Pe cícero e juazeiro ontem e hoje

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JACKSON PIRES BERBOSA

PE. CÍCERO E JUAZEIRO ONTEM E HOJE



A 24 de março No século findo passado Aconteceu em Crato A vinda do iluminado Seus pais muito otimistas Cícero Romão Batista Por Jesus foi enviado Foi um dia fenomenal Quando o menino nasceu Tornou-se grande o fato De boca em boca correu A notícia do nascimento Pra longe levou o vento E no Nordeste choveu Em 1844 Não era apenas querer Pra conseguir alimento Pra poder sobreviver Um menino veio ao mundo Mudou tudo num segundo Igual Jesus ao nascer


Deus mandou-o pra ensinar Sem receber nenhum cobre Boas maneiras de viver Tanto o rico como o pobre Ser honesto e cristão De todos, amigo, irmão Foi um ideal tão nobre! Joaquim Romão Batista Joaquina Vicencia Romana Pais humildes e honestos Sua mãe era u’a Santana Seu pai um mestre escolar Que vivia o contemplar Toda criatura humana Os dias meses e anos Sucessivos vão passando Então o garoto Cícero Foi crescendo e andando Igual a todo menino Em busca do seu destino Que lhe estava esperando


Mas Cícero era humano E que tambem foi tentado Assim contam os mais antigos As coisas do seu passado − Puxei um galho no caminho Quebrei um ovo de passarinho Foi o meu maior pecado Cícero muito entristeceu E melancólico então Ficou por saber que a mãe Perdera a sua visão E por ter fraca a saúde Além da vicissitude Lhe fica uma ilusão E ele ia crescendo Mas com seu pai aprendeu Nas lições de muitos livros Educação tambem deu Foi bom aluno de fato Em Cajazeiras e no Crato Nas escolas ele venceu


Seu Joaquim Romão Batista Ao ver-se muito doente Doou o filho ao compadre Pessoa muito decente Era tambem professor Dele fez seu sucessor De tirocínio competente O pai de José Marrocos Padrinho muito conciso Levou para o Seminário O Cicero, por ser preciso O menino tinha dote Pra ser grande sacerdote Da morte nos dando aviso Já rapaz seminarista Na Praínha em Fortaleza Ordena-se Padre Cicero Destacou-se com nobreza Junto a outros colegas Jamais fôra um piega Mas líder por natureza


O padrinho do jovem padre Muito embora insatisfeito Exclamava para Deus De não ter tido o direito Por não ter um filho padre Saído da igreja madre Além de muito perfeito Para o Crato Dom Joaquim O jovem padre enviou Que foi Vigário em S. Pedro Logo após que se ordenou E em Tabuleiro Grande A fazenda que se expande A primeira missa celebrou Ele em Tabuleiro Grande Seu destino foi traçado Por Deus todo poderoso Pai de Verbo Encarnado Pe. Cícero todo dia Orava à Virgem Maria Mãe de deus crucificado


Havia naqueles anos Uma medonha estiagem O povo sofria muito Sem gado e sem pastagem Nada verde e pó somente A grande seca inclemente Sem água, sem açudagem Todo dia o Pe. Cícero Pedia a Mãe das Dores Para livrar o seu povo De incensante clamores Que a triste seca causava E a miséria assolava Com aflição e horrores Padrinho Cícero rezava: Oh! Santíssimo Sacramento Tenhais pena dos teus filhos Que imploram nesse momento Mandai chuva pro Nordeste Pela Virgem Mãe celeste Livrai-nos do sofrimento!


E o momento foi chegado Em sua capelania A surpresa dum milagre Às primeiras horas do dia Em 89 aconteceu O que jamais sucedeu Numa outra freguesia Maria de Araújo Que na mesa comungava Ao receber a hóstia Na sua boca sangrava Foi um assombro geral Uma afirmação integral Do próprio povo que olhava Toda vez que a beata Ia pra igreja rezar Lotava toda capela Gente até no patamar Quase sempre repetia Sangue na hóstia que Maria Usava pra comungar


Desse dia por diante Reinava a inquietação Na igreja e na aldeia E o rumor da região − É milagre!... e assim Dizia o povo enfim Com grande admiração Chegou ao conhecimento Do Papa no Vaticano Então a cidadezinha Se fez em menos dum ano Lugar de visitação Onde se fez oração Como formigueiro humano Veio a proibição Por ordens superiores De Crato e de Fortaleza Impedindo os pendores Do Pe. Cícero romão Acusado que era então De poderes detentores


Das ordens sacras suspenso À Roma ele foi chamado O humilde pastor de ovelhas Foi ainda aclamado Devido as suas virtudes Tambem pelas atitudes Ao Brasil recambiado Aumentaram as romarias Naquela povoação De Juazeiro do Padrim Que recebeu com oração Aquele home de Deus Para os amiguinhos seus Nunca faltou a atenção Porem a nossa igreja Para evitar fanatismo Retira do padre as ordens De nem missa, nem batismo Nem casar e nem pregar Só ensinar a rezar O rosário e o catecismo


