Estória da princesa carmelita amada de três amantes

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOAQUIM BATISTA DE SENA

ESTÓRIA DA PRINCESA CARMELITA AMADA DE TRÊS AMANTES

JUAZEIRO DO NORTE 1977



No ano mil e seiscentos Na capital de París No grande império da França Governava D. Luiz Com grande honra e respeito Do pessoal do país D. Luiz tinha uma filha Por nome de Carmelita Que além de primogênita Tinha mais a grande dita Que das donzelas de França Era a mais jovem e bonita Carmelita era dotada De grande simplicidade No rosto dela se lia Inocência e castidade Amor singelo e pureza Firmeza e sinceridade


O gesto era duma santa Os traços dum anjo louro O aspecto prometia Ser no seu tempo vindouro Como senhora uma mãe Como consorte um tesouro Mas como essa vida É cheia de confusão Embora que a luz do senso Nos faça orientação Não isenta de cair Nas velas da perdição Enquanto o rei Dom Luiz E essa gentil princesa Recebiam grandes aplausos Da população francesa Declarou-se contra eles A revolução inglesa


E continuou a luta Da França contra a Inglaterra Dom Luiz com suas forças Entrou no auge da guerra Contra ingleses que queriam Conquistar a sua terra E com um ano e três meses De batalha absoluta Dom Luiz viu que perdia Fez na Bélgica uma consulta Pra Itália e a Lorena Irem ajudá-lo na luta Ai travou-se o combate Com mais força e resistência Dom Luiz contra os ingleses Marchou com mais 3 potências Comandados por 3 príncipes Guerreiros de experiência


E deram enormes batalhas Venceram então aos ingleses Conquistaram a Inglaterra No período de três meses E toda população Ficou sujeita aos franceses Depois Dom Luiz chamou Os 3 príncipes e disse assim: − A vocês devo o meu reino Minha honra e tudo enfim Portanto vocês exijam O pagamento de mim Daniel de Vasconcelos Era o príncipe de Lorena Que venceu a grande guerra No departamento Sena Disse: − Rei eu não aceito Quantia grande ou pequena


Mas aceito de bom gosto Sua filha a casamento Se por acaso eu for digno E tiver merecimento Ou do contrário desculpe O meu grande atrevimento O rei de bom gosto deu A princesa a Daniel Ai levantou-se contra O príncipe Salatiel Imperador da Itália Filho do rei Mizael E disse: − Rei Dom Luiz Eu sou contra essa proposta Porque já mandei para ela Um cartão por José Costa Pedindo-a em casamento Só falta vir a resposta


E eu também não aceito Dinheiro por pagamento Sim, aceito Carmelita De bom gosto a casamento Ou do contrário na França Haverá guerra e tormento Ai o príncipe Leandro Depressa falou também: − E rei a sua filha Não será moça de bem Porque ela é noiva minha Juro por Deus de Belém Pois eu conversei com ela Ontem as 10 horas do dia Falei ela a casamento Ela com muita alegria Disse, se seu pai quisesse Ela por gosto queria


Ai o rei Dom Luiz Disse com grande aspereza: − Não creio que minha filha Pratique tanta baixeza E mandou que duas dama Fosse chamar a princesa Quando a princesa chegou Perante aquela audiência Dom Luiz interrogou-a Com muita calma e prudência E ela disse: − Meu pai Eu provo a minha inocência E exato que Leandro Já me falou casamento E eu disse, se meu pai Me der o consentimento Eu aceitava o contrato Não havendo impedimento


E depois com meia hora Eu recebi uma escrita Que Salatiel mandou-me Dizendo assim: − Carmelita Se tu casares comigo Eu farei a tua dita Respondi a sua carta Que não podia aceitar Visto ter um pretendente Para comigo casar E pelo mesmo correio Mandei a carta entregar Portanto estou inocente Desta calúnia cruel Porque nunca namorei Com o príncipe Daniel E nem dei minha palavra Ao príncipe Salatiel


Ai rompeu no reinado Uma discussão pesada Cada príncipe levantou-se E puxou a sua espada Um dizia, outro dizia: − A princesa é minha amada Dom Luiz entrou no meio Da grande revolução E apaziguando os príncipes E acalmando a questão Prometendo aos contendores Fazer paz e união Os príncipes se acalmaram Dom Luiz muito cortês Disse: − Eu darei minha filha A qualquer um de vocês Mas é preciso que haja Uma concórdia entre os três


A concórdia é o seguinte: Pra cada qual viajar E trazer um objeto Para se avaliar O que trouxer o melhor Com a moça a de casar Os príncipes então disseram: − Muito bem, vamos embora E saíram procurando Os três pelo mundo afora E cada qual trabalhando A bem de sua melhora Quando completou um ano Que eles tinham saído Foram encontrar-se os três Num reino desconhecido Cada qual com um objeto Valoroso e garantido


Entraram em conversação E cada qual foi mostrar Seu objeto dizendo: − Com a moça hei de casa Porque melhor do que tenho Ninguém não pode encontrar Salatiel lhe mostrou Um espelho prateado Que via-se no cristal O retrato desejado De todo povo presente Do futuro e do passado Daniel disse: Leandro Oh! que espelho galante Deixas que eu quero olhar Pra minha querida amante E todo povo da França Que de mim está distante


Ai puxaram uma mola Depois rodaram um botão Quando um ponteiro moveu-se Que fez a concentração Começou se vendo a França Com toda população Neste cinema invisível Os príncipes viram o império Todo coberto de luto E um cortejo funério Para levar Carmelita Morta para o cemitério Daniel chorando disse: − Leandro e Salatiel Vamos assistir ao enterro De minha amante fiel Ai os príncipes disseram: − Estás louco Daniel?!


