos humanos, de meios informáticos e tecnológicos, bem como de financiamento para

manutenção e aquisição de obras valiosas e relevantes são alguns dos problemas que preocupam a direção da biblioteca. Ainda assim, é a ausência de espaço e conforto que mais inquieta o diretor.

“Um estímulo para a curiosidade”

“É um edifício moderno, bonito, e é

um edifício que foi planeado para suprir as necessidades da universidade ao longo de 50 anos. Os 50 anos acabaram no ano passado e, portanto, estamos confrontados com a necessidade de encontrar soluções para os problemas de saturação”, refere José Augusto Bernardes. Na perspetiva do diretor, para

No primeiro andar da BGUC encontra-se a Livraria do Colégio de São Pedro - reconstruída depois da demolição da


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500 ANOS BGUC além de uma biblioteca ser um guardião de tesouros tem também uma função centralizadora. Augusto Bernardes idealiza um espaço confortável de “congregação dos membros da comunidade universitária - estudantes, professores, investigadores - que cultivam os saberes diversos”. Um “estímulo à curiosidade” é a estratégia que a BGUC pretende servir para que os estudantes passem a ser mais do que meros alunos. “Numa universidade não deveria haver alunos, mas apenas estudantes. O aluno é aquele que absorve o saber que lhe é proporcionado e se resigna, o estudante é aquele que constrói pessoalmente, lentamente, o seu saber já que este é fugidio e pressupõe uma atitude indagativa”, sustenta Augusto Bernardes.

Os livros precisam de carinho

Para as comemorações dos 500 anos que agora se celebram, está prevista a digitalização de 500 preciosas obras. A direção da Biblioteca compreende a importância deste processo já que nem todos os utentes necessitam de ver os originais e a digitalização permite evitar a exposição frequente que leva ao desgaste. No entanto, Augusto Bernardes defende que “isso não implica que não seja preciso gastar dinheiro para conservar os originais”. A BGUC necessita assim, e novamente as questões de espaço são referidas, de uma área mais vasta e mais condições tecnológicas. “Temos tido sobretudo a preocupação de manter, o que já significa gastar muito dinheiro com os livros que se degradam, que carecem de cuidados, de zelo, de carinho”, explica. “Não tínhamos cá a trabalhar ninguém na encadernação, só há pouco

tempo é que temos” - refere a técnica superior Luísa Machado - “e não temos nenhuma oficina mesmo de encadernação. Normalmente as nossas obras, quando há meios para poder fazer os restauros, têm sido mandadas para a Biblioteca Nacional”.

Preservação do património

Apesar das dificuldades económicas a que a Biblioteca Geral não escapa poderia considerar-se a hipótese de venda de obras valiosas para suprir as necessidades financeiras do dia a dia. No entanto, José Augusto Bernardes descarta veemente esta hipótese. “Nunca. Está fora de causa. Esta biblioteca é antiga, é extensa, é rica e assim quer continuar”, assevera o diretor. Até porque o livro é, acima

de tudo, um veículo para a transmissão da cultura e para a garantia da memória histórica. “Estamos num tempo de descaso em relação à memória e à cultura”, refere Augusto Bernardes, que defende o livro como um elemento essencial. “Há muitas universidades no mundo que disputariam a existência de uma biblioteca como esta”, admite o diretor explicando que, por essa mesma razão, há uma necessidade de que a universidade a preserve e continue a dar-lhe condições para que seja uma das melhores bibliotecas universitárias de todo o mundo lusófono. E, para além disso, é necessário que os estudantes continuem, como têm feito até agora, a procurá-la como complemento ao seu trabalho académico e até mesmo depois de deixarem de ser estudantes.

“Esta biblioteca é antiga, é extensa, é rica e assim quer continuar”, assevera o diretor da BGUC que decarta a hipótese de venda de obras para supressão de necessidades

Augusto Bernardes lamenta que a primeira edição d’”Os Lusíadas” não esteja nas melhores condições

CALENDÁRIO COMEMORATIVO No próximo dia 22 de fevereiro de 2013 realiza-se na Biblioteca Joanina a primeira cerimónia evocativa dos 500 anos da Biblioteca da Universidade de Coimbra que contará com a presença do Secretário de Estado do Ensino Superior, João Filipe Queiró. Ao longo de um ano de festejos, até fevereiro de 2014, o público poderá assistir ao ciclo “Conversa da Biblioteca” que terá a sua primeira sessão em abril do presente ano com a professora Irene Pimentel a falar sobre “Memória e Biblioteca”. Exposições, atos memoriais, espetáculos teatrais e musicais, bem como a publicação de novas edições e até a reedição de documentos e de livros raros. “Os nossos tesouros”, valoriza Augusto Bernardes. “Vamos tentar reeditar livros que a biblioteca editou noutros tempos, que na altura foram ‘bestsellers’ e que estão hoje esgotados”, explica o diretor. Para janeiro de 2014, entre os dias 16 e 18, está marcado o Congresso Internacional sob o tema “A Biblioteca Universitária: permanência e metamorfoses” que contará com a presença, quase certa, do diretor da Biblioteca da Universidade de Harvard e do diretor da Biblioteca da Universidade de Salamanca. “Iremos até onde pudermos ir neste esforço de dar a conhecer a BGUC à comunidade universitária de Coimbra, ao país e porque não dizê-lo ao mundo”, afirma convicto José Augusto Bernardes. O restante programa pode ser consultado no sítio online da BGUC, no separador dedicado ao aniversário e à história da biblioteca.

ão da antiga Faculdade de Letras que deu lugar ao actual edifício - na qual se integra o busto do santo, em calcário de Ançã, esculpido antes de 1548 por João de Ruão segundo se supõe.


12 | a cabra | 12 de fevereiro de 2013 | Terça-feira

PAÍS

PENT inviável face à realidade atual

RAFAELA CARVALHO

O Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT) elaborado em 2007pressuponha metas “irrealistas”. O setor necessita de adequar-se ao panorama económico atual

António Cardoso

O Turismo “contribui com um saldo de 5 mil milhões de euros para a balança de bens e serviços, representando mais de 10 por cento do emprego em Portugal”, sendo das maiores atividades exportadoras do país, como refere o ex-secretário de Estado do Turismo, Bernardo Trindade, e também responsável pelo Plano Estratégico Nacional do Turismo de 2007. O mesmo encara o turismo como "uma atividade de futuro e com futuro”. O Plano aprovado em 2007 propunha um aumento na receita direta do Turismo, entre os 11 e os 12 mil milhões de euros, representando 14 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), conferindo um aumento em cerca de 4,6 por cento o número de turistas que visitariam Portugal. O objectivo era que a implementação dos produtos turísticos promovessem um desenvolvimento equilibrado e sustentado de todo o território. “Os objetivos inicialmente previstos não foram cumpridos”, afirmou no final de 2012 ao Jornal ‘Público’, a última Secretária de Estado do Turismo, Cecília Meireles. A estratégia da altura apontava uma subida no número de hóspedes, fixando-se atualmente 13 por cento abaixo do esperado. As dormidas de turistas estrangeiros cresceram apenas

O PENT foi submetido a um período de consulta que terminou no passado dia 31 de janeiro

0,7 por cento, em vez dos 4,6 por cento previstos. Estas declarações de Cecília Meireles foram dadas numa altura em que se concluiu a revisão do Plano Estratégico Nacional do Turismo, que vai estabelecer a estratégia do sector para o triénio entre 2013 e 2015.

