A Cidade Contemporânea - Volume #1

Page 1

A CIDADE

CONTEMPORÂNEA REVISTA DE TEORIA, HISTÓRIA E CRÍTICA DA

ARQUITETURA E DO URBANISMO

2018/1 VOLUME #1



A CIDADE

CONTEMPORÂNEA REVISTA DE TEORIA, HISTÓRIA E CRÍTICA DA

ARQUITETURA E DO URBANISMO

2018/1 VOLUME #1


Pontifícia Universidade de Católica de Goiás Escola de Artes e Arquitetura Curso de Arquitetura e Urbanismo Teoria, História e Crítica da Arquitetura e Urbanismo 5 Prof. M.e Pedro Henrique Máximo Pereira (prof.pedromaximo@gmail.com 2018/1 A CIDADE CONTEMPORÂNEA - VOLUME #1 Revista da disciplina de Teoria, História e Crítica da Arquitetura e Urbanismo @acidadecontemporânea @revistaacidadecontemporânea


#SUMÁRIO A CIDADE CONTEMPORÂNEA – VOLUME #1 [01-04] Pedro Henrique Máximo Pereira

#INTERVENÇÕES 1. INTERVENÇÃO URBANA NO POBLENAU E AS ESTRATÉGIAS DO 22@ PARA BARCELONA [05-14] Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel, Victória Lima

2. INTERVENÇÕES NO TECIDO HISTÓRICO DE PARIS ÀS MARGENS DO RIO SENA [15-24] Matheus Santana, Ana Karolaine, Isabela do Prado, Ana Mirella

3. A BAIXA MANHATTAN COMO PALIMPSESTO: PAISAGEM, PODER E MEMÓRIA [25-34] Larissa Marques, Le cia Mamedes, Maria Clara Hidalgo, Priscila Gon njo

4. INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE MOSCOU E O CASO DO PARQUE ZARYADYE [35-44] Cássia Moura, Thayne Montenegro

5. O LEGADO DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES 2012: GENTRIFICAÇÃO E SEGREGAÇÃO URBANA [45-54] Danna Machado, Isabela Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Carvalho Alves

6. A CONTEMPORANEIDADE DA PAISAGEM DA PUC DO CHILE [55-64] Angelina Menessis, Camila Gonçalves, Gustavo Melo

#GLOCALIDADES 7. RUMO AO MAR: UMA ANÁLISE DA EXPANSÃO TERRITORIAL DE SINGAPURA [65-74] Ana Clara Chaves, Carolina Hildebrand e Isabela Moraes

8. RUMO AO CÉU: MIRAGENS ARQUITETÔNICAS SE DUBAI [75-84] Fernanda Carrijo, Mayana Pinheiro, Silvana Fagundes, Yasmin Debs

9. PORTO MADERO: A PÉROLA NEGRA SUL-AMERICANA [85-94] Aline Urzedo, Bruno Marques, Monica Costa


OIRÁMUS# 10. A CIDADE DE MADRI E AS FACES DA ARQUITETURA DE GRIFE [95-104] Marcela Ba sta Abreu, Layane Arruda Vasconcelos, Yanka Medeiros, Nathália Mar ns Frioravante

11. BIOGRAFIA DA TRANSIÇÃO URBANA DE BERLIM: O CASO DA POTSDAMER PLATZ [105-114] Bianca Juliani, Lisa Valle

#TURISMOS 12. O PAPEL DOS PARQUES URBANOS NA CRIAÇÃO E EXPANSÃO DO TRANSPORTE COLETIVO DE CURITIBA E O CASO DO JARDIM BOTÂNICO [115-124] Isabela Tonelli Borges, Lorena Fernandes, Lorena Ferreira, Marcos Paulo Nonato

13. TURISMO ÀS MARGENS DE BELO HORIZONTE: AS ARQUITETURAS E AS PAISAGENS DE INHOTIM [125-134] Elisa Campos Cozadi

14. MEMÓRIAS ENTRE OS BLOCOS E VAZIOS DE BERLIM [135-144] Rafael Bolen ni

# URBANIDADES 15. A CONQUISTA DA RUA EM COPENHAGUE: O CASO DA RUA STRØGET [145-154] Caren Alcantara, Carlos Augusto, Eduardo Macedo

16. A BIBLIOTECA ESPANHA COMO UM CATALIZADOR DE SOCIABILIDADES [155-164] Ana Luiza Lemos, Davi Isaac, Rafaela Marçal e Natalia Borges

17. A POESIA DOS CONTRASTES ÀS MARGENS DA PONTE DE LOS POETAS NA CIDADE DO MÉXICO [165-174] Jennifer Teixeira, Marina Barcelos, Tamires Carrijo, Talita Terra.

18. AS RUAS DOS SESCs EM SÃO PAULO [175-194] Akemi Esaki, Antônio Pedro Molinari, Gabriela Suzuki, Mariana Gonçalves


A CIDADE CONTEMPORÂNEA – VOLUME #1 Pedro Henrique Máximo Pereira (prof.pedromaximo@gmail.com) Este volume é, antes de tudo, o resultado de um esforço cole vo (imagem da equipe na página a seguir). Um esforço em produzir uma síntese dos aprendizados e ensinamentos mútuos da relação professor-aluno, ou melhor, aluno-professor, da disciplina de Teoria, História e Crí ca da Arquitetura e Urbanismo 5, hospedada no 6º período da matriz curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pon

cia Universidade Católica de Goiás, semestre 2018/1.

A proposta da elaboração deste volume foi pensada desde o planejamento da disciplina e lançada aos alunos na apresentação do Plano de Ensino e, posteriormente, nos úl mos dois meses de sua duração, período des nado para a elaboração dos trabalhos. Neste momento o nome da revista ainda era incerto, mas em razão de experiências anteriores, como nos semestres 2014/1, 2014/2 e 2015/1, e do conteúdo explorado durante seu desenvolvimento, foi oportuno que seu nome fosse A CIDADE CONTEMPORÂNEA. Este tulo não fecha ou limita as discussões, mas atua como um convite ao conhecimento de casos e exemplos de lugares múl plos distribuídos pelo planeta que contribuem para o conhecimento do atual estado do urbano. Além do mais, este volume é um potente instrumento pedagógico, cujo envolvimento e empenho dos alunos permite que suas habilidades, dificuldades, competências e anseios sejam trabalhados, desenvolvidos, melhorados e aperfeiçoados. Ele também é um registro, uma espécie de memória hoje plantada deste momento tão singular para todos, que é a troca, o convívio, os conflitos e o crescimento caracterís co do processo de ensinoaprendizagem do Ensino Superior. Para que tal produto fosse elaborado alguns Procedimentos Metodológicos foram adotados. Inicialmente o desafio seria explorar cidades diferentes, do Brasil, de outros países, das Américas e de outros con nentes. As cidades contemporâneas estariam diante de grupos de alunos para que, a par r da Cronologia, da Revisão da Literatura e da Análise Urbana fosse


A equipe Marcela Ba sta Abreu, Layane Arruda Vasconcelos, Yanka Medeiros, Nathália Mar ns Frioravante Bianca Juliani, Lisa Valle Isabela Tonelli Borges, Lorena Fernandes, Lorena Ferreira, Marcos Paulo Nonato

Elisa Campos Cozadi Rafael Bolen ni Caren Alcantara, Carlos Augusto, Eduardo Macedo, Ana Luiza Lemos, Davi Isaac, Rafaela Marçal, Natalia Borges Jennifer Teixeira, Marina Barcelos, Tamires Carrijo,

Talita Terra, Akemi Esaki, Antônio Pedro Molinari, Gabriela Suzuki, Mariana Gonçalves Pedro Henrique Máximo Pereira


Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel, Victรณria Lima Matheus Santana, Ana Karolaine, Isabela do Prado, Ana Mirella Larissa Marques, Le cia Mamedes, Maria Clara Hidalgo, Priscila Gon njo Cรกssia Moura,

Thayne Montenegro Danna Machado, Isabela Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Carvalho Alves, Angelina Menessis, Camila Gonรงalves, Gustavo Melo Ana Clara Chaves, Carolina Hildebrand, Isabela Moraes Fernanda Carrijo,

Mayana Pinheiro, Silvana Fagundes, Yasmin Debs Aline Urzedo, Bruno Marques, Monica Costa


possível extrair conclusões e problema zações sobre como as discussões da contemporaneidade nelas se materializam. As cidades lançadas foram: Barcelona, Paris, Nova Iorque, Moscou, Londres, San ago do Chile, Singapura, Dubai, Buenos Aires, Madri, Berlim, Curi ba, Belo Horizonte, Copenhague, Medellín, Cidade do México e São Paulo. Para a aplicação da Cronologia, foram estabelecidos alguns critérios: 1. O recorte inicial seria a par r da década de 1960, em razão do recorte de estudo estabelecido pela Ementa da disciplina; 2. Os aspectos a serem colocados na linha do tempo seriam: a) polí ca, economia e cultura; b) projetos urbanos; c) projetos de arquitetura. A finalidade desta a vidade seria a compreensão do movimento da história de cada cidade e como as condições polí cas, econômicas e culturais interferiram na produção urbana e arquitetônica. Além disso, a par r da Cronologia seria possível estabelecer um recorte espacial para a Análise Urbana, uma aproximação espacial ao fenômeno estabelecido como objeto de estudo. Escolhido o objeto em cada cidade os alunos par ram para uma análise da morfologia e da forma urbana, com base em um método escalar, da mancha urbana à quadra. Por sua vez a Revisão da Literatura foi feita a par r de indicações especializadas a cada cidade/objeto. Também foi disponibilizado aos alunos alguns textos de importantes autores sobre o urbanismo contemporâneo, como Urbanismo em Fim de Linha escrito por O lia Arantes (2014), Cidade Genérica escrito por Rem Koolhaas (1995), Esté cas Urbanas escrito por Sônia Hilf Schulz (2008), Lições de Urbanismo de Bernardo Secchi (2006) e Novas territorialidades e novos discursos sobre a dispersão e a concentração urbanas de Paulo Roberto Soares (2008). Após estes procedimentos, diversas discussões específicas no formato de orientações foram feitas grupo a grupo para aprimorar suas produções. Neste sen do, é com sa sfação que vos apresento a Estrutura do Volume #1 da revista A Cidade Contemporânea. Ao todo são 18 trabalhos. Estes foram distribuídos em 4 discussões principais: #Intervenções, #Glocalidades, #Turismos e #Urbanidades. No grupo que leva o tulo #Intervenções situam-se as cidades de Barcelona, Paris, Nova Irorque, Moscou, Londres e San ago do 02


Chile. Sobre Barcelona são discu das as estratégias de intervenções do 22@ para Barcelona no bairro Poblenou. Em Paris são problema zados os novos edi cios inseridos no tecido histórico da cidade às margens do Rio Sena. No que se refere a Nova Iorque, a paisagem da baixa Manha an foi discu da como um palimpsesto. A par r das intervenções do One World Trade Center são averiguados os resquícios das paisagens preexistentes. Quanto a Moscou o Parque Zaryadye é colocado em problema zação em conjunto com as intervenções no Centro Histórico da cidade. Em Londres é apresentada as contradições urbanas do Parque Olímpico das Olimpíadas de 2012 e, por fim, os campus da PUC do Chile é problema zado em paisagem urbana. As #Glocalidades referem-se a espaços que comportam duas escalas; a global e a local. Situados localmente, mas com esté cas globais, genéricas e normalmente financiadas pelo capital interacional, neste grupo encontram-se os trabalhos desenvolvidos sobre Singapura, Dubai, Buenos Aires, Madri e Berlim. As discussões sobre Singapura buscam apurar contradições existentes entre o discurso de sustentabilidade presente na paisagem da cidade e os constantes avanços rumo ao mar com aterros danosos, cujo exemplo refere-se à Marina Bay. No que se refere a Dubai as discussões levantadas mostram uma busca pelo arranha-céu mais alto do mundo, cuja esté ca revela um novo “estágio” da Generic City. Quanto a Buenos Aires, o Porto Madeiro está em foco, cuja problema zação percorre um profundo contraste da an ga zona portuária, hoje um centro financeiro com torres de vidro de escritórios, hotéis e empresas globais, com o tecido urbano preexistente da cidade. Sobre Madri as discussões construídas referem-se aos edi cios contemporâneos assinados por arquitetos do conhecido Star System. A inves gação percorre as paisagens dos “edi cios de grife”. Por fim, a cidade de Berlim é problema zada a par r da reurbanização da Potsdamer Platz, um novo centro empresarial e cultural da cidade. O grupo #Turismos refere-se a inves mentos urbanos e arquitetônicos de cidades importantes do circuito turís co a par r de discursos globalizantes. Três cidades entram nessa discussão: Curi ba, Belo Horizonte e Berlim. O caso de Curi ba foi deba do a 03


par r das discussões de eficiência e sustentabilidade materializados em seus parques urbanos e no transporte cole vo, midia zado desde a década de 1970. No caso da Região Metropolitana de Belo Horizonte é discu do o caso de Inho m, um parque temá co com relevantes projetos contemporâneos de arquitetura e paisagismo. Por fim, o caso de Berlim é novamente colocado a par r de intervenções que buscam rea var a memória dos judeus mortos durante a segunda guerra, como o Museu Judaico, projeto de Daniel Libeskind e o Memorial aos Judeus Mortos, projeto de Peter Eisenman. Por fim, o grupo #Urbanidades refere-se àqueles trabalhos que delimitam uma preocupação com a vida na cidade e a qualidade do espaço cole vo. Situam-se neste grupo quatro cidades: Copenhague, Medellín, Cidade do México e São Paulo. As discussões sobre Copenhague buscam averiguar o processo de pedestralização de vias no Centro Histórico, com recorte na rua Strøget. No caso da cidade de Medellín, a problema zação par u da construção da Biblioteca Espanha e seu impacto no tecido social em seus arredores. No que se refere à Cidade do México, as discussões circunscrevem-se a par r da Ponte de los Poetas e da diferenciação espacial presente nas duas margens. Por fim, a cidade de São Paulo é analisada a par r da urbanidade gerada pelos edi cios dos SESCs em seus arredores e dentro deles próprios. No mais, desejo a todos uma excelente leitura. Referências ARANTES, O lia Fiori. Urbanismo em fim de linha e outros estudos sobre o colapso da modernização arquitetônica. São Paulo: Edusp, 2014. KOOLHAAS, Rem. & MAU, Bruce. S, M, L, XL. Nova Iorque: The Monacelli Press, 1995. SCHULZ, Sonia Hilf. Esté cas Urbanas: da polis grega à metrópole contemporânea. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2008. SECCHI, Bernardo. Lições de Urbanismo. São Paulo: Ed. Perspec va, 2006. SOARES, Paulo Roberto. Novas territorialidades e novos discursos sobre a dispersão e a concentração urbanas. In: Heidrich, A; Pinós da Costa, B; Zeferino Pires, C; Ueda, V. (Org.). A Emergência da Mul territorialidade. 1ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008, v. 1, p. 163-176.


INTERVENÇÃO URBANA NO POBLENOU E AS ESTRATÉGIAS DO 22@ PARA BARCELONA Autores: 1.Bruna RIBEIRO (bruna.ribeiroor@hotmail.com) 2.Gabriela MACIEL (gabi.arq15@gmail.com) 3.Victória LIMA (victoria.dlo.21@gmail.com)

RESUMO Abordaremos os diferentes processos e estratégias u lizados pelo projeto 22@ na intervenção do bairro Poblenou, um an go distrito industrial. Relatamos como o plano estratégico e as Olimpíadas de 1992 influenciaram nessa intervenção e as consequências geradas em suas proximidades. Esse estudo se deu devido à grande importância das mudanças na imagem da cidade de Barcelona.

PALAVRAS-CHAVE Intervenção urbana; Poblenou; 22@.

ABSTRACT We will approach the different processes and strategies used by the 22@ project in the interven on of the Poblenou neighborhood, a former industrial district. We report how the strategic plan and the Olympics of 1992 influenced this interven on and the consequences generated around the neighborhood. This study was due to the great importance of the changes in the image of the city of Barcelona.

KEYWORDS Urban interven on; Poblenou; 22@.

Intervenção Urbana no Poblenou e as estratégias do 22@ para Barcelona

05


INTRODUÇÃO Através do presente ensaio crí co temos o obje vo de esclarecer como o planejamento estratégico para o bairro do Poblenou em meados das Olimpíadas transformaram principalmente as áreas industriais de Barcelona que estavam subu llizadas em regiões com novas dinâmicas urbanas. Esse estudo jus fica-se pelo fato de terem ocorrido grandes mudanças que impactaram a vizinhança do bairro e também a cidade como um todo. A proposta de intervenção urbana foi embasada em uma diversificação de usos, novas oportunidades do Poblenou na economia e a mobilidade simultaneamente com a tecnologia modificaram o an go desenho urbano (o plano de Cerdà) e a metrópole. Para a compreensão disso, foram analisados alguns pontos específicos que envolveram essa proposta feita pelo plano de transformação urbanís ca do 22@, como a intervenção em espaços públicos antes não valorizados e a diversificação de funcionalidades no Poblenou atraindo inves dores econômicos ao bairro.

JOGOS OLÍMPICOS E SUA INFLUÊNCIA NO POBLENOU Entre os anos de 1940 e 1970, Barcelona estava na polí ca da Espanha de Franco. Seu planejamento espacial estava, segundo Ernandy Luis Vasconcelos, (2015, p. 221) " baseado num contexto gestado pelos conflitos entre os grupos polí cos e classes sociais", o que causa a concentração de a vidades industriais na cidade. Isso aumentou o fluxo migratório e contribuiu para a expansão urbana de Barcelona. Quando a Espanha conseguiu a sua democracia, veio junto uma crise econômica. Essa crise abalou o poder público, que teve que analisar a sua situação e achar uma solução para crescer economicamente. A par r disso nasceu o Plano estratégico de Barcelona. Ele nha como obje vo subir o nível turís co e econômico da cidade, realizando grandes obras, remodelando o espaço, modificando a imagem da cidade, visando uma melhor fluidez do capital, para se comparar ao cenário internacional. Em 1986, Barcelona foi aceita para sediar as Olimpíadas de 1992,

06

Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel e Victória Lima


e isso impulsionou os projetos estratégicos. Segundo Monclús (2010b, p. 269) citado por Ernandy Luis Vasconcelos (2015, p.222) “a opinião que aparenta ser amplamente difundida é a que indica que o verdadeiro sucesso dos Jogos Olímpicos de Barcelona foi consequência da transformação vivida pela cidade, por meio de uma série de ações que, normalmente, tomam décadas e duraram apenas 6 anos”. Essas transformações se deram no contexto urbanís co da cidade, ou seja, recuperação das praças, das ruas, dos espaços públicos em geral. Isso se deu devido ao abandono e a degradação das áreas industriais e portuárias. Somente 30% do dinheiro foram usados nas instalações relacionadas às Olimpíadas e 70% usados para a melhoria da cidade. A estrutura do projeto da Barcelona como sede dos jogos olímpicos de 1992 é apresentado a seguir. - a cidade e sua área metropolitana - as quatro áreas olímpicas em Barcelona - a recuperação da frente marí ma da cidade: 5 km de praias e Porto Olímpico - acessos com a construção de um anel rodoviário e comunicações - transformações do aeroporto - inves mento na área das telecomunicações visando o futuro - plano de construções de Hotéis: 5.000 novos quartos - Novas instalações espor vas: Estádio, três Arenas, Piscina, Complexo Tênis - Equipamentos culturais: criação de museus, teatro, auditório. (TRUÑO, 2008, p. 167)

Todo esse inves mento, que em teoria, deveria trazer mais bene cios para a população da cidade, mostrou-se trazer mais bene cios aos turistas. Segundo Ernandy Luis Vasconcelos, (2015, p.232) "Houve um encarecimento de 240% nos preços dos imóveis entre 1986 e 1992. A essa situação deve-se agregar o con ngente populacional 'desalojado' e/ou 'desapropriado' que fora obrigado a instalar-se em áreas periféricas onde os preços do solo e da moradia eram mais acessíveis." Entre todos esses o que mais se destacou foram as quatro áreas olímpicas. Oriol Bohigas, que era o responsável por essas

Intervenção Urbana no Poblenou e as estratégias do 22@ para Barcelona

07


intervenções, locou essas áreas nos quatro cantos da cidade, conectados por quase 50 quilômetros de novas vias, para que o centro não sofresse com o trânsito durante as Olimpíadas e nem após. Das quatro áreas, a Ronda de Dalt e a Vila Olímpica são as mais importantes. A Ronda, devido ao obje vo alcançado de possibilitar o fluxo da cidade. Já a Vila Olímpica teve uma grande influência nas intervenções urbanas. Foi ela que abriu as portas do mar para a cidade, possibilitando redefinir a orla marí ma, criando um porto que hoje é considerado um dos principais centros turís cos e de lazer da cidade. “...não só as praias apareceram, o porto olímpico se cons tuiu como centro espor vo e lazer reunindo milhares de pessoas todos os dias: ancoradouros paras as embarcações, um centro de vela administrado pela Federação Catalã de Vela, shoppings, bares e restaurantes e sobretudo uma nova área turís ca como propaganda dessa nova cidade.” (IGLESIAS, p. 2, s/d)

A Vila Olímpica foi construída para alojar os atletas das Olimpíadas, são quase 2000 apartamentos. Ela nasceu em uma an ga área industrial, onde demoliram edi cios de fábricas

[f.1]

abandonadas para criar os espaços públicos. Isso possibilitou uma reestruturação do tecido urbano nessa região, recuperando o traçado de Cerdá. Essa área está situada ao lado do Poblenou e foi o que incen vou os projetos de reconstrução da faixa litorânea do Distrito de Sant Mar . Após as olimpíadas a Vila foi conver da em um bairro residencial, onde o número de demanda era maior que o de oferta. “As transformações urbanas devidas aos Jogos Olímpicos produziram um novo mapa do solo urbano na cidade ...e aparecem valores de renda urbana média e alta em áreas que até o momento nham valores de solo baixo.” (PAIVA, 2013, p. 221) Foi a par r do sucesso da Vila em reconstruir algo a par r de uma área industrial e degradada, que foram traçadas estratégias para LEGENDAS: [f.1] Relação do contraste entre as construções históricas e atuais presentes em áreas de Barcelona que foram revitalizadas. [f.2] Localização nos quatro cantos da cidade das áreas de inuência das Olimpíadas e suas relações com as vias. FONTE: Vitruvius.

08

a renovação urbana em outra área, extremamente funcional, com o obje vo da valorização cultural, urbana, social e econômica. Essa região que recebeu uma atenção especial foi o bairro Poblenou que se trata de um distrito com uma paisagem predominantemente industrial e de uso misto, já que a região foi usada para gerar empregos, principalmente na área têx l no

[f.2]

Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel e Victória Lima


século XVIII e XIX possuindo muitas unidades fabris, e consequentemente também se tornou habitado pelos trabalhadores dessas fábricas. Esse projeto para a intervenção no bairro foi idealizado pelo plano urbanís co que se in tulou 22@, traçando estratégias e acordos entre o poder público e a inicia va privada para que a possibilidade de concre zação dessa intervenção aumentasse, cujo assunto será desenvolvido mais a frente. Desse modo, houve uma valorização dos seguintes setores, através de uma Modificação do Plano Geral Metropolitano (MPGM), criado pelo governo: ·

Tecnológico e digital;

·

Áreas do conhecimento (principalmente através dos universitários e suas ins tuições);

·

Incen vo econômico (principalmente através do turismo).

A área que teve maior inves mento foi a da economia, uma vez que em 1980 começaram a valorizar a internacionalização da cidade. Juntamente com essa internacionalização, as Olimpíadas e a inicia va do 22@, surgem estratégias governamentais além do MPGM, como o Plano Especial de Infraestruturas (PEI), que valorizou principalmente a mobilidade, acreditando no transporte público como uma boa resposta para a evolução da cidade. Outra saída que o poder público encontrou foi a Modificação do Plano Especial do Patrimônio Arquitetônico Histórico- Ar s co da cidade de Barcelona, onde promoveram a reu lização do patrimônio histórico na tenta va de recolocá-lo dentro do meio urbano com um uso diferente e uma nova caracterização do edi cio, compondo assim uma cidade contrastante onde a herança histórica está presente, mas repaginada com uma caracterís ca cultural atual.

O PROJETO 22@ COMO NOVA PROPOSTA DE URBANISMO O 22@ foi um projeto de desenvolvimento idealizado principalmente pela prefeitura de Barcelona que teve como obje vo a revitalização da área degradada ocupada pelo an go distrito industrial 22A localizado no bairro Poblenou. Procurava não só transformá-lo em um centro econômico novamente, mas

Intervenção Urbana no Poblenou e as estratégias do 22@ para Barcelona

09


aliando-se a novas ideias e principalmente tecnologias. Houve uma certa discordância, pois enquanto as ins tuições locais se interessavam na reu lização dos prédios das an gas fábricas, algumas empresas internacionais apostavam em uma sede moderna e com instalações arrojadas. Isso acabou originando em um contraste bastante visível e considerado por alguns, interessante ao bairro. A ideia era propor um novo modo de olhar e viver a cidade através do uso misto no bairro, o que eleva a qualidade urbana e excede a baixa densidade populacional que normalmente ocorre em áreas industriais tradicionais, criando assim um espaço denso e variado. Procuram denominar a cidade como um laboratório urbano, em que as empresas possam realizar uma espécie de projetos testes tanto no urbanismo, educação, mobilidade entre outros, em um espaço real e que se obter sucesso, podem vir a ser comercializados em grande escala. O tempo es mado para o desenvolvimento do projeto era entre 15 a 20 anos e apostam em um modelo compacto capaz de trazer equilíbrio, força econômica e sustentabilidade a Barcelona. Desde que o projeto foi elaborado e aprovado, o Poblenou tem passado por algumas

[f.4]

[f.3]

LEGENDAS: [f.3]Vila Olímpica [f.4]Praia na orla de inuência do Poblenou cujo muro impedia uso. [f.5] Praia da imagem anteriormente citada após intervenções. FONTE: OkApartment.

10

[f.5]

Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel e Victória Lima


[f.6] LEGENDAS: [f6] Vista áerea do bairro Poblenou, Barcelona. FONTE: OiRealtor.

mudanças, elementos como a arte urbana podem ser facilmente iden ficados ao longo dos edi cios industriais que hoje possuem novos usos. No entanto, esse processo de revitalização segundo pesquisadores da Mackenzie (2007), encontra-se ainda com foco em locais específicos de forte inves mento como as Ramblas, enquanto o seu entorno ainda é marcado por uma grande parte de áreas ainda degradadas, o que provoca a dúvida, se na prá ca, essas intervenções seriam apenas pontuais ou avançariam para essas outras localidades do bairro. De acordo com representantes do poder público foi previsto a par cipação da comunidade local nas decisões do projeto, no entanto segundo eles, existe uma resistência por parte da população que em sua maioria mostra-se descontente com a altura excessiva de alguns prédios e a desfiguração da paisagem

Intervenção Urbana no Poblenou e as estratégias do 22@ para Barcelona

11


elaborado e aprovado, o Poblenou tem passado por algumas mudanças, elementos como a arte urbana podem ser facilmente iden ficados ao longo dos edi cios industriais que hoje possuem novos usos. No entanto, esse processo de revitalização segundo pesquisadores da Mackenzie (2007), encontra-se ainda com foco em locais específicos de forte inves mento como as Ramblas, enquanto o seu entorno ainda é marcado por uma grande parte de áreas ainda degradadas, o que provoca a dúvida, se na prá ca, essas intervenções seriam apenas pontuais ou avançariam para essas outras localidades do bairro. De acordo com representantes do poder público foi previsto a par cipação da comunidade local nas decisões do projeto, no entanto segundo eles, existe uma resistência por parte da população que em sua maioria mostra-se descontente com a altura excessiva de alguns prédios e a desfiguração da paisagem urbana local com a ocupação do interior das quadras, que no plano de Cerdà eram direcionados a usos semiprivados e áreas verdes. Porém, de acordo com a jornalista Carolina Derivi (2011), através de uma reportagem feita com moradores do bairro e alguns par cipantes da fundação Barcelona Media, eles reconhecem que o projeto após ser aprovado pela prefeitura, ''fechou as portas'' para a par cipação da população. Conforme a seguinte citação do professor Paulo Silva (2009, p.11): ''A par r do momento que se começam a efe var as mudanças no bairro com a chegada dos primeiros lo s em fábricas abandonadas e a instalação de indústrias de comunicação e informação, o bairro vive um 'boom' imobiliário com os preços sempre crescentes, mesmo com a crise que se anunciava no mundo.''

É possível observar que o Poblenou sofreu uma remodelação urbana e ainda recebeu um novo centro comercial. Isso resultou em uma alteração da economia do bairro e elevou o preço do m², consequentemente aumentando as taxas de impostos e levando muitos dos an gos moradores a saírem do bairro em busca de LEGENDAS: [f.7] Área degradada no bairro. FONTE: Zupi.co

12

locais compa veis a suas rendas. [f.7]

Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel e Victória Lima


CONCLUSÃO Esse estudo nos possibilitou ver a mudança que Barcelona sofreu em tão pouco tempo devido aos grandes inves mentos e estratégias que surgiram através do inves mento público e da inicia va privada. O Poblenou era uma região subu lizada em sua maior parte, principalmente devido as grandes indústrias que se encontravam ali e não possuíam nenhuma u lidade. Alguns métodos foram tomados para que essa mudança ocorresse acarretando em algumas consequências como a perda de algumas indústrias importantes para a revitalização da região, o aumento do preço do metro quadrado, o interesse em internacionalizar a cidade (através das Olimpíadas) bem como modificações em seus planos governamentais como o MPGM e o Plano Especial do Patrimônio Arquitetônico Histórico- Ar s co. Todas essas decisões acarretaram para que de fato Barcelona se comercializasse e chegasse a um cenário internacional, onde muita das vezes perdeu as suas próprias caracterís cas e/ou cultura para se adequar a economia e turismo estrangeiros, mostrando assim que a cidade de certo modo passou a ser vendida em troca de uma exposição.

REFERÊNCIAS IGLESIAS, Xavier. O CENÁRIO PÓS-JOGOS OLÍMPICOS DE BARCELONA'92, s/d. Disponível em: < www.gr.unicamp.br/ceav/revista/content/pdf/Escenario_post_ Barcelona92_Iglesias_traduzido.pdf> Acesso em: 08 de novembro 2018. PAIVA, Ellayne, 2013, A cidade para o cidadão: O legado urbano das Olimpíadas TRUÑO, Enric, Legados de Megaeventos Espor vos: Estruturação de Megaeventos e Regeneração Urbana: Barcelona 1992 e Torino 2006; Brasília, 2008 VASCONCELOS, Ernandy Luis, Nas tramas e falácias do planejamento urbano Estratégico: Marke ng Urbano, Modelo Barcelona e Megaeventos, Goiânia, 2015. novembro. 2018. PAIVA, Ellayne. A CIDADE PARA O CIDADÃO: O LEGADO U R B A N O D A S O L I M P Í A D A S , 2 0 1 3 . D i s p o n í ve l e m :

Intervenção Urbana no Poblenou e as estratégias do 22@ para Barcelona

13


<repositorio.unb.br/bitstream/10482/15718/1/2013_EllayneKelly GamadePaiva.pdf>. Acesso em 08 de novembro. TRUÑO, Enric. LEGADOS DE MEGAEVENTOS ESPORTIVOS: ESTRUTURAÇÃO DE MEGAEVENTOS E REGENERAÇÃO URBANA: B A R C E L O N A 1992 E T O R I N O 2006. Disponível em: < h p://www.esporte.gov.br/arquivos/ascom/publicacoes/Legados %20de%20Megaeventos%20Espor vos_Portugus_e_Ingls.pdf>. Acesso em: 12 de novembro. 2018. VASCONCELOS, Ernandy Luis. NAS TRAMAS E FALÁCIAS DO P L A N E JA M E N TO U R B A N O E S T R AT É G I C O: M A R K E T I N G URBANO, MODELO BARCELONA E MEGAEVENTOS, 2015. D i s p o n í v e l

e m :

<

www.revistas.ufg.br/bgg/ar cle/view/37428/18979> Acesso em: 12 de novembro. 2018. DINIZ, Claúdia. 22@BCN E BEIRUTE: AS TRANSFORMAÇÕES NA PA I S A G E M U R B A N A , 2014. Disponível em: < h p://www.forumpatrimonio.com.br/paisagem2014/ar gos/pdf/ 271.pdf>. Acesso em: 09 de novembro. 2018. SILVA, Paulo. POBLENOU : TERRITÓRIO @ DE BARCELONA Projeto 22 @ -BCN – Estudo e considerações, 2009. Disponível em: <h p://www.academia.edu/24332553/POBLENOU_TERRIT%C3 %93RIO_at_DE_BARCELONA_Projeto_22_at_BCN_Estudo_e_considera%C3%A7%C3%B5es>. Acesso em: 06 de novembro. 2018.

14

Bruna Ribeiro, Gabriela Maciel e Victória Lima


INTERVENÇÕES NO TECIDO HISTÓRICO DE PARIS ÁS MARGENS DO RIO SENA Autores: 1.Ana KAROLAINE (anakosc09@gmail.com) 2.Ana MIRELLE (anamirellearq@gmail.com) 3.Isabela PRADO (isabelapradomota@hotmail.com) 4.Matheus SANTANA (matheusarqurban@gmail.com)

RESUMO A atuação do contemporâneo em cidades de caráter histórico, cultural,e clássico modificaram a relação do edi cio com o entorno. Nas úl mas décadas, a inserção de projetos arquitetônicos contemporâneos com a influencia internacional, como forma de (re)urbanização e relacionamento do habitante com a obra edificada foi muito u lizada. Baseado nesse contexto, destacamse os edi cios culturais pragmá cos que se edificaram as margens do Rio Sena em Paris, na França. A forma do edi cio no contexto arquitetônico-urbano contemporâneo em Paris, é causado pela atuação de projetos monumentais de arquitetos reconhecidos internacionalmente. A par r das análises desses projetos em relação ao seu entorno, o ar go pretende expor a atuação dos edi cios pós - modernistas e contemporâneos inseridos no tecido da cidade de Paris.

PALAVRAS-CHAVE A rquitetônico-urbano; intervenções arquitetônicas; tecido urbano;

ABSTRACT The performance of the contemporary in ci es of historical, cultural, and classic character modified the rela on of the building to the surroundings. In the last decades, the inser on of contemporary architectural projects with interna onal influence, as a form of redevelopment and rela onship of the inhabitant with the built work was widely used. Based on this context, the pragma c cultural buildings that stood on the banks of the River Seine in Paris, France, stand out. The shape of the building in the contemporary architectural-urban context in Paris, is caused by the performance of monumental projects of interna onally recognized architects. From the analysis of these projects in rela on to their surroundings, the ar cle intends to expose the performance of postmodern and contemporary buildings inserted in the fabric of the city of Paris.

KEYWORDS Architectural-urban; architectural interven ons; urban fabric;


INTRODUÇÃO O obje vo desse estudo é apresentar o efeito que a arquitetura pós-modernas e contemporânea cria no tecido urbano parisiense. O recorte no mapa de Paris é ob do tendo por base as margens do Rio Sena. Abordamos o uso público dos projetos arquitetônicos, e o impacto que eles causaram na população e na paisagem urbana. Através desse conjunto de relações busca-se ques onar o conceito e a proliferação que a arquitetura dos anos 60 a 90 e o início das décadas do século XX, permaneceu em Paris, através dos concursos internacionais, e a inserção da arquitetura global em um tecido rasgado, caracterís co, com uma cultura clássica e com skyline plano.

A INFLUÊNCIA DOS PROJETOS PÓS-MODERNOS E CONTEMPORÂNEOS NO RIO SENA A evolução histórica arquitetônica e urbanís ca de Paris está condicionada pelo rio que corta a cidade. É sabido que o Sena é parte integrante da paisagem urbana, criando lugares emblemácos e marcantes na cidade, caracterizando o roman smo de Paris como um fio condutor de edi cios históricos, modernos e contemporâneos, unindo arquitetura ao tecido natural que o rio traz para o território que trazem um significado a essa paisagem. As margens do Rio Sena é ponto estratégico da arquitetura em Paris e chama a atenção para este estudo, pois, conta com as mais diferentes inserções, forma, uso e ocupação do lugar criando esse contexto onde o rio é a rede que liga arquitetura global e local de seus determinados períodos. LEGENDAS: [1] Museu do Quay Branly [2] Pirâmide do Louvre [3] Centro George Pompidou [4] Instituto do Mundo Árabe [5] Ópera de Bastille [6] The Docks - A cidade da moda e do desing [8] Cinemateca Francesa [9] Biblioteca Nacional da França

1

A POLÍTICA DOS CONCURSO DE ARQUITETURA EM UM TECIDO URBANO ESTRIADO E CLÁSSICO A arquitetura pública é associada a evolução das cidades que elas estão locadas. Por todo o mundo, a criação desses projetos impulsiona o turismo cultural e fomenta as industrias do lazer. Numa época pós-modernista tomada pelo consumismo e a cultura de imagens, o par do arquitetônico de um museu ou de um projeto de caráter público que vem a ser explorada aliando a paisagem urbana da cidade. Como iden fica Rosas: “es mulantes passeios arquitetônicos, cujo início se produz no próprio tecido urbano da cidade em que se insere o objeto arquitetônico-museu, [...] procuram acima de tudo a contemplação e experimentação da própria arquitetura” (2003, Museos de arte contemporáneo y ciudad: los límites del objeto arquitectónico p.116).

