Mulher ciumenta

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


HUMBERTO GUALBERTO BRANDテグ

MULHER CIUMENTA



Eu já ouvir dizer Quem tem ciúme quer bem Mas onde nada o ciúme Anda uma briga também E deste jeito eu não quero Bem–querer de ninguém A mulher ciumenta Só tem valentia É de noite é de dia Ninguém não aguenta Parece uma pimenta Daquela encarnada Brigando danada Cheia de orgulho Fazendo barulho Com muita zuada O ciúme é perveso Cheio de revolução Onde existir ciúme Existe também confusão A mulher que tem ciúme Ela tem uma tentação


O ciúme malvado Da mulher casada Lhe deixa enrascado Nunca tem agrado O coração trancado Com boca de sino Faz tal desatino Seu modo atrevido Briga com o marido E açoita o menino O marido está calado Fica ali só pensando Se for dar um conselho Ela vai se revoltando As vezes o pobre é fraco Vai se conformar chorando


E a mulher zangada No seu lelê Sem vê nem pra quê Inventa uma zuada Bem de madrugada Começa o boato Marido ingrato Dá soco em janela Quebrando panela Jogando no mato O homem muito calmo Fala assim sorridente Minha filha tenha juízo Pra que ser tão valente Te conforme com a vida E faz um cafezinho pra gente


Ela pega a marmita Vê uma rodilha Chamando uma filha Levanta cabrita Ligeiro assim grita Com seu rapapé Esta ‘’cascavé’’ Puxa a raça do cão Não tem minha bênção E derrama o café Fica o pobre olhando E vai aconselhar Tenha paciência mulher Tu leva o tempo em brigar Veja o que acontece Que é pra tu se exemplar


Cala a boca desgraçada Não tá te cabendo Ela fica dizendo Ali na fumaça Cansei nesta raça Peguei uma serpente Saia da minha frente A mulher dar bufando O cão tá socado Nos couros de gente Nesta briga medonha O homem fica calado Perde todo prazer E não vai nem pro roçado Vai a casa do vizinho Triste e desconfiado


A mulher fica acesa Fazendo explosão Um cacete na mão E dá baque na mesa Eu tenho certeza Aquele condenado Ele tá socado Na casa da bicha E ela escorrupicha Aquele amaseado O coitado quando volta Fica por ali sentado Pensando se a mulher Está de coração mudado Ela vem passando perto Escarra e dá um fungado


Ela tem um suspeita Pergunta mais brava Onde era que andava Cachorro se ajeita E aquela sujeita Eu ainda dou fim Ela é a mãe de caim Tu é um vagabundo Se larga no mundo Falando de mim O homem fala com amor Mas que ilusão você tem Eu na casa de gente amiga Que é minha e sua também Na casa da sua irmã Gente que tu quer bem


Não fica calada Seu gesto grosseiro Este desordeiro Sai de madrugada Iludindo uma coitada Mas ela não quer Vai vê como é Se for neste sentido Vai sair corrido Que lá tem é mulher Ela balança a cabeça Lhe doendo o coração Nega tenha juízo Não pense assim não Eu na casa de sua irmã Tu ainda faz confusão


Ela rangendo o dente Com maior esporro Olhe este cachorro Querendo ser gente Uma pobre inocente Coitadinha dela Eu não tenho ela Nunca conta desta Sei que ela te detesta E te desconjura Mas tu anda é a procura Que tu mesmo não presta Estas são das menas Outras dão pra endoidar O que o ciúme faz Eu ainda sei contar Não digo nem a metade Para não escandalizar


A mulher ciumenta É um tira juízo Só dar prejuízo Ninguém não aguenta Pois ela atormenta A qualquer cristão É a pintura do cão Só bota pra traz É vê o satanaz Fazendo visão Se o homem for viajar Todo carinho ele tem Diz: eu vou uma viagem Mas eu vou com alguém Não precisa ter cuidado Que amanhã a gente vem


Então nesta hora Levanta a mulher Vê uma cascavel Seu cabra caipora Tu pode ir embora Que o mundo é moderno Sai do meu caderno Tu é uma trepeça Não quero conversa Vai pra teu inferno O pobre fica triste Só prestando atenção Chamando pela família Dos filhos pede a bênção Só vou esta viagem Por que tenho precisão


Menino, esta cobra Ainda está ai falando Numa corda pegando Dar logo uma dobra Faça a tua manobra Se não tu se arruma Este bicho acustuma Que nem cabra ruim Se suja de mim E o cão te consuma Perde o prazer na vida O pobre sai andando Ela dá um baque na porta Fica lhe espraguejando Ela diz assim chorando


Meu Deus ou que sorte Só tenho tormento O meu sofrimento É um planeta forte Pois isto é de morte Vivo despresada Sem gosto pra nada Uma coisa esquisita E aquela maldita Anda bem ageitada Ela entra chorando E vai sentar na cozinha Se reclamando da vida Quando chega a vizinha Perguntando assustada O que foi isto neguinha?


