A misteriosa carta de tancredo neves ao povo brasileiro

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INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


ABRAテグ BATISTA

A MISTERIOSA CARTA DE TANCREDO NEVES AO POVO BRASILEIRO



Só Deus sabe do destino Que é sutil como a neve Quem escreve sobre o futuro Afirmar não se atreve Quem crê na liberdade Acompanha na verdade Tudo aquilo que escreve.

Ao escrever esse folheto Me completo de emoção Pensando em Tancredo Neves No meio da multidão Apoteoticamente levado Como o presidente amado De sua imensa nação. A morte de Tancredo Neves O Brasil todo abalou Não houve um só poeta Que nele não se inspirou E o povo nesse lembrança Guarda firme a esperança Na República que instalou.


Desconheço o político Com sua capacidade E nem ví na nossa história Maior expressividade Dum homem que conseguiu Unir um povo como se viu Em nome da liberdade. Morreu Tancredo, mas não Morreu do povo a fé Ao contrário, levantou-se Como a barca de Noé O desejo de um povo Que quer ver tudo de novo Na fartura. livre e de pé Peço a Deus que inspire Na minha divagação Dando ao pequeno poeta A Sua iluminação Para que o meu romance Seja de fato, um lance De grande interpretação.


Quando o povo toma conta Na terra tudo é possível O vermelho vira azul O roxo, branco e sofrivel Portanto, tenho a coragem De fazer a reportagem Dessa história incrível. Para o povo do Brasil Tancredo Neves escreveu Essa carta que até hoje O político desconheceu Mas agora nesse verso Eu relato o submerso Desse mundo tão ateu.

Assim escreveu a carta Tancredo de Almeida Neves Tomando-me por seu arauto Dentro de linhas breves; Em versos vou descrever Para o Brasil todo ler Como, agora, me deves.


Faltando quatorze anos Para chegar ao de dois mil Aos 21 do mes de maio Longe do meu Brasil Do céu faço esta carta Onde a mesa é muito farta Como não tinha em abril.

Eu desejei encontrar Uma pessoa que quisesse Levar para o Brasil Uma carta que eu lesse Pelas ruas e cidades Contando muitas verdades Para que se reconhecesse. Primeiro, quero mandar Como Jesus dispuser Muitas lembranças daquí Pra minha doce mulher Diga pra ela, que eu Desfruto daquí do céu De tudo que eu quiser.


Aos meus queridos irmãos Ao meu filho de estimação Diga que estou com saúde Sem problema no coração; O meu rim está legal Tudo está muito normal Não há mais operação.

A minha neta Adriana Ao amigo Antônio Brito A esse povo querido Que nele hoje medito O meu abraço fraterno Com a benção do Pai Eterno Pois Nele eu acredito.

Para Ulisses Guimarães E toda essa gente boa Que mora em Minas Gerais Onde vive a patroa Queria dar minhas lembranças Ricas de muitas esperanças Coisa que é muito boa.


Meu amigo Hélio Garcia Tome cuidado na saúde Suas lágrimas derramadas Por cima do ataúde Foram o selo da amizade Que os tenho com saudade Daquilo que tinha e pude. Ao José Sarney que agora Do Brasil é presidente O meu abraço confiante Do amigo consciente Tenha fé em Jesus Cristo Que dá forças como é visto Aquele que é competente.

Uma cousa me provoca Muita preocupação É aquela dívida externa Com os juros de assombração; Precisam dizer ao Reagan E pr’aqueles que nos negam Honradez e atenção.


Porventura do Brasil O poder já não notaram? Se nós devemos tanto Foram eles que inventaram Empréstimos de ficção Para enricar sem razão Os grupos que imaginaram. O Brasil tem a palavra Da América inferior O que acontecer no Brasil Responde no exterior Porque ele é representante Da América triunfante E do lado que é opressor. Se houver no Brasil Uma guerra ou revolta Devido a sua grandeza O invisível nele solta Toda força insuportável De um povo incontestável Que não precisa de escolta.


O brasileiro dê mais valor A própria brasilidade Os empréstimos de casa própria São pura perversidade Que tiram de cada pobre Aquilo que há de nobre Sossego e liberdade. Como é que um governo Quer ganhar do próprio povo? Inventando juros tão altos Pra tomar a casa de novo? Joga em cima do cidadão: Mora, reajuste e correção... Isso há muito desaprovo.

Quero mandar o meu abraço Para Fafá de Belém Diga a ele que confie Naquilo que ela tem Não ligue pra fuchicada Quem não presta, não tem nada O perdão mais nos convém.


Diga a Lula que se lembre: Trabalhador e patrão Não podem se separar, Ao contrário é confusão; A greve é um direito Quebra-quebra é desrespeito De quem só quer destruição.

Para os chefes dos patrões Patrinni ou Vidigal Que façam duma só vez Um salário mais real Para classe trabalhadora Que é o esteio e a tesoura De toda a classe social.

Chamem para uma mesa Trabalhador e patrão Um diga para o outro Que ponha os pés no chão; Sem patrão não há emprego Sem empregado não há sossego E acabam todos na mão


Adianta pro empregado Somente se rebelar Se o patrão não consegue O seu salário pagar? O melhor é numa mesa Ajustar toda incerteza Sem a nenhum prejudicar.

No entanto eu abro o olho Do empresário sem coração Que permite ao operário Morrer aos poucos, sem pão Dando um salário de fome Então, com estes se tome Uma enérgica decisão.

A nossa reforma agrária É um ponto preocupante Peço ao amigo Sarney Que num momento gigante Esclareça o nosso povo Com a igreja que eu louvo Com cuidado a cada instante.


