O misterioso desabamento da igreja matriz de juazeiro do norte

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INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


ABRAテグ BATISTA

O MISTERIOSO DESABAMENTO DA IGREJA MATRIZ DE JUAZEIRO DO NORTE



Inspirai-me ó Jesus Nessa minha aflição O que escrevo agora Corta o meu coração Sobre a queda da igreja Do Padre Cícero Romão. Alentai o meu peito Que chora nesse momento Quando estive por depois Daquele desabamento. De um terço do telhado Da igreja do Sacramento. O meu lapis treme e chora A minha alma cae em pranto Porque estive nas ruínas Do santificado rcanto O meu corpo por inteiro Parece que tem quebranto.


Eu vi o padre chorar E o prefeito chorar, tambem Eu vi umas moças em gritos Como se estivessem, sem O juizo e o respeito Por essa cousa do além. No dia 3 de Outubro Às 10 horas da manhã Em mil e novecentos E setenta quatro, a clã Que habita Juazeiro Quase perde o seu afã. Justamente às 10 e trinta Quando a igreja só tinha Uma freira rezando E uma pobre velhinha Um soldado e um pintor Dentro da nossa igrejinha.


Tinha tambem, mais 2 homens Caiando do lado de fora Justamente no local Que tem o sino da hora Mas, no momento do desastre Correram sem ter bitola. Eu só sei, porque me disse José Alves, o soldado Que é vigia da igreja E dar conta d recado E foi testemunha presente Desse caso consumado. José Alves, me contou Que ouviu algo gemer E uma coluna da igreja Ligeira retroceder E em questão de segundos Viu tudo acontecer


A primeira colunata Da grande nave da igreja Do lado direito dela Escute o que digo, veja Girou como um moinho E o teto dela despeja! Quando o soldado viu Aquele grande alarido, Orientou a velhinha E como um destemido Gritou para o pintor Que estava já descabido. A irmã Iva era a freira Que estava alí rezando José Antônio, o operário Que estava trabalhando; Com o estouro da coluna Quase iam se acabando.


Quando a coluna caiu Fez estremecer o chão E uma nuvem de poeira Cobriu do sol, o clarão E os presentes pensaram Que era tudo ilusão. A minha mãe que estava Na nossa casa visinha Pensou que era um avião Que fazia a sua linha E ao passar pela igreja Caído nela, ele tinha. Quando a coluna caiu Parte do teto, arrastou E rachões por toda a parte Depressa se apresentou Deixando um espetáculo Que o povo assim chorou:


Valei-me ó Mãe das Dores A nós todos, ó Mãe valei Que sinal é esse agora Pois eu já o decifrei – Perdoai os pecadores Nessa terra sem ter lei! E o povo foi correndo Para ver o acontecido Pe. Murilo chorando Como um pobre desvalido Pedindo que ajudasse Profundamente ferido Pe. Murilo, pediu Para os homens trrnsportar Os escombros, ás ruínas Para poder constatar Se tinha alguem por debaixo Daquele nosso solar.


Nenhuma vítima humana Felizmente, não havia Pois o soldado José Alves Como uma bala corria Para chamar os bombeiros Que depressa socorria(m). Dr. Mozart, o prefeito Com sua calma segura Mandou para ajudar Os carros da prefeitura E o povo recolhia as telhas Com aquela toda ternura. De Crato e de Juazeiro Muita gente foi olhar E um pedacinho de telha Com fé eu as vi guardar Dizendo ser para relíquia Ou cousa de recordar.


Agora, caro leitor Eu me lembro o que dizia A minha mãe, quando pequeno E suas palavras eu ouvia Pois sobre esse assunto Ela assim me descrevia: ‘’Mãe Senhora’’ a minha avó Pra minha mãe, comentou Que a igreja da matriz Algum dia, ressaltou Cairia, como agora Que Pe. Cícero assegurou Mais tarde, eu já garoto Pe. Climério, sonhou Que a igreja da Matriz Como ele mesmo anotou Cairia numa missa De dez horas, e propagou.


