ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
SEVERINO G. DE OLIVEIRA
A MOÇA QUE VIROU COBRA
Leitores do Ceará A 21 de janeiro Deu-se um exemplo assombroso Com a filha dum fazendeiro Jesus Cristo castigou Porque ela profanou Do padre do Juazeiro. Faz horro se ouvir contar O exemplo que se deu Quem zombar do meu padrinho É triste o futuro seu Eu como sou muito ativo Não zombo de quem é vivo Quanto mais de quem morreu. Aconteceu este exemplo Por causa de um romeiro Que tinha uma devoção Feita com Deus Verdadeiro Por ter coração humano Ia três vezes por ano Visitar o Juazeiro.
Tem coisa que vem ao mundo Para nos servir de emenda Esse romeiro outro dia Passou por uma fazendo Uma moça lhe chamou Zombando dele mandou Trazer-lhe uma encomenda.
Na fazenda Cana Verde Essa moça residia Não acreditava em Deus E nem na Virgem Maria Ela chamou o romeiro E com seu gesto grosseiro Desta forma lhe dizia:
− Diga lá ao padre Cícero Que me mande uma fartura De mosquito e muriçoca Percevejo e tanajura Se ele der o conforto Da largata e gafanhoto Eu sei que a safra é segura.
− Ele me mande um cruzeiro De fome e dor de barriga 5 cruzeiros de sarna 2 cruzeiros de intriga Vou escrever num caderno 10 cruzeiros de inverno E 40 de bexiga. − Na chuva ele mande pingo Do tamanho de um pote Dê trovão que quebre pedra Desabe açude e serrote Só digo que corre risco Se vir pera de corisco Maior de que um garrote. O romeiro disse: Virgem! Moça não diga isto não Peça perdão a Jesus Contrita de coração Com força, fé e coragem Rogue pedindo homenagem Ao Autor da Criação.
A moça disse: Eu não creio Naquele catimbozeiro Que fazendo bruxaria Seduziu o mundo inteiro Lançando a humanidade E por meio de falsidade Conquistou o Juazeiro.
− Só creio no padre Cícero Quando ele me castigar Fazer eu cair as pernas Meus braços se deslocar Criar ponta e nascer dente Correr virada em serpente Mordendo a quem encontar.
− Quando eu andar feito cobra Com o bucho pelo chão Os dentes como uns espetos A cauda como um dragão O olho encarnado e feio Daí por diante eu creio No Padre Cícero Romão.
Dona Dinah a mão dela Disse: − Não diga isto não Quem profana meu padrinho É pior do que o cão Chega a hora de morrer Jesus não quer nem lhe ver No tronco da salvação. − Mamãe, deixe de besteira Não bote isto na mente − Só creio no padre Cícero Se ele fizer de repente Daqui pra findar janeiro Eu visitar Juazeiro Virada numa serpente.
Isto foi na sexta-feira Que se deu essa armadilha No sábado pela manhã Ninguém soube mais de filha Na casa do fazendeiro Foi um grande desespero Pra toda aquela família.
O pai dela procurou-a Mas não encontrou roteiro Com três semanas depois Ia descendo um romeiro Que lhe disse: Cidadão Apareceu um dragão Nas ruas do Juazeiro. É uma serpente horrenda Se arrastando pelo chão É triste e incalculável A sua lamentação Ela contando, falou Dizendo que profanou Do padre Cícero Romão.
Dona Dinah disse assim: − Valei-me Nossa Senhora É a minha pobre filha Que saiu fora de hora Virada numa serpente Oh! meu Deus Onipotente Que será de mim agora.
− Valei-me o Espirito Santo E Nosso Senhor do Bomfim Santos Cosme e Damião São Bento e São Serafim Valei-me Santa Luzia Bendita Virgem Maria Tende compaixão de mim.
− Eu tenho fé nas virtudes Do grande Deus Verdadeiro E tenho fé nos poderes Do padre do Juazeiro Tenho fé na Virgem Maria Que antes de findar-se o dia Jesus me mostre um roteiro. Dana Dinah foi dormir Com um rosário na mão Fez uma súplica a Deus De todo seu coração Se minha filha voltar Eu prometo festejar A Virgem da Conceição.
Quando foi no outro dia Abriu a porá da frente Quase morria de medo Quando avistou a serpente A fera em sua presença Falou lhe pedindo a bença Tremendo e rangindo o dente. Disse a velha: − Deus do céu Te abençôe todo momento A serpente disse: − Amém! Só ele dar-me o alento Todo mundo ali chorou Quando ela começou A contar seu sofrimento.
− Triste do cristão no mundo Que fala da vida alheia Termina assim como eu Leprenta, cascuda e feia Vagando no mundo atoa É infeliz a pessoa Que Jesus Cristo odeia.
− Quando zombei de Padrinho Era uma gentil menina Porém Deus me castigou Ando cumprindo uma sina Virada em um serpente Culpada disto somente Foi minha língua ferina. − Eu vou para o Juazeiro Assistir uma missão Que vai haver hoje a tarde Na Matriz da Conceição Chegou a hora marcada Vou assistir a chagada Do frade Frei Damião. Nisto a serpente marchou Se arrastando pelo chão Seguiu para o Juazeiro Na prolongada extenção Quando chegou na cidade Gritou quando viu o frade − Valei-me Frei Damião.
Frei Damião disse assim Com seu coração humano: − Oh símbolo de todos os símbolos Tirai-me do desengano Valei-me Justo Juiz Defendei esta infeliz Mãe de Cristo Soberano. Valei-me Jesus Amado Valei-me São Sebastião Valei-me Nossa Senhora Valei-me Senhor São João Valei-me Santo Agripino Valei-me São Severino São Francisco e São Gusmão. Frei Damião disse assim: − Oh! Virgem Imaculada E rezou uma oração Do Santo Anjo da Guarda Quando ele levantou-se A fera desencantou-se Estava santificada.
FIM