ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
EXPEDITO SEBASTIÃO DA SILVA
OS MILAGRES E OS SERMÕES DE FREI DAMIÃO
Se me virem boas rimas Com correta inspiração Pretendo com bem cuidado Fazer uma narração Embora que resumida Narrando um trecho da vida Do frade Frei Damião. Falar dêle a quem conhece É coisa que não convém Portanto é melhor falar Para os que vivem além Mostrando a realidade Sôbre êsse grande frade Que tanto prodígio tem. Por que tem Frei Damião Com seus poderes sagrados Operado aonde passa Milagres inesperados Só com o nome de Deus Abençoa os filhos seus Deixando todos curados
No ano de 34 Ficou o nosso sertão Sem a figura imortal Do Padre Cícero Romão Então todo nordestino Vagava em desatino Sem ter orientação. Deus vendo a necessidade Do povo desamparado Para orientação Um frade foi enviado O qual em mensagem fina Nos prega a santa doutrina Do nosso Jesus amado. Então o dito escolhido Para tão fina missão Não poderia ser outro Somente Frei Damião Pois Deus lhe deu o poder De fazer e desfazer Sem haver reprovação.
No ano de 35 Veio êle a Juàzeiro Como a primeira vez Junto com um companheiro Frei Antonio se chamava O qual com êle pregava Pra todo povo romeiro. Nesse tempo ele era De mocidade composto Porém de um tipo magro Mas paciente e disposto Se via nêle um sinal Duma palidez mortal Que lhe envolvia o rosto. Durante os dias que êle Em juàzeiro pregava Muitos doentes enfermos Completamente curava Mas aos perversos Que fôssem seus adversos Com rigor os castigavas.
Aqui mesmo em Juàzeiro Um sujeito depravado O detestava por êle Falar do amasiado Então por onde andava Sem temor, dêle zombava Chamando-o de Frei Barbado Muita gente o repelia Por tanta profanação Êle dizia: ora essa! Quem é êsse Damião Pra ser respeitado assim? Êle é igual a mim Pois come carne e feijão. − Eu não dou valor a êle E aquêle que fôr jegue Dê crença no qu’êle diz E a êle se entregue Por que na realidade Se nêle houver santidade Quero que êle me cegue.
No outro dia êsse tal Amanheceu bem doente Com os olhos bem vermelhos Doendo horrorosamente À noite não adormeceu Quando o dia amanheceu Foi cego completamente. Êle em pranto exclamava: Oh! meu amado Jesus Tende compaixão de mim Por vossa morte na cruz Vos peço de coração Dai-me a vossa proteção Dando aos meus olhos luz!... Dizem que êle morreu Cego e abandonado Chorando amargosamente Por que havia zombado Igual um monstro profano De um poder soberano; Por isto foi castigado.
Um sujeito cachaceiro Foi assistir a missão Então se pôs bem pertinho Do frade Frei Damião E quando o padre falava Êle lhe arremedava Fazendo interrupção. Frei Damião então disse: Sai-te daqui, satanaz Não queiras interromper As pregações divinais Te retira, vagabundo Pra teu abismo profundo E deixa os cristãos em paz! O sujeito neste instante Saiu correndo dali Então dizia: me acudam Olhem o moleque ali Êle quer me agarrar Para consigo levar Para distante daqui!
Porém só com uma bênção Que Frei Damião botou De tôdas perturbações O sujeito se acalmou Depois êsse arrependido Num pranto desinsofrido Com êle se confessou. Portanto Frei Damião É um padre virtuoso Que prega constantemente Dando conselho bondoso Mostrando a santa estrada Que nos conduz a morada Do nosso pai poderoso. Depois que Frei Damião De juàzeiro saiu Pregando as santas missões Por todo o Norte seguiu Então na sua missão Pra santa religião Muitas almas adquiriu.
Porque quando êle prega Parece vermos de perto A estrada divinal Que nos leva ao céu aberto E com essa clara luz Nos faz recordar Jesus Pregando lá no deserto. E por todos os lugares Que pregando êle passou Em cegos e aleijados Muitos milagres operou Tisicos e paralíticos Leprosos e sifilícos Com o nome de Deus curou. Dizem que na Paraíba Em uma certa cidade Um sujeito protestante Já de avançada idade Zombava dêle sorrindo E muitas vêzes ferindo A sua dignidade.
Então as santas missões Foi uma noite assistir E quando Frei Damião Começou a transmitir As palavras divinais O dito mais um rapaz Dêle ficaram a sorrir. Não passavam dez minutos Ouviu-se um grande alarido Com um forte bodejado E um horrível gemido E povo sem se conter Assustado quis correr Com tão sinistro ruído. Pois o velho e o rapaz Lá estavam transformados Em dois bodes muito pretos Berrando desesperados Dando marradas espirrando Ficava pro povo olhando Com os olhos encarnados. Então pra pod
er pegá-los Foi o maior desespêro Os botaram em um quarto Já exalando um mau cheiro No outro dia vieram Porém dêles não tiveram Nem um pequeno roteiro. Finalmente ainda hoje O frade Frei Damião Já está muito velhinho Mas inda faz pregação Pois é êsse o seu dever Só deixa quando morrer Esta tão fina missão. De vez em quando êle vem Visitar o juàzeiro Fazendo a imitação Do nosso bom conselheiro Que não deixava de orar E todo dia velar Pelo seu povo romeiro. FIM