Levanta ligeiro Recebe abraçando E dizendo chorando O meu desespero É aquele grosseiro Com quem se embeleza Com tudo me lesa Mas isto se ajeita Por uma sujeita Ele me despresa A outra diz mulher As vezes não é assim Pode até ser fuxico Por que tem muita gente ruim Eu nunca ouvi dizer Que ele fizesse moitim


Te cala meu bem Tu não tá sabendo Eu que estou vivendo Sei de onde vem O ‘’caquei’’ é também O que mais me acabrunha Eu tenho testemunha Aquilo é danado Este povo calado Belisca sem unha A amiga diz pra ela Eu não posso acreditar Teu marido é sincero Em nada se vê falar A ciumenta responde Sem querer se conformar


Dizendo eu amacio Aquela maldita Ninguém não acredita Mas eu desconfio Que vi lá no rio Um piso de chinela E era o rastro dela Ele não boata Mas me maltrata E é tudo por ela Quando chega da viagem O marido paciente Não esquece a mulher Para ela traz um presente Vem pensando uma coisa E sai outra bem diferente Ele pega o presente E dar pra mulher Mas ela não quer Fica é mais valente


Dizendo serpente Tu quer me enganar Eu vou te mostrar Quem é minha raça E aquela desgraça Ela vai me pagar O homem fica pensando Naquela ação ingrata Mulher sem conhecimento Deste jeito me mata Eu já aguentei de mais Mulher muito barata E diz não aborreça Mulher tu se cala Se não uma bala Vai pra tua cabeça Disto se esqueça Pois eu te indireito Vou guardar com jeito Uma peia de aço Deixa está que ainda faço Um serviço bem feito


Por isto eu aconselho As mulheres prestem atenção Devem respeitar o marido Não inventar confusão Por que o homem com raiva Um dia faz uma ação Eu vi um camarada Que era mané Apanhou da mulher Sem nunca dizer nada Tinha a cara inchada E era só de apanhar Ouvi ele contar O que aconteceu Mas quando resolveu Fez tudo mudar A mulher era ciumenta Destas que quando se dana Grita mordendo a fala Arranca até uma pestana E tem veneno na fala Pior do que caninana


Um dia o coitado Sem querer falar Ela foi lhe açoitar Mas ele adoidado Gritou afobado Mulher ciumenta Ninguém te aguenta E vôou no totó E meteu-lhe o cipó Com os dedos na venta Ela grita fanhosa Não faça isto querido Por Deus não me mate Tu é quem fica perdido Disse ele: você hoje Vai encontrar marido


Você é acostumada A tirar seu eito Mas eu te indireito Com ela deitada Tu fica exemplada Tu hoje melhora Furando de espora Na venta rasgando E ela gritando Com a língua de fora Ela pedindo baixinho Meu bem por caridade E ele açoitando na cara Com toda barbaridade Dizendo: esta mulher É minha infelicidade


Pois esta trepilha É meu desmantelo Puxou no cabelo Amarrou numa forquilha Chamou uma filha Levou pra cozinha Dizendo: bichinha Eu faço uma desgraça Ninguém ameaça Tu tenha cuidado Que eu estando enrascado Acabo com a raça Falando pra mulher Diga quem namora Quem é que é malfazejo? Você me responda agora Deu um soco na porta Que vôou os caxinhos fora


Deu na filha moça Rasgou uma sela Correu na panela Jogou de ‘’conforça’’ Quebrou guarda-louça Derrubou banheiro Galinha no poleiro Não ficou também Quebrou todo terem E jogou no terreiro Isto serviu de exemplo Nunca mais ela brigou Pra dar noiva ao marido Este assunto se acabou Ficou um pouco fanhosa Porém tudo melhorou


Isto foi o Adelino Mais a Belezara Aqui na Caiçara Foi um desatino Eu era menino Assisti este drama Depois ela chama Pra todo sentido Pedindo ao marido Neguinho tu me ama Veja o que o ciúme faz Cada um pensa bem Pra onde o ciúme vai É de onde a desgraça vem E ainda tem gente que diz Quem tem ciúme quer bem


Por isto o rapaz Se for se casar Precisa pensar Sabendo o que faz Rezando ainda mais O que lhe sacramenta Acender vela benta Quando se deitar Que ĂŠ pra se livrar De uma mulher ciumenta.

FIM



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