− Louco não, respondeu ele Dando um suspiro profundo, Eu tenho aqui um tapete Que no correr dum segundo Transportará todos nós Pra qualquer parte do mundo Leandro disse: − Pois vamos Que eu salvo Carmelita Porque eu tenho um remédio Feito da <<flora bendita>> Que um morto com três dias Se o beber ressuscita Reuniram-se os três príncipes No tapete se sentaram Disseram: − Vamos à França Enquanto os olhos fecharam E abriram novamente Dentro da França chegaram


Dom Luiz foi encontra-los Em pranto e lastimação Dizendo assim aos príncipes: − Venham olhar o caixão Carmelita ontem morreu Oh! meu Deus que aflição! Leandro se aproximou Do caixão de Carmelita E depois deu um remédio Dizendo: − Ela ressuscita Nisso a jovem levantou-se Forte, corada e bonita O povo todo assustou-se Vendo-a ressuscitar Dom Luiz disse: − Leandro Te aprontas para casar Nisto os dois príncipes disseram: − Temos razão de empatar


Vossa Alteza se recorda Do négocio que fizeram Pra trazer três objetos Como de fato trouxemos Falta agora avaliar Os objetos que temos Salatiel disse: − Foi Meu espelho que avistou Daniel disse: − E o meu Tapete foi quem levou Leandro disse: − E o meu Remédio ressuscitou Daniel disse: − Leandro Meu tapete é garantido Porque se não fosse ele Que a vós tivesse trazido Quando tu aqui chegasse Teu remédio era perdido


− E se não fosse o remédio Ela não ressuscitava O tapete não valia Nem ela também casava Nem eu, nem ele, nem tu Vitória alguma alcançava − E se não fosse o espelho Nenhum de vocês sabia Da morte de Carmelita Quando chegasse um dia Não dava jeito porque Dela já nada existia Nessa hora Dom Luiz Respondeu por sua vez: − Pois então a minha filha Há de casar-se com três Embora eu ache impossível Essa concórdia em vocês


Carmelita de joelhos Pediu a Virgem Maria: − Tenha compaixão de mim Minha mãe sagrada e pia Cortai-me o fio da vida Antes que chegue esse dia E quando venceu-se o prazo Daquele tempo marcado Marcou então Carmelita Com os três noivos de lado De palma, véu e capela Pra celebrar-se o noivado Quando chegou no altar O padre lhe perguntou: − Quer casar com 3 maridos? Ela calada ficou E nisto deu um desmaio Caiu ali se acabou


O povo todo chorando Conduziu morta a donzela O príncipe Salatiel E Daniel junto dela E Leandro então dizendo: − Deem agora a vida dela! Quedê agora o espelho Do príncipe Salatiel Como também o tapete Do amigo Daniel? Que não salvam Carmelita Neste dilema cruel Portanto agora se sabe Analisar-se o valor Dos nossos três objetos Qual é o merecedor De alegrar ao público Por seu grau superior


E foi buscar o remédio E deu um pouquinho a ela Logo foi abrindo os olhos Aquele linda donzela Da cama se levantou Risonha, corada e bela Ai os outros dois príncipes Não atendendo a razão Contrataram advogados Levaram avante a questão Querendo partir a moça Pra cada qual um quinhão D. Luiz ouvindo isto Logo em pranto se desfez Levou a filha e os príncipes Para o altar desta vez Chamou o padre e a jovem Casou-se com todos três


Depois desta cerimonia Os príncipes com cortesia Acompanhavam a princesa Para o canto que ela ia Mas nenhum se apoderava Porque tudo ali rola E assim passaram o dia Cada qual enciumado Quando a noite aproximou-se Foram lá para um sobrado Onde tinha pra os noivos Um leito lindo e forrado Ai a linda princesa Chamou a cada marido E disse: − Ainda me resta Eu vos fazer um pedido E o que satisfazer-me Este será meu querido


Porque sei que o amor puro Não pode obter um sócio E sim, se for imbecil Degenerado e beócio Portanto os três combinem E vamos fazer um negócio O negócio é o seguinte: Para cada um se bater Com o outro na espada Eu serei do que vencer Esta tremenda batalha Nada ganha o que morrer Nisto os príncipes disseram: − Está bem princesa amada Cada qual enfurecido Puxou logo a sua espada E se travaram ali mesmo Numa luta ensanguentada


O príncipe Salatiel A sua espada enfiou Bem no peito de Leandro E ele morto tombou Mas tomando seu remédio De perci ressuscitou E entrou de novo em luta Muito mais disposto ainda Dizendo: − Saiba bandido Que Jesus do céu me brinda Pois eu morro e ressuscito E você morre e se finda E metendo a espada No príncipe Salatiel Este então caiu morrendo E dizendo: − Oh! dor cruel! Ficou somente Leandro A lutar com Daniel


Porém com poucos minutos Leandro como um leão No peito de Daniel Cravou seu espadagão Daniel dando um gemido Tombou sem vida no chão Ficou Leandro somente Tranquilo e regosijado Recebendo os parabéns Com sua amante dum lado E Carmelita anciosa Por seu amor desejado Pois se não fosse o remédio Leandro tinha morrido E não gozava os carinhos Daquele anjo querido O tapete e o espelho Não o tinham favorecido

FIM



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