Como a crise afetou o setor

O PENT aprovado por Bernardo Trindade criou um problema, ao estimular o crescimento do número de camas, sendo que essa procura esperada não foi confirmada, como evidenciam as estatísticas de Turismo, do Instituto Nacional de Estatística. A crise financeira mundial de 2008 afetou o setor, pondo em causa os pres-

supostos de um modelo baseado no forte crescimento da oferta qualificada de hotéis de quatro e cinco estrelas e ‘resorts’. “As metas, os produtos turísticos, as diferentes relações e as parcerias”, são nas palavras de Bernardo Trindade, questões essenciais para uma visão integrada no processo de revisão do documento. O Plano Estratégico foi recentemente alvo de um período de consulta pública que teve o seu término a 31 de janeiro do presente ano. O plano, apesar de prever uma adequação a uma nova realidade nacional e internacional, tem “como maior desafio, a implementação em todo o país”, assevera o diretor do grupo hoteleiro.

Aposta no turismo religioso

Durante o período de consulta fizeram-se ouvir algumas opiniões, nomeadamente a do Turismo do Porto e Norte de Portugal, presidida por Melchior Moreira, considerando a atual proposta de revisão uma melhoria substancial quando comparada com a primeira versão, opinião emitida em comunicado de imprensa. Embora não o considere totalmente satisfatório, aponta a necessidade de tornar “o turismo religioso como um produto estratégico”. O presidente da Confederação de Turismo Português, Francisco Calheiros é mais crítico e considera o modelo de revisão proposto demasiado ambicioso ao

não contemplar a programação financeira 2014-2020. O facto de não incluir produtos como o turismo religioso, turismo desportivo e outros no estatuto de estratégicos é outra falha pontada, como refere em comunicado. Portugal é dos países europeus com mais potencial no turismo religioso, de natureza, de saúde, de negócios e de eventos. Fundamentando-se nessa perspectiva o também diretor do grupo hoteleiro Porto Bay, instalado na Madeira, alerta para a necessidade de uma estratégia tomada com “consciência e prevendo uma cultura turística”. Ainda assim, o PENT foi elaborado na sua alçada.

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MUNDO

Expansão económica não traduz liberdades nos média angolanos

Baseado num poder político cada vez mais centralizado, o crescimento económico de Angola não se distribui de forma igual pela sociedade. Com mecanismos de controlo diversos, o Governo tem tentado manipular a opinião pública no país e a difusão de informações para o exterior. Por António Cardoso e João Valadão

O

RAFAELA CARVALHO`

desenvolvimento económico de Angola, que tem tido uma dimensão cada vez maior nos últimos anos, contrasta com a falta de direitos e liberdades oferecidas pelo Governo de José Eduardo dos Santos. O poder centralizado, que se personifica na figura do presidente, alicerça-se numa vasta rede de ligações com grandes grupos de vários setores económicos com relações próximas com o poder político. Na comunicação social poucos são os órgãos que têm plena liberdade, a grande maioria encontrase sobre controlo apertado do Estado ou limitado pelas decisões administrativas de grupos com influências do Governo. O professor e sócio do Centro de Estudos Africanos (CEA) do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Eugénio Costa Almeida, reitera que “alguns diretores tentam dar uma visão muito mais independente e nada subalterna do poder económico”, o que vai contra a tendência dominante.

O controlo nas várias frentes de comunicação

“Em termos de comunicação de imprensa existe apenas um órgão livre, que é o Folha 8, mas basta ver o que se passa com William Tonet [director do semanário]”, adianta o docente. Julgado em 2011, o diretor do Folha 8 foi condenado a um ano de prisão pelo crime de difamação e calúnia a altas figuras do Governo angolano. Em todo o país existe um único jornal diário, o Jornal de Angola. Sob alçada direta do poder central, a publicação foca-se na publicação de eventos de índole política. As restantes publicações do país têm uma periodicidade semanal e estão circunscritos a Luanda, ainda que a Constituição angolana preveja a sua expansão para fora da capital. No que respeita aos meios radiofónicos existe apenas a Rádio Nacional de Angola e emissores locais, que também vêm o seu crescimento travado. O serviço televisivo nacional é tendencialmente público desde a sua fundação, sendo a Televisão Pública de Angola (TPA) a sua maior expressão. O surgimento da TV Zimbo, em 2007, criou um caso de aceitação tácita por parte das autoridades reguladoras, embora esta legalmente não exista. “O Governo orientou certas empresas para retirarem a sua publicidade dos jornais para que esses

entrassem em crise financeira”, assevera o jornalista e fundador da webzine informativa Club-K, José Gama. Para suportar essa falta de financiamento o Governo envolveu grupos empresariais próximos, que compraram esses órgãos, estendendo o domínio politico nesse setor, explica o jornalista. Na área das ciências da comunicação a única oferta passava pelo equivalente a um instituto de formação profissional, que transmitia competências básicas das práticas jornalísticas. Com o fim da guerra em 2002 surgiram duas universidades privadas e uma universidade estatal que introduziram cursos de comunicação no Ensino Superior, no contexto angolano. No entanto, o fundador do Club-K assegura que os “grandes jornalistas angolanos não foram produzidos pela universidade, mas são forjados do ventre da guerra”. Os organismos de comunicação angolanos demonstram geralmente receio do contacto com o exterior, vítimas de pressões exercidas pelas chefias que temem a difusão da realidade nacional, no contexto de imprensa mundial. “A cooperação é feita de forma isolada e de maneira pouco formal”, segundo José Gama.

Influências no universo dos media portugueses

O Jornal de Angola é a única publicação diária em todo o país

“São pensadas por razões políticas” corrobora o editor da webzine Club-K referindo-se às recentes tentativas por parte de empresas angolanas em adquirir grupos de comunicação portugueses. “É uma forma de adquirir o controlo, pois é a partir de Portugal que os media internacionais tomam conhecimento da realidade angolana”. No entanto, o jornalista acrescenta que estes negócios só são concretizáveis com o aval da presidência de Angola, devido ao seu volume, que ascende a vários biliões de euros. Projetada em termos de futuro, Angola, enquanto potência emergente, a par de África do Sul, assume-se como Estado diretor ao nível da Africa Austral. O associado do CEA do ISCTE-IUL acrescenta ainda que Angola “necessita de uma alternância de poder e ao mesmo tempo de transmitir o poder para as instituições”. Dando um parecer mais abrangente, o investigador afiança que o país “será aquilo que os seus dirigentes e os angolanos quiserem”.


14 | a cabra | 12 de fevereiro de 2013 | Terça-feira

CINEMA

ARTES

Django Libertado DE QUENTIN TARANTINO COM JAMIE FOXX CHRISTOPH WALTZ LEONARDO DICAPRIO

2012

Malcolm XXX

VER

CRÍTICA DE JOÃO TERÊNCIO

A

s quatro histórias que compõem esta caixa evocativa da obra de Béla Tarr mostram-nos como ele gosta de representar o seu universo artístico: descrição simples e clássica do preto e branco e a filmagem de planos lentos e demorados, reveladores de uma beleza assombrosa. Percebemos que o húngaro não vai em modas na realização de filmes que se contam em pouco tempo por sequências cheias de ação e acontecimentos. Aqui, um novo cinema é-nos proposto pela contemplação de cada plano como fotografia, devendo ser apreciado, digerido e escrutinado pelo espectador. É o tempo personagem, dominante, impondo a velocidade real às cenas, sem recurso a cortes e acelerações ha-

bituais nos filmes de hoje. Os filmes falam da Hungria dos que vivem longe dos grandes centros urbanos. Tudo é provinciano, todos se conhecem e se relacionam. Há um amor que leva um homem quase ao desespero (Danação); a chegada do circo com uma baleia embalsamada que atrai a atenção de muita gente e provoca o caos (As harmonias de Werckmeister); a luta dos habitantes de uma quinta comunitária por melhores condições de vida, perturbados pela chegada de um membro que todos julgavam morto (O tango de Satanás); e a rotina de pai e filha cujo isolamento se acentua pelo vendaval constante premonitor de desgraças, sequente ao episódio no qual o filósofo Nietzsche perdeu a razão (O ca-

