ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
SALETE MARIA
O GRITO DOS “MAU” ENTENDIDOS
JUAZEIRO DO NORTE 2001
Era uma assembléia Só de homossexuais Era geral a geléia Havia gente demais O discurso era polido Todo mundo era entendido Nas ciências sociais Chegou a televisão E o jornal foi chamado Não podia ser em vão (Que evento do babado!) O roxo e o rosa-choque Prometiam dar ibope (gay adora ser filmado) Algo cultural rolava Antes da programação Chico César animava Com uma bela canção
Logo se comprometeu: “Esse homem nu sou eu” -olhos de contemplação!Disse ainda sem pudor: “eu já fui mulher, eu sei” Vitor Fasano gritou: “Eu to gostando, meu rei” Pepeu Gomes aplaudindo: “Já fui homem feminino, Fiz escola, inaugurei...” Cássia Eller convidada Cantou exibindo a teta Uma garota excitada Pedia outra faceta De repente o som parou Ângela Ro Rô chegou: “porrada ou um som porreta?”
Quando recitou Bethânia A turma ficou ligada: “quando você me entendeu Eu não entendia nada” Calcanhoto, seu recado: “transito entre dois lados” É verdadeira cantada. Um amor tão delicado Nenhum homem (lhe) daria “Caetano tá enganado" Grita João, brada Maria Neste evento inusitado Não há como ser lembrado Se não for por alegria Os crachás distribuídos As teses por todo lado Líderes já escolhidos Para um debate animado
O “dignidade já!” Era a senha pra entrar Bastava ser delegado A imprensa esperava Um “furo” para mostrar Mas ao passo que falava Gabeira entrava no ar Politizou o debate E lançou um xeque-mate: “gay também sabe votar” Disse ele: “hoje eu sei E o Brasil precisa ver Que o movimento gay Existe e é pra valer Pra bater no preconceito Pra lutar pelo direito De amar e de viver!
O entendido precisa Também se organizar Tem de vestir a camisa (de Vênus, é bom lembrar) Neste mundo desigual Quem for homossexual Também precisa lutar! É grande o preconceito Contra o homossexual Exijamos mais respeito Da lei e do tribunal Imposto também pagamos Basta! Já não toleramos A pecha de marginal A violência também Precisa ser combatida Não é dado a ninguém Manipular nossa vida
Ele ou ela, não importa Se fulaninha “é morta” Que seja uma morta-viva! AIDS e DST’s Assolam nosso habitat Vamos fundar comitês E contra elas lutar Vamos junto com o povo Construir um mundo novo Onde o lema seja amar” Ouvindo tudo calado Um homem ficou de pé Na roupa tinha um bordado Escrito: “Jesus me quer” Gabeira disse: você Tem algo a nos dizer? E ele: meu nome é Dé!
O povo todo aplaudiu E ele continuou Confessou usar “renew” E disse: “sou o que sou, “E venho de uma terra Onde um padre, numa serra Um dia me abençoou” Ele invocou São Francisco: “é dando que se recebe” E elogiou Corisco: “Mas Dadá é o que se pede” E disse, sem preconceito: “O rio só corre no leito, Enquanto a margem não cede” “Falsa é a sociedade Que nos cospe e abomina Eu lhes digo, em verdade Ser ‘alegre’ é minha sina
Se um dia nasci homem, Mesmo que tudo me tomem Eu sempre quis ser menina” “Por que não amaldiçoam Os governos de opressão? Por que só de nós caçoam Diante da multidão? O povo tem que entender Porque o gay pode ser Seu primo, pai ou irmão” Ademais eu vou falar -escute amigo meu“se o povo de Quixa(dá) E se também Ama(deu) Se o povo do Su(dão) Ta(deu) para seu irmão Por que não posso dar eu?”
E o debate seguiu Num nível sempre elevado Uma garota pediu Que o tempo fosse marcado Após as resoluções Serviram as refeições E um filme foi mostrado Foi Aimeé e Jaguar O filme que se exibiu Um romance pra lembrar Até o mês de abril Quando o povo então verá Os “mauditos” do Juá Gritarem para o Brasil O grito de que se fala É o do “mau” entendido Aquele que o mundo cala Tal qual o mal resolvido
Pois o grito que escutei Não foi o “ai, eu gozei!” Foi o grito do oprimido E para finalizar Confesso que acordei Fiquei então a pensar Naquilo com que sonhei É bom que não fique torto O grito do povo morto Eu só psicografei. FIM