16

Ana Karoline, Ana Mirelle, Isabela do Prado, Matheus Santana

Mu Qu Bra


useu do uai anly

Pirâmide do Louvre

2

3 5 4 6

LEGENDAS: [f.1] Para guras, que incluem grácos, fotograas, imagens, croquis, mapas, diagramas e etc.

8

[t.1] Para tabelas

7

17

Biblioteca Nacional da França


Entre 1969 e 1974 George Pompidou presidiu a França e idealizou o concurso para o projeto do Centro George Pompidou. A construção de uma das maiores obras contemporâneas de Paris que abriga o Museu Nacional de Arte Moderna que recebe milhões de visitantes anualmente a faz juz ao tulo de maior museu europeu do po. Projetado por Richard Rogers e Renzo Piano, obteve grandes influências de trabalho como Archigram e de Cedric Price, e foi mo vo de impacto para toda população parisiense, devido a sua relação com o entorno harmonioso da cidade. Dessa forma, ao analisar a relação do edi cio com o tecido urbano do entorno, Rosas indaga: “Como é a contextualização das formas iconográficas dos edi cios atuais com a cidade e seu interior? Rosas (2003, p.116) relata que: A dimensão simbólico-cultural de que se reveste o museu na atualidade influiu diretamente na sua forma e na imagem arquitetônica externa como objeto de arte urbana. Os novos museus [...] são edi cios reabilitados ou de nova planta para ser vistos' [...]. Mas são, antes de mais, monumentos ao pres gio dos poderes públicos que apoiam a criação contemporânea como símbolo de uma polí ca cultural que opta decididamente pela modernidade e que assim constrói as suas catedrais”. LEGENDAS: [1] Centro George Pompidou [2] Biblioteca Nacional da França Fonte: PIXBAY.COM

A criação do Centro George Pompidou, que procura estabelecer em seu projeto a mul disciplinariedade, além de espaço de exposição e aberturas que permitem uma circulação livre para o meio externo. De acordo com Geise Brizo , Mestre, pela Universidade Estadual de Campinas em seu ar go Museus, cidades, cultura: o Centro Pompidou, o Macba e o Guggenheim aplica Choay (1994), afirma que, “decorre de sua imagem apela va o sucesso midiá co do Centro Pompidou, fácil de memorizar e difundir, centrada no simbolismo mecânico que aparentemente se converteu ao olhar público representando a modernidade técnica.” Paris recebeu inúmeros concursos internacionais como planos de seus governantes afim de dinamizar a cultura, e potencializar a cultura local. Assim como o Centro Cultural George Pompidou, outros projetos vieram a ser resultados de concursos arquitetônicos, recebendo a influência de vários arquitetos.

18

Nome do estudante Ana Karoline, Ana Mirelle, Isabela do Prado, Matheus Santana


Na década de 80, vigorando na presidencia François Mi errand, que liderou a concessão de projetos como Biblioteca Nacional da França juntamente com a Opéra de Bas lle e as Pirâmides do Louvre, o Parc de la Ville e e o Ins tuto do Mundo Árabe obje vavam criar um novo conjunto de monumentos modernos para uma cidade definida por sua arquitetura. Enfa zando a importância da arquitetura pública no espaço urbano, a Biblioteca Nacional da França promove em seu projeto o jogo entre volumes e espaço vazios, o fechamento e a exposição tendo por base a ideia de contraste com o entorno, e ao mesmo tempo respeitando seu par do arquitetônico em relação ao local que está inserida. A biblioteca segue o sen do de monumentalidade e iconicidade v i s u a l , a s s i m c o m o o u t ra s o b ra s p ó s - m o d e r n a s e contemporâneas. Aço, madeira e vidro são usados como subs tutos de estruturas clássicas, esculturas em pedra e expressões ornamentais de riqueza e poder. O par do arquitetônico cria um espaço ao seu redor, isolando o gabarito da paisagem urbana, e mantendo uma relação com o Rio Sena, através do espaço público. Pode haver uma relação entre a Biblioteca Nacional da França e o Centro George Pompidou, ambos criados de concursos de arquitetura, porém com par dos arquitetônicos diferentes, mas que se isolam da paisagem urbana de Paris, e quebram a harmonização das quadras em um tecido urbano estriado. Os dois projetos de arquitetura, provocam um contraste urbana de Paris. O Centro George Pompidou respeita a sua altura em relação aos edi cios ao redor, porém a Biblioteca Nacional, criase em seu meio um vazio e destaca suas torres de forma individual. Enquanto os edi cios do museu e da biblioteca se comportam como um arquitetura pós moderna que se divergem da paisagem urbana de Paris, o Ins tuto do Mundo Árabe e a atual Cinemateca Francesa, contrapõem aos edi cios citados anteriormente, por trazer seus projetos ao tecido consolidado e homogêneo da cidade de Paris, imergindo na paisagem sem se diferir dela. Segundo observado em visão aérea pelo Google Earth, o Ins tuto do Mundo Árabe de Jean Nouvel e o edi cio que hoje cedia a Cinemateca francesa, an go American Center de Frank Ghery, se assemelham ao instalarem no tecido urbano as margens do rio Sena. Isso devido aos materiais u lizados e também a disposição de fachadas, além do respeito ao gabarito do entorno e a implantação dos mesmos nas quadras.

As Intervenções arquitetônicas no tecido histórico de Paris, as margens do Rio Sena

LEGENDAS: [3] Pirâmide do Louvre [4] Instituto do Mundo Árabe Fonte: PIXBAY.COM

19


O IMA (Ins tuto do Mundo Árabe), situado a margem direita do Sena, fica em frente ao templo do cinema, do outro lado do rio. A proposta de Nouvel para o Ins tuto era gerar duas barras em resposta ao sen do predominante do lugar onde a primeira, que é curva, se adapta à forma da Avenida do Sena, e as outras faces retangulares uma praça de acesso na fachada sul do edi cio. Entre esses dois, o arquiteto propôs um pá o, como referência à arquitetura árabe. Nouvel fundiu a arquitetura contemporânea com a cultura islâmica, respeitando a paisagem do contexto urbano criando linhas sóbrias trabalhadas em aço e vidro que refletem a paisagem costeira. O projeto é resultado de mais um concurso promovido pelo presidente François Mi errand, o IMA reforça a cultura islâmica, o American Center que hoje é a Cinemateca Francesa, foi um edi cio para reforçar os laços entre franceses e americanos. O prédio projetado por Ghery cria pá os que transformam a passagem pública em privado entre uma surpresa e outra no espaço. A versão de Gehry, com sacadas de três andares cercadas por claraboias e o átrio serve como o passado centro social daquele edi cio. Um corredor conduz fora do lobby para um café e um bloco de canto contendo 26 apartamentos, projetado para ar stas visitantes. Uma escada sobe para uma varanda esculpida, de forma livre, que será usada para recepções. De lá, os visitantes seguem para teatros e galerias, incluindo um cinema, dois espaços experimentais de "caixa preta" e uma caixa de jóias de um teatro que acomoda 400 pessoas em um ambiente laranja e azul suntuoso. Ambos os edi cios são exemplos de como a modernidade pode surgir a par r do tecido urbano de Paris as margens do Rio Sena. Eles se inserem em um tecido homogêneo e consolidado trazendo para a paisagem novos edi cios com caracterís cas da arquitetura global contemporânea sem fragmentar o mesmo. Diferente das obras mencionadas anteriormente as Pirâmides do Louvre e a Ópera de Bas lle tem o comportamento de arquitetura pós moderna, são edi cios heterogêneos que se difere do tecido urbano de Paris, foram criados para impactar o local onde foram implantados. Na década de 1980 o arquiteto chinês Ieogh Ming Pei foi contratado para realizar a reforma do Grande Louvre a mando de François Mi errand, quis revolucionar Paris, e trazer bene cios a ela, e várias obras públicas para a cidade. Entretanto a pirâmide virou um símbolo emblemá co do Louvre, amada por uns e odiada por outros, mas de fato ganhando uma nova dimensão, virando referência nacional e internacional.

20

Ana Karoline, Ana Mirelle, Isabela do Prado, Matheus Santana


Cour Napoleon foi renovado, com sua renovação o principal pá o do Louvre teve como obje vo diminuir a lotação devido ao número excessivo de visitantes diariamente, criando um nova entrada triunfal. "Formalmente, é o mais compa vel com a arquitetura do Louvre (...), é também uma das formas estruturalmente mais estáveis, garan ndo sua transparência, uma vez que é construída de vidro e aço, significando uma ruptura com tradições arquitetônicas do passado. É um trabalho do nosso tempo." I.M. Pei Em seu mesmo mandato, François Mi errand incen vou a construção da Ópera de Bas lle, no qual idealizou que fosse um casa de opera moderna e popular, foi então Carlos O o vencedor do concorrido concurso. A Ópera foi construída onde antes era a estação Paris Bas lle. Tendo sua inauguração 13 de julho de 1989 por ocasião do Bicentenário da Revolução Francesa. Essas duas construções tem grande importância para Paris, são edi cios ousados que vieram para mudar o local onde eles foram implantados, e que mudasse a cara do local, a pirâmide do Louvre foi pensada para quebrar o es lo clássico que o museu do Louvre tem, trazer uma leveza e delicadeza. Da mesma forma e com o Ópera de bas lhe, o projeto nasceu por necessidade que Paris nha de mais uma Ópera, a obra foi implantada na praça de bas lhe onde carrega uma grande importância para Paris, e essas duas obras receberam altas crí cas, mas foram aprovadas pelo prefeito François Mi errand, e foram escolhidas próximas ao rio sena onde o mesmo tem grande importância para a cidade, criando uma ligação entre esses edi cios pós modernos e contemporâneos, fundindo ainda mais a relação arquitetônica com as margens do rio Sena. Con nuando as margens do Rio Sena, o concurso que previa a revitalização do Les Docks foi lançado em 2005 e os vencedores foram Dominique Jakob e Brendan Mac Farlane. O que chamou atenção para o projeto deles foi a escolha pela preservação da estrutura existente (por não ser algo obrigatório no concurso), an go porto de Paris que foi construído no ano de 1907 em concreto armado, possuindo três pavimentos. Les Docks é a definição do novo no velho. Além de o gabarito ser man do, a estrutura desenvolvida pelos arquitetos para cobrir o esqueleto de concreto (conhecida como plug-over), foi inspirado no movimento e reflexos d'agua no rio Sena. Além disso, ela permite que o edi cio avance sobre as margens do rio Sena, permi ndo uma maior interação com o rio.

21


DO

MUSEU PIRA MIDE

DO cen tro

LOU VRE

QUAY

pompidou

george 22

Ana Karoline, Ana Mirelle, Isabela do Prado, Matheus Santana


INSTITUTO

opera de bastille DO MUNDO

ÁRABE

THE DOCKS

CIDADE DA MODA E DO DESING

CINEMATECA

FRAN CE SA

BIBLIOTECA

NACI ONAL

23


CONCLUSÃO No decorrer deste texto, discu u-se sobre a influência da arquitetura pós-moderna e contemporânea no tecido urbano em Paris, a influência da polí ca para o estabelecimento desses projetos ao longo do Rio Sena como fonte de desenvolvimento da cidade de Paris, e como esses edi cios se comportam em meio à uma paisagem urbana já estruturada por uma cultura clássica e respeitada pelo entorno. Foi possível perceber que muitos desses edi cios mantêm uma relação de equilíbrio com o entorno urbano, com o gabarito da cidade e até com a altura em seu sky line. Além disso, são percep veis a diferença e a liberdade dos projetos de arquitetura sendo influenciado pelo contexto histórico da cidade. Portanto, Paris, atualmente é uma cidade que se estabelece com uma mul arquitetura entre os seus prédios clássicos, deixando se levar pelo contemporâneo e esquecendo muitas vezes de certos conceitos a serem respeitados.

REFERÊNCIAS DA SILVA PEDRO, Lúcia Isabel et al. Arquitetura e espaço público do turismo e do lazer: : Discursos turís cos da cidade de Paris. 2015. Disponível em: <h ps://repositorioaberto.up.pt/handle/10216/80808>. Acesso em: 16 jun. 2018. SOUZA, Eduardo. Clássicos da Arquitetura : Pirâmides do Louvre / I . M . P e i . 2 0 1 4 . D i s p o n í v e l e m : <h ps://www.archdaily.com.br/br/01-169587/classicos-daarquitetura-piramides-do-louvre-slash-im-pei>. Acesso em: 14 jun. 2018. PASQUOTTO, Geise Brizo . MUSEUS, CIDADES, CULTURA : O CENTRO POMPIDOU, O MACBA E O GUGGENHEIM. 2011. D i s p o n í v e l e m : <h p://www.redalyc.org/html/3517/351732308005/>. Acesso em: 08 jun. 2018. GOMES, Renato Cordeiro. A CIDADE COMO ARENA DA MULTICULTURALIDADE . 2014. Disponível em: <h p://www.ecompos.org.br/e-compos/ar cle/viewFile/6/7>. Acesso em: 08 jun. 2018. LANGDON, David. Clássicos da Arquitetura : Biblioteca Nacional d a F r a n ç a . 2 0 1 6 . D i s p o n í v e l e m : <h ps://www.archdaily.com.br/br/794189/classicos-daarquitetura-biblioteca-nacional-da-franca-dominique-perraultarchitecture>. Acesso em: 08 jun. 2018. BITTENCOURT, Doris Maria M. de. NOVOS MUSEUS, DA CULTURA DO RECOLHIMENTO À CULTURA DO EFÊMERO . 1994. D i s p o n í v e l e m : <h p://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/iberoameric ana/ar cle/viewFile/29003/16089>. Acesso em: 01 jun. 2018.

24

Ana Karoline, Ana Mirelle, Isabela do Prado, Matheus Santana


BAIXA MANHATTAN COMO PALIMPSESTO: PAISAGEM, PODER E MEMÓRIA. Autores: 1.Larissa Aurea MARQUES (larissa.arqurb05@gmail.com) 2.Le cia MAMEDES (mra.le cia.era@gmail.com) 3.Maria Clara HIDALGO (mariaclarahidalgofer@gmail.com) 4.Priscilla GONTIJO (gon jopac@gmail.com)

RESUMO Um breve histórico dos fatos oficiais, análise da paisagem, projetos arquitetônicos e urbano, poder da memória, centro econômico sobre o complexo 11 de setembro, são as primeiras considerações deste ar go. Assim como no an go Egito o pergaminho era raspado para dar lugar a uma nova mensagem, técnica denominada palimpsesto, buscamos essa referência como base das abordagens. PALAVRAS-CHAVE Palimpsesto; 11 de setembro; Memória. ABSTRACT A brief history of the official facts, landscape analysis, architectural and urban designs, memory power, economic center on the complex September 11, are the first considera ons of this ar cle. Just as in ancient Egypt the parchment was scraped to give way to a new message, a technique called palimpsest, we sought this reference as the basis of the approaches. KEYWORDS Palimpsest; September 11th; Memory.


INTRODUÇÃO Neste trabalho, fizemos uma análise urbana e arquitetônica do Complexo de 11 de setembro, que é composto pelos edi cios One World Trade Center, Museu e Memorial Nacional 11 de setembro, localizados em Nova York, na região baixa do distrito de Manha an, considerado como um importante centro financeiro. O complexo de 11 de setembro tem um significado mundial dada a sua relevância arquitetônica, o empoderamento das empresas ali instaladas e a magnitude histórica, símbolo do capitalismo pós segundo guerra. A tenta va de destruir a força econômica dos Estados Unidos da América reforçou o sen mento nacionalista e patrió co em relação ao poderio americano. Neste sen do, o projeto arquitetônico reafirma a superioridade da nação e do capitalismo, de modo que este complexo perpetua o status da polí ca americana e mundial (globalização) extrapolando o espaço nova-iorquino.

O PALIMPSESTO DE UMA MEMÓRIA

LEGENDAS: [foto.1] Skyline de Manhattan com as Torres Gêmeas; [foto. 2] Fumaças e cinzas consumindo Manhattan após o ataque terrorista.

11 de setembro de 2001. Dois aviões colidem contra um grande símbolo financeiro americano: as torres que compunham o World Trade Center em Nova York. Esse atentado afetou o poderio do governo americano e a segurança nacional, além de ter matado milhares de civis e alguns militares. O evento foi amplamente divulgado pelas mídias, ficando presente na memória de muitas pessoas em todo o mundo até os dias de hoje. Após o momento em que as torres foram destruídas, a paisagem da Baixa Manha an sofreu mudanças significa vas. A ro na das pessoas e suas memórias acabaram danificadas por um sen mento de muita dor e insegurança. Conforme o testemunho de Puig Prado: “Após uma semana, a Lower Manha an ainda nha um aspecto de cidade abandonada. As portas dos estabelecimentos estavam fechadas, sem vida, ruas vazias, como se o tempo vesse parado naquela área da cidade. O tradicional tráfego intenso e agitado local desta vez era escasso, as sirenes, um dos ruídos de fundo da vida da cidade, pareciam muito mais altas e mais ameaçadoras do que nunca. A cidade parecia si ada pelo ar pesado da desconfiança e da dor. [...] O sen mento de perda era latente, parecia que se havia perdido algo ou alguém que nem mesmo se conhecia.” (2013, p.20)

A destruição dos edi cios

26

rou vidas, empregos e

Larissa Aurea MARQUES; Letícia MAMEDES; Maria Clara HIDALGO e Priscilla GONTIJO.


FOTO 01

FOTO 02

Baixa Manhattan como palimpsesto: paisagem, poder e memรณria.

27


LEGENDAS: [foto.3] Projeto do Complexo World Trade Center; [foto. 4] Evolução do projeto de Daniel Libeskind.

provocou uma ausência na memória de quem vivia ou passava por aquele lugar. O anseio por preencher o espaço vazio provocado pela queda das torres, ocasionou a busca por uma iden dade que pudesse proporcionar uma superação dos traumas sociais suportados pela cidade, e ao mesmo tempo que man vesse a memória destes. Em 2002 a Lower Manha an Development Corpora on, uma subsidiária da Empire State Development, encarregada por coordenar o planejamento da região da Baixa Manha an, organizou um concurso que seria responsável por reconstruir o edi cio e criar um memorial permanente. Estes ocupariam o Ground Zero – local do World Trade Center após o atentado de 11 de setembro – a fim de honrar e homenagear às ví mas e seus familiares e agregar vida, memória e arquitetura ao skyline de Manha an. "Diversos ar stas, designers, arquitetos e demais profissionais começaram a expor ideias das mais variadas índoles, desde parques temá cos, arranha-céus sinuosos e em geral qualquer coisa, seja ela real ou extraordinária." (QUIÑONES, 2014, p.58). De todas as propostas apresentadas para a escolha do edi cio, sete escritórios foram selecionados e seus projetos expostos para o veredito popular. Grandes nomes da arquitetura par ciparam deste concurso, entre eles estavam Sir Norman Foster como um dos favoritos; o escritório SOM/SANNA que teve sua apresentação re rada do concurso após a saída de um integrante; o escritório United Architects que foi cri cado por apresentar cinco arranhacéus monstruosos em vidro e aço, e por fim, também alvo de crí cas os arquitetos Meier, Eisenman, Gwathmey / Siegel, & Holl que criaram edi cios de blocos maciços que pesavam a paisagem. Ao final, o mérito de finalistas ficou entre o grupo THINK e o arquiteto Daniel Libeskind. O escritório THINK teve desde o princípio uma preocupação com o caráter urbano e com a recuperação da silhueta de Manha an, como é relatado por Quiñones:

Evolução da Torre daLiberdade Dezembro 2002

"Assim, decidiram propor duas estruturas idên cas de secção circular sobre as digitais originais das torres que, ao invés de conter os espaços de uso priva vo como nas outras seis propostas, atendiam diversas a vidades de caráter público e os espaços de uso comercial e escritórios seriam colocados nas torres menores ao redor delas. Nesta proposta prevalecia a ideia de cole vidade acima da individualidade." (2014, p.102)

O citado escritório também se preocupou em trabalhar a reconfiguração da malha viária e os acessos públicos. Contudo, o ganhador do concurso foi Libeskind, que conquistou o público

28

Larissa Aurea MARQUES; Letícia MAMEDES; Maria Clara HIDALGO e Priscilla GONTIJO.


FOTO 03

Fevereiro 2003

pelo discurso sensível que sua apresentação possuía e por resgatar os símbolos do local. O arquiteto propôs um edi cio trapezoidal que reestabelecia o skyline da cidade através de sua forma simbólica e de nha de vários jardins, um museu que homenagearia as ví mas e um grande arsenal de significância. Mesmo possuindo um grande valor simbólico e sen mental o ganhador do concurso não teve seu arranha-céu construído como havia planejado originalmente. Depois do concurso o projeto sofreu uma série de alterações, sendo no final construído por Childs . Assim o projeto final in tulado Torre da Liberdade foi finalizado em junho de 2005, possuindo uma mudança drás ca da sua forma original. De outro lado, o Reflec ng Absence de Michael Arad ganhador do concurso para a criação do Memorial 11 de Setembro, em 2004 - relembra o vazio deixado pela tragédia, através das águas das piscinas que fluem sem parar em direção a um vazio central. Em contraste, o Freedom Tower de Daniel Libeskind enaltece a importância do skyline na memória e na paisagem. Os dois projetos analisados em conjunto relembram o momento de dor e perda da suposta morte da Baixa Manha an, como também são o maior símbolo do seu renascimento. Mostrando que o Ground Zero da baixa Manha an é o palimpsesto de Nova York “do qual se apagou a primeira escritura para reaproveitamento por outro texto.” (PESAVENTO, 2004, p.26)

Agosto 2003

Dezembro 2003

Junho 2005

FOTO 04

Baixa Manhattan como palimpsesto: paisagem, poder e memória.

29


A RECUPERAÇÃO DA PAISAGEM URBANA

LEGENDAS: [foto.5] Novo Skyline da Lower Manhattan vista do parque Liberty State, NJ.

30

O principal componente do uso do solo da zona sul de Manha an - distrito financeiro de Nova York - era o espaço que foi destruído durante o atentado de 11 de setembro, correspondendo a cerca de 60 % da área comercial. Tempos depois da catástrofe o local denominado de Ground Zero deixou um vazio no imponente skyline de Nova York. Sabe se que o skyline impactante pelo desenho que as Torres nham era a iden dade da cidade, e este foi perdido com a queda das Torres Gêmeas. A intenção, necessidade e anseio era recuperar essa iden dade. Com o obje vo de preencher o vazio, considerando também o caráter urbano, era esperado uma proposta na malha Urbana para reconectar a zona baixa de Manha an aos bairros adjacentes, estabelecendo novos eixos de acesso ao público. Libeskind desenvolveu uma proposta democrá ca capaz de agradar os diversos grupos polí cos e sociais, atraindo olhares pelo desenho chama vo, trazia uma silhueta es lizada que acompanhava o perfil da Estátua da Liberdade - quando vista de lado -, gerando um skyline impactante e sensibilizando a muitos, pela forma como conseguiu incluir relatos pessoais e memória de sua vida na arte proposta. Na primeira proposta, a agulha lateral da ver cal World Gardens incluía a incorporação de árvores, arbustos e plantas de vários pos, a fim de preencher de vida o ambiente após o drama ocasionados pelas quedas e mortes. Contudo, pouco restou do projeto original quando Childs redesenhou o One Word Trade. A altura de 1776 pés refere-se ao ano da independência dos Estados Unidos da América foi uma das únicas caracterís cas man das. Assim, decidiu-se que Libeskind teria seu projeto conver do no plano diretor e servindo tanto como base técnica e conceitual para o desenvolvimento do conjunto. O novo projeto de Childs, de par do de ordem mista, possuía caráter mais clássico, mantendo algumas diagonais que exis am antes, que brincavam com os eixos oblíquos e retos tanto nos edi cios como nas ruas e nas praças, tudo isso para outorgar maior dinamismo e acessibilidade aos visitantes. Assim o projeto se tornou um marco urbano, símbolo do renascimento da nação em meio ao skyline devastado, restabelecendo sua imagem e criando um novo ritmo. As torres que formavam parte do projeto de Libeskind são protagonistas não apenas como edi cios isolados, mas como um conjunto de edi cios inseridos em um perfil urbano que deveria reforçar a ideia de ver calidade e apropriar-se da paisagem existente. Como ponto de destaque, evidencia-se a ver calidade, a qual se propõe a recobrir e sustentar visivelmente a memória da

Larissa Aurea MARQUES; Letícia MAMEDES; Maria Clara HIDALGO e Priscilla GONTIJO.


altura e poderio no local, preenchendo o vazio que sofrera a parte mais importante da paisagem. Na execução, Foster e Partners, Richard Rogers, Maki e Associados, Kohn Pederson Fox, San ago Calatrava e Frank Gehry foram os arquitetos que projetaram os ousados e de arquitetura chama va Word Trade Center 2, 3, 4, 5 e 7, bem como o Performing Arts Center e Transporte de Hub, após serem escolhidos para realizarem os projetos do plano de Libeskind. Sobre a recuperação da paisagem urbana, segue extrato da Ata de Comissão Julgadora do Concurso de Reconstrução do Edi cio e do Memorial em 2011: “Na descida para o nível abaixo da rua, em direção aos ves gios deixados pelas torres perdidas, descobrimos que a ausência se torna palpável à medida em que se observa e se ouvem as finas camadas de água que caem nos espelhos d'água, cada um com um vazio em sua área central. Podemos ver o céu, agora expressamente delineado pelo perímetro dos vazios, através do véu de cascatas. Se por um lado os ves gios das torres são marcados pelos vazios, a praça circundante inclui um bosque, como afirmação tradicional de vida e renascimento. As árvores, como a memória em si, demandam o cuidado e atenção daqueles que as visitam e guardam, e lembram a vida em sua forma viva”.

Deste modo, resta evidente que apesar dos dramas, traumas e perdas ocasionados pelo atentado e também das alterações, delongas e percalços ocorridos no curso do processo de reconstrução do local, o resultado é bastante impactante e afetuoso, expressando a incalculável perda de inúmeras vidas e ao mesmo tempo, o consolo da superação e reconstrução, que de fato reconecta o lugar com o tecido e a comunidade novaiorquina.

FOTO 05

Baixa Manhattan como palimpsesto: paisagem, poder e memória.

31


CONCLUSÃO

LEGENDAS: [foto. 6] As luzes do Complexo World Trade Center; [foto.7] Nomes das vítimas do atentado gravado no memorial; [foto. 8] Nacionalismo estampado em honra às vítimas do 11 de setembro.

32

Conforme relatado, com o obje vo de suprir o vazio provocado pelo atentado e de reconstruir o poderio norte americano foi construído o Complexo 11 de Setembro para homenagear as ví mas e trazer vida e esperança aos sobreviventes e famílias das ví mas. Além disso a construção teve o obje vo de destacar a força e a representa vidade que os Estados Unidos da América têm para com o mundo, principalmente no sen do polí co e econômico, demonstrando que apesar da magnitude do drama sofrido foi ainda maior sua capacidade de reerguimento e reestruturação. Aliás, essa influência americana a nível global também repercu u nas alterações das estratégias de segurança oficial e forças armadas de inúmeras nações em todo o mundo, seguindo as novas regras adotadas pelo próprio governo dos Estados Unidos. Quanto a memória do atentado, é certo que esta permeia até a atualidade, contudo na mente da maioria das pessoas não se faz de maneira con nua e frequente, mas ressalta-se especialmente em ocasiões que remetem à assuntos ligados a terrorismo, a não ser que possuam algum vínculo sico, profissional ou emocional com as ví mas e/ou com os edi cios que foram atacados em 2001. Outro aspecto a ser considerado acerca da memória das torres é a alteração urbanís ca na região da baixa Manha an, primeiro pelo vazio no local após o atentado, que agora foi preenchido com a vivacidade, imponência e delicadeza do projeto vencedor do concurso. Neste sen do, para melhor expressar o processo de reconstrução este estudo faz referência à técnica do palimpsesto, a fim de explicitar que a supressão e o vazio das primeiras construções foi preenchido pela nova arquitetura, mais viva, significa va e memorável do que nunca. À tulo de exemplo e conclusão, convém registrar a experiência pessoal de quem visitou recentemente o Complexo 11 de Setembro e cer ficou a profundidade da memória, que arquitetonicamente remete ao solo e em contrapar da, a ver calidade do poderio que remete ao infinito, desafiando os os próprios limites e aflorando as emoções.

Larissa Aurea MARQUES; Letícia MAMEDES; Maria Clara HIDALGO e Priscilla GONTIJO.


FOTO 07

FOTO 06

Baixa Manhattan como palimpsesto: paisagem, poder e memรณria.

FOTO 08

33


REFERÊNCIAS PESAVENTO, Sandra J. Com os olhos no passado: a cidade como palimpsesto. Revista Esboços, Florianópolis, 2004, v. 11. PRADO, Isaac P. O 11 de Setembro de 2001: Leituras da mídia, representações no cinema e um testemunho. São Paulo, 2013. QUIÑONES, Erika R. O novo World Trade Center de Nova Iorque. Rio de Janeiro, 2014. SOBREIRA, Fabiano. World Trade Center Memorial – Reflec ng Absence. 2011 Disponível em: <h ps://www.archdaily.com.br/br/768567/bi g-subs tui-foster-no-projeto-para-o-2-world-trade-center>. Acesso em: 9 jun. 2018 Disponível em: <h ps://www.ndtv.com/world-news/kids-exposed-to9-11-dust-showing-signs-of-heart-disease-risk-1747212>. Acesso em: 09 jun. 2018. Disponível em: <h ps://concursosdeprojeto.org/2011/09/11 /world-trade-center-memorial-reflec ng-absence/>. Acesso em: 10 jun. 2018. Disp o n ível em: <h ps:/ /p ixab ay.co m/ pt/nyc- eu aam%C3%A9rica-monumento-1641369/>. Acesso em: 16 jun. 2018. Disponível em: <h ps://qz.com/778080/what-new-yorksworld-trade-center-looked-like-before-911/>. Acesso em: 02 jun. 2018.

34


INTERVENÇÃO NO CENTRO HISTÓRICO DE MOSCOU E O CASO DO PARQUE ZARYADYE Autores: 1.Cássia Rocha Moura (cassiamoura.arq@gmail.com ) 2.Thayne Montenegro de Oliveira (thaynemontenegro@gmail.com)

RESUMO A cidade escolhida é Moscou por conta de sua história e influência. Dentro desse estudo, procuramos as áreas, zonas e usos que exercem maior influência na cidade e na população, assim, definindo o nosso recorte, sendo ele a influência da restauração e mudança dos usos de alguns edi cios históricos. Para tal análise do recorte, nos baseamos em mapas, ar gos, história e relatos de moradores e turistas de Moscou.

PALAVRAS-CHAVE Moscou; intervenção; centro histórico.

ABSTRACT The chosen city to the review and zoom it’s Moscow, because of its history and influence. Within this study, we look for the areas, zones and uses that exert greater influence in the city and popula on, thus defining our zoom, the influence of the restora on and change of the uses of some historical buildings. For such analysis of the zoom, we rely on maps, ar cles, history and reports of Moscow residents and tourists.

KEYWORDS Moscow; interven on; historic center

Intervenção no Centro Histórico de Moscou e o Caso do Parque Zaryadye

35


INTRODUÇÃO Esse ensaio busca apresentar e analisar intervenções feitas em edi cios no centro histórico de Moscou a par r do Parque Zaryadye e outras duas obras que foram readequadas: Fábrica museu bolchevique de impressionismo russo e o Museu Garage de arte contemporânea. Esses três edi cios foram escolhidos para esse estudo com base em seus valores históricos, proximidade com o principal centro histórico de Moscou - Praça Vermelha e Kremlin- e pelo fato de terem sofrido intervenções e ganhado novos usos. Estudamos a relação desses três edi cios com o seu entorno e com a população. Esses fatores são estudados para entendermos e prevermos as influências na população do entorno, bem como as tendências de construção no entorno.

AS INFLUÊNCIAS DA URSS NA INDUSTRIA DA CONSTRUÇÃO Os anos pós segunda guerra mundial foram de grande transformações e impactos para todos os países, em especial aos envolvidos no confronto. No caso da Rússia, grandes transformações vinham acontecendo desde 1917, com a revolução russa, ascensão do socialismo e implantação da URSS (União das Republicas Socialistas Sovié cas). Até 1991 – ano da queda do governo socialista- o país sofreu com um série de polí cas e leis que afetaram diretamente a economia, e, consequentemente, a indústria da construção. Nos primeiros anos de URSS, houve um boom na indústria da construção, com a edificação de verdadeiros monumentos. Em especial durante o governo de Stalin, a arquitetura foi usada como um meio de propaganda do aparente sucesso do socialismo sovié co. Stalin inaugurou prédios que são considerados momentos e lembranças daquela época, os que ficaram mais conhecidos foram o que fazem parte de um conjunto de 7 arranha-céus denominados de “As 7 Irmãs de Stalin”. Esses sete prédios foram construídos entre 1947 e 1953 para comemorar a força do socialismo frente ao capitalismo alemão. Há relatos que inclusive foram empregados mão de obra de prisioneiros de guerra para a construção. No entanto, após a morte de Stalin e a intensificação da Guerra Fria, a URSS entrou em crise econômica e social. O governo optou por inves r em avanços tecnológicos e bélicos com o intuito de se mostrar superior à potência capitalista dos Estados Unidos. No entanto, essa medida diminuiu os recursos dos cofres públicos, fazendo com que os repasses que seriam para a população diminuíssem, então alimentos e outros insumos básicos começassem a faltar, isso levou a um levante da população, em que o apoio ao governo socialista foi rapidamente sendo ex rpado, causando ainda mais instabilidade polí ca. Diante do cenário de instabilidade, as indústrias e serviços foram as mais afetadas com a falta de repasses públicos. A indústria da 36

Cássia Moura, Thayne Montenegro


construção perdeu força, e quase paralisou, deixando de ofertar empregos e aumentando ainda mais a insa sfação. Com a queda da URSS em 1991, os serviços foram se recuperando lentamente, voltando com mais fôlego apenas nos anos 2000. Nos anos socialistas, vários inves mentos foram feitos em Moscou, como a implantação de metrô, com estações grandes e luxuosas e um modal mais seguro e rápido. As estruturas que mais chama atenção atualmente são os an gos prédios construídos nos anos de Stalin, que foram amplamente restaurados para os usos contemporâneos, reforçando a ideia de que o passado não deve ser esquecido. Zaryadye é um distrito histórico de Moscou implantado entre os séculos XII e XIII. Essa área foi a ngida e destruída diversas vezes por incêndios, tendo que ser reconstruída e restaurada diversas vezes.[1] Em 1935 foi lançado um plano diretor para Moscou que previa a demolição do distrito de Zaryadye para dar lugar a outros prédios. Essa demolição foi acontecendo por partes, até que em 1947 a maior parte foi posta abaixo para dar lugar a um arranha céu que faria conjunto com “As sete irmãs de Stalin”, no entanto, o projeto foi abortado na fase de fundação do prédio. As demolições con nuaram até os anos 60, alguns prédios históricos foram poupados e mais tarde restaurados. Em 1964, a área em que seria construído o arranha céu foi vendida e o Hotel Rossiya foi construído em cima das fundações. [2] Esse terreno foi deixado de lado e vazio por mais 5 anos, até que em 2012 um concurso foi feito para transformar essa área em um parque público. Foi fechado um consórcio entre Diller Scofidio + Renfro (DS+R), Hargreaves Associates e Citymakers para o projeto de um parque com várias referências históricas à cultura russa, ao mesmo tempo em que novas tecnologias foram usadas. O parque ainda é cercado por edi cios históricos que foram restaurados e abertos ao público com o tempo.A Fábrica Bolchevique, um conjunto de 17 edi cios fica apenas a alguns metros do parque Zaryadye. Ela conta com edi cios de diferentes es los de épocas, por esta razão, a reforma e restauração desse conjunto foi considerada muito importante, pois conseguiu fazer uma fusão entre os diferentes tecidos históricos de forma bem-sucedida. Os 17 edi cios foram restaurados e usados de diferentes formas, sendo um conjunto mul funcional, abriga escritórios, residências e um museu. O museu de impressionismo russo fica onde era um armazém circular, e é o primeiro grande museu privado de Moscou. A obra durou anos, e foi aos poucos dando novas caras e usos ao que era a fábrica. Um pouco mais longe do parque Zaryadye, no parque Gorky, podemos encontrar o edi cio revitalizado do que antes era o restaurante Vremena Gouda, que funcionou nos anos 60 e era um dos principais des nos do público. Esse restaurante nha como estrutura um pavilhão pré-fabricado de concreto, que após o encerramento das a vidades do restaurante foi abandonado por mais de 20 anos, até a revitalização feita pelo escritório OMA.

