Edição Especial - A CASA em revista - Insular

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A CASA FOTO ARTE



A CASA EM REVISTA - ed. especial INSULAR


Capa Insรณlito Gizele Lima


Editorial

“Porque a casa é nosso espaço no mundo. É nosso universo primário. É, na verdade, um cosmos.” Gastón Bachelard

Sendo a casa o primeiro universo do ser, ela acaba ganhando valores oníricos consoantes. Todos os espaços de morada, aliados às lembranças, permitem a evocação do devaneio e a construção de imagens. A casa

carregada de encantamento é uma construção imagética, uma projeção do inconsciente. Nesse sentido, a imaginação faz uso da casa, do lugar de abrigo, para a construção reconfortante de uma ilusão de proteção,

representando um berço que abriga o devaneio e protege o sonhador, um sentimento de isolamento, Insular. Se torna, portanto, uma das maiores forças de integração dos pensamentos, lembranças e sonhos do homem.

A casa é, simbolicamente, o lugar onde a vida se cria e também o lugar no

qual ela encontra refúgio. Um cenário de sonhos e devaneios, de memórias e de lembranças. Assim como a vida requer um espaço físico para se basear,

os sonhos também demandam seu próprio espaço imaginário. Podemos

assim concluir que a casa é o espaço poético ideal para convir de pulsão criadora da arte a Casa como espaço poético para criação.

Essa é uma edição especial A CASA em revista que convidou 16 artistas a deitarem seus olhares para o Insular.


Tempestade Ana Avelar

A tempestade continua sem previsão de término. No olho do furacão, tudo voa ao redor, raízes são arrancadas indo embora para algum lugar desconhecido. Quando tudo acabar, como iremos recolher os destroços e reconstruir o que sobrou?











Um Cafezinho com Duchamp Bernardo Conde

O preto e o branco, o sagrado e o profano, o social e o privado, entrada e saída. Louças como unidade. Geometrias humanas a serviço das necessidades naturais. Cultura e reconfiguração. O que era fisiológico agora também é cultural, cafezinho, xícara, privada, urinol. O que era funcional agora também é estético, Bauhaus. O que era design agora também é arte, Duchamp.











Lacunas

Caique Cunha “Lacunas” utiliza-se da colagem como prática artística para abordar temas políticos e sociais nos quais questionamentos são geralmente deixados sem respostas como lacunas em uma sociedade. O trabalho propõe (des)construir imagens e criar novas paisagens onde narrativas e histórias são contadas em um enredo que aborda a vida cotidiana, considerando suas crenças, preconceitos e injustiças. A não necessidade de fazer algo que pareça real e as marcas provocadas por carimbos criam elementos que se fundem, ou não, invocando sensações visuais repletas de texturas e complexidade de planos.









Paisagens Veladas Claudia Mauad

A série Paisagens Veladas é constituída por imagens híbridas onde estabeleço relações entre meios fotográficos e procedimentos pictóricos empregando, para isso, a técnica do quimigrama, que consiste na utilização das químicas utilizadas no processo da revelação como pigmentos. Neste processo não existe câmera. As imagens surgem da ação do revelador diretamente sobre a superfície sensível. Apesar de representarem paisagens iconicamente, não têm ligação indicial alguma com referentes externos, como na fotografia obtida com a câmera escura. As referências passam a ser internas e podem nos remeter tanto a fotografia como a pintura de paisagem. Estas paisagens só passaram a existir pela explicitação das potencialidades plásticas de um suporte que estava “morto”, impossível de ser usado numa revelação tradicional. Neste processo, a morte do papel transformou-se em potencial criador e produtor de imagens.











Postais do Fim do Mundo Claudia Yamada

Postais sĂŁo como lembretes de momentos e lugares que vivemos, contando histĂłrias que muitas vezes perduram apenas na nossa memĂłria.