Muita gente então deixou De assistir missa nesse horário Eu mesmo como bom crédulo Passei o meu calvário Para a missa doutras horas Nesse ingênuo inventário. Eu cresci e me casei E lembrar eu nem queria Mas agora eu anotei: O que antes se dizia Tinha cousas de verdade E que agora eu mesmo via. Mas, vamos então falar Na nossa igreja querida Com um terço do seu teto Nas ruínas dessa vida E a minha opinião Eu vou dar como saída.


‘’Deus escreve sempre certo Em linhas tortas, irmão’’ Os templos sempre ruíram Desde antes de Salomão Se o nosso ruiu agora Não é caso nem solução! Mas agora, um detalhe Que não é do conhecimento Da maior parte do povo Que sofre o constrangimento De ver a igreja caída Com as imagens ao relento. Pe. Pedro Esmeraldo Mudou dela o original Monsenhor Lima, também Fez reforma desigual, E Monsenhor Juviniano Completou o festival.


Pe. Cícero foi quem fez A primeira construção Em mil e oitocentos E oitenta e quatro, irmão Ele deu por completada Essa casa de oração. Ele mesmo construiu E igreja original Em tempo de grande seca Peste e fome desigual E levantou com carinho A sua obra colossal. Com três naves diferentes, Uma no centro alinhada Com altares dum lado e doutro Com a Virgem Imaculada Que foi trazida da França País de ciência elevada.


A imagem da virgem Santa É fita de gesso puro Pois aquele que enformou Tem um relato seguro E aqui nesses meus versos Para o leitor asseguro. A imagem de nossa Senhora Tem um metro e sessenta e cinco É bem talhada no gesso Mostrando a pele e o vinco Do manto do azul do céu Prateada e da cor do zinco. Parece que ela é viva E chora no altar, por nós Alguma vez eu já vi Quando ficamos à sós Um sorriso imaculado Caindo lágrimas icós.


Nunca vi Santa mais bela Nem figura tão deslumbrante E eu me lembro que ela tinha Uma coroa tão brilhante Que seu ouro ofuscava Qualquer gema, num instante. Ela possuia também Uma corrente de ouro Que dava em uma volta Sete voltas, e em um tesouro Mas, os ladrões a roubaram Nos deixando só com o choro. Mas, vamos voltar agora Ao nosso primeiro assunto Comentando as reformas Que aqui, também eu junto Embora, quem fez o mal Seja hoje, pó de defunto.


De cada três colunas, fizeram Duas só – veja a loucura... Sem planta de engenheiro Como se fosse a natura E entregaram essa reforma A um ‘’prático de postura’’! Contaram-me os mais antigos Que o encarregado da obra Foi o mestre Agostinho Que tinha arte de sobra, Mas, depois os vigários Fizeram outra manobra. As colunas foram feitas De tijolo de alvenaria Sem ferro, e sem cimento Que amarrasse a coxia Por isso, hoje nós vimos Caída em pleno dia.


Antes, essas colunatas Eram baixas e volumosas E Monsenhor Juviniano Cortou-as sem querer proza De cada três, fez só duas Na vontade caprichosa. A igreja de Juazeiro Tem metades diferentes A primeira, a do altar mor É a antiga, estou ciente Mas, a nave da igreja É a nova e descontente. Pe. Murilo chamou Um engenheiro pra constatar A gravidade dos rachões Para poder se assegurar Se rezava dentro da igreja Ou fora, no patamar.


Eu mesmo, dou um conselho Ao compadre Pe. Murilo É melhor levantar outra Igreja com novo brilho Se uma coluna caiu agora As outras vão nesse trilho. Já pensou se a igreja Na hora dessa ruína Estivesse com os romeiros... − Quem chorava pela sina Dos coitados esmagados Pela pedra assassina? O interessante é que a parte Que ruiu nesse momento Foi a parte construída Depois do velho assento E é tudo de alvenaria Sem ferro, pedra e cimento.


