ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
JOÃO DE BARROS
TARCIANA E JUARÊZ
Juarês Freitas de Souza Foi um forte valentão Nunca temeu a ninguém Nas zonas de seu sertão Pra defender seu amor Quase acaba um batalhão No sertão do Araripe Na fazenda Imburana Juarêz Souza criou-se Em casa de Gil Fontana O qual tinha uma filhinha Por nome de Tarciana Juarêz foi encontrado Na manhã de um certo dia Por esse tal Gil Fontana Numa enorme travessia Se condoendo e levou Para sua moradia
Nessa época a criança Tinha mais ou menos um mês Senhor Gil lhe apadrinhou Com sua esposa Inêz Levaram-lhe para pia Com o nome de Juarêz Não adotaram a criança Pra deles não ser herdeiro O pobre do Juarêz Criou-se num cativeiro Que não parecia ser Um tão feliz brasileiro Nunca foi numa escola Nem siquer levar recado Sua escola era o trabalho Porem criou-se educado Humilde pra todo mundo Tornou-se moralizado
Com oito anos ele era Robusto forte e sagaz Fazia qualquer mandado Sendo em assunto capaz Que possa uma criança Resolver sendo capaz Era esperado pra tudo Ajudava uma porção Ao senhor Gil Fontana Porem uma ocasião Juarêz ficou pensando Despertar uma atenção Falou para seu padrinho Quero saber do senhor Porque não frequento aulas Tem tão perto um professor E eu sei que de aprender ler Tambem sou merecedor
Respondeu-lhe o senhor Gil Se tu tivesse teus pais Poderia aprender Não era nada demais Já te dou roupa e comida O que é que queres mais? Te encontrei na estrada Criei-o pra fazer favor Queres que te dêr estudo Ora essa meu senhor Procuras quem é teu pai Pra ti fazer Doutor Não fale mais nesse assunto Senão te darei castigo Deves dar graças a Deus Por estares neste abrigo Pense bem no que me fala Se quer ter-me como amigo
Para que serve leitura Pra quem tem pouco valor Precisas é de ser forte Para ser trabalhador Juarêz ouvindo isto Saiu pranteado a dor Ele já com trese anos Vivia em sofrer mesquinho A sua vida era só Trabalhar para o padrinho Desejava e não podia Seguir por outro caminho E assim continuou Sua vida de tormento Trabalhando pra seu Gil Forçado igual a jumento Pensando como faria Pra vencer qualquer momento
Aqui deixo Juarêz Pra falar de Tarciana Uma jóia de menina Na fazenda imburana Era rainha em beleza Nas terras Pernambucana Tarciana há tempo ouvia Seu pai dar repreenção No pobre do Juarêz E chamar-lhe a atenção Por tais coisas ele sentia Doer em seu coração Ela era uma mocinha Com doze anos de idade Um dia seus pais saíram A passeio na cidade Deixaram ela e a ama Seguiram em tranquilidade
Não pensaram que a menina Fôsse aproveitar a vêz De seus pais fora de casa Nessa não teve talvez Pegou a colher de chá Foi falar com Juarêz Ao encontrar-lhe pergunta Porque estais pensativo Não sabes que eu te amo E há muito tempo que vivo Planejando como faço Deixares de ser cativo De hoje em diante quero Com você contato ter Daqui um ano eu garanto Meu amor saberes ler Te ensinarei em sigilo Para ninguém não saber
Se me amas eu te amo Se me queres eu te quero Me veneras que tambem Com prazer eu te venero Pra este feliz encontro Há muito tempo que espero Diz Juarêz oh! querida Tão grande foi minha sorte Meu anjo por teu amor Serei um guerreiro forte Entraste em meu coração E só sairás por morte Tarciana disse bem Se caso papai sober Que eu estou com o plano De ser a tua mulher Ai nós inventaremos Uma desculpa qualquer
Não faças com que ninguém Descubra o nosso amor Tenhas cuidado pra não Tornar-se um sofredor Pois papai sabendo pode Transformar-se em malfeitor Ficas sabendo que eu Desta hora em diante Estou pronta a te ajudar No que for interessante Muito embora a mais tarde Venha o sofrer cruciante O importante é que eu Pretendo a ti ajudar Todo dia essas horas Ficarás a me esperar Na cachoeira e bem oculto Pra ninguém te avistar
