Aculturarte Magazine #05

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Aculturarte Magazine de Cultura e Arte

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ARTES PLÁSTICAS ARTES DE PALCO LITERATURA CINEMA MÚSICA

Aculturarte - Revista de Cultura e Arte | ano 1 | número 5 | Agosto 2008


As propostas de pu


ublicidade devem ser enviadas para aculturarte@sapo.pt


Editorial


A Aculturarte preserva no ventre a ideia de que a cultura e a arte movem moinhos, daí que este seja um mês rodeado de grandes novidades artísticas e culturais. Começo por destacar o tema de capa, o espetáculo de Anton Pavlovitch Tchékhov, “Platónov” levado a cena no Teatro Nacional de S. João sob a direcção de Nuno Cardoso. Um espetáculo que reflete o que de melhor se faz no teatro português. Nuno Cardoso que concedeu uma entrevista ao “Manual do Leitor”(manual cedido no espetáculo) que aqui reproduzimos. Ao nível das Artes plásticas, destaque para a exposição de homenagem a Manoel de Oliveira que se encontra patente em Serralves, e que peocura consagrar o mestre da sétima arte de Portugal. Quanto à literatura, sugirimos o livro de Mário Cláudio “Boa Noite,

Senhor Soares”, uma novela entre o romance e a biografia, mais romance que biografia, à volta da figura de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, narrador do Livro do Desassossego. Quanto à secção de cinema indicamos a belissima “Colecção Alfred Hitchcock”, essencial para qualquer admirador da sétima arte. Esta colecção reúne cinco dos mais famosos filmes do mestre do suspanse. A finalizar, na secção de música apresentamos a entrevista dos “The Raveonettes” ao jornalista espanhol Aldo Linares. Nesta entrevista ficamos a conhecer melhor o intenso quarto álbum(“Lust Lust Lust”) desta dupla dinamarquesa. Saudações culturais… Ricardo Lemos


Artes Plásticas MANOEL DE OLIVEIRA DAVID GOLDBLATT TODAS AS HISTÓRIAS ESCRITOS DE ARTISTAS CRIATURAS | CAROLE PURNELLE E NUNO MAYA Guillaume Leblon 1 + 1 + 1 = 3 Robert MacPherson Manfred Pernice Willem Oorebeek MONOLITH, Once or Many PHOTOESPAÑA 2008 - Matadero “COM(N)TENS(Ç)ÕES” Artes de Palco Platónov o quarto “pé” UM PROJECTO DE JOÃO GARCIA MIGUEL AS CRIADAS DE JEAN GENET “O Inferno” “OTÁRIO DOING AGAIN” SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS Literatura Istambul - Memórias de uma Cidade A Teoria das nuvens O Homem Lento O Pavilhão das Peónias Boa Noite, Senhor Soares O Inútil da Família Uma Janela para o Infinito Os Detectives Selvagens Caos Calmo O Existencialismo e a Sabedoria das Nações


Indice

Cinema O Estado Mais Quente Shotgun Stories Colecção Alfred Hitchcock Baile de Outono WALL.E Into The Wild Yo Soy La Juani O piano Kiss Me Deadly (1955) Azuloscurocasinegro Música Foals - Antidotes White Stripes - “Under Blackpool Lights” Topspin Ra Ra Riot MADAME GODARD animal collective The Astroboy The Raveonettes Minilogue – “Animals”


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Aculturar


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Aculturarte

1- Um programa piloto cujo conteudo Informam-se todos os intressados que seja relevante para a grelha da Acultua Aculturarte está à procura de colabo- rarte rádio, assim como o respeito dos radores para a sua revista de edição direitos de autor de terceiros. mensal e para a sua rádio. 2- Uma pequena biografia com cerca A estas pessoas cabe a responsabilide 1000 palavras. dade na elaboração/criação de artigos 3- A assinatura dos termos de respon(no caso da revista) para constarem na sabilidade e de cedência dos direitos edição mensal da Aculturarte Mag# e dos seus textos a Aculturarte Mag#. a elaboração/criação de programas de 4- o programa deve possuir um rigrádio para a Aculturarte rádio. oroso padrão de qualidade sonora. Estamos à procura preferencialmente de estudantes da área da comunicação, no entanto, e porque sabemos que ex- 1- Os colaboradores comprometem-se istem por aí uns quantos entusiastas a ceder os direitos do seu texto á Aculda escrita, como jornalistas amadores, turarte. escritores frustrados, artistas de circo 2- A Aculturarte comprometem-se a reformados e lutadores de boxe retiidentificar o autor de cada texto e a garados, estamos abertos a todo o tipo e rantir tempo de antena a cada colabopropostas desde que estejam suspensas rador. em pilares de qualidade. TODAS AS PROPOSTAS DEVEM - Aos pretendentes para a parte escrita SER ENVIADAS PARA aculturarte@ pedimos: sapo.pt SE FOR MAIS CÓMODO PO1- Textos afim de atestar a sua qualiDEM ALOJAR O CONTEÚDO EM dade de escrita. QUALQUER SITE DE HOSPEDA2- Uma pequena biografia com cerca GEM, ENVIANDO UNICAMENTE de 1000 palavras. O LINK VIA EMAIL. 3- A assinatura dos termos de responsabilidade e de cedência dos direitos http://www.aculturarte.blog.com dos seus textos a Aculturarte Mag#. (Agradecíamos que fizessem circular - Aos intressados para a rádio Acultu- esta mensagem pelos possiveis intresrarte pedimos: sados.)



PLÁ AR STIC TES AS #01

MANOEL DE OLIVEIRA DAVID GOLDBLATT TODAS AS HISTÓRIAS ESCRITOS DE ARTISTAS CRIATURAS | CAROLE PURNELLE E NUNO MAYA Guillaume Leblon 1 + 1 + 1 = 3 Robert MacPherson Manfred Pernice Willem Oorebeek MONOLITH, Once or Many PHOTOESPAÑA 2008 - Matadero “COM(N)TENS(Ç)ÕES”



MAN OEL D E OLIV EIRA

MANOEL DE OLIVEIRA 12 Jul - 02 Nov 2008 - MUSEU Esta primeira mostra do trabalho do cineasta no formato expositivo centrar-se-á no modo como Manoel de Oliveira reinventou o cinema através de uma linguagem que lhe é única. Paralelamente está programado um ciclo de cinema, onde serão exibidos no Auditório do Museu de Serralves todos os filmes que Manoel de Oliveira realizou até ao momento. Comissariado: João Bénard da Costa / João Fernandes Produção: Fundação de Serralves VISITAS GUIADAS > 24 JUL (Qui), 18h30, por João Bénard da Costa e João Fernandes > 09 SET (Ter), 18h30, por João Fernandes > 25 SET (Qui), 18h30, por Eduardo Paz Bar-

roso > 05 OUT (Dom), 18h30, por Luís Miguel Cintra > 14 OUT (Ter), 18h30, por António Preto > Visitas aos Sábados às 17h00 e aos Domingos às 12h00, pela equipa do Serviço Educativo. > Visitas diárias, mediante marcação prévia. SET-NOV 2008 Ciclo de cinema dedicado a Manoel de Oliveira (datas a anunciar) Seminário MANOEL DE OLIVEIRA: O MODERNO PARADOXAL 07-10 OUT 2008, 18h30-21h00 Simpósio Internacional dedicado à obra de Manoel de Oliveira (datas a anunciar)



DAVID GOLDBLATT

DAVID GOLDBLATT: INTERSECÇÕES INTERSECTADAS 26 Jul - 12 Out 2008 - MUSEU Internacionalmente reconhecidas, as fotografias de David Goldblatt estão profundamente radicadas na realidade da África do Sul. Até à abolição do regime do apartheid, em 1994, o artista confinou-se deliberadamente às imagens a preto e branco, escrutinando as condições de vida da dominante classe branca e as da restante população, fortemente discriminada. Depois de 1994, Goldblatt aventurou-se no domínio das imagens a cores de paisagens de grande escala. Que significado tem para um artista uma mudança profunda na realidade a que estivera ligado anos a fio? Comissariado: Ulrich Loock Produção: Fundação de Serralves

Conversa com David Goldblatt e Ulrich Loock (em inglês) 26 JUL 2008 (Sáb), 17h00 VISITAS GUIADAS: >11 SET 2008 (Qui), 18h30, por Ulrich Loock (em inglês) >30 SET 2008 (Ter), 18h30, por Ricardo Nicolau >Aos Sábados das 17h00 às 18h00 e aos Domingos das 12h00 às 13h00, orientadas pela equipa do Serviço Educativo. >Diárias, mediante marcação prévia.


TODAS AS HISTÓRIAS


TODAS AS HISTÓRIAS 26 Jul - 02 Nov 2008 - MUSEU

Weiner, e ocupa o primeiro piso do Museu e a Casa de Serralves*.

A exposição “Todas as histórias” apresenta uma selecção de filmes da Colecção da Fundação de Serralves, alguns agora exibidos pela primeira vez no Museu. As obras abordam, sob uma variedade de formas, a migração da linguagem cinematográfica para o campo das artes plásticas, e reflectem sobre questões implícitas ao género do cinema, tais como a narrativa, o tempo, o espaço ou a construção de imagens. Esta mostra reúne obras de artistas portugueses e estrangeiros tais como Eleanor Antin, Vasco Araújo, Christian Boltanski, Marcel Broodthaers, Tacita Dean, Runa Islam, Gordon Matta-Clark, João Onofre, Michael Snow, Francesco Vezzoli, John Baldessari, Pedro Costa, Juan Downey, Ant Farm e T.R. Uthco, Anna Bella Geiger, Douglas Gordon, Steve McQueen, Antoni Miralda e Benet Rossel, João Penalva, Yvonne Rainer, Pipilotti Rist e Lawrence

Comissariado: Isabel Braga e Sandra Guimarães Produção: Fundação de Serralves *A exposição na Casa de Serralves encerra a 14 de Setembro. VISITAS GUIADAS > 12 SET 2008 (Sex), 18h30, por Isabel Braga e Sandra Guimarães > Visitas aos Sábados às 17h00 e aos Domingos às 12h00, pela equipa do Serviço Educativo. > Visitas diárias, mediante marcação prévia.



ESCRITOS DE ARTISTAS

ESCRITOS DE ARTISTAS 12 Jul - 19 Out 2008 - BIBLIOTECA O espaço para exposições da biblioteca será transformado numa grande sala de leitura, onde o público terá acesso a uma centena de publicações que reúnem textos teóricos escritos por artistas (Van Gogh, Giacometti, Richard Long, etc.) Comissário: Guy Scharenen Produção: Fundação de Serralves


E N R U P E L O R A C | S A R U CRIAT


A Y A M O N U N E E L EL

“As Criaturas” é uma exposição de artes plásticas e multimédia que passa pelo universo da fotografia, do vídeo, da instalação física e virtual. De 1 de Julho a 31 de Agosto De terça-feira a sexta-feira das 10:00 às 13:00 e das 14:00 às 17:00 Sábados, Domingos e Feriados das 11:00 às 13:00 e das 14:00 às 18:00 Encerra à segunda-feira M/3 ANOS SALAS do CPA PREÇOS 1€ visita à exposição 2€ visita à exposição e oficina dias úteis 4€ visita à exposição e oficina fins-de-semana OFICINAS (sob marcação) De terça-feira a sexta-feira das 10:00 às 12:00 e das 14:00 às 16:00 Sábados, Domingos e Feriados das 15:00 às 17:00 Nesta exposição, vamo-nos encontrar com criaturas que pertencem a mundos imaginários, mas com quem nos podemos cruzar no quotidiano, porque o mundo que nos rodeia está vivo…Numa viagem pelo mundo fantástico de As Criaturas iremos conhecer dois Totem, criaturas do mundo, criaturas de telhado, vestígios de criaturas marinhas, criaturas luminosas, criaturas de praia e de pedras vivas. A exposição é acompanhada de oficinas que levam o público a inventar e a criar outras criaturas através de plataformas interactivas, que se vão juntar à comunidade que já existe.


Guillaum Leblon Aumento & Dispersão

O trabalho de Guillaume Leblon (Lille, 1 emente nos domínios da escultura e da in outros media como o filme e o desenho. O emente o espaço expositivo no seu trabal lações pensadas e desenvolvidas especific para encenar ambientes e atmosferas a pa peças que podem existir autonomamente. de materiais e procedimentos construtivo enorme subtileza uma relação entre a fam gens que as constituem e a estranheza e a significados que esboçam. Nelas sobressa Leblon em questionar o processo de prod espectador determinados estados percept com uma fase de crescente visibilidade in Leblon, desde a sua exposição individual em 2006. Ela ocorre no seguimento de um individuais, sucedendo à que realizou, no de Kerguéhennec, em França, e coincidin Galego de Arte Contemporánea, em Sant Curadoria: Miguel Wandschneider


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1971) situa-se predominantnstalação, embora abarcando O artista incorpora frequentlho, seja para realizar instacamente para um lugar, seja artir da relação entre diferentes . As suas obras, feitas a partir os simples, exploram com miliaridade das formas e imaabertura das narrativas e dos ai igualmente o interesse de dução artística e em suscitar no tivos. Esta exposição coincide nternacional do trabalho de l no Kunstverein de Düsseldorf ma série intensa de exposições o início deste ano, no Domaine ndo com uma outra no Centro tiago de Compostela.


1+1+1=3 Robert Mac Manfred Pe .DWH LQD Â

Este é o primeiro de uma série de projectos qu enriquecer a programação da Culturgest com u curatoriais construídos a partir de uma mesma três exposições individuais que dialogam entre uma exposição colectiva. A este desafio respon artistas de diferentes gerações, cuja prática est cultural e social das cidades onde vivem e trab Austrália, 1937), Manfred Pernice (Hildesheim (Líšeň, República Checa, 1977). A partir de experiências de vida, preocupações eles activam objectos modestos, materiais sim fora da arena santificada da arte contemporâne cultura que foram marginalizados ou estão a d sociais e económicas avassaladoras das socied Curadoria · Curator: Trevor Smith


cPherson ernice ÂHG

ue, ao longo dos próximos anos, irão uma multiplicação de pontos de vista a premissa: a realização simultânea de e si e, em última instância, perfazem ndeu Trevor Smith com a escolha de três tá profundamente enraizada no contexto balham: Robert MacPherson (Brisbane, m, Alemanha, 1963) e Kateřina Šedá

s e abordagens muito diferentes, todos mples e processos criativos que emergem ea como meio para explorar aspectos da desaparecer sob o impacto das mudanças dades contemporâneas.


