ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
ABRAÃO BATISTA
LOZARTE E ORMANDO NO PAÍS DOS XELELÉUS
Existe uma cidade Num país imaginário Onde o rei era escolhido Pelo voto perdulário E esta cidade assim Tinha o nome de calvário. A cidade era rica De artistas e artesãos Tinha pobre e tinha rico Uns honestos outros ladrãos E o que mais se admirava Era o tanto de cristãos. Acontece que a cidade Vivia em harmonia Mas numa coroação Houve patifaria Por que enganaram o povo Que o seu voto vendia.
Pois bem, eu vou contar Direito o que aconteceu Mostrando para o leitor Se já não reconheceu Essa estória engraçada Que é o retrato meu. Calvário era cidade Da qual faço a discrição Terra que pistoleiro Tinha grande recepção Sem contar o contrabando Que frequentava o salão. O último rei da cidade Morrera de doença feia Por isso foi necessário Fazer-se uma grande ceia Para outra coroação Do aovo rei da aldeia.
A escolha foi muito dura No meio dos pretendentes Pois só um era do gosto Das peçonhosas serpentes Um grupo que tinha tudo E comprava aquelas gentes. Esse grupo poderoso Executava o que queria Tomava as terras, e matava Aquele que se atrevia A não aceitar calado A imoral covardia. Pois bem, esse grupo era Composto de três irmãos Cada qual o mais tirano Covardes, sem coraçãos; Por não lamber-lhes os pés Matava gatos e cães.
Roberto era um deles Adalio, o outro tambem Não ficou nenhum em paz Por não lhes dizer amem No dia da coroação Que foi o engano do bem. Ormando era orgulhoso Metido a valentia Era um rico analfabeto Não decifrava o que via Era forte e também tinha Ao seu lado a covardia. Ormando gastou uma soma Que pobre não tem a conta Para coroar o dito rei Que mais tarde foi lhes a ponta Enfiadas nas costelas De vaca parida e tonta.
Ormando tinha um amigo Que se chamava lozarte Mas, esse mesmo amigo Foi-lhe causar de enfarte E motivo desses versos Que escrevo nessa parte. Para coroar Lozarte Ormando gastou dinheiro Que se eu dissesse o tanto O povo do mundo inteiro Iria morar em Calvรกrio Dando um golpe certeiro. Lozarte era baixinho E sabia fazer macumba Junto com uns amigos Danรงou a maior rumba Com sangue de gato preto E ossos de catacumba.
Com o dinheiro de Ormando E muita feitiçaria Lozarte foi coroado Sem contar com a covardia Dos falsos que inventaram De causar nojo e agonia. Lozarte assim recebeu De Ormando a cobertura Por que Adálio contava Como resposta segura A convivência do rei No palácio e chefatura. Eu só sei da grande festa No dia da coroação De Lozarte, rei Da cidade do artesão Soltaram tanto foguete Que estremeceu o chão.
Mas logo no outro dia Que Lozarte era o rei Ormando foi lhe falar Para fazer... eu não sei Lozarte deu-lhe um não Que a razão encontrei. Ormando ficou furioso E prometeu se vingar Cortou as relações E mandou propagar Que Lozarte não prestava E devia abdicar. Ora, como Calvário Era o país dos xeleléus A notícia correu logo Desde os buracos pros céus Porque Ormando contava Com os pregadores seus.
Lozarte era valente E nunca se acovardou Foi as trombetas do paço E lá de cima gritou Que ele era baixinho Mas, nunca bom encontrou. Nisso, um xeleléu Que estava por perto Gritou para Lozarte: O rei não está certo! Mas, lozarte deu lhe um sopro Que ele caiu aberto. O palácio estava cheio De xeleléus de Ormando Por isso todos ficaram Por seu patrão insufiando Enquanto que a princesa Chamava se lastimando.
