uma análise sobre a estética das mídias na amazônia e na cultura pop
Por acilon hb calcante. desenhos de moaccyr kelley.
uma análise sobre a estética das mídias na amazônia e na cultura pop
Por acilon hb calcante. desenhos de moaccyr kelley.
FICHA BIBLIOGRÁFICA. cavalcante, acilon. kelley, moacyr
boca de ferro: uma análise da estética das mídas na amazônia e na cultura pop. ed. ppgartes ufpa. belém, pa. ISBN
INTRO, P.05 FAZ UÓ, P.10 ESFREGA, P.13 LINKS, P.20 LEITURA E PERCEPÇÃO, P. 21 GESTALT, P.24 PESO VISUAL, P.28 CENTRO PERCEPTIVO, P.30 ENERGIA VISUAL, P. 33 PASTICHE E MIMESE, P. 30 SIMETRIA, EQUILÍBIO & DINAMISMO, P.41 ELEMENTOS VISUAIS, P.46 LINHA, P.48 FORMA, P.49 VOLUME, P.51 LUZ, P.54 COR, P.56 DISTOPIA, P.65 ARIVERDECCI, P.68 BIBLIOGRAFIA, P.69 FICHA TÉCNICA, P.69
Quando Bill Gates ou Steve Jobs, ou ainda Steven Swoniack, Douglas Engelbart ou qualquer um que tenha contribuído para o surgimento do que hoje é a cultura digital, essencialmente midiática, que faz parte da vida de boa parte da população que habita as cidades do planeta, talvez não tenham percebido a implicância que essa nova forma de existir traria à produção de imagens sob o ponto de vista das cidades e das periferias do planeta. Castels (2001) na Galáxya da Internet, coloca que os principais pólos produtores de informação que são a base dessa nova cultura continuam sendo as cidades que já produziam antes um volume considerável de informações, no caso americano, destaca ao Vale do Silício na Califórnia e à Região de Manhattan em Nova Yorque. O mesmo, em escala reduzida, ocorre no Brasil. Os principais centros econômicos são também os principais centros de informação, nesse contexto, a Amazônia se encontra na periferia de uma região que globalmente já é periférica. Cerca de apenas 0,5% dos domínios registrados na web são provenientes da Região, e destes, perto de 70% provém das Regiões Metropolitanas de Belém e Manaus.
Então a REDE, orgânicamente determinada pela web, apresentase de forma polarizada, onde os grandes centros são também os maiores produtores de informações, e assim como nas cidades, ela possui centros e periferias.
Há no entanto, um elemento primordial que diverge a web dos sistemas econômicos e urbanos atuais, que é justamente o seu capital. O capital da cultura digital é a INFORMAÇÃO
os maiores centros de informação são também os maiores produtores midiáticos, maiores produtores de patentes, de direitos autorais e de imagens, o que não significa que a perferia não produza informação, o contexto da cultura na Amazônia apresenta peculiaridades tão fortes, que mesmo em uma situação periférica, com distâncias entre seus centros que só não são maiores que a falta de estrutura para percorrê-las, há uma produção local própria e autêntica, uma criação pulsante e midiática, Belém por exemplo, é uma cidade altamente multimidiática.
Afirmar que Belém é multimidiática, passa por elementos da sua cultura urbana, das artes visuais, de projetos sociais, do mercado e da educação.
Não é de hoje, as festas de aparelhagens, comuns na periferia de Belém, apresentam artifícios tecnológicos multimídia que envolvem o público, criam novas formas de expressão e traduzem até novos estilos musicais: o tecnobrega e o tecnomelody são exemplos de uma produção musical que surgiu desta fusão entre a cultura digital e a produção musical da periferia.
A figura do DJ, do Vj, o pioneirismo no uso de painéis de LED em shows, raios laser, projeções, animações 3D e diversos outros elementos que tornaram característica essa manifestação típica da cultura local. Nesta cena, começam a despontar nomes no início do Século como os de Roberta Carvalho para as Artes Visuais, Luan Rodrigues, Kauê Lima, que usam o mapping como forma de expressão.
Tal contexto também foi acompanhado pela produção visual artística, pois além do Salão Xumucuís de Arte Digital que já completa 02 anos de existência, as referências de artistas que exploram essa linguagem já alcança um número significativo de nomes, só para citar alguns como: Lu Magno, Roberta Carvalho e Armando Queiroz, entre outros de uma geração que usa os recursos da cultura digital para evidenciar a cultura local, promovendo uma fusão de linguagens bem características e que impõem à cibercultura uma linguagem amazônica, uma geração de conteúdo singular na websfera.
O mercado local também acompanha essa inserção midiática, nas últimas feiras e eventos de porte da cidade como a SUPERNORTE 2009, Feira da Indústria 2009, a EXPOSIBRAN 2008 e 2010, empresas paraenses ou situadas no Pará promovem a criação de estandes com espaços interativos como forma de integrar a população local ao seu mercado e integrar suas marcas na sociedade, exemplo da campanha do Círio 2009 da Vale, promovido por uma agência local e da Campanha O Minério na Minha Vida, da mesma companhia em 2010.
Desde 2005 existe um curso de graduação em multimídia na capital paraense, além deste, cursos de comunicação paulatinamente vêm inserindo ao longo dos últimos oito anos disciplinas capazes de preparar seus alunos para esse mercado. Os recentes programas de graduação em desenvolvimento de jogos digitais, tecnólogo de produção multimídia e cursos de pós-graduação na mesma área criam um corpo de profissionais que buscam se preparar para o desenvolvimento desta área.
Corta para um homem branco, caucasiano, usando boné, jaqueta e taco de beisebol que prossegue a música em um streetpark indoor, onde dá seguimento com sua performance ao melhor estilo dos grupos do hip-hop americano..
Começa com um ringue de boxe, uma dançarina muito bonita usando um figurino ao estilo Madonna inicia uma dança onde joga os cabelos afros no ar enquanto canta o início da música.
para finalmente entrar em cena um típico louro sAxão de olhos claros em uma construção grafitada e abandonada.
Os três performam com a câmera, os três dançam como popstars internacionais, os três estão envoltos por elementos da cultura urbana ao melhor estilo yanque, com grafite, skate, beisebol e boxe, mas o quê eles dançam?
Quando finalmente coloco o áudio vejo que a música é um TécnoBrega, estilo musical que se popularizou na periferia de Belém do Pará, unindo o tradicional Brega paraense com a música eletrônica europeia. O nome da Banda é “Uó”, e não é nem de Belém, nem do Pará, mas de Goiânia, tampouco a bela morena do início do clipe é uma mulher, pelo menos não por genótipo, já que se trata de uma transex, mas esse é só mais um elemento ao apelo imagético que possui essa produção
Eu tô aqui.