Intervenção no Centro Histórico de Moscou e o Caso do Parque Zaryadye

NOTAS: [1] Por estar entre duas famosas rotas de negócio, o distrito é o assentamento comercial mais antigo fora dos muros do Kremlin. O hotel era o segundo maior do mundo, e o maior da Europa, até ser demolido em 2007. [3] O parque foi aberto completamente ao público em 2017. [4] Essa fábrica foi fundada nos anos 1800, e foi o primeiro edifício de Moscou a receber energia elétrica.

37


NOTAS: [f.1] 1. Sheremetevo 2. Estrada do Anel 3. Strannoprimnyi Dom (Hospital Sheremetev) 4. Teatro de Artes de Moscou (local original) 5. Monumento a Pushkin 6. Anel do Jardim 7. Mansão Riabuchinski, por Shekhtel 8. Tverskaia 9. Mansão de Zinaida Volkonski 10. Lubianka 11. Teatro Bolshoi 12. Praça Vermelha 13. Universidade de Moscou 14. Arbat 15. Vozdvijenka 16. Kremlin 17. Preobrajenskoie 18. Rio Moscou 19. Catedral do Cristo Salvador 20. Museu Tretyakov 21. Casa Ostrovski 22. Rogojskoie 23. Zamoskkvoreche 2 4 . C o n v e n t o Novodevichi 25. Colina dos Pardais 26. Rio Moscou 27. Serguiev Possad 28. Abramtsevo 29. Ostankino 30. Moscou 31. Zvenigorod 32. Kuskovo 33. Kolomenskoie 34. Melikhovo, propriedade de Chekhov 35. Parque Zaryadye 36. Museu garage 37. Fabrica-museu de Impressionismo Russo

O projeto foi feito de forma a valorizar e conservar elementos originais do an go restaurante, assim, painéis, mosaicos e fachadas foram apenas revitalizadas e integradas ao ambiente. O museu, que antes era em um bairro industrial de Moscou, locado em uma an ga garagem de ônibus – jus ficando o nome “Garage” – ganhou destaque ao ser realocado para uma área de muito movimento e destaque na cidade. (ARCHDAILY, 2018)

[f.1]EDITADO(MEDINA, Maria , UMA HISTÓRIA CUTURAL DA RÚSSIA, p.14, 2017)

38

Cássia Moura, Thayne Montenegro


AS INTERVENÇÕES NA ÁREA DO CENTRO HISTÓRICO Moscou é uma cidade an ga que sofreu com vários acontecimentos que impactaram as diversas camadas da cidade, a ngindo principalmente a economia e a sociedade. Após a fase de transformações, foi adotada uma polí ca de construção baseada principalmente em intervenções em edi cios históricos. Essas intervenções visaram a requalificação desses edi cios, os tornando mais atra vos para o público. O principal centro histórico de Moscou é a área do Kremlin e da Praça Vermelha. Nesse local, o entorno é repleto de edi cios dos anos de URSS e anteriores, posto isso, essa área é a que mais recebeu intervenções para qualificar com o obje vo de fomentar a visitação do público.

O Parque Zaryadye fica a poucos metros da Praça Vermelha e tem um longo histórico de intervenções, que vão desde construção de um arranha céu – que faria conjunto com As Sete Irmãs de Stalinaté a total destruição do então hotel mais alto do mundo. Essas intervenções acabaram com a construção do parque em 2007. O projeto buscou criar um parque coberto, que vesse maiores tecnologias de construção e sustentabilidade. Os usos do parque variam com uma mistura de equipamentos culturais, sociais e de lazer, junto a isso uma mistura de vegetações com os biomas tundra, estepe, floresta e pântanos, na intenção de promover a u lização do parque no inteiro.(CALVACANTE, lis, 2018) No parque existem algumas edificações sendo alguns deles, o pavilhão de centro de informação ao turista, Centro Natural, Caverna de Gelo, Centro de mídia. Todos eles se encontram em locais estratégicos aproveitando o relevo do local dando a idéia

Intervenção no Centro Histórico de Moscou e o Caso do Parque Zaryadye

39


NOTAS: [5] O Kremlim é onde se localiza o senado da Rússia, nela se inclui vários palácios e igrejas sendo eles o Palácio Estatal do Kremlin por Michael Posohin - 1961, Catedral da Assunção por Aristotele Fioravanti 1479, Palácio das Facetas por Marco Ruffo e Pietro Antonio Solari 1487, Palácio dos Terems por Antip Konstantinow 1636, Grande Palácio do Kremlin por N.I. Chichagov - 1850, P a l á c i o d e Entretenimento por Wassili Baschenow - 1652, Campanário de Ivã III da Rússia por Petrok Maly Fryazin - 1523, Catedral do Arcanjo São Migue por Aloisio Lamberti da Montignana – 1505.

de que estão “escondidos” na paisagem do parque, preservando a vista natural do parque, promovendo a passagem de pessoas com vários locais de observações e espaços para repouso. Há apenas duas edificações que se destacam na praça que são o Anfiteatro com uma cobertura feita com vidro e a Ponte flutuante, uma passarela em “V” que sobressai a praça em direção ao rio Moscou, funcionando como um dos locais de observação que o parque oferece. Além desse local existem vários pontos que se pode ter uma boa visão de locais históricos da como a ponte Bolshoy Moskvoretsky, o Kremlin[5] e a Praça Vermelha, o tornando um dos principais e importantes locais históricos da cidade. A cidade de Moscou é muito arborizada com isso o parque se comunica com a cidade através da arborização existente, apesar do grande contraste arquitectônico e paisagís cos.

As vias no entorno são em sua maioria estreitas e cheias de vielas, devido ao local histórico. As únicas avenidas que são mais extensas foram criadas mais recentemente para suportar o fluxo de automóveis existentes. O tecido urbano é poroso devido a vários locais abertos como o próprio Parque Zaryadye, a Praça Vermelha e várias praças de menor porte que se encontram no meio da malha urbana, além da diferença de altura entre os edificios, também se configura como heterogêneo, pois possui uma mistura de arquitetura, russa, italiana e francesa, além dos pálacios que se destacam na paisagem urbana. O uso de solo é misto com uma grande quan dade de uso cultural.

40

Cássia Moura, Thayne Montenegro


Há também o Museu de Arte Contemporânea Garage que fica no localizado dentro do Parque Gorky, zona também histórica mais ao sul do parque Zaryadye e o museu de impressionismo. Ele foi o edi cio de restauração do an go restaurante Vremena Goda que estava em ruínas e só foi restaurado em 2015 com o projeto do escritório de arquitetura OMA e manteve alguns elementos originais como a parede de mosaico, azulejos e jolos que eram da arquitetura sovié ca. O Garage é o primeiro museu russo a abranger a arte contemporânea e nele se encontra o acervo de 1950 até o momento. Devido sua localização no Parque Gorky, museu consegue atrair um publico mais amplo.(GHISLENI, Camila, Museu de Arte Contemporânea Garage/ OMA ArchDaily Brasil, 2015) Uma das entrada do museu fica virada para uma esplanada com visão para a Universidade Humanitária de Economia de Moscou e o City Clinical Hospital[2]. A sua esquerda existe uma pista de skate, a sua direita possui um prédio an go em ruinas que está fechado através de placas, e sua fachada principal da acesso para a pista de gelo, sendo que em épocas mais “quentes” no caso do verão ela se torna um grande espelho de água com um chafariz no centro.

Intervenção no Centro Histórico de Moscou e o Caso do Parque Zaryadye

NOTAS: [6] [2] City Clinical Center foi o primeiro hospital de graduação projetado pelos arquitetos russos V.I. Bazhenov e MF K a z a k o v . (http://mosgorzdrav.ru/g kb1#tab-2436)

41


O parque Gorky onde se localiza o Garage é arborizado em toda a sua extensão e seu interior prioriza os pedestres, sendo que esses somam em média quarenta mil visitas por semana, além de ser extremamente extenso chegando até o estádio Lujniki, margeando o rio com pelo menos 500km de raio. O parque Gorky é considerado um centro de cultura e lazer, além do Museu Garage, existem outros museus, escolas, e também equipamentos de lazer como cinema ao ar livre, plataforma de dança, campo de futebol, pista de skate, aluguel de bicicletas e barcos, observatório, parque de diversões e pista de gelo é considerado um dos mais conhecidos espaços públicos de moscou. O edi cio do museu Garage possui apenas três pavimentos, sendo que a maioria das edificações do parque possuem apenas um pavimento, salvo o pór co do museu que possui pelo menos três à quatro pavimentos de altura e algumas edificações que não estão no parque mas se comunicam com ele como a escola e o hospital. Além disso o museu assim como alguns edi cios do parque Gorky, possuem arquitetura moderna, provocando um contraste grande com as edificações do seu entorno devido aos prédios an gos ali existentes. Quanto ao relevo no local do museu, foi um terreno que foi planificado, com um desnivel leve em direção ao rio. A região, como algumas partes da cidade de Moscou, apresenta porosidade, ou seja, devido aos parques e praças localizadas em boa parte urbana e os seus edi cios possuem caracterís ca de heterogeneidade, sendo que eles possuem es los arquitetônicos dis ntos por serem de épocas diferentes. Como dito antes, o local é em uma região histórica da cidade, então existem muitas vias pequenas e sem saída, porém como é um local central e turis co, devido também a quan dade de automovéis, veram de abrir vias extremamentes largas.

42

Cássia Moura, Thayne Montenegro


A fábrica bolchevique é o complexo mais an go com energia elétrica de Moscou, e foi de grande importância para a economia russa, empregando grande parte da população e produzindo vários itens de consumo, o principal produto desse complexo em especial era doces como chocolate. Apesar de ficar um pouco mais distante da Praça Vermelha, ele exerce muita influência no centro histórico, atraindo o público e criando novos espaços para convivência.

Hoje, depois de revitalizações e readequações para os diferentes usos, o complexo de 17 (dezessete) edi cios é plenamente usado pela população e amplamente visitado por turistas. Em uma região que abriga edi cios históricos, a Fábrica se destaca pela sua variedade de usos e pela qualidade que possui apesar de sua idade. Os edifico do entorno são de diferentes épocas, alguns chegando a ser datados do século XVIII, como o edi cio da Universidade Internacional de Moscou. O entorno é de uso misto, se tornando mais residencial a medida que o raio de abrangência aumenta. Os prédios mais próximos ao complexo da fábrica são em sua maioria de uso voltado à população, como parques, museus, edi cios educacionais e até um autódromo. O complexo possui vários usos, abrigando inclusive residências po lo e escritórios. A entrada de automóveis é proibida, sendo permi da apenas no entorno, assim, os espaços entre edi cios são de uso exclusivo aos pedestres e ciclistas, abrigando também pequenos comércios como bares e restaurantes para atender essa população. Criando espaços de convivência e de passagem seguros para a população. destaca tanto pelo uso quanto pelo seu es lo. Ele foi restaurado a par r de um armazém circular locado no lote, sua estrutura permanece a mesma, se destacando no conjunto de prédios históricos. O museu é o primeiro do po, por ser de inicia va par cular. Ele reúne vários ar stas e obras russas entre exposições permanentes e i nerantes. O museu busca resgatar o orgulho e a arte russa que foram se perdendo com as grandes

Intervenção no Centro Histórico de Moscou e o Caso do Parque Zaryadye

43


reviravoltas que o país sofreu com as duas guerras e com o socialismo. ( RUSSIA BEYOND,2018)

Referências Bibliográficas E n s a i o s F r a g m e n t a d o s < h p://ensaiosfragmentados.blogspot.com> Design Boom <h ps://desingboom.com> Archi <h ps://archi.ru> Russia Beyond <h ps://br.rbth.com> ArchDaily <h ps://www.archdaily.com.br> Existe um lugar no mundo <existeumlugarnomundo.com.br> LIMONAD, Ester - Revista formação nº14. volume 1 – p.31-45. Urbanizção Dispersa Mais Uma Forma De Expressão Urbana?,2006

44

Cássia Moura, Thayne Montenegro


O LEGADO DOS JOGOS OLÍMPICOS DE LONDRES 2012: GENTRIFICAÇÃO E SEGREGAÇÃO URBANA 1. Danna Pedroso MACHADO (dannamachado@hotmail.com) 2. Isabella Cris na BRENNER (isabellabrenner@hotmail.com.br) 3. Lisa Paula SCHMALTZ (lpmschmaltz@hotmail.com) 4. Lucas Carvalho ALVES (lcscarvalhoalves@hotmail.com)

RESUMO Os Jogos Olímpicos de Londres de 2012 foi realizado em uma área degradada da cidade conhecida por abrigar as piores mazelas sociais do Reino Unido, “brownfields”, uma zona de terrenos grandes e abandonados onde se concentrou por muitos anos a vidades industriais. Além da reestruturação urbana em Stra ord com inves mentos na infraestrutura viária foram concebidas onze mil casas, os flats da Vila Olímpica foram transformados em 2800 residências divididas em onze condomínios, áreas des nadas para negócios, hospitais, escolas e às instalações espor vas. Em contrapar da com todo esse feito colossal, os preços dos imóveis elevaram-se abruptamente assim como a qualidade de vida em East London (Leste de Londres) e por seguinte ainda há predominância de uma comunidade trabalhadora com renda baixa, imigrantes provenientes de países pobres e desempregados, portanto nesse presente ensaio crí co iremos abordar qual foi o significado do legado que os Jogos Olímpicos de 2012 acarretou nas classes desfavorecidas presentes até este momento em Stra ord.

PALAVRAS-CHAVE Jogos Olímpicos; Londres 2012; Reestruturação Urbana

ABSTRACT

THE LEGACY OF THE 2012 LONDON OLYMPICS: GENTRIFICATION AND URBAN SEGREGATION The 2012 London Olympics was held in a dilapidated area of the city known for harboring the UK's worst social woes, brownfields, a zone of large abandoned terrains where industrial ac vi es have focused for many years. In addi on to the urban restructuring in Stra ord with investments in road infrastructure, eleven 45


thousand houses were designed, the Olympic Village flats were transformed into 2800 residences divided into eleven condominiums, areas des ned for business, hospitals, schools and sports facili es. In contrast to all this colossal achievement real estate prices have risen steeply as does the quality of life in East London and therefore there is s ll a predominance of a lowincome working community, immigrants from poor countries and the unemployed, so in this cri cal essay we will address what the legacy of the 2012 Olympic Games entailed in the disadvantaged classes so far in Stra ord.

KEYWORDS Olympic Games; London 2012; Urban Restructuring

INTRODUÇÃO O presente ensaio crí co, perpassa o levantamento histórico do período de 1960 a 2018 da cidade de Londres e a análise urbana da mesma, afim de alcançar o estudo do nosso principal objeto; a dissonância entre o discurso criado para a candidatura de Londres como cidade sede nas olimpíadas de 2012 e a realidade do leste londrino que pela terceira vez passou por grandes intervenções visando melhorias sociais. Para chegarmos na discussão que dá razão a este estudo, abordamos o contexto histórico do leste londrino, afim de enfa zar o contexto histórico e o cenário que leva Stra ord a ser escolhida como sede do parque olímpico e Londres, consequentemente sede das olimpíadas. Posteriormente inves gamos a criação de uma imagem idealizada de Star ord tendo em vista o futuro de Londres e comparamos com a realidade, voltando o olhar principalmente para as comunidades que não são facilmente vistas. Esse estudo valida-se enquanto inves gação dos impactos que megaeventos como as olimpíadas possuem nas cidades contemporâneas. As melhorias nas cidades-sedes têm sido vendidas para que esses megaeventos consigam jus ficar seus gastos exorbitantes. No entanto essas intervenções além de, no

Danna Machado, Isabella Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Alves

46


[f.1]

passado, não garan rem um legado posi vo para a cidade, enquanto infraestrutura, hoje tem promovido processos de segregação e marginalização na cidade.

[f.1] Stratford em 1945, antes da implantação do Parque Olímpico

CONTEXTUALIZAÇÃO DO LESTE DE LONDRES O Parque Olímpico Queen Elizabeth está localizado no leste de Londres, no bairro de Newham, no centro do distrito de Westham, Stra ord. Para entendermos a designação da Olímpiadas para essa região de Londres, foi necessário assimilar a contextualização histórica envolvida nesse processo. A concentração das fábricas se localizava ao norte de Londres, marcado por um cinturão fabril, em meados de 1800. Com a expansão das ferrovias em 1830 houve a possibilidade simultânea da expansão das fábricas, que foram implantadas no leste de Londres (extensão do norte londrino) por ser uma região em que as terras públicas eram mais acessíveis financeiramente. Com isso, no final do século XIX o leste londrino já se caracterizava como uma zona industrial (MASCARENHAS, 2010). Em 1970 e 1980 o leste de Londres perpassou por um processo de de desindustrialização e o inves mento público era baixo para

47

Danna Machado, Isabella Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Alves


essa região (RACO,2004). A par r de 1980, foram realizados projetos voltados para a restruturação do leste de Londres, devido a desindustrialização e os impactos causados pelas indústrias que degradaram o espaço. Porém a gestão neoliberal (durante a governança de Tatcher) não os concre zava, por par r de uma ideia que o apoio e inves mento empresarial seria necessário para executar tais projetos (MASCARENHAS, 2010). Ken Livengstone foi eleito prefeito de Londres no ano 2000 e trouxe uma reformulação de ideias para a gestão da cidade, com a tudes esquerdistas e o apoio de movimentos sociais. Em sua primeira gestão (2000 – 2004) concebeu o projeto de plano de candidatura de Londres aos Jogos Olímpicos, Livingstone diz: “Não par cipei da compe ção porque queria três semanas de esporte….par cipei porque é a única maneira de conseguirmos bilhões de libras do governo para desenvolvermos East End” (citado dor Davies, 2008). Então, a candidatura de Londres para ser a sede das olimpíadas de 2012 teve alguns aspectos relevantes a serem considerados: por ser uma cidade de grande porte que propicia a confecção de megaeventos e sua repercussão mundial e o seu discurso de promoção de melhorias de qualidade de vida para a população carente dos distritos em torno de Stra ord que além de regenerar uma das regiões mais degradadas do país, promover emprego, moradia qualificada (30% da Vila Olímpica des nado ao interesse social), transporte qualificado e lazer (MASCARENHAS, 2010) (SILVESTRE,2010). O momento que antecedeu a escolha da sede das Olímpiadas de 2012 foi de preocupação com a imagem do movimento olímpico, que nha como obje vo deixar um “legado posi vo” para a cidade e sua população, ou seja, algo a mais que o momento dos jogos olímpicos, em que as construções realizadas para esse evento não fossem “elefantes brancos” e que após esses jogos a população pudesse usufruir daquela estrutura e dos bene cios gerados por ela, ou seja, o legado social que jus ficaria o custo das obras. Por isso, a escolha do leste de Londres, com a proposta de regeneração de uma área degradada beneficiando-o para a população residente e próxima, foi um importante discurso para

Danna Machado, Isabella Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Alves

48


a escolha de Londres como sede das Olímpiadas em 2012 (MASCARENHAS, 2010). Atualmente (2018), seis anos após as Olímpiadas de 2012 em Londres, observamos que a realidade e o discurso realizado na candidatura da mesma em 2001 não seguem na mesma sintonia. A proposta de regeneração daquela área foi idealizada e realizada, contudo, embora poucos, exis am moradores que foram marginalizados em detrimento da especulação imobiliária e dos altos custos para se manter naquela região que se tornou um novo centro de Londres. Porém, ainda é muito cedo para entender e analisar o legado das Olímpiadas em toda sua completude (MASCARENHAS, 2010).

REGENERAÇÃO URBANA DE STRATFORD Durante a história, os jogos olímpicos já desempenharam vários papéis. Já foram fonte de propaganda ideológica durante a Guerra Fria, realização de capital como em Los Angeles em 1984 e Atlanta em 1996, já serviram para a promoção de planos de sustentabilidade como em Sydney em 2000. Atualmente está adquirindo o escopo de a ngir as deficiências sociais da cidadesede. Megaeventos como este que possuem atenção da mídia global, são convida vos para a exploração do city marke ng. Com os olhares do mundo todo voltados para a sede dos jogos, elas partem no obje vo de angariar capital externo e inves mentos em infraestrutura urbana, (SILVESTRE, 2010). Stra ord, bairro eleito como centro dos jogos, localiza-se na zona leste de Londres, caracterizada pela fábricas fechadas, galpões e terrenos contaminados e com uma população majoritariamente imigrante e de baixa renda. A par r desse contexto, a proposta principal era, inspirado em Barcelona, promover a regeneração urbana e gerar um legado possível de ser comtemplado a longo prazo. (BARRET; DYCKHOFF apud MASCARENHAS, 2013 ). A escolha por esse apelo social é fruto da década de 1980, que segundo Mascarenhas (2013) é marco de uma grande

49

O Legado dos Jogos Oímpicos de Londres 2012: Gentricação e Segregação Urbana


reestruturação do movimento olímpico, que leva a um maior impacto sobre as cidades-sedes, em função da relação aberta e irrestrita firmada com a grande mídia, dos orçamentos exorbitantes e o abalo acentuado dos recursos públicos. O alvo de consumo e espetacularização, agora não se limita aos jogos em si, e se estende ao espaço urbano que sediará o evento. Dada

[f.2] Foto de Satélite do Parque Olímpico atual

a criação desse espetáculo para a realização do evento, são gerados gastos desmedidos, deslocamento de populações marginalizadas, especulação da terra urbana e a construção de edi cios de grande porte que após o evento estão fadados ao desuso. Como consequência da percepção e crí ca desses legados nega vos, a par r de 2000 uma das principais preocupações é a que a cidade-sede possa herdar bene cios desses eventos.

[f.2]

Além da preocupação com uma herança posi va para a cidade, no caso de Londres para os jogos de 2012, o projeto para as olimpíadas teve a influência e respaldo de um governo de cunho ideológico mais à esquerda. Em virtude desse contexto o discurso criado para os jogos de Londres era voltado para as repercussões sociais e ambientalistas e não apresentou assumidamente uma conotação “mercadófila”. Como citado por Leopkey (2009) as promessas dos jogos incluem bene cios às habitações, desenvolvimento espor vo com impacto em todo o país e

Danna Machado, Isabella Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Alves

50


principalmente transformando e regenerando o Leste de Londres, inspirado nas novas gerações. A escolha de Londres e do leste de Londres também envolve a dimensão simbólica das quatro dimensões da “produção da cidade olímpica” que Mascarenhas (2013) levanta (a dimensão sico-territorial, a dimensão polí co-ins tucional, dimensão cidadã e por fim a dimensão simbólica). A dimensão simbólica é em suma o argumento que legi ma o evento e seu legado, neste caso através do city marke ng, da manipulação dos bene cios espor vos e “olímpicos” e da criação de um discurso patrió co da cidade. Aliado ao simbolismo discursivo do esporte como fator de saúde, regeneração humana e da união dos povos, promoção global da imagem urbana, atração de turistas e capitais estrangeiros, produção de sinergias, geração de empregos e aumento da autoes ma cidadã, no caso do projeto olímpico de Londres há o apelo ao cenário dos jogos (o leste londrino) e a propaganda de uma completa regeneração deste lugar. O leste londrino, uma área periférica, de an go uso industrial, povoado principalmente por uma população de baixa renda e imigrante, foi vendido como uma área sombria, com urgente necessidade de regeneração e como área estratégica em Londres. (MASCARENHAS, 2016). Como adver u Doreen Massey (2007, p.62) a retórica da proclamada “reinvenção de Londres” apostava numa troca simples e muito “benéfica”: subs tuir o velho proletariado fabril e os es vadores por uma nova classe trabalhadora, moderna, limpa e bem ves da, ocupada no terciário superior, em especial no setor financeiro. Mas se esqueceram de dizer que essa mudança implica elevação brutal dos preços da terra urbana e, portanto, maior periferização dos pobres, este aliás, excluídos do novo mercado de trabalho. A Londres reinventada pelos liberais é uma cidade dividida (Massey, 2007, p. 72) entre a vitrine reluzente do moderno e as zonas obscuras da pobreza e desemprego. (MASCARENHAS, 2013, 60)

Quantos às melhorias do entorno imediato foram determinados 51


como obje vos os seguintes pontos: Quanto à moradia; conversão da Vila Olímpica em 3.500 moradias e destas ao menos 30% destas de interesse social. Construção de 5.500 moradias após o evento. Quanto ao emprego;

nham o obje vo de

empregar 20.000 trabalhadores locais com os as oportunidades de emprego diretamente relacionadas aos jogos, criar 12.000 postos de trabalho permanente, e no setor da construção a criação de oportunidade de 2.000 estágios. O quesito lazer foi suprido pelos cinco equipamentos espor vos, dentre eles o estádio Olímpico e o Centro Aquá co nham a perspec va de serem permanentes e acessíveis à comunidade local. E no âmbito de transporte, foram pensadas melhorias no transporte público e a renovação da estação Stra ord (DCMS, 2008). Todas as propostas visavam por fim regenerar essa área e dar melhores condições de vida para os moradores locais. Processos de regeneração urbana, de acordo com Raco e Tunney (2010) são processos norma vos de determinação de como uma área urbana deve ser no futuro em um espectro ideal, feita por formuladores de polí cas e outros. Os espaços selecionados afim de concre zar essa visualização ideal, podem ser observados de diferentes perspec vas. Nesse processo algumas perspec vas são priorizadas em detrimento de outros tornando alguns interesses e atores mais visíveis que outros. No caso de Londres, como explicita Raco e Tunney (2010), o prisma das pequenas empresas foi negligenciado e colocado em uma situação de invisibilidade, em prol do ponto de vista da necessidade de desalojamento das mesmas para a construção da infraestrutura dos jogos. Uma vez que dentro da hierarquia de importâncias, essas pequenas empresas estão em um lugar de vulnerabilidade por serem facilmente enquadradas como descartáveis, obsoletas e com um declínio irremediável por não serem compe

vas. Dentro do construto ideológico que

sustenta esses projetos, as agências de desenvolvimento encaram esses locais que estão à margem, como oportunidade de gerar retorno capital e criar a imagem de um efeito posi vo do projeto para a cidade. Defendendo os interesses do setor

Danna Machado, Isabella Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Alves

52


empresarial, com um discurso de melhorias sociais em áreas marginais. Straford e seu entorno, é uma área muito propícia para o uso de pequenas empresas, em função da proximidade com Londres e

[f.3] O Parque Olímpico de Londres em 2012 na foto à direita, e conversão da Vila Olímpica em moradias na foto à esquerda

os preços rela vamente acessíveis (por serem indesejáveis para outros usos). E ao serem despejadas encontraram grandes dificuldades de se instalar em outros lugares, por conta dos custos da mudança serem maiores do que o pensado e a suposição da existência de um lugar equivalente não se concre zou, como registrado por Raco e Tunney (2010) com depoimentos das pequenas empresas locais: Sim, nos foi dado aviso suficiente, mas não há nenhum outro lugar acessível. Não importa o que eles nos derem, não poderá subs tuir o nosso lugar. (RACO; TUNNEY, 2010, 10) A LDA está nos oferecendo 1 milhão de libras por acre de nossa terra, mas mesmo que nos mudássemos 11 quilômetros do local olímpico, o preço da terra já está acima de 2,5 milhões de libras por acre e a LDA se recusa a compensar essa diferença. (RACO; TUNNEY, 2010, 11)

Conforme Silvestre (2013), nenhuma das duas demais grandes [f.4]

intervenções no Leste de Londres de caráter social e inclusivo gerou bons frutos, tanto a intervenção em Docklands como o Millennium Dome fracassaram ao tentar alcançar ganhos sociais. Em Docklands houve a experiência com Canary Wharf, responsável por uma violenta gentrificação da an ga zona portuária. E o Millennium Dome foi fechado após um ano de funcionamento. Star ord, já inicia um processo de valorização do terreno, e como elucidado acima teve sua vida financeira local desalojada. Há dúvidas sobre os programas de habitação e emprego (dado que pequena parte das vagas de emprego foram designadas a população local).

CONCLUSÃO O discurso criado para vender os jogos Olímpicos de Londres, baseava-se em uma regeneração do Leste de Londres. Se [f.5]

53

comparado com olimpíadas como a de Barcelona, segundo

[f.4] Parque Olímpico de Londres


segundo Mascarenhas (2016), o índice de desapropriações que aconteceram em Londres é expressivamente menor e enquanto infraestrutura é percep vel o ganho que a cidade teve. Contudo como Raco e Tunney (2010) defende, também é ní do que as zonas problemá cas da cidade são caracterizadas por perspec vas sele vas que talham o caráter da intervenção polí ca, destarte nesse caso a perspec va dos cidadãos locais não foi colocada visível, porém nem por isso deixa de exis r. Ainda que aja essa tenta va de manter invisível essas realidades “desagradáveis”, o tão ambicionado “holofote olímpico”, pode ser ferramenta para enxerga-las.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DCMS – Department for Culture, Media and Sports. Before, During and A er: Making the Most of the London 2012 Games. London, HMO DCMS, 2008 LEOPKEY, B. The Historical Evolu on of the Olympic Games Legacy. 2008 Post Graduate Grant Final Report. Interna onal Olympic Commi ee, Lausanne, 2009. MASCARENHAS, G. Londres 2012 e Rio de Janeiro 2016: modelos e conflitos na produção da cidade olímpica. In: XV Enpur, 2013, Recife. Anais do XV Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós Graduação em planejamento urbano, 2013. MASCARENHAS, G. A produção da cidade olímpica e os sinais da crise do modelo globalitário. Geousp- Espaço e Tempo (online), v. 20, n. 1, p. 52-68, mês. 2016. RACO, M.; TUNNEY, E. Visibili es and Invisibili es in Urban Development: Small Business Communi es and the London Olympics 2012. Urban Studies, 47(10): 2069–2091. 2010. SILVESTRE, G. Impactos e Legados: O contexto social dos Jogos Olímpicos. In: Alberto Reppold Filho (ed) Sports Mega-Events and Olympic Ci es. Porto Alegre: UFRGS. 2010.

Danna Machado, Isabella Brenner, Lisa Schmaltz, Lucas Alves

54


A CONTEMPORANEIDADE DA PAISAGEM DA PUC DO CHILE Autores: 1.Angelina MENESSES (messes.angelina@gmail.com) 2.Camila GONÇALVES (goncalvescami@hotmail.com) 3.Gustavo MELO (gustavomlfa@hotmail.com)

RESUMO Este trabalho tem como obje vo trazer análises específicas estudadas sobre a Pon cia Universidade Católica do Chile na cidade de San ago. Tais análises são propostas a par r do estudo específico dos edi cios localizados no Câmpus de San Joaquin da Pon cia Universidade Católica do Chile. Com tais análises será possível compreender a cidade de modo geral, quanto ao seu crescimento e desenvolvimento urbanís co e arquitetônico, junto da região u lizada para o recorte da análise urbana e contexto arquitetônico.

PALAVRAS-CHAVE San ago; Paisagem urbana; Intervenção.

ABSTRACT This work aims to bring specific analyzes about the Pon fical Catholic University of Chile in the city of San ago. Such analyzes are proposed from a specific study of the buildings located in the Campus of San Joaquin of the Pon fical Catholic University of Chile. With these analyzes it will be possible to understand the city in general, as to its urban and architectural development and growth, near the region used for the urban analysis and architectural context.

KEYWORDS San ago; Urban landscape; Interven on

55


[f.1] A mancha urbana, que compreende a atual situação da região de Santiago do Chile. Fonte: os autores, 2018.

LEGENDAS: [f.1] Para guras, que incluem grácos, fotograas, imagens, croquis, mapas, diagramas e etc. [t.1] Para tabelas

56

Angelina Menesses, Camila Gonçalves e Gustavo Melo


INTRODUÇÃO A Pon cia Universidade Católica do Chile possui quatro câmpus localizados na região metropolitana de San ago, capital do Chile. É analisada como uma das mais bem conceituadas universidades da América La na conforme dados expostos pela QS University Rankings: La n America (2014). Conta com 3.131 professores (conforme dados do próprio Reitor em 2014), possui alta produção de pesquisas (no Chile se têm a publicação de 1600 ar gos por ano) e formação de inúmeros profissionais capacitados, além de ser vista como tradicional uma vez que está em a vidade desde 1888. Tal Universidade, também possui edificações bastante conceituadas no ramo arquitetônico como por exemplo as Torres Siamesas e o Centro de Inovação UC., sendo esses grandes exemplares de como é produzida a arquitetura contemporânea chilena. É de suma importância o estudo da Pon cia Universidade Católica do Chile, pelo fato de que esse promove uma compreensão contextualizada de como se deu a evolução arquitetônica em San ago ao mesmo tempo demonstrando o desenvolvimento da própria universidade. Tal contexto, trás uma melhor compreensão de como a arquitetura do Chile se desenvolveu a par r do início do século XXI, dando espaço para inúmeros edi cios contemporâneos feitos por renomados arquitetos como por exemplo Alejandro Aravena (responsável por projetos de algumas edificações contemporâneas edificados da PUC do Chile). Este trabalho tem como obje vo trazer análises específicas estudadas sobre a Pon cia Universidade Católica do Chile na cidade de San ago. Tais análises são propostas a par r do estudo específico dos edi cios localizados no Câmpus de San Joaquin da Pon cia Universidade Católica do Chile. Com tais análises será possível compreender a cidade de modo geral, quanto ao seu crescimento e desenvolvimento urbanís co e arquitetônico, junto da região u lizada para o recorte da análise urbana e contexto arquitetônico.

NOTAS: [1]: Alexandre Ribeiro Gonçalves desenvolveu para sua tese de d o u t o r a d o , u m levantamento elaborado de publicações sobre produções arquitetônicas latino americanas. Reunindo um total de 768 publicações, sendo às referentes a arquitetura chilena responsáveis por 36,36%.

SANTIAGO PARA O MUNDO A cidade de San ago do Chile, ao longo das úl mas décadas, vem se afirmado como uma metrópole com singulares contribuições referentes à avanços no campo do urbanismo, mostrando-se para o mundo uma cidade emergente, capaz de produzir uma arquitetura moderna forte e sólida. Foi ao longo dos anos de 1990, segundo Alexandre Ribeiro Gonçalves (2013, p. 83) que a produção chilena despertou certo interesse da crí ca no cenário internacional. Onde uma nova geração de arquitetos chilenos, foi coroada com inúmeras publicações em revistas especializadas, acerca de suas produções arquitetônicas.¹ Em um novo contexto, após Pinochet, vemos uma forte busca em transcender os ares provincianos e se aproximar cada vez mais do mundo globalizado. Ter uma par cipação mais a va e contundente na economia mundial. A sociedade aspirava por novos caminhos, e soluções que condissessem com a nova realidade. Haviam diversos fatores que influenciaram na expansão do cenário chinelo contemporâneo, que naquele momento eram muito favoráveis, segundo Pérez Oyarzun (2009), citado por Alexandre Ribeiro Gonçalves (2013, p. 84), “sinaliza para a existência de uma estreita relação entre a cultura arquitetônica, a prá ca profissional e a formação acadêmica. Fatores esses que alavancaram a arquitetura chilena, que possui

A Contemporaneidade da Paisagem da Puc do Chile

57


[2]: Dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE). [3]: Acesso em Junho de 2018.

uma relação muito próxima com território e com as paisagens em que está inserida.