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A prática artística de Willem Oorebeek (Pernis, Holanda, 1953) distingue-se, desde logo, pela utilização persistente de um medium tradicional cada vez mais em desuso, e em grande medida desvalorizado, na arte contemporânea: a litografia. Nos últimos dez anos, a sua produção incidiu quase exclusivamente numa série de obras (BLACKOUT) em que se apropria de materiais impressos que circulam no universo torrencial da comunicação de massas, cobrindo essas imagens com uma camada de tinta negra que, mais do que reduzir a sua visibilidade, as transfigura por completo. A par destes trabalhos, que operam um idiossincrático e desviante cruzamento entre arte pop e arte conceptual, a exposição apresenta muitos outros, realizados desde o final da década de 1980, desvendando assim a complexidade de uma trajectória artística marcada pela exploração das possibilidades do processo material de impressão litográfica e por uma abordagem crítica dos usos e significados da imagem e do texto impressos na sociedade contemporânea. A exposição envolve ainda a participação de outros artistas com obras que, na sua maioria, resultam de uma colaboração com o artista: Koenraad Dedobbeleer, Christoph Fink, Rita McBride, Asier Mendizabal, Imogen Stidworthy e Joëlle Tuerlinckx. Curadoria · Curator: Miguel Wandschneider


PHOTOESPAÑA 2008 - Matader


ro João Maria Gusmão / Pedro Paiva HORIZONTE DE ACONTECIMENTOS Comissariada por Natxo Checa, João Maria Gusmão e Pedro Paiva propõem para PHotoEspaña 2008 na sala Abierto por Obras de Matadero Madrid, uma exposição fundamentada na hipótese da existência de um corpo celeste situado num lugar de uma órbita interplanetária. A mostra, destinada a perfilar uma metafísica de lugar, reúne uma série de trabalhos recentes formulando possibilidades para a compreensão de um suposto planeta que se revela pela sua sombra. Matadero Madrid - Paseo de la Chopera 14 | 28045 Madrid De 6 de Junho a 28 de Agosto. De Segunda a sábado das 11h às 21 horas. Domingos das 10h às 15 horas. Entrada Livre.


Exposição de fo Costa

“COM(N)TENS(Ç)

Vai estar patente na Galeria de Exp nicipal, na Moita, a partir de dia 19 de Raul Costa: “COM(N)TENS(Ç)ÕES”. Est próximo dia 2 de Agosto.

Raul Costa, aliás “aliusvetus”, 53 anos, de profissão, residente em Alhos Ve autodidacta e convictamente amad muito jovem no filme p/b de méd de 35mm. Actualmente, encontra-s fia digital, a qual, segundo ele própr deslumbrante e “febril” de criativida

Tendo sido membro de várias comu tem a sua actual galeria on-line no tus.

A Galeria de Exposições, no Posto de da, nos dias úteis, das 9:00h às 12:30h dos das 10:00h às 13:00h e das 15:00h


otografia de Raul

)ÕES”

posições do Posto de Turismo Mue Julho, a exposição fotográfica de ta exibição pode ser visitada até ao

, natural de Peniche, informático edros desde 1996, assume-se como dor. Deu os primeiros passos ainda dio formato e posteriormente o se totalmente rendido à fotogrario, lhe abriu portas para um mundo ade e recursos técnicos.

unidades fotográficas na Internet, endereço www.pbase.com/aliusve-

e Turismo Municipal, pode ser visitah e das 14:00h às 18:00h e aos sábaàs 18:00h.



DE

A R PAL TES CO #02

Platónov o quarto “pé” UM PROJECTO DE JOÃO GARCIA MIGUEL AS CRIADAS DE JEAN GENET «O Inferno» “OTÁRIO DOING AGAIN” SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS





o quarto “pé”

Entrevista com Nuno Cardoso. Por Alexandra Moreira da Silva

Alexandra Moreira da Silva Nas entrevistas que deu nestes últimos dois, três anos, o Nuno evoca com alguma frequência Tchékhov, como um dos autores que gostaria de encenar, e refere o desejo de abordar, num futuro próximo, uma obra concreta: A Gaivota. Eu começaria por lhe perguntar as razões que o levaram a fazer aquilo que me pareceu ser um desvio no seu projecto tchekhoviano inicial, abandonando A Gaivota, e a encenar aquela que é a obra inaugural de Tchékhov. Nuno Cardoso Não se trata de um desvio, porque a vontade de encenar Platónov existia antes de A Gaivota. Eu comecei por descobrir Platónov com Point Blank, dos STAN [espectáculo que se estreou em Agosto de 1998, no Festival Citemor, Montemor-o-Velho], que era uma versão muito trendy, muito blasé de Platónov. E fiquei desde logo muito fascinado pela personagem. Andei muito tempo até descobrir uma tradução e quando finalmente a encontrei e li, o meu entusiasmo arrefeceu um bocadinho: não compreendi muito bem a tradução e achei a obra dispersa. Mas Point Blank levou-me a ler toda a obra dramática de Tchékhov, e fui descobrindo ligações precisas entre o universo que ele evoca e o meu próprio universo. Isto porque não me considero uma pessoa muito citadina, apesar de as minhas encenações evocarem esse lado de vivência urbana. Eu sou um rural, se quisermos, nasci e cresci na província. Todo o meu imaginário está ligado a uma sociedade rural: estratificada, fechada, logo, clinicamente observável. E como só trabalho coisas que têm que ver com as minhas ressonâncias, tudo isso me ligou muito a Platónov. A Gaivota surge não tanto ligada àquilo que encon-

trei e continuo a encontrar em Tchékhov, que é uma partilha de olhares sobre a sociedade, mas a uma visão sobre aquilo que nós, as pessoas do teatro, fazemos. E sim, já tive uma vontade brutal de a encenar, mas a oportunidade de fazer Platónov surgiu primeiro. Eu, à semelhança do João Garcia, que quer escalar todas as grandes montanhas do mundo, quero encenar a totalidade da obra dramática de Tchékhov. Gostava de ter a sorte de o fazer. Essa vontade é extensível a outros autores, ou está circunscrita a Tchékhov? Há obras de outros autores que eu quero muito fazer, como por exemplo O Inimigo do Povo, de Ibsen, Hamlet e Henrique IV, de Shakespeare, esta última porque quero trabalhar a personagem de Falstaff. Gostava de fazer Racine, quero voltar a Ésquilo, tenho uma vontade imensa de regressar aos textos da Antiguidade Clássica, porque quero trabalhar com Frederico Lourenço, que é uma pessoa que admiro muito como tradutor. Resumindo e concluindo, tenho planos de trabalho até à idade da reforma. [Risos.] Quero fazer muita coisa, posso até falar-lhe de um programa, mas da maneira como evoluiu o contexto cultural português, nomeadamente na área das artes performativas, é impossível a um encenador novo, que surge e cresce neste contexto, desenvolver um programa. Quando muito, pode concretizar projectos, o que resulta numa inversão importante e digna de reflexão por quem de direito, já que é completamente antitética em relação aos princípios do teatro português contemporâneo, sustentado no trabalho de companhias fundamentadas por programas que as definem e têm mais ou menos norteado e caucionado o seu percurso e projectos.


Podemos então dizer que, neste momento, o Nuno vai concretizando projectos do seu programa? Exactamente o contrário. Eu vou fazendo projectos e, volta e meia, olho para trás e penso que talvez tenha um programa. Não sei. Platónov, tendo em conta as suas características – uma obra de juventude, inacabada, problemática, muitas vezes considerada “falhada” e irrepresentável –, tem dado origem a inúmeras versões cénicas. Quais as diferenças fundamentais entre o texto integral traduzido por António Pescada e a versão cénica? E, já agora, aproveito para lhe perguntar se a versão cénica também foi trabalhada com o António Pescada. Em termos de estrutura, a versão cénica segue muito de perto a versão integral. Fiz alguns cortes, sobretudo nos momentos em que a obra me parece excessivamente digressiva e descritiva – palavrosa, se quisermos. Eliminei coisas que me pareceram dispensáveis, como um determinado número de convenções que estão plasmadas no texto e que, a meu ver, não são necessárias no teatro actual.

fantásticos, têm trabalhado muito.

Também a partir das entrevistas que foi dando, parece-me poder concluir que a decisão de encenar uma determinada peça depende bastante da relação que pode estabelecer entre o texto e algumas das preocupações que a contemporaneidade lhe suscita. Isso também se aplica no caso de Platónov? Ou seja, Platónov é para si, como aliás é dito na peça, “o melhor exemplo da moderna indefinição”? Quando olhamos para uma mulher bonita pensamos imediatamente em agarrá-la. Acontece exactamente o mesmo com um texto dramático. O texto que me apetece fazer tem de se parecer com uma mulher muito bonita. [Risos.] Agora mais a sério: um texto desperta a minha curiosidade quando me leva a questionar a minha conduta como cidadão, como artista. No caso concreto desta peça, aquilo que desde logo me agarrou foi a personagem de Platónov. Ele é o retrato fiel, ou se quisermos, uma caricatura, uma alegoria do homem contemporâneo. Ontem, em casa, estava a pensar que vivemos Mas que são, também, características da obra tão esmagados pela globalização, tão angustiados de Tchékhov, “complicada como um romance”, por essa completa facilidade de sabermos tudo o diz o autor, a propósito de As Três Irmãs, que se passa, a todo o momento, em todo o lado, numa carta à actriz Kommissarjevskaia… O vivemos tão absorvidos pelo aquecimento global, abandono do drama às perversões do romance pelas guerras, que de repente nos desresponsabiparece-me bastante evidente em Platónov… lizamos completamente da nossa individualidade, Sim, é uma obra quase eufórica no sentido da das nossas vivências no nosso pequeno burgo, no descoberta da escrita teatral, ainda contaminada nosso bairro, na nossa família. A peça começou por pedaços de narrativa que não pertencem, diga- por chamar‑se Órfão de Pai, e a sociedade portumos, ao dizer e ao fazer teatrais. Os cortes foram guesa continua a dizer às pessoas da minha gerafeitos por mim, com a completa anuência do ção que não somos propriamente órfãos de pais, António Pescada. Mas devo confessar que fiquei mas antes que não somos bem vistos pelos nossos um bocadinho insatisfeito com eles, porque obede- pais, e vice-versa. Há uma imensa fenda de incoceram a uma estratégia muito racionalizada, obvia- municabilidade. Estamos órfãos de referências. mente com um fundo prático: ao fazê-los eu estava Esta sociedade produz muitos falhados… a imaginar a cena, mas não foram experimentados. Começaram a ser feitos antes e foram finalizados Como Platónov? nos primeiros ensaios. Exactamente. Corremos o risco de sermos uns falhados tonitruantes, com estilo, uns putativos artisFoi a falta de tempo que determinou essa optas de gaveta, que pululam cada vez mais por aí. ção? Vivemos numa sociedade em que as relações de Obviamente, porque nos falta sempre tempo. Cada sedução são predominantes, em que é glorificado vez mais sinto vontade de experimentar, sem a na televisão o estilo, o bronzeado, em que se fala necessidade de chegar a um resultado. Poderíamos mau português nas séries juvenis, e aqui falar mal chamar a estes dois meses e meio de ensaios um não é falar com sotaque, mas falar mal gramatisprint final com vista a um resultado. Mas fiquei calmente – e isso é valorizado. É uma sociedade triste por não ter conseguido encontrar, no meu sem responsabilidade, sem memória, ou melhor, processo criativo, uma possibilidade para os exque renega a sua memória. Mas a memória viva perimentar, para os testar com os actores. Mas os também renega aquilo que gerou, estamos um bocortes estão a funcionar bem, e os actores têm sido cadinho neste reino de possibilidades, em que a


sedução e o arrependimento valem por si mesmos, e tudo acaba muito subitamente. A cidade do Porto é uma boa amostra deste estado de coisas, porque é uma cidade sem memória. Não há memória das companhias teatrais da década de 90, não há memória do mito fundador que foi António Pedro, e por aí fora. É uma cidade que está sempre no mesmo sítio, que está sempre a começar do zero. A sociedade de Platónov é vampiresca, também nunca sai do mesmo sítio, nunca. Quando Anna Petrovna lhe diz qualquer coisa como “você andou a seduzir outra vez e, como no ano passado, anda sempre bêbado”, ficamos com a sensação de que Platónov está a rever o filme da temporada anterior: ele hiberna durante seis meses e depois, sem memória, volta a fazer a mesma coisa, nunca sai do mesmo sítio. Tem o seu momento de sedução, de dor, de catarse, etc., e depois regressa à toca.

gia do rei, porque era anão, feio, não fazia parte da realidade. Era-lhe permitida a crítica, mas essa crítica não tinha uma consequência imediata na sociedade. Platónov assume esse papel no primeiro acto, bem com o papel do sedutor, o Don Juan, o Hamlet. Aliás, Hamlet escolhe a loucura, põe-se fora da realidade para dizer a verdade.