Por toda a parte do Brasil Façam campanha cerrada Para que os coronéis Não criem uma emboscada E diga para eles todos Que confio nos bons modos Não vamos por outra estrada. Cadê o ouro que temos Na nossa Serra Pelada? Daquí do céu vejo tudo: Uma monstruosa cilada Como na inconfidência Vejo muita incompetência Com o povo na encruzilhada. Os professores precisam De um salário melhor Ao contrário, dão pra eles Dos salários, o menor Por isso, nossa nação A eles pede perdão Pela injustiça pior.


Precisamos pros municípios Uma política criar Para que os seus prefeitos Direito possam pagar Não um salário de fome Nos pagamentos sem nome Que só dão no que falar.

Precisamos também Fazermos compreender A certos ignorantes Que não querem reconhecer Do Brasil, sua pujânça Onde eu guardo a lembrança De um novo amanhecer. Outra cousa: eu relembro As riquezas florestais Os nossos animaizinhos Sendo vítimas desiguais Do desejo interesseiro Do caçador e estrangeiro Que rouba cada vez mais.


Façam de uma vez O IBDF atuar Pagando aqueles guardas Como se deve pagar. Protejam a árvore e a terra Os animais e a serra Para depois não choram.

O Brasil está vendendo Todo o ferro que covém Esquecendo as ferrovias E nossas cousas de bem, Tanta energia elétrica Mas trocam pela quimérica Gasolina que não se tem.

Daqui do céu eu contemplo As pequeninas creaturas Que pela fome e maltrato Descem pra sepultura Por isso façam um esforço Tirem as bichinhas do poço Dando-as novas venturas.


Há um grupo que publicou Um disco pra separar O Nordeste do Brasil Não é bom nisso falar Essa gente quer confundir Para o Brasil se dividir E ser fácil de dominar.

Faço um apelo profético Ao civismo dos generais Aceitem a voz do povo A democracia, e mais Não queiram mais ditadura Pois isso é um frescura Dos tempos dos ancestrais.

Eu quero que os países Que têm muito dinheiro Entendessem que o Brasil E os povos do mundo inteiro Não suportam o sacrifício Desses homens de ofício Das terras do estrangeiro.


O Brasil sempre foi Potencialmente aliado Como é que no sufoco Deixam-no no débito e frustado? Na hora da precisão O Brasil com reação Sempre foi certo e honrado. Ainda me preocupa Com bastante seriedade A posse e uso da terra Assitência e propriedade; Façam vêr ao meu povo O significado, de novo Duma reforma de verdade.

Façam um esclarecimento No rádio e televisão Dizendo tudo para o povo O significado e razão Pra não haver mais conflito E tudo fique bem dito Com respeito e seleção.


Cuidado no Amazonos Com o seu desmatamento Organizem uma campanha Sem ter aliciamento Não brinquem com a Natureza Pois é dela com certeza Que se tira todo o sustento. Para aqueles que fornecem Drogas para a sociedade Tomem medidas urgentes Com toda severidade Botem todos na cadeia Se possível, metam a peia Por tamanha perversidade. Eu já estou impaciente Com certos coronéis Que contratam pistoleiros Fandangos e infiéis Para matar o agricultor Seja lá por quanto for, Por menos de um mil réis.


Quem tem dinheiro precisa Da realidade saber O pobre quer o emprego Naquilo que pode ter As fábricas, sem operário Se acabam e seu salário Desaparecem sem se querer. Portanto, devemos ter Uma grande reunião Com o nome de constituinte Valorizando o cidadão E nesta se estabeleça Tudo o que se reconheça A bem dessa Nação. Franco Montoro que é Governador da capital Maior do nosso Brasil Aguente o vendaval Com ciência e com respeito Vamos logo, com efeito Fazer a reforma ideal.


O Nordeste, para mim Tem maior prioridade A reforma agrária, vem junto Com toda a seriedade Mas, reforma sem assistência Não tem a mínima ciência Pra nossa sociedade. Aliás, digo de novo O que é preciso fazer O modelo da casa própria Deve logo desaparecer Vamos ver se cada um Tem sua casa sem nenhum Juro impróprio. Quero ver.

Poupança, juros, só servem Para atrazar a nação Quem vive comendo juros Perde interesse na produção Comendo juros sentado Não se produz no estado E fica sem industrialização.


Deve haver um incentivo Para quem quer trabalhar Na lavoura, na indústria Ou no comercializar Mas esse caso de poupança Deixa certo, uma herança Que nem quero lembrar.

Uma nação sem cientistas Não pode ser independente Invistam bem nas escolas Para poder ir pra frente O nosso ensino está ruim Por isso eu digo assim: Melhorem o ensino da gente.

Não permitam que o aborto Seja um assassínato legal Nem deixem que a juventude Tome a droga do mal Protejam a nossa terra Do malefício da guerra Que não tem lar ideal.


Nesse momento eu ví Tancredo Neves chorar Eu perguntei: presidente Comigo pode falar Diga tudo o que sente Que faço o povo ciente Quando no Brasil eu chegar.

Tancredo puxou um lenço As suas lágrimas enxugou Passou a mão sobre a testa E olhando fixo falou: Obrigado, mas eu espero Que o povo que tanto quero Não chore mais do que chorou. Eu disse: Tancredo Neves É bom que fique sabendo Todo o povo brasileiro As reformas está querendo Só se houver tapeação E um coronel ou capitão Dê outro golpe em novembro.


Tancredo disse: que é isso? Não diga tal brincadeira As nossas Forças Armadas Não querem mais tal cadeira Elas sabem de antemão De sua legítima missão Que é de paz, a primeira.

Tancredo pegou meu lapis E a sua carta assinou; Pelos índios do Brasil No final ele lembrou: Deixe escrito aquí no fim Quem maltrata o índio é ruim Foi assim que ele findou. FIM



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