CONTEXTUALIZANDO SANTIAGO No que concerne o quadro urbanís co que transformou San go em uma grande metrópole, percebemos que o grande bum, se deu no período das décadas dos anos de 1950 e 1960, registrando altos índices de crescimento demográfico, superando a taxa de 5,1% ao ano. Este crescimento foi o maior de sua história, tendo sua população passado de 1.434.322 habitantes no ano de 1952 para incríveis 2.141.432 em 1960.² Levando em consideração que este crescimento se deu em um curto espaço de tempo, podemos entender que ouve um crescimento desordenado e uma rápida transformação da cidade, em apenas oito anos. A San ago que vemos nos dias atuais [f.1], não se distanciou muito do plano previsto por Brunner, [f.2] plano este que Rodrigo Vidal (1997, p. 198) acredita ter sido sua contribuição mais original. Rodrigo Vidal observa ainda, (1997, p.198) “Em seu estudo sobre a dilatação (expansão sica) da cidade de San ago, Brunner contempla a criação de reservas de espaços para o futuro crescimento da habitação e das zonas industriais.” Porém Brunner, não contava com este crescimento desordenado, pelo contrário, acreditava que San ago sofreria um crescimento moderado, não chegando a 1 milhão de habitantes em 1960 Rodrigo Vidal (1997, p.198). Uma possível comparação entre o plano e realidade que San ago se encontra, não pode ser feita sem considerar os aspectos territoriais, as condições geográficas, as polí cas a vas de ins tuições públicas e privadas, não desviando de um contexto de especulação imobiliária, o crescente êxodo rural sofrido, e a consequente proliferação de periferias. Rodrigo Vidal (1997, p. 200) apresenta o panorama da realidade sofrida por essa forte expansão desordenada: “A complexidade do tecido social, a velocidade do c r e s c i m e n t o d e m o g rá fi c o , a e x p a n s ã o s i c a d e s a r c u l a d a , a fo r te d e m a n d a d e s e r v i ço s , equipamentos e infraestrutura públicas, a demanda habitacional, o rápido aumento de assentamentos periféricos [...] a concentração de mais de mais de 60% da indústria nacional, com todos os problemas ambientais, [...] tudo isso associado à incapacidade polí ca e legal do poder público para coordenar e ar cular uma polí ca intercomunal de ordenamento e de planejamento urbano, consistem alguns dos principais problemas da metrópole.”

San ago sofre com os problemas de desordem urbana, como qualquer metrópole la no americana, e passou por diversos planejamentos urbanís cos pós Brunner, que delimitaram seu tecido urbano e qualificaram seu território, transcendendo seu espaço geográfico. É notório uma mudança em como o Chile se mostra pro mundo, onde se tornou fundamental produzir uma arquitetura regional atualizada, abandonando aspectos provincianos. Estes planos e intervenções, bem como edificações e projetos educacionais, fundamentais para o seu crescimento de San ago, estão enraizados na forte influência que as Universidades de Valparaíso e de San ago, exercem sobre a nova geração de arquitetos chilenos citada.

CRONOLOGIA Segundo histórico presente no site da ins tuição³, a Pon cia Universidade Católica do Chile foi fundada em 21 de junho de 1888, por meio de um decreto do Arcebispado de San ago

58

Angelina Menesses, Camila Gonçalves e Gustavo Melo


[f.2] Estudo feito por Karl Brunner em 1934, para uma possível dilatação de Santiago até 1960. Fonte: Cáceres Quiero, AA. VV., p.34.

(Arcebispo Mariano Casanova), sendo designado seu primeiro reitor, Dom Joaquín Larraín Gandarillas. A Universidade Católica respondeu à necessidade de criar uma universidade confessional, para enfrentar a força do secularismo no ensino superior. A nova ideia universitária propunha uma perspec va acadêmica nascida da própria reflexão do pensamento católico chileno. Desde a sua criação, a controvérsia polí ca e social foi parte fundamental da reflexão interna da nova universidade, que logo se tornou um ponto de referência obrigatório para o debate nacional, do ponto de vista católico. Conforme o histórico da própria universidade, o Câmpus San Joaquin começou a ser construído no ano de 1963, conforme o plano diretor proposto pelo arquiteto Germán Brandes, vencedor do concurso feito na época. Com o tempo algumas unidades acadêmicas começaram a construir de maneira independente distanciando do plano diretor original. Entretanto a par r de 1993, começou um reordenamento dessa problemá ca. iretor. No entanto, em 1993, iniciou um reordenamento das edificações com o plano diretor novamente. A par r de 2012 houveram reestruturações em todo o campus, com implantação de uma passarela do local até o metrô, presença de elementos que proporcionassem qualidade quanto a infraestrutura e uso como: fotocopiadoras, piscinas aquecidas, capela, bibliotecas, laboratórios, centro de saúde, churrasqueiras, laboratórios de informá ca, agências bancárias, escritório FEUC e centro de reciclagem. Para maior interesse do aluno com a universidade, são proporcionados eventos (espor vos, religiosos, ar s cos, culturais, dentre outros). Para melhor compreensão do Câmpus Joaquim e colocando-o como um exemplar de como são feitos os planejamentos das edificações da PUC do Chile, serão expostos minuciosas análises da seleção de alguns edi cios presentes no local. Ao início de tais analises temos o conceituado projeto das Torres Siamesas, projetadas pelos arquitetos Alejandro Aravena, Charles Murray, Alfonso Montero e Ricardo Torrejón para a Universidade no ano de 2003, o edi cio é considerado uma das principais referências arquitetônicas em todo o país.

A Contemporaneidade da Paisagem da Puc do Chile

59


[3]: Legenda: 1Odontologia 2- Letras, Filosoa 3-História, Geograa, Ciências Políticas 4- Pedagogia e Berçarios 5- Hall Universitário 6Construção 7E n f e r m a r i a 8 Engenharia Civil 9Ciências Econômicas e Administrativas 10Agronomia e Engenharia Florestal 11- Teologia 12Serviço Social 13Química e Farmácia 14Psicologia 15Sociologia, Antropologia 16- Física, Astronomia 17Matemática 18Nutrição, Cinesiologia, Fonoaudiologia 19Colégio 20- Setor de Esportes 21- Sala Luis Crisosto, voltada ao talento e a inclusão

60

Conforme dados expostos pelos próprios profissionais (archdaily, acessado em junho de 2018) , sua estrutura foi feita em concreto e a obra orçada na época em torno de US$ 700 por metro quadrado. Para o planejamento do projeto, foi pedido pela equipe da faculdade uma torre de vidro que abrangesse tudo o que vesse relacionado aos computadores da universidade. A medida que o projeto se desenvolvia, surgiram problemá cas relacionadas à adequação do vidro solicitado para com as intempéries e condições climá cas picas do local, entretanto controlados com técnicas u lizado para conforto ambiental, como uso de camadas de vidro, ar e fibrocimento unidos à criação de um espaço entre os dois edi cios que se comportasse como uma chaminé perimetral, que através da convecção, liberasse o ar quente. Ao final do projeto, se deparavam com um edi cio que se dividia por dois a par r do sé mo pavimento, uma vez que contavam com uma super cie de apenas 5000 m², construída usando perfis de alumínio de cores diferentes com espessura de dimensões irrelevantes. Conforme dados expostos pelos próprios profissionais (archdaily, acessado em junho de 2018) , sua estrutura foi feita em concreto e a obra orçada na época em torno de US$ 700 por metro quadrado. Para o planejamento do projeto, foi pedido pela equipe da faculdade uma torre de vidro que abrangesse tudo o que vesse relacionado aos computadores da universidade. A medida que o projeto se desenvolvia, surgiram problemá cas relacionadas à adequação do vidro solicitado para com as intempéries e condições climá cas picas do local, entretanto controlados com técnicas u lizado para conforto ambiental, como uso de camadas de vidro, ar e fibrocimento unidos à criação de um espaço entre os dois edi cios que se comportasse como uma chaminé perimetral, que através da convecção, liberasse o ar quente. Ao final do projeto, se deparavam com um edi cio que se dividia por dois a par r do sé mo pavimento, uma vez que contavam com uma super cie de apenas 5000 m², construída usando perfis de alumínio de cores diferentes com espessura de dimensões irrelevantes. O projeto do Centro de Inovação UC, foi projetado pelo arquitetos Alejandro Aravena, Juan Cerda para a Universidade no ano de 2014, o edi cio também é considerado uma das principais referências arquitetônicas em todo o país. Conforme dados expostos pelos próprios arquitetos (archdaily,

Angelina Menesses, Camila Gonçalves e Gustavo Melo


[4]: Torres Siamesas. Alejandro Aravena. Fonte: Cristoban Palma.

acessado em junho de 2018), a ideia do edi cio é um p l a n e j a m e nto d e m o d o q u e o m e s m o s e j a o m a i s contemporâneo possível. Durante a realização do projeto foram colocados planos de vidros recuados, afim de evitar o efeito estufa, tão ocorrido em diversos edi cios presentes em San ago (uma vez que em busca da contemporaneidade, buscam colocar um grande uso de vidros, sem a preocupação de sua funcionalidade ou dos prejuízos relacionados ao conforto ambiental, que poderão ser ocasionados). Para maior eficiência energé ca, propuseram o uso de uma fachada opaca a qual protegia do alto índice de radiação em determinadas épocas do ano. De certa forma nota-se que as obras realizadas pelo Alejandro Aravena para a universidade em questão, possui uma atenção especial para com o conforto em relação ao clima da região. Conforme informações disponibilizados pelo site da Pon cia Universidade Católica do Chile, a Biblioteca central do Câmpus San Joaquin é considerada a maior da PUC Chile, cuja área é determinada em 7.627 metros quadrados. Devido sua importância a edificação foi projetada para receber costumeiramente 2529 usuários por dia. No primeiro pavimento possui balcão de informações, oito salas de estudo com capacidade máxima de oito pessoas. No segundo pavimento é des nado o uso para uma estante de livre acesso, junto a uma central de emprés mos e área de aprendizagens variadas. Áreas des nadas para exibições de novidades também se incluem no paviemento em questão. Na seção de Revistas, há a presença de nove salas de estudo em grupo e dez para estudos individuais. Há o uso de um Centro áudio visual, ambiental o qual dispõe dez salas individuais e nove quartos em grupo. Na seção de coleções especiais tem o uso para coleta de teses e espaço reservados para 3500 livros an gos do século XVI e XIX considerados patrimônios.

[5]: Centro de Inovaçao UC. Fonte: Elemental/ Nina Vidic, Nico Saieh

A Contemporaneidade da Paisagem da Puc do Chile

61


Em meio ao contexto de melhorias e adequação do espaço tanto em todo o Câmpus quanto na edificação em si, foi feita uma ampliação da Biblioteca Central, cujo projeto foi realizado pela arquiteta Cláudia Ponce De Luca. A super cie amapliada foi de 313,2 m² enquanto a remodelada foi de 1810,17 m². Sua construção foi efetuada entre os anos de 2012 e 2013. Conforme dados disponibilizados pela profissional à equipe do Archdaily (acesso em junho de 2018) o projeto de ampliação promove uma total reestruturação da acessibilidade no local, interferindo no uso e circulação, assim promovendo uma maior proximidade com a biblioteca, com a implantação de um novo acesso unificado. Houve um aperfeiçoamento do uso, a par r da criação de um sistema mul mídia, novas texturas e iluminação, conforme as exigências atualizadas.

CAMPUS SAN JOAQUÍN 2000

CAMPUS SAN JOAQUÍN 2005

CAMPUS SAN JOAQUÍN 2010

CAMPUS SAN JOAQUÍN 2018

CONCLUSÃO A par r do que foi analisado no decorrer do texto, foi percep vel que a Pon cia Universidade Católica do Chile é uma das mais importantes ins tuições universitárias da América La na, estando entre as melhores do mundo. Neste trabalho analisamos o campus San Joaquin e todo seu entorno e vimos o quão extensa é a área des nada ao mesmo, sendo o maior de todos os campus da puc chile, possuindo diversos prédios, além de um colégio. Estando localizado no município de Macul, onde a geografia dessa área não só modernizou a infraestrutura ao longo de sua história, mas também modificou todo o bairro que se desenvolveu a sua volta. Falamos um pouco dos prédios existentes na região e demonstramos a localização de cada um dos cursos existentes na área. Com esta análise pode-se perceber que a criação da universidade deu um impulso muito grande a evolução arquitetônica de San ago, através de inúmeras obras de arquitetos renomados como as Torres Siamesas e o Centro de Inovação UC., com isso, fizemos um apanhado acerca das obras arquitetônicas situadas neste campus. Pudemos estudar e nos aprofundar um pouco na arquitetura existente no local e vimos o quanto os arquitetos do países foram influentes e par cipa vos na arquitetura de San Joaquin.

62

Angelina Menesses, Camila Gonçalves e Gustavo Melo


Foi produzida um análise minuciosa acerca das construções de ordem arquitetônica e mostramos a maneira com que foi criada e pensada cada um dos prédios analisados. Em as Torres Siamesas, percebemos um belo exemplo de arquitetura completa ao aliar sustentabilidade e tecnologia. Esta obra foi pensada com a finalidade de combinar a aplicação do vidro em um volume rela vamente hermé co, com perfurações estratégicas e bem estudadas para que houvesse troca de ar com o exterior. Vimos que o proje sta precisou u lizar sua sensibilidade para pensar e criar uma obra que es vesse sujeita e pudesse sobreviver a possíveis terremotos, tais estes que comprometem a região. O próprio autor disse ser essa situação mais preocupante do que a própria força da gravidade, desta maneira foi criada uma obra de máxima estabilidade longitudinal. Na época de sua construção, houveram uma série de crí cas a sua falta de iden dade com o entorno, em que o mesmo respondeu dizendo que “o conceito de iden dade é enganoso e indica uma estreiteza de pensamento, sendo importante a persistência do edi cio no meio em que está inserido”, palavras estas ditas pelo próprio Alejandro Aravena, ao ser ques onado sobre o seu projeto. Ao vermos toda a analise desta construção impactante, foi percep vel que ainda existem obras que não obje vam apenas o impacto visual e a especulação arquitetônica, mas sim que de maneira per nente, economia de meios, precisão e rigor, ainda encontramos resultados em obras de caráter e relevância muito mais duradouros. A segunda obra analisada, também foi idealizada por Alejandro Aravena, de nome Centro de Inovação UC., buscando ser uma incubadora de projetos. A construção é uma espécie de bloco de concreto que procura se mostrar aquém aos modismos da contemporaneidade, principalmente no que refere-se as excessivas construções da modernidade. Onde na contramão das tendências tecnológicas e inovadoras - que acabam quase sempre resultando em edi cios de vidro e aço – o arquiteto propõe o uso do concreto, da herme cidade e do peso para construir a imagem de uma edificação que seguramente transcenderá o tempo. Com a análise destas obras nós pudemos perceber o quanto o Chile e a própria San ago possuem uma arquitetura relevante e de grande qualidade, mostrando-se um celeiro de grandes nomes e ideias originais na América La na. Em que a Pon cia Universidade do Chile mostrou-se um ambiente propício a criação de obras de tamanha magnitude pensadas na dicotomia entre o vidro e o concreto.

A Contemporaneidade da Paisagem da Puc do Chile

63


REFERÊNCIAS VIDAL, Rodrigo, A cidade e seu território através do ordenamento em San ago do Chile. 1997. 33f. Proj. Historia, São Paulo, 1997. GONÇALVES, Alexandre Ribeiro, Emergências La noAmericanas: Arquitetura Contemporânea 1991-2011. 2013.184f Tese de Doutorado - Universidade Federal de Goias, Goiânia, 2013.

64

Angelina Menesses, Camila Gonçalves e Gustavo Melo


RUMO AO MAR: UMA ANÁLISE DA EXPANSÃO TERRITORIAL DE SINGAPURA Autores: 1.Ana Clara CHAVES (accharquitetura@gmail.com) 2.Carolina HILDEBRAND (carol_hildebrand@hotmail.com) 3.Isabela CARVALHO (isamoraiscarvalho@hotmail.com)

RESUMO O objetivo deste ensaio é mostrar como o crescimento de Singapura ao longo dos anos afetou a vida urbana na ilha, já que a cidade estado precisou do aterramento marítimo para obter um crescimento, não se preocupando com as questões ecológicas e como isso afetaria os futuramente. Com início em 1970 o aterramento marítimo ganhou força com o crescimento econômico que a ilha sofreu entre as décadas de 80 e 90, fazendo como que parte do seu território se ampliasse, pois já havia uma ocupação alta e densa no seu terreno original. Iremos mostrar como que estas novas áreas se desenvolveram e se tornavam referências em todo o mundo, contendo grandes atrações turísticas e uma arquitetura exuberante, fazendo com que Singapura se tornasse um sinônimo de cidade global.

PALAVRAS-CHAVE Singapura; Aterramento Marítimo; Marina Bay.

ABSTRACT The purpose of this essay is to show how Singapore's growth over the years has affected urban life on the island, as the state city needed the shore-ground for growth, not worrying about ecological issues and how it would affect the future. Beginning in 1970, the maritime landfill gained strength with the economic growth that the island suffered between the 1980s and 1990s, making part of its territory expand because there was already a high and dense occupation in its original terrain. We will show how these new areas have developed and become references around the world, containing great tourist attractions and exuberant architecture, making Singapore become a synonym for global city.

KEYWORDS Singapore; Land Reclamation; Marina Bay.

65


NOTAS: [1] Aterramento Marítimo: um processo de colocação de terras ou areais onde antes havia mar ou água.

INTRODUÇÃO Singapura expandiu 25% do seu território nos últimos dois séculos- de 58,150 para 71,910 hectares. Este crescimento gradual não seu deu pelo fato de movimentos tectónicos, mas sim por uma invenção humana, uma engenharia conhecida como Aterramento Marítimo[1]. A cidade estado sentiu a necessidade de ampliar o seu território para suportar uma população em crescimento. Neste ensaio iremos explorar estas novas terras, os usos que foram a elas designados, e entender a importância delas para a ilha. Pois estes aterramentos foram palco de exposição para mostrar ao mundo uma nova Singapura, com um design inovador, um urbanismo sinônimo de modernidade e uma arquitetura estonteante, tudo para apresentar a nova cidade global. Iremos focar em um deste aterramentos, uma baía onde estão as principais atrações turísticas e centros comerciais, o novo coração de Singapura, a Marina Bay. Sua construção foi planejada, foi feito um máster plan para garantir sua eficiência, funcionalidade e infraestrutura. Hoje a Marina Bay é palco de grandes eventos culturais e artísticos, fazendo o gosto da cultura

[f.1] Fotografia de Marina Bay mostrando a configuração paisagística do skyline local.

66

turística


OS ATERRAMENTOS MARÍTIMOS DE SINGAPURA Singapura, a cidade-estado[2], é localizada na ponta Sul da Península Malaia, Sudeste Asiático, é composta por 63 ilhas. Mesmo com um território altamente urbanizado, quase metade deste, é coberto por vegetação. No entanto, mais terras estão sendo criadas para abranger o desenvolvimento, isto é feito por meio do aterramento marítimo. A criação de novas áreas por meio da colocação de terras ou areias em locais antes haviam água ou mar, é chamado de

NOTAS: [2] Singapura se torna a grafia correta a partir de 1943. Dessa maneira, é chamada de cidadeestado por cumprir ambos papeis. [3]Paul Konx, (2014, p.241) apresenta uma lista de cidades do mundo e seu ranking de qualidade de vida nas m e s m a s . L o g o , Singapura fica no 25º lugar da lista, uma colocação mediana dadas as 49 cidades analisadas.

aterramento marítimo. O qual é facilmente encontrado em Singapura, onde constantemente novos territórios são criados utilizando esta técnica, já que a área do país era inicialmente pequena. Em contrapartida, esses aterramentos são conhecidos atualmente como ilegais, já que a retirada de terra geralmente agride o Meio Ambiente. A cidade-estado passou por tamanhas mudanças que se tornou irreconhecível quando comparada a pequena ilha de 1965. De acordo com o site Atlas of Urban Expansion, sua estrutura física teve um aumento de 20% desde a sua independência, aumento esse, conquistados através de um dos aterros marítimos mais agressivos do mundo. Em conseqüência, a cidade conquistou, nos últimos anos, um forte crescimento na área de transporte marítimo internacional, centros financeiros, gerando estabilidade política, globalização e um dos melhores IDHs do mundo[3].

67


NOTAS: [1] Escrever o conteúdo aqui

[f.2] Fotografia expondo a situação da costa do Pulau Ubin.

No entanto, o processo de aterramento marítimo vem gerando problemas para a questão ambiental e sustentável do país. Um exemplo disto, foi o veto da Indonésia de exportações de areia para a região, alegando que a extração da mesma causa a extinção de várias espécies da fauna marítima, além da destruição dos recifes de corais e até mesmo o desaparecimento de algumas ilhas. Este fato, contradiz uma forte política que é colocada em prática em todo o território, o governo é restritamente contra a poluição e degradação do ecossistema. É proibido o descarte indevido de resíduos sólidos e desmatamento. Além de valorizarem muito áreas verdes e de preservação, obrigando que a arquitetura se mantenha sempre inovada para ser sustentável.

[f.3]e[f.4] Outras fotografias do Pulau Ubin. Tiradas por Jimmytst, um internauta. Para ele, o depósito inapropriado de resíduos na parte costeira, é resultado da cultura consumista e materialista da sociedade urbanística local.

A industrialização de Singapura (em termos de desenvolvimento costeiro) e projetos de aterramentos marítimos resultaram na perda de habitats marinhos ao longo da costa da cidade-estado. A maioria da costa sul do país foi alterada através do processo de recuperação de terras, assim como grandes áreas da costa nordeste. Muitas ilhas ao longo foram alteradas, muitas vezes através do enchimento de águas entre pequenas ilhas, a fim de criar massas de terra coesas. Esse desenvolvimento levou à perda de 95% dos mangues de Singapura.

68


Indústria Residencial Infraestrutura Área de Reserva Espaço livre Uso especial

Aterramento marítimo anos 80 Aterramento marítimo anos 90

[f.5] Mapa da expansão territorial pelo aterramento marítimo, entre as décadas de 80 e 90.

Devido à escassez de espaços territoriais, e o crescente desenvolvimento, a introdução de novas áreas é de suma

[f.6] Mapa de uso do solo da expansão por aterramento marítimo.

importância, uma vez que, cada vez mais novas industrias se inserem no país. É possível notar os novos aterros [f.5] e os usos destinados aos mesmos

[f.6]

nos mapas. Essas novas áreas

também foram exploradas de uma maneira que representassem uma nova Singapura, um país que a partir da sua independência se mostrou revolucionário e pronto para participar da economia e turismo mundial. Dentre esses aterros, um bastante conhecido mundialmente é o chamado Marina Bay, o qual trata-se de um complexo com parques e hotéis reconhecidos mundialmente, que com uma arquitetura arrojada e atrativos singulares, desperta o desejo de turistas do mundo inteiro. Um local que no passado era inexistente, hoje, é referência de modernidade e inovação urbanística e arquitetônica. Portanto, apesar das dificuldades advindas de críticas ao método de

[f.7] Fotografia aérea de uma das baías criadas a partir de aterramento marítimo.

crescimento territorial do país, o sucesso é incontestável, de forma q u e o govern o s e mantem confiante de que até 2030 o território suporte toda a demanda de população, além de fortalecer mais sua economia. Logo, assim se espera que Singapura se mantenha sempre um pais inovador e estabilizado.

69


[f.9] Croqui para demonstração do skyline de Marina Bay.

A Marina Bay cresceu aceleradamente nos últimos anos. Hoje, ela é uma das regiões mais badaladas e luxuosas da cidade e possui muitas atrações turísticas, contendo a maior parte dos novos ícones arquitetônicos de Singapura, como o Marina bay Sands, Helix Bridge, Gardens By The Bay, entre outros. Além disso, ela também contém a Marina Barrage, que represou o Singapore River e formou um grande reservatório de água doce para a cidade. A região da Marina Bay foi planejada para ser uma área que favoreça e prioriza os pedestres, com uma rede pedonal abrangente. Os locais caminháveis foram feitos acima do nível e em níveis subterrâneos, fornecendo uma série de espaços abertos, jardins e avenidas, fazendo com que valorize a terra e os desenvolvimentos em torno deles. Além disso, foi elaborado e executado um plano mestre da paisagem que contem árvores, plantas, cores e fragrâncias diferentes, para criar ambientes agradáveis, como também espaços verdes públicos para a população. A ideia foi integrar os espaços com a ajuda de belos jardins, que conectam os ambientes com o exterior. Também foram acrescidos elementos de proteção e estética remetendo às formas e movimentos do mundo natural.

70

[f.10] Imagem de Marina Bay, focalizada no complexo Marina Bay Sands.


MARINA BAY E A CIDADE GENÉRICA Marina Bay é uma baía localizada na área central de Singapura, rodeada por outras quatro áreas planejadas: Downtown Core, Marina East, Marina South e Straits View. Ela foi criada para ser o novo centro importante de Singapura e também foi vislumbrada para ser um cenário à beira-mar para eventos públicos e celebrações nacionais, contando com um centro financeiro, espaço cívico e jardins situados dentro de seus limites. A formação da mesma se deu na década de 70, quando foi aterrada uma grande parte da sua área. Durante o aterramento, o rio Singapore River foi redirecionado para desaguar dentro da baía e não diretamente no mar. Para o desenvolvimento da área, a URA (Urban Redevelopment Authority) de Singapura, fez o “Master Plan”. Ao planejar essa nova área, eles adotaram algumas medidas de usos do solo, como: Criaram áreas de atividades para recreação e lazer através de usos mistos, misturando empreendimentos antigos e novos, incentivando a parceria entre o público e privado. Esse tipo de desenvolvimento de uso misto atrairia as pessoas para a área em diferentes momentos do dia. URA também criou diretrizes para quiosques, nos locais ao ar livre, para que essas áreas também permanecessem vividas. [f.8] Mapa focalizado na Marina Bay. Localizando, pontos de transporte, Marina Bay Sands e Garden by the Bay.

Marina Bay

Marina Bay Sands

Garden by the Bay

Pontos de Onibûs Paradas de Metrô

71


A arquitetura local, é marcada por ser contemporânea, luxuosa e possuir muita tecnologia, arranha-céus, vegetação e espaços públicos verdes, priorizando a sustentabilidade para que se diminua os danos a natureza. Uma variedade de obras-primas arquitetônicas estão localizadas na área da Marina Bay, como o Marina Bay Sands, e o Gardem By The Bay, preenchido com mais de 100 hectares de vegetação florescente e estruturas únicas, como o bosque de super árvore. [f.11] Foto retirada no Garden by the Bay.

O Marina Bay Sands, é um exemplo do estilo arquitetônico que encontramos no lugar. Projetado pelo arquiteto israelense Moshe Safdie, o complexo é formado por três torres, nas quais possuem uma geometria inclinada, que acomodam um luxuoso resort, discotecas, museu, centro de convenções, shopping, teatros, restaurantes e cassino, tudo coberto pelo Sands SkyPark , um parque de três hectares no topo do edifício com piscinas, jardins e pistas de jogging , no qual possui um design curvado , sendo a maior plataforma em balanço do mundo. Assim como a maior parte da Marina Bay, sua arquitetura contemporânea é tecnológica e sustentável. Possui duzentos e sete metros de altura, ou cinquenta e cinco andares, onde estão espalhados os quase duzentos e cinquenta mil metros quadrados de área, somente referentes ao hotel. 72


[f.12] Foto do terraço do Hotel Marina Bay Sands, mostrando um ponto turístico conhecido mundialmente, uma das maiores piscinas do mundo.

A criação dessa área contribuiu para que Singapura obtivesse uma visibilidade maior, e assim, gerou um fluxo maior de pessoas. Porém, apesar dos benefícios e da visibilidade que ela gerou, também houve uma perda de identidade da cidade, pois ela se tornou uma cidade global, e com isso, novas culturas vão se inserindo, fazendo com que perca sua originalidade, e também adotando um modelo ideal de arquitetura de luxo, incentivando a segregação. Transformando assim, Singapura em uma

cidade genérica. A cidade genérica é a cidade liberada do cativeiro do centro, espartilho da identidade. A cidade genérica rompe com esse ciclo destrutivo da dependência: não é mais que um reflexo da necessidade atual e capacidade atual. É a cidade sem história. É suficientemente grande para todos. É fácil. Não necessita manutenção. Se está muito pequena, simplesmente se expande. Se está muito velha, simplesmente se autodestroi e se renova. É igualmente emocionante - ou pouco emocionante em todas as partes. É ''superficial'': igual a um estúdio de Hollywood, pode produzir uma nova identidade a cada segunda-feira de manhã. (KOOLHAAS, 1995, p. 6)

73


CONCLUSÃO Concluímos que os aterros marítimos de Singapura se fazem necessários, pois pela geografia da ilha não há outra opção para suportar o tamanho da população hoje e a cidade estado precisa de algum modo crescer territorialmente. Logo, a opção mais viável no sentido ambiental seria a importação legal de terras e a existência de uma política que se preocupa com a fauna e flora marítima. Fazendo que estes aterramentos tenham a essência que Singapura prega para o mundo. Como estes novos aterros foram palcos pra a exposição de uma nova Singapura, a Marina Bay foi o maior exemplo desse espetáculo. Foi criada para ser o novo downtown do país, aonde estão localizados os maiores arranhas céus de arquitetura esplendosa, parques e áreas verdes mesclados com a tecnologia sustentável. A Marina Bay é um local que se conecta com toda a cidade, fazendo com que esta baia seja o novo centro econômico de Singapura. Certamente o objetivo do seu máster plan foi atingido, mas contou com uma perda da identidade local, se tornando um lugar extremamente turístico e capitalista.

REFERÊNCIAS SUBRAMANIAN, Samanth, How Singapore Is Creating More Land for Itself. 2017.Disponivel em: https://www.nytimes.com /2017/04/20/magazi ne/how-singapore-is-creating-more-landfor-itself.html SENG, Lim Tin. Land From Sand: Singapore's Reclamation Story. 2017.Disponível em: http://www.nlb.gov.sg/biblioasia /2017/04/04 /land-from-sand-singapores-reclamationstory/#sthash.PqqCYh An.dpbs Acesso em : 11 jun.2018 HENDERSON, Barney. Singapore accused of launching 'Sand Wars'. 2010.Disponível em: https://www.telegraph.co.uk/news /worldnews /asia/singapore/7221987/Singapore-accused-oflaunching-Sand-Wars.html Urban Redevelopment Authority. Marina Bay Garden City by the Bay. 2012. Disponivel em: https://www.ura.gov.sg//media/Corporate /Singapore -City-Gallery/Worksheets/ Marina-Bay-Gardens-by-the-Bay.pdf. Acesso em: 11 jun.2018 REUTERS,Edgar Su. Singapura estica-se (ou quando a terra come o mar). 2015.Disponível em: https://www.publico.pt /2015/11/25/fotogaleria/o-desenvolvimento-insustentavel-desingapura-355665. Acesso em: 11 jun.2018 KNOX, P. L. Atlas das cidades. Editora Senac, 2016. KOOLHAAS, R; MAU, B. S, M, L, XL. Monaceli Press, 1995.

74


RUMO AO CÉU: MIRAGENS ARQUITETÔNICAS DE DUBAI 1.Fernanda CARRIJO (nandaguicarrijo@hotmail.com) 2.Mayana PINHEIRO (mayana.pinheiro@hotmail.com) 3.Silvana FAGUNDES (fagundesm.silvana@gmail.com) 4.Yasmin DEBS (yasmin_debs@hotmail.com)

RESUMO Neste ar go buscamos analisar os contrastes entre o luxo e a pobreza da cidade de Dubai, nos Emirados Árabes. Através da análise das grandes obras de Dubai (a exemplo da Palm Jumeirah, do Burj Khalifah, Burj Al Arab) demonstraremos como essas grandes miragens de Dubai foram tomando forma através de um cenário de extrema pobreza e de grandes dificuldades climá cas. Mostraremos que Dubai é uma grande cidade do espetáculo, que cresce rumo ao céu porém é feita para a elite e fragmentada socialmente e visualmente - se tornando um mero somatório de edi cios dispersos com uma imagem sedutora.

PALAVRAS-CHAVE Segregação Social; Marke ng; Modelo Dubai; Cidade do Espetáculo; Miragens.


INTRODUÇÃO É neste contexto de cidade espetacular, de grandes e incríveis edi cios que surge o interesse pelo estudo do Dubai nos Emirados Árabes, cidade que, de duas décadas para hoje, passou de uma pequena vila a um dos principais des nos turís cos mundiais. O que obje vamos mostrar é, como se formaram essas miragens em meio a um cenário desér co e, ao mesmo tempo, a custas de que a cidade se sustenta e como se deu esse processo. Famosa, em grande parte, pelos vários recordes do Guiness conquistados, pelo luxo e pela extrema exuberância e exagero o interesse pela cidade de Dubai reside especialmente no modo como esta se serve da exuberância da arquitetura e planejamento urbano como a sua principal estratégia de desenvolvimento e forma de promoção. Trata-se de um modelo de cidade que aparenta viver sobretudo à custa da manutenção de uma imagem peculiar e do midia smo gerado pelos seus edi cios e experiências. Um modelo urbano onde a importância concedida à imagem parece ser mais importante do que, de fato, a forma com que as pessoas vivem e se deslocam e entendem a paisagem urbana. Trata-se de um estudo sobre a crescente importância que a imagem adquire no pensamento e construção das cidades contemporâneas e, consequentemente, da forma como a arquitetura parece ter vindo a reduzir-se gradualmente a um mero processo de marke ng na promoção da cidade. Consequentemente, o que se observa é que por de trás dessa imagem man da pela cidade há milhares de trabalhadores vivendo em condições subumanas para sustentar toda a grandeza da cidade. Essa realidade, não mostrada nas revistas e sites por não se encaixar no belo cenário de miragens da cidade, será também vista neste ar go.

Nome do estudante: Fernanda Carrijo, Mayana Pinheiro, Silvana Fagundes, Yamin Debs

75


O INÍCIO DA EXPANSÃO RUMO AO CÉU E DAS MIRAGENS Pode-se dizer que o início da exportação de petróleo foi um dos marcos na história de Dubai pois seria a par r de então que o Emirado em questão consolidaria sua posição como um dos maiores des nos turís cos e financeiros do mundo. Afinal, com a a descoberta do minério a população viria a ter uma melhora significa va em suas vidas (moradia, transporte, acesso a serviços básicos). No cenário global atual, Dubai, com sua arquitetura exuberante e chama vas, extremamente bem arquitetadas se tornou umas das cidades mais urbanizadas da Terra. Sua população, em decorrência disso, foi de 500 mil habitantes para 2,3 milhões em 25 anos. Como consequência desse desenvolvimento vieram os primeiros planos urbanos da cidade, que visavam resolver problemas como distribuição de água e, também, ordenar e organizar seu crescimento em setores.Com isso, as miragens foram criando forma e se tornando alvo de olhares e no cias. Focando agora nas análises urbanas, trata-se, portanto, de tentar perceber não só como se constrói e organiza a cidade, tanto na sua forma como no seu espaço de vivência mas como, em poucos anos surgiu essa imensa miragem cheia de culturas diversas, edi cios monumentais e pessoas do mais diferentes locais no meio de um deserto.

[f.1]

76

Título do trabalho: Rumo ao Céu: Miragens Arquitetônicas de Dubai

LEGENDAS: [f.1] A foto demonstra espaços isolados presentes no desenho urbano de Dubai.


Começando pelo Burj Al Arab, o primeiro hotel sete estrelas de Dubai, podemos começar uma análise das grandiosidades exacerbadas de Dubai. O hotel, que já chama atenção por ter formato de uma vela de um barco e ter sido construído sobre uma ilha ar ficial de quase 300 metros, foi, após sua autoproclamação como primeiro hotel 7 estrelas, que o edi cio se tornou o mais luxuoso do mundo. Com isso, pode-se dizer que o edi cio tem o obje vo principal de impressionar e a forma com que ele se relaciona com o contexto ao seu redor pouco importou na hora de sua construção- ele possui uma fachada a sul totalmente envidraçada- em pleno deserto (temperaturas medias de 40 graus com sol o ano todo).

LEGENDAS: [f.2] Burj Al Arab, um grande símbolo da Dubai Moderna.

[f.2]

77

Nome do estudante: Fernanda Carrijo, Mayana Pinheiro, Silvana Fagundes, Yamin Debs


Como segundo objeto de análise vem a Palm Jumeirah, uma gigante ilha ar ficial que foi construída com o formato de uma palmeira de 16 folhas e com mais de 12 km de recife ar ficial que obje va proteger a ilha do desgaste causado pela mare do mar. Contudo, se perguntarmos a qualquer um que nunca foi a Dubai qual a imagem que lhes vem a cabeça quando se pensa na cidade, a maior parte respondera, sem dúvidas “a ilha com forma de palmeira” – o que comprava o argumento de que o que torna este empreendimento ato famoso e midiá co e seu formato. Contudo, mais uma vez, se olharmos de perto e analisarmos veremos que a ilha não passa de uma forma de promoção da cidades para os turistas e estrangeiros- para se construir tem-se um catalogo com apenas alguns poucos modelos de casa, que não podem ser personalizadas. Isto e, ter uma casa na famosa Palm Jumeirah, serve muito mais para o luxo e pelo marke ng do que para o conforto e iden dade dos moradores.

