ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
JOSÉ BERNARDO DA SILVA
A PRANTEADA MORTE DO PADRE CICERO ROMÃO
Muito triste e pesaroso Chamo o leitor a atenção Para tratar num assunto De grande lamentação Que se chama o pessoal Pela ausência fatal Do padre Cicero Romão
Há dias que meu Padrinho Estava muito doente Principalmente dos olhos Que sofria horrivelmente Assim eu ouvi dizer Que ele cegou para não vê Os usos do tempo presente
Devido ele está assim Dona Mocinha dizia: Seu padre, nós sem demora Temos que ir a Bahia Passar uns meses por lá Melhorando voltará Na paz da virgem Maria
Meu Padrinho disse : Joana Para Bahia não vou Com pena dos meus romeiros Deu um ai e suspirou O senhor Bispo do Crato Estava ai disse: de fato Esta conselho eu não dou Corria o vocal na rua E vai? outro não vai Bom ir, outro diz; não É que ele não foi mais As a surpresa anda alerta Vez enquando penetra Em seus gestos acidentais Passando porção de dias Dona Mocinha tratou De arranjar um dinheiro E vinte contos guardou Mandou um capitalista Procurar um oculista Que sem demora chegou
Antes do doutor chegar Meu Padrinho no sermão Disse a todos os romeiros: Cuidem em fazer oração Peçam a Virgem qu’eu veja Pra ver se assim não seja Preciso de operação
No dia 8 de junho Uma noticia vagou Pelas ruas da cidade Que muitos até se assustou Devido a estarem cismados Diziam os recém chegados Não sabem? o homem chegou Meu padrinho no outro dia Saiu pra nos avisar Eu vou me tratar dos olhos Que estou sem enxergar O tratamento um mês rola Por mim vocês deêm esmolas Que hei de recompensar
Sei que a minha doença Médico nenhum dará jeito Nem os santos milagrosos Não tiraram proveito Tirariam os pais de familias Se obrigassem as filhas Terem vergonha e respeito Vinte dias se passaram Sem ele vir a janela Porque o médico exigia No tratamento cautela Romeiro ir lá isso não... Pois tinha de guarnição Na porta uma setinela
E no dia de S. João Meu padrinho apareceu − Viva, viva meu Padrinho! O povo em massa rompeu Vivas e fogos no ar Só se ouvia era estalar Que todo rua se encheu
O pessoal dava viva A nosso pai adorado Mas o coração de todos Se sentia trapassado Porque viam meu Padrinho Puxando como um ceguinho Triste e desconsolado
No seu semblante se ia Os traços sentimentais Como quem diz: meus romeiros Breve não me verão mais!... Dando naquela partida Um adeus por despedida E se retirou em paz Entrou pra seu gabinete Foi cumprir sua dieta Boas noticias vagaram Na multidão inquieta Então a romeraria Pediu a Virgem Maria Sua saúde completa
Correndo sempre a noticia De sua melhora urgente No entre que foi chegada A festa de S. Vicente Nรฃo sei se foi zuada Ou se a hora foi chegada Que o piorou de repente Dona Mocinha depressa Mandou logo um portador Para a cidade de Crato Pra de lรก vir um doutor Chamou o doutor Belem Que com um remedio vem Com o seu coadjutor
Os assistentes presentes Ficaram muito vexados Esgotaram todos os meios Que tem um homem estudado Vendo debalde os recursos Romperam ali em soluรงos Bastante contrariados
Deram-lhe 3 injeções Mas ele não melhorou Depois um copo de leite Ele a metade tomou Com a fraqueza tambem E leite não lhe fez bem Que ele até vomitou
Seu corpo maravilhoso Gelidamente ficava Deixando o mundo das trevas A terra que tanto amava Chorando por seus romeiros Lançando o braço ligeiro A nós todos abençoava
Lembrando-se do Retiro Já na última agonia E ali foi suspirando Que quase ninguem ouvia Abençoou toda praça Para alcançar sua graça E do Coração de Maria
Joana! Joana!... Quede ela? Prontamente ela chegou Me abençõe pai amoroso Ele a ela abençoou Dizendo por despedida Adeus, até outra vida Que meu tempo se findou
Primeiro que tudo disse Já com a voz compugida Orai a todo momento Não percam tempo na vida Eu no céu por minha vez Irei rogar por vocês E Virgem Mãe Concebida As cinco da madrugada No ano de trinta e quatro Ás seis e meia seriam Quando correu o boato Que meu Padrinho morreu Todo mundo entristeceu Dizendo: não é exato
De toda parte se via O povo vir em rebanho Tirar de si o engano Profundamente estranho Certificar a verdade Sobre o local da cidade Já vi delírio tamanho!
Depois que mudaram a túnica Botaram ele no salão Onde os romeiros rendessem Um culto de adoração Chegaram ali os fiéis Prostrados beijavam os pés Com dor no seu coração Botaram numa janela Do seu sobrado o caixão Onde se fez aumentar A triste população Ali seu corpo inocente Passou o dia presente Aos olhos da multidão
Na hora que o caixão Sobre a janela posou Alguem que estava de fora Atentamente olhou E foram estremecendo Bradando vivas e dizendo: Padrinho Cícero tornou!
Nessa voz houve 1 estampido De vivas do pessoal Que atentamente esperava Esse momento final Quando outra voz gritou: Ele não se levantou! Se ouvia um pranto em geral Choravam velhos e velhas Homens, mulheres e crianças Um delirante arruído De todos sem esperança Sem ter consolo um segundo Por retirar-se do mundo O astro de esperança
Partiu dos eixos do mundo O mais brilhante luzeiro Estrela que iluminava Do Brasil ao estrangeiro Se separou da materia Devido a tanta misĂŠria Que hĂĄ neste globo inteiro FIM