ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
BASTINHA
PEGANDO CARONA
CRATO 2003
Seu cordel<<Rimando Certo>> Caro amigo Luciano É mesmo o caminho aberto Do verso rimar sem dano É aula se sapiência De quem tem experiência De quem sabe versejar E quem lê o seu cordel Não vai fazer, ao revel, Verso branco ou sem rimar. Seu verso usa a palavra Com abundância, sem míngua É fértil na sua lavra Num jogo de trava-língua Fazendo paralelismo Com notável sincronismo Seu recado vai mandando Com firmeza e concisão De rima, a grande lição Ao leitor, vai ensinando.
Estou “Pegando Carona” No seu cordel excelente Não pense que sou “entrona” O que me move somente É seu tema aproveitar Há muito quero falar Sobre versificação Destacando bem a rima O metro também se prima Pro verso ter perfeição. A rima certa, contudo, Tão bela, extraordinária, Que não depende de estudo Nem de escola literária; Ela é sonante, ela é nata E jorra que nem cascata Da alma do grande artista É rima do violeiro Do cantador verdadeiro Do poeta repentista.
Além da rima perfeita Que você versa tão bem Existe a rima imperfeita Que, no seu cordel, não tem Alguns chamam rima impura Porque no som tem mistura Muita gente boa usou: Bilac, o parnasiano; Castro Alves, o baiano Essa rima registrou. Também o grande Machado Poeta e escritor Na obra, imortalizado Deixou nela o seu valor Num soneto primoroso Que é “Círculo Vicioso” Mas cuja rima atropela; Pra quem é perfeccionista O escritor realista Rimou estrela com vela.
O poeta Castro Alves De estilo condoreiro De versos solenes graves, Em seu “Navio Negreiro” E muitos outros poemas Dos mais variados temas Registrei em versos seus “Jesuíta,” ‘A Cruz da Estrela’ Provo, não é marmelada, Ele rimou céus com Deus. Até Olavo Bilac Que o nome imortalizou Do Parnamento, foi o craque Na Arte se eternizou Pela forma e conteúdo A métrica, rima e tudo Cochilou, “dormiu de touca” Fez uma rima imperfeita, Todo crítico rejeita Rima de boca com louca.
A rima que você trata É aquela lapidada Qual jóia de ouro ou prata, Bem certinha, bem cuidada: É a rima consoante Também chamada soante É a que mais nos cativa Tanta beleza seduz É a rima de Zé da Luz, De Catulo e Patativa. E quando essa identidade De sons é mesmo total Havendo, então, igualdade Até a sílaba final Ela é chamada opulenta Faz jus ao nome que ostenta; Por isso, amigo poeta, Você com seu trocadilho Rimou sem sair do trilho E sua rima é completa.
Mas tem a rima toante Aquela só parecida Que é chamada assoante De cara “meio lambida” É uma rima rasteira Talvez um pouco grosseira Mas que é rima também O purista chama incerta Para outros ela é certa Me incluo com mais alguém. Dois versos consecutivos Formam rima emparelhada Se forem alternativos Temos a rima cruzada Com esquema ABBA A rima, então, será Interpolada ou oposta; Tem também a misturada Uma rima deslocada Em qualquer verso disposta.
Rima pobre, rima rica, Rima preciosa e rara Rima que se multiplica Mostrando do vate a cara Cruzada, ou alterada Paralela, geminada Interpolada, oposta Misturada, aliterante Encadeada, iterante Qualquer uma a gente gosta. Rimar é muito importante Ninguém queria duvidar É ponto predominante Para o coronel agradar: Mas não se esqueçam da métrica A poesia fica tétrica Se dela nos esquecer O coronel é mutilado O verso fica quebrado Até difícil de ler.
Fazer o verso isométrico Sempre coma mesma medida Fazer verso heterométrico No cordel, não tem saída A redondilha maior É a medida melhor Para o verso popular Ninguém vai achar defeito O coronel será perfeito Gostoso de recitar. Termino este folheto Sobre versificação Com ele me comprometo Por transmitir a lição Escolhi esta temática Teórica e sem a prática De Luciano Carneiro E toda essa Teoria De bom grado trocaria Pelo seu rimar certeiro.
FIM