LEGENDAS: [f.3] Palm Jumeirah, ilha articial presente em Dubai.

[f.3]

Temos que citar o emblemá co Burj Khalifa- um dos mais famosos pontos turís cos da cidade que impressiona por sua altura. O edi cio impressiona por sua entrada rodeada de

Título do trabalho: Rumo ao Céu: Miragens Arquitetônicas de Dubai

78


espaços comerciais, nos quais pode-se adquirir todo o po de produto relacionado ao edi cio. Fica evidente, neste caso, que ao invés de se comprar um produto, compra-se a experiencia de se estar no Burj Khalifa- mais uma vez, o que observamos e que a imagem passada vale mais do que de fato a realidade do edi cio.

Foi, contudo, através dessa rápida expansão que a cidade acabou se fragmentando e se tornando desconexa e complexa. O todo começou a ser visto como pequenos espaços isolados e, ao mesmo tempo, autônomos sem nenhuma relação com o resto da cidade. Ir de um ponto a outro nunca pareceu tão di cil como em Dubai.

LEGENDAS: [f.4] Burj Khalifa, maior edifício do mundo.

[f.4]

79

Nome do estudante: Fernanda Carrijo, Mayana Pinheiro, Silvana Fagundes, Yamin Debs


AS CALAMIDADES Contudo, tudo tem seu preço e, em geral, uma miragem é famosa por decepcionar seus viajantes. Ao analisarmos mais profundamente a cidade de Dubai observa-se que ao lado das grandes e belas miragens que tanto nos chamam atenção estão milhares de trabalhadores estrangeiros (em geral da Índia e da China) que se submetem a regimes de escravidão em busca de uma vida melhor longe de seus países. Os trabalhadores têm seus passaportes confiscados ainda no aeroporto e os empregadores ficam meses sem pagar os salários e as condições de moradia são extremamente precárias – quartos apertados com banheiros sujos e pouca comida, como podemos ver a seguir:

LEGENDAS: [f.5] A outra realidade de Dubai, a foto mostra ambientes de trabalho precários.

[f.5]

Título do trabalho: Rumo ao Céu: Miragens Arquitetônicas de Dubai

80


[f.6]

Urbanis camente falando, pode-se dizer, analisando tais fotos e contexto, que o “Modelo Dubai” se trata, na realidade de um modelo de exclusão: no qual se divide o espaço e a população em dois, os fantás cos, que é onde se encontra a imagem que nos é transmi da pela mídia, que é des nada a uma elite minoritária economicamente bastante favorecida e os não tão fantás cos, que ficam afastados do circuito turís co, onde, ironicamente, se encontra a maioria esmagadora da população da cidade. Por outro lado, além disso, Dubai possui um código de conduta que controla o modo de ves r e de falar das pessoas, palavrões e LEGENDAS: [f.6] A imagem mostra as condições desumanas de moradia de alguns dos trabalhadores de Dubai.

gestos vulgares são ilegais, além de bloquear conteúdos que negam a moral e a é ca dos Emirados Árabes Unidos. Não é novidade que a comunidade LGBT e as pessoas que não seguem a risca todas as regras não são bem vistas na cidade, pelos habitantes locais. O preconceito e a forma de se ver a tudes que, para a cultura local, são consideradas inapropriadas, acabam por tornar a cidade que aos olhos do mundo é “perfeita” um tanto inadequada e não tão agradável de se morar. É apenas mais um caso de realidade x o que é mostrado pela mídia. Sendo assim, o que observa-se, de fato, é a ver calização dos edi cios, que crescem cada vez mais em prol de uma minoria muito rica e bem sucedida em oposição à horizontalização de uma maioria que vive em condições de extrema pobreza e com problemas em relação as necessidades básicas.

81

Nome do estudante: Fernanda Carrijo, Mayana Pinheiro, Silvana Fagundes, Yamin Debs


CONCLUSÃO: O céu tem se mostrado, de fato, infinito para Dubai. Suas grandes obras, em meio a um cenário de pobreza e extremas restrições climá cas surpreendem a qualquer um. Os grandes prédios, espelhados, com abundância de ouro, ilhas ar ficiais e beleza extrema são de chamar a atenção. Contudo, Rem Koolhas em seu livro “Generic City” ques ona o fato de as cidades contemporâneas terem se tornado iguais umas as outras, isto é, genéricas. Nas quais o aeroporto é o centro de todas as relações e os arranha-céus são a solução de todos os problemas. Aplicando tais conceitos a Dubai, o que observamos após o estudo, foi a inexistência de uma iden dade local, na qual cada fragmento da cidade funciona de uma forma e possui determinada autonomia. Dubai parece ter sido engolida pelos prédios, que crescem cada dia mais rumo ao céu, onde habitam os mais ricos e poderosos turistas, viajantes ou milionários locais. E os trabalhadores que construíram tais prédios? E a comida que lhes é servida nos restaurantes com vista 360 graus para o cenário desér co? A estes lhes restam a periferia (que vale ressaltar, é onde fica a maior parte do território). Irônico que a terra (que possui valor agregado) pertença ao povo e o ar (que é grá s) seja de grande e abusivo valor. Sendo assim, o que fica evidente é o quanto Dubai impressiona pelas suas lindas e chama vas miragens de milhares de metros acima do chão enquanto na realidade, o que se encontra não são águas em meio ao deserto e sim a decepção de centenas e centenas de trabalhadores em situações precárias trabalhando para manter o luxo de uma minoria que possui muito dinheiro e domina as grandes miragens. O que observa-se, de fato, é a ver calização dos edi cios, que crescem cada vez rumo ao céu em prol de uma minoria muito rica e bem-sucedida em oposição à horizontalização de uma maioria que vive em condições de extrema pobreza e com problemas em relação as necessidades básicas.

Título do trabalho: Rumo ao Céu: Miragens Arquitetônicas de Dubai

82


REFERÊNCIAS: ELSHESHTAWY ,Yasser. Dubai: Behind an Urban Spectacle. New York: Routledge, 2010; p. 62
 KOOLHAS, Rem. Generic City. New York,1998 URBAN HUB.Disponível em: <h p://www.urban-hub.com/ptbr/buildings/dubai-o-icone-do-oriente-medio-que-nao-para-decrescer/> Acesso em: 15 de junho de 2018 GREEN ME.Disponível em: <h ps://greenme.com.br/viver/costumee-sociedade/1160-a-dubai-que-voce-nunca-imaginou-miseria-epobreza-na-cidade-do-luxo/> Acesso em:14 de junho de 2018 GARROCHINHO,Antonio. Disponível em: <h ps://desenvolturasedesecatos.blogspot.com/2017/01/dubaionde-nem-tudo-são-flores.html> Acesso em 14 de junho de 2018 DABUNS. Disponível em: <h ps://dabunjr.wordpress.com/2017/01/04/8-coisas-assustadorasque-nunca-te-contaram-sobre-dubai> Acesso em 15 de junho de 2018

83


PORTO MADERO:A PÉROLA NEGRA SUL-AMERICANA Autores: 1.Aline Ferreira URZEDO(aline.urzedo95@gmail.com) 2.Bruno Moreira MARQUES(brunomarq.arq@gmail.com) 3.Monica Costa DE MEDEIROS(monicacostamedeiros@gmail.com)

RESUMO Esta é uma publicação que têm como obje vo analisar a cidade de Buenos Aires, dando ênfase especificamente ao bairro Puerto Madero, par ndo do estudo feito sobre as diferenças urbanís cas e sociais advindas de seu contexto histórico quando comparado com o restante da cidade de Buenos Aires. Buscamos, através desta análise, estudar aspectos sicos, urbanís cos e sociais e compreender a sua influência na criação do Porto Madero presente hoje, com o obje vo de entender o mo vo do mesmo ter se tornado um dos casos mais claros de ocorrência de gentrificação do espaço urbano, um grande aspecto da desigualdade social da América do Sul, apesar de inicialmente ter sido concebido como uma área desvalorizada criada para a vidades da classe trabalhadora.

PALAVRAS-CHAVE Urbanismo; Gentrificação; Desigualdade social.

ABSTRACT This publica on is aimed at analyzing the city of Buenos Aires, focusing specifically on the Puerto Madero neighborhood, based on the study of the urban and social differences arising from its historical context when compared to the rest of the city of Buenos Aires. Through this analysis, we seek to study physical, urban and social aspects and to understand their influence in the crea on of the Porto Madero of today, in order to understand the reason for it to have become one of the clearest cases of occurrence of gentrifica on of urban space, one of the largest factor in social inequality in South America, although ini ally it was conceived as a devalued area created for ac vi es of the working class.

KEYWORDS Urbanism; Gentrifica on; Social Inequality.

85


O Porto Obsoleto O Porto Madero, previamente a área portuária e cargueira de Buenos Aires durante o século XIX, atualmente se assemelha a uma pérola: seus armazéns, navios cargueiros, docas monolí cas e equipamento de carga e descarga u lizados durante a época em que o mesmo era o porto principal de Buenos Aires foram subs tuídos por casas e prédios projetados por arquitetos famosos, hotéis tão luxuosos que são dignos de qualquer magnata internacional, iates tão bem polidos que se pergunta se são usados ou se são somente símbolos de poder, como uma ostra, que encobre parasitas e substâncias que considera sujas em nácar, tornando-as pérolas belas com alto valor monetário, mas que obje vamente, são imperfeições que têm valor somente por sua beleza exterior, os arquitetos e urbanistas responsáveis pelo projeto do Madero o cercaram de edificações de luxo para barrar, excluir o restante da cidade. Enquanto para a elite, o novo Porto Madero se assemelha a um paraíso na Terra, não é necessário muito estudo para se perceber que a sua renovação causou uma grande alienação do público original do Porto Madero, que foi afastado da área, não fisicamente, mas socialmente, através da gentrificação causada pelo novo projeto urbano do porto além da instalação de equipamentos e áreas comerciais que simplesmente não podem ser usadas por eles, por serem des nadas a pessoas com um poder aquisi vo assustadoramente maior do que o deles. Porto Madero já leva duas décadas tentando integrar-se a cidade. No entanto, algumas decisões sustentadas ao tempo fazem pairar algumas nebulosidades. Parte da enorme renda excedente gerada pela operação jamais foi direcionada para o melhoramento de outras zonas, como ao sul da cidade. Além disso, a ausência de programas de habitação social em seu interior manifesta certo desprezo à diversidade do conjunto. Neste sen do, através do crescimento acelerado de um assentamento informal instalado em seu meio, a cidade tem se ocupado de pagar as contas da omissa mistura social. - TELLA, Guillermo, Revista de Arquitetura N. 237, Sociedade Central de Arquitetos, julho (p. 60-68), traduzido por BRITTO, Fernanda

Apesar do projeto original de renovação do Porto Madero visar não somente a revitalização do porto, mas também sua reintegração à malha original de Buenos Aires, na realidade o mesmo simplesmente se deslocou de um extremo polar para o outro, inicialmente uma área de vazio econômico, ele se tornou o oposto, um foco de concentração econômica.

O Porto Obsoleto De acordo com o site do governo de Buenos Aires(Autor desconhecido) Porto Madero é um bairro de Buenos Aires, a capital da Argen na, que surgiu inicialmente como a área

86

Aline Urzedo Bruno Marques Monica Costa


portuária da cidade, em 1898, e u lizava de seu canal natural entre a área con nental e uma das ilhas da costa onde o rio Prata deságua para facilitar a carga e descarga de navios de comércio internacional. Infelizmente, após meros dez anos, o comércio internacional havia tomado proporções muito grandes para ser realizado no canal do Madero e o mesmo foi desa vado assim que a cidade inaugurou um novo porto que conseguia acomodar as novas e maiores embarcações da época. Segundo Haroldo Castro(CASTRO, Haroldo, 2014)após sua desa vação com a a vação do porto novo, o Porto Madero teve seu uso drama camente reduzido a ponto de eventualmente se tornar um grande vazio urbano, desprovido de funções, segurança e vida, o que durou quase 70 anos, durante os quais diversas propostas de reurbanização da área do porto foram feitas e rejeitadas repe das vezes pelo fato da legislação vigente no porto ser conflitante. Depois de décadas de desuso, em 1989, a legislação foi transferida completamente para uma empresa que nha como obje vo a reurbanização do local, finalmente permi ndo a reintegração do Porto Madero à cidade de Buenos Aires. O novo projeto urbanís co do Porto Madero além de sua localização, a baía de Buenos Aires, chamou a atenção de muitos ar stas e inves dores internacionais para o mesmo, ao ponto de que logo depois das primeiras quadras terem ficado prontas para se construir, diversos arquitetos de renome como Norman Foster e Calatrava, além de empresas internacionais revelaram planos para edificações e obras de arte no novo Madero, colocando em movimento um processo de gentrificação severa que tornou o bairro extremamente exclusivo. Galeria de Ilustrações produzidas por Monica Costa.

Porto Madero: A pérola negra Sul-americana

87


88

Aline Urzedo Bruno Marques Monica Costa


[f.1] Foto de satĂŠlite do encontro entre Buenos Aires e o Porto Madero, Google Eearth 2018

Porto Madero Puente de La Mujer Casa Roasada, a cede de governo de Buenos Aires

Porto Madero: A pĂŠrola negra Sulamericana

89


[f.2] Foto de Buenos Aires, WordPress , 2012

O Conflito Portuário A cidade de Buenos Aires é caracterizada, de maneira geral, por sua influência europeia, mais especificamente espanhola. Há uma mul tude de edi cios do período colonial espalhados pela cidade que, com seus finos detalhes e proporções monumentais fazem com que os es los arquitetônicos caracterís cos da cidade sejam o Neoclássico e o Neogó co até hoje. Estes edi cios, embora tenham do seus usos subs tuídos com o tempo e suas edificações restauradas, eles ainda estabelecem Buenos Aires em sua iden dade como cidade histórica e apesar de haver a presença de edi cios mais novos, de es los como o Art Déco e o Moderno, a cidade ainda apresenta muitos mais traços de sua inspiração em cidades históricas europeias, principalmente Barcelona. O resultado é uma bela combinação de es los arquitetônicos e culturas, uma verdadeira celebração da cultura sul-americana e europeia.

90

Aline Urzedo Bruno Marques Monica Costa


[f.3] Análise do traçado de Buenos Aires, produzida por Monica Costa.

Quando se trata de seu desenho urbano, notamos que Buenos Aires segue uma malha viária rigorosamente regular, que se altera somente por causa de fatores sicos inalteráveis, como aspectos topográficos, sua malha urbana se assemelha a um tabuleiro de xadrez, com seus milhares de bairros quase perfeitamente quadriculados. Quanto às edificações da cidade, Buenos Aires, por se tratar do centro de uma área metropolitana, apresenta uma densidade alta, mas curiosamente, apresenta edi cios com alturas bem semelhantes em sua maioria, então, apesar de exceções como os arranha-céus envidraçados comerciais, temos uma skyline rela vamente consistente. O perfil da cidade então consiste em edi cios de es los variados, mas com um destaque para os de es los coloniais advindos do contexto histórico da cidade, de alturas semelhantes, bairros altamente adensados com ocasionais parques, e uma malha urbana que se desenvolve em forma regular quadrada, resultando em um tecido regular e rugoso.

[f.4]Skyline de Buenos Aires, produzida por Monica Costa

Porto Madero: A pérola negra Sulamericana

91


Nota: o metro quadrado do Porto Madero é o mais caro de todo o território sulamericano.

[f.5] foto do Porto Madero, RUPP, Walter, 2011.

92

Já o Porto Madero, o enfoque de nossa análise, apresenta grandes diferenças e incompa bilidades com o restante da cidade de Buenos Aires. Se observarmos as imagens que selecionamos para podermos realizar o estudo das áreas do Porto Madero e da Cidade de Buenos Aires, notamos que o porto apresenta uma malha urbana mais irregular, se comparada com a da cidade em comparação com o traçado regular da cidade de Buenos Aires, o Madero apresenta um traçado mais variado, que apresenta uma mistura de formas regulares e orgânicas. O Porto Madero apresenta lotes maiores, com espaçamentos mais generosos entre eles, o que tornam as suas quadras mais abertas, o que resulta em um tecido urbano bem mais aberto e rugoso do que se observa na cidade. Apresenta também reserva ecológica Costanera Sur, que é uma das maiores áreas verdes de Buenos Aires e que é o local onde está presente a maior parte da biodiversidade da região.

Em relação ao tecido de edificações, o Porto Madero apresenta uma caracterís ca heterogeneidade, com altas torres envidraçadas com uma quan dade similar de torres e fitas, porém se forem comparadas com as edificações presentes na cidade, notamos que as torres no Porto são, em geral, muito mais altas. Podemos notar este diferencial quando comparamos o Skyline da cidade de Buenos Aires, que está sendo representado na figura 4 (F.4), e o o Skyline do Porto Madero, que está sendo representada na figura6 (F.6, próxima página) que foram feitos pela Monica Costa para podermos analisar ambos os padrões de edificação. O Traçado viário do Porto Madero não apresentam tal regularidade que está presente na cidade, conseguimos observar claramente que as ruas na cidade são em sua maioria paralelas e Aline Urzedo Bruno Marques Monica Costa


criam quadras regulares quadradas, já no Porto Madero, com relação ao traçado viário, notamos uma heterogeneidade em sua composição, em contraste com a regularidade do traçado da cidade, já que apresentam uma combinação de formas orgânicas e regulares. Segundo Francesc Muñoz, em seu livro ‘Urbanalización’ (2008), a urbanização faz com que a cidade perca sua iden dade. Isso se da devido ao fato de que para poder ser vista de forma destacada, economicamente falando, as cidades se adaptam ao consumo, pois assim a cidade acaba por se tornar um produto, uma mercadoria. Esta situação é claramente o que ocorreu no processo de urbanização do Porto Madero, pois ele fora reprogramado para dedicar-se ao comércio e ao turismo e ignorou seu histórico e bagagem cultural.

A pérola negra

[f.6] Skyline do Porto Madero produzida por Monica Costa.

Após nossas análises sobre ambos a cidade de Buenos Aires e o Porto Madero, podemos concluir que o Madero não é condizente com o restante da cidade, socialmente, economicamente ou urbanis camente. Sua malha urbana, suas edificações e seu público alvo são completamente diferentes do restante da cidade, mesmo quando analisamos especificamente os bairros de seus arredores. Enquanto Buenos Aires exibe um es lo caracterís co advindo de seu contexto histórico e da bagagem cultural Argen na, o Porto Madero adota um es lo completamente conflitante com o restante da cidade, simplesmente para se parecer com um es lo ‘internacional’. Ao invés de se integrar com o restante da cidade, criando uma modernização do es lo presente em Buenos Aires, o Porto Madero se contentou em se pros tuir aos interesses internacionais, se isolando do resto da cidade e se cercando, como uma pérola, de um material com uma beleza caracterís ca, mas que não têm substância, que é belo e valioso simplesmente por ter um valor estabelecido de maneira arbitrária, por pessoas que não compreendem ou ignoram suas insuficiências.

Porto Madero: A pérola negra Sulamericana

93


Referências -CASTRO, Haroldo, 2014 -Google Earth, 2018. -MUÑOZ, Francesc, 2008 Urbanalizacion. -RUPP, Walter 2011 -Site do governo de Buenos Aires -TELLA, Guillermo, Revista de Arquitetura N. 237, Sociedade Central de Arquitetos. -Wordpress 2012

Sites Ar go por Haroldo Castro h ps://epoca.globo.com/colunas-eblogs/viajologia/no cia/2014/11/bpuerto-maderob-umprojeto-obsoleto-que-deu-certo-100-anos-depois.html Ar go sobre o Porto Madero, do site governamental de Buenos Aires h p://www.buenosaires.gob.ar/laciudad/barrios/puertomadero Fotos do WordPress h ps://estudiantedeund.wordpress.com/2012/05/30/my-firstdays-in-buenos-aires/100_2172/ Google Earth h ps://www.google.com.br/intl/pt-BR/earth/ Site do Arquiteto Walter Rupp h p://walterrupp.blogspot.com/2011/08/puerto-madero.html

94

Aline Urzedo Bruno Marques Monica Costa


A CIDADE DE MADRI E AS FACES DA ARQUITETURA DE GRIFE Autores: 1.Layane Arruda VASCONCELOS (layane_vasconcelos@hotmail.com) 2.Marcela Ba sta ABREU (maabreuarquitetura@gmail.com) 3.Nathália Mar ns FIORAVANTE (nathaliafioravante@outlook.com) 4.Yanka Gonçalves MEDEIROS (yanka_gm@hotmail.com)

RESUMO ” Nesse trabalho analisamos a cidade de Madri e os aspectos do City Marke ng existentes nela, como a arquitetura de grife. Considerando o Efeito Bilbao e o Star System, buscamos jus ficar a atra vidade dos edi cios de grife lá presentes, mostrando seus efeitos posi vos e nega vos. Após estudos, conseguimos desenvolver uma crí ca sólida sobre essa dinâmica.”

PALAVRAS-CHAVE Arquitetura de grife; Star System; Efeito Bilbao.

ABSTRACT “In this work we analyze the city of Madrid and the aspects of City Marke ng in it, such as the designer architecture. Considering the Bilbao Effect and the Star System, we sought to jus fy the a rac veness of the designer buildings there, showing their posi ve and nega ve effects. A er studies, we have been able to develop a solid cri que of this dynamics.”

KEYWORDS Designer architecture; Star System; Bilbao Effect.

95


INTRODUÇÃO O obje vo deste ensaio crí co é, após estudo e análise do ambiente urbano da cidade de Madri, considerando os edi cios assinados por arquitetos de pres gio e fama, considerados Arquitetura de Grife, fazer uma crí ca acerca das faces dessa arquitetura presente na cidade. A princípio iremos abordar a questão do planejamento urbano das cidades, guiado pelo City Marke ng, que está muito presente na contemporaneidade em todos os lugares do mundo, pegando como ponto de par da para discu rmos a Arquitetura de grife em um contexto geral. Passando desse ponto, vamos explicar o surgimento dessa arquitetura a par r do conceito de Star System, sistema que origina a existência de profissionais em maior destaque que outros e como ele funciona. Como consequência da mesma arquitetura, vamos apresentar o Efeito Bilbao, como ele surgiu e como ocorre mundialmente, com os efeitos que gera no espaço. Por fim, após pesquisarmos sobre os edi cios com arquitetura de grife existentes, como Caixa Fórum, Torre Cepsa, Igreja Santa Mônica e Terminal do Aeroporto de Madri, e buscarmos entender sua importância e relevância no território em que se encontram, assim como as consequências que eles geram no lugar que estão localizados na cidade, iremos dar maior ênfase a todos esses processos dentro da cidade de Madri, onde ocorrem e como ocorrem, se possuem aspectos posi vos ou nega vos, e o porquê disso.

A CIDADE DE MADRI E O CITY MARKETING A cidade de Madri sempre foi um ponto de muita importância na Europa, considerada a maior cidade da Espanha e terceira maior área metropolitana da União Europeia. Como capital nacional, é considerada o centro polí co, econômico e cultural de seu país. Assim como em outras cidades de importância no mundo, o planejamento estratégico atual de Madri é um dos instrumentos mais u lizados por seus agentes urbanos. “A cidade, analisada sob a perspec va de uma mercadoria a ser “vendida”, apoia-se nas estratégias do city marke ng como forma de valorizar as potencialidades que promove” (BANDEIRA, 2016, p.67).O city

96

Layane, Marcela, Nathália e Yanka


marke ng busca diferenciar uma cidade das demais, assim como sa sfazer a necessidade de seu público alvo. Além de seus habitantes, tem a intenção de agradar seus turistas, trazendo inves mentos cada vez maiores para o local. Esse é o contexto em que se encontra a cidade de Madri e sua arquitetura de grife, que busca sua promoção com base na sua imagem singular. A arquitetura esta diretamente conectada a economia e polí ca da cidade, sendo constante a busca pela espetacularização arquitetônica. Comparado com a an guidade, onde a arquitetura condizia com o poder e cultura de um lugar, hoje é considerada de extremo valor capitalista, fortalecendo imagem de empresas que as promoveram. “Ins tuições perceberam que for ficar uma imagem de marca arquitetônica geraria mais lucro, da mesma forma como acontecia com os produtos materiais. Nessa perspec va, cada cidade procura construir uma imagem forte, apoiada em obras de arquitetos reconhecidos internacionalmente.” (BANDEIRA, 2016, P.72) Em Madri, todo o inves mento feito com base na arquitetura assinada por profissionais com nome de relevância no mercado trouxe diversas consequências para a localidade. Entre elas, após nossa análise, destacam-se duas, o Efeito Bilbao e o Star System, as quais mostraremos que nem sempre possuem o efeito esperado.

A ORIGEM E CONSEQUÊNCIA DA ARQUITETURA DE GRIFE A Arquitetura de Grife advém da existência do Star System, “sistema de estrelas”, esse sistema teve sua origem na Era de Ouro dos estúdios de Hollywood, quando atores e diretores eram contratados sob cláusulas de exclusividade por seus contratantes. A ideia e obje vo principal desses estúdios era fazer com que esses profissionais exclusivos ganhassem fama e popularidade em relação ao púbico com seu trabalho, consequentemente aumentando a audiência e arrecadação dos filmes produzidos pelos mesmos estúdios. Com o tempo, Star System entrou em desuso nessa área nos Estados Unidos. O enfoque de nossa crí ca se encontra na área da arquitetura e de seus principais profissionais, considerados os mais conhecidos e de maior sucesso. Ao se fazer exis r um grupo seleto de arquitetos de “qualidade” ou considerados superiores a outros, é estabelecido um “sistema de estrelas”, determinando que lugares onde obras desses arquitetos forem construídas, exis rá um maior destaque ou maior valor. Consequentemente atraindo pessoas a esses lugares, movimentando suas

97


economias.

[f.1] 40 arquitetos de grife do século 21.

É isso que tem ocorrido em diversas cidades do mundo que buscam valorizar ou chamar a atenção do público para elas. O governo ou inves dores, financiam obras assinadas por arquitetos renomados, buscando fazer parte do circuito turís co de suas localidades. Apesar desse sistema ser efe vo e ser muito presente, consideramos um processo muitas vezes injusto para com outros bons arquitetos ou jovens arquitetos no mercado. Essa injus ça ao nosso ver se jus fica pelo fato de nem tudo que uma pessoa projetar pode ser de alta qualidade, inovador ou “perfeito”. Um profissional que projetou um famoso edi cio, pode muito bem projetar algo no futuro, que ele mesmo não classificaria como uma obra prima. "Apenas poucos nomes se tornam visíveis, e como resultado, esses nomes talvez obtenham uma porção injusta das oportunidades globais de trabalho. Seu mérito permanece inexplicado, torna-se um dogma. Portanto, eles podem permanecer no jogo por mais tempo que merecem, enquanto jovens talentos permanecem anônimos por mais tempo que deveriam. Mas essas deficiências inevitáveis não invalidam a racionalidade do star system explicada acima.” (SCHUMACHER, 2015) Após o surgimento da Arquitetura de Grife, surge o Efeito Bilbao em meio a um período de decadência, no qual a cidade de Bilbao, na Espanha, decidiu fazer um grande inves mento em infraestrutura e arquitetura, a construção do museu Guggenheim por Frank Gehry. Após quatro anos de sua

98

Layane, Marcela, Nathália e Yanka


inauguração em 1997, foi considerado um projeto de extrema relevância mundial e bem-sucedido no quesito de arquitetura de grife, por atrair um número de turistas que a cidade nunca teve anteriormente e a fazendo crescer exponencialmente em meio social, econômico e cultural. ´´...só nos primeiros três anos, mais de 4 milhões de turistas visitaram a cidade para conhecer a edificação, gerando cerca de 500 milhões de dólares em lucros, um retorno para a economia local seis vezes maior que o valor inves do em sua construção. `` (Peruccini, 2018). A par r desse momento, tudo que foi construído com as mesmas caracterís cas, como a assinatura de um arquiteto de grife e destaque na paisagem, obtendo o mesmo efeito do museu de atrair o público e consequentes inves mentos, é classificado como fruto do Efeito Bilbao.

A ARQUITETURA DE GRIFE EM MADRI E SEUS EFEITOS

[f.2]Museu Guggenheim, Bilbao, Espanha.

A cidade de Madri está em constante mudança, cada vez mais se torna contemporânea, novos edi cios surgem apresentando visões revolucionárias contrastantes com os edi cios caracterís cos do século XIX. Muitos arquitetos renomados

A cidade de Madri e as faces da arquitetura de grife

99


deixaram sua marca em nome da ¨modernização¨ da cidade madrilena, se trata de edi cios altamente tecnológicos como a Torre Cepsa de Norman Foster que juntamente com outras três torres formam um complexo Business Area. A Caixa Fórum de Herzog & del Prado e a Igreja de Santa Monica com seus aspectos robustos, escondem grandes caracterís cas contemporâneas, principalmente em seus interiores. O Terminal do Aeroporto de Madri de Rafael de la-Hoz, a Puerta de Europa de Philip Johnson e o complexo residencial El Mirador de MVRDV possuem desenhos únicos e estão localizados em áreas de grande contraste. Já o Museu Reina Sofia de Jean Nouveal, é considerado um novo acervo cultural para a cidade, é a modernização do museu apresentando seus dois tempos, mostrando o contraste de diferentes épocas. Apesar de todos os edi cios altamente atra vos visualmente citados acima fazerem parte de uma nova etapa da cidade, é di cil classificarmos Madri como uma cidade que, através do efeito Bilbao, tenha se reerguido e se tornado atra vamente turís ca, o que ela sempre foi. O fato aqui analisado é que apesar de os novos ¨edi cios de grife¨ serem assinados por arquitetos renomados, chamam menos atenção do que os edi cios caracterís cos da cidade. É possível que os turistas ainda procurem mais por edi cios considerados clássicos da cidade do que pelos novos arranha-céus. Além de toda essa questão, do Efeito Bilbao não exis r em seu máximo potencial na cidade de Madri, as obras contemporâneas citadas anteriormente, muitas das vezes geram a gentrificação desses espaços. A gentrificação se caracteriza pelo inves mento em implantação de obras de valorização das cidades, mas que na verdade acabam aumentando o custo de vida nesses lugares, muitas vezes fazendo com que pessoas se mudem por não conseguir manter seu padrão de vida mais naquele espaço. “Pode-se dizer, em linhas gerais, que a arquitetura de grife tende a favorecer o processo de acentuação das desigualdades sociais nas cidades, a par r do momento em que se volta para uma classe dis nta da sociedade. Por outro lado, dada sua imagem representa va, a arquitetura de grife vem ganhando papel de destaque nas intervenções urbanas, consolidando o modelo de planejamento estratégico de cidades” (BANDEIRA, 2016,P.71). 100

Layane, Marcela, Nathália e Yanka


[f.3] Mapa da cidade de madri com a localização dos edifícios estudados nesta e na ultima etapa.

101


[f.4] Edifícios de grife em Madri: Caixa Fórum, Campus Repsol, El Mirador, Torre Cepsa, Museu Reina Soa, Puerta de Europa, Aeroporto de Madri e Igreja Santa Mónica.

102

Layane, Marcela, Nathália e Yanka


Conclusão Concluímos que por mais que a busca por uma Arquitetura de Grife seja feita em um local, ela poderá trazer aspectos posi vos e/ou nega vos tanto para a população do espaço, quanto para a sua economia. A cidade de Madri é mais uma ví ma dessa especulação, possuindo diversos edi cios com ares contemporâneos, que em parte geram riqueza econômica, social e cultural na cidade, mas por outro lado altera a qualidade de vida de muitas famílias madrilenas. Mesmo assim, segundo Camilla (2016) uma grande arquitetura, pelo ao caráter único que ela possui, assinada por um arquiteto renomado, reconhecido globalmente, tem reba mento na valorização da cidade. A arquitetura de Richard Rogers é um exemplo disso. Do extenso repertório de obras icônicas, o caso do Te r m i n a l 4 d o A e ro p o r to M a d r i d B a ra j a s , ate sta o comprome mento do escritório em realizar uma arquitetura que apresente, além de qualidade espacial e ambiental, uma s i n g u l a r i d a d e p ro j et u a l ( fato re s d ete r m i n a nte s n o posicionamento atual de Rogers diante do cenário mundial). Como efeito, o branding arquitetônico da marca Rogers torna-se um instrumento das polí cas urbanas, já que transmite imagens e representações da cidade.

103


Referências: COSTA, Emanuel. Disponível em: < h ps://www.archdaily.com.br/br/788749/o-que-egentrificacao-e-porque-voce-deveria-se-preocupar-com-isso>. Acesso em: 12 de jun. 2018. STOTT, Rory. Disponível em: < h ps://www.archdaily.com.br/br/765374/patrik-schumachera-denuncia-dos-icones-e-estrelas-da-arquitetura-e-superficiale-ignorante>. Acesso em: 11 de jun. 2018. BANDEIRA, Camilla Ramos Cardoso. “A monumentalidade arquitetônica dentro do planejamento estratégico de cidades: a arquitetura ren sta e a grife Richard Rogers.” FINOTTI, Patrícia. Disponível em: < h ps://www.patríciafino .com.br/o-efeito-bilbao/>. Acesso em: 10 de jun. de 2018. MEIRELES, Maurício. Disponível em: <h ps://www.revistaepoca.globo/ideias/no cias/2012/arquite tura-da-reconstrucao.html>. Acesso em 11 de jun. de 2018. LAUBE, Kris na. Disponível em: <h ps://www.dw.com/ptbr/guggenheim-de-bilbao-um-museu-que-modificou-umacidade-em-crise/av-41396485 >. Acesso em 10 de jun. de 2018.

104

Layane, Marcela, Nathália e Yanka


O PAPEL DOS PARQUES NA CRIAÇÃO E EXPANSÃO DO TRANSPORTE COLETIVO DE CURITIBA E O CASO DO JARDIM BOTÂNICO Autores: 1.Isabela TONELLI (tonelli.isabela@gmail.com) 2.Lorena FERNANDES (lofelima@gmail.com) 3.Lorena BORGES (lorenaa.lolli@gmail.com) 4.Marcos Paulo NONATO (mpjunior20@hotmail.com)

RESUMO Curi ba se destaca como cidade em relação ao seu sistema de transporte público cole vo e o grande número de parques urbanos. Divulgada como “cidade ecológica”, tornou-se uma referência nacional e internacional. Neste trabalho discu mos sobre o contexto histórico da formação dos parques urbanos em relação ao sistema de transporte cole vo, estabelecida em 40 anos, com o obje vo de entender melhor as suas conexões. Para isso, analisamos os discursos que foram construídos de todo esse processo e como o planejamento urbano auxiliou na criação desses parques, que foram mo vadores da expansão do transporte público, para análise mais específica o Jardim Botânico.

PALAVRAS-CHAVE Curi ba; Transporte Urbano; Parques Urbanos.

ABSTRACT Curi ba's stands out as a city in rela on to its collec ve public transport system and the large number of urban parks. disclosed as "Ecological City", it became a na onal and interna onal reference. In this work we discuss the historical context of the forma on of urban parks in rela on to the collec ve transport system, established in 40 years, with the objec ve of understanding their connec ons be er. For this, we analyzed the speeches that were built of this whole process and how urban planning assisted in the crea on of these parks, which were mo va ng of the expansion of public transport, for more specific analysis the botanical garden.

KEYWORDS Curi ba; Urban Transport; Urban Parks.

115


INTRODUÇÃO O trabalho consiste em uma análise da evolução histórica dos parques urbanos, fazendo a integração com o sistema viário e de transporte de Curi ba ao longo das décadas de 60 a 90, através de uma análise cronológica e gráfica. Esse trabalho é importante para a compreensão do processo de formação dos parques e como isso reflete no sistema viário, no surgimento das linhas de transporte cole vo da cidade e na lógica de distribuição dos vários terminais. Para a melhor compreensão de como esse processo se materializa no espaço escolhemos o Jardim Botânico devido a sua importância como ponto turís co para a cidade de Curi ba. Analisaremos com maior ênfase a interligação com os terminais de transporte cole vo e a sua inserção dentro do sistema viário, destacando a Linha Turismo. Para isso, os procedimentos u lizados consistem na análise gráfica a par r de intervenção em mapas e confecção de diagramas, e o embasamento teórico com bibliografias que tratam sobre os discursos ambientais e de transporte de Curi ba.

