Cidadania, nome de mulher

Page 1


ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


SALETE MARIA

CIDADANIA NOME DE MULHER

JUAZEIRO DO NORTE 2001



Quando minha bisavó Vivia pelo sertão Era um tempo de aperreio Era grande a precisão Mulher não tinha direito Pro homem tudo era feito Só ele era cidadão Era comum se ouvir Que mulher vive é calada Faz a vontade do homem Para não ficar “falada” A mulher era um objeto Casava pra ter um teto E cuidar da filharada A mulher também não tinha Nenhum prazer sexual Nem mesmo sonho ou desejo Vivia como animal


Servia sempre seu dono Ou caía no abandono Era o destino fatal Se quisesse trabalhar Seria dentro de casa Estudar era um perigo Pois podia criar “asa” A família exigia Q’ela se casasse um dia Pra ver se desencalhava Era grande o sofrimento Da mulher daqueles dias Não se falava em direito Tudo isso era utopia Bastante coisa mudou Mas ela continuou Vítima da covardia


Lutar, eu sei que lutou Se pôs contra a monarquia Deu à luz o cidadão Mesmo sem cidadania Se organizou, foi à rua Rasgou o véu, ficou nua Pugnou por alforria Enfrentou os militares Disse: “queremos votar” Ajudou fundar partidos Deixou de silenciar Lançou sua voz ao vento No Poder tomou assento Conseguiu se emancipar Por conta de sua luta Um preço sempre pagou Pois mentes reacionárias O mundo sempre gerou


Mas foi no capitalismo Onde o crescente machismo Outras proporções tomou Variadas são as faces Dos crimes contra a mulher A violência velada Ninguém vê, ninguém dá fé Mas quando é ostensiva O mundo todo se esquiva “e ninguém mete a colher” Há casos onde a vítima É tida como culpada O mundo todo pergunta Pelo que fez a finada Como querendo saber Se ela fez por merecer Ter a vida abreviada


A opressão feminina É algo muito cruel E apesar dos direitos Insculpidos no papel A violência avança Matando até criança De forma torpe e cruel Aqui no meu Cariri Dos limites já passou Pois diversas companheiras O machismo já matou Foi crime de toda forma E que ninguém se conforma Passe quanto tempo for Mulher de todas as classes De idades variadas Algumas desconhecidas Outras identificadas


Morreram barbaramente Mas seus algozes contentes Estão soltos, a dar risadas Mas vamos somando braços, Mãos, cabeças, coração Sigamos os nossos passos Nenhuma luta é em vão A conquista do presente Foi no passado a semente Que se plantou nesse chão Para se fazer justiça Não há só o tribunal A gente também conquista A luta em palco real Pois se o governo demora E o parlamento ignora É porque votamos mal


Vamos mostrar que pensamos E procriamos idéias E que não só menstruamos Gritemos em assembléia Cidadania se quer E tem nome de mulher Eis a nossa epopéia Uma questão de justiça Estamos a colocar Ninguém pode ser omissa O tempo é de lutar “Cidadania-Mulher” É tudo que a gente quer Não podemos mais calar Não é justo que hoje em dia Nada possamos fazer Pois se vovó não queria Desta maneira viver


Como poderemos nós Quase cem anos após À opressão nos render? Eis o nosso desafio É preciso matutar Vovó não tinha direito Mas hoje direito há: Para que cidadania? Só pra rimar com Maria? Ou pra se exercitar? Repito: cidadania Já tem nome de mulher Se não vem delegacia Então mostremos quem é A autoridade vil Que com má-fé e ardil Faz conosco o que bem quer


E pra finalizar Um convite a OAB (Para a luta não parar Para não arrefecer) Vamos nos somar agora “pois quem sabe faz a hora Não espera acontecer” FIM



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.