A moura torta o boiadeiro invejoso

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


J. JUCENA

A MOURA TORTA O BOIADEIRO INVEJOSA



A MOURA TORTA

Uma vez um príncipe estava galopando em um lugar deserto e encontrou um velhinho com três melancias grandes, bonitas. O príncipe perguntou: − Por quanto o senhor vende uma melancia? − Para o senhor não custa nada. Pode levar toma três. É um presente que lhe dou. Mas só abra essas melancias perto d’água. O príncipe ficou um pouco preocupado com aquilo: só abrir as frutas perto d’água! E ficou martelando. E foi galopando... O sol quente, o calor, deu sede, o príncipe resolveu abrir uma melancia. Partiu a melancia, surgiu uma moça muito bonita, água! Me dê água! − Eu quero água! Eu quero água! Me dê água! − Não tem. Aqui não tem. Então a moça morreu. O príncipe continuou a galopar com as duas melancias restantes. Chegou muito longe,


ainda não havia aparecido água, ele já não suportava mais aquela angústia, aquela curiosidade foi, abriu uma melancia. No que abriu a segunda tornou a surgir outra moça, bonita igual a primeira e também pedindo água: que ele a socorresse com água, senão ela morria. − Não tem. E a moça morreu. Ele fez uma proposta: − Vou abrir essa última agora quando encontrar água. E foi caminhando, galopando quando avistou um rio. Foi à beira do rio, abriu a terceira melancia. No que abriu a fruta surgiu a terceira moça: mais linda do que as duas anteriores e pedindo água: − Quero água! Quero água! E ele não tinha em que dar água, pegou o chapéu, encheu d’água e deu à moça. Ela bebeu até satisfazer a sede. Terminou, disse: − Mas você, matar minhas duas irmãs!...


− Eu não sabia. Eu não sabia que eram três irmãs. Também eu não ia casar com as três... Ficou você, está bom. Então, ele o que fez? Botou a moça na garupa do cavalo e saiu galopando. Chegou num açude, perto da cidade, onde havia uma árvore muito alta que fazia sombra na água: − Não fica bem eu levar você até à casa de meus pais a cavalo. Você vai ficar nesta árvore e não vai dar sinal pra ninguém. − Está bem. A moça subiu na árvore e o príncipe foi buscar o transporte para levá-la para o palácio. Chegou lá contou aos pais tudo o que havia acontecido. Nesse intervalo, a Moura Torta veio buscar água no dito açude onde a moça estava trepada na árvore. Ela olhou e viu a imagem da moça refletida na água: − Eu, bonita desse jeito, carregar água pra quem? Para o senhor rei? Não carrego não.


Pegou o pote e quebrou. Chegou em palácio dizendo: − Eu não vou carregar água pra ninguém! Aí: − O que foi que houve? E o que foi? E o que foi? Ninguém soube dizer. Deram uma lata à Moura Torta: − Negra, você vai buscar água! Foi. Chegou lá no açude, tornou a ver a imagem da moça refletida na água: − Eu, bonita desse jeito, carregar água pra quem? Para o senhor rei? Carrego não. Pegou a lata meteu o pau: pá! pá! amassou todinha e jogou fora. Chegou em palácio braba: − Eu não vou carregar água pra ninguém que eu não nascí pra esse serviço! Eu, bonita do jeito que sou, carregando água pra senhor meu ri!... Não vou mais fazer isso. − Negra você vai botar água!


Deram uma pisa na Moura Torta e fizeramna ir buscar água em um cabaço grande. Lá foi a negra gemendo de dor. Chegou no açude tornou a ver a imagem da moça na água: − Eu, bonita desse jeito, carregar água pra quem? Para o senhor rei? Não carrego não. Largou o cabaço no chão, quebrou. Nisso, a moça já estava que não suportava mais ver aquela cena e não poder rir: aí largou uma gaitada. A Moura Torta olhou, viu a moça: − E você! Desça já daí! A moça desceu. − que é que está fazendo aí? Foi você quem fez eu quebrar meu pote, amassar uma lata e levar uma pisa! Agora você vai me pagar. Tire essa roupa. A moça se amarrando, se amarrando. E ela: − Tira! Tira! E tirou a roupa da moça e vestiu-a com a sua. Aí, tirou um alfinete de seu vestido e


enfiou na cabeça da moça. A moça encantou-se numa pomba. A Moura Torta preparou-se toda com o vestuário da moça, subiu na árvore, ficou lá esperando o príncipe. Com um pouco o príncipe chegou com a charrete e o pessoal para levar a moça em festa para o palácio. Que quando ele viu a Moura Torta ficou impressionado: − Não. A moça não foi essa! A moça não foi essa! − Fui eu mesma! Ele me deixou aqui e foi buscar transporte. Foi! Não foi! Foi, não foi! O pai disse: − Você vai casar com ela, Palavra de rei, não é... O rapaz foi, desgostoso, levou a Moura Torta pra casa do pai. Ela bem ancha. Fizeram o casamento. Casou-se a Moura Torta com o príncipe. Então, a pombinha voava, ficava no pátio da casa do príncipe. Tinha uma árvore assim, encostada à janela, ela ficava a vida toda lá.


