A tragedia

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


BATISTA DE SENA E VIDAL SANTOS

A TRAGEDIA

FORTALEZA 1982



Com ordem e consentimento Do Grande Deus Verdadeiro Vou narrar uma tragédia Que abalou o estrangeiro Enlutando o Ceará E quase o Brasil inteiro Quando um avião da Vasp Por coincidência estranha Com toda força arrojou-se No Pico da Aratanha Se transformando em pedaços No choque contra a montanha Já chegando em Fortaleza Num instante temeroso Cento e trinta e seis pessoas De um modo tenebroso Morreram sem esperar No desastre pavoroso


Por uma ordem tão árdua Do autor da natureza Quanta angústia e aflição Quanta dor, quanta tristeza Quantas lágrimas derramadas Quanto luto em Fortaleza! Grande e lamentável a perca Do Senhor Edson Queiroz Subiu para o céu porque De Jesus Ouviu a voz Aqui oramos por ele Ele lá roga por nós Porque foi ele quem deu Para o povo nordestino Inclusive o Ceará Comércio Indústrial e Ensino Deus lhe dê a recompensa Lá no Tribunal Divino


Trabalhar pelo progresso Ele tinha como ofício A fim de ajudar o povo Não media sacrifício Doando á terra e a gente O seu grande benefício Na classe empresarial Ele com força e saúde Troféu, diploma e medalha Ganhava por ter virtude Fundou até faculdade Para nossa juventude Na Glória foi receber De Cristo mais um trófeu Seu espírito radiante Subiu envolto num véu E penetrou nas esferas Das dobras brancas do céu


Bondoso Edson Queiroz Tu és bem-aventurado Trabalhaste ao bem do povo Por Deus serás coroado Tiveste a vida de um justo Foste tão martirizado! Como é penoso falar Nos nomes de toda gente Vitimada no desastre Agora é conveniente Relatar entristecido Como deu-se o acidente No dia oito de junho As duas horas e meia Da madrugada sinistra Se deu a tragédia feia Que todo Brasil lamenta E o Ceará prateia


Naquele momento o Boeing Avistou para pousar Em Fortaleza e depois Sem nada comunicar Despedaçou-se na serra Antes de aterrissar Sobrevoando o espaço Da Serra da Aratanha O Comandante do Boeing Por motivo que se estranha Invés de passar por cima Chocou-se contra a montanha Foi ouvindo o grande estrondo Pela alta madrugada Avisaram à Fortaleza Seguiu gente em disparada Para socorrer as vítimas Da tragédia inesperada


Um bebê de cinco meses Que no Boeing viajava Naquele exato momento Na porta do céu entrava E atrás dele um cortejo Da alma lhe acompanhava Logo a partir do sopé Da montanha temerosa Era difícil a subida Por vereda cavernosa E despejos de regatos Sobre a face pedregosa Com muito esforço chegaram No local do acidente Em redor de dois quilômetros Se encontravam, infelizmente, Por todo canto espalhados Cabeça e pernas de gente


Dentaduras pelo chão Roupa e mala espedaçada Regueiro escorrendo sangue Floresta carbonizada Alumínio retorcido Terra e pedra ensanguentada Na forma em que se achava Corpo todo espatifado Cento e trinta e seis, jogados Dentro do mato fechado Cada qual mais impossível De ser identificado Mediante o descalabro Pensaram desta maneira Juntar os restos mortais Em gruta, córrego e ladeira Botar em sacos de lona Toda aquela pedaceira


De quase todo o Brasil Começou a chegar gente Para lamentar as vítimas Em procura de parente Que pereceu no desastre Doloroso e comovente Isolaram o Instituto Do prédio Médico Legal Temendo a invasão Feita pelo pessoal Que em pranto lamentava O drama triste e fatal Chegava no Instituto Dentadura, perna e braços Unhas de mulher pintadas E pés de gente descalços Um amontoado enorme! De carne humana em pedaços


Perante o monte de carne Da pedaceira de gente Não se podia saber De quem era pertencente Se era de algum amigo De estranho ou de parente Era um dia de juízo De tristeza e de lamento Porém era necessário A tudo dar andamento Pra resolver o embaraço Daquele sepultamento O Cardeal Aloísio Perante a grande aflição Como Ministro de Cristo Deu a sua opinião Que todo o povo presente Aceitou de coração


Como este povo morreu Por desígnio da natura Irmanando em sofrimento De angústia e amargura Deve descansar em paz Em uma só sepultura Abriram uma grande vala No Campo Santo da Paz Profunda e suficiente Com todo espaço capaz De dar o descanso eterno Aqueles restos mortais

FIM



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