ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
LUIZ RODRIGUES DE LIMA
A PEDRA MISTERIOSA E OS LADRÕES DE BAGDÁ
Eis a verdadeira história Da Pedra Misteriosa Dos Ladrões de Bagdá E da mulher invejosa O irmão pobre e o rico Dentro da Pedra Formosa
Chamava-se os irmãos Um Joaquim outro Joaz O primeiro muito pobre O outro rico demais Porque tomou do irmão A herança de seus pais.
O pai pereceu na guerra E a viúva coitada Pelo desgôsto que teve E depois de sepultada Joaz passou mão em tudo E deixou Joaquim sem nada
Ficou na propriedade Mas trabalhando alugado Para remir a família Dava murro no pesado Torturado pela fome E Joaz bem descansado Um dia Joaquim estava Sem nada pra se manter Os filhos fracos de fome Tudo capaz de morrer Foi a casa do irmão Arranjar o que comer
Chegou lá disse: Joaz Esta crise me consome Há dois dias lá em casa O meu pessoal não come Por caridade não deixe Meus filhos morrer de fome
Joaz disse: meu irmão Você é muito jeitoso Para comer o alheio É bastante curioso Vá trabalhar vagabundo Largue de ser preguiçoso
Joaquim voltou muito triste E quando em casa chegou A mulher disse: meu velho O que foi que arranjou? Êle disse: meu irmão Até um pão me negou
A pobre disse: chorando Feliz de quem Deus quer bem Sofrendo com paciência Enquanto a morte não vem Deus é um Pai Poderoso Que não despreza ninguém
A pobre se consolou E depois chegou um moço Muito rico e chamou Joaquim pra cavar um poço E forneceu-lhe dinheiro Para comprar o almoço
O pobre muito contente Ao rapaz disse: pois não Eu não enjeito serviço A bem de ganhar o pão Para adquirir dinheiro Eu dou murro até no <<cão>> E então no mesmo dia Ao trabalho deu início Satisfeito com o moço Que lhe fez o benefício Nunca mais faltou o pão Embora com sacrifício
Então naquela fazenda Joaquim ficou empregado Ganhando um bom salário Apascentando o gado Tinha a favor Estava bem melhorado No fim do ano Joaquim Recebeu de seu patrão Uma bezerra famosa Como gratificação Uma sela muito boa E um cavalo alazão
Um dia Joaquim passando Em seu cavalo montado O irmão lhe disse: Quinca Você está melhorando Nunca mais apareceu Parece está intrigado
Joaquim disse: meu irmão É o tempo que não dá Trabalho todos os dias Porisso não venho cá Ainda querendo vir Tempo pra isso não há
Depois Joaquim despediu-se E seguiu sua jornada Então a cunhada disse: Para que pobre com nada Vá <<vê>> aquele cavalo Para eu andar montada Joaz seguiu apressado Para a casa do irmão Chegou lá disse: Joaquim O teu cavalo alazão Só presta pra minha espôsa Andar nêle de silhão
Se você não me der êle Vai se dá um fusuê Portanto eu lhe aviso Resolva logo porque Se não der-me o alazão Eu acabo com você
O pobre pensou um pouco E depois do intervalo Olhou para o irmão E disse: pode levá-lo Joaz pegou o cabresto Saiu puxando o cavalo
O pobre ficou dizendo Aquele <<cabra>> malvado Tomou a minha herança Deixou-me no alugado Agora foi meu cavalo Ah! infame desgraçado
A mulher disse: meu velho A natureza se revolta Contra os ambiciosos E dá uma vira-volta O que êle tomou seu Se Deus quiser inda volta Mas a mulher de Joaz Ambiciosa e ruim Quando o marido chegou Disse: teu irmão Joaquim Ainda tem a bezerra Vá buscá-la para mim
Joaz voltou apressado Pra fazer os gôstos dela Chegou lá disse: Joaquim Esta bezerrinha bela Você me dar ou por outra Comigo se desmantela
Disse a mulher de Joaquim Não precisa de questão Meu velho dê a bezerra Pra não haver confusão A gente ficando em paz Viva Deus e morra o “cão” Joaquim baixou a cabeça Pensou e disse depois Você tomou minha terra Cavalo, ovelha e bois Leve também a bezerra Para não brigar nós dois