Agora vou me ater um pouco aos detalhes pra você ver tentar entender: Brega é uma música típica da periferia da Amazônia e do Nordeste, que mistura a música caribenha com o rock americano ao melhor estilo Chuck Berry e Elvis Presley, sem esquecer que a Jovem Guarda dos anos 1960 também influenciaram muito esse estilo musical.
Autores de bregas são famosíssimos fora do MainStream do mercado brasileiro: Wanderley Andrade, Amado Batista, Reginaldo Rossi, Cícero Rossi, cada um com uma produção própria e cultuados no seu público, mas que, talvez à exceção de Reginaldo Rossi, nunca tiveram uma preocupação com a imagem como a que é mostrada na atual produção “brega” do Norte do Brasil.
ô Sofrência sofrida demais!
Agora pulemos um pouco para os anos 1990, quando o estouro mundial da música eletrônica mostrou grupos muito interessantes, principalmente os ingleses, com formações pouco vistas até então, onde não músicos não eram necessariamente imprescindíveis para a produção de música. Entre esses grupos musicais, posso destacar o Prodigy, banda inglesa composta por um Dj, um vocalista e 2 dançarinos, rotulada pela crítica como TecnoPunk, além de fazer performances com skatistas em um ralf e seus clipes mostrarem performances muito similares ao hip-hop dos guetos americanos.
Agora um pouquinho de mozart.
What the fcuk?
O fato de o Prodigy ser citado aqui, é porque a leitura intermi diática feita para a banda Uó mostra além de uma formaç ão similar , com um Dj, um vocalis ta e um dançar ino, a descriç ão dos cenário s e person agens que podem ser aplicad os aos hits de progra mas de vídeo-c lipes mais popula res do mundo, e não de uma música situada na “perfer ia” do mercad o, como é o TecnoB rega. Outro grupo do mesmo estilo do Uó, a Gang do Eletro, mostra os mesmos elemen tos de cultura urbana em sua produç ão: o Treme.A o mesmo estilo do Prodigy , eles perfor mam com a câmera pelas ruas do Ver-o-P eso, uma das feiras mais tradicio nais do Brasil, como se estives sem brigand o com a câmera , como mostra na figura abaixo. A grande diferen ça está nas cores e nos sorriso s dos person agens do clipe à margem do foco da câmera .
Outro elementos de cultura urbana é a dança de rua, no caso, o “Treme”, similar ao streetdance em que os dançarinos usam as calçadas de espaços públicos das grandes cidades para mostrar sua habilidade. No caso da Gang do Eletro, há elementos bem característicos locais, como os colares de miçangas no peito de um dos vocalistas e as próprias cores do Ver-o-Peso, mas no geral, a linguagem de vídeo-clipe toma características que não se guiam por regionalismos, elas interagem com a produção que é feita em qualquer parte do mundo.Quando pensase em mercado, observa-se que até os dias de hoje, nenhum artista brega havia realmente se preocupado em criar uma imagem. Essa capacidade intermidiática de misturar elementos, de produzir uma imagem internacional a partir de características locais tem em grande parte, a ver com a nossa percepção da natureza e do universo, e como ela é afetada pelas mídias que nos bombardeiam de informação nas grandes cidades do mundo.
TREME, TREME, TREME, TREME, TREME, TREME, TREME, TREME,,,,,
Essa é a relação estética que tomamos ante aos fenômenos midiáticos, a experiência que nos toma. No sentido mais kantiano da palavra, a “Estética” é a capacidade de percebemos a natureza através dos nossos sentidos. Eita menina danada!
No entanto, há várias décadas que essa capacidade vêm sendo alterada de forma a criar seres híbridos, seres que necessitam aparelhos midiáticos para conectarem-se não somente ao mundo físico, à natureza que os olhos podem apreender, mas também ao universo telemático, as criaturas, cenários e informações que o ciberespaço imprime em nossa realidade, ou que são nativos e exclusivos da própria realidade virtual presente no espaço de dados da cibercultura. EU ERA A RAPOSA, VOCÊ ERA AS UVAS...
Alguns teóricos já alertam para isso há alguns anos, como Roy Ascott, que fala em a “Arquitetura da Cibercepção” para a necessidade de arquitetos projetarem espaços para esse novo ser humano e para essa cibercepção, conforme descreve no trecho a seguir:
A percepção é uma sensação física interpretada à luz da experiência. A experiência é agora telematicamente compartilhada: a tecnologia das telecomunicações computadorizadas permite que mudemos dentro e fora de cada um de nós a consciência e a telepresença no fluxo mediático global.*
*(ASCOTT In LEÃO, 2002)
Logo, a intermidialidade aqui será tratada como o estudo das relações entre diferentes mídias ou diferentes linguagens intermidiáticas, para com isso, aplicar construções de imagens em diversas plataformas e artes, desde a arquitetura, indo pela produção de conteúdo para a web, para cinema, televisão, quadrinhos e outras plataformas de mídia.
Trataremos da leitura intermidiática a partir de elementos da Gestalt, onde as “Orientações e Direções Espaciais” exploradas nas artes por Fayga Ostrower em seu livro “Universos da Arte” nortearão o encaminhamento pelas diversas produções analisadas aqui neste livro. Esta obra terminará com os elementos visuais e a contribuições destes para a leitura visual intermidiática.
que brilhante ideia! vou chamar de rato
doug engelbart
Esta obra surge para mostrar que nada vem do nada, as referências estão aí, culturais, artísticas, estilísticas, etc. E a leitura que fazemos a partir do conhecimento de diversas mídias que bombardeiam cotidiano, podem tornar muito interessante nossa própria produção, além de prover um grau de entendimento de nós mesmos, nossa cultura, nosso tempo e nossa sociedade.
GANG DO ELETRO https://www.youtube.com/watch? v=AGTZ5CBBLso
FAZ UÓ https://www.youtube.com/watch? v=JCThfoKkX20
Prodigy https://www.youtube.com/watch? v=6_PAHbqq-o4
A priori, não existe uma gramática visual, se levarmos em consideração a mesma complexidade que uma gramática apresenta na linguagem verbal, no entanto, assim como línguas diferentes apresentam variações que incorrem em diferenças culturais, geográficas e históricas, mostradas em diferentes interpretações, como nas diferentes versões do cartaz do filme Moulin Rouge para o ocidente e o oriente.