“AS DÉCADAS DE OURO” DE CURITIBA Um dos processos que mais influenciou na formação dos parques urbanos de Curi ba foi, sem dúvida, o planejamento urbano proposto nos anos de 1960 e implantado na década de 1970, pois foi a par r dele que a cidade passa a ter uma estrutura de transporte que possibilita a ligação entre o centro e a periferia, aumentando a mobilidade urbana, e traz diretrizes para a forma com o espaço urbano será ocupado e u lizado. Curi ba, até a década de 60, não possuía um plano que atendia as reais situações da sociedade, pois o Plano vigente, o Agache, não correspondia mais a realidade. Foi com o Plano Preliminar de Urbanismo, ou Plano Serete, que houve uma preocupação com as questões da cidade, sendo que estava centrado no crescimento da cidade no sen do nordeste/sudoeste, através de um eixo, vias laterais que auxiliam o trânsito rápido de veículos, através do sen do binário e o incremento de espaços de vegetação, através de parques e bosques. (CARVALHO, 2008).

Para fazer o acompanhamento e a gestão desse plano, foi criado o APPUC, que logo em seguida viera a se denominar IPPUC, ins tuto de suma importância e que esteve a frente de toda a transformação que ocorrera na cidade nesse período. Dentre os profissionais que compunham esse órgão, está Jaime Lerner, arquiteto urbanista que foi nomeado prefeito da cidade no ano de 1971. Durante a primeira gestão de Lerner (1971-75), foi criada a lei do Plano Diretor de Urbanismo, que nha como base o Plano Preliminar de Urbanismo anterior, e com isso todas as modifica-

116

Isabela Tonelli, Lorena Fernandes, Lorena Borges, Marcos Nonato


ções que o mesmo propunha. Dentre elas, podemos destacar a cons tuição de um sistema de transporte cole vo através de canaletas exclusivas de ônibus no seu eixo de principal importância e criação de novas leis ambientais com a intenção de aumentar a proteção dos cursos d'água, ampliação e implantação de áreas verdes na cidade, uma vez que o número era escasso. Com isso, viu-se uma expansão do número de parques e bosques pela cidade a par r da década de 70, e, de conjunto a isso, a criação de novas linhas de transporte cole vo. Temos como exemplo o Zoológico de Curi ba, localizado no Parque Iguaçu – o maior da cidade -, que, devido a sua importância para o turismo da cidade e após a implantação do principal eixo de transporte cole vo (nordeste-sudoeste), se viu necessário a criação de uma interligação entre este eixo e o parque, facilitando a mobilidade do usuário, conforme a figura 1 Já na década de 1980, houve uma importante imigração para a cidade, consequência dos planejamentos urbanos, que se tornou atra vo. Fica evidente que nesse período houve o início da interligação da cidade com o entorno através do sistema viário, con nuação das ações de Lerner iniciadas na década anterior, e da extensão do transporte cole vo, o que facilitou o acesso a cidade e aos parques existentes (figura 2). Nesse momento, Curi ba alcança o tulo de “capital ecológica”1. (CASTELNOU, 2006) A par r dessa visibilidade, há uma intensificação no discurso ambiental na cidade na década de 1990, que culminou na implantação de novos parques, dentre eles o Jardim Botânico – principal ponto turís co da cidade - conjugado com novas linhas de transporte voltada para o turismo, como por exemplo a Linha Turismo, que rodeia grande parte dos parques, contribuindo com a interação da população com esses espaços. Nesse período a Rede Integrada de Transporte (RIT) chega aos municípios da RMC, o que contribuiu para a acessibilidade da população periférica e de outros municípios da Região Metropolitana de Curi ba aos parques da cidade. Na figura 3, é explicita esta relação – população-transporte-parque -, pois podemos observar o tramo que se instaura entre os parques e a fácil ligação com os terminais, incen vando o acesso ao espaço público. Por esses fatores históricos é que denominados esse período de 1960 a 1990 como as décadas de ouro, onde Curi ba sofre um grande desenvolvimento e a nge o seu momento mais emblemá co.

NOTAS: [1] Curitiba ganha esse título de’capital ecológica’ principalmente pelo fato de ter ampliado o quantidade de sua área verde , que, até os anos 70, era escassa. Em um momento onde a ecologia entra em cena, Lerner se apoia nesse fator para fazer as mudanças nessa cidade a partir do planejamento urbano, o que Oliveira (2001) chama de ‘urbanismo ecológico’.

O Papel Dos Parques Na Criação E Expansão Do Transportes Coletivo De Curitiba E O Caso Do Jardim Botânico

117


LEGENDAS: [f.1] Este mapa mostra os primeiros parques e o eixo principal de desenvolvimento de Curitiba denido pelo plano diretor e aplicado nos anos de 1970. [f.2] Nos anos 80, iniciouse a expansão das linhas de transporte coletivo pela cidade, principalmente para ligação aos parques criados na década anterior, como podemos ver. [f.3] Neste mapa está representado o crescimento da quantidade de parques pela cidade de Curitiba e o aumento da interligação direta entre eles e as linhas de transporte coletivo, além da criação de um número maior de terminais, já que é nesse momento que a RIT chega a Região Metropolitana de Curitiba, além de ser nessa década a criação da Linha Turismo. [f.4] Diagrama representativo das relações entre o planejamento urbano e a criação e expansão do transporte coletivo. 1. Parque Caiuá 2. Parque Diadema 3. Parque dos Tropeiros 4. Parque Passaúna 5. Parque Italiano 6. Bosque Italiano 7. Parque Barigui 8. Parque Tiinguí 9. Parque Gutierrez 10. Bosque Alemão 11. Bosque Zaninelli 12. Bosque do Pilarzinho 13. Parque das Pedreiras 14. Parque Tanguá 15. Parque São Lourenço 16. Bosque João Paulo II 17. Parque Barreirinha 18. Parque Ibere de Matos 19. Bosque de Portugal 20. Bosque Capitão da Imbúia 21. Jardim Botânico 22. Parque Iguaçu (ZOO) 23. Bosque Reinhard Maack 2 4 . B o s q u e d o Trabalhador 2 5 . B o s q u e d a Fazendinha

17

15

9

16

7 20

23

22

Legenda:

Legenda:

Terminal déc. 70

Anos 80

Anos 70

0 1000 2500

5000

7500

0 1000 2500

Figura 1

5000

7500

Figura 2

17 14 13 15 12 8 11 10 16 9 7

5 6

18

19 20 21

25

4 1 32

23

24 22

Legenda: Terminal déc. 90 Anos 90

0 1000 2500

Figura 3

118

18

5000

7500

Figura 4

Isabela Tonelli, Lorena Fernandes, Lorena Borges, Marcos Nonato


A

A

C

A

B

A

A B A

B

Legenda: Terminal déc. 70 Terminal déc. 90 Municípios Metropolitanos Integrados A Canaleta Exclusiva

B Faixa Exclusiva C Via Compartilhada Figura 5

0 1.250 2500

5000

LEGENDAS: [f.5] Este mapa mostra o sistema de transporte e os parques inseridos na malha urbana de Curitiba, além de denir os tipos de faixa de ônibus em cada via. Nele é possível perceber onde estão localizados os eixos principais de transporte, que são aqueles que possuem as canaletas exclusivas, e as demais, de menor importância.

7.500

O Papel Dos Parques Na Criação E Expansão Do Transportes Coletivo De Curitiba E O Caso Do Jardim Botânico

119


NOTAS: [2] Local onde antigamente cava a maior ocupação irregular de Curitiba – a Favela do Capanema: meados dos anos 70, tendo cerca de 3 mil pessoas que tiveram que serem retirados por ação da Companhia de Habitação (Cohab), para a reurbanização da área para a implantação do Jardim Botânico, tornando, portanto, o desfavelamento mais radical da cidade. [3] As vinte e três (23) linhas de ônibus coletivo que se deslocam entorno do Jardim Botânico são: 165, 216, 301, 302, 303, 304, 305, 387, 461, 462, 463, 464, 979, E66, E71, E72, E73, E74, E75, E76, E77, E78. Todas estas linhas interseccionam ou tendo seu destino nal até o parque, símbolo maior da cidade de Curitiba. (Fonte: Onilinhas)

120

JARDIM BOTÂNICO E SUA RELAÇÃO COM O TRANSPORTE COLETIVO A cidade de Curi ba é muito conhecida pela vasta variedade de parques e seu exemplar transporte público. Um deles muito conhecido e procurado é o Jardim Botânico Francisca Maria Garfunkel Rischbieter, ou simplesmente Jardim Botânico de Curi ba2, que foi inaugurado no ano de 1991. Com uma área de 178 mil metros, ele é o cartão-postal mais visitado de Curi ba. Dados da prefeitura informam que cerca de 60% dos usuários da Linha Turismo fazem questão de descer ali. O transporte de Curi ba é referência para outras cidades, ele tem uma integração incrível com toda a região metropolitana, com linhas que cumprem o horário e o i nerário. Mas desta vasta rede de transporte devemos destacar alguma delas que leva o usuário diretamente ao jardim botânico, são elas Expresso Centenário/ Campo Comprido, Pinhais/Rui, Barbosa Cabral/Portão e Linha Turismo, linhas que levam diversas pessoas para o local, sendo eles residentes ou passantes. Dentre estas, há no total 23 linhas 3 que passam pelo Jardim Botânico, atendendo de forma sa sfatória os usuários. Um parque promove a integração das pessoas com o lugar, assim também ocorre no Jardim Botânico, desde o seu translado até a experiência do parque em si. Quando se pega um ônibus muitas vezes você olha para fora da janela e a acompanha o caminho até seu des no, sendo que essa experiência muitas vezes é quebrada pela falta de conexão dos transportes e suas paradas. Para ir até o jardim botânico de Curi ba essa experiência é quase que inteira, com linhas que ligam a cidade com o parque e seu entorno, assim tornando possível o sonho brasileiro de se locomover com facilidade pela cidade u lizando os transportes públicos. Ao chegar no jardim botânico a pessoa se insere em um novo espaço, diferente da cidade. Mesmo sendo um dos menores

Isabela Tonelli, Lorena Fernandes, Lorena Borges, Marcos Nonato


parques da cidade, quando se chega em seu meio você consegue uma experiência totalmente diferente, onde se vê apenas os topos bem distantes dos prédios. No parque há centenas de espécies de fauna e flora brasileira, onde um turista ou morador pode ir lá e sair totalmente do seu co diano e se sen r fora da cidade. Embora as experiências variem de pessoa para pessoa, a maioria delas é posi va pois o parque cria um espaço, e um espaço promove a sociabilidade das pessoas. Mesmo havendo diversas maneiras de se chegar ao Jardim, várias pessoas u lizam alguns i nerários padrões, dois deles postado pela Tháis Towersey, do site Guia Mundo a Fora, diz que u lizou o ônibus da Estação Tubo (RIT - Rede Integrada de Transporte), gastando apenas quinze minutos do Centro da capital até o Jardim. E outra opção mais usual, ela cita a Linha Turismo 4, que se inicia na Praça Tiradentes, podendo embarcar em outros pontos, já que o ônibus faz o mesmo trajeto durante todo o dia parando em seus vinte e cinco des nos. Dados da prefeitura informam que cerca de 60% dos usuários da Linha Turismo fazem questão de descer no Jardim. A valorização cada vez mais engrandecida da cultura e do espaço se expande pelo mundo, e em Curi ba desde a década de 60 começou a se fortalecer a cultura de parques, da conexão com a história e conseqüentemente o uso adequado e harmonioso da cidade, integrando com as pessoas para que possam vive-las verdadeiramente. O arquiteto e escritor Jah Gehl descreve em seu livro “Cidade para Pessoas” (2010), de como a cidade deve ser feita e para quem. Tendo a mobilidade ao pedestre um dos aspectos primordiais em suas análises, resultando em um local onde se possa percorrer com segurança parques e praças, sem deixar de contar com um transporte público de qualidade e vias arborizadas.

NOTAS: [4] A Linha Turismo é uma linha com ônibus de dois andares (sightseeing bus), criada exclusivamente para percorrer em três horas vinte e cinco pontos turísticos em toda capital curitibana, sendo eles: Praça Tiradentes, Rua das Flores, Rua 24 horas, Museu Ferroviário, Teatro Paiol, Jardim Botânico, Mercado Municipal / Estação Rodoferroviária, Teatro Guaíra / Universidade Federal do Paraná, Paço da Liberdade, Passeio Público / Memorial Árabe, Centro Cívico, Museu Oscar Niemeyer, Bosque do Papa, Bosque Alemão, Universidade Livre do Meio Ambiente, Parque São Lourenço, Ópera de Arame, Parque Tanguá, Parque Tingui, Memorial Ucraniano, Portal Italiano, Santa Felicidade, Parque B a r i g u i , T o r r e Panorâmica e Centro Histórico.

Figura 6

LEGENDAS: [f.6]:Foto linha turismo [f.7]:Foto panorâmica do Jardim Botânico

Figura 7

O Papel Dos Parques Na Criação E Expansão Do Transportes Coletivo De Curitiba E O Caso Do Jardim Botânico

121


LEGENDAS: [f.8] O mapa mostra as linhas que são especicas para o Jardim Botânico. Linhas criadas pela grande demanda de usuários ao parque, que em sua maioria antes tinham um décit em atender os usuários. Relacionando o eixo viário de transporte coletivo da cidade com os parques concluímos que tanto o curitibano e os turistas são atraídos para a cidade nestes dois quesitos. Trazendo um grande benefício para a cidade em questão de atrativo cultural e qualidade de vida.

Legenda: Linhas Diretas Para o Jardim Botânico Jardim Botânico Terminal década 70 de Integração Urbano

0

1.250

2.500

5.000

Figura 8

[f.9] Foto aérea do Jardim Botânico. [f.10]: A imagem mostra o entorno do lago, no parque. Elas mostram o grande uso do local pelas pessoas, e a beleza do lugar. [f.11]: Croqui explicativo do Jardim Botânico mostrando os vários equipamentos e pontos de atividades existentes. [f.12] Este diagrama mostra um importante terminal de ônibus de Curitiba, o Terminal Centenário e a ligação com o Jardim botânico e a via principal que liga ambos

Figura 9

Figura 10

Figura 11

Legenda: 1.Estufa 2.Pavilhão de Exposições 3.Fonte 4.Canteiros 5.Velódromo municipal 6.Canchas espor vas 7.Administração

122

velódromo 8.Cancha de futebol 9.Bistrô / loja 10.Bicicletário 11.Acesso principal 12.Estacionamento 13.Portal 14.Lago 15.Sanitários 16.Lago

17.Museu Botânico 18.Administração do museu 19.Ponte 20.Manutenção 21.Equipamentos de ginás ca 22.Bosque 23.Trilhas 24.Pista de caminhada

Figura 12

Isabela Tonelli, Lorena Fernandes, Lorena Borges, Marcos Nonato


CONCLUSÃO Neste trabalho concluímos que realmente existe uma forte ligação entre a criação dos parques e a expansão da rede urbana de transporte em Curi ba, e como o planejamento urbano influenciou nesse processo, trazendo bem-estar social, acessibilidade e inclusão. Fica mais claro um dos principais mo vos que levaram a cidade a ser reconhecida e como todo esse processo de desenvolvimento do transporte esteve interligado de forma direta com essa expansão verde que ocorreu. No entanto, é apenas uma das várias perspec vas acerca desta relação entre os parques urbanos e os sistemas de transporte cole vo, uma vez que essa análise foi realizada pelo grupo, a par r de uma visão distante, sem uma vivência real da cidade e através de dados e pesquisas, o que possibilita uma visão totalmente diferente de quem vivencia quo dianamente essa dinâmica do transporte e usufrui dos parques.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTOLAMEI, Bruna. Como andar no ônibus Linha Turismo de C u r i b a . 2 0 1 5 . D i s p o n í v e l e m : <h p://contandoashoras.com/2015/05/17/como-andar-noonibus-linha-turismo-de-curi ba/>. Acesso em: 12 jun. 2018. C A R VA L H O , A n d re d e S o u za . C u r i b a : I m a ge m d o Planejamento ou Planejamento da Imagem?. 2008. 99 f. Monografia (Graduação em História) - Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, C u r i

b a ,

2 0 0 8 .

D i s p o n í v e l

e m :

<h p://www.historia.ufpr.br/monografias/2008/2_sem_2008/ andre_souza_carvalho.pdf>. Acesso em: 04 jun. 2018. CASTELNOU, Antonio Manuel Nunes. Parques Urbanos de Curi ba:De Espaços de Lazer A Objetos de Consumo. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, Belo Horizonte, v. 13, n. 14, p. 53-73, d e z .

2 0 0 6 .

D i s p o n í v e l

e m :

<h p://www4.pucminas.br/documentos/arquitetura_14_ar g o04.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2018. CHEROBIM, Ângela M. Silvia Küster. Nosso Bairro: jardim botanico. 1. ed. Curi ba: Ins tuto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curi ba, 2015. 15 p. v. 1. Disponível em: h p : / / w w w. i p p u c . o r g . b r / n o s s o b a i r r o / a n e x o s / 0 7 Jardim%20Bot%C3%A2nico.pdf> Acesso em: 07 jun. 2018.

O Papel Dos Parques Na Criação E Expansão Do Transportes Coletivo De Curitiba E O Caso Do Jardim Botânico

123


CURITIBA, Prefeitura. Croqui dos parques: jardim botanico. D i s p o n í v e l

e m :

<h p://www.curi ba.pr.gov.br/conteudo/parques-e-bosquescroqui-jardim-botanico/286>. Acesso em: 10 jun. 2018. FERNANDES, José Carlos. Vida e morte do Capanema. D i s p o n í v e l

e m :

<h ps://www.google.com.br/amp/s/www.gazetadopovo.com. br/vida-e-cidadania/vida-e-morte-do-capanemaeg92ph2dsc70jwo3ggvgag47i/ampgp>. Acesso em: 12 jun. 2018. HAUS. Jardim Botânico completa 26 anos. Conheça detalhes da arquitetura inconfundível: Parque que ajudou a inaugurar uma nova linguagem arquitetônica para Curi ba segue como um dos principais cartões-postais da cidade. 2017. Disponível em: <h ps://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/conheca -a-arquitetura-do-jardim-botanico-de-curi ba/>. Acesso em: 10 jun. 2018. MOSER, Sandro. Pedreira, Barigui, MON. como eram os principais pontos de Curi ba “antes da fama”. Disponível em: < h ps://guia.gazetadopovo.com.br/materias/antes-e-

depois-dos-pontos-turis cos/>. Acesso em: 07 jun. 2018 OLIVEIRA, Márcio. A trajetória do discurso ambiental em Curi ba (1960-2000). Revista de Sociologia e Polí ca, [S.l.], n. 16, jun. 2001. ISSN 1678-9873. Disponível em: <h ps://revistas.ufpr.br/rsp/ar cle/view/3587>. Acesso em: 18 jun. 2018. O que fazer em Curi ba: descubra 4 atrações da cidade. 2016. Disponível em: <h p://mapadomundo.org/curi ba/o-quefazer-em-curi ba/>. Acesso em: 18 jun. 2018. Parques e Bosques: jardim botanico. 2015. Disponível em: < h p : / / w w w. c u r i b a . p r. g o v. b r / c o n t e u d o / j a r d i m botanico/287>. Acesso em: 05 jun. 2018. Pôr-do-sol no Jardim Botânico de Curi ba: O cartão postal da c i d a d e . 2 0 1 3 .

D i s p o n í v e l

e m :

<h ps://www.essemundoenosso.com.br/jardim-botanico-decuri ba/>. Acesso em: 18 jun. 2018. TOWERSEY, Thaís. Conhecendo o jardim botanico de curi ba. Disponível em: <h ps://guiamundoafora.com/conhecendo-ojardim-botanico-de-curi ba/>. Acesso em: 12 jun. 2018.

124

Isabela Tonelli, Lorena Fernandes, Lorena Borges, Marcos Nonato


TURISMO ÀS MARGENS DE BELO HORIZONTE: AS ARQUITETURAS E AS PAISAGENS DE INHOTIM Autora: 1.Elisa Campos COZADI (elisacozadi@hotmail.com)

RESUMO A construção de centros culturais no território da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) pode provocar várias consequências, como o impacto na infraestrutura de transportes e serviços, a geração de empregos e o fomento do turismo. A análise foi feita baseada em um recorte turís co na região metropolitana, levando em consideração a influência causada pelo Ins tuto Inho m na capital mineira. O obje vo principal é apresentar como a cidade de Belo Horizonte reage a esses impactos causados por ins tuições relevantes como o Inho m.

PALAVRAS-CHAVE Análise urbana; Inho m; Turismo

ABSTRACT The construc on of cultural centers in the territory of the Metropolitan Region of Belo Horizonte (RMBH) can have several consequences, such as the impact on transporta on infrastructure and services, job crea on and the promo on of tourism. The analysis was made based on a tourist cut in the metropolitan region, taking into account the influence caused by the Inho m Ins tute in the mining capital. The main objec ve is to present how the city of Belo Horizonte reacts to these impacts caused by relevant ins tu ons such as Inho m.

KEYWORDS Urban analysis; Inho m; Tourism

125


i

INTRODUÇÃO A presente análise busca compreender como ocorre a relação entre o Ins tuto Inho m, localizado em Brumadinho, e a cidade de Belo Horizonte, a qual passou por um intenso processo de expansão e industrialização entre os anos 60 e 70, influenciando os municípios vizinhos que passaram a cons tuir a Região Metropolitana de Belo Horizonte. As relações entre os municípios de uma região metropolitana são cada vez mais complexas, necessitando de um planejamento que reúna as necessidades de todos os envolvidos. O vínculo entre Belo Horizonte e Brumadinho carece de atenção especial voltada para a mobilidade, uma vez que o fluxo de pessoas que transitam entre elas diariamente é alto devido a presença do relevante Ins tuto Inho m. O recorte turís co realizado foi escolhido devido ao fato de que um ins tuto de tamanha importância nacional e internacional, como o Inho m, causa grande impacto na região em que é implantado. Como Belo Horizonte é a cidade com maior infraestrutura em sua proximidade, ela promove o fornecimento de mão de obra e também o acolhimento dos turistas.

A METROPOLIZAÇÃO DE BELO HORIZONTE Belo Horizonte foi fundada em 1896, des nada a ser a nova capital de Minas Gerais após a constatação de que a an ga capital sediada em Ouro Preto (cidade histórica, decretada patrimônio da humanidade pela UNESCO) não suportaria a expansão urbana necessária. A cidade foi planejada por Aarão Reis e concebeu caracterís cas modernas em seus aspectos constru vos, com traçado re cular formando uma malha xadrez cortada por diagonais, tendo a Avenida do Contorno como limite do seu perímetro. A capital idealizada para abrigar inicialmente 30 mil habitantes, com previsão de alcançar população máxima de aproximadamente 200 mil, já alcançava os 630 mil habitantes no início dos anos 60. A busca por melhor qualidade de vida levou muitas pessoas de Minas Gerais e também de outros estados brasileiros a imigrar para Belo Horizonte, visto que na época a cidade recebia inves mentos do Estado e dessa forma possuía uma economia for ficada. Após o Golpe Militar em 1964 os estados passaram a receber inves mento e incen vos para a implantação de indústrias do Governo Federal (BORSAGLI, 2012). A década de 70 deu con nuidade ao crescimento populacional e econômico de Belo Horizonte, estendendo a ocupação de seu território para as regiões periféricas, se aproximando dos municípios vizinhos. Ocorria então o processo de metropolização sendo necessário a criação do PLAMBEL, um órgão responsável pelo planejamento da metrópole e dos municípios que integrariam a região metropolitana, que foi criada em 1973

126

Elisa Campos Cozadi


abrangendo 14 municípios. A expansão ocorreu tanto de forma extensiva gerando o fenômeno da conurbação, como intensiva através da ver calização. Essa expansão foi acompanhada de inves mentos em infraestrutura viária que permi ria o movimento pendular, um exemplo foi o início da construção do metrô de super cie (SOUZA, 2008 p. 69-71). Nos anos 80 surgiu a preocupação de valorizar a memória da cidade, vários edi cios históricos foram tombados e alguns pontos da cidade foram restaurados. Ao mesmo tempo a cidade foi integrada à rota aérea internacional por meio da implantação do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, que se localiza em Confins, na região metropolitana. A facilidade de acesso fomentou o turismo local e o crescimento da economia por agilizar o escoamento de mercadorias. Em meados da década de 80 começava a ser idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz o Ins tuto Inho m, que seria implantado em Brumadinho, outra cidade componente da região metropolitana de Belo Horizonte e serviria para o desenvolvimento humano sustentável.

LEGENDAS: [f.1]Mancha urbana da Grande Belo Horizonte e a BR-381, principal ligação ao Inhotim. (Fonte: Google Earth, Edição: Elisa Campos Cozadi)

Belo Horizonte Centro de Belo Horizonte Instituto Inhotim Acesso pela BR-381

127


Após cem anos da fundação da cidade a população já ultrapassava os 2 milhões de habitantes (IBGE,1996), o que representa mais de dez vezes a população es mada para esse espaço de tempo. A década de 90 representou, segundo dados da prefeitura, o reforço da estrutura administra va do município, sendo que em 1997 entrou em vigor o primeiro Plano Diretor e a Lei de Parcelamento, Ocupação e Uso do Solo, que permi ram a regularização e o crescimento ordenado de Belo Horizonte. Nas décadas anteriores o crescimento aconteceu de forma desordenada e não deu con nuidade ao traçado inicial idealizado por Aarão Reis. No início do século XXI Belo Horizonte foi destaque nacional e internacional na realização de eventos culturais e sua economia estava voltada para o comércio e prestação de serviços. Em 2002 na cidade de Brumadinho, região metropolitana, o projeto idealizado na década de 80 começou a se concre zar, sendo criada a Fundação do Ins tuto Cultural Inho m, o que fortaleceria e geraria um impacto econômico posi vo no setor de turismo regional. O espaço compreendido por 140 hectares, foi aberto ao público em 2006 recebendo no primeiro ano de a vidade 30 mil visitantes (OLIVEIRA, 2016). A capital mineira recebeu inves mentos em infraestrutura após ser eleita uma das cidades que sediaram a copa de 2014, esses foram des nados a reforma do Estádio Governador Magalhães Pinto (Mineirão), implantação do BRT (Transporte Rápido por Ônibus), melhorias na malha viária e modernização do Aeroporto Tancredo Neves. Com o passar dos anos a metrópole adquiriu caracterís cas desuniformes da cidade contemporânea, um traçado predominantemente irregular, a topografia acidentada juntamente com o alto índice de ver calização gerou um tecido urbano rugoso, com baixa porosidade visto que na maioria das áreas os edi cios são muito próximos uns dos outros. Segundo Secchi (2006), a cidade contemporânea parece para muitos uma confusa mistura de fragmentos heterogêneos, onde não é possível iden ficar ordem e racionalidade que a faça compreensível.

A RELAÇÃO DE BELO HORIZONTE COM O INHOTIM O Ins tuto Inho m está localizado em Brumadinho, um dos 34 municípios componentes da região metropolitana, a cidade foi fundada em 1923 e a população es mada atual é de 38.863 mil habitantes (IBGE, 2017). Desde sua criação, a ins tuição estabeleceu importantes relações com a cidade, tanto como local de trabalho como propulsor do desenvolvimento social, educa vo e cultural (NSTITUTO INHOTIM, 2018). A proximidade a Belo Horizonte e também a facilidade de acesso através de duas importantes rodovias federais, viabilizou a

128

Elisa Campos Cozadi


LEGENDAS: [f.2]Mapa da ligação do Inhotim ao centro de Brumadinho- MG. (Fonte:Google Earth; Edição:Elisa Campos Cozadi )

LEGENDA Centro de Brumadinho

Instituto Inhotim Acesso Brumadinho/Inhotim

[f.3]Mapa da localização das 23 galerias permanentes existentes no Instituto Inhotim. (Fonte:Google Earth; Edição:Elisa Campos Cozadi)

Turismo às margens de Belo Horizonte: as arquiteturas e as paisagens de Inhotim

129


criação do Inho m. O mesmo é sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do Brasil e o maior centro de arte ao ar livre da América La na, possuindo 23 galerias de arte, 7 jardins temá cos, 5 lagos ornamentais, além de receber a classificação oficial de Jardim Botânico com mais de 4.300 espécies em cul vo. Entre os ar stas que possuem obras expostas no complexo pode-se citar Cildo Meireles, Tunga, Vik Muniz, Hélio Oi cica, Ernesto Neto, Ma hew Barney, Doug Aitken, Chris Burden, Yayoi Kusama, Paul McCarthy, Zhang Huan, Valeska Soares, Marcellvs, Rivane Neuenschwander e Adriana Varejão Por ser um museu a céu aberto, quando o visitante entra no Inho m ele se depara com jardins, paisagens de florestas, lagos e montanhas, o que proporciona uma forma diferenciada de observar as obras de arte, pois existe uma relação a va entre elas e a natureza. As 23 galerias existentes no interior da área de visitação são verdadeiras obras de arte, elas possuem uma arquitetura contemporânea que comunica com o ambiente em que foram implantadas e promovem uma forte integração com o paisagismo local. O diálogo existente entre arte, arquitetura e botânica proporciona ao público em geral um lugar convida vo à produção de conhecimento em todas as suas dimensões (INSTITUTO INHOTIM, 2018). Os primeiros ambientes cons tuintes do Inho m foram projetados pelo renomado paisagista brasileiro Roberto Burle Marx. Mais que uma arquitetura verde, todos os espaços são feitos levando em consideração a preservação ambiental e valoriza a u lização de espécies não convencionais e raras, promovendo seu cul vo e evitando a ex nção. As espécies que são focos de pesquisas são dispostas harmonicamente com as já consideradas ornamentais, a ponto de virar referência para novos projetos paisagís cos. Além de promover as exposições de arte contemporânea, projetos paisagís cos, estudos botânicos, construção e reforma das galerias de arte, o Ins tuto Inho m desenvolve programas de extensão à comunidade. Dentre elas pode-se ressaltar programas educacionais voltados para professores e estudantes, valorização de manifestações culturais populares, formação profissional de jovens que tem no ins tuto o seu primeiro emprego, formação musical e ar s ca (INSTITUTO INHOTIM, 2018). Todos os atra vos oferecidos pelo Inho m fazem com que o mesmo provoque um grande fluxo de pessoas, principalmente de Belo Horizonte por ser a maior cidade próxima a ele. Devido a grande diversidade de a vidades promovidas, os visitantes são atraídos tanto pelo turismo quanto pela educação e trabalho. Em decorrência disso houve inves mentos em transporte público, criando uma linha de ônibus ligando Belo Horizonte ao Inho m.

130

Elisa Campos Cozadi


[f.4] LEGENDAS: [f.4]Galeria Adriana Varejão. Construída em 2008 para abrigar seis obras da artista que da nome a galeria. (Foto: Elisa Campos Cozadi) [f.5]Adriana Varejão, Celacanto Provoca Maremoto, 2004 2008.(Foto: Vicente de Mello; Disponível em: www.inhotim.org.br) [f.6]Adriana varejão, O Colecionador, 2004. (Foto: Inhotim; Disponível em: www.inhotim.org.br)

[f.5]

[f.6]

[f.7]Adriana Varejão, Linda do Rosário, 2004. (Foto: Inhotim; Disponível em:www.inhotim.org.br) [f.8] Adriana Varejão, Panacea Phantastica, 2003-2008.(Foto: Eduardo Eckenfels; Disponível em:www.inhotim.org.br)

131 [f.7]

[f.8]


Os meios de transportes par culares, como vans e ônibus turís cos, são outra opção para quem sai da região central da capital com des no ao ins tuto. Grande parte dos visitantes recebidos ao longo do ano não são residentes da região metropolitana de belo horizonte graças ao pres gio nacional e internacional ob do pelo Ins tuto Inho m. Portanto Belo Horizonte por ser uma cidade com maior infraestrutura acolhe a maioria desses visitantes e incen vando inves mentos nas redes gastronômica e hoteleira da cidade a fim de receber cada vez mais turistas.

Conclusão Através das análises feitas pode-se constatar que o Ins tuto Inho m recebe um grande fluxo de visitantes, girando em torno

132


dos 350 mil por ano, uma vez que ele é um museu de arte contemporânea com caracterís cas únicas no país, possuindo assim grande destaque. Como Belo Horizonte foi criada para ser a capital de Minas Gerais, ela recebeu grandes inves mentos no decorrer de sua história, se tornando uma cidade com variados atra vos turís cos, boa infraestrutura hoteleira e gastronômica, possui dois aeroportos, sendo um deles internacional, assim a maioria dos visitantes do Inho m tendem a tomar como base a capital. Devido ao fato de grande parte do fluxo de pessoas gerado pelo Ins tuto Inho m ter origem na metrópole, a relação estabelecida entre eles merece atenção especial quanto a infraestrutura, principalmente na questão da mobilidade. LEGENDAS: [f.9] Galeria True Rouge, construída em 1997 para abrigar as obras do artista plástico Tunga. (Foto: Elisa Campos Cozadi)

133


REFERÊNCIAS SECCHI, B. Primeira lição de Urbanismo. 1º ed. Editora Perspec va, 2006, p.88. A Clássica história de BH. Bairros de Belo Horizonte, 2009. D i s p o n í v e l e m : <h p://bairrosdebelohorizonte.webnode.com.br/news/aclassica-historia-de-bh-/>. Acesso em: 08 jun.2018. BORSAGLI, A. Os anos 1960: a Metrópole, o Caos e as Consequências. Curral Del Rey, 2012. Disponível em: <h p://curraldelrei.blogspot.com/2012/10/os-anos-60metropole-o-caos-e-as.html>. Acesso em: 08 jun.2018. Anexo IV – Síntese da História de BH. Prefeitura de Belo Horizonte, 2018. Disponível em: < h ps://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-degoverno/poli ca-urbana/2018/planejamento-urbano/>. Acesso em: 09 jun.2018. SOUZA, J. A Expansão Urbana de Belo Horizonte e da Região Metropolitana de Belo Horizonte: O caso específico de Ribeirão das Neves. Tese (Doutorado em Demografia) - Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, p. 69-71. INSTITUTO INHOTIM. Inho m, 2006. Disponível em: < h p://www.inho m.org.br>. Acesso em: 09 jun.2018. Belo Horizonte: a perfeita junção do espaço urbano e da cidade jardim em Minas Gerais. Belo horizonte Surpreendente. Disponível em: <h p://www.belohorizonte.mg.gov.br/bhprimeira-vista/>. Acesso em: 08 jun.2018. OLIVEIRA, C. Importante empregador de Brumadinho, Inho m atrai 350 mil visitantes todo ano. Hoje em dia, 2016. Disponível em: <h p://hojeemdia.com.br/almanaque/importanteempregador-de-brumadinho-inho m-atrai-350-mil-visitantestodo-ano-1.410367>. Acesso em: 09 jun.2018. Inho m: as montanhas de Minas envolvidas pela arte contemporânea. Belo horizonte Surpreendente. Disponível em: < h p://www.belohorizonte.mg.gov.br/atra vos/entorno-debelo-horizonte/>. Acesso em: 08 jun.2018.

134


A conquista da rua em Copenhagen – O caso da rua Strøget Autores: 1.Cáren Lúcia de Alcântara S. VASCONCELOS (crl_asv@hotmail.com) 2.Carlos Augusto Inácio TEIXEIRA (augustoarq13@gmail.com) 3.Eduardo Macedo ALVES (emaarquitetura@hotmail.com)

RESUMO Neste trabalho analisamos a estrutura urbana de Copenhague, apresentando o desenvolvimento de sua expansão, que a par r do Finger Plan, saiu de um cenário de esgotamento da mobilidade para retomar o potencial urbano, u lizando de um sistema de planejamento eficaz; para isso tomamos como principais objetos de estudo as vias pedonais e as ciclovias, que se destacam no traçado urbano pela reestruturação instaurada a par r da década de 60. A ampliação do sistema viário e a modificação das vias de forma a privilegiar o pedestre, a par r da transformação da Rua Strøget, uma importante via da área central da cidade que remodelou o seu uso. Assim a configuração de um centro urbano voltado para o automóvel foi modificada e a mobilidade urbana sustentável passou a ser desenvolvida. PALAVRA-CHAVE: Desenho urbano; Ciclovias; Rua Strøget. ABSTRACT In this work, the urban structure of Copenhagen, in the development of its expansion, from the Finger Plan, le

a scenario of deple on of

mobility and to retake the urban poten al, and using an effec ve planning system; for this had take the main lines of study such as footpaths and bicycle paths, which do stand out due to the change of circula on routes a er a decade. transforma on of Strøget street, a major thoroughfare in the central area of the city that reshaped its use. Thus, the configura on of an urban center focused on the consump on of cars was modified and moved to urban sustentability life. KEYWORKS: Urban design; Bicycle paths; Strøget Street.