Animados os romeiros Seus conselhos recebiam Não matem, não roubem, nem bebam Do padrinho eles ouviam Todos tambem respeitavam Seus exemplos e guardavam As palavras não esqueciam O Padre Cícero rezava Ao Coração de Jesus: Tenhai dó de sua gente Pelo amor que se traduz Mandai chuvas pro agreste Para livrar do Nordeste Do furor da Santa Cruz!... A questão religiosa Sobre o sangue precioso Que certa casta da igreja De modo pernicioso Acusava meu padrinho Sem ter dó e nem carinho De embusteiro mentiroso


Bajuladores hipócritas E entre muitos fanáticos Falavam do Padre Cícero Em sua frente anjos estáticos Judas Iscariotes por traz Sujos como o satanaz Bodes espiões e sarcásticos − Quem tem um olho é rei Isso, na terra de cego Dizia o velho rifão Muita inveja não nego Tinham assim do destemido Padre hábil e decidido Mas com o perdão do seu ego O padre sempre lutou E foi muito corajoso Humilde, mas bem hordeiro E raramente nervoso Homem forte e resistente Contra males insistentes Nos caminhos temerosos


A história do Pe. Cícero Tem muitos para contar Exemplos: hoje se vê Tudo se realizar Era um mestre, um ministro Baseado ele em Cristo Pelo modo de ensinar Jesus ensinou-nos a amar Sem ter descriminação 12 apóstolos o seguiu Nostradamus tinha noção Taumaturgo do Nordeste Conhecido no agreste Santo padre em devoção Era assim o Pe. Cicero E seu espirito um luzeiro Iluminava com fé O povo de Juazeiro Que fundou e foi crescendo A história o enaltecendo Seu nome no mundo inteiro


Cidade dos artesãos É o que tem com excesso Além de gente humilde Concorrendo ao sucesso Todos juntos de mãos dadas Subindo pelas escadas Que os levam ao progresso Contam que o Pe. Cicero Além de grande profeta Foi ele um grande vidente Tambem um saber de esteta O ontem, o hoje, o futuro Um paradoxal seguro De uma visão completa O Coração de Jesus Com ele conversava Seu mentor espiritual E sempre mentalizava Cheios de graças divinas Sob um halo de boninas O amanhã profetizava


Onde o padre aparecia Uma área maravilhosa Espalhava-se por ali E na forma jubilosa Nos dizia em parábola De redor a uma távola: Toda vitória é espinhosa O Pe. Cícero se referia À Roma em sua vida Logo após a sua volta Pensava na sua lida E tambem nos seus romeiros Já de volta a Juazeiro Em busca duma guarida Dr. Floro Bartolomeu Deputado federal Por Juazeiro do Norte O Padre lhe impôs moral: Floro, quem o fez grandinho O fará pequenininho Se aos outros fizer mal!


E pouco tempo depois O floro de Juazeiro Foi a Câmara Federal Lá no Rio de Janeiro Num tempo curto de espaço Para o doutor foi escasso Nos seus dias derradeiros Noutra vez ao Padre Cícero Lhe veio uns homens de fora Conduzindo uma rede Disseram: o doente agora Pede pra lhe confessar; Disse o Padre: pode orar Pois ele morreu agora Qual a moral dessa história? O Pe. Cícero adivinha Que o deitado da rede Para ali matá-lo vinha Os que a rede trouxeram Decepcionados disseram: Meu Deus, que sorte mesquinha!


Disse meu Padrinho Cícero Certa vez: meus amiguinhos Vocês terão de ver dias Muito breve e cedinho As pedras do nosso Horto Virarem pão pra conforto Para seus pobres filhinhos Ele noutra ocasião Profetizou com pureza: As águas do S. Francisco Entrariam com certeza Na cidade de Juazeiro... Não creram no milagreiro E aconteceu com certeza Hoje a realidade As pedras do Horto, agora Sustentam várias familias E calçam ruas afora Quanto as águas é verdade Luz que ilumina a cidade A energia toda hora


Ao implante da ferrovia Das terras demarcação Que a kilômetros da cidade Se contruiu a estação Daí o centro de Juazeiro Pra seu povo primeiro Com indústria e evolução Um curioso “afilhado” Interrogou-o assim: O que nesse descampado Irá fazer, meu Padrim? − Estás vendo, meu romeiro Aqui o novo Juazeiro Que a mãe de deus quer enfim? Conversava com pessoas Intelectuais do Ceará Tambem de outros estados Entre idéia e opinar Que a nossa urbe crescia Com mais dias e menos dia Grande cidade será