Se abraçaram e ficaram Ambos os dois combinado Colados um beijo passaram Meia hora abraçado Quando ela chegou em casa Já seus pais tinham chegado Perguntaram onde estava Ela respondeu eu tinha Ido na casa de Rosa Aquela colega minha Que mora a um quilômetro Falou isso e mais nadinha Tambem não falaram nada Desta vez tudo foi bem No outro dia a menina Foi encontrar seu alguém Deu-lhe as primeiras lições Sem presenciar ninguém
Assim foi continuando Tudo que ela estudava Ensinava a Juarêz Com pouco tempo ele estava Sabido igualmente a ela Pelas lições que ela dava O velho nunca siquer Sonhou com tais transações Se sonhasse talvez Ferisse a dois corações Só mesmo assim poderia O moço gravar lições A moça com quinze anos Tinha mais dum diploma Já falava e ensinava Todo e qualquer idioma E no rapaz, de lições Ninguém cauculava a soma
Pois Juarêz já sabia Falar correto o inglês Casteliano, indiano Latim, alemão, francês Tudo quanto era de bom Se encontrava em Juarêz Em oculto o rapaz tinha Uma idéia fabulosa Matava qualquer charada Era magnifico em prosa Podia bem se dizer O segundo Rui Barbosa Tarciana mui contente Falou para seu querido Se sabes de alguma coisa Seguimos noutro sentido Me peça a papai, embora Ele fique enfurecido
Eu tenho quase certesa Que meu papai não consente De eu ser tua esposa Mas é um dever da gente Comunicar-se a ele Embora fique valente Perguntou-lhe Juarês Se seu pai não consentir? O que devemos fazer? Diz ela o jeito é fugir Nossos estudos já dá Pra um casal garantir Sabemos que Juarêz Nos estudos foi atento Vamos saber como agora Vai ser o seu sacramento Combinou com Tarciana Foi pedi-la em casamento
Falou assim pra seu Gil Um ano e uma semana Faz que eu estou amando Sua filha Tarciana Quero ela em casamento Ou dรก-me ou hoje se dana Respondeu-lhe o padrinho Quem deu-lhe o consentimento Pra namorar minha filha Cabra cretino nojento Vou dar-lhe uma boa surra No logar do casamento Pegou logo uma chibata Gritando cabra safado Puche daqui nesse instante Se nรฃo quer ser fuzilado E depois de morto o cadรกver Seja no fogo queimado
Juarêz disse padrinho Não é preciso haver briga Eu gosto é de harmonia E quero que o senhor diga Que me dá a sua filha Sem se promover intriga Disse o velho espera ai Que ageito aquela danada Vou prendêla e amanhã Mando mata-la queimada Só assim é que me vingo E acabo com a zuada Pegou a filha amarrou Com força que quase tora E partiu para o rapaz Dizendo chegou a hora De ensinar um bandido Como uma moça namora
O rapaz disse bandido É de sua qualidade Que nega a filha a um homem De alta capacidade Vou lhe provar que eu sou Cabra macho de verdade Deu uma tapa no velho Qu’ele rodou e caiu Levantou-se entrou em casa Pela cosinha saiu Juarêz ficou caçando Pra qual lado ele fugiu Cuidou em soltar a moça Não podia ter demora Ela arrumou a mala Beijou a mãe foi embora Sem saber por onde o pai Andava nessa hora
Seu Gil por onde passou Contratou uns cangaceiros De volta ele trazia Um grupo de bandoleiros Calculadamente vinha Sessenta ou mais pistoleiros Chegando não encontrou A moça nem o rapaz Deu um esturro e ficou Valente igual Satanaz Deu ordem a cabroeira Para seguirem atraz Tarciana prevenida Com dinheiro a disposição Deu um cheque a Juarêz E em dinheiro um milhão Ele comprou dois revólveres E um cavalo pra silhão