Até agora, leitor Ainda não quis falar Sobre a bela princesa Que com o rei quis casar E essa decisão sua Foi um tremendo azar. Serra Horta se chamava A princesa do reinado Era rica, bela e pura Tinha horta e tinha gado E para Lozarte foi O mais completo achado Serra Horta cultivava No seu grande pomar Umas goiabas bichadas Para os bichos bicar E certo dia Lozarte Por isso pôs-se a chorar
Lozarte chorava tanto Em sua lastimação Com pena dessas goiabas Que provocou atenção E o povo ficou sabendo Que era outra a intenção O rei então começou As goiabas distribuir Entre os membros da familia Que resultou entupir Aqueles que com muita fome Foram os carosos engolir... Ormando sabendo disso Para o palácio, se dirigiu Nos braços dos xeleléus E todo mundo sentiu As frases injuriadas Que ele lá proferiu.
Ele disse que Lozarte Era ladrão mentiroso Era velho, e já caduco Metido a príncipe fogoso E não dava uns tapas Porque era carinhoso... Lozarte disse: não! É você quem é ladrão Quem imitou a assinatura Do ministo da nação E você cale o badalo Se não o deixo no chão! Ormando disse: seu velho ---E a ponte subterrânea Que você construiu? Outra cousa errônea: Os calçamentos invisiveis Para eu tirar instantânea?...
Lozarte disse: seu peste E as folhas de pagamento Que você daquele dia Não teve comportamento, Enganou os seus soldados É seu filho dum jumento! Ormando com essa frase Agarrou duma peixeira Deu três tiros para cima Que um xeleléu, na carreira Agarrou se por debaixo Da saia de uma freira. Lozarte muito ligeiro Deu um pulo para traz Com um chute em Ormando Acertando bem no az Que o pobre deu um grito Dizendo: assim não se faz!
Os xeleléus de Ormando Cairam no pobre rei Que apesar da idade Foi mais valente, só sei Que xeleléu apanhou O que nunca anotei. Lozarte disse: Ormando Tu não eras o meu amigo? Por causa dumas goiabas Você briga cá, comigo... Ou você deixa de besteira Ou lhe ponho ao desabrigo Ormando disse eu não quero Saber da sua amizade Você é um cafageste Cheio de falsidade Por isso eu só descanso Quando lhe cortar a metade.
Lozarte pegou um pau Meteu no centro de Ormando Mas, esse de um pulo só Escandaloso foi chamado Lozarte de cobra imundo E a luta recomeçando Um xeleléu atrevido Gritava como um maluco Mas Lozarte deu lhe um tiro Certeiro com seu trabuco Que um tal de dr. Genebra Caiu babando um muco. Adálio, preocupado Com Ormando... o furioso Procurou aconselhar O irmão, todo dengoso Enquando que os xeleléus Aplaudiam o seu fogoso.
Nisso, houve uma trégua De 3 a 4 semanas Lozarte se recolheu Para comer as bananas Que os xeleléus enviaram Porque eram sacanas. Nesse intervalo, também Adálio foi escolhido O rei de outra cidade Num pais escondido Só por causa do dinheiro Na corte era querido. Quando escolheram Adálio O rei da sociedade Ele falou para o povo Que tinha a novidade De nomear uma parteira Para toda a cidade...
Aquela noticia era Para um povo adiantado A realidade tremenda Que o rei era atrasado E desse dia por diante Ficou-se desconfiado. Era a intenção de Adálio De aproveitar as goiabas Do reinado de Lozarte E criar 100 mil plabas Para que o príncipe Ormando Alimentasse as suas tabas. Serra Horta ouvindo isso Depressa, se indignou Pela tolice de Adálio E para ele escriturou Um oficio de protesto Que direto o enquadrou.
Serra Horta era a rainha De Lozarte, o rei pequeno, E pedia sempre pro noivo Para aguentar mais sereno Mas, Lozarte disse para ela: Eu não sou o Nazareno! Adálio, Roberto e Ormando Fizeram uma trama sutil Para derrubar do trono Lozarte, o rei pueril Porque não comia no prato Do majestoso canil. Nesse intervalo, Adálio Outra carta recebeu Da princesa Serra Horta Que não compreendeu A mentalidade de Adálio E foi assim que escreveu:
S.H.: eu vi meu caro cunhado Você na televisão Dizendo muita besteira Que me causou comoção − Você é de século passado E isso, não faça mais não! Esse negócio de colocar Uma parteira diplomada Para atender o povo pobre Em cada vila, é chanchada! Por ouvir tal absurdo Eu estou muito invocada!... O principe Lozarte, chorando Em certo momento, chegou Aos pés da linda princesa E dramaticamente a beijou Dizendo: minha querida Meu reino desmoronou!