E o Padre Cícero tinha Uma forma delicada De dirigir-se as pessoas; Ouça aqui, seu camarada A área da Lagoa seca Será nessa grande meca Com certeza destacada A estrada que se liga Juazeiro a Barbalha Naquele areial medonho Cheios de casa de palha Verão coisas interessantes O maior bairro elegante E o seguinte que se espalha Os cidadãos que virão À esta terra bendita Construirão grandes prédios E muitas casas bonitas Para a Cidade do Crato Agiram com mesmo trato Formando ruas estreitas


Pode parecer vulgar Porem o pobre dizia Que breves tempos virão Ele mesmo concilia Os donos desta cidade Terão a felicidade De abrigarem dez famílias A Lagoa Seca agora Se vê com realidade Cada casa dez famílias É uma outra verdade São abrigos de romeiros Que visitam Juazeiro E a Padroeira da cidade O exemplar pregador Continuou sua jornada Que Jesus lhe destinou E para ser executada Dirigindo aquele povo Certo num caminho novo Sem desvio ou parada


Aqui no mundo terreal O santo predestinado Vivia a sofrer pressões Foi tambem caluniado Por falsos amigos, tudo Além de se manter mudo Defendendo o apostolado O Padre Cícero Romão Foi humilde em sua lida Não deixou seus “amiguinhos” Um minuto em sua vida Cansado e já idoso Porem sempre corajoso Contra as piores investidas Tentavam os malsinados Por sua clarividência Destruir o grande líder Imbuido de ciência De respeito e moral Que duma forma geral Envolvia sua existência


Os olho do Pe. Cicero Eram claros e azuis O meu pai o conheceu Dizia: surgiu uma luz Que clareava as mentes De tantos ali presentes Que viam os olhos de Jesus E o espirito translúcido Altamente iluminado Previa futuro negro Anômalo, degenerado Seivado de corrupção Símbolo de violação Cem anos adiantados Uma visão sem fronteiras Ele via no infinito Refletia como um protesto Anos seguro e restrito Angustiado o Padre embora Os infelizes lá fora Fugia do seu veredito


Pe. Cicero perdoava Os rebeldes e insanos Carrascos guilhotineiros E os servis desumanos E seu maior inimigo? O próprio clero por castigo Que fingia com enganos Só um santo virtuoso Sentia tanta amargura Enquanto fazia o bem Nesse mundo de aventura O padre vivia com fome Sofria porque não come Seca a terra, que tortura! Meu Padrinho solicitava Amor e a caridade Mas não lhe davam atenção Bispos e autoridades Viam pelo interior A miséria e o horror Da grande calamidade


Enquanto isso, morria Gente em todo o estado Os mais velhos e crianças Sem auxilio e sem cuidado Com um privilégio, porém Observavam tambem Vendo os pobres maltratados Termina o século passado O atual quase no meio E na década de vinte Tantas orações, Deus vivo Atender nosso pedido Chuva, inverno concedido Na terra, caiu no seio As esperanças então Cresceram em pé ficaram Falou ao povo o “Padrinho” Meus amiguinhos, que oraram O tempo é de justiça Eles pagam a cobiça E o que de nós furtaram


Diariamente meu Padrinho Via os seus opressores Abençoava os romeiros Que viam com seus andores Pediam ao bom Jesus Seu amor fraterno de luz E a Virgem mãe das Dores Por imposição do povo Duas vezes foi prefeito De Juazeiro do Norte Ele tambem foi eleito Como vice governante Do Estado e atuante Governo honesto e direito Em 14, Juazeiro Então passou a cidade Ficando muito conhecida E o Padre sem vaidade Porem em busca do êxito Cercado de séquitos Voltando a normalidade


O municipio cresceu Elevando sua receita Recolhimento de imposto Da fazenda, era feita Comércio, tudo ia bem A pequena indústria tambem Agropecuária e a colheita Mesmo naquela época Difícil e da tirana Na revolução de 30 De 32, a paulistana O lendário Lampião Defendeu na ocasião Nossa terra soberana Então o grande progresso Da cidade se projetou Econômico social A política agitou Anos após sua morte Juazeiro cresceu forte Desde que ele nos deixou


Os seus olhos já sem luz Seu confessor ali investe Numa tristeza profunda A voz do Padrim inconteste Deixo este mundo incréu Rezar por vocês no céu Pedir chuvas pro Nordeste Então a 20 de julho Quando o dia amanheceu Foi um caos, um rebuliço O Brasil estremeceu O povo banhado em pranto Dizia por todo canto O Padre Cícero morreu Taumaturgos do Nordeste Assim foi intitulado Na Igreja do Socorro Seu corpo foi sepultado Como mostra algumas fotos Por milhares de devotos Foi ao túmulo acompanhado


Assim termino meus versos Contando a minha história Sobre o grande Juazeiro Do Pe. Cícero a vitória No seu sesquicentenário Os romeiros no rosário Cultuam a sua memória

FIM



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