“W

hat has four “i”s and can’t see?», perguntava uma anedota, cuja versão escrita perde parte do encanto. A resposta? Mississipi. É aqui se desenrola parte de “Django Libertado”, retrato vibrante da América esclavagista e tacanha, pré-guerra civil, e o último Tarantino a incendiar salas de cinema e a imprensa em todo o mundo. Fetichista de géneros e criador do seu próprio nicho, o obsessivo-compulsivo realizador atiça desta vez o ‘western-spaghetti’ à ‘blaxploitation’, glorificada por filmes como “Shaft” (a quem pisca o olho no apelido da personagem feminina - e tema já abordado em “Jackie Brown”), revolvendo pelo caminho as entranhas da delicada moral americana. O passado de discriminação e abuso que ainda hoje, na era Obama, assombra o quotidiano dos EUA é contado através da

valo de Turim). São reflexos de tristeza, dor, sofrimento e desespero acomodados em cenários desoladores de frio, vento e chuva. Uma chamada de atenção para a desgraça e má sorte alheia, um mundo capaz de ser reproduzido aqui bem perto, ao nosso lado, desde que para isso haja homens. Só a filmografia é extra na colecção composta pelas cerca de catorze horas dos filmes (só O tango tem 7h25m!) que, embora nos encham em grande parte as medidas, não nos saciam a vontade de conhecer o homem por detrás da câmara. Falta-nos a imagem do criador, pois logo no primeiro encontro com Tarr pressentimos estar na presença de um gigante. CAMILA FIZARRETA

viagem de King Schultz e Django, o escravo que compra e de quem se torna mentor. Spike Lee reavivou uma querela antiga ao criticar a abordagem, a seu ver, demasiado recreativa, sobre a escravatura e o uso em demasia do calão ‘nigger’ (ouvido, segundo os contabilistas de Hollywood, mais de 100 vezes durante o filme). Também disse que não iria ver o filme para não desrespeitar os seus antepassados valha a verdade, hoje em dia preferimos vê-lo nos jogos dos New York Knicks. Tarantino também se fartou e explodiu perante o enésimo jornalista que o acusou de incentivar a violência na vida real com os seus filmes. Este excesso está inscrito no seu cartão de cidadão, não é apenas maquilhagem. Nota-se ainda, desde “Kill Bill”, o acrescido fascínio pelos efeitos visuais ‘gore’ (ver também: amizade com Robert Rodriguez). Ao cuidado do director de ‘casting’:

parabéns. Jamie Foxx é um Django cheio de alma e Christoph Waltz volta a valer por si só o preço do bilhete como, caçador de recompensas. Na equipa dos vilões, Di Caprio é o Mal em estado refinado e é deliciosa a forma como Samuel L. Jackson fecha um círculo iniciado em “Pulp Fiction”, encarnando um criado xenófobo para com a sua própria classe. Já a trilha sonora é tão adequada que se funde com o capim e há até um rasgo de contemporaneidade, ao alistar o beligerante ‘rapper’ Rick Ross. O último Tarantino está nomeado para os Óscares mas o seu autor fez questão de sabotar qualquer hipótese de ganhar a estátua, algo que percebemos tanto mais quanto mais Django se aproxima da liberdade. E há ainda o branco Lincoln na disputa. O preconceito, denunciado. O sangue, justificado. O nosso aplauso, obrigado.

Coleção Béla Tarr FILME

DE BÉLA TARR EDITORA

MIDAS 2012

Jamais poderemos viver bem com o mal dos outros

Artigo disponível na:


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FEITAS

OUVIR

LER

N

Abraçaço

ão é preciso apresentar Caetano Veloso, mas é A Bossa Nova preciso explicá-lo a muita gente que não lhe tem é Foda dado a devida atenção. Mais do que um músico e um excelente escritor de canções, Caetano é acima de tudo um experimentalista. Sempre foi, mesmo que ao grande público tenham chegado apenas as suas canções mais simples. Aos 70 anos é um nome incontornável da música mundial e um desses homens raros que tenta desafiar os conceitos de velhice ou reforma. “Abraçaço” surge como o terceiro álbum de uma série comeDE çada em 2006 com o álbum CAETANO VELOSO “Cê”, seguido de “Zii e Zie”, e que ganha agora um terceiro EDITORA tomo em jeito de finalização de UNIVERSAL trilogia. Uma exploração de sonoridades mais modernas que 2012 passam pelo ‘noise’ e visitam o rock mais psicadélico, sem nunca esquecer a ginga do samba e as raízes baianas que Caetano leva sempre consigo. Começa em jeito de declaração de intenções com a “Bossa Nova é Foda”, invocando, o ‘funk’, o rock e um punho de lutadores brasileiros do UFC, para proteger a delicadeza do género, restaurar-lhe a ‘coolness’, e assegurar-lhe respeito. Segue-se “Abraçaço” - tema título em jogo de guitarras com direito a solo ‘fuzz’ para que o abraço seja mesmo de aço. Por todo o disco as guitarras estão presentes. Por vezes em toadas minimalistas para que realce a mensagem, às vezes social como em “Um Comunista”, outras sexual como na excelente “Quando o Galo Cantou”. No entanto é em “Funk Melódico” que todo o seu trabalho com a banda desde “Cê” fica resumido, ligando liricamente e sonicamente todos os discos, ritmo “favela”, sobre guitarras fortes e raiva por um amor que não compensa. É dessa raiva que se movimenta Caetano, raiva contra a sedentarização e pela ‘geriatrização’. Que ninguém o pare porque nunca pareceu tão novo. LUÍS LUZIO

Quando tudo nos trama, só nos resta uma Baikal

DE RICARDO ADOLFO EDITORA ALFAGUARA 2013

tudo, chega a um bar que também é carreira de tiro de um retornado, que lhe dá a conhecer a sua fofa caçadeira Baikal de canos serrados – o selo para as contas com a vida. O romance, ágil e rápido, é escrito em pequenos textos dirigidos ao namorado, não como carta, mas como ‘posts’ de Facebook, obrigando-nos a um ritmo frenético. E nessas actualizações de estado, o velho vai ganhando milhentos nomes diferentes: subsídio, amor velho, puta do nossa coração, hemorroida monga e continua… A escrita foge ao português correcto, abraçando os atropelos da oralidade na gramática. É com o português suburbano que Ricardo Adolfo nos mostra o Portugal de futuros cegos e turvos, de posições sociais que não se misturam, de quando tudo o que se tem é sexo porque o resto é retirado. “Maria dos Canos Serrados” é um exercício sobre alguém desprovido de tudo, num meio suburbano selvático e sem dó nem piedade. Um retrato nu, contemporâneo, em que Maria vê os sonhos desfeitos e tudo o que lhe resta é a Baikal. O ritmo brusco e a história desconcertante, entre o ‘pulp’ e o romance, convence-nos a dar razão a Valter Hugo Mãe: a literatura portuguesa há-de passar por aqui. JOÃO GASPAR

JOGAR

Homem em Fúria

GUERRA DAS CABRAS A evitar

Fraco

Podia ser pior

Vale a pena

A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Artigos disponíveis na:

M

aria é descarada, desvairada, presa nos subúrbios de Lisboa onde, a determinado momento, parece que tudo a abandona. É ela Maria dos Canos Serrados, mulher de língua destravada a puxar de um português de feitio complicado, erguida pelo escritor Ricardo Adolfo. No seu terceiro romance, Ricardo Adolfo, num estilo já seu, não se põe com lérias nisto de dar voz à Maria, a narradora que nos fala na primeira pessoa do plural como se tivesse costas bem quentes para tanto insulto desbocado. Maria é mulher de corpo feito, com droga mas poucas referências. Assim que o livro arranca, perdeas todas. O namorado arranja carreira como gigolô de velhacas flácidas, a empresa onde trabalha vai com as ortigas e o dinheiro nem vê-lo. De repente, depara-se consigo mesma desempregada e em bancarrota orçamental. E Maria, fica ali, na sua casa, a escrever para o namorado negligente, com a sua “Buffy” (assim a chama) desesperada por sexo do velho. Relação tempestuosa essa com o seu “preto”. Ora de entrega compulsiva ora de apedrejamento de todo o português que possa ajudá-la a mandá-lo à merda. Sem dinheiro, sem amor, sem norte, Maria fala de uma crise, da sua, de se perder, e de cair. E, no meio de