O imperador mandou Uma fiscalização, E muitos recibos falsos Têm minha preocupação... Só Jesus me valerá E o Padre Cicero Romão! Eles estão fazendo tudo Para eu não governar Mas do jeito que estou Eu não sei quem vai quebrar E mostro para os canalhas Como o rei sabe cantar! A princesa disse: amor Você pecou por omissão Aceitou tudo calado, O que não tem meu perdão; Aquele que aceita o roubo Também é chamdo ladrão!
L.: Foram esses pestes mesmo Que foram atrás de mim... Eu não pensava ser o rei Nem sabia o que era ruim! Pra ser rei de xeleléu, É ser filho de Caim! SH.: Por causa de sua idade E ser muito instruído, Num precipício desse Não havia ter caído... Agora, aguente a mão No seu trono descabido! Por trás duma pilastra Um xeleléu escutava E gritou maldosamente − O meu chefe bem que falava! Depois eu vou dizer Aquilo que se tramava!
Tramando o quê, sua bicha Gritou Lazarte furioso Chegue-se para mais perto Que quebro seu fedegoso Já não sei o que faça Com intruso mais teimoso Severina, Amalia e Mabosa Eram xeleléus de primeira Eles três babavam mais Do que boi de bagaceira E tinham o maior prestigio No meio da cabroeira. Elas três na mesma hora Que Lozarte discutia Com o xeleléu atrevido Veja lá que covardia Mabosa pegou dum pau E Severina de uma gia...
Severina a dita gia Nas calças de Lozarte botou! Amália gritava: pega! A Mabosa o pau molhou No pobre do rei ingênuo Que quase se espatifou. A rainha gritava; parem! Severina dizia: não! Matem o bicho primeiro Isso é uma obcessão! Mabosa metia o pau Com a força do seu pulmão. Nessa intenção de matar A pobre gia inocente Meteram o pau em Lozarte Que o pobre ficou sem dente E o osso que ficou inteiro Não servia nem para pente.
Depois da surra, Lozarte Foi tomar chá de pimenta Com dez costelas quebradas E dois ossinhos da venta E com o osso do mucumbu Sem segurar o que sustenta. A rainha ficou triste Tratando do pobre rei Preparando m bom motivo Para acabar com o contei Isso é, os xeleléus Que ficaram fora da lei. Lozarte fez uma promessa Em desesperada oração Para se ver livre de Ormando E de toda sua confusão Mas veja o que aconteceu Na sua doce ilusão...
Os oficiais do imperador Fiscalizaram a cidade Para saber se Ormando Tinha dito a verdade, Enquanto Lozarte dizia: É uma calamidade! Lozarte mostrou atÊ Uma camisa aos presentes Dizendo: esta aqui Foram os filhos de serpentes Que me tinham como brinde Entre tantos inocentes! Ormando chegou na hora E foi aquela bagaceira Com tiros, facas, bofetes Numa luta verdadeira Mas, com medo de morrer Foram chamar a feiticeira
Adálio, então chamou Para uma conferência Roberto, Ormando e Lozarte A fim de fazer ciência Que se a causa piorasse Era uma inconveniência Lozarte disse: seus cabras Eu não guardo desaforo Se quiserem me humilhar Eu agora nesse foro Faço, desfaço e mando E valente, ignoro! Ormando morto de raiva Engasgado, assim gritou: Vou arrancar sua cabeça! Adálio disse: bastou!... Não faça uma desgraça dessa Que um xeleléu se sujou
Para encurtar a estoria Houve naquela reunião Gritinhos... e muitas deixas E tanta decepção Porque Adálio queria A sua organização Lozarte frizou: eu me vingo Dessa rasteira covardia... Vou mostrar como se faz! Alguem disse – Virgem Maria, Paz e amor é que queremos Não me matem de agonia!... Aqui faço reticências Esse não sei se é o final; A estória continua Ou, se novo festival Provocará outro capitulo Que para a pena é legal!
FIM