145


INTRODUÇÃO Copenhague tem uma importância mundial atualmente, seu bom planejamento reverteu um quadro que todas as cidades dependentes de automóveis tendem a apresentar, no momento certo sofreu diversas intervenções que modificaram seu traçado de tal forma que a enquadra como uma das cidades mais sustentáveis do planeta, tornando-se um exemplo. A preocupação com o transporte e a mobilidade na cidade favoreceu o surgimento de ruas pedonais e de ciclovias, que caracterizam a imagem de Copenhague, e que estão em constante expansão conforme a densidade populacional cresce. A transformação, em primeiro instante, nega va aos olhos da população local de ruas para veículos em ruas para pedestres tornou-se um modelo mundial de solução para o sistema viário de vários centros urbanos, com a proposta de desenvolver espaços mais sociáveis, que visam à integração da população, a vivência da cidade e a comodidade de quem circula pelas vias. Copenhague começou a inves r nesse modelo de rua em meados de 1960, sendo a Stroget a primeira delas, com uma extensão de 1,1km. No ano de 2000, em um estudo apresentado por Jan Gehl em 2007, mostra que a extensão de todas as vias que veram seus usos modificados para pedonais e a extensão dessas ruas na cidade ao longo dos anos, que hoje ocupa uma área de aproximadamente 99.780 . Copenhague sofreu com a crise do petróleo em 1973, o que foi de grande importância para a busca efe va de soluções para resolver o problema com o uso dos veículos nas ruas, sendo essa uma constante que estava se tornando marcante para a cidade. Essa necessidade de renovação no meio de se locomover surgiu porque a cidade no momento da criação do Finger Plan, se comportava totalmente diferente do que se vivenciava no cenário de 70, antes eram em média 30 carros para cada 1000 habitantes, dados estes que aumentaram na década de 80, e que agravou a desorganização no trânsito da cidade. Tendo em vista isso, as diretrizes de planejamento da cidade foram mudadas, iniciando o desenvolvimento de diversas ciclovias ao longo do perímetro urbano, e retomando a modificação das vias do centro

146

Caren Lúcia, Carlos Augusto , Eduardo Macedo


da cidade que com planos experimentais começaram a ser modificadas em 1962 (GHEL,2002). Segundo dados da Cycling Embassy of Denmark, Copenhague tem atualmente um total de 454 km de ciclovias, que integradas a rede de transporte cole vo e as vias pedonais, incen vam de forma eficiente a mobilidade urbana. 1 – Copenhague Copenhague teve sua origem no período medieval, onde as cidades apresentavam ruas bem estreitas, sem nenhum prévio planejamento, com isso é notória sua evolução ao longo dos anos. Seu crescimento favoreceu seu traçado urbano, e hoje apresenta um sistema de transporte que se desenvolve de forma sustentável. As mudanças começaram a par r da Segunda Guerra Mundial, em que as necessidades da época contribuíram para o desenvolvimento do Finger Plan, um plano de expansão em que as cidades cresciam seguindo as linhas de trem suburbanas, direcionando o crescimento para áreas periféricas. De fato isso contribuiu para que a cidade se expandisse uniformemente evitando a concentração no centro. Copenhague se tornou uma cidade pioneira no modelo de planejamento baseado no TOD "Desenvolvimento orientado pelo transporte público cole vo" (MARQUES, 2014, p.51-p.53). A cidade desenvolveu seu planejamento urbano associado ao planejamento de transporte, dando usos mistos para as quadras próximas a essas grandes linhas de trens elétricos. Contudo, com a disseminação dos automóveis como principal veículo de transição nas cidades e o crescimento da população, tendo um número maior de residências do que aquele previsto para serem atendidas pelo transporte nas linhas, algumas pessoas que antes u lizavam os trens passaram a usar o carro e a se mudarem para regiões mais afastadas dessas linhas. Com esse aumento no número de automóveis na cidade o trânsito começou a ser afetado e isso impulsionou o governo a tomar novas medidas. O centro da cidade começou a sofrer interferências, como forma de buscar solucionar o paradigma do carro como protagonista principal da cidade, assim, uma das primeiras medidas foi à re rada dos estacionamentos das praças e a criação da primeira

147


rua pedonal, em 1962, a Rua Strøget que tornou um exemplo para as modificações feitas posteriormente. Todas essas interferências con nuaram seguindo as ideias do TOD, e só o que havia sido feito não era suficiente para suprir todas as necessidades, para tanto criaram um sexto dedo do modelo Finger Plan, direcionado para o que hoje é o município de Orestad, essa sexta linha era ligada por um metrô, que saia do aeroporto de Copenhague e seguia até a cidade. Outra mudança foi à criação da ponte que liga Oresund até a cidade de Malmo (Suécia), que é composta por faixas para veículos e por trilhos para trens (MARQUES, 2014, p.54-p.56). A cidade evolui em seu planejamento urbano, as melhorias em pouco tempo se tornaram evidentes. As mudanças que ocorriam não acompanhavam o ritmo de desenvolvimento dos automóveis, pelo contrário, elas promoviam um sistema de trânsito que evitava o consumo de energia e que priorizava as técnicas sustentáveis. Seguindo esse pensamento, nos projetos eram usados técnicas do traffic calming nas vias, não só naquelas isoladas e sim em boa parte daquelas do centro. Com os desvios das rotas dos veículos automotores, os pedestres que circulavam a pé e os ciclistas ganharam espaço. Para funcionamento do plano era necessário pensar em estacionamentos de bicicletas, já que ela era usada em diversas funções co dianas, tais como trabalhar, passear e comprar. Para que o uso das bicicletas se torne mais vantajoso que o dos automóveis, é necessário criar medidas que dificultem o uso desses úl mos, uma vez que as pessoas vão buscar o modelo mais vantajoso para circularem, além disso, é essencial que as ciclovias estejam espalhadas ao logo de todas as principais ruas da cidade, e que seja marcante a presença do ciclista no local, sendo que isso pode ser feito por sinalização (CHAPADEIRO,2011,P.77-P.79). Segundo Gössling, em sua comparação sobre o uso de dois modais, tais como os carros e as bicicletas, na cidade de Copenhague é mais vantajoso o uso desta úl ma, uma vez que um quilômetro percorrido por carro é, em média, seis vezes mais caro do que se fosse percorrido por bicicleta (2015,p106-p.113). As transformações que ocorreram na cidade, em relação às

148

Caren Lúcia, Carlos Augusto , Eduardo Macedo


bicicletas, não foram radicais, levando em conta o histórico dela, foi um modal usado no início do séc. XX, contudo após as inovações seguintes, foi temporariamente subs tuído pelos veículos automotores, só voltou a ganhar espaço com a crise do petróleo. A população iniciou a conscien zação com os "domingos sem carros", e isso foi dando mais espaço a bicicleta, que logo massificou sua quan dade. Para ter uma noção dessa comparação, a primeira ciclovia de Copenhague foi criada em 1910, contudo só ganhou mais efe va produção nos úl mos 25 anos, isso porque a situação de uma cidade com grandes blocos de edi cios e um complexo sistema viário foi rever da. Jan Gehl teve forte par cipação nesse processo de transformação da malha urbana, contribuindo com suas ideias inovadoras para os processos de melhorias nos modais de transporte e a fruição nas vias da cidade. Isso é comprovado em um trecho de seu livro Novos Espaços Urbanos, que representa sinte camente como se deu essa transição, resultado da consequente conscien zação da população.

149


Em Copenhague, a expansão gradual do conjunto de espaços total ou parcialmente liberados de carros teve três vantagens óbvias. Os habitantes

veram tempo para desenvolver uma

cultura urbana completamente nova e descobrir novas oportunidades. Em paralelo, os proprietários de automóveis veram tempo para acostumar-se à ideia de que dirigir e estacionar no centro da cidade estava agora mais di cil, porem era muito mais fácil pedalar ou usar transporte público. Dessa forma, as pessoas veram tempo para mudar seus hábitos e padrões de tráfego. (GEHL. 2002, p.55). Uma grande parcela da população de Copenhague u liza da bicicleta para realizar o deslocamento da periferia para o centro, isso porque é vantajoso economicamente, uma vez que o planejamento da cidade busca favorecer os ciclistas e dificultar a mobilidade para os carros. O tempo gasto no deslocamento e a fácil acessibilidade para essas áreas também contribuem para a escolha. 2- A vivência na cidade e a Rua Strøget Nos anos anteriores a 1962 todas as praças e ruas da área central de Copenhagen, comportavam uma intensa u lização voltada ao tráfego de veículos e estacionamentos, influenciada pela forte pressão do crescimento automobilís co. Com o advento das modificações na estrutura viária, gradualmente os veículos que dominavam o centro foram sendo restringidos e limitados; desse modo, um grande número de praças

veram seus usos

a

servirem de áreas exclusivamente voltadas para pedestres (GHEL,2002.). Essa modificação por sua vez, começou de forma experimental na Rua Strøget, transformando-a em uma via exclusivamente para o transporte pedonal. A princípio a ideia de modificação recebeu inúmeras crí cas por parte dos comerciantes locais, que alegavam que sem fluxo de veículos o comércio não funcionava e que não exis a uma cultura de vida pública ao ar livre dentro da Escandinávia (GHEL,2002.) , pensamento esse que nos tempos seguintes seriam rever dos de forma significa va, pelo fato da população até então, nunca ter vivenciado experiências de uma vida cole va em espaços públicos.

150

Caren Lúcia, Carlos Augusto , Eduardo Macedo


Com pouco tempo da conversão da Strøget, a indução ao comércio a par r da circulação pedonal foi efe va e tornou-se um modelo bem mais vantajoso em termos populares e comerciais, a medida em que os comerciantes passaram a ver que a circulação de pedestres é bem mais vantajosa à indução do crescimento comercial. Desse modo, mais conversões de vias foram ocorrendo sucessivamente nos anos seguintes, e uma densa rede de ruas voltadas para pedestres foram sendo desenvolvidas (GHEL,2002). Essas conversões não só transformaram a cidade em modelo de mobilidade como também passaram a moldar o modo de vida dentro do centro urbano de Copenhagen. As maiores vantagens aconteceram a par r do desenvolvimento de uma nova cultura urbana. Com as proibições de estacionamentos, as praças começaram a ser ocupadas pela população, surgiram a vidades recrea vas e as áreas deliberadas à vida publica passaram a ter mais vida. Além da notável cultura urbana que foi incen vada, o centro da cidade se tornou mais atra vo e acessível. As modificações nos meios de transporte com a criação das ciclovias e implantação de vias pedonais foram tão efe vas, que grande parte da população passou a se locomover através de bicicletas, transporte que tornou-se mais conveniente e fácil de se u lizar; De acordo com GHEL, com a expansão da rede cicloviária as oportunidades de pedalar são tão boas quanto a de dirigir, tanto que a população prefere ir trabalhar e se locomover de bicicleta. Oportunidades essas que fizeram com que o tráfego de bicicletas crescesse nos úl mos 25 anos e que o numero de veículos na cidade se man vesse constante de 1970 a 1996, assim, só após 1996 o tráfego de carros começou a aumentar, mas com todas as restrições o centro se manteve voltado aos pedestres (GHEL,2002.) A renovação do espaço público começou no centro da cidade com a conversão das ruas para o uso de pedestres. Na fase seguinte, as praças do centro da cidade foram renovadas e transformadas em lugares onde as a vidades urbanas recrea vas veram grande prioridade (GHEL,2002,p.56). 80% do movimento da área central da cidade se dá por conta do

151


a nova cultura que foi incen vada e a de vivência do espaço urbano. Diante das análises podemos concluir que a cidade de Copenhagen, grada vamente vem produzindo um modelo sustentável de lidar com os problemas de mobilidade do meio urbano, causados pela expansão e o adensamento ao longo das décadas. O inves mento em ciclovias, vias pedonais e nos transportes cole vos são importantes fatores para a grande visibilidade que a cidade vem ganhando pelo mundo, e, apesar de haver grande publicidade para servir como atra vo para turismo, as modificações feitas foram de grande importância para tornar o sistema de transporte um modelo de alterna vas para resolver os grandes problemas de trânsito. Além do potencial voltado a mobilidade, mais fatores podem ser agregados às intervenções feitas ao longo do centro da cidade. A mudança da cultura de vivência da cidade, que antes era quase inexistente, de forma a conhecê-la e ter um contato direto, passou a acontecer. A transformação do pedestre como protagonista principal do cenário urbano, tendo como pioneira as intervenções na Rua Strøget tornou Copenhagen uma cidade voltada para pessoas, suas necessidades e possibilitou a conquista do espaço urbano.

Rua Stroget - Foto : Desconhecido (www.setemalas.com)

152

Caren Lúcia, Carlos Augusto , Eduardo Macedo


desenvolvimentos dessas vias, e grande parte dele acontece na Strøget. A primeira intervenção nessa importante via do centro ocorreu em 1962, onde de forma experimental seus usos foram rever dos para pedestres. Em 1964 a via sofreu sua segunda intervenção onde esse uso passou a ser de fato cumprido e a Rua passou a se tornar uma via efe vamente pedonal. Essas modificações transformaram a via tradicionalmente comercial, que só recebia uma quan dade de circulação nos horários de pico, para uma via de convivência social, de interação onde funcionam diversas a vidades num mesmo espaço, o que torna esse espaço vivo. A Rua Strøget é um importante ponto turís co e comercial da cidade e grande parte da economia é advinda desse potencial turís co. Nota-se que os principais usos são voltados para o comércio, sendo esse em parte eli zado, composto por lojas de grife, joalherias, restaurantes renomados. A praça Amargetorv é uma das praças modificadas para o uso exclusivo de pedestres, não há desníveis entre a rua e a praça, o que torna a relação de pertencimento tanto da praça como o da via efe vo; sendo o coração da Rua Strøget, é na praça que ocorrem as principais manifestações e é onde mais se concentram pessoas. Funcionando como uma grande galeria a céu aberto, a paisagem urbana da rua, por sua vez possui uma arquitetura que mantém a tradição histórica da rua, nota-se que não há grandes discrepâncias entre os edi cios e suas alturas, e as maiores modificações ocorrem nas fachadas por conta das lojas, com anúncios e placas. Hoje a Strøget mantém sua configuração inicial, os usos se man veram voltados ao comércio, mas de forma mais diversificada. Por um lado ainda existem muitos edi cios que preservaram seus comércios térreos, o que proporciona uma maior vivência e interação com o local, por outro lado, convivem no mesmo espaço tradicional edi cios mul funcionais, dois modelos que tornam a diversidade existente na via mais visível. A rua passou de um local exclusivamente voltado para o comércio, à um local de manifestação social e cultural, de contato com o local, mantendo suas caracterís cas iniciais, mas acrescentando

153


MAPA USOS STROGET

Comida

Turismo

Roupas/Acessórios

Bikes

Outros

Referências CHAPADEIRO, F. C. (2011) Limites e potencialidades do planejamento cicloviário: Um estudo sobre a par cipação cidadã. Dissertação de mestrado em transportes. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental. Brasília: Universidade de Brasília. GHEL, Jan; GEMZOE, Larz. Novos Espaços Urbanos, 2002. GEHL, Jan. Public Spaces - Public Life - in the 21st Century, 2007. Disponível em: www. urbandesignaustralia. com.au/ images/docs/papers/ Jan_gehlgold_publicspaces_ life. pdf> GÖSSLING, S.; CHOI, A. Transport transi ons in Copenhagen: Comparing the cost of cars and bicycles. Ecological Economics, vol. 113, p. 106-113. Maio, 2015. Disponível em: < agen_Comparing_the_cost_of_cars_and_bicycles>. Acessado em: set. 2015. MARQUES, D. R. (2014) Planejamento de transportes como princípio fundamental do planejamento urbano. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil. Brasília: Centro Universitário de Brasília. SCHOLAR, A. N. V. (2008) livable Copenhagen: The Design of a Bicycle City. Center for Public Space Research, Copenhagen.

154

Caren Lúcia, Carlos Augusto , Eduardo Macedo


BIBLIOTECA ESPANHA: UM CATALISADOR DE SOCIABILIDADES Autores: 1.Ana Luíza LEMOS (analulemos28@gmail.com) 2.Davi Isaac Alves RODRIGUES (davi_isaac@hotmail.com) 3.Natália BORGES (nataliabrgs96@gmail.com) 4.Rafaella MARÇAL (ellacmar703@gmail.com)

RESUMO O presente trabalho propõe-se à reflexões e indagações a cerca da influência do Parque Biblioteca Espanha no contexto social em que está localizado- Bairro São Domingo. Focando no equipamento como monumento simbólico e funcional no tramo urbano que ultrapassa o sen do do edi cio como mero ícone arquitetônico. A discussão se baseia na análise da paisagem e do tecido urbano da cidade a par r da produção de síntese gráfica realizada, com uma metodologia de ampliações que par u do macro- cidade e suas interrelações, ao micro- recorte definido para análise- Biblioteca Espanha no contexto de São Domingo. Nesse sen do buscamos discorrer sobre o equipamento como uma intervenção pontual dentro de um contexto geral, que dada às suas especificidades próprias, respondeu de forma sa sfatória o propósito no qual o plano geral foi criado: integração espacial da cidade formal e informal.

PALAVRAS-CHAVE Urbanismo Social; Pertencimento; Biblioteca Espanha.

ABSTRACT The present work is proposed for the reflec ons and inquiries about the influence of Spain Library Park in its social context of where it is located the San Domingo neighborhood-, focusing on the equipment as a symbolic and func onal monument in the urban sec on which goes beyond the sense of the building as an architectural icon. The discussion is based on the analyses of the landscape and the urban fabric of the city from the graphic synthesis produc on, performed with the methodology of expansion, from the macro-image, of the city and its interrela ons, to the micro-image defined for the analyses, Spain Library Park and its context, San Domingo. In this sense we seek to discuss the equipment as a punctual intervenon within a general context that given to their own specifici es, results in a sa sfactory way to the purpose for which the general plan was created: spa al integra on of the formal and informal city.

KEYWORDS Social Urbanism; Belonging; Spain Library

Biblioteca Espanha: Um catalisador de sociabilidades.

155


NOTAS: [1]Analogia feita por Jaime Lerner entre urbanismo e a medicina que discorre sobre a revitalização de um ponto doente e a área ao seu redor, através de uma picada de agulha. (Acupuntura Urbana, Jaime Lerner, 2003)

INTRODUÇÃO O entendimento de que o espaço público ultrapassa a mera definição de oposição ao privado, se caracterizando como local da construção da comunidade (OLIVEIRA, 2001) adiciona à compreensão da posição do Parque Biblioteca Espanha em seu contexto de idealização, funcionamento e posterior, desa vação. A implantação da Biblioteca foi a legi mação, como intervenção pontual, de um processo de tranformação sica e principalmente social da cidade de Medellín como um todo e em específico o bairro onde foi implantada, São Domingo. A formação do espaço enquanto local em situação de segregação em relação à cidade formal, permi u interpretar que a comunidade estava pronta para o edi cio da mesma forma que o edi cio para a comunidade. Dessa forma a Biblioteca é vista e analisada não como projeto arquitetônico, mas como um catalizador das interações sociais.

URBANISMO SOCIAL E OS PARQUES BIBLIOTECAS Medellin ganha representa vidade no contexto urbano social internacional quando em um curto espaço temporal , 15 anos, deixa de ser uma das cidades mais violentas do mundo para tornar-se figura do que denomina-se por "Urbanismo social". Esse termo é definido por Echeverri, diretor do Centro de Estudos Urbanos e Ambientais da EAFIT University, como uma estratégia "que combina de forma simultânea programas sociais, culturais e de educação com projetos de arquitetura e urbanismo" (2017, p.5). Essa estratégia surge na EDU (agência de projetos e execução urbanos da prefeitura de Medellín) como produto de um processo definido por uma série de discussões e planos que vinham acontecendo desde a década de 90, como resposta à conjuntura urbana de extrema violência que a cidade enfrentava. O obje vo principal era uma mudança estrutural através de planos e programas de intervenção urbana no sen do de resgatar a confiança da população no poder público para condicionar uma transformação de cunho maior: social. Como resultado dessa estratégia surge o PUI- Projetos Urbanos Integrados, como instrumento operacional de concepção e execução dos projetos para as diferentes áreas de Medellín. Essa ferramenta idealiza uma série de transformações pontuais de diferentes escalas que, conectadas, resultam em um processo de transformação holís co, configurando o que se entende por acupunturas urbanas¹. Esse método foi a forma mais eficiente que encontraram de resolver um problema complexo, tendo como uma das ferramentas o projeto par cipa vo dos cidadãos nas tomadas de decisões. (ECHEVERRI, 2017) Desse modo, as intervenções propostas conciliaram

156

Ana Luiza LEMOS, Davi Isaac ALVES, Natália BORGES, Rafaela MARÇAL


BIBLIOTECA ESPANHA

[f.1] Relação das redes de Bibliotecas Parque. Verde- Bibliotecas Vermelho- Centralidades Vinho- Centro administrativo. Fonte: Urbam Eat com edição do grupo.

Biblioteca Espanha: Um catalisador de sociabilidades.

157


projetos de pequena escala, como as intervenções nas ruas e passeios, aos programas de grande impacto. E é nesse contexto que os Parque Bibliotecas se inserem, em conjunto com os projetos de habitação e os Metrocables. Enquanto os metrocables foi o meio u lizado para integração sica da cidade informal com a cidade formal, os parques Bibliotecas representam outro po de integração através da inserção de novas a vidades e serviços, (ECHEVERRI, 2017) e ambos, em conjunto, nham nas propostas do urbanismo social um obje vo comum: a integração dos diversos fragmentos da cidade. Locadas de forma estratégica para atender os diferentes bairros de Medellin, o projeto do Parque Biblioteca é formado por nove Bibliotecas ao todo, incluindo o recorte de análise Parque Biblioteca Espanha. Todas conectadas digitalmente formando uma rede com uma biblioteca piloto e suas filiais (CAPILLÉ, 2017). Esses equipamentos veram papel relevante no contexto de apropriação e interação social em Medellin. Segundo Calderón et al. (2012) a cidade contemporânea revê o papel da arquitetura, transcendendo às idealizações esté cas e funcionais da cidade moderna. Discorrem ainda sobre o papel dos equipamentos urbanos como instrumentos que corroboram para a construção de uma cidade mais justa e democrá ca, uma vez que permitem que a cidadania seja exercida. Indo além, o fato desses equipamentos urbanos serem bibliotecas, efe va ainda mais esse sen do de apropriação da população levando cultura à essa parcela segregada. Segundo

[f.2] Parque Biblioteca Espanha na Paisagem. Metrocables em evidência. Imagem: Ricardo Meija, 2002. Fonte: Urbam Eat.

158

Ana Luiza LEMOS, Davi Isaac ALVES, Natália BORGES, Rafaela MARÇAL


Oliveira (2011) a inserção da cultura nas polí cas públicas ganha espaço pois possibilita a criação de uma cidade cole va através da alterna va de transformações futuras. Dessa forma a cultura, "passa a ser vista como um componente fundamental da qualidade de vida, do empoderamento da sociedade civil, da inclusão das parcelas excluídas da população e da promoção de novas formas de cidadania". (OLIVEIRA, 2011, p. 13). Nessa perspec va, os parques bibliotecas ultrapassam as funções pragmá cas tradicionais de uma biblioteca, para se instalarem como grandes centros culturais propiciando, como discorrido por Oliveira, o acesso à informação "em suas diferentes formas e manifestações, servindo como mediadora na transformação da informação passiva para o conhecimento a vo" (2011, p. 15). E é nesse sen do que os Parque Bibliotecas se fundamentam e o estudo específico na Biblioteca Espanha, como parte do conjunto, se jus fica.

BIBLIOTECA ESPANHA O Parque Biblioteca Espanha foi um dos primeiros parques realizados, consequência da área definida para sua implantação, Bairro São Domingo. Localizado na zona Nordeste,

Biblioteca Espanha: Um catalisador de sociabilidades.

159


Acesso independente aos volumes

AUDITÓRIO

LIVRARIA

CENTRO CULTURAL

Circulação Vertical

CIRCULAÇÃO HORIZONTAL COMUM

[f.3.4.5.6] Croquis da conguração formal e espacial do Parque Biblioteca. Croqui: Ana Luiza Lemos.

160

o bairro possuía um histórico reconhecido de violência na cidade, se enquadrando na estratégia do PUI que definiu como prioritárias as áreas mais crí cas do ponto de vista socioespacial (ECHEVERRI, 2017). A ocupação do bairro se deu de forma espontânea, sem infraestrutura urbana e oferta de equipamentos e serviços formulando um espaço historicamente segregado, tanto sico como simbolicamente. Assim como discorre Negri (2010), a segregação ultrapassa a espacialidade e se formula como uma restrição de oportunidades do ponto de vista educacional, social e econômico. A área onde o parque está localizado de nha mais de vinte e cinco por cento da população e com a situação de renda mais baixa da cidade (OLIVEIRA, 2011). Nesse sen do a implantação do parque Biblioteca Espanha como produto da conjuntura local, obje vava tanto suprir a demanda dessa área por a vidades e espaços de convívio, como uma mudança no cenário de quesito imagé co do bairro, e não somente sico. (ECHEVERRI, 2017) A arquitetura, somado ao programa da biblioteca, teve papel fundamental no es mulo desse sen mento de apropriação e mudança da imagem do bairro. De forma ambígua, enquanto a implantação possuía relação dialé ca com o contexto local no quesito funcional o contraste se evidenciava quando analisamos o edi cio na paisagem, produto da concepção formal de uma arquitetura ícone. Além da arquitetura reconhecível, a implantação, resultado da justaposição do edi cio na malha urbana existente, colaborou na criação de uma noção de pertencimento quando respeitou a cultura de morar² da população existente no bairro. Essa cultura se materializa através da ocupação espontânea que de forma interpreta va, gera uma relação de comunidade mais evidente nessa área. Como produto dessa relação a Biblioteca Espanha, através da praça que se "abre" para a população e as a vidades oferecidas como incen vo às relações humanas, funcionava como uma extensão da rua. Entendendo a rua como um território das relações sociais por excelência- noção que fica evidente em São Domingo devido ao déficit por equipamentos urbanos que o bairro apresentava. Além de suprir a demanda por espaços de convívio, o programa da Biblioteca Espanha extrapolava em influência o espaço sico do Parque quando a exemplo disso, desenvolvia a vidades para capacitação profissional da população. As bases pragmá cas definidas para o projeto das bibliotecas estabelecia como princípios o desenvolvimento humano sustentável; a diversidade cultural; a dimensão social do conhecimento, da informação e da leitura; fundamentação de uma plataforma tecnológica; a par cipação comunitária; comunicação para o desenvolvimento e trabalho em rede; e os empreendimentos das

[2] As quadras sem uma geometria bem denida, condicionante de ruas e caminhos tortuosos, com uma ocupação de quadra sem um critério racional. A relação do edifício com a rua sem barreiras físicas- como analisado anteriormente. Acreditamos que esses aspectos formulam uma proximidade maior do morador com seu entorno e com as pessoas do local.

Ana Luiza LEMOS, Davi Isaac ALVES, Natália BORGES, Rafaela MARÇAL


comunidades (CEDEZO)+ Banco de Microcrédito, já citado (OLIVEIRA, 2011). Em específico, o programa da Biblioteca Espanha dividia-se em três blocos que conformavam a volumetria: o bloco do auditório, livraria e centro cultural. O bloco da livraria era formado pelos pavimentos de exposições e salas de informá ca intercalados e divididos por faixa etária. Tinha-se, portanto, a sala dos adultos, jovens e crianças. No bloco do auditório encontrava-se as salas de aulas para capacitação- onde aconteciam as oficinas, uma sala denominada por "meu bairro", ludoteca e administração. Enquanto que no bloco do auditório aconteciam as funções relacionadas ao mesmo e àquelas de apoio, tais como ves ários e serviços. Através da análise do programa e das a vidades do Parque Biblioteca Espanha, pode-se caracterizá-lo como uma acupuntura urbana benéfica, na medida em que este criou relações posi vas viabilizando a perspec va de melhoria futura na qualidade de vida da população, tanto do sen do econômico quanto social.

Biblioteca Espanha: Um catalisador de sociabilidades.

[f.7] Vista da Zona Nordeste, local onde se encontra o Bairro São Domingo. Imagem: Ricardo Meija, 2002. Fonte: Urbam Eat.

161


[f.8] Relação do edifício com o entorno na malha urbana. Ifonte: Urbam Eat com edição do grupo.

Essas modificações causadas pela intervenção do Parque Biblioteca em conjunto com as intervenções gerais, condicionaram a inclusão do bairro na cidade como um todo gerando uma noção de direito a cidade. Essa noção vai além do acesso aos recursos urbanos, ela permite a modificação do indivíduo, através das mudanças da cidade (HARVEY, 2012). Além disso, a noção de pertencimento se esbarra na configuração formal de um espaço urbano, através de espaços significantes co dianamente para as pessoas (GOBBO, 2007), assim como a Biblioteca Espanha veio a se tornar. Dessa forma, ela se materializa como contradição de uma metodologia recorrente de levar infraestrutura para as áreas já infraestruturadas, na tenta va utópica de rar as pessoas das áreas marginalizadas. A intervenção do parque respeita a cultura de morar e as relações sociais co dianas daquele espaço, "trazendo" esse local para mais próximo da cidade real na mesma proporção que da forma inversa, assimilando assim, a "informalidade urbana como parte da solução, ao invés de parte do problema" (CAPILÉ, 2017, p. 4).

162

Ana Luiza LEMOS, Davi Isaac ALVES, Natália BORGES, Rafaela MARÇAL


CONCLUSÃO A condição de segregação em relação ao processo social e econômico entre Medellín-Centro e São Domingo foi enfraquecido em consequência de as intervenções dos Parques Bibliotecas serem um dos meios de integração e do retorno do direito à Cidade real. Através disso, a biblioteca Espanha é tratada como um paradigma de formalização da democra zação do espaço, com efe vação ní da em São Domingo. Esse processo nos permi u compreendê-la como um catalizador de sociabilidades a medida que a sua apropriação é ao mesmo tempo, condicionante e produto da interação socioespacial em São Domingo/Medellín. Nos permi u ainda indagar: porque o êxito da Biblioteca enquanto um catalisador de sociablidades? Umas das principais proposições é a Biblioteca como um equipamento que oferecia a vidades que induzia o uso e apropriação do espaço. Assim como já descrito, o fato do programa possibilitar outras funções além daquela tradicional de uma biblioteca promovia a polarização das relações sociais. Outra questão levantada à respeito da interroga va seria a condição do equipamento, que não gerou gentrificação no entorno, resultado da Biblioteca ter sido concebida para àquele contexto e para àquelas pessoas, através do projeto par cipa vo proposto no Urbanismo Social. Uma intervenção com um obje vo de melhoramento e não renovação sica. Além disso, a configuração formal da Biblioteca, somado às especulações anteriores, foi determinante no sen do de gerar uma noção de orgulho e pertencimento na população e consequente u lização do espaço. Conclui-se portanto que, todas essas especulações, somadas à mais inúmeras resultado da subje vidade das relações próprias de cada usuário com o espaço em questão, foram as responsáveis pelo êxito da Biblioteca como um equipamento dinamizador das relações socioespaciais.

Biblioteca Espanha: Um catalisador de sociabilidades.

163


REFERÊNCIAS CALDERÓN, Franco; MARÍA, Ángela; CORREDOR, Zabala; KARIME, Sandra. Los equipamientos urbanos como instrumentos para laconstrucción de ciudad y ciudadanía. DEARQ - Revista de Arquitectura / JournalofArchitecture, Universidad de Los Andes Bogotá, Colombia, N° 11, pp. 10-21, dez. 2011. CAPILLÉ, Cauê. Arquitetura como disposi vo polí co: introdução ao Projeto de Parques Biblioteca em Medellín. Revista Prumo, Rio de Janeiro, Brasil, Ano III – N° III - ISSN 2446-7340, 2017. ECHEVERRI, Alejandro. Medellín reescreve seus bairros¹: Urbanismo Social 2004-2011. Revista Prumo, Rio de Janeiro, Brasil,Ano III – N° III - ISSN 2446-7340, 2017. EDU. Medellín, Modelo de transformación urbana - Proyecto Urbano Integral - PUI en la zona nororiental. Consolidación habitacional en la quebrada Juan Bobo. – Medellín : EDU : U n i v e r s i d a d E A F I T. - D i s p o n í v e l e m <h p://www.slideshare.net/EDUMedellin/modelo-detransformacin-urbana-proyecto-urbano-integral-pui-zonanororiental> Acesso em 6 de mai. 2018. GOBBO, Fabiana. Iden ficação e Pertencimento Espaciais: A relação entre os moradores e o espaço da moradia na cidade contemporânea.2007. 261f. Dissertação de Doutorado em Urbanismo – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo d UFRJ. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. MAZZANTI,Giancarlo. Biblioteca Espanha. 17 Jun., 2008. Disponivel em <h ps://www.archdaily.com/2565/espanalibrary-giancarlo-mazzan >. Acesso em: 8 jun. 2018. NEGRI, Silvio. Segregação Sócio-Espacial: Alguns Conceitos e Análises. Revista Coletâneas do Nosso Tempo, Mato Grosso, Ano VII – v. 8, p. 129-153, n º 8,2008. OLIVEIRA, Lúcia. A cidade como projeto cole vo: impressões sobre a experiência de Medellín. Revista Tempo e Argumento, Universidade do Estado de Santa Catarina Florianópolis, Brasil, vol. 3, N° 2, pp. 164-181, jul./dez., 2011. PINHEIRO, Jair. O direito à cidade.Traduzido do original em inglês “The righ othecity”, de HARVEY, David. Lutas Sociais agradece ao autor pela autorização de publicar o ar go. Lutas Sociais, São Paulo, n.29, p.73-89, jul./dez. 2012. 164

Ana Luiza LEMOS, Davi Isaac ALVES, Natália BORGES, Rafaela MARÇAL


A Poesia dos Contrastes às Margens da Ponte de Los Poetas na Cidade do México. Autores: 1. Jennifer Gabrielle Rezende Teixeira (jgr.arquitetura@gmail.com) 2. Marina Morais Barcelos (marinamb26@hotmail.com) 3. Talita Terra Ferreira (talitaterraf@hotmail.com) 4. Tamires Carrijo Marques (tamirescarrijo@hotmail.com) RESUMO Este trabalho visa o estudo da desigualdade social na Cidade do México entre 1960 e 2010 em relação a certos elementos econômicos e territoriais. Serão retomados três principais períodos que apontam problemas estruturais e polí cos nos úl mos anos, como distribuição de renda, mudança no modelo econômico, retração econômica, mudanças na polí ca social e como isso refle u nos níveis da desigualdade. Para dar ênfase ao mesmo analisaremos a região da Ponte de Los Poetas e seu entorno como principal exemplo desse contraste. PALAVRAS-CHAVE Desigualdade; Cidade do México; Contraste. ABSTRACT This paperwork aims at the study of social inequality in Mexico City between 1960 and 2010 with focus at some economic and territorial elements. Three main periods will be retaken and show structural and poli cal problems in recent years, such as income distribu on, changes in the economic model, economic retrac on, changes in social policy and how this reflected in the levels of inequality. To emphasize it, we will analyze the region of Ponte de Los Poetas and it's surroundings as the main example of this contrast. KEYWORDS Inequality; Mexico City; Contrast.

165


INTRODUÇÃO Este trabalho mostra como a desigualdade da Cidade do México se expandiu, a visão geral e suas consequências, entre os anos de 1960 até 2010. O abuso do poder e a falta de transparência são algumas das causas que agravam a desigualdade na Cidade do México. Esse contraste é refle do em aspectos econômicos, polí cos e sociais. Dessa forma, é visível que a concentração de riqueza e a distribuição de renda são agravados com a falta de assistência do governo. O país sofreu várias crises profundas nos anos de 1976, 1982, 1986-1987, 1994-1995 e 2008-2009, houve também uma recessão de 2000 a 2003, derivada da estagnação da economia dos Estados Unidos. Dessa forma, a desigualdade na Cidade do México é discrepante, enquanto a classe burocrata com seus privilégios enriquece o ambiente de negócios, do outro lado a maioria da população que fazem grande parte da economia, trabalham desde muito cedo pela manhã até muito tarde da noite, um exemplo dessa desigualdade é a disparidade de renda que pode chegar a 100 salários mínimos, em bene cio de poucos. No campo da educação, a baixa qualidade contribui nos baixos salários, o que impede uma possível revolução social, já que a população encontra espaço em a vidades informais. Com isso, o problema se torna estrutural, com a marginalização, a falta de acesso à educação de qualidade e a falta de oportunidades, essa parcela da população é excluída. Dessa forma, na primeira parte do trabalho será explorada as razões do desenvolvimento da desigualdade na Cidade do México como um todo, relacionando o crescimento econômico com mudanças na desigualdade no ingresso da população abordando fatos históricos, socioeconômicos, geográficos e culturais. A segunda parte, será analisada a Ponte de Los Poetas como um exemplo dos contrates existentes da desigualdade.

