ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
PEDRO BANDEIRA
TANCREDO NEVES O MÁRTIR DA REPÚBLICA
JUAZEIRO DO NORTE 1985
O calvário de Tancredo Durou trinta e nove dias, De cortes e agulhadas Gemidos e agonias Lutando para viver Sentindo o corpo morrer, Nas dores das cirurgias. A todo seu sofrimento O Brasil testemunhou; Entre suspiros e ais A Nação toda chorou. É essa a voz de quem chora, O seu corpo foi embora, Mas o seu sonho ficou. Como politico, inda novo Elegeu-se Vereador, Deputado Estadual, Federal e Senador, E num trabalho completo Foi pelo voto direto Eleito Governador.
A fim de tirar o povo Da mal ditatorial, Pregou Eleições Diretas Num plano nacional Vendo que não tinha jeito Deu um dible e foi eleito No Colégio Eleitoral. Depois de eleito, deu Um vôo pelo céu de anil. Visitou muitos países Passou por cidades mil, Viajou com paciência Arranjando experiência, Para aplicar no Brasil. Na campanha eleitoral Disse com disposição: Se houver qualquer deslize No dinheiro da Nação Sendo que eu tome ciência, Logo tomo providência E aplicarei punição.
Prometeu reforma agrária Sem ter distinção de raça E disse ao trabalhador: Ninguém fará ameaça; Parece que conhecia A fome negra e sombria Que o pobre no campo passa. Depois de longa viagem Voltou para se empossar, Mas a quatorze de março Sentiu o barco tombar. Entrando no mar da morte Em uma onda tão forte Que foi preciso parar. Fez no hospital de BASE A primeira operação, A segunda e a terceira. Tudo na mesma ilusão, Além dessas fez mais quatro, Transformando num teatro A “Casa do Coração”.
Criou um rio de lágrimas Entre S. Paulo e Brasília Foram trinta e nove dias De pranto, dor e vigília, Na “Casa do Coração” Parece que a Nação Perdia o pai da família. Durante todo martírio Sofreu com serenidade, Deixando a Pátria querida Gemendo de ansiedade, Dizendo na praça pública: “A nossa Nova República Não teve felicidade”. Promessas, preces, rumores, Remédios, maquinaria, Orações, juras, protestos, O Brasil todo fazia. A esperança passava, E quando mais se rezava Mais a doença crescia.
Em S. Paulo ainda teve Umas tardes de melhora, Escreveu pra Zé Sarney Falou com sua senhora, Acabrunhado e tristonho Passou viver com um sonho Que chega, mas vai embora. Durante todo martírio Acenava com a mão, Ouvia missa, rezava, Participou de oração. Gesticulava de novo Como quem dizia ao povo: “Morro por minha Nação”. Nos delírios do calvário, (De acordo o que escutei) Conversava com seus netos Falava em José Sarney E escreveu de caneta As palavras: “Risoleta” E de “São João Del Rei”.
Em São Paulo, no Instituto Do Coração, faleceu, Aos vinte e um de abril Findava o martírio seu. Na hora que Antonio Brito Anunciou, deu um grito E a Pátria toda tremeu. Quando o último beletim Saiu na televisão, Gritos bradaram no ar Lágrimas rolaram no chão. E a morte como uma lança Cotava a flor da esperança, Que alimentava a Nação. Os ponteiros do relógio Marcavam muito sutil, Dez da noite e vinte tres De vinte e um de abril. Do ano de oitenta e cinco, A morte fechava o trinco Da esperança do Brasil.
Muitos políticos choraram Prefeitos e Vereadores, Ministros e Deputados, Juízes e Senadores. Porém os seus sonhos nobres, Farão mais falta aos pobres Que são os mais sofredores. Todos os governadores, Lideranças Sindicais, Padres, Bispos, Arcebispos, Soldados e oficiais, Diziam sem ter segredo: Agora, outro Tancredo Só com cem anos ou mais! Fafá de Belem cantou O Hino Nacional. E oito dias de luto Num Decreto Oficial. A Pátria chorava tonta E a dor tomava de conta De todo povo em geral.
O Congresso Nacional Reuniu-se e falou alto, O corpo saiu do carro Cortando lágrimas no asfalto, Trazia o caixão fechado Para poder ser velado No Palácio do Planalto. Em São Paulo ele cortou As ruas num caminhão, Do aeroporto saiu No bôlo de um avião Com amigos da família Voava para Brasília: Eixo da Federação. Em Brasília foi velado Voou pra Belo Horizonte, Com a Faixa e a Bandeira Cobrindo dos pés a fronte E o povo por todo canto Formava um rio do pranto Molhando a área da ponte.
Houve missa em S. Paulo, Brasília, Minas Grais, E em toda as Igrejas Católicas, que o Brasil faz Sem contar se as orações Da outra amigas Nações Cultos internacionais. Todos os jornais do mundo Falaram do Estaduais, Tancredo de Almeida Neves Talentoso futurista. Bandeira da Salvação, Nome que nossa Nação Nunca mais tira da lista. Sepultou-se na cidade Que foi nascido e criado, Mártir como Tiradentes O seu conterrâneo amado. Mineiros do mesmo drama, Só que um morreu na cama Outro morreu enforcado.
São de um só município, Assim a história anuncia. Quem nasce em Minas Gerais Não usa da covardia, São frutos da Inconfidencia Um mártir da Independencia Outro da Democracia. Fica o corpo de Tancredo Lá em São João Del Rei Eu junto, ao Brasil de luto Triste permanecerei Morreu o maior da raça, E a nossa esperança passa Pras mãos de José Sarney. Zé Sarney é um poeta Que nasceu no Maranhão, Substitui Tancredo Pela Constituição E por ter brasilidade Dará continuidade Ao seu plano de ação. FIM