ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
MAÉRCIO LOPES SIQUEIRA
A MORTE DE ÍCARO
1996
A mitologia grega É rica de ensinamento Para toda nossa vida Pois nos dá conhecimento Da natureza humana, Mostrando como se engana Nosso pobre pensamento. Uma lenda dessas diz Que Dedálo trabalhava Para Minos, um rei grego E a ele agradava Com as suas invenções, Pois suas fabricações O rei muito apreciava.
Mas a glória durou pouco Sumiu a sua alegria. Dédalo desagradou Ao rei e por isso ia Para sempre ser levado E ficar aprisionado Numa torra muito fria.
Nesse lugar de prisão Numa ilha situado Dédalo ficou cativo Do seu filho acompanhado. Tanto o pai como o menino Cumpriam o seu destino Pela vida já traçado. Porém Dedálo pensava Num modo de escapar. Queria fugir dali Pra ninguem mais o pegar. Levaria o seu filho Venceria todo empecilho Para assim se libertar. Depois de muito pensar, Encontrou uma saída E disse para si mesmo Numa voz bem comovida: “vigiam terra e mar, É por tanto pelo ar Que salvarei nossa vida”.
Porque Minos, o rei grego, Mandava que a vigilância Fosse dura e rigorosa Sempre em toda circunstância Pela terra e pelo mar Sem deixar de revistar Tudo com toda constância. Por isso Dedálo pai Por ser bom visionário Enxergou a solução No seu grande imaginário, Pensando em fabricar Boas asas e voar De modo extraordinário. O inteligente homem Ansioso por fazer Dois pares de asas boas, Começou a percorrer O espaço que podia E as penas que ele via Tratava de recolher.
Depois de recolher Boas e diversas penas, Ele amarrava com uns fios, Usando os dedos apenas Juntado bem as maiores Para depois as menores Colar com cera centenas.
Enquanto o pai trabalhava Com a mente e com os dedos O filho se divertia As penas sendo brinquedo Quando o vento as levava, Ele corria e pegava Eram esses seus folguedos.
DĂŠdalo faz que as asas Tenham boa curvatura, Cuidando para que elas Se encaixem na estrutura, Quer fazer de modo tal Que chegando ao final A obra fique segura.
Quando aprontou as asas, Quis fazer um experimento. Segurou nelas com jeito E fazendo movimento Seu corpo ficou suspenso, Sentiu um prazer imenso Por causa do seu invento. As asas funcionavam De modo sensacional. Assim eles fugiriam Numa forma sem igual. Pai e filho como aves Quebrando todas as traves Da nossa lei natural.
Pois o homem não é ave, O seu lugar é o chão, Homem ter um par de asas É um caso de aberração, Ou fruto de inteligência De trabalho e paciência, De grandiosa invenção.
Pondo no filho as asas Dédalo muito feliz Ajeitando seu pequeno, Com forte voz ele diz: Ícaro, filho querido Vou deixá-lo esclarecido, Pois tu és um aprendiz.
Não vá voar muito baixo Aproximado do mar, Os vapores dessas águas Podem te atrapalhar. Também não subas demais, A cera não é capas De calor aguentar. É preciso o equilíbrio E voar numa altura Que não comporte perigo E que seja mais segura. Por isso fica ao meu lado Pois eu tenho mais cuidado E melhor desenvoltura.
Dito isso, os dois partiram Cruzando o imenso céu, Da prisão dura saindo Deixando a ilha cruel. Voavam com liberdade, Sentindo a liberdade Mais doce que o doce mel.
Os camponeses na roça Viram os dois seres voantes, Pensaram que eram deuses Voando Por uns instantes. Ficaram admirados Todos eles encantados Com os dois seres distantes. Ícaro, entusiasmado, Com o voo se embelezou Quis atingir mais altura E por isso ele deixou Do seu pai a companhia. O sol alto o seduzia Alcançá-lo ele buscou.
O forte calor do sol Foi, porém seu inimigo, As asas se desfaziam Era fatal o perigo Pois a cera derreteu-se Toda pena desprendeu-se Esse foi o seu castigo.
O menino agita os braços Procurando flutuar Como se ainda tivesse As asas para voar. Gritando aflito pro pai Porém sem jeito ele cai Nas profundezas do mar.
E Dedálo não conseguiu Do seu filho o salvamento. Viu quando ele caía Mas o distanciamento Não permitiu sua ação Que trouxesses a salvação Para o filho no momento.
Viu o filho despencar-se Em busca do mar profundo, Tristeza maior que essa Não existe neste mundo! O seu Ícaro morreu Quando bateu nas águas Numa fração de segundo. O pai muito amargurado Das águas tira o menor, Levou-o pra muito longe Para dar-lhe a melhor E bonita sepultura, Que acolhesse com ternura O seu tesouro maior. Então Dedálo enterrou O filho muito querido. De ter feito aquelas asas Já estava arrependido Alcançou a liberdade Mas lhe ficou a saudade Do menino assim perdido.
Em memória do seu filho Toda aquela região Ele chamou de Icária Pra sua recordação. Chegou em paz na Sicília Deixando pra sempre a ilha Lugar da triste prisão. Essa lenda tão fantástica Nos mostra com eficiência A importância do invento, Do saber e da ciência, Mas nos dá uma lição Pra termos moderação No uso da inteligência. Ela também nos ensina O amor pela virtude, A busca pelo equilíbrio Seja em nós uma atitude. O sucesso e a grandeza, O prazer e a riqueza, Tudo isso nos ilude.
Dédalo foi muito sábio, Pois conhecia o segredo Das coisas da natureza, No entanto tinha medo E por isso advertiu Mas o filho não ouviu Morrendo, por isso, cedo.
Portando toda ciência Quando é mal direcionada Passando dos seus limites De uma forma exagerada Deixa de ser benfazeja Por importante que seja Se torna amaldiçoada.
FIM