As alusões a Hamlet são, aliás, bastante evidentes, Tchékhov não esconde a importância dessa referência… Aquilo que lhe despertou o interesse pelo teatro foi precisamente uma representação de Hamlet que ele viu muito jovem em Taganrog, a sua cidade natal. Don Juan também é outra personagem fora da realidade. Todos elas são inconsequentes, como aliás o presidente da Assembleia Geral da ONU é absolutamente inconsequente quando confrontado com a realpolitik. As pessoas que têm consequências E tudo isso redunda na ligeireza dos propósireais são aquelas que produzem efectivamente mutos e das conversas, que é indispensável àquela danças. Na peça, os seres reais são Vengueróvitch, “tribo” para de certa forma esconder a verdade Pétrin e Bugrov. Trilétski, que é uma espécie de das relações, que são efectivamente mais compl- negativo de Platónov, também diz as verdades e diexas do que aparentam, nomeadamente quando las a ele, acontece que Platónov não as quer ouvir. envolvem questões relacionadas com a proprie- Eles funcionam quase como uma só personagem. dade, o dinheiro, o amor. E, no entanto, a única Anna Petrovna também tem momentos de verdade, personagem que vai dizendo algumas verdades de tensão. Há pouco falou em ligeireza, mas eu é Platónov… preferiria falar em vitalidade. Aqui, a vitalidade é Sim e não. Pétrin também diz muitas verdades, usada como estratégia de morte, e isto é curioso mas é muito unívoco, ele só pensa no dinheiro e porque Tchékhov era médico: algumas horas antes vai dizendo o que pensa realmente disso. Platónov de morrer, qualquer ser vivo tem uma injecção de é, no fundo, um enfant terrible, e como todos os vitalidade, são as chamadas “melhoras da morte”. enfants terribles diz as verdades como se fossem A estratégia desta peça passa muito por essa noção mentiras, mas sem consequências. É como um de vitalidade da morte, e quando ela aparece é uma bobo. Ao bobo era-lhe permitida fazer a escatolo surpresa.


O Platónov do seu espectáculo é “cínico e blasé ”? Um bocadinho. Acho que é um Platónov um bocadinho contemporâneo, um bocadinho fútil, se quiser. Podia ser um bocadinho mais incisivo, talvez. Mas não encontro em mim, nem na sociedade que me rodeia, mais profundidade do que isso.

se: ela pede constantemente ao espectador que se instale e interprete.

O que acaba de dizer faz-me pensar numa entrevista que o encenador italiano Romeo Castellucci deu recentemente, onde ele afirma que “a missão do artista não consiste tanto em dar a sua visão ou em transmitir a sua mensagem, mas muito mais em suscitar o poder de criação Como é que procurou traduzir em termos céni- do espectador”. Concorda com esta afirmação? cos essa actualidade, ou se preferir, essa atemCompletamente de acordo. Aliás, tenho vindo a poralidade que tem vindo a referir? aprender uma coisa: aquilo que eu penso interessa Eu prefiro falar em atemporalidade. No teatro que muito pouco nas minhas encenações. Interessa no tenho visto ultimamente, encontro muitas coisentido em que me dá o impulso inicial e a vonsas construídas a partir de trabalhos conceptuais tade constante de as trabalhar. Se pensar demais, dos anos 60, que são importados das artes plásticomeço a fazer legendas, e isso não interessa a cas e transpostos para o palco. As dramaturgias, ninguém. Há alguns criadores fantásticos que encenações e cenografias, ou a reunião de todas conseguem uma síntese elegante entre aquilo que elas, pegam num conceito, voltam a sintetizá-lo, pensam e aquilo que as outras pessoas podem vir a montam-no e inscrevem‑no no quotidiano contem- pensar das suas criações. Mas isso é muito difícil porâneo, com um toque conceptual. O que torna de fazer.A nossa tentação inicial é cair numa lógica os espectáculos imediatamente reconhecíveis para de efeito que produz ondas de choque, que produz o espectador. Na minha opinião, são falsamente resultados, e isso é uma lógica publicitária. actuais, são meros fenómenos de moda. Esse tipo de encenações rouba tempo às pessoas, porque a Voltando à questão do espaço e do tempo nos identificação é tão imediata que depois toda a esseus espectáculos, em Ricardo II, de Shaketratégia de montagem da peça se faz em termos speare, que o Nuno encenou o ano passado no de efeitos-choque. E porquê? Porque isso fere de Teatro Nacional D. Maria II, o espaço cénico morte a condição essencial para a fruição da arte, era muito concreto, de uma grande actualidade: que é a existência de tempo para o pensamento. um campo de futebol. O que é que acontece em Não é o caso da boa arte conceptual, que é aquela relação a Platónov? Essa actualidade funciona que concede ao espectador tempo de interpretação. também em função da escolha do espaço onde Nesse sentido, ideologicamente, as peças estão situa a acção? inscritas na sociedade que criticam, porque se tor- Funciona, mas não funciona com as mesmas regras nam instrumentos de sedução, roubando ao espede Ricardo II, onde arrisquei muito, onde estive ctador tempo de reflexão, convencendo-o de que pouco preocupado com aquilo que as pessoas iam aquele objecto faz parte da sua vida, enviando-o pensar. Foi um trabalho intuitivo, nesse sentido. satisfeito para o seu quotidiano, também ele um Era uma metáfora do jogo e um campo de futequotidiano alicerçado na ausência de tempo. Tudo bol é uma referência básica. Pois é, e depois? A isto é glorificado e potenciado pelas estruturas de questão é conseguir ou não jogar com ela. O esprogramação europeias, isto porque também elas paço cénico de Platónov é igualmente metafórico, não têmtempo, têm de responder a mecanismos transporta‑nos para um lugar que não é real. Os lueconómico-financeiros: aquilo que lhes é pedido é gares de acção em Platónov não são complexos: a o sucesso imediato. sala de estar, a escola e a floresta. Eu e o cenógrafo F. Ribeiro trabalhámos a partir da ideia de “fim do Como é que o Nuno contraria essa tendência e, caminho”. Queríamos que toda aquela movimenao mesmo tempo, inscreve essa atemporalidade tação acontecesse num espaço desconfortável, que nos seus espectáculos? fosse a um tempo contextualizado e descontextualEu procuro colocar-me num lugar que não é nem izado. Daí as linhas, os carris do comboio. o passado nem o futuro – é o teatro. São aqueles jogos, aquele tempo em que tudo é feito em cima Simbolicamente, significa que todas as personada percepção do espectador. Nesta peça, o princi- gens estão… pal actor é o espectador, sem ele aquilo desmonta- …em trânsito, para o futuro…


…mas que o risco de descarrilamento é iminen- de palavras, de movimentações, que acabam por te… nos conduzir a uma ideia de grupo, de calor, de Sim. província… …de tribo. Exactamente. De maneira que a dada altura não sabia o que fazer com a música. A primeira ideia foi convidar um músico de rua para vir tocar connosco: ao mesmo tempo que trabalhávamos nas improvisações, ele ia tocando e a coisa ia-se fazendo. Abordei duas ou três vezes um músico de rua, perguntei-lhe se queria vir tocar no espectáculo, disselhe que pagava, obviamente, mas ele fugiu de mim como o diabo foge da cruz. Ou não acreditou em mim ou, então, achou que o dinheiro que eu lhe oferecia era muito pouco. Comecei então por colocar instrumentos musicais na sala de ensaios, e a música foi ganhando aquele ar absolutamente caótico e aleatório, que eu não quero disciplinar. E este gesto de não interferência significa um grande passo em frente para mim. Pela primeira vez, deixo um elemento por trabalhar num espectáculo. Acho que esse aspecto lhe dá uma vitalidade incrível. É sempre a mesma música, a canção “Bésame Mucho”. Acho que foi uma escolha muito acertada, e acho até que ela tem qualquer coisa de pirandelliano, não sei explicar bem porquê, como aliás esta peça tem algo de pirandelliano – em termos coreográficos, são dezasseis personagens à procura não de um autor, mas de um desenlace. E esse ambiente começou a desenvolver-se à semelhança de uma jam session jazzística, com muita Aquilo que pude ver nos ensaios a que assisti improvisação à mistura. Todos os actores, felizpermitiu-me perceber que o trabalho do Nuno mente, sabem cantar e tocar, e é fantástico para um assenta bastante numa dimensão coreográfica, encenador ter actores assim, porque permite-nos muito determinada por uma espécie de partitu- brincar ainda mais. ra múltipla – corporal, rítmica e musical. Pareceu-me que, neste caso, a música teria como Mesmo quando dá uma atenção muito particuprincipal função organizar a materialidade dos lar a outras linguagens, o texto e a palavra são corpos no espaço. Foi neste sentido que proos elementos primordiais dos seus espectáculos? curou rentabilizar os conhecimentos dos actores É na palavra que eu me referencio, mas vejo-a neste domínio? como acção. A palavra, no teatro, precisa de ser As minhas peças de ensemble têm sempre uma corpo, e precisa de ser imperfeita. Para existir, a dimensão coreográfica e tendencialmente escolho palavra não precisa de ser perfeita. É por isso mestextos que à partida me parecem partituras mumo que eu adoro actores com pronúncia, acho que sicais. Olho para Platónov como uma sinfonia as palavras ganham uma outra vida. de vozes. Mas cada vez menos me interessa trabalhar com música, e esse movimento começou com Boneca [a partir de Uma Casa de Bonecas, de Henrik Ibsen, 2007], onde cortei muitos minutos à banda sonora. Isto porque me pareceu um pleonasmo: a peça já é música, o texto já é música. Em Platónov, e isso é notório no primeiro acto, é o conjunto de actores que vai criando uma polifonia


o 達 i n i p O


Não, minha querida Jacinto Lucas Pires*

Não, minha querida, receio que ele não seja he¬rói nenhum. Nem vilão, nem vítima, nem se¬quer o tal estatístico, enigmático “homem comum” pelo qual tanta gente se mostra inte¬ressada. Não, Platónov é talvez um pouco dis so tudo e, ao mesmo tempo, outra coisa comple¬tamente diferente. Uma invenção russa, mas também uma personagem reconhecível em qualquer palco do mundo; um produto do seu tempo lugar, mas também um homem estu-pidamente moderno na sua descontinuidade. Uma contradição, enfim, mas de um tipo dife¬rente do habitual. Uma contradição vaga, uma contradição mole, este “professor não coloca¬do”: sem conflito aparente, sem real tensão en¬tre o que tem e o que deseja, entre o que é e o que quer ser. Platónov: nos fins do século XIX, o es¬cândalo de um protagonista passivo! E chamar lhe protagonista talvez até já seja um excesso. Um homem, apenas, entre outros, um ser ou não ser que nem parece inquietar¬ se muito com a questão. Uma personagem que não é nenhum “cromo”, nenhum “tipo”, que não “representa” nenhuma classe, que não “simboliza” nenhuma grande ideia. Uma per¬sonagem que até parece hesitar, por vezes, em “representar se” a si mesma. Uma espécie de de¬sempregado da alma, como que um bêbado de tédio – e, perdoem me o platonovismo, “o bêbado não tem direita nem esquerda”… Na província, entre “propriedades” e dívidas, salas de estar com piano e expressões elegantes em francês, Platónov segue sem programa, sem um plano, chocando, por assim dizer, contra os móveis. Uma vida desinvestida, de quem não prevê mudanças e só espera tornar se “gordo e negligente”. Claro que o homem é um sedu¬tor. Mas, lá está, um sedutor que não precisa de fazer nada para seduzir. Mais: um sedutor que até parece ter aí, nessa passividade, nesse “não precisar de”, o truque do seu jeito, o centro do seu “carisma”, se o termo não é demasiado

sério para o caso. O charme extravagante, digamos, de alguém que só sabe pecar por omissão. Platónov? Um galã acidental, uma persona gem gerúndia, um homem objecto, deixando¬ se ir, deixando se levar, e aborrecendo se com a facilidade e o absurdo de tudo. Alguém que não se redime por algum género de idealismo, nem pelo humor sequer, e que, apesar disso, também não cai convictamente no desespero, nem nos força a qualquer espécie de piedade ou como¬ção. Provocará apenas um certo susto, talvez, e com certeza muita gargalhada interna. O génio do teatro de Tchékhov parte, brilhan-temente, de um famoso diamante minúscu¬lo: a pequena grande equação humana que diz: Comédia = Tragédia/Tragédia = Comédia. E também nesta peça – um texto ao mesmo tem¬po póstumo e primeiro – impressiona a clareza de tal achado. Mesmo com todo o excesso, mes¬mo com tanto “barulho” à volta de cada figura. É espantoso como também aqui se dá a ver o ri¬dículo do humano sem a distância “protectora” da risada crua – a da comédia simples, que acre¬dita estar só a rir dos outros, nunca dela mesma. Aqui, o risível surge atravessado por uma quase ternura ou, não sei, uma melancolia subtil, que nomes para isto? Espantoso, espantoso como se consegue assim juntar – e não apenas alter¬nar – ironia e desgraça, graça e peso, anedota e verdade. Mas, peço perdão, já me perdi. Quanto à sua pergunta, Anna Petrovna: a minha resposta é… terá de ser… bem… não. De facto, não, Platónov não é um herói, receio que não se possa ir tão longe. E, no entanto, minha querida, quem dis-cordará que, apesar de tudo, tem de haver algu¬ma coisa de, digamos, heróico, minimamente heróico, no modo como esse homem oblíquo se larga na corrente… Que estranha estirpe de coragem é essa de quem, sofrendo as normais confusões de sentimentos, se deixa ir nas águas sem bater os braços, sem se agarrar a nada, sem medo de se afogar? •


UM PROJECTO DE JOテグ GARCIA MIGUEL AS CRIADAS DE JEAN GENET


João Garcia Miguel encena “As Criadas”, peça emblemática do escritor francês Jean Genet acolhida com muita polémica na sua estreia em 1947. JOÃO GARCIA MIGUEL 13, 15, 18 e 20 Set 2008 - 21:00 14 Set 2008 - 17:00 PEQUENO AUDITÓRIO Direcção e Encenação JOÃO GARCIA MIGUEL Tradução e Adaptação do texto JOÃO GARCIA PREÇO 15€ MIGUEL, A PARTIR DE LES BONNES DE Descontos habituais para bilhetes adquiridos no JEAN GENET CCB Interpretação ANTON SKRZYPICIEL | MIGUEL BORGES | JOÃO GARCIA MIGUEL Cenografia e Figurinos ANA LUENA “A ironia profunda e contraditória do texto, que Produção Executiva MARTA VIEIRA oscila entre a comédia e o sacrifício, o excesso Direcção Técnica LUÍS BOMBICO e a contradição, a subtileza e a brutalidade inMúsica RUI LIMA | SÉRGIO MARTINS fluenciará as iniciativas da encenação. Há imen- Registo Documental RAQUEL FREIRE sas motivações entrançadas num apelo à fuga, Residência Artística CONVENTO DA SAUDAà ilusão, à mentira, à submissão, à subversão, à ÇÃO EM MONTEMOR-O-NOVO vida e à morte, a partir das quais tomaremos a Estrutura Financiada por MINISTÉRIO DA CULiniciativa de desenvolver um processo activo de TURA | DIRECÇÃO-GERAL DAS ARTES | criação. Procuraremos desvendar o esqueleto da FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN peça. Jean Genet afirmou a certa altura que ‘como tudo se passa demasiado depressa e demasiado João Garcia Miguel é uma estrutura apoiada por explicitamente, sugiro aos eventuais encenadores Ministério da Cultura/ que substituam as expressões demasiado preciDirecção-Geral das Artes e Fundação Calouste sas, as que tornem a situação demasiado explicita, Gulbenkian. por outras mais ambíguas. Que as comediantes representem, excessivamente’. É essa a linha de CO-PRODUÇÃO excesso sobre o excesso que nos guiará, e é com CCB/JOÃO GARCIA MIGUEL base nesse artifício que proponho a substituição das comediantes por três homens.”