Tudo Isso Foi Depois Que Meu Irmão Partiu Eliane Heeren O vôo dos pássaros os predispõe, é claro, a servir de símbolos às relações entre o céu e a terra. Em grego, a própria palavra foi sinônimo de presságio e de mensagem do céu. É essa a significação dos pássaros no taoísmo, onde os Imortais adotam a forma de aves para significar a leveza, a liberação do peso terrestre.” (Chevalier, Jean; Gheerbrant, Alain. Dicionário dos símbolos.)









Insólito

Gizele Lima Queria me sentir em casa com meu corpo, mas ele ainda é estranho para mim. Isolada em meu próprio corpo, como uma ilha desconhecida, procuro despir-me de signos para encontrar intimidade em meio a dor e deformações. Tento forjar minha própria liberdade e criar afinidade com o estado delirante da alma, forçar os limites impostos, extravasar a essência para escorrer sem direção e forma, o que há de natural no ser humano. Através do estudo de autorretratos, ainda em construção, procuro estabelecer uma relação entre o desregramento dos sentidos, que leva à uma diluição de identidade enquanto sujeito de um contexto social e o resgate da minha essência, experimentando estar fora de mim e assim me permitir conhecer as intimidades do mundo.











O Avesso do Concreto Jaci Rabelo Da observação, ou alumbramento do “vazio”, nasce o “O AVESSO DO CONCRETO”, onde o abstrato ganha forma, ou seria o contrário? Não importa. Em cada (es)quina há muitas possibilidades. Entre paredes brancas, o avesso do concreto. Cantos encarcerados, nuvens de cimento. Nos dias gastos, cada quina, uma dúvida. Escuridão, penumbra. Todo encontro, uma vida. Do tato ao teto, solidão, afeto. Quando a casa é tudo cada canto, um mundo.











Luz Carregada Pela Mente Mente Carregada Pela Luz Laércio Leão Através da mente das pessoas surge em uma essência sutil que carrega sentidos e sensações abstratas que existe na ideia e no conceito. Podemos assim ser atraídos pelo desconhecido e essa sensação reflete em nossa mente. Desfocar o tema ou melhor a mente somente não irá mostrar a luz carregada pela mente. A paisagem será carregada pela luz, seus reflexos, misturas naturais e diversos movimentos da luz. O lado sensível da mente e da luz carrega as silhuetas sedutoras em cada olhar ou sentimento. Nesse momento abre uma intensa divisão das áreas claras e escuras. À primeira vista parece somente a luz que desnuda ou a nebulosidade ao ocultar o espelho, a luz, o reflexo do sol e da ausência da luz. E sempre na busca da finalização do processo das imagens, agora de uma forma negativada. O conceito veio ao revisitar os trabalhos de ”Geraldo de Barros” e novamente buscar inspiração pela maneira que utilizava os negativos fotográficos com: películas, recortes, negativos recortados, colagem, sobrepor imagens e mais de uma matriz em seu trabalho.











Restos e Rastros Luciane Villanova

Navegando entre o conhecido e o não conhecido, suportando o encontro com o desamparo, é o viver. Rompendo a densa barreira do silêncio e indo ao encontro dos restos e rastros da criança desprotegida que fomos, construímos uma nova percepção da realidade. Atravessar as nossas dores é alcançar a si mesmo.









Jardins Marcio Pinto “Os espaços da casa são espaços vivos. Por isso, pouco têm a ver com a geometria ou arquitetura. Cada lugar e cada objeto tem memória e significado, dados pelas vivências que eles testemunharam. E as vivências do lar são as mesmas que as vivências do nosso espaço interno.”(Gaston Bachelard) Com o distanciamento social, profissionais do mundo inteiro foram desafiados ao “novo fazer”. Na fotografia não foi diferente. Diante de suas residências, em confinamento, fotógrafos e fotógrafas precisaram ressignificar, reinventar ou mesmo revisitar seus arquivos. Inspirado por textos de Gaston Bachelard( A Poética do Espaço), o ensaio foi resultado de registros que representavam minhas emoções, angústias, devaneios e reencontro com a minha própria casa.