Êle puxou a bezerra E Joaquim ficou calado Mas Joaz seguiu dizendo: Eu não aliso barbado Quem fôr fraco que se quebre E morra desmantelado
E a mulher de Joaquim Disse: meu velho querido Mais sofreu Jesus por nós Preso, chagado e cuspido Quanto mais eu e você Haja o que Deus fôr servido
Joaquim pra distrair-se Levantou-se com faceta Encheu o bornal de buxa Pólvora chumbo e espoleta E foi ao mato caçar Com a sua escopeta Andou mais de meia hora Subindo uma serrania Chegou no cume cansado Mais ou menos meio dia Sentou-se pra descansar Numa sombra que havia
Depois Joaquim encontrou Um velha sapucáia Muito grossa e ramalhuda Coberta de samambáia O chão varrido e alvo Igual areia da praia
E junto da sapucáia Ao lado do oriente Existia uma pedra Com um desenho na frente Dando sinal que ali Era morada de gente E como já era tarde Êle fez uma tocaia Na ramagem da madeira E ficou de atalaia Olhando bem para a pedra De cima da sapucaia
Mais ou menos meia noite Dois indivíduos chegaram Com um saco de dinheiro Depois se aproximaram Outros com muitas jóias E sôbre o chão espalharam
E depois surgiram oito Pela vereda arrastando Um surrão de couro crú Tudo alegre conversando E Joaquim com muito medo Lá de cima reparando Quando se juntaram todos Começaram a conversar E o chefe dos ladrões Disse: vamos saltear Uma grande caravana Que amanhã vai passar
O dia já está próximo Vamos guardar nosso ouro E arrastaram de novo Aquele saco de couro Até encontrar na pedra O valioso tesouro
Olhando pra todo lado Porém não viram Joaquim E o chefe dos ladrões Começou dizendo assim: Abre-te pedra formosa Com a chave de Merlim
A pedra abriu-se e entraram Mas sairam sem demora E seguiram na vereda Então Joaquim nessa hora Desceu-se da sapucaia Dizendo: enriquei agora
Se esta pedra abrir-se Não há mais tempo ruim Abre-te pedra formosa Com a chave de Merlim E ela tornou abrir-se Dando passagem a Joaquim Êle entrou e fechou A porta misteriosa E ficou admirado Vendo na pedra formosa Montes de prata e de ouro E de pedra preciosa Joaquim encheu o chapéu E o bisaco de couro De platina e de brilhante Dinheiro de prata e ouro E saiu muito contente Sorrindo com o tesouro
Chegou em casa contente Já o dia amanhecido E disse para a mulher: Fui por Deus favorecido Porque achei na montanha Um bom tesouro escondido Vamos depressa buscar Ouro, prata e dinheiro Com dois balaios subiram Um grande despenhadeiro Chegaram na dita pedra Fizeram tudo ligeiro
Êle pôs a mão na pedra E tornou dizer assim Abre-te pedra formosa Com a chave de Merlim Ela abriu-se de novo Dando passagem a Joaquim.
A mulher entrou também Na pedra misteriosa Dando mil graças a Deus Dentro da pedra formosa E ajudou o marido Na colheta vantajosa
Encheram ali dois balaios De ouro prata e brilhante Trancelim, brinco, pulseira Dinheiro botou bastante E conduziu para casa Uma fortuna gigante E quando chegou em casa Mandou o filho ligeiro Vá me dizer a Joaz Que venha contar dinheiro Diga a êle que agora Eu sou um rico banqueiro
O menino foi depressa Deu o recado e então Joaz disse: se fôr certo Eu iludo meu irmão E tomo o dinheiro dêle Não deixou nem um tostão. E quando chegou na casa De Joaquim muito vexado Entrou, e vendo o ouro Ficou muito admirado E perguntou ao irmão Aonde tinha arranjado. Joaquim disse: ali perto Um grande tesouro tem Joaz disse: me ensina Para eu ir lá também Você ensinando a mim Eu não ensino a ninguém.
O pobre explicou tudo E o rico com desespĂŞro Correu pra casa e disse: Mulher prepare ligeiro Dois sacos grandes de couro E vamos buscar dinheiro. Botou no burro a cangalha Montou e seguiu vexado Com a mulher de garupa Para ser mais informado Foi a casa do irmĂŁo E lhe falou com agrado.