"O Infern

O Teatro Experimental de Casca Bernardo Santareno, no dia 17 d 32 finalistas da Escola Profissio uma homenagem àquele extraor

O espectáculo estará em cena de 21h00. Sinopse:

« CHESTER, 6-5-66 – Ian Brad abólicos, foram condenados a pr mento, iniciado a 19 de Abril, no tribunal de Ches Edward Evans, de 17 anos, Lesl Kilbride, de 12, sempre negaram heceu Brady culpado dos três cr dois primeiros e cúmplice do ter

O Juiz, ao ler a sentença, aceitou mais atrozes da história e que os conhecidos como culpados das m frio...» «Diário de Notícias, 7-5-66


no"

ais estreia a peça O INFERNO de de Julho. Este espectáculo envolve onal de Teatro de Cascais e constitui rdinário dramaturgo.

e 17 a 31 de Julho, todos os dias, às

dy e Myra Hindley, os amantes dirisão perpétua, findo o seu julga-

ster. Acusados de terem assassinado ley Ann Downey, de 10, e John m a sua culpabilidade. O júri reconrimes e Myra Hindley culpada dos rceiro...

u ter sido este um dos processos s dois acusados tinham sido remortes cruéis executadas a sangue


Á T “O


G N I O D O I R Á

” N I AGA

SINOPSE Na sua última aventura, Otário Doing, famoso detective inglês e árbitro nas horas vagas, viajou até Portugal onde resolveu o caso do Apito Dourado e prendeu o vilão Keiéstu Ómeu. Durante esta aventura Otário conheceu Catarina, uma bela jovem portuguesa, e apaixonou-se por ela ficando a viver em Portugal.

Autoria, Cenários e Figurinos - Filipe Crawford e Filipe Abranches Encenação - Filipe Crawford Música Original – Fernando Mota Máscaras – Renzo Antonello Desenho de Luz – Filipe Crawford e João Marques Operação de Luz – João Marques Operação de Som – Carlos Oliveira Produção – FC Produções Teatrais Interpretação: João Paulo Silva e Pedro Diogo

Passaram entretanto dois anos e Otário e Catarina casaram e tiveram um bebé, Otáriozinho. Vivem os três num apartamento em Lisboa e são muito felizes. Mas a felicidade desta família vai Teatro da Casa da Comédia ser perturbada, pois Keiéstu Ómeu prepara-se para fugir da prisão e quer vingar-se de Otário. 23 de Julho a 9 de Agosto | 5ªs e 6ªs feiras às 22h00 e sábados e domingos às 17h00 Otáriozinho e Catarina correm perigo... que no- M/6 anos | Duração: 70 min. vas peripécias terá Otário que enfrentar para Preço: 10€ | Descontos: 6€ para crianças até 12 proteger a sua família? É o que iremos ver anos e 7,5€ para jovens até 25 anos, c/ Cartão neste novo espectáculo que se destina a todas as Jovem ou idosos. idades e junta as linguagens do Teatro de Máscaras, da Mímica e da Banda Desenhada. FICHA ARTÍSTICA/TÉCNICA



SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO PALÁCIO DA INDEPENDÊNCIA 9 Julho a 16 Agosto 3ª a Sáb. 22H00 Uma das mais belas comédias de Shakespeare, “Sonho de uma Noite de Verão”, é apresentada ao ar livre, no Palácio da Independência, localizado perto do Rossio. Um lugar que onde a peça de Shakespeare – que nos conta três belas histórias de amor – pode brilhar em todo o seu esplendor, revelando uma magia que, quatro séculos depois de ter sido escrita, continua a fascinar audiências. Teseu, Duque de Atenas, vai casar-se com Hipólita, Rainha das Amazonas, e lança um concurso de teatro para animar a boda. Ao concurso, concorre um divertido grupo artesãos que, com mais vontade do que talento, se dirige ao bosque para ensaiar a tragédia de Píramo e Tisbe. Hérmia e Lisandro, dois jovens atenienses, estão apaixonados, mas o pai da jovem quer casá-la com

Demétrio e a fuga para o bosque oferece-se aos amantes como única solução possível para um final feliz. No bosque, porém, habitam estranhas criaturas. Oberón, rei dos duendes, quer recuperar o amor de Titânia, rainha das fadas, e pede a Puck que lhe arranje uma flor mágica que, esfregada nos olhos de alguém, faz com que se apaixone pela primeira criatura que lhe aparecer à frente. Infelizmente, Puck põe o extracto da flor nos olhos errados e desencadeia uma sucessão de enganos que tornará esta numa noite inesquecível. Mais de trinta canções originais – interpretadas ao vivo – contarão esta divertida história e ilustrarão os sentimentos das personagens. a partir de WILLIAM SHAKESPEARE versão e encenação CLAUDIO HOCHMAN musica original e tradução de letras ALFREDO MOURA



ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS DE SÖREN KIERKEGAARD

PRÓXIMO ESPECTÁCULO ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS DE SÖREN KIERKEGAARD Dramatização de AGUSTINA BESSA LUÍS Este arranjo para teatro, é resultado da leitura habilidosa e grave dos textos de Kierkegaard; o que dá o título à peça “ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS”, e o “DIÁRIO DE UM SEDUTOR”, além de outras reflexões, pensamentos, memórias e entendimento da sua vida e drama. Por aqui se entende quanto Kierkegaard, foi homem extraordinário, sofrendo do mal de “ter sido um génio numa cidade de província”. As cóleras que ateou, sopradas pela inveja e pela ordem estabelecida, só foram comparáveis ao prazer de as desafiar. Os amores com Regina Olsen, a admiração turbulenta pelo pai, patriarca terrível adaptado à imagem bíblica, funcionaram como febres em que se descobre a vitalidade e se enfrenta a morte com a vocação maior do homem que é a da mesma morte. Nobre alma, mau cidadão, eficaz no erro e na verdade, esta é uma homenagem a Sören Kierkegaard. O pano de cena lhe seja leve e as tábuas do palco não ranjam com as suas ossadas

vestidas de D. João. Talvez não se represente nunca, talvez um dia. O nosso entendimento é perfeito; não vive de projectos de casamento. É, como a música de Mozart, algo de tão imediato que não chega a ser sentimento, mas arte puro. Sob a direcção de Roberto Merino, brevemente começarão os ensaios desta obra de Agustina Bessa Luís, com a participação dos actores: Anabela Nóbrega, Carolina Sousa, Clara Nogueira, Cláudia Abreu, Hugo Sousa, Isabel Nunes, Jorge Loureiro, Lizete Pinto, Miguel Rosas, Paulo Calatré, Vânia Mendes e Vera Pitrez. Os cenários vão ser concebidos por Acácio Carvalho e os figurinos serão da autoria de Manuela Bronze. Agustina Bessa Luís Sören Kierkegaard No mês de Agosto, encerramos para férias mas, em Julho, estivemos já a trabalhar nos ESTADOS ERÓTICOS IMEDIATOS DE SÖREN KIERKEGAARD. Como sempre, na análise dramaturgica, a barafunda do costume, escalpelizando a vida e obra do filósofo, com montes de livros, workshops, debates, documentários, etc...



LITE

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TUR A #03

Istambul - Memórias de uma Cidade A Teoria das nuvens O Homem Lento O Pavilhão das Peónias Boa Noite, Senhor Soares O Inútil da Família Uma Janela para o Infinito Os Detectives Selvagens Caos Calmo O Existencialismo e a Sabedoria das Nações



Istambul - Memórias de uma Cidade Orhan Pamuk

Istambul – Memórias de uma Cidade (2008) Sinopse O Prémio Nobel da Literatura 2006 traça um retrato magistral da cidade onde habita. De uma forma intimista e ao mesmo tempo muito visual, o autor recria um engenhoso modo de evocar a sua cidade de eleição. Neste livro, Orhan Pamuk fala sobre as primeiras impressões de melancolia que invadem os habitantes de Istambul e os unem nas memórias colectivas de um povo: o de viverem sobre as ruínas das glórias imperiais num país a tentar modernizar-se e permanentemente a receber influências do cruzamento entre este e oeste. Esta elegia a Istambul é-nos revelada pelas personagens criadas por Pamuk, escritores e pintores, artistas na generalidade que através dos olhos do criador vêem e descrevem a cidade. E é também a partir da sua própria história de vida, desde menino até à fase adulta que o nobelizado nos transmite os seus pensamentos, crenças e ideologias sempre com Istambul como pano de fundo. Ao combinar memórias e fotografias com reflexões sobre arte, história e a civilização em geral deixa ao leitor um legado único sobre aquela que é a sua cidade.


A Teoria das nuvens

A Teoria das nuvens (2008) Sinopse Akira Kumo é um costureiro japonês que colecciona livros consagrados as nuvens. Para classificar a sua biblioteca, contrata Virginie Latour, uma jovem a quem conta histórias de caçadores de nuvens. A de Lucke Howard, que lhes inventou os nomes, a de Richard Abercombie, que deu a volta ao mundo para ver se as nuvens eram idênticas em toda a parte, e outras tão surpreendentes como o próprio jogo das nuvens. «Uma ficção ciclónica iluminada por flashes de génio.» Elle «Um primeiro romance Proustiano, climático, ambicioso e esplêndido.» Politis




O Homem Lento O Homem Lento é o mais recente título traduzido para português do Nobel sul-africano da Literatura, J. M. Coetzee. Neste romance, o protagonista, o fotógrafo Paul Raymod, um homem de 60 anos, sofre um acidente de bicicleta que o transforma fisicamente e o faz equacionar toda a vida. Com uma perna amputada e recusando qualquer prótese, sai do hospital para sua casa e para uma existência dependente de terceiros. Ele, alguém que se habituara à solidão, está condenado a conviver de perto com outras existências, no caso, uma enfermeira, imigrante croata, cuja função é cuidar dele e pela qual Raymond irá apaixonar-se.

um papel de conselheira de Paul Raymond, instigando-o a deixar a atitude passiva que adoptou na sua nova realidade. Brilhantemente desapiedado dos seus leitores – aliás, uma das notas da escrita do autor de Desgraça –, o escritor lança aqui uma reflexão sobre o envelhecimento, as suas limitações e possibilidades, num ensaio ficcional à volta de uma fase da vida em que toda a vida é questionada. Mas, mais do que isso, O Homem Lento é um livro sobre o que é isto de ser humano. Não se esperem respostas, mas aguardem-se umas extraordinárias e surpreendentes pistas para a inquietação. É o que distingue a grande literatura.

Na trama, J. M. Coetzee recupera uma personagem de um romance anterior, a enigmática esMaria Reis Alves critora Elizabeth Costello, espécie de alter-ego feminino do próprio Coetzee, que desempenhará terça-feira, 17 de Junho de 2008



O Pavilhão das Peónias O Pavilhão das Peónias (2008) Sinopse Para a jovem Peónia, prometida a um noivo que nunca conheceu, os textos de O Pavilhão das Peónias reflectem os seus sentimentos. Como a heroína desse drama épico, Peónia é uma jovem enclausurada, filha de uma família abastada e, ainda que educada na obediência, tem os seus sonhos e anseios muito próprios. Assistindo no jardim de sua casa à representação da ópera, por entre o cheiro do gengibre e do jasmim, Peónia depara-se com um belo jovem de cabelo negro e deixa-se arrastar pela paixão. Começa assim a sua inesquecível jornada de amor e assim se traça o seu destino e o seu desgosto.

Enraizado nas tradições e na história da China do século XVII, quando os Manchu haviam acabado de tomar o poder esmagando a dinastia Ming, este poderoso romance de Lisa See transporta-nos para outra época e para paragens exóticas. Uma obra notável na qual a autora aborda de forma fascinante as diversas manifestações do amor, a amizade, o poder da palavra e o desejo ancestral das mulheres de se fazerem ouvir. Excerto da obra «Finalmente compreendo o que escreveram os poetas. Na Primavera, movida pela paixão; no Outono, apenas tristeza.»



Boa Noite, Senhor Soares Boa Noite, Senhor Soares Mário Cláudio Dom Quixote 10€ António é um rapaz da aldeia. Chegou à cidade à procura de uma vida melhor no tempo em que os heterónimos de Pessoa e o próprio Pessoa andavam pelas ruas da Baixa. António arranjou trabalho numa mercearia e instalou-se em casa da irmã e do brutamontes do cunhado, uma casa a Campolide, onde havia hortas.

figura de Bernardo Soares, um dos heterónimos de Fernando Pessoa, narrador do Livro do Desassossego. Neste livro aprendemos esta figura, a figura de Soares, através dos olhos de António. António é o protagonista e este é um livro sobre uma certa adolescência. Um livro de costumes, mas acima de tudo um livro interior, onde nos apercebemos da existência de um rapaz de sonhos que se transforma num homem banal, anti-herói de uma ficção que reconstitui uma certa Lisboa, com as suas falas, a gente, as ruas, as coisas que se perderam e outras que permanecem, imutáveis, como o destino que se quer e a vida que se acaba por ter. Quase sempre anódina, anónima, salvo excepções. E sempre a sombra de Pessoa. Um livro curto de leitura imparável. Um excelente exemplo da escrita depurada de Mário Cláudio.