As diferenças são bem claras. Enquanto no ocidente a composição prima por um visual dinâmico, em que linhas diagonais funcionam como parâmetros para o beijo e o moinho ao fundo, passando uma mensagem de juventude, no cartaz para o oriente, onde a menção à um beijo pode ser considerada agressiva, dá-se lugar a uma composição clássica com elementos tipográficos tomando conta da superfície do cartaz. Este é mais um exemplo de como aspectos culturais influenciam na leitura.
Neste exemplo, vemos outra relação da imagem com a cultura. A leitura que o carro da esquerda está descendo enquanto o da direita está subindo é natural, mas você sabe por quê? A resposta é simples, e tem haver com a maneira que nós lemos, no ocidente, da esquerda para a direita e de cima para baixo, conforme o esquema abaixo:
As setas mostram o caminho dos nossos olhos durante o processo de leitura. O mesmo que ocorre em um jornal, um cartaz, em qualquer mídia impressa.
Outro exemplo interessante é a marca do webprograma porta dos fundos. Nesta marca, o posicionamento do pictograma do homem em direção à direita, indica que ele está saindo pela pela porta e não entrando por ela em outro lugar. Veja a diferença se a marca fosse ao contrário:
Nessa versão, a figura poderia estar saindo de um ambiente e essa sensação dá-se pela presença de outro elemento, a luz, que será explorada mais adiante, mas já dizer que se chama porta dos fundos fica mais difícil, é como se a figura estivesse se encaminhando à entrada ou saída principal de algum lugar.
Não são só elementos culturais que influenciam na nossa leitura, há também os elementos oriundos da própria natureza, como gravidade, figuras orgânicas, as cores do céu, das plantas, etc.. Para se ter um entendimento mais claro de todas essas relações, separei essa primeira sessão desta chamada “Gramática Visual” em duas partes: Orientações e Direções Espaciais e uma outra intitulada Elementos Visuais. Para o entendimento de ambas, por vezes irei atrás de recursos da Gestalt, outras vezes da Semiótica, de acordo com a intenção de expor determinados elementos.
Antes de mais nada, é preciso entender que o tipo de leitura que pretendemos explorar nesta sessão é de caráter bidimensional e, muito embora, haja técnicas de computação gráfica 3D, desenhos em perspectiva de altíssimo nível de realidade, a leitura ainda assim é bidimensional, pois está inserida em uma tela, ou um plano, que por sua vez está limitado por uma margem, uma moldura ou mesmo o fim do papel. Fayga Ostrower (1991) em seu “Universos da Arte”, produção bibliográfica onde narra sua experiência de ensinar arte para operários de uma fábrica, aponta bem essa situação:
“Estava certo, ele tinha percebido bem. Expliquei que os contornos funcionavam como limites. Essa função é importante. Ao mesmo tempo que delimitam e contêm um espaço interno, isolando-o do meio ambiente, determinam sua forma.” OSTROWER, 1991, P. 45
tô fora! Para ilustrar a afirmativa de Ostrower, digamos que o professor desenhasse no quadro duas superfícies retangulares com círculos, a pergunta seria: Quantas composições temos no quadro?
A resposta clara é que existem 3 composições, a do primeiro retângulo, a do segundo retângulo e uma outra formada pelos dois retângulos dentro da lousa. Estou usando retângulos, mas poderia ser círculos ou outra forma geométrica qualquer, contanto que ela levasse ao limite de uma forma. Tal recurso é sempre muito utilizado na indústria gráfica, como nas capas de revistas:
Na capa acima, é possível identificar pelo menos 06 formas de retângulos, indicando 04 superfícies de composição diferentes. Duas no topo da página, ambas amarelas, mas referindo-se assuntos diferentes. Uma vermelha na base da página, uma central, com a foto do jogador Robinho e se formos mais preciosistas há ainda a do código de barra, que por si implica em uma microcomposição. Mas além dessas todas existe a composição geral, formadas por todas as outras cuidadosamente orientadas em um retângulo maior.
Uma vez que já definimos os limites de uma capa de revista como determinantes da forma, podemos identificar a distribuição de outros elementos em sua composição. Alguns autores como Collaro (2007) por efeito didático, simplificam as zonas de composição como Zonas Mortas e Zonas Primordiais, mas para chegar até essa definição, é interessante conhecer a relação dessas áreas com tudo o que vemos e que possibilita uma educação visual:
Aqui, volto ao exemplo da figura 07, exemplo nos dado por Fayga Ostrower(1991) dos retângulos desenhados no quadro. Pare para analisar.
Agora responda qual o retângulo maior? Até por já imaginar que se trata de uma pegadinha, você deve saber que os dois são do mesmo tamanho, mas se você parar para refletir, vai perceber que o retângulo da esquerda parece muito mais comprido, já o da direita parece mais robusto. São exatamente o mesmo retângulo, o que possibilita essa diferença é justamente o posicionamento vertical ou horizontal dos dois, acentuado por uma pequena circunferência na base. O nome disso é PESO VISUAL.
E DE ONDE VÊM ISSO? Justamente de tudo o que estiver ao seu redor. Pode perceber, se você estiver lendo isto na sala ou ar livre, perceberá que os elementos vão se adensando à medida que se aproximam do chão, bem, o nome disso é gravidade, não é novidade pra ninguém, mas se não estivéssemos na Terra e sim na Lua, ou em Marte, talvez nossa relação de peso visual fosse diferente, tal como no quadrinho “John Carter from Mars”, depois adaptado para o cinema, que mostra o herói com uma capacidade sobre humana de dar grandes saltos quando transportado para o planeta vizinho.
Um lugar onde esse peso visual é bem latente, é justamente na praia. Veja na imagem de Salinas, uma das praias paraenses preferidas por mim, a Praia do Atalaia, essa imagem imagem de paraíso só pode ser tirada fora de temporada, pois nas férias escolares a areia é tomada por carros, ambulantes, banhistas e quase não se vê a areia, mas vamos à imagem:
A cena bucólica evidencia o maior elemento visual da composição na base inferior, a mesa com cadeiras e guardasol. Mas ainda assim, a areia é percebida como um elemento sólido na parte inferior da composição e conforme nosso olhar vai subindo, podemos perceber que os elementos tornam-se mais leves, fluidos, ar. Não é à toa, que em capas de revistas essa mesma composição é utilizada:
Nesta capa da Revista Super Interessante, percebe-se uma composição em que predomina a tipografia. Conforme a leitura desce a visão, observa-se que os elementos tipográficos aumentam, evidenciando o peso na base da mesma. Apesar de isso ser bastante utilizado na indústria gráfica, não significa que seja regra, vejo o exemplo da Revista Veja com a capa cujo tema é “Medicina da Alma”:
Mesmo tendo uma pílula grande na base, se você traçar uma linha na horizontal exatamente no meio, notará que boa parte dos elementos compositivos estão no hemisfério superior da revista, e isso é proposital, pois se o objetivo é transmitir leveza, é natural que os elementos levitem na área de composição. Toda a composição, bem como sua orientação e direção espacial, estão interligados, e veremos a seguir que o peso visual irá influir na próxima área compositiva, o centro perceptivo.