<<Quinca>> me diga de novo Aonde fica o tesouro Para eu com a mulher Levar dois sacos de couro E trazer cheios de prata Brilhante, platina e ouro.
Joaquim disse: eu irmão É ali muito pertinho Porém você indo só Não acerta o caminho É bom que eu vá também Pra você não ir sozinho
Joaz disse: então vamos Que dá mais resultado Subindo a serra chegaram Naquele lugar marcado E no pé da sapucáia Ficou o burro amarrado
Joaquim pôs a mão na pedra Murmurou e disse assim: Abre-te pedra formosa Coma chave de Merlim Ela abriu-se porém Tornou-se a coisa ruim
Porque entraram na pedra E logo ela fechou-se Joaquim voltou para casa E o irmão preparou-se Pra sair com a mulher Mas na porta engalhou-se
A porta tinha fechado Dali ninguém não saía Êle esqueceu as palavras E desta forma dizia: Abre-te pedra fogosa Mas ela não se abria
Joaz coçou a cabeça Depois exclamou de novo Abre-te pedra caleste Antes que chega o povo Senão eu morro emprensado Igual um pinto no ôvo
A mulher disse: meu velho As palavras são assim: Abre-te pedra fanhosa Com a chave de Caim Mas a pedra não abriu-se Tornou-se coisa ruim
E Joaz aperriado Sem ter por onde passar Danou o peito na pedra E começou a gritar Abre-te pedra do céu Antes do povo chegar
Abre-te pedra de deus Abre-te santa aurora Abre-te estrêla divina Abre-te pedra caipora Abre-te pedra do bute Deixa de tanta demora
Êle já com ar de louco Gritava de fazer pena Abre-te moléstia feia Abre-te pedra granguena Abre-te bute caiana Abre-te gota serena
Estava nesta agonia Gritando forçosamente Nisso os ladrões chegaram E vendo o burro na frente Disseram: estamos roubando Dentro da pedra tem gente
E Joaz aperriado Ainda gritando brabo Abre-te pedra maxixe Abre-te pedra quiabo Abre-te pedra maldita Abre-te pedra do diabo
Os ladrões se encostaram Na pedra dizendo assim: Abre-te pedra formosa Com a chave de Melim Ela abriu-se e Joaz Pensou que fôsse Joaquim Ficou bastante contente Quando a pedra se abriu Fez mensão para sair Porém de repente viu O grupo na sua frente Do canto nem se boliu
E o chefe dos ladrões Disse: bandido ruim Você vai morrer sabendo Joaz exclamou assim: Seu capitão não me mate O culpado foi Joaquim
Um ladrão aproximou-se E disse: muito zangado: Eu nunca ví este côrno Pra de nada ser culpado Tocou-lhe a mão pela cara Que êle caiu sentado
E a mulher de Joaz Também entrou no pacote O chefe deu-lhe um murro Que ela saiu de trote Caiu junto do marido Aí danaram o chicote Falaram o couro sem pena Além da pisa depois Puxaram pelos punhais E sangraram todos dois Joaquim ficou com a terra Dinheiro, ovelhas e bois
Os ladrões se desgostaram E naquele mesmo dia Carregaram o tesouro Que dentro da pedra havia Porém deixaram os mortos Deitados na lage fria Se alguém ainda fôr Na pedra misteriosa Verá o montão de ossos Da mulher ambiciosa Que dorme com o marido Dentro da pedra formosa
Joaquim foi gozar a vida Feliz de quem Deus quer bem Quem trabalha Deus ajuda Quem faz pela vida tem Deus é um Pai piedoso Que não despreza ninguém
Joaz botou o irmão Em grande dificuldade Tomou o que era dele Mas a suma divindade Compadeceu-se do pobre E deu-lhe a felicidade
Louvai a Deus Poderoso Ungido todos os cantos Senhor de todos senhores Inda de poderes tantos Deus é nosso Criador E Santo de todos os Santos
Louvai também a Jesus Ungidos Filho de Deus Redentor dos filhos seus Isto é, divina luz Garantiu até na cruz Uma plena salvação A Dimas o Bom Ladrão Salvou por ser Pai Clemente Inda deixou para a gente Os frutos da redenção.
FIM