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Geopolíticas da memória

Renato Cymbalista (FAU-USP/Guia dos Lugares Difíceis)

Mais do que diversidade, as rodas “Monumentos, ruas e museus” e “Patrimônio imaterial como narrativa e identidade” revelam uma nova geopolítica da memória em São Paulo. A Quilombaque e o museu Tekoa Jopo´i mostram, plenamente instaladas, temporalidades e espacialidades específicas de Perus, que dispensam as cronologias consagradas da cidade. O Coletivo Coletores há muito deixou de ser um grupo “da quebrada” e age na cidade inteira. As territorialidades e temporalidades guaranis trazidas por David Karai Popygua não pedem licença para existir — afinal, sempre estiveram por aqui e sempre estarão. Os projetos do Veracidade têm relações maduras com o poder público e as políticas públicas. Os povos que convencionamos chamar de “da quebrada” (prefiro pensar que são mundos, universos) já fizeram a sua parte, por mérito próprio. Já os brancos têm ainda bastante chão pela frente. Alguns passos importantes estão sendo feitos: reconhecimento, respeito, consciência de privilégio são alguns deles. Mas é preciso ir além. Abandonar definitivamente as falas autorizativas, totalizantes e explicativas. Atentar para a forma como a “quebrada” descreve o centro e, com isso, o constrói. Abrir mão das representações da cidade baseadas na dualidade centro versus periferia,

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que recolocam os lugares de centralidade de sempre. Encontrar as nossas próprias natividades e ancestralidades, e passar a falar a partir delas, como uma dentre tantas tribos que precisam construir regras de convivência e compatibilidade entre tantos mundos que coexistem na cidade.

Grande parte (talvez tudo) do que tratamos como verdades de tempo, espaço, história, memória na cidade são as crenças, a magia e os espíritos dos brancos, que foram mais fortes no passado e continuam prevalecendo no presente. Não precisa ser assim no futuro.

Obra: O Carro do Ovo Coletivo: Aparelhamento

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