166


Leitura da Cidade do México A recessão econômica Crise Econômica de 1976 A eclosão da crise se desenvolveu desde 1971, com o pior PIB já registrado, o embargo do petróleo em 1973, o impacto na economia mundial suspendeu as compras de bens de consumo, a vidades industriais caíram assim como, falências e demissões em massa. Crise Econômica de 1982 A crise do petróleo 1982, significou o fim do estado de bem-estar e com a chegada do neoliberalismo, trazendo um processo sem precedentes de deterioração dos padrões de vida dos trabalhadores. A crise mexicana de 1982 não é o resultado do modelo de abertura e desregulamentação, mas da queda nos preços do petróleo e polí cas de dívida e desequilíbrio orçamental irresponsável. Crise Econômica de 1987 Foi precedido por um boom de rendimento de 690%, cujo os preços das ações ocorreram em um ambiente de inflação acelerado que bateu 150%. A CNV (Comissão Nacional de Valores Mobiliários) deixou que a população inves sse com rendimento de ate 10% mensal. Então, pequenos inves dores, pessoas sem experiencia, inves am seus salários, emprés mos. Essa ganância devastou com patrimônios de muitas pessoas. O colapso foi quase 70% em pouco mais de 3 meses e con nuou a cair, as pessoas não nham dinheiro. Esse fato, fez com que a população não inves sse mais em mercado de ações, a grande maioria con nua com medo de inves r nas melhores empresas do país. Crise Econômica de 1994 A crise mais grave que o país sofreu nos úl mos anos. O México passava por eleições presidenciais para mudar o governo, as eleições e a mudança de presidente trouxeram desconfiança e

167


instabilidade aos mexicanos. O país passava por um déficit econômico, que foi financiado por inves dores estrangeiros, mas com a instabilidade que se passava muitos re raram seus inves mentos. Houve desvalorização da moeda, inflação, as dívidas como outros países aumentava. Como resultado em 1995, a economia contraiu 6,5 %, 20% do poder de compra foi perdido, os preços dos produtos e serviços dispararam, empobrecendo a população. O desemprego cresceu, 2 milhões de desempregados, o sistema bancário aumentou as taxas de juros, houve corte públicos principalmente em assistência social e a criminalidade por consequência aumentou. O chamado efeito Tequila não só afetou o México, mas outros países la noamericanos. A crise de 1994 foi uma crise bancária, cambial e econômica, o produto de uma liberalização, supervisão bancária muito relaxada e falta de disciplina do orçamento público. Recessão de 2000 a 2003 O cenário era favorável crescimento de 6,9%, inflação de 9%, polí cas econômicas prudentes. No entanto, o superaquecimento da economia aumentou os gastos internos, o que trouxe a aplicação de uma polí ca monetária restri va. A desaceleração da economia dos EUA afetava nega vamente as exportações mexicana. Dessa forma o alto crescimento não se sustentou, pois havia uma dependência dos EUA, do petróleo, problema no sistema judiciário, fraqueza no sistema financeiro e a falta de ações governamentais com o intuito de diminuir a pobreza. Crise Econômica de 2008 A economia do país se encontrava em um ciclo recessivo, que causou um declínio na qualidade de vida. O preço do petróleo estava diminuindo no mercado internacional, a economia dos Estados Unidos, principal parceiro econômico estava em baixa. A taxa de desemprego aumentou, pela gestão inadequada da polí ca econômica. A economia informal cresceu, chegou a 58%. A recessão também afetou os bancos, os emprés mos vencidos e a inadimplência para pagamento de créditos ao consumo

168


aumentaram de forma alarmante. Como consequência, sortes, impostos mais altos, aumento dos preços e serviços pelo Estado, aumento das despesas públicas. As medidas errôneas do governo para combater a crise econômica, fez com que a pobreza aumentasse no país.

Geografia A Cidade do México é considerada a segunda maior cidade em números de habitantes do con nente americano. Ocupa uma parte do Vale do México, localizado na região centro sul, onde teve sua formação na bacia hidrográfica de um lago em Texcoco. Podemos destacar a sua geografia como rugosa, pelo fato da sua malha urbana apresentar um grande contraste na altura das suas edificações. Isso se deu em consequência do crescimento desordenado da cidade.

O trânsito da Cidade do Mexico se tornou uma poesia caó ca Os desafios que o trânsito urbano da Cidade do México enfrenta não pode ser dissociado ao crescimento exponencial e caó co que a cidade vem enfrentando. Ainda mais pela sua diversidade de a vidades, obrigando a população a depender cada vez mais dos transportes público e da segurança na mobilidade. Em meio ao caos do trânsito, a Cidade do México é conhecida por ter a maior concentração industrial, comercial e financeira no país, onde 35 mil indústrias e 3,5 milhões de veículos aumentam o tráfego na cidade, aumentando inclusive a poluição na cidade, que já é potencializada pela sua geografia. O aumento do transito na Cidade do México está associada principalmente pela expansão do número de veículos par culares, que está in mamente ligado ao desenvolvimento econômico da cidade, assim como as melhorias setoriais de renda, aumentando as distancias entre os lugares, refle ndo na deficiência no transporte público, e despertando cada vez mais a v o n ta d e d e te r u m ve í c u l o p a r c u l a r n a c i d a d e e

169


LEGENDAS: [f.1] Mancha urbana da Cidade do México 1910; [f.2] Mancha urbana da Cidade do México 1929; [f.3] Mancha urbana da Cidade do México 1950; [f.4] Mancha urbana da Cidade do México 1970; [f.5] Mancha urbana da Cidade do México atualmente.

consequentemente tornando um ciclo vicioso.

A expansão da mancha urbana refle ndo na desigualdade Podemos destacar que entre 1940 e 1995 a população da Cidade do México teve um disparo, onde grande parte desse crescimento estava ligada à explosão da indústria no centro da cidade, que oferecia melhor acesso a eletricidade, água e gás. Hoje em dia apesar do México viver um momento bastante favorável com um dos maiores e mais sofis cados parques industriais da américa la na, o principal problema que ele enfrenta é a grande desigualdade social, que é ní da em alguns pontos da cidade, como por exemplo na ponte dos Los Poetas. Sua desigualdade traz um cenário bastante dis nto, onde notamos locais de grande pobreza bem próximo a bairros de classe alta. Isso atua na cidade de forma nega va, atraindo a criminalidade, corrupção e conflitos de interesse. Vamos exemplificar, a cidade oferece mais oportunidades para as pessoas progredirem do que a região rural, isso faz com que a população se desloque para os centros em busca de melhorias e emprego, e apesar do México adotar polí cas macroeconômicas, não é o suficiente para promover o desenvolvimento do pais, e

[f.1]

170

[f.2]


nem todas as pessoas que vão para a cidade em busca de emprego, conseguem os mesmos, e quando conseguem, são salários baixíssimos, isso faz com que a mancha urbana se expanda e leve as pessoas a viver em locais de baixa renda, principalmente em locais mais afastados, onde essas regiões não estão preparadas para recebe-las, o que acaba levando para um cenário de extrema precariedade, onde não se tem transporte, energia elétrica, saneamento básico e segurança adequada. A infraestrutura do local se torna péssima, o governo não promove melhorias nessas locais e as pessoas que ali moram, vivem em estado de extrema pobreza, onde notamos esse grande contraste de desigualdade social. Apesar do governo propor desenvolvimentos habitacionais de moradia popular, para frear a produção de habitação irregular, esses locais ficam longe da cidade central. Falta um plano diretor de crescimento, pois no centro da cidade há grande disponibilidade de terra, mas a infraestrutura e os equipamentos são usados com pouca eficiência. A promoção dos desenvolvimentos habitacionais como polí ca pública para frear a produção de habitação irregular contribuiu na reprodução de fracionamentos horizontais. Culturalmente, este modelo desvirtuou o modelo de habitação ver cal já enfocando o mercado para a habitação unifamiliar.

[f.3]

[f.4]

[f.5]

171


LEGENDAS: [f.6] Vista Superior da Ponte de Los Poetas, destacando a divisão de classes; [f.7] Vista Superior de um condomínio de luxo dividindo muro com uma favela; [f.8] Vista Superior do Bairro Santa Fé, mostrando sua desigualdade dividida pela avenida.

[f.7]

172


Ponte de Los Poetas e seus contrastes Muro Invisível de do Bairro de Santa Fé De um lado a pobreza, uma terra sem governo, sem infraestrura. De outro lado, a 300m dali, uma das zonas mais recentes e luxuosas da Cidade do México, com universidades par culares, torres de departamento e complexos empresariais. É discrepante a diferença entre o novo Santa Fé, um empreendimento urbano de maior desenvolvimento financeiro e corpora vo do México, e o an go santa fé, um bairro pobre e violento. Essa proximidade, a qual transforma duas construções com realidades totalmente dis ntas em quase que uma só, consequentemente traz muita violência. Estudos sociologicos oficiais e de organizações não-governamentais defendem a ideia de que o mo vo para tamanha desigualdade está nos altos níveis de jovens fora das escolas, além da alta taxa de desemprego neste setor da sociedade. Poesia para carros, e não pessoas Uma referência importante de deficiência na mobilidade da Cidade do México, é a Ponte de Los Poetas, em que muitas [f.6]

pessoas precisam diariamente atravessar a ponte para irem trabalhar ou realizarem seus afazeres. E é nesse tráfego de pessoas de um lado para o outro da ponte que muitas são atropeladas, pois os pedestres não têm lugar seguro para atravessarem. A solução dada pelas administrações de Manuel Lopez e Marcelo Ebrard para esse grande problema do trânsito urbano na Cidade do México foi a construção de estradas, isto é, eles inves ram pelo menos 16 bilhões de pesos em pontes e conversões em vias expressas. Essa solução proposta pela administração da Cidade do México tem beneficiado progressivamente apenas as incorporadoras de Santa Fé (Bairro que se localiza a Ponte de Los Poetas). Porém as consequências dessa proposta têm causado insa sfação para população, pois esse plano tem refle do

[f.8]

posi vamente somente aos condutores de carros e não aos

173


A população inclusive sugeriu que fossem construídos viadutos, passarelas em um segundo andar da ponte para que os pedestres pudessem transitar de um lado para o outro em segurança. CONCLUSÃO A tendência da Cidade do México é crescer cada vez mais sua desigualdade social, pelo grande crescimento econômico, que são explicadas inclusive pelas suas condições históricas e estruturais na distribuição social da riqueza. E para isso foi lançada uma estratégia central para os próximos governos Mexicanos enfa zando principalmente no equilíbrio macroeconômico básico e alcançar renda e empregos fixos e dignos para a população de baixa renda. REFERÊNCIAS Diagnós co de la movilidad en la Ciudade de México <<h p://www.fimevic.df.gob.mx/problemas/1diagnos co.htm >> El Puente de los Poestas, un peligro para peatone <<h ps://www.publimetro.com.mx/mx/ciudad/2014/04/10/pu ente-poetas-peligro-peatones.html>> Santa Fe y obras viales: cuando el GDF se some ó al desarrollo inmobiliario <<h ps://labrujula.nexos.com.mx/?p=81>> Ciudad de México, una ciudad que expulsa a los pobres <<h ps://elpais.com/elpais/2017/04/06/seres_urbanos/14914 98841_317438.html>> Desigualdade social atrasa crescimento econômico do México <<h p://opiniaoeno cia.com.br/economia/desigualdadesocial-atrasa-crescimento-economico-do-mexico/>> Mundos aislados,segregación urbana y desigualdad en Santa Fe <<h p://www.plataformaurbana.cl/archive/2014/07/20/fotosmundos-aislados-segregacion-urbana-y-desigualdad-en-santafe/>> Medio siglo de desigualdad en el ingreso en México <<h p://www.scielo.org.mx/scielo.php?script=sci_ar ext&pid =S1665-952X2013000200002>>

174


AS RUAS DOS SESCs EM SÃO PAULO Autores: 1.Akemi ESAKI (akemimatsuie@gmail.com) 2.Antônio Pedro MOLINARI (servulomolinari@gmail.com) 3.Gabriela SUZUKI (geksuzuki@outlook.com) 4.Mariana GONÇALVES (marianagsousa15@gmail.com)

RESUMO Neste trabalho são discu dos os edi cios Sesc como extensão da urbanidade da cidade de São Paulo, com o intuito de se compreender a relação da ins tuição com o contexto urbano e seus habitantes. Jus fica-se este estudo pela ida do grupo à cidade e pela visita, vivência à três unidades do Sesc, o que permi u ao grupo uma melhor percepção do espaço urbano de São Paulo e como a população se relaciona com o mesmo. As três unidades escolhidas foram a 24 de Maio, Paulista e Pompéia, por serem projetos de grandes nomes da arquitetura: MMBB + Paulo Mendes da Rocha, Königsberger Vannucchi e Lina Bo Bardi, respec vamente.

PALAVRAS-CHAVE Urbanidade; Sesc; São Paulo.

ABSTRACT In this work the Sesc buildings are discussed as an extension of urbanity in the city of São Paulo, in order to understand the rela onship between the ins tu on and the urban context and its inhabitants. This study is jus fied by the group's visit to the city and by the visit to three Sesc’s units, which allowed the group a be er percep on of the urban space of São Paulo and how the popula on relates to it. The three units chosen were 24 de Maio, Paulista and Pompéia, for being projects of great names of the architecture: MMBB + Paulo Mendes da Rocha, Königsberger Vannucchi and Lina Bo Bardi, respec vely.

KEYWORDS Urbanidade; Sesc; São Paulo.


INTRODUÇÃO Segunda, pré-feriado na Avenida Paulista, pode-se ver de tudo um pouco: prédios comerciais envidraçados onde trabalham diariamente milhares de pessoas, famílias passeando nas largas calçadas da avenida, pessoas voltando para casa de bicicleta, ônibus, carro, outras aproveitando o final da tarde para um happy hour. Eis que surge um palco com luzes e música ao vivo, ao lado uma escada rolante que nos leva a um grande jardim, onde pessoas repousam em puffs ou em cadeiras projetadas por Paulo Mendes da Rocha. Subindo mais escadas envidraçadas, encontram-se pessoas lendo livros, fazendo ginás ca, cantando, dançando, lanchando: eis que estamos dentro do Sesc.

A urbanidade, que vai além do nível da rua e adentra os

edi cios do Sesc dá origem a esta pesquisa. Ao falarmos de urbanidade falamos sobre a condição do urbano, da forma como as pessoas vivem nesse espaço, sua habitabilidade. Ao visitar os Sesc's pudemos vivenciá-la, permi ndo uma análise da relação pessoas-espaço, levando com consideração o contexto urbano e o próprio projeto arquitetônico, que levam em seu par do a importância dessa relação.

Foi a par r da arquitetura dos edi cios que foram

escolhidos os três Sesc's em estudo: 24 de Maio, Paulista e Pompéia, obras de grandes arquitetos renomados que nham sempre em mente durante o processo proje vo a filosofia que a ins tuição do Sesc carrega, a de se criar um lugar democrá co, onde todos podem ter acesso ao lazer, cultura e esportes, que muitas vezes a própria cidade de São Paulo não consegue oferecer a todos os seus habitantes.

HISTÓRIA E CONTEXTO DO SESC NA CAPITAL PAULISTA Foram seis dias de vivência da cidade. Uma cidade que possui mais de 12 milhões de habitantes, vivendo em realidades diferentes, mas que ocupam o mesmo espaço, o espaço urbano. Essa ocupação, de acordo com Calliari (2014), vem sendo intensificada desde início dos anos 2000 até os dias atuais, com a subs tuição dos shoppings center como principal espaço de lazer

176


para a retomada de praças, calçadas, do espaço público pela população. Isso pôde ser evidenciado de forma clara pelo grupo ao longo da viagem, com a visita ao Parque Ibirapuera, onde as pessoas faziam piquenique ao ar livre e se exercitavam; à Praça Benedito Calixto, onde vendiam-se an guidades ao som de chorinho ao vivo; e ao Beco do Batman, onde crianças brincavam de bolha de sabão e as pessoas se deslumbravam com os murais repletos de grafite. Contudo, tais espaços se localizam em regiões nobres da cidade de São Paulo, de di cil acesso aos moradores de outras localidades, como as periferias, tornando-se espaços públicos para poucos. A fim de proporcionar todos esses pos de a vidade e mais diversas outras para moradores de diferentes regiões da cidade de São Paulo, principalmente aos trabalhadores do setor comercial, entra o principal papel dos Sesc's na capital. A ins tuição privada surgiu no Rio de Janeiro em 1946, chegando na capital Paulista em 1947 com a construção do Centro Social Bento Pires de Campos no bairro do Brás. A par r da úl ma metade da década de 1940 diversas outras unidades começam a surgir pela cidade, com o obje vo inicial de levar melhores condições de saúde para os comerciários da época e suprir a carência do atendimento social.

LEGENDAS: [f.1] Beco do Batman em dia de feriado do Dia do Trabalho. Fonte: Acervo do grupo.2018

177


O mais an go dos Sesc's em estudo é o Pompéia, que, de acordo com Ferraz (2015), explodiu como uma bomba em 1982 no ambiente arquitetônico brasileiro e que demorou nove anos (1977-1986) para ser concluído em sua totalidade. O projeto é de Lina Bo Bardi, arquiteta nascida e formada na Itália, porém residente no Brasil de 1946 até 1992, ano de sua morte. De acordo com Santos (2015), a formação estrangeira de Lina contribuiu para o projeto do Sesc uma vez que “Pompéia é o signo de uma Itália, apesar de distante, presente de forma visceral em cada gesto do projeto e, de forma mais racional, no trabalho de restauração e revitalização das construções an gas”, uma vez que a unidade nasce de uma an ga fábrica de barris. Foi a par r também de uma ocupação de um an go edi cio no centro que surge o Sesc 24 de Maio, inaugurado em LEGENDAS: [f.2] Antiga fábrica de tambores da Pompéia. Fonte: Paquito. 1972 [f.3] Antiga loja da Mesbla no Centro de São Paulo. Fonte: Folhapress [f.4] Antigo Edifício José Papa Junior na Avenida Paulista. Fonte: Rafael RC

178

2016. O edi cio original era sede da Mesbla, uma an ga loja de departamento, que fechou suas portas no final dos anos 1990. O projeto surge da colaboração de dois grandes escritórios, o de Paulo Mendes da Rocha e o MMBB. Paulo Mendes é arquiteto brasileiro e ganhador do Prêmio Pritzker. De acordo com Co (2006), são algumas das marcas de sua obra a clareza e


essencialidade estrutural, o desprezo pelo supérfluo e a indispensabilidade da solução constru va, frutos da Escola Paulista. Seguem também o mesmo ideário, segundo Guerra (2005), o escritório formado por Fernando de Mello Franco, Marta Moreira e Milton Braga, o MMBB, que já realizou diversas parcerias com Paulo Mendes em projetos de grande porte para órgãos ins tucionais e do governo. O mais recente Sesc inaugurado é o Paulista, que abriu suas portas em abril de 2018. O projeto do Sesc Paulista é de autoria do escritório Königsberger Vannucchi, que “é referência obrigatória na arquitetura de edi cios comerciais.” (MOURA, 2007) . O Sesc Paulista pode não ser um edi cio comercial, mas surgiu do retrofit de um an go prédio de escriórios. A inauguração desse úl mo Sesc ocorreu mais de 30 anos após a construção do Pompéia, o que mostra a relevância da ins tuição na cidade e que constantemente abre novas unidades, tentando atender a grande demanda da população, que u liza diariamente o espaço e a vidades que ele promove, criando um lugar onde as diferenças se misturam e a urbanidade floresce.

LEGENDAS: [f.5] Sesc Pompéia, projeto de Lina Bo Bardi. Fonte: Gabriela Suzuki. 2018. [f.6] Sesc 24 de Maio, projeto de Paulo Mendes da Rocha+MMBB. Fonte: Eduardo Knapp. 2018 [f.7] Sesc Paulista, projeto de Königsberger Vannucchi . Fonte: Pedro Vannucchi. 2018

179


180 LEGENDAS: [f.8] Localização dos Sesc’s em estudo na cidade de São Paulo. Fonte: Google Earth. Org. pelos autores.2018


181


182 LEGENDAS: [f.9] Trajeto realizado pelo grupo. Fonte: Google Earth. Org. pelos autores.2018


183


VISITA AOS SESC’S Ao visitar os edi cios do Sesc pudemos ver de perto essa urbanidade que vai além do nível da rua e ultrapassa os limites de sua escala, adentrando o edi cio de uma forma até mesmo mais intensa. Mesmo sendo todos Sesc's, as experiências foram únicas em cada uma das unidades, seja pelo contexto urbano em que estavam, pelo público que as atendiam, pelas a vidades promovidas, pelo horário. Assim as visitas possibilitaram a percepção de diferentes pos de manifestações da urbanidade. O primeiro edi cio a ser visitado foi o 24 de Maio. A visita ao Centro ocorreu em um sábado de manhã, as expecta vas eram de encontrar um centro histórico tradicional e não houveram decepções. Chegamos na Estação da República, e nos deparamos com o cenário esperado, edi cios históricos, ruas pouco movimentadas e muitos moradores de rua. Depois de poucos minutos de caminhada visitamos edi cios icônicos como o Edi cio Itália e Copan, que apenas confirmavam o esperado. Outra parada foi a Escola da Cidade, só que desta vez a realidade era diferente, o edi cio era uma ocupação de um an go edi cio residencial, o que nos mostrou uma nova realidade do Centro. LEGENDAS: [f.11] Letreiro de LED marcante na entrada do Sesc 24 de Maio. Fonte: Gabriela Suzuki. 2018

184

O nosso próximo local de visita no Centro foi o Sesc 24 de maio. Já em suas proximidades pudemos sen r uma dinâmica diferente, haviam pessoas andando no meio de uma estreita rua,


vendendo bugigangas, cantando e até mesmo fazendo capoeira. Além da dinâmica do entorno, o próprio edi cio se destacava formalmente, pela sua esté ca contemporânea em meio à tantos edi cios históricos. Esté ca esta, semelhante à de edi cios corpora vos que nos criou novas percepções e expecta vas. Ao entrarmos no edi cio, a primeira surpresa. Grandes aberturas facilitavam o fluxo e tornavam o primeiro pavimento uma extensão da rua. Grandes mobiliários eram u lizados por diferentes pessoas de diferentes formas, jovens estudando, trabalhadores descansando, moradores de rua dormindo, crianças brincando e idosos lendo. Foi um choque, nhamos descoberto um novo mundo que se escondia dentro daquele edi cio. Logo após veio uma dúvida, como seriam nos outros 13 pavimentos? Ao chegar no café, o grupo se surpreendeu com a qualidade da organização espacial, dos mobiliários e acabamentos, isto porque na nossa realidade, essas caracterís cas estão sempre associadas ao alto poder aquisi vo e não a espaços públicos. Outro fato marcante foi a diversidade de pessoas u lizando este espaço, uma vez que, em nossa realidade o público normalmente é definido pela classe social. Tudo isso possível, graças a qualidade e aos valores acessíveis, que se estendiam também à comedoria e à lanchonete. Por

LEGENDAS: [f.10] Locais de descanço e de alimentação dentro do edifício. Gabriela Suzuki. 2018

185


exemplo, no almoço os valores eram de 17,00 R$/kg, para os sócios e 40,00 R$/kg para visitantes. Na visita ao edi cio, pudemos aproveitar também a biblioteca, as áreas de exposições, e espaços de convivência. Nestes espaços, além da presença dos sócios, notamos a presença de várias pessoas que pareciam estar ali apenas de passagem, visita, ou ter ido lá para um fim específico. Por exemplo, ao visitarmos a área de convivência do terceiro andar havia um grupo de estudantes de arquitetura realizando um trabalho. Nos iden ficamos e desejamos ter um espaço semelhante, as mesas eram grandes, nham vários pontos de tomada, o espaço era agradável, além disso, estar em um espaço público permi u a interação destes alunos com diversas pessoas, de diferentes locais, idades e classes sociais. Outro caso que nos chamou a atenção foi a presença de um número significa vo de idosos na biblioteca. Ao oferecer um local seguro, agradável e confortável, a presença dos idosos torna-se mais viável, vale lembrar que a presença de diversidade de idades é muito importante e enriquece a experiência urbana. Assim como a presença de idosos tem a sua importância, LEGENDAS: [f.12] De idosos à crianças, do esporte à cultura: diversidades dentro do Sesc 24 de Maio. Fonte: Gabriela Suzuki. 2018

186

a presença de crianças também é essencial, inclusive existe um pavimento des nado a elas. Quando passávamos por ele, as brincadeiras similares às de rua, e a diversidade social, étnica e


cultural foram um dos pontos que mais nos chamaram a atenção. Entendemos como uma boa forma de diversificar o lazer das crianças, uma vez que as a vidades sicas estão se tornando cada vez mais inacessíveis. Além disso, conviver com realidades diferentes é essencial para a formação de uma sociedade mais consciente e empá ca. Além das a vidades abertas ao público geral, existem também algumas que são restritas aos sócios, como por exemplo o uso da piscina e dos consultórios odontológicos. Para estas, existe um público definido que visita o local para um fim específico. O segundo edi cio visitado foi o Sesc Pompéia. Já era fim de tarde quando chegamos ao Sesc. Havíamos acabado de chegar da Avenida Paulista após uma tenta va não sucedida de entrar na unidade Paulista, devido ao grande alvoroço de sua inauguração. Desse modo, pôde-se perceber um grande contraste entre as duas unidades, seja pelo público, pelo entorno, pelo edi cio e pelas a vidades oferecidas. A rua de acesso do Pompéia estava calma, pouco carros e poucas pessoas caminhando. Mas ao entrar no estabelecimento o espaço público ganha vida. Haviam pessoas comendo, conversando nas mesas externas, brincando, pra cando esportes, lendo. A sensação era de que estávamos em uma

LEGENDAS: [f.13] Entrada do Sesc Pompéia pela Rua Clélia. Fonte: Gabriela Suzuki. 2018

187


pequena vila, uma cidadela, assim como Lina Bo Bardi enxergava seu projeto. Esta caracterís ca, só era possível graças à horizontalidade, caracterís ca que o difere dos outros objetos de estudo. Este aconteceu a par r da reocupação da an ga fábrica de barris, de forma que os galpões originais foram man dos e hoje dão lugar à espaços de cultura e alimentação. O primeiro galpão é des nado para a biblioteca, espaço de convivência, exposição e espaço infan l. Ao entrarmos, já sen mos uma atmosfera diferente. A iluminação era aconchegante, exis a um espelho d´água que nos conduzia e vários barcos de papel pendurados no teto. O galpão era bem amplo, e a forma como as a vidades interagiam entre si era incrível. Ao lado dos idosos, que liam e jogavam xadrez na biblioteca estavam as crianças que brincavam no espaço infan l. Espalhados pelo galpão, estavam as exposições e áreas de convivência, que pareciam pertencer, e não apenas terem sido colocadas naquele espaço. Conversavam com o espelho d´água projetado por Lina, que complementa a ludicidade do espaço. As pessoas transitavam entre suas curvas, enquanto LEGENDAS: [f.14] Primeiro Galpão da Cidadela de Lina: espaço lúdico de interação social. Fonte: Gabriela Emi. 2018

188

contemplavam a exposição, ou descansavam ao som da água corrente. Depois de visitarmos o primeiro galpão, seguimos para o


segundo e o terceiro, onde estavam localizados o teatro e os locais definidos para a vidades ar s cas e artesanais específicas. No teatro, o grupo se surpreendeu com a intensidade de atrações programadas, além dos valores acessíveis. Já nas a vidades ar s cas e artesanais vimos estações de costura, gravura, pintura, todos muito bem equipados e organizados. Dessa forma a condição financeira não era um limitador para que as pessoas pudessem ou não realizar determinada a vidade, iden ficando assim mais uma importância que os Sesc´s desempenham na sociedade. Além dos galpões, foi construído um edi cio que abriga as quadras espor vas. Durante a visita, foi possível iden ficar uma grande quan dade de jovens u lizando estes espaços. Ao observar um pouco mais as a vidades realizadas, vimos que o uso destas é principalmente de treinamento, e não apenas recreação. O envolvimento de jovens com esportes é algo de extrema importância para a formação, além de evitar que muitos entrem no mundo das drogas e crimes. O que traz um outro ponto de importância do papel dos Sesc´s na sociedade. Existe interligando as quadras e os galpões, um deck, que abriga vários

pos de a vidades, dentre elas palco para

pequenos shows, como foi o caso do dia da nossa visita, espaço para brincadeiras de crianças, ou até mesmo local para tomam

LEGENDAS: [f.15] As atividades de distribuem nos antigos galpões, no edifício brutal de concreto e no deck de madeira. Fonte: Gabriela Suzuki. 2018

189


sol. De forma geral, as pessoas que encontramos u lizando o Sesc eram pessoas que pareciam ser moradores do entorno ou frequentadores que realizavam uma a vidade específica. Por fim, a úl ma visita aconteceu no Sesc Paulista, em uma segunda feira, após a primeira tenta va malsucedida. Contudo ao retornar à Avenida Paulista em um outro dia da semana, nos possibilitou duas experiências dis ntas do luagar. A avenida é um dos grandes pontos turís cos da cidade de São Paulo, sendo um dos principais corredores financeiros da capital. Contudo nossa primeira visita ao local aconteceu em um domingo de manhã, dia da semana que a avenida ganha novas caras e se transforma em um dos principais pontos de encontro de paulistanos e turistas. Suas ruas se fecham para veículos e dão espaço para que pedestres, ciclistas, ska stas, cachorros, vendedores ambulantes, músicos, ar stas ocupem o espaço, transformando-o em um corredor de lazer e cultura.

O passeio começou no encontro da Paulista com a

Consolação, com a visita ao recém-inaugurado edi cio do Ins tuto Moreira Sales, descendo a avenida avistamos os grandes centros empresariais e edi cios mistos, com diferentes LEGENDAS: [f.16] Entrada do Sesc Paulista em dia de inauguração. Fonte: Gabriela Emi. 2018

190

es los arquitetônicos, uns contemporâneos, como o Stan Paulista, outros das décadas de 1960 e 1970, como o Conjunto Nacional e Edi cio Nações Unidas. Em meio a tantos prédios nos


deparamos com dois casarões que revelam um pouco da história da avenida, que foi no início do século XX, moradia da elite paulistana. Hoje um está fechado para visitações, e o outro, Casa das Rosas, faz parte do conjunto de edi cios culturais da Paulista.

Os edi cios culturais eram os que mais atraíam o público,

que faziam fila para visitação, seja no Masp, no Fiesp ou na Japan House. Contudo nenhum deles conseguiu se comparar ao Sesc Paulista, que em dia de inauguração atraiu milhares de pessoas com sua programação exclusiva e atrações para todo o po de público. A população paulistana já esperava ansiosamente o prédio que demorou oito anos para ser concluído, resultando em um edi cio que consegue se destacar em meio a tantos outros da avenida. Com suas fachadas envidraçadas, o prédio só ganha vida com a presença de pessoas circulando em seus pavimentos.

Devido ao alvoroço da inauguração não conseguimos

entrar no Sesc, deixando a visita para outro dia. Na segunda feira tentamos mais uma vez. Mesmo em pleno início de semana haviam muitos visitantes, mas conseguimos entrar no que parecia uma grande festa em plena avenida. Ouvia-se a música desde a rua, uma vez que no primeiro pavimento acontecia um show de samba, com pessoas cantando, dançando. Já no segundo pavimento um contraste, pessoas descansavam no jardim e na sala de convivência.

LEGENDAS: [f.17] Contraste de usos entre pavimentos. Fonte: Gabriela Suzuki. 2018

191


Colocando em prá ca uma das diretrizes do novo Sesc, a

tecnologia, diversas a vidades diferenciadas voltadas para esse campo eram oferecidas para as crianças, como a criação de animações digitais e realidade virtual. Na sala mul mídias assis mos um recital poé co, com mixagem e distorção do som feitas ao vivo, abordando temas como preconceito contra transexuais. Desse modo pudemos perceber que a condição financeira não é um limitador para que as pessoas, e principalmente ar stas, criem conteúdos no espaço, que oferece equipamentos de iluminação, som e imagem para todos.

A abertura para esses ar stas também pôde ser

percebida nos pos de apresentações que estavam dentro da programação de inauguração do Sesc. Uma delas era a Dança dos Parafusos, uma dança criada pelos escravos e performada por um grupo de ar stas vindos diretamente do nordeste brasileiro. É o Sesc dando novas oportunidades para ar stas de todo o país, que muitas vezes não conseguiriam ter tanta visibilidade quanto veram durante o evento. LEGENDAS: [f.18] Sesc criando novas oportunidades para a população: da performance ao café com vista privilegiada. Fonte: Gabriela Emi. 2018

192

Circulando pelas escadas do Sesc pôde-se ter uma visão

panorâmica da avenida, unindo seu dinamismo com os programas do edi cio. A cada pavimento um novo ambiente, um novo uso, sempre bem u lizado pelo público, desde a biblioteca, que oferecia até máquinas de criar contos, à sala de pilates, com


equipamento completo de ginás ca. Chegando no terraço um café servia um cardápio acessível e diferenciado, o que atraía o público pela vista privilegiada e pela comida.

A unidade já estava fechando, mas o público con nuava a

festa na rua, com a apresentação de projeções na fachada do edi cio, oferecendo um pouco do que é o Sesc Paulista para a avenida, para a cidade. Um espetáculo à céu aberto.

CONCLUSÃO Após vivenciar um pouco de cada uma das “ruas do Sesc´s’’, pudemos perceber que este vai muito além de uma mera extensão do espaço público, uma vez que oferece uma diversa gama de serviços e a vidades que a cidade de São Paulo muitas vezes deixa a desejar. Não se trata apenas da qualidade do espaço, mas de sua ocupação, a presença das pessoas. A visita permi u que fizéssemos parte desse grupo de pessoas, frequentadores do Sesc, seja para conhecer uma nova obra arquitetônica, para um almoço rápido, jogar xadrez com um desconhecido, ou ler um livro. Para costurar com as amigas, jogar o futebol na terça à noite ou até mesmo apenas rar um cochilo. O que vimos no Sesc foi algo especial, que de alguma forma nos deu um fundo de esperança e orgulho de vivermos no Brasil. Esperança, porque com esforço, respeito e dedicação coisas boas

LEGENDAS: [f.19] Grupo vivenciando os Sesc’s e a cidade de São Paulo: mais uns dentre tantos outros. Fonte: Acervo do grupo. 2018

193


são realizáveis. E orgulho porque somos capazes.

REFERÊNCIAS CALLIARI, Mauro Sérgio Procópio. Espaços públicos de São Paulo: o resgate da urbanidade. 2014. 152 p. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo)- Universidade Presbiteriana Mackenzie, SãoPaulo,2014.Disponível em:<h p://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/348/1/Ma uro%20Sergio%20Procopio%20Calliari.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2018. CO, Francesco Dal. Paulo Mendes da Rocha: Pritzker Prize 2006 (1).2006. Disponível em:<h p://www.vitruvius.com.br/revistas /read/arquitextos/06.071/358>. Acesso em: 11 jun.2018 GUERRA, Abilio. Quatro projetos do grupo MMBB (1). 2005. Disponível em: <h p://www.vitruvius.com.br/revistas/read/ arquitextos/05.056/510>. Acesso em: 11 jun. 2018 MOURA, Éride. A prá ca faz a perfeição. 2007. Disponível em: <h p://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/155/ ar go42683-1.aspx>. Acesso em: 11 jun. 2018. Portal Sesc, NossaHistóra. Disponível em: <h p://www.sesc.com.br/portal/sesc/o_sesc/nossa_historia/> . Acesso em 3 de julho de 2013. SANTOS, Cecília Rodrigues Dos; BARDI, Lina Bo; FERRAZ, Marcelo Carvalho. Coleção Lina Bo Bardi: Sesc fábrica da Pompéia factory. 1. ed. São Paulo: Edições Sesc, 2015. 53 p. v. 5.

194


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.