António foi depois caixeiro, empregado no escritório onde trabalhava o Sr. Soares, um tradutor entre livros de contas e de contabilidade, homem estranho a quem chamavam poeta, que se sabia ser poeta, mas de quem António não conhecia a poesia, apenas admirava a estranheza da figura e o respeito tutelar que ela lhe impun- Isabel Lucas ha. Boa Noite, Senhor Soares é o último livro de Mário Cláudio, uma novela entre o romance e a segunda-feira, 9 de Junho de 2008 biografia, mais romance que biografia, à volta da


O Inútil da Família Jorge Edwards

Editor: Assírio & Alvim 416 páginas

história deste seu tio avô. Joaquín, o tio Joaquín, conheceu os palacetes da América e da Europa mas cedo desceu ao fundo da noite: aos bares Quando Jorge Edwards começou a escrever, e tabernas de má sorte, aos prostíbulos e aos em plena adolescência, num mundo que estava albergues clandestinos. Viveu uma vida acimuito longe de o destinar à literatura, teve con- dentada entre Madrid, Paris, Valparaíso e Sanhecimento de um parente próximo que ninguém tiago. Porém, descobrindo semelhanças e contireferia na família, um fantasma, um marginal, guidades, tanto de origem como de biografia, o um maldito da sua época: Joaquín Edwards Bel- livro acaba por construir uma teia de múltiplas lo. Joaquín recebeu o Prémio Nacional de Litrelações em que as duas vidas — e as duas obras eratura de Chile em 1943 mas a sua vida aciden- — se fundem e entrelaçam. tada e aventureira, a sua paixão pelo jogo, o seu inconformismo e rebeldia social, naqueles anos O Inútil da Família é um extraordinário desfile escandalosa, já o tinham convertido numa lenda de personagens, uma caixa de surpresas que nos viva. transporta a mundos extremos e nos leva a assistir, por dentro, a um destino fora do comum, belo Jorge Edwards seguiu apaixonadamente a mas pleno de riscos e, sem dúvida, trágico.



Uma Janela para o Infinito Denis Guedj

Editor: Bizâncio Pág.: 256 Número: 40 ISBN: 978-972-53-0379 Alemanha, 1917. No final da sua vida, Hans Singer (inspirado na figura do matemático alemão Georg Cantor) é admitido num hospital psiquiátrico. O director da instituição acolhe com grande deferência esse homem mundialmente reconhecido entre a comunidade científica pelos seus trabalhos sobre o Infinito e pai da Teoria dos Conjuntos. É-lhe atribuído um pequeno quarto particular mas desde logo o previnem que, dadas as dificuldades dos tempos de guerra, talvez tenha de partilhar o seu quarto com outro doente.

Matthias Dutour um jovem soldado francês, maquinista dos caminhos-de-ferro, libertário e «herói contra a sua vontade» será o novo companheiro de Herr Singer. Pouco a pouco, esses dois homens que nada parecem ter em comum irão aprender a conhecer-se e a construir uma amizade – tão improvável quanto indefectível. Numa estrutura narrativa muito original e habilmente tecida, Denis Guedj aborda, de forma singular e comovente, a temática da loucura e transmite-nos a mensagem de que a Matemática, como a Política, devem estar ao serviço do homem.



Os Detectives Selvagens Robert Bolaño

Os Detectives Selvagens Robert Bolaño

e Continentes num romance onde há de tudo: amores e mortes, assassinatos e fugas turísticas, manicómios e universidades, desaparições e O melhor livro publicado em 2007 – New York aparições. Times Os seus cenários são o México, a Nicarágua, os Estados Unidos, a França, a Espanha, a ÁusPrémio Herralde de Novela tria, Israel, África, acompanhando sempre os Prémio Rómulo Gallegos detectives selvagens – poetas «desperados», traficantes ocasionais –, Arturo Belano e Ulisses Um dos cinco melhores livros publicados nos Lima, os enigmáticos protagonistas deste livro Estados Unidos em 2007- The New York Times que pode ler-se como um refinadíssimo thriller wellesiano, atravessado por um humor icono“O tipo de romance que Borges aceitaria escrev- clasta e feroz. Entre os personagens, destacaer…um livro original e formosíssimo, divertido, se um fotógrafo espanhol no último degrau do comovedor, importante”- EL PAÍS desespero, um neonazi borderline, um toureiro mexicano reformado que vive no deserto, uma Arturo Belano e Ulisses Lima, os detectives sel- estudante francesa leitora de Sade, uma prostivagens, procuram a pista de Cesária Tinajero, tuta adolescente em fuga constante, uma prócere a misteriosa escritora desaparecida no México uruguaia no 68 latino-americano, um advogado nos anos imediatamente a seguir à Revolução, e galego ferido pela poesia, um editor mexicano essa busca – a viagem e as suas consequências – perseguido por pistoleiros profissionais. prolonga-se durante vinte anos, desde 1976 até Um romance extraordinário em todos os sen1996, o tempo canónico de qualquer errância, tidos, que confirma a deslumbrante qualidade bifurcando-se através de múltiplos personagens literária de Roberto Bolaño.



Caos Calmo Sandro Veronesi

Caos Calmo Sandro Veronesi Um filme protagonizado por Nanni Moretti com estreia Prevista para 26 de Junho Com uma variedade de registos que vão desde a troca de e-mails até ao diálogo vivo entre gerações, passando pelo monólogo e a prosa erótica, Sandro Veronesi espelha neste romance o caos das nossas cidades estéreis, das nossas famílias em crise e de uma economia baseada já não no valor do trabalho mas na mais feroz ganância. Sandro Veronesi nasceu em Florença, Itália, em 1959. Considerado como um dos melhores escritores italianos da sua geração, publicou o seu primeiro romance em 1988. Em 2000, alcança um grande sucesso com La forza del passato, vencendo os prémios Campiello e Viareggio, com o livro a ser adaptado para o cinema. Caos Calmo foi galardoado com o Prémio Strega em 2006, a mais importante distinção literária em Itália, e, em 2008, com o Prémio Méditerranée para o melhor romance estrangeiro publicado em França.




O Existencialismo e a Sabedoria das Nações Simone de Beauvoir

O Existencialismo e a Sabedoria das Nações Simone de Beauvoir

tudo muito bonito”, “Não andamos cá para nos divertirmos”… Estes lugares comuns, estes dados adquiriNunca antes publicados em língua portuguesa, dos que constituem a sabedoria das nações, os textos que esta antologia recupera, “totalexprimem uma visão do mundo incoerente, cínimente empenhados e totalmente livres”, foram ca e omnipresente, que é preciso pôr em causa. originalmente dados à estampa em Les Temps É em nome deles, com efeito, que se censura ao Modernes, revista que Jean-Paul Sartre e Simone existencialismo oferecer ao homem uma imagem de Beauvoir fundaram em 1945. de si próprio e da sua condição, determinada a desesperá-lo. Contudo, e bem pelo contrário, “O homem procura sempre o seu próprio inesta filosofia quer convencê-lo a recusar as conteresse”, “A natureza humana nunca mudará”, solações da mentira e da resignação: confia no “Longe da vista, longe do coração”, “Ninguém homem. dá nada a ninguém”, “Enquanto se é novo, é



CIN

EM A #04

O Estado Mais Quente Shotgun Stories Colecção Alfred Hitchcock Baile de Outono WALL.E Into The Wild Yo Soy La Juani O piano Kiss Me Deadly (1955) Azuloscurocasinegro



OE s t Ma ado is Q uen te

Alguns dias antes de completar 21 anos, William, um jovem actor, conhece e apaixona-se rápida e perdidamente por Sara (Catalina Sendeno Moreno), uma sedutora e instável cantora. O filme, que é baseado no livro com o mesmo nome, escrito pelo próprio Ethan Hawke, segue a jornada de William, numa viagem pela descoberta dos extremos da paixão, da raiva e da carência. Ao procurar alguém que possa amar e que o ame, William vê-se enredado numa teia em que o passado o obriga a tomar decisões e a fazer escolhas. Uma abordagem sensível ao mundo dos afectos, das carências e da necessidade que assola todos os seres humanos: amar e ser amado.



Shotgun Stories Shotgun Stories segue um conflito que irrompe entre dois grupos de meio-irmãos a seguir à morte do pai. Com os campos de algodão e as estradas pequenas do Sudeste do Arkansas como pano de fundo, estes irmãos descobrem até onde estão dispostos a percorrer para proteger a sua família.


Colecção

ALFRED HITCHCO


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o Alfred Hitchcock

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Colecção Alfred Hitchcock ALFRED HITCHCOCK

agora é chantageada. Em Os 39 Degraus (1935) um homem inocente vê-se arrastado para as conspirações de uma rede de espiões. Em Jovem e Esta colecção reúne cinco dos mais famosos Inocente (1937) o tema recorrente do falso culfilmes ingleses do mestre do suspense Alfred pado é abordado quando uma jovem ajuda um Hitchcock. Em O Inquilino Sinistro (1926) uma homem injustamente acusado de um crime a família julga ter como inquilino um jovem que descobrir o verdadeiro culpado. A Desaparecida pode ser o famoso assassino Jack o Estripador. À (1938) leva-nos uma vez mais a uma intriga de 1 e 45 (1929) conta-nos a história de uma jovem espionagem desencadeada pelo desaparecimento que matou o homem que a tentou violar e que de uma pacata velhota a bordo de um comboio.


Baile de Outono


É Outono. Vemos um enorme bloco de torres de habitação tentaculares da era soviética - o bairro chamado Lasnamae. Ao anoitecer quando o céu escurece, as janelas são iluminadas pelo brilho azul das televisões. Mati, um jovem escritor, vive sozinho no apartamento depois da sua mulher o deixar pelo seu amigo. O barbeiro August Klask é um solteiro mais velho com uma vida monótona. Ele corta cabelo, varre o chão

depois, começa-se a afeiçoar por uma miudinha quando volta para casa. A mãe da miúda, Laura, vê muita televisão e recusa todas as abordagens de homens. O arquitecto Maurer está satisfeito com a sua vida em Lasnamae, vê o estilo de vida como uma coisa que inevitavelmente acompanha o progresso. A sua mulher ao invés aliena-se e encontra conforto em Theo, o segurança, um autodidacta de forte personalidade.


WALL.E


WALL.E E se a humanidade tivesse que abandonar a Terra, e alguém se tivesse esquecido de desligar o último robot?

corre de volta ao espaço para contar as suas descobertas aos humanos (que têm estado ansiosamente a aguardar por notícias que digam que é finalmente seguro voltar para casa).

O realizador-argumentista galardoado pela Academia®, Andrew Stanton («À Procura de Nemo») e os criativos contadores de histórias e génios técnicos da Pixar («The Incredibles – Os Super heróis», «Carros» e «Ratatui») transportam os amantes do cinema até uma galáxia não muito distante para uma cósmica e animada comédia computorizada sobre um determinado robô chamado WALL•E.

Entretanto, WALL•E persegue EVE pela galáxia numa das mais divertidas e criativas comédias de aventura alguma vez criadas para o grande ecrã.

Após centenas de anos sozinho a fazer o que foi programado para fazer, WALL•E. (abreviatura para Waste Allocation Load Lifter Earth-Class) descobre um sentido na sua existência (para além de recolher desperdícios) quando conhece uma atraente robô chamada EVE. EVE apercebe-se que WALL•E tropeçou, sem saber, na resolução para o futuro da Terra, e

Junto a WALL•E na sua fantástica jornada, por um universo futurista nunca antes imaginado, está um conjunto de personagens hilariantes que inclui uma barata de estimação e uma equipa de robôs avariados e inadaptados. Cheio de surpresas, acção, humor, sensibilidade e emoção, «WALL•E» foi escrito e realizado por Andrew Stanton, produzido por Jim Morris e co-produzido por Lindsey Collins contendo uma inovadora mistura de som do galardoado pela Academia, Ben Burtt («Guerra das Estrelas», «Indiana Jones» e «E.T. O Extraterrestre»).


