A morte de padre silvino e o significado da fé, ou do amor

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


ABRAÃO BATISTA

A MORTE DE PADRE SILVINO E O SIGNIFICADO DA FÉ, OU DO AMOR



Não quero dizer aqui Que Pe. Silvino era santo Mas por ele faço a cruz E tiro-lhe desse quebranto E em nome de Pe. Cícero Essa homenagem garanto. De manhãzinha bem cedo Num dia de quarta-feira Aos 17 de março Tive a notícia primeira Da morte desse vigário, Coisa muita passageira. Eu pensei assim comigo: Mais um que vai embora! Nesse momento ele sabe Quem é Jesus, e agora Como ministro de Deus Deus o guarda em boa hora.


Ele era muito simpático Tinha defeitos, eu sei; Como homem era humano E como vigário, era rei; Gostava da agricultura De gado e de sua grei. Tinha a fala amansada E só andava de batina Quando ía para a igreja Na sua missão divina Se transformava num padre Que a sua missa assina. Ele mesmo não temia De dizer abertamente Ser devoto do Pe. Cícero E por ele, cortezmente Há mais de nove anos Enfrentava o seu batente.


Todo mês ele rezava Aos vinte de cada mês Uma missa pra Pe. Cícero E a multidão, por sua vez A santa missa incensava Com flores de toda a tez. Fazia gosto de ver Para quem ía assistir A missa de ‘’Meu Padrinho’’ Que na glória vai reunir Os seus romeiros queridos Quando pro infinito seguir. Mas a criatura humana Tem a morte como certa Seja grande ou Pequenino Qualquer porta está aberta Se a hora foi chegada Não há descuido ou alerta.


Pe. Silvino já sofria Há muitos do coração E aos 17 de março Com o estouro de um trovão Deu um grito e morreu Como qualquer cidadão. Às cinco horas da manhã Quando o trovão estourou As veias do coração O supapo não aguentou E o Pe. Silvino Moreira A Deus se apresentou. Com dez minutos o sino Da Matriz anunciava E o povo da redondeza A sua morte lamentava E com uma hora também A rádio noticiava.


Durante o dia, o povo Fazia fila para ver O corpo daquele padre, Que é fácil de entender Coberto todo de flores Com misterioso saber. Vinham flores de toda parte De cantos que eu não sabia Pois ele era um devoto Daquele que merecia E em nome da Pe. Cícero Naquele rosto, sorria. Gentes trocavam flores E flores depositavam E 24 sacerdotes Por ele, alí rezavam E todos parentes seus Como eu, presenciavam.


Com seu corpo ali presente, 4 missas em seu louvor; E na última 4a. missa Rezaram com mais calor Que deixaram os presentes Arrebatados de fervor. Os fotógrafos ambulantes Tiravam dele o retrato Para vender a lembrança De sua vida e seu trato; Pois eram tantas fotografias Que nesse verso relato. Uns diziam para os outros: Que padre querido é esse?! Outros respondiam assim: Não houve quem merecesse Depois de Padre Cícero Um enterro como o desse!


Na missa da despedida Vinte e quatro sacerdote Cantavam o canto da missa Que só eles têm os dotes E o povo acompanhava Como sabe aos magotes. Pe. Murilo rezava Com profunda contrição E Pe. José Alves Que também é capelão Rezava pro seu amigo Que estava já no caixão. Pe. Luna e Pe. Augusto Pes. Onofre e Nestor Frei Geraldo e Frei Vicente E o Pe. José Onor Rezavam a 4a. missa Com saudades e fervor.


Pe. Sampaio de Abaiara Pes. Euzébio e Cabral Pe. Bosco e Pe. Moura Na missa quase campal Oravam o ‘’corpo presente’’ Naquele quadro sem igual. Pe. Wilton e Pe. Nobre E padre Salatiel Frei Guido que é capuchinho Na despedida de fel Rezavam com Pe. Adauto O canto do carrocel. Mons. Consta e Monte Negro Pes. Pereira e Irineu Com outro salesiano Faziam o imeneu Daquele ente querido Com a eternidade do céu.


Quando o cortejo funéreo Pelas ruas passava Flores de toda espécie Sobre o seu corpo jogava... O povo, que das janelas Nas residências esperava... Em muitas casas se viam Velas acesas e castiçais Folhas verdes e flores Trazidas dos seus quintais Jogadas para Silvino Nos seus instantes finais. O cortejo foi tão grande Que o trânsito interrompeu Por 20 minutos, contados E a polícia apareceu Para prevenir a ordem E foi o que aconteceu.


Pe. Silvino M. Dias Nasceu no juazeiro No sítio de Timbaúba Nos tempos que cangaceiro Era figura cativa No centro do taboleiro. No ano 4º desse século Aos 20 do mês de agosto Nasceu Pe. Silvino No belo sítio que gosto E em Crato, no Seminário Ele começou o seu posto. Estudou em Fortaleza E em Petrolina se ordenou No ano de 35 Assim mesmo me indicou Quem gostava muito dele Quando aqui ele habitou.


Foi vigário de Exu, Serrita e Petrolina Terra Nova em Pernambuco Como também Leopoldina Rezando para os cristãos Honrando sua botina. Serviu também em Araripe Missão Velha e Barbalha E em 46 chegou aquí Trazendo a fé e mortalha Por isso nesses meus versos A sua vida se entalha. Nas festas do Pe. Cícero Ele tomava a atenção Chamando o povo pra reza Com o rosário na mão Por isso no seu enterro Acompanhou a multidão.


Depois que foi nomeado Pelo Sr. Bispo do Crato Capelão da igrejinha, O Socorro teve trato Limpa, caiada, enfeitada Isso também, eu relato. Botou água no cemitério E o seu muro caiou Porque pediu ao prefeito Orlando que o apoiou Construiu uma mortuária Que o povo se admirou. ‘’Padre pede’’ era o apelido Que o povo assim o chamava Mas, desse jeito arranjou Para o pobre que se enterrava 20 caixões gratuitos E o campo todo iluminava.


A multidão no seu enterro Foi tão grande que me invocou E como multidão, eu escrevo Como o espírito mandou Pois eu senti a neblina Que o infinito enviou! Que Deus guarde Pe. Silvino E o Padre Cícero, também Que ele viva na glória Dos homens puros, de bem Para no dia de Juízo Nos unir pra sempre, amem!

FIM



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