Você já reparou na sua foto 3x4 da carteira de identidade?
Você já reparou que todas as fotos 3x4 seguem o mesmo padrão compositivo? A mesma estrutura visual? E de acordo com esse print do Google Images, pouco importa se você é presidente dos Estados Unidos ou um vendedor de rua, sua foto 3x4 será a mesma. Essa estrutura não é somente originária das fotos 3x4, mas sim das composições clássicas do Renascimento, em que o estudo da geometria mostrava que por conta do peso visual, tendíamos a enxergar o centro de uma estrutura um pouco mais acima do que ele realmente é, ou seja, acima do centro geométrico. Isso ocorre porquê como existe o peso visual, tendemos a ver o que é vertical mais vertical e o que é horizontal mais horizontal do que realmente é. Ostrower (1991) narra sua experiência com os operários do curso de arte: Se formos analisar esse elemento compositivo tanto na arte, quanto na mídia, vamos encontrar um padrão, como pode ser visto nas três imagens seguintes:
Primeiro, a clássica imagem de Leonardo da Vinci, La Gioconda, que apresenta de forma bem clara uma estrutura triangular, onde o rosto e em particular o seu sorriso, encontra-se no centro perceptivo, ao invés do centro geométrico.
Agora, um filme americano com Júlia Roberts no centro perceptivo. Apesar da maçã ter uma grande relação semiótica com a história do filme, o rosto da atriz vende mais, pois muitos espectadores vão ao cinema para ver a estrela do filme.
Por último, um filme nacional que conta a história de Luiz Gonzaga, vulgo “Rei do Baião”, que apresenta exatamente a mesma estrutura das outras duas imagens.
Logicamente, tal estrutura visual cresce em significado ao longo dos séculos, pois como na história da arte, era utilizada para representar santos e figuras ilustres, na mídia dos dias atuais ela remete ao mesmo significado, como nessa e em tantas outras Madonas de Rafael de Sanzio e outros artistas renascentistas e dos séculos posteriores:
Como você bem pôde ver, uma vez dominados os elementos da estrutura visual, é possível utilizar tais referências para composições diversas. A cultura visual do ocidente deixou um legado de imagens que se perpetuaram em suas repetições, e na era da imagem digital, tais repetições marcam o eco das composições clássicas.
Quando sobrepomos as áreas de orientação e direção espacial, é possível encontrar áreas de convergência visual, onde existe uma maior concentração de energia.
Como você pode perceber no esquema, o encontro da diagonal de leitura com o peso visual leva o olhar do leitor diretamente para essa determinada área. Esse aspecto da composição deve ser explorado muitas vezes por designers em seu trabalho.
veja alguns exemplos.
Este tabloide de Belém possui uma capa particularmente engraçada, pois além de posicionar a modelo com o título “perto da nudez total” nessa área, os olhares cabisbaixos da quadrilha presa faz parecer que todos olham os atributos estéticos da mesma.
Esse caráter apelativo não é uma novidade de tabloides da Amazônia ou do Brasil. Na Inglaterra por exemplo, a capa apresenta sempre uma imagem de uma modelo com seios fartos, porém coberto, quando você abre a segunda página, a modelo está lá, com seios amostra. Na República Checa, as modelos ficam com os seios à mostra logo na capa, como apelo visual à venda do produto.
A repetição de uma estrutura visual recebe o nome de pastiche, enquanto a repetição de um modelo implica em uma mimese. Isso é fácil entender. Por vezes, a repetição de estruturas visuais como a que vimos no tópico anterior, aplicam uma composição que por sua genialidade ou singularidade um aspecto especial, tornando-a uma peça de referência, ou clássica por assim dizer. Aí sua repetição torna-se tão comum, que fica quase impossível afirmar que ela origina-se em determinada composição visual. Peguemos por exemplo o pinto holandês Vermeer. Há duas obras clássicas suas onde é possível perceber a repetição até os dias atuais. Vamos à primeira:
Moça com brinco de pérola tem uma história tão interessante que já possibilitou a produção de um filme homônimo. Mas não foi só isso que a pintura possibilitou.
Frequentemente em revistas de moda, a pose feita pela modelo de Vermeer é encontrada, como nesta capa da Vogue russa.
No maior cartão postal de Belém, também é possível identificar uma clara referência ao pintor holandês:
E não para por aí, vamos identificar que mesmo na era contemporânea é possível criar estruturas imagéticas, principalmente com os recursos novos da tecnologia do cinema.
http:// www.youtube.com/ watch?v=cdKjNOLl58E
http://www.youtube.com/ watch?v=sIwEe97vHAY
Corra Lola Corra, de Tom Tinkwer é um verdadeiro clássico contemporâneo ligado às tendências do despertar do novo século. Sua narrativa alinear e convergência de outras mídias para o filme criaram um estilo único que foi copiado para outras produções,
http://www.youtube.com/ watch?v=vx2u5uUu3DE
A revista Vogue é conhecida como o maior ícone editorial da moda mundial, mas essa notoriedade veio com o tempo e com os atributos artísticos de seus colaboradores, entre eles o fotógrafo alemão naturalizado americano Horst P. Horst, que claramente serviu de inspiração na construção imagética do clipe Vogue de Madonna.
Outro elemento visual presente no clipe vogue é o voguismo, estilo de dança que iniciou nos anos 1970 nos clubes glbts de Nova York que dão a impressão que os dançarinos estão participando de um desfile sendo fotografados em poses diferentes. http://www.youtube.com/watch? v=8Rc7u3hriVg
http://www.youtube.com/watch?v=GuJQSAiODqI
Vou começar esse tópico falando de filmes de terror, aqueles de casas mal assombradas ou assassinatos inexplicáveis, vou começar com imagens de casas de 04 filmes: Terror em Amityville, Família Adams e Psicose.
Além de serem extremamente aterrorizantes, também passam a sensação de total desespero nas tomadas exibidas nos filmes, mas esse aspecto visual não surge ao acaso e aí surgem os elementos Equilíbrio, Simetria e Dinamismo. Então primeiro falemos um pouco de cada para depois analisarmos essas imagens e outros exemplos.