Into The Wild Título Original: Into The Wild

crítico de muitos aspectos da política e da sociedade. É notória a paixão com que filma Chris, o Realização: Sean Penn fascínio que a história lhe provoca. E como é tudo real e não tem cá de se fingir nada, sai natural. Ano: 2007 Num filme longo e irregular, a vitalidade e paixão Um belo dia pegamos nas nossas trochas, metemos com que Sean Penn filma é mesmo o seu ponto a mochila às costas, apanhamos um autocarro ou mais forte. um comboio e vamos sozinhos e sem compromissos, à descoberta do mundo, sem prazo para regr- No início, conhecemos Chris antes de encetar a essar. O vento, a liberdade, a natureza. Quem é que viagem. Acabado de se graduar com uma excelente nunca teve vontade de fazer essa viagem sedutora, média, tem um futuro promissor pela frente, com principalmente entre os jovens? A diferença é que grandes possiblidades de entrar na universidade enquanto uns sonham, Chris McCandless (Emile de Harvard. Mas nem tudo vai bem na cabeça de Hirsch), no verão de 1990, fez-se à estrada. Into Chris. Idealista por natureza, não lhe interessa a The Wild, baseado no livro homónimo de Jon carreira, o dinheiro ou os bens materiais, e tudo Krakauer, conta a história verídica de um jovem o que consegue ver pela frente é a hipocrisia das americano de classe média que, desencantado com pessoas e a artificialidade da sociedade. Só nos a sociedade, abandona a família, os bens, o dinlivros e nos autores famosos consegue encontrar heiro e a própria identidade para partir com destino algum conforto ou sentido na sua existência. Torao Alasca. Durante dois anos, Chris percorre os na-se um alienado, por escolha própria. A relação Estados Unidos e encontra-se com várias pessoas com os pais, presos num casamento de fachada, é pelo caminho até chegar ao Alasca, onde sem man- extremamente conflituosa. Chris não os entende timentos nem auxílio acaba por morrer de fome nem o porquê de continuaram juntos, e nem ele e de envenenamento provocado por plantas não nem a irmã saíram psicologicamente impunes às comestíveis. inúmeras discussões que ocorriam em casa. ‘ Sean Penn, mais habituado a trabalhar à frente das Numa decisão que parecia já tomada há muito câmaras do que na realização, é também famoso tempo, Chris parte com destino final ao Alasca, por ser um espírito livre, avesso à celebridade e simbolo da verdadeira vivência solitária com a na-


http://cinemasete.blogspot.com/ tureza, os animais, o universo. Queima o dinheiro, parte os cartões de crédito e não dá justificações a ninguém sobre o seu destino. Nem mesmo à irmã, com quem mantinha um bom relacionamento. O que quer que a nossa consciência nos diga sobre se a atitude de Chris foi a mais correcta ou não, isso vai influenciar a forma como vemos o filme. Sean Penn falha em relacionar-nos com as razões da fuga de Chris, que é retratado como um miúdo mimado que considera que tudo está mal e só ele possui a chave para a pureza e para a verdade. Todos passamos por estas fases, mas a maior parte limitase a inscrever-se num partido maoista qualquer, até a coisa passar. Isto não quer dizer que não nos relacionemos com a personagem. Apesar de podermos não compreender o que o leva a tomar algumas atitudes, Emile Hirsch, com uma interpretação brilhante, faz com que seja impossível não gostarmos de Chris. No decorrer da viagem, encontra-se com personagens como Rainey e Jan (Brian Dieker and Catherine Keener), um casal de hippies parados anos 70, Wayne (Vince Vaughn), um lavrador de terras, e Ron (Hal Holbrook), um homem de idade avançado que perdeu a mulher e o filho durante a juventude e nunca mais conseguiu refazer a sua vida. Todos eles são, de uma forma ou outra, tocados pela presença de Chris, e todos eles o avisam

para a tolice que é ir para o Alasca. Destes contactos alguns são bem conseguidos, com momentos de grande qualidade - como os proporcionados por Vince Vaughn. Noutras alturas, parece que estamos enterrados em pieguices e sentimentalismos até ao pescoço. Se por um lado Sean Penn não se preocupa muito em ter um olhar distanciado para a experiência de Chris, mostrando-nos o fascínio da liberdade, é quando entra no territorio de procurar a tristeza num jovem perdido, sem rumo, e magoado com os pais que resulta melhor. Infelizmente, essa é uma parte pouco explorada e que, sempre que prometia chegar mais longe, era cortada por uma lamechice ou um cliché qualquer. Com um trabalho de fotografia fantástico e alguns momentos que não lhe ficam atrás, Into The Wild consegue, a espaços, ser um bom retrato de como a vida pode ser gratificante no contacto com outras pessoas, e de como a procura de um lugar no mundo pode ser dura. No entanto, alonga-se por uns duros 148 minutos, muitos deles dispensáveis. Fosse mais equilibrado e tínhamos um filme para não esquecer tão cedo. Sean Penn promete, esperemos que da proxima cumpra. Classificação: 6/10



Yo Soy La Juani * http://cinerama.blogs.sapo.pt

Yo Soy La Juani * Realização: Bigas Luna. Elenco: Jim Verónica Echegui, Dani Martín, Laya Martí, Gorka Lasaosa, José Chaves, Mercedes Hoyos, Ferran Madico. Nacionalidade: Espanha, 2006. Se “Yo Soy La Juani” pretende ser um retrato realista da juventude espanhola, só posso dar graças por duas coisas: (1) não ser espanhola, (2) já não encaixar nessa classe “juventude”. E chamem-me preconceituosa, mas este fascínio pelo tunning sempre me soou a escape para muitos recalcamentos...

plados na banda sonora. Desenhou superficialmente todas as personagens e enfiou-as dentro de estereótipos bem estanques. O exagero com que o fez não poderia ter outra consequência que o ridículo, impossibilitando qualquer identificação com a protagonista. A interpretação de Verónica Echegui (por vezes numa parecença assustadora com Natalie Portman) limita-se a uma saliência visual, só se destacando porque a contracena é ainda mais fraca, como é o caso do vocalista do grupo ‘El Canto del Loco’, Dani Martín.

Mas o problema de fundo do argumento de BiJuani (Verónica Echegui) é uma jovem frustrada gas Luna (“Jamón, Jamón”) é simples: o condos subúrbios, filha de pais frustrados, uma mãe teúdo. Que não existe Como retrato de um ritual (Mercedes Hoyos) que gostaria de ter sido can- de passagem para a idade adulta é, no mínimo, tora e um pai (José Chaves) alcoólicoque está deprimente. Tal como o ambiente sem futuro prestes a perder a casa em que vivem. Juani quer onde Juani vive, tal como a Madrid onde pensa se actriz, mas trabalha como caixa num superencontrá-lo. Tal como esse sonho de fama (vazio mercado para juntar dinheiro para o namorado de vocação ou de trabalho) que parece marcar a Jonah (Dani Martín) poder fazer todas as altergerações mais novas. ações possíveis no seu carro, incluindo aumentar em muito os decibéis do sistema de som. Depois No país vizinho, “Yo Soy La Juani” esteve rode uma traição de Jonah, Juani decide ir para deado de uma máquina publicitária bem oleada, Madrid com a sua amiga Vane (Laya Martí) e que incluiu um mediático casting, de onde saiu tentar a sua sorte. Verónica Echegui. Só posso imaginar que a frustração teria sido muito maior num contexto de Bigas Luna optou por modernizar o filme com expectativas elevadas. Mas talvez a juventude recurso a impressões no ecrã dos sms trocados seja isso mesmo: só fogo de vista. Espero que entre as personagens e transformando os sonhos não. de Juani em videoclips para os artistas contem-


O Piano

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Título Original: “The Piano” (1993) Realização: Jane Campion Argumento: Jane Campion Actores: Holly Hunter - Ada McGrath Harvey Keitel - George Baines Sam Neill - Alisdair Stewart Anna Paquin - Flora McGrath

Piano” foi o terceiro filme da realizadora Jane Campion. Bem aceite pela crítica, o filme recolheu nomeações e prémios, como por exemplo o Óscar de Melhor Argumento Original para Jane Campion, o Óscar de Melhor Actriz Principal para Holly Hunter e o Óscar de Melhor Actriz Secundária para Anna Paquinn, na altura apenas uma criança, foi uma das mais jovens actrizes a receber um prémio de tamanha importância (pelo menos para Hollywood) na sétima arte.

É pena que Holly Hunter tenha andado meio desaparecida ao longo destes anos, após a interpretação brilhante em “O Piano” de uma personagem muda que fez com que a actriz desenvolvesse uma grande expressividade no seu Século XIX, Ada McGrath, uma mulher que não papel, há cenas em que percebemos sentimentos fala desde os seis anos de idade, deixa a Escócia e reacções, sem uma única palavra. Mais pena juntamente com a sua filha Flora, para ir viver me faz Anna Paquin, mulher feita, que o melhor para a recém colonizada Nova Zelândia, onde que conseguiu foi o papel de Vampira (Rogue) oficializará um casamento arranjado. O enconna trilogia “X-Men”. É o exemplo perfeito de tro com o marido, Alisdair Stewart, o qual ela que ganhar um Óscar nem sempre é sinónimo de não conhecia, corre mal devido à recusa dele sorte ou de carreira segura como actriz de cinem transportar o piano que é a grande paixão de ema. Ada e a sua melhor forma de se exprimir. Ter de abandonar o seu adorado piano no meio da praia “O Piano” conta com uma inesquecível banda faz com que Ada desde logo antipatize com Alis- sonora da responsabilidade de Michael Nyman. dair. Entre os homens deste, está George Baines, Em algumas cenas a própria Holly Hunter tocou que se sente atraído por Ada. Aproveitando-se músicas de Nymam no piano. Uma das cenas da situação, Baines leva o piano para a sua casa que este filme nos deixa na memória é quando e promete devolvê-lo a Ada caso esta o ensine Ada toca no piano que está no meio da praia, a tocar. Com o tempo as aulas vão-se transforenquanto a filha dança ao som da música à beiramando em encontros de grande erotismo, nos mar. Uma comunhão perfeita entre a natureza e a quais Baines e Ada se descobrem um ao outro e música. se apaixonam. ® Isabel Fernandes Realizado no princípio dos anos noventa, “O



Kiss Me Deadly (1955) de Robert Aldrich

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“Kiss Me Deadly” é um film noir muito especial. espaços, esse autêntico mergulho no abismo que Percebemos isso logo nos primeiros minutos, é “Nightmare Alley”, filme maldito de Edmund em que vemos uma mulher semi-nua a correr Goulding), a forma como paulatinamente vai desesperada, ao longo de uma estrada. Os car- perdendo o contacto com a realidade, deixando ros passam, ignorando-a... até que esta decide que a paranóia se apodere da história como um colocar-se à frente do carro daquele que irá ser vírus. o protagonista do filme: Mike Hammer (Ralph Meeker). Os minutos seguintes são decisivos: Perto do fim, “Kiss Me Deadly” desliza para “remember me”, diz a mulher a Hammer, se- uma espécie de vertigem horrífica, só comparávgundos antes desta morrer e ele ficar ferido, e el a um David Lynch, mais concretamente, ao amnésico, na sequência de um desastre de viação seu noir revisionista, “Mulholland Drive” - o que com muito pouco de acidental... esconde a caixa misteriosa a que todos querem deitar mão? A partir daqui, é noir puro: Hammer inicia uma investigação particular, começa a ligar variadísAldrich filma este noir febril e demencial, simos nomes (o enredo é difícil de seguir, como seguindo um objectivo claro: a cada plano, uma um “The Big Sleep” ou “Murder, My Sweet”) obra de arte. Com a câmara em posições inaudie, entrementes, seduz várias mulheres, algumas tas, a sublinhar permanentemente a estranheza loiras (venenosas?) e uma morena (aquela que da história-pesadelo de Hammer, Aldrich converdadeiramente ama). O mais especial nesta strói uma teia de imagens plasticamente notáveis obra-prima de Robert Aldrich é, para além da e engenhosas. Singular.. sua extrema negridão e violência (a lembrar, a



Azuloscurocasinegro http://cinerama.blogs.sapo.pt/

Azuloscurocasinegro *** Realização: Daniel Sánchez Arévalo. Elenco: Quim Gutiérrez, Marta Etura, Antonio de la Torre, Héctor Colomé, Raúl Arévalo, Eva Pallarés. Nacionalidade: Espanha, 2006. Jorge (Quim Gutiérrez), na casa dos 20, está a tentar sair da alçada do pai Andrés (Héctor Colomé), porteiro no prédio onde moram, rebelandose por um futuro que quer como seu. Dois anos depois, Jorge é porteiro desse mesmo prédio, ao mesmo tempo que toma conta do seu pai inválido. O seu sonho é ter uma carreira no mundo de negócios, para o que estudou à noite. O regresso da sua ex-namorada e vizinha Natalia (Eva Pallarés) vem evidenciar o impasse (e a rejeição) que marca também a sua vida amorosa.

ização de Daniel Sánchez Arévalo, argumentista há 15 anos. O seu grande mérito é conseguir um filme de grupo que consegue equilibrar a atenção dedicada a cada personagem, com origem num argumento generoso e coeso. Imagens de câmaras de vigilância, e close ups aproximam-nos ainda mais. Debruçando-se sobre a temática do crescimento sexual, Arévalo evita os chavões, e consegue absorver-nos num universo pessoal e numa história sem consequência para o mundo. Estamos perante personagens perdidas, com vidas claustrofóbicas, que se debatem entre fugir ou mentir para amenizar a sua realidade. A fotografia de Juan Carlos Gómez só começa a ter mais luz quando elas caminham para a reinvenção.

Entre o humor e a seriedade, “AzuloscurocasineO seu tempo livre é passado no terraço do prédio gro” aborda questões morais sobre o amor e os em discussões inconsequentes com o seu melhor seus limites. As opções estilísticas de repetição amigo Israel (Raúl Arévalo), a braços com os que poderiam prejudicar no filme, acabam por seus próprios problemas pessoais, que incluem funcionar como reforço da ideia de reflexo no as constantes visitas do seu pai à casa de um outro e da procura de nós mesmos através da massagista. O irmão de Jorge, Antonio (Antoforma como os outros nos vêem. nio de la Torre, “Volver”) conhece a mulher dos seus sonhos no grupo de teatro da prisão. Paula A cor do fato que Jorge cobiça numa montra – (Marta Etura, “Para Que No Me Olvides”) está azul escuro quase preto –, simboliza um ideal de decidida a engravidar para que a transfiram para liberdade. Um ideal que, ironicamente, o prende, a enfermaria da prisão, onde estará a salvo das sublinhando a sua resignação e o seu ressentirepresálias de outras detidas. mento. Romper com as expectativas parece ser o único caminho, porque esperar não vai fazer “Azuloscurocasinegro” marca a estreia na real- com que a vida aconteça.




