ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.
INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.
INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.
COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte
FRANCISCO DE ASSIS
ZÉ MATUTO DO SERTÃO
Falando sobre matutos Alguns trechos vou narrar Contarei suas astúcias E o que veio aprontar Quando apareceu no mundo Houve suspiros profundos De gente a se lastimar Já eles estavam sabendo Quando a criança nasceu Que iria dá trabalho Então isso aconteceu Aos três anos de idade Perto da localidade Muita gente enlouqueceu Por José Alves Sobrinho Assim fora batizado Não deixou ninguem em paz E foi escandalizado Das peraltices que fez Eu vou narrar pra vocês Contarei todo passado
Ele falava errado Mas não se preocupou Por falar como matuto Este nome eu lhe dou Zé matuto do Sertão Causando preocupação Muita coisa aprontou Gostava muito da mãe Mas a desobedecia Pois sua mãe era boa Mas ela não queria Vivia de badernar Seus malfeitos vou contar Mas não é como alegria Então numa bela tarde Um burro ia pastar Ele chegou para o burro Pensou: Eu vou aprontá Uma boa malandrage Atrapaiá a pastage Desse fomento animá
Chegou bem pertinho dele Com a ponta dum cigarro Bem na orelha do burro Deixou tirando-lhe o sarro O burro rinchou de medo Seu dono soube do enredo E deu nele um grande esparro Disse: quem foi que mandou Queimar o pobre animal? Causando-lhe muita dor Ele nunca lhe fez mal Se explique se puder Ou então se tu não quer Apanhar muito de pau Ele disse: me esprico Pois eu sô caba valente Este pobre animá É um bicho intiligente Vendo o cigarro comigo Me dixe: ô meu amigo Dá um traquinho pra gente
− Isso é pura verdade Tu não pode duvidá Se voimecê discunfia Pode a ele preguntá Ele li conta tudim Pois num guarda segredim Pode n’eu acreditá O domo qu’era mais burro Do que seu burro criado Chegou pro burro dizendo: Ô meu amigo danado Me diga se é mentira Ou então hoje nós pira E ficamos arruinado O burro ficou calado Ao dono nada falou Zé Matuto observando Lhe disse: ô seu doutô Tu é bastante demente Quem cala é porque consente Então eu daqui me vô
Zé Matuto foi pra casa Para sua mãe rever Ela disse: Zé Matuto Bom armoço vou fazê Portanto vá lá na fêra Sem fazê muita bestêra Pra u’a galinha trazê Zé Matuto se mandou Não demorou a chegar O feirante então lhe disse: De graça eu vou te dar Se tu da galinha choca Ligeiro sem fazer moca Puder um ovo tirar Pois todos devem saber Como é essa galinha Que chocando os seus ovos Ninguem pro iado caminha Que ela bica demais Não deixa ninguem em paz É pior do que espinha
Zé matuto do Sertão Que é bastante esperto Observando ali viu Um alfinete por perto Se abaixou como zebu Enfiou no sobrecu Achando que estava certo A galinha deu um pulo Gritando cocorocó Zé aí pegou o ovo Para não ver o pior Entregou ao galinheiro A galinha, e o dinheiro O dono lhe deu sem dó Depois rumou para casa Para poder almoçar Pra que outras travessuras Pudesse ele aprontar Dessa vez bem diferente Foi dá uma de demente Para o povo admirar
O Zé saiu a andar Pensando numa façanha Pra admirar o povo Nisto ele tinha manha Projetou tudo direito Vendo tudo bem perfeito Disse: aqui ninguem me ganha Ao andar pelo caminho Encontrou um cidadão Que lhe fez uma pergunta Pediu uma informação Perguntou: onde é que fica Uma capela bem rica A de S. Sebastião? Zé Matuto admirado Com um riso tão faceiro Disse: eu lhe ajudo sim Se me der um bom dinheiro; O cidadão lhe pagou Zé Matuto lhe informou Veja só o paradeiro
O Zé lhe disse; bom homem Tu vai aqui à direita Anda quinze quarteirão Na trevessia prefeita Dobra e anda mais uns dez Vê monte de coronéis Aí tudo se ajeita Então o cidadão foi Fez o que Zé lhe mandou Ao andar os quarteirões E outros então dobrou Vendo que estava errado Disse bastante enraivado: O Matuto me enganou! Zé Matuto muito alegre Com o dinheiro na mão Foi contando no caminho Mas com dor no coração Por enganar gente boa Com isso quase enjôa Foi pra casa em direção
Logo após o seu almoço Foi dormir pra descansar Foi sonhar com a namorada Que poude um dia arranjar Agora eu contarei Tudo que observei Com os dois a paquerar Zé tinha uma largatixa Por bicho de estimação Não se separava dela Nem mesmo por um milhão Portanto foi namorar Sem o bicho lá deixar Causou muita confusão Chegou-se pra namorada E disse: oi, tudo bem? Deu um cheiro nos seus olhos E na bochecha tambem A largatixa saiu Do bolso se escapoliu Tornou-se feio o dedém
Ela subiu pelas pernas Da namorada do Zé A menina com coceira Na pontinha do seu pé Olhou de novo pro chão Viu com grande assombração Imaginem o que é? Subiu por todo o seu corpo Entrou por aquela parte Ela deu um grande grito Deu pra se ouvir de Marte Chega a saia levantou Eu vi o qu’ela mostrou Era uma obra de arte Logo após o acidente Que com Zé aconteceu Ela deu-lhe grande fora Zé Matuto até sofreu Logo se recuperou E depois continuou Divertindo o povo seu
Ele fez diversas coisas Que não dá para contar Aqui o cordel se finda Não dar pra tudo contar Fez muita gente sorrir E sua fama subir O matuto do lugar Esta é toda história Do matuto endiabrado Zé Matuto do Sertão Que ao se ver enrolado Inventa qualquer saída Para salvar sua vida E nunca ser condenado
FIM