Inflexão Mauro Land Estamos vivendo um período de mudança climática caracterizado por uma crise ecológica originada em grande parte pela ação humana. Cada lugar de nosso planeta não pode ser considerado uma ilha isolada. Vivemos num sistema integrado em que decisões políticas e econômicas não afetam apenas uma determinada parcela da população, pelo contrário, elas causam efeitos no mundo todo visto os crescentes problemas ambientais, a ocorrência de extremos climáticos , o aumento da desigualdade e das migrações e agora as pandemias contínuas . Precisamos criar pontes entre as diversas ilhas em que vivemos, mas consensos estão difíceis de serem fechados, haja visto, por exemplo, o fenômeno do negacionismo.

De qualquer forma, é preciso agir, antes que

o mundo vire um lugar escuro com sérias ameaças à presença humana na Terra.









Desconforto Samara Macêdo Da saudade latente que permeia os primeiros meses do ano da Quarentena, ouço o desconforto germinado pelo distanciamento. Onde estou, senão dentro de mim, em busca do meu eu profundo, em meio a tanta angústia e exaustão? Ainda assim, sinto a esperança pulsar como um farol, sinalizando um tempo de calmaria, que o corpo e o espírito almejam sem cessar.







Em Algum Lugar do Atlântico Silvia Lorenz-Martins Mal sabiam eles que aquele naufrágio seria o melhor acontecimento de suas vidas. Em 2020, enquanto o mundo lutava contra uma pandemia, um casal de náufragos vivia isolado em algum lugar do oceano Atlântico. A ilha paradisíaca fornecia alimento e água doce cristalina em abundância mas não havia nenhum sinal de rádio ou qualquer forma de comunicação. Assim, as garrafas passaram a ser usadas para enviar mensagens. Não são mensagem com pedido de socorro mas mensagens que traduzem a beleza e a tranquilidade do lugar. Algumas possuem as coordenadas geográficas deste paraíso perdido. Alguém quer ir até lá? O ensaio, de Junho de 2020, é composto por um conjunto de seis foto-objetos (garrafas de tamanhos 30 cm x 8 cm). As garrafas contêm imagens nas quais diferentes mensagens foram escritas no verso.











Desassossego Sonia Rummert Imagens reunidas como em um diário, para registrar a angústia particular e a vastidão em que se vive. Um diário, porque é preciso capturar o contraponto feliz da poesia que escapa ao absurdo e ao paradoxo. Um diário, para assinalar o diálogo entre o eterno e o desassossego.











O Dia em Que Meu Mundo Parou Tete Silva

Sou essencialmente uma fotógrafa de rua, o que significa dizer que a rua é uma espécie de lar para mim. Na rua eu encontro os dramas humanos, as alegrias e as agruras do cotidiano. Na rua eu me encontro. Quando o mundo parou meu coração continuou batendo no mesmo compasso das ruas. Desencontrada, por duas semanas não produzi nada, não estudei, nem cuidei das minhas imagens. Ou, de outra forma: produzi, estudei e cuidei de imagens observando minha pequena horta de varanda, tentando confluir no ritmo lento da natureza como quem cuida de si mesma Duas semanas depois a realidade entra goela abaixo, exacerbando a melancolia, a saudade do convívio, da rua, do mundo. Esta série traz um pouco desse processo de angustia, mas também de desaceleração que permite olhar tanto para dentro quanto para além de mim.











Artistas

Ana Avelar Bernardo Conde Caique Cunha Claudia Mauad Claudia Yamada Eliane Heeren Gizele Lima Jaci Rabelo Laércio Leão Luciane Villanova Márcio Pinto Mauro Land Samara Macêdo Sílvia Lorenz-Martins Sonia Rummert Tete Silva


Conselho Editorial Greice Rosa Marcio Menasce Marco Antonio Portela

Projeto Grรกfico Bruno Almeida


acasafotoarte.com


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