Para falar de simetria, vou recorrer ao trabalho de Carl Borvill intitulado Fractal “Geometry applied to Architecture and Design”. Nele, Borvill afirma que a sensação de geometria vem justamente da natureza e a partir dela, é que surge a sensação de beleza e harmonia. Ponha-se em frente ao espelho, você verá que o braço direito é acompanhado do braço esquerdo, o olho direito do esquerdo, assim como pés, mãos, mamilos e aqueles elementos que são únicos ficam ao centro: boca, nariz, umbigo...
Quando observamos as casas dos filmes citados, todas tem em comum ou a assimetria, ou tomadas de forma que pareçam assimétricas, o que provoca uma sensação de desarmonia e consequentemente de desequilíbrio no espectador. O desequilíbrio é provocado justamente quando uma imagem tende mais para um lado que para o outro, não há balanço nas forças da imagem proposta, para isso vou sair um pouco das cenas de terror e mostrar uma logo que tinha tudo para ser desequilibrada, a nike. Por esta outra imagem, você pode perceber que se existisse algum valor nessa área, o peso da marca ficaria em baixo. A solução do designer foi colocar o maior valor compositivo no lado oposto à área de concentração de energia.
Sabendo disso, usei similar solução na marca da Farma Líder de Belém. O dilema era simples, o grupo líder já tinha uma marca reconhecida e era necessário criar uma marca a partir da marca do grupo para a farmácia.
Para dar equilíbrio à marca, tive que escolher um tipo que pudesse alongar o máximo possível o nome farma, o que mesmo assim, não perdia o desequilíbrio, pela cor e pela força tipográfica da marca Líder.
Obseve que pelo grid, o valor da área de maior concentração de energia produz um total desequilíbrio da marca. Era preciso acrescentar um outro elemento que permitisse trazer harmonizar as partes da composição.
Com este novo elemento agregado à marca, consegui produzir duas coisas, uma integração maior do Farma com o Líder, mesmo sendo tipos diferentes, e eliminei o desequilíbrio da peça, retirando elementos visuais relevantes da área de maior concentração de energia.
Mais uma vez, vamos ao clássico, numa clara comparação entre a Santa Ceia de da Vinci e a de Tintoretto, conforme Ostrower nos ajuda a comparar. A mesma cena, retratada de formas completamente diferentes. Uma passa ideia de paz, tranquilidade, simetria, perfeição. A outra passa a ideia de bagunça, movimento, inquietação. O segredo das diferenças entre essas duas composições está nas linhas verticais|horizontais da primeira e nas linhas diagonais da segunda. Isso é simples de entender. Quando estamos parados, mesmo que em pé, nos encontramos numa postura vertical, se estamos em repouso ou dormindo, estamos na horizontal. Qualquer ideia de movimento é dada por linhas diagonais, pois elas não estão nem na horizontal ou na vertical, e isso é amplamente explorado pela indústria gráfica.
Nesse cartaz do filme Wolverine, sutilmente todos os elementos estão levemente inclinados, evidenciando o dinamismo de linhas diagonais. Se voltarmos a falar das casas de filmes de terror, veremos que a única casa simétrica, está em um tomada que acentua o dinamismo da mesma, tornando uma sensação de desarmonia evidente.
Esses estudos de composição nos ajudam a entender como manipular as imagens para transmitirem a mensagem que desejamos, mas eles não são os únicos. As orientações e direções espaciais nos propiciam conhecer e projetar os espaços da imagem bidimensional, mas a seguir, veremos o que deve ser exposto nestes espaços, os elementos visuais.
Os Elementos Visuais funcionam como as palavras que formam as frases e, assim como elas estão divididas em classes e podem ser substantivos, adjetivos, pronomes etc.., os elementos visuais podem ser a linha, a forma, o volume, a cor, a textura e a luz. De acordo com LUPTON & PHILLIPS (2008), em os Novos Fundamentos do Design, Ponto, Linha e Superfície são os alicerces do Design (p. 13) o que me leva ao meu primeiro dilema de análise dos elementos visuais, já que assim como OSTROWER (1996), não considero o ponto relevante graficamente para trabalha-lo como um elemento isolado. Para isso, uso como argumento uma citação dos próprios autores: “Graficamente, contudo, o ponto toma forma como um sinal, uma marca visível. Um ponto pode ser uma manchinha de matéria insignificante ou um foco de força concentrada.” (LUPTON & PHILLIPS, p. 14, 2008). De acordo com a referência dos autores, o ponto será visto como uma forma, e apresentam normalmente formas circulares para representá-los, por isso, aqui usarei o ponto ou como forma, ou como elemento compositivo da textura, conforme os próprios autores empregam: ”Texturas e padrões são construídos a partir de grandes grupos de pontos e linhas que se repetem, revezandose ou interagindo na formação de superfícies singulares e atraentes.” (LUPTON & PHILLIPS, p. 13, 2008).
Antes de mais nada, a linha é uma construção abstrata da mente, apenas isso e por isso, sempre abstrata. Aí você pode dizer: “Mas e uma linha em um carretel, é o quê?” Bem, se ela ocupa um lugar tridimensional, deixa de ser abstrata e também deixa de ser linha, passa a ser volume. Mas isso não significa que não possa ser formada por objetos tridimensionais, veja o exemplo das cercas.
Nem sempre a cerca precisa ter um elemento horizontal para se comportar como um limite. No caso da cerca acima existe um sutil arame que liga os dormentes, mas quase imperceptível. O que denota a cerca como uma linha é justamente a repetição deste elemento, que nos leva à segunda característica da linha, a continuidade. continuidade das carteiras e nada mais, pois não existe um elemento que junte as mesmas.
Essa cena do filme The Wall, mostra bem o uso das linhas para denotar uma formação.Apesar de normalmente permitir uma forma, nem sempre isso ocorre, como no exemplo acima, mas ela está constantemente associada, quando por exemplo, uma linha encerra o limite entre uma parede e o chão, ou o teto.
A primeira característica da forma que temos que levar em consideração é que ela é bidimensional, ou seja, estende-se em altura e largura e necessariamente, impõem um limite à leitura visual. A figura abaixo mostra três exemplos distintos de formas:
Essa relação da forma com o cérebro irá se repetir em outras construções com a forma, pois, apesar de ser estritamente bidimensional, não necessariamente exclui a sensação de tridimensionalidade que planos sobrepostos podem fornecer, principalmente quando acrescidos de outros elementos visuais, como é o caso da luz e textura,
Um retângulo, uma elipse e um paralelogramo. O que você pode perceber no entanto, é que o último não completa a forma, ele possui uma pequena interrupção, quem completa a forma é o nosso cérebro, através da propriedade de continuidade de outro elemento visual, a linha.
uma vez acrescentados à uma composição bidimensional. Faça o teste abaixo, você enxergar uma sobreposição ou um encaixe?
