ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
ELOI TELES
A CONFEDERAÇÃO DOS CARIRIS
Quero usar o dom do verso Que Deus me deu com fartura Pra no meu grande universo Com minha verve segura Contar uma bela estória Coberta de muita gloria De gente muito feliz Que viveu na nossa terra Nestes nossos pés de serra Nossos indios Cariris. Como é bom falar dum povo Que viveu bem natural Tanto o velho como o novo Tinha vida colossal Os Cariris nestas matas Nos rios e nas cascatas A caçar e a pescar Tinham nas tocas fartura Sobrevivencia segura Sem nada os incomodar.
Mas esse é o lado belo É o lado colorido A parte sem ter flagelo Sem ninguém ser perseguido Há porém dos Cariris Que mostrar os seus perfis De sofrimento e de dor De lutas, guerras e mortes Daqueles guerreiros fortes Indio bravo, sofredor. Antes, aqui nestas terras, De chegar o homem brando Nos brejos e pés de serra Pisava o caboclo franco Morava em suas tocas Suas felizes malocas No vale ubertoso em riso Dentro do nordeste quente Sêco, amargo a tanta gente Aqui era um Paraiso.
Era a ilha da verdura Cercada por terras quentes Era a ilha da verdura Cercada por magra gente Assim era a nossa terra As chãs, os brejos, as serras Com tanta caça e fartura E bem perto, a sêca braba Havendo fome nas tabas Indios magros vida dura.
Foi assim que começo Um tempo de duras lutas Doutras regiões chegou O indio para a disputa Quando lá, a sêca imensa Apertava sem clemencia A fome vinha também. Aí, os indios famintos Mais altos os seus instintos Vinha sem temer ninguem.
E eram centenas deles Em busca d’água e comida Matar a fome, pra eles Era coisa decidida. Enfrentavam varonis A força dos Cariris Que defendiam a terra Mesmo assim, os invasores Enfrentavam os moradores Destes ricos pés de serra.
Se chuvia no nordeste A fartura era geral Nas serras e no agreste Era tudo colossal. Mas era só não chover Só a sêca acontecer A fome, a sêde batia Aí os indios famintos Mostrando os seus instintos Pra esta terra corria.
Assim, pois essa era a vida Dos nossos indios de cá. Tendo sua terra invadida Por outras tribos de lá Grandes estragos havia Em cada invasão se via A séria devastação. Faltava um plano pra eles Para repelir aqueles Chamados d’outra Nação.
De onde eram os invasores? Donde vinha tanta gente Provocando tantas dores E massacrando os viventes? Eram tais, de outras raças Como bem, ‘Os Calabaças’’ E também ‘’Os Inhamuns’’ ‘’Os Cariús’’, outros mais Famintos vinham atrás Pra ver se escapava alguns.
É bom, que aqui se diga Que essas tribos invasoras Tidos como inimigos E das riquezas predadoras ‘’Inhamuns’’ e ‘’Calabaças’’ ‘’Cariús’’ e outras raças Não eram assim, lá tão vís. Pois todas, nas suas trilhas Descendiam das famílias Dos troncos dos Cariris.
Mas a fome, também a sêde Trazidos pelo verão Arrastava como rêdes Os indios à precisão Em verdadeiros castigos Fazia deles inimigos Esquecer sua descendencia E massacravam os Cariris Antes um povo feliz Embora com resistencia.
Mas era hora dum ‘’basta’’ Na negra situação Essas ribeiras tão vastas Sofrendo tanta invasão Não podia continuar O jeito era convocar Outras tribos Cariris E nunca grande união Defender sua nação E voltarem a ser feliz. E assim se convocava A grande reunião Cada cacique chegava Era contada a razão Cada tribo veio aqui Todos raça Cariri Pra grande convocação. E se acertou conciso Juntar tudo era preciso Numa Confederação.
Selado o acordo, houve vivas Danças, comemoração... Uma homenagem expressiva Pela grande decisão Cada um, disse consigo: Vamos ver se o inimigo Que chega como ladrão Pode enfrentar decidido Tanto indio resolvido Nesta Confederação. Foram então se preparar Com lanças, flechas, tacapes O inimigo esperar Dessa não há quem escape Cada indio era um soldado Destinado, bem armado Pra sua terra defender E de cada tribo então Chegava de borbotão Era indio pra valer.
Foi uma espera terrível Meses de apreensão O inimigo temível La chegar logo então Pra invadir estas terras E nos ricos pés de serra Procurarem o que comer Mas os Cariris, valentes Milhares ali, potentes, Prontos pra se defender.
Eis que chegou o momento Da grande luta cruel O dia vinha raiando Com forte clarão no céu Milhares de ‘’Inhamuns’’ Com eles vinham alguns ‘’Cariús’’ e outros mais Aí começou a luta Uma renhida disputa Entre as partes, tão rivais.
Flechas, arcos, pedras, paus Bordunas e tudo mais Contra os invasores maus Todos guerreiros iguais Se o sangue tingia o chão, Maior era a dura ação Dos guerreiros Cariris A cada um que tombava Mais guerreiro ali chegava Mais valente, mais feliz.
Os rios avermelhados Do sangue dos lutadores Tacapes ensanguentados De invadidos e invasores Muitas luas se passaram Porém eles não pararam Foram batalhas sem tréguas O campo de luta intensa Era uma área extensa Num raio de muitas léguas.
Mas, sendo superiores As forças dos Cariris Depois de dias de horrores Batalhas nadas sutis Eis que houve a debandada Das forças tão massacradas Dos tão bravos ‘’Inhamuns’’ Embora com muita pena Mortos ficaram centenas Feridos ficaram alguns E houve muita alegria Houve comemoração A vitoria acontecia Graças aquela união Todas as tribos presentes Dançaram muito contentes Tudo com muita razão Assim foi consolidada A aliança firmada Dessa confederação.
Todos os anos seguidos Quando chegava o verão As tribos pois reunidas Esperavam outra invasão Porém não houve mais guerra Houve paz, nos pés de serra Muita paz, muita união. Aí ficou na História Para orgulho, para a gloria Essa confederação.
Se Deus me der alegria De continuar rimando Usarei a poesia Outro dia, não sei quando Pra contar a expulsão Dessa bravia nação Dos Cariris, pelos brancos Eu contarei sem preguiça Essa terrível injustiça Nos meus versos sempre francos. FIM