O príncipe viu, mandou botar um lacinho de fita no galho da árvore em que ela pisava todos os dias. A pomba chegou, olhou assim para o laço, disse: − Esse lacinho de fita não vai em meu passinho não. Voou, foi-se embora. No outro dia pousou em outro galho. O príncipe ordenou: − Bota um lacinho de prata. Botaram um lacinho de prata no galho em que a pomba estava pisando: − Esse lacinho de prata não vai em meu pezinho não. O príncipe foi, mandou botar um lacinho de ouro em outro galho, onde ela estava pousando: − Esse lacinho de ouro não vai em meu pezinho não. O príncipe ficou sem saber o que fizesse: já havia botado laço de fita, laço de prata, laço de ouro e nada conseguira. Então ensinaram ao príncipe que botasse visgo de


jaca no galho em que a pombinha estivesse pousando. Ele mandou: − Bota visgo de jaca. A pombinha, pousou em outro galho. Olhou e disse: − Meu pezinho não vai ficar preso aí. Voou, foi embora. O príncipe ficou sem saber o que fizesse. Triste, porque tinha perdido a moça e casado com a Moura Torta. Ficou naquela agonia. Então mandou botar todo dia uma bacia com água na janela de seu quarto para a pombinha tomar banho. Assim, talvez pudesse pegar a pombinha... Todo dia a pombinha pousava, tomava banho e ia embora. Ele lutava para pegar a pombinha e não conseguia. Então botou uma gilete dentro da bacia com água. No dia seguinte lá veio a pombinha pousar para tomar banho. Quando ela começou a bater as asas cortou-se na gilete e ficou sem forças para voar.


Que quando aconteceu isso, um dos empregados de palácio foi, pegou a pombinha para levar ao príncipe. Foi passando na sala, a Moura Torta disse: − Eu quero essa pombinha! Eu quero comer essa pombinha! − Não, essa pombinha vai para as mãos do senhor príncipe. E levou a pombinha para entregar ao príncipe. No que o príncipe recebeu a pombinha, que começou a alisar assim a cabeça, viu que tinha um negócio brilhante, assim por debaixo das penas: puxou o alfinete, a moça desencantou-se. Ficou a moça verdadeira. Ficou um em frente ao outro assim, abismado. Ele perguntou como havia acontecido aquilo. Ela foi, contou toda história. O príncipe, o que fez? Mandou a moça ir para o quarto e providenciou um vestuário novo para ela. Chamou um criado e mandou buscar quatro cavalos brancos no mato e


amarrou a Moura Torta nos animais e meteu-lhe o chicote. Os cavalos saíram correndo feito loucos, rasgando a Moura Torta pelo meio da rua. O príncipe casou-se com a moça. E então foi uma festa tão grande que até hoje estamos contando a história... O BOIADEIRO INVEJOSO

Foi assim. Um homem viajava com uma boiada, chegou no meio da estrada encontrou um saco. Aproximou-se ouviu voz dizer: − Morro, mas não caso com filha do rei! − Porque é opinião minha: morrer e não casar com a filha do rei. Esse rapaz que estava dentro do saco queria casar com a princesa, mas o pai dela não queria. Então fez essa arrumação para acabar com a vida do rapaz. Mandou quatro empregados levar o rapaz dentro de um


saco e jogar no alto mar. Fazia seis dias que os empregados viajavam com o rapaz dentro do saco. Então resolveram descansar e divertirem-se um pouco num baile que havia numa casa pero da estrada e deixaram o saco alí. Esse boiadeiro era muito ambicioso: − Se for por isso você não morre. Vamos fazer uma transação: eu entro dentro do saco, fico no seu lugar, e você leva minha boiada de presente. O boiadeiro estava pensando em ficar ali e quando os empregados chegassem dizer que queria casar com a filha do rei. Então, de dentro do saco, o rapaz respondeu: − Está certo. Combino com você. Oxente! O boiadeiro abriu a boca do saco o rapaz saiu, ele entrou. O rapaz amarrou a boca do saco e saiu tangendo os animais. Deixa que o boiadeiro ficou lá, para morrer afogado, gritando. − Caso com afilha do rei!


Os empregados chegaram, ouviram aquilo, disseram: − Espere aí que você já casa com a filha do rei! Pegaram o boiadeiro e foram jogar no fundo do mar. O rapaz seguiu com a boiada direto para o palácio do rei. Chegou próximo ao palácio, começou a gritar: − Êêêêê, boi!... Êêêêê, boi! O rei olhou admirou-se: − Oxente! Eu não mandei matar aquele indivíduo e como é que ele vem com aquela grande boiada! O rapaz aproximou-se, o rei ordenou: − Aproxime-se. O rapaz foi lá onde estava o rei: − Eu mandei jogar você em alto mar? − Rei meu senhor, lá em alto mar é um encanto. Lá é que tem coisa boa. Mais tempo o senhor tivesse mandado me jogar em alto mar!...


− Ah!... Então mande me amarrar dentro de um saco e jogar em alto mar. − Não senhor, rei meu senhor! Lá só tem riqueza para mim. O senhor é muito rico, não precisa mais de riqueza. Precisar, quem estava precisando, era eu. − Mas eu faço questão que você mande me botar dentro se um saco e jogar em alto mar que eu quero ir buscar também uma boiada pra mim. − Não. De maneira alguma. Desejo que o senhor viva muito mais anos do que eu. − É questão minha. Faço todos esforços pra você me mandar jogar no alto mar, que lá é que tem muita riqueza. Então os empregados pegaram o rei, botaram dentro de um saco e foram jogar em alto mar. Findou o rapaz ficando com a boiada e casando com a filha do rei. E então lutando com a viúva do rei. FIM



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