Bem, eu não estou vendo sua reação, mas tenho quase certeza que você sinceramente optou pela primeira opção, e isso ocorre por um simples motivo. Lembra quando falamos das relações dinâmicas e estáticas da composição? As dinâmicas necessariamente possuem linhas diagonais como referência. O mesmo ocorre aqui. No próximo elemento visual, o volume, veremos que é fundamental que existam linhas diagonais para dar essa sensação de tridimensionalidade, pois o volume é necessariamente dinâmico. Já quando posicionamos elementos bidimensionais bidimensional em composição dinâmica, como é o caso aqui, você verá que o princípio e a interpretação são os mesmo. Acompanhe as transformações de superfícies bidimensionais quando inserimos o que Ostrower chama de “Os elementos visuais mais dinâmicos” (1996, p81):
Esta continua sendo uma imagem bidimensional, mas agora a inserção de uma transparência e um jogo de luz e sombra promovem uma sensação de tridimensionalidade que antes não existia
Primeiro a logo da apple desde 1989 até 1997, época conhecida como a fase negra da empresa. Nesta, observamos somente as formas da maçã em uma superfície preta sobre o branco. Em 1997 Steve Jobs reassume a empresa e assim como em 1984 a apple foi a primeira empresa a usar policromia em uma marca, dessa vez eles resolvem atribuir outros elementos visuais à mesma.
Falar de volume, luz e textura, é falar dos elementos visuais dinâmicos, porque esses efetivamente saem da dimensão plana da tela e alcançam a tridimensionalidade. Os primeiros a explorar a simulação da realidade em 3 dimensões foram os romanos, fato que chegou até nós através das ruínas de Pompéia, em que os afrescos nas paredes mostram um certo conhecimento das técnicas de representação em tridimensionalidade, fato bem diferente do que foi observado em toda a arte medieval até o surgimento de Giotto, na Florença do Século XII.
Nessa imagem vemos que Pompéia era cidade que existia em função do prazer, para a gastronomia e sexualidade. Quase todos os afrescos de Pompéia retratam esses tipos de atividade, o que impossibilita o entendimento real é simplesmente características de proporção entre os personagens das composições, que às vezes mostram-se discrepantes. Na Idade Média a perspectiva e o volume pode ser simplesmente desconsiderado, tanto na cultura ocidental como na oriental, como você pode ver no exemplo do Livro da Escada de Maomé do Século X e numa Iluminura representativa do Livro Gênesis da Bíblia.
Nelas, podese perceber a bi dimensionalidade das representações, muito embora seus artistas tentassem propor algum volume, eles simplesmente não tinham a técnica para isso.
A real proporção do volume só foi entendida no Renascimento, a partir dos estudos da perspectiva linear que era estudada por gregos e romanos, aplicados em Pompéia e esquecidas por toda a Idade Média, por parte do Arquiteto florentino Fillipo Brunelleschi, que conseguiu representar com extrema verossimilhança ambientes e construções, que lhe rendeu o nome da técnica de perspectiva dos arquitetos.
Agora para entender a real expressão do Volume no meio gráfico, tome como exemplo a figura abaixo:
Nesta imagem, é impossível estabelecer uma relação de tridimensionalidade entre as duas formas, até inserirmos linhas diagonais entre os mesmos.
Nesta, observamos que as linhas diagonais permitem a relação que inexistia da figura anterior. Por motivos de direcional de leitura que já foi vista na seção sobre orientações e direções espaciais, é bem mais fácil posicionarmos o retângulo da esquerda na frente, mas numa situação como essa em que só temos alguns poucos elementos para interpretar, é perfeitamente possível fazer uma leitura contrária, com o da direita à frente.
Você também pode extrair da figura acima que acrescentamos mais uma superfície à perspectiva, o que culmina em outra característica em relação ao volume, é que quanto maior a incidência de superfícies, maior a sensação de tridimensionalidade que teremos dela
Essa é uma das tantas imagens da Renascença que podemos usar para mostrar a incidência de superfícies e linhas diagonais na criação de volume. Primeiro na própria representação da perspectiva, com um ponto de fuga central. Depois, através das vestimentas das figuras do Anjo e da Madonna, em que as diversas dobras do tecido imprimem um volume maior, além da luz e da sombra, como veremos a seguir.
Quando falamos de luz, na verdade falamos do contraste formal entre o claro e o escuro, conforme apoia Ostrower, “como elemento de linguagem visual, a luz não deve ser confundida com a representação do fenômeno natural luz.” (1996, p.96) pois quanto maior o contraste entre o claro e o escuro, maior a vibração e as implicações que isso pode ter em uma composição
Este é o típico elemento visual que encontra na arte maiores expoentes, principalmente em escolas como o barroco, como na Santa Ceia de Titoretto, mas a publicidade e a comunicação visual também podem fazer uso de seus atributos para imprimir uma mensagem, como no filme TROM, e no comercial da Apple para o Superbowl de 1984 do novo computador MacIntosh, em que os valores de claro e escuro são o elemento presente em todo o desenrolar da trama.
Essa última imagem do comercial da Apple para a apresentação do novo produto de 1984, o primeiro computador de interface gráfica com sucesso comercial, que mudaria a forma como trabalhamos, nos divertimos e relacionamos nos dias atuais. Cabe aqui uma pequena análise do vídeo através dos valores de claro e escuro mostrados na narrativa. O vídeo trata do livro distópico de George Orwell intitulado “1984”, em que ele cita uma sociedade militarizada onde a presença do Grande Irmão (Big Brother), enxerga todas as ações dos indivíduos. Para quebrar a narrativa do filme, a Apple é representada através de uma lançadora de martelo que além dos cabelos claros, também possui tom de pele e roupas que se destacam do entorno através de valores claros ante à atmosfera escura. Os indivíduos, como você pode ver na próxima imagem, além de carecas, usam roupas escuras e uma penumbra cinzenta. O interessante de usar esse vídeo como exemplo, é que aqui o elemento luz se destaca não pelo fenômeno luz, não há essa coincidência como nos dois exemplos anteriores, mas pela caracterização dos personagens.
Um dos elementos mais expressivos, e por isso um dos mais importantes, é a cor. Importante, porque quando falamos de cores, fazemos relações entre os tipos de cores, entre significados em diferentes culturas, entre as possibilidades de variações tonais, intensidade, saturação e demais formas de expressão da cor. Além é claro, das relações entre cores quentes e frias, primárias e secundárias.