Quando o engenheiro chegou Para dar sua palavra Eu estava presente E o prefeito, chorava Vendo o compadre Murilo Coma alma que soluçava. O engenheiro reservado Deu a sua opinião Mas, disse para o vigário Que aguardasse com atenção O que diziam os outros Colegas de profissão. Se reuniram os doutores Com um traçado sizudo Para fazer com ciência O mais frio estudo Daquilo que se faria Com as colunas e tudo.


Os engenheiros disseram Para o querido vigário Que as colunas aguentavam Cinco vezes o necessário Do peso que suportavam Naquele ingênuo cenário. Explicaram-lhes, ainda A causa que derrubou Aquela coluna forte; E assim se demonstrou Que foi uma tesoura de pau Que o arco fraco arrastou. Os arcos da nossa igreja Construídos na vil reforma Foram feitos de tijolos Sem segurança de torna, Não possuem a flexão Que as mudanças, contona.


O cabeçote da tesoura Com o calor e com o frio Sofreu fortes pressões E com tempo arredio Puxou o arco mal feito Que nos causou arrepio. O cabra que construiu Esses arcos, era nulo Colocou trilhos de ferro Pra desmanchar o caculo E numa construção dessas O engenheiro dar o pulo. Agora, meu amiguinho Escute com atenção A coluna que caiu Foi a que subiu o cão Há uns tempos já passados; Me contou certo irmão.


Certo dia, uma mulher Que estava, louca, possessa Subiu na dita coluna Tal bode, berrando a bessa E o povo comenta isso Na sua linda conversa... Eu escrevo isso aqui Porque tenho que fazer Estou registrando a hist贸ria Doa ela a quem doer Mas, como bom poeta N茫o vou nada esconder. Agora, pra completar A minha hist贸ria, assim Vou falar de outras partes Que sensibilizou a mim Como a im谩gem Sagrada Do Filho de Deus sem fim.


Dentro da igreja, também Tem a imagem sagrada Do coração de Jesus Por Leão XIII, abençoado E lembranças doutros Santos No altar dela, guardado. Essa igreja é patrimônio Do espírito religioso Quem quiser observar Como alguém astucioso Anote nela, o poder Do Grande Deus Poderoso. Rezando nela, se vê O espírito da cristandade Os pobres de Jesus Cristo Do Brasil em igualdade Ouvindo das escrituras A doce fé da verdade.


A imagem de Jesus Do Sagrado Coração Foi próprio patriarca Pe. Cícero Romão Que trouxe de lá de Roma Depois da perseguição. Portanto, eu faço fé A quem ler com atenção Será certo que se construa Outra igreja, com profissão Para evitar um massacre Em dia de procissão Muita gente se engana E não sabe quem construiu Essa parte da igreja Que ontem mesmo caiu: Foi monsenhor Juviniano Que há tempos, cá, existiu.


Mas antes desse vigário Monsenhor Marcelo, tambem Foi o primeiro que boliu Na nossa igreja de bem Por isso nós vemos agora Essa resposta do além Uns dizem que os fogos Ali causaram prejuiso Com os papoucos, abalaram As suas bases, e aviso: Cuidado, se não teremos Novo dia de juizo. Os estouros, vão abalando As estruturas da parede E as paredes vão se rachando Como se estivessem com sêde Portanto tenha cuidado Para não cair nessa rede.


Todos nós devemos então Num ato de fé grandioso Estudar uma nova igreja Para nun dia radioso Celebrarmos a nossa missa Num dia santo e famoso. Renovar é cousa boa É ato de bom cristão Renova o papa, o exército A natureza e a nação; Renovam-se dias e noites E a vida é – renovação! Aquí faço o meu final Nesse ato acontecido Escrevendo pro romeiro Do Pe. Cícero querido Pra que ele fique ciente E não caia no esquecimento.

FIM



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