LETRAS TAQUARENSES Nº 58 AGOSTO 2014 * EDITOR: ANTONIO CABRAL FILHO - RJ

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Ano VIII nº58 agosto 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC

HAICAIS Filhotes se aninham Sob as asas protetoras – Inverno chegou. Cida Micossi – SP Passam pássaros. Meus sonhos Não migram. J. Cardias – RJ A abelha, tristonha, - fauna e flora devastadas – Produz mel amargo. Leila Miccolis – RJ Pessoas despertam; Madrugada após geada. Inspeção do campo. Manoel F. Menendez – SP Ao cantar do galo Também a serra vernal À espera do sol. Neide Rocha Portugal – PR Quando eu olhos as rosas Sinto uma vontade imensa De abraçar o artista. Humberto Del Maestro – ES Rapaz chega em casa Com a roupa respingada. Lá fora, a garoa. Renata Paccola – SP Na seca total Resiste um pouquinho mais Árvore despida. João Batista serra-Ce Sanhaço perscruta, Silente, meu mamoeiro: Tem mamão devês.

Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Buscar paz de espírito. Vai de galho em galho, Pára, olha, me vigia: Esquilo mineiro... Cai um temporal Sobre o calor de domingo: São águas de março. Chove em Parati: Mil peixinhos vêm à tona, Provar outras águas.

Sigo na rua com frio, A brisa caminha leve... A lua, do céu vazio, Me abraça com mão de neve. Humberto Del Maestro – ES Por mais que divague a mente E o rumo tente alterar, Meu olhar tão insistente Te vê em todo lugar... Jessé Nascimento – RJ Aquela nuvem que corre, Lembra, de um velho, os cabelos, Que cada dia que morre, Deixa pra traz os desvelos. Henny Kropf – RJ

TROVAS

Uma lágrima que escorre Trás mil brilho à própria face, Se a cada sonho que morre Há um novo sonho que nasce. Renata Paccola – SP

Felicidade, um evento, Uma graça fugidia... Como lufada de vento, Passa por nós, algum dia! Fernando Vasconcelos – Pr

Urubu sobre o telhado E voando abertamente Ficou muito bem olhado Pelo suspiro da gente. Franc Assis Nascimento - Go

Desse jeito, esperneando, Considero-te a criança, Que sempre tenta chorando Quando o que quer não alcança. João Batista Será – CE

Ao brincar com seu cabelo E puxar o seu vcestido, Vento sede a um sexy apelo E revela ter crescido. Olivaldo Júnior – SP

Quando a mão busca outra mão E sem rodeios perdoa, Dá-se tão bela união Que Deus bendiz e abençoa. Alaor Eduardo Scisínio – RJ

Com sete a um da Alemanha, Ao menino a decepção.. Mas o Brasil mais apanha No quesito educação. Eliana Ruiz Jimenez - SC

Dê-se ao jovem liberdade Para sem medo ele ousar. - É no ardor da mocidade Que o sonho aprende a voar. A. A. de Assis - PR

Quando, manhã, bem cedinho, Abrindo os olhos desperto, Através do teu carinho Vejo logo um céu aberto. Walter Siqueira – RJ

Antonio Cabral Filho - RJ


SALDO ESCASSO Após devorar A sagrada esperança De Agostinho Neto, Com gosto de suor africano Explorado em solo brasileiro, Regada a muito café E mergulhado em insônia, Vou passear no quintal Ver se colho um poema Ou o sal da escassez. NOITE Depois de trabalhar O dia inteiro A noite fica exausta E se dependura Lá do céu sobre nós E dorme como os morcegos... É por isso que acordamos Chamuscados de escuridão. METAPOÉTICA De tanto Alavancar o poema Acabei pavimentando O verso E instalando a poesia Sempre no ponto final. COMPLEXO DE KAFKA Não fossem os calafrios Da pobre coitada mãe Que vivia em panos quentes Pra manter seu pai Em banho-maria Teríamos mais psicanalistas Tentando livrar as pessoas Dos estados parasitários E Kafka transformado em barata.

Nos seus arredores Chegam avisos da pólvora: Seguem escaramuças Por seu corpo escarpado, Todo respingado de rubro.

PRÊMIO JUSTO PONTO CEM RÉIS Não sei quantos reis Passaram por este ponto E não sei ainda Se era sem réis Caso houvesse pedágio Transitar livremente. ENQUETE O vovô anarquista Perguntou para o netinho Se acreditava em Papai Noel: - Por quê, vai me dar presente? Inquiriu o garoto, todo serelepe, Enquanto o avô confabulava Com seus bigodes: - Que menino materialista!

Corredor polonês Só para o maldito inventor Do corredor polonês, Que eu fui..... CACETE BAIANO Depois de apanhar Até gato morto miar, Por dizer gracinhas Para a menina dos olhos Do paizão ciumento, Diz que ganhou O maior cacete baiano. APROPRIAÇÃO INDÉBITA Eu sei que o boca-a-boca É a melhor propaganda,

ANTI GULLAR Inútil a luta corporal Sem poemas concretos Sobre romances de cordel A sós dentro da noite veloz Pra cometer poema sujo E acender uma luz no chão Em plena vertigem do dia Causar crime na flora E sair por aí fazendo barulhos Com muitas vozes E argumentação contra A morte da arte Pleno de antologias...

HORA DA RVOLUÇÃO LARGO DA BATALHA Já diz tudo O nome do local Que nos lembra Algo longe Transido de combates E ainda agora

De algum ditador. É que eu vi Um homem no ônibus Lendo o Manifesto Comunista.

É hora da revolução! É hora da revolução! Não! Não é nenhum Sinal dos tempos Nem devido à queda

Mas não adianta resmungos Nem choro pelos cantos. Só devolvo o beijo Que te roubei dormindo, Se vieres tomá-lo Boca-a-boca... DEUSES DE PAUPÉRIA Era uma cidade Fundada por ATA E lá estava escrito: Artigo Único Aqui todos somos felizes, Pela graça dos deuses. E todos tudo fazem Para o bem de todos. § Único – Revogam-se as disposições em contrário. Antonio Cabral Filho – RJ


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