Neste ponto, eu normalmente apresento a música Blue Monday do grupo inglês New Order em contraponto à música Azul de Djavan para mostrar que diferenças culturais irão incidir em significados diferentes numa mesma cor. A tradução literal de Blue Monday, ao invés de ser Segunda Azul, é na verdade Segunda Triste e o azul, faz referência ao frio, à tristeza, no trecho quem que diz “Quando esfria o coração..” Enquanto que na música de Djavan, os acontecimentos demostram um clima muito mais alegre, associando o azul à cor do céu.
Agora estou aqui, em pé, a espera... Pensei que tinha dito a você para me deixar Enquanto desço a pé até a praia Me diga como é a sensação Quando esfria o seu coracao (Blue Monday – New Order,)
Agora para ilustrar essa diferença peguemos uma das artistas mais expressivas, já mostrada aqui, Madonna, no clipe de “La Isla Bonita” (198?). Aqui ela usa a cor para ilustrar a atmosfera latina, na dicotomia existente entre o profano e o sagrado.
Perceba na primeira cena, um santuário, em que o Azul é representante do celeste, enquanto na segunda cena, a atmosfera sensual do clipe é dada pela combinação em torno do vermelho.
Podemos usar o trabalho a mesma artista para mostrar essa diferença cultural no clipe Frozen (199?), onde o azul é mostrado com uma conotação totalmente saxã, em que libera valores de frieza. frozen), e expressam também um atmosfera triste, tal como o significado da palavra em inglês.
Outra cor bem apresentada nesse clipe é o preto. Quem for analisar o preto, verá que esta cor apresenta o misticismo que é empregado ao vídeo. Essa cor tem em muitos aspectos o mesmo significado tanto na cultura latina quanto saxã, onde ela difere é entre a cultura ocidental e oriental.
Logicamente, o emprego das cores em mídias como elemento expressivo não se limita à narrativas, às vezes tendemos à expressar ideias através das cores em capas de revistas de conteúdo jornalístico por exemplo.
Essa é uma das capas da Revista Veja mais expressivas e interessantes do ponto de vista da análise, tanto da cor, quanto semiótica. Da cor, vemos a presença do arco-íris, símbolo internacional do movimento de tolerância da diversidade sexual. Segundo, porque o título da revista indica “A Vida Fora do Armário”, e mostra um casal homossexual passeando ao ar livre, enquanto o leitor encontra-se olhando pelo buraco da fechadura, ou seja, o leitor está dentro do armário.
Quando você pensa em cores quentes, qual cor vêm primeiramente à sua cabeça? Provavelmente você disse vermelho e amarelo. Realmente uma combinação fantasticamente quente, se você for de uma cidade próxima à linha do Equador como Belém ou Macapá, deve imaginar que qualquer estabelecimento que siga essas cores deve ser um fracasso comercial, certo? Bem, existem pelo menos dois estabelecimentos assim, a rede de farmácias Big Ben e o restaurante MacDonalds.
As relações de quentes e frios das cores, também são fruto da relação que fazemos das cores com a natureza, amarelo é a cor do sol, azul do gelo. As duas estão em extremidades do espectro, mas ainda assim, é por conta da associação com elementos naturais que temos a noção de cores quentes e frias.
Em alguns momentos, o entendimento de cores quentes ou frias tambĂŠm podem ser usado nas mĂdias para transmitir mensagens de forma mais contundente:
“Quem não se emociona quando vê a Mangueira entrar?“ Apesar do tom capcioso da pergunta, ela tem muita relevância, pois a escola de samba representa boa parte da herança cultural brasileira em relação à música e manifestações populares, mas não é exatamente da música que estamos falando, pois onde existe o verbo ver, implica necessariamente uma mensagem visual e essa mensagem em muito tem a ver com as cores da Mangueira, o verde e o rosa. No círculo cromático, as matizes representam o estado puro da cor no espectro de onda. Vermelho, azul e amarelo são as cores básicas que completam a luz branca, que é dividia nas cores, conforme pode ser visto no círculo cromático.
Por isso, cores complementares tendem a criar uma composição bem harmônica, algo repetido em outras composições, como a bandeira de Portugal ou a marca do Itaú.
Tal relação é a mesma vista no uniforme da seleção holandesa de futebol. A camisa laranja com o brasão azul, a primeira cor da família real, Família D’Orange, a segunda, cor da bandeira, mas que apresentam essa relação da familiaridade. A propósito, na década de 1970 essa seleção ganhou dois apelidos, o de “Carrocel Holandês”, dada a forma de jogar e “Laranja Mecânica”, dada a relação arrebatadora que a seleção exerceu sobre o público, similar ao filme, que até então era proibido no Brasil por ser considerado extremamente violento, o que no entanto, não impediu o mesmo de tornar-se um clássico, filmado com uma técnica nova que avivava as cores, cores que no filme são um personagem à parte, pois ajudam a criar a atmosfera futurista distópica que marcaria o fim dos anos 1960 e os anos 1970.
Preste atenção na máquina de escrever emoldurada pelo cenário branco. O piso e emadeirado, os móveis típicos do design italiano e os figurinos dos personagens em vermelho ou branco, mostram a seara de cores que constituirão a linguagem estética do filme e contribuirão para torná-lo um clássico da história da sétima arte.
Saber usar o contraste entre as cores é necessário para não permitir que informações possam perder a leitura. Isto certamente depende da variação tonal de uma determinada matiz. O valor de uma cor é seu caráter claro ou escuro e vai variar de acordo com as propriedades de escurecimento, clareamento e saturação da mesma. Escurecimento e clareamento estão relacionados com a adição de preto ou branco na cor, enquanto a saturação depende da pureza da cor, neutralizando-se para o cinza.
O contraste pode ser oferecido quando trabalhos cores de tom aberto sobre tons fechados, ou mesmo cores que apresentam valores divergentes de escurecimento e clareamento. Algumas cores contrastam por natureza, como o azul com o amarelo, a primeira em sua matiz primária é fechada, a segunda é aberta, a primeira é uma cor fria, a segunda uma cor quente. Mas também podemos observar o mesmo efeito em outras combinações correntes, como nas cores vermelho e branca, no amarelo com o preto e suas aplicações.
Dependendo da aplicação podemos produzir cores nas mídias através de modelos cromáticos que reúnem cores como pigmentos ou luz. O padrão CMYK é usado nas mídias impressas e é composto pelas cores C = ciano, M = Magenta, Y = amarelo (yellow) e B = preto (black), antes que você me pergunte porquê o preto é representado pela letra K e não B, digo logo que é para não confundir o outro padrão, o RGB, composto pelas letras R = vermelho (red), G = verde (green) e B = azul (blue), então adota-se o k, última letra de black.
