ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
ABRAテグ BATISTA
O BODE QUE NASCEU METADE BODE E METADE GENTE
Valei-nos ó Deus Bendito E a virgem mão das candeias Que o mundo está ruim Com previsões muito feias; Quem me ouve com atenção Veja o símbolo de Salomão Jogado sobre as areias
Cada dia que se passa Acontecimentos acontecem Os homens fazendo coisas Que confianças não as merecem Com guerras costumes alheios Imitando os serpenteios Que as leis já desconhecem. Eu sempre digo a verdade Pode custar, mas ela vem Ou mais cedo ou mais tarde Ela aparece, não se retém Não há força que a detenha Ou na cidade ou na brenha A verdade é como o bem.
E agora em me convenço Com o que aconteceu Pois certos acontecidos São permitidos pelo céu Pra lembrar quem está na terra Que a fome, a peste, a guerra Breve farão o himineu. Eu sei, que Deus perdoa Com o seu nobre coração Mas os homes se esquecem Da caridade e da oração Se metendo na maganagem Nas injúrias e vadiagem Sacrificando o seu irmão.
Pois é, meu caro leitor Escute o que vou contar Um acontecimento esquisito Que nos faz arrepiar Um fenômeno da natureza Que dentro de sua beleza Faz a gente se esquivar!
Na chapada do Araripe Aos 8 de junho, agora Numa madrugada infeliz Que a natureza deplora O impossível representou Seu fenômeno que gerou Entre a bruta fauna e flora
Entre Ramada e Minguiriba Bem perto do paraíso No meio dos três povados Num tabuleiro de granizo Pois todos os habitantes Viram os fenômenos rompantes Como um dia de juízo.
Como eu disse: naquele sítio Mora um casal agricultor Dona Francisca Leôncio E seu Francisco, um criador Tem roças e umas cabras Algumas mansas e outras brabas E vivem bem do seu labor.
Naquela data seu Franscisco Perdeu o sono e estranhou Com uma cabra que ele tem Pela madrugada toda berrou Dando berros muito estranhos Às vezes, urros medonhos Que a mulher se assombrou. Pois, como era de madrugada Ninguém foi para olhar E n dia 8 de manhãzinha Foi a cabra verificar A cabra tinha dado a luz De um ser como expus Que é de se admirar. A mulher e seu Francisco quase caíam para traz vendo o filhote da cabra parecido com o satanaz meio bede e meio gente e se bolindo como serpente que perderam logo o cartaz.
Dona Francisca chorava Sem saber o que fazer E o dono da dita cabra Passou o dia sem comer Enquanto o povo da redondeza Vinha olhar com frieza Para acreditar e pra ver. Geraldo Viera de Souza Retratista sem fingimento Ia passando por esse sítio Por cúmulo do acontecimento Como fotógrafo à paisana Bateu um monóculo bacana Fazendo seu reconhecimento Geraldo quando avistou O bode-criança, bateu Essa foto que tem na capa E outro amigo me deu; Depois de ouvir muita gente Nesse verso faço ciente Daquilo que hoje me leu.
A cara que o bode tem É duma mistura horrenda Entre gente e entre bode Se quiser que me entenda Procure olhar no clichê Se duvidar para crer De timidez não se renda.
O tórax do bode é De homem muito distinto Os braços também de gente E as mãos de bode, sinto Sendo a perna muito perfeita Como uma criança direita Com os cascos de bode tinto
As cochas duma criança E ninguém pode duvidar Quem olhou para a criatura Teve vontade de chorar Sem saber se era bicho Seu Francisco jogou-o ao lixo E me escute pra admirar.
Seu Francisco botou no mato Aquela horrenda criatura Mas no mato, os urubus Não comeram sua figura; Para o casal de agricultor Com receio e muito horror Fizeram-lhe uma sepultura.
Quase ia me esquecendo Esse fenômeno que nasceu De uma cabra natural De manhã, logo morreu E seu Francisco está pensando Com muita gente censurando O que foi que aconteceu. Caso assim, é caso horrendo Fruto da bestialidade Pois os homens E as mulheres Vivem na perversidade Contrariam a natureza Se esquecendo da beleza E as leis e a verdade
Para mim, não é novidade Esse caso que aconteceu Em 29 desse século Isso mesmo aqui se deu, E outro dia em Alagoas Me contaram coisas atoas Que a história retrocedeu
Naquele tempo, Pe. Cícero Soube de uma aberração Mandou Dr. Belém olhar Para tirar a conclusão E lá na serra do Horto Enterrou um bode morto Sem dar mais satisfação
A medicina não fala nisso Porque ainda não registrou Mas o homem sabe que o homem Com bicho, também casou Contrariando a natureza Mergulha na impureza Da vida que procurou.
O cruzamento de duas raças Diz a ciência: é impossível Mas o que se vê na prática Torna isso discutível; Por isso chamo atenção Para uma nova revisão Necessária e bem cabível. O Centauro e o Minotauro A Sereia e a Medusa São lendas de outras terras Mas agora o povo usa Com bode que tem de gente Se quiser vamos pra frente Para ver se não abusa
De acontecimento como esse Eu tenho a impressão É o protesto da natureza Gritando por atenção É a verdade que aparece É o natural que acontece Iluminando a escuridão,
Já na Bíblia está escrito Caso assim bem parecido Quando José lá no Egito Por seu pai muito querido Os irmãos se censuravam Quando eles prevaricavam Igual a esse acontecido.
Aqui termino esse verso Contando só a verdade Registrando bem o fenômeno Com minha sinceridade Terminando essa missão Que tenho nesse sertão Peço a Deus por piedade! Seria bom que esse bode Que nasceu bode assim Chegasse para o pai dele E dissesse: achou ruim?! Eu vim pedir instrução E também sua benção Mas não quero comer capim!
FIM