Seu cavalo era possante Ligeiro que só o vento Andou trinta e quatro léguas Sem descansar um momento Chegou em uma cidade Cuidou de seu casamento Tudo mais ou menos certo O Padre da freguezia Falou não pode ser hoje Vamos contratar o dia Nesse momento dois homens Entrou pela sacristia Era os cabras do velho Procurando Juarêz Dai a pouco chegou Mais um e completou três Juarêz não quiz conversa Virou brabo desta vez
Bateu de mão seu revólver Matou dois e ficou um Com pouco chegou o bando E começou o zum-zum Brigaram quase dez horas Tambem não ficou nenhum Começou pela igreja O grande fogo serrado Não escapou só um santo Que não ficasse quebrado E se o Padre não corre Tambem tinha se danado Juarêz cessou o fogo Por não ter com quem brigar Falou para Tarciana Agora vamos voltar Para casa de seu pai Pra ele lhe abençoar
Ele montou Tarciana No seu cavalo baixeiro Voltou pra casa do velho Fazendo um plano certeiro De apaziguar-lhe e ser No acordo seu herdeiro Porem no meio do caminho Uma quadrilha malvada Tentou acabar com ele E lhe tomar sua amada Ele sem perca de tempo Promoveu uma brigada Puxou pelo seu gatilho Provou ser cabra de raรงa Gritou para os bandidos Quem for ligeiro se faรงa Ouvir toda tropa (entรฃo) Hoje voar na fumaรงa
Mandou bala na negrada Sem respeitar a ninguém Gritando vou ver se deixo Todos vocês num xerem Com uma hora de luta Tinha morto quase cem Não se sabe a conta certa Dois negros que ali morreram O céu cobriu-se em fumaça Muitos desapareceram Pra defender-se da morte Quatro bandidos correram Juarêz correu atraz E lhes fêz subjugados Os quais se comprometeram Ser dele os quatro empregados O rapaz com muito ódio Trouxe todos amarrados
Juarêz aos bandidos Inda deu colher de chá Em uma gruta que tinha Num pé de jacarandá Sem pena pegou os quatro Deixou amarrados lá Seguiu a sua viagem Com a linda Tarciana Sem hesitar dirigiu-se Pra fazenda Imburana Na hora que foi chegando Quase que o velho se dana Vendo a filha chegar Ao lado do afilahdo O velho endiabrousse Porem se viu apertado Com Juarêz apontando Um revolver pra seu lado
Falou: meu padrinho Gil De homem não mais duvida Se quer me dar sua filha Contará com sua vida Se tentar me negar isto Nesse instante se liquida O velho disse eu lhe dou Não precisa de questão Eu mesmo vou a Exu Pra trazer o Capelão Foi á cidade pensando Em fazer uma traição Logo após o casamento Ao moço ofereceu gim Que já vinha misturado Um pouco de nitrozim Pensando com seus botões A este peste eu dou fim
Ao receber a bebida O moço desconfiou Num pouco que engoliu Um mal gosto ele notou Mas como tinha provado Ligeiro se envenenou A sua felicidade Foi uma vaca leiteira Pagou um copo e correu Direto para a cocheira Tirou um copo de leite Bebeu voltou carreira Pegou o velho na beca Dizendo velho safado Você pensava que eu Morria envenenado Vou lhe dar uma lição Pra você morrer lembrado
Riscou o velho de faca Quebrou-lhe as duas canelas Deu-lhe uns ponta-pés nas costas Fraturou-lhe as costelas Sem pena montou-se em cima E arrouchou-lhe as goelas Com muita ira o rapaz Disse eu mato esse bandido A velha pediu meu filho Não mate o meu marido Pelo amor de Deus eu peço Atenda o meu pedido Juarêz soltou o velho Atendeu uma senhora Chamou um médico urgente Depois de sua melhora Pediu perdão ao rapaz Este perdoou na hora
Ficou na mesma fazenda Morando com sua esposa Estudou mais, se formou Hoje ver-se em uma louza Em frente de sua casa Doutor Juarês de Souza Ninguém duvide da sorte Que o bem intencionado Sempre vencerá na vida Não importa ser achado O que é bem importante É o cabra está criado Juarêz contou a mim O caso como se deu A ele o padrinho seu Ofertou-lhe o querubim Boa casa tudo enfim A Tarciana ofertou Reconhecido ficou Resolveu ficar gentil O moço bem varonil Sua bandeira içou
Jo達o de Barros Cantador Repentista ao Som da viola
FIM