Maria dos Canos Serrados

PLATAFORMA DISPONÍVEIS PS3, XBOX 360, PC EDITORA ROCKSTAR 2012

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ora das mãos da Remedy (que foi fazer o gostosíssimo “Alan Wake”), e sem Sam Lake para orquestrar os seus estudos de género, “Max Payne” despiu-se da sua gabardine, e partiu de t-shirt havaiana e óculos de sol para o Brasil. Com Dan Houser no leme do argumento, este fez aquilo a que está habituado na série “GTA”, e usou Payne como desculpa para mais uma das suas truculentas sátiras sociais, desta feita sobre o nosso país irmão e a sua obscena desigualdade social. Num ersatz do “Man on Fire” de Tony Scott, Max é agora um guarda-costas alcoólico assolado por fantasmas do passado, a viver num país que não compreende e numa demanda para salvar uma ‘femme fatale’ que não soube proteger. É na representação do Brasil que se vê o valor desta sequela desnecessária; há aqui uma sofisticação técnica inexistente noutros jogos da Rockstar, onde a dimensão maximalista do mundo não permitia uma autoria mais cuidada e significante como num título linear. Detalhes culturais e estéticos do país ganham vida em cenários de cariz realista repletos de contrastes: de um lado as trevas da pobreza nas favelas, do

Max Payne 3 outro, os ‘neons’ garridos das ‘boates’ e dos arranha-céus opulentos da classe dominante. Payne não é indiferente à injustiça que o rodeia e está mais humano que nunca: já não se movimenta como um boneco hiperquinético, mas como um bêbedo pesado e velho e torturado. As melancolias electrónicas dos Health pautam o seu estado emocional de forma ardilosa: está quebrado, menos poético e mais rude. Houser quis fazê-lo mais McLane que Marlowe, e apenas a verbosidade cáustica e fatalista da personagem de Lake permanece intacta. “Max Payne 3” acaba assim por transitar o espaço ficcional da hipérbole ‘noir’ dos seus predecessores para algo mais próximo das fantasias de acção dos anos 80/90: boçais, hiper-violentas e populistas, mas com um texto bem escrito e repleto de personagens icónicas armadas com boas ‘punchlines’. Como um blockbuster digno, “Max Payne” é entretenimento comercial que reconhece a mais-valia de uma execução técnica e formal aprimorada – e isso distingue-o de sobremaneira do panorama videolúdico norte-americano. RUI CRAVEIRINHA


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SOLTAS O GESTO

CRITIC’ARTE

UMA IDEIA PARA O ENSINO SUPERIOR GONÇALO QUADROS • EX-CONSELHEIRO E PROFESSOR DA FCTUC

AINDA É BELO O “Cinema À Segunda” já se tornou uma referência na programação do TAGV, com uma selecção acertada de películas que procuram ser, por pretensão própria ou por definição da crítica, representantes do cinema contemporâneo. Um conceito sempre problemático, numa época em que se torna, à primeira vista, impossível desbravar novos caminhos na evolução do cinema sem cair, na melhor das hipóteses, no excesso de reverência ao glorioso passado da sétima arte, ou, por outro lado, redundar na preguiça do plágio descarado. Holy Motors é um filme que divide opiniões. E foram muitos os que assistiram ao filme no TAGV e o puderam comprovar. Se, por um lado, há quem vislumbre na mais recente obra de Leos Carax apenas o desfilar de personagens interpretadas por um genial Denis Lavant, sem uma aparente ligação entre as várias máscaras que o ator assume, existe também um grupo que se apercebe do fio condutor que cose habilmente a narrativa. Recuperando, por exemplo, uma personagem nascida no segmento que o cineasta francês realizou para a antologia “Tóquio!”, o carismático monsieur Merde, Carax estabelece um diálogo entre as duas obras. Um diálogo que se estende ao próprio Cinema. As várias personagens que interpreta e se confundem com as várias vidas de Oscar (não será por acaso que o misterioso homem possua um dos nomes reais do realizador) criam pontes com géneros distintos como o musical ou o drama. Cada personagem-máscara traduz-se numa diferente conceção de um cinema que se aprecia a si próprio, ainda que nenhum espetador o queira ver. Resumida na “beleza do gesto”, mote do diálogo de Oscar e da personagem interpretada por Piccoli. Uma beleza que não deixa ninguém indiferente, despertando ódios e paixões.

Por Filipe Moreira

D.R.

AAC

MENOS UNIVERSIDADES, MELHOR UNIVERSIDADE Vivemos tempos tremendos. Tempos em que nos anunciam uma refunda-

ção. Precisamos de nos refundar, sim. Não a refundação de que nos falam os políticos mas uma que seja capaz de nos tornar mais exigentes, muito mais exigentes, em relação a eles. Estamos numa encruzilhada. Portugal tem de crescer. O nosso futuro é crescer. De nada nos vale estarmos de novo nos mercados, ou sermos os meninos lindos da ‘troika’, se não o conseguirmos fazer. E a única forma de o conseguirmos, sustentadamente, é produzindo e utilizando conhecimento. Não temos, felizmente, nenhum recurso que possa ser economicamente mais relevante. Somos nós, cada um de nós e em conjunto, aqui e não noutro lado qualquer, que temos de construir o que queremos para as nossas vidas. Já mostrámos que somos bons a produzir conhecimento. Temos de mostrar que podemos ser bons a gerar valor, riqueza, bemestar, com ele. Para isso precisamos de tempo, de visão e de determinação. E precisamos, claro, das Universidades. Precisamos que elas cumpram bem a sua missão. Que sejam exigentes, rigorosas, e ambiciosas – e que façam crescer pessoas assim. Que se situem entre as melhores a produzir conhecimento, ciência e tecnologia. Para que através delas possam contaminar a sociedade e a indústria, tornando-as melhores, mais bem preparadas, mais capazes de sustentar os valores em que acreditamos e de criar a riqueza que desejamos.

Precisamos, em resumo, de Universidades excelentes. Precisamos delas apesar dos parcos recursos que nos sobram, e, mais ainda, por causa deles. Urge para isso reduzir substancialmente o número de estruturas que constituem a nossa rede de ensino superior público. Retirar recursos por igual a todas elas não tem qualquer virtude – prolonga as más e destrói as boas. É essencial, também, reestruturar a sua oferta, torná-la racional, pensar o sistema para que, em competição, não alimente o desperdício materializado em cursos que não lembram ao diabo ou cursos que existem aos molhos. Urge ainda ousar impedir os sucessivos cortes acéfalos e evitar aquilo a que eles inevitavelmente nos conduzirão: a disrupção do ciclo virtuoso de produção de conhecimento e ciência que caracteriza uma qualquer boa Escola. Os mais velhos têm de poder transmitir aos mais novos o conhecimento que produziram, sobre o qual esses construirão novo conhecimento que por sua vez transmitirão aos que lhe seguirem,

numa espiral virtuosa e criativa de sentido oposto à que os nossos recessivos políticos sabem gerar. Em resumo, a Universidade tem de ser capaz de reter os melhores jovens para que o ciclo de geração de conhecimento não se quebre e para que possamos sustentar a produção da ciência e da tecnologia que precisamos para construir uma economia capaz de estar entre as melhores. Que se extinga o que não é necessário ou o que não tem qualidade. E que se invista com o que se conseguir daí ganhar numa universidade que nos possa iluminar e tirar do sítio escuro onde estamos. Sem universidade digna do nome restarnos-á o túnel s e m fundo e sem luz.