SIC A #05

Foals - Antidotes White Stripes - “Under Blackpool Lights” Topspin Ra Ra Riot MADAME GODARD animal collective The Astroboy The Raveonettes Minilogue – “Animals”


Foals - Antidotes (2008) http://www.blogdoputo.blogspot.com/

Foals - Antidotes (2008)

distantes da alternância verso-coro. As guitarras conduzidas por Yannis e Jimmy Smith são quase sempre rápidas, dedilhadas (talvez isto explique Quando, em meados do ano passado, vi e ouvi porque as empunham junto ao peito), entrecruo videoclip de “Hummer”, os Foals pareceram- zadas, sequenciadas de forma atípica, sujeitas me mais uma banda que ia beber à quase esa gradientes de densidade e sintonizadas em gotada fonte do pós-punk, ainda para mais com harmónicos invulgares. Cria-se então um certo uma pose aparentemente altiva do seu vocalista. nervosismo instrumental e vocal, catalizado pela No entanto, o ritmo e a forma como usavam as bateria musculada de Jack Bevan, desenvolvido guitarras deixou-me uma agradável impressão e condensado em composições mais curtas do na memória. Passados meses, o álbum de esque seria expectável. A esta abordagem técnica e treia começou a ser abordado antecipadamente experimental acresce o apelo rítmico e a beleza em blogs e na imprensa, pelo que a curiosidade de alguns momentos mais ambientais, pincelaaguçou-se. dos por sopros (membros dos Antibalas, conFormaram-se das cinzas de uma banda de math vidados por Andrew Andrew Sitek, o produtor rock, corrente underground do rock caracteroriginal), coros (Katrina Ford dá uma ajuda em izada por estruturas rítmicas irregulares e uma “Red Socks Pugie”) e electrónicas, conferindo certa dissonância e angularidade nas melodias ao disco uma coesão espantosa, apesar da dis(não será de todo inocente que tenham bapparidade de influências que se possam descortitizado um single de “Mathletics”). No disco de nar. estreia há reminiscência desse período, apesar A cada audição o álbum cresce, entrenha-se, dos Foals lhe darem uma roupagem mais acesrevela-se e entusiasma. Muito bom começo para sível, como que a piscar o olho à pop. De facto, este britânicos de vinte e poucos anos. conseguem bons momentos pop, mas sempre Sítio oficial dos Foals dirigidos por uma não linearidade pouco comum Foals no MySpace em bandas com algum sucesso. O vocalista Yan- Videoclip de “Balloons” nis Philippakis consegue tirar bom partido das Videoclip de “Cassius” suas limitações vocais para envolver os temas Videoclip de “Red Socks Pugie” em harmonias cativantes mas frequentemente



White Stripes - “Under Blackpool Lights” (2004 XL)


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Esqueçam todas as opiniões e ideias que se possam fazer sobre a importância dos White Stripes, e do facto de terem ou não revolucionado o “garage-rock-blues”. Aqui somente nos vamos centrar neste concerto. Filmado nos formatos Super 8 e 16mm, com as suas imperfeitas imagens cheias de grãos, e para assim reforçar o objectivo de proporcionar uma magnifica perspectiva intemporal de se capturar a emoção e sentimento (para além das qualidades anti-tecnológicas, evidentes na edição do próprio concerto) de ver uma das melhores bandas contemporâneas ao vivo. É um documento em bruto, despojado e extremamente genuíno dos White Stripes ao vivo, e que demonstra que não existe mais nada a afirmar, somente a sua idiossincrasia e esplendor. Pois nesta fria noite de Janeiro, na soturna cidade costeira do noroeste de Inglaterra, realizaram uma fantástica e electrizante performance minimalista, demonstrando que é quando

tocam ao vivo onde eles desabrocham mais energia e paixão, e todo o fundamento das raízes da sua música. A forma de Jack White tocar guitarra é hipnotizadora, como se estive possuído, chegando a relembrar Jimi Hendrix. E Meg White toca bateria descalça, com o seu ar infantil, mas gerando um louco e trovejante barulho, numa forma simplesmente única de tocar a mesma. Quando Jack White grita o tema de Leadbelly, “Take a Whiff On Me, Death Letter”, temos a melhor descrição desta actuação arrebatadoramente entre o absoluto caos e o sublime. E conseguem atingir o brilhantismo nas terríveis interpretações de “Black Math”, “Truth Doesn’t Make A Noise”, “Hotel Yorba” e “Seven Nation Army”. O facto de incluir muitas canções dos primeiros discos, e não se focaram excessivamente em “Elephant” (na altura o seu ultimo disco), torna-se ainda mais atractivo.


http://www.ouve-se.com/

É Topspin mas lê-se hype

ing mas de tecnologia pura e dura. Por exemplo, foi dos servidores da Topspin (via Remixtures, há por Filipe Marques umas semaninhas) que a maior parte das pessoas fez o download das últimas edições dos Nine Inch TopspinSou um céptico e acho que isso me traz Nails. Sei pouco mais do que isto a nível prático, vantagens. Sobretudo se tivermos em conta que, até porque a Topspin ainda está a operar somente profissionalmente, uma parte importante do que com um grupo restrito de artistas, editoras e agenfaço envolve estar atento aos novos projectos que tes (então não era suposto apoiarem o faça-vocêvão aparecendo (numa base diária, diga-se) na área mesmo?). O Josh Rouse, por exemplo, tem um dos media sociais e da Web 2.0 (aquelas coisas sistema de subscrição pago no site mas, sem mais todas com os nomes esquisitos e poucas vogais). O nada, isto é apenas uma solução de recurso, uma cepticismo não me deixa entrar em ondas por cada maneira de ganhar uns cobres. Falta definir um serviço novo que aparece por aí, o que me permite caminho. E a Topspin dá uma ajuda ao nível das filtrar melhor as novidades, parece-me. ferramentas… mas tem um contributo estratégico muito marginal. Isto para dizer que não consigo ver (e acreditem que já tentei!) o motivo da excitação toda que por O Bob Lefsetz, que é um tipo com anos e anos aí anda com a Topspin. Para quem não sabe, a de experiência na arte de dizer o que pensa da inTopspin pretende ser uma alavanca na web para dústria da música, anda muito entusiasmado com artistas independentes, não numa lógica de market- o facto de, resumidamente, o pessoal da Topspin


gostar de música e perceber de código (estamos a falar de desenvolvimento de software e afins). É isto que não compreendo. Bem sei que é mais um sound bite do que outra coisa qualquer mas… o facto de alguém gostar muito de música e de saber codificar não a torna imediatamente sensível às questões que normalmente estão associadas ao marketing. E não falo das ferramentas não raras vezes obsoletas e pouco eficazes utilizadas pelos departamentos de marketing das principais editoras internacionais. Antes, refiro-me ao estudo do mercado, peça central no puzzle e agregador de quase todos os conceitos da disciplina. Sem este tipo de conhecimentos, o marketing é o fruto de conversa fiada e ferramentas de execução de sabese lá o quê. Parece-me que o Bob Lefsetz demonstra demasiado entusiasmo para algo tão pouco interessante. É

software, meu. É algo que, mal aproveitado, serve de muito pouco (quando não prejudica). Por isso é que, se se quer sucesso (seja a nível comercial ou de notoriedade), ter uma estratégia é fundamental. É uma regra básica: definem-se objectivos, depois estratégias para os atingir e depois acções específicas. Depois vêm as ferramentas. Fazem parte… mas não as sobrevalorizem. De repente, começámos a falar de ferramentas de auto-promoção como se toda a indústria da música dependesse delas. As ferramentas por si só têm ciclos de vida muito curtos. Veja-se, de resto, algumas das que são actualmente utilizadas pela indústria. Por exemplo, quem é que ainda liga a cartazes colados em taipais de chapa? Fazem falta conceitos e caminhos novos. Deixemos as ferramentas para depois.


qua qua quase Qua Qua Quase Marcadores: Indie-Pop , Por César M. | postado por César M. às 00:58 | Edit This Ficou encantado com o EP, lançado no ano passado, da banda nova iorquina Ra Ra Riot? Pra não te desapontar, esses universitários de Syracuse resolveram não mexer em muita coisa e lançaram um primeiro long play bem parecido com o material de 2007. Quatro das dez canções são velhas conhecidas e aparecem em duplas, intercaladas pela bobagem Winter ‘05 e St. Peter’s Day Festival, uma canção

agradável mas que não vai muito além do esperado. O motor do álbum é abastecido pelos grandes momentos do EP, que terminava com Ghost Under Rocks, a canção que abre “The Rhumb Line” (Barsuk, 2008). E assim, nós nos sentimos livres pra dizer logo no início: “Olha, eles se parecem muito com o Arcade Fire!”. Soa preguiçoso, mas é inevitável. Logo depois surge Each Year, uma jóia indie pop, alguma coisa parecida com Headlights Looks Like Diamonds (do Arcade Fire) como base de uma melodia vocal do-do-do-dah-dah-dah do Sting. A construção mental dessa descrição pode resultar num monstro horripilante, mas acredite, a


canção é irresistível. Dying Is Fine impressiona, não só pelo poder do seu refrão: o compositor John Pike, baterista do Ra Ra Riot, achou mesmo que morrer era tranquilinho e... morreu! (Nota: Cameron Wisch fez o trabalho de Pike nas gravações e um novo baterista irá acompanhar a banda no palco). A canção teve pouco mais de 2 dos seus 6 minutos enxugados e se tornou um single de muito potencial. Can You Tell, a última remanescente do EP e com algumas mudanças (letra e arranjos), parece ainda mais atraente. A faixa seguinte, Too Too Fast, parte de um argumento new-wave pra se tornar a maior

novidade do álbum. Na sequência final, a surpresa fica por conta da bela recriação de Suspended In Gaffa, da gafanhota Kate Bush, carinhosamente imitada pelo vocalista Wesley Miles. Os acontecimentos trágicos do último ano parecem não ter desviado o caminho do Ra Ra Riot. É uma banda pronta, com todos os prós e contras que a expressão carrega. Por isso, na tentativa de ser memorável, o álbum ficou no quase. Quase formulaico. Quase brilhante.

http://indienation.blogspot.com/



ritmos sul americanos, a pop e o rock de sessenta com o funk de setenta, a confusão concertada da música de leste com a lógica desconcertada das bandas sonoras de Tarantino. Depois de terem entusiasmado o público e acrítica com a sua actuação no festival de Paredes de Coura e de terem sido considerados pelo Blitz uma das grandes promessas da música portuguesa para 2000, os Madame Godard iniciaram uma longa tournée que os levou a actuar dentro e fora do país, partilhando paços com vários ícones do rock, tais como Iggy Pop, Sonic Youth e dEUS. http://portugalrebelde.blogspot.com O percurso dos Madame Godard não levaria, no entanto, o sentido comum.Apostando na diferença como base da sua obra e sem nunca ter tido pressa de agradar tendencialmente, o grupo proMADAME GODARD curou consolidar ideias, em busca de uma conOs Madame Godard revelaram desde o início um stante superação. grande ecletismo, assumindo um vasto e variado A maturidade sonora surge agora, fruto de uma leque de influências musicais. musicalidade contemplativa, para dar lugar a um As tonalidades sonoras da banda pintadas por trabalho ao mesmo tempo delicado e colorido, trompetes, violinos e teclados vintage transpor- despojado e complexo. tam-nos para cenários singulares. Actualmente em estúdio a gravar o primeiro disCom a experiência e liberdade criativa como co, os Madame Godard regressam agora aos paldenominador comum do seu trabalho, os Macos para revelarem alguns dos temas que farão dame Godard cruzam a chanson française com parte do seu aguardado álbum de estreia.


animal collective


Animal Collective 4 Músicos, 4 Temas A paranóia colectiva, a destruição de tabus, o constrói-destroi dos Animal Collective é uma delicia. É óptimo quando uma banda rompe o star-sistem e faz o que lhe vai na alma, não ligando patavina às regras, às normas vigentes. Fazem assim porque gostam, fazem assim por são assim. O EP Water Curses é isto tudo, é Animal Collective na sua perfeição, continuam o seu passeio imunes a tudo e a todos, delineiam um caminho e com passos exactos pintam numa tela todas as cores disponíveis e é nela que estampam a sua pop psicótica, encharcada de micro sons e constantes revoluções sonoras. Este EP é a forma ideal para conhecer, o que é, quem são, os Animal Collective. Ao longo de 4 temas expõem toda a sua potencialidade e todo seu (mau) génio. 4 músicos, 4 temas, não sei se foi intencional, mas consigo separar 4 perfeitos universos neste Water Curses, como se cada tema fosse a face de cada um dos seus elemen-

tos, assim sendo temos: “Water Curses” com toda a personalidade de Avey Tare (David Portner); “Street Flash” é puro Panda Bear (Noah Lennox) coros intensos e torrentes de ecos; “Cobwebs” mostra a minúcia de Geologist (Brian Weitz) ao comando de todos os botões e parafernálias electrónicas; por fim “Seal Eyeing” mostra Deakin (Josh Dibb) talvez a parte mas serena, a zona mais tranquila de Animal Collective. O EP Water Curses mostra que tudo vai no bom caminho, que índole paranóica da musica dos Animal Collective continua em forma, que tudo persiste, que tudo segue a rota anteriormente projectada. Momento Mágico: Street Flash Animal Collective – Water Curses [EP] (2008) Paradise Recordings por Antonio Antunes


http://phono.com.sapo.pt Apartando-se das habituais dificuldades inerentes a uma estreia, Luís Fernandes (aka The Astroboy) editou no passado mês de Fevereiro, aquele que é, até à data, um dos mais interessantes registos da nova música electrónica nacional, a saber, A Derrota da Engrenagem.

com os projectos nos quais tocava, e que sempre quis fazer algo melhor e mais adequado aos meus gostos pessoais”. Surge então o pseudónimo The Astroboy. O mundo em redor parecia em tudo igual ao que era dantes. No entanto, naquele último andar, algo mudava. Achavam-se agora pelo chão, objectos que indiciavam uma grande actividade: cabos, restos de refeições, discos avulsos e outras páginas meias lidas. Todos eles pareciam confluir em redor de um velho computador. No écran, não existiam muitas cores; apenas caracteres verdes sob um fundo negro – os mesmos que espreitávamos no Banco quando éramos miúdos (e que agora são amarelos e cinzentos, sob um fundo azul). Existiam sons presos naquela sala; ouviam-se os minutos a passar enquanto Astroboy tentava novas abordagens, outros efeitos, diferentes cronometragens… “O projecto The Astroboy é apenas uma faceta da minha identidade enquanto músico, pois há outros percursos e áreas que quero explorar. Para mim o mais importante deste projecto foi terme dado a entender que eu sou capaz de fazer algo sozinho e nesse sentido, desbravou um caminho que agora quero percorrer. Para este álbum, o método utilizado para compor foi muito similar em todos os temas. Em primeiro lugar ia construindo os drones a partir de várias camadas de sintetizadores, que depois funcionavam como base para as construções seguintes. Mais tarde elaborei a parte rítmica – quis que esta fosse sonoramente degradada e repetitiva. As guitarras vieram por último lugar e foram a componente mais natural de todo o processo, já que foram praticamente todas compostas directamente nas sessões de gravação (limitei-me a eliminar algumas e editar ligeiramente a duração das mesmas).”