Seria muito prático definir a distopia como o contrário da Utopia, como boa parte dos teóricos o fazem, no entanto é algo mais que isso para que se possa dar essa compreensão. A distopia é um gênero literário, uma corrente filosófica, um estilo visual, que vê na ficção científica não uma visão idealizada de futuro, mas como uma série de possibilidades desprovidas dos ideias de desenvolvimento humano que são característicos da utopia. Como será corrente nesta publicação a estética da distopia, cabe aqui a apresentação de alguns exemplos para que possamos entender melhor o que é e com isso tirar o maior proveito dessa linguagem. Dois livros que são marcos do gênero são “Admirável Mundo Novo” (1931) de Aldous Huxley e “1984” (1949) de G e o r g e O r w e l l . A m b o s s ã o r e l a t i v a m e n t e contemporâneos e relatam sociedades distintas com elementos da distopia, a primeira prevê uma sociedade separada pro castas e baseada na herança genética e no consumo. A segunda dá origem ao conceito do “Big Brother”, ou o Grande Irmão, que observa o comportamento de todos, numa sociedade que se comporta de forma militarizada diante de um governo militarizado. Ambos inspiraram uma série de produções midiáticas, mas creio que caiba aqui expor uma pequena sequência de ligações que iniciam nos anos 1960 na Inglaterra com o grupo de arquitetura chamado Achigram.
Archigram é a fusão dos termos architeture e aerogram, e viam na tecnologia o suporte para o desenvolvimento das cidades contemporâneas. Um prédio só para carros, cidades que migravam, construções temporárias, a visão da cidade como uma rede, bem antes de existir a rede que ligaria à todos na cidade e todas as cidades, esses são alguns dos princípios que nortearam a produção do Archigram. Os arquitetos Peter Cook, Warren Chalk, Ron Herron, Dennis Croptom, Michael Webb e David Green, tinham a intenção de expor suas ideias através de uma revista e é bem verdade, que o grupo não chegou a executar nenhum trabalho, mas posso mostrar aqui pelo menos dois trabalhos que irão influenciar a produção da arquitetura contemporânea e até parte da produção midiática da contracultura dos anos 1960, que de alguma forma, chega até nós atualmente
A plugin city de Peter Cook, é uma cidade voltada ao consumo, com estrutura metálica leve e que se auto organiza para facilitar a fruição de espaços e ambientes. A maior produção do Archigram continua sendo gráfica, e a influência do grupo na criação da Revista Heavy Metal, inspirada na revista francesa Metal Hurland, com temática de ficção científica, violência e pornografia, temas adultos que permearam a presença de ícones dos quadrinhos da distopia como Barbarella de Jean-Claude Forrest e Drunna do italiano Serpieri.
Lógico, não precisa lembrar que pela própria temática da revista, a música heavy metal também encontra expressão na mesma corrente, esta relação de arquitetura, quadrinhos, literatura, música, esta convergência que hoje é corrente com a narrativa transmidiática de Matrix e produções da indústria cultural atual, possuem essa relação porque retratam um pensamento coletivo que emerge da massa para a cultura de massa, o que em parte tem haver com a teoria dos baby booners, a geração que emergiu logo após a segunda grande guerra, e as gerações seguintes, conhecidas como X, Y e Z, mas isso é assunto para um outro box.
Eu não lembro muito bem quem foi que disse que uma obra de arte você não termina, você abandona. De certo esse livro não é uma obra de arte, mas foi feito com tanto esmero quanto se fosse, e como tal, também não posso considerá-lo encerrado. Dentro do planejamento, ainda faltaria um capítulo sobre tipografia, no entanto, não creio que um capítulo daria conta do tema. Especialmente quando se refere à Amazônia, a tipografia possui um efeito muito rico sobre o tipo de comunicação que se trabalha por essas bandas, visto o projeto Letras que Flutuam da qual minha amiga Sâmia Batista faz parte e que trata da tipografia de embarcações típicas da Região. Ainda há muitas elementos dos quais gostaria de dispor para este último capítulo, como o filme Nome Próprio (2007), de Murilo Salles, no qual a edição fez com que o texto fosse um protagonista da narrativa, visto que é um dos melhores filmes que tratam da vida de uma blogueira entre os que eu vi até hoje. Logo, decidi deixar esse capítulo para um próximo volume, só espero que eu não demore tanto para terminá-lo quanto demorei neste. Foram ao todo 03 anos de trabalho, juntando 10 anos de aula das disciplinas de estética e metodologia visual nos cursos de Design e de Produção Multimídia nos quais lecionei. Veja bem, não encontrei em minha jornada acadêmica, livros que tratassem especificamente da estética nas mídias, então tive que adaptar trabalhos do campo da Arte e do Design, como os de Umberto Eco, Fayga Ostrower, Gunter e Wulser, para a mídia, sobretudo, a mídia produzida na Amazônia, pois penso que este livro não servirá apenas para estudantes de arte, comunicação e design, mas para uma educação visual ampla, desde os populares “micreiros”, aqueles que só sabem mexer no Corel, mas não possuem nenhum conhecimento estético além do próprio talento, até os estudantes do ensino médio. No entanto, eu também não posso dizer que este livro é uma obra inacabada, foi muito carinho na elaboração deste, com a ajuda infinita do meu co-autor, orientando e aluno Moaccyr Kelley, que propôs o estilo de narrativa em quadrinhos que adotamos e que, muito embora não tenha ficado do jeito que ele queria, ficou da melhor forma que poderia estar. Então fecho sentando no colo do Umberto Eco, dizendo que esta obra não está inacaba, ao contrário, encontra-se aberta, e como o conhecimento é dinâmico, em breve ela encontrará novas formas de se expressar.
ASCOTT, Roy. Arquitetura da Cibercepção. In LEÃO. Lúcia (org.). Interlab: Labirintos do Pensamento Contemporâneo. Ed. Anhembi Morumbi. São Paulo, 2002 COLLARO, Antônio Celso. Produção Gráfica: Arte e técnica da mídia impressa. Pearson Editora. São Paulo-SP. 2007. OSTROWER, Fayga. Universos da Arte. Ed. Unicamp.. Campinas-SP. 1992 ECO, Umberto. Obra Aberta. 9a. Edição. 2a. Reimpressão.. Ed. Perspectiva. São PauloSP. 2003. LEÃO, Lúcia. A Estética do Labirinto. Ed. Anhembi Morumbi. São Paulo, 2002. LUPTON, Ellen e PHILLIPS, Jennifer. Novos Fundamentos do Design. Ed. COSACNAIF. São Paulo-SP. 2008.
TEXTO, EDIÇÃO E TRATAMENTO DE IMAGEM: ACILON HB CAVALCANTE. ILUSTRAÇÃO, DESENHO E NARRATIVA: MOACCYR KELLEY.