D.R.

“FOI UMA NOITE DE VERDADEIRO FAROESTE!”

Testemunhos e outras curiosas histórias de Francisco Linhares

Ser porteiro à noite da Associação Académica de Coimbra. Isso eu conseguia fazer. Só que foi muito complicado. A AAC tinha posto um anúncio no Diário de Coimbra. Cheguei e estava uma fila imensa até à DG. “Estou tramado, é tudo pessoas perfeitas. Não tenho hipóteses”. Ocorreu-me uma habilidade. Fui à Praça da República, liguei e pedi para marcar uma entrevista com a presidente da AAC. Era a Zita [Seabra]. “É um motivo de interesse da presidente”. Mandaram-me entrar e passei à frente daquela gentinha toda. “O senhor está aqui para quê?”. “Para concorrer ao lugar. Eu tenho uma particularidade: sou deficiente, mas gostava que me desse oportunidade de provar que sou capaz de fazer o serviço. Se não for capaz, se houver alguma coisa nas funções que eu não possa fazer eu admito e vou para o último lugar da fila. Gostaria é que me dessem oportunidade de mostrar que eu sou capaz de fazer.” E a Zita foi espetacular. Despus-me a vir para cá durante 15 dias à noite, à experiência, com o porteiro que aí estava. Ao fim de três ela já estava a dizer: “O lugar é seu!” (…) Eu passei aqui por situações horríveis. Há uns sete, oito, nove anos cheguei a ter uma noite em que estava no corredor porque me tinham partido a porta dos Jardins que dá para a Sala de Estudo. Partiram o vidro e eu corro até lá, porque aqueles malvados estavam a destruir tudo lá em cima. Quando vou a meio do corredor estavam a partir a porta principal também. Para me matarem. Africanos que vieram passar um fim de semana e que eu envergonhei na porta principal. Vi que não eram estudantes, estavam-se a portar mal. E eu virei-me: “olha lá ó palerma!”. Mas sem medo nenhum deles. Perdi o medo. Eu podia ter morrido, mas se não morri dessa vez... Não tenho medo de nada nem de ninguém. “Tu nem és estudante. Cartão de estudante, tens? Então não entras!”. Fechei a porta. E eles foram lá por trás e fizeram lá porcaria. Começaram a atirar com copos para dentro da Sala de Estudo e eu fingi que chamava a polícia. Mas um estudante chamou mesmo. Pouco depois a polícia apareceu. E levou nos cornos! Vieram só dois e eles eram mais. Estavam a tentar revistá-los, eles viram que eram só dois e bateram-lhes. Os agentes chamaram mais polícia. Foi uma noite de verdadeiro faroeste! Levaram-nos para a esquadra. Eles bateram nos agentes que lá estavam. Depois levaram tanta porrada que tiveram de ser levados de ambulância para o hospital. E o chefe deles, onde agora é a polícia municipal, bate num enfermeiro, salta da ambulância e vejo-o passar aqui na porta cheio de sangue. Fechei a porta imediatamente e pensei: “Vai para os jardins!”. Oiço partirem a porta lá em cima. Ele vinha mesmo naquela de dar cabo de mim! As duas portas do edifício a serem arrombadas. E o pessoal da direção-geral onde é que estava? Enfiados dentro do gabinete da presidência, cinco meninos, sentados, ali encolhidos, cheios de medo. “A casa é mais vossa do que minha!” Foi lá o Maricato, responsável da Secção de Desportos Náuticos. Apareceu mais uns amigos do Judo e conseguiram controlar a situação. Entrevista por Rafaela Carvalho


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SOLTAS

I

MICRO-CONTO

Por Pedro Chagas Freitas

Sentou-se na esplanada, perna cruzada, e esperou que o tempo passasse. Sabia que a vida se resumia, por vezes, a isso: o tempo a passar, entre uma garrafa de cerveja e o vento a correr sobre o rosto. A loucura é acreditar que vale a pena. Recordou as férias, a praia, as correrias e os suores. E a pele dela. Ah, a pele dela. A loucura é acreditar que vale a pena. Fechou os olhos e foi lá, exactamente lá, ao momento e ao lugar da pele dela. Às pernas tocadas por baixo das mesas, aos braços roçados por cima das mesas. E aos lábios que se beijavam a cada vez que se falavam. Ah, a pele dela. A pele dela sempre por descobrir. A loucura é acreditar que vale a pena. Toda a pele por descobrir. Ah, o riso dela. Aquela forma de encher a vida com um simples som. Fechou os olhos e acreditou que era agora o tempo do riso, que era agora o tempo da loucura. A loucura é acreditar que vale a pena. E vale.

II

Deitou-se na cama, serviu-se do corpo. Como se servisse um cálice de vida. Como se celebrasse o que deixou por viver. Há uma vida a mais sempre que se vive o que se deixou por viver. Quis que fosse outra vez o tempo perdido, o tempo do choro, da saudade, da tristeza. Quis outra vez sentir a ausência. Como se fosse a única forma de presença. Como se sentir a falta fosse a única forma de voltar a sentir o que quer que fosse. Como se o tempo perdido fosse a única forma de ganhar tempo. Esqueceu-se dos lençóis chorados, esqueceu-se do nunca mais que se ergueu no eco das horas. E serviu-se do corpo. Há uma vida a mais sempre que se vive o que se deixou

por viver. Imaginou-o na esplanada de sempre, no nada querer de sempre, no espaço vazio de sempre. E serviu-se do corpo para não se servir das lágrimas. Imaginou-o na cerveja de sempre, na distância de sempre, na terra sem dono de sempre. Há uma vida a mais sempre que se vive o que se deixou por viver. Imaginouo o mesmo incapaz de sempre, o mesmo zero de sempre. O mesmo dependente de sempre. E quis, sem sequer chorar ou sentir, ser a mesma louca de sempre. A louca dele. Para sempre.

III

Havia o minuto de todas as horas na esplanada em que a manhã se fizera tarde. Havia ainda a cerveja, havia ainda a sensação de que não havia espaço para o que os olhos viam. O empregado de bata branca sentado, ao lado, sem saber a felicidade de não ter uma saudade para chorar, a velha sorridente que passa com o neto pelo braço, sem saber o milagre de não ter um nunca foi que nunca deixa de ser. Há um instante em que percebes que foi o que não forçaste que valeu a pena. A esplanada vazia sob o calor tórrido do pico da tarde. A esplanada vazia com aquele homem e aquela cerveja e aquela saudade dentro. A esplanada vazia. A vida resume-se à absoluta sensação de vazio que só o que amas te oferece. A vida resume-se à absoluta sensação de vazio que não teres o corpo de quem amas te oferece. O homem vazio cheio de saudade, a

cerveja vazia cheia de verdade. Já nem sequer a velha sorri (“este miúdo dá-me cabo da cabeça”), já nem sequer o empregado descansa. Mais um gole que nada sacia, mais uma recordação que nem o vento carrega. Um homem deixado na sua rotina que não deixa. A felicidade é uma rotina que se repete sempre diferente. Não fecha os olhos, não imagina o que um dia foi nem o que um dia será. Limita-se a sentir, no corpo, aquilo que nem a alma consegue digerir. Limitase a sentir. A vida resume-se a sentir.

IV

A cama por amar. A mulher serviu-se do corpo e nem o corpo se sentiu servido. O prazer é um produto corpóreo da imaginação. Estendeu-se e sentiu-se estendida, na cama em que todos os êxtases se vieram. E acreditou. Acreditar é um segundo de prazer. Quis estender a recordação, trazer de volta o que sabia que nunca, na verdade, fora capaz de ter. Imaginou-o no sítio de sempre e foi – respiração parada, como sempre.