Braga. Ouvem-se diferentes sonâncias por toda a cidade: o ruído sólido da porta do táxi, o chiar abafado da porta do edifício antigo, a vibração aguda da campainha, a cedência regular dos nossos passos sobre os degraus, e depois, o arrastar de uma porta que se abre para a verdadeira música que vem lá de dentro: uma música moída por um velho computador, uma caixa de ritmos a condizer, uma guitarra e um sintetizador. É este o mundo de Luís Fernandes. É ali, no centro dos três Sacro-Montes, que o artesão vai dando corpo a vários trabalhos de pura filigrana sonora, qual Doutor Pesavento que se fecha ao mundo exterior, para lentamente poder construir a sua ausência. Os resultados aparecem agora de uma forma mais esporádica; o passado fez-se a partir de experiências, actos mais ou menos reflectidos que fomentaram a edificação a solo, de um monumento musical graniticamente sólido. Para trás ficaram muitas tardes de sábado e outras tantas queixas dos vizinhos: “Passei a minha adolescência a tocar em bandas. Destas, o único projecto com alguma projecção foram os Frequency, que lançaram um EP, e tiveram algum destaque na imprensa devido a terem ganho concursos e serem finalistas do Termómetro Unplugged. Tive oportunidade de tocar muitas vezes ao vivo, conhecer muitas pessoas e ter experiências variadas enquanto membro dessas O conceptualismo por detrás d’A Derrota da Enbandas, o que em muito contribuiu para a minha evolução enquanto músico. No entanto devo dizer grenagem é evidente. Explora-se o fantasma dos que, felizmente, nunca me identifiquei totalmente tempos futuros; se os Kraftwerk eram a união entre


o Homem e a Máquina (David Bowman de “2010 – Segunda Odisseia”, enquanto futuro arquétipo do Homem digital), The Astroboy é a ruptura, o conflito e a paranóia que assolam a espécie desde a invenção da máquina a vapor. Está portanto bem mais perto de “Eu, Robot”, naquilo que poderia ser uma nova banda sonora pós-Alan Parsons Project, do clássico de Isaac Asimov. De resto, o conceptualismo d’A Derrota da Engrenagem surge exactamente da mesma forma que surgia no Alan Parsons Project: depois da obra terminada, procuravam-se pontos de contacto entre os vários temas; atribuíam-se designações a condizer (nem de propósito, diriam alguns), tiravamse umas fotos alusivas e, não fossem os tiros ao lado, o objecto lá passava como um todo indivisível e extremamente cerebral. Mas eis que Luís Fernandes desmistifica todo o processo: “O facto de ser o primeiro trabalho a ser desenvolvido unicamente por mim, fazia-me sentir que este projecto tinha de ser algo conceptual, no qual a fórmula estaria previamente determinada. A conceptualização foi essencialmente ao nível dos elementos que queria usar para a construção dos temas. Queria explorar drones, coisa que nunca tinha feito, e aprender um pouco sobre esta matéria. O resultado foi uma sonoridade muito densa e sci-fi, o que motivou a adopção da temática dos nomes dos temas e álbum. O universo a que os títulos remetem apenas chegou depois dos temas terem sido gravados. Acho que a partir de agora vou ter muita mais dificuldade em criar música sem ser de uma forma previamente pensada. Nesse aspecto foi um passo em frente para a minha maturidade enquanto músico.” O conceptualismo é então uma feliz “coincidência” que se faz valer das imagens induzidas no ouvinte pelo músico. Cria-se um estado de fantasia (sem propósito) no qual se relaciona tudo aquilo que se conhece para depois ser trabalhado pela imaginação (já com um propósito). Diria Camille

Saint Saens que “onde um artista vê uma bela forma, as pessoas grosseiras só vêem nudez”. Fernandes interpela o ouvinte com a ética de que este necessita, para que possa apreciar a obra de uma forma premeditada. A Derrota da Engrenagem é sobretudo experimental a este nível: será possível a uma obra sair do conceito a que está associada, ou, pelo contrário, estará esta presa a uma ideia que, em última instância, a limita? Luís Fernandes explica: “Sinceramente não me preocupei muito com possíveis falhas, já que inicialmente nem pensava em editar este trabalho. Eram apenas experiências que desenvolvi no sentido de aprender um pouco mais”. A “coincidência” desaparece. Um álbum de estreia capaz de gerar uma pergunta tão importante, não pode ter sido gerado ao acaso. Junte-se a pertinência da questão ao perfeito doseamento de timbres e dinâmicas, e não estaremos muito longe da verdade quando afirmamos que estamos perante um dos mais interessantes projectos da música electrónica portuguesa. O “acaso” é agora uma ideia remota: “Ainda não pensei se este projecto é para continuar. A minha intenção era gravar o álbum e fazer alguns concertos por isso os objectivos foram atingidos. Só lançarei outro álbum de The Astroboy se conseguir acrescentar alguma coisa ao que já fiz... Neste momento planeio fazer mais alguns concertos durante este ano e depois dedicar-me a outros projectos. Tenho uma série de ideias em mente para outro projecto a solo e também sinto saudades de tocar em banda. Para além disso ainda tenho de ocupar tempo com os Jazz Iguanas [projecto que Luís Fernandes mantém juntamente com Miguel Pedro dos Mão Morta] e gostava de começar a gravar/ produzir algumas coisas de outras pessoas.” © 2007 SP


| The


entrevista

e Raveonettes |


| The Raveonettes |

Tipo a constante comparação ao Jesus and Mary Por: Aldo Linares (Muzikalia, Espanha, março de Chain, não? Parece que quase toda a imprensa fala 2008) disto, embora na verdade seja algo que vai mais Tradução: Luciano Ferreira além, pois a sonoridade deles, assim como a de vocês, tem muito dos cinquenta e sessenta. The Raveonettes Sim, fico feliz com o que você disse, porque é isso mesmo. O Jesus and Mary Chain não é uma in“O Jesus and Mary Chain não é uma influência fluência para nós. Acontece que provavelmente tepara nós” mos referências muito parecidas. O que buscamos é fazer canções pop boas e sensíveis, da maneira Em uma manhã de domingo que se imaginava uma que se fazia nos anos cinquenta. Assim como o Jechuva intensa sobre Madri, a tranquila recepção sus and Mary Chain, nós juntamos ao barulho sendo hotel serviu de abrigo para uma entrevista com sibilidade pop e belas melodias. Tampouco quereos dinamarqueses que aqui estavam para apresen- mos nos repetir. Não descobrimos nada de novo na tar seu quarto álbum, o intenso “Lust Lust Lust”. música, mas queremos fazer o que amamos e isso Após alguma espera, chega Sharin Foo sem Sune tem muito a ver com o pop e o rock clássico. Mas Rose Wagner, que estava com uma afonia comple- não somos totalmente nostálgicos, há músicas que ta, requerendo ajuda médica e repouso para poder gostamos e tem proximidade com a nossa e outras encarar o concerto de logo mais. Com vestido e que nem tanto. botas negras que ressaltam a sua figura, Foo torce para que seu companheiro esteja melhor para o Por exemplo? concerto de logo mais, ou teriam que enfrentar Deixe-me ver... Glasvegas, Liars ou LCD Sounduma situação inédita em sua carreira, ela teria que system. ser a voz do Raveonettes. Deve ser muito complicado “Não consigo controlar o nervosismo, nunca nos fazer canções pop. aconteceu isso e espero que os médicos nos ajuÉ verdade, mas por isso dem. Estivemos em turnê por várias semanas e somos um grupo. Não teisso provocou esse problema de garganta de Sune, mos uma fórmula em que mas tocaremos de qualquer maneira, talvez seja a nos apoiamos. Quando primeira vez que cante sozinha. Mas eu farei.” começamos, trabalhávamos em cima de uma nota Como vai a turnê? à qual íamos acrescentando Muito bem, apesar de começarmos a nos sentir detalhes e uma melodia que cansados, mas isso faz parte da nossa vontade de refletisse o que queríamos fazer boas apresentações e de tocar em lugares que dizer. Hoje sabemos que não conhecemos. O mal é que às vezes nos sobra queremos fazer canções muito pouco tempo para conhecer esses lugares. que nos agradem e que posFazemos entrevistas, passamos o som, tocamos, samos lembrar com orgulnos divertimos e voltamos a viajar. Estar em turnê ho. é como estar em parte alguma. Ainda trabalham dessa maEstar em parte alguma, mas às vezes é uma espécie neira? de lugar comum, já que as perguntas das entrevis- Bem, basicamente sim. tas e a rotina são as mesmas? Este álbum é o mais miniSim, é algo que converso com Sune. Acho que malista que já fizemos essa rotina é parte do mecanismo da música, ape- em se tratando do uso de sar de preferirmos fazer as coisas ao nosso modo instrumentos e é interessante sentir que ao vivo para não nos aborrecermos. Também é verdade tudo ganha uma dimensão maior. Também é mais que quase sempre as perguntas da imprensa são as perceptível a ajuda da eletrônica nas canções, os mesmas, suas comparações e suas associações, ás ritmos também são mais minimalistas e dá a imvezes é tudo muito circular. pressão que as canções tem muitos espaços vazios.


Para mim este disco realmente capturou a essência do The Raveonettes. Entre o barulho, as texturas melódicas e as letras, encontramos o equilíbrio ideal para percebermos continuamos sendo os mesmos que fizeram canções como “Attack of the ghost riders” ou “Beat City”. Acho que esse balanço fez com que criássemos um disco em que se pode notar uma certa sensação de escuridão e intimidade.

Nova Iorque e eu em Los Angeles. Não fizemos isso de modo premeditado, simplesmente surgiu da fusão do que somos e do que encontramos lá.

Há pouco falávamos da turnê. Independente do fato de poder viajar, desfrutar e, claro, ser pago, também há o fato de ter seu repertório posto a prova constantemente. Contamos com isso. Nós mesmos somos postos à prova. Não é fácil estar em uma banda, mas A mistura de escuridão e letras sentimentais parece as turnês são experiências alentadoras se souber funcionar bem na música de vocês. como conduzi-las. Fizemos um acordo de a cada Sim, mas acho que isso é algo sempre esteve noite podermos mudar o nosso repertório ao nosso relacionado com o bom pop, letras tristes ou modo. Temos feito muitos shows, tocamos numa melancólicas com música alegre ou algo assim. festa de um evento de Julian Schnabel e correu Fazemos canções que podem ter certa doçura nos tudo bem, embora tenha sido muito desgastante. vocais apesar de estarmos falando de prostituição, Para nós esta turnê é uma experiência em que popor exemplo. A mistura de duas coisas opostas em demos ir mudando coisas e descobrindo que alguuma canção provoca uma tensão muito interesmas canções podem render mais do que pensávasante. Isso é perceptível nas canções das Ronettes mos. e Shangri-las. Neste álbum misturamos a sensação urbana de viver em uma grande cidade com o fato Isso vocês podem captar do público. de ter que ocultar os sentimentos, como se fosse Por sorte. Não sabe quão estranho e bonito que Jekyll e Hyde. é receber e-mail’s ou conversar com alguém dos lugares mais loucos e distantes do mundo. Por isso nós gostamos de falar com os fãs depois dos concertos. Poder falar com alguém da Argentina, México, Japão que te diz o que acha de nossa música é algo realmente surpreendente. Eles transformam sua música em algo que faz parte de suas vidas. Mas a sua música é uma extensão direta da vida de vocês? Definitivamente sim Porquê negar? Fazemos canções que tem a ver com anseios e sonhos. Somos um grupo de pessoas com sentimentos e gostos comuns. O único mal é que às vezes The Raveonettes parece um nome Essa sensação urbana pode surgir do fato de morar difícil de lembrar ou pronunciar (risos). em um páís como os Estados Unidos? Absolutamente, não poderia ser de outra maneira. Somos dinamarqueses, mas agora Sune mora em



Minilogue – “Animals” (2008 Cocoon)

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Um surpresa que chega de Malmo na Suécia. Marcus Henriksson e Sebastian Mullaert apresentam-nos um duplo CD (belíssimo “digipack”) – 26 faixas, 154 minutos de música. E apesar de que o título ou a duração do disco, me fizessem pensar nos Pink Floyd ou no rock progressivo dos anos 70, felizmente estamos muito longe. O disco divide-se em duas partes deliberadamente diferentes, a primeira repleta de vacilantes “bleeps” e “beats”, é uma viagem pelos caminhos do “minimal techno”, reminiscente da segunda geração de Detroit, mas apimentada com temas que desobedecem a esse padrão musical, de uma forma ameaçadoramente inventiva e que fazem com que o disco circule por outros caminhos. Assim temos ecos de “jazz” e “funkyhouse” em “Loud”, vibrantes ritmos “dub techno” em “Hitchhiker’s Choice” e “electro” em “Giant, Hairy Spiders”. E que chegam a atingir a perfeição no brilhante “33.000 Honeybees” e os

seus vigorosos padrões rítmicos. O segundo disco deveria funcionar como uma suposta peça de música ambiental contínua, que deambula livremente, pois cada estrutura sonora cuidadosamente construída encaixa na próxima, mas que poderiam ter sido realizadas cada por uma diferente banda. Mas aqui o titulo “ambiente” é enganador pois quem esperar “ambient pop” ao estilo de Brian Eno ficará desapontado, pois para todas as longas espirais de sintetizadores ou delicados dedilhados de guitarra acústica, existem complexas melodias que se misturam intimamente com oscilantes “beats” reminiscentes dos Boards of Canada ou dos Global Communication. Um disco corajoso e aventureiro, sem medo em avançar para novos terrenos, e que será difícil de esquecer.


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Aculturarte - Revista de Cultura e Arte | ano 1 | nĂşmero 5 | Agosto 2008

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