Sabia que não podia, sabia que não devia, sabia que nem ela a si o recomendaria. E acreditou que tinha tudo o que queria: a esplanada de sempre, a ausência de sempre, o nada ter de sempre, a desgraça de uma dependência de sempre. O prazer é um produto corpóreo da imaginação. Acreditar é um segundo de prazer. Não sabe se foi ele que correu para ela, não sabe se foi ela que correu para ele. Sabe que houve um abraço a meio do caminho – mas nem sabe (como saber o que só se sente?) qual era o caminho. Sabe ainda que ele não disse que a precisava, nem disse que a sentia como ela disse que o sentia. E sabe que aquilo, aquele nada dizer, aquele nada sentir, foi tudo o que precisou de ouvir, foi tudo o que precisou de sentir. Regressou à cama e aos lençóis e encheu-os de saudade em estado líquido. Não chorou mais do que o costume, não se quis mais dele do que o costume. E soube que a felicidade podia muito bem ser apenas aquilo: o homem defeituoso de sempre na realidade imperfeita de sempre. Acreditar é um segundo de prazer.

ILUSTRAÇÃO POR TIAGO DINIS

PEDRO CHAGAS FREITAS 33 ANOS Com apenas 18 anos já era chefe de redação do jornal vimaranense “Estádio D. Afonso Henriques”, tendo, em 2001, começado a colaborar com o jornal “A Bola”. Pedro Chagas Freitas, natural de Guimarães, sempre foi um homem da escrita. Dos primeiros passos no jornalismo à contratação do grupo editorial “Impala”, o escritor sempre teve um percurso regular. Em 2006, venceu o Prémio Bolsa Jovens Criadores, atribuído pelo Centro Nacional de Cultura e pelo Instituto Português de Juventude e, a partir daí, partiu para histórias de ficção e pequenas crónicas humorísticas. Mas a área onde Chagas Freitas mais se destaca é a da escrita criativa. Desde 2001 que é coordenador de sessões de escrita criativa, que se realizaram já um pouco por todo o país – contabilizando, no total, mais de mil horas de formação. Ainda relativamente a essa área, concebeu o primeiro curso através do Facebook, com uma metodologia pioneira em todo o mundo.

Ana Duarte

BREVES

Vaticano O Papa Bento XVI anunciou ontem a sua resignação do cargo. Segundo o pontífice, a idade avançada não lhe permitem um serviço adequado ao ministério de Pedro. Os média italianos apontam 28 como o dia da resignação, altura em que o papado entra em sede vacante e se procede à escolha de um novo pontífice. A renunciação surge após vários casos conturbados no seio da igreja católica, que puseram em causa a sua popularidade. Bento XVI, que sucedeu a João Paulo II, é o primeiro papa a resignar após a saída de Gregório XII em 1415. Público Política Presente, no passado domingo, na Comissão Nacional do Partido Socialista, António Costa abriu caminho à candidatura de António

José Seguro às eleições legislativas. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, presente em Coimbra, diz que se revê no documento de orientação estratégica apresentado pelo secretário-geral do PS. O documento, que António Costa considera como “um bom sinal”, serviu para o político dar prioridade a José Seguro e afastar assim a sua possível candidatura à liderança do PS. Expresso Viseu O município de Viseu vai assinalar os 500 anos da outorga do Foral de D. Manuel I à cidade com a realização de várias iniciativas ao longo deste ano. O foral é um documento régio entregue a uma determinada terra, estabelecia como os tributos ou privilégios que deveriam ser administrados. O quarto foral de Viseu, entregue em 1513, vai ser comemorado em diversos momentos da programação cultural do município, como o 6.º Festival de Música da Primavera, o Festival de Teatro Jovem e as Marchas dos Santos Populares. As Beiras União Europeia A vice-presidente

da Comissão Europeia, Viviane Reding, vai estar em Coimbra para um diálogo com os cidadãos. O encontro realiza-se às 10h do dia 22 de fevereiro, na Sala dos Capelos da Universidade de Coimbra. A iniciativa, que será um diálogo aberto, pretende dar oportunidade aos cidadãos de serem ouvidos. Numa altura de fragilidade do projeto europeu, o evento pretende também que as pessoas falem sobre os seus direitos. Dado o número limitado de lugares, o debate será também transmitido na internet. Comissão Europeia

Facebook O Facebook está a sofrer um processo legal devido ao botão “Gosto” e outras características do ‘site’. A rede social está a ser processada por uma companhia chamada

Rembrandt Social Media, que está a agir em nome de Joannes Jozef Everardus van Der Meer, um falecido programador holandês. Em causa está a utilização ilegal de duas patentes do programador, que a companhia considera terem sido o sucesso do Facebook. A famosa rede social tem sido alvo de vários processos legais por utilização ilegal das suas patentes. BBC

Museus O Museu Nacional Machado de Castro é candidato a museu europeu do ano. O prémio para melhor museu do ano 2013 é promovido pelo European Museum Forum. A par desta nomeação, também o Museu da Comunidade Concelhia da Batalha é o segundo museu português designado. A distinção surge numa altura

em que o museu de Coimbra reabriu há pouco tempo e apresenta, depois de seis anos em obras, peças que vão desde a arte sacra, a joalharia, cerâmica e até tapeçaria. O júri decidirá com base no aumento da inovação e influência pública nacional e internacional que o museu possa representar. Comissão Europeia Futebol Os computadores pessoais de Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, foram levados da sede no sábado. A polícia já andou a recolher indícios no local, imagens da vídeo vigilância e uma mochila, objetos deixados no local pelos ladrões. Agora está a proceder à investigação. Fernando Gomes acredita que o furto teve “um objetivo específico” dado que o que foi levado corresponde só aos seus pertences. “Fico triste por constatar o nível a que alguém terá descido porque quem tiver acesso aos meus dados apenas vai encontrar um trabalho sério, rigoroso e transparente", afiança Fernando Gomes. iOnline Por Liliana Cunha e João Valadão


18 | a cabra | 12 de fevereiro de 2013 | Terça-feira

OPINIÃO

IGUALDADE, PRECISA-SE(?) CLARA ALMEIDA SANTOS*

É preciso reivindicar o direito à igualdade quando a diferença inferioriza e o direito à diferença quando a igualdade descaracteriza

Factos são factos*. Em 2012, dos 116 mil inscritos no ensino superior pela primeira vez, 65 mil eram mulheres (representando 58 por cento do total). Cada vez há mais mulheres em lugares de direção ou chefia, a assumir cargos e tarefas que até há algum tempos eram desempenhados exclusivamente por homens. Angela Merkel ou Christine Lagarde são o exemplo atualíssimo disso mesmo. Há mesmo quem diga que, qualquer dia, a as quotas têm de ser “ao contrário” e vai ter de celebrar-se o Dia do Homem em vez do Dia da Mulher. Por baixo da superfície das aparências, a realidade é, porém, bem distinta. Em termos de remuneração base média, as mulheres portuguesas continuam bastante abaixo dos homens (1712 euros contra 1327, em dados de 2009). Mais significativa será, porém, a discrepância entre o valor dos ganhos médios (remunerações salariais acrescidas de outros tipos de rendimentos): aqui, os homens, em média, auferem 2541 euros, mais 638 euros mensais do que as mulheres. Provavelmente na base desta diferença está a dupla jornada de trabalho das mulheres em

que o “segundo” emprego não é remunerado. Os homens, por seu lado, dedicam-se a outras atividades possivelmente geradoras de recursos financeiros adicionais. Também nos números do desemprego se manifestam diferenças: o desemprego feminino tem sido historicamente superior ao masculino, ainda que a diferença tenha vindo a diminuir. Quanto às mulheres com cargos “tipicamente” ocupados por homens, o assunto parece estranho na medida em que “elas” continuam a ser notícia. Quando Assunção Esteves assumiu o segundo lugar da hierarquia do Estado em Portugal, os média titulavam: a primeira mulher presidente da Assembleia da República. Só quando este tipo de “notícia” deixar de ser notícia é que o discurso sobre a igualdade de género será, de facto, desnecessário. (O parêntesis abre-se, a este propósito, para sublinhar que na Assembleia da República, na corrente legislatura, 72,6 por cento dos deputados são homens, o que deixa menos de um terço dos lugares às mulheres). Ainda no universo político nacional, o caso de outra Assunção, Cristas de apelido, é

paradigmático: quantos homens foram notícia por ir ser pais durante o desempenho das suas funções governativas? Mas é sobretudo nas histórias de pessoas anónimas que a desigualdade se sente mais. O poder económico já referido assume com frequência o caráter de poder efetivo. Os casos de violência doméstica sobre as mulheres – física e psicológica – têm precisamente como base os desequilíbrios de poder, de forças várias. Por trás da porta de muitos lares, repete-se a história da Mariazinha de José Mário Branco. Na rua e em público, o homem apregoa as virtudes da liberdade, justiça e igualdade que não chegam “aqui dentro de casa” (é o título da canção). Até ao dia em que Mariazinha se transforma em Marta e a maré vaza dá lugar à maré cheia. Por tudo isto continua a fazer sentido falar de igualdade. Sabendo que homens e mulheres são, objetivamente, diferentes. Mas que têm direito à igualdade de oportunidades e de tratamento. Ou, como muito melhor disse Boaventura de Sousa Santos a propósito de outro tema, é preciso reivindicar o direito à igualdade quando a dife-

rença inferioriza e o direito à diferença quando a igualdade descaracteriza. Daí se deduz a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma igualdade que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. Se a igualdade, de facto, entre homens e mulheres, não é tema (no bom sentido) em muitas ocasiões, são múltiplas as zonas de fratura, entre, como já se disse, o público e o privado, o urbano e o rural, o explícito e o implícito. Se neste texto o mote utilizado foi a desigualdade de género, muitos outros poderia ter sido – do estatuto social à idade, passando pela nacionalidade ou etnia. Portanto, igualdade precisa-se mesmo, sem interrogação, e mesmo com exclamação (do tipo que exprime surpresa).

* todos os dados estatísticos referidos são disponibilizados pela Pordata (www.pordata.pt) **Conselheira municipal para a Igualdade de Géneros

CARTAS À DIRETORA QUEREMOS LEVAR A SÉRIO ESTA DIRECÇÃO-GERAL IGOR CONSTANTINO*

A desconfiança generalizada (e justificada) e o consequente afastamento da comunidade académica com as sucessivas Direcções-gerais, tem afinal um motivo"

O actual presidente da DG/AAC afirmou numa entrevista que “ninguém levava o relatório do FMI a sério”, em alusão às propostas deste para aumentar as propinas no Ensino Superior consoante o custo e o valor de mercado dos cursos. O seu discurso tem-se centrado no objectivo (já do anterior mandato) de tornar as contas da AAC “mais transparentes”. Será que alguém leva isso a sério? Soube-se pela própria DG, a meio do último mandato, que a AAC estava com problemas financeiros. Até aqui, oficialmente, só se sabe isso. Já oficiosamente, polulam tanto pela blogosfera como pelas bocas dos estudantes várias hipótese sobre a origem do “buraco da AAC”, sobre o desvio das receitas da Queima das Fitas ’11 para realizar a Latada ’12 e a consequente falta das mesmas no Núcleos e Secções, sobre a falta de pagamento a fornecedores, sobre as despesas da “Zona VIP”, entre outros relatos mais, todos eles nada abonatórios do anterior mandato da Direcção-geral de Ricardo Morgado. Rumores, valem o que valem. Mas a verdade é que estamos hoje numa situação quase sem pre-

cedentes: a Direcção-geral tomou posse há mais de duas semanas, foi eleita há três meses, e ainda não apresentou o relatório de contas. O que é ainda mais gravoso é que esta DG se recandidatou, foi reeleita e tomou posse, permanecendo o estado das contas da Associação Académica do último mandato desconhecido pelos seus sócios. Os estatutos também prevêem que o relatório seja apresentado três semanas depois do início do ano civil mas deve ser mais um caso em que a realidade desobedece aos estatutos. O facto de este ano existir um membro do Conselho Fiscal independente da lista que venceu as eleições para a Direcção-geral, Diogo Xavier, é um elemento que poderá ser positivo na resolução destes e outros assuntos e que venha, de uma vez por todas, quebrar o silêncio dos dirigentes associativos. A desconfiança generalizada (e justificada) e o consequente afastamento da comunidade académica com as sucessivas Direcções-gerais, tem afinal um motivo. Não é apenas parte da “passividade” da juventude portuguesa. Nós estudantes temo-nos “mexido”

sim, e muito. Mas sempre por fora da AAC. Prova disso são as várias manifestações do último semestre aqui em Coimbra, como os 20 mil que saíram à rua no dia 15 de Setembro, e as centenas que esperaram o PrimeiroMinistro na inauguração do Museu Nacional Machado de Castro. Razões, não nos faltam, falta-nos é uma direcção (geral) para a contestação. É que apesar de não levar a sério o relatório que pretende matar de vez o Ensino Público, na tomada de de posse, o Presidente da AAC afirmou, perante o Magnífico Reitor, que “chega, a propina não pode aumentar nem mais um euro”. Da parte da DG/AAC há pelos vistos uma oposição frontal a este novo aumento. Segundo o Artigo 3º dos seus estatutos, é a missão da AAC “orientar a sua acção com vista à concretização de um ensino público, democrático, de qualidade e gratuito” – já há 20 anos que, aumento após aumento da propina, os estatutos da AAC mantiveram-se inalterados. A realidade é que teima, mais uma vez, em não corresponder. O futuro dirá quanto tempo esta reivindicação demorará a escorregar para outro patamar mais baixo.

Posto isto, é claro: as propinas vão aumentar já no ano que vem – e bem mais do que os 33 euros de ajuste segundo a inflação. Sabemos que até agora já um em cada três pedidos de bolsa foi recusado e que há um número indeterminado de alunos que anularam a sua matrícula na universidade por atrasos e dívidas relativas ao pagamento das propinas. Uma resposta da maior Associação de Estudantes do país não pode ficar por pronunciamentos públicos contra as medidas que são propostas para o Ensino Superior. Há que exigir desta Direcção-geral que os mesmos discursos vazios que falam em mais transparência na AAC (quando tudo o que é feito vai no sentido contrário) e em que afirmam que esta DG não aceitará um novo aumento da propina, deixem de ser aquilo que foram até agora... palavras. *Candidato ao Conselho Fiscal nas últimas eleições pela Lista T e membro da Plataforma Universidade Contra a Austeridade


12 de fevereiro de 2013 | Terça-feira | a

cabra | 19

OPINIÃO CARTAS À DIRETORA O EXEMPLO DE CONSTRUÇÃO DE UMA “MAIORIA“ NA DEMOCRACIA MODERNA! OSVALDO ANTUNES* Teve lugar no passado dia 24 de Janeiro a tomada de posse dos novos corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra, algo que é extremamente importante no meio estudantil. No entanto, não menos relevante, é de destacar a forma de como estes resultados, para estes corpos gerentes, foram construídos: primeiro, uma insuficiência de verbas disponíveis para a realização de uma campanha eleitoral digna desse nome, na qual houvesse o claro objectivo de esclarecer eleitores; segundo, o “amparo” da Administradora dos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) com o anúncio da “reabertura” da lavandaria (ver entrevista ao Jornal A Cabra no dia 21 de Novembro de 2012, esta entrevista é inacreditável!), que pelo estranho que pareça o candidato vencedor apresentou como um feito alcançado por ele; terceiro, o processo eleitoral com uma taxa de abstenção superior a 80 por cento (a lista vencedora apenas teve cerca de 3062 votos, num universo eleitoral superior a 22 mil eleitores!). Apesar das peripécias, a lista “vencedora” vem desvalorizar a taxa de abstenção, afirmando ter conquistado 62,15 por cento dos eleitores e que tem

EDITORIAL

toda a legitimidade para exercer mais um mandato. A mim preocupa-me este discurso, que apenas serve para ocultar outros números e outras percentagens. O candidato que tomou posse deverá ter em mente uma percentagem de 13 por cento (valor que significa o número apoiantes). Sinceramente, espero que esta presidência tente dignificar os estudantes. Contudo, não tenho nenhuma esperança que tal se venha a suceder. Para finalizar, gostaria de perguntar à Administradora dos SASUC o porquê da não reabertura da lavandaria. Este tipo de situação, juntamente com o encerramento de cantinas, só vem denotar uma clara falta de sensibilidade social! *Estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra

A mim preocupa-me este discurso, que apenas serve para ocultar outros números e outras percentagens. O candidato que tomou posse deverá ter em mente uma percentagem de 13 por cento"

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DESRESPONSABILIZAÇÕES CONSECUTIVAS

É sabido que os últimos dois anos foram pautados pela austeridade e por sucessivos cortes na educação, acompanhados de um aumento de propinas. Ao mesmo tempo, com a entrada em vigor do novo regulamento de atribuição de bolsas, muitos estudantes perderam o seu único apoio para se sustentar no Ensino Superior (ES). Há quem tenha regressado a casa, há quem tenha ficado, perante todas as adversidades. E são esses que se revelam casos de sucesso face a uma inércia estatal no que toca à verdadeira solidariedade social. O empreendedorismo é apregoado constantemente. Há jovens com ideias. Mas não há dinheiro para investir, muito menos para os ajudar. “A necessidade leva ao engenho”, como diz o ditado. E é isso que tem acontecido pela Universidade de Coimbra (UC). Estudantes numa situação de escassez financeira decidem arranjar maneiras de autofinanciamento, para se irem aguentando por aqui. É de louvar uma atitude destas – a força de vontade e o orgulho para se “desenrascarem” e aceitarem a solidariedade dos amigos. Contudo, há que ter em conta que, se o fazem, é para colmatar as falhas de apoio existentes. Podem não conseguir fazer mais do que já fazem agora, mas a verdade é que assistimos hoje a uma degradação dos Serviços de Ação Social da UC, que já não conseguem dar resposta a todos os pedidos de auxílio. As atenções centram-se agora nos estudantes: réus e juízes das suas próprias vidas, sendo condenados por ações de um Estado social que erra e tendo de resolver os próprios problemas sem amparo.

Aquela enchente que esgotou os ‘vouchers’ para a próxima Queima das Fitas com certeza não saberia que o dinheiro adiantado que prestou à organização é a salvação para a contratualização de bandas

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Imaginada a tipologia jurídica saber-se-á que não deveria haver hierarquia entre os sócios da Associação Académica de Coimbra. Mas há. Há contas que não se prestam, contratos que nunca foram explicados e rumores alimentados pela curiosidade duma coisa de que não há memória. Fala-se do ato incomum de tomar posse uma nova Direçãogeral da AAC sem antes se terem prestado contas do mandato anterior. O presidente pode ser o mesmo mas ainda há responsabilidades para serem assumidas de 2012. Todos os estatutos invocados estão corretíssimos e é de louvar a atitude de querer uma análise detalhada. No entanto, há factos que têm de sair cá para fora já. Aquela enchente que esgotou os ‘vouchers’ para a próxima Queima das Fitas com certeza não saberia que o dinheiro adiantado que prestou à organização é a salvação para a contratualização das bandas. Foram lá sem ter um cartaz. O nome “Queima” chega. Mas quem está dentro da casa sabe bem que de há uns anos para cá, o saldo lucrativo vem a descer a pique. E a adiantarem-se verbas sem uma clara discussão sobre o assunto, todos ficam virados uns contra os outros sem saber se podem ou não falar sobre os prejuízos. É uma espécie de toda a gente o sabe mas ninguém ainda pode provar. Esperemos então pelos números mais duas semanas. Liliana Cunha e Ana Duarte Cartas à diretora podem ser enviadas para

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Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editores Rafaela Carvalho (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Paulo Sérgio Santos (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Paginação António Cardoso, Ian Ezerin, Rafaela Carvalho Redação Ana Marques Francisco, Beatriz Barroca, Daniela Proença, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Luís Azevedo, Pedro Martins, Tiago Rodrigues Colaborou nesta edição Ana Sousa Fotografia Ana Morais, Rafaela Carvalho, Olga Juskiewicz Ilustração Carolina Campos, Joana Cunha, João Pedro Fonseca, Tiago Dinis Colaboradores permanentes António Matos Silva, Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Ricardo Matos, Rui Craveirinha, Tiago Mota, Torcato Santos Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Gonçalo Quadros, Pedro Chagas Freitas, Francisco Linhares


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JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

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Governo de Angola

Angola apresenta um crescimento económico que não tem tido reflexo nas suas liberdades e garantias. A comunicação social não é alvo de censura visível. Mas é controlada de forma dissimulada, o que de certa maneira torna a situação ainda mais grave. Os grandes grupos económicos angolanos tem ligações diretas ao poder central seja por laços de sangue ou por jogos de interesses. A guerra é algo do passado e o processo de reconstrução tem sido mais ou menos bem concebido. No entanto, o controlo da informação e da cultura “corrói” de maneira especialmente grave as mentes oprimidas do povo angoPÁG. 13 lano. A.C.

Secretaria de Estado do Turismo

O Turismo enquanto setor estratégico de extrema importância no contexto colectivo gera vários milhões de euros e milhares de postos de trabalho. Mas o setor necessita urgentemente de adequar-se ao panorama económico atual. O Plano Estratégico Nacional de Turismo (PENT), aprovado em 2007, tinha objetivos completamente insustentados e irrealistas. O processo de revisão do PENT terminou agora o seu período de consulta. Porém, o PENT continua a demonstra-se desadequado ao apontar metas ainda demasiado ambiciosas e não apostar em novos produtos estratégicos. A.C. PÁG. 12

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Os 50 anos do Estádio Universitário da UC dão que pensar. Está preparada uma coleta para juntar 250 mil euros, já que a universidade não suporta mais a requalificação de nenhum espaço. E a apresentação de um projeto para unir a Escola Básica à Faculdade de Desporto lá sediada é excelente se avançar. Se se conseguir esse dinheiro, a degradação daquela que é a faculdade mais recente de todas, ainda mais recente que o próprio estádio, poderá assim não ter de mudar de lugar e trazer a dignificação do espaço para os próximos EUSA Games. PÁG. 4 L.C.

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Uma exposição, mais do que ser vista deve ser profundamente sentida, inigualavelmenete vivida. Se assim nos for proposto porque não balançar num túnel ou escalar paredes escorregadias? O escultor americano Robert Morris levou esta permissa à letra, em 1971, na sua exposição “BodySpaceMotionThings” organizada para a Tate Gallery, de Londres. Infelizmente, nos últimos 40 anos poucas vezes a exibiu. São rampas, cilindros, paredes e muitos outros. Placas de madeira gigantes que convidam o público a desafiar os seus receios e a própria gravidade. Um jogo de equilibrismo, de força ou mesmo de concentração que convida a começar, a cair, a